tó/2 clríc. - repositório aberto da universidade do porto: home · e que tenha sido o primeiro...
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tó/2 ClríC.
Abel Corrêa da Gosta FLORIDO
DISSERTAÇÃO itóUGUML
APKKfiKXTAhA Á
ESCOLA MBDICO-OIKIIÍGICA DO PORTO
Julho de 1901
\:;ç)erva da Ixoja Verojell^a
1901
ESCOLA MËDICOCIRURGICÂ'DO PORTO Director
^gtor j iò J. d e î ^ o v a e s C o s t a Secretario interino
tZlenjerrte J. dos' Sap tos P, Jupio*
CORPO DOCENTE P R O F E S S O R E S P R O P R I K T A R I O S
1.» Cadeira—Anatomia des* criptiva geral . . . . Carlos Alberto de Lima.
2.» Cadeira—Phyaiologia . Antonio Placido da Costa 3.a Cadeira—Historia natu
ral doa medicamentos e materia medica . . . Illydio Ayres Pereira do Valle.
4.» Cadeira—Pathologia externa e terapêutica ex
, terna Antonio J. de Moraes Caldas. 5.» Cadeira—Medicina ope
ratória Clemente J. dos Santos P. J.or
6 * Cadeira—Partos, doenças das mulheres de parto o dos recemnaseidos. Cândido A. Correia de Pinho.
7.» Cadeira—Pathologia interna e therapeutica interna Antonio d'Olivùira Monteiro.
8.a Cadeira—Clinica medica Antonio d*Azevedo Maia. 9.a Cadeira—Clinica, cirúr
gica . . . . . . . Roberto B. do Rosário Frias. 10.* Cadeira—Anatomia pa
thologica Augusto H. Almeida Braudão. 11.» Cadeira—Medicina legal Maximiano A. d'0. Lemas. 12.» Cadeira—Pathologia ge
ral, seojeiologia e historia medica Alberto P. Pinto d'Aguiar
18.» Cadeira—Hygiene . , João L. da Silva Martins J.or. Pharmacia Nuno Dias Salgueiro.
P R O F E S S O R E S JUBTUADOS
Ssooào medica S Joie d'Acdrads (iramaso, | Dr. José Carlos Lopes.
o '•■ ■ ■ * Pedro Augusto Dias. becoao cirúrgica j Agostinho Antonio do Souto.
P R O F E S S O H E S S U B S T I T U T O S Secção medica José Dias d'Almeida. Secção cirúrgica Luiz de Freitas Viegai,
DEMONSTRADOR DE ANATOMIA. Secção cirúrgica. » . , , Vago
• 'A. Escola não responde, pelas doutrinas expendidas ni, disseitação e eaimeiadasnas proposições. (Regulamento d:t Escola de 23 d'abril de 1840, art." 15JS,0)
A ix)eus Paes
Só a vossa dedicação de Pa.es extremosos, ine ciaram alento am tão longa oatni■uhaàtt. Sois felîaes como PH. sou agors atw»caadov<v! *■,treîtamente
A' SAUDOSA MSMORIA
de
meus irmãos
fjuiz e Çaríos
Um abraço do VOSBO fihel
A. M E U TIO
O REVD."
Saspar José da Costa Florido
Sempre btiiflj sempre *Dê> tiHVoleiite, o voado nomo nesta pagina ropressii la um dever de irratidão.
\&mp
¥yr (Stn/omc de (St<zevedo *ynaia
QÔr- L^arioo (Stwerfc cie -òima
Ç/)r. <î±/Zoée4'io Q/o- (/o QsZcoarw cfrtao
iy cííscipuia- xzc&nacc'do.
S) Ci
C&zpa dc-ccnie da
ÇfCQça CslCedtca-àwutaica do- C/G-X-ÎQ-
Jïos
MetL$ óoiidivscipttlo^ e en| expédiai
Ao meu illustre presidente
O Ex.w
prof. Roberto B. do Rosário Frias
Momçnaqeoi ao f=eu íaíeaío.
^Biologia
^3^1)epoi.s que anato mistas e histolugistas estabe-(qMp leceram definitivamente a doutrina cellular ç^^ demonstrando que a cellula é o elemento fun-•%§!?! damental e primordial de todos os seres f^W> v i v o s» ammaes e plantas — biologistas e
physiologistas ckyublés de chimicos subraet-s terain a cellula a que Dastre com muita rasão
chama microcosmo anatómico, á mesma dissecção paciente que os primeiros haviam appiicado ao organismo inteiro.
^Mostrar que, todos os seres vivos, todos os órgãos, todos os tecidos, muscular, nervoso, con-junctivo, glandular so resolviam em ultima analyse n'este elemento cominum — a cellula - - o que, a despeito de variedades de aspecto, de forma, de
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mil outras complicações, todas, absolutamente todas, derivavam de uma cellula inicial — ovo ou ovulo—tal foi a dupla tarefa que foi levada a effeito de 1838 a 1875 por sábios que se chamaram Eanvier, Max, Schultze, Koeliker, para não citar senão os mais illustres.
Mas, desde 1.873, este elemento anatómico, ou esta unidade morphologica chamada cellula, tem sido objecto de estudo microscópico^ chimi-da parte dê biologistas e chimico-physiologistas que esperam — esperança vã talvez — decifrar o enigma da Vida no dia em que conseguirem determinar as propriedades physicas da materia viva e fixar a sua composição chimica, como se a Vida fosse a pliysica e chimica da materia orga-nisada. .
Depois dos trabalhos de Strassburger, Buts-chli, Flemming, Kunstler, etc., ficou assente que a cellula ê um edifício extremamente complicado e é constituído essencialmente por uma pequena massa de protoplasma, medindo alguns millesimos de millimetro em dimensão linear, e contendo um núcleo.
Não ha, portanto, verdadeiras cellulas sem núcleo, como não ha núcleo sem cellula. Todas as excepçOes a esta regra são apenas apparentes.
Assim, pata' citar um. exemplo, a ausência de núcleo nos glóbulos rubros do sangue de mam-miíeros adultos, explica-se pelo facto de se tratar de cellulas condemnadas a dosapparecerem em breve praso. Ora, o protoplasma - base phy-sica da Vida — como chamava Huxley, ou factor da Vida, segundo "JDonileursky — pode comparar-se a uma esponja cujas malhas contêm uma substancia fluida, transparente, byaiina conhecida pelo nome de hyaloplaáma.
Este hyaloplasm» ou sueco cellular é constituído por materiaes diversos, taes como albu-
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minas, globulinas, gorduras, Irydratos de carbone etc., productos de elaboração do próprio protoplasma. E a esponja que é a parte activa ou viva do protoplasma toma o nome de spongioplasma cujas mallias sâo formadas de fibras ou filamentos ténues chamado mitomas. Estes são compostos de granulações dispostas em forma de collar e reunidas entre si por uma espécie de cimento chamado linina, que é uma variedade de nucleina. As granulações são conhecidas pelo nome de microsomes; ultimo elemento cellular visivel ao microscópio mais aperfeiçoado de qu9 dispomos actualmente, isto é ao que dá um augmente de 2000 em dimensão linear.
Não podendo a nossa vista, por agora, penetrar mais profundamente na constituição do protoplasma, os physiologistas recorreram a hypotheses plausiveis e portanto acceitaveis porquanto se fundam sobre phenomenos physicos bem conhecidos. Assim, partindo da consideração de propriedades physicas de turgescência que possuem os tecidos organisados, e portanto a materia orgânica do protoplásma, o eminente physiologists Nae-gèli propoz a sua theoria de micellios, segundo a qual os microsomas seriam compostos de aggregados de micellios, o estes seriam aggregados de moléculas albuminóides o agua. De resto, é sabido que, estas tormas de agrupamento não são absolutamente peculiares á materia organisada, porquanto o illustre botânico Pfefíer descobriu-as,descrevendo-as sob o nome do tagmas, nas membranas de precipitados dtimieos. De sorte que, se quisermos reconstruir a hierarchia dos materiaes de construcçao do protoplasma na ordem da complicação crescente, temos na base, ou no primeiro gráo, os átomos dos corpos simples, depois as moléculas dos corpos albuminóides, em seguida os micellios. No quarto £ráo os micellios agrupando-se, dão origem,aos micro-
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tomas, primeiro elemento visível de Schwarz ao microscópio; os inicrosomas reunidos entre si pela linina, formam os mitomas. E o protoplasma ou spongioplasma, que é o supposto ultimo da Vida não é mais de um novello de mitomas.
A estructúra do protoplasma nuclear é calcada sobre a do protoplasma cellular; somente os albuminóides que entram na constituição dos mitomas nucleares parecem representar a materia viva por excelleneia, a mais differenciada a de mais alta dignidade e portanto a mais activa.- _
E dizemos isto. porque se repetirmos as experiências de Balbiani, de Gruber, de Nussbaum, W. Roux, etc., cortando uma cellula em duas. vemos que o fragmento qu"-contêm o núcleo repara a sua ferida, se reconstitue e continua a viver, ao passo que o outro fragmento definha e morre. E' pois o núcleo que preside á nutrição, ao crescimento e á conservação da cellula.
Mas, como a substancî». do protoplasma é conhecida pelo nome de substancia organisaãd, é mui natural indagar o que seja esta ultima. Por 1860 Oh. Eobin suppoz tel-a definido suíficiente-mente assignando á materia viva os três caracteres que seguem:
1." Ausência de homogeneidade, 2." asy-metria molecular, 3.° e finalmente —- associação do três ordens de principios immediatos a saber: substancias albuminóides, hydratos de carbone e gordura.
Sabemos hoje, e n'este ponto o accorde é completo entre os sábios, que aquelles três caracteres não bastam para definir a materia organi sada, e pelo que respeita ao ultimo dos hydratos de carbone e as gorduras, são antes productos de actividade cellular do que elementos constituintes da materia viva. Porisso a attenção dos
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chimicos-biologistas se fixou especialmente sobre as substancias albuminóides.
Infelizmente porém, a constituição destas ultimas é extremamente complexa ê o seu numero é excessivamente, grande; de sorte que. não foi pequeno o trabalho para as separar em três grupos ou classes que são hoje admittidas e que se distinguem entre si tanto no ponto de vista phy-siologico como sob ponto de vista chimico a saber: 1.° substancias proteiães ou niicleo-àlbúminoides: são substancias albuminóides completas ou typicas que entram na composição do s-pongioplasma da cellula e sobretudo do núcleo.
2.° Albuminas e globulinas que'abundam no sueco cellular, no sangue, na lympha.
3.° Substancias albuminóides incompletas conhecidas pelo nome de albumoides que contribuem para a formação dos tecidos cartilagineo, ósseo, conjunctivo, etc. Comprehende-se que tenha sido o primeiro grupo, o das nueleo-albuminoi-des, isto é, dos elementos typicos da materia viva, o que merece particular attenção da parte dos chimicos-physiologistas.
Foram os trabalhos dos professores Mies-cher e Kossel sobre as nucleinas, que remontam a ' 1871 e 1892 e as de Lilienfeíd e Yvor Bang sobre as histonas que datam de 1893 e 1899, que nos revelaram a composição dos albuminóides pertencentes ao primeiro grupo. Assim sabemos hoje que estes albuminóides wâo formados por duas espécies de substancias: albumina ou histo-na d'um lado, e nucleina d'outro.
Et, facto interessante, como a nucleina resiste, ao contrario da histona, á acção destrueti-va do sueco gástrico, este ultimo iornece-nos um processo ao mesmo tempo simples o commodo para a analyse dos proteídes, permittindo decom-pol-os nos seus dous elementos componentes.
Lilieníeid isolou a primeira nucleo-histo-na dos glóbulos brancos do sangue; Plosz e Kos-sel extrahiram-na dos glóbulos rubros das aves e reptis; o chimieo sueco Hammarsten, do pancreas, Oswald da glândula thyroidea; flalesoti das amibas e das bactérias, etc. Submettondo a uma analyse methodica a nucleina, o professor Kossel de Berlim, conseguiu, após successivas operações, resolver a nucleina em acido phospho-rico e em uma base crystallisavel a thymina.
Se a analyse da nucleina foi fácil, a do outro elemento, da albumina ou histona foi pelo contrario extremamente laboriosa porque a molécula de albumina ó de uma architectura muito complicada, um edifício em cuja composição entram muitos milhares de átomos. Um chimieo ..muito hábil — o sábio professor do Oollegio de França Schíitzemberger, tentou, ha precisamente vinte e cinco aunos esta ingrata operação, sem todavia o conseguir e isto por duas razões :
1." — Porque escolheu para esse fim a albumina do ovo que é uma mistura de materiaes diversos, e não uma albumina pura.
%k—-O reagente empregado para demolir a molécula de albumina — o hydrato de baryta, foi muito violento, tão violento que o edifício molecular ficou totalmente pulverisado; de sorte que não foi possivel, reunindo os diversos fragmentos reconstruir a molécula de albumina.
0 professor Kossel foi mais feliz. Em vez de operar sobre a albumina do ovo que tem de desempenhar um papel nutritivo, Kossel submet-teu á analyse a protamina. dos salmões do Rheno, já descoberta por iliescher, isto é, uma albumina d'uma vitalidade enérgica, mas de uma organisa-ção e funccionamento physiologico elementar, a albumina da cellula geradora masculina, o teve a
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fortuna de obter immodiatamente uma A~erdadeira l)ase chimica a arginina, em luga» de uns poucos de corpos da serie gorda, aromática, pyridica e saccharina, sem falar em molleculas de hydroge-nio livre, acido carbónico, acético, oxalico etc. que tanto contribuíram para o insuccesso do professor Schutzenberger.
Uma vez reduzida a protamina a um elemento simples, crystallisavel, a conclusão impoz-se; para construir a protamina basta uma base hexónica unida á agua. Examinando outras cellu-las geradoras masculinas, descobriu-se uma serie de protaminas construídas sobre o mesmo typo. E verificou-se mnpre que, essas substancias albumi-nosas eram tormadas d'uuia base ou d'uma mistura de bases hexonicas, análogas - arginina, histidi-na, lysina. Assim as bases hexonicas são o ele-meiíto constante, fundamental e universal de todas as variedades de albumina; predominam, se é que não o constituem exclusivamente como pensa Kossol, no núcleo chimico da molécula albumi-nosa, formam em uma palavra a ossatura da molécula proteica.
Infelizmente a despeito de tantos progressos no domínio da physica e chimica da materia viva, não temos conseguido avançar um passo sequer na explicação dos grandes processos biológicos, taes como a evolução ontogenetica, a heredi-lariedade, a regeneração dos órgãos, etc.
Assim, basta dizer que se admitte hoje no ovulo não fecundado, a existência de três proto-plasmas=l.° iclioplasma de Naegoli. ou protoplas-raa constructor do corpo; 2." dualoplasina do vou Benedon. ou protoplasma nutritivo; 3.° plasma germinativo ou phylogenetico, ou- protoplasma encarregado da trasmissão hereditaria, segundo Jager e Woismann.
Para explicai' a hereditariedade Haeckel
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inventou as plastklulas, Hertvvíg os idioblas-tas, de Vries os pangenios Wiesner os plasomas, etc., etc., quer dizer, que para explicar os grandes phenomenos biológicos, não dispomos até hoje, senão de hypotheses, algumas das quaes são certamente commodas, mas em todas a phantasia impera como soberana. E para provar este nosso asserto em vez de reproduzirmos a critica severa que fazem dessas theorias, o sábio professor de Zoologia e de Anatomia comparada na Sorbornna Yves Deiage no seu bello livro iLa structure du protoplasme et les theories sur l'Iiérédité et les gran-ds problêmes de da Biologie générale» — limitamonos apenas a dizer que n'urna communicaçâo com o titulo de «Nova concepção do ovulo lida no Congresso de Psycliologia nas suas relações com a anatomia a physiologia e a psgchologia compa-rada, reunida em Paris em Agosto do anno passado, o delegado official dos E. U. da America do NorteAndre Poéy apresentou um eschoma da constituição plasmática do ovulo humano não fecundado, em que, além dos três protoplasmas acima referidos, figuram mais dois de sua lavra: in-tellectoplasma, que tem a seu cargo a transmissão hereditaria de faculdades intellectuaes, e psycho-plasma, encarregado de um destino mais ideal—■ a transmissão de qualidades moraes !
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Constituição plasmática do ovulo humano não fecundado
Neva theoria em parte experimental
1." BEGTÃO CENTRAI,
Fupcções psyc£>o-:rQoi?aes serr> corjtjexão directa com o exterior
micLEOLO ( î - ; ^ 0 0 ^ 0 0 ' ^ 0 1 ; ^ ? 3
\ 2.° Nttclema, Miescher 1871 MANCHA 1 3_o phyloplasma, Jãger
QERMtNATIVA W*. ^ p s y c l 1 0 p ] a g m a . p 0 ë y J 8 9 8 GNEF 1S35 g_o M^mhrana mic!fir;i'. Caniov
2." HEGIÃO MTÍDIA
Ftrocções pí jysico iijtellectuaes ero 1'elação corn o exterior
NÚCLEO ! 6.° Intelleetoplasma, Poëy 1898 VESÍCULA ] 7.° Idioplasma, Nãgeli 1884
Nagol 1888 A S.° Rectiçulo nudfãr, Nagel 1S8Í [ 9.° MembranarmcIoar,Nâege]i 1841
QnBMlMATJYA POR. KINJE l'o, ! ;1 :Mi ' ! l i l i i "Hi ; i n u i ii'.'ti- \ ; i c ! > r n I O 4 4
3a
3.* TCEGIÃO PEBIFÏBtCA
purjcções pbys iccr ju t r i t ivas ao .rpesnjo tcnçjpo itjteriotfes ^ exter iores
10.° Deutoplasma F. von Reneden 1870
11.'1 Zona protoplasmatic» .Nagel 1888
VÍTIUJJ0 iî%° Vitellio, Reiehort, 1841 131* Espaço pcriviteUino, Nagel
1888 14.° Zona pellucida ou coi'ion.
Baé 1827
0 presidente do congresso M. Delage não poz tal assumpto á discussão em virtude de se fundar simplesmente em hypotheses.
£#î?Çw
flflfl'n'n'nfrfl'Dfl'D'n'ftfl'flfl'n'fl
Vyi)t)à)à)à)VtíV<DV<!)è)è)è)è)i)
historia clinica
endo o nosso trabalho de versar sobre um , : dos tratamentos tias ulceras, convêm poix
(§$13) antes de nos enveredarmos no assumpto, r&Õ?> apresentar uma definição consentânea com K£iL> o estado actual da scicncia. a i ' Ulcera ó uma perda de substancia dos
tegumentos com pouca on nenhuma tendência á eicatrisação.
Varias teem sido as hypotheses explicativas do phenomeno mais ou menos extravagantes desde as que attribuera a sua formação, á acção de um humor acre, irritante, destructivo, até Scarpa que pensava que resultava da absorpoão dos tecidos pelos lymphaticos e pelas veias.
Actualmente considera-se a ulcera como
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produzida por uma mortificação local, uma desag-gregação molecular; a sua localisação nas regiões onde a circulação se faz mal, a idade avançada, a sua pertinácia nos indivíduos debilitados parecem bem ajustar-se ás ideas recentes sobre a sua etiologia.
Varias classificações tem sido apresentadas desde, a cakotica classificação dos antigos cirurgiões, baseadas — nos seus caracteres secundários como a sede, complicações, tratamento... até Delpecli que só admittia como ulcera a solução de continuidade dependente de uma díathe-se. Mais modernamente os auctores, fundando-se sobre a sua etiologia, classificam às ulceras em Especificas• ô'u diathcsicas (ulceras gera es de Bell o de Boyer) ligam- se a uma disposição viciosa da constituição— são as ulceras cancerosas, as herpeti-ças as syphiliticas etc.
Symptamaticas (sympathicas) isto é, coexistem com uma outra alteração mais grave que a propria ulcera. Taes como as que são entretidas por um agente irritante, uma necrose, carie etc.
Ulceras simples ou iãiopalhicas que se não ligam como symptoma a uma aífecção local coexistente, o que por outro lado não reconhecem por causa uma alteração constitucional —- um vicio geral bem definido.
As ulceras especificas não representam uma entidade mórbida; são antes a manifestação de uma affecção geral.
As symptom atiças curaiu-se quando se supprime o agente irritante, carie, etc.
Ficam-nos as ulceras simples que como dissemos não dependem d'outra lesão concomitante; isto é, constituem de persi só a doença. Outr'ora julgavam-se frequentes; o seu numero tem dimi-nuido e tende a desajpparecer com os progressos da anatomia pathologica ficando apenas as nice-
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ras simples que como diz Terrier—não sio senâo «ulceras de causas desconhecidas>
É sobre estas que incide o nosso trabalho. Será facto averiguado que as ulceras estão
ligadas a alterações das artérias, das \eias, dos nervos etc., e o estado constitucional de occasião não desempenhará um papel capital da sua eclosão?
Inicio da ulcera
A eclosão da ulcera varia muito; se é o resultado de um traumatismo, o seu inicio ó simples; se houve contusão ou vesicaçâo, a solução de continuidade é duradoira o na maioria dos casos tende a augmentai1 cada vez mais.
As pústulas, as phlyctenas nos debilitados, o ecthyma cachctico, originam pela sua queda, a ulcera. N'estes casos a epiderme desliga-se e deixa desnudada a camada] de Malpighi que se inflamma e se torna ulcerosa. As cellulas epidérmicas da camada do Malpighi proliferam então, e acamada superficial da epiderme não se keratinisa como uo estado normal. A camada córnea da epiderme íica delgada e pouco consistente. Ao menor attrito esta camada cornea é destruída, a camada de Malpighi é posta a mi e assim se forma uma superfície mais ou menos extensa e suppurante.
So qualquer agente irritante ou traumático incidir sobro esta superficie, a ulcera augmenta desmedidamente.
A' inspecção da ulcera, constatamos uma superfície ligeiramente papillar de gommos carnosos: a pelle desappareceu por completo e, em
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logar da derme encontramos sob o tecido embryo-nario um tecido fibroso muito denso.
As ulceras pela propagação do fprocesso inflammatorio podem originar lesões mais ou menos graves nos órgãos subjacentes ; assim, tem-se notado o atheroma nas artérias — é facto averiguado a coexistência do atheroma arterial'nos portadores de; ulceras varicosas. Nos músculos tem-se ho-tado uma myosite intersticial com infiltração gordurosa; degenerescência grannlo-gordurosa dos feixes primitivos. Os nervos segundo Grombaut tem as bainhas tendinosas ossificadas. Os tubos nervosos são em menor numero, o tecido conjunctive ê mais abundante que no estado normal, e mesmo em volta dos tubos sãos a bainha de Hanle é muito mais apparente As fibras destruídas parecem ter desapparecído por um mechanism o análogo ao originado pela atrophia depois da secção do nervo. Quénu verificou lesões nervosas variando d'uma simples dilatação dos vasos com hy-pertrophia pouco considerável do tecido conjunctive perifascicular até a uma reducção do tecido nervoso por uma sclerose a um tempo extra e in-trafascicular com formação na espessura dó-cordão nervoso de um verdadeiro tecido cavernoso; no entanto isto não está apurado, é provável que em um futuro mais ou menos proximo anatomo pathologistas desvendem o assumpto que até agora tem caminhado apenas em um mar de hypotheses.
Por ultimo falaremos das lesões ósseas. Havendo nas ulceras um trabalho inflammatorio, claro é que tal processo evolucinando proximo de superficies ósseas, tenda a propagar-se em primeiro lugar ao periosseo, e assim é — o porios-seo augmenta de espessura e segundo os aueto-res do 'Compendium em uma ulcera da perna, a tibia aprësentava-se irregular e granulosa, a pro-
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pria tibia esponjosa e: cavada de aureolas eo canal medular consideravelmente alargado. Reclus fala-nos de hyperostoses consecutivas a ulceras rebeldes da perna.
Facto notável é que as ostéites provenientes de ulceras mui raramente são destructivas; do ordinário são productivas em graus diversos, — umas vezes a superficie dos ossos é tomentosa e o diâmetro parece augmentado de volume, outras vezes ha a formação de osteophytos stalacti-íbrmes, ou em aresta, A osteite condensante é muito rara.
Poderiamos entrar em largas considerações sobre a lormação dos osteophytos que nem sempre se localisam nos ossos ; não nos demoraremos; não tazem. parte do assumpto que, pretendemos tratar.
Localisaçãb das ulceras
E' facto incontestável que as ulceras tem uma predilecção especial para os membros inferiores. A explicação de tal eleição antolha-se-nos fácil se attendormos aos seguintes factos: Estão mais expostos nue os outros membros aos traumatismos, supportam o peso do corpo, o que digamos, de pouca importância seria, se o seu modo de reacção pathologica estivesse a par dos membros superiores (Temer.), A circulação venosa e lymphatica é nos membros inferiores muito menos activa que em qualquer outra região. Tem-se incriminado a lueta do sangue venoso contra a acção da gravidade. E' assim que Gerdy notou que as varizes são mais abundantes nos indivíduos de grande estatura attingidos muitas vezes de
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phlebectasia por causa do longo caminho que o sangue n'elles percorre. As ulceras da perna parece terem mais predilecção pela metade inferior e em qualquer altura parece localisarem-se de preferencia na face interna. Michel Schreider aventa qUô tal frequência não tem relação alguma com o trajecto da saphena interna e que a ulcera escolheria a pouca espessura das partes molles a este nível.
De ha muito se reconheceu que a perna esquerda era mais vezes lesada que a direita. Boyer invoca o habito que tem os obreiros de conservar a perna esquerda para doante para au-gmentar a base de sustentação. Assim está ella mais exposta aos traumas que laceram ou contundem a pelle. Varias outras explicações tem sido dadas como a compressão da veia ilíaca esquerda pelo S ilíaco. Ainda Richerand invoca antes a debilidade do lado esquerdo que parece estar em harmonia com Bordeu e Dupuis que estabeleciam distincção, entre a metade direita do homem o a sua metade esquerda; dizem elles que a coxa, perna e pés esquerdos tem menos força que as do lado direito. E ' ainda Richerand que affirma que as artérias crural e subclávia do lado direito são quasi sempre mais volumosas que do lado esquerdo. Se assim é, se a irrigação é menor, compre-hende-se a menor actividade funccional, d'onde a menor resistência aos agentes traumáticos, menor defeza orgânica, eonsegmntemente trabalho mais demorado na reparação.
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A frequência das ulceras dá-se especialmente nos homens. Comprehende-se bem porque estes mais que as mulheres, estão sujeitos a toda a casta de traumatismos pela variedade de profissões que exercem ; segundo uma estatística de Parent Duchàtelet a percentagem seria de 3,33 para 1 mulher.
As profissões tem uma importância capital; não nos alongaremos — frizamos apegas que as profissões que obrigam o homem a permanecer muito tempo de pó, são expostos mais que os outros a ulceras das pernas ; acrescentando ainda a edade, teremos assim falado nas causas predisponentes.
Quanto ás causas immediatas já accentuan t s bem, que entre ellas occupa o logar de honra o traumatismo.
Depois das considerações expostas, diremos algo da regeneração das ulceras. A tendência do organismo sempre que é alterado na sua consti-
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fcuícão e disposição dos seus elementos, é voltar ao estado primitivo, ao estado de equilíbrio.
Cada elemento anatómico uma vez nascido desenvolve-se e nutre-se! 0 estudo da regeneração não pôde separar-se da geração; esta não cessa em nenhuma epocha da vida que continua sem interrupção; as modificações nutritivas da epiderme originam a sua queda, precisamente como a queda do íructo maduro ; de maneira que, a repro-duccão dá-se depois de cada queda. Como se ve a regeneração das partes de origem ectodennica é uma das condições fundainentaes da existência de todo o organismo animal — regeneração que não faz senão continuar directamente sobre o adulto o que primeiro teve logar no embryão. A caducidade que se observa nos productos de origem ecto-dermica está ligada ao facto da sua geração continua. Esta successão de plienoinenos não devo ser assemelhada á regeneração ou cicatrisação dos tecidos constituintes, órgãos de origem mesoder-mica e vice-versa, contrariamente ao que fazem alguns physiologistas ; esta geração contínua está subordinada ao desenvolvimento quer de um chorion ou derme, quer lisa ou papilaiv quer d'um foliculo ou matriz papilar ou bulbar que atapeta o epithelio. A regeneração é nuppíetiva quando reproduz partes inteiras, complexas dissirnilares ou como tal consideradas a começar na epiderme.
E' completiva quando repara e reproduzo que ha de simples no organismo — é a reparação no entender de vários cirurgiões; é a cicatrisação, é a regeneração propriamente dita — quando nos animaes se dá a reproducção inteira de um órgão. A regeneração dizíamos, é semelhante á geração
e isto quer as circumstancias que a conduzem sejam naturaes ou accidentaes. A regeneração pa-thologica (accidental) não ó mais que uma rege-
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neração^ physiologiea exaltada pela solução de continuidade (Roux). A regeneração da ectoderme que mais interessa ao nosso caso não ó uma regeneração «to sentido rigoroso da palavra; é ainda uma geração como acima affirmâmes com a simples differença de não se manifestar de uma maneira tão activa corno no primeiro caso. A verdadeira regeneração epidérmica nas regiões em que houve a ablação, está subordinada á membrana que a conduziu a um certo grau de desenvolvimento.
A regeneração dá-se por duas maneiras, ou por ilhotas em um ou vários pontos da superficie da ulcera sem continuidade com a superficie da epiderme ; ou por uma substancia hyalina finamente granulosa na qual apparecem pequenos núcleos que se estendem á superficie dos gonimos carnosos a partir da periferia da ulcera.
Eguaimente as cellelulas epidérmicas que cercam a ulcera avançam por escorregamento como se fossem impellidas para o centro.
} Parece que pelo que havemos dito, a regeneração _ das soluções de continuidade não é mais que a cicatrisação dos elementos anatómicos destruídos. Para que isto se dê é necessário que a formação de gommos carnosos se faça. E' fora do duvida que a fibrina, os hématies e os leucocytos associados ou não em coágulos, não vêm tomar parte na regeneração dos elementos anatómicos destruídos ou tirados, mas sim á hypergenese dos mesmos tecidos.
Os coágulos, os derrames sanguíneos, são um obstáculo á cicatrisação ou reunião por primeira intenção.
Notemos de passagem que a reunião inime-diata diffère bem anatómica e physio logicamente da reunião mediata ou por segunda intenção. Esta ê devida a uma regeneração dos tecidos divididob
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ou a uma geração clos tecidos dérmicos (cieatrisa-ção) entre as extremidades affastadais ; regeneração lenta como a geração arrastando uma demora correspondente ao restabelecimento nos seus usos quando é possivel. Quanto á reunião immeãiata não consiste ; em uma regeneração de elementos anatómicos entre outros elementos da mesma espécie, mas sim em um collamento das extremidades cortadas dos elementos cuja substancia ainda não alterada, nlo soffrendo ulteriormente nenhuma modificação molecular nem de structura, continua pelo corúrario a troca molecular nutritiva d'uma a outra parte collada como se ellas não tivessem sido divididas. A reunião mediata parece não differir demasiado da enxertia dermo-epider-miea que nos propomos estudar; esta como aquel-la tendem á reparação das soluções de continuidade com a differença da superioridade da segunda nos seus effeitos rápidos, applicavel a todos os casos e preferível na maior parte,
A enxertia dermo-epidermioa tão pouco ou nada posta em pratica no nosso paiz antolha-se-nos que deveria ser olhada com mais attenção at-tendondo a que, como temos visto de lia poucos annos nos hospitaes e particularmente, as ulceras enxameiam e constituem uma verdadeira Pieuvre hospitalar.
Não é raro verem-se sofirer de taes lesões annos e annos não poucos individues—e o caso da nossa observação vem comproval-o —boa estrella guiou o doente que suggerin este trabalho, a instalar-se n'uma das salas de clinica cirúrgica apóz uma peregrinação,, longa peregrinação de 2 annos pelos hospitaes de Lisboa e outros d© provinda, em busca da cura da sua ulcera.
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çStiôicações
cura das ulceras pela enxertia dermo-epider-rnica é indicada em todas as soluções de continuidade atonicas, em todas as ulceras ou feridas enormes, erufim em todas aquellas que forem morosas na sua reparação quer ainda, podemos affirmar talvez, em umas e
outras, embora estejam ligadas a uma diathese, sempre que possamos contar com a vitalidade dos tecidos e estado geral do individuo mediata ou iminediata-mente. E dizemos assim porque, ainda mesmo em caso de ulcera de fundo diathesico, não poderemos por meios módicos reduzir a diathese ao minimo para obrarmos com probabilidades de cura? Nas feridas produzidas por ai-rancamento, nos grandes
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descalabros, * nas vesicações largas, nas queimaduras, nas ablações de tumores enormes com adhe-rencia á pelle — que porisso não pode ser appro-yeitada para cobrir os tegumentos subjacentes — isto è n'aquelles em que a reunião completa é impossível, -— então a enxertia desempenha um papel primacial; então desempenha um duplo ou tripulo papel de reparação 'mais breve, obsta á formação de cicatrizes viciosas ou mesmo disformida-des e ainda evita a possibilidade de infecção da ulcera ou ferida pela sua exposição durante muito tempo aos agentes infecciosos.
Comprehende-se a importância do methodo nas regenerações após a ablação de tumores da face em que a esthotica se deve conservar sobretudo quando se trata do sexo frágil.
Haura grupo de ulceras que vários aucto-res apresentam como de uma grande gravidade — as ulceras circulares dos membros — estas, dizem, excepcionalmente curam embora se obrigue o doente ao maior repouso; explica: n o caso pela retracção continua da pelle para cima e para baixo da solução de continuidade, impedindo assim a epi-dermisaçâo pathologica ou accidental (Delage) que se faz da periferia para o centro.
Folgamos deveras em dar na observação.fi-nal d'esté trabalho, um desmentido formal ' a tal asserto; e não se diga que s© trata de solução recente—caso em que elles dão alguma probabilidade de cura. Mas as indicações vão mais longe. M. Gersuny (1897) diz ter utilisado o methodo dermo
* Foi assim que Keverdin pela enxertia reparou toda a pella d'um oratieo eia um caso do arranoanitmto do couro cabeUudo.
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epidérmico (Thiersch) para encher as perdas substancia nos órgãos ôccos; 11'um caso de occlusão cicatricial da laryngé que sobreveio em uma crean-ça após uma tracheotomia.
G-ersuny excisa a cicatriz e transplanta um retalho tirado á coxa do mesmo, que estava com-pletamente adhérente no fim de 5 dias. É ainda M. Gersuny que, n'um caso de aperto urethral cicatricial, transplanta com successo um retalho cutâneo ao nível da cicatriz primeiro avivada.
Ainda a enxertia está indicada no lupus tuberculoso; segundo estatísticas francezas, o resultado tem ido alem de toda a espectativa.
É muito empregada na clinica de Leipzig.
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A marcha da enxertia dá-se no fim do '24 horas; o retalho parece mais branco, mais espesso, inchado, amollecido: no fim de 48 horas está circundado de uma pequena bordadura cinsento-pe-rola que avermelha ao 4.° dia e torna-se nacarado ao 5.°; depois nova aureola vermelha o cerca e as ilhotas A ão assim crescendo, emquanto a orla marginal^ progride por sua vez e avança ao seu encontro. É pela periferia que o retalho obra — d'ahi a indicação de multiplicação dos centros de epider-misaçâo. Gomo actua a enxertia? Histologistas e biologistas depois de um trabalho aturado assentaram que, a presença do enxerto em uma ulcera ia estimular as cellulas embryonarias dos gommos carnosos a uma epidermisaçâo. Jfl parece assim ser
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porque os enxertos applicados necrosam e cahent como tivemos occasião de ver na nossa observação; o não repugna admittir que no method o de Thiersch, a nova formação da pelle seja apenas o crescimento do retalho dermo -epidérmico applicado e que adhira na integra, porem no methodo epidérmico de Reverdin náo nos parece que o retalho leve comsigo elementos vitaes suíficientes para uma simples adhesão orgânica pelo que somos levados a crer que, pelo menos, n'este caso a epider-misação da ulcera é o resultado do estimulo com-municado pelo retalho, espécie de crystallisação orgânica em que o fundo da ulcera seria a agua mãe e o retalho o crystal-centro.
Uma experiência de Bryant parece lançar por terra a amrmação acima. — «Em um homem branco que tinha uma ulcera da perna transplan-tou-lhe quatro enxertos de pelle de um negro, que reunidos não excediam o volume de um grão de trigo. Em dez semanas os enxertos estavam reunidos e formavam uma placa do pelle negra vinte vezes maior que os retalhos primitivos — d'onde concluiu que os enxertos crescem pela proliferação das suas proprias celluias.
A objecção de Bryant não tem valor. Quem nos diz que a cellula, além de despertar a formação da epiderme não desperte n'aquello local a íuncção pigmentar V
Não é de hoje que a biologia admitte a influencia da visinhança e do siéstraetum no traçado da directriz que segue ara dado grupo cellular na sua evolução orgânica e os factos do impregnação ovular ostão ahi bem patentes para demonstrai"' essa influencia, Náo se ensina em pathologia geral que mulher cohabitando primeiro com um branco de quem teve filhos, passando a viver com um preto pode ter filho branco, polo menos o primeiro do segundo leito? A immunisação pelas vacci-
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nas não será também uma impregnação cellular coinmunicativa transmittindo-se da cellula mão para cellïilas filhas ?
Assim pois a formação da pelle negra em um branco enxertado, não é a nosso ver mais do que a resposta das cellulas embryonarias ao estimulo das cellulas transplantadas — uma subordinação ao determinismo bio-pigmentar.
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Deflandre e Oarnot affirm am que, quando uma enxertia epidermica.negra 6 transplantada sobre a pelle branca, augmenta e forma uma mancha negra; o centro da enxertia ó mais pigmentada que os bordos. A periferia apresenta uma zona de extensão de 1 millimetre do cor intermedia. 0 crescimento d'esta mancha a principio muito rápida, demora mas persiste ainda no fim do 4 mezes.
Pelo contrário se se transplanta um retalho branco sobre epiderme negra a enxertia mallogra-se ou dosappareco rapidamente.
Parece pois que as cellulas apigmentadas e as substituem.
Das experiências de Bryant e de Carnot deduz se: — se as cellulas do enxerto transmittem as suas propriedades pliysiologicas ou pathologi-cas, bastante cuidado deve haver em não íazer enxertos tirados de indivíduos debililados, portadores de doenças virulentas, de syphilis, etc.
E ! claro ainda que nunca se iazem enxertos em indivíduos velhos - i s to mesmo está explicito no principio d'esté capitulo.
Jamais alguém se lembrou de fazer enxertos de tal natureza.
cffííeifíoèos âe enxertia* tecfínica*
, , enxertia pode fazer-se por dois processos ; nj>X 01 se applicnm sobre a superficie de gom-
Çi'^y mos carnosos somente a epiderme o a ca-vfes O- mada superficial da derme — Pequenas en-•is-p-t xertias epidérmicas ( Keverdin 1869 ) ou se
^' transplantam não só a epiderme mas tam-bom a derme — Or andes enxertias ãermo-epidermi-eas. (Thiersch 1885).
E sem duvida a Ueverdin que se deve o processo de cicatrisaoão das ulceras pela enxertia.
Keverdin depois de innumeras experiências no hospital de Paris, então interno (1869) concluiu que, para obter resultado satisfatório era necessário que com a camada cornea se levasse no enxerto a camada de Malpighi. A camada cornea
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formada de cellulas cuja evolução é terminada, não pôde produzir elementos novos; concluiu ainda que a enxertia é aleatória quando feita em superficie sangrenta — e ainda quando mergulhada na profundidade dos tecidos—. Nas escavações profundas como nas amputações, a enxertia não dá resultado — é necessário qne a proliferação dos gommos carnosos attinja o plano superficial da derme. Então o trabalho proliferative faz-se com todas as probabilidades de suecesso.
Em seguida é necessário escolher o bom momento de praticar a enxertia. Se for antiga, cs-pera-se que os gommos carnosos sejam firmes, grandes, pouco sangrentos, superficie regular o secca — é necessário ainda não havei' phénomènes inflammatories em volta.
Em, caso de hypertrophia dos gommos carnosos, a abrasão pelo bisturi e melhor que pela cureta; forma-se uma camada lisa regular. Deve-se expulgar o mais possivel da ulcera todo o agente infeccioso que porventura ahi possa estai'. Após estes preliminares, Eevevdin profere para os enxertos a epiderme da região interna da coxa; o melhor processo para elle era lazer com os dedos da mão esquerda uma prega na pelle e tirar um fragmento de alguns millimetres quadrados por meio de um bisturi, lanceta ou faca. Em seguida, com o auxilio de uma pinça, estendia o retalho. ipobre a superficie dos gommos; por esta forma vários retalhos, eão dispostos sobre a solução descontinuidade attendendo a que a distancia entre si deve ser de 2 a 3 millimetros.
Não é indifférente a disposição destes retalhos epidérmicos ; segundo os trabalhos de Re-veifdin os retalhos collocados proximo da periferia, desesnvolvem-se mais depressa que no centro; em breve,.se> nota uma serie de pontes que ligara estes nnelffios-de epiderraisayão á parte marginal da
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ulcera. Antes e depois da enxertia deverá usar-se da solução de sal marinho a 0,6 "/„.
Uma lamina isoladora, lamina de estanho, ou penso antiseptico, algodão iodoform ado etc \é conveniente proceder de forma que o penso não execute, nem grande compressão, nois- se desloque; em qualquer dos casos prodnz um saintement he-morrhagico que desloca em continent o os retalhos applicados,
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O segundo, processo (Thiersch) na essência, não diffère do methodo de Ecverdin senão em ap-plicar sobre a superficie de gommos carnudos não só a epiderme como no primeiro processo mas ainda a camada pãpijlar c a camada lisa iimnodiata-monte subjacente ao stroma derinico. Náo emprega os pequenos retalhos mas sim tiras de derme e epiderme da largura de 1 a 2 centimetres, e de comprimento variável por meio de uma faca análoga ás usadas em histologia; á medida que se vão tirando, colloc;un-se em unia cuveta com agua salgada a 0,6°/,.: outros retalhos «ão consecutivamente tirados e conservados nas mesmas condições até a applicaçHo que se faz sobre toda a ulcera embri-cando-as pelos seus bordos por forma a toda superficie ficar coberta. Penso e compressão. N'um e n'outro processo, o penso é levantado cinco dias depois. Em seguida será tratada apenas com pen sos antisepticos.
Tiersch não emprega como antiseptico senão
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a agua fervida, salgada a 6 por mil para não com-prometter a vitalidade dos enxertos; Tillmanns usa a follaa de estanho untada em azeite esterili-sada tendo sido pre viam ente esterilisada com o sublimado. Outros cirurgiões usam antisepticos ordinários; d'onde se deduz que a questão de penso ó secundaria logo que a solução de continuida-do se conservo asepfcica. Heydenreioh diz que o ponto capital da operação de Thiersch consiste, não na natureza do retalho - mas na ablação total dos gommos carnudos e na applicaçào do enxerto sobre uma superfície lisa e bem unida.
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&âservapão / fi \ FE RM A RU OE CIAS 10A CIRÚRGICA I
F. P. M, solteiro. 15 amras, estudante, natural de Aveiro entra para o Hospital G. de S.t0 Antonio cora uma ulcera na metade inferior do terço medio da perna esquerda.
ANTECEDENTES HEREDITÁRIOS —Seu paC íal-lece aos 60 annos e maisnâo sabe'-senâo que soffria do fígado c de varizes nas pernas que por algumas vezes ulceravam; de resto, homem robusto, i mãe ainda é viva, com 36 annos, foi em tempo atacada de conjuuclivites; é regularmente saudável, apenas sofíre em consequência de um parto de prolapso uterino.
Tem dois irmãos, saudáveis!
ANTECEDENTES PESSOA*»—T«3VC S Varíola eifl -•reauça ; foi atacado por vezes de fiebres intermittentes que curava em breve ; de quando em vez appa-reoiam-lhe adenites submaxillares — rebates ganglio-
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tiares que desappareciam depois de uma temporada de banhos de mar. Parece haver sido atacado ha dois annos, epocha a que remonta a lesão actual, de rheumatismo articular agudo (?), e ainda tem tido por varias vezes conjuuctivites simples.
ESTADO ACTUAX - KSTADO CONSTITUCIONAL — A' simples inspecção fácies escrophuloso, pallido com uma eonjunctivite direita. 0 exame demorado dos principaes apparelhos nada nos dá de anormal. Como na evolução e pathogenia das ulceras as urinas nos fornecem elementos preciosos, fizemos a sua analyse — não lia nem albumina nem assucar.
HISTORIA DA DOENÇA — Km 16 de Janeiro de 1899 tendo sido atacado -lo dores intensas no joelho esquerdo, applicou sponte sua fricções com alcool, collocando depois sobre e em volta do joelho, um lenço embebido do mesmo liquido, Serviço nocturno como de ordinário o luzia, n'iiina das vezes — á ultima— tendo por descuido pas.-ndo a mão por sobre a vela, elicendeiou -se, sacudiu, indo algumas gottas inflammadas cahir ao lenço já sobre o joelho, descendo produzindo uma queimadura extensa, sendo do mais intensa na parte inferior que, como diz o doente «ficou muito negra com sulcos sanguíneos».
Avaliando da gravidade, a família envia-o em continente ( 17 ) para o hospital de S. José, Lisboa, onde permanece em tratamento durante oito mezes ; ahi foi pensado com agua bórica e umas compressas de liquido amarello ( acido picrico ? ). Grande parte da ulcera eieatrisou ; — talvez us tegumentos menos lesados ficando urna ulcera circular no terço mferioi: das mesmas dimensões da actual: segundo o testemunho do doente ; desanimado sabe do hospital para casa onde permanece alguns mezes não se modificando em nada a ulcera embora fizesse applicação de um unguento cujo nome não sabe.
Em seguida vae para o hospital de Oliveira
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de Azeméis onde permanece cinco Inezes, sendo-íhe applicadp penso seceo. salol, iodoformio etc. Gomo não experimentasse melhoras recolhe de novo a casa até que dà ingresso n'este hospital, a 2i dp Abril do corrente.
EXAME 0BJT5CTIY0 DA LESÃO — A ulcera está situada a oito centimetros acima dos malleolps a contar do bordo inferior, tendo cinco centímetros de largura na parte anterior, obliquando um pouco para a parte externa, onde na linha vertical passando peio malleolo tem seis centímetros, subindo um pouco vae ligar-se na parte antero interna com a anterior. Não ha interposição de tegumento são.
A ulcera parece em boa via para uma cica-trisação; goramos carnosos abundantes em toda a superficie, erosão viva n'alguns pontos; bordos esbranquiçados que se continuam externamente á ulcera especialmente para cima por uma vasta superficie cicatricial esbranquiçada, vestígios indeléveis da cicatrisacão dos tîgumen'xs esphacelados pela acção comburente do liquido em ignição. Esta cicatriz na parte anterior vae até ao tubérculo de Ger-dy; na parte antero-interna mostra uma lingueta cicatricial entre a rotula e tuberosidade interna da tibia, ««pois segue n'uma linha obliqua para baixo e para traz indo ligar-se ás cicatrizes da face externa da perna ao uivei do tei'co superior ; em baixo a cicatriz attinge a lace anterior do pé com vestígios pouco accentuados.
OFERAÇÃo -Durante 7 dias a ulcera foi sub-uifca a uma boa desinfecção ; ao oitavo. 1 de maio o prof. Roberto Frias ajudado por almmios do 5.° anno depois de chloroformisado o doente, procede á la-gem antissptica da ulcera, curetagem e avivamento regularisando os bordos e fazendo a hémostase com compressas de algodão embebidas em chloreto de socio a 6 por mil ; os ajudantes preparam a superficie
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d'onde hão-de sahir os retalhos, a face antero interna da coxa direita. Após este trabalho e tendo ao lado. uma cuveta com agua e chloreto de sódio o proíi Frias convida os alumnos a fazer manualmen-a distensão da pelle acima citada e com uma faca dos trabalhos de histologia extraite independentemente de apparelhos apropriados * quatro retalhos da largura de 1,5 centímetro por um decimetro de comprido que suecessivamente vae eolloeando na cuveta. Os dois primeiros retalhos conservavam uma certa espessura da derme, os dois últimos eram exclusivamente epidérmicos. Obtido o bastante para cobrir perfeitamente a úlcera, o operador verificando que a hémostase de ulcera estava feita começa, com auxilio dê um estylete a àpplicar os retalhos adaptando-os o melhor possível até a cobrir perfeitamente.
Após a ulcera coberta applicou-lhe uma íolha de estanho previamente estérilisada e untada na face a àpplicar, com azeite éster ilisado sobre a qual fez penso contentivo e algo compressivo. Entretanto os ajudantes procediam ao penso vulgar da solução feita na coxa.
LEVANTAMENTO DO PENSO -MARCHA I)A DOEN- I ÇA — Penso levantado oito dias depois; a folha de estanho estava fendida ein todos os sentidos : levantada esta encontramos pequenos retalhos adhérentes deformados, necrosados sem adherencia á ulcera e apenas mantida uma ou outra porção, já bem pouco visíveis no meio d'aquelle magma da ulcera, sem que esta macroscopicamente manifestasse a menor
* Mac-Burney usa para a distensão da pelle una ancinhos dentados que se lixam parallelamente a distancia de 1 a 2 centímetros, tendo anteriormente traçado dua? linhas parallelas da largura de ura A dois eentitnetros limitando aisim as tiras que devem ser cortadas e applioadas.
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infecção ; era vista d'isso applicamos sob a direcção do Prof. Frias uma compressa embebida em solução physiologica. Dois dias de repouso para obviar a queda dos pequenos retalhos restantes.
Passados estes dois dias levantou-se de novo o penso ; a ulcera tinha os mesmos caracteres, com tendência todavia para. a suppuração proveniente talvez da necrose dos retalhos ; fizemos então a appli-cacão de uma compressa de sublimado a 1 por dois mil.
As dores que tinha ao fazer-se-lhe o penso relativamente pequenas, agora exaeerbam-se a tal ponto que o doente está inquieto e grita desesperadamente ; dá-se-lhe uma injecção de morphina, não obstante o doente não socega; levantamos o penso húmido para o substituir pelo;penso ordinário secco.
Dois dias de repouso ; ao terceiro cncontram-se alguns vestígios de pequenos retalhos adhérentes ; de então tem estado sempre com compressas de agua bórica successivãmente, algodão e gase com tela impermeável,e com camada isoladora por fora.
Ao decimo quinto dia manifesta-se claramente a epidermisação naturalmente nos pontos em que por mais tempo permaneceram os retalhos; é d'a-qui d'estes pontos que excentricamente irradia a epidermisação ligando uns com outros, estabelecendo pontes para a superfície marginal e assim tem continuado juma cicatrisaeão segura com hyperplasia dos tecidos subjacente, de coloração egual a restante epiderme.
Hoje (ii-vn) nossa ultima visita até á publicação d'esté trabalhe ha ainda por cic:iIrisar uma pequena porção de ulcera na face poslero-extema com a configuração de um trapézio rectângulo de base superior com centímetro e meio, com a mesma altura e lado opposto á base 1 centímetro.
É mui natural que em poucos dias o doente peça alta e saia completamente curado.
PROPOSIÇÕES
ANATOMIA — Prefiro a designação da theovia proto-vertebral, á de theoria vertebral ão craneo.
PHYSIOLOGIA — Não é necessário para a fecundação a presença dos productos de secreção da prostata e das vesículas seminaes.
ANATOMIA PATHOLOGICA — Ha collecções purulentas post operatórias sem accusarem elevação thermies.
MATERIA MEDICA — Só administrarei ò terro nas ane~ micas no caso de constatar hypo-oxydaçrto.
PATHOLOGiA EXTERNA — Nos abcessos frios por congestão após o esvasiamento prefiro o emprego da glycerina iodoformndn no ether como querem vários cirurgiões.
PÀTHOLOGIA INTERNA — Todo o alcoólico é um tuberculoso independentemente de tara hereditaria.
MEDICINA OPERATÓRIA—Nâo ha cura radical das hernias.
PÀTHOLOGIA GERAL — Os estados diathesicos têm uma importância capital desfavorável na cura das ulceras traumáticas.
MEDICINA LEGAL- Só por si a docimasia pulmonar hydrostatic», é insufíiciente para nffirmarmos da vida extrauterina do feto.
HYGIENE —- Reprovo o uso dos beijos. P A R T O P _ N 0 c a s o de m 0 r t e apparente do leio. pre
firo o methodo de Laborde a qualquer outro.
y ; s t I ) Pode imprimir-«e O Divector
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