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data da legitimação devia ser mancebo de cêrca de15 anos, tendo nacido pelos anos de 1480.
Casou-se com uma filha de Francisco Porto-Carreiro, da qual houve tres filhos.
Dom. Manuel, sendo Christóvão Jacques fidalgode sua casa, mandou-o ao Brasil, dando-lhe cem milreais para armar dois navios, viagem que começouem 1516.
Foi nessa viagem que Christóvão Jacques, de-pois de fundar uma feitoria em Pernambuco, en-controu ao sul, em um porto de Santa Catarina, novedos companheiros de Solis, e navegou até ao Rio daPrata.
Deu elle o nome de Todos os Santos á grandebaía a que aportou no desempenho de sua comissão.
E' o que nos ensina Rodolfo Garcia.
PONTO 2<' - LIÇÃO 7a
INÍCIO DA COLO~IZAÇÃO. MARTIM AFFO~SO DE SOUSA.
PRIMEIROS NUCLEOS COLONIAIS
Descoberto o caminho maritimo das Indias eaportado Cabral ao Brasil, teve Portugal de solu-cionar dois grandes problemas: - fundar um im-perio asiatico e colonizar um continente de selva-gens.
O genio aventureiro português, que se havia ce-lebrizado nas façanhas maritimas do seculo XV, le-vara muitos de seus patricios a estabelecer-se fórado reino. Primeiro nos Açores, Madeira e Cabo Verde,depois na costa africana, na India e no Brasil.
Durante o reinado de dom Manuel, acusam asestatisticas uma baixa de metade da população por
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esse efeito: - saíam anualmente do país mais deoito mil homens.
Entretanto, não havia, entre os conselheiros dedom Manuel, um estadista capaz de conceber um sis-tema de colonização para o Brasil.
Afim de ser levada a efeito a colonização, eraimprecindivel um tipo de perfeito capitão-mór dacosta, que dela expulsasse definitivamente os cor-sarios e fundasse um centro de ação militar, comona India; fazia-se mistér, em suma, a autoridade deum verdadeiro estadista colonizador.
Afóra isso, a fronteira do Prata, com o litigioregulado aparentemente pelo tratado de Tordesillas,entre Portugal e Espanha, carecia de rigorosa de-marcação.
Foi esse o triplice objetivo da primeira missãocolonizadora do Brasil (1530), confiada por domJoão III, o Colonizador, a Martim Affonso de Sousa,com amplos poderes de governador da Terra doBrasil. verdadeiro legar-tenente do soberano, se-gundo se lê nas Cartas-Patentes de 20 de Novembrode 1530 e no Diario de Pero Lopes de Sousa.
Sua esquadra compunha-se de cinco náus, sendoa capitanea comandada por Pero Lopes; a São Mi-guel, por Heitor de Sousa; a Rosa, por Diogo Leite;a Princeza, por Balthazar Gonçalves; e a São Vi-cenie, por Pero Lopes Pinheiro.
Como substituto legal do capitão-mór, vinha ovigario Gonçalo Monteiro . Veiu tambem Pero Ca-pico, depois escrivão da capitania de São Vicente,que, em 1527, voltara ao Reino. E tambem PedroAnnes, piloto, Henrique Montes, que fôra compa-nheiro de Solis; os fidalgos Pedro Corrêa e João deSousa, formando cêrca de 400 pessôas o total daexpedição, que trouxe ferramentas. instrumentos delavoura e sementes dentre as mais uteis da Europa.
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Apressou-se a partida da esquadra ante a no-tícia do desastre sofrido pela Espanha com a expe-dição de Caboto, além de que se propalava que Fran-cisco I, da França, tratava do aparelhamento de nu-merosa frota de corso, com que pretendia garantira exploração do contrabando em nosso litoral.
A primeira armada de colonização portuguesazarpou do Tejo a 3 de Dezembro de 1530 e a 31 deJaneiro de 1531 montava o cabo de Santo Agostinho,tendo tomado uma náu francesa carregada de páu-brasil e mais duas outras, apresadas por Pero Lo-pes, junto á ilha de Santo Aleixo (Pernambuco).
Após ter reerguido em Pernambuco (Fevereirode 1531) a feitoria destruida pelos Franceses, e feitoexplorar a costa por Diogo Leite, até ao rio Gurupi,aportou a esquadra á baía de Todos os Santos,tendo-se avistado ali com Diogo Alvares, o Cara-murú (branco molhado), e a 30 de Abril chegou aoRio de Janeiro, onde permaneceu tres meses, fazendoaí aliança com os Tamoios e construindo uma casa-forte, uma forja e estaleiro para o preparo das náus,onde se apparelharam dois bergantins de 15 bancoscada um, empregados na exploração dos rios do in-terior.
Prosseguiu, depois, na averiguação de nossacosta meridional até á proximidade do cabo de SantaMaria; tomou posse da terra e lançou padrões noesteiro dos Querandins, do rio Uruguai.
Desta última emprêsa foi incumbido Pero Lo-pes (12 de Dezembro de 1531), que, para esse fim,subiu o rio num bergantim com 30 homens, regres-sàndo á ilha das Palmas, onde os aguardava o restoda esquadra, a qual, a 1° de Janeiro de 1532,.partiupara o N. até Cananéa.
Depois de alguns dias de viagem, surgiu, a 20de Janeiro, a meia legua da abra de São Vicente, onde,desembarcando a 22 de Janeiro, dia de São Vicente,encetou Martim Affonso a sua emprêsa colonizadora,
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fundando a vila de São Vicente, que, verdadeira-mente, foi a primeira capital que teve o Brasil, obe-decendo e mtudo ao regimen comum ás vilas da Co-rôa e ás do Mestrado da Ordem de Christo.
S.~o VICENTErepresenta, assim, "a celula materdo Brasil", segundo se lê na inscrição do seu escudomunicipal, devido a Affonso Taunay.
Na ordem cronologica, é o primeiro, não só dosmunicipios de São Paulo, como de todo o Brasil. Osegundo foi OLlNDA(1535) e o terceiro SANTOS(1545).
Aliás, já anteriormente a 1532, era esse pontoda nossa costa assinalado nos mapas e portulanosquinhentistas por uma torre á beira-mar (Turibiode Medina, Affonso Taunay e Eugenio de Castro).
Já ali foi encontrar Martim Affonso os primeirosmamalucos (mamaluco, segundo Th. Sampaio, vemde mqmãruca, o mestiço).
Diz Th. Sampaio que ao mestiço, oriundo dobranco e do selvagem, deu-se nos primeiros temposo nome de mamaluco, que é como se lê em Gandavo(1576), em frei Vicente do Salvador (1627) e emSimão de Vasconcelos (1664), e que só mais tardefoi que se começou a pronunciar mameluco, confun-dindo-se com a denominação dada aos soldados es-cravos do sultão do Egito.
Os mamalucos paulistas, encontrados por Mar-tim Affonso, eram decendentes de João Ramalho ede Antonio Rodrigues, ali já residentes, de data nãode todo averiguada, e genros dos caciques Tibireçá eCaiubi (Tibireçá, o vigia ou guarda da terra, o maio-ral ou principal; Caiubí, mata-verde).
João Ramalho e Antonio Rodrigues, segundoalguns autores, já entretinham mesmo correspon-dencia com o rei de Portugal.
Ao fundar SÃoVICENTE,Martim Affonso edificoulogo a Matriz, a Casa do Conselho, a cadeia da vila;distribuiu sesmarias, proveu oficios administrativos
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e de justiça, convocou as primeiras vereações, de quefaz menção frei Gaspar da Madre de Deus, em suasMemorias da Capitania de São Vicente, relativas aoano de 1542.
As atas anteriores foram destruidas, com o ar-quivo municipal, por um maremoto, que alagou todoo litoral de SÃoVICENTE.
Esta vila foi, durante 177 anos, desde sua fun-dação até ao ano de 1709, a capital dos Paulistas.
Só a 3 de Novembro de 1709, com a creação dacapitania de São Paulo e Minas do Ouro, deixou deser a cabeça da capitania, que passou á vila de SãoPaulo, elevada a cidade em 1711.
Tendo-se desavindo com os colonizadores, reti-rou-se João Ramalho para Piratininga, e MartimAffonso, em sinal de aliança com Tibireçá e os Guaia-nazes, subiu ao planalto de Piratininga, e ali, na Bordado Campo e da aldeia de João Ramalho, fundou umasegunda vila, sob o nome de Santo André, a 4 de Fe-vereiro de 1533, fazendo entrega a Ramalho da carta-patente de capitão-mór do Campo, título de grandeprestígio entre os selvagens.
Martim Affonso e Pero Lopes regressaram aLisbôa em 1533.
Quanto á fronteira do Prata, feitas as observa-ções astronomicas, parece haver-se concluido queesse rio estava fóra da demarcação de Tordesillas.
Deve-se ainda á expedição de Martim Affonsoum assinalado serviço: - o levantamento da pri-meira carta do nosso litoral, pelo padre Gaspar Vié-gas, em 1534.
QUADRO SINóTICO
Descoberto definitivamente o Brasil, teve Por-tugal de demarcar, desde logo, a vastidão de nossascostas e garanti-Ias contra as incursões de flibus-
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teiros, bem como povoar a nova terra e adminis-trá-Ia por prepostos idoneos.
Esses foram os fins principais da missão colo-nizadora de 1530, incumbida a Martim Affonso deSousa, que a realizou plenamente.
SÃo VICENTE, fundado a 22 de Janeiro de 1532.por essa expedição. é o mais antigo dos municipiosde todo o Brasil. O segundo é Olinda e o terceiroSantos.
Ao fundar SÃo VICENTE, Martim Affonso fez logoas principais edificações, distribuiu as terras e deuas primeiras providencias' administrativas.
João Ramalho e Antonio Rodrigues, antigos mo-radores do local (sem se conhecer a data de suavinda), prestaram-lhe grandes auxilios.
TRAÇOS BIOGRAFICOS
MARTIM AFFONSO DE SOUSA
Fidalgo da Casa Real e Conselho, senhor doPrado e Alcoentre, alcaide-mór da Casa de Bragança,era filho de dom Lopo de Sousa e de Brites de Albu-querque. .
Nacido em 1500, foi pagem de dom João IH, quan-do êste era principe. Passou parte da mocidade emSalamanca.
Casou-se com Anna Pimentel, dama da rainhadona Catharina.
Devido ao prestígio de que gosava junto a domJoão IH, foi nomeado para a primeira expediçãocolonizadora do Brasil.
Camões, na estancia 67 do canto X dos "Lusia-das", fez o elogio de Martim Affonso pelo modoseguinte:
"Este será MarLinho, que de MarteO nome tem com as obras derivado,Tanto em armas ilustre em toda parte,Quanto em conselho sábio e bem cuidado".
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Martinho e Marfim são fórmas paralelas, repre-sentativas de Marfinus, que é derivado de Mars, comonos ensina Epiphanio Dias (pag. 246 dos Lusiadas,por ele comentados).
SISTEMA DE COLONIZAÇÃO FEUDAL DO BRASIL POR DOM
JoÃo m, DONATARIOS E FORAIS. CONDIÇÕES DE VIDa
SOCIAL DOS PRIMEIROS COLONOS
Logo após a partida da expedição de 1530, de-cidiu-se dom João Hl a organizar o povoamento geraldo Brasil, dividindo-o em capitanias hereditarias oudonatarías, segundo o velho sistema de colonizaçãofeudal, já experimentado com proveito nos Açorese na Madeira, e sugerido ao monarca português porChristóvão Jacques e João de. Mello e pelo letradoDiogo de Gouvêa, como sendo o mais convenienteao territorio brasileiro.
Esse sistema de senhorios, - que se frustrara,aliás, em Cabo Verde e na costa da Guiné, - foiposteriormente seguido pelos Franceses no Canadá(Seigneurs), pelos Holandeses (Patrone), em 1630, noDelaware e no Hudson, e pelos Ingleses (Staroste),na Carolina.
A Portugal, país pequeno, com tres milhões dehabitantes e então onerado pela conquista da lndia,não sobravam recursos para realizar, oficialmentee por conta propria, a formidavel emprêsa da defesae colonização da nova terra.
Assim, a metropole distribuiu, por doação, a 13capítães-móres, feudatarios da corôa, o continentebrasileiro, dividido em 15 quinhões, formando 12capitanias, de 30 a 150 leguas de costa cada uma.