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Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Santa Maria, RS 2007

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Page 1: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

Lesiane Luz da Rosa

TRABALHO FINAL DE GRADUACcedilAtildeO

A REPRESENTACcedilAtildeO DA CULTURA GAUacuteCHA NO GALPAtildeO CRIOULO

Santa Maria RS

2007

Lesiane Luz da Rosa

A REPRESENTACcedilAtildeO DA CULTURA GAUacuteCHA NO GALPAtildeO CRIOULO

Trabalho final de graduaccedilatildeo apresentado ao Curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Habilitaccedilatildeo em Jornalismo ndash Aacuterea de Artes Letras e Comunicaccedilatildeo do Centro Universitaacuterio Franciscano como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau em Bacharel em Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo

Orientadora Profordf Ms Daniela Aline Hinerasky

Santa Maria RS

2007

Lesiane Luz da Rosa

A REPRESENTACcedilAtildeO DA CULTURA GAUacuteCHA NO GALPAtildeO CRIOULO

Trabalho final de graduaccedilatildeo apresentado ao Curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Habilitaccedilatildeo em Jornalismo ndash Aacuterea de Artes Letras e Comunicaccedilatildeo do Centro Universitaacuterio Franciscano como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Bacharel em Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo

_________________________________________________

Profordf Ms Daniela Aline Hinerasky ndash Orientadora (Unifra)

_________________________________________________

Profordf Ms Glaiacutese Bohrer Palma ndash (Unifra)

_________________________________________________

Prof Dr Antocircnio Fausto Neto ndash Suplente (Unifra)

Aprovado em de de

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia que me proporcionou tudo o que a vida tem de melhor e por me ensinar que haacute apenas uma coisa na vida que ningueacutem pode nos tirar o estudo

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agrave minha famiacutelia que amo tanto e significa tudo na minha vida especialmente meus pais Eulo e Rosa pela confianccedila paciecircncia e forccedila nas horas mais difiacuteceis desta caminhada e tambeacutem por arcarem com todas as minhas despesas A estes devo todo o meu carinho e consideraccedilatildeo Agrave minha matildee um agradecimento especial e tambeacutem um pedido de desculpas por ter sido tatildeo impaciente com ela e pelos constantes ldquoataques de nervosismordquo durante a produccedilatildeo da pesquisa a ela agradeccedilo pelos chazinhos calmantes paciecircncia e palavras de conforto Aos meus irmatildeos Lisiane e Giovane pelos conselhos pelo incentivo e por me ldquocarregaremrdquo em seus automoacuteveis sempre que solicitei

Ao Fernando Pacheco uma pessoa muito especial para mim e de suma importacircncia nesta caminhada aleacutem de todo o incentivo prestado me fez acreditar que mais do que qualquer outra coisa o esforccedilo e a dedicaccedilatildeo em tudo que se faz satildeo as chaves para o sucesso e ascensatildeo profissional

Agrave minha professora e orientadora Daniela Hinerasky excelente pesquisadora e amiga que com toda a sua competecircncia e sensibilidade foi fundamental para a construccedilatildeo deste trabalho

Agraves amigas Daniela Rockenbach Natasha Mruz e Patriacutecia Pires pelo grande auxiacutelio

Ao senhor Manoelito Carlos Savaris e agrave produccedilatildeo do

Galpatildeo Crioulo Fernando Alencastro e Rosana Orlandi pela atenccedilatildeo e grande ajuda prestada a este trabalho

Agraves colegas de trabalho Leacuteia Pimentel Leacuteia Nascimento Luane Magalhatildees e Nadine Escovar pela preocupaccedilatildeo pelas palavras de conforto e por ldquosegurarem as pontasrdquo sempre que precisei Ao meu chefe Luiacutes Garcia pela compreensatildeo nas horas em que me ausentei do trabalho em funccedilatildeo da pesquisa

RESUMO

O trabalho trata da relaccedilatildeo entre cultura regional gauacutecha e representaccedilatildeo atraveacutes do Galpatildeo

Crioulo veiculado aos domingos na RBS TV e tem como objetivo geral analisar a

representaccedilatildeo da cultura gauacutecha no programa Para isso verifica-se os elementos da cultura

regional gauacutecha atraveacutes de categorias analiacuteticas estipuladas para o desenvolvimento desta

pesquisa muacutesica e indumentaacuteria Atraveacutes de anaacutelise descritiva de seis programas durante os

meses de setembro e outubro e em grades analiacuteticas proacuteprias aleacutem de entrevistas com dois

produtores e uma pessoa ligada ao Movimento Tradicionalista Gauacutecho verificou-se que a

Galpatildeo Crioulo busca a valorizaccedilatildeo da cultura regional seja atraveacutes das muacutesicas da

indumentaacuteria usada pelos apresentadores e convidados ou ateacute mesmo atraveacutes do linguajar do

cenaacuterio trilha sonora e abertura do programa Desta forma o Galpatildeo Crioulo eacute um programa

que procura esta valorizaccedilatildeo do regional como uma forma de identificaccedilatildeo dos gauacutechos pois

eles estatildeo vendo a cultura deles a terra deles a regiatildeo deles O programa dominical da RBS

TV valoriza a cultura local ainda que de certa forma abra espaccedilo para temas musicais nem

tatildeo campeiros e tambeacutem para novos talentos do cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do

Sul Neste sentido conclui-se que o Galpatildeo Crioulo eacute mais um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado bem mais que outros programas da emissora

Palavras-chave Representaccedilatildeo Cultura Regional Gauacutecha Televisatildeo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO7 2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV 10 21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA10 22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA 13 23 A MUacuteSICA REGIONALISTA14 24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO17 25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA18 26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS19 27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO20 28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO 21 29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA23 3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA 26 31 O GALPAtildeO CRIOULO26 32 OS APRESENTADORES 28 4 A METODOLOGIA 30 42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA 31 431 Teacutecnica de coleta de dados 32 44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS33 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 37 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39 ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva42 ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva 45 ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa 46 ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 2: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

Lesiane Luz da Rosa

A REPRESENTACcedilAtildeO DA CULTURA GAUacuteCHA NO GALPAtildeO CRIOULO

Trabalho final de graduaccedilatildeo apresentado ao Curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Habilitaccedilatildeo em Jornalismo ndash Aacuterea de Artes Letras e Comunicaccedilatildeo do Centro Universitaacuterio Franciscano como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau em Bacharel em Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo

Orientadora Profordf Ms Daniela Aline Hinerasky

Santa Maria RS

2007

Lesiane Luz da Rosa

A REPRESENTACcedilAtildeO DA CULTURA GAUacuteCHA NO GALPAtildeO CRIOULO

Trabalho final de graduaccedilatildeo apresentado ao Curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Habilitaccedilatildeo em Jornalismo ndash Aacuterea de Artes Letras e Comunicaccedilatildeo do Centro Universitaacuterio Franciscano como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Bacharel em Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo

_________________________________________________

Profordf Ms Daniela Aline Hinerasky ndash Orientadora (Unifra)

_________________________________________________

Profordf Ms Glaiacutese Bohrer Palma ndash (Unifra)

_________________________________________________

Prof Dr Antocircnio Fausto Neto ndash Suplente (Unifra)

Aprovado em de de

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia que me proporcionou tudo o que a vida tem de melhor e por me ensinar que haacute apenas uma coisa na vida que ningueacutem pode nos tirar o estudo

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agrave minha famiacutelia que amo tanto e significa tudo na minha vida especialmente meus pais Eulo e Rosa pela confianccedila paciecircncia e forccedila nas horas mais difiacuteceis desta caminhada e tambeacutem por arcarem com todas as minhas despesas A estes devo todo o meu carinho e consideraccedilatildeo Agrave minha matildee um agradecimento especial e tambeacutem um pedido de desculpas por ter sido tatildeo impaciente com ela e pelos constantes ldquoataques de nervosismordquo durante a produccedilatildeo da pesquisa a ela agradeccedilo pelos chazinhos calmantes paciecircncia e palavras de conforto Aos meus irmatildeos Lisiane e Giovane pelos conselhos pelo incentivo e por me ldquocarregaremrdquo em seus automoacuteveis sempre que solicitei

Ao Fernando Pacheco uma pessoa muito especial para mim e de suma importacircncia nesta caminhada aleacutem de todo o incentivo prestado me fez acreditar que mais do que qualquer outra coisa o esforccedilo e a dedicaccedilatildeo em tudo que se faz satildeo as chaves para o sucesso e ascensatildeo profissional

Agrave minha professora e orientadora Daniela Hinerasky excelente pesquisadora e amiga que com toda a sua competecircncia e sensibilidade foi fundamental para a construccedilatildeo deste trabalho

Agraves amigas Daniela Rockenbach Natasha Mruz e Patriacutecia Pires pelo grande auxiacutelio

Ao senhor Manoelito Carlos Savaris e agrave produccedilatildeo do

Galpatildeo Crioulo Fernando Alencastro e Rosana Orlandi pela atenccedilatildeo e grande ajuda prestada a este trabalho

Agraves colegas de trabalho Leacuteia Pimentel Leacuteia Nascimento Luane Magalhatildees e Nadine Escovar pela preocupaccedilatildeo pelas palavras de conforto e por ldquosegurarem as pontasrdquo sempre que precisei Ao meu chefe Luiacutes Garcia pela compreensatildeo nas horas em que me ausentei do trabalho em funccedilatildeo da pesquisa

RESUMO

O trabalho trata da relaccedilatildeo entre cultura regional gauacutecha e representaccedilatildeo atraveacutes do Galpatildeo

Crioulo veiculado aos domingos na RBS TV e tem como objetivo geral analisar a

representaccedilatildeo da cultura gauacutecha no programa Para isso verifica-se os elementos da cultura

regional gauacutecha atraveacutes de categorias analiacuteticas estipuladas para o desenvolvimento desta

pesquisa muacutesica e indumentaacuteria Atraveacutes de anaacutelise descritiva de seis programas durante os

meses de setembro e outubro e em grades analiacuteticas proacuteprias aleacutem de entrevistas com dois

produtores e uma pessoa ligada ao Movimento Tradicionalista Gauacutecho verificou-se que a

Galpatildeo Crioulo busca a valorizaccedilatildeo da cultura regional seja atraveacutes das muacutesicas da

indumentaacuteria usada pelos apresentadores e convidados ou ateacute mesmo atraveacutes do linguajar do

cenaacuterio trilha sonora e abertura do programa Desta forma o Galpatildeo Crioulo eacute um programa

que procura esta valorizaccedilatildeo do regional como uma forma de identificaccedilatildeo dos gauacutechos pois

eles estatildeo vendo a cultura deles a terra deles a regiatildeo deles O programa dominical da RBS

TV valoriza a cultura local ainda que de certa forma abra espaccedilo para temas musicais nem

tatildeo campeiros e tambeacutem para novos talentos do cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do

Sul Neste sentido conclui-se que o Galpatildeo Crioulo eacute mais um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado bem mais que outros programas da emissora

Palavras-chave Representaccedilatildeo Cultura Regional Gauacutecha Televisatildeo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO7 2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV 10 21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA10 22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA 13 23 A MUacuteSICA REGIONALISTA14 24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO17 25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA18 26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS19 27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO20 28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO 21 29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA23 3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA 26 31 O GALPAtildeO CRIOULO26 32 OS APRESENTADORES 28 4 A METODOLOGIA 30 42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA 31 431 Teacutecnica de coleta de dados 32 44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS33 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 37 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39 ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva42 ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva 45 ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa 46 ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

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(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

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Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 3: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

Lesiane Luz da Rosa

A REPRESENTACcedilAtildeO DA CULTURA GAUacuteCHA NO GALPAtildeO CRIOULO

Trabalho final de graduaccedilatildeo apresentado ao Curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Habilitaccedilatildeo em Jornalismo ndash Aacuterea de Artes Letras e Comunicaccedilatildeo do Centro Universitaacuterio Franciscano como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Bacharel em Comunicaccedilatildeo Social - Jornalismo

_________________________________________________

Profordf Ms Daniela Aline Hinerasky ndash Orientadora (Unifra)

_________________________________________________

Profordf Ms Glaiacutese Bohrer Palma ndash (Unifra)

_________________________________________________

Prof Dr Antocircnio Fausto Neto ndash Suplente (Unifra)

Aprovado em de de

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia que me proporcionou tudo o que a vida tem de melhor e por me ensinar que haacute apenas uma coisa na vida que ningueacutem pode nos tirar o estudo

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agrave minha famiacutelia que amo tanto e significa tudo na minha vida especialmente meus pais Eulo e Rosa pela confianccedila paciecircncia e forccedila nas horas mais difiacuteceis desta caminhada e tambeacutem por arcarem com todas as minhas despesas A estes devo todo o meu carinho e consideraccedilatildeo Agrave minha matildee um agradecimento especial e tambeacutem um pedido de desculpas por ter sido tatildeo impaciente com ela e pelos constantes ldquoataques de nervosismordquo durante a produccedilatildeo da pesquisa a ela agradeccedilo pelos chazinhos calmantes paciecircncia e palavras de conforto Aos meus irmatildeos Lisiane e Giovane pelos conselhos pelo incentivo e por me ldquocarregaremrdquo em seus automoacuteveis sempre que solicitei

Ao Fernando Pacheco uma pessoa muito especial para mim e de suma importacircncia nesta caminhada aleacutem de todo o incentivo prestado me fez acreditar que mais do que qualquer outra coisa o esforccedilo e a dedicaccedilatildeo em tudo que se faz satildeo as chaves para o sucesso e ascensatildeo profissional

Agrave minha professora e orientadora Daniela Hinerasky excelente pesquisadora e amiga que com toda a sua competecircncia e sensibilidade foi fundamental para a construccedilatildeo deste trabalho

Agraves amigas Daniela Rockenbach Natasha Mruz e Patriacutecia Pires pelo grande auxiacutelio

Ao senhor Manoelito Carlos Savaris e agrave produccedilatildeo do

Galpatildeo Crioulo Fernando Alencastro e Rosana Orlandi pela atenccedilatildeo e grande ajuda prestada a este trabalho

Agraves colegas de trabalho Leacuteia Pimentel Leacuteia Nascimento Luane Magalhatildees e Nadine Escovar pela preocupaccedilatildeo pelas palavras de conforto e por ldquosegurarem as pontasrdquo sempre que precisei Ao meu chefe Luiacutes Garcia pela compreensatildeo nas horas em que me ausentei do trabalho em funccedilatildeo da pesquisa

RESUMO

O trabalho trata da relaccedilatildeo entre cultura regional gauacutecha e representaccedilatildeo atraveacutes do Galpatildeo

Crioulo veiculado aos domingos na RBS TV e tem como objetivo geral analisar a

representaccedilatildeo da cultura gauacutecha no programa Para isso verifica-se os elementos da cultura

regional gauacutecha atraveacutes de categorias analiacuteticas estipuladas para o desenvolvimento desta

pesquisa muacutesica e indumentaacuteria Atraveacutes de anaacutelise descritiva de seis programas durante os

meses de setembro e outubro e em grades analiacuteticas proacuteprias aleacutem de entrevistas com dois

produtores e uma pessoa ligada ao Movimento Tradicionalista Gauacutecho verificou-se que a

Galpatildeo Crioulo busca a valorizaccedilatildeo da cultura regional seja atraveacutes das muacutesicas da

indumentaacuteria usada pelos apresentadores e convidados ou ateacute mesmo atraveacutes do linguajar do

cenaacuterio trilha sonora e abertura do programa Desta forma o Galpatildeo Crioulo eacute um programa

que procura esta valorizaccedilatildeo do regional como uma forma de identificaccedilatildeo dos gauacutechos pois

eles estatildeo vendo a cultura deles a terra deles a regiatildeo deles O programa dominical da RBS

TV valoriza a cultura local ainda que de certa forma abra espaccedilo para temas musicais nem

tatildeo campeiros e tambeacutem para novos talentos do cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do

Sul Neste sentido conclui-se que o Galpatildeo Crioulo eacute mais um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado bem mais que outros programas da emissora

Palavras-chave Representaccedilatildeo Cultura Regional Gauacutecha Televisatildeo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO7 2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV 10 21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA10 22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA 13 23 A MUacuteSICA REGIONALISTA14 24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO17 25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA18 26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS19 27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO20 28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO 21 29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA23 3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA 26 31 O GALPAtildeO CRIOULO26 32 OS APRESENTADORES 28 4 A METODOLOGIA 30 42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA 31 431 Teacutecnica de coleta de dados 32 44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS33 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 37 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39 ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva42 ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva 45 ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa 46 ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 4: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia que me proporcionou tudo o que a vida tem de melhor e por me ensinar que haacute apenas uma coisa na vida que ningueacutem pode nos tirar o estudo

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agrave minha famiacutelia que amo tanto e significa tudo na minha vida especialmente meus pais Eulo e Rosa pela confianccedila paciecircncia e forccedila nas horas mais difiacuteceis desta caminhada e tambeacutem por arcarem com todas as minhas despesas A estes devo todo o meu carinho e consideraccedilatildeo Agrave minha matildee um agradecimento especial e tambeacutem um pedido de desculpas por ter sido tatildeo impaciente com ela e pelos constantes ldquoataques de nervosismordquo durante a produccedilatildeo da pesquisa a ela agradeccedilo pelos chazinhos calmantes paciecircncia e palavras de conforto Aos meus irmatildeos Lisiane e Giovane pelos conselhos pelo incentivo e por me ldquocarregaremrdquo em seus automoacuteveis sempre que solicitei

Ao Fernando Pacheco uma pessoa muito especial para mim e de suma importacircncia nesta caminhada aleacutem de todo o incentivo prestado me fez acreditar que mais do que qualquer outra coisa o esforccedilo e a dedicaccedilatildeo em tudo que se faz satildeo as chaves para o sucesso e ascensatildeo profissional

Agrave minha professora e orientadora Daniela Hinerasky excelente pesquisadora e amiga que com toda a sua competecircncia e sensibilidade foi fundamental para a construccedilatildeo deste trabalho

Agraves amigas Daniela Rockenbach Natasha Mruz e Patriacutecia Pires pelo grande auxiacutelio

Ao senhor Manoelito Carlos Savaris e agrave produccedilatildeo do

Galpatildeo Crioulo Fernando Alencastro e Rosana Orlandi pela atenccedilatildeo e grande ajuda prestada a este trabalho

Agraves colegas de trabalho Leacuteia Pimentel Leacuteia Nascimento Luane Magalhatildees e Nadine Escovar pela preocupaccedilatildeo pelas palavras de conforto e por ldquosegurarem as pontasrdquo sempre que precisei Ao meu chefe Luiacutes Garcia pela compreensatildeo nas horas em que me ausentei do trabalho em funccedilatildeo da pesquisa

RESUMO

O trabalho trata da relaccedilatildeo entre cultura regional gauacutecha e representaccedilatildeo atraveacutes do Galpatildeo

Crioulo veiculado aos domingos na RBS TV e tem como objetivo geral analisar a

representaccedilatildeo da cultura gauacutecha no programa Para isso verifica-se os elementos da cultura

regional gauacutecha atraveacutes de categorias analiacuteticas estipuladas para o desenvolvimento desta

pesquisa muacutesica e indumentaacuteria Atraveacutes de anaacutelise descritiva de seis programas durante os

meses de setembro e outubro e em grades analiacuteticas proacuteprias aleacutem de entrevistas com dois

produtores e uma pessoa ligada ao Movimento Tradicionalista Gauacutecho verificou-se que a

Galpatildeo Crioulo busca a valorizaccedilatildeo da cultura regional seja atraveacutes das muacutesicas da

indumentaacuteria usada pelos apresentadores e convidados ou ateacute mesmo atraveacutes do linguajar do

cenaacuterio trilha sonora e abertura do programa Desta forma o Galpatildeo Crioulo eacute um programa

que procura esta valorizaccedilatildeo do regional como uma forma de identificaccedilatildeo dos gauacutechos pois

eles estatildeo vendo a cultura deles a terra deles a regiatildeo deles O programa dominical da RBS

TV valoriza a cultura local ainda que de certa forma abra espaccedilo para temas musicais nem

tatildeo campeiros e tambeacutem para novos talentos do cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do

Sul Neste sentido conclui-se que o Galpatildeo Crioulo eacute mais um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado bem mais que outros programas da emissora

Palavras-chave Representaccedilatildeo Cultura Regional Gauacutecha Televisatildeo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO7 2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV 10 21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA10 22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA 13 23 A MUacuteSICA REGIONALISTA14 24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO17 25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA18 26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS19 27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO20 28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO 21 29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA23 3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA 26 31 O GALPAtildeO CRIOULO26 32 OS APRESENTADORES 28 4 A METODOLOGIA 30 42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA 31 431 Teacutecnica de coleta de dados 32 44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS33 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 37 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39 ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva42 ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva 45 ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa 46 ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

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TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 5: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agrave minha famiacutelia que amo tanto e significa tudo na minha vida especialmente meus pais Eulo e Rosa pela confianccedila paciecircncia e forccedila nas horas mais difiacuteceis desta caminhada e tambeacutem por arcarem com todas as minhas despesas A estes devo todo o meu carinho e consideraccedilatildeo Agrave minha matildee um agradecimento especial e tambeacutem um pedido de desculpas por ter sido tatildeo impaciente com ela e pelos constantes ldquoataques de nervosismordquo durante a produccedilatildeo da pesquisa a ela agradeccedilo pelos chazinhos calmantes paciecircncia e palavras de conforto Aos meus irmatildeos Lisiane e Giovane pelos conselhos pelo incentivo e por me ldquocarregaremrdquo em seus automoacuteveis sempre que solicitei

Ao Fernando Pacheco uma pessoa muito especial para mim e de suma importacircncia nesta caminhada aleacutem de todo o incentivo prestado me fez acreditar que mais do que qualquer outra coisa o esforccedilo e a dedicaccedilatildeo em tudo que se faz satildeo as chaves para o sucesso e ascensatildeo profissional

Agrave minha professora e orientadora Daniela Hinerasky excelente pesquisadora e amiga que com toda a sua competecircncia e sensibilidade foi fundamental para a construccedilatildeo deste trabalho

Agraves amigas Daniela Rockenbach Natasha Mruz e Patriacutecia Pires pelo grande auxiacutelio

Ao senhor Manoelito Carlos Savaris e agrave produccedilatildeo do

Galpatildeo Crioulo Fernando Alencastro e Rosana Orlandi pela atenccedilatildeo e grande ajuda prestada a este trabalho

Agraves colegas de trabalho Leacuteia Pimentel Leacuteia Nascimento Luane Magalhatildees e Nadine Escovar pela preocupaccedilatildeo pelas palavras de conforto e por ldquosegurarem as pontasrdquo sempre que precisei Ao meu chefe Luiacutes Garcia pela compreensatildeo nas horas em que me ausentei do trabalho em funccedilatildeo da pesquisa

RESUMO

O trabalho trata da relaccedilatildeo entre cultura regional gauacutecha e representaccedilatildeo atraveacutes do Galpatildeo

Crioulo veiculado aos domingos na RBS TV e tem como objetivo geral analisar a

representaccedilatildeo da cultura gauacutecha no programa Para isso verifica-se os elementos da cultura

regional gauacutecha atraveacutes de categorias analiacuteticas estipuladas para o desenvolvimento desta

pesquisa muacutesica e indumentaacuteria Atraveacutes de anaacutelise descritiva de seis programas durante os

meses de setembro e outubro e em grades analiacuteticas proacuteprias aleacutem de entrevistas com dois

produtores e uma pessoa ligada ao Movimento Tradicionalista Gauacutecho verificou-se que a

Galpatildeo Crioulo busca a valorizaccedilatildeo da cultura regional seja atraveacutes das muacutesicas da

indumentaacuteria usada pelos apresentadores e convidados ou ateacute mesmo atraveacutes do linguajar do

cenaacuterio trilha sonora e abertura do programa Desta forma o Galpatildeo Crioulo eacute um programa

que procura esta valorizaccedilatildeo do regional como uma forma de identificaccedilatildeo dos gauacutechos pois

eles estatildeo vendo a cultura deles a terra deles a regiatildeo deles O programa dominical da RBS

TV valoriza a cultura local ainda que de certa forma abra espaccedilo para temas musicais nem

tatildeo campeiros e tambeacutem para novos talentos do cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do

Sul Neste sentido conclui-se que o Galpatildeo Crioulo eacute mais um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado bem mais que outros programas da emissora

Palavras-chave Representaccedilatildeo Cultura Regional Gauacutecha Televisatildeo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO7 2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV 10 21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA10 22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA 13 23 A MUacuteSICA REGIONALISTA14 24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO17 25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA18 26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS19 27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO20 28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO 21 29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA23 3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA 26 31 O GALPAtildeO CRIOULO26 32 OS APRESENTADORES 28 4 A METODOLOGIA 30 42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA 31 431 Teacutecnica de coleta de dados 32 44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS33 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 37 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39 ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva42 ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva 45 ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa 46 ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

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40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

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SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 6: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

Ao senhor Manoelito Carlos Savaris e agrave produccedilatildeo do

Galpatildeo Crioulo Fernando Alencastro e Rosana Orlandi pela atenccedilatildeo e grande ajuda prestada a este trabalho

Agraves colegas de trabalho Leacuteia Pimentel Leacuteia Nascimento Luane Magalhatildees e Nadine Escovar pela preocupaccedilatildeo pelas palavras de conforto e por ldquosegurarem as pontasrdquo sempre que precisei Ao meu chefe Luiacutes Garcia pela compreensatildeo nas horas em que me ausentei do trabalho em funccedilatildeo da pesquisa

RESUMO

O trabalho trata da relaccedilatildeo entre cultura regional gauacutecha e representaccedilatildeo atraveacutes do Galpatildeo

Crioulo veiculado aos domingos na RBS TV e tem como objetivo geral analisar a

representaccedilatildeo da cultura gauacutecha no programa Para isso verifica-se os elementos da cultura

regional gauacutecha atraveacutes de categorias analiacuteticas estipuladas para o desenvolvimento desta

pesquisa muacutesica e indumentaacuteria Atraveacutes de anaacutelise descritiva de seis programas durante os

meses de setembro e outubro e em grades analiacuteticas proacuteprias aleacutem de entrevistas com dois

produtores e uma pessoa ligada ao Movimento Tradicionalista Gauacutecho verificou-se que a

Galpatildeo Crioulo busca a valorizaccedilatildeo da cultura regional seja atraveacutes das muacutesicas da

indumentaacuteria usada pelos apresentadores e convidados ou ateacute mesmo atraveacutes do linguajar do

cenaacuterio trilha sonora e abertura do programa Desta forma o Galpatildeo Crioulo eacute um programa

que procura esta valorizaccedilatildeo do regional como uma forma de identificaccedilatildeo dos gauacutechos pois

eles estatildeo vendo a cultura deles a terra deles a regiatildeo deles O programa dominical da RBS

TV valoriza a cultura local ainda que de certa forma abra espaccedilo para temas musicais nem

tatildeo campeiros e tambeacutem para novos talentos do cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do

Sul Neste sentido conclui-se que o Galpatildeo Crioulo eacute mais um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado bem mais que outros programas da emissora

Palavras-chave Representaccedilatildeo Cultura Regional Gauacutecha Televisatildeo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO7 2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV 10 21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA10 22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA 13 23 A MUacuteSICA REGIONALISTA14 24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO17 25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA18 26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS19 27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO20 28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO 21 29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA23 3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA 26 31 O GALPAtildeO CRIOULO26 32 OS APRESENTADORES 28 4 A METODOLOGIA 30 42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA 31 431 Teacutecnica de coleta de dados 32 44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS33 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 37 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39 ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva42 ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva 45 ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa 46 ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980 49

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INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

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representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

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(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

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Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

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Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

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radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

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caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 7: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

RESUMO

O trabalho trata da relaccedilatildeo entre cultura regional gauacutecha e representaccedilatildeo atraveacutes do Galpatildeo

Crioulo veiculado aos domingos na RBS TV e tem como objetivo geral analisar a

representaccedilatildeo da cultura gauacutecha no programa Para isso verifica-se os elementos da cultura

regional gauacutecha atraveacutes de categorias analiacuteticas estipuladas para o desenvolvimento desta

pesquisa muacutesica e indumentaacuteria Atraveacutes de anaacutelise descritiva de seis programas durante os

meses de setembro e outubro e em grades analiacuteticas proacuteprias aleacutem de entrevistas com dois

produtores e uma pessoa ligada ao Movimento Tradicionalista Gauacutecho verificou-se que a

Galpatildeo Crioulo busca a valorizaccedilatildeo da cultura regional seja atraveacutes das muacutesicas da

indumentaacuteria usada pelos apresentadores e convidados ou ateacute mesmo atraveacutes do linguajar do

cenaacuterio trilha sonora e abertura do programa Desta forma o Galpatildeo Crioulo eacute um programa

que procura esta valorizaccedilatildeo do regional como uma forma de identificaccedilatildeo dos gauacutechos pois

eles estatildeo vendo a cultura deles a terra deles a regiatildeo deles O programa dominical da RBS

TV valoriza a cultura local ainda que de certa forma abra espaccedilo para temas musicais nem

tatildeo campeiros e tambeacutem para novos talentos do cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do

Sul Neste sentido conclui-se que o Galpatildeo Crioulo eacute mais um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado bem mais que outros programas da emissora

Palavras-chave Representaccedilatildeo Cultura Regional Gauacutecha Televisatildeo

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO7 2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV 10 21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA10 22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA 13 23 A MUacuteSICA REGIONALISTA14 24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO17 25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA18 26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS19 27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO20 28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO 21 29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA23 3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA 26 31 O GALPAtildeO CRIOULO26 32 OS APRESENTADORES 28 4 A METODOLOGIA 30 42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA 31 431 Teacutecnica de coleta de dados 32 44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS33 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 37 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39 ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva42 ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva 45 ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa 46 ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

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40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

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JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

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KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

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SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

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WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 8: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO7 2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV 10 21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA10 22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA 13 23 A MUacuteSICA REGIONALISTA14 24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO17 25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA18 26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS19 27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO20 28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO 21 29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA23 3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA 26 31 O GALPAtildeO CRIOULO26 32 OS APRESENTADORES 28 4 A METODOLOGIA 30 42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA 31 431 Teacutecnica de coleta de dados 32 44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS33 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 37 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39 ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva42 ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva 45 ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa 46 ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980 49

7

INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 9: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

7

INTRODUCcedilAtildeO

Na busca por respostas para algumas questotildees sobre a cultura e a muacutesica gauacutecha esta

pesquisa teve como objetivo analisar de que forma a cultura regional gauacutecha eacute representada

no programa dominical Galpatildeo Crioulo veiculado agraves 6h30min pela Rede Brasil Sul de

Comunicaccedilotildees (RBS) afiliada agrave Rede Globo apoacutes o Campo e Lavoura Tambeacutem quis saber

se essa representaccedilatildeo corresponde agrave ideacuteia que os produtores do programa tecircm sobre o assunto

Eacute importante salientar que o Rio Grande do Sul eacute considerado um dos estados que

mais cultua as tradiccedilotildees1 Segundo Nilda Jacks (2003 p13)

O Rio Grande do Sul eacute um dos Estados da Federaccedilatildeo que tem bem contornados seus traccedilos culturais marcadamente tradicionais e regionalizados cuja origem estaacute historicamente ligada agrave ocupaccedilatildeo de seu territoacuterio e agrave fundaccedilatildeo de sua economia definindo-se claramente a partir do marco mais relevante de sua histoacuteria a Epopeacuteia Farroupilha

A figura do gauacutecho eacute conhecida por todo Brasil devido aos seus costumes crenccedilas e

mitos por uma identidade forte marcada por guerras nos antepassados Ateacute hoje a Revoluccedilatildeo

Farroupilha2 eacute comemorada no Rio Grande do Sul e divulgada pelo paiacutes afora Neste

processo histoacuterico a cultura gauacutecha foi estudada em seus aspectos peculiares com enfoques

na indumentaacuteria e muacutesica aspectos pontuais da cultura Entendemos que essas duas

categorias foram as mais relevantes para o desenvolvimento deste estudo por sua

representaccedilatildeo no cenaacuterio artiacutestico-cultural do Rio Grande do Sul Para o escritor gauacutecho

Maacuterio de Andrade ldquode todas as culturas regionais do Brasil a gauacutecha eacute a que apresenta maior

identidade de princiacutepios uma normalidade geral dentro do bom uma consciecircncia de cultura

uma igualdade psicoloacutegica que a torna fortemente unida e louvaacutevelrdquo

1 Entende-se por tradiccedilatildeo o ato de transmitir os fatos culturais de um povo atraveacutes de suas geraccedilotildees Eacute a transmissatildeo das lendas narrativas valores espirituais acontecimentos histoacutericos haacutebitos inveterados atraveacutes dos tempos de pais para filhos (LAMBERTY 1989) 2 Guerra dos Farrapos ou Revoluccedilatildeo Farroupilha satildeo os nomes pelos quais ficou conhecida uma revoluccedilatildeo ou guerra regional de caraacuteter republicano contra o governo imperial do Brasil a entatildeo proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul e que resultou na declaraccedilatildeo de independecircncia da proviacutencia como estado republicano dando origem agrave Repuacuteblica Rio-Grandense Foi de 1835 a 1845 eacute o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

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40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 10: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

8

Sobre a identidade gauacutecha o modelo que se constroacutei ao falar em tradicionalismo3 estaacute sempre

ligado ao campo (especialmente na regiatildeo da Campanha do RS)4 e agrave figura do gauacutecho Apesar

da decadecircncia da Campanha e do crescimento de outras regiotildees do Estado como a regiatildeo

serrana de colonizaccedilatildeo alematilde e italiana a representaccedilatildeo da figura do gauacutecho com suas

expressotildees campeiras envolvendo o cavalo o chimarratildeo5 e a construccedilatildeo de um tipo social

livre e bravo serviram tambeacutem de modelo para grupos eacutetnicos diferentes o que indicaria que

essa representaccedilatildeo une os habitantes do Estado em contraposiccedilatildeo ao paiacutes Segundo Brignol

LD(2000) ldquoo Rio Grande do Sul traz na histoacuteria marcas de adversidades constantemente

enfrentadas a luta pela conquista da terra a garantia das fronteiras o domiacutenio da natureza os

conflitos contra o governo central as desavenccedilas dentro do proacuteprio Estado Todos estes

fatores ajudaram a consolidar as representaccedilotildees sobre o povo gauacutechordquo

Mesmo em tempos de internet num paiacutes como o Brasil eacute pela TV que as pessoas e a

comunidade se reconhecem e se identifica especialmente os canais regionais Daiacute a

importacircncia de uma pesquisa que procura estudar a representaccedilatildeo de uma cultura tradicional

em um Estado que se quer desenvolvido e urbano Aleacutem disso eacute um estudo ineacutedito sob este

enfoque ainda que exista vaacuterios autores que haacute deacutecadas se preocupam em estudar a cultura

gauacutecha e suas relaccedilotildees

Em ldquoMiacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regionalrdquo (JACKS 1998) a autora trata

da relaccedilatildeo entre induacutestria cultural e cultura regional do Rio Grande do Sul atraveacutes do

Movimento Nativista que viveu seu auge na deacutecada de 1980 Jaacute em ldquoQuerecircncia cultura

regional como mediaccedilatildeo simboacutelicardquo (JACKS 1999) a autora estuda a relaccedilatildeo entre a

identidade e o processo de recepccedilatildeo televisiva numa famiacutelia do interior do RS Destaca-se

tambeacutem Ada Cristina Machado da Silveira em seu estudo intitulado ldquoO Palimpsesto do

Gauacutecho Midiaacutetico Memoacuteria e Conflito de estado-naccedilatildeo nas representaccedilotildees de identidaderdquo a

autora analisa o objeto empiacuterico desta pesquisa - O Galpatildeo Crioulo - e as tiras cocircmicas do

3 Entende-se por tradicionalismo a arte de colocar em movimento as peccedilas de uma tradiccedilatildeo (LAMBERTY 1989) Eacute obrigatoriamente associativo coletivo Eacute um movimento ciacutevico-cultural Eacute a tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o Gauacutecho do passado para o presente projetando-os no futuro (FAGUNDES 1997) Mais detalhes nos capiacutetulos a seguir 4 Regiatildeo mais proacutexima da fronteira com o Uruguai onde os traccedilos da cultura satildeo bem demarcados tambeacutem pela influecircncia latino-americana que o Estado ganhou em termos de arte tradicionalista 5 O chimarratildeo ou mate eacute uma bebida caracteriacutestica da cultura do sul da Ameacuterica do Sul um haacutebito legado pela cultura guarani Ainda hoje eacute haacutebito fortemente arraigado no Brasil (Paranaacute Santa Catarina Rio Grande do Sul (principalmente) Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (Pantanal) e Rondocircnia) parte da Boliacutevia e Chile e em todo o Paraguai Uruguai e a Argentina Eacute composto por uma cuia uma bomba erva-mate e aacutegua Embora a acepccedilatildeo ldquomaterdquo seja castelhana eacute utilizada popularmente tambeacutem no Rio Grande do Sul paralelamente com o termo chimarratildeo

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

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(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

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Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

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ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

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Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

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Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 11: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

9

Analista de Bageacute publicadas na revista Playboy jaacute em seu livro O espiacuterito de cavalaria e as

suas representaccedilotildees midiaacuteticas essa identificaccedilatildeo de etnias diversas com o gauchismo se daacute

atraveacutes dos valores pregados por ele como a auto-afirmaccedilatildeo e a busca da luta do

enfrentamento e da coragem A origem desses valores estaria na histoacuteria de combates do Rio

Grande do Sul principalmente na Revoluccedilatildeo Farroupilha (1835-1845) Tambeacutem podemos

citar ldquoMulheres e Melodrama sonhos vicaacuterios e vida rural da professora mestre em Ciecircncias

da Comunicaccedilatildeo doutora em Sociologia Veneza Veloso Mayora Ronsini

Pode-se destacar ainda alguns estudos realizados em programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo a

relaccedilatildeo entre a identidade cultural gauacutecha e os usos sociais da Internet atraveacutes do estudo de

caso do site a Paacutegina do Gauacutecho (BRIGNOL Unisinos 2004) e a teledramaturgia regional e

a identidade gauacutecha (HINERASKY UFRGS 2004)

Para dar conta da proposta deste trabalho o apresentamos e dividimos em quatro

capiacutetulos No primeiro trazemos conceitos de representaccedilatildeo cultura e identidade e de que

forma se entrelaccedilam em seguida uma visatildeo sobre a cultura regional gauacutecha tradiccedilatildeo

tradicionalismo e o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho onde procuramos

apontar os aspectos que moldam a cultura do Rio Grande do Sul Tambeacutem ainda no primeiro

capiacutetulo eacute mostrado um breve histoacuterico da RBS TV emissora responsaacutevel por transmitir o

Galpatildeo Crioulo

No segundo capiacutetulo fazemos uma descriccedilatildeo do objeto empiacuterico mostrando um pouco

da histoacuteria do programa de sua trajetoacuteria e seus apresentadores tambeacutem nesse capiacutetulo

fizemos uma descriccedilatildeo da pesquisa Os procedimentos metodoloacutegicos satildeo mostrados no

capiacutetulo trecircs onde satildeo mostrados os passos seguidos para a construccedilatildeo deste estudo bem

como os meacutetodos utilizados No quarto e uacuteltimo capiacutetulo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais a

quais questionamentos chegamos e o que esta pesquisa conseguiu nos mostrar e quais

caminhos abriu para novos estudos acerca do tema proposto

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

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LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 12: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

10

2 REPRESENTACcedilAtildeO E TV

21 REPRESENTACcedilAtildeO IDENTIDADE E CULTURA

Este estudo situa-se na intersecccedilatildeo dos conceitos de cultura representaccedilatildeo televisatildeo e

identidade gauacutecha Para tanto inicia utilizando o embasamento teoacuterico de Stuart Hall (1997)

que ao examinar sistemas de representaccedilatildeo afirma que ao mesmo tempo eacute necessaacuterio

analisar a relaccedilatildeo entre cultura e significado ou seja soacute compreenderemos os significados

desses sistemas se tivermos alguma ideacuteia sobre quais posiccedilotildees-de-sujeito eles produzem e

como noacutes na qualidade de sujeitos podemos ser posicionados em seu interior Hall elucida

que damos significado agraves coisas em nossas praacuteticas diaacuterias mas por outro lado explica que

concedemos significado agraves coisas atraveacutes da forma como as representamos ldquodo uso que

fazemos das coisas do que dizemos pensamos e sentimos acerca destesrdquo O autor afirma que

natildeo se poderia levar em conta as identidades de qualquer extensatildeo e nem mesmo rejeitaacute-las

se natildeo houvesse estes sistemas de significaccedilatildeo

As representaccedilotildees podem tambeacutem ser produzidas e consumidas em diferentes

instacircncias e estatildeo submetidas a processos de regulaccedilatildeo social e a relaccedilotildees de poder mais ou

menos expliacutecitas e muitas vezes veladas Conforme Hinerasky (2004 p 76) ldquoisso estaacute

diretamente ligado agrave construccedilatildeo dos valores agrave cristalizaccedilatildeo de conceitos e preconceitos agrave

formaccedilatildeo do senso comum agrave constituiccedilatildeo das identidades sociais quais sejam nacionais de

gecircnero eacutetnicas sexuais geracionais poliacuteticas religiosas culturaisrdquo

A cultura de um grupo em todas as suas formas ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute

significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento a uma cultura nacional ou identificaccedilatildeo

com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute certamente ligada tanto agrave identidade quanto

ao conhecimentordquo (HALL 1997 p05) E no caso desta pesquisa Hinerasky (2004 p 77) ldquoa

representaccedilatildeo estaacute ligada agrave ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul agrave sua cultura e

identidade regionalrdquo pois consideramos que imagens situaccedilotildees personagens e programas que

mostram os haacutebitos modos de falar e costumes das pessoas que vivem no Rio Grande do Sul

satildeo parte da linguagem desta identidade regional dividida entre produtores e receptores

Mas o conceito de representaccedilatildeo tem uma histoacuteria longa e muitos significados Conforme

Tomaz Silva (2000) na histoacuteria da filosofia ocidental haacute duas dimensotildees para o conceito a

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 13: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

11

representaccedilatildeo interna ou mental6 ndash a representaccedilatildeo do real na consciecircncia e a representaccedilatildeo

externa por meio de sistemas de signos como as pinturas esculturas ou a proacutepria linguagem

A primeira dimensatildeo eacute questionada pelo poacutes-estruturalismo rejeitando quaisquer

conotaccedilotildees mentalistas Para Hall (1997) a linguagem eacute um o meio pelo qual as

representaccedilotildees mentais satildeo produzidas atraveacutes de signos (imagens palavras sons) que

carregam significados Para partilhar uma cultura portanto eacute necessaacuterio partilhar uma forma

interpretar os signos por meio de uma linguagem Nessa via ldquono registro poacutes-estruturalista a

representaccedilatildeo eacute concebida unicamente em sua dimensatildeo significante ou seja como um

sistema de signos como pura marca material Eacute sempre um traccedilo visiacutevel ou exterior

perspectivas que adotamos

Compreendida como um processo cultural a representaccedilatildeo estabelece identidades

individuais e coletivas De acordo com Kathryn Woodward (2000 p17) ldquoos discursos e os

sistemas de representaccedilatildeo constroem os lugares a partir dos quais os indiviacuteduos podem se

posicionar e a partir dos quais podem falarrdquo Conforme a autora a miacutedia pode construir novas

identidades e fornecer imagens com as quais os espectadores podem se identificar No caso

desta pesquisa o Galpatildeo Crioulo tambeacutem se insere neste processo cultural pois estabelece

um espaccedilo onde os gauacutechos podem de alguma forma se identificar com questotildees regionais

Ao falarmos da identidade devemos considerar que podem ser de classe gecircnero

sexualidade etnia raccedila liacutengua sentimento de pertencimento a um lugar religiatildeo e

nacionalidade e estas categorias permitem que sejamos reconhecidos perante outras pessoas

Na contemporaneidade o conceito de identidade cultural eacute abstrato amplo polissecircmico

fluido e dinacircmico (HINERASKY 2004) jaacute que eacute tido como ldquoum processo de construccedilatildeo de

significado com base em um atributo cultural ou ainda em um conjunto de atributos culturais

inter-relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significadordquo

(CASTELLS 2000 P22)

A identidade cultural7 eacute considerada como um dos elementos da identidade social

caracterizada pelo conjunto de vinculaccedilotildees de um indiviacuteduo em um sistema social

6 Conforme Hall (1997) as representaccedilotildees mentais satildeo mapas conceituais formados no pensamento pelos quais nos referimos os objetos damos significaccedilatildeo ao mundo Apesar de variarem entre algumas pessoas manteacutem partilhados alguns sentidos amplos o que possibilita a definiccedilatildeo de uma cultura Autores ligados aos Estudos Culturais como Stuart Hall descartam pressupostos realistas associados a concepccedilotildees filosoacuteficas claacutessicas Isto rejeita qualquer conotaccedilatildeo mentalista ou associaccedilatildeo com uma interioridade psicoloacutegica

7 O conceito de identidade cultural aponta para um sistema de representaccedilotildees das relaccedilotildees entre indiviacuteduos e os grupos e entre estes e seu espaccedilo seu meio Este sistema permite que os indiviacuteduos e grupos entrem e saiam de um determinado grupo que se identifiquem ldquoO processo de identificaccedilatildeo apontaria para o fato de que todo

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 14: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

12

(HINERASKY 2004) ldquoCada indiviacuteduo tem consciecircncia de ter uma identidade de forma

variaacutevel de acordo com as dimensotildees do grupo do qual ele faz referecircncia em tal ou tal

situaccedilatildeo relacionalrdquo (CUCHE 1999 P194-195)

Desta forma entendemos aqui por cultura um conjunto de praacuteticas muito mais que um

conjunto de bens culturais Cultura eacute acima de tudo a produccedilatildeo e a troca de significados entre

os membros de uma sociedade ou um grupo (JACKS 2003) Portanto de acordo com Hall

dizer que duas pessoas pertencem a uma mesma cultura eacute dizer que elas interpretam o mundo

da mesma maneira e podem expressar seus sentimentos e ideacuteias da forma que sejam

entendidas pelos outros membros

De acordo com Teixeira Coelho as manifestaccedilotildees culturais natildeo satildeo determinadas por

uma ordem social mas ldquosatildeo elementos decisivos na definiccedilatildeo daquela ordem Por outro lado

a cultura natildeo se caracteriza apenas pela gama de atividades ou objetos tradicionalmente

chamados de culturais mas apresenta-se sob diversas manifestaccedilotildeesrdquo (COELHO 1997 p

104) Desta forma para que um grupo social funcione como unidade eacute necessaacuterio que os

indiviacuteduos que o compotildeem possuam modos de agir coletivamente Conforme Roberto da

Matta

Cultura eacute um mapa um coacutedigo atraveacutes do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam estudam e modificam o mundo Um conjunto de interesses de pessoas que vivem com interesses semelhantes ou natildeo que desenvolvem relaccedilotildees entre si Satildeo construccedilotildees e representaccedilotildees atraveacutes de siacutembolos onde as pessoas organizam o mundo ao seu redor (MATTA 1986 p 123)

Entende-se portanto a cultura8 como um sistema simboacutelico em que estes siacutembolos

satildeo decodificados a partir de um coacutedigo comum a um grupo (VELHO 1978 p 6) Nesse

sentido os siacutembolos ou coacutedigos apontados seriam os elementos caracteriacutesticos do Rio

Grande do Sul reconhecidos e entendidos pelos gauacutechos na cultura regional

indiviacuteduo compotildee-se de uma seacuterie de camadas de significaccedilatildeo aproximadamente equivalentes a suas personalidades que podem ser vividas sequumlencialmente ou no limiterdquo (COELHO 1997 p 202)

8 Eacute importante ressaltar que no campo da comunicaccedilatildeo foram os autores Martin-Barbero e Garcia Canclini que ampliaram a noccedilatildeo tradicional de cultura De acordo com eles as diversas manifestaccedilotildees culturais sejam elas cultas populares massivas tradicionais ou modernas encontram-se no mesmo niacutevel hieraacuterquico A cultura nessa medida compreende qualquer praacutetica ou forma cultural Deixa de ser um sistema simboacutelico e passa a ser compreendida como sistemas de significaccedilatildeo (HINERASKY 2004 p 65)

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 15: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

13

Conforme Stuart Hall (1997) cultura se refere agraves diversas formas de arte literatura

muacutesica popular publicidade e design ou quaisquer atividades de entretenimento que

traduzem a rotina de pessoas comuns

Cultura eacute pois um conjunto complexo de praacuteticas instituiccedilotildees e significaccedilotildees relativas aos diversos acircmbitos da vida dos grupos sociais e por eles produzidas ndash as liacutenguas e linguagens a escrita as artes o cinema a televisatildeo as crenccedilas costumes e tradiccedilotildees e os significados ligados a qualquer atividade quais sejam poliacutetica conceitos juriacutedicos economia literatura medicina etc (HINERASKY 2004 P65)

Nesse raciociacutenio Hall (1997 p 5) afirma que a representaccedilatildeo da cultura de um grupo

ldquoeacute uma praacutetica simboacutelica que daacute significado ou expressatildeo agrave ideacuteia de pertencimento de uma

cultura nacional ou identificaccedilatildeo com uma comunidade local [] Representaccedilatildeo eacute

certamente ligada tanto a identidade quanto ao conhecimentordquo Trazendo a esta pesquisa a

representaccedilatildeo estaacute ligada a ideacuteia de pertencimento ao Rio Grande do Sul a sua identidade

regional

Neste caso seguindo Jakzam Kaiser (2000) ldquoA construccedilatildeo social da identidade

gauacutecha eacute baseada na ideacuteia de que o Estado ocupa uma posiccedilatildeo singular do resto do Brasil por

ter caracteriacutesticas geograacuteficas e origem histoacutericas sui generis e ser um territoacuterio que delimita

diferentes fronteirasrdquo (KAISER 2000 p 38) Segundo o autor as representaccedilotildees que

produzem sentido sobre quais podemos nos identificar constroem as identidades dos gauacutechos

Desta forma para que os gauacutechos se identifiquem eacute necessaacuterio que eles partilhem

uma mesma cultura Portanto apoacutes o entendimento deste processo de cultura e identidade no

universo da representaccedilatildeo volta-se particularmente agrave cultura do Rio Grande do Sul

22 A CULTURA REGIONAL GAUacuteCHA

Considerando que a cultura pode ser resumida como o conhecimento a praacutetica e o

acuacutemulo histoacuterico de uma sociedade significa que a cultura pode ser dividida em dois grandes

campos o material e o imaterial Conforme Manoelito Carlos Savaris folclorista historiador

e atual presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF)

No campo material encontramos os haacutebitos usos costumes de uma sociedade no campo imaterial estatildeo as crenccedilas os valores e os princiacutepios dessa mesma sociedade Tanto os aspectos materiais quanto os imateriais resultam da experiecircncia histoacuterica de cada sociedade e das heranccedilas que ela tem

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

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TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

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ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 16: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

14

Nessa via abrange aspectos como indumentaacuteria muacutesica linguajar sotaque etc e

pode ser entendida como toda e qualquer manifestaccedilatildeo cultural de um povo ou de uma

determinada regiatildeo Maria Eunice Moreira (1982 p9) em seu estudo acerca da literatura rio-

grandense diz que ldquoconsiderar-se-ia regional toda a obra que intencionalmente ou natildeo

traduzisse peculiaridades locais de uma determinada regiatildeo Isto eacute toda obra seria regional

quando uma realidade particular ali estivesse representadardquo e ldquomais especificamente poreacutem

uma obra de arte para ser regionalista aleacutem de ser localizada numa regiatildeo particular deve

refletir tambeacutem os elementos ideoloacutegicos dessa realidade regionalrdquo

No Rio Grande do Sul encontramos o chamado ldquodialeto gauchescordquo com

manifestaccedilotildees crioulas9 e muitas vezes abagualadas10 Linguajar de raiacutezes portuguesas

mesclado ao indiacutegena com influecircncias espanholas italianas africanas alematildes polonesas

etc que trazem em seus bojos a simplicidade da vida campeira Quantos nomes de rios

lugares e pessoas lembram o mundo nativo dos indiacutegenas (LAMBERTY 1989 p48)

Manoelito Savaris define a cultura regional gauacutecha como o resultado de influecircncias

dos povos que habitaram o Estado do Rio Grande do Sul Aqui todos os aspectos foram

herdados de outros povos (indiacutegenas espanhoacuteis portugueses mamelucos brasileiros negros

accedilorianos alematildees italianos poloneses e outros de menor expressatildeo) A miscigenaccedilatildeo fusatildeo

e incorporaccedilatildeo das contribuiccedilotildees de cada uma dessas etnias resultam no que chamamos de

cultura gauacutecha

Nesta pesquisa duas categorias analiacuteticas ndash muacutesica e indumentaacuteria ndash adotadas para o

estudo talvez sejam as mais relevantes para questotildees de identidade e cultura regional gauacutecha

Satildeo elas

23 A MUacuteSICA REGIONALISTA

Na deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo do programa ldquoGrande Rodeio Coringardquo pela Raacutedio

farroupilha com Paixatildeo Cortes Darci Fagundes e Luiz Menezes a muacutesica regionalista

tornou-se popular em todos os sentidos

Num primeiro instante a corrente artiacutestica reuniu uma avalanche de gaiteiros cantores e trovadores que pelo despreparo de alguns aniquilou a arte achiruzando as cantorias especialmente em pequenas festividades e modestos programas

9 Crioulo eacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada regiatildeo Tudo o que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulo (LAMBERTY 1989 p 54) 10 Arisco ruacutestico grosseiro Diz-se da criaccedilatildeo que vive asselvajada

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

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MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

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NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

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41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 17: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

15

radiofocircnicos Nessa fase a pouca qualidade artiacutestica em muitos casos levou os criacuteticos a comparar a tradiccedilatildeo com grossura Contudo haviam artistas de boa qualidade (LAMBERTY 1989 P51)

A partir daiacute houve a sustentaccedilatildeo da existecircncia da verdadeira arte regionalista gauacutecha

confirmada atraveacutes de nomes como Airton Pimentel Bruno Neher Luiz Menezes Leonardo

etc Comeccedilava a surgir a consciecircncia de se formar um movimento musical nativista

viabilizado na deacutecada de 70 com o nascimento da Califoacuternia da Canccedilatildeo Nativa de Uruguaiana

por iniciativa do CTG Sinuelo do Pago no desejo de cantar as coisas do Rio Grande do Sul

Para Salvador Lamberty ldquona verdade o nativismo que surgia era uma corrente regionalistardquo

(1989 p 52) jaacute que no sentido literal da palavra de nativo possuiacutemos apenas o Bugio11

porque os demais ritmos satildeo originaacuterios de outros lugares

Um aspecto importante a ser levado em conta eacute o poema das composiccedilotildees musicais

Conforme Savaris

na muacutesica regionalista gauacutecha sempre houve cuidado com o poema As letras satildeo coerentes e cantam aspectos que dizem respeito ao sentimento nativista ao campeirismo ao folclore ou agrave histoacuteria Na nova muacutesica natildeo encontramos estas caracteriacutesticas

Embora seja possiacutevel reconhecer de imediato uma muacutesica regionalista gauacutecha atraveacutes

de sua temaacutetica observamos tambeacutem que praticamente natildeo haacute muacutesica tipicamente gauacutecha

Conforme o folclorista e historiador Manoelito Savaris em entrevista

o que temos eacute um jeito que se formou ao longo do tempo incluindo gecircneros e ritmos musicais que se caracterizam como regionais A tipicidade se deu ao longo dos uacuteltimos 70 anos do seacuteculo XX A muacutesica anterior aos anos 1930 do seacuteculo passado ou mantinha caracteriacutesticas universais ou se perdeu e depois foi resgatada virando muacutesica folcloacuterica (com a muacutesica temos a danccedila que segue a mesma loacutegica)

A vaneira12 o vaneiratildeo13 a valsa gauacutecha14 a rancheira15 a marcha16 satildeo gecircneros que

aqui no Rio Grande do Sul adquiriram um ritmo e uma forma de execuccedilatildeo que as tornaram de

11 O bugio eacute um ritmo musical Rio-Grandense genuinamente gauacutecho que surgiu a partir de uma gaita de botatildeo 12 A vaneira tem sua origem na habanera ritmo danccedilado pelos negros de Cuba e Haiti Foi exportada para a Espanha e de laacute veio para o Brasil fazendo muito sucesso depois da Polca Chote e da Mazurca No Rio Grande do Sul chamou-se Vaneira e com alteraccedilotildees de andamento na execuccedilatildeo surgem diversas variantes vaneiratildeo vaneirinha vaneira grossa Eacute danccedilada uma pouco mais raacutepido que o chotes e mais lenta do que a vaneirinha e o vaneiratildeo

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

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ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 18: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

16

caraacuteter regionalista O chamameacute e a milonga satildeo incorporaccedilotildees mais recentes vindas da

Argentina O bugio parece ser o uacutenico gecircnero musical gauacutecho de verdade O Bugio eacute um

ritmo musical genuinamente gauacutecho que nasceu de uma gaita de botatildeo que possuiacutea 48 baixos

De acordo com Salvador Lamberty (1989 p 53)

O Bugio nasceu nos braccedilos do grande gaiteiro Neneca Gomes nas serras do Mato Grande 5ordm distrito de Satildeo Francisco de Assis Essa cidade que por ser o ponto de encontro das Missotildees Serra do Jaguari e Campanha Getuacutelio Vargas chamou de ldquoUmbigo do Rio Granderdquo Laacute foram fundadas as reduccedilotildees jesuiacuteticas de Candelaacuteria do Ibicuiacute e Satildeo Tomeacute

E por ser o ldquoberccedilordquo do Bugio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Assis desde a deacutecada

de 90 eacute o responsaacutevel por sediar a ldquoQuerecircncia do Bugiordquo um festival de muacutesica nativista

bastante conhecido no Rio Grande do Sul ateacute os dias de hoje

Os movimentos dos passos de vaneira satildeo idecircnticos ao do chote tradicional cujos pares danccedilam enlaccedilados e natildeo fazendo as figuras 13 O vaneiratildeo eacute uma variante da vaneira Sua muacutesica eacute executada num riacutetmo raacutepido que eacute o que o distingue da vaneira e da vaneirinha Os passos de vaneiratildeo satildeo iguais aos passos da vaneira apenas com andamento mais raacutepido 14 Valsa - Originada das danccedilas ruacutesticas Alpinas da Aacuteustria foi soberana na Europa A valsa veio abrir caminho para uma uacuteltima geraccedilatildeo coreograacutefica que chegou ateacute nossos dias as danccedilas de pares enlaccedilados Haacute uma hipoacutetese de que a valsa brasileira sofreu influecircncia da valsa francesa ganhando aqui feiccedilotildees proacuteprias Tradicional eacute formado por dois passos-de-juntar dados num sentido e noutro alternadamente Um paso de valsa eacute composto de quatro movimentos dados para um e outro lado mas na sua forma tradicional faz-se em giro ou em curva Claacutessico eacute executado mediante trecircs movimentos sempre em giro para um lado e outro Satildeo feitos trecircs passos em trecircs tempos musicais um para cada tempo Campeiro na sua execuccedilatildeo satildeo utilizados os dois passos acima descritos Seu andamento eacute mais raacutepido e a sua movimentaccedilatildeo pode ser para a frente para traacutes no lugar e em giros para um lado e outro 15 Rancheira - Derivada da Mazurca eacute uma danccedila Polaca que chegou agrave Franccedila no seacuteculo XIX laacute ganhou algumas caracteriacutesticas e assim chegou ao Brasil Argentina e Uruguai No Rio Grande do Sul em certas regiotildees a Rancheira eacute denominada ldquoTerolrdquo mas natildeo haacute diferenccedila musical entre as duas Os Passos de Rancheira satildeo compostos de dois passos-de-juntar um para a esquerda e outro para a direita Passo-de-juntar para a esquerda peacute esquerdo daacute um passo para a diagonal esquerda e o peacute direito vem se juntar a ele para a direita peacute direito daacute um passo para a diagonal direita e o peacute esquerdo vem se juntar a ele No final do passo-de-juntar agrave esquerda faz-se uma marcaccedilatildeo no lugar de toda planta do peacute que primeiro se afastou e a seguir faz-se o novo passo-de-juntar `a direita com nova marcaccedilatildeo E assim sucessivamente Um passo de Rancheira corresponde a seis movimentos Rancheira da Fronteira- Danccedila-se a rancheira com passos bem marcados isto eacute a marcaccedilatildeo eacute feita com forte batida de toda planta do peacute e isso faz com que o corpo gingue de um lado para o outro Rancheira do Litoral - Danccedila-se o Terol com passos raacutepidos e largos uma seacuterie de passos para a frente e uma seacuterie de passos para traacutes Eacute danccedilado puladinho bem raacutepido e faz-se a marcaccedilatildeo com forte batida de toda planta do peacute Tem-se a impressatildeo de que o peatildeo estaacute empurrando violentamente a prenda e de que esta em seguida passa a empurraacute-lo 16 Marcha - A marcha assim como o samba foram produtos do carnaval Segundo Paixatildeo Cocircrtes e Barbosa Lessa em sua obra ldquoDanccedilas e Andanccedilas da Tradiccedilatildeo Gauacutecha ldquo diz o seguinte ldquoMarcha aleacutem de peccedila musical e coreograacutefica relacionada com o carnaval (marchinha carnavalesca) o nome indica um dos passos do antigo Quicumbisrdquo Os Passos de Marcha satildeo basicamente 1 e 1 e satildeo dados alternadamente com um peacute e outro um passo para cada tempo da muacutesica como se o danccedilarino marchasse ou caminhasse Podem ser dados para a frente para traacutes ou em curva Quando pequenos passos de marcha satildeo dados em curva quase no mesmo lugar fecham um giro

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 19: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

17

Manoelito Savaris ainda durante a entrevista afirmou que com o passar dos anos de

um modo geral a muacutesica regionalista foi ganhando um novo formato uma inovaccedilatildeo que a

tornou mais popular e urbana e agradou uma grande camada da populaccedilatildeo principalmente o

puacuteblico jovem poreacutem desagradou o puacuteblico tradicionalista O folclorista prossegue

as misturas de gecircneros e ritmos intentadas recentemente (a partir de 1999) numa livre criaccedilatildeo denominada ldquotchecirc musicrdquo criam e recriam permanentemente novas muacutesicas que pelo embalo e pelo apelo do momento ganham adeptos geralmente de faixa etaacuteria inferior a 30 anos Estas novas muacutesicas deixam de ter caraacuteter regional para adquirir uma roupagem ecleacutetica urbana e universal

Entre as deliberaccedilotildees e determinaccedilotildees do Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG)

por sua vez estatildeo algumas relativas agrave muacutesica Neste aspecto o Tchecirc Music gecircnero musical

regional que se contrapotildee agrave muacutesica gauacutecha por utilizar ritmos como o maxixe entre outros

ritmos e traz uma proposta diferente dos princiacutepios do MTG Em Editorial publicado na

Paacutegina do Gauacutecho um site da internet Manoelito Carlos Savaris entatildeo vice-presidente de

Administraccedilatildeo do MTG diz

o Movimento Tradicionalista Gauacutecho reuacutene anualmente as entidades filiadas no Congresso Tradicionalista Gauacutecho onde satildeo definidas as diretrizes estabelecidos os caminhos escolhidos o tema e o objetivo anual a serem seguidos para que o Movimento se mantenha iacutentegro homogecircneo e fiel agrave Carta de Princiacutepios Em janeiro uacuteltimo no 44ordm Congresso por proposiccedilatildeo do Conselheiro Flaacutevio Marcolin da cidade de Guaporeacute foi definido o seguinte objetivo Cante nossos temas e toque no autecircntico compasso gauacutecho Pois exatamente no ano em que a muacutesica gauacutecha (autecircntica e tradicional) eacute tema e objetivo prioritaacuterio do MTG surge o tchecirc music como inovaccedilatildeo espeacutecie de modismo patrocinado por interesses exclusivamente e com a participaccedilatildeo de conjuntos musicais que foram criados cresceram e adquiriu notoriedade graccedilas aos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas que constituem reunidos em associaccedilatildeo o MTG

24 A INDUMENTAacuteRIA DO GAUacuteCHO

A indumentaacuteria gauacutecha considerada tradicional conforme o Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) eacute aquela que o homem usou entre os anos de 1870 e 1950 Os

trajes masculinos anteriores ou satildeo considerados folcloacutericos ou satildeo universais A

indumentaacuteria primitiva do gauacutecho era o ldquochiripaacute Cayapirdquo de origem indiacutegena feito com uma

tira de imbira17 e depois de pano ou couro sobre a fronte Em seguida veio o pala bicharaacute18

17 Arbusto de cuja casca se preparam cordas fibra tecircxtil

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

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dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

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41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 20: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

18

camisa sem bototildees bragas e poncho Mais tarde surgiu a bota de garratildeo de potro guaiaca

chapeacuteu de couro e panccedila de burro pala e esporas chilenas Segundo Salvador Lamberty

(1989 p100)

De 1820 a 1865 foi usado em algumas regiotildees do pampa outro tipo de chiripaacute Tinha um retacircngulo de tecido que passando entre as pernas ia ateacute os joelhos amarrado agrave cintura Botas russilhonas ceroulas com franjas faixa guaiaca camisa sem bototildees jaleco lenccedilo de seda chapeacuteu de aba estreita e copa alta

Mas foi a partir de 1865 que se definiu a indumentaacuteria do gauacutecho atual Bombacha

botas esporas faixa guaiaca de couro com pecirclos ou natildeo camisa de algodatildeo colete ou

casaco lenccedilo de pescoccedilo chapeacuteu de copa alta e abas largas ou estreitas alpargatas pala de

algodatildeo ou seda poncho e a capa campeira De acordo com Lamberty (1989 p100)

Na regiatildeo da fronteira apareceram as boinas hoje comuns no Rio Grande do Sul A latilde ovina eacute largamente utilizada para confecccedilotildees artesanais de ponchos Ainda encontramos gauacutechos vestindo chiripaacutes poreacutem em fandangos e apresentaccedilotildees raramente em lidas campeiras ou passeios

O traje feminino o vestido de prenda foi uma criaccedilatildeo do tradicionalismo a partir da

deacutecada de 1950 Hoje eacute considerado traje tiacutepico Os chamados ldquotrajes alternativosrdquo 19estatildeo

num processo de consolidaccedilatildeo sendo difiacutecil prever como se firmaratildeo no futuro

De acordo com Savaris as invenccedilotildees atuais especialmente na alteraccedilatildeo da largura e

do modelo das bombachas e no tamanho e cor do lenccedilo natildeo possuem qualquer caracteriacutestica

tradicional e mesmo regional Satildeo deturpaccedilotildees alteraccedilotildees sem qualquer fundamentaccedilatildeo

histoacuterica portanto sem valor enquanto trajes toacutepicos regionais

25 A INDUMENTAacuteRIA DA MULHER GAUacuteCHA

A mulher gauacutecha chamada tambeacutem como prenda ateacute 1750 usava o ldquoTipoyrdquo

um vestido longo de algodatildeo de dois panos costurados entre si com duas aberturas para os

braccedilos e uma para o pescoccedilo Para apertar o tipoy sobre a cintura era usado um cordatildeo

chamado ldquochumberdquo Apoacutes entre outros trajes a mulher usou o chiripaacute como saia Segundo

Salvador Lamberty (1989 p101) ldquode 1820 a 1870 a mulher gauacutecha usou vestido de seda ou

18 Pala feito em teares manuais de tecelagem folcloacuterica com a latilde natural de ovelha quase sempre nas cores naturais dessa latilde 19 Eacute uma roupa composta de calccedilas largas e camisa para que a prenda use em ocasiotildees quando estaacute trabalhando ou ateacute mesmo andando a cavalo o traje tem como objetivo dar mais conforto para realizar atividades poreacutem natildeo eacute r

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

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40

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JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

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41

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SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

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WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 21: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

19

veludo botinhas fechadas travessa nos cabelos leque meias brancas e xale Era a infuecircncia

europeacuteia O autor prossegue

A mulher campesina usava uma saia e um casaquinho meias cabelos soltos ou tranccedilados sapatos fechados e ao pescoccedilo um pequeno triacircngulo de seda chamado Fichu A partir de 1870 a mulher vestiu-se de forma variada nas cidades nas campanhas sofrendo as influecircncias dos povos aqui chegados

Com o surgimento do Movimento Tradicionalista Gauacutecho adotou-se o vestido de

prenda Era o ressurgimento dos modelos antigos que melhor caracterizavam a sobriedade e a

beleza da mulher gauacutecha

26 AS DANCcedilAS GAUacuteCHAS

O gauacutecho desde um dos primoacuterdios tempos esteve constantemente em contato com

novas correntes culturais Nativas espanholas portuguesas africanas italianas etc

Conforme Lamberty

no Brasil os senhores-de-engenho apresentavam as Cavalhadas e as Marujadas Tambeacutem apresentadas nas Missotildees sob clarins clarinetas e tambores cantos de louvor divino e bumba-meu-boi [] Essas primitivas danccedilas que reuniam vaacuterias correntes eacutetnicas foram chamadas de ldquoFandangosrdquo Agregavam as caracteriacutesticas de bate-peacute ou sapateios Foram nos fandangos que nasceram as danccedilas do Balaio Anu Quero-Mana Tirana Chula Sarabalho Danccedila dos Facotildees Chimarrita Maccedilanico Pezinho etc

As danccedilas folcloacutericas gauacutechas chegaram ao Rio Grande do Sul trazidas dos mais

diversos paiacuteses Poucas satildeo originaacuterias do Estado ou do Paiacutes Antes de aqui chegarem

geralmente passaram por outras naccedilotildees Pelo Brasil foram danccediladas de vaacuterias formas Com o

passar do tempo por influecircncias eacutetnicas foram sofrendo alteraccedilotildees em suas coreografias

Poreacutem todas receberam influecircncia da cultura gauacutecha ldquoForam nas estacircncias gauacutechas que as

danccedilas desempenharam um papel de convivecircncia social muito importante [] as danccedilas eram

acompanhadas de cantos pragmaacuteticosrdquo (LAMBERTY 1989) que prossegue

os primitivos fandangos ou bailes campeiros do gauacutecho compunham-se de cantigas do Anu Balaio Tirana etc com peotildees sapateando e as prendas em sarandeios sob galanteios Eram danccedilas de pares soltos ou executadas somente por homens como a chula danccedila preferida pelos tropeiros Muito tempo apoacutes eacute que surgiram as danccedilas de pares enlaccedilados Continuava a danccedila como um instrumento de galanteios de amor

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 22: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

20

Com o passar dos tempos surgiram outras danccedilas Foi o Chote a Valsa a Milonga a

Vaneira o Bugio etc Todas de pares enlaccedilados conforme foi observado no programa

Galpatildeo Crioulo As danccedilas de pares soltos foram tornando-se raras em fandangos

27 TRADICcedilAtildeO X TRADICIONALISMO

Em um sentido amplo tradiccedilatildeo quer dizer o culto dos valores que herdamos de nossos ancestrais Segundo Antocircnio Augusto Fagundes (1997 p37) eacute importante esclarecer que Tradiccedilatildeo natildeo eacute uma exclusividade gauchesca

Todo o grupo social toda a naccedilatildeo tem a sua proacutepria escala de valores e eacute essa escala que torna os povos distintos entre si Os gauacutechos se distinguem de outros brasileiros ndash e mesmo de outros povos no mundo ndash porque tem uma escala de valores muito caracteriacutestica

Enquanto a Tradiccedilatildeo significa um culto o Nativismo traduz um sentimento e ambos

existem em todo o mundo Tradiccedilatildeo e Nativismo podem andar com uma uacutenica pessoa

Existem no singular Tradicionalismo natildeo eacute obrigatoriamente associativo coletivo Agora o

tradicionalismo soacute existe no Rio Grande do Sul ldquoQuando existe fora daqui eacute o gauacutecho que

estende muito longe os seus braccedilos para estreitar junto ao coraccedilatildeo em todas as querecircncias os

gauacutechos as gauacutechas e seus descendentesrdquo (FAGUNDES 1997 p38)

Segundo Salvador Lamberty Tradicionalismo ldquoeacute a arte de colocar em movimento as

peccedilas de uma tradiccedilatildeo Eacute basicamente um movimentordquo No que se refere ao Tradicionalismo

gauacutecho trata-se de um estado de consciecircncia que busca preservar as boas coisas do passado

sem conflitar com o progresso atraveacutes do cultuar vivenciar e preservar o patrimocircnio soacutecio-

cultural do povo gauacutecho ldquoEacute a sociedade que defende preserva cultua e divulga a tradiccedilatildeo

gauacutecha que congrega defensores dos costumes dos haacutebitos da cultura dos valores do

gauacutechordquo (1989 p 22)

Segundo Barbosa Lessa em texto publicado em um site da internet

o Tradicionalismo consiste numa experiecircncia do povo rio-grandense no sentido de auxiliar as forccedilas que pugnam pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade Como toda experiecircncia social natildeo proporciona efeitos imediatamente perceptiacuteveis O transcurso do tempo eacute que viraacute dizer do acerto ou natildeo desta campanha cultural De qualquer forma as geraccedilotildees do futuro eacute que poderatildeo indicar com intensidade os efeitos desta nossa - por enquanto - paacutelida experiecircncia E ao dizermos isso estamos acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa esteacuteril de retorno ao passado A realidade eacute justamente o oposto o Tradicionalismo constroacutei para o futuro

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

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SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 23: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

21

Quanto agraves caracteriacutesticas do tradicionalismo Lessa prossegue

O tradicionalismo age dentro da psicologia coletiva Sua dinacircmica realiza-se por intermeacutedio dos Centros de Tradiccedilotildees Gauacutechas agremiaccedilotildees de cunho popular que tecircm por fim estudar divulgar e fazer com que o povo viva as tradiccedilotildees rio-grandenses O Tradicionalismo deve ser um movimento nitidamente popular natildeo simplesmente intelectual Eacute verdade que o tradicionalismo continuaraacute sendo compreendido em sua finalidade uacuteltima apenas por uma minoria intelectual Mas para vencer eacute fundamental que seja sentido e desenvolvido no seio das camadas populares isto eacute nas canchas de carreiras nos auditoacuterios de raacutedio emissoras nos festivais e bailes populares nas Festas do Divino e de Navegantes etc

Tradicionalismo eacute um movimento ciacutevico-cultural ldquoEacute a tradiccedilatildeo em marcha

resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente

os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-os

no futurordquo (FAGUNDES 1997 p38)

Para alcanccedilar seus fins o Tradicionalismo serve-se do Folclore da Sociologia da

Arte da Literatura do Esporte da Recreaccedilatildeo etc Tradicionalismo natildeo se confunde pois

com Folclore Literatura Teatro etc Tudo isso constitui meios para que o Tradicionalismo

alcance seus fins Natildeo se deve confundir o Tradicionalismo que eacute um movimento com o

Folclore a Histoacuteria a Sociologia etc que satildeo ciecircncias Natildeo se deve confundir o folclorista

por exemplo com o tradicionalista aquele eacute o estudioso de uma ciecircncia este eacute o soldado de

um movimento Os Tradicionalistas natildeo precisam tratar cientificamente o folclore

Nesta perspectiva o indiviacuteduo que nasce no Rio Grande do Sul eacute gauacutecho mas natildeo

necessariamente tradicionalista Segundo Jatir Cosme Delazeri presidente da Confederaccedilatildeo

Norte Americana de Tradicionalismo Gauacutecho Brasileiro (CNATGB)

Hoje para ser Gauacutecho Tradicionalista natildeo eacute necessaacuterio ter nascido no Rio Grande do Sul pode ter nascido em qualquer paiacutes do mundo basta ser amante da Cultura Gauacutecha usar suas vestes ou a Pilcha Gauacutecha gostar de um bom churrasco e tomar chimarratildeo

28 O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAUacuteCHO

Historicamente o tradicionalismo surge ao mesmo tempo em que eacute criado o 35 Centro

de Tradiccedilotildees Gauacutechas de Porto Alegre em 24 de abril de 1948 por um grupo de estudantes do

Coleacutegio Juacutelio de Castilhos todos vindos do interior do Estado

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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40

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____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 24: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

22

o 35 nome dado em homenagem agrave Revoluccedilatildeo de 183520 foi estruturado com bases idecircnticas agraves que hierarquizam a estacircncia propriedade rural de grande extensatildeo com patratildeo capataz sota-capataz agregados posteiros correspondendo aos tiacutetulos de presidente vice-presidente secretaacuterio tesoureiro e diretor Os Conselhos consultivos ou deliberativos foram chamados de Conselho de Vaqueanos e os departamentos de Invernadas (JACKS 2003 P36)

Segundo Salvador Lamberty a finalidade do 35 CTG foi assim expressa a) zelar pelas

tradiccedilotildees do Rio Grande do Sul sua histoacuteria suas lendas canccedilotildees costumes etc e

consequumlente divulgaccedilatildeo pelos Estados irmatildeos e paiacuteses vizinhos b) pugnar por uma sempre

maior elevaccedilatildeo moral e cultural do Rio Grande do Sul c) fomentar a criaccedilatildeo de nuacutecleos

tradicionalistas no Estado dando-lhes todo o apoio possiacutevel O Centro natildeo desenvolveraacute

qualquer atividade poliacutetico-partidaacuteria racial ou religiosa (1989 p27)

A pesquisadora Nilda Jacks afirma ainda que um CTG procura lembrar o mais

fielmente possiacutevel a vida do gauacutecho no passado suas lides na fazenda feitos e fatos do RSrdquo

E como toda e qualquer entidade social natildeo foge agraves regras tem seu presidente vice-

presidente etc Poreacutem adotou-se uma nomenclatura simboacutelica que traduz para a linguagem

campeira a nomenclatura convencional Assim o presidente passa a ser denominado ldquopatratildeordquo

O vice-presidente ldquocapatazrdquo O secretaacuterio ldquosota-capatazrdquo O tesoureiro ldquoagregado fielrdquo ou

ldquoagregado das pilchasrdquo O assessor de comunicaccedilotildees ldquoagregado das falasrdquo ou ldquochiru das

falasrdquo O encarregado dos serviccedilos gerais ldquocapataz geralrdquo O presidente de honra ldquopatratildeo de

honrardquo O conselho deliberativo ou fiscal ldquoconselho de vaqueanosrdquo O encarregado da

limpeza e conservaccedilatildeo das dependecircncias do Centro ldquopeatildeo caseirordquo

Cada Centro ainda pode ter diretor artiacutestico diretor cultural chefe da campeira diretor de esportes etc Aleacutem da patronagem os CTGs elegem suas primeiras segundas e terceiras prendas das modalidades mirim juvenil e adulta Para cada evento realizado como rodeios ou festas campeiras satildeo eleitas primeira segunda e terceiras prendas especiacuteficas para o acontecimento Em muitas ocasiotildees satildeo eleitas as ldquomais prendadas prendasrdquo (LAMBERTY 1989 P28)

Mas ao tratarmos de tradicionalismo como movimento e natildeo mais apenas como uma

busca em resgatar as coisas do passado surge o Movimento Tradicionalista Gauacutecho (MTG) a

federaccedilatildeo dos CTGs e entidades afins que coordena todas as atividades do Tradicionalismo no

Rio Grande do Sul

20 Revoluccedilatildeo Farroupilha

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

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TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 25: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

23

A criaccedilatildeo do MTG ocorreu em 1966 durante o XII Congresso realizado em Tramandaiacute embora jaacute houvesse sido posta em discussatildeo em muitos outros encontros anteriores A necessidade da criaccedilatildeo desta federaccedilatildeo segundo os tradicionalistas deve-se ao fato de que as entidades filiadas natildeo adotavam as deliberaccedilotildees dos congressos devido agrave inexistecircncia de oacutergatildeo fiscalizador (JACKS 2003 P41)

O MTG em seu site oficial eacute definido como uma sociedade civil sem fins lucrativos

dedica - se agrave preservaccedilatildeo resgate e desenvolvimento da cultura gauacutecha por entender que o

tradicionalismo eacute um organismo social de natureza nativista ciacutevica cultural literaacuteria artiacutestica

e folcloacuterica conforme descreve simbolicamente o Brasatildeo de Armas do MTG com as sete ( 7

) folhas do broto que nasce do tronco do passado Tem como objetivo portanto resgatar

preservar e valorizar os costumes e a tradiccedilatildeo gauacutecha Eacute o oacutergatildeo catalisador o disciplinador e

o orientador das atividades dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao

preconizado em sua Carta de Princiacutepios

A criaccedilatildeo do MTG foi a realizaccedilatildeo do anseio e da culminacircncia do trabalho de muitos

tradicionalistas O MTG hoje eacute o oacutergatildeo catalisador disciplinador orientador das atividades

dos seus filiados especialmente no que diz respeito ao preconizado em sua Carta de

Princiacutepios atraveacutes de um estatuto

MTG eacute a entidade associativa que congrega mais de mil e quatrocentas Entidades

Tradicionalistas legalmente constituiacutedas conhecidas por Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas

(CTGs) ou Grupos Nativistas ou Grupos de Arte Nativa ou Piquetes de Laccediladores ou Grupos

de Pesquisa Folcloacuterica ou outras denominaccedilotildees que as identifiquem com a finalidade a que se

propotildee que satildeo as ldquoentidades afinsrdquo As Entidades Tradicionalistas filiadas ao MTG estatildeo

distribuiacutedas nas 30 Regiotildees Tradicionalistas as quais agrupam os 500 municiacutepios do nosso

Estado Eacute um movimento ciacutevico cultural e associativo

29 O NATIVISMO E O MOVIMENTO NATIVISTA

Os valores do culto agrave Tradiccedilatildeo mais caracteriacutesticos do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a coragem a hospitalidade a honra o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros Assim vecirc-se desde logo que o Nativismo natildeo eacute um culto

como a Tradiccedilatildeo mas um dos valores desse culto Nico Fagundes elucida

Nativismo eacute o amor que a pessoa tem pelo chatildeo onde nasceu onde eacute nato E esse amor claro existe em todos os lugares natildeo eacute patrimocircnio exclusivo do gauacutecho Os

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

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GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

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RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 26: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

24

gauacutechos aliaacutes tecircm em seu vocabulaacuterio duas palavras muito bonitas ligadas ao Nativismo pago e querecircncia Pago eacute onde se nasceu Querecircncia eacute onde se vive Agraves vezes se confundem porque eacute muito comum as pessoas nascerem e viverem no mesmo lugar Agraves vezes natildeo Um diaacutelogo muito comum eacute este ldquoDe onde tu eacutes cria viventerdquo ldquoEu sou dos pagos do Alegrete mas sou aquerenciado em porto alegrerdquo O gauacutecho eacute tatildeo nativista que chega a ser bairrista e o bairrismo deve ser percebido como a caricatura do nativismo Existem rivalidades bairristas entre cidades gauacutechas alimentadas pela juventude sobretudo no carnaval e no esporte aleacutem dos apelidos trocados entre moradores de cidades ldquorivaisrdquo (1997 p37 ndash 38)

Talvez natildeo haja povo mais nativista que o gauacutecho Por isso haacute uma tendecircncia para

denominar como nativista a arte que nasce da terra gauacutecha teriacuteamos assim a poesia nativista

o romance nativista a muacutesica nativista a canccedilatildeo nativista Portanto concordando com Nico

Fagundes (1997) quando se fala em arte o melhor eacute dizer simplesmente ldquoregionalista

gauchescardquo

Mas para a autora Nilda Jacks o Nativismo ldquoeacute um movimento predominantemente

musical desencadeado pela criaccedilatildeo de festivais de cunho nativista na deacutecada de 1970 que

alcanccedilou seu auge nos anos 80 mesma deacutecada do surgimento do Galpatildeo Crioulo O festival

pioneiro que serviu de modelo para organizaccedilatildeo e definiccedilatildeo de objetivos foi a Califoacuternia da

Canccedilatildeo Nativa cuja primeira ediccedilatildeo aconteceu em 1971 na cidade de Uruguaiana [] sendo

um dos mais importantes festivais e que durante a deacutecada de 70 predominou de forma quase

absoluta fez com que houvesse o interesse de outros municiacutepios para a realizaccedilatildeo de seus

festivais pois aleacutem da promoccedilatildeo cultural se tornou grande incentivador do turismo local

Assim o Rio Grande do Sul presenciava um surto de festivais em nuacutemero tatildeo elevado que se

realizavam quase que semanalmenterdquo

O fato eacute que o Movimento Nativista ldquoconsolidou-se em dois setores fundamentais no

interior do Estado e nas camadas jovensrdquo (JACKS 1999 p78) ldquoEm boa parte de classe

meacutedia que faz pouco tomam chimarratildeo vestem bombacha e curtem muacutesica gauacutecha haacutebitos

que perderam estigma de grossurardquo completa Oliven (1984 p59)

Mas quando se fala em nativismo eacute preciso pensar no seu significado em um sentido

amplo Concordando com o historiador Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de

Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) ldquonativismo eacute sentimento portanto natildeo existe movimento

Movimento Nativista natildeo existerdquo afirmou em palestra realizada no municiacutepio de Satildeo Sepeacute ndash

RS em 4 de setembro de 2007

Outros autores tambeacutem definem nativismo nesta perspectiva Para Antocircnio Augusto

Fagundes ldquoo que caracteriza os valores do culto agrave tradiccedilatildeo do Rio Grande do Sul satildeo o

nativismo a honra a hospitalidade a coragem o respeito agrave palavra empenhada o

cavalheirismo aleacutem de outros que satildeo peculiaridades do gauacutechordquo

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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40

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_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

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LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

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WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 27: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

25

Em nosso vocabulaacuterio encontramos dois termos inteiramente ligados ao nativismo

que satildeo pago e querecircncia O primeiro define o lugar onde nascemos e o segundo o lugar

onde vivemos o que natildeo raras vezes se confunde pois eacute um tanto comum nascermos e

vivermos num mesmo lugar Temos ateacute a pretensatildeo de afirmar que nenhum povo ama mais o

seu pago a sua querecircncia do que noacutes os gauacutechos O sentimento de amor ao Rio Grande eacute tatildeo

intenso entre noacutes gauacutechos que chegamos a ser bairristas o que vem a ser o exagero de

sentimento de amor a terra Edilberto Teixeira (1987) diz que nativismo eacute a qualidade do

nativista Eacute aquele que eacute contraacuterio que eacute infenso a estrangeiros Tudo o que eacute proacuteprio do lugar

de nascimento que eacute ingecircnito natural natildeo adquirido Em filosofia nativismo eacute a teoria das

ideacuteias inatas independentes da experiecircncia

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

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4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 28: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

26

3 OBJETO EMPIacuteRICO E A DESCRICcedilAtildeO DA PESQUISA

31 O GALPAtildeO CRIOULO

O Galpatildeo Crioulo o objeto empiacuterico desta pesquisa faz parte da programaccedilatildeo da RBS

TV a emissora que tem a maior penetraccedilatildeo no Rio Grande do Sul certamente por fazer parte

da principal rede nacional e possuir onze emissoras no interior do Estado aleacutem da cabeccedila de

Rede em Porto Alegre ndash sem falar dos canais a cabo A grade da RBS TV ocupa cerca de dez

por cento da grade da programaccedilatildeo nacional da Globo (HINERASKY 2001) com a cobertura

telejornaliacutestica do estado e programas voltados agrave cultura e a histoacuteria gauacutecha (mais ainda a

atuaccedilatildeo em Santa Catarina)

No que se refere agrave gauchidade o Galpatildeo Crioulo destaca-se entre os programas Estaacute

no ar desde 1982 divulgando a cultura regional atraveacutes da muacutesica Apresentado desde a

primeira ediccedilatildeo por Antonio Augusto Fagundes (mais conhecido como Nico Fagundes) desde

2000 divide o palco com o sobrinho Neto Fagundes O programa natildeo eacute gravado em estuacutedio

costuma ser gravado em palcos fazer parte de eventos (feiras exposiccedilotildees) ou ateacute mesmo em

fazendas mostrando as peculiaridades dos lugares Aleacutem disso o Galpatildeo Crioulo mostra

traccedilos tiacutepicos ligados agrave cultura regional como o chimarratildeo a Bandeira do Estado trajes

tiacutepicos da indumentaacuteria gauacutecha cavalo Fogo de chatildeo etc

Conforme Hinerasky (2002) o programa mudou vaacuterias vezes de horaacuterio No iniacutecio

era veiculado entre 9h e 11h de domingo mudando para saacutebados agrave tarde e voltando

novamente aos domingos poreacutem pelas manhatildes Tem sido transmitido agraves 6h45 aos domingos

apoacutes o Campo e Lavoura Segundo o diretor de telejornalismo Raul Costa Juacutenior em

entrevista agrave Hinerasky (2002)

foi uma opccedilatildeo estrateacutegica a partir dos espaccedilos que a gente tinha na programaccedilatildeo da Globo Quando o Galpatildeo Crioulo estava no saacutebado a tarde ele natildeo tinha nada a ver com o puacuteblico de saacutebado a tarde estava perdendo audiecircncia [] o perfil do puacuteblico que assiste televisatildeo naquele horaacuterio eacute outro natildeo eacute o puacuteblico nativista interessado no nativismo mas eacute um puacuteblico interessado em questotildees gerais natildeo tatildeo especiacuteficas O puacuteblico interessado no nativismo vai a qualquer horaacuterio

Jaacute na abertura do programa aspectos da cultura regional estatildeo bem demarcados O

cenaacuterio mostra a Guerra dos Farrapos Farroupilhas e Republicanos se enfrentam montados

em seus cavalos com suas lanccedilas espadas e clarins Ao mesmo tempo mostra o gauacutecho

tomando o chimarratildeo (um dos principais siacutembolos do RS) agrave beira de um fogo de chatildeo

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

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RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

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ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 29: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

27

Tambeacutem a figura do gauacutecho teluacuterico e cavalheiro contemplando a sua prenda que estaacute agrave sua

espera em tempos de Revoluccedilatildeo A trilha sonora eacute a muacutesica Origens (ANEXO 2) com autoria

de Os Fagundes

Ao longo de duas deacutecadas o Galpatildeo Crioulo vem abrindo espaccedilo para o muacutesico

regional Diversos artistas consagrados consolidaram fama no programa e muitos

despontaram para os palcos e hoje o programa ainda conserva este espaccedilo revelando novos

talentos Segundo o site da RBS TV no link do Galpatildeo Crioulo21 jaacute foi apresentado em Santa

Catarina Mato Grosso do Sul e tambeacutem Brasiacutelia Buenos Aires interior da Argentina e

Uruguai e ateacute Paris Consta tambeacutem que Nico Fagundes jaacute apresentou o Galpatildeo Crioulo a

cavalo de trem de barco e ateacute montado num elefante

Pode-se afirmar que as manifestaccedilotildees de folclore que representam a arte autecircntica de

um povo satildeo sempre prestigiadas sendo a cultura gauacutecha a alavanca o ponto de apoio do

programa ldquoAo longo de sua trajetoacuteria o Galpatildeo Crioulo ganhou precircmios internacionais (em

Nova York e Buenos Aires) editou uma coleccedilatildeo de discos onde brilham os astros e estrelas

do gauchismordquo

Para os produtores do programa Fernando Alencastro e Rosana Orlandi22 ldquoo Galpatildeo

Crioulo estaacute sempre com a trincheira aberta na defesa de nossa cultura Eacute uma vitrine

gigantesca e democraacutetica para o artista que interpreta a arte mais autecircntica do seu povo Os

produtores prosseguem

Este eacute o lema do Galpatildeo Crioulo criado por Nico Fagundes e que procuramos carregar com o nome do programa divulgando a cultura gauacutecha nas suas diversas formas e expressotildees O programa tem uma linha descontraiacuteda e aproveita a experiecircncia do Nico como antropoacutelogo e folclorista para mostrar novos aspectos da histoacuteria e dos costumes regionais A muacutesica ocupa grande parte do espaccedilo da produccedilatildeo mas tambeacutem explora outros aspectos da cultura gauacutecha como a culinaacuteria a literatura a indumentaacuteria e as expressotildees proacuteprias do Rio Grande do Sul As gravaccedilotildees podem acontecer em uma fazenda agrave beira de um fogo de chatildeo em um galpatildeo em algum Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas (CTG) ou virar um grande espetaacuteculo popular com palco e cenaacuterio montados em qualquer cidade do interior gauacutecho

Nessa perspectiva segundo os profissionais independentemente da variaccedilatildeo de

cenaacuterio ou ambiente em que estaacute sendo gravado o Galpatildeo Crioulo procura carregar consigo

os valores da cultura regional gauacutecha e divulgaacute-la onde quer que esteja

21httpmediacenterclicrbscombrtemplatesResultadoBuscaaspxuf=1amptipo=categoriaamptexto=26ampchannel=4 22 Em entrevista concedida agrave pesquisadora via e-mail no dia 22 de novembro de 2007

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 30: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

28

32 OS APRESENTADORES

Nico Fagundes eacute advogado jornalista compositor escritor antropoacutelogo historiador e

um dos principais folcloristas do Rio Grande do Sul Formado em Direito poacutes-graduado em

Histoacuteria do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social todos os seus cursos foram

realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)23 Dessa forma eacute

respeitado como autoridade em Folclore gauacutecho Histoacuteria do RS Antropologia Religiotildees

afro-gauacutechas Indumentaacuteria do RS Cozinha gauchesca e danccedilas folcloacutericas

Durante toda sua trajetoacuteria dedicou-se a estudos relacionados agrave tradiccedilatildeo gauacutecha

divulgando nossa cultura atraveacutes de seus inuacutemeros precircmios recebidos Sejam eles em

declamaccedilotildees poesias danccedilas folcloacutericas teses e composiccedilotildees musicais gauchescas Eacute autor

de 17 livros e mais de 300 canccedilotildees entre elas o famoso Canto Alegretense e o tema de

abertura do programa Origens Desde 1982 eacute o apresentador do Programa e em 1984

tambeacutem passou a comandar o programa de Raacutedio Galpatildeo Nativo na Raacutedio Gauacutecha AM

Antonio Augusto (Nico) Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1935 em Alegrete-

RS filho de Euclides Fagundes e Florentina da Silva Fagundes Eacute pessoa conhecida na cultura

gauacutecha premiado como poeta novelista compositor autor e ator de teatro TV e cinema O

Canto Alegretense muacutesica em que os versos satildeo de sua autoria eacute mais cantado que o proacuteprio

Hino de Alegrete

Aleacutem disso sempre deu a devida importacircncia agrave dupla ligaccedilatildeo da cultura gauacutecha com o

outro Brasil e com os paiacuteses do Prata Tornou-se assim com o tempo e apoiado em uma

biblioteca preciosa um estudioso seacuterio respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul no

Uruguai e na Argentina conferencista biliacutenguumle e autor de inuacutemeras obras de consulta

obrigatoacuteria Entretanto a sua face menos conhecida eacute tambeacutem sua face mais antiga a de

poeta

No ano de 2000 em funccedilatildeo de um derrame cerebral Nico Fagundes passou a dividir o

palco com o sobrinho Neto Fagundes filho de seu irmatildeo Bagre Fagundes A muacutesica entrou

na vida de Neto Fagundes atraveacutes das fitas cassetes que seu pai colocava para tocar durante as

viagens da famiacutelia

23 httpassisbrasilorgjoaonicofaguhtm

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

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GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

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MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

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NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 31: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

29

Nos saraus de fim de semana Bagre e seus filhos interpretavam Lupiciacutenio Rodrigues

Catulo da Paixatildeo cearense Pedro Raimundo e Luiz Gonzaga O trio participava de festivais

cantando muacutesica nativista popular brasileira de protesto e castelhana

Em 1978 Neto chega a Porto Alegre com 15 anos Comeccedila a estudar Direito mas

desenha seu destino nos palcos de bares nativistas dos festivais e das Pentildeas do 35 CTG Em

1982 o lanccedilamento em disco do Canto Alegretense faz Neto Fagundes largar a faculdade e

assumir a muacutesica Depois de participar do festival Sud a Sul que levou artistas gauacutechos agrave

cidade francesa de Sanary-sur-mer em julho de 1996 e de se apresentar junto com seu irmatildeo

Ernesto seu tio Nico seu pai Bagre e a Orquesta Sinfocircnica de Porto Alegre (OSPA) para

mais de 50 mil pessoas em Gramado Neto Fagundes lotou os 600 lugares do Teatro Alvear

em Buenos Aires no iniacutecio de 1997

Em relaccedilatildeo ao evento na Franccedila um dos jornais da regiatildeo cuja capital eacute Marselha

classificou Neto como muacutesico fora do comum acrescentando que o puacuteblico teve o prazer de

descobrir uma muacutesica que natildeo conhecia e que nativismo para os brasileiros eacute o que os

franceses chamam de folclore

Completando 20 anos de carreira Neto Fagundes eacute um dos muacutesicos de maior prestiacutegio

e popularidade dentre os artistas do Rio Grande do Sul Para entender melhor sua muacutesica

basta prestar atenccedilatildeo agrave letra de seu maior sucesso Canto Alegretense O refratildeo diz Ouve o

canto gauchesco e brasileiro desta terra que eu amei desde guri

Talvez mirando horizontes abertos do pampa Neto Fagundes natildeo se deteacutem na fronteira segura

da muacutesica nativista gauacutecha Como ele proacuteprio define minha muacutesica tem base gauacutecha mas

funde-se com a muacutesica brasileira Neto Fagundes eacute um muacutesico gauacutecho brasileiro estrangeiro

O ritmo do seu coraccedilatildeo estaacute afinado com o mundo e cada vez mais perto do Rio Grande do

Sul

30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

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HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

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_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

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41

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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30

4 A METODOLOGIA

Neste capiacutetulo apresentamos a trajetoacuteria adotada para o desenvolvimento da pesquisa

explicitando os procedimentos teacutecnicas e instrumentos utilizados

41 O CORPUS DA PESQUISA

O corpus contempla seis programas gravados entre setembro e outubro de 2007 (trecircs

programas em cada mecircs) sendo um deles na Semana Farroupilha Uma escolha estrateacutegica no

intuito de verificar se o mecircs do Gauacutecho interfere na apresentaccedilatildeorepresentaccedilatildeo da muacutesica e

indumentaacuteria em relaccedilatildeo aos outros periacuteodos Como caraacuteter de anaacutelise exploratoacuteria aleacutem dos

seis programas gravados obtivemos uma gravaccedilatildeo do programa de 9 de maio de 1982 eacutepoca

em que comeccedilou o programa pela TV Gauacutecha hoje RBS TV Neste estavam presentes Os

Serranos Leopoldo Rassier Leonardo e o poeta e um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista Gauacutecho Glaucus Saraiva que ao receber o chimarratildeo das matildeos de Nico

Fagundes declamava a poesia de sua autoria intitulada Chimarratildeo (ANEXO 3)

No primeiro programa gravado na cidade de Caxias do Sul na Serra Gauacutecha se

apresentaram Joatildeo de Almeida Neto acompanhado da orquestra sinfocircnica da Universidade

de Caxias do Sul (UCS) Adelar Bertussi e Luiz Marenco No segundo programa gravado no

municiacutepio de Alvorada houve apresentaccedilatildeo do grupo Expresso Tchecirc Balanccedilo Campeiro

Bochincho Buenas e MrsquoEspalho e o cantor Idelfonso Milchareck O terceiro programa foi

gravado no municiacutepio de Estacircncia Velha tendo a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio do

municiacutepio de Soledade Daniel Torres de Santa Vitoacuteria do Palmar Leonel Goacutemez de Santana

do Livramento e Joca Martins de Pelotas O quarto programa gravado no Acampamento

Farroupilha teve a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes um dos idealizadores do Movimento

Tradicionalista que tem na Estaacutetua do Laccedilador a maior expressatildeo do Tradicionalismo

Gauacutecho O quinto programa transmitido de Cruz Alta da 10ordf Fenatrigo levou ao palco Jorge

Freitas de Santo Acircngelo Davi Menezes Jr de Cachoeira do Sul Cristiano Quevedo de

Piratini Jader Moreci Teixeira mais conhecido como Leonardo de Bageacute e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo de Satildeo Gabriel O sexto e uacuteltimo programa gravado foi na cidade de

Ijuiacute durante a Expoijuiacute e Fenadi 2007 No iniacutecio deste programa Nico Fagundes destacou a

importacircncia da ldquodanccedila gauacutechardquo no cenaacuterio cultural do Rio Grande do Sul em seguida a

invernada artiacutestica do CTG Clube Farroupilha de Ijuiacute fez uma apresentaccedilatildeo e logo depois o

grupo vocal Querecircncia da mesma cidade se apresentou acompanhado de gaita violatildeo e

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 33: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

31

bombo leguumlero o grupo fez uma homenagem a Nico Fagundes cantando a muacutesica Escravo de

Saladeiro de autoria da famiacutelia Fagundes No final da apresentaccedilatildeo Nico bastante

emocionado fez um agradecimento especial ao grupo e destacou que das tantas homenagens

que jaacute recebeu ao longo de sua vida aquela foi a que mais lhe emocionou

42 DELIMITACcedilOtildeES DA PESQUISA

A proposta inicial era uma anaacutelise do programa Galpatildeo Crioulo sob diversos

aspectos como muacutesica linguajar indumentaacuteria cenaacuterio etc poreacutem optamos por delimitar e

focar a pesquisa sob dois aspectos centrais muacutesica e indumentaacuteria gauacutecha ndash nossas duas

categorias analiacuteticas tendo como embasamento o Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore

(IGTF) que considera estes dois itens os mais fundamentais na construccedilatildeo da identidade

gauacutecha

Realizamos entatildeo uma anaacutelise descritiva do programa Galpatildeo Crioulo utilizando

uma matriz intertextual como metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees identitaacuterias De

acordo com Ada Machado (2001 p26)

a matriz intertextual busca estabelecer as competecircncias que permitem estabelecer as fontes precisas ligaccedilotildees temas meios de comunicaccedilatildeo ou suportes que fazem a relaccedilatildeo entre os distintos textos no tempo e no espaccedilo desde a intervenccedilatildeo de uns sujeitos concretos

Neste trabalho a competecircncia tomada para anaacutelise foi a competecircncia descritiva onde

foram observados aspectos da identidade do Gauacutecho tendo como pontos de referecircncia a

indumentaacuteria (do Gauacutecho em ambiente rural) e a muacutesica (a que marca os traccedilos da cultura

gauacutecha atraveacutes de temaacuteticas que falem da vida no campo) Nesta perspectiva observamos a

indumentaacuteria de cada convidado que subiu ao palco do Galpatildeo Crioulo tanto de cantores ou

grupos musicais como invernadas artiacutesticas ou grupos de danccedilas tradicionais e tambeacutem cada

muacutesica apresentada foi analisada levando em conta a temaacutetica o ritmo e os instrumentos

musicais utilizados

Vale ressaltar que cada programa gravado foi descrito da seguinte forma foram

transcritas as aberturas dos programas Galpatildeo Crioulo bem como a trilha sonora escolhida e

a indumentaacuteria usada por personagens logo na abertura do programa Depois foram descritos

os apresentadores do programa a partir das categorias acima explicadas bem como os artistas

que passaram pelo palco do programa destacados pelo corpus

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

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ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

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GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

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40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

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SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 34: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

32

Entatildeo como procedimento praacutetico de observaccedilatildeo construiacutemos grades descritivas o

que facilitou a observaccedilatildeo e identificaccedilatildeo dos aspectos centrais da representaccedilatildeo da cultura

gauacutecha no programa Destacamos tambeacutem que a anaacutelise descritiva compreendeu a abertura

do programa assim como as vinhetas

43 TEacuteCNICAS DE PESQUISA

Optamos por trecircs teacutecnicas de coleta de dados pesquisa bibliograacutefica coleta de

material sobre o Galpatildeo Crioulo gravaccedilatildeo dos programas e entrevistas semi-estruturadas

431 Teacutecnica de coleta de dados

a) Pesquisa Bibliograacutefica

Num primeiro momento utilizamos a teacutecnica de Pesquisa Bibliograacutefica na qual

procuramos reunir em livros artigos perioacutedicos e materiais on line sobre representaccedilatildeo

cultura regional e tradicionalismo aleacutem de material sobre o programa Galpatildeo Crioulo Para

LAKATOS (2002 p 71) a finalidade desta teacutecnica eacute ldquocolocar o pesquisados em contato

direto com tudo o que foi escrito dito ou filmado sobre determinado assuntordquo

b) Gravaccedilatildeo dos programas

Para uma aproximaccedilatildeo inicial com o corpus foram gravados 6 programas dias 16 23

e 30 de setembro de 2007 (aproveitando o mecircs do gauacutecho sendo o primeiro 16 na Semana

Farroupilha) e dias 7 14 e 21 de outubro de 2007 no formato VHS (Viacutedeo Home System)

Conforme jaacute destacamos tambeacutem conseguimos a gravaccedilatildeo da estreacuteia do programa em 9 de

maio casualmente Dia das Matildees daquele ano O formato da gravaccedilatildeo eacute em DVD (Digital

Versatile Disc)

c) Entrevistas

O estudo elegeu por realizar entrevistas semi-estruturadas complementadas por

contato atraveacutes de e-mail para esclarecimentos De acordo com Lakatos neste tipo de

entrevista o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situaccedilatildeo em qualquer direccedilatildeo

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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40

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____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

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41

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SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

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WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 35: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

33

que considere adequada (2002 p 94) Para o autor ldquoEacute uma forma de poder explorar mais

amplamente uma questatildeordquo

O autor Augusto Trivintildeos (apud HINERASKY 2004) elucida que a entrevista semi-

estruturada em geral ldquoparte de certos questionamentos baacutesicos apoiados em teorias e

hipoacuteteses que interessam agrave pesquisa e que em seguida oferecem amplo campo de

interrogativas fruto de novas hipoacuteteses que vatildeo surgindo agrave medida que se recebem as

respostas do informanterdquo Desta forma o entrevistado ajuda de certo modo na conduccedilatildeo e

elaboraccedilatildeo da entrevista segundo suas experiecircncias e linhas de pensamento (HINERASKY

2004 p 105)

Na busca de mais informaccedilotildees sobre o Movimento Tradicionalista do Rio Grande do

Sul e as suas peculiaridades foi entrevistado o Presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e

Folclore (IGTF) Manoelito Carlos Savaris e os produtores do Galpatildeo Crioulo Rosana

Orlandi e Fernando Alencastro A entrevista com Savaris foi feita ao vivo e tambeacutem por e-

mail a entrevista com os produtores do Galpatildeo Crioulo tambeacutem foi feita via e-mail

44 A ANAacuteLISE DESCRITIVA DOS PROGRAMAS

No primeiro programa Galpatildeo Crioulo da deacutecada de 1980 eacute possiacutevel observar

claramente traccedilos tiacutepicostradicionais da cultura gauacutecha jaacute na abertura do programa onde o

cavalo o gado as danccedilas gauacutechas o churrasco e o chimarratildeo principais siacutembolos do Rio

Grande do Sul eram mostrados A vinheta era uma muacutesica instrumental com gaita e violatildeo

mais tarde em meados da deacutecada de 1990 a muacutesica de abertura foi substituiacuteda por Origens

uma composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes O cenaacuterio ruacutestico com paredes de madeira

artigos para a montaria ferraduras espigas de milho lampiatildeo entre outros acessoacuterios

pendurados nas paredes de madeira Tambeacutem no chatildeo uma cambona24 no fogo tudo

preparado como forma de representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo do telespectador com os usos

gauchescos

Dos seis programas gravados eacute evidente que todos apresentam traccedilos da cultura

gauacutecha ateacute mesmo porque isso insere-se na proposta do programa o que se pode constatar

atraveacutes do nome por exemplo O programa trata-se de um espaccedilo ndash um Galpatildeo ndash a exemplo

da histoacuteria farroupilha que explica sendo como galpatildeo uma construccedilatildeo de um soacute pavimento

24 A cambona eacute uma lata com uma alccedila feita de arame que equivale a uma chaleira de ferro Este objeto eacute bastante versaacutetil pois pode servir para fazer cafeacute esquentar a aacutegua do chimarratildeo e ateacute cozinhar (wwwinemacombr)

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 36: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

34

em madeira Nas estacircncias era o lugar onde se guardavam artigos de montaria e outros

acessoacuterios para as lides campeiras tambeacutem era onde os peotildees se reuniam para a roda de

chimarratildeo contar causos declamar poesias tocar violatildeo e gaita etc o ambiente ruacutestico com

assoalho de chatildeo batido era comum o fogo de chatildeo que quase nunca se apagava O termo

crioulo segundo Lamberty (1989) ldquoeacute tudo aquilo que eacute nascido e criado numa determinada

regiatildeo tudo que eacute local de nascimento e criaccedilatildeo diz-se que eacute crioulordquo

Constatamos que nenhum programa deixou de representar traccedilos da cultura gauacutecha

acerca da muacutesica e da indumentaacuteria conforme determinaccedilotildees do IGTF Satildeo preponderantes as

muacutesicas com temaacuteticas sobre questotildees histoacutericas e ligadas a lide campeira e tambeacutem a

maioria dos convidados aleacutem dos apresentadores estatildeo sempre vestidos a rigor

No que se refere agrave indumentaacuteria Interessante perceber entre o corpus analisado que

de todos os grupos que se apresentaram apenas o grupo Expresso Tchecirc natildeo estava trajando a

pilcha completa do gauacutecho conforme seraacute descrito algumas linhas a seguir

Nenhuma das muacutesicas apresentadas fugiram do padratildeo estabelecido para o gauacutecho Eacute

importante ressaltar que o fato de natildeo estar trajando toda a pilcha por sua vez natildeo chega a

descaracterizar a indumentaacuteria do gauacutecho Conforme afirma Lamberty (1989 p 101)

Eacute muito interessante o gauacutecho valorizar a sua indumentaacuteria poreacutem natildeo haacute necessidade de andar ldquoencilhadordquo com todas as peccedilas para estar adequadamente vestido aleacutem das peccedilas citadas adagas revoacutelveres boleadeiras esporas mangos tiradores etc Essas peccedilas satildeo importantes mas natildeo agrave cintura em festas salotildees passeios etc O que descaracteriza no vestir de um gauacutecho eacute o uso de indumentaacuteria estranha aos nossos usos e costumes Um gauacutecho de bombacha de brim camisa de cor uacutenica botas de couro e guaiaca estaacute pilchado mesmo sem o uso do lenccedilo e da faixa A falta natildeo descaracteriza

No primeiro programa analisado gravado em Caxias do Sul na serra gauacutecha todos os

convidados interpretaram muacutesicas regionalistascampeiras25 O cantor Joatildeo de Almeida Neto

abriu o programa interpretando o Hino Rio-Grandense acompanhado da Orquestra Sinfocircnica

da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Tanto o cantor como a orquestra estavam trajando a

pilcha Depois o cantor interpretou a canccedilatildeo ldquoDefiniccedilatildeo do Gritordquo uma composiccedilatildeo com uma

temaacutetica especificamente campeira que fala sobre as lides do campo Na sequumlecircncia subiram

ao palco trecircs casais de danccedilarinos que venceram um concurso de danccedilas gauacutechas naquela

cidade danccedilaram muacutesicas do folclore gauacutecho Em seguida se apresentou Adelar Bertussi um

25 Conforme define Manoelito Savaris presidente do Instituto Gauacutecho de Tradiccedilatildeo e Folclore (IGTF) muacutesicas com temaacuteticas campeiras ou poemas campeiros satildeo aqueles que falam dos elementos que compotildeem o regionalismo gauacutecho como o cavalo o gado o chimarratildeo o churrasco as lides campeiras num linguajar bem peculiar

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 37: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

35

dos iacutecones da muacutesica gauacutecha interpretando ldquoOh de Casardquo e ldquoSangue de Gauacutechordquo e tambeacutem

com a indumentaacuteria correta

Neste mesmo programa participou muacutesico e compositor Luiz Marenco que eacute bastante

conhecido por interpretar muacutesicas de temaacutetica campeira conhecido como um dos que mais

usam a pilcha completa em todos os lugares em que se apresenta Interpretou trecircs muacutesicas

dentro dessa temaacutetica

No segundo programa gravado no municiacutepio de Alvorada na regiatildeo metropolitana de

Porto Alegre o grupo Expresso Tchecirc subiu ao palco com bombacha ldquojeansrdquode ldquobrimrdquo e ao

inveacutes de camisa estavam de camiseta colorida ao inveacutes de chapeacuteu estavam com uma espeacutecie

de boneacute apesar de natildeo estarem trajando completamente a indumentaacuteria do gauacutecho natildeo

deixaram de representar a cultura conforme jaacute citado por Lamberty (1989) neste capiacutetulo O

grupo composto por jovens interpretou duas muacutesicas com estilo fandangueiro26 de

caracteriacutestica tchecirc music27 como jaacute destacamos neste estudo por Manoelito Savaris De todos

os grupos que participaram da anaacutelise este foi o uacutenico que apresentou tais caracteriacutesticas

poreacutem mostrou uma preocupaccedilatildeo em natildeo descaracterizar a muacutesica regionalista gauacutecha

Logo depois os grupos Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e o cantor

Idelfonso Milchareck se apresentaram todos com muacutesicas de temaacutetica campeira e usando a

indumentaacuteria do gauacutecho

No terceiro programa em Estacircncia Velha tambeacutem na regiatildeo Metropolitana os traccedilos

da cultura gauacutecha a partir das categorias muacutesica e indumentaacuteria tambeacutem correspondeu aos

aspectos da cultura gauacutecha Com a participaccedilatildeo de Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres

(este descendente de chilenos e argentinos) Leonel Goacutemez e Joca Martins o programa

tambeacutem natildeo fugiu da proposta em termos de representaccedilatildeo Jaacute o quarto programa foi o que

mais representou os elementos Gravado direto do Acampamento Farroupilha em Porto

Alegre contou com a participaccedilatildeo de Paixatildeo Cocircrtes a estaacutetua viva do Laccedilador28 No mesmo

26 Estilo musical campeiro tocando em fandangos (bailes) gauacutechos 27 Tchecirc Music ou Checirc Music eacute uma variaccedilatildeo de muacutesica Gauacutecha que incorpora nela elementos de muacutesica Baiana Choro Pagode Samba Baiatildeo aos ritmos musicais mais comuns do Rio Grande do Sul como o Chamameacute Vaneira Xote 28 A Estaacutetua do Laccedilador eacute uma ode agrave imponecircncia do tiacutepico gauacutecho Eacute a representaccedilatildeo do gauacutecho tradicionalmente pilchado (em trajes tiacutepicos) O monumento que se tornou siacutembolo oficial de Porto Alegre em 1991 apoacutes consulta popular foi moldado em bronze em 1954 pelo escultor pelotense Antocircnio Caringi (1905-1981) e teve como modelo o gaudeacuterio Joseacute Carlos DAacutevila Paixatildeo Cocircrtes Em 2007 ela foi transferida de seu local antigo a Praccedila do Bombeador para o Siacutetio do Laccedilador para permitir a construccedilatildeo do viaduto Leonel Brizola A escultura tem 4m45cm de altura pesa 38 toneladas e estaacute sobre um pedestal de granito de 2m10cm desde o dia 20 de setembro de 1958 quando foi inaugurada (wwwterracombr

36

programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

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ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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programa teve apresentaccedilatildeo de chula29 e participaccedilatildeo de cantores como Elton Saldanha que

interpretou o Hino Rio Grandense e cantou uma muacutesica em homenagem a Nico Fagundes por

ser o patrono da Semana farroupilha 2007 e Neto Fagundes cantor apresentador do programa

que fez uma muacutesica em homenagem a Paixatildeo Cocircrtes

O quinto programa gravado durante a 10ordf Ediccedilatildeo da Fenatrigo em Cruz Alta levou

ao palco Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar

Oliveira e Rogeacuterio Melo Todos interpretaram muacutesicas de temaacuteticas campeiras Davi Menezes

Juacutenior aliou a muacutesica regionalista gauacutecha com o humor ao cantar uma muacutesica cocircmica de

estilo popular

O sexto e uacuteltimo programa gravado na Expoijuiacute e Fenadi na cidade de Ijuiacute contou

com o grupo vocal Querecircncia que interpretou a muacutesica Escravo de Saladeiro uma

composiccedilatildeo de autoria de Os Fagundes a famiacutelia de Neto e Nico Fagundes apresentadores

do Galpatildeo Crioulo

Um aspecto que pudemos observar durante a anaacutelise foi que em todos os programas

sem exceccedilatildeo havia grupos de danccedila ou invernadas artiacutesticas ndash o tempo inteiro ndash danccedilando em

frente da plateacuteia abaixo do palco Todos os grupos vestiam a indumentaacuteria correta com todos

os rigores determinados pelo Movimento tradicionalista Gauacutecho No iniacutecio do uacuteltimo

programa gravado para anaacutelise nesta pesquisa Nico Fagundes ressaltou a importacircncia da

danccedila do folclore gauacutecho30

29 A danccedila da Chula reveste-se de particular importacircncia ao folclore gauacutecho Ela encarna os traccedilos so propalado machismo gauacutecho 30 O folclore eacute o conjunto preservado das tradiccedilotildees populares [] eacute a ciecircncia que estuda os fatos sociais culturais artiacutesticos ou tradicionais de um povo Eacute a ciecircncia que aglutina as tradiccedilotildees de uma regiatildeo expressas em suas crenccedilas contos proveacuterbios canccedilotildees lendas usos e costumes (LAMBERTY 1989 p 46)

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 39: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

37

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Esse estudo procurou estudar a representaccedilatildeo da cultura regional gauacutecha no Galpatildeo

Crioulo atraveacutes da observaccedilatildeo da muacutesica e indumentaacuteria em um programa que apresenta

essencialmente artistas que tenham relaccedilatildeo com a cultura gauacutecha Para atingir os objetivos

propostos primeiramente partimos para a compreensatildeo desta cultura regionallocal dos

principais conceitos que embasam esta pesquisa bem como procuramos nos aproximar das

caracteriacutesticas do programa

O Galpatildeo Crioulo estaacute entre os programas da emissora que procuram a valorizaccedilatildeo do

regional Por sua vez como o proacuteprio nome jaacute diz eacute um dos principais no que diz respeito ao

comprometimento com a cultura gauacutecha crioula nativista ou tradicionalista Isto porque

realmente estaacute ligado aquilo que eacute tiacutepico e tradicional da cultura regional do Rio Grande do

sul Tambeacutem por ser um programa musical traz na sua imagem a principal representaccedilatildeo

musical do Estado do Rio Grande do Sul atraveacutes de conjuntos gauacutechos e muacutesicas de poemas

campeiros

A programaccedilatildeo eacute constituiacuteda em sua maior parte por grupos que enaltecem a cultura

gauacutecha atraveacutes de aspectos bem peculiares (os chamados regionalismos) do povo gauacutecho Em

linhas gerais observa-se que o cenaacuterio do programa natildeo segue um padratildeo Ora eacute gravado em

cenaacuterio montado (clube parque ginaacutesio praccedilas etc) em cidades onde o programa eacute

contratado para gravar ora em cenaacuterio natural no campo embaixo de um arvoredo onde

apresentadores e convidados sentam em cepos em um semiciacuterculo num ambiente ruacutestico

Pode-se dizer sem titubear que o Galpatildeo Crioulo de uma forma geral valoriza a

cultura local e corresponde agrave ideacuteia que seus produtores tecircm sobre a cultura gauacutecha A

representaccedilatildeo dessa cultura eacute evidenciada de forma bastante clara desde sua abertura Poreacutem

abre espaccedilo tambeacutem para muacutesicas que remetem a uma cultura gauacutecha um pouco mais urbana

que contenha em seus poemas natildeo apenas coisas que falem somente sobre a vida do campo o

cavalo o chimarratildeo as lides campeiras etc tambeacutem abre espaccedilo para o gauacutecho que vive na

cidade com seus anseios amores e incertezas

O slogan utilizado pelos apresentadores no final dos programas tambeacutem eacute uma marca

caracteriacutestica do Galpatildeo Crioulo ldquoAteacute domingo que vem Brasil ateacute domingo que vem Santa

Catarina ateacute domingo que vem Rio Grande do Sul ateacute domingo que vem Gauacutechos e

Gauacutechas de todas as querecircnciasrdquo que expressa uma ideacuteia de que o programa jaacute ultrapassou

fronteiras e hoje chega a todos os Gauacutechos espalhados por diversas partes do paiacutes

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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Page 40: Lesiane Luz da Rosa TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO · PDF fileLesiane Luz da Rosa A REPRESENTAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA NO GALPÃO CRIOULO Trabalho final de graduação apresentado ao

38

Este trabalho procurou verificar a representaccedilatildeo da cultura gauacutecha atraveacutes de aspectos

especiacuteficos Nestes aspectos o Galpatildeo Crioulo eacute um espaccedilo de visibilizaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da

cultura regional do Estado do Rio Grande do Sul em que potencializa a ideacuteia da tradiccedilatildeo e do

orgulho de ser gauacutecho atraveacutes dos convidados que se apresentam no palco do Galpatildeo Crioulo

demonstrando todo o seu telurismo31

Sobretudo para aleacutem de respostas a pesquisa nos traz novas indagaccedilotildees considerando

as transformaccedilotildees e readaptaccedilotildees das manifestaccedilotildees culturais constantes do nosso Estado dos

naturais daqui e dos naturalizados dos tradicionalistas ferrenhos e dos gauacutechos urbanos de

quem cultua a querecircncia e as tradiccedilotildees e quem ignora O corpus indica que os grupos de

muacutesica gauacutecha estatildeo aiacute pra preservar a cultura num Galpatildeo Crioulo mas a renovaccedilatildeo

mundializada tambeacutem se evidencia Uma cultura em aberto um estudo tambeacutem

31 Telurismo eacute a influecircncia do solo de uma regiatildeo sobre os usos e costumes de um povo Eacute a forccedila que brota das entranhas da terra No telurismo encontramos as explicaccedilotildees para as infuecircncias do tipo de solo de cada regiatildeo sobre seus habitantes Graccedilas ao telurismo criou-se a imagem do gauacutecho amante da liberdade um ser indomaacutevel habitante das planiacutecies dos pampas sulinos (LAMBERTY 1989 p 56)

39

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

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ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARBOZA Maria Cacircndida Aspectos de Folclore ndash Tradiccedilatildeo ndash Cultura do Rio Grande do Sul Passo Fundo Pe Berthier 1996

CAPPARELLI Seacutergio e LIMA Veniacutecio A Comunicaccedilatildeo e Televisatildeo ndash Desafios da Poacutes Globalizaccedilatildeo Porto Alegre Hacker 2004

CASTELLS Manuel O poder da identidade Satildeo Paulo Paz e Terra 2000

COELHO Teixeira Dicionaacuterio Criacutetico da Poliacutetica Cultural Satildeo Paulo Iluminuras 1997

CUCHE Denys A noccedilatildeo de cultura nas ciecircncias sociais Bauru EDUSC 1999

CULTURA GAUacuteCHA Disponiacutevel em ltwwwpaginadogauchocombrgt Acesso em 18 out 2007

ESCOSTEGUY Ana Carolina Cartografia dos estudos culturais uma visatildeo latino-americana Belo Horizonte Autecircntica 2001

FAGUNDES Antonio Augusto Curso de Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2002

GAUacuteCHO Movimento Tradicionalista 2004 Meio Seacuteculo de Congressos (1954-2004) documentos basilares do tradicionalismo gauacutecho ndash Anais do 50ordm Congresso Tradicionalista Gauacutecho E 63ordf Convenccedilatildeo Tradicionalista Santa Maria 23 a 25 de julho de 2004 (In) CIRNE Paulo Roberto de Fraga Porto Alegre Exclamaccedilatildeo

GOLDENBERG Mirian A arte de pesquisar como fazer pesquisa qualitativa em Ciecircncias Sociais Rio de Janeiro Record 2005

HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade 4ordm ed Rio de Janeiro DPampA 2000

______ Quem precisa de identidade In SILVA Tomaz Tadeu [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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40

HINERASKY Daniela Aline O Pampa virou cidade Um estudo sobre a identidade cultural nas produccedilotildees de teledramaturgia da RBS TV Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicaccedilatildeo UFRGS Porto Alegre 2004

_________________________ A Comunidade Imaginada dos Produtores Culturais da RBS TV Monografia de Conclusatildeo de Curso (Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS 2000

JACKS Nilda Miacutedia Nativa induacutestria cultural e cultura regional Porto Alegre UFRGS 2003

____________ Querecircncia Cultura regional como mediaccedilatildeo simboacutelica ndash um estudo de recepccedilatildeo Porto Alegre Ed UFRGS 1999

KAISER Jaksam Ordem e Progresso ndash O Brasil dos Gauacutechos Florianoacutepolis Insular 1999

LAKATTOS Eva Maria e MARCONI Marina de Andrade Teacutecnicas de Pesquisa planejamento e execuccedilatildeo de pesquisas amostragens e teacutecnicas de pesquisa elaboraccedilatildeo anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados Satildeo Paulo Atlas 2002

LAMBERTY Salvador Ferrando ABC do Tradicionalismo Gauacutecho Porto Alegre Ed Martins Livreiro 1989

LESSA Luiacutes Carlos Barbosa Rio Grande do Sul prazer em conhececirc-lo Rio de Janeiro Globo 1984

MOREIRA Maria Eunice Regionalismo e literatura no RS Porto Alegre ESTICP 1982

MTG - Movimento Tradicionalista Gauacutecho Disponiacutevel em ltwwwmtgorgbrgt Acesso em 25 out 2007

NUNES Zeno Cardoso e NUNES Rui Cardoso Dicionaacuterio de Regionalismos do Rio Grande do Sul Porto Alegre Martins Livreiro Editor 2003

OLIVEN Ruben George A parte e o todo a diversidade cultural do Brasil-naccedilatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2006

RBS TV Disponiacutevel em ltwwwclicrbscombrgt Acesso em 30 out 2007

41

SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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SILVA Tomaz Tadeu da [org] Identidade e Diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

SILVEIRA Ada Cristina Machado da Representaccedilatildeo e Identidade Trecircs estudos em comunicaccedilatildeo Santa Maria FACOS FIPE-UFSM 2001

SOUZA Joseacute Carlos Aronchi de Gecircneros e Formatos da Televisatildeo Brasileira Satildeo Paulo Summus 2004

TRIVINtildeOS Augusto Nibaldo Silva Introduccedilatildeo agrave Pesquisa em Ciecircncias Sociais A Pesquisa Qualitativa em Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Atlas SA 1987

VELHO Gilberto O Conceito de Cultura e o Estudo de Sociedades Complexas Artefato - Jornal da Cultura Rio de Janeiro nordm 1 1998 p 4-9

WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz Tadeu De [org] Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2000

42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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42

ANEXO A - Grade analiacutetica descritiva

1ordm PROGRAMA

1609

2ordm PROGRAMA

2309

3ordm PROGRAMA

3009

4ordm PROGRAMA

0710

5ordm PROGRAMA

1410

6ordm PROGRAMA

2110

CIDADE Caxias do Sul Alvorada Estacircncia Velha Porto Alegre ndash Acampamento Farroupilha

Cruz Alta Ijuiacute

CONVIDADOS Joatildeo de Almeida Neto Orquestra da UCS Adelar Bertussi e Luiz Marenco

Expresso Tchecirc Balanccedilo campeiro Bochincho Buenas MrsquoEspalho e Idelfonso Milchareck

Zezinho e Grupo Floreio Daniel Torres Leonel Goacutemez e Joca Martins

Homenagem agrave Paixatildeo Cocircrtes com participaccedilatildeo de Elton Saldanha Neto Fagundes cantou uma muacutesica da proacutepria autoria que fez para homenagear Paixatildeo Cocircrtes

Jorge Freitas Davi Menezes Jr Cristiano Quevedo Leonardo e a dupla Ceacutesar Oliveira e Rogeacuterio Melo

Grupo vocal Querecircncia Mauro Moraes Tchecirc Sarandeio e a dupla Eacuterlon Peacutericles e Pirisca Grecco

MUacuteSICAS Hino Rio-Grandense e mais 5 muacutesicas foram

Oito muacutesicas foram apresentadas no palco

Oito muacutesicas foram apresentadas Apenas o

Hino Rio-Grandense e algumas muacutesicas

Dez muacutesicas foram apresentadas Todas com

Sete muacutesicas foram apresentadas Todas

43

apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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apresentadas todas campeiras

Apenas 2 delas natildeo apresentaram poemas campeiros ou de cunho regional

muacutesico latino-americano Daniel Torres apresentou muacutesicas diferenciadas poreacutem sem perder os traccedilos regionais

interpretadas por Elton Saldanha e uma por Neto Fagundes

poemas campeiros

demonstraram um comprometimento com o regionalismo gauacutecho

INDUMENTAacuteRIA

Apresentadores e convidados todos pilchados corretamente

De todos os convidados que estiveram no programa apenas 1 grupo natildeo estava com todos os elementos que compotildeem a pilcha gauacutecha

Todos os gruposcantores pilchados corretamente

Todos caracterizados a rigor

Todos bem caracterizados com a pilcha gauacutecha

44

ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

45

ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

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Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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ANEXO B - Letra da muacutesica de abertura do programa

ORIGENS

(Os Fagundes)

CAMPEANDO UM RASTRO DE GLOacuteRIA VENHO SOVADO DE PEALO

ERGUENDO A POEIRA DA HISTOacuteRIA NAS PATAS DO MEU CAVALO

O IacuteNDIO QUE VIVE EM MIM BATE UM TAMBOR NO MEU PEITO

O NEGRO TAMBEacuteM ASSIM TEMPERA E ADOCcedilA O MEU JEITO

COM LACcedilO E COM BOLEADEIRA COM GARRUCHA E COM FACAtildeO

DESENHEI PAacuteTRIA E FRONTEIRA PAGO QUEREcircNCIA E NACcedilAtildeO

EU SEI QUE NAtildeO VOU MORRER PORQUE DE MIM VAI FICAR

O MUNDO QUE EU CONSTRUIacute O MEU RIO GRANDE O MEU LAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

CAMPEANDO AS PROacutePRIAS ORIGENS

QUALQUER GURI VAI ACHAR

SOU A GAITA CORCOVEANDO NAS MAtildeOS DO VELHO GAITEIRO

DIZENDO POR ONDE ANDO QUE SOU GAUacuteCHO E CAMPEIRO

EU SOU O MOCcedilO QUE CANTA O PAGO EM CADA CANCcedilAtildeO

E TRAZ NA PROacutePRIA GARGANTA O ECO DO SEU VIOLAtildeO

SOU O GURI PEcircLO DURO CAMPEANDO O MUNDO DE AMOR

E ME VOU RUMO AO FUTURO TENDO NO PEITO UM CANTOR

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ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

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ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

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ANEXO C - Poesia ldquochimarrarratildeordquo de glaucus saraiva

Chimarratildeo

Autoria Glaucus Saraiva

Amargo doce que eu sorvo Num beijo em laacutebios de prata

Tens o perfume da mata Molhada pelo sereno E a cuia seio moreno

Que passa de matildeo em matildeo Traduz no meu chimarratildeo

Em sua simplicidade A velha hospitalidade

Da gente do meu rincatildeo

Trazes agrave minha lembranccedila Neste teu sabor selvagem

A miacutestica beberagem Do feiticeiro charrua

E o perfil da lanccedila nua Encravada na coxilha

Apontando firme a trilha Por onde rolou a histoacuteria Empoeirada de gloacuterias De tradiccedilatildeo farroupilha

Em teus uacuteltimos arrancos Ao ronco do teu findar

Ouccedilo um potro a corcovear Na imensidatildeo deste pampa

E em minha mente se estampa Reboando nos confins A voz febril dos clarins Repinicando Avanccedilar E entatildeo eu fico a pensar Apertando o laacutebio assim Que o amargo estaacute no fim E a seiva forte que eu sinto Eacute o sangue de trinta e cinco

Que volta verde pra mim

46

ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

48

Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

abrangecircncia

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ANEXO D - Letra de algumas muacutesicas campeiras apresentadas no programa

DEFINICcedilAtildeO DO GRITO

(Composiccedilatildeo Gildo de Freitas)

Uma vez num outro estado me pediram a informaccedilatildeo

Porque eacute que no Rio Grande todo gauacutecho eacute gritatildeo

Respondendo ao peacute da letra jaacute lhe dei a explicaccedilatildeo

Satildeo tradiccedilotildees do estado pra quem foi acostumado

A gritar com a criaccedilatildeo

Eu me criei na campanha saltando de madrugada

Obedecendo o patratildeo e pondo a tropa na estrada

Quem quiser ver coisa feia eacute uma tropa estourada

Eacute aiacute que eu acredito que a gente natildeo dando uns gritos

Se perde toda a boiada

Assim mesmo natildeo satildeo todos no falar agritalhado

O gauacutecho da cidade tem um falar moderado

Na campanha eacute que haacute razotildees de falar mais alterado

Isto satildeo coisas da vida praacute quem se criou na lida

Sempre gritando com gado

Dou definiccedilatildeo do grito porque me criei tropeando

Hoje de vida mudada vivo no disco gravando

As vezes tenho a impressatildeo que escuto o gado berrando

Por isto eacute que eu facilito e sem querer prendo-lhe um grito

E canto a letra gritando

A resposta da pergunta sempre eu achei mais bonita

E laacute pras bandas do norte aonde eu natildeo fiz visita

Responderei pelo disco sei que este povo acredita

E nesta minha canccedilatildeo fica dada a explicaccedilatildeo

De porque que o gauacutecho grita

47

Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

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Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

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ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

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Sangue de Gauacutecho

(Composiccedilatildeo Adelar Bertussi)

Sangue de gauacutecho velho sangue de bravor

Sangue de gauacutecho aiii sempre teve seu valor

Gauacutecho q estais me ouvindo sinta no sangue doer

Relembra teus velhos pagos onde o sol te vio nascer

Se eacutes gauacutecho da serra ou se for de campo fora

Natildeo te esqueccedilas que eacute um gauacutecho onde o minuano mora

Gauacutecho eacute supersticioso acredita em assombraccedilatildeo

Acredita em lobisomem boi tataacute e bicho papatildeo

Mas quando eacute na hora do pega gauacutecho tem nome na histoacuteria

Pois o sangue de nossos bravos cobrem paacuteginas de gloacuteria

Dentro do chatildeo riograndense gauacutecho nunca foi vencido

Sempre defendeu suas cores com orgulho destemido

Mesmo fora do estado lutava de peito erguido

Laccedilando metralhadoras e lutando contra o perigo

Gauacutecho deu prova de sangue na revoluccedilatildeo farroupilha

Que durou quase dez anos manchando nossas cochilhas

Gauacutecho tambeacutem deu prova nas planiacutecies do Uruguai

E deixou nome na histoacuteria na guerra do Paraguai

Gauacutecho pra ser gauacutecho acompanha evoluccedilatildeo

Mas conserva no seu sangue de gauacutecho a tradiccedilatildeo

Gauacutecho pra ser gauacutecho se abraccedila num fuzil

Pra defesa do Rio Grande pra defesa do Brasil

Pra defesa do Rio Grande aiii pra defesa do Brasil

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Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

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Batendo Aacutegua

(Composiccedilatildeo Gujo Teixeira e Luiz Marenco)

Meu poncho emponcha lonjuras batendo aacutegua

E as aacuteguas que eu trago nele eram pra mim

Asas de noite em meus ombros sobrando casa

Longe das casas ombreada a barro e capim

Faz tempo que natildeo emalo meu poncho inteiro

Nem abro as asas de noite pra um sol de abril

Faz muitos dias que eu venho bancando o tino

Das quatro patas do zaino pechando o frio

Trocam um compasso de orelha a cada pisada

No mesmo tranco da vaacuterzea que se encharcou

Topa nas abas sombreras que em outros ventos

Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou

Meu zaino garrou da noite o ceacuteu escuro

E tudo o que a noite escuta eacute seu clarim

De patas batendo naacutegua depois da vaacuterzea

Freios e rosetas de esporas no mesmo trim

Falta distacircncia de pago e sobra cavalo

Na mesma ronda de campo que o ceacuteu desagua

Que tem um rumo de rancho pras quatro patas

Bota seu mundo na estrada batendo aacutegua

Porque se a estrada me cobra pago seu preccedilo

E desabrigo o caminho pra o meu sustento

Mesmo que o mundo desabe num tempo feio

Sei o que a asas do poncho trazem por dentro

49

ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

50

O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

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ANEXO E - Fotos do programa na deacutecada de 1980

Nico Fagundes em um dos primeiros programas ainda no ano de 1982 com um dos

maiores siacutembolos do regionalismo gauacutecho o chimarratildeo

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O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

51

Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

53

Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

querecircncias A forma de despedir-se eacute mantida ateacute hoje poreacutem com um pouco mais de

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O poeta Glaucus Saraiva recebe a cuia das matildeos de Nico e com alma declama a poesia

Chimarratildeo uma de suas maiores composiccedilotildees

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Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

52

Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

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Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

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Grupo Os Serranos e ao fundo parte do cenaacuterio do Galpatildeo Crioulo

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Jader Moreci Teixeira o Leonardo artista que participa do Galpatildeo Crioulo desde sua

criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

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Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

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criaccedilatildeo ateacute os dias de hoje

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Nico de chapeacuteu na matildeo despede-se de todos os Gauacutechos e Gauacutechas de todas as

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