trabalho de literatura portuguesa análise do livro “...

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TRABALHO DE LITERATURA PORTUGUESA Análise do livro “ Amor de Salvação “ INTRODUÇÃO A obra “Amor de Salvação”, de Camilo Castelo Branco, pertence ao romantismo e ilustra os ideais da terceira fase. Caracteriza o amor através do triângulo amoroso formado pelos personagens principais, traço decorrente nas obras do autor. Em “Amor de Salvação” ocorre o adultério, expressando um amor carnal onde o corpo passa a ser objeto de desejo. A história retrata, ironicamente, o tema da felicidade diante de um "amor tranquilo”. Podemos perceber uma diegése romântica. Encontramos em Afonso, típicas características do movimento romântico com conflitos que rodeiam o amor dos personagens principais. Ele vive entre o amor e o sofrimento, pelas dificuldades enfrentadas para concretizar o amor que tem um tom trágico, pois, em “Amor de Salvação” o amor torna-se doentio. A obra contrasta a mulher-anjo com a mulher fatal e esboça o quadro irónico de uma vida conjugal feliz e bucólica de proprietário rural.

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TRABALHO DE LITERATURA PORTUGUESA Análise do livro “ Amor de Salvação “

INTRODUÇÃO

A obra “Amor de Salvação”, de Camilo Castelo Branco, pertence ao

romantismo e ilustra os ideais da terceira fase.

Caracteriza o amor através do triângulo amoroso formado pelos

personagens principais, traço decorrente nas obras do autor.

Em “Amor de Salvação” ocorre o adultério, expressando um amor carnal

onde o corpo passa a ser objeto de desejo.

A história retrata, ironicamente, o tema da felicidade diante de um "amor

tranquilo”.

Podemos perceber uma diegése romântica. Encontramos em Afonso,

típicas características do movimento romântico com conflitos que rodeiam o

amor dos personagens principais.

Ele vive entre o amor e o sofrimento, pelas dificuldades enfrentadas para

concretizar o amor que tem um tom trágico, pois, em “Amor de Salvação” o

amor torna-se doentio.

A obra contrasta a mulher-anjo com a mulher fatal e esboça o quadro

irónico de uma vida conjugal feliz e bucólica de proprietário rural.

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Enredo

A história trata sobre o amor de dois personagens, Teodora e Afonso, e

é relembrada, em uma noite de natal por Afonso de Teive, para seu amigo,

escritor, depois de aproximadamente doze anos em que não se viam.

Afonso e Teodora foram prometidos um para o outro por suas mães que

eram amigas desde quando estudavam em um convento. Após a morte da

mãe, Teodora, vai para um convento e fica sob a guarda de seu tio, pai de

Eleutério Romão, porém ela e Afonso ainda mantêm contato com a esperança

de um dia ficarem juntos e casar.

Afonso decide ausentar-se por dois anos para dedicar-se aos estudos,

enquanto, no convento, Teodora influenciada pela amiga Libana, que acabou

sendo expulsa do convento, decide casar-se o mais rápido possível como

modo de ficar livre daquela “prisão¨. A mãe de Afonso, Eulália, pede-lhe para

aguardar, mas Teodora acaba casando-se com seu primo Eleutério, filho do tio

que era responsável por ela. Teodora viveu muito bem, não lhe faltando nada,

mas nunca esquecera Afonso.

Afonso enviou algumas cartas para Teodora, porém não obtinha

respostas. Quando soube da notícia do casamento, Afonso sofreu muito, sua

mãe e sua prima, Eulália e Mafalda, o consolavam através de cartas.

Influenciado pelo seu amigo José de Noronha, após anos de amargura,

Afonso decide escrever novamente para Teodora, mas esta carta acaba caindo

nas mãos de Eleutério, que não sabia ler e pediu para que um amigo o fizesse,

acabando por ficar sem saber de que se tratava.

Fernão de Teive, tio de Afonso, em posse da carta reconhece as

intenções do sobrinho e acaba por rasga-la sob a desculpa de serem apenas

crendices.

Inconformado, Afonso resolve ir ao encontro de Teodora, momento este

que os dois são surpreendidos por Eleutério que exige explicações. Teodora

diz a Eleutério que é uma mulher livre e decide fugir com Afonso para viver

este amor.

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Os dois passam momentos felizes, Afonso abandona até sua própria

mãe para viver esse amor intensamente e sem limites.

Mafalda escreve para Afonso e informa a morte de sua mãe, Eulália. Ele

fica desesperado e, mesmo com a tentativa de Teodora em consolá-lo, Afonso

se afasta de tudo e de todos, passando a viver isoladamente.

Mais tarde, Afonso é alertado por um de seus criados, Tranqueira, que

José de Noronha estava interessado em Teodora. Afonso passou a observá-

los, encontrou algumas cartas que confirmaram suas suspeitas e expulsou

Noronha de sua casa.

O criado de Afonso, Tranqueira, com o intuito de vingar a honra de seu

patrão, derruba Noronha em uma cisterna e Teodora desmaia com tal situação.

Afonso resolve passar uns dias fora de casa e quando retorna descobre

que Teodora foi embora levando consigo alguns valores.

Mesmo com tudo isso, Afonso ainda tinha saudades de Teodora, e com

a intenção de buscar um novo amor e livrar-se desta dor, ele parte para Paris

onde gasta tudo o que tem. Todos estes acontecimentos deixam Afonso tão

deprimido que o mesmo chega a pensar em suicídio, o que não ocorrera

devido aos conselhos e o apoio de seu criado.

Afonso pede para seu tio Fernão para comprar-lhe a casa onde viveu

sua família, pois a mãe de Afonso tinha o desejo de que a casa não fosse

vendida após sua morte, e Fernão, sob o pedido de Mafalda, atende a proposta

com a condição de que a casa continue sendo de Afonso.

Tranqueira, que não abandonava Afonso e sempre o apoiara, percebe

as intenções fúteis de seu patrão e, com seus conselhos, acaba por livrar

Afonso de tudo isto, passando a abandonar essas atitudes inadequadas.

Fernão de Teive adoeceu e antes de morrer pediu ao Padre Joaquim

para ir a Paris e entregar os documentos da casa que comprara de Afonso.

Mafalda, sentindo-se muito sozinha, decide ir com o Padre.

Ao receber a notícia da morte de seu tio, Afonso chora e vai ao encontro

de sua prima que estava hospedada em Paris com a finalidade de entrar para

um convento.

Padre Joaquim sugere que os dois, Afonso e Mafalda, se casem. Afonso

e Mafalda agradeceram a Deus pelas preces de suas mães, voltaram para sua

cidade, casaram-se, tiveram oito filhos e foram muito felizes.

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Personagens Protagonista

Afonso de Teive, poeta e escritor, é o protagonista nessa narrativa. No

decorrer da narrativa, classificaremos Afonso de Teive como um personagem

redondo, pois ele apresenta uma variedade de características.

Afonso de Teive é um homem que vive uma paixão obsessiva, sem

limites, por Teodora Palmira, que por sua vez não correspondia aos seus

desejos de felicidade.

Afonso vive em busca de um amor, de uma satisfação pessoal, ele ama

loucamente e sem medidas.

Em um primeiro momento da história podemos conhecer um Afonso

jovem, infeliz e boêmio, que mesmo quando estava ao lado da mulher que

sempre desejara, não encontrou nela a felicidade almejada por ele.

Afonso apresenta-se como um homem muito mimado e dado aos luxos

da sociedade em que vive. Apesar de sua figura “heroica”, o herói romântico

não tem coragem para enfrentar os problemas, os obstáculos, tanto que em

nenhum momento ele enfrenta Eleutério. Afonso aparece bem mais velho,

gordo e pai de oito filhos.

“É inquestionavelmente este homem gordo de barbas intonsas, óculos e tamancos, o Afonso de Teive da Palmira de Lisboa¨ (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.11)

Ele encontra sua felicidade ao lado de uma mulher simples, Mafalda.

Afonso é um bom homem em busca da sua felicidade. O amor de

Afonso por Teodora/Palmira se dá apenas no início da narrativa,

transformando-se depois num sentimento sensual e perturbador, que só tem

salvação nos braços de Mafalda.

Afonso Teive, o personagem-narrador de "Amor de Salvação", vive

dividido entre os prazeres carnais, proporcionados por uma mulher fatal,

Teodora, e o conforto de espírito, que só consegue ao lado de uma virgem

angelical, Mafalda. Nesta novela, Camilo Castelo Branco enaltece o caráter

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salvador do amor, já que o apresenta como um sentimento capaz de regenerar

indivíduos, afastar boêmios das tavernas e restaurar a honra familiar.

Antagonista

O grande vilão, o antagonista nessa narrativa, é a sociedade, pois a

maneira como este romance é retratado, fere os princípios da época.

Afonso não é desprezado pela família, mas decepciona e entristece a

todos quando foge com Teodora, onde tenta realizar o amor da adolescência e

se frustra, visto que Teodora o trai e mostra-se diferente do que era.

“Amava ela Eleutério Romão?! Não amava, disse-o ela, e eu juro nas palavras de Teodora. O que ela amava era a liberdade; os anelos de sua alma ansiavam sôfregos um viver, que o temperamento lhe estava pedindo a gritos, gritos que a sociedade não escuta, não acredita e não perdoa” (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.21)

Secundários

Teodora Palmira é identificada como personagem secundária, pois sua

vida não é modificada pela ação de Afonso, e sim, a vida e a trajetória de

Afonso que é modificada por Teodora. Ela pode ser considerada um

personagem redondo, pois apresenta várias características durante a narrativa.

Primeiramente ela aparece na história como um anjo.

"Estou livre. Aqui me tens, Afonso. Aqui está a tua Palmira, com o virgem coração que lhe conheceste, mais valioso do que era, mais depurado dos instintos maus, graças aos trabalhos que me angustiaram a vida. Queres me assim, Afonso?..." (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.58)

Ela se mostra sempre “chamativa”, pois sabia que era muito atraente e

bonita. Ela coloca seus desejos sempre em primeiro lugar, não se preocupando

com os sentimentos alheios, sendo comparada como um verdadeiro demônio,

fútil e ambiciosa.

(...) todos os rumores da noite diziam comigo um hino ao Senhor que me descativara das ciladas da mulher fatal, que no descaro mesmo da sua audácia me fascinara e com aqueles cabelos tecera o baraço de estrangulação da minha dignidade” (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.37)

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Teodora lembra o próprio demônio, e tinha o objetivo de levar os que

estão próximos a ela para o “inferno”; Ela trai o marido e o amante, e é

apresentada na narrativa como uma mulher forte e decidida, que sempre

consegue o que quer.

Na narrativa, Teodora é comparada com a cidade, o que, neste período,

representava o luxo e as riquezas.

Mafalda é uma mulher simples e modesta. Ela não é apegada a luxos e

riquezas. É o oposto de Teodora.

Na narrativa, Mafalda é comparada com o campo, o que, neste período,

representava a simplicidade e a modéstia.

“Mafalda, anjo solitário, que vês com os olhos puros as estrelas da nossa infância, ora por mim, dá-me a tua piedade, que nenhuma outra me dá este mundo”. (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.64)

Ela, de certa forma, espera por seu primo Afonso com muita paciência,

casa-se com ele no final da história com qual tem oito filhos.

O título “Amor de Salvação” está inspirado nesse encontro entre Afonso

e Mafalda, apesar de isso só aparecer no término da narrativa.

Eleutério Romão é apresentado como um homem sem cultura, simples

e do campo. Primo de Teodora e Afonso, ele é quem liberta Teodora do

convento e acaba, de certa forma, sendo manipulado por Teodora. Preso a um

casamento de interesses, ele acaba sofrendo por ter seu amor traído por

Teodora.

“Eleutério tem vinte e dois anos; quis aprender a ler com seu tio padre Hilário; mas a natureza opôs-se-lhe, logo que ele, após um ano de canseira, entrou a soletrar palavras de três sílabas.” (Amor de Salvação ,2002 / 2003, p.21)

Após a separação entre ele e Teodora, Eleutério encontra uma mulher

fiel com quem vive muito feliz.

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Eulália é mãe de Afonso e aparece na história como a melhor amiga da

mãe de Teodora, com quem esteve em um convento. Ambas prometeram seus

filhos um ao outro.

Ela pode ser comparada com Mafalda, pois é uma mulher simples e com

um forte desejo de que Afonso encontre sua felicidade em um verdadeiro amor.

Eulália sofre muito com o envolvimento de seu filho com Teodora, uma

mulher adúltera, torcendo para que Afonso e Mafalda fiquem juntos.

“O pavor de que um filho seu, um descendente de santos, e pelo menos honrados varões, pudesse dar ao mundo o escândalo de tamanha perversidade, acendeu-a em louvável indignação”. (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.44)

Tranqueira é o fiel criado de Afonso. Ele o informa sobre a possível

traição de Teodora com D. José de Noronha, fato esse que, depois de

confirmado, deixou Tranqueira tão indignado que ele acaba vingando Afonso

jogando D. José dentro de uma cisterna.

“Disse, depôs a lanterna, sobraçou-o pela cintura, fincou-lhe a mão esquerda no gasnete, levou-o de borco sobre a cisterna do depósito de à gua para os cavalos e baldeou-o dentro exclamando: "Há-de ir fresco, há-de ir fresco, seu alfacinha!" (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.69)

Em nenhum momento Tranqueira abandona Afonso, sempre se mostrou

um amigo presente.

Em certo momento, Afonso perde tudo e Tranqueira passa ajudá-lo tanto

nas despesas da casa, quanto o aconselhando sobre valores morais, trabalho

e honra.

Quando Afonso vai morar com Mafalda, Tranqueira passa a viver junto

com eles.

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Tio Fernão é pai de Mafalda e deseja que ela se case com seu

sobrinho, Afonso. Apesar de seu desejo ter sido atendido, ele não consegue

presenciar o fato, pois ele acaba morrendo antes disso. Ele se mostra muito

generoso na história, pois compra as propriedades de Afonso como forma de

evitar a miséria e falência deste.

“[...] em nome de tua santa mãe, que aceites as três quintas

que vendeste, e de que teu bom tio era possuidor quando

morreu. Na intenção de tas restituir foi que ele as comprou.

Eu cumpro a sua vontade, esperando que tu obedeças à

vontade de meu pai. Aceita o que teu era, meu querido

Afonso, meu bom irmão; aceita, que é meu pai e tua mãe

que to pedem, e eu também, com as mãos erguidas." (Amor

de Salvação,2002 / 2003, p.75)

D. José de Noronha é um homem que passa a frequentar a casa de

Afonso e Teodora em Lisboa. Em sua permanência na casa ele se apresenta

como amigo de Afonso, mas acaba se interessando por Teodora, a qual passa

a ser sua amante.

“A expectativa de D. José fora surpreendida pelo excedente de uma formosura, graças a talento não imaginados. Estes gabos, porém, proferidos a medo na presença dela, eram tão respeitosos e aferidos no padrão do melindre palaciano que Afonso de Teive nem por sonhos aventou a possibilidade de uma intenção desleal do amigo.” (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.53)

Padre Joaquim de São Miguel é apresentado na narrativa como um

modelo de padre. Ele aparece no final da história em sua viagem para Paris ao

encontro de Afonso e é responsável pelo casamento de Afonso e Mafalda.

“Padre Joaquim era um modelo de padres, capelão da casa, havia trinta e cinco anos;[...] (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.70)

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CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS

Individualismo

Camilo Castelo Branco liberta-se da necessidade de seguir formas reais

de intuito humano, abrindo espaço para a manifestação da individualidade,

muitas vezes definida por emoções e sentimentos.

Camilo faz a análise dos ideais românticos de uma forma muito

individual, muito particular. Através de sua visão crítica, ele desconstrói

satiricamente os ideais sociais e literários predominantes.

“Esta dualidade em Afonso de Teive era uma distinção, que o tomava menos agradável aos literatos circunspectos, e menos estimáveis também aos camaradas das assuadas e motins nocturnos. Afonso era poeta num género galhofeiro, quando queria; e dedilhava o alaúde das elegias, se lhe dava para lastimar-se, ou carpir saudades imaginárias de mulheres, suas amadas, fugidas deste lamacento globo para os piamos balsâmicos do Céu.” (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.03)

Subjetivismo

Camilo trata dos assuntos de forma pessoal, de acordo com sua opinião

sobre o mundo. O subjetivismo pode ser notado através do uso de verbos na

primeira pessoa. Trata-se sempre de uma opinião parcelada, dada por um

individuo que baseia sua perspectiva naquilo que as suas sensações captam.

Com plena liberdade de criar, Camilo não se acanha em expor suas

emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra.

“[...] padre que se me ia fugindo deste romance por um cabelinho: o que seria novidade nos meus livros. Quando eu puder arquitectar uma novela sem padre, hei-de chamar-me romancista puxado de imaginação. O mestre dos escritores floridos, Almeida Garrett, segundo disse e provou, tinha o vezo dos frades. Ele e eu, cá muito no coice processional dos seus discípulos, havemos de fazer amar os frades e os padres, pelo menos os padres-capelães bem procedidos e venerandos como padre Joaquim, capelão da casa de Fonte Boa.” (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.70)

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Idealização

Empolgado pela imaginação, Camilo idealiza temas, exagerando em

algumas de suas características. Dessa forma, a mulher é vista como uma

virgem frágil e a noção de pátria também são idealizadas.

“Acudia-me à lembrança a minha triste Mafalda, a irmã terna, a meiguice da virgem compadecida; porém, o meu coração, a porejar o esqualor da sua hedionda chaga, rejeitava os bálsamos de um afecto purificador.” (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.61)

Mas sempre te devo dizer, Afonso, que eu ouvi muitas vezes contar a tuas avós que era costume em nossa geração nunca saírem da Pátria para as guerras contra a Espanha os militares ainda mancebos e os generais já encanecidos, sem irem de Lisboa ao Minho despedir-se dos seus, e ora em comum diante da cruz a que suas mães tinham orado com eles tenrinhos nos braços.” (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.26)

Sentimentalismo exacerbado

O texto expressa as emoções e os sentimentos de Camilo e são como o

relato sobre uma vida.

Camilo analisa e expressa a realidade por meio dos sentimentos. E

acredita que só sentimentalmente se consegue traduzir aquilo que ocorre no

interior do indivíduo relatado.

“- Amor, sim, amor indomável, amor faminto de vê-la e de ouvi-

la, de chorar com ela, de arrebatá-la ao marido, e insultar a

sociedade e Deus na posse dela.” (Amor de Salvação,2002 /

2003, p.42)

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Egocentrismo

Como o nome já diz, é a colocação do ego no centro de tudo. Vários

artistas românticos colocam, em seus poemas e textos, os seus sentimentos

acima de tudo, destacando-os na obra. Pode-se dizer, talvez, que o

egocentrismo é um subjetivismo exagerado.

¨Eu amava a mulher abismada, a mulher prostituída! Eu,Santo

Deus, com instintos tão nobres, educação tão religiosa e

respeitos tão profundos à dignidade! Pensava-o eu assim;

dava-me eu então os epítetos usurpados à honra!¨ (Amor de

Salvação,2002 / 2003, p.70)

Natureza interagindo com o eu lírico

A natureza, no Romantismo, expressa aquilo que o eu-lírico está

sentindo no momento narrado. A natureza pode estar presente desde as

estações do ano, como formas de passagens, às tempestades, ou dias de

muito sol.

No Romantismo, a natureza interage com o eu-lírico. A natureza

funciona quase como a expressão mais pura do estado de espírito do poeta.

“Não sei de que futuro Abril do meu porvir me veio esta manhã

um bafejo aromático de flores, umas ondulações de luz, que

me pareciam as da minha juventude”. (Amor de Salvação,2002

/ 2003, p.12)

“Transmontando o Sol, desceu das cumeadas um toldo

pardacento a desdobrar-se pelos plainos, a confundir-se no

fumo das aldeias, a identificar-se com o escuro dos arvoredos.

Começava a noite sem bafejo de vento. Nem já a rama dos

pinhais rumorejava aquele seu saudoso sonido, que se me

afigura sempre a inarticulada toada de mui remontadas e

remotíssimas vozes de mundos que giram nas profundezas do

espaço”. (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.01)

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Byronismo

Inspirado na vida e na obra de Lord Byron, poeta inglês. Estilo de vida

boêmio, voltado para vícios, bebida, fumo , podendo estar representado no

personagem ou na própria vida do autor romântico. O byronismo é

caracterizado pelo narcisismo, pelo egocentrismo, pelo pessimismo, pela

angústia.

"O meu segundo ano de Coimbra foi um continuado suicídio. Desbaratei a saúde em toda a espécie de desregramento e libertinagem. Não dei nos olhos da academia, porque, naquele ano de 1846, a fermentação da guerra civil absorvia os espíritos alvorotados dos académicos. Fechou-se a Universidade em Maio, quando eu, extenuado de insónias e empeçonhado de bebidas estimulantes, caí de cama, com o sincero desejo e alegre esperança de que me não levantaria mais.” (Amor de Salvação,2002 / 2003, p.01)

Simbologia

Na obra, temos o triângulo amoroso formado por Afonso, Teodora

(Palmira) e Mafalda que formam um trio de amor. Esse triângulo amoroso

representa a dimensão amorosa, o sentimento da paixão ao qual se opõe o

mundo exterior, isto é, na visão do autor, a sociedade hipócrita da época.

Afonso Mariana Teodora

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Narrador

Na obra Amor de Salvação temos dois tipos de narrador:

Narrador- autor

Narrador personagem

Narrador - autor

Na obra apresenta-se como um contador de casos, escrevendo uma

narrativa alheia. Mas no decorrer da história aparenta uma sutil identificação

entre narrador e autor, em alguns trechos apresenta referencias de

acontecimentos de sua vida, como do tempo em que esteve preso, por causa

da acusação de adultério.

“A minha tenda são uns vinte volumes, um tinteiro de ferro e um cabo de pena de osso, que me deram noutro ponto do mundo, onde há quatro anos assentara também a minha tenda – ponto do mundo que por um singular acaso explicava ao meu sestro vagabundo: era o ano do Senhor de 1860, nos cárceres da Relação do Porto.” (Amor de Salvação,1998,p.33)

Narrador personagem Participa diretamente do enredo como qualquer personagem, mas tem

um campo de visão limitada, isto é, não é onipresente, nem onisciente. Dentro do narrador personagem, temos o narrador testemunha, que não é o personagem principal, mas narra acontecimentos dos quais participou, ainda que sem grande destaque.

O narrador conta-nos mais de uma história, ou seja, há histórias dentro de histórias, como: a história do reencontro do narrador com o amigo Afonso de Teive, personagem principal, depois de alguns anos.

“A pessoa, que respondeu assim à minha pergunta falou-me duma janela envidraçada, e acrescentou:” (Amor de Salvação,1998,p.17)

Todas essas histórias acontecem no período que vive o narrador, o

mesmo faz reflexões sobre os costumes e valores da sociedade da época, além de comentários sobre romance e amor.

“(...) é bom que a palavra virtude sirva de piedoso visco à liberdade de pessoas, que desejam alguma vez, ao lerem-se virtuosas, experimentar a satisfação de se verem ir à posteridade na seção do noticiário.” (Amor de Salvação,1998, p. 22)

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Porém, em “Amor de Salvação” há diferentes vozes narrativas, pois além

dos diálogos e a presença de cartas para ceder vozes aos personagens, como em “Amor de Perdição”, o narrador ora escreve em 3ª pessoa e ora concede a voz para que o próprio Afonso de Teive conte sua história. Estes momentos são marcados com “aspas” (“) no início dos períodos:

“Caminhamos para a casa, e não trocamos palavra. Entrei no meu quarto, lancei-me sobre a cama, abafei o rosto nas almofadas e vinguei-me do meu infortúnio a chorar.” ( Amor de Salvação,1998, p.63)

O diálogo com o leitor também é perceptível no início e ocorrerá por toda a obra:

“O leitor folheia duzentas páginas deste livro, e o amor de felicidade e bom exemplo não se lhe depara ou vagamente lhe preluz.” (Amor de Salvação,1998, p.13)

“Se o leitor considera que seria curioso esquadrinhar o caso, eu de mim entendo que a humanidade não ganha com isso nada, e, portanto neste, e em muitos outros artigos advenientes de moral duvidosa, ponho, e porei ponto, quando não seja preciso à contextura deste romance desvelar factos censuráveis.” (Amor de Salvação,1998, p.20)

Espaço

Compreende o espaço físico, onde se tem a apresentação de diversos

ambientes.

No primeiro momento ficamos conhecendo o Minho, onde o narrador se perdeu e encontrou seu amigo e personagem do romance, Afonso de Teive:

“E naquele dia 24 de dezembro de 1863 andava eu no Minho, por aquela corda de chãs e outeiros, que abrangem quatro léguas entre Santo Tirso, Famalicão e Guimarães.” (Amor de Salvação,1998, p.15)

Afonso apresenta a sua casa ao amigo.

“Entrei num vasto pátio, contornado de arcadas semelhantes

ás das claustras monásticas.” (Amor de Salvação,1998, p.17)

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No terceiro momento somos conduzidos a uma estalagem onde Afonso põe-se a contar sua história para o narrador.

“Falarei, e tu ouvirás, ou dormirás. Falarei do homem que conheceste em 1851, para explicar o homem de 1863,” (Amor de Salvação,1998, p.32)

No início da narrativa de Afonso ao amigo, é nos apresentado o ambiente de Braga, onde Afonso foi apresentado a Teodora e o convento onde fora mandada pelo seu tutor.

“Na última fase de sua vida, foi ela a Braga com sua filha de propósito a encontrarem-se com o moço predestinado a esposo, já esquecido, talvez, dos primeiros anos em que se haviam conhecido crianças” (Amor de Salvação,1998, p.36)

“Apenas falecida sua mãe, Teodora foi recolhida ao convento das Ursulinas, por deliberação dum tio paterno, constituído espontaneamente tutor da órfã.” (Amor de Salvação,1998, p.36)

Desiludido por saber do casamento de Teodora segue para Coimbra disposto a esquecê-la.

“Então pensei em ir para Coimbra, onde esperava eu que mil

rapazes de todas condições e feitios me arrancariam de mim próprio, e levariam em suas folias, ou me habituariam o espírito às consoladoras ocupações do estudo” (Amor de Salvação, 1998, p.59)

De férias da Universidade vai visitar a mãe em Leça da Palmeira, onde revê Teodora.

“Os meus dias corriam magoados, mas serenos em Leça da Palmeira, onde se haviam reunidos alguns parentes nossos de

casas muito distantes uma das outras.” (Amor de Salvação,

1998, p.61)

Afonso vai para Lisboa, onde mobília uma casa em um lugar sossegado.

“Mobiliou casa no bairro de Buenos Aires, na menos frequentada das ruas.” (Amor de Salvação, 1998, p.80)

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Afonso volta para a cidade no intuito de encontrar Teodora, os dois se encontram e fogem para Lisboa, onde vivem em um palácio.

“[...] viviam num palacete ao Campo Grande, por ser entrada estiva.” (Amor de Salvação, 1998, p.103)

Após descobrir a traição de Palmira e de sua fortuna ter acabado, Afonso junto do seu criado fiel Tranqueira se mudam para uma casa simples.

“Vendeu Afonso as suas jóias e alugou uma mansarda, que mobiliou consoante a escolha de Tranqueira, pobre e limpamente.” (Amor de Salvação, 1998, p.134)

Afonso e Malfada se casam e vão morar em Ruivães.

“Há dez anos que vivo em Ruivães. Neste longo espaço, apenas tenho acompanhado minha mulher a observar a cultura de suas quintas, que ela teima em chamar minhas.” (Amor de Salvação, 1998, p.141)

Tempo cronológico

A narrativa abrange o tempo cronológico fictício, com apresentação de tempo presente.

“Estava claro o céu, tépido o ar, e as bouças e montes floridos. O mês era dezembro de 1863, em véspera de Natal.” (Amor de Salvação, 1998, p.15) “Retive a palavra. Ia perguntar-lhe grosseiramente se ele era feliz com oito filhos; pergunta desculpável ao Afonso, que eu conhecera desde 1845 até 1851.” (Amor de Salvação, 1998, p.18)

Tempo psicológico

O tempo passado, referente as lembranças de Afonso de Teive, (flash back), durante a narração de Afonso ao narrador o tempo é cronológico e linear.

“Afonso de Teive estudava, há vinte anos em Braga, os elementos preparatórios para o curso universitário, quando viu Teodora, conhecida pela morgadinha de Fervença. Era ela então uma menina de catorze anos. Afonso tinha dezessete.” (Amor de Salvação, 1998, p.35)

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Contexto histórico Romantismo em Portugal

O Romantismo foi um movimento que buscava uma renovação nas artes

em geral. O Romantismo em Portugal durou cerca de 40 anos (1825 a 1865).

Portugal é o reflexo dos dois acontecimentos que marcaram e mudaram

a face da Europa na segunda metade do século XVIII: a Revolução Francesa e

a Revolução Industrial, responsáveis pela abolição da monarquias aristocratas

e pela introdução da burguesia que então, dominara a vida política, econômica

e social da época.

Portugal tendo perdido grande parte de suas colônias, voltara as suas

esperanças ao Brasil, mas não tiveram muito tempo pois logo houve a invasão

das tropas de Napoleão e a família real refugiou-se para o Brasil, a metrópole

se viu na condição de “colônia da própria colônia” e sob o comando do militar

inglês, Beresford.

A luta pelo trono em Portugal, se dá com veemência, gerando

conturbação e desordem interna na nação. De um lado estava D. Pedro IV,

representando a tentativa de implantação do liberalismo no país, do outro

estava D. Miguel que defendia ideias absolutistas, D. Pedro reuniu um exército

para enfrentar seu irmão, mas teve que ceder ao trono português por ter sido

derrotado, apenas reavio o trono português em 1834, quando o liberalismo foi

implantado.

Todos esses acontecimentos tornaram incipiente o início do Romantismo

em Portugal, marcado pela publicação do poema Camões, de Almeida Garrett,

em 1825. Mesmo assim, sua pujança viria a ocorrer mais tardiamente, com o

reconhecimento de nomes como Almeida Garrett, Alexandre Herculano e

Camilo Castelo Branco, entre outros.

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Biografia Camilo Castelo Branco (1825-1890)

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco ficou órfão na sua infância.

Passou os seus primeiros anos numa aldeia em Trás-os-montes onde foi

educado em casa por três tias solteiras. Aos 13 anos de idade ingressa no

seminário católico de Vila Real onde foi educado por padres católicos.

Durante a sua adolescência apaixonou-se pela poesia de Camões e de

Bocage, enquanto que Fernão Mendes Pinto deu-lhe o sentido de aventura.

Apesar do seu interesse pela literatura e da sua especial habilidade para o

grego e o latim, Camilo era um estudante distraído, muitas vezes indisciplinado

e orgulhoso.

Com apenas dezesseis anos (1841), Camilo casa com Joaquina Pereira

de França e instala-se em Friúme (Ribeira de Pena). O casamento precoce

parece ter sido resultado de uma mera paixão juvenil, não tendo resistido muito

tempo. No ano seguinte prepara-se para ingressar na Universidade, indo

estudar com o Padre Manuel da Lixa, em Granja Velha. Seu caráter instável e

irrequieto leva-o a amores tumultuosos, vivendo a seguir com Patrícia Emília de

Barros.

Enquanto morava com Patrícia Emília de Barros, Camilo publicou n’O

Nacional, correspondências contra José Cabral Teixeira de Morais, governador

civil. Devido a esta desavença é espancado pelo capanga do governador. As

suas irreverentes correspondências jornalísticas valeram-lhe, em 1848, nova

agressão. Camilo abandona Patrícia nesse mesmo ano. Camilo tenta então o

curso de Medicina no Porto que não conclui, optando depois por Direito. A

partir de 1848 faz uma vida de boémia repleta de paixões, repartindo o seu

tempo entre os cafés e os salões burgueses, dedicando-se entretanto ao

jornalismo.

Apaixona-se por Ana Plácido, e quando esta se casa, Camilo a seduz e

rapta, depois de algum tempo, são capturados pelas autoridades e depois

julgados. Naquela época o caso emocionou a opinião pública pelo seu

conteúdo tipicamente romântico do amor contrariado, que se ergue à revelia

das convenções e imposições sociais.

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Presos na cadeia da relação do Porto, escreveu Memórias do Cárcere,

tendo conhecido o famoso delinquente Zé do Telhado. Depois de absolvidos do

crime de adultério, Camilo e Ana Plácido passam a viver juntos, contando ele

trinta e oito anos de idade.

Em 1885 é-lhe concedido o título de visconde de Correia Botelho e

posteriormente, a 9 de Março de 1888 casa-se finalmente com Ana Plácido.

Camilo passa os últimos anos da sua vida ao lado de Ana Plácido, não

encontrando a estabilidade emocional por que ansiava. As dificuldades

financeiras, e os filhos dão-lhe enormes preocupações: considera Nuno

irresponsável e Jorge sofre de uma doença mental. A progressiva e crescente

cegueira (causada pela sífilis), impede Camilo de ler e de trabalhar

capazmente, o que o mergulha num enorme desespero.

Camilo Castelo Branco, depois da consulta a um oftalmologista que lhe

confirmara a gravidade do seu estado, em desespero desfere um tiro de

revólver na têmpora direita, às 15h15 de 1 de Junho de 1890, acabando por

morrer às 17h00 desse mesmo dia.

ALGUMAS OBRAS DO ESCRITOR

“Anátema” (1851), “Mistérios de Lisboa” (1854), “A Filha do Arcediago”

(1854), “Livro Negro de Padre Dinis” (1855), “A Neta do Arcediago” (1856),

“Onde Está a Felicidade?” (1856), “Um Homem de Brios” (1856), “Lágrimas

Abençoadas”, “Cenas da Foz”, “Carlota Ângela”, “Vingança”, “O Que Fazem

Mulheres” (1858), “Doze Casamentos Felizes” (1861), “O Romance de um

Homem Rico” (1861), “As Três Irmãs” (1862), “Amor de Perdição” (1862),

“Coisas Espantosas”, “O Irónico” (1862), “Coração, Cabeça e Estômago”

(1862), “Estrelas Funestas”, “Anos de Prosa” (1862), “Aventuras de Basílio

Fernandes Enxertado” (1863), “O Bem e o Mal” (1863), “Estrelas Propícias”

(1863), “Memórias de Guilherme do Amaral” (1863), “Agulha em Palheiro”

(1863), “Amor de Salvação” (1864), “A Filha do Doutor Negro” (1864), “Vinte

Horas de Liteira” (1864), “O Esqueleto” (1865), “A Sereia” (1865), “A Enjeitada”

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(1866), “O Judeu” (1866), “O Olho de Vidro” (1866), “A Queda de um Anjo”

(1866), “O Santo da Montanha” (1866), “A Bruxa do Monte Córdova” (1867), “A

Doida do Candal” “1867), “Os Mistérios de Fafe” (1868), “O Retrato de

Ricardina” (1868), “Os Brilhantes do Brasileiro” (1869), “A Mulher Fatal” (1870),

“O Regicida” (1874), “A Filha do Regicida” (1875), “A Caveira do Mártir” (1876),

“Novelas do Minho” (1875-1877), “Eusébio Macário” (1879), “A Corja” (1880),

“A Brasileira de Prazins” (1882).

TEATRO

“Agostinho de Ceuta”, “O Marquês de Torres Novas”, “Poesia ou

Dinheiro?”, “Justiça”, “Espinhos e Flores”, “Purgatório e Paraíso”, “O Morgado

de Fafe em Lisboa”, “O Morgado de Fafe Amoroso”, “O Último Acto”,

“Abençoadas Lágrimas!”, “O Condenado”, “Como os Anjos se Vingam”, “Entre

a Flauta e a Viola”, “O Lobisomem”, “A Morgadinha do Vale-de-Amores”

O escritor

Camilo foi seguramente o primeiro escritor profissional português.

Durante quase toda a sua vida ativa assegurou a sua subsistência e a da

família, com os seus trabalhos jornalísticos e as novelas que publicava em

ritmo frenético.

As suas novelas constituem um painel descritivo, em tom

frequentemente sarcástico, da sociedade portuguesa do século dezenove. A

sua atenção debruça-se, sobretudo sobre uma aristocracia em clara

decadência — material e moral — e uma burguesia em ascensão.

Suas novelas podem ser agrupadas em três fases, de acordo com as

características que apresentam e os temas que abordam.

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Na primeira fase cedendo ao gosto do leitor da época, apreciador de

narrativas longas, Camilo escreveu novelas melodramáticas, em que

predomina o fatalismo, o ódio, a vingança, o crime.

A segunda fase, expressa pelas novelas passionais, corresponde ao

melhor de sua obra e representa a sua maturidade literária. Os textos são

vazados em linguagem direta, comunicativa, coloquial e, às vezes, irônica. A

imaginação privilegiada de Camilo, aliada à sua sensibilidade para com os

problemas sentimentais, cria, aqui, novelas que estimulam a leitura,

despertando no leitor o desejo de acompanhar, por inteiro, as peripécias nas

quais as personagens se envolvem.

O suspense, bem dosado, o enredo conciso, equilibrado, além de

projeções autobiográficas, aproximam o leitor, o autor e a obra, na qual o amor,

sentimento dominante, reina absoluto. A esta fase pertencem Amor de

salvação, A queda de um anjo, Coração, cabeça e estômago e Amor de

Perdição, considerada sua obra máxima.

A terceira fase corresponde ao final da vida de Camilo que, ao estudar

as novidades realistas e naturalistas com o intento de criticá-las, acabou

enveredando para a nova moda e escreveu quatro romances — não mais

novelas — em que se destacam a crítica social, a observação da realidade, a

descrição minuciosa, a sátira da sociedade e a abordagem de temas realistas

como o adultério, vazadas em linguagem mais popular: Eusébio Macário, A

corja, A brasileira de Prazins e Vulcões de lama.

A arte imita a vida

A obra de Camilo é, em grande parte, um reflexo do seu próprio

percurso biográfico. Na vida e na obra, Camilo parece não ter conhecido meio-

termo, a agitação, a instabilidade, o rapto, um amor impossível e o adultério

que encontramos na obra, encontramos igualmente na vida de Camilo.

Em ”Amor de Salvação”, vemos muito de Camilo, temos Afonso Teive

um homem apaixonado que foge com uma mulher casada, Teodora, na vida

real Camilo também passara pelo mesmo episódio com Ana Plácido.

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Bibliografia

CANDIDA, Vilares Gancho. Como Analisar Narrativas. Série Princípios. São Paulo: Atica, 1991 7ª edição, 8ª impressão BRANCO, Camilo Castelo – Amor de Salvação.Série Bom Livro Editora Àtica

1998 4ª edição

BRANCO, Camilo Castelo, Amor de Salvação, ed. Virtual Books On Line M&M,

2000/2003.

BRANCO, Camilo Castelo, Amor de Salvação, ed. Scipione, São Paulo, 2ª

edição, 1999.

www.teatro-dmaria.pt/Temporada/detalhe.aspx?idc=933

www.livros-digitais.com/autor.asp?autor=7

www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/camilo-castelo-branco/camilo-castelo-

branco.php#ixzz1vqHwgctv

www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/4mostra/pdfs/207.pdf www.trabalhosenotasdocursodeletras.blogspot.com/