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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ JOICE CRISTINA DA SILVA Trabalho de Iniciação Científica A AGRICULTURA ORGÂNICA NO MERCADO INTERNACIONAL - COM FOCO NO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA ORGÂNICA BRASILEIRA ITAJAÍ 2012

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Page 1: Trabalho de Iniciação Científica A AGRICULTURA ORGÂNICA … · O objetivo foi atingido com a apresentação de aspectos históricos da evolução do consumo e da demanda de produtos

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ JOICE CRISTINA DA SILVA

Trabalho de Iniciação Científica A AGRICULTURA ORGÂNICA NO

MERCADO INTERNACIONAL - COM FOCO NO DESENVOLVIMENTO DA

AGRICULTURA ORGÂNICA BRASILEIRA

ITAJAÍ 2012

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JOICE CRISTINA DA SILVA

Trabalho de Iniciação Científica A AGRICULTURA ORGÂNICA NO

MERCADO INTERNACIONAL - COM FOCO NO DESENVOLVIMENTO DA

AGRICULTURA ORGÂNICA BRASILEIRA Trabalho de Iniciação Científica desenvolvido para o Estágio Supervisionado do Curso de Comércio Exterior do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadores: Prof.ª MSc. Jacqueline Márcia Ferreira Furlani e Prof. MSc. Luiz Carlos dos Santos

ITAJAÍ 2012

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Agradeço a minha família pelo amor,

pela educação e por tudo que me proporcionou para alcançar meus

objetivos. Agradeço meus amigos, os professores do curso de

Comércio Exterior, meus orientadores Prof.ª MSc. Jacqueline

M. F. Furlani e Prof. MSc. Luiz Carlos dos Santos e a Prof.ª MSc. Natalí Nascimento por todo apoio.

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“O valor da escolha de nossa comida

é o que de mais poderoso e comunicativo temos à mão. A

escolha do que adquirir e consumir, neste mundo em que conta

sobretudo o lucro, é o primeiro ato político significativo que podemos

fazer na vida.” (Carlo Petrini)

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EQUIPE TÉCNICA

a) Nome do estagiário Joice Cristina da Silva b) Área de estágio Economia Brasileira e Internacional c) Orientador de conteúdo Prof.ª MSc. Jacqueline Márcia Ferreira Furlani Prof. MSc. Luiz Carlos dos Santos d) Responsável pelo Estágio Prof.ª MSc. Natalí Nascimento

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RESUMO

A atividade agropecuária é de grande importância para a economia brasileira e uma das primeiras áreas a serem desenvolvidas no país, que possui uma configuração climática favorável para esta atividade. Todavia, devem ser considerados os relevantes impactos negativos decorrentes tanto da agricultura convencional, quanto da pecuária que, dependendo do sistema de produção estão relacionados a impactos mais expressivos, em virtude das práticas e técnicas utilizadas. A grande utilização e degradação dos recursos naturais afeta, direta ou indiretamente, as atividades econômicas e sociais, a saúde e o bem-estar da população, bem como a própria sobrevivência humana. Ressalta-se, um grande desafio para o setor que, de um lado precisa continuar a produzir para gerar desenvolvimento econômico e suprir a demanda por alimentos e, de outro deve preservar o meio ambiente e proporcionar saúde e bem-estar. Neste contexto, a agricultura orgânica surge como uma alternativa. O Brasil, com grande potencial de expansão deste padrão de produção agrícola, vem acompanhando o crescimento do setor frente às exigências e normas rígidas do mercado internacional, principalmente Europa e Estados Unidos que são os maiores importadores de produtos orgânicos. O presente Trabalho de Iniciação Científica teve como objetivo traçar um panorama mundial da agricultura orgânica e as perspectivas de desenvolvimento dessa atividade no contexto brasileiro. O objetivo foi atingido com a apresentação de aspectos históricos da evolução do consumo e da demanda de produtos da agricultura orgânica e levantamento de dados estatísticos sobre a produção e a comercialização. Constatou-se por fim a relevância da agricultura orgânica para a economia brasileira e a existência de efetivas oportunidades para o desenvolvimento do setor, mas não sem riscos, requerendo a participação constante dos governos e organismos relacionados em iniciativas a fim de dar subsídios, assistência e contribuir para a harmonização das normas internacionais para facilitar a comercialização entre os países. Palavras-chave: Agricultura Orgânica. Economia Brasileira. Mercado Internacional.

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LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 – Países com maior porcentagem de agricultura orgânica em

relação a convencional em 2007 33

Gráfico 2 - Receitas em bilhões de dólares entre 1999 e 2007 do mercado

global de orgânicos 34

Gráfico 3 – Vendas totais de produtos orgânicos no Brasil 42

Figura 1 – Principais selos de certificação 51

Gráfico 4 – Proporção dos estabelecimentos produtores de orgânicos

certificados e não certificados no total de estabelecimentos orgânicos, por

grupo de área – Brasil – 2006 56

Gráfico 5 – Porcentagem de produtores com agropecuária orgânica por região 57

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LISTAS DE TABELAS

Tabela 1 - Produtividade na indústria têxtil de algodão no Reino Unido 19

Tabela 2 – Diferença nutricional entre produto orgânico e convencional 28

Tabela 3 – As 10 maiores empresas de agrotóxicos no mundo em 2007 29

Tabela 4 – Sementes Transgênicas: as empresas dominantes no mundo em

2000 30

Tabela 5 – Certificadoras nacionais e internacionais e sua creditação 42

Tabela 6 – Uso de agricultura orgânica nos estabelecimentos, segundo as

Grandes Regiões da Federação Brasil – 2006 46

Tabela 7 - Exportação Brasileira de Produtos Orgânicos - 2007 a 2009 60

Tabela 8 - Produtos Orgânicos Brasileiros Exportados - Agosto/2006 a

Janeiro/2010 62

Tabela 9 - Países de destino dos produtos orgânicos brasileiros exportados -

Agosto/2006 a Janeiro/2010 64

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LISTAS DE SIGLAS

AAO - Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo

APEX-Brasil - Agência de Promoção de Exportadores do Brasil

CNPq – Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

FAO – Food and Agriculture Organization

FEAB – Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil

FEEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná

FVO – Farm Verified Organic

FOB – Free On Board

IBD – Instituto Biodinâmico

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFOAM – International Federation of Organic Agriculture Movements

IMO – Institute fur Marktoekologie

IPD – Instituto de Promoção do Desenvolvimento

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

OCIA – The Organic Crop Improvement Association

OIA – Organización Internacional Agropecuaria

OGM – Organismo Geneticamente Modificado

OPAC – Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade

PCB – Polychlorinated Biphenyl

PIB – Produto Interno Bruto

UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development

USDA - United States Department of Agriculture

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

1.1 Objetivo geral ................................................................................................. 11

1.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 11

1.3 Justificativa ..................................................................................................... 11

1.4 Metodologia .................................................................................................... 12

1.4.1 Caracterização da pesquisa ........................................................................ 12

1.4.2 Área de abrangência ................................................................................... 13

1.4.3 Coleta e tratamento dos dados ................................................................... 13

1.4.4 Análise e apresentação dos dados ............................................................. 14

2 AS ORIGENS DO CONSUMO DE PRODUTOS ORGÂNICOS ......................... 15

2.1 Antecedentes históricos a partir do surgimento do Sistema Feudal ............... 15

2.2 A Revolução Industrial do século XVIII ........................................................... 18

2.3 A globalização e o consumo em massa ......................................................... 21

2.4 A disseminação do consumo de produtos orgânicos ..................................... 22

2.4.1 O uso indiscriminado de agrotóxicos, fertilizantes artificiais e os Organismos Geneticamente Modificados ...................................................................................... 26

3 A AGRICULTURA ORGÂNICA NO MERCADO INTERNACIONAL .................. 31

3.1 O cenário mundial de produtos orgânicos ...................................................... 32

3.1.1 África ........................................................................................................... 35

3.1.2 América do Norte ........................................................................................ 36

3.1.3 América Latina ............................................................................................ 36

3.1.4 Ásia ............................................................................................................. 38

3.1.5 Europa ........................................................................................................ 39

3.1.6 Oceania ....................................................................................................... 40

4 A AGRICULTURA ORGÂNICA NO CONTEXTO BRASILEIRO ........................ 42

4.1 Relevância da agricultura orgânica para a economia brasileira ..................... 44

4.1.1 Viabilidade de produção e entraves ............................................................ 45

4.1.2 Certificação de Produtos Orgânicos ............................................................ 48

4.2 Regiões brasileiras com maior destaque na produção ................................... 53

4.3 Principais culturas produzidas no país ........................................................... 57

4.4 Exportações brasileiras de produtos orgânicos .............................................. 60

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 66

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68

ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS ...................................................................... 73

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1 INTRODUÇÃO

A agropecuária brasileira contribui consideravelmente para o

desenvolvimento econômico do país, conforme atestam os números divulgados

pelos órgãos públicos e outras instituições especializadas. Contudo, a atual

demanda por produtos de origem animal e as práticas agrícolas convencionais, que

utilizam agrotóxicos de forma intensa, resultam em diversos impactos ao meio

ambiente, promovendo a degradação dos ecossistemas globais e trazendo

problemas à saúde humana. Por essas razões, tem-se a necessidade de uma

transformação substancial nos padrões de consumo das pessoas.

Por sua vez, embora ainda de forma tímida, é possível detectar na

sociedade atual da produtividade e do consumo uma mudança de estado de

consciência e, por conta disso, existe uma crescente demanda mundial por

alimentos orgânicos. Trata-se de uma atividade que não apenas substitui o uso de

agrotóxicos e adubos químicos por adubos orgânicos, mas de uma nova ideia que

visa a produção agrícola em equilíbrio com a natureza.

O Brasil tem considerável capacidade de produção agrícola e através de um

planejamento consciente pode aderir aos princípios de agricultura sustentável e

obter um fator de competitividade e sobrevivência em um mercado cada vez mais

exigente. Há efetivamente, um grande potencial de expansão da produção orgânica

que ainda tem grande parte destinada apenas a feiras locais.

A produção de orgânicos em nosso país ainda é incipiente, mas tende ao

crescimento, pois uma nova geração está sendo formada com visão ecológica e

maior sensibilidade às questões que envolvem a saúde e o meio ambiente. De outra

parte, o conceito de preservação da natureza é cada vez maior nos países

desenvolvidos, o que possibilita inferir a potencialidade de adoção dessa alternativa

de consumo.

Este trabalho pretendeu demonstrar a importância e a viabilidade da

Agricultura Orgânica, como também seu potencial no mercado interno e externo.

Para isso utilizou-se a metodologia qualitativa baseada em dados bibliográficos

como livros, revistas e meios eletrônicos especializados, artigos científicos e dados

estatísticos que foram apresentados em forma de texto, tabelas e gráficos.

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1.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho foi identificar as oportunidades da agricultura

orgânica no mercado internacional com foco no desenvolvimento da agricultura

orgânica brasileira.

1.2 Objetivos específicos

• Apresentar os aspectos históricos do consumo de produtos orgânicos e os

impactos causados pelo atual padrão de produção de alimentos.

• Pesquisar sobre a produção e a comercialização de produtos orgânicos no

mercado internacional.

• Verificar o cenário de produção orgânica brasileira e suas oportunidades.

1.3 Justificativa

Os meios de comunicação, as entidades de preservação ambiental e as

pessoas conscientizadas constituem, atualmente, um contingente significativo a

defender a natureza e as suas riquezas. A realização de estudos a respeito,

quaisquer que sejam os aspectos abordados, tem relevância tanto social quanto

econômica devido à atual preocupação mundial com o desenvolvimento sustentável.

As empresas buscam atender os desejos e as necessidades de seus consumidores

e têm preocupação em demonstrar que produzem sem comprometer o meio

ambiente e as gerações futuras, porque entendem que a conscientização produz

escolhas e que as escolhas decorrem de uma análise exigente.

A importância do tema abordado cresce na medida em que se evidencia o

conhecimento dos impactos negativos decorrentes das práticas agrícolas

convencionais e da pecuária, que trazem efetivos danos e problemas ao meio

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ambiente e à saúde humana. Por conta disso, a atenção está se voltando para os

produtos orgânicos. Sendo uma alternativa sustentável e reconhecida por preservar

o meio ambiente, ela atrai expressiva demanda mundial e propicia diversos

benefícios, entre eles na economia de minifúndios e na qualidade de vida. É

relevante, portanto, a extensão deste conhecimento para a comunidade e para os

acadêmicos por ser um tema que contribui para a conscientização das pessoas e

demonstra a necessidade de mudança nos processos de desenvolvimento

econômico e no consumo de alimentos.

A pesquisa desperta grande interesse por parte da acadêmica por

reconhecer a importância em optar por alimentos mais saudáveis e que não causem

danos ao meio ambiente. Ademais, trata-se de um estudo viável por abordar um

assunto que causa preocupação global e vem ao encontro de interesses nacionais,

empresariais e sociais.

1.4 Metodologia

Este item apresenta a metodologia aplicada no desenvolvimento deste

trabalho de iniciação científica, enfatizando os aspectos relacionados à

caracterização da pesquisa, área de abrangência, bem como a coleta, tratamento,

análise e apresentação de dados.

1.4.1 Caracterização da pesquisa

O método utilizado nesta pesquisa foi qualitativo, com o propósito de

apresentar as informações com clareza a fim de alcançar os objetivos do tema

abordado. Dias et al. (2003, p. 376) consideram a pesquisa qualitativa “uma

metodologia não estruturada, baseada em [...] amostras, a fim de proporcionar [...]

uma compreensão do contexto do problema”. Richardson (1999) entende que ela,

apesar de perder em termos de validade e confiabilidade comparada com a

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metodologia quantitativa, possui um vínculo importante com as preocupações

características do pensamento crítico, tal qual é este estudo.

Quanto aos meios, a pesquisa teve caráter eminentemente bibliográfico,

desenvolvida com base em materiais já publicados, constituídos principalmente de

livros, meios eletrônicos e artigos científicos. (GIL, 1999). Trata-se, portanto, de uma

pesquisa descritiva, na qual, segundo Dias et al. (2003, p. 371) “os problemas a

serem investigados estão bem definidos [...]” e por decorrência, os dados levantados

foram secundários. Envolve levantamento bibliográfico e análise dos exemplos que

estimulem a compreensão da questão levantada.

1.4.2 Área de abrangência

A pesquisa abrange a área de comércio exterior direcionada para as áreas

de economia brasileira e economia internacional com ênfase na produção

sustentável da agricultura orgânica.

1.4.3 Coleta e tratamento dos dados

Os dados para a apresentação deste projeto foram coletados em materiais

bibliográficos pertinentes como livros, revistas, artigos científicos, sítios

especializados e dados estatísticos. Parte dos capítulos 3 e 4 limitou-se a poucas

fontes coletadas em decorrência de escassez de dados, informações difusas e

imprecisas divulgadas.

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1.4.4 Análise e apresentação dos dados

Os dados coletados foram analisados e abordados em forma de texto

explicativo, comparativo e analítico, acompanhado, eventualmente, de tabelas e

gráficos para melhor compreensão.

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2 AS ORIGENS DO CONSUMO DE PRODUTOS ORGÂNICOS

Diversos fatores contribuíram para o crescimento da demanda e do consumo

de produtos orgânicos. A crise ecológica atual é um dos principais fatores e faz parte

dos reflexos de eventos de grande impacto na sociedade, como a Revolução

Industrial. Todos os avanços industriais e tecnológicos desde o surgimento da

sociedade industrial geraram marcantes transformações na economia e no modo de

vida das pessoas. São transformações irreprimíveis que trazem impactos tanto

positivos quanto negativos, e estes se tornam mais evidentes com o passar do

tempo tendo em vista o incontrolável crescimento industrial e o consumo em massa.

Da Revolução Verde à Revolução Biotecnológica, as tecnologias e

monoculturas sustentadas pelas multinacionais converteram a produção de pequena

escala em produção de grande escala e representam um eminente perigo para o

futuro da humanidade. Produziram poluição do ar, da água e do solo, e mais

recentemente um tipo que pode chamar-se de poluição genética. Além dos custos

ambientais, se forem levados em conta os custos sociais e os problemas à saúde

humana, o sistema agroindustrial não aumentou a eficiência da produção, pois não

reduziu a fome, apenas favoreceu multinacionais, prejudicou pequenos produtores e

a qualidade dos alimentos.

Este capítulo trata de demonstrar como os produtos orgânicos foram, ao

longo do tempo, sendo considerados uma alternativa sustentável de produção de

alimentos. Inclui um panorama histórico que se inicia muito antes da realidade atual,

chega a um pico máximo de consumo sem regras, cujos males causados passam a

exigir novas alternativas.

2.1 Antecedentes históricos a partir do surgimento do Sistema Feudal

Entre os séculos V e X a Europa Ocidental passou por transformações que

desencadearam um processo de ruralização das populações e retração das

atividades comerciais. Tais transformações ocorreram durante a formação do

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Feudalismo em decorrência da crise do Império Romano e da invasão dos Reinos

Bárbaros marcada pelas lutas sociais. Uma série de mudanças envolvendo questões

de ordem econômica, social e política marcaram esse período. A produção rural

deixou de atender ao mercado passando a produzir para suas próprias

necessidades, diversificando a produção de gêneros além da criação de animais e

produção artesanal. Os grandes senhores passaram a morar em suas propriedades

de campo concedidas pelo rei, que detinha toda a terra e obtinha em troca, apoio

militar e financeiro. Os senhores feudais ainda dividiam as terras com parceiros

menos poderosos, denominados meeiros, que tinham a obrigação de entregar parte

do que produziam, sejam as colheitas ou os impostos.

No nível hierárquico ainda mais baixo estavam os servos, que trabalhavam

apenas para garantir sua subsistência (SILVA, 2002). Diante dessa organização,

pode-se dizer que o Sistema Feudal era caracterizado por um poder político

descentralizado, pois na prática o senhor feudal era superior ao rei que não tinha

interferência direta sobre as imposições estabelecidas pelo senhor feudal no interior

das propriedades.

A sociedade feudal era formada por nobres, clero e servos. A camada

dominante dos senhores feudais era constituída pela nobreza e pelo clero que

tinham a posse legal do feudo e dos servos, estes presos à terra onde nasceram

tendo como função o cultivo compulsório, sem possuir liberdade de abandonar a

terra e também não podendo ser vendidos como eram os escravos. A Igreja Católica

era dominante na Idade Média e detinha tanto o poder espiritual, influenciando no

modo de pensar e nas formas de comportamento, quanto o poder econômico, pois

possuía grande quantidade de terras.

A base da economia na época era agrária caracterizada pela exploração do

trabalho servil. Como complemento, outras atividades se desenvolviam em menor

escala para suprir as necessidades da sociedade, entre elas a pecuária, a produção

artesanal, a mineração e o restrito comércio. Segundo Anderson (2000, p.146): “[...]

o modo de produção feudal foi o primeiro a permitir a esta produção um

desenvolvimento autônomo em uma economia agrária natural.”, mesmo em um nível

bem primitivo de desenvolvimento com um baixo nível de técnica e instrumentos

simples de produção.

No período de expansão do Feudalismo, onde a demanda e a ocupação de

terras era cada vez maior, pode-se dizer que o equilíbrio ecológico já se

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comprometia e interferia nas condições climáticas, pois muitas florestas foram

destruídas devido a grande utilização da madeira que constituía a matéria-prima da

construção e era praticamente o único combustível (IANNONE, 1992).

A partir do século XIV o Feudalismo teve seu declínio devido à sua

ineficiência como sistema de produção e às necessidades crescentes de renda por

parte da classe dominante. Essa necessidade gerou uma pressão insuportável sobre

o produtor que já tinha seu trabalho sobrecarregado, sem margem para o aumento

da produtividade. O crescimento populacional e o surgimento de diferentes métodos

de produção agrícola proporcionaram a retomada das atividades comerciais. Os

centros urbanos ressurgiram e muitos camponeses oprimidos e exaustos fugiram da

exploração em busca de melhores condições de vida, enquanto outros conseguiram

recursos para comprar sua própria liberdade.

Na medida em que o crescimento do mercado exerceu uma influência

desintegradora sobre a estrutura do feudalismo, o surgimento das cidades na Idade

Média como organizações corporativas passaram a possuir independência

econômica e política. As terras de cultivo se diversificaram e houve o surgimento do

sistema fabril. Os camponeses começaram a aprender novas habilidades de

artesãos e passaram a trabalhar nas cidades como sapateiros, ferreiros,

carpinteiros, entre outras especialidades, formando uma nova classe social.

No século XX muitos servos libertados ainda emigravam do campo para as

cidades, favorecendo a demanda de produtos e a oferta de mão-de-obra. Com o

crescimento dos negócios, formavam-se organizações estruturadas. Neste cenário,

surgiram as oportunidades para a expansão da indústria e aumento na produção de

bens. De um modo geral, durante todo o período que antecede a Idade Moderna,

diversos acontecimentos ocorreram emergindo novas instituições, hábitos e

comportamentos que resultaram na ruptura definitiva da Idade Média e

possibilitaram a transposição do homem em direção à Revolução Industrial.

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2.2 A Revolução Industrial do século XVIII

O final do século XVIII foi marcado pelo início de um complexo de inovações

tecnológicas na Inglaterra que modificaram de forma brusca a vida das sociedades

humanas tornando capaz a produção acelerada de mercadorias e de serviços,

dando origem à atual sociedade industrial. Em meados do século XVIII a Inglaterra já

era reconhecida como uma economia pré-industrial moderna dominando os

mercados em que atuava e Londres se transformava em um grande centro de

desenvolvimento. Na verdade, a Inglaterra era a grande líder mundial em todos os

aspectos: financeiros, sociais, econômicos e de poder bélico. A expansão do

comércio, a rivalidade comercial, o incremento da navegação, a disponibilidade de

capital e o ritmo acelerado de crescimento aliados ao avanço científico, apontavam

para o surgimento das fábricas.

Em suma, a essência da Revolução Industrial foi o uso da máquina em

substituição ao trabalho humano e animal. O aparecimento de máquinas que

possuíam um mecanismo capaz de executar o mesmo trabalho desenvolvido pela

mão-de-obra humana significativamente mais rápido, regular e preciso e a utilização

do vapor como fonte de energia para acionar o motor da máquina denotam a

passagem da economia agrária e artesanal para a economia industrial que

impulsionou a melhoria na obtenção e no trabalho de novas matérias primas. Até

então eram utilizadas apenas a energia muscular, a eólica e a hidráulica. Para

Canedo (1994) um acontecimento marcante na Revolução Industrial foi a invenção

do motor a vapor por James Watt em 1782 que possibilitou guiar qualquer

maquinismo e executar diversas operações técnicas.

Diante das fábricas providas de máquinas movidas a vapor e o mercado em

expansão consolidavam-se novas formas de organização e administração do

trabalho. O sistema industrial criou duas novas classes sociais: os empresários

(capitalistas) que são os proprietários das fábricas, do capital, das máquinas e de

todos os bens produzidos, e o proletariado, que são os trabalhadores que produzem

as mercadorias em troca de salários. A divisão do trabalho era fundamental para

maximizar o desempenho. Segundo Silva (2002, p. 101) “A mão-de-obra foi dividida

e cada pessoa se especializava em alguma tarefa; peças de produtos precisaram se

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tornar intercambiáveis para que a divisão da mão-de-obra levasse a um resultado

comum.”.

Os progressos de industrialização foram mais rápidos e consistentes na

produção têxtil, que era a principal atividade britânica, sendo marcantes as

invenções como a máquina de fiar, o tear para tricotar e fabricar fitas. Com as

inovações, a produtividade aumentava cada vez mais necessitando um menor

número de horas necessárias para obter a mesma, como se pode observar na

Tabela 1.

Tabela 1 – Produtividade na indústria têxtil de algodão no Reino Unido

Período Horas Produção por trabalhador

1829-31 100 100

1844-46 87 372

1859-61 87 708

1880-82 82 948

Fonte: Adaptado de Rioux, J.P. A Revolução Industrial 1780-1880. São Paulo, Pioneira, 1975.

O progresso logo alcançou outros setores como a metalurgia, e crescia a

pesquisa para obtenção de novas fontes de energia. Para auxiliar a produção e o

abastecimento das matérias primas, os setores de transporte e de comunicação

também tiveram que se modernizar. Foram criados o barco a vapor, a locomotiva, o

telégrago, o telefone, entre outros.

Pode-se dizer que a Revolução Industrial divide-se em três períodos no

processo de industrialização em escala mundial. O primeiro se estende de 1760 a

1850 e se restringe à liderança da Inglaterra no desenvolvimento técnico-científico

com o surgimento da energia a vapor, da produção, do consumo e da evolução da

produção têxtil. A Inglaterra contava com um regime de governo que favorecia o

desenvolvimento do capitalismo com matérias-primas indispensáveis para a

confecção das máquinas e geração de energia, além da disponibilidade de mão-de-

obra em decorrência ao êxodo rural ocorrido na Idade Média.

O segundo período tem início em 1850, quando se percebe a expansão da

industrialização pela Europa, América e Ásia, atingindo especialmente Bélgica,

França, Alemanha, Itália, Estados Unidos, Japão e Rússia. O desenvolvimento de

outros setores da economia também se acelerou com a difusão do aço, a expansão

das ferrovias, a modernização do sistema de comunicações e a descoberta de novas

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fontes de energia como a eletricidade e o petróleo. Para Silva (2002, p. 102) o

terceiro período se inicia em 1900 onde “[...] surgem grandes conglomerados

industriais, com produção automatizada, produção em série, explosão da sociedade

de consumo e expansão dos meios de comunicação; avançaram as indústrias:

química e eletrônica, a engenharia genética [...]”, entre outros.

O século XIX assistiu ao rompimento da corrente que impedia a livre

circulação de mercadorias e o grande desenvolvimento do comércio internacional.

Em 1860, a diplomacia das fronteiras foi substituída pelos tratados de comércio, que

diminuiram as barreiras alfandegárias para intensificar as trocas de mercadorias. A

era do progresso industrial permitiu uma grande transformação na produção de bens

e serviços bem como nas estruturas institucionais, culturais, políticas, econômicas e

sociais. Porém, avalia-se que o meio ambiente tem sido alterado intensamente pelas

atividades humanas com a irracional ocupação dos espaços e uso dos recursos

naturais não renováveis provocando uma série de problemas de aspectos sociais e

ambientais.

Com o surgimento da sociedade industrial, houve crescimento e concentração da população em áreas urbanas, que passaram a ocupar espaços em detrimento do ambiente natural, e as terras e florestas foram convertidas em mercadoria para atender à intensificação da produção e do consumo. Esse processo foi baseado na exploração do trabalho humano e no alto consumo de matérias-primas e fontes de energia não renováveis, que ao longo do processo produtivo geravam resíduos poluentes que contaminavam o ar, o solo e as águas num volume sem precedentes. E é nesse sentido que podemos afirmar que o modelo de desenvolvimento resultante da Revolução Industrial é o responsável pela atual crise ecológica. (DIAS, 2007, p. 2).

A expansão industrial dos países, cada qual explorando as suas

potencialidades, visa o desenvolvimento, porém, de maneira desordenada, utilizando

os recursos de maneira inadequada, e ocasionando ameaças que prejudicam a

própria espécie humana. Desta forma, tem-se a necessidade de criar meios para

efetivação de um desenvolvimento sustentável que garanta o equilíbrio do meio

ambiente.

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21

2.3 A globalização e o consumo em massa

A globalização é um fenômeno das sociedades contemporâneas que pode

ter seu conceito disseminado recentemente, porém é possível considerar que

sempre existiu, em menores proporções e que se desenvolveu a partir da Revolução

Industrial do século XVIII, impulsionado pela evolução dos sistemas de transporte e

de comunicação dos países. O processo de globalização acompanha a evolução do

capitalismo desde o século XIX com o evento das duas grandes guerras mundiais e

teve seu ápice de crescimento no período final da Guerra Fria. É possível observar

que, desde a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos já se transformavam em

uma grande potência consolidando sua hegemonia após a Segunda Guerra graças

ao seu poderio econômico-militar e às formas como, em ambas, conseguiu usufruir

das suas demandas.

Economicamente, a globalização caracteriza-se pelos interesses financeiros

e a desregulamentação dos mercados que permitiram o estreitamento das relações

comerciais entre os países e a difusão das multinacionais que criaram redes de

produção e de consumo no mundo inteiro e são detentoras de grande poder

econômico e político. O sistema capitalista e as grandes empresas promovem a

cultura do consumismo exacerbado, da competição e do desperdício em detrimento

do bem-estar social que é um dos grandes problemas enfrentados pela sociedade

contemporânea.

Devido à busca pelo acúmulo de capital, de acordo com Dupas (2007, p. 8):

“assiste-se a um sucateamento contínuo de produtos em escala global, gerando

imenso desperdício de matérias-primas e recursos naturais ao custo imenso de

degradação contínua do meio ambiente e de escassez de energia.”. Seguindo o

rumo da modernidade, as empresas cada vez mais participam da vida das pessoas,

que se tornam dependentes do consumo proposto. O acesso à matéria-prima e à

tecnologia facilita a produção em grande escala que busca tão somente obtenção de

lucros e concentração do poder que se sobrepõem às preocupações globais.

Hoje, as corporações são o poder dominante que dá forma às políticas sociais, econômicas e comerciais em todo o mundo. Ao mesmo tempo, decisões que venham a ser tomadas nos próximos anos com relação a tecnologias novas e poderosas, têm o potencial de afetar postos de

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trabalho, justiça e ambiente em escala planetária. Apesar das implicações dessas tendências para a democracia e para os direitos humanos, não existe um órgão internacional para monitorar a atividade corporativa global, e nenhum organismo das Nações Unidas tem a capacidade para monitorar e avaliar as tecnologias globais. A atual emergência de alimentos e implosão da economia mundial atestam a imperiosa necessidade de monitoramento e supervisão das corporações. (GUAZZELLI; PEREZ, 2010, p. 62).

A ascensão do consumo é a causa sem precendentes de problemas

incluindo o declíneo da biodiversidade, a perda de terras cultiváveis e a produção de

resíduos tóxicos e, portanto, não pode ser considerada como uma atitude normal da

sociedade, mas sim, uma ação humana integralmente passível de mudança.

A sociedade atual vive uma espécie de instantaneidade, onde se consome

mais do que o planeta poderia oferecer sem alterar seu equilíbrio e deixando de

observar os impactos que o consumo exacerbado pode causar às gerações futuras.

Sob esse impulso frenético, os consumidores deixam de lado a procedência dos

produtos e o conjunto de processos que trazem o alimento às suas mesas.

Com a industrialização, o processo dos alimentos mudou drasticamente e

passou a suprir as necessidades dos trabalhadores, que tinham cada vez menos

tempo para preparar refeições. A partir dessa necessidade, surgiram os alimentos

industrializados, processados e enlatados que reduziram o padrão alimentar das

pessoas e dificultam ainda mais ao consumidor ter conhecimento sobre a origem das

matérias-primas utilizadas e as condições de produção.

Em observação ao pensamento “O homem é aquilo que come” de Ludwig

Feuerbach (1830), o consumidor deve buscar conhecer a proveniência, os

processos aplicados e as pessoas envolvidas na produção do alimento que

consome, além das consequências de sua escolha, pois não consome apenas o

produto que adquire: consome a terra, a água e o ar.

2.4 A disseminação do consumo de produtos orgânicos

O atual padrão agroalimentar de produção surgiu com o paradigma da

revolução verde, entre a década de 1940 e 1950, quando ocorreram a

transformação e a modernização da agricultura, acarretadas pelo uso de

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fertilizantes, implementos e máquinas agrícolas, além do uso de sementes

modificadas e desenvolvidas em laboratórios. Tal transformação alterou a estrutura

agrária e aumentou significativamente a produção. No entanto, passou a sofrer

críticas em razão dos impactos causados que demonstram a insustentabilidade

desse modelo, entre eles a erosão e degradação do solo, poluição do meio

ambiente, a perda da biodiversidade, bem como a expulsão do pequeno produtor

agrícola que não conseguiu se adaptar às novas técnicas de produção, nem atingir

produtividade suficiente para manter-se na atividade agrária.

Um século antes da revolução verde, já havia a introdução da química na

produção agrícola difundida pelas descobertas de Liebig para o aumento da

produção. Esse modelo originou uma corrente de pesquisadores que, preocupados

com os impactos, desenvolveram propostas alternativas sustentáveis no sentido de

aprimorar a agricultura organo-biológica, e então surgiram entre 1920 e 1940: a

Agricultura Orgânica, Agricultura Biodinâmica, a Agricultura Biológica e Agricultura

Natural. (TRIVELLATO; FREITAS, 2003). A Agricultura Orgânica tem suas raízes na

agricultura tradicional de cultura milenar que reconhece o solo como organismo vivo

e baseia-se em práticas de reciclagem de matéria orgânica e nutrientes bem como

na rotação de culturas que mantém o controle de pragas. Suas características estão

descritas na Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, art. 1º:

Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente. § 1o A finalidade de um sistema de produção orgânico é: I – a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais; II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção; III – incrementar a atividade biológica do solo; IV – promover um uso saudável do solo, da água e do ar, e reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação desses elementos que possam resultar das práticas agrícolas; V – manter ou incrementar a fertilidade do solo em longo prazo; VI – a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-renováveis;

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VII – basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente; VIII – incentivar a integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e de consumo de produtos orgânicos e a regionalização da produção e comércio desses produtos; IX – manipular os produtos agrícolas com base no uso de métodos de elaboração cuidadosos, com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas.

É justamente por conta do recente reconhecimento dos malefícios

relacionados ao meio ambiente e à saúde do homem causados pela agricultura

convencional, que a agricultura orgânica vem ganhando força em todo o mundo. A

conscientização da importância dos valores ambientais e a preocupação com a

qualidade alimentar não aconteceram, contudo, de forma aleatória. Fatores como os

supracitados e incidentes graves alertaram a população, tais como a doença da

‘vaca louca’, a febre aftosa, a contaminação de alimentos por dioxina, a relação dos

agrotóxicos com outras doenças como o câncer, bem como as incertezas sobre os

transgênicos (GUAZZELLI; PEREZ, 2010).

Os consumidores conscientes, cada vez mais exigentes, demonstram sua

preocupação com a qualidade de vida por meio de uma alimentação saudável, e

suas oportunidades de escolha foram ampliadas pela maior disponibilidade de

produtos. As informações referentes à segurança do produto como a origem, a

tecnologia de produção utilizada e a certificação de que tal produto tenha sido

produzido sem riscos de contaminação, são de suma importância para os

consumidores que, cada vez mais, buscam contribuir com a preservação do meio

ambiente, tendo em vista que a qualidade de vida é refletida nesse processo.

O consumo de produtos orgânicos é motivado de acordo com o país, a

cultura e a análise de produtos feita pelo consumidor. Pesquisas feitas em países

como Alemanha, Inglaterra, Austrália, EUA, França, Dinamarca, Noruega, Polônia e

Costa Rica assinalam que a procura pelos produtos orgânicos é motivada em

primeiro lugar pelos benefícios relacionados à saúde; em segundo pela preocupação

em preservar o meio ambiente; e por último devido à qualidade dos alimentos

orgânicos, por serem mais saborosos e nutritivos (DAROLT, 2003). De certo modo,

na visão do consumidor de produtos orgânicos ainda é um pouco ausente a

consciência dos reais benefícios ambientais que traz esse sistema de produção. No

Brasil, o perfil do consumidor de produtos orgânicos é de instrução superior, com

idade entre 30 e 50 anos, predominantemente do sexo feminino e de classe média,

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sendo seus principais fatores de motivação: a saúde pessoal e da família, a

ausência de agrotóxicos, o alto valor biológico, a qualidade do sabor e aroma, e por

último, a preocupação com o meio ambiente (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

A mudança nos hábitos alimentares dos consumidores tem proporcionado

um crescimento anual de 30% na produção orgânica, de acordo com dados do

Instituto Biodinâmico (IBD) de 2010. Algumas redes de supermecado têm se

adaptado a esta tendência com a inclusão de produtos orgânicos como frutas,

legumes e hortaliças em suas prateleiras. Porém, o que leva o consumo desses

produtos ainda não ser tão difundido é o seu alto preço em relação aos produtos

agrícolas convencionais. Apesar de renderem mais economicamente, utilizando

menos energia, menos água e nenhum insumo químico, os produtos orgânicos

chegam ao consumidor geralmente custando um pouco mais caro.

De acordo com Rizzo (2010, Np) há uma explicação lógica para o alto preço

dos produtos orgânicos que é a própria ‘Lei da Oferta e da Procura’: “Quando há

uma oferta menor do que a demanda por algum produto o preço tende a subir e é

isso que vem ocorrendo com os produtos orgânicos.” A mudança nesse cenário

depende do próprio consumidor que, incentivando o consumo de produtos

orgânicos, aumenta a sua produção e consequentemente obterá seu barateamento.

Porém, somente a disposição do consumidor em pagar mais por um produto

orgânico não reduzirá os preços significativamente pois a produção orgânica, apesar

de garantir a produtividade do solo em longo prazo, geralmente é menor em escala e

demanda mais mão-de-obra. O Estado deve apoiar e assumir esse sistema como

oficial, fazendo com que a agricultura convencional passe a constituir-se num

sistema em vias de extinção.

Conforme uma pesquisa feita pelo Guia Exame 2008, 87% dos entrevistados

se preocupam com as questões ambientais relacionadas com os produtos que

compram, porém apenas 33% declaram que pagariam mais caro por produtos

socioambientalmente corretos. Quanto ao consumo de orgânicos, 45% dos

consumidores dá preferência para estes produtos e 5% ainda não conhece. A

escolha é altamente influenciada pelo preço, porém esse elemento apenas não

explica a opção do consumidor, o problema está na falta informação que faz com

que a preocupação pela degradação ambiental ainda não seja um fator decisivo na

hora da compra (LIMA, 2008).

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2.4.1 O uso indiscriminado de agrotóxicos, fertilizantes artificiais e os Organismos Geneticamente Modificados

A ‘revolução verde’ possibilitou a produção de alimentos em grande escala,

porém menos variada e que alimenta cada vez menos, pois o uso de insumos

químicos eleva o volume de produção agrícola, mas causa um efeito conhecido

como “efeito diluição”, que é a diluição de nutrientes, vitaminas e proteínas

presentes nos alimentos, que pode ser observado na Tabela 2:

Tabela 2 - Diferença nutricional entre produto orgânico e convencional

Produto Convencional (por 100g) Orgânico (por 100g) Diferença (%)

Maçã (vitamina C) 19,3mg 21,6mg 11,9 Tomate (vitamina C) 18,0mg 21,8mg 21,1

Tomate (vitamina A) 3,5mg 4,7mg 34,3

Cenoura (potássio) 217mg 269mg 24

Batata (frutose) 0,7mg 1,2mg 71,4

Batata (glicose) 1,2mg 2,0mg 66

Batata (ferro) 4,7mg 5,7mg 21,3

Batata (cálcio) 56,4mg 64,0mg 13,5

Batata (zinco) 1350µg 1810µg 34,1

Fonte: Associação Campden de Pesquisa em Alimentos e Bebidas, Grã-Bretanha (1990)

Verifica-se na Tabela 2 que no caso da vitamina A presente no tomate há

uma diferença nutricional de 34%, enquanto a batata perde praticamente 71,4% de

frutose com a utilização de insumos químicos. Além da diminuição dos valores

nutritivos, o uso de agrotóxicos tem ocasionado graves problemas ao meio ambiente

e à saúde humana. A mudança nos processos agrícolas a partir da revolução verde

tinha propósitos exclusivos e imediatistas que desconsideravam a dinâmica

ecológica dos agroecossistemas e as consequências de curto e longo prazo, como a

contaminação dos alimentos, a poluição dos rios, erosão do solo e a perda da

biodiversidade.

Ao implantar a agricultura derrubando matas nativas e reduzindo a

diversidade, o homem causa desequilíbrios ecológicos, pois reduz a complexidade e

a estabilidade da natureza. Ao cultivar plantas da mesma espécie em vasta área o

agricultor favorece a reprodução de herbívoros que se transformam em pragas na

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ausência de inimigos naturais, segundo Paschoal (1979). Com o uso de agrotóxicos,

a resistência das pragas aumenta em função de mutações genéticas e da destruição

de organismos úteis. Portanto, pode-se dizer que é ineficaz no controle, prejudica a

produção e gera um círculo vicioso conhecido como o fenômeno da ressurgência,

explanado por Ferrari (1985, p. 23): “quanto mais se usa, maiores são os

desequilíbrios provocados e maior a necessidade de usos recorrentes, em doses

mais intensas de formulações cada vez mais tóxicas.”.

As consequências do consumo de alimentos produzidos com agrotóxicos na

saúde humana foram evidenciadas depois de décadas com a confirmação da

nocividade de várias substâncias. Os agrotóxicos podem gerar várias enfermidades

que vão de alergias alimentares e diminuição ou anulação dos efeitos dos

antibióticos no organismo a efeitos mais graves, como problemas neurológicos,

malformações de nascimento, infertilidade e câncer.

No que diz respeito aos efeitos do uso de fertilizantes artificiais, deve-se

atentar ao que alertam Reijntjes, Haverkort e Waters-Bayer (1999, p. 18), “Podem

perturbar a vida do solo e seu equilíbrio. Aumentam a taxa de decomposição de

matéria orgânica, levando à degradação da estrutura do solo, à maior

vulnerabilidade à seca e a uma menor eficácia produtiva.”. Os fertilizantes artificiais

satisfazem as necessidades de nutrientes das plantas em curto prazo, porém

comprometem a fertilidade do solo em médio e longo prazo.

Os efeitos sociais também são significativos: a agricultura moderna destruiu

milhares de pequenas propriedades de agricultura familiar e favoreceu a

concentração do comércio agroalimentar em poucas corporações transnacionais que

monopolizam desde as sementes e os agrotóxicos até a distribuição e

processamentos dos alimentos. O Estado beneficiou as empresas de agrotóxicos

com incentivos, além de dispensar de qualquer controle o comércio e uso desses

produtos.

As gigantes dos agrotóxicos de hoje possuem um poder sem precedentes e

têm constituído alianças que as tornam ainda mais fortes. De acordo com Guazzelli

e Perez (2010, p. 16), “As 10 maiores companhias controlam 89% do mercado global

de agrotóxicos, que teve um valor total de 38,6 bilhões de dólares em 2007. As seis

maiores empresas somaram 75% de todo o mercado de agrotóxicos.”, conforme

destaca a Tabela 3:

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Tabela 3 - As 10 maiores empresas de agrotóxicos no mundo em 2007

Companhia Vendas de agrotóxicos (milhões de dólares) % de participação no mercado

1. Bayer (Alemanha) 7458 19%

2. Syngenta (Suiça) 7285 19%

3. BASF (Alemanha) 4297 11%

4. Dow AgroSciences (EUA) 3779 10%

5. Monsanto (EUA) 3599 9%

6. DuPont (EUA) 2369 6%

7. Makhteshim Agan (Israel) 1895 5%

8. Nufarm (Austrália) 1470 4%

9. Sumitomo Chemical (Japão) 1209 3%

10. Arysta Lifescience (Japão) 1035 3%

Total 34396 89%

Fonte: Agrow World Crop Protection News (2008)

As seis maiores fabricantes de agrotóxicos destacadas na Tabela 3, também

detêm a indústria de sementes, cujo líder mundial é a Monsanto, uma das empresas

mais controversas e polêmicas que vêm acumulando processos em razão da

toxicidade de seus produtos, da sua negligência com relação aos impactos

ambientais e humanos, corrupção, manipulações, fraudes, entre outros pontos. A

Monsanto tem apenas como objetivo obter lucro. A partir de alguns documentos

secretos descobertos, destaca-se a avidez por resultados e sua ética negocial: a

empresa orientava seus vendedores a ter cautela ao responder questionamentos de

clientes sobre a periculosidade dos Polychlorinated Biphenyl (PCBs), alegando que

qualquer informação poderia prejudicar os negócios. (ROBIN, 2008).

Em 1973, houve a introdução dos transgênicos, ou melhor, Organismos

Geneticamente Modificados (OGMs), uma inovação agrícola em que muitos

acreditavam ou defendiam ser a alternativa adequada para a solução para alguns

dos problemas causados pelos agrotóxicos, por serem mais resistentes às pragas,

reduzir o uso de agroquímicos e os custos de plantio ao agricultor, trazer melhoria na

qualidade das sementes, entre outros possíveis benefícios. Ocorre que a direção e

os objetivos dos transgênicos são controlados pelas mesmas grandes empresas de

agroquímicos por meio da biotecnologia (vide Tabela 4), e têm como estratégia

integrar os elos das cadeias produtivas de alimentos, aumentando ainda mais o

controle do mercado.

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Tabela 4 - Sementes Transgênicas: as empresas dominantes no mundo em 2000

Empresa Área plantada

Monsanto 80%

Aventis (AgrEvo/R.Poulenc) 7%

Bayer 7%

Syngenta (Novartis/AstraZeneca) 5%

BASF (com Cyanamid) 5%

DuPont (com Pioneer) 3%

Fonte: RAFI Genotypes, 12 dezembro 2000, D. Hathaway

Os benefícios dos OGMs são questionáveis. Em contraposição à ideia de

que os OGMs causam menos impactos ambientais, aumentam a produtividade e

reduzem os custos do agricultor, Guerrante (2003, p. 42) afirma: “existem alguns

estudos que levantam a hipótese de que determinadas culturas geneticamente

modificadas, quando plantadas sob condições edafoclimáticas específicas,

necessitariam de maior quantidade de agroquímicos na sua proteção.”. Caso tais

condições não sejam garantidas, o risco de perdas de safra e os impactos

ambientais podem ser mais elevados do que no caso de seus similares.

Outros riscos significativos do cultivo de OGMs ao meio ambiente são a

perda da diversidade biológica e a geração de ‘superpragas’, pois a modificação

genética tende a preservar sua estrutura rica e restringe a base genética de uma

espécie, e a monocultura em grande escala cria um ambiente uniforme e previsível

que são condições ideais para surtos de pragas ou doenças. A transferência

horizontal de genes, que é a transferência de material genético entre espécies e

genomas que não se relacionam naturalmente, pode causar riscos ao ser humano,

pois permite transformar uma bactéria em patogênica, aumentar a sua resistência a

antibióticos e provocar doenças graves como o câncer em casos de inserção de

material genético estranho no genoma de células. (GUERRANTE, 2003).

Tanto os agrotóxicos quanto os OGMs foram difundidos por políticas

públicas a partir de premissas de que a agricultura, caso não utilizasse dessas

tecnologias, não poderia ser economicamente viável e não acompanharia o aumento

da população, podendo acarretar uma catástrofe, como a fome mundial. Na

realidade, a fome no mundo não é consequência da escassez de alimentos e sim do

sistema agroindustrial controlado pelo poder corporativo. Segundo Mooney (2002,

apud MOTA 2009, p. 40) “é mais viável que a solução para a fome no mundo ocorra

com o fortalecimento dos agricultores como cultivadores das plantas em sistemas

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ecologicamente seguros, que em um sistema artificial e dependente de empresas

transnacionais”. A produção excedente de grãos, por exemplo, não é repassada

para os que têm fome, mas para a criação de animais, que também sustenta

grandes empresas e provoca tantos riscos quanto à agricultura convencional.

Estudos realizados demonstram que a produção orgânica de alimentos pode

contribuir substancialmente para alimentar tanto a população atual quanto a

população futura, pois seus métodos mantêm a fertilidade do solo e a gestão de

pragas. Também sugerem que a intensificação da agricultura orgânica poderia não

só produzir muito mais alimentos no mundo como também poderia aumentar a

segurança alimentar em países em desenvolvimento. A produção é maior em

pequenas propriedades tanto em países desenvolvidos quanto em países em

desenvolvimento, portanto, um aumento no número de pequenas propriedades

poderia também aumentar a produção de alimentos. Além disso, muitos agricultores

orgânicos fazem o uso de policulturas e multiplicam sistemas de cultivos, onde a

produção e o controle de pragas são significativamente maiores do que em

monoculturas. (BADGLEY et al., 2007, tradução livre).

Muitos ainda defendem o pensamento arcaico de que o uso de insumos

químicos é inevitável e imprescindível, e que a agricultura orgânica implicaria numa

diminuição brutal da produção que provocaria a fome. Trata-se de uma afirmação

muito conveniente para as empresas que dominam o seguimento. A agricultura

orgânica vem ganhando força e demanda em todo mundo, e pode substituir o

padrão agrícola atual com a união de pequenos produtos e a colaboração do Estado

na infraestrutura de apoio e incentivos à atividade agrícola orgânica.

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3 A AGRICULTURA ORGÂNICA NO MERCADO INTERNACIONAL

Mesmo após a revolução verde, a agricultura sem o uso de insumos

químicos ainda era realizada em diversos países por pequenos agricultores que não

tinham o conhecimento das tecnologias baseadas no uso intensivo desses insumos

ou não tinham condições econômicas pra adotar tais técnicas. A partir da década de

70, com os impactos ambientais e a contaminação dos alimentos em evidência, a

agricultura orgânica se caracterizou na Europa como um movimento que partiu do

consumidor. Paralelo aos movimentos, ampliou-se o mercado de produtos orgânicos

e foram sistematizados os princípios técnicos da produção orgânica.

Na década de 70 a agricultura orgânica foi institucionalizada ao mundo pela

International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) a qual publicou

normas que serviram de referência para a comercialização de produtos orgânicos no

mundo até a década de 90 e para o estabelecimento de outras normas e

regulamentos técnicos locais em diversos países. O primeiro país a se regulamentar

foi a França e atualmente mais de 80 países possuem alguma regulamentação

implantada ou em discussão (FONSECA et al; 2009).

O comércio internacional de produtos da agricultura orgânica é ainda

dificultado pela pouca flexibilização das normas internacionais por conta de

regulamentos técnicos nacionais. A União Européia é uma grande importadora

destes produtos e possui uma regulamentação que fornece padrões de produção e

medidas de inspeção que devem ser implementados para assegurar a integridade

do produto. Segundo Ormond et al. (2002, p. 11) “Para que um produto seja

comercializado como orgânico na União Européia é necessário que ele seja

certificado em algum país membro, o que permite a sua comercialização nos demais

países da Comunidade.”.

Por conta disso há uma grande preocupação por parte dos governos em

estabelecer a harmonização e a equivalência das normas da agricultura orgânica

buscando acordos de reconhecimento mútuo e respeitando as diversidades dos

diferentes países. Em 2003, foi estabelecida na Feira Internacional de Negócios de

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Produtos Orgânicos (Biofach)1 em Nuremberg, Alemanha, a Força Tarefa

Internacional que une forças da Food and Agriculture Organization (FAO), IFOAM e

United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD). De acordo com

Neves (2003) foram estabelecidas nesta Conferência medidas como rever padrões,

regulamentações e sistemas de conformidade, formular propostas para

consideração dos governos, dos órgãos e das organizações relacionadas e

aconselhar os órgãos decisórios. Os objetivos são: determinar os impactos no

mercado internacional dos produtos orgânicos, a harmonização e equivalência

internacional dos padrões, regulamentações e sistemas de determinação de

conformidade; criar mecanismos para facilitar o acesso ao mercado destes produtos,

principalmente dos países em desenvolvimento; e obter reconhecimento mútuo entre

sistemas público e privado.

Embora ainda incipiente no mercado de alimentos e com os grandes

desafios impostos, a agricultura orgânica é uma grande proposta para o futuro pois

suas práticas estão relacionadas com um funcionamento sustentável. Desde a

década de 90 a agricultura orgânica é a atividade agrícola que mais cresce no

mundo.

3.1 O cenário mundial de produtos orgânicos2

A Oceania é a região com a maior área sob manejo orgânico certificada do

mundo com cerca de 12 milhões de hectares. A Europa e a América Latina ocupam

o segundo e o terceiro lugar com cerca de 8 e 6,5 milhões de hectares. Entretanto, a

Europa é a região onde a produção orgânica tem maior atenção, pois em

Liechtenstein, Áustria e Suíça encontra-se a maior porção de área de produção

1 Vinculada à NürnbergMesse, a Biofach é a maior feira de produtos orgânicos do mundo e ocorre anualmente. Na Conferência Biofach apresentam-se temas sobre futuros acontecimentos, tendências e perspectivas do setor orgânico além da apresentação de produtos. 2 Dados divulgados pelo FiBL e IFOAM através do documento The World of Organic Agriculture: statistics and emerging trends 2009. Os dados referem-se apenas à produção orgânica certificada e em processo de conversão. O documento possui fontes de todo o mundo, sendo que os conceitos e as pesquisas são diferentes em cada país. Fonte: WILLER, Helga; KILCHER, Lukas (Eds.) The World of organic agriculture: statistics and emerging trends 2009. Bonn: IFOAM; Frick: FiBL, 2009.

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orgânica com relação à produção convencional conforme Gráfico 1. Nesses países a

porcentagem de área de produção orgânica é maior do que 10%, e em toda a União

Européia a porcentagem é de 4%. Já nas demais regiões do mundo, com excessão

da Oceania, a produção orgânica não chega a 1% de toda a área agrícola. Essa

proporção demonstra que o mercado de orgânicos é fortalecido na Europa.

Gráfico 1 – Países com maior porcentagem de agricultura orgânica em relação a convencional em

2007 Fonte: (WILLER; KILCHER, 2009, p. 30).

Países em desenvolvimento têm destaque na produção de orgânicos e

detêm aproximadamente um terço da área mundial. Argentina, Brasil, China, Índia e

Uruguai, nessa ordem de importância, são os países em desenvolvimento com a

maior extensão de área sob manejo orgânico. O Brasil, inclusive, é um dos três

países que possuem maior área de colheita de outros tipos de frutas como berries 3,

nozes e castanhas, plantas medicinais e aromáticas, apicultura entre outros, que não

foram considerados nas informações contidas neste capítulo. Contudo, em relação à

proporção, os países em desenvolvimento com maior área de produção orgânica

são Samoa, Timor Leste, Uruguai, Vanuatu e São Tomé e Príncipe. Esse cenário

pode ser atribuído às exportações e aos suportes à produção orgânica nesses

países. As estatísticas também mostram que a proporção de pastagens e culturas

permanentes sob manejo orgânico é relativamente alta em comparação com Europa

3 O termo berry é comumente usado para descrever algumas frutas como morango, uva, framboesa, amora preta, entre outras (National Berry Crops Initiative – NBCI, 2006).

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e América do Norte, em decorrência das exportações de carne (principalmente da

América Latina) e de culturas permanentes. Entretanto, fora os relacionados, poucos

países em desenvolvimento possuem mais do que um por cento de área orgânica

em relação a toda a área agrícola. Portanto, os países desenvolvidos detêm a maior

área de agricultura orgânica.

De toda a área mundial sob manejo orgânico, cerca de oito milhões são

áreas cultivadas (terras aráveis e culturas permanentes). Dessas áreas, algumas

culturas são relativamente mais cultivadas como o café e as azeitonas por exemplo,

em que mais de 5% da produção é orgânica. Em alguns países, a proporção é ainda

maior, como é o caso do México, em que 30% da área de produção de café é de

manejo orgânico. Dentre os oito milhões de área agrícola orgânica, a maior parte

dela localiza-se na Europa. Quanto às pastagens, são cerca de vinte milhões de

hectares sob manejo orgânico, dos quais, mais da metade encontra-se na Austrália.

As áreas de extrativismo de produtos eminentemente florestais e de apicultura sob

manejo orgânico correspondem a cerca de 31 milhões de hectares que não estão

inclusos nos dados reportados neste capítulo. Os países com a maior dessas áreas

são Finlândia com 7,4 milhões de hectares, Brasil com 6,18 milhões de hectares e

Zambia com 5,37 milhões de hectares. (WILLER; KILCHER, 2009).

Gráfico 2 – Receitas em bilhões de dólares entre 1999 e 2007 do mercado global de orgânicos

Fonte: (WILLER; KILCHER,, 2009, p. 59).

O mercado mundial de orgânicos cresce significativamente a cada ano.

Como pode ser observado no Gráfico 2, as vendas triplicaram entre 1999 e 2007,

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crescendo em média 5 bilhões por ano. A demanda de consumo concentra-se na

América do Norte e Europa, que são responsáveis por 97% das receitas globais.

Ásia, América Latina e Austrália são importantes produtores e exportadores de

alimentos orgânicos. A produção nessas regiões favorece o fornecimento de

alimentos orgânicos de quase todos os setores da indústria alimentícia como frutas,

verduras, legumes, bebidas, cereais, grãos, sementes, ervas e especiarias.

(WILLER; KILCHER, 2009).

Apesar das vendas alcançarem um saldo maior em 2007, a indústria de

alimentos orgânicos ainda enfrentava escassez de oferta. Muitos agricultores não

converteram a agricultura em decorrência da inflação no setor alimentício. Os

produtos agrícolas atingiram recordes de preços devido ao aumento nos custos de

combustíveis e à competição por terras para produção de biocombustíveis.

3.1.1 África

A África detém aproximadamente 3% da área mundial sob manejo orgânico

certificado. São 900 mil hectares e 530 mil produtores registrados. Uganda com 296

mil hectares, Tunísia com 154 mil hectares e Etiópia com 140 mil hectares são os

países com maior área destinada à produção orgânica e são os únicos que possuem

regulamentação. Com relação à agricultura convencional, os países que detêm a

maior área sob manejo orgânico são São Tomé e Príncipe com mais de 5% de toda

a área agrícola, Uganda com mais de 2% e Tunísia com quase 2%. As principais

culturas são café e azeitonas e a maioria dos produtos é destinada à exportação

sendo o principal comprador a Europa. (WILLER; KILCHER, 2009).

O mercado de orgânicos na África ainda é bastante pequeno, porém passa a

contar com iniciativas como conferências que iniciaram em 2009 para apoiar e criar

oportunidades de crescimento para o setor. Além dos três países citados que

possuem regulamentação, mais sete países estão em processo de elaboração de

regulamento.

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3.1.2 América do Norte

A América do Norte possui menos de 1% da área mundial sob manejo

orgânico com 2,2 milhões de hectares e 7% de toda a área agrícola orgânica

mundial. Existem mais de 12 mil produtores registrados e quase toda a área

encontra-se nos Estados Unidos com 1,6 milhões de hectares registrados em 2005.

Maior parte das terras cultiváveis sob manejo orgânico são utilizadas para a

produção de cereais. (WILLER; KILCHER, 2009).

Mesmo sendo o país do fast food, há uma forte demanda nos Estados

Unidos por produtos mais saudáveis e nutritivos, e o aumento na disponibilidade de

alimentos orgânicos em mercearias e supermercados tem impulsionado o

crescimento do consumo de orgânicos. Além da maior disponibilidade, a diferença

de preço entre os produtos orgânicos e os produtos convencionais é cada vez menor

devido à dependência da produção convencional em combustíveis fósseis e

subsídios do governo, entre outros fatores. Registrou-se em 2007 mais de 20 bilhões

de dólares nas vendas de orgânicos que representaram 45% de toda a receita

mundial e há muitos investimentos no setor principalmente com suporte técnico e

certificação para incentivar agricultores a converterem para a produção orgânica.

(WILLER; KILCHER, 2009).

O Canadá possui boas perspectivas para aumento desse mercado que até

2009 seguia sem o suporte de uma regulamentação. Além de um importante

consumidor, tem apresentado um crescimento também na produção de alimentos

orgânicos, mas que ainda não segue o mesmo ritmo da demanda. A região da

América do Norte é o lar de algumas das maiores indústrias de alimentos orgânicos

do mundo.

3.1.3 América Latina

De acordo com dados registrados em 2007, a América Latina detém 20% da

área mundial sob manejo orgânico sendo 6,4 milhões de hectares e 220 mil

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produtores certificados. Quase toda a área concentra-se na Argentina, no Brasil e

no Uruguai. A maior área de agricultura orgânica com relação à convencional

encontra-se na República Dominicana e no Uruguai com mais de 6%, no México e

na Argentina com mais de 2%. A maioria da produção orgânica é destinada à

exportação e as vendas em mercados locais ocorrem principalmente em grandes

cidades como Buenos Aires e São Paulo. Frutas tropicais, grãos e cereais, café,

cacau e açúcar são cultivos de destaque na produção orgânica latino-americana.

Muitos produtos são vendidos no mercado europeu, especialmente os que não são

produzidos lá ou que estão fora da safra. (WILLER; KILCHER, 2009).

Nos últimos anos, as importações de produtos que estão de acordo com o

conceito de comércio justo aumentaram, e muitos produtos latino-americanos são

vendidos com rótulo de orgânicos e de Comércio Justo4. Quanto aos mercados

locais latino-americanos, muitos produtos orgânicos como legumes, verduras e

frutas, leite e laticínios, mel, café, grãos e cereais são vendidos em supermercados.

Existem também as lojas especializadas, que vendem alimentos saudáveis e

produtos orgânicos de agricultores locais, e as feiras informais onde não há

intermediários, para as quais geralmente os governos cedem espaços públicos

semanalmente, dão suporte e publicidade aos produtores. Embora o impacto dessas

feiras locais possa ser economicamente insignificante, elas são o sustento de muitos

pequenos agricultores e representam um percentual importante do mercado de

orgânicos.

Quinze países da América Latina possuem legislação sobre agricultura

orgânica e outros quatro estão desenvolvendo. Em decorrência da crescente

importância do setor orgânico para a economia agrícola latino americana, os

governos passaram a desempenhar um papel importante no desenvolvimento desse

setor. Os países passaram a tomar medidas para desenvolver programas que

promovam a agricultura orgânica e dar suporte de acesso ao mercado pelas

agências de exportação. Em alguns países existe um apoio financeiro para custos

com certificação durante o período de conversão.

4 Comércio Justo (CJ) é um movimento social e econômico que pretende construir uma alternativa ao comércio convencional. Ao contrário deste, que tem em conta apenas critérios econômicos, o CJ rege-se também por valores éticos que incluem aspectos sociais e ambientais, buscando o desenvolvimento sustentável das comunidades locais e do mundo como um todo (CIDAC, 2003).

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Com exceção de Argentina e Costa Rica, os produtores orgânicos latino-

americanos precisam ter certificação por algum órgão de certificação credenciado

para entrar no mercado europeu. Entretanto, muitas companhias americanas e

europeias certificam produtos exportados produzidos na América Latina, pois

geralmente os compradores exigem a certificação. Organizações certificadoras como

The Organic Crop Improvement Association (OCIA), e Farm Verified Organic (FVO)

dos Estados Unidos e Naturland, BCS Oeko-Garantie e Institute fur Marktoekologie

(IMO) da Europa são as principais na região. Outros são Ecocert, Control Union e

Ceres. Alguns órgãos certificadores nacionais são muito bem reconhecidos como

Argencert e Organización Internacional Agropecuaria (OIA) na Argentina, IBD no

Brasil, Bolicert na Bolívia e Biolatina no Peru e em outros países.

3.1.4 Ásia

Aproximadamente 3 milhões de hectares de área orgânica estão localizadas

na Ásia, o que representa 9% da área mundial. Mais de 230 mil produtores foram

registrados e os países com destaque são China com 1,6 milhões de hectares e

Índia com 1 milhão de hectares. São produzidos principalmente cereais como o

arroz, e algodão, do qual Índia e Síria são líderes na produção orgânica. (WILLER;

KILCHER, 2009).

O continente asiático é um dos maiores mercados do mundo e cenário de

variados setores. Os orgânicos hoje são um conceito bem aceito e uma tendência

política e de mercado. Os alimentos orgânicos processados vêm sendo produzidos

na Ásia e ganhando espaço, embora a maioria da produção seja de alimentos

frescos e de cultivos com processamento de baixo valor-agregado, tais como

ingredientes crus secos ou processados.

Embora a Ásia não possua uma vasta área de agricultura orgânica, a

produção de alimentos cresce gradativamente, pois é orientada basicamente à

exportação. Países como Índia, China, Tailândia e Malásia são importantes

exportadores de frutas, cereais, grãos, feijão, ervas e especiarias e adotam padrões

da Europa, Estados Unidos e/ou Japão. A demanda local concentra-se nos países

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mais ricos como Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, mas ainda

é moderada em parte por causa dos altos preços dos produtos orgânicos. Embora

grande parte do setor seja impulsionado pelas exportações, também há um grande

número de importações. Nos mercados locais, os preços dos orgânicos variam de 10

a 200 por cento sobre os preços dos alimentos convencionais, dependendo da

localização, da qualidade e do tipo de produto.

As normas e certificações de orgânicos são normalmente criadas em

resposta às exigências dos principais mercados importadores que são os EUA e a

Europa, sem considerar as condições de produção e processamento locais e o

desenvolvimento do setor. Existem instituições certificadoras que aprovam e

registram produtos orgânicos para o mercado local, para as importações e

exportações, em países como China, Japão, Coréia, Israel, Filipinas e Taiwan. Na

Índia há regulamentação aplicável apenas às exportações até o momento e, assim

como Israel, tem acordo de reconhecimento estabelecido com os EUA e com o

United States Department of Agriculture (USDA). O grande desafio do setor é o

consenso entre o setor privado, sociedade civil e parcerias do setor público, devido

ao conflito de interesses: de um lado existe uma corrente a favor da sustentabilidade

e melhoria da renda rural e de outro uma corrente composta por grandes empresas

entrando no mercado.

3.1.5 Europa

Até o final de 2007 registrava-se que 24% da área orgânica mundial

encontrava-se na Europa. São quase 8 milhões de hectares gerenciados por mais

de 200 mil produtores, sendo mais de 180 mil na União Européia com 7,2 milhões de

hectares. Os países com a maior área de produção orgânica são Itália (1.150.253

hectares), Espanha (988.323 hectares) e Alemanha (865.336 hectares). De toda a

área agrícola da União Européia 4% são de manejo orgânico. Os países que detém

o maior percentual de área de produção orgânica com relação à convencional são

Liechtenstein com 29%, Áustria com 13% e Suíça com 11%. Em 2007, o mercado

europeu de produtos orgânicos alcançou aproximadamente 16 bilhões de euros em

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vendas, sendo o maior volume de negócios na Alemanha com mais de 5 bilhões de

euros, no Reino Unido com quase 3 bilhões de euros, na França e Itália com quase

2 bilhões de euros. As terras aráveis sob manejo orgânico são utilizadas

principalmente para a produção de cereais, e de cultivo permanente, as principais

culturas são azeitonas, nozes, frutas em geral e uva. (WILLER; KILCHER, 2009).

A União Européia desenvolve um papel importante em apoio à agricultura

orgânica por meio de programas de desenvolvimento rural, proteção jurídica e

diversos planos de ação. Há uma grande preocupação em promover a agricultura

biológica e conscientizar as pessoas sobre os problemas globais que envolvem as

mudanças climáticas e a segurança alimentar. Os Estados-membros têm lançado

planos de ação a fim de impulsionar a pesquisa sobre agricultura orgânica.

Pesquisas tecnológicas unem esforços da indústria e da sociedade civil e revelam o

potencial da produção orgânica em face aos problemas globais e os desafios

socioeconômicos nas áreas rurais. Os países que não fazem parte da União

Européia possuem políticas similares.

A Europa possui o maior mercado de orgânicos do mundo e representa 54%

da demanda mundial. Em alguns países os produtos orgânicos chegam a mais de

5% das vendas de produtos alimentícios. Os maiores consumidores são Alemanha,

Reino Unido, França e Itália pois são grandes mercados consumidores. No Reino

Unido, os orgânicos são uma grande tendência no mercado varejista e chegam a

representar 80% do total de vendas. Suécia e Dinamarca embora não sejam

grandes mercados consumidores têm registrado um aumento no consumo de

orgânicos.

3.1.6 Oceania

A Oceania detém 38% da área orgânica mundial. São mais de 12 milhões de

hectares certificados administrados por mais de 7 mil produtores. Embora concentre

a maior extensão de área sob manejo orgânico, o mercado é muito pequeno. Quase

toda a extensão de área concentra-se na Austrália onde 97% corresponde a

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pastagens utilizadas para criação extensiva de animais. Além da carne, produtos

como lã, kiwi, vinho, maçãs, peras, verduras e legumes são mais exportados.

Há uma demanda de importação que impulsiona o aumento da indústria

orgânica na Austrália, Nova Zelândia e Ilhas Pacifícas, porém ainda há uma

deficiência na produção da Nova Zelândia em abastecer o mercado. O apoio dos

governos também é recente, planos para o desenvolvimento da agricultura

sustentável ainda estão em andamento. (WILLER; KILCHER, 2009).

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4 A AGRICULTURA ORGÂNICA NO CONTEXTO BRASILEIRO

O movimento orgânico passou a ser visibilizado no Brasil entre a década de

70 e 80 com algumas iniciativas de produção e comercialização contrárias ao

modelo proposto pela revolução verde e com a organização de encontros de

Agricultura Alternativa que ocorreram em 1981, 1987 e 1989 coordenados pela

Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil (FEAB) e

Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEEAB). Porém, somente na

década de 90 o mercado de produtos orgânicos consolidou-se obtendo melhor

estrutura de comercialização e investimentos. (JESUS, 1996).

De acordo com informações divulgadas pelo USDA em 1999, foi publicado

em 1984 pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

um relatório do USDA com recomendações que forneciam bases para projetos em

Agricultura Orgânica nos estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul,

considerados como os estados mais ambientalmente corretos no momento. São

Paulo e Paraná lideravam a produção orgânica no país. Em 1990, foi criado o IBD

que iniciou uma expansão em termos comerciais. O Gráfico 3 demonstra o

crescimento em milhões de dólares ocorrido de 1994 a 2001:

Gráfico 3 – Vendas totais de produtos orgânicos no Brasil

Fonte: (COELHO, 2001, p. 22).

Observa-se no Gráfico 3 que em 1994 a comercialização de produtos

orgânicos no Brasil ainda não atingia 20 milhões de dólares em vendas e, no

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período seguinte, aumentou significativamente chegando próximo a 250 milhões de

dólares em 2000, um crescimento superior a 10 vezes.

Há cinco fatores que contribuem para o aumento da produção orgânica no Brasil: (1) O custo elevado dos insumos químicos. Uma grande parte deles é importada, em torno de 50%; (2) O reduzido custo de produção para alguns produtos orgânicos; (3) Um preço atrativo para produtores devido ao “prêmio” [preço extra] pago para estes produtos; (4) Crescente demanda de consumo por produtos saudáveis; (5) O aumento da consciência ambiental no Brasil. (USDA, 1999, p. 2, tradução livre).

Os dados estatísticos referentes ao mercado de produtos orgânicos no Brasil

ainda são relativamente escassos e é difícil discuti-los com segurança, pois nenhum

órgão federal tem um controle sistemático, somente alguns estados como o Paraná

têm iniciado esse controle, realizando levantamentos anualmente. De acordo com

dados do IBD divulgados em 2010, o Brasil é o país com o maior consumo de

alimentos orgânicos da América Latina, e em relação ao mercado nacional de

alimentos o consumo é de 1,7%, devido à maioria dos consumidores ainda

desconhecerem estes produtos. Por outro lado, o Brasil está se consolidando como

um grande produtor e exportador de produtos orgânicos com mais de 7 mil

produtores certificados ou em processo de conversão, e cerca de 13 mil que

produzem orgânicos sem certificação, totalizando 20 mil produtores em 270 mil

hectares, dos quais mais de 150 mil para o cultivo da agricultura. Desses produtores,

cerca de 90% corresponde a pequenos e médios que atuam basicamente no

mercado interno e os demais 10% são compostos por grandes produtores que têm

sua produção voltada principalmente para a exportação. Aproximadamente 70% da

produção é exportada e entre os principais produtos estão as commodities açúcar,

soja e café. Os 30% equivalentes às vendas no mercado interno são basicamente

frutas, verduras e legumes5.

Os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo,

Espírito Santo e Santa Catarina foram pioneiros na produção orgânica e ainda

detêm cerca de 90% da produção. Os principais pontos de comercialização são as

grandes redes de supermercados; em alguns casos o próprio produtor que distribui

seus produtos sem a presença de intermediários, e as feiras livres que se 5 Dados divulgados pelo BNDS, IBD e IBGE disponíveis em <http://www.aao.org.br/noticias.asp?u_action=display&u_log=6> e <http://www.ibd.com.br/News_Detalhe.aspx?idnews=242>.

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concentram principalmente nas regiões sul e sudeste e estimulam o

desenvolvimento dos mercados locais6.

4.1 Relevância da agricultura orgânica para a economia brasileira

Apesar de tecnicamente gerar maior escala produtiva do que a agricultura

orgânica, a agricultura convencional tem demontrado sua insustentabilidade por

provocar grandes perdas de solo e água, ser altamente tóxica para a saúde humana

e por deteriorar as condições que possibilitam a produção que alimenta a crescente

população mundial, pois seus métodos ignoram a dinâmica ecológica dos

agroecossistemas. Por otimizar o uso dos recursos produtivos, conservar a

biodiversidade, recuperar a fertilidade do solo e o controle biológico natural de

pragas e plantas invasoras, a agricultura orgânica possui grande relevância do ponto

de vista ambiental e pode ser considerada como meio de conversão.

A agricultura orgânica também possui um papel importante para o país em

termos socioeconômicos, pois representa uma grande oportunidade para os

pequenos produtores que valorizam as práticas tradicionais de cultivo e a rotação de

culturas. A agricultura orgânica é mais viável em pequenas áreas pois uma de suas

características é a policultura. Caso haja necessidade de aumento na quantidade de

produtos disponibilizados no mercado, uma associação dos agricultores entre si

garante maior capacidade de abastecimento.

Além da valorização da agricultura de propriedade familiar, o sistema de

produção orgânica contribui para a qualidade de vida, a saúde e a segurança do

produtor ao eliminar a exposição dos trabalhadores rurais aos riscos de

envenenamentos e intoxicações que podem levar a graves doenças e até a morte.

Além disso, por exigir mais mão-de-obra, a agricultura orgânica tende a gerar mais

empregos e fonte de renda, uma vez que exclui o uso de insumos químicos e

máquinas. Opta–se por um manejo manual do cultivo que exige maior dedicação.

6 Dados divulgados pelo BNDS, IBD e IBGE disponíveis em <http://www.aao.org.br/noticias.asp?u_action=display&u_log=6> e <http://www.ibd.com.br/News_Detalhe.aspx?idnews=242>.

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Segundo Mello (2003 apud VEIGA et al., 2004, p. 6) “Conservando o solo fértil, a

agricultura orgânica prende o homem à comunidade rural à qual pertence.

Garantindo sua sobrevivência e a de sua família, desestimula o êxodo rural e

fortalece o vínculo do homem a terra.”.

Devido ao mercado em expansão e à crescente demanda de países

desenvolvidos por produtos orgânicos, grandes oportunidades se afirmam para a

economia do país. Conforme acentua Coelho (2001, p. 10) “[...] na área

internacional, o mercado de produtos orgânicos é um novo nicho de mercado, em

grande expansão, onde o País tem as condições ideais para tirar proveito em vários

segmentos como [...] frutas, legumes, alguns grãos e bebidas [...]”. O Brasil possui

ótimas condições para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável com

grandes possibilidades de conversão de sistemas convencionais para o sistema

orgânico, principalmente nas áreas ainda não exploradas agregando valor às

commodities agrícolas exportadas.

Com um clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta, o Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados. Esses fatores fazem do país um lugar de vocação natural para a agropecuária e todos os negócios relacionados às suas cadeias produtivas. O agronegócio é hoje a principal locomotiva da economia brasileira e responde por um em cada três reais gerados no país. (MAPA, 2005, Np).

Grande parte da economia brasileira depende do agronegócio brasileiro por

ser uma atividade altamente rentável, ter significativa participação no Produto Interno

Bruto (PIB) e nas exportações, geração de empregos e apresentar um crescimento

expressivo com relação a outros países.

4.1.1 Viabilidade de produção e entraves

Devido os sistemas orgânicos de produção apresentarem relativamente

menor produtividade e terem custos mais elevados com mão-de-obra, em alguns

casos podem gerar menor rentabilidade econômica que os sistemas convencionais,

em outros, os custos podem ser compensados pela não utilização de insumos

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químicos, diversidade e preço final valorizado ou até serem mais rentáveis para o

agricultor. Porém, apesar de muitos produtores alegarem que a produtividade da

agricultura orgânica é menor do que em outros sistemas agrícolas, essa afirmação

ainda é inconclusiva conforme relatório da Universidade de Cornell. Após um estudo

de 22 anos que comparava a agricultura orgânica com a agricultura convencional

nos EUA, os pesquisadores concluiram que a agricultura orgânica tem efetivamente

a mesma produtividade de milho e soja que a agricultura convencional, com a

vantagem de utilizar 30% menos energia, menos água e nenhum pesticida, além de

trazer diversos outros benefícios como manter a qualidade do solo (LANG, 2005).

Uma característica importante da produção orgânica é a sazonalidade. Na

agricultura convencional, tem-se a possibilidade de produção dos mesmos alimentos

durante todo o ano, o que não é possível na agricultura orgânica, pois este modo de

produção respeita a sazonalidade da lavoura, ou seja, se baseia nos ciclos naturais

considerando as estações e a época de plantio de cada espécie. Com uma

diversificação produtiva e o desenvolvimento de várias linhas de produção, tem-se a

garantia de lucratividade durante o ano todo.

A associação e/ou cooperativa é importante para o fortalecimento de

pequenos produtores, pois conforme apresentado no 7º Encontro Mineiro Sobre

Produção Orgânica (2004, p. 28) “[...] tem por finalidade tornar coletiva [sic] as

necessidades e os benefícios, o que faz que o grupo de produtores tenha força,

meios e credibilidade para propor a resolução de suas demandas.” Essa

organização facilita as ações de marketing, a obtenção de selos de certificação, uma

melhor gestão da produção e traz meios para inserção do pequeno agricultor nas

redes nacionais e transnacionais de comercialização (CAMPANHOLA; VALARINI,

2001).

Para Campanhola e Valarini (2001) o pequeno produtor pode enfrentar

diversos obstáculos. Dentre eles destacam-se: a produção em pequena escala que

podem dificultar o estabelecimento de contratos vantajosos; escassez de pesquisas

científicas limitando o produtor a tentativas empíricas; falta de assistência técnica da

rede pública que pode aumentar os custos de produção; maior demanda de mão-de-

obra que causam sobrecarga aos pequenos produtores ou a recorrência a

contratação externa, que muitas vezes não é viável; dificuldades no processo de

conversão quanto aos recursos financeiros para a adaptação da infraestrutura;

dificuldades de acesso a linhas de crédito bancário com maiores garantias; custos

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com certificação; dificuldades para instalar estrutura de processamento que agregam

valor ao produto; e possíveis efeitos ambientais negativos que podem ocorrer por

meio do excesso de matéria orgânica no solo ou da utilização de esterco como

forma de adubo podendo afetar as condições físicas e biológicas do solo e/ou

transmitir doenças ao ser humano.

Em suma, todos os aspectos negativos supracitados podem ser subtraídos

ou superados:

• A associação, cooperativa ou até mesmo grupos informais de pequenos

produtores tornam capaz o abastecimento de grandes mercados e por

meio de estudos no meio acadêmico e científico é possível o

desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem a produção em

maior escala sem a utilização de insumos químicos. Essa realidade já é

identificada em culturas como o café, cana-de-açúcar e morango;

• A agricultura orgânica registra uma crescente expansão e grandes

vantagens que despertam a atenção e o reconhecimento de vários

estudiosos que podem contribuir significamente para uma reestruturação

da política oficial e grande desenvolvimento do setor;

• Na medida em que a atenção se volta para a produção orgânica, o

governo tende a incentivar e dar maior assistência aos produtores;

• A demanda de mão-de-obra gera empregos e estimula a migração das

cidades para o campo causando um efeito contrário ao êxodo rural e

concentração nas cidades, responsável pela crise ecológica;

• Em longo prazo a conversão traz os grandes benefícios da produção

orgânica;

• A certificação, cada vez mais facilitada, é a garantia de acesso ao crédito

bancário;

• Quanto aos custos com certificação, há a alternativa da certificação

participativa que garante a qualidade do produto ecológico sem ter que

recorrer às empresas prestadoras de serviços;

• A união dos pequenos produtores também viabiliza o processamento dos

produtos;

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• E por último, para os possíveis danos ambientais decorrentes do uso

inadequado de matéria orgânica ou adubação com esterco, há a

prevenção por meio de técnicas alternativas como a adubação verde.

A agricultura orgânica ainda traz um importante benefício para o pequeno

produtor que é a diversificação:

A diversificação da produção confere ao pequeno agricultor a vantagem da estabilidade da renda durante o ano, diminuindo a sua sazonalidade ao mesmo tempo em que melhora a sua segurança, pois reduz o risco de quebras de renda devido à flutuação nos preços [a queda nos preços de alguns produtos pode ser compensada pela alta de outros] e a incidentes naturais, tais como a ocorrência de pragas e doenças e o efeito de geadas, chuvas de granizo e assim por diante, que, devido à sua limitação no tempo, somente afetam alguns cultivos em períodos específicos. (CAMPANHOLA e VALARINI, 2001, p. 77).

• Apoiar o desenvolvimento da agricultura orgânica é fundamental

considerando que seja uma oportunidade para agregação de renda,

melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores e nos níveis de saúde

alimentar da sociedade. Sua viabilidade torna-se evidente com o aumento

crescente conforme atestam os dados estatísticos.

4.1.2 Certificação de Produtos Orgânicos

A certificação de produtos orgânicos deve ser entendida como um processo

que tem por finalidade diferenciar o produto e dar garantia a quem o adquire de que

sua procedência esteja em conformidade com as normas regulamentadas pelas

organizações certificadoras. É um processo fundamental de organização que, além

de classificar e padronizar os produtos traz incentivo tanto ao consumidor, que tem a

facilidade de acesso à informação e garantia de procedência, quanto ao produtor

que obtém maior credibilidade para a venda. A certificação é reconhecida por um

selo exibido no produto que representa a comprovação da sua qualidade.

Para Darolt (2007, p. 9):

A certificação é um processo de inspeção das propriedades agrícolas, realizado com periodicidade que varia de dois a seis meses, para verificar

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se o alimento orgânico está sendo cultivado e processado de acordo com as normas de produção orgânica. O foco da inspeção não é o produto, mas a terra e o processo de produção. Assim, uma vez credenciada, a propriedade pode gerar vários produtos certificados, que irão receber um selo de qualidade.

O desenvolvimento do mercado de orgânicos também depende da

certificação por ser um instrumento que credencia os produtos orgânicos a

alcançarem mercados não locais. A importância da certificação para consolidar a

marca como produtora de orgânicos é ainda maior quando se trata de exportação,

devido às exigências e normas dos países importadores. Existem outras vantagens

expressivas da certificação como a diferenciação, que aumenta o valor das

mercadorias, e a eficiência da produção em decorrência de um planejamento mais

criterioso por parte do produtor.

Como o produto orgânico não apresenta características identificáveis a olho

nu que o diferenciem do produto convencional, a informação comprovada sobre os

valores nutricionais e a ausência de toxicidade são os fatores que levam os

consumidores exigentes a preferirem o produto orgânico certificado (ORMOND;

PAULA; FAVERET FILHO; ROCHA, 2002). De certo ponto de vista, os produtos

agrícolas convencionais deveriam ser mais passíveis de requerer certificação para

que fossem identificados contaminações químicas e riscos dos produtos.

O primeiro e mais importante organismo mundial desse movimento é a

IFOAM que congrega diversos movimentos relacionados com a agricultura orgânica

e credencia as entidades certificadoras internacionalmente assegurando maior

transparência às práticas e os princípios utilizados na produção e favorecendo o

mercado internacional dos produtos orgânicos. No Brasil, o IBD é um dos principais

órgãos certificadores e é o único reconhecido internacionalmente. Outro órgão

importante é a Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo (AAO), porém seu

selo de certificação é reconhecido apenas nacionalmente.

A certificação no Brasil originou-se de maneira informal através de

organizações dos próprios produtores que viram a necessidade de padronização dos

processos de produção. “A associação Harmonia Ambiental Coonatura (RJ) e a

Coolméia [RS] – Cooperativa Ecológica – foram as pioneiras da agricultura orgânica

no país, e começaram a comercializar esses produtos em 1978/79.”

(CAMPANHOLA; VALARINI, 2001, p. 78).

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50

Além do IBD e da AAO, existem outras entidades certificadoras nacionais e

internacionais no país. Na Tabela 5 podem ser visualizadas algumas delas e na

sequência os principais selos de certificação na Figura 1.

Tabela 5 – Certificadoras nacionais e internacionais e sua creditação

Creditação Certificadoras

Acreditadas pela IOAS (International Organic Accreditation Services) - IFOAM

IBD (Brasil)

International Certification Services Inc. (EUA)

Japan Organic & Natural (Japão)

Krav (Suécia)

Naturland (Alemanha)

Organic Crop Improvement Association - OCIA (EUA)

Farm Verified Organic - FVO (EUA)

OIA Brasil (Argentina)

Internacionais não acreditadas pela IFOAM, mas com ISO 65

BSC (Alemanha)

Ecocert Brasil (França)

IMO (Suíça)

SKAL (Holandesa)

Certicadoras nacionais não acreditadas pela IFOAM ou ISO 65

AAO (SP)

ABIO (RJ)

ANC (SP)

APAN (SP)

CEPEMA (CE)

CHÃO VIVO (ES)

ECOVIDA (SC)

FUNDEAGRO (SC)

MINAS ORGÂNICA (MG)

PESACRE (AC)

SAPUCAÍ (MG)

NOVO ENCANTO (BA)

Fonte: STRINGHETA; MUNIZ. Alimentos Orgânicos: Produção, Tecnologia e Certificação. Viçosa, MG: UFV, 2003.

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51

Figura 1 – Principais selos de certificação

Fonte: (ARAÚJO; PAIVA; FILGUEIRA, 2007, p. 144)

Dos selos apresentados na figura 1, apenas quatro deles são de

certificadoras credenciadas por auditoria pelo Ministério da Agricultura, Pecurária e

Abastecimento (MAPA): Insitituto de Tecnologia do Paraná – TECPAR, IBD

Certificações, ECOCERT Brasil e IMO Control do Brasil. A explicação geral sobre

certificação por auditoria é apresentado no sítio do MAPA (2011, Np).

Neste mecanismo as certificadoras públicas ou privadas credenciadas pelo MAPA utilizam os procedimentos e critérios reconhecidos internacionalmente para organismos de avaliação da conformidade, acrescidos dos requisitos técnicos estabelecidos pela legislação brasileira para a agricultura orgânica. A certificação por auditoria exige que a avaliação da conformidade seja feita por uma certificadora independente, sem vínculo direto com quem produz ou com quem compra. A certificadora credenciada pelo MAPA, ao aprovar a certificação de um produtor, fica responsável por incluí-lo no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e a autorizá-lo a utilizar o selo do SisOrg.

Além da certificação por auditoria ou formal, há alternativas como a

certificação participativa que é reconhecida pelo MAPA. A certificação participativa

pressupõe a participação efetiva dos próprios envolvidos como produtores e

consumidores, que é o caso da rede Ecovida. Entretanto, conforme afirmam

Campanhola e Valarini (2001, p. 80): “[...] o grupo deve estar de acordo com as

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normas de produção definidas na Instrução Normativa nº 7, de 17/05/1999, do

Ministério da Agricultura e Abastecimento, e com as normas de funcionamento da

rede.”. Os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPAC)

credenciados pelo MAPA são: Rede Ecovida de Agroecologia, Associação de

Agricultura Natural de Campinas e Região – ANC e Associação de Agricultores

Biológicos do Estado do Rio de Janeiro.

A certificação participativa é definida pelo MAPA (2011, Np) como:

Os Sistemas Participativos de Garantia – SPG caracterizam-se pela responsabilidade coletiva de seus membros, que podem ser produtores, consumidores, técnicos e quem mais se interesse em fortalecer esses sistemas. Os métodos de geração de credibilidade são adequados a diferentes realidades sociais, culturais, políticas, territoriais, institucionais, organizacionais e econômicas. O SPG tem que possuir um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade – OPAC, legalmente constituído e credenciado pelo MAPA, cuja responsabilidade é avaliar a conformidade orgânica dos produtos, incluir os produtores orgânicos no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e autorizá-los a utilizar o selo do SisOrg.

Também há uma exceção na legislação brasileira quanto à obrigatoriedade

de certificação: a certificação pode ser facultativa nos casos de venda direta dos

agricultores familiares aos consumidores seguindo critérios de enquadramento

conforme previsto na Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, art. 3º, parágrafos

1 e 2.

Para um produto receber o selo de certificação orgânico é necessário, a

princípio, que o produto seja produzido sem a utilização de agrotóxicos ou qualquer

insumo químico e que sua produção não traga nenhum risco ao meio ambiente.

Também envolve a relação com os trabalhadores, sua remuneração justa e

participação nos lucros. Uma vez filiado a uma agência certificadora, o produtor terá

orientação e inspeção quanto à produção e comercialização dentro dos padrões

técnicos para certificação. Segundo Neves (2007, p. 96), “A avaliação técnica irá

definir o contrato para liberação do selo orgânico, ou necessidade de um período de

transição de até 12 meses para hortaliças e anuais e de 18 a 24 meses para

fruticultura e plantas perenes.”.

Embora a agricultura orgânica favoreça a propriedade familiar, deve-se

atentar ao que dizem Buainain e Batalha (2007, p. 91): “[...] o custo de certificação

representa importante barreira à entrada para os pequenos produtores e também um

entrave para sua permanência como produtor no setor.” Por esse lado, os custos

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53

com certificação podem ser vistos como excludentes, pois podem dificultar a

adequação desses pequenos produtores.

Entende-se que a certificação é um elemento de suma importância para

incentivar o consumo de produtos orgânicos e permitir a comercialização em

diversos mercados. Por isso, ressalta-se a importância de uma redução nos custos

de certificação reconhecida internacionalmente que possa viabilizar a iniciativa de

pequenos produtores a se regularizarem e exportarem seus produtos. Com a

certificação obteriam maior participação no mercado e tornariam o preço final do seu

produto mais atraente aos olhos dos consumidores favorecendo, dessa maneira, um

aumento no interesse pelo consumo desses produtos.

4.2 Regiões brasileiras com maior destaque na produção

As iniciativas de produção e comercialização de produtos orgânicos no Brasil

surgiram em 1978 no Rio Grande do Sul pela Cooperativa Ecológica Coolméia e em

1979 no Rio de Janeiro pela Associação Harmonia Ambiental Conatura. A Coolméia

é uma cooperativa com sede em Porto Alegre, que assessora a elaboração e a

implantação de projetos em propriedades rurais, organiza feiras em Porto Alegre e

fornece certificação aos agricultores que fazem parte da cooperativa. A Coonatura é

uma associação de quinze agricultores familiares co-arrendadores que possui alguns

pontos de venda no Rio de Janeiro e faz entregas domiciliares. (CAMPANHOLA;

VALARINI, 2001).

De acordo com um relatório da USDA (1999, Np), os estados de São Paulo

e Paraná lideravam a produção no país. Uma usina de açúcar em São Paulo

inclusive já exportava açúcar orgânico para 13 países diferentes desde 1997, entre

eles Estados Unidos com a marca ‘Native’. A soja orgânica, um dos principais

produtos exportados, certificada pelo IBD e produzida por uma parceria de

aproximadamente 500 produtores do Paraná e Rio Grande era importada

principalmente para a União Européia - especialmente a Alemanha - e Japão.

Como os dados estatísticos referentes à produção orgânica no Brasil são

escassos e muitos deles divulgados por entidades certificadoras, é difícil obter

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54

informações concretas e concordantes. De acordo com dados da AAO, os maiores

estados produtores são Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e

Espírito Santo que detêm aproximadamente 70% da produção nacional. (ARAÚJO;

PAIVA; FILGUEIRA, 2007). A produção e o mercado de orgânicos são consolidados

nas regiões sul e suldeste, porém a região do nordeste concentra um maior número

de estabelecimentos, como pode ser identificado na tabela 6.

Tabela 6 - Uso de agricultura orgânica nos estabelecimentos, segundo as Grandes Regiões da Federação Brasil – 2006

Grandes Regiões e

Unidades da Federação

Total de estabeleci-

mentos

Total de estabelecimentos que fazem o uso

de agricultura orgânica

Estabelecimentos que fazem o uso

de agricultura orgânica e são certificados por

entidade credenciada

Estabelecimentos que fazem o uso

de agricultura orgânica e não são certificados

por entidade credenciada

Estabelecimen-tos que não

fazem o uso de agricultura orgânica

Brasil 5.175.489 90.497 5.106 85.391 5.084.992

Norte 475.775 6.133 351 5.782 469.642

Rondônia 87.077 927 135 792 86.150

Acre 29.482 485 15 470 28.997

Amazonas 66.784 1.211 20 1.191 65.573

Roraima 10.310 64 1 63 10.246

Pará 222.028 2.362 136 2.226 219.666

Amapá 3.527 29 - 29 3.498

Tocantins 56.567 1.055 44 1.011 55.512

Nordeste 2.454.006 42.236 1.218 41.018 2.411.770

Maranhão 287.037 3.256 77 3.179 283.781

Piauí 245.378 3.712 79 3.633 241.666

Ceará 381.014 4.865 167 4.698 376.149

Rio Grande do Norte 83.052 2.266 95 2.171 80.786

Paraíba 167.272 3.362 58 3.304 163.910

Pernambuco 304.788 6.425 208 6.217 298.363

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Tabela 6 - Uso de agricultura orgânica nos estabelecimentos, segundo as Grandes Regiões da Federação Brasil – 2006 (Continuação)

Grandes Regiões e Unidades

da Federação

Total de estabeleci-

mentos

Total de estabelecimentos que fazem o uso

de agricultura orgânica

Estabelecimentos que fazem o uso

de agricultura orgânica e são certificados por

entidade credenciada

Estabelecimentos que fazem o uso

de agricultura orgânica e não são certificados

por entidade credenciada

Estabelecimen-tos que não

fazem o uso de agricultura orgânica

Alagoas 123.331 2.117 40 2.077 121.214

Sergipe 100.606 1.039 41 998 99.567

Bahia 761.528 15.194 453 14.741 746.334

Sudeste 922.049 18.715 1.366 17.349 903.334

Minas Gerais 551.617 12.910 641 12.269 538.707

Espírito Santo 84.356 1.466 152 1.314 82.890

Rio de Janeiro 58.482 968 122 846 57.514

São Paulo 227.594 3.371 451 2.920 224.223

Sul 1.006.181 19.275 1.924 17.351 986.906

Paraná 371.051 7.527 909 6.618 363.524

Santa Catarina 193.663 3.216 353 2.863 190.447

Rio Grande do Sul 441.467 8.532 662 7.870 432.935

Centro-Oeste

317.478 4.138 247 3.891 313.340

Mato Grosso do Sul

64.862 753 31 722 64.109

Mato Grosso 112.978 1.619 79 1.540 111.359

Goiás 135.683 1.605 113 1.492 134.078

Distrito Federal 3.955 161 24 137 3.794

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.

Observa-se na Tabela 6 que a região com maior número de

estabelecimentos de produção orgânica, certificados ou não, é o Nordeste com

42.236 estabelecimentos sendo 15.194 somente na Bahia. Em segundo lugar a

região sul com 19.275 sendo maior parte no Rio Grande do Sul que possui 8.532

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estabelecimentos. E em terceiro, a região sudeste com 18.715 estabelecimentos

sendo 12.910 localizados em Minas Gerais.

A Tabela 6 confirma que a agricultura orgânica ainda é muito incipiente no

Brasil com relação à agricultura convencional, pois menos de 2% das propriedades

de agricultura no país utiliza o sistema orgânico de produção. O estado que mais

possui estabelecimentos de agricultura orgânica com relação aos estabelecimentos

de agricultura convencional é o Distrito Federal com mais de 4%. Quanto às regiões,

sudeste com 2,03% e sul com 1,92% lideram as duas primeiras posições.

Em todas as regiões e estados há um número muito maior de

estabelecimentos que não possuem certificação, sendo 94% em todo o país.

Nordeste possui o maior número de estabelecimentos, porém apenas 3% são

certificados.

Gráfico 4 – Proporção dos estabelecimentos produtores de orgânicos certificados e não certificados

no total de estabelecimentos orgânicos, por grupo de área – Brasil – 2006 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.

Pode-se verificar no Gráfico 4 que a certificação ocorre mais nos

estabelecimentos maiores. Dos estabelecimentos com até 10 hectares, apenas um

pouco mais de 4% são certificados com uma diferença significativa dos

estabelecimentos de 10 a 50 hectares com mais de 7% certificados. Nas áreas com

mais de 500 hectares, mais de 10% dos estabelecimentos são certificados.

Com relação à produção, a região sul concentra grande parte da agricultura

orgânica detendo 68% da produção nacional conforme Gráfico 5. Entretanto, a

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maioria dos produtores é de propriedade familiar com a comercialização voltada para

o mercado interno. Os produtos são basicamente frutas, hortaliças, legumes,

cereais, grãos e mel. A região do sudeste possui menos de 20% das áreas de

fruticultura e outras culturas como hortaliças, cereais e mel. O Nordeste vem se

destacando com 42% da área nacional de fruticultura em cultivo orgânico. (DIAS,

2006). Apesar de possuir uma área menor de produção orgânica - cerca de 70,6 mil

hectares – a região sudeste possui grande relevância no setor pelo fato de sua

produção ser bastante difundida e algumas culturas específicas serem produzidas

em larga escala e grande parte destinada a exportação, como é o caso do café

produzido em Minas Gerais e a cana-de-açúcar em produzida em São Paulo.

(SEMANA 2005 apud CAMARGO et al., 2006).

Gráfico 5 – Porcentagem de produtores com agropecuária orgânica por região

Fonte: (DIAS, 2006, não paginado).

4.3 Principais culturas produzidas no país

O cenário brasileiro de produção orgânica é bastante diversificado possuindo

áreas destinadas a produção de commodities até especiarias e produtos

processados. Dentre as principais culturas orgânicas produzidas no país destacam-

se: soja, hortaliças, café, frutas e açúcar.

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De acordo com o relatório The World of Organic Agriculture (2008), a maior

parte das frutas e vegetais frescos produzidos no Brasil são destinados ao mercado

interno sendo 45% vendidos em supermercados, 26% em feiras e 16% em lojas

especializadas. Há também um aumento no número de alimentos processados por

companhias e produtores familiares destinados ao mercado interno como: chás,

café, geléias, azeites, cereias matinais e latícinios. Quanto à produção destinada à

exportação tem-se um grande volume de café, banana, soja e milho não

industrializados. Produtos como suco concentrados, açúcar e soja processados

também estão começando a conquistar um espaço no mercado internacional assim

como produtos têxteis e cosméticos apresentados na BioFach 2005.

A soja orgânica produzida e exportada pelo Brasil tem grande importância

para economia do país, tendo em vista o mercado em expansão e a grande

rentabilidade proporcionada aos produtores rurais. A soja orgânica é produzida

principalmente nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Goiás, e

tem mostrado cada vez mais rentabilidade do que a soja convencional ou

transgênica devido à intensa procura pelo produto e disposição dos consumidores

em pagarem até 50% a mais pelo fator qualidade. (PLANETA ORGÂNICO, 2005).

De acordo com Nórcio (2004 apud ETHOS, 2005) foram produzidas no Paraná,

principalmente nas regiões norte, oeste e sudoeste do estado, 16.276 toneladas de

soja orgânica em 2001-2002 e 12 mil toneladas na safra de 2003-2004.

Assim como a soja orgânica, o cultivo de café orgânico gera grande

rentabilidade para os produtores devido à demanda mundial, exportando para países

como Europa, EUA e Japão. Em 1990, surgiram as iniciativas de produção do café

orgânico no sul de Minas, com a organização de produtores em associações e

cooperativas primando a qualidade e diferenciação dos seus produtos. O município

de Poço Fundo, em Minas Gerais, concentra atualmente a maior área de produção

de café orgânico cultivado do país. O Brasil está apenas em 8ª colocação na

produção mundial, porém possui a maior área plantada de café com cerca de 2,1

milhões de hectares, o que demonstra seu potencial de expansão e importância para

o agronegócio brasileiro. (OLIVEIRA, 2010).

O açúcar é um dos principais produtos orgânicos cultivados no país com a

produção anual de 105 mil a 110 mil toneladas por ano. São quatro usinas que

fabricam o produto que é principalmente direcionado ao mercado externo.

(RODRIGUES, 2011). O açúcar orgânico é produzido principalmente em

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Sertãozinho, em São Paulo, pela Usina São Francisco, dona da marca Native que é

a maior exportadora de açúcar do mundo. Além do açúcar, a empresa também

produz café, achocolatado, sucos, cookies, azeite e granola orgânicos. A maioria de

seus produtos sempre foi comercializada no exterior em países da Europa, Estados

Unidos, Coréia, Japão e Canadá, porém, a companhia tem como objetivo equilibrar

as vendas destinando a metade ao mercado interno. (REVISTA CAFEICULTURA,

2010).

As hortaliças são parte importante da produção orgânica nacional, porém

ocupam menores áreas por serem principalmente produzidas por agricultores de

propriedade familiar e destinadas ao mercado interno.

O caso das hortaliças é consequência da adequação do sistema de produção orgânica às características de pequenas propriedades com gestão familiar, seja pela diversidade de produtos cultivados em uma mesma área, seja pela menor dependência de recursos externos, com maior utilização de mão-de-obra e menor necessidade de capital. (ORMOND, 2002, p. 15)

À medida que os países desenvolvidos buscam consumir produtos de maior

qualidade como os orgânicos, aumentam as perspectivas de expansão das vendas

dos produtos brasileiros. O Brasil é beneficiado, sobretudo com a fruticultura, pois

possui excelentes condições edafoclimáticas7 para produzir todos os tipos de frutas

tropicais. Além disso, há um aumento no consumo de frutas e hortaliças que são

considerados alimentos indispensáveis para a qualidade de vida da população. No

Brasil e no mundo a maior parte da produção de frutas, assim como de hortaliças, é

destinada ao mercado interno devido às características desse mercado. Segundo o

relatório Agrianual (2001 apud BORGES et al., 2003, p. 235) “Dentre as frutas

orgânicas brasileiras exportadas, incluem-se a laranja (suco), a banana e a acerola.”

A produção de cacau orgânico também é realidade e destaca-se na região sul da

Bahia. Segundo Uzêda (2004, p. 107) “A Região Cacaueira da Bahia apresenta um

contexto bastante favorável para a consolidação de um pólo de Agricultura Orgânica

Agroflorestal, considerando os aspectos da conservação da biodiversidade e

produção familiar [...]”.

7 Relativo aos solos e ao clima.

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60

4.4 Exportações brasileiras de produtos orgânicos

Com uma procura cada vez maior por produtos orgânicos e a atenção de

mecanismos do governo e iniciativa privada voltada para este setor através de apoio,

suporte, investimentos e promoção, o contexto é favorável para o acesso dos

pequenos agricultores aos nichos de mercado de exportação. A procura cresce mais

rapidamente no mercado externo do que no mercado interno, pois a demanda é

maior em países desenvolvidos por estes possuírem maior acesso a informação e

mais oportunidades de escolha.

Frente a mercados de exportação exigentes com normas rígidas de controle

de qualidade dos produtos que ingressam em seus mercados, os produtos agrícolas

orgânicos brasileiros são uma alternativa diferenciada, com grande potencial e que

vêm conquistando grandes mercados como Estados Unidos, Europa e Japão.

De acordo com o MAPA (2009, Np):

De agosto de 2006 a setembro de 2008, o Brasil exportou 37 mil toneladas em produtos orgânicos, que equivalem a uma receita de US$ 26,7 milhões. Desse montante, destacam-se produtos como a soja, com mais de 8 mil toneladas, e o café, com 209 toneladas. Juntos registraram US$ 9,5 milhões em exportação. Os principais países de destino dos produtos foram Holanda, Suécia, Estados Unidos, Inglaterra e França.

Na Tabela 7 tem-se o volume e a receita de produtos orgânicos exportados

no período de 2007 a 2009. Observa-se que o total exportado no período foi de

quase 37 mil toneladas equivalente à receita de mais de US$ FOB 28 milhões,

montante que equipara-se ao período supracitado – de 2006 a 2008. Entretanto os

dados são decrescentes: o volume exportado em 2009 foi quase 80% menor do que

em 2007 e há uma variação mensal significativa.

Tabela 7 - Exportação Brasileira de Produtos Orgânicos - 2007 a 2009

Mês

2007 2008 2009

Kg US$ FOB

Kg US$ FOB

7235 US$ FOB

Valor Valor Var. %(*) Valor Var.

%(*) Jan 1.201.052 612.817 696.210 550.747 -10,1 1.234.107 854.054 55,1

Fev 2.171.190 1.210.129 978.990 899.998 -25,6 38.443 76.696 -91,5

Mar 2.189.555 1.087.569 939.094 1.097.938 1,0 519.108 404.661 -63,1

Abr 2.324.294 1.230.151 873.940 919.791 -25,2 784.886 598.991 -34,9

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61

Tabela 7 - Exportação Brasileira de Produtos Orgânicos - 2007 a 2009 (Continuação)

Mês

2007 2008 2009

Kg US$ FOB

Kg US$ FOB

7235 US$ FOB

Valor Valor Var. %(*) Valor Var.

%(*) Mai 1.133.580 602.912 2.028.990 2.132.716 253,7 691.864 690.726 -67,6

Jun 1.193.443 653.377 2.018.680 1.820.454 178,6 687.235 605.392 -66,7

Jul 424.403 292.935 904.740 940.108 220,9 147.000 151.146 -83,9

Ago 1.379.785 788.947 1.060.010 1.100.235 39,5 1.694 12.934 -98,8

Set 1.724.438 986.018 526.291 486.389 -50,7 110.965 89.408 -81,6

Out 1.929.638 1.065.390 996.445 778.024 -27,0 20.000 17.814 -97,7

Nov 2.484.131 1.738.219 1.334.609 1.046.500 -39,8 78.850 49.781 -95,2

Dez 1.389.276 1.687.644 834.307 625.318 -62,9 153.705 110.023 -82,4

Total 11.658.694 7.815.442 9.704.072 8.929.744 3,7 1.891.313 1.727.224 70,5

(*) Variação percentual de valor em relação a igual mês do ano anterior

Fonte: MDIC/SECEX (2010)

O maior estímulo às exportações de orgânicos é o preço diferenciado em

relação aos produtos convencionais. Esse estímulo faz com que maior parte da

produção seja voltada às exportações. A maioria da produção de frutas e hortaliças

é direcionada ao consumo local em razão das características desse mercado. Dentre

os produtos orgânicos exportados, além do café e da soja, produzidos

principalmente em Minas Gerais e no Paraná, pode-se também destacar os

seguintes produtos: cacau (Bahia), erva-mate (Paraná), açúcar mascavo (Paraná e

São Paulo), suco de laranja e frutas secas (São Paulo), castanha de caju, óleo de

dendê e frutas tropicais (Nordeste), óleo de palma e palmito (Pará), guaraná

(Amazônia), arroz (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e frutas cítricas (Rio Grande

do Sul). Os produtos orgânicos processados também têm destaque: mel, composta

de frutas, café solúvel, moído e torrado, óleos essenciais, suco concentrado de

laranja, extratos vegetais, barra de cereais e guaraná em pó. (ORMOND et al, 2002

apud MUNIZ et al, 2003). O segmento de cosméticos orgânicos também tem

destaque. De acordo com Ming Liu (2010, p. 01) “[...] o crescimento foi na ordem de

25% comparando-se com 2009, com destaque para as marcas Surya Brasil e Ikove,

que atualmente estão presentes, com suas marcas próprias, em mais de 12 países

na Europa, Ásia e América do Sul.”.

Dentre os produtos orgânicos brasileiros exportados entre agosto de 2006 e

janeiro de 2010, a soja em geral tem destaque e equivale a 60% do total de

produtos, conforme observa-se na Tabela 8.

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Tabela 8 - Produtos Orgânicos Brasileiros Exportados - Agosto/2006 a Janeiro/2010

NCM Descrição da NCM Kg US$

Valor Part. %

12010090 Outras espécies de soja mesmo triturada 12.843.160 9.705.973 29,45%

23040090 Outros resíduos da extração do oléo de soja 9.156.989 6.523.773 19,80%

17019900 Outros Acucs. não citados ant. e sacarina quim./pura 9.907.525 4.702.839 14,27%

12081000 Farinha de soja 3.567.760 2.204.411 6,69%

17011100 Açúcar de cana bruto s/ aromatiz. ou corante 4.075.869 1.995.299 6,06%

15071000 Óleo de soja em bruto, mesmo degomado 1.515.250 1.576.262 4,78%

09011110 Café não torrado, não descafeinado, em grão 280.097 1.315.571 3,99%

23040010 Farinhas e "Pellets' da ext. do óleo de soja 1.283.622 1.262.878 3,83%

08045020 Mangas frescas ou refrigeradas 1.542.027 1.131.905 3,43%

18040000 Manteiga, gordura e óleo, de cacau 143.950 1.029.760 3,12%

18050000 Cacau em pó, s/ açúcar ou outro edulcorante 174.000 370.640 1,12%

18031000 Pasta de cacau não desengordurada 56.100 258.675 0,78%

19030000 Tapioca e sucedaneos floc., grum., grãos, etc. 160.350 207.823 0,63%

07123100 Cogumelos "Agaricus" secos, mmo., cortad., etc. 1.665 148.355 0,45%

05119999 Outros prod. de origem animal, improp. p/ alim. hum. 240.000 141.600 0,43%

11081400 Fécula de mandioca 189.000 110.841 0,34%

10059010 Outras espécies de milho, em grão 185.570 69.511 0,21%

03061399 Outros camarões congelados exceto os inteiros 7.704 65.014 0,20%

05119990 Outros prod. de origem animal, improp. p/ alim. hum. 72.000 39.600 0,12%

03041919 Filé de outros peixes frescos refrigerado 2.374 15.690 0,05%

03041019 Filé de outros peixes frescos refr. congelado 2.170 14.340 0,04%

19042000 Prep. Aliment. Obtido de proc. De cereais (flocos) 1.652 11.236 0,03%

08043000 Abacaxis (Ananases), frescos ou secos 4.830 7.260 0,02%

18010000 Cacau inteiro ou partido bruto ou torrado 1.500 7.250 0,02%

21011110 Café solúvel descafeinado 317 6.814 0,02%

20079910 Geleias e "marmelades" 749 5.815 0,02%

09019000 Casca, película de café, sucedaneos do café 447 5.535 0,02%

08072000 Mamões (Papaias), frescos 3.671 4.906 0,01%

18061000 Cacau em pó, c/ açúcar ou outro edulcorante 472 4.636 0,01%

21032010 "Ketchup" e outros molhos de tomate inf. A 1 Kg inc. 496 3.533 0,01%

17029000 Outros, incluindo o açúcar invertido c/ 50% frut. 1.000 2.300 0,01%

20081900 Outras frutas de casca rija, cons. De outros modos 224 1.364 0,00%

08044000 Abacates, frescos ou secos 501 647 0,00%

08030000 Bananas, frescas ou secas 198 286 0,00%

08011900 Outros cocos, frescos 122 192 0,00%

08109000 Outras frutas frescas 82 108 0,00%

07096000 Pimentões e pimentas, frescos ou refrig. 59 81 0,00%

08059000 Outros cítricos, frescos ou secos 17 25 0,00%

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Tabela 8 - Produtos Orgânicos Brasileiros Exportados - Agosto/2006 a Janeiro/2010 (Continuação)

NCM Descrição da NCM Kg US$

Valor Part. %

08011110 Cocos secos s/ casca mesmo ralados 3 4 0,00%

Total 3 4 0,00%

Fonte: MDIC/SECEX (2010)

O desenvolvimento da agricultura orgânica no Brasil é observado pela

expansão de áreas cultivadas, o número de agricultores envolvidos e a diversidade

de produtos com crescente oferta de processados e volume de vendas no mercado

interno e principalmente no mercado externo. A boa posição do Brasil como

exportador de orgânicos é resultado da regulamentação da lei, apoio do governo

com certificação e a participação em eventos, feiras, exposições, projetos, cursos,

seminários e congressos que despertam o interesse de consumidores e meios de

comunicação que passam a divulgar ainda mais o mercado de orgânicos. Um projeto

importante é o Organics Brasil desenvolvido pela Agência de Promoção de

Exportadores do Brasil (APEX-Brasil), ligada ao Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior (MDIC) em parceria com o Instituto de Promoção do

Desenvolvimento (IPD) e com a Federação das Indústrias do Estado do Paraná

(FIEP). O projeto foi responsável pelo aumento de 60% nas exportações em 2010:

“As exportações brasileiras de produtos orgânicos somaram US$ 108,2 milhões este

ano [...]. As vendas partiram das 72 empresas do Projeto Organics Brasil, que

exportaram para um total de 70 países [...]”. (ANBA, 2010, p. 01). O projeto que

contava apenas com 12 empresas do estado do Paraná em 2005 contabiliza

negócios cada vez maiores e mais importantes.

Os mercados europeus e norte-americanos são de grande importância para

o desenvolvimento da agricultura orgânica, pois representam 97% do total de

receitas auferidas nesse setor. Em 2006, a Suíça era o maior país consumidor de

orgânicos na Europa com o gasto médio de 102 euros per capita, seguido de perto

por Áustria, com o gasto médio de 89 euros per capita. Especialistas estimam que o

consumo de produtos orgânicos na Europa tenha um crescimento anual de 10%.

(WILLER; KILCHER, 2010).

Na Tabela 9, pode-se verificar que os países que mais importam produtos

orgânicos do Brasil são países desenvolvidos como Holanda, Suécia, Estados

Unidos, Reino Unido e França. No período de agosto de 2006 a janeiro de 2010

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estes países importaram quase 37 mil toneladas, o equivalente a uma receita de

US$ FOB 25 mil.

Tabela 9 - Países de destino dos produtos orgânicos brasileiros exportados - Agosto/2006 a Janeiro/2010

País de Destino Kg US$

Valor Part. %

Holanda 13.894.587 9.569.347 29,0%

Suécia 8.640.420 6.276.148 19,0%

Estados Unidos 6.820.199 4.081.042 12,4%

Reino Unido 3.188.250 2.625.439 8,0%

França 4.298.350 2.445.608 7,4%

Bélgica 1.669.640 1.692.166 5,1%

Canadá 473.212 1.467.459 4,5%

Noruega 1.283.622 1.262.878 3,8%

Japão 472.565 853.500 2,6%

Dinamarca 1.600.629 810.552 2,5%

Alemanha 1.562.000 757.390 2,3%

Itália 252.000 198.102 0,6%

Austrália 68.403 192.500 0,6%

Tailândia 312.000 181.200 0,5%

Israel 322.117 166.026 0,5%

Equador 172.000 96.320 0,3%

Coréia do Sul 106.000 71.815 0,2%

Nova Zelândia 91.300 61.554 0,2%

Espanha 66.528 49.003 0,1%

Polônia 64.500 34.323 0,1%

Formosa (Taiwan) 21.000 30.518 0,1%

China 23.000 11.385 0,0%

Hong Kong 19.200 10.176 0,0%

Suíça 1.000 6.000 0,0%

Chile 1.000 2.300 0,0%

Total 45.423.522 32.952.751 100,0%

Fonte: MDIC/SECEX (2010)

No geral, é difícil obter-se estatísticas oficiais sobre exportações brasileiras

de produtos orgânicos. Os dados existentes indicam que o Brasil atualmente está

entre os principais exportadores produzindo dentro de elevados padrões

internacionais. O mercado externo está cada vez mais receptivo a produtos que

estão relacionados com as preocupações sociais, ambientais e de saúde de seus

consumidores. As tendências mundiais abrangem uma equiparação entre os preços

de produtos orgânicos e convencionais em virtude de maiores quantidades

Page 66: Trabalho de Iniciação Científica A AGRICULTURA ORGÂNICA … · O objetivo foi atingido com a apresentação de aspectos históricos da evolução do consumo e da demanda de produtos

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comercializadas, logística adequada e aumento das atividades em pesquisa em

agricultura orgânica.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo buscou compreender o processo de evolução do consumo dos

produtos da agricultura orgânica, a importância desta atividade e relacionar as

relevâncias e as oportunidades que este meio de produção pode oferecer à

economia brasileira.

O padrão de produção agrícola convencional baseado no uso de insumos

químicos e no uso inadequado dos recursos naturais surgiu em decorrência da

industrialização e do surgimento de novas tecnologias de produção quando

demandava-se, pelo crescimento da população e do consumo, maior produtividade e

redução de custos.

A agricultura orgânica assume um papel importante sobretudo por tratar-se

de antítese ao padrão agrícola convencional e passa a obter maior legitimidade com

o significativo aumento na demanda de produtos orgânicos no mundo. Além dos

aspectos ambientais associados a esta atividade, incluem-se valores como

soliedariedade, processos participativos, a valorização da cidadania, segurança

alimentar, desenvolvimento da agricultura familiar, organização social, geração de

emprego e renda e a valorização de pequenos produtores.

Os dados oficiais relativos à comercialização de produtos orgânicos no Brasil

são escassos, porém foi possível verificar as perspectivas de desenvolvimento da

agricultura orgânica. As estatísticas mostram que existe um grande potencial de

expansão da produção orgânica no país que tem configuração climática e do solo

favorável e há uma efetiva expansão das áreas cultivadas, crescente demanda.

Ainda conta com a regulamentação da lei, apoio do governo e de associações com

certificação e a participação do país em diversos eventos importantes.

Há um efetivo interesse do governo e dos organismos associados na

harmonização e na equivalência das normas internacionais que regulamentam e

conduzem o comércio internacional de produtos orgânicos. A importância dessa

resolução deve-se às exigências e barreiras impostas à entrada de produtos nos

países importadores através de regulamentos técnicos.

O agronegócio é o principal impulso da economia brasileira com uma

significativa participação no PIB e nas exportações e com o desenvolvimento de uma

agricultura sustentável, o país tem as condições para agregar valor às commodities

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agrícolas exportadas. As empresas que se adequam a esta nova realidade mundial

mantem-se no mercado com um diferencial e contribuem para o desenvolvimento

sustentável.

Por estar inserida nas tendências atuais de sustentabilidade ambiental e os

diversos aspectos relacionados, é que efetiva-se o crescimento para o mercado,

interno e externo, de agricultura orgânica. As fontes de valorização desses produtos

podem estar associadas à forma de relação com o mercado, com as relações

institucionais estabelecidas e com as formas de condução e gestão das atividades

produtivas.

Entretanto deve-se ponderar sobre os diferentes fatores que podem

contribuir para que essa atividade deixe de ser apenas uma ‘prática alternativa’, para

consolidar-se um importante cultivo de orgânicos pois o crescimento econômico nem

sempre está ligado com o desenvolvimento social. O desafio é o grande lobby da

cultura agroindustrial.

Page 69: Trabalho de Iniciação Científica A AGRICULTURA ORGÂNICA … · O objetivo foi atingido com a apresentação de aspectos históricos da evolução do consumo e da demanda de produtos

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ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS

Nome do estagiário Joice Cristina da Silva

Orientador de conteúdo Prof.ª MSc. Jacqueline Márcia Ferreira Furlani

Prof. MSc. Luiz Carlos dos Santos

Responsável pelo Estágio Prof.ª MSc. Natalí Nascimento