trabalho completo - 19 sinape modificad -30-04-2010
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O IMPACTO DA ELIMINAÇÃO DAS CAUSAS EXTERNAS NA MORT ALIDADE DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA - PB.
Danillo Fagner Vicente de Assis (Secretaria de Saúde de João Pessoa, Diretoria de Atenção a Saúde.
e-mail: [email protected]) Neir Antunes Paes (Pós graduação em Modelos de Decisão e Saúde - Depto. de Estatística UFPB.
e-mail: [email protected])
RESUMO
O estudo das causas de morte é de vital importância para se conhecer as
características epidemiológicas de uma região, tendo em vista que estas, aliadas ao
nível e ao padrão de mortalidade são fortes ferramentas no acompanhamento das
condições de vida de uma sociedade. O presente trabalho busca identificar os
ganhos na esperança de vida, caso fossem eliminadas as causas externas no
município de João Pessoa de forma total e parcialmente. Para tanto, foi utilizado o
método proposto por Chiang para a construção das Tábuas de Vida de Múltiplo
Decremento. Após a retirada total das mortes por causas externas, a esperança de
vida ao nascer masculina teve um ganho de 2,95 anos de vida e as mulheres, um
ganho de 0,43. As mortes por agressões apresentaram-se como as principais
causas de morte deste grupo, principalmente para os homens entre os 10 e 49 anos.
A eliminação parcial das causas de morte mostrou-se vantajosa, no que se refere a
ganhos reais na esperança de vida, quando a causa do óbito é a agressão para o
sexo masculino. As demais causas de morte apresentaram mais modestos.
Palavras-chave: Esperança de Vida; Tábua de Vida; Tábua de Vida de Múltiplo Decremento; Cobertura dos óbitos. 1. INTRODUÇÃO
O estudo das causas de morte é de vital importância para conhecer as
características epidemiológicas de uma região, tendo em vista que estas, aliadas ao
nível e ao padrão de mortalidade são fortes ferramentas no acompanhamento das
condições de vida de uma sociedade. As causas externas representam a segunda
causa em volume no Brasil, perdendo apenas para os óbitos ocorridos por doenças
cardiovasculares. De acordo com o IBGE (2004), o aumento da mortalidade por
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causas externas já está impactando a esperança de vida dos brasileiros. Assim,
conhecer o comportamento dessa causa na população de uma região significa
fornecer subsídios para direcionar recursos de forma mais precisa e eficiente, seja
nas políticas populacionais direcionadas a segurança pública, seja na realocação de
verbas para campanhas de prevenção direcionadas aos grupos que apresentem
maior risco.
O Nordeste vem verificando queda nos níveis de mortalidade e
conseqüentemente aumento da esperança de vida. Porém, segundo Barbosa
(1999), existe evidências de aumento da mortalidade devido às causas externas,
principalmente, entre os homens jovens com idades entre 18 a 40 anos. Dias Junior
(2007) ainda observa que a curva da probabilidade de morte feminina é mais
suavizada do que a dos homens, uma vez que o impacto dos óbitos registrados por
fatores externos não tem peso tão significativo no total dos óbitos femininos.
Barbosa (1999) sugere que essas modificações no padrão de morbi-mortalidade
para os estados do Nordeste é conseqüência do processo de transição demográfica,
desencadeado, por sua vez, pelo envelhecimento da população que se verifica no
Brasil desde a década de 60, resultante da queda dos níveis de fecundidade e da
transição epidemiológica em curso.
No contexto das causas externas, o município de João Pessoa segue o
mesmo movimento das cidades de grande porte, ou seja, há um número
preocupante de vidas perdidas por causas violentas, 476 mortes por causas
externas, correspondendo a 12% do total das causas de óbitos em 2007, atrás
somente das mortes por neoplasias, 15,5% e das mortes por doenças do aparelho
circulatório 32,4%. Esse elevado índice de mortes por causas externas – causas
estas que se situam no grupo das causas evitáveis – recebe este peso devido as
mortes do sexo masculino, uma vez que esta causa é a segunda maior causadora
de mortes para os homens com 18,8%. Esta causa, por sua vez, aparece em sétimo
lugar entre as causas de óbitos para as mulheres, com um percentual de 3,4%.
Segundo Paes (1985) as causas externas têm se convertido em um problema não
somente social, mas também de saúde pública.
Omram (1971) descreve o aumento considerável da esperança de vida ao
nascer não só em países desenvolvidos, mas também, naqueles em
desenvolvimento. Este fenômeno ocorre ao longo de várias décadas e é descrito
como Teoria da Transição Epidemiológica. Durante a transição, as doenças
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infecciosas e parasitárias, que representavam as principais causas de morte, foram
gradualmente sendo substituídas pelas doenças crônicas e aquelas provocadas pelo
homem, estas últimas tornando-se os principais componentes da morbidade e
mortalidade. Entretanto, essa tendência rumo a uma vida mais longa tem sido
abruptamente revertida devido as mortes ligadas aos fatores externos.
Estudos mais detalhados das causas externas são carentes e escassos para
o município de João Pessoa, sendo de vital importância esclarecimentos quanto à
distribuição dessa causa nos grupos populacionais que formam o município e,
assim, conhecendo-se a mortalidade específica por causas de uma região torna-se
bem mais abrangente o leque de possibilidades na atuação e alocação de recursos
assim como o nível da qualidade de vida da região.
Conforme coloca Paes (1985), o impacto da eliminação destas causas como
fatores de risco de morte, propiciaria ganhos, em anos, na esperança de vida,
estabelecendo, assim, melhorias no padrão de saúde de uma população. É neste
sentido que busca medir o efeito que se produziria com a eliminação total e parcial
das causas externas, supondo que cada indivíduo está exposto ao risco de morte
por alguma das inúmeras causas competindo pela sua vida. Uma proposta, neste
sentido, foi desenvolvida por Chiang em 1960 para a construção de Tábuas de Vida
de Múltiplo Decremento (TVMD).
A “análise de riscos competitivos” vem servir como ferramenta estatística de
análise de dados vitais para os casos em que os indivíduos estão expostos ao risco
de morrer por várias causas de morte. Este mecanismo de análise apresenta ampla
utilidade no estudo da duração da vida dos indivíduos de uma dada população
mediante a diminuição ou eliminação de uma causa de morte.
Este procedimento tem sido comumente empregado e citado para medir o
impacto de várias doenças. No entanto, considera-se que as causas externas se
encaixam entre aquelas com maiores possibilidades de eliminação.
No Brasil, o primeiro trabalho a aplicar a teoria do risco competitivo utilizando
à metodologia de Chiang foi o de Gotlieb (1981). O trabalho visou avaliar a
magnitude de incidência de alguns grupos de causas de morte na população
residente no município de São Paulo em 1970. Em seguida Paes (1985) aplicou a
mesma metodologia para a população residente do Recife. Mais adiante, Barboni
(2004) e Dias Junior (2007) utilizaram desta metodologia para mensurar os ganhos,
em anos de vida, com a ausência das mortes por causas externas e homicídios. No
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intuito de avaliar a magnitude da atuação dos cânceres nas probabilidades de morte
Silva (2003) utilizou da metodologia de Chiang e Oliveira (1984) verificou
numericamente as aplicações dos pressupostos da técnica.
Hakulinen (1977) e Tsai (1978) destacaram a importância do modelo de
Chiang por sua praticidade, operacionalidade e validade dos seus supostos.
Segundo Chiang (1968), as TVMD são mais coerentes com a realidade, pois
consideram a interdependência dos vários riscos de morte e seu efeito ao se
eliminar uma causa especifica (ou grupo de causas). Por outro lado, o modelo de
Chiang apresenta limitações que são reconhecidas pelo próprio autor (Chiang,
1970). Neste sentido, Keyfitz (1977) e Wong (1977) afirmam que a eliminação parcial
da causa de morte é de maior interesse por apresentar uma possibilidade mais
próxima à realidade do que uma eliminação total.
Para Guralnick (1966) a morte de um indivíduo pode ser devida à influência
de vários riscos de morte, e não a uma única causa básica de morte (Chiang,1970).
Seguindo a idéia de Chiang, Moeschberger e David (1971), sugeriram que
interações de riscos sejam consideradas como riscos separados de morte. Ainda na
linha de embasamento teórico do método, Chiang (1970) propôs que à eliminação
de um risco específico seria adicionada a eliminação das interações entre o risco
específico e outros riscos.
A esperança de vida ao nascer aparece como um indicador substancial uma
vez que é de fácil entendimento e possibilita a comparação com outras regiões, já
que este não é afetado pela estrutura etária da população. Seu uso se estende além
das fronteiras das Ciências Demográficas, passando pelas mais diversas áreas das
Ciências Sociais. Por exemplo, o Ministério da Previdência Social e empresas de
seguros de vida usam amplamente as tábuas de mortalidade para definir,
juntamente com outros parâmetros, o chamado fator previdenciário para o cálculo
das aposentadorias das pessoas segundo IBGE. Na Paraíba, a esperança de vida
ao nascer no ano de 2006 estimada pelo IBGE foi de 65,23 anos para os homens e
de 72,21 anos para as mulheres, um diferencial de quase 7 anos a favor da
expectativa de vida feminina.
Uma preocupação que surge na construção da tábua de vida diz respeito à
qualidade dos dados de óbitos que, sabe-se, é deficitária para os Estados do
Nordeste (Paes, 2005). No que se refere as causas básicas o percentual das causas
mal definidas no município de João Pessoa no ano de 2007 não ultrapassou 2% do
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total das causas de óbitos sugerindo, assim, que este não apresenta um problema
importante para o município. Deve-se, no entanto, considerar o problema da
cobertura dos óbitos como sendo uma questão a ser investigada. Neste sentido, faz-
se necessário estimar a cobertura dos registros de óbitos para o município de João
Pessoa e aplicar as devidas correções, caso necessário, para, assim, obter maior
fidedignidade na construção das tábuas de vida e nas de Múltiplo Decremento.
Em virtude dos fatos expostos, o presente trabalho busca identificar os
ganhos na esperança de vida, caso fossem eliminadas as causas externas no
município de João Pessoa em 2007 de forma total e parcialmente.
2. METODOLOGIA
2.1. Fontes de Dados
Os dados populacionais foram extraídos do censo demográficos de 2000,
IBGE (2003), e da contagem populacional de 2007, IBGE (2008). O Ministério da
Saúde (2008) apresenta uma estimativa da população residente por sexo e faixa
etária de João Pessoa para 1º de julho de 2007. Os dados levantados referem-se à
população residente do município de João Pessoa e foram desagregados pelas
variáveis sexo e faixa etária. A fonte de óbitos consultada foi a Secretaria de Saúde
Municipal de João Pessoa - Setor de Epidemiologia. Os dados do IBGE e do
Ministério da Saúde estão disponíveis em seus respectivos sites: www.ibge.gov.br e
www.datasus.gov.br.
Para classificar as causas externas fez-se uso da 10ª Classificação
Internacional das Doenças (CID -10) formulada pela Organização Mundial da Saúde
(1993). O Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, do Ministério da Saúde
é a única fonte que divulga os resultados por causa básica de morte no Brasil. Os
Dados de óbitos para o ano 2007 estão distribuídos pelo grupo das causas externas
e suas causas específicas.
2.2. Consistência dos Dados de Óbitos
A análise de consistência dos dados foi feita por duas abordagens: através da
cobertura dos óbitos e das causas mal definidas. A cobertura dos óbitos foi estimada
para os adultos para ambos os sexos, e se referem ao município de João Pessoa no
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ano de 2007. A estimação da cobertura de óbitos para o segmento dos adultos foi
feita através de duas técnicas de estimação das coberturas de óbitos: técnica de
Brass (1975) e Preston et al. (1980). A verificação da consistência das causas de
óbitos foi feita através do percentual das causas denominadas “Sintomas, sinais e
achados anormais de exames clínicos e de laboratório”, não classificados em outra
parte.
2.2.1. Método da Equação de Balanço do Crescimento – Brass (1975)
Traduzido como Método da Equação de Balanço do Crescimento e derivado
de um método proposto por Carrier em 1958, apresenta-se da seguinte forma:
Equação de Balanço de Crescimento de Brass:
( ) '( ).
( ) ( )
N a D ar k
N a N a
+= ++ +
(1)
Onde
( )N a = População na Idade a
( )N a+ = População na Idade a e +
'( )D a+ = Óbitos registrados na idade a e +
r = taxa de crescimento da população estável
k = fator de correção
Se k>1 implica em sub-registro C= 1
k= Cobertura
Se as condições teóricas são verificadas, colocando-se em um sistema
cartesiano os valores podem ser interpretados como D(a) / N(a+) (taxa de
mortalidade) nas abscissas e os valores de N(a) / N(a+) (taxa de natalidade) nas
ordenadas, será obtido um conjunto de pontos linearmente dispostos. Ajustando-se
uma reta e esses pontos tem-se como coeficiente angular, o fator de correção k e
como parâmetro linear, à taxa de crescimento natural r.
O principal problema associado a esta técnica é o efeito dos desvios da
estabilidade nas estimativas, o efeito das idades não registradas e o diferencial de
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sub-registro por idade. Na medida do possível, as violações desses supostos são
controladas na aplicação da técnica.
2.2.2. Método de Preston et al (1980)
Esta técnica faz uso da distribuição de óbitos e da população por idade. A
relação abaixo é usada em populações estáveis.
( )( ) ( ).w
r x a
x a
N a D x e −
=
+ =∑ onde,
N(a+) = número de pessoas de idade a+ em uma população estável.
( )D x = número de óbitos na idade x de uma população observada.
r = taxa de crescimento
Onde, N’(a+) é uma estimativa do número de pessoas de idade “a+”.
Se a população for genuinamente estável, a taxa de crescimento
corretamente estipulada e as declarações de óbitos em populações bem registradas,
N’(a+) será igual a N(a+). Se, entretanto, os óbitos estiverem sub-registrados, N’(a+)
= f N(a+), onde “f” é o fator de correção de óbitos determinado para os valores
medianos das proporções. Os efeitos distorcidos das declarações de óbitos não
registrados que podem causar erros na razão N’(a+) / N(a+), podem ser eliminados
por acumulação, usando uma comparação da população total estimada do número
de óbitos para a população total enumerada
50
50
'w
aa
w
aa
Nf
N
=
=
=∑
∑
e
para o intervalo aberto
ˆ ( ) ( ).(1 . ( )) (75 ).(1 . (75))
ˆ ˆ( ) ( ). ( ).(1 .2 3. ( ))
N a D a r e a D r e
N a N a e a r e a
= + + = + +
+ = −
Onde,
r = taxa de crescimento
ˆ ( )N a+ = número de pessoas estimado de idade a+ em uma população
estável.
( )e a = esperança de vida
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Preston (1980) em seu artigo fornece uma tabela para obtenção das
esperanças de vida varia de acordo com a idade do intervalo aberto.
Uma estimativa mais prática pode ser obtida usando N’(a+) / N(a+), onde é
usado para os valores seqüenciais de “a” desde 5 ou 10 até, 60, 70 ou 80. Se os
pressupostos exigidos pelo método forem satisfeitos, N’(a+) / N(a+) permanece
constante para os diferentes valores de “a”, para o nível médio do completo registro
de óbito relativo à completa enumeração da população. Uma mediana dos valores
de N’(a+) / N(a+) pode usualmente fornecer uma estimativa aproximada da cobertura
dos óbitos. Maiores detalhes sobre este procedimento pode ser encontrado em
Preston et (1980).
Os problemas associados com estas técnicas são os cálculos do ponto de
referência da idade apropriada para o intervalo aberto e a determinação de um valor
apropriado da taxa de crescimento “r”. Para este último será utilizada a taxa de
crescimento populacional obtida através do método de projeção populacional
conhecido como crescimento geométrico.
2.3. Indicadores de Mortalidade
Os indicadores descritos a seguir foram calculados para as variáveis sexo e
faixa etária e foram apresentados em três categorias de análise: adulto, idoso e
geral.
O primeiro deles refere-se à Taxa de Mortalidade a qual foi padronizada para
tornar comparável o sexo e causas de morte. A população utilizada como padrão foi
a estrutura etária da população pessoense em 2007, referente a estimativa do
Ministério da Saúde (2008).
Outro indicador utilizado foi a distribuição percentual para o grupo de causas
externas e suas causas básicas de óbitos, em cada faixa etária, utilizando-se como
numerador o número de óbitos por causas externas ou suas causas e no
denominador o total geral de óbitos por todos os grupos de causas em cada grupo
etário.
O Índice do Perfil de Mortalidade (IPM) relaciona a taxa de mortalidade por
doenças crônico-degenerativas (neoplasias mais doenças do aparelho circulatório)
pela taxa de mortalidade por causas externas. E, esta última, pelas taxas de mortes
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por doenças infecciosas e parasitárias, gerando os indicadores IPMCrônicas/Externas e
IPMExternas/DPIs respectivamente.
Outro indicador apresentado neste estudo são os Anos Potenciais de Vida
Perdidos (APVP) por causas externas. Este foi obtido através de uma proposição de
Romeder e Mc Whinnie (1988), cuja expressão matemática é dada como:
onde:
ai = número de anos que faltam para completar a idade correspondente ao
limite superior considerado (no Brasil a idade superior considerada em geral é 70
anos), quando a morte ocorre entre as idades de i e i+1 anos;
di = Número de óbitos ocorridos entre as idades de i e i+1 anos.
Obtendo o total de APVP por causas externas, e dividindo pelo total de óbitos
dessa mesma causa, pode-se saber o número médio de APVP para cada óbito. Com
esse resultado obtém-se a média de idade que o óbito ocorreu, subtraindo da idade
limite o número médio de APVP (70 – número médio de APVP).
2.4. Tábua de Vida de Múltiplo Decremento
A Tábua de Vida de Múltiplo Decremento permite observar a esperança de
vida, após a retirada total ou parcial de uma determinada causa de morte, de uma
população. Assim, pode-se calcular os anos de vidas que seriam ganhos em
decorrência da eliminação ou redução uma determinada causa específica de morte.
Para esta finalidade será utilizada a técnica proposta por Chiang (1970).
Sua construção diverge daquela da tábua de vida somente pela coluna xq ,
que é substituída pela probabilidade de morte líquida xq • , ou seja, aceita que uma
determinada causa ou conjunto de causas tenham sido excluídas da população.
A probabilidade líquida de morte ( xq ) passa a ser estimada por:
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em que ip)
= estimador da probabilidade de um indivíduo sobreviver de x a
x+n e é igual a:
1 (1 ')ˆ
1 'i i i
ii i i
a n Mp
a n M
− −=+
Onde,
i = 0, 1, 2,..., anos
j = 1, 2,..., r (causas)
in = intervalo de classe para o grupo etário considerado
iM = coeficiente de mortalidade na idade i
'ia = fator de separação na idade i
ijD = número de óbitos ocorridos na idade i pela causa j ou grupo de causas j.
iD = número de óbitos ocorridos na idade i.
Portanto a probabilidade de morte passa a ser estimada por:
Considerando que as tábuas de vida de múltiplo decremento seriam
hipotéticas, em decorrência de se fundamentarem na suposição da inexistência de
determinada enfermidade como causa de morte, pode ser empregada, a
nomenclatura de probabilidade de morte hipotética xq • , probabilidade de sobreviver
hipotética 0xp e esperança de vida hipotética xe • para as suas variáveis.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Avaliações da Qualidade dos Dados de Óbitos
Quanto à avaliação da qualidade dos registros de óbitos, uma vez utilizadas
as técnicas de estimação, tem-se que a técnica de Brass foi a que apresentou os
resultados mais satisfatórios. A Tabela 1 mostra as coberturas pelos métodos de
estimação.
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Tabela 1 – Cobertura dos óbitos por sexo, segundo técnicas de estimação para João Pessoa, 2007. Método de Estimação Masculino (%) Feminino (%) Total (%)
Brass 96,38 95,61 96,00
Preston 93,37 74,06 83,72 Fonte: Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
Paes (2005) destaca que mesmo com o não cumprimento da exigência de
“população estável” devido aos movimentos migratórios - que é um dos supostos
requeridos pelas técnicas de Brass e Preston - as evidências mostram que, os
resultados podem ser aceitáveis. O autor sugere como fator minimizante para o não
cumprimento deste pressuposto, a escolha de um intervalo etário para a estimação
da cobertura que apresente melhor ajuste e que apresente historicamente melhor
qualidade.
Seguindo a sugestão feita por Paes (2005), foi utilizado o intervalo etário para
a estimação da cobertura de óbitos pelo método de Brass para o sexo masculino
como sendo aquele que vai dos 30 aos 60 anos e dos 40 aos 60 anos para o
feminino. Para o método de Preston, foi utilizada a faixa etária que vai dos 40 aos 70
anos para a obtenção da estimativa das coberturas de óbitos para ambos os sexos
e, uma taxa de crescimento estimada para o sexo masculino de 0,01984 ao ano e de
0,01883 ao ano para as mulheres.
Partindo do suposto de que as coberturas apresentam uma tendência de
crescimento ao longo do tempo e de que a capital de um Estado apresente
cobertura superior a este, tem-se, assim, que ao comparar as coberturas estimadas
para a Paraíba por Paes (2005), sugere-se que o método de Brass apresentou
estimações mais plausíveis e de melhor consistência. Tem-se, portanto, que o
município de João Pessoa, no ano de 2007, apresentou uma cobertura estimada
para os homens de 96,4% e de 95,3% para as mulheres, o que pode ser
considerada uma cobertura “muito boa” segundo a classificação indicada por Paes
(2005).
No contexto das causas mal definidas, João Pessoa apresentou uma
proporção considerada muito pequena destes registros, atingindo 1,4% para os
homens e 1,3% para as mulheres. Distribuindo-se estes óbitos proporcionalmente
para os grupos de causas e, estes, por sua vez, proporcionalmente pelas faixas
etárias de cada causa, têm-se menos que um óbito para cada faixa etária. Logo, não
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se faz necessário redistribuir as causas mal definidas em causas definidas, visto o
pequeno percentual destas no montante das causas específicas de morte, o que não
causaria nenhum efeito nas estimativas das taxas de mortalidade.
3.2. Indicadores de Mortalidade
As mortes por causas externas apresentam grande diferencial quanto aos
sexos no grupo dos adultos, sendo este diferencial bastante reduzido para o grupo
dos idosos. Esta redução se deve, entre outros a importante redução das mortes por
agressões entre os homens, que passou de 30,9% no grupo adulto, para menos de
1% para o grupo dos idosos, (Tabela 2). Outra queda no percentual das mortes no
sexo masculino se deu nas causas de morte por acidentes de trânsito, que reduziu
de 6,9% para 0,9% do grupo dos adultos para o dos idosos. Já o sexo feminino
apresentou um percentual de mortes quase que totalmente no grupo das adultas.
Um fato interessante no grupo das mulheres está nas mortes por quedas que,
dobraram o percentual no grupo das idosas.
Tabela 2 - Percentual de mortalidade para os segmentos etários adultos, idosos e geral para ambos os sexos, para o grupo das causas externas e suas causas para João Pessoa, 2007.
Causas de Morte
Masculino Feminino
Adulto Idoso Geral Adulto Idoso Geral
Causas Externas 40,9 2,8 18,8 6,2 1,5 3,4
Acidentes de transporte 6,9 0,9 3,4 1,5 0,9 1,1
Quedas 0,6 0,7 0,6 0,3 0,6 0,5
Afogamento e submersões acidentais 1,0 0,0 0,5 0,0 0,0 0,1
Exposição a fumaça, ao fogo e as chamas 0,1 0,1 0,1 0,3 0,0 0,2
Lesões auto-provocadas voluntariamente 0,8 0,4 0,5 0,9 0,0 0,3
Agressões 30,9 0,7 13,3 2,9 0,0 1,1
Eventos(fatos) cuja intenção é indeterminada 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Todas as outras causas externas 0,5 0,1 0,3 0,2 0,0 0,1 Fonte: Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
As mortes por causas externas foram responsáveis por 18,8% e 3,4% do total
das mortes ocorridas em João Pessoa no ano de 2007 para o sexo masculino e
feminino respectivamente. Este percentual toma números alarmantes quando
observado o grupo dos homens adultos. Tem-se que do total de todas as mortes
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adultas do sexo masculino ocorridas em 2007, quase 41% destas foram acometidas
por causas externas. Destas, 30,9% foram atribuídas as mortes por agressões.
Um fato que chama atenção no grupo dos homens é que na faixa de 15 a 19
anos apresentou no total 62 mortes em 2007 dentre das quais 45 foram por
agressão, ou seja, tem-se 72,6% dos falecimentos ocorridos nessas idades
causados por causas violentas.
Observa-se nas Taxas de Mortalidades Padronizadas encontradas na Tabela
3 que no período de 2 anos a Taxa de Mortalidade Geral pouco se alterou, havendo
uma pequena elevação para os homens e uma leve redução para as mulheres. O
diferencial entre sexo aparece mais explicitamente nas mortes causadas por
acidentes de transporte e, principalmente, quando a causa do óbito é a agressão,
visto que os homens apresentam maiores fatores de risco relacionados as causas de
mortes violentas. Pode-se perceber que as agressões lideraram as mortes no grupo
das causas externas, seguida pelos acidentes de transporte para o sexo masculino.
Nota-se que neste curto período houve uma redução nas mortes causadas por
acidentes de trânsito, aproximadamente 10 mortes para cada 100.000 habitantes e,
uma elevação de mais 18 mortes causadas por agressões para o sexo masculino.
Tabela 3 - Taxas de Mortalidade Padronizadas para o grupo das causas externas e causas de morte por sexo, para João Pessoa, 2005/2007.
Causas de Morte 2005 2007
Masculino Feminino Masculino Feminino Causas Externas 131,1 16,4 132,3 15,8 Acidentes de transporte 34,3 7,5 24,6 5,2 Quedas 6,9 1,8 5,4 1,9 Afogamento e submersões acidentais 4,8 0,9 3,0 0,3 Exposição a fumaça, ao fogo e as chamas 0,8 0,0 1,0 0,8 Lesões auto-provocadas voluntariamente 7,1 1,5 4,2 1,7 Agressões 73,6 4,4 91,8 5,6 Todas as outras causas externas 3,0 0,3 2,2 0,3
Fonte: Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
É interessante observar que as Taxas de Mortalidade por quedas e por lesões
auto-provocadas (suicídios) aumentaram neste dois anos para o grupo das
mulheres, enquanto que para os homens estas mesmas causas de morte
apresentaram redução neste período.
Observa-se ainda as mudanças que ocorreram no comportamento da
mortalidade feminina. Uma redução nas mortes por acidentes de transporte e uma
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elevação na mortalidade destas por agressões. Esta elevação pode ter relação com
o alto índice de violência doméstica que estão sujeitas as mulheres. Segundo o
Ministério da Saúde (2008) de cada 10 casos de violência doméstica em adultos, 8
são do sexo feminino. Nos adolescentes, este número é bem parecido, 78% dos
causos de violência doméstica ocorrem em mulheres.
A Tabela 4 apresenta o Índice do Perfil de Mortalidade (IPM) para ambos os
sexos.
Tabela 4 - Índice de Perfil de Mortalidade (IPM) para os segmentos etários adulto, idoso e geral para ambos os sexos para João Pessoa, 2007.
Categoria Masculino Feminino
Crônicas / Externas Externas / DIPs Crônicas / Externas Externas / DIPs Geral 2,73 3,94 14,58 0,89 Adulto 1,43 6,31 8,15 1,60 Idoso 22,04 0,64 56,72 0,25
Fonte: Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
O IPMExternas para ambos os sexos, apresentou valores maiores que 1 para os
segmentos dos adultos, idosos e no geral, indicando que a população nesta situação
tende à uma longevidade, visto que as doenças crônicas e degenerativas afetam
mais a idosos. Já o IPMDIPs apresentou valores maiores do que 1 pra ambos os
sexos para o grupo dos adultos, indicando uma importante superioridade das mortes
por causas externas em relação as DIPs. Para o grupo dos idosos o IPMDIPs mostrou
que predominaram as doenças infecciosas. No geral o IPMDIPs apresentou valor
maior que um para os homens e menor que um para as mulheres. Este resultado
somente reforça a importância das causas externas sobre as DIPs ara os homens.
Os resultados parecem bastante coerentes e enfatizam o processo de
transição demográfica e epidemiológica que João Pessoa vem passando, ou seja,
envelhecendo sua população e modificando a composição das causas de morte.
A Tabelas 5 mostra a classificação das mortes segundo os anos potenciais de
vida perdido (APVP) para ambos os sexos. Este indicar mostra o quanto cada óbito
“roubou” de vida e a idade média em que os óbitos ocorreram para o sexo masculino
e feminino para João Pessoa no ano de 2007.
15
Tabela 5 - Número de óbitos e APVP’s de 0 a 70 anos para as causas externas e suas causas de morte para ambos os sexos em João Pessoa, 2007.
Grupos de Causas
APVP Óbitos
Nº % APVP/
Nº Idade
% Óbito Média
Masculino Homicídios 11702,5 76,9 40,2 291 29,8 73,3 Acidentes de transporte 2275 15 34 67 36 16,9 Outros acidentes 879 5,8 41,9 21 28,1 5,3 Suicídios 195 1,3 17,7 11 52,3 2,8 Quedas 140 0,9 23,3 6 46,7 1,5 Lesões intenc. indeterminada 25 0,2 25 1 45 0,3 Total 15216,5 100 38,3 397 31,7 100 Feminino Homicídios 832 46,5 41,6 20 28,4 40,8 Acidentes de transporte 457 25,5 30,5 15 39,5 30,6 Outros acidentes 244 13,6 40,7 6 29,3 12,2 Suicídios 218 12,1 36,3 6 33,8 12,2 Quedas 40 2,2 20 2 50 4,1 Total 1790,5 100 36,5 49 33 100
Fonte : Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
No grupo das causas externas, os homicídios foram os que “extraíram” maior
quantidade de anos dos homens no município de João Pessoa, chegando a
aproximadamente 77% dos anos perdidos dentre as causas externas. Os óbitos
desta causa foram mais freqüentes na população jovem adulta com uma idade
média de 29,8 anos. Em segundo lugar, ficaram os acidentes de trânsito, com um
percentual de 15% dos APVP’s dentre o total das causa externas. Os acidentes de
trânsito ocorreram em média aos 36 anos de idade. As demais causas de morte não
atingiram juntas nem 9% dos anos de vida perdidos dentro do grupo das causas
externas, mostrando, assim, o peso enorme dos homicídios e dos acidentes de
trânsito na contribuição do percentual de anos de vidas perdidos para os homens
residentes em João Pessoa em 2007.
Embora em menor escala que os homens, os homicídios foram os que
“extraíram” maior quantidade de anos das mulheres no município de João Pessoa
em 2007, chegando a aproximadamente metade dos APVP’s deste ano. Os óbitos
por esta causa foram mais freqüentes na população jovem adulta com uma idade
média de 28,4 anos. Em segundo lugar, estiveram os acidentes de trânsito, com
16
25,5% dos APVP’s. Estas ocorreram em média aos 40 anos de idade.
Diferentemente dos homens, as mulheres apresentaram um percentual bem mais
elevado de mortes por suicídios, 12,2%. Estes aconteceram em média aos 33,8
anos de idade.
3.3. Tábuas de Vida de Múltiplo Decremento
As Tabelas 6 e 7 mostram a expectativa de vida ao nascer para João Pessoa
em 2007: 68,68 anos para o sexo masculino e 77,63 para o feminino, apresentando
um diferencial de 8,95 anos, fato que corrobora a sobremortalidade masculina. Esse
diferencial a favor das mulheres tem como grande contribuinte a maior exposição
dos homens aos diversos tipos de causas externas, conforme verificado em todos os
indicadores usados neste trabalho.
O diferencial na esperança de vida entre os sexos declina à medida que a
idade aumenta, quase se nivelando em magnitude nas idades mais avançadas. O
diferencial chegou no intervalo de 80 anos e mais com quase 2 anos a mais de
expectativa de vida para as mulheres.Este comportamento obedece aos padrões
globais de mortalidade, visto que as mulheres estão menos propícias aos fatores de
risco, principalmente no que se refere às mortes por causas violentas, do que os
homens.
A eliminação de uma causa de morte por completo, seja ela qual for, é uma
tarefa que na maioria dos casos se torna inviável, seja pelo atual estágio da
medicina, seja por mortes banais e de atuação de combate de caráter mais
preventivo como é o caso específico das mortes por causas externas. Assim, uma
eliminação não total, mas parcial de uma determinada causa de morte, se apresenta
mais plausível e passível de possibilidades reais de eliminação.
Assumindo o pressuposto de que as idades estão sujeitas ao mesmo risco de
morte, foram eliminados igualmente o mesmo percentual entre todas as faixas
etárias. Esta eliminação parcial foi feita tomando como base os percentuais
quartílicos.
17
3.3.1. Causas Externas
Conforme já observado, no município de João Pessoa em 2007, 12% das
mortes foram devido a este grupo de causa, o qual apareceu como sendo a segunda
e sétima causa de morte para o sexo masculino e feminino com 18,8% e 3,4% das
mortes totais, respectivamente.
Observa-se pela Tabela 6 que com a eliminação de 25% das mortes por
causas externas, os homens ganhariam em esperança de vida ao nascer 0,72 anos
o que equivale a quase 9 meses de vida. Se este percentual de mortes fosse
eliminado e aceitando a suposto de que na idade inicial haveria 100.000
sobreviventes, no final da coorte 811 homens a mais estariam vivos. Se a eliminação
fosse, por exemplo, de 50% dos óbitos por esta causa, o número de sobreviventes
aumentaria para 1.642 homens a mais. Com uma eliminação de 75% este número
iria para quase 2.550 indivíduos a mais do final da coorte.
Ainda nesta tabela, pode-se observar que eliminados os óbitos deste grupo
de causa pela metade ter-se-ia ganhos de mais de 1 ano de vida até a faixa dos 24
anos. A esperança de vida ao nascer passaria de 68,68 para 70,13 anos,
apresentando um ganho de aproximadamente 1 ano e meio nas expectativas de
vida ao nascer dos homens. Quando a eliminação é de 75%, o ganho na esperança
de vida ao nascer já ultrapassa os 2 anos e é representando por uma esperança de
vida de quase 71 anos.
É interessante notar que os ganhos com a eliminação parcial das mortes por
causas externas aumentam em aproximadamente 9 meses de vida a mais para cada
quartil. Chegando com a eliminação total a 2,95 anos de vida, sendo que as faixas
de idades compreendidas até os 39 anos obtiveram ganhos acima de 1 ano, e que
até os 24 anos esses ganhos na expectativa de vida eram superiores a 2 anos de
vida. Com a eliminação total das causas externas e supondo que na idade inicial
houvesse 100.000 sobreviventes, ter-se-ia no final do período da coorte 3.368
homens a mais, indo de 31.643 para 35.011 sobreviventes.
Sabe-se que quanto mais a eliminação se aproxima dos 100% maiores são os
recursos e o tempo desprendido nesta tarefa, sendo este limite praticamente
inalcançável. Assim, os gestores públicos podem traças metas menos ambiciosas,
mas, de efeitos consideráveis em ganhos de esperança de vida dos homens
residentes em João Pessoa.
18
Tabela 6 - Tábua de vida de Múltiplo Decremento com a eliminação parcial e total do grupo das mortes por causas externas para a população residente masculina de João Pessoa, 2007.
Grupos Esperança Esperança
ex - e(x-25%)
Esperança
ex - e(x-50%)
Esperança
ex - e(x-75%)
Esperança
ex - e(x-total) Etários de vida de vida de vida de vida de vida
(em anos) (Eliminação 25%) (Eliminação 50%) (Eliminação 75%) (Eliminação total)
(ex) (ex-25%) (ex-50%) (ex-75%) (ex-Total)
<1 68,68 69,40 0,719 70,13 1,449 70,88 2,192 71,63 2,948 1 -- 4 68,98 69,71 0,732 70,45 1,477 71,21 2,234 71,98 3,004
5 |-- 10 65,12 65,85 0,727 66,59 1,467 67,34 2,218 68,10 2,983 10 |-- 15 60,21 60,93 0,723 61,67 1,457 62,41 2,204 63,17 2,964 15 |-- 20 55,32 56,02 0,704 56,74 1,420 57,46 2,148 58,20 2,888 20 |-- 25 50,82 51,42 0,607 52,04 1,222 52,66 1,847 53,30 2,482 25 |-- 30 46,57 47,03 0,451 47,48 0,909 47,95 1,372 48,41 1,840 30 |-- 35 42,23 42,58 0,343 42,92 0,690 43,27 1,040 43,63 1,395 35 |-- 40 37,79 38,06 0,267 38,33 0,537 38,60 0,809 38,87 1,083 40 |-- 45 33,44 33,63 0,196 33,83 0,393 34,03 0,591 34,23 0,792 45 |-- 50 29,21 29,35 0,137 29,48 0,276 29,62 0,415 29,76 0,555 50 |-- 55 25,07 25,17 0,099 25,27 0,199 25,37 0,299 25,47 0,400 55 |-- 60 21,14 21,21 0,071 21,28 0,143 21,35 0,215 21,43 0,288 60 |-- 65 17,45 17,51 0,053 17,56 0,107 17,61 0,161 17,67 0,215 65 |-- 70 14,19 14,24 0,043 14,28 0,087 14,32 0,131 14,37 0,175 70 |-- 75 11,27 11,30 0,030 11,33 0,060 11,36 0,090 11,39 0,120 75 -- 79 8,60 8,61 0,012 8,62 0,025 8,63 0,037 8,65 0,050 80 e + 6,37 6,37 0,000 6,37 0,000 6,37 0,000 6,37 0,000
Fonte: Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
19
As mulheres apresentaram um contingente bem menos expressivo de
ganhos. A Tabela 7 mostra que após a eliminação das mortes por causas externas
apenas 710 mulheres a mais estariam vivas após a idade de 80 e mais enquanto os
homens seriam 3.368 a mais. Ainda nesta tabela, pode-se verificar que a esperança
de vida ao nascer apresentou um ganho de apenas 0,43 anos na esperança de vida,
o que não chega a seis meses de acréscimo. A partir dos 35 anos de idade as
mulheres apresentam ganhos inferiores a 2 meses.
A eliminação parcial feita tomando como base os percentuais quartílicos, não
apresentou ganhos reais de anos de vida. Observa-se que com a eliminação de 25%
das mortes por causas externas, a esperança de vida ao nascer iria de 77,6 para
77,7 equivalendo apenas 0,11 anos, o que não chega nem a 1 mês e meio a mais
de vida. Se este percentual de mortes fosse eliminado e aceitando a suposto de que
na idade inicial haveria 100.000 sobreviventes, no final da coorte 177 mulheres a
mais estariam vivas. Estas sobreviventes passariam para 300 e 532 se a eliminação
fosse de 50% ou de 75%, respectivamente.
O fato desta eliminação apresentar pequenos aumentos nas esperanças de
vida das faixas etárias femininas não indica que estas causas não mereçam atenção
por parte dos governantes, visto os graves problemas sociais gerados por estas.
Entre estes pode-se destacar: a diminuição da qualidade de vida das pessoas e das
coletividades; evidencia a necessidade de uma atuação muito mais específica e
interdisciplinar; além dos traumas físicos e emocionais gerados por este tipo de
violência.
A diminuição das mortes por causa externas não dependem, em modos
práticos, dos avanços medicinais, apresentam-se como fatores redutivos à
prevenção, à conscientização e ao respeito pela vida individual e coletiva. Assim,
eliminar as mortes por esta causa é, antes de qualquer coisa, um dever pessoal e
social
As maiores perdas ocorreram entre as idades jovem-adultos, causando uma
retirada precoce de um indivíduo com pleno potencial de trabalho, gerando uma
perda não só da vida em si, mas, uma perda econômica considerável para o sistema
produtivo do município.
20
Tabela 7 - Tábua de vida de Múltiplo Decremento com a eliminação parcial e total do grupo das mortes por causas externas para a população residente feminina de João Pessoa, 2007.
Grupos Esperança Esperança
ex - e(x-25%)
Esperança
ex - e(x-50%)
Esperança
ex - e(x-75%)
Esperança
ex - e(x-total) Etários de vida de vida de vida de vida de vida
(em anos) (Eliminação 25%) (Eliminação 50%) (Eliminação 75%) (Eliminação total)
(ex) (ex-25%) (ex-50%) (ex-75%) (ex-Total)
<1 77,63 77,74 0,106 77,85 0,213 77,95 0,320 78,06 0,427 1 -- 4 77,64 77,75 0,108 77,86 0,216 77,97 0,324 78,08 0,432
5 |-- 10 73,89 73,98 0,093 74,07 0,186 74,16 0,279 74,26 0,373 10 |-- 15 68,96 69,05 0,093 69,15 0,186 69,24 0,280 69,34 0,373 15 |-- 20 64,08 64,17 0,090 64,27 0,181 64,36 0,272 64,45 0,363 20 |-- 25 59,22 59,29 0,076 59,37 0,153 59,45 0,230 59,52 0,307 25 |-- 30 54,36 54,42 0,055 54,48 0,110 54,53 0,166 54,59 0,221 30 |-- 35 49,50 49,55 0,046 49,60 0,092 49,64 0,139 49,69 0,185 35 |-- 40 44,68 44,72 0,039 44,76 0,077 44,79 0,116 44,83 0,155 40 |-- 45 39,90 39,93 0,035 39,97 0,070 40,01 0,105 40,04 0,140 45 |-- 50 35,23 35,27 0,035 35,30 0,071 35,34 0,106 35,37 0,142 50 |-- 55 30,72 30,75 0,030 30,78 0,060 30,81 0,091 30,84 0,121 55 |-- 60 26,34 26,36 0,025 26,38 0,049 26,41 0,074 26,43 0,099 60 |-- 65 22,10 22,12 0,015 22,13 0,030 22,15 0,044 22,16 0,059 65 |-- 70 18,25 18,25 0,009 18,26 0,017 18,27 0,026 18,28 0,034 70 |-- 75 14,46 14,46 0,004 14,47 0,009 14,47 0,013 14,47 0,017 75 -- 79 10,99 11,00 0,002 11,00 0,005 11,00 0,007 11,00 0,009 80 e + 8,15 8,15 0,000 8,15 0,000 8,15 0,000 8,15 0,000
Fonte: Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
21
3.3.2. Agressões As mortes violentas foram a terceira causa de mortalidade no Brasil. Sendo a
região Nordeste a que apresenta a maior taxa de homicídios total e por armas de
fogo. No município de João Pessoa, as mortes por agressões são se longe a
principal causa de morte dentro do grupo das causas externas para ambos os sexos,
chegando a 70,7% das mortes dentro deste grupo no sexo masculino e a 33,9% no
feminino.
Como a importância das agressões é muito maior para os homens o
resultados a seguir são direcionados apenas para este sexo.
O número de mortes por agressões para o sexo masculino foi tão assombroso
que extrapolou certos grupos de causas de morte. Pode-se dizer que as mortes por
agressão para o sexo masculino foi responsável por 13,3% do total de mortes em
João Pessoa em 2007. Este percentual foi maior que todas as mortes por neoplasias
12,2%, doenças do aparelho respiratório 10,1%, doenças endócrinas nutricionais e
metabólicas 6,4%, doenças do aparelho digestivo 6,05% e doenças infecciosas e
parasitárias 4,2%. As mortes por agressões para os homens só perderam em
número para o grupo das doenças do aparelho circulatório 30,7% das mortes
masculinas em João Pessoa em 2007.
O maior número de óbitos por agressões para os homens ocorreu nas idades
entre 15 e 44 anos, sendo que o ganho na esperança de vida com a retirada dessas
mortes seria de 2,1 anos na faixa dos 15 aos 19 anos e um ganho quase 0,4 anos
na faixa dos 40 aos 44 anos. A esperança de vida masculina iria dos 68,7 anos para
quase 71 anos como mostra a Tabela 12. Cabe ressaltar que com retirada desta
causa de morte os homens apresentariam ganhos superiores a 1 ano de vida em
todas as faixas de idade até os 29 anos.
Observou-se que com a eliminação total das mortes por agressões e supondo
que na idade inicial houvessem 100.000 sobreviventes, haveria após a idade de 80
anos e mais, 2.030 homens a mais no final do período.
22
Tabela 8 - Tábua de vida de Múltiplo Decremento com a eliminação parcial das mortes por agressões para a população residente masculina de João Pessoa, 2007.
Grupos Esperança Esperança
ex - e(x-25%)
Esperança
ex - e(x-50%)
Esperança
ex - e(x-75%)
Esperança
ex - e(x-total) Etários de vida de vida de vida de vida de vida
(em anos) (Eliminação 25%) (Eliminação 50%) (Eliminação 75%) (Eliminação total)
(ex) (ex-25%) (ex-50%) (ex-75%) (ex-Total)
<1 68,68 69,20 0,514 69,72 1,034 70,24 1,560 70,78 2,093 1 -- 4 68,98 69,50 0,524 70,03 1,054 70,57 1,590 71,11 2,132
5 |-- 10 65,12 65,65 0,525 66,18 1,056 66,71 1,593 67,26 2,137 10 |-- 15 60,21 60,74 0,526 61,27 1,058 61,81 1,596 62,35 2,140 15 |-- 20 55,32 55,83 0,517 56,36 1,040 56,89 1,569 57,42 2,103 20 |-- 25 50,82 51,25 0,430 51,68 0,865 52,12 1,303 52,56 1,746 25 |-- 30 46,57 46,87 0,298 47,17 0,598 47,47 0,900 47,78 1,205 30 |-- 35 42,23 42,44 0,208 42,65 0,418 42,86 0,629 43,07 0,841 35 |-- 40 37,79 37,93 0,146 38,08 0,292 38,23 0,439 38,38 0,587 40 |-- 45 33,44 33,53 0,097 33,63 0,195 33,73 0,294 33,83 0,392 45 |-- 50 29,21 29,26 0,054 29,32 0,108 29,37 0,162 29,42 0,216 50 |-- 55 25,07 25,11 0,038 25,15 0,076 25,18 0,114 25,22 0,153 55 |-- 60 21,14 21,16 0,025 21,19 0,049 21,21 0,074 21,24 0,099 60 |-- 65 17,45 17,47 0,017 17,49 0,035 17,51 0,052 17,52 0,069 65 |-- 70 14,19 14,20 0,011 14,21 0,023 14,23 0,034 14,24 0,045 70 |-- 75 11,27 11,28 0,010 11,29 0,020 11,30 0,031 11,31 0,041 75 -- 79 8,60 8,61 0,009 8,62 0,019 8,63 0,028 8,63 0,037 80 e + 6,37 6,37 0,000 6,37 0,000 6,37 0,000 6,37 0,000
Fonte : Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
23
A Tabela 8, apresenta as esperanças de vida e os ganhos absolutos em
expectativa de vida para os homens caso as causas de mortes por agressões
fossem eliminadas. Com uma eliminação de 25%, os homens passariam a ter uma
esperança de vida ao nascer igual a 69,2 anos, um ganho de mais de 6 meses de
vida. Se a eliminação fosse de 50% este ganho passaria de 1 ano de vida a mais e,
se a eliminação efetuada fosse de 75%, a esperança de vida ao nascer iria de 68,7
para 70,2 anos. É interessante notar que com uma redução de 50% desta causa de
morte os ganhos em esperança de vida seriam maiores de que 1 ano até a faixa
etária dos 19 anos.
Se o percentual de eliminação fosse de 25% do total e aceitando o suposto de
que na idade inicial houvessem 100.000 sobreviventes, no final da coorte quase 500
homens a mais estariam vivos. Se a eliminação fosse de 50% dos óbitos por esta
causa o número de sobreviventes aumentaria para 999 homens. Com uma
eliminação de 75% este número iria para quase 1.510 indivíduos no final da coorte.
Em virtude do exposto, pode-se dizer que na balança entre os gastos com
prevenção e os possíveis ganhos que esta pode causar, pode-se afirmar que à
medida que se reduz os óbitos por agressões para o sexo masculino tem-se um
ganho em expectativa de vida ao nascer de mais de 6 meses para cada 25% de
eliminação. Assim, uma eliminação, mesmo que não totalmente, destas causas de
morte acarretam ganhos efetivos em anos de vida para os homens residentes em
João Pessoa.
Vale ressaltar os benefícios humanos e sociais que tais reduções trariam para
a população, visto que a insegurança e o medo gerados pela presença cotidiana
dessa violência interferem diretamente no modo de agir e no comportamento social
de todas as pessoas. Os prejuízos não são somente físicos e materiais, mas
psicológicos e emocionais, cujas maiores vítimas dessa violência são as famílias.
3.3.3. Acidentes de Transporte
Os acidentes de trânsito matam mais de um milhão de pessoas e deixam
entre 20 e 50 milhões de feridos por ano, em todo o mundo. Os países ainda perdem
de 1 a 2% do PIB com gastos relacionados aos acidentes. Em João Pessoa no ano
de 2007 os acidentes de transporte foram a segunda maior causa de morte dentro
24
do grupo das causas externas para os homens e, empatado com as agressões, foi a
maior causadora de óbitos neste grupo entre as mulheres.
A Tabela 9 apresenta um extrato das Tábuas de Vida após a retirada das
mortes causadas por acidentes de transporte apenas para os homens. As
esperanças de vida ao nascer, masculina apresentaram ganhos de 0,5 anos com a
retirada das mortes por acidentes de transporte. As idades que mais apresentaram
percentual de mortos para os homens foram as de 20 aos 49 anos, as quais
obtiveram ganhos de 0,47 na faixa dos 20 a 24 anos e ganho de 0,19 na faixa de
idade que compreende às idades dos 45 aos 49 anos. Com a eliminação total das
mortes por acidentes de transporte e supondo que na idade inicial houvessem
100.000 sobreviventes, haveria após a idade de 80 anos e mais, 737 homens a mais
no final do período.
Tomando como base de eliminação os percentuais quartílicos, os ganhos na
esperança de vida ao nascer masculina seria de 0,13 anos a medida que se acresce
25% nas eliminações. Ou seja, para cada 25% de óbitos que fossem eliminados
desta causa, aumentaria a esperança de vida ao nascer masculina
aproximadamente em 1 mês e meio de vida.
Mesmo o acréscimo em anos de vida sendo pouco, ter-se-ia 183, 367 e 551
homens a mais iniciando a idade dos 80 anos e mais, com a eliminação
respectivamente de 25%, 50% e 75% dos óbitos desta causa no final da coorte e
assumindo o pressuposto de 100.000 sobreviventes na idade inicial.
Devido ao alto número de mortes por agressões, principalmente entre os
homens, pode parecer inexpressivo o contingente e o grau da problemática
envolvendo as mortes por acidentes de transporte. Porém, por traz dessas mortes
estão embutidas atitudes inconseqüentes como consumo abusivo de álcool, excesso
de velocidade, imprudência e mal preparo do motorista assim como precipitação por
partes dos pedestres. Junte a estes fatores a má fiscalização e a não punição dos
envolvidos e tem-se um problema de elevado grau de complexidade.
Os acidentes de transporte é uma causa muito importante nas mortes de
jovens de menos de 35 anos, principalmente do sexo masculino. Os principais
fatores de risco para esses acidentes são excesso de velocidade, direção sob efeito
de bebidas alcoólicas, não-uso de capacetes ou de cinto de segurança e problemas
de infra-estrutura nas rodovias e vias públicas.
25
Tabela 9 - Tábua de vida de Múltiplo Decremento com a eliminação parcial das mortes por acidentes de transporte para a população residente masculino de João Pessoa, 2007.
Grupos Esperança Esperança
ex - e(x-25%)
Esperança
ex - e(x-50%)
Esperança
ex - e(x-75%)
Esperança
ex - e(x-total) Etários de vida de vida de vida de vida de vida
(em anos) (Eliminação 25%) (Eliminação 50%) (Eliminação 75%) (Eliminação total)
(ex) (ex-25%) (ex-50%) (ex-75%) (ex-Total)
<1 68,68 68,81 0,125 68,93 0,250 69,06 0,376 69,19 0,502 1 -- 4 68,98 69,10 0,127 69,23 0,255 69,36 0,383 69,49 0,512
5 |-- 10 65,12 65,25 0,128 65,38 0,255 65,50 0,384 65,63 0,513 10 |-- 15 60,21 60,33 0,125 60,46 0,250 60,59 0,376 60,71 0,502 15 |-- 20 55,32 55,44 0,123 55,56 0,246 55,69 0,369 55,81 0,493 20 |-- 25 50,82 50,93 0,116 51,05 0,232 51,16 0,348 51,28 0,465 25 |-- 30 46,57 46,67 0,098 46,77 0,196 46,87 0,295 46,97 0,394 30 |-- 35 42,23 42,31 0,080 42,39 0,161 42,48 0,242 42,56 0,323 35 |-- 40 37,79 37,86 0,070 37,93 0,141 38,00 0,212 38,07 0,283 40 |-- 45 33,44 33,49 0,054 33,55 0,108 33,60 0,163 33,65 0,217 45 |-- 50 29,21 29,26 0,048 29,31 0,096 29,35 0,145 29,40 0,193 50 |-- 55 25,07 25,10 0,032 25,13 0,064 25,17 0,097 25,20 0,129 55 |-- 60 21,14 21,16 0,023 21,19 0,046 21,21 0,069 21,23 0,092 60 |-- 65 17,45 17,47 0,015 17,48 0,031 17,50 0,046 17,52 0,061 65 |-- 70 14,19 14,21 0,017 14,23 0,034 14,24 0,051 14,26 0,069 70 |-- 75 11,27 11,28 0,011 11,29 0,022 11,30 0,033 11,31 0,044 75 -- 79 8,60 8,60 0,003 8,60 0,006 8,61 0,009 8,61 0,012 80 e + 6,37 6,37 0,000 6,37 0,000 6,37 0,000 6,37 0,000
Fonte : Secretaria de Saúde municipal, João Pessoa - 2008.
26
Segundo o Ministério da Saúde (2008), o acidente com motocicleta é o que
mais mata jovens e adultos em plena idade produtiva. Segundo pesquisa realizada
em 2007 pelo Ministério da Saúde, apenas nas capitais, um mínimo de 290 mil
motoristas/dia dirige após consumo abusivo de bebidas alcoólicas (mais de 5 doses
para o homem; e mais de 4, para a mulher). Quando o acidentado é pedestre, as
faixas etárias mais atingidas são as de 0 a 14 anos e de 60 anos e mais de idade:
crianças e idosos, portanto, correm mais risco de serem atropeladas nas vias.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo pôde-se notar que a qualidade dos registros de óbitos
apresentou aspectos positivos com uma cobertura dos registros de óbitos
considerada “muito boa” para ambos os sexos e, um número de mortes registradas
como “mal definidas” quase que zeradas. Estas evidências permitem concluir que
João Pessoa em 2007, não só teve um alto índice de registros dos casos ocorridos
como também se preocupou em apontar o fato causador destas mortes. Porém,
coletar tão somente não indica por si só boa qualidade dos registros.
O município de João Pessoa apresentou um perfil de mortalidade por causas
externas que se assemelha ao perfil nacional para esta causa de morte: um índice
bem mais elevado nos casos envolvendo homens jovens, entre 15 e 59 anos, para
as agressões e acidentes de transporte.
As esperanças de vida encontradas mostram que as mulheres pessoenses
apresentam uma sobrevida bem mais elevada do que os homens. Este fato tem,
provavelmente, ligação direta com a alta taxa de mortes por causas externas que
foram acometidos os homens visto que estas causas têm impacto direto na
esperança de vida da população masculina. O excesso com consumo de bebidas e
de cigarros pelos homens e o fato das mulheres fazerem mais exames preventivos
também é, possivelmente, fato causador desta maior longevidade feminina.
Pôde-se perceber claramente que no caso das mortes por causas externas
fossem eliminadas no contexto da mortalidade, haveria uma influência direta na
esperança de vida do homem residente em João Pessoa. As mulheres iriam, caso
este grupo de causas fosse eliminado, apresentar ganhos muito pequenos em
esperança de vida. O grande vilão nas mortes masculinas foram os óbitos causados
por homicídios. Dentro do grupo das causas externas, estes foram as únicas causas
27
de morte que mostraram ganhos expressivos e diretos na esperança de vida com
uma eliminação parcial dos óbitos. O fato das demais causas de morte não
apresentarem ganhos reais na esperança de vida caso fossem eliminadas da
mortalidade em João Pessoa no ano de estudo, não significa dizer que estas sejam
irrelevantes ou menos importantes que as mortes por agressões. Todas estas
mortes violentas causam danos materiais, visto o volumoso recurso que é gasto na
prevenção, assistência e reparo dos danos causados. Vale ressaltar que, cerca de
5% do PIB brasileiro é gasto na assistência às vítimas e na reparação dos danos
causados pelas violências. Alem é claro, do enorme problema social que vem junto
destas mortes. Lesões, traumas e problemas emocionais são algumas das
conseqüências diretas que podem ser notadas, bem como a diminuição da
qualidade de vida trazida pelo medo e a repulsa que a violência causa nas pessoas
que se vêem rodeadas pela insegurança diária.
Em virtude do exposto, este trabalho procura reforçar e dimensionar o
problema das mortes violentas e como estas impactam na diminuição da esperança
e da qualidade de vida do pessoense. E, pode servir como auxiliador das políticas
públicas de prevenção, uma vez que se torna economicamente mais viável o
trabalho de vigilância e prevenção do que os gastos com subsídios e reestruturação
das perdas geradas por estas mortes. Assim, não se deve esquecer que eliminar,
diminuir ou suavizar uma causa de morte é, antes de mais nada, dar maior qualidade
e respeito a vida da população.
Uma abordagem do impacto econômico que estas mortes produzem nos
gastos públicos e privados contribuiria para chamar a atenção para a dimensão que
o prejuízo econômico traz para dada sociedade.
Um maior aprofundamento a este trabalho poderia ser dado com uma
investigação das mortes classificadas como conseqüência de “agressões com
intenção ignorada”, que muitas vezes referem-se a homicídios. Ainda no sentido de
ampliar o tema aqui exposto, uma análise do comportamento temporal da estrutura
da mortalidade dessa causa poderia apontar caminhos de atuação no combate e
prevenção dessas mortes.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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