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I ALCEU HARUO FUJI TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS: UM ESTUDO DA CONTABILIZAÇÃO A VALOR DE MERCADO PELAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NO BRASIL PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP SÃO PAULO 2006

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I

ALCEU HARUO FUJI

TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS: UM ESTUDO DA CONTABILIZAÇÃO A VALOR DE MERCADO PELAS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NO BRASIL

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP

SÃO PAULO 2006

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II

ALCEU HARUO FUJI

TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS: UM ESTUDO DA CONTABILIZAÇÃO A VALOR DE MERCADO PELAS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NO BRASIL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis e Financeiras, sob a orientação do Prof. Dr. José Carlos Marion.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP

SÃO PAULO 2006

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III

FOLHA DE APROVAÇÃO

ALCEU HARUO FUJI

TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS: UM ESTUDO DA CONTABILIZAÇÃO A VALOR DE MERCADO PELAS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NO BRASIL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis e Financeiras, sob a orientação do Prof. Dr. José Carlos Marion.

BANCA EXAMINADORA

São Paulo, ___ de ________________de 2006.

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IV

Dedico este trabalho aos meus pais, Tsutomu e

Kikuco Fuji, que me ensinaram a superar os

desafios da vida, pelo constante incentivo ao

estudo, desde os meus primeiros passos na

atividade acadêmica.

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V

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha esposa, Alessandra, pelo grande amor, atenção, compreensão

e apoio no desenvolvimento deste trabalho.

Meus sinceros agradecimentos ao Prof. Dr. José Carlos Marion, meu orientador,

cuja contribuição foi fundamental para a realização deste trabalho. As aulas de

Teoria da Contabilidade e Normas e Práticas Contábeis foram valiosas para o

meu aprendizado.

Agradeço aos Professores Dr. Antonio de Loureiro Gil e Dr. José Alberto Soler

Bezerra pelas críticas e sugestões que contribuíram para a melhoria do trabalho.

Aos professores do mestrado, em especial os Professores Dr. Sérgio de

Iudícibus, Dr. José Roberto Securato e Dra. Neusa Maria Bastos Fernandes,

pelas lições e sugestões.

Aos colegas do curso, com quem tive o prazer de compartilhar horas de

extraordinário aprendizado, que muito contribuíram para o meu desenvolvimento

ao longo do curso, especialmente a Heider, Renato e Anderson Paviotti.

Aos amigos do programa de Ciências Contábeis e Financeiras, especialmente à

Elisabete, pela atenção dedicada aos mestrandos ao longo do curso de mestrado.

Ao Banco Central pela permissão de dedicação integral ao curso, o que viabilizou

a minha participação no mestrado.

Aos colegas do Banco Central, especialmente a Nelson Marinho, Maurel e

Antiqueira, pelas horas de discussão, que muito contribuíram para a realização

deste trabalho.

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VI

RESUMO

A avaliação a valor de mercado é um tipo de mensuração em que os ativos são reportados, nas demonstrações contábeis, pelo seu valor de venda no mercado, embora a venda do ativo possa ocorrer somente no futuro. Em 2001, o Banco Central do Brasil emitiu a Circular 3.068, determinando que os títulos e valores mobiliários fossem classificados numa das seguintes categorias: negociação, disponíveis para venda e mantidos até o vencimento. Os títulos para negociação e os disponíveis para venda devem ser avaliados e registrados pelo seu valor de mercado e os mantidos até o vencimento devem ser registrados pelo seu custo histórico. Essa norma diverge do estabelecido pela Lei das Sociedades Anônimas, mas está em harmonia com os padrões contábeis internacionais. O objetivo deste trabalho é estudar a forma de contabilização de títulos adotada no Brasil, especialmente as normas definidas para as instituições financeiras, em comparação com as normas do FASB e IASB; analisar, através de pesquisa empírica, se a contabilização a valor de mercado teve algum impacto na rentabilidade dos títulos e valores mobiliários, das instituições financeiras e analisar a relação entre as variáveis macroeconômicas e a rentabilidade dos títulos. A comparação da forma de contabilização de títulos adotada no Brasil (Circular 3.068/01) com os pronunciamentos do FASB (SFAS 115) e IASB (IAS 39) mostrou que, de forma geral, as regras estão em harmonia, embora algumas diferenças pequenas tenham sido identificadas. A análise da rentabilidade dos títulos indicou que existe uma tendência de seu aumento, após a implementação da contabilização a valor de mercado. Porém, a análise do relacionamento entre as variáveis macroeconômicas, especificamente o dólar e a rentabilidade dos títulos, mostrou que existe uma relação estatisticamente relevante entre essas variáveis. Portanto, é mais provável que a tendência de aumento na rentabilidade dos títulos seja devido às mudanças ocorridas na variável macroeconômica dólar.

Palavras-chave: Títulos e valores mobiliários, contabilização a valor de mercado,

instituições financeiras.

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VII

ABSTRACT

The market value evaluation is a type of measurement in which the assets are reported, in the financial statements, by its disposing value in the market, although the selling of the assets may occur only in the future. In 2001, Banco Central do Brasil released the Circular 3.068, stating that debt and equity securities must be classified in one of the following categories: trading, available for sale and held to maturity. The securities for trading and available for sale must be evaluated and reported by its market value and the held to maturity must be reported by its historical cost. This statement diverges from what is established in Lei das Sociedades Anônimas, but it is in line with the international accounting rules. The purpose of this work is to study the accounting methods of securities adopted in Brazil, especially those rules stated to financial institutions, in comparison with the statement of FASB and IASB; analyze, through empirical research, if the market value accounting had some impact in the financial institutions’ return on securities and analyze the relationship between the macroeconomic variables and the return on securities. The comparison of the accounting methods of securities adopted in Brazil (Circular 3.068/01) with the statements of FASB (SFAS 115) and IASB (IAS 39) showed that, in general, the rules are in harmony, although some minor differences have been identified. The analysis of the return on securities indicated that there is a tendency of increase in the profitability, after the implementation of the market value accounting. However, the analysis of the relationship between the macroeconomic variables, specifically the dollar and the return on securities showed that there is a statistically significant relation between these variables. So, it is more likely that the tendency of increase in the return on securities is due to the changes occurred in the macroeconomic variable dollar.

Key words: Debt and equity securities, market value accounting, financial

institutions.

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VIII

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Classificação dos Títulos e Valores Mobiliários......................... 18 Quadro 2 Impactos decorrentes da classificação dos TVMs..................... 18 Quadro 3 Operações realizadas com financiamento do PROER.............. 32 Quadro 4 Sistema Financeiro Nacional...................................................... 37 Quadro 5 Classificações de títulos de dívida da S&P e Moody’s............... 55 Quadro 6 Riscos de taxas de juros (instrumentos renda fixa)................... 58 Quadro 7 Ferramentas de gerenciamento de risco.................................... 59 Quadro 8 Mensuração de ativos................................................................ 78 Quadro 9 Mensuração de ativos: principais características....................... 85 Quadro 10 Principais diferenças entre as normas....................................... 157

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IX

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Receita inflacionaria dos bancos................................................ 30 Tabela 2 Instituições que sofreram ajustes no Plano Real....................... 35 Tabela 3 Instituições autorizadas a funcionar........................................... 36 Tabela 4 Evolução percentual de ativos do sistema bancário.................. 44 Tabela 5 Evolução percentual de passivos do sistema bancário.............. 45 Tabela 6 Rentabilidade de TVM (Ranks).................................................. 144 Tabela 7 Rentabilidade de TVM (Test Statistics)...................................... 144 Tabela 8 Estoque da Dívida Pública Mobiliária Federal Interna em

poder do público por tipo de rentabilidade.................................

145 Tabela 9 Regressão: Variáveis dependente e independentes............... 152 Tabela 10 Resultados das regressões lineares.......................................... 153

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X

LISTA DE ABREVIATURAS

AcSEC Accounting Standards Executive Committee AICPA American Institute of Certified Public Accountant APB Accounting Principles Board ARB Accounting Research Bulletin BACEN Banco Central do Brasil BIS Bank for International Settlement BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social C-BOND Capitalization Bond CDB Certificado de Depósito Bancário CDC Crédito Direto ao Consumidor CEF Caixa Econômica Federal CFC Conselho Federal de Contabilidade CMN Conselho Monetário Nacional COSIF Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional CVM Comissão de Valores Mobiliários FASB Financial Accounting Standards Board FFIEC Federal Financial Institutions Examination Council FGC Fundo Garantidor de Crédito IAS International Accounting Standards IASB International Accounting Standards Board, antigo IASC –

International Accounting Standards Committee IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo LFT Letras Financeiras do Tesouro LOCOM Lower of Cost or Market LTN Letras do Tesouro Nacional NBC Notas do Banco Central NTN Notas do Tesouro Nacional NYSE New York Stock Exchanges OCC Office of the Comptroller of the Currency PROER Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do

Sistema Financeiro Nacional PROES Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na

Atividade Bancária SEC Securities and Exchange Commission SFAC Statement of Financial Accounting Concepts SFAS Statement of Financial Accounting Standards SFH Sistema Financeiro da Habitação SFN Sistema Financeiro Nacional SUMOC Superintendência da Moeda e do Crédito SUSEP Superintendência de Seguros Privados TVM Títulos e valores mobiliários

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14 Caracterização do problema................................................................... 14 Problema da pesquisa............................................................................ 19 Objetivo do trabalho................................................................................ 19 Importância do tema............................................................................... 20 Procedimentos metodológicos................................................................ 21 Estrutura do trabalho............................................................................... 23

I AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.......................................................... 24 1.1 Intermediação financeira.............................................................. 24 1.2 Evolução do Sistema Financeiro Nacional................................... 25 1.2.1 Décadas de 20, 30 e 40......................................................... 25 1.2.2 Década de 50......................................................................... 26 1.2.3 Década de 60......................................................................... 26 1.2.4 Década de 70......................................................................... 27 1.2.5 Década de 80......................................................................... 28 1.2.6 Década de 90......................................................................... 29 1.2.7 Ajustes no Sistema Financeiro Nacional, após o Plano Real 35 1.3 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional................................... 37 1.3.1 Órgão normativo.................................................................... 37 1.3.2 Entidades supervisoras.......................................................... 38 1.3.3 Operadores............................................................................ 39 1.4 Operações realizadas por instituições financeiras....................... 40 1.4.1 Ativos..................................................................................... 41 1.4.2 Passivos................................................................................. 42 1.4.3 Saldos ativos e passivos........................................................ 44

II OS TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS............................................... 46 2.1 Títulos de dívida............................................................................. 46 2.1.1 Definição................................................................................ 46 2.1.2 Emissores de títulos............................................................... 47 2.1.3 Características dos títulos...................................................... 51 2.1.4 Avaliação de títulos de dívida................................................ 52 2.1.5 Riscos dos títulos de dívida................................................... 53 2.1.6 Gerenciamento do risco de taxa de juros.............................. 57 2.2 Ações.............................................................................................. 65 2.2.1 Definição................................................................................ 65 2.2.2 Riscos das ações................................................................... 66

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2.2.3 Direitos de subscrição (preferência)...................................... 67 2.2.4 Bonificação............................................................................. 68 2.2.5 Desdobramento de ações (split)............................................ 68 2.2.6 Avaliação de ações................................................................ 69 2.3 Principais títulos negociados no mercado brasileiro...................... 72 2.3.1 De responsabilidade do Tesouro Nacional............................ 72 2.3.2 De responsabilidade do Banco Central.................................. 74

III A AVALIAÇÃO DOS ATIVOS................................................................. 76 3.1 Conceito de ativos.......................................................................... 76 3.2 Mensuração dos ativos................................................................... 77 3.3 Valores de entrada......................................................................... 78 3.3.1 Custo histórico....................................................................... 79 3.3.2 Custo histórico corrigido......................................................... 79 3.3.3 Custo corrente (ou de reposição)........................................... 80 3.3.4 Custo corrente corrigido......................................................... 81 3.4 Valores de Saída............................................................................ 81 3.4.1 Valores descontados das entradas líquidas de caixa............ 82 3.4.2 Preços correntes de venda (ou valor realizável líquido)........ 82 3.4.3 Equivalentes correntes de caixa............................................ 83 3.4.4 Valores de liquidação............................................................. 83 3.5 Custo ou mercado, dos dois o menor............................................. 84 3.6 Custo histórico versus valor justo................................................... 85

IV AS NORMAS DE CONTABILIZAÇÃO DOS TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS................................................................................................

94

4.1 Normas contábeis norte-americanas do FASB.............................. 94 4.1.1 Histórico dos padrões norte-americanos............................... 94 4.1.2 Contabilização de títulos segundo o SFAS 115, do FASB.... 104 4.2 Normas internacionais do IASB...................................................... 112 4.2.1 Histórico dos padrões internacionais..................................... 112 4.2.2 Contabilização de títulos segundo o IAS 39, do IASB........... 115 4.3 Normas contábeis brasileiras......................................................... 123 4.3.1 Histórico dos padrões brasileiros........................................... 123 4.3.2 Contabilização de títulos segundo a Circular 3.068/01, do

Banco Central........................................................................

127 4.4 Principais diferenças entre as normas (FASB, IASB e Banco

Central)...........................................................................................

130 4.4.1 Escopo................................................................................... 130 4.4.2 Valor justo.............................................................................. 132 4.4.3 Contabilização........................................................................ 132

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4.4.4 Transferência entre categorias.............................................. 133

V ANÁLISE EMPÍRICA................................................................................. 134 5.1 Revisão de pesquisas empíricas................................................... 134 5.2 Dados da pesquisa......................................................................... 138 5.3 Análise das médias de rentabilidade dos TVMs............................. 140 5.3.1 Testes estatísticos utilizados................................................. 142 5.3.2 Resultados: rentabilidade dos TVMs................................... 143 5.4 A relação das variáveis macroeconômicas com a rentabilidade

dos TVMs.......................................................................................

144 5.4.1 Testes estatísticos utilizados................................................ 150 5.4.2 Resultados: relação entre as variáveis macroeconômicas e

a rentabilidade dos TVMs...................................................

152

CONCLUSÃO................................................................................................ 155

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 160

ANEXOS........................................................................................................ 166 I Instituições que sofreram ajustes no Plano Real, período de

1994 a 1998...................................................................................

166 II 50 Maiores Bancos e o Consolidado do Sistema Financeiro

Nacional..........................................................................................

169

APÊNDICES................................................................................................... 171 I Comparação das normas relativas à contabilização de títulos e

valores mobiliários..........................................................................

171 II Relação dos conglomerados e instituições independentes

incluídos na amostra......................................................................

180

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14

INTRODUÇÃO

Caracterização do problema

A carteira de títulos e valores mobiliários (TVMs) representa um

percentual expressivo do total de ativos das instituições financeiras,

principalmente em função do crescimento da dívida mobiliária do setor público. O

Tesouro Nacional, no papel de caixa do Governo, administra a dívida pública

através da captação de recursos no mercado financeiro via emissão primária de

títulos. A necessidade de financiamento do setor público fez com que o governo

emitisse um grande volume de títulos que foram adquiridos, em grande parte,

pelas instituições financeiras para compor a sua carteira de investimentos, bem

como auferir ganhos.

Os títulos públicos federais representam a maioria das aplicações em

títulos e valores mobiliários das instituições financeiras. A dívida pública mobiliária

federal interna, representada pelos títulos públicos, apresentou um forte

crescimento no período pós-Plano Real. Os principais fatores para o crescimento

da dívida pública foram: o déficit do governo, as taxas de juros elevadas, o

reconhecimento de dívidas anteriores (vulgarmente denominados “esqueletos”) e

a renegociação das dívidas estaduais e municipais.

A política monetária implementada pelo Plano Real procurou evitar que

excessos de liquidez pressionassem a demanda agregada e, conseqüentemente,

o nível de inflação. O principal instrumento utilizado para controlar a demanda

foram as taxas de juros, que permaneceram em patamares elevados de forma a

controlar o nível de atividade econômica em épocas de expansão e evitar a fuga

de capitais em momentos de crises internacionais.

Nesse contexto, as instituições financeiras desempenharam o papel de

financiadores do governo, ao comprarem e negociarem os títulos públicos. As

aplicações em títulos públicos têm sido vantajosas para as instituições, pois os

retornos são altos, devido às taxas de juros praticadas e os riscos são baixos,

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pela perspectiva de inadimplência do Governo Federal ser pequena. Assim, os

títulos e valores mobiliários representam uma importante forma de aplicação para

as instituições financeiras, apresentando um bom retorno, considerando-se os

riscos assumidos.

Assim, tendo em vista que a carteira de títulos e valores mobiliários das

instituições financeiras representa um dos principais componentes dos seus

ativos, é importante pesquisar os critérios de avaliação e a forma de

contabilização desses ativos. Colabora, ainda, para a importância desta pesquisa

o fato de que recentemente, para as instituições financeiras brasileiras, os

critérios para a avaliação e contabilização dos títulos e valores mobiliários

sofreram alterações.

O critério de avaliação dos títulos e valores mobiliários tem sido objeto de

muitas discussões, especialmente nos Estados Unidos, por parte dos órgãos

reguladores de padrões contábeis (FASB - Financial Accounting Standards

Board), entidades de classe dos contadores (AICPA – American Institute of

Certified Public Accountants), entidades de supervisão bancária (Federal

Reserve), de supervisão do mercado de capitais (SEC – Securities and Exchange

Commission), entre outros. No âmbito internacional, o IASB (International

Accounting Standards Board), também, emitiu um pronunciamento definindo

critérios de avaliação semelhantes aos estabelecidos pelo FASB.

Nos Estados Unidos, a avaliação dos títulos, antes da implementação da

contabilização pelo valor justo, era efetuada de diversas formas. Algumas

entidades registravam pelo custo histórico, algumas pelo valor de mercado,

algumas pelo custo histórico ou valor de mercado, dos dois o menor, e ainda

outras por uma combinação desses métodos para diferentes tipos de títulos.

Essa situação provocou uma discussão intensa sobre a adequação de se

utilizar o método do custo como forma de mensuração dos títulos. O método do

custo era considerado como um dos principais fatores utilizados para maquiar a

insolvência das empresas, especialmente das instituições bancárias,

postergando, assim, uma resposta imediata quando uma crise ocorria. Como

conseqüência, passou a se avaliar a contabilização dos títulos pelo seu valor

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justo, que representaria de forma mais consistente a real situação das empresas,

especialmente das instituições financeiras.

O termo valor justo é utilizado, pois muitos ativos não são negociados em

mercados líquidos e ativos e, portanto, o valor de mercado não pode ser

prontamente determinado. A medida de valor justo representa a avaliação que o

mercado faz do risco e do retorno esperado pelos investidores nos investimentos

em ativos financeiros. Essa avaliação considera as expectativas relacionadas com

o fluxo de caixa futuro que o ativo proporcionará.

Os defensores da contabilização a valor justo acreditam que, se

comparado ao custo histórico, ele é mais relevante e útil para a tomada de

decisão dos investidores, atuais e potenciais, dos credores, e de outros

investidores.

Segundo o FASB, as mudanças no valor justo e, conseqüentemente, no

retorno de mercado, durante o período em que um título de dívida ou ação é

mantido em carteira, fornecem uma referência para avaliar os resultados obtidos

pelas decisões dos administradores e o seu sucesso em maximizar os lucros

utilizando os recursos econômicos da empresa (FASB, 1993).

A contabilização a valor justo, segundo Wampler e Phillips (1994, p. 47),

fornece uma figura mais correta dos resultados apurados, em função das

decisões passadas da administração, à luz das circunstâncias atuais e é mais

consistente com o conceito de reconhecimento de receita incluído no Statement of

Financial Accounting Concepts SFAC 5, emitido pelo FASB. Esse

pronunciamento estabelece que a receita deve ser reconhecida quando é

realizada ou realizável e ganha.

As opiniões sobre a efetividade da contabilização a valor justo são

controversas. Os profissionais contrários à adoção dessa forma de avaliação

argumentam que os resultados podem apresentar uma maior volatilidade, o que

pode levar as instituições a alterarem o seu portfólio de investimentos e,

conseqüentemente, provocarem uma instabilidade no mercado de títulos.

A utilidade da informação do valor justo, também, é questionada nos

casos em que a instituição tem a intenção de manter o título até o vencimento.

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Nessa situação, a instituição irá receber o valor nominal do título na data de

vencimento e as mudanças no valor de mercado não afetarão os fluxos de caixa

futuros, podendo ter pouca relevância para os usuários, a não ser que as

mudanças no valor de mercado reflitam uma mudança no risco de pagamento do

emissor do título. Se ocorrer uma mudança no risco de pagamento do emissor, ou

seja, a probabilidade de inadimplência aumentar, deve-se constituir uma provisão

para perdas. Então, a possível vantagem da contabilização a custo histórico é que

ele não reflete os efeitos de eventos externos que não tenham influência nos

fluxos de caixa futuros.

Os defensores da avaliação pelo custo histórico acreditam que esse é

normalmente mais verificável do que o valor justo e essa é uma das principais

razões pelo qual a comunidade contábil tem relutado em abandoná-lo. Um dos

grandes problemas com a mensuração a valor justo é a subjetividade envolvida

na mensuração de muitos ativos. Porém, o FASB acredita que uma estimativa

razoável do valor justo possa ser efetuada para todos os títulos de dívida, mesmo

que não sejam negociados de forma ativa, através da utilização de técnicas de

avaliação alternativas, como, por exemplo, o fluxo de caixa descontado.

Considerando que os investidores necessitam saber a situação da

empresa na data das demonstrações contábeis e não no momento em que o ativo

foi adquirido, é válida a adoção de normas que caminhem para uma utilização

maior do valor justo. Pois o valor justo reflete as condições econômicas e de

mercado atuais do ativo e, portanto, espera-se que ele tenha um valor preditivo

maior do que o custo histórico.

No Brasil, a contabilização a valor justo (valor de mercado, na norma do

Banco Central) passou a ser adotada de forma mais abrangente com a

implementação da Circular 3.068, de 8 de novembro de 2001, emitida pelo Banco

Central do Brasil (BACEN) e válida para todas as instituições financeiras.

A Circular 3.068/01 determina que os títulos sejam classificados em três

categorias: títulos para negociação, disponíveis para venda e mantidos até o

vencimento. Os títulos para negociação e os disponíveis para venda devem ser

avaliados e registrados pelo seu valor de mercado e os mantidos até o

vencimento devem ser registrados pelo seu custo histórico.

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O Quadro 1 apresenta um resumo das categorias e respectivas regras de

contabilização definidas pela Circular 3.068/01.

Quadro 1 – Classificação dos Títulos e Valores Mobiliários

Categorias Características Avaliação Contrapartida do ajuste

I – títulos para negociação Negociação ativa e freqüente Valor de mercado Conta de resultado

II – títulos disponíveis para venda

Não enquadrados nas categorias I e III

Valor de mercado Conta destacada do PL

III – títulos mantidos até o vencimento

Intenção e capacidade financeira

Custo de aquisição Não têm ajuste

De acordo com as regras estabelecidas na Circular, a contabilização dos

títulos e valores mobiliários é fortemente baseada na intenção da instituição.

Assim, dependendo do critério que a instituição utiliza para classificar os títulos e

a conseqüente contabilização do ajuste a valor de mercado, pode-se obter

diferentes resultados. O Quadro 2 apresenta os principais impactos decorrentes

da classificação adotada.

Quadro 2 – Impactos decorrentes da classificação dos TVMs

Categorias Contabilização Impacto

I – títulos para negociação

Valor de mercado, com ajuste reconhecido na conta de resultado

- Maior volatilidade nos resultados, pois os ganhos e perdas não realizados são reconhecidos no resultado.

- Permite a melhoria do lucro, para títulos com valor de mercado superior ao custo

II – títulos disponíveis para venda

Valor de mercado, com ajuste reconhecido em conta destacada do PL

- Maior volatilidade no PL, pois os ganhos e perdas não realizados são reconhecidos no PL

III – títulos mantidos até o vencimento

Custo de aquisição, sem ajuste a valor de mercado.

- Evita a volatilidade nos resultados e no patrimônio líquido

- Prejudica a liquidez, pois não podem ser vendidos, para atender uma eventual necessidade de liquidez

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Problema de pesquisa

A pesquisa tem como objetivo responder às seguintes questões:

a) As regras de contabilização dos TVMs estabelecidas pelo Banco Central estão

em harmonia com os pronunciamentos emitidos pelo FASB e IASB?

b) A introdução das novas regras de contabilização a valor de mercado, pelo

Banco Central, provocou algum impacto na rentabilidade dos títulos e valores

mobiliários das instituições financeiras no Brasil?

c) A relação das variáveis macroeconômicas com a rentabilidade dos TVMs é

estatisticamente relevante?

Em particular, o trabalho irá pesquisar as seguintes hipóteses:

a) A introdução das novas regras de contabilização provocou alterações nos

resultados apurados pelas instituições.

b) Existe relação entre as variáveis macroeconômicas e a rentabilidade dos

TVMs.

Objetivo do trabalho

O objetivo geral deste trabalho é examinar a forma de contabilização dos

títulos e valores mobiliários adotada no Brasil, especialmente as normas definidas

para as instituições financeiras, em comparação com as regras americanas do

FASB e internacionais do IASB; analisar se a implementação das normas de

avaliação a valor de mercado dos títulos e valores mobiliários provocou algum

impacto na rentabilidade dos títulos e valores mobiliários das instituições

financeiras no Brasil e analisar a relação entre as variáveis macroeconômicas e a

rentabilidade dos TVMs.

O trabalho restringe-se a uma comparação entre as normas, não

contemplando uma avaliação de qual norma ou quais aspectos particulares de

cada norma são os mais adequados para a apresentação das demonstrações

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financeiras, ou seja, não faz parte do escopo avaliar se as normas brasileiras são

melhores ou piores do que as normas internacionais. Esse aspecto está além do

escopo deste trabalho e, além disso, existe ainda muita controvérsia, na

comunidade contábil, sobre a utilização do valor justo como critério de avaliação.

Como objetivos específicos, destacam-se:

a) apresentar as instituições financeiras e os conceitos relativos aos títulos e

valores mobiliários e

b) apresentar a avaliação dos ativos, no arcabouço da Teoria da Contabilidade.

Importância do tema

O tema foi escolhido em função da sua importância para a comunidade

financeira e reguladora (Banco Central e CVM). Considerando que o valor da

carteira de títulos e valores mobiliários representa percentual significativo dos

ativos das instituições financeiras e que as novas regras de contabilização

alteraram a forma de reconhecimento das receitas e despesas desses ativos, é

importante estudar o efeito dessa alteração nas demonstrações contábeis das

instituições financeiras no Brasil.

A adoção do valor de mercado como critério de avaliação dos títulos e

valores mobiliários foi muito criticada, tendo como argumento o fato de que

poderia haver um aumento na volatilidade dos resultados, que não indicaria a real

condição financeira das entidades. Assim, nesse contexto, este trabalho busca

pesquisar se, no caso das instituições financeiras brasileiras, houve algum

impacto nos resultados com títulos e valores mobiliários.

A contabilização a valor de mercado, adotada no Brasil a partir de junho

de 2002, constitui assunto relativamente novo, ainda pouco explorado em

trabalhos acadêmicos.

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Procedimentos metodológicos

Sobre o método de pesquisa científica, Rudio (2004, p. 17) esclarece que:

O método é o caminho a ser percorrido, demarcado, do começo ao fim, por fases ou etapas. E como a pesquisa tem por objetivo um problema a ser resolvido, o método serve de guia para o estudo sistemático do enunciado, compreensão e busca de solução do referido problema.

Assim, a pesquisa é composta de um conjunto de ações, com a finalidade

de encontrar respostas para as indagações propostas. Segundo os seus

objetivos, conforme Gil (2002, p. 41), a pesquisa pode apresentar a seguinte

classificação:

a) Pesquisa exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o

problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Na maioria

dos casos, envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que

tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de

exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de

pesquisa bibliográfica e estudo de Caso.

b) Pesquisa descritiva: visa descrever as características de determinada

população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre

variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais

como o questionário e a observação sistemática.

c) Pesquisa explicativa: visa identificar os fatores que determinam ou

contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse é o tipo de pesquisa que

mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o

porquê das coisas. Por isso mesmo é o tipo mais complexo e delicado, já que

o risco de cometer erros aumenta de forma considerável.

Com base na classificação exposta, pode-se considerar que o tipo de

pesquisa desta dissertação é a descritiva, com uma abordagem empírico-

analítica, pois se pretende descrever a forma de contabilização dos títulos e

valores mobiliários, bem como analisar a relação antes-depois da rentabilidade

desses ativos.

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A revisão bibliográfica será conduzida com o intuito de estudar as

instituições financeiras, através da sua evolução e estrutura atual; definir o que

são os títulos e valores mobiliários e pesquisar os aspectos da Teoria da

Contabilidade relacionados com a avaliação de ativos e a utilização do valor de

mercado, como base para avaliação dos ativos. Além disso, serão abordadas as

normas contábeis referentes à contabilização dos títulos e valores mobiliários.

Essas normas serão objeto de comparação, a fim de analisar se as normas

brasileiras estão em harmonia com os pronunciamentos emanados do FASB e

IASB.

Na abordagem empírica, serão utilizadas as demonstrações contábeis

consolidadas das instituições financeiras, disponíveis no site do BACEN. O

período da pesquisa contemplará os balancetes de março de 2000 a março de

2002, cuja contabilização é baseada nas regras anteriores, ou seja, custo ou

mercado, dos dois o menor, e de junho de 2002 a junho de 2004, cuja

contabilização é baseada na Circular 3.068/01, ou seja, avaliação a valor de

mercado.

Em resposta à hipótese apresentada, será realizada pesquisa utilizando-

se os saldos de aplicação em títulos e valores mobiliários, registrados no ativo e

os resultados com TVM. A rentabilidade dos TVMs será obtida da divisão dos

resultados sobre o saldo do ativo médio (atual e anterior). Posteriormente, será

apurada a média dos resultados, de cada instituição, dos períodos anteriores e

posteriores à implementação da Circular 3.068/01. A análise dessas médias

mostrará se houve variação da rentabilidade dos períodos anteriores para os

posteriores, que possivelmente sejam decorrentes da implementação das novas

regras de contabilização.

Em complemento à pesquisa das médias, será analisada a relação entre

as variáveis macroeconômicas (cotação do dólar, taxa Selic e IPCA – Índice

Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e a rentabilidade dos TVMs. A análise

da relação entre essas variáveis é um complemento à análise das médias de

rentabilidade, tendo como objetivo obter um melhor julgamento do impacto da

implementação da contabilização a valor de mercado.

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Estrutura do trabalho

Visando atingir aos objetivos definidos, este trabalho foi organizado nos

seguintes capítulos:

1. As instituições financeiras: traz um histórico e a estrutura do Sistema

Financeiro Nacional e apresenta as atividades desenvolvidas pelas instituições

financeiras, destacando os principais ativos e passivos.

2. Os títulos e valores mobiliários: aborda os títulos e valores mobiliários,

descrevendo as suas características e os principais títulos negociados no

mercado brasileiro.

3. A avaliação dos ativos: aborda as formas de mensuração de ativos, segundo

a Teoria da Contabilidade, destacando a discussão da contabilização a valor

justo versus o custo histórico.

4. As normas de contabilização dos títulos e valores mobiliários: apresenta

as normas existentes no Brasil, especialmente as emitidas para as Instituições

Financeiras, em comparação com aquelas emanadas do FASB e IASB.

5. Análise empírica: apresenta os estudos empíricos, utilizando os dados de

balancetes das instituições financeiras atuando no Brasil.

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I - AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

1.1 Intermediação financeira

As instituições financeiras são relevantes para a economia de um país por

desenvolverem o papel de intermediários financeiros, direcionando recursos de

agentes econômicos superavitários (poupadores) para agentes econômicos com

carência de recursos (investidores).

Os agentes superavitários, segundo Andrezo e Lima (1999, p. 6), são

aqueles que apresentam desejo de investir inferior à capacidade de poupança, ou

seja, possuem recursos em excesso e os deficitários o inverso, isto é, necessitam

de recursos.

Assim, os agentes superavitários depositam o excesso de recursos nas

instituições financeiras, fornecendo fundos para a concessão de empréstimos a

agentes com carência de recursos.

Sobre a importância dos intermediários financeiros, Assaf Neto (2001, p.

32) destaca que, ao se relacionar continuamente com fundos de vários

depositantes, eles podem oferecer dinheiro rápido a um custo de escala bem

menor do que seria possível a um agente econômico que opera isoladamente.

Além disso, os intermediários financeiros promovem a liquidez do mercado ao

viabilizarem aplicações e captações financeiras com diferentes expectativas de

prazos. É sua função básica satisfazer as preferências dos portfólios dos vários

agentes econômicos que conflitam com a maturidade das suas operações. Os

tomadores desejam, de maneira geral, prazos maiores que aqueles pleiteados

pelos poupadores, e as instituições intermediadoras gerenciam esses conflitos

através de um eficiente planejamento e distribuição de fluxos de caixa.

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1.2 Evolução do Sistema Financeiro Nacional

Nesse tópico, é apresentado um histórico da evolução do Sistema

Financeiro Nacional, desde os anos 20 até os dias atuais, com destaque para as

mudanças ocorridas após o Plano Real.

1.2.1 Décadas de 20, 30 e 40

Segundo Cavalcante (2002, p. 201), até a década de 20, o mercado

financeiro nacional era precário e caracterizava-se pela concentração regional e

empresarial. De fato, havia poucas instituições concentradas, principalmente, na

Região Sudeste. Em 1920, o Banco do Brasil respondia por um terço de toda a

atividade bancária no país. Somente após a Primeira Guerra Mundial, começa a

crescer o número de bancos comerciais e, em meados da década de 20, começa

a disseminar-se a criação de bancos estaduais. Originalmente criados para o

financiamento agrícola, os bancos estaduais passaram a representar um

movimento de progressiva participação do Estado na atividade financeira.

Entre meados da década de 30 e meados da década de 40, observa-se

uma expansão do número de bancos, ocorrendo a fundação de diversos bancos

privados.

Em 1945, para se ajustar às obrigações assumidas pelo Brasil na

Conferência de Bretton Woods, foi criada a Superintendência da Moeda e do

Crédito (SUMOC), através do Decreto-lei 7.293, de 2 de fevereiro de 1945, com o

objetivo de exercer o controle do mercado monetário e preparar a organização de

um Banco Central.

O desenvolvimento do sistema financeiro, entre a década de 20 e meados

da década de 40, esteve fortemente associado ao amadurecimento da economia

brasileira, que passou de uma estrutura agrário exportadora para uma economia

em processo de industrialização. O financiamento da industrialização,

especialmente a indústria de base, teve forte presença do Estado, pela criação de

vários bancos estaduais.

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1.2.2 Década de 50

Na década de 50, o processo de industrialização exigia grandes

montantes de capital para investimentos na criação de empresas e ampliação da

capacidade produtiva; porém, naquele momento nem mesmo os grandes

industriais brasileiros dispunham de recursos suficientes para tanto e o mercado

financeiro ainda não estava suficientemente desenvolvido para suprir essa

necessidade. Nesse contexto, foi criado o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico (BNDE), com o objetivo de apoiar empreendimentos que

contribuíssem para o desenvolvimento do país. Em maio de 1982, o BNDE

passou a denominar-se Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES). O papel do BNDES como fornecedor de recursos para projetos que

demandavam financiamentos a longo prazo foi essencial, já que na época o

sistema financeiro nacional operava, apenas, com empréstimos de curto prazo.

A participação dos bancos privados no financiamento de longo prazo foi

incipiente ao longo da década de 50, em função do processo inflacionário e da

proibição de remunerações nominais superiores a 12% a.a., o que na prática

significava juros reais negativos.

1.2.3 Década de 60

O mercado financeiro nacional até a década de 60 era extremamente

incipiente. A estrutura legal para regular as atividades do mercado de capitais

constituía-se de um conjunto de leis e decretos esparsos, sem a consistência de

uma política única.

Segundo Andrezo e Lima (1999, p. 28), até 1964, o Brasil não dispunha

de um Banco Central uno. As funções típicas de um Banco Central eram

desempenhadas por um conjunto de instituições, como: Tesouro Nacional,

SUMOC e Banco do Brasil.

As maiores mudanças ocorridas, nessa época, foram no primeiro governo

pós-1964. O objetivo explícito das mudanças era o alargamento do mercado,

através da criação de novas instituições e do fortalecimento das já existentes,

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visando aumentar a taxa de poupança nacional e racionalizar o fluxo de recursos

financeiros para as atividades produtivas (ANDREZO; LIMA, 1999, p. 29).

Uma das principais inovações ocorridas na década de 60 foi a publicação

da Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964 (Lei da Reforma Bancária), que

estruturou o Sistema Financeiro Nacional (SFN), enumerando os seus

participantes e suas respectivas competências.

A Lei 4.595/64, basicamente, estabeleceu as seguintes regras:

- Estruturação e regulamentação do Sistema Financeiro Nacional, que será

constituído pelo Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Banco

do Brasil S.A., Banco Nacional de Desenvolvimento Social e demais

instituições financeiras públicas e privadas;

- Criação do Conselho Monetário Nacional, com a finalidade de formular a

política da moeda e do crédito, objetivando o progresso econômico e social do

País;

- A SUMOC foi transformada em autarquia federal, sob a denominação de

Banco Central do Brasil (BACEN), com personalidade jurídica e patrimônio

próprio. Ao BACEN compete cumprir e fazer cumprir as disposições que lhe

são atribuídas pela legislação em vigor e as normas expedidas pelo Conselho

Monetário Nacional e

- Definição de instituição financeira, considerando que, para os efeitos da

legislação em vigor, são as pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham

como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de

recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou

estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

1.2.4 Década de 70

Na década de 70, a estrutura do SFN passa a contar com uma nova

entidade, com a criação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), através da

Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976. A CVM é uma entidade autárquica em

regime especial, com personalidade jurídica e patrimônio próprio, tendo como

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competência disciplinar e estabelecer medidas de atuação no mercado de valores

mobiliários. A CVM foi instituída nos mesmos moldes da Securities and Exchange

Commission (SEC) americana, criada em 1934.

Até 1976, o mercado de capitais era ainda incipiente, sendo disciplinado

pelo CMN e fiscalizado pelo Banco Central, tendo o último acumulado essa

função de fiscalização com as suas funções precípuas de gestor da moeda, do

crédito, da dívida pública e do balanço de pagamentos. Entretanto, com o

crescimento do mercado de capitais julgou-se conveniente a criação da CVM,

como um órgão especializado para regulamentação e fiscalização do mercado de

capitais.

Além da criação da CVM, o fortalecimento do mercado de capitais teve

outra contribuição importante com a publicação da Lei 6.404, de 15 de dezembro

de 1976 (nova Lei das Sociedades por Ações), emitida com o objetivo de criar

uma estrutura jurídica necessária para o fortalecimento do mercado de capitais.

1.2.5 Década de 80

Na década de 80, o Sistema Financeiro Nacional mereceu atenção

especial de nossos legisladores constituintes, que a ele atribuíram capítulo

próprio. O artigo 192, da Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de

1988, estabelece que o Sistema Financeiro Nacional será estruturado de forma a

promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da

coletividade, devendo ser regulado em lei complementar. Passados dezesseis

anos desde a promulgação da Constituição, a regulamentação do artigo 192

ainda não foi feita, devido as inúmeras questões controversas, como, por

exemplo, o parágrafo 3º que estabelece uma espécie de lei da usura1 para os

juros reais. O parágrafo 3º estabelece que as taxas de juros reais, incluindo

comissões e quaisquer outras remunerações, direta ou indiretamente

relacionadas à concessão de crédito, não podem ser superiores a 12% a.a. De

1 A Lei da Usura (Decreto 22.626, de 1933) proibia qualquer contrato que estabelecesse uma taxa de juros superior a 12% a.a.

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fato, essa questão da limitação da taxa de juros talvez seja um dos principais

motivos pelo qual o artigo 192 ainda não esteja regulamentado.

Relativamente à estrutura dos conglomerados financeiros, houve uma

alteração importante em 1988, com a criação dos bancos múltiplos. Os bancos

múltiplos foram regulamentados pelo Conselho Monetário Nacional, através da

Resolução 1.524, de 21 de setembro de 1988, e surgiram da própria evolução dos

bancos comerciais e do mercado financeiro.

Sobre o assunto, Matos (1999) ressalta que:

O sistema bancário até 1988 era constituído por conglomerados e instituições isoladas ou independentes. Os conglomerados, por sua vez, eram formados por um conjunto de empresas juridicamente distintas e geralmente lideradas por um banco comercial, as quais, em sua totalidade ou em sua maioria, eram bancos de investimento, sociedades financeiras, sociedades corretoras, sociedades de investimento, empresas de capitalização, empresas de previdência privada e sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários.

Nesse contexto, a administração era ineficiente em função de muitos

serviços da mesma natureza serem realizados por diferentes departamentos

dentro do mesmo conglomerado, em face de uma separação meramente jurídica.

A criação dos bancos múltiplos veio racionalizar a administração das instituições

financeiras, permitindo que uma única estrutura jurídica e administrativa,

contemplasse as diversas carteiras das instituições financeiras do conglomerado.

Os bancos múltiplos mudaram a configuração do Sistema Financeiro

Nacional desenhada a partir de 1964. O sistema financeiro foi concebido com um

enfoque em instituições especializadas, condicionadas pela regulamentação a

praticarem uma faixa restrita de operações. Após a edição da Resolução

1.524/88, o sistema financeiro passou a contar com instituições universais, que

podem oferecer uma grande variedade de serviços financeiros.

1.2.6 Década de 90

Um importante marco na regulação do sistema financeiro internacional

ocorreu quando, em 1988, o Bank for International Settlement2 (BIS) adotou o 2 O BIS é uma organização que tem o objetivo de buscar a cooperação internacional entre os Bancos Centrais com vistas a obter uma estabilidade monetária e financeira mundial.

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Acordo da Basiléia, no qual se estabeleceram os requisitos de adequação de

capital para os bancos, a serem aplicados em todo o mundo, com o objetivo de

fortalecer o sistema financeiro mundial e limitar os riscos de quebra de instituições

financeiras.

Em 1994, o Conselho Monetário Nacional, através da Resolução 2.099,

de 17 de agosto de 1994, estabeleceu limites mínimos de capital para constituição

de um banco, além de limites adicionais de patrimônio líquido ajustado, em valor

compatível com o grau de risco dos ativos possuídos pelas instituições

financeiras, ajustando-se, assim, ao preconizado no Acordo da Basiléia.

Na década de 90, além do Acordo da Basiléia, houve uma grande

transformação no mercado financeiro, com a implementação do Programa de

Estabilização Econômica. Esse programa, conhecido como Plano Real, foi

concebido pela Medida Provisória 434, de 27 de fevereiro de 1994, que foi,

posteriormente, convertida na Lei 8.880, de 27 de maio de 1994. A implantação

do Plano Real obteve êxito no seu principal objetivo: o combate à inflação, que

passou de 40% ao mês para 30% ao ano.

A inflação alta propiciava aos bancos obter elevados ganhos com o

floating – receita obtida sobre o transito de dinheiro não remunerado –

independentemente da eficiência da sua administração. No início dos anos 90, a

“receita inflacionária” representava parcela significativa das receitas de

intermediação financeira (Tabela 1). Em 1994, já como conseqüência do Plano

Real, a participação da receita inflacionaria reduziu-se bastante, passando a ser

desprezível em 1995. O percentual das receitas inflacionarias em relação ao PIB

também se reduziu, atingindo níveis irrisórios em 1995.

Tabela 1 – Receita inflacionaria dos bancos

Ano % s/ PIB % s/ Receita Interm. Financ.

1990 4,0 35,7 1991 3,9 41,3 1992 4,0 41,9 1993 4,2 35,3 1994 2,0 20,4 1995 0,1 0,6

Fonte: ANDIMA/IBGE (1997)

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Após o Plano Real, os bancos buscaram novas fontes de receitas através

do crescimento das operações de crédito, da ampliação dos serviços prestados e

da redução dos custos operacionais.

Dessa forma, os bancos aumentaram o volume de empréstimos para

compensar as perdas com as receitas inflacionarias. Os empréstimos cresceram

quase 60% nos primeiros doze meses do Plano Real. Contudo, após o aumento

das operações no período inicial do plano, houve uma diminuição no ritmo de

crescimento da economia no 2º trimestre de 1995, em função da adoção de uma

política monetária e de crédito restritiva3, baseadas em altas taxas de juros. Esse

processo teve como conseqüência uma deterioração na qualidade dos créditos,

aumentando, assim, a inadimplência, o que fez com que os bancos tivessem

perdas significativas com as suas operações de crédito.

Nessa nova realidade de estabilidade macroeconômica, nem todos os

bancos foram bem sucedidos devido à perda de receita com a inflação, da

ineficiência administrativa e do aumento da inadimplência com operações de

crédito. Nesse período, observa-se uma redução no número de instituições

financeiras, por meio de liquidações, fusões e aquisições.

Desde o Plano Real até dezembro de 1995, duas instituições financeiras

que figuravam entre as dez maiores do Sistema Financeiro Nacional – Banco

Nacional e Banco Econômico – sofreram intervenções do BACEN. Esses

acontecimentos indicavam que os ajustes efetuados pelas instituições financeiras

não foram suficientes para adequar a estrutura do sistema financeiro àquela

exigida pelas novas condições de concorrência e estabilidade trazidas pelo Plano

Real. Segundo Barros e Almeida (1996), após a intervenção no Banco

Econômico, iniciou-se um crescente clima de apreensão relativo à saúde

financeira dos demais bancos privados do País, prejudicando, principalmente, as

instituições financeiras de pequeno porte.

3 A política monetária e de crédito restritiva ocorreu basicamente em função da crise mexicana e dos seus reflexos na economia brasileira.

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Diante desse quadro e do risco do agravamento da situação, que poderia

trazer conseqüências negativas para a estabilidade do Sistema Financeiro

Nacional, decidiu-se que o governo deveria participar diretamente na

reestruturação do sistema financeiro.

Dentre as medidas adotadas pelo governo para fortalecer o Sistema

Financeiro Nacional e evitar o risco do sistema entrar em colapso (risco

sistêmico), destacam-se: o PROER, o PROES e o FGC.

O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do

Sistema Financeiro Nacional (PROER) foi adotado em 3 de novembro de 1995,

com a edição da Resolução 2.208, do Conselho Monetário Nacional e da Medida

Provisória 1.179, que depois foi convertida na Lei 9.710, de 19 de novembro de

1998. O Banco Central regulamentou as operações do PROER com a emissão da

Circular 2.636, de 17 de novembro de 1995.

O PROER previa um conjunto de incentivos fiscais, uma linha de crédito

especial e uma flexibilização temporária quanto às exigências do acordo da

Basiléia para as instituições que dele viessem a participar. Dessa forma, o

programa tinha como objetivos assegurar a liquidez e solvência do Sistema

Financeiro Nacional e resguardar o interesse de depositantes e investidores,

sendo implementado para reorganizações administrativas, operacionais e

societárias de instituições financeiras, previamente autorizadas pelo BACEN, que

resultassem na transferência de controle ou na modificação do objeto social.

Quadro 3 – Operações realizadas com financiamento do PROER

Regime Operações

Bancos em intervenção Venda de parcela dos ativos e passivos para: Banco Econômico Excel e CEF1

Banco Nacional Unibanco Banco Mercantil de Pernambuco Rural Banco Banorte Bandeirantes Banco Bamerindus HSBC, CEF1, Banco do Brasil

Bancos que não estavam sob intervenção Transferência de controle acionário para: Antonio de Queiroz Banco United Martinelli Pontual (1) Apenas a carteira imobiliária Fonte: Banco Central do Brasil/Departamento de Operações Bancárias

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As operações do PROER somaram um volume financeiro de R$ 20,4

bilhões, no período de 1995 a 1997, contemplando sete fusões/aquisições,

conforme Quadro 3. Em meados de 1997, o programa foi concluído, quando

ocorreu a última operação de financiamento.

O Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na

Atividade Bancária (PROES) foi adotado com a edição da Medida Provisória

1.556, de 18 de dezembro de 1996, juntamente com a Resolução 2.365, do

Conselho Monetário Nacional e Circular 2.742, do BACEN, ambas de 28 de

fevereiro de 1997. Posteriormente, a Circular 2.745, do BACEN, de 18 de março

de 1997, complementou as referidas normas.

Com a estabilização obtida com o Plano Real, ficaram evidenciados os

sérios problemas que os bancos estaduais possuíam, tais como: carteira de

empréstimos compostas de créditos não executáveis, decorrentes de concessão

sem critérios e muitas vezes com propósitos políticos; forte dependência dos

governos estaduais para capitalização; investimentos em títulos estaduais, cujos

pagamentos não eram honrados e custos administrativos e operacionais muito

altos. Esses fatos fizeram com que muitos bancos estaduais enfrentassem uma

situação de insolvência.

Com a implementação do PROES, o Governo Federal deixou claro o seu

desejo de reduzir ao mínimo a presença de instituições financeiras controladas

pelos Estados. O PROES criou a possibilidade de os Governos Estaduais

aderirem, de forma voluntária, ao programa, para a obtenção de recursos que

seriam utilizados no saneamento das instituições financeiras estaduais.

O PROES consistia numa linha de financiamento do Governo Federal aos

Estados para permitir o saneamento das instituições financeiras estaduais. O

saneamento poderia ocorrer através das seguintes alternativas:

- Extinção, para o caso das instituições já liquidadas extrajudicialmente;

- Privatização;

- Transformação em agência de fomento;

- Aquisição do controle pelo Governo Federal (federalização) e

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- Saneamento.

Quando do lançamento do PROES, havia 35 instituições financeiras

estaduais, sendo 23 bancos comerciais ou múltiplos. Com exceção dos Estados

que não possuíam instituições financeiras sob seu controle (Mato Grosso do Sul e

Tocantins) e daqueles que não manifestaram interesse no programa (Paraíba e

Distrito Federal), as demais unidades da Federação formalizaram adesão ao

programa. O último prazo para a contratação do PROES expirou em 30/6/2000.

No âmbito do PROES, dez instituições foram extintas ou encontram-se

em processo de liquidação extrajudicial, sete bancos foram privatizados e outros

sete foram federalizados, com a privatização a ser conduzida pela União. Esses

números demonstram que houve uma significativa redução da participação dos

Estados no controle de instituições financeiras.

O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foi criado em 31 de agosto de

1995, com a edição da Resolução 2.197, do Conselho Monetário Nacional, e

passou a funcionar com a aprovação do seu estatuto por meio da Resolução

2.211, do Conselho Monetário Nacional, de 16 de novembro de 1995.

Posteriormente, a Circular 2.657, do BACEN, de 17 de janeiro de 1996,

estabeleceu a base de cálculo de contribuição dos participantes, bem como os

procedimentos de seu recolhimento. O FGC é uma sociedade civil sem fins

lucrativos, constituído sob a forma de sociedade de direito privado.

A ocorrência de intervenções e liquidações, pós-Plano Real, acarretou em

prejuízos aos depositantes dos bancos. Com o receio de que uma crise sistêmica

ocorresse, com os depositantes retirando os recursos dos bancos, foi criado o

FGC. O FGC teve por objetivo dar cobertura a créditos (depósitos à vista, de

poupança e a prazo, letras de câmbio, letras hipotecárias e letras imobiliárias)

contra instituições dela participantes, quando ocorresse intervenção, liquidação

extrajudicial ou falência da instituição.

Os fundos do FGC são constituídos através de contribuições mensais dos

participantes, ou seja, recolhimentos efetuados pelas instituições financeiras que

recebem depósitos à vista, a prazo ou em contas de poupança; efetuem aceite

em letras de câmbio; captem recursos através da colocação de letras imobiliárias

e letras hipotecárias.

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Diante do exposto, pode-se concluir que o Sistema Financeiro Nacional

passou por grandes transformações após o Plano Real, com um intenso processo

de concentração de instituições. Os ajustes ocorridos no sistema financeiro

ocorreram, também, fora do âmbito dos programas implementados pelo governo

(PROER e PROES), conforme descrito no tópico seguinte.

1.2.7 Ajustes no Sistema Financeiro Nacional, após o Plano Real

Desde a implantação do Plano Real, o mercado financeiro passou por um

amplo processo de reforma, com liquidações ou intervenções por parte do

BACEN, mudanças de controle acionário e modificações do objeto social de

instituições financeiras, em alguns casos até transformação para empresas não

financeiras. Nesse contexto, o PROER e o PROES vieram para complementar o

processo de ajustes que já estava em andamento.

Desde o início do Plano Real até dezembro de 1998, 104 instituições

passaram por algum tipo de ajuste4, conforme evidencia a Tabela 2.

Tabela 2 - Instituições que sofreram ajustes no Plano Real

OCORRÊNCIA 1994 1995 1996 1997 1998 Total Incorporação 2 3 1 1 7 Liquidação 7 9 6 11 9 42 Transferência de controle 1 8 10 15 34 Transformação em arrendamento mercantil 1 1 Transformação em banco de investimento 1 4 1 6 Transformação em crédito, financiamento e investimento

1 1

Transformação em distribuidora de títulos e valores mobiliários

1 2 3

Transformação em não-financeira 1 4 5 10 Total 7 13 23 29 32 104

Fonte: Banco Central do Brasil/ CADINF – DEORF/COPEC

A quantidade de instituições que foram objeto de incorporação,

liquidação, transferência de controle e transformação do objeto social, demonstra

que o processo de ajuste do sistema financeiro foi intenso nesse período. A

4 A relação completa das instituições que foram objeto de ajustes encontra-se no anexo I.

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maioria dos processos de transferência de controle acionário, incorporação, fusão

ou transformação ocorreu sem a utilização de recursos públicos.

Pode-se afirmar que uma das conseqüências mais marcantes da

estabilização macroeconômica foi o processo de concentração observado no

Sistema Financeiro Nacional. De fato, comparando-se o número de instituições

autorizadas a funcionar no período de dezembro de 1994 a dezembro de 2003,

verificam-se reduções expressivas, conforme apresentado na Tabela 3.

No período de 1994 a 2003, houve uma redução de 412 instituições, com

destaque para as reduções dos bancos múltiplos (69) e das sociedades

corretoras e distribuidoras de TVM (323).

Tabela 3 – Instituições autorizadas a funcionar

Tipo Dez/94 Dez/97 Dez/00 Dez/03 Banco múltiplo 210 180 164 141 Banco comercial1 34 36 28 23 Banco de desenvolvimento 6 6 5 4 Caixa econômica 2 2 1 1 Banco de investimento 17 22 19 21 Sociedade de CFI 42 49 43 47 Sociedade corretora de TVM 240 202 187 147 Sociedade corretora de câmbio 47 37 41 43 Sociedade distribuidora de TVM 376 238 177 146 Sociedade de arrendamento mercantil 77 80 78 58 Soc. de crédito imobiliário, associação de poupança e empréstimo2

27 22 18 18

Companhia hipotecária - 3 7 6 Agência de fomento - - 8 11

Total: 1.078 877 776 666 (1) Inclui as filiais de bancos estrangeiros. (2) Inclui sociedades de crédito imobiliário repassadoras (SCIR) que não podem captar recursos junto ao público. Fonte: Banco Central do Brasil / Diretoria de Normas e Organização do Sistema Financeiro/DENOR

Os ativos do sistema financeiro nacional, também, estão concentrados em

poucas instituições. Em junho de 2004, o relatório “50 Maiores Bancos e o

Consolidado do Sistema Financeiro Nacional” do BACEN apontava que os 50

maiores bancos5, em cuja composição se verifica pelo menos uma instituição do

5 A relação completa dos 50 maiores bancos encontra-se no anexo II.

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tipo Banco Comercial ou Banco Múltiplo com Carteira Comercial, detinham 82,3%

do total dos ativos menos as operações de intermediação financeira.

1.3 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional

O Sistema Financeiro Nacional pode ser dividido em órgãos normativos,

entidades supervisoras e operadores, conforme descrito no Quadro 4. O órgão

normativo compreende o Conselho Monetário Nacional. As entidades

supervisoras são responsáveis pela fiscalização e regulamentação das atividades

do mercado financeiro e de suas instituições, sendo compostas pelo BACEN e

CVM. A divisão de intermediação financeira, também chamado de operativo, é

composta pelas instituições que atuam em operações de intermediação

financeira.

Quadro 4 - Sistema Financeiro Nacional

Órgãos Normativos

Conselho Monetário Nacional

Banco Central do Brasil Entidades

Supervisoras Comissão de Valores Mobiliários Instituições financeiras captadoras de depósitos à vista Demais instituições financeiras Outros intermediários financeiros e administradores de recursos de terceiros Bolsa de Mercadorias e Futuros

Operadores

Bolsa de Valores Fonte: Banco Central do Brasil

1.3.1 Órgão normativo

O Conselho Monetário Nacional foi criado com a finalidade de formular a

política da moeda e do crédito, objetivando o progresso econômico e social do

País, sendo, portanto, eminentemente normativo, não desempenhando atividade

executiva. Atualmente, o CMN é composto pelo Ministro da Fazenda, Ministro do

Planejamento, Orçamento e Gestão e Presidente do Banco Central do Brasil. A

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Lei 4.595/64, estabelece que as principais funções do CMN são: adaptar o volume

dos meios de pagamento às reais necessidades da economia; regular o valor

interno e externo da moeda e o equilíbrio da balança de pagamentos; orientar a

aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento

das instituições e dos instrumentos financeiros; zelar pela liquidez e solvência das

instituições financeiras; coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária

e da dívida pública interna e externa.

1.3.2 Entidades supervisoras

O Banco Central do Brasil é o principal executor das orientações do

Conselho Monetário Nacional, sendo responsável pela fiscalização do sistema

financeiro. Os principais objetivos do Banco Central são: zelar pela adequada

liquidez da economia; manter as reservas internacionais em nível adequado;

estimular a formação de poupança; zelar pela estabilidade e promover o

permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro. A Lei 4.595/64 estabelece

que compete, privativamente, ao Banco Central: emitir papel-moeda e moeda

metálica; executar os serviços do meio circulante; receber recolhimentos

compulsórios e voluntários das instituições financeiras e bancárias; realizar

operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras; efetuar

operações de compra e venda de títulos públicos federais; exercer o controle de

crédito; exercer a fiscalização das instituições financeiras; autorizar o

funcionamento das instituições financeiras; estabelecer as condições para o

exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições financeiras; vigiar a

interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais e

controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é responsável por

regulamentar, desenvolver, controlar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários

do país, representado principalmente por ações, partes beneficiárias e

debêntures, commercial papers, e outros títulos emitidos pelas sociedades

anônimas. A Lei 6.385/76 estabelece que compete à CVM fiscalizar as atividades

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e os serviços do mercado de valores mobiliários, e fiscalizar e inspecionar as

companhias abertas.

1.3.3 Operadores

As instituições financeiras podem ser divididas entre aquelas captadoras

de depósitos à vista, também denominadas bancárias, e as demais instituições,

denominadas não bancárias (ou não monetárias). As instituições financeiras

bancárias são aquelas que têm autorização para receber depósitos à vista e,

conseqüentemente, podem criar moeda. A criação de moeda ocorre quando um

banco recebe depósitos à vista e aplica o dinheiro sob a forma de empréstimo a

um tomador de recursos, aumentando, assim, a quantidade de moeda em

circulação. Já as instituições financeiras não bancárias não podem receber

depósitos à vista.

As instituições financeiras bancárias em atuação no Sistema Financeiro

Nacional são: o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os Bancos

Múltiplos e Comerciais.

O Banco do Brasil é uma sociedade anônima de capital misto, com

controle acionário da União, organizada sob a forma de banco múltiplo. O Banco

tem por objeto a prática de todas as operações bancárias ativas, passivas e

acessórias, a prestação de serviços bancários, de intermediação e suprimento

financeiro sob suas múltiplas formas e o exercício de quaisquer atividades

facultadas às instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional.

A Caixa Econômica Federal (CEF) e as demais caixas estaduais são

instituições financeiras públicas, que atuam com um objetivo claramente social.

Segundo Assaf Neto (2001, p. 75), a CEF constituí-se no principal agente do

Sistema Financeiro da Habitação (SFH), atuando no financiamento da casa

própria, principalmente no segmento de baixa renda. Além disso, a CEF tem

como principais objetivos: prestar serviços bancários de qualquer natureza,

praticando operações ativas, passivas e acessórias, inclusive de intermediação e

suprimento financeiro, sob suas múltiplas formas; administrar, com exclusividade,

os serviços das loterias federais; exercer o monopólio das operações de penhor

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civil, em caráter permanente e contínuo e atuar como agente operador e

financeiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.

Os bancos comerciais são instituições financeiras constituídas sob a

forma de sociedades anônimas que executam operações de crédito, geralmente,

de curto prazo (ASSAF NETO, 2001, p. 76). A grande característica dos bancos

comerciais é a capacidade de criação de moeda, em função dos depósitos à vista

captados no mercado. Além dos depósitos à vista, os bancos comerciais têm

como fonte de recursos os depósitos a prazo, obtidos principalmente com a

emissão dos certificados de depósitos bancários (CDBs).

Os bancos múltiplos, conforme já mencionado, foram regulamentados

pela Resolução 1.524/88. O banco múltiplo pode atuar com as carteiras

comercial; de investimento e desenvolvimento; de crédito, financiamento e

investimento e crédito imobiliário. Para ser configurado como banco múltiplo uma

instituição deve possuir pelo menos duas das carteiras mencionadas e uma delas

deve, necessariamente, ser comercial ou de investimento.

Como exemplos de instituições financeiras não bancárias temos os

bancos de investimento, bancos de desenvolvimento, sociedades de crédito,

financiamento e investimento, sociedades de arrendamento mercantil e sociedade

de crédito imobiliário.

Nesta dissertação, a pesquisa restringe-se aos dados das instituições

financeiras bancárias, razão pelo qual não se aprofunda o estudo das instituições

não bancárias.

1.4 Operações realizadas por instituições financeiras

Esse tópico aborda as operações realizadas pelas instituições financeiras,

destacando os principais ativos nos quais elas aplicam os seus recursos e os

principais passivos dos quais obtêm recursos. Além disso, será apresentada uma

evolução recente dos principais saldos ativos e passivos.

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1.4.1 Ativos

Os principais ativos das instituições financeiras são os títulos e valores

mobiliários, as operações de crédito e as aplicações interfinanceiras de liquidez. A

seguir esses ativos são descritos de forma detalhada.

Títulos e valores mobiliários

Os títulos e valores mobiliários representam uma das principais opções de

investimento de curto, médio e longo prazos das instituições financeiras.

Os títulos podem ser classificados em públicos ou privados, de acordo

com o emissor. Dentre os títulos privados, existem as debêntures, notas

promissórias, letras hipotecárias e as letras de câmbio. São exemplos de títulos

públicos, as Notas do Tesouro Nacional (NTN), as Letras Financeiras do Tesouro

(LFT) e as Letras do Tesouro Nacional (LTN).

O capítulo 3 aborda, de forma detalhada, os títulos e valores mobiliários.

Operações de Crédito

As operações de crédito constituem-se, normalmente, na principal

aplicação das instituições financeiras, sendo, portanto, a sua fonte de receita

principal.

Podem-se classificar as operações de crédito em dois grupos:

empréstimos e financiamentos. A diferença básica é que os empréstimos são

operações sem destinação específica e os financiamentos são vinculados à

comprovação da aplicação dos recursos.

Como exemplo de empréstimos têm-se: o hot money, capital de giro,

títulos descontados e a conta garantida. No grupo de financiamentos, têm-se: os

imobiliários, rurais, de máquinas e equipamentos e o Crédito Direto ao

Consumidor (CDC).

Aplicações Interfinanceiras de Liquidez

As aplicações interfinanceiras de liquidez são os valores disponíveis de

caixa que as instituições utilizam para aplicar no mercado interbancário. Nesse

grupo, são registrados os depósitos interfinanceiros e as operações

compromissadas.

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Os depósitos interfinanceiros proporcionam a troca de reservas entre

instituições financeiras, ou seja, proporcionam liquidez no mercado interbancário.

Assim, as instituições financeiras deficitárias captam recursos junto às instituições

superavitárias, através da emissão de certificados de depósitos interfinanceiros.

As taxas praticadas nessas operações refletem as expectativas do mercado com

relação às taxas de juros da economia. As taxas são definidas diariamente em

função dos negócios realizados pelas instituições e formam a taxa do DI, ou seja,

a taxa média de juros para operações interbancárias de 1 dia (overnight).

As operações compromissadas são aplicações nas quais o banco compra

títulos públicos ou privados, com o compromisso simultâneo de revender à

contraparte os títulos em questão, dentro de um prazo preestabelecido.

1.4.2 Passivos

Os principais passivos das instituições financeiras são os depósitos à

vista, depósitos a prazo, depósitos de poupança e recursos de empréstimos e

repasses. A seguir esses passivos são descritos de forma detalhada.

Depósito à vista

Depósitos à vista referem-se aos saldos positivos em conta corrente,

mantidos pelos clientes, pessoas físicas ou jurídicas. Os depósitos à vista são

considerados como saldos de livre movimentação, pois se pode, a qualquer

momento, solicitar o resgate do valor depositado. Os saldos negativos de conta

corrente devem ser transferidos para o ativo, tornando-se um empréstimo do

banco ao cliente.

Depósitos a prazo

Os depósitos a prazo são recursos captados pelas instituições financeiras

com data preestabelecida para o resgate, não podendo ser livremente

movimentados. A captação de recursos, nessa modalidade, é efetuada através da

emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDB), títulos que conferem ao seu

titular o direito de receber a importância depositada, acrescida da

remuneração/rentabilidade contratada, em data previamente estabelecida.

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Depósitos de poupança

Os depósitos de poupança foram criados com o propósito de fomentar a

captação de poupança popular e, ao mesmo tempo, facilitar o acesso ao

financiamento habitacional, em função da obrigatoriedade que as instituições

financeiras têm de aplicar um percentual dos recursos de poupança em créditos

imobiliários. Os depósitos em poupança são uma alternativa de investimento

bastante conservadora, oferecendo segurança e baixa rentabilidade, em

comparação com outros investimentos. Atualmente, os depósitos em poupança

pagam juros de 0,5% a.m., acrescidos de correção (TR). Em função da baixa

rentabilidade, os depósitos de poupança perderam muitos recursos para os

fundos de investimento.

Recursos de empréstimos e repasses

São empréstimos captados pelas instituições financeiras junto ao

mercado de capitais e repassados aos clientes que necessitam de recursos para

investimentos de longo prazo. Os empréstimos e repasses podem ser captados

de recursos externos ou internos.

As operações de repasses de recursos internos têm como objetivo apoiar

empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento econômico do país e

têm como principal fonte de recursos os fundos governamentais. O principal

executor dessa política de repasses é o BNDES. Suas linhas de apoio

contemplam financiamentos de longo prazo para o desenvolvimento de projetos

de investimentos e para a comercialização de máquinas e equipamentos novos,

fabricados no país, bem como para o incremento das exportações brasileiras.

As operações de repasses externos são processadas por instituições

financeiras sediadas no país, que contraem empréstimos no exterior e repassam

aos clientes que necessitam de financiamento para o capital de giro e capital fixo.

Nessa modalidade de operação existem três partes envolvidas: 1) o banco

estrangeiro que empresta recursos ao banco nacional; 2) o banco nacional que

capta os recursos no exterior e repassa para os seus clientes e 3) os clientes

sediados no país que tomam os recursos emprestados.

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1.4.3 Saldos ativos e passivos

Esse tópico aborda a evolução dos ativos e passivos das instituições

financeiras no período de dezembro/2000 a dezembro/2004.

Ativos

Os saldos das contas de ativo mostram que as instituições financeiras

aplicam os seus recursos principalmente em operações de crédito e títulos e

valores mobiliários, conforme apresentado na Tabela 4. Somados, esses dois

grupos representavam mais de 50% do ativo total, no período de dezembro de

2000 a dezembro de 2004.

Tabela 4 – Evolução percentual de ativos do sistema bancário

dez/2000 dez/2001 dez/2002 dez/2003 dez/2004 Disponibilidades 1,56 2,02 2,24 2,16 2,26 Aplicações interfinanceiras 8,69 8,80 11,42 12,50 9,96 TVM e derivativos 25,85 30,42 27,11 27,66 26,72 Relações interfinanceiras 11,36 11,12 14,97 13,54 13,74 Relações interdependências 0,34 0,07 0,10 0,09 0,07 Oper. créd. e arrend. mercantil 29,69 27,53 27,30 28,39 30,46 Outros créditos 14,26 13,17 11,30 10,49 11,22 Outros valores e bens 0,46 0,41 0,38 0,38 0,37 Imobilizado de arrendamento 2,57 1,75 1,16 0,93 1,36 Permanente (*) 5,23 4,71 4,02 3,87 3,83 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

(*) Este grupo está subtraído do imobilizado de arrendamento Fonte: Banco Central do Brasil/ Sisbacen

Passivos

Dentre as captações dos bancos destacam-se os depósitos à vista, de

poupança e a prazo e as obrigações por empréstimos e repasses. Os depósitos

representavam a principal fonte de captação das instituições financeiras, com

cerca de 40% dos passivos (Tabela 5).

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Tabela 5 – Evolução percentual de passivos do sistema bancário

dez/00 dez/01 dez/02 dez/03 dez/04 Depósitos à vista 5,94 5,96 6,81 6,74 6,76 Depósitos poupança 13,03 12,38 12,40 11,96 12,21 Depósitos interfinanceiros 1,33 1,47 1,12 1,54 1,76 Depósitos a prazo 16,47 16,77 18,12 18,17 20,28 Depósitos outros 0,45 1,98 2,13 2,64 2,96 Operações compromissadas 15,02 16,98 14,30 16,79 15,00 Recursos de aceites e emissão de títulos

4,36 3,97 2,91 3,50 2,82

Relações interfinanceiras 0,14 0,28 0,28 0,31 0,48 Relações interdependências 0,97 0,58 0,65 0,69 0,70 Obrigações por empréstimos e repasses

20,25 16,20 17,10 14,62 14,02

Instrumentos financeiros derivativos

0,00 0,00 2,47 1,13 1,19

Outras obrigações e exercícios futuros

22,05 23,45 21,71 21,91 21,82

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: Banco Central do Brasil/ Sisbacen

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II - OS TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS

Os títulos e valores mobiliários podem ser divididos em dois grandes

grupos: os títulos de dívida e os patrimoniais (ações). Os títulos de dívida, como o

próprio nome diz, representam dívidas das empresas (ou governos) com os

detentores dos títulos (investidores), ou seja, são os recursos obtidos através de

capitais de terceiros. Já as ações representam uma participação dos investidores

no patrimônio da empresa. Assim, recursos obtidos com emissão de ações são

considerados capital próprio.

2.1 Títulos de dívida

2.1.1 Definição

Segundo Brigham et al (2001, p. 286), “Um título de dívida é um contrato

de longo prazo pelo qual aquele que toma empréstimos concorda em fazer

pagamentos de juros e principal em datas específicas aos detentores dos títulos

(os investidores).”

Ross et al (2000, p. 158) definem os títulos de dívida como sendo

obrigações que uma empresa (ou governo) faz para tomar dinheiro emprestado a

longo prazo junto ao público.

Pelas definições apresentadas, pode-se concluir que existem,

basicamente, dois participantes no mercado de títulos de dívida: a) os emissores

dos títulos de dívida (empresas ou governos) e b) os detentores dos títulos

(investidores), que podem ser institucionais, como, por exemplo, os fundos de

pensão, fundos de investimento, companhias de seguro, instituições financeiras,

ou pessoas jurídicas e físicas.

Além disso, verifica-se que o emissor tem a obrigação de pagar o

principal e os juros aos investidores, em datas específicas. Os títulos de dívida

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são instrumentos de renda fixa, ou seja, na data do investimento são definidos o

principal e os juros que serão pagos aos investidores.

Os autores citados definem que os títulos de dívida são obrigações de

longo prazo. A afirmação deve ser considerada dentro contexto nos quais os

autores estão inseridos. As duas obras são fundamentadas no mercado de títulos

norte-americano, em que as emissões de longo prazo possuem vencimentos de

10, 20 e 30 anos. A realidade é diferente no Brasil, onde emissões de longo prazo

(vencimentos superiores a 10 anos) são raras, em função das incertezas da

nossa economia. Assim, existe uma grande dificuldade por parte da empresas e

até mesmo do governo em captar recursos por períodos mais longos.

2.1.2 Emissores de títulos

Conforme já citado, os emissores de títulos de dívida são as empresas e

os governos. Pode-se classificar os títulos de dívida, por tipo de emissor, em

quatro grupos: do tesouro, das empresas, municipais e estrangeiros.

Os títulos de dívida do tesouro são as emissões do governo federal.

Esses títulos são considerados como livres do risco de insolvência e, em função

disso, normalmente, pagam juros menores do que os outros títulos. No Brasil, são

exemplos de emissões do tesouro as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), as

Letras do Tesouro Nacional (LTN), as Notas do Tesouro Nacional (NTN). Os

principais títulos brasileiros são detalhados no tópico 3.3. Nos Estados Unidos, as

emissões do tesouro são as Treasury Bills, de curto prazo (até um ano); Treasury

Notes, de prazo médio (entre 2 e 10 anos) e as Treasury Bonds, de longo prazo

(acima de 10 anos).

Os títulos de dívida das empresas são dívidas que as empresas realizam

para financiar a sua atividade. Esses títulos possuem o risco de insolvência, que é

definido em função da situação econômico-financeira da empresa. As emissões

podem ser públicas ou privadas. Públicas são as emissões autorizadas pela CVM

e as privadas são aquelas realizadas diretamente entre o emissor e o investidor.

As emissões privadas possuem a desvantagem de não possuírem um mercado

de negociação ativo. Assim, um investidor ao comprar títulos de uma emissão

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privada, dificilmente conseguirá negociá-los, sendo obrigado a mantê-los até o

vencimento.

Como exemplo de títulos de empresas têm-se: debêntures, commercial

papers, letras de câmbio e letras hipotecárias.

No Estados Unidos, os títulos de dívida de empresas são negociados

principalmente no mercado de balcão. A maior parte desses títulos é negociada

por investidores institucionais, como: instituições financeiras, seguradoras, fundos

de pensão e fundos de investimento. Além do mercado de balcão, um volume

menor de títulos de dívida é negociado na Bolsa de Valores de Nova Iorque

(NYSE, New York Stock Exchanges).

No Brasil, o mercado de títulos privados é, ainda, incipiente, apresentando

pouca liquidez. O persistente e elevado endividamento do setor público, aliado às

altas taxas de juros, faz com que os recursos sejam alocados, principalmente, aos

títulos públicos.

Os títulos de dívida municipais são os títulos emitidos pelos governos

estaduais e municipais para financiar as suas despesas, tais como a construção

de ferrovias, estradas e escolas. Esses títulos apresentam um risco de insolvência

maior do que os títulos federais e normalmente pagam juros maiores.

Nos Estados Unidos, a grande vantagem dos títulos municipais é a

isenção dos impostos federais e para a maioria dos títulos, dos impostos

estaduais e municipais, especialmente se o investidor morar no Estado em que o

título foi emitido. Os tipos de títulos municipais, segundo Fabozzi e Modigliani

(2000, p. 234), são basicamente dois: a) os bônus de obrigações gerais e b) os

bônus de receita. Os bônus de obrigações gerais são instrumentos de dívida

lastreados pelo poder ilimitado de tributação do emitente, em outras palavras, o

poder do emitente de cobrar impostos. Já os bônus de receita são emitidos para

financiamentos de projetos ou empreendimentos em que os Municípios/Estados

caucionam as receitas geradas pelos projetos operacionais financiados aos

investidores.

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No Brasil, as emissões de títulos municipais e estaduais foram proibidas

em 1993, devido às elevadas taxas de crescimento da dívida mobiliária estadual.

A Emenda Constitucional nº 3, de 17 de março de 1993, proibiu a emissão de

títulos por parte dos Estados, Distrito Federal e Municípios até 31/12/1999, exceto

no montante necessário ao refinanciamento do principal devidamente atualizado

de suas obrigações ou no valor dos precatórios judiciais pendentes de pagamento

na data de promulgação da Constituição (conforme define o artigo 33, do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias).

Os precatórios judiciais referem-se às dívidas dos Estados e Municípios

com sentença promulgada pelo Poder Judiciário, determinando-se que o governo

devedor inclua a previsão de pagamento de tal dívida no orçamento do ano

seguinte. Em função da permissão existente na Emenda Constitucional nº 3,

alguns governos, como, por exemplo, os Estados de Alagoas, Pernambuco e

Santa Catarina e os Municípios de São Paulo, Campinas e Osasco, emitiram

títulos cuja finalidade seria efetuar o pagamento dos precatórios. Porém, alguns

desses governos utilizaram os recursos obtidos com a emissão dos títulos para

pagamento de outras dívidas que não a dos precatórios. Essa situação fez com

que a já precária situação da dívida dos governos estaduais e municipais

piorasse.

Assim, nesse contexto de agravamento da crise financeira dos Estados,

expressa através do aumento de endividamento e geração de déficits fiscais

sucessivos, estabeleceram-se os critérios para a consolidação, assunção e

refinanciamento, pela União, de diversas dívidas financeiras de responsabilidade

de Estados e Municípios, inclusive a dívida mobiliária.

O refinanciamento foi definido pela Lei 9.496, de 11 de setembro de 1997

(Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal dos Estados) e pela Medida

Provisória 2.185-35, de 24 de agosto de 2001 (Programa de Reestruturação das

Dívidas dos Municípios).

No refinanciamento ficou estabelecido que os Estados não poderiam

emitir novos títulos públicos, enquanto a dívida financeira fosse superior a sua

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Receita Líquida Real6 e os Municípios somente poderiam emitir novos títulos da

dívida pública mobiliária municipal interna ou externa, após a integral liquidação

da dívida objeto do refinanciamento.

Os títulos de dívida estrangeiros são as emissões dos governos ou

empresas estrangeiras. Esses títulos, também, apresentam o risco de insolvência,

dependendo da situação econômica do país emissor. Além do risco de

insolvência, os títulos estrangeiros estão expostos ao risco de variação da taxa de

câmbio, caso sejam emitidos em uma moeda diferente daquela do investidor. A

taxa de câmbio é a quantidade de moeda de um país que pode ser trocada pela

moeda de outro país. Assim, por exemplo, um investidor americano que compre

títulos de uma empresa japonesa, cuja emissão seja em ienes, estará exposto à

variação cambial entre o dólar e o iene, em outras palavras, o valor em dólar que

irá receber dependerá da taxa de câmbio entre essas duas moedas

O título de dívida externa do Brasil mais conhecido e também o mais

negociado é o C-Bond (Capitalization Bond), que foi emitido como parte da

renegociação da dívida brasileira em 1994 (Plano Brady).

Uma vantagem do investimento em títulos de dívida estrangeiros é a

possibilidade de os investidores montarem uma estratégia baseada nas taxas de

juros de diferentes países, o que pode propiciar um retorno esperado maior, para

um dado nível de risco. Cada país tem a sua taxa de juros básica e países com

uma economia mais forte ou desenvolvida possuem uma taxa de juros menor do

que a de países emergentes. Porém, o risco dos títulos de países emergentes é

maior. Assaf Neto (2001, p. 102) esclarece que as oscilações nos valores dos

títulos são decorrentes da situação econômica e política do país devedor, ou seja,

de seu risco.

6 Receita Liquida Real: para os efeitos da Lei é a receita realizada nos doze meses anteriores ao do mês em que se estiver apurando, excluídas as operações provenientes de operações de crédito, de alienações de bens, de transferências voluntárias ou de doações recebidas com o fim específico de atender despesas de capital e, no caso dos Estados, as transferências aos Municípios por participações constitucionais e legais.

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2.1.3 Características dos títulos

Os títulos de dívida podem ser identificados pelas seguintes

características: valor de face, cupom, taxa de cupom e data de vencimento.

O valor de face (também conhecido por valor nominal), na definição dada

por Ross et al (2000, p. 158), é o valor do principal em uma obrigação, sendo

devolvido ao final do prazo. Brigham et al (2001, p. 287) esclarecem que o valor

nominal, geralmente, representa a quantia de dinheiro que a empresa toma

emprestado e promete pagar no vencimento.

O cupom é o pagamento de juros de um título de dívida.

A taxa de cupom é a taxa de juros do título de dívida. Quando o cupom é

divido pelo valor nominal, obtém-se a taxa de cupom.

A taxa de cupom é definida na data de emissão, permanecendo

obrigatória durante toda a vida do título. Para alguns títulos, o pagamento de

cupons pode variar ao longo do tempo. Conforme Brigham et al (2001, p. 288),

para esses títulos de dívida indexados ou de taxa flutuante, a taxa de cupom é

definida para um período de tempo após o qual ela é ajustada, com base em

determinada taxa de mercado. Por exemplo, no Brasil existem emissões de títulos

indexados à taxa Selic, para os títulos públicos e à taxa do DI, para os títulos

privados.

Existem, ainda, alguns títulos de dívida em que nenhum pagamento é

efetuado até o vencimento, ou seja, não pagam cupons. Esses títulos,

denominados títulos de cupom zero (zero coupon bond), são emitidos por um

preço bastante inferior ao seu valor nominal, oferecendo, portanto, um ganho de

capital em vez de remuneração de juros.

A data de vencimento é aquela em que o valor nominal deverá ser pago.

Para alguns títulos é definida uma cláusula de resgate antecipado que dá à

empresa emissora o direito de recomprar os títulos de forma antecipada, antes da

data de vencimento.

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2.1.4 Avaliação de títulos de dívida

O valor de um título de dívida é definido pela soma dos fluxos de caixa

que irá produzir, trazidos a valor presente por uma taxa de juros de mercado

(yield). Dessa forma, para se determinar o valor de um título deve-se conhecer os

cupons (juros a serem pagos), o valor nominal e a taxa de juros de mercado.

Ross et al (2000, p. 159) informam que a taxa de juros requerida pelo

mercado sobre um título de dívida é denominada retorno até o vencimento (yield

to maturity). A ressaltar que a taxa de juros de mercado não é igual a taxa do

cupom. A taxa de cupom é definida no momento da emissão do título quando,

normalmente, as duas taxas (cupom e de mercado) são iguais, pois a maioria dos

títulos são vendidos pelo seu valor nominal. Após a emissão do títulos, as taxas

de juros de mercado flutuarão, de acordo com as condições do mercado e a taxa

de cupom permanecerá fixa.

Assim, suponha o exemplo de um título com pagamento de n parcelas de

cupons (FC1 a FCn), mais o pagamento do valor nominal (FV), conforme

demonstrado na Figura 1.

Figura 1 – Fluxo de pagamentos de um título.

Nesse caso, o valor presente do título é obtido pela equação:

em que:

VPL = valor presente líquido do título;

FC = valores em reais de juros pagos a cada período;

FV = valor nominal ou valor de face no vencimento do título;

n = número de períodos até o vencimento e

i = taxa de juros de mercado. Essa é a taxa de desconto utilizada para se calcular o valor presente.

, )1()1(

...)1()1( 22

11

nnn

iFV

iFC

iFC

iFC

VPL+

++

+++

++

=

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As mudanças nas taxas de juros alteram o valor dos títulos. Segundo

Brigham et al (2001, p. 297), sempre que a taxa de juros de mercado superar a

taxa de cupom, o preço de um título de dívida de taxa fixa cairá abaixo de seu

valor nominal, sendo denominado título de dívida com desconto (ou deságio) e

sempre que taxa de juros de mercado cair abaixo da taxa de cupom, o preço de

um título de dívida de taxa fixa irá superar seu valor nominal, sendo denominado

título de dívida com ágio.

Assim, aumentos nas taxas de juros reduzem o valor dos títulos de dívida

e vice-versa. De acordo com Fabozzi e Modigliani (2000, p. 33), quando os

retornos de mercado se elevam acima da taxa do cupom num determinado ponto

no tempo, o valor do título se ajusta para que o investidor possa realizar algum

juro adicional. Se assim não fosse, os investidores não comprariam o título por

oferecer um retorno abaixo do mercado; em conseqüência, a falta de demanda

resultante faria com que o preço caísse, aumentando, assim, o rendimento do

título.

2.1.5 Riscos dos títulos de dívida

Os investimentos em títulos de dívidas estão expostos a um ou mais dos

seguintes riscos (Figura 2): a) risco de taxa de juros; b) risco de reinvestimento; c)

risco de insolvência; d) risco de inflação; e) risco cambial e f) risco de liquidez.

Descreve-se, a seguir, cada um desses riscos.

O risco de taxa de juros refere-se ao risco de que ocorra um declínio no

valor do título em função de um aumento na taxa de juros. Conforme já

mencionado, um aumento na taxa de juros acarreta num declínio no valor do título

de dívida.

Ross et al (2000, p. 161) afirmam que o risco de taxa de juros depende de

quão sensível é o preço do título às mudanças na taxa de juros. A sensibilidade

depende do prazo até o vencimento e da taxa de cupom. Assim, mantidos todos

os outros fatores constantes, quanto maior for o prazo até o vencimento, maior

será o risco de taxa de juros e quanto menor for a taxa de cupom, maior será o

risco de taxa de juros.

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Figura 2 – Riscos dos títulos de dívida

A razão de prazos de vencimentos mais longos apresentarem maior risco

de taxa de juros pode ser explicada pelo fato de que uma grande parcela do valor

de um título de dívida ser composto do valor nominal, que é pago somente na

data de vencimento. Assim, o valor presente desse montante é pouco afetado por

mudanças nas taxas de juros se o prazo de pagamento for de um ano ou menos.

Porém, mesmo uma pequena mudança na taxa de juros provocará alterações

significativas no valor do título se o prazo de vencimento for de 30 anos.

Para que os investidores aceitem esse risco adicional, os títulos de dívida

de prazo mais longo, normalmente, devem oferecer uma taxa de retorno mais alta

do que os de curto prazo.

Com relação às taxas de cupom menores apresentarem maior risco, Ross

et al (2000, p. 162) esclarecem que títulos com taxa menor dependem,

proporcionalmente, mais do valor nominal a ser recebido no vencimento.

Conseqüentemente, mantidos os outros fatores constantes, seu valor oscilará

mais em função de mudanças nas taxas de juros. Em outras palavras, taxas de

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juros maiores permitem a realização do fluxo de caixa mais cedo; portanto, o

prazo de realização é menor e seu valor é menos sensível às variações na taxa

de juros.

Para Fabozzi e Modigliani (2000, p. 7), o risco de taxa de juros é de longe

o principal risco enfrentado por um investidor no mercado de títulos de dívida.

O risco de taxa de reinvestimento refere-se ao risco de que ocorra uma

queda na renda devido a uma baixa na taxa de juros. Quando um título vence ou

é resgatado de forma antecipada, os recursos devem ser reinvestidos e caso a

taxa de juros de mercado seja inferior à taxa de cupom dos títulos resgatados, os

investidores sofrerão redução em sua renda.

O risco de taxa de reinvestimento é alto nos títulos de dívida resgatáveis

antecipadamente e nos títulos de curto prazo pois, quanto menor o período de

vencimento de um título, menor serão os anos em que os antigos juros altos

serão recebidos e mais cedo os recursos terão de ser reinvestidos à nova taxa

baixa (BRIGHAM et al, 2001, p. 303).

O risco de insolvência refere-se ao risco de que o emissor não honre os

pagamentos de juros ou de principal do título de dívida. Se o emissor do título

tornar-se insolvente, os investidores, provavelmente, receberão menos do que o

retorno esperado do título. Assim, a taxa de juros cotada de um título embute um

prêmio por risco de insolvência. Portanto, quanto maior for o risco de insolvência

do emissor do título, maior será a taxa de juros exigida pelos investidores.

Um importante aspecto do risco de insolvência são as classificações de

qualidade (ratings) que refletem a probabilidade de insolvência dos emissores dos

títulos. Os ratings são emitidos por agências, cujas principais são a Moody´s,

Standard & Poors (S&P) e Fitch Rating. As designações de classificação da

Moody´s e da S&P são apresentadas no Quadro 5.

Quadro 5 – Classificações de títulos de dívida da S&P e Moody’s

Nível aceitável como investimento

Alto risco ou junk bonds

S&P AAA AA A BBB BB B CCC D Moody's Aaa Aa A Baa Ba B Caa C Fonte: Standard & Poors e Moody´s

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Os títulos de dívida com triplo A e duplo A são extremamente seguros,

apresentando pouca ou nenhuma probabilidade de insolvência. Os de único A ou

BBB/Baa são considerados fortes o suficiente para serem classificados como

nível aceitável de investimento. Os títulos classificados em BB/Ba e inferiores

apresentam um risco de insolvência maior, sendo considerados como de alto

risco, também conhecidos como junk bonds.

As classificações de títulos de dívida consideram diversos fatores, tanto

quantitativos, quanto qualitativos. Por exemplo, são analisados os índices de

endividamento, liquidez, rentabilidade; as garantias oferecidas ao título de dívida;

o prazo de vencimento do título; a regulamentação à qual o emissor está exposto

e a estabilidade das vendas e dos lucros do emissor. A classificação das agências

de rating não se baseia numa fórmula matemática precisa, mas considera os

fatores listados e outros, para obter o rating do título.

A classificação emitida pelas agências são importantes pois, por ser um

indicador do risco de insolvência, influencia a taxa de juros de um título e o custo

da dívida da empresa. Além disso, uma grande parte dos títulos de dívida é

adquirida por investidores institucionais que em muitas situações têm restrições

para investir em títulos de alto risco. Assim, se um título de dívida for classificado

como de alto risco, o número de potenciais investidores ficará reduzido, podendo

inviabilizar a emissão.

Segundo Fabozzi e Modigliani (2000, p. 10), o risco de inflação surge

devido à variação dos fluxos de caixa de um título em face da inflação, medida em

termos de poder de compra. Assim, se a taxa de inflação for maior do que a taxa

de cupom, o poder de compra do fluxo de caixa na realidade diminuiu. Esse risco

ocorre, principalmente, nos títulos com taxa prefixada, pois, nesses casos, os

cupons são fixos.

O risco cambial acontece quando os títulos têm o valor expresso em outra

moeda que não a do país do investidor. Nesse caso, o fluxo de caixa do título irá

depender da taxa de câmbio no momento em que os pagamentos forem

efetuados. Os movimentos de depreciação/valorização de uma moeda em relação

a outra alteram os valores recebidos pelo investidor em sua moeda local.

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O risco de liquidez está relacionado à existência de um mercado ativo

para a negociação de um título. Assim, quanto mais ativo o mercado, tanto em

termos de quantidade de negócios quanto em volume monetário, menor será o

risco de liquidez do título. Para Fabozzi e Modigliani (2000, p. 10), a medida

primária do risco de liquidez é o tamanho do spread entre o preço de compra e o

preço de venda cotado por um corretor ou distribuidor. Quanto maior o spread,

maior o risco de liquidez.

2.1.6 Gerenciamento do risco de taxa de juros

As aplicações em títulos de renda fixa expõem as instituições financeiras

a riscos financeiros, que se não forem identificados e mensurados, de forma

tempestiva, podem levar as instituições, mesmo as bem administradas, ao

fracasso. No mercado financeiro atual, a volatilidade das taxas de juros é bem

maior do que no passado, o que torna o gerenciamento do risco de taxa de juros

imperativo.

A exposição ao risco de taxa de juros talvez tenha sido o fator mais

importante na crise das instituições de poupança e empréstimo dos Estados

Unidos (U.S. Savings and Loans – S&Ls). Entre 1980 e 1994, cerca de 1300

S&Ls faliram ou necessitaram de assistência financeira. As S&Ls estavam

expostas ao risco de taxa de juros, em função dos empréstimos serem de longo

prazo, com juros prefixados e os passivos serem de curto prazo, cujos juros

oscilavam de acordo com as variações nas taxas de juros. Os retornos das S&Ls

eram inversamente relacionados com a taxa de juros de mercado; conforme a

taxa de juros de mercado aumentava, os retornos diminuíam. O aumento da taxa

de juros fez com que o valor dos ativos diminuísse e o dos passivos aumentasse.

O risco de taxa de juros, conforme Saunders (2000, p. 104), ocorre

quando há um descasamento de prazos entre os ativos e passivos de uma

instituição. As instituições financeiras ao manterem ativos e passivos com prazos

de vencimento diferentes, ficam expostas ao risco de taxa de juros.

Se uma instituição possuir ativos com prazos de vencimento superiores

aos passivos, ela fica exposta ao risco de refinanciamento, isto é, o risco de que

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no vencimento dos passivos, o custo de captação de novos fundos seja maior do

que o retorno obtido com os ativos. Se os passivos tiverem prazos de vencimento

superiores aos ativos, a instituição fica exposta ao risco de reinvestimento, isto é,

o risco de que os retornos obtidos com o reinvestimento dos ativos fiquem

inferiores ao custo de captação.

Quando há um descasamento nos prazos, o impacto nos retornos irá

depender da oscilação ocorrida na taxa de juros de mercado. Aumentos na taxa

de juros melhoram os retornos de instituições que possuem passivos com prazos

de vencimento superiores aos ativos, pois, na data de vencimento do ativo, a

instituição poderá reinvestir os recursos a uma taxa de juros mais alta, enquanto

os passivos permanecem com a taxa anterior, mais baixa. Em sentido oposto,

diminuições na taxa de juros melhoram os retornos de instituições que possuem

ativos com prazos de vencimento superiores aos passivos. Nesse caso, a

captação de recursos é que pode ser refinanciada a um custo mais baixo.

O Quadro 6 resume os riscos e impactos nos retornos decorrentes de

aumentos ou reduções na taxa de juros.

Quadro 6 – Riscos de taxas de juros (instrumentos renda fixa)

Prazo de vencimento Risco Mudança na taxa de juros

Impacto nos retornos

↑ Aumento (-) Negativo ATIVO > PASSIVO Risco de refinanciamento ↓ Redução (+) Positivo

↑ Aumento (+) Positivo PASSIVO > ATIVO Risco de reinvestimento ↓ Redução (-) Negativo

Portanto, para as instituições que desejam proteger-se contra as

oscilações na taxa de juros, a melhor política é gerenciar os seus ativos e

passivos, de forma a obter prazos de vencimentos iguais.

Segundo Marshall e Bansal (1992, p. 155):

O gerenciamento de ativos/passivos é um esforço para minimizar a exposição ao risco de valor por meio de uma combinação apropriada de ativos e passivos de forma a atingir os objetivos da empresa (por exemplo um lucro a ser obtido) e simultaneamente minimizar o risco da empresa. O aspecto fundamental nessa forma de gerenciamento de risco é manter a combinação correta de ativos e passivos nas demonstrações financeiras (tradução do autor).

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Dessa forma, pode-se dizer que o gerenciamento de ativos e passivos

(ALM - Asset and Liability Management) consiste no gerenciamento de ativos e

passivos de forma conjunta, com o objetivo de mitigar o risco de taxa de juros e

melhorar os resultados da empresa. O gerenciamento de ativos e passivos

analisa o risco e procura assegurar que o nível de exposição ao risco da empresa

é consistente com os resultados desejados.

Existem algumas ferramentas para gerenciar o descasamento entre ativos

e passivos. Os mais utilizados são o modelo do prazo de vencimento (maturity

model), a duration, a convexidade e a imunização (Quadro 7).

Quadro 7 – Ferramentas de gerenciamento de risco

Ferramenta Conceito Características

Modelo do prazo de vencimento

Busca mensurar a diferença na maturidade entre os ativos e passivos, sensíveis ao risco de taxa de juros.

Não considera os pagamentos intermediários de juros e de amortizações do principal.

Modelo duration Medida de tempo que representa o prazo médio para receber os pagamentos de um ativo, ponderado pelos seus fluxos de caixa.

Pressupõe que a estrutura a termo das taxas de juros são planas e que os deslocamentos nas taxas de juros ocorrem de forma paralela.

É uma aproximação linear da exposição à taxa de juro, válida apenas para pequenas mudanças nas taxas de retorno.

Convexidade Mede a curvatura da relação entre preço e taxa de juros.

Representa um fator de ajuste à duration, aumentando a sua precisão.

Imunização Consiste em obter uma carteira de renda fixa, composta de posições ativas e passivas, que esteja imune às variações nas taxas de juros.

Não é uma estratégia permanente, ou seja, protege a carteira de renda fixa por período de tempo limitado.

Modelo do prazo de vencimento (Maturity Model)

A maturidade (maturity) pode ser definida como o prazo para o

vencimento de um título de dívida, independente do pagamento de juros ou de

amortizações intermediárias do principal. Uma primeira forma de gerenciamento

do risco de taxa de juros é verificar o prazo de vencimento dos instrumentos de

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renda fixa. Quanto maior for o prazo de vencimento de um ativo ou passivo de

renda fixa, maior será a exposição ao risco de taxa de juros.

O modelo do prazo de vencimento busca mensurar a diferença na

maturidade entre os ativos e passivos, sensíveis ao risco de taxa de juros. Por

esse método, para cada seqüência de período de tempo, é calculado o valor de

mercado de ativos e passivos de renda fixa e os resultados são, então, somados

para obter-se o descasamento entre os ativos e passivos.

De acordo com Saunders (2000, p. 116), o modelo do prazo de

vencimento pode ser estendido para uma carteira de ativos e passivos. Definindo

MA como o prazo médio ponderado dos ativos e ML prazo médio ponderado dos

passivos, a maturidade da instituição pode ser calculada pela seguinte equação:

em que:

Mi = prazo médio ponderado dos ativos (i = A) ou dos passivos (i = P);

Wij = peso de cada ativo (passivo) na carteira de ativos (passivos), medido pelo quociente entre o valor de mercado desse ativo e o valor de mercado todos os ativos (passivos) e

Mij = prazo de vencimento do j-ésimo ativo (passivo), j = 1,2,3 ...,n.

O modelo do prazo de vencimento auxilia na proteção do risco de taxa de

juros. Porém, o fato de a instituição possuir ativos com o mesmo prazo dos

passivos, não garante proteção total contra às oscilações nas taxas de juros. Isso

ocorre, em função do modelo do prazo de vencimento não considerar os

pagamentos intermediários, de juros e de amortizações do principal. Assim, os

fluxos de caixa ativos e passivos podem não estar perfeitamente casados e a

instituição ainda estará exposta ao risco de variação nas taxas de juros.

Duration

A duration fornece uma medida de risco melhor do que o modelo do prazo

de vencimento, (maturity model), pois, além do prazo de vencimento do principal,

considera outros fatores que afetam o valor de um título de renda fixa, tais como:

os pagamentos intermediários de cupons, a freqüência de pagamento dos

cupons, a forma de amortização do principal e a taxa de juros de mercado.

, 2211 ininiiiii MWMWMWM +++= �

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A duration, desenvolvida por Frederick Macaulay, é uma medida de tempo

(anos, meses, etc.) que representa o prazo médio para receber os pagamentos de

um ativo, ponderado pelos seus fluxos de caixa. A duration, também, representa

uma medida de sensibilidade do título à flutuação da taxa de juros. Assim, títulos

com duration maior estão mais expostos às mudanças na taxa de juros.

De acordo com Marshall e Basal (1992, p. 193), a fórmula da duration é

dada pela seguinte equação:

em que:

CFt= Fluxo de caixa durante o período t;

y = taxa de juros de mercado do título;

m = periodicidade de pagamentos por ano;

T = número de anos do fluxo de caixa e

t = 1,2,3,..., m.T.

A duration é, freqüentemente, modificada por meio da divisão da duration

de Macaulay por 1 mais a taxa de juros. Essa duration modificada mede a

sensibilidade do valor a variações da taxa de juros de mercado. Conforme

Marshall e Basal (1992, p. 157), a duration modificada é obtida pela seguinte

equação:

em que:

D* -= duration modificada;

D = duration de Macaulay;

y = taxa de juros de mercado do título e

m = periodicidade de pagamentos por ano.

Saunders (2000, p. 152) destaca três características da duration,

relacionadas à maturidade, à taxa de juros de mercado e ao pagamento de juros.

( )( )

, y/m1CF

y/m1CF wonde mtwD

t

tt

Tm

1tt

�� +

+=∗=

=t

t

( ) , my1

DD*

+=

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- Maturidade (prazo de vencimento): a duration aumenta com o aumento da

maturidade de um título de renda fixa, porém a uma taxa decrescente.

- Taxa de juros de mercado: a duration diminui à medida que a taxa de juros

aumenta. Taxas de juros mais altas descontam os fluxos de caixa finais de

forma mais acentuada e a importância relativa, ou ponderação, desses fluxos

de caixa declinam, quando comparados aos fluxos de caixa iniciais.

- Pagamento de juros: quanto mais alto o pagamento de juros do título, menor

será a duration. Isso ocorre devido ao fato de que quanto maior o pagamento

de juros, mais rápido se recebem os fluxos de caixa e maior será o peso

desses fluxos de caixa no cálculo da duration.

No caso de títulos sem pagamentos de cupons (zero coupon bond), a

duration é igual à data de vencimento, pois, nesse caso, só existe o pagamento

do principal, que ocorre na data de vencimento.

A duration representa uma medida essencial para a avaliação do risco de

taxa de juros. Porém, a duration tem algumas limitações. Em primeiro lugar, a

duration pressupõe que as taxas de juros de mercado são flat, ou seja, que a

estrutura a termo das taxas de juros são planas. Assim, os fluxos de curto prazo

são descontados pela mesma taxa que os fluxos de longo prazo. Adicionalmente,

a duration pressupõe que os deslocamentos nas taxas de juros ocorrem de forma

paralela à estrutura a termo das taxas de juros. Na realidade, a estrutura a termo

raramente é plana e os deslocamentos, na maioria dos casos, não são paralelos.

Uma segunda limitação da duration, conforme destaca Jorion (2003, p.

120), está no fato de ser uma aproximação linear da exposição à taxa de juro,

válida apenas para pequenas mudanças nas taxas de retorno. Em função disso, a

convexidade é, às vezes, considerada como um fator de ajuste para a duration.

Convexidade

A convexidade representa um fator de ajuste à duration, aumentando a

sua precisão. A convexidade mede a curvatura da relação entre preço e taxa de

juros.

O modelo de duration considera que a relação entre as variações das

taxas de juros e a de preços é linear. Entretanto, Saunders (2000, p. 140) ressalta

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63

que com o cálculo exato da verdadeira variação de preços, verifica-se que, para

aumentos substanciais de taxas de juros, a duration fornece uma predição

exagerada da queda dos preços, ao passo que, no caso de reduções substanciais

de taxas de juros, haverá subestimação do aumento de preços.

Gráfico 1 – Curva de preços e taxa de juros: duration e convexidade

O Gráfico 1 mostra uma comparação entre os preços obtidos através da

duration e do cálculo exato dos preços (convexidade). O exemplo considera um

investimento de $100.000,00 em um título prefixado, sem pagamento de cupons

(zero coupon bond), com prazo de 10 anos e taxa de 15%. Pode-se notar que à

medida que as variações nas taxas de juros aumentam, o erro no cálculo do

preço do título com base na duration, também aumenta.

Apesar das restrições apresentadas, a duration é uma medida útil e

confiável, especialmente, quando o nível e a volatilidade da taxa de juros forem

baixas.

A duration é uma medida que auxilia na gestão da exposição ao risco de

taxa de juros. Assim, com a utilização da duration uma instituição pode imunizar o

13

63

113

163

213

5,00

%

7,00

%

9,00

%

11,0

0%

13,0

0%

15,0

0%

17,0

0%

19,0

0%

21,0

0%

23,0

0%

25,0

0%

Taxa de juros

Pre

ço (

R$

mil)

Duration

Convexidade

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64

seu balanço ou uma parte de sua carteira de renda fixa, ou seja, permite que a

instituição proteja o seu valor de mercado contra oscilações na taxa de juros.

Imunização

A imunização consiste em obter uma carteira de renda fixa, composta de

posições ativas e passivas, que esteja imune às variações nas taxas de juros. A

imunização é obtida quando a duration dos ativos e dos passivos forem iguais.

A seleção de ativos de forma a imunizar o nível de sensibilidade da

diferença entre os valores dos ativos e passivos é denominada imunização de

portfólio (MARSHALL e VIPAL, 1992, p. 156).

Normalmente, os prazos das posições ativas e passivas das instituições

financeiras não se encontram casadas. Portanto, se uma instituição deseja

eliminar ou reduzir o risco de taxa de juros, deve alterar a composição da sua

carteira de renda fixa, de forma a igualar a duration dos ativos com a dos

passivos. Além da alteração direta da carteira, a imunização pode ser obtida por

meio de operações de hedge nos mercados de derivativos.

A imunização por meio da duration não é uma estratégia permanente, ou

seja, ela protege a carteira de renda fixa por período de tempo limitado. Saunders

(2000, p. 140) destaca que “[...] a imunização baseada em duration é uma

estratégia dinâmica. Teoricamente, exige que o administrador da carteira

reestruture a carteira continuamente, para garantir que sua duration seja

exatamente igual ao horizonte de investimento.”

Como uma reestruturação contínua da carteira pode representar grandes

custos de transações, os gestores tendem a imunizar a carteira de tempos em

tempos.

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65

2.2 Ações

2.2.1 Definição

As ações são emitidas pelas empresas para obtenção de recursos,

representando uma fonte de capital próprio. Segundo Assaf Neto (2001, p. 206):

Ações constituem-se em títulos representativos da menor fração do capital social de uma empresa (sociedade anônima, sociedade por ações ou companhia). O acionista não é um credor da companhia, mas um co-proprietário com direito à participação em seus resultados.

Uma empresa pode conseguir capital próprio emitindo ações ordinárias ou

preferenciais.

Os titulares de ações ordinárias têm direito de voto, o que lhes permite

eleger e destituir os membros da diretoria e do Conselho Fiscal; decidir sobre o

destino dos lucros; autorizar emissões de debêntures e aumento de capital etc.

Cada titular de uma ação ordinária tem direito a um voto; assim, investidores que

possuam a maioria das ações, detêm o poder de decisão, ou seja, têm controle

sobre a administração da companhia.

Já uma ação preferencial, de acordo com Gitman (2004, p. 268),

geralmente não tem direito a voto; porém, concede a seu titular certos privilégios,

tal como a promessa de um dividendo periódico fixo, definido em termos

percentuais ou em dólares por unidade. Os acionistas preferenciais têm, também,

prioridade no recebimento do capital investido, em relação aos acionistas

ordinários, nos casos de falência da empresa. Dessa forma, o acionista

preferencial está mais preocupado com os lucros da companhia, dando prioridade

aos resultados distribuídos.

As ações são títulos de renda variável, ou seja, na data do investimento,

os resultados obtidos pelos investidores são incertos, podendo oscilar em função

dos dividendos distribuídos e do preço de mercado da ação. A distribuição de

dividendos irá depender dos resultados obtidos pela empresa e do valor que a

assembléia dos acionistas decidir distribuir. O preço de mercado depende de

vários fatores, tais como: o desempenho da empresa, as suas perspectivas de

negócios, o mercado em que ela atua e as condições econômicas do país.

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66

Um investidor ao aplicar em ações pode obter, basicamente, dois tipos de

rendimento: 1) os dividendos distribuídos pela empresa e 2) a valorização do

preço da ação no mercado.

Os dividendos representam os lucros auferidos pela empresa que, por

decisão em assembléia, são distribuídos aos acionistas. A distribuição dos

dividendos envolve a decisão sobre o lucro obtido pela empresa: distribuir e

proporcionar um ganho imediato aos acionistas ou reinvestir e proporcionar

condições para que a empresa cresça e aumente os lucros, proporcionando ao

acionista um ganho de capital futuro.

2.2.2 Riscos das ações

Segundo Assaf Neto (2001, p. 213), as ações estão expostas a dois tipos

de risco: o da empresa emitente e o de mercado (Figura 3).

Figura 3 – Riscos das ações

O risco da empresa é aquele associado às decisões financeiras, podendo

ser subdivido em: a) risco econômico, que é inerente à própria atividade da

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empresa e às características do mercado em que opera. Como exemplos de risco

econômico têm-se: o aumento da concorrência, a evolução tecnológica, a

elevação das taxa de juros, a qualidade dos produtos etc. e b) risco financeiro,

que é o risco associado ao endividamento da empresa, ou seja, à capacidade de

a empresa honrar os compromissos assumidos. Dessa forma, empresas com alto

grau de endividamento apresentam maior risco financeiro.

O investidor pode reduzir o risco da empresa através da composição de

uma carteira com ações de diversas empresas, que não tenham uma correlação

perfeitamente positiva. Duas ações são perfeitamente correlacionadas se uma

variação ocorrida em uma ação é acompanhada, na mesma proporção, pela

segunda. Dessa forma, na teoria do portfólio, o risco da empresa ou de um ativo

individual é considerado como um risco diversificável ou não sistemático, ou seja,

aquele que pode ser reduzido pela diversificação da carteira.

O risco de mercado diz respeito às variações imprevistas no

comportamento do mercado, determinadas, principalmente, por mudanças

ocorridas na economia. O risco de mercado ocorre pelo fato de que existem

vários fatores econômicos que afetam todas as empresas, não podendo ser

eliminado pela diversificação. Os principais fatores que influenciam o risco de

mercado são: as taxas de juros da economia, a inflação, a situação política e

econômica do país e as cotações das ações no mercado.

2.2.3 Direitos de subscrição (preferência)

Os acionistas têm o direito de subscrição, ou seja, a preferência na

compra de novas ações emitidas pela companhia. Assim, a companhia ao emitir

novas ações, aumentando o seu capital social, deve dar preferência de compra

aos acionistas atuais, na proporção das ações possuídas.

O direito de subscrição tem o objetivo de proteger os acionistas sob dois

aspectos. Primeiro, permite que os acionistas atuais mantenham o controle. Se

não houvesse esse direito, os administradores da companhia poderiam emitir um

grande número de novas ações e comprá-las, adquirindo dessa forma o controle

da companhia, prejudicando os interesses dos acionistas atuais. O segundo

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aspecto e talvez o mais importante, é que esse direito protege os acionistas

contra uma diluição do valor da ação. Para entender a diluição do valor, suponha

uma companhia com 1.000 ações em circulação, no valor de $ 100 cada uma,

perfazendo um valor de mercado de $ 100.000. Se um adicional de 1.000 ações

fosse emitido e vendido a $ 80 por ação, isso poderia aumentar o valor de

mercado total para $ 180.000 ($ 100.000 atuais + $ 80.000 da nova emissão).

Dessa forma, o novo valor de mercado de cada ação seria de $ 90 ($ 180.000

dividido por 2.000 ações). Nessa operação, os acionistas antigos teriam um

prejuízo de $ 10 por ação.

Dessa forma, para proteger os acionistas atuais existe o direito de

subscrição, garantindo que esses possam adquirir as novas ações, se julgarem

oportuno.

2.2.4 Bonificação

A bonificação é um direito do acionista em receber ações proporcionais

aos títulos possuídos, em decorrência do aumento de capital de uma empresa,

mediante incorporação de reservas (ASSAF NETO, 2001, p. 217). Dessa forma, a

bonificação representa uma transferência de contas patrimoniais que não altera a

estrutura econômica e financeira da empresa, não devendo, por conseguinte,

determinar variações no seu preço de mercado.

2.2.5 Desdobramento de ações (split )

O split ocorre quando uma ação antiga é desdobrada em uma ou mais

ações novas. As ações desdobradas são distribuídas aos acionistas atuais de

forma proporcional a sua participação. O split é realizado com o propósito de dar

maior liquidez às ações da companhia. Por exemplo, suponha uma empresa cuja

ação esteja cotada na bolsa por $150,00 cada uma. Por esse valor, muitos

investidores poderiam estar impossibilitados de aplicar nessas ações,

conseqüentemente, reduzindo o mercado desses títulos. Se a empresa utilizasse

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69

o desdobramento, dividindo as ações atuais por dois, o valor de cada ação cairia

pela metade o que possibilitaria um volume maior de negócios.

2.2.6 Avaliação de ações

O valor de uma ação é obtido da mesma forma que outros ativos

financeiros, isto é, calcula-se o valor presente de uma série de fluxos de caixa

futuros, descontados por uma taxa de retorno esperada. No caso de uma ação, os

fluxos de caixa futuros são compostos dos dividendos futuros esperados e do

preço pelo qual o investidor espera vender a ação.

No tópico 3.1.4, mostrou-se que na avaliação de um título de dívida o

fluxo de caixa é conhecido no momento da emissão, ou seja, são conhecidas as

datas de pagamento e os valores dos cupons e do principal, podendo ocorrer uma

variação no valor do cupom nos casos de títulos com taxas flutuantes. Para as

ações, entretanto, a elaboração do fluxo de caixa é mais complexa. Primeiro, os

fluxos de caixa não são conhecidos, pois, não há uma certeza com relação ao

valor e a data em que os dividendos serão pagos, embora, para o caso das ações

preferenciais, exista a obrigação do pagamento de um dividendo mínimo.

Segundo, a ação não tem uma data de vencimento, podendo o investimento, em

princípio, ser mantido por um prazo infinito.

Apesar das dificuldades apresentadas, é possível avaliar uma ação pela

projeção dos dividendos esperados, que é quantificada com base em percentuais

de distribuição dos lucros passados e da sua taxa de crescimento.

A equação básica de avaliação da ação pressupõe que o investidor

obtenha lucro através do recebimento de dividendos e de um possível ganho de

capital, com a venda da ação. Assim, a fórmula de avaliação pode ser enunciada

da seguinte maneira:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ),

11....

111 33

22

11

0 nn

nn

k

P

k

D

k

D

k

D

k

DP

++

+++

++

++

+=

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70

em que:

Po = Preço de mercado ou valor de aquisição da ação hoje;

D1,2,3,n = Dividendos previstos para receber em cada período;

Pn = Preço de venda esperado da ação ao final do período n e

k = taxa de retorno requerida sobre a ação.

Na data de venda da ação, o preço de venda esperado (Pn) é calculado

por um investidor interessado na aquisição da ação, utilizando-se do mesmo

raciocínio de avaliação da ação apresentado, ou seja, um fluxo de caixa composto

por uma série de dividendos mais o preço de venda final, descontados por uma

taxa de retorno requerida (BRIGHAM et al, 2001, p. 331). Esse raciocínio pode

prosseguir indeterminadamente, chegando-se à conclusão de que o valor de uma

ação, a menos que a empresa seja liquidada ou vendida para outra, consistirá de

uma série de dividendos futuros esperados, ou seja:

ou de forma genérica:

Assim, o preço de uma ação, conforme Assaf Neto (2001, p. 244),

independentemente do prazo do investimento, é determinado pelos dividendos

futuros esperados, tornando o modelo válido mesmo para aplicações de prazos

determinados.

Essa suposição de que uma ação pague uma parcela constante a cada

ano, e para sempre, faz com que ela seja uma perpetuidade. Assim, quanto maior

for o prazo n, mais próximo a zero será o valor presente dos dividendos futuros.

Logo, o valor de qualquer perpetuidade é obtido pela simples divisão do dividendo

pela taxa de desconto.

A equação do valor da ação, dessa forma, reduz-se a:

( ) ( ) ( ) ( )∞∞

+++

++

++

+=

k

D

k

D

k

D

k

DPo

1...

111 33

22

11

( )�∞

= +=

10

1tt

t

k

DP

KD

Po =

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71

A equação básica considera que os dividendos distribuídos tenham um

crescimento nulo, porém, o que um investidor espera é que os lucros e dividendos

distribuídos das empresas aumentem ao longo do tempo.

A taxa de crescimento esperada varia de empresa para empresa, mas

espera-se que os dividendos, em média, apresentem um crescimento constante

(BRIGHAM et al, 2001, p. 333). Para essa situação, aplica-se o modelo de

crescimento constante, freqüentemente denominado de Modelo de Gordon.

Assim, considerando uma taxa de crescimento constante g, os dividendos são

obtidos através da seguinte fórmula:

Após o cálculo dos dividendos, pode-se obter o valor presente da ação,

conforme equação a seguir:

A ressaltar que uma condição necessária para a correta aplicação do

modelo é que k seja maior do que g. De fato, à medida que g se aproxima de k, o

valor da ação vai convergindo para o infinito, o que não ocorre numa situação

real. Brigham et al (2001, p. 333) ressaltam que se o modelo de crescimento

constante for utilizado em uma situação em que g for maior do que k, as leis da

economia e da matemática estarão sendo violadas e os resultados serão

errôneos e inexpressivos.

( )( )

( )( )

( )( )

( )( )

( )( )

( )gk

DgkgD

P

k

gDP

k

gD

k

gD

k

gD

k

gDP

tt

t

−=

−+

=

++=

++

+++

++

++

++

+=

�∞

=

100

100

03

30

2

20

1

10

0

111

1

1

1

1

1

1

1

1�

( )( )( )

( )tt gDD

gDD

gDD

gDD

+=

+=

+=

+=

1

1

1

1

0

303

202

01

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72

2.3 Principais títulos negociados no mercado brasileiro

No mercado financeiro brasileiro, os títulos mais negociados são os

públicos, emitidos pelo Governo Federal, em função da necessidade de

financiamento do setor público e dos altos retornos oferecidos.

As características gerais dos principais títulos públicos negociados no

mercado financeiro são apresentadas a seguir. As descrições baseiam-se,

principalmente, no Manual de Títulos e Valores Mobiliários, do BACEN, editado

em junho de 1997.

2.3.1 De responsabilidade do Tesouro Nacional

Letras do Tesouro Nacional (LTN)

As LTNs são títulos prefixados, de curto prazo, possuindo as seguintes

características:

- Definição: títulos emitidos para cobertura de déficit orçamentário, bem como

para realização de operações de crédito por antecipação da receita.

- Rentabilidade: Desconto representado pela diferença, em moeda corrente,

entre o preço de colocação pelo Banco Central e o valor nominal de resgate.

- Valor nominal: múltiplo de R$ 1.000,00 (mil reais).

- Prazo: Definido pelo Ministro da Fazenda.

- Base Legal: Decreto 3.859, de 4 de julho de 2001.

Em dezembro de 2004, o prazo médio da dívida em LTNs no mercado,

era de 5,2 meses.

Letras Financeiras do Tesouro (LFT)

As LFTs são títulos pós-fixados, indexados à Selic. A emissão das LFTs,

normalmente, são de prazos médio a longo, possuindo as seguintes

características:

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73

- Definição: títulos emitidos com a finalidade de prover recursos necessários à

cobertura de déficit orçamentário ou para a realização de operações de crédito

por antecipação de receita orçamentária, observados os limites fixados pelo

poder legislativo.

- Rentabilidade: definida pela taxa média ajustada dos financiamentos diários

apurados no Selic para títulos públicos federais, divulgada pelo Banco Central

do Brasil e calculada sobre o valor nominal.

- Valor nominal na data-base: múltiplo de R$ 1.000,00 (mil reais)

- Prazo: Definido pelo Ministro da Fazenda.

- Base Legal: Decreto 3.859, de 4 de julho de 2001.

Em dezembro de 2004, o prazo médio da dívida em LFTs no mercado,

era de 17,34 meses.

Além das LFTs tradicionais, foram emitidas duas séries adicionais, LFT-A

e LFT-B, as quais foram destinadas à assunção, pela União, da dívida de

responsabilidade dos Estados e do Distrito Federal. O prazo desses títulos é de

15 anos, sendo a rentabilidade também definida pela taxa média do Selic.

Notas do Tesouro Nacional (NTN)

As NTNs poderão ser emitidas em dez séries distintas: A, B, C, D, F, H, I,

M, P e R. Por sua vez as NTNs série A poderão ser emitidas em nove sub-séries

distintas: A1, A3, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A10. A seguir, as finalidades e

características dos títulos que possuíam estoque em dezembro de 2004.

As NTNs da série A foram utilizadas nas operações de troca por bônus,

por exemplo, o Brazil Investment Bond (série A1), Par Bond (série A3), C-Bond

(série A6) etc. A atualização do valor nominal é pela variação da cotação de

venda do dólar dos Estados Unidos no mercado de câmbio de taxas livres,

divulgada pelo Banco Central.

As séries B, C, D e F são emitidas para cobertura do déficit orçamentário,

bem como para a realização de operações de crédito por antecipação da receita.

A atualização do valor nominal ocorre da seguinte forma:

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- NTN-B: pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

– IPCA do mês anterior, divulgado pelo IBGE;

- NTN-C: pela variação do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) do

mês anterior, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV);

- NTN-D: pela variação da cotação de venda do dólar dos Estados Unidos

no mercado de câmbio de taxas livres, divulgada pelo Banco Central e

- NTN-F: rendimento definido pelo deságio sobre o valor nominal.

As NTNs série I são utilizadas, exclusivamente, na captação de recursos

para o pagamento de equalização das taxas de juros dos financiamentos à

exportação de bens e serviços nacionais amparados pelo Programa de

Financiamento às Exportações (PROEX). A atualização do valor nominal é pela

variação da cotação de venda do dólar dos Estados Unidos no mercado de

câmbio de taxas livres, divulgada pelo Banco Central.

As NTNs série M foram emitidas para as capitalizações realizadas ao

amparo do Contrato de Troca e Subscrição do Bônus de Dinheiro Novo e de

Conversão da Dívida, em 29/11/1993. A atualização do valor nominal é pela

variação da cotação de venda do dólar dos Estados Unidos no mercado de

câmbio de taxas livres, divulgada pelo Banco Central.

As NTNs série P foram emitidas para o repasse de recursos oriundos das

empresas de privatizações às empresas estatais, detentoras do capital da

empresa privatizada. A atualização do valor nominal é pela TR, divulgada pelo

Banco Central.

2.3.2 De responsabilidade do Banco Central

Notas do Banco Central série E (NBC-E)

Atualmente, os títulos de responsabilidade do Banco Central são

constituídos apenas pelas Notas do Banco Central, série E, que são indexadas ao

dólar.

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75

As NBC-Es foram utilizadas como instrumento de política monetária,

especialmente para a política cambial, tendo a atualização do valor nominal dada

pela variação da cotação de venda do dólar dos Estados Unidos no mercado de

câmbio de taxas livres, divulgada pelo Banco Central.

Por força da Lei Complementar 101 (Lei da Responsabilidade Fiscal), de

4 de maio de 2000, o Banco Central ficou impedido de emitir títulos públicos a

partir de maio de 2002. Assim, no início de 2002, o Banco Central com o objetivo

de executar a política monetária e oferecer proteção cambial no mercado

financeiro, passou a realizar operações de swap cambial conjugadas com ofertas

primárias de LFTs. Os leilões de LFTs conjugados com swaps cambiais foram

interrompidos a partir de maio de 2002, com o objetivo de reduzir a pressão

potencial sobre o preço das LFTs negociadas no mercado secundário. Assim, a

partir dessa data, o Banco Central passou a ofertar swaps cambiais “solteiros”, ou

seja, que não estavam atrelados à oferta de LFT.

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76

III - A AVALIAÇÃO DOS ATIVOS

3.1 Conceito de ativos

A definição do que são ativos, para a Contabilidade, embora pareça ser

plenamente difundida, tem sido, freqüentemente, ensinada de forma superficial ou

incompleta nos cursos de contabilidade. Em muitos cursos, os ativos são

apresentados como o conjunto dos bens e direitos da empresa. Essa definição é

ensinada e muitos alunos e profissionais contábeis aceitam esse conceito sem

maiores questionamentos.

De fato, até mesmo as normas contábeis adotam essa definição

tradicional de ativo. A Resolução CFC 847, de 16 de junho de 1999, define o ativo

da seguinte forma: “[...] compreende as aplicações de recursos representados por

bens e direitos.”

A definição do CFC, embora clara, carece de elementos que indiquem as

características essenciais de um ativo e o que ele representa para a entidade.

Nesse aspecto, a Teoria da Contabilidade contribui para esclarecer o que é

essencial na definição de um ativo.

O FASB apresentou, no SFAC 6 – Elements of Financial Statements, um

conceito mais elaborado de ativos: “são benefícios econômicos futuros prováveis

obtidos ou controlados por uma entidade em conseqüência de transações ou

eventos passados.” (tradução do autor).

Segundo o FASB, um ativo tem três características essenciais: (a) ele

incorpora um benefício futuro provável que envolve a capacidade, isoladamente

ou em combinação com outros ativos, de contribuir diretamente ou indiretamente

à geração de entradas líquidas futuras de caixa; (b) uma entidade em particular

pode obter o benefício e controlar o acesso de outras pessoas a esse benefício e

(c) a transação ou evento que originou o direito da entidade ou o controle do

benefício já ocorreu.

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77

Hendricksen e Van Breda (1999, p. 286) definem ativos como potenciais

de fluxos de serviço ou direitos a benefícios futuros sob o controle de uma

organização. Esses autores não incluem na definição a necessidade de uma

transação anterior, argumentando que essa condição tem sido utilizada para

excluir recursos que deveriam ser informados para uma interpretação adequada

da posição de uma empresa.

Pelo exposto, fica claro que as definições de aplicações de recursos,

conjunto de bens e direitos de uma entidade são incompletas, para conceituar um

ativo. Uma definição mais completa deve apresentar a essência de um ativo, ou

seja, a expectativa de que a entidade, por possuir o ativo, possa obter benefícios

econômicos futuros. Se o ativo não possuir essa característica, provavelmente o

seu valor não será relevante para a contabilidade e, portanto, não deverá ser

reconhecido nas demonstrações contábeis.

3.2 Mensuração dos ativos

A mensuração dos ativos representa um dos grandes desafios da

Contabilidade. Segundo Hendricksen e Van Breda (1999, p. 304), “[...] a

mensuração é o processo de atribuição de valores monetários significativos a

objetos ou eventos associados a uma empresa, e obtidos de modo a permitir

agregação (tal como na avaliação total dos ativos) ou desagregação, quando

exigida em situações específicas.”

Pela definição fica claro que os ativos são mensurados por um valor

monetário. Embora outros valores, tais como a quantidade física e vida útil, sejam

importantes e de alguma forma utilizados pela Contabilidade, é o valor monetário

que é utilizado para expressar os ativos.

Por longo tempo, tem-se debatido sobre qual é a melhor forma de se

mensurar um ativo. O debate, ainda, não se encerrou, ainda hoje encontram-se

diferentes formas de mensuração que são defendidas por estudiosos, de acordo

com a sua linha de raciocínio. Na realidade, ainda não se alcançou um consenso

para se afirmar qual é a resposta correta; as mensurações de ativos utilizadas

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78

possuem virtudes e defeitos, que devem ser consideradas na definição de qual

método de avaliação se deve utilizar.

Segundo Iudícibus (2000, p. 133), “no âmago de todas as teorias para a

mensuração dos ativos se encontra a vontade de que a avaliação represente a

melhor qualificação possível dos potenciais de serviços que o ativo apresenta

para a entidade.”

As alternativas de mensuração dos ativos são analisadas sob duas óticas:

valores de entrada e valores de saída (Quadro 8). A seguir, detalham-se os

conceitos de mensuração de ativos.

Quadro 8 – Mensuração de ativos

Valores de entrada Valores de saída

- Custo histórico - Custo histórico corrigido

- Valores descontados das entradas líquidas de caixa

- Custo corrente (ou de reposição) - Preços correntes de venda - Custo corrente corrigido - Equivalentes correntes de caixa - Valores de liquidação

3.3 Valores de entrada

As medidas de entrada representam, na definição de Hendricksen e Van

Breda (1999, p. 306), “o volume de dinheiro, ou o valor de alguma outra forma de

compensação, pago quando o ativo ou seus serviços ingressam na empresa por

meio de uma troca ou conversão.”

Pela definição, pode-se inferir que por esse critério os ativos são

apresentados pelo valor do custo incorrido na sua aquisição e o reconhecimento

do lucro ocorrerá somente no ato da venda do ativo, confrontando-se a receita

com a despesa correspondente. Dessa forma, por esse critério não há o

reconhecimento das receitas quando real e economicamente ocorrem, mas

somente quando são realizadas.

A mensuração dos ativos pelos valores de entrada tem como aspecto

positivo o fato de ser objetivo e verificável. É objetivo pois o registro contábil

desse valor é suportado pela documentação gerada na transação e é verificável já

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que o valor é o preço declarado da transação, sendo possível verificar, a qualquer

momento, a exatidão do registro.

Por outro lado, os valores de entrada têm como desvantagem a

possibilidade de apresentarem uma informação sem utilidade para o usuário das

demonstrações contábeis. O valor dos ativos com o passar do tempo pode se

alterar, podendo ter pouca ou nenhuma relação com o seu valor de custo. Assim,

o valor registrado nas demonstrações contábeis perde a sua utilidade como

informação para se apurar o valor patrimonial da entidade, prejudicando, assim, a

comparabilidade das demonstrações contábeis.

3.3.1 Custo histórico

O custo histórico é definido pelo valor original da transação, ou seja, o

preço pago pela entidade para adquirir o ativo, incluindo todos os gastos

necessários para colocá-lo em condições de uso. Nessa forma de mensuração, o

ativo é representado por um valor estático, representando o sacrifício financeiro

efetuado pelo comprador na data da transação.

A mensuração dos ativos pelo critério do custo histórico atende o princípio

fundamental de contabilidade do Custo Original Como Base de Valor, que

segundo enunciado pela CVM (1986), representa “O custo de aquisição de um

ativo ou dos insumos necessários para fabricá-lo e colocá-lo em condições de

gerar benefícios para a Entidade, representa a base de valor para a

Contabilidade, expresso em termos de moeda de poder aquisitivo constante.”

3.3.2 Custo histórico corrigido

O custo histórico corrigido é, basicamente, igual ao custo histórico,

somente que, este é corrigido por algum índice de variação do poder aquisitivo da

moeda.

Em função da estrutura dos ativos e do posicionamento das empresas em

cada setor serem diferentes, a variação do poder aquisitivo da moeda nem

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sempre representa a variação do poder aquisitivo dos ativos da entidade. Para

solucionar esse problema seria necessário a utilização de índices específicos

para cada setor de empresas, o que tornaria o processo custoso e inviável.

Dessa forma, apesar das deficiências, o custo histórico corrigido supre as

necessidades dos usuários da contabilidade, no sentido de fornecer informação

objetiva e relevante, principalmente em países com altas taxas de inflação,

permitindo uma melhor comparação de balanços da mesma empresa em datas

distintas, de empresas diversas no mesmo exercício e de empresas diversas em

diferentes exercícios.

3.3.3 Custo corrente (ou de reposição)

Na data de aquisição, o custo corrente é igual ao custo histórico do ativo.

Com o passar do tempo esses valores tornam-se diferentes, seja por variação do

poder aquisitivo da moeda ou pela obsolescência do ativo.

De acordo com Iudícibus (2000, p. 139), “[...] o custo corrente de um ativo,

hoje, no estado em que se encontra, seria o somatório dos custos correntes dos

insumos contidos em um bem igual ao originalmente adquirido menos sua

depreciação”.

Para os segmentos em que a evolução tecnológica é muito acentuada, o

cálculo dos custos correntes é dificultada, pois os ativos novos diferenciam-se

bastante dos antigos, quanto às características técnicas e de produtividade. Isso

ocorre, por exemplo, com as empresas de produtos eletrônicos e de informática.

Entretanto, se os ativos novos prestarem serviços semelhantes aos antigos, pode-

se obter boas aproximações de valores.

O custo corrente apresenta como vantagem a possibilidade de o usuário

ou investidor externo estimar, com razoável aproximação, o valor necessário para

se montar uma fábrica igual a que se está avaliando (IUDÍCIBUS, 2000, p. 140).

Sobre a adoção de custos correntes, Iudícibus (2000, p. 140) afirma que:

Considerando todos os pontos fracos e fortes e, inclusive, levando-se em conta a gerência, que tem reconhecida preferência por valores correntes (de reposição), pode-se concluir que o custo corrente de reposição, na

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data, como base de avaliação de ativos, seja, provavelmente, o mais completo.

3.3.4 Custo corrente corrigido

Trata-se da mesma base conceitual do custo corrente (de reposição). Por

esse conceito avaliam-se os ativos a custos correntes numa data inicial,

ajustando-os por um índice de variação do poder aquisitivo da moeda, para uma

data futura. O valor obtido poderá ser comparado com o valor de reposição do

ativo na data futura; sendo, dessa forma, baseado num mesmo poder aquisitivo

da moeda.

Segundo Iudícibus (2000, p. 141), esse talvez seja o mais completo

conceito de avaliação de ativos a valores de entrada, pois combina as vantagens

do custo corrente com as do custo histórico corrigido.

3.4 Valores de saída

As medidas de saída representam, nas palavras de Hendricksen e Van

Breda (1999, p. 310), “o volume de caixa ou o valor de algum outro instrumento

de pagamento, recebido quando um ativo ou seu serviço deixa a empresa por

meio de troca ou conversão”. Assim, esse critério tem como premissa avaliar o

ativo por um valor pelo qual a entidade pode vendê-lo ou trocá-lo.

Ativos negociados num mercado organizado, com grande liquidez,

tendem a possuir um preço corrente de mercado que representa uma boa

estimativa do preço efetivo de venda. A liquidez de um mercado é caracterizada

pela facilidade com que a empresa tem de vender o ativo para terceiros, em

qualquer momento, devido ao grande volume de transações. Para os mercados

com pequeno volume, ou seja, cuja quantidade transacionada não é significativa,

têm-se preços de venda que podem não representar, adequadamente, o valor do

ativo, vez que a empresa pode ter dificuldades em vender o ativo, não sendo,

portanto, uma boa estimativa de valor de saída.

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3.4.1 Valores descontados das entradas líquidas de caixa

Por esse conceito, o ativo é avaliado pelo fluxo de caixa futuro esperado,

trazido a valor presente, por uma taxa de retorno. Sobre o fluxo de caixa

descontado, Tinoco (1992, p. 10) esclarece que “O valor de um ativo é o

equivalente monetário de seus serviços potenciais. Conceitualmente este é a

soma dos preços futuros de mercado de todos os fluxos de serviços que se

obterão, descontados por fatores de probabilidades e juros a seus valores atuais.”

O conceito de fluxo de caixa descontado apresenta dificuldades de

mensuração, pois envolve o estabelecimento de uma taxa adequada de juros;

uma estimativa do montante das entradas de caixa, bem como o período em que

elas ocorrerão e uma alocação lógica dos fatores (ativos) utilizados para a

obtenção das receitas, quando dois ou mais fatores contribuíram para o produto

ou serviço gerado pela empresa.

Pelo exposto, o conceito é mais aplicável aos ativos financeiros, cujas

entradas de caixa e taxa de desconto são passíveis de determinação.

3.4.2 Preços correntes de venda (ou valor realizável líquido)

O valor realizável líquido é definido por Hendricksen e Van Breda (1999,

p. 310) como sendo “o preço corrente de saída menos o valor corrente de todos

os custos e despesas incrementais esperados (excluindo os efeitos fiscais),

relacionados à conclusão, à venda e à entrega da mercadoria.”

Essa metodologia reconhece o lucro futuro que será obtido no momento

da venda do produto, utilizando como pressuposto que o preço corrente de venda

atual é um bom preditivo do preço de saída.

Esse critério tem limitações, não podendo ser utilizado como conceito

geral de avaliação do ativo, sendo mais apropriado para ativos destinados à

venda. Uma outra limitação é que o preço corrente de venda é válido no momento

da avaliação, não representando, necessariamente, o valor que será pago no

futuro (IUDÍCIBUS, 2000, p. 138).

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Para os ativos que possuem um mercado de negociação ativo, o valor de

mercado representa a melhor medida do valor realizável líquido. Porém, nem

todos os ativos possuem um mercado ativo, o que dificulta a utilização desse

conceito de forma abrangente.

3.4.3 Equivalentes correntes de caixa

Esse conceito, proposto por Chambers, representa o total de dinheiro que

poderia ser obtido com a venda de cada ativo em condições de liquidação

ordenada (IUDÍCIBUS, 2000, p. 138).

De acordo com Hendricksen e Van Breda (1999, p. 311), essa

modelagem pressupõe que todos os ativos devem ser mensurados por esse

critério e, se interpretada no sentido estrito, exclui da demonstração financeira,

todos os itens que não possuem um preço de mercado atual. Por exemplo, os

equipamentos especializados que não sejam passíveis de venda, bem como a

maioria dos ativos intangíveis deveriam ser excluídos do ativo.

A utilização desse conceito não considera a característica essencial de

um ativo, ou seja, a possibilidade de trazer benefícios econômicos futuros. Assim,

por esse conceito, os ativos que não possuem um preço de mercado seriam

excluídos das demonstrações financeiras, mesmo que tenham um potencial de

trazer benefícios econômicos à entidade.

3.4.4 Valores de liquidação

Segundo Iudícibus (2000, p. 138), o valor de liquidação é uma hipótese

extremada de valores de saída porque presume uma venda forçada, a preços

extremamente reduzidos, tanto para clientes normais como para outras firmas.

A utilização dessa forma de avaliação deve ocorrer somente em situações

específicas, tais como quando o ativo tenha perdido a sua utilidade, por

obsolescência ou quando a empresa encontrar-se em uma situação de

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descontinuidade dos negócios, de modo que não poderá vender o ativo de forma

usual.

3.5 Custo ou mercado, dos dois o menor

O conceito de avaliação de custo ou mercado, dos dois o menor,

representa um critério misto de valores de entrada e de saída. Para a adoção

desse conceito deve-se considerar três possíveis alternativas, relacionadas com

os valores de custo e mercado: custo é igual ao mercado, custo é maior que o

mercado ou custo é menor que o mercado. Para as duas primeiras situações, o

valor registrado será o de mercado e a mensuração do ativo pode fornecer o

custo de reposição (conceito de entrada) ou ainda o valor realizável líquido

(conceito de saída). Para a terceira situação, em que o mercado for superior ao

custo, a mensuração do ativo fornecerá o valor do custo de aquisição (conceito de

entrada).

A adoção do conceito de custo ou mercado, o que for menor, atende a

política do conservadorismo, pois o valor de mercado é considerado somente

quando for inferior ao custo.

A convenção do conservadorismo, conforme definido na Deliberação

CVM 29, estabelece que "Entre conjuntos alternativos de avaliação para o

patrimônio, igualmente válidos, segundo os Princípios Fundamentais, a

contabilidade escolherá o que apresentar o menor valor atual para o ativo e o

maior para as obrigações."

A adoção do custo ou mercado, o que for menor, tem sido objeto de muita

discussão na comunidade contábil. Hendricksen e Van Breda (1999, p. 313)

destacam que muitos crêem que esse conceito é inaceitável na teoria da

contabilidade pelos seguintes motivos:

1. Como um método conservador, tende a subavaliar os ativos totais [...] Essa subestimação pode não prejudicar os credores, mas é enganadora para os acionistas e investidores em potencial, e a administração estaria iludindo a si mesma ao acreditar em suas próprias demonstrações.

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2. O conservadorismo na avaliação é contrabalançado por uma demonstração anticonservadora de lucro líquido em exercício futuro.

3. Embora o conceito de custo ou mercado, o que seja menor, possa ser aplicado de maneira uniforme de um ano para outro, ele é intrinsecamente incoerente. Nenhum conceito de avaliação está sendo usado sistematicamente; um conceito de avaliação pode ser aplicado em um ano e um outro conceito no ano seguinte. Além disso, não há aplicação uniforme de conceitos de avaliação a uma mesma classe de ativos.

Para Hendricksen e Van Breda (1999, p. 313), o atributo mais

impressionante desse conceito é o fato de ter conseguido tantos seguidores por

tantos anos.

3.6 O custo histórico versus o valor justo

Com relação à mensuração de ativos, além do conceito de custo ou

mercado, dos dois o menor, uma das questões mais debatidas ultimamente é a

utilização do valor justo. Na realidade, cada conceito apresenta aspectos positivos

e negativos, dependendo do enfoque utilizado. No Quadro 9, destacam-se as

principais características desse conceitos.

Quadro 9 – Mensuração de ativos: principais características

Forma de mensuração

Em acordo com o Princípio Contábil

Aspecto positivo Aspecto negativo

Custo histórico - Continuidade - Custo como Base

de Valor - Objetividade

A mensuração é objetiva e verificável

Não representa o valor econômico de um ativo.

Custo ou mercado, dos dois o menor

- Convenção do conservadorismo

Para os credores é positivo, pois, por ser um método conservador, tende a subavaliar os ativos totais.

Para os acionistas é enganador, pois o lucro líquido é reduzido.

Valor justo - Realização da receita

- Confrontação das despesas

Apresenta um valor preditivo maior, por refletir as condições econômicas e de mercado atuais do ativo.

A mensuração envolve uma avaliação subjetiva.

A seguir são discutidas as principais virtudes e deficiências do custo

histórico e do valor justo.

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A utilização do custo histórico como metodologia de avaliação dos ativos

é a mais apropriada considerando-se o Princípio da Continuidade, também

denominado por alguns autores como Postulado da Continuidade. A Deliberação

CVM 29 enuncia o postulado da seguinte forma: "Para a Contabilidade, a

Entidade é um organismo vivo que irá viver (operar) por um longo período de

tempo (indeterminado) até que surjam fortes evidências em contrário."

Sobre o Postulado da Continuidade, Iudícibus (2000, p. 48) esclarece

que:

As entidades, para efeito de contabilidade, são consideradas como empreendimentos em andamento (going concern) [...] e seus ativos devem ser avaliados de acordo com a potencialidade que tem de gerar benefícios futuros para a empresa, na continuidade de suas operações, e não pelo valor que poderíamos obter se fossem vendidos como estão...(no estado em que se encontram).

Iudícibus e Marion (2002, p. 94) destacam que a continuidade tem como

conseqüência o fato de que:

Os elementos do patrimônio da entidade, com exceção dos produtos ou serviços prontos para a entrega ao cliente, não são adquiridos ou mantidos para serem vendidos no estado em que se encontram, mas sim para, devidamente integrados uns aos outros pelo processo de produção ao qual fica perfeitamente amalgamada a influência do trabalho e de fatores organizacionais, gerarem, no futuro, receitas que entram para a entidade. Logo, não há razão para avaliá-los a preços de venda.

Assim, como conseqüência do Princípio da Continuidade, os ativos

devem ser avaliados por algum tipo de valor de entrada, especialmente se forem

ativos adquiridos para utilização no processo de produção, como, por exemplo, as

máquinas e equipamentos.

Pelo Princípio do Custo como Base de Valor, a forma de mensuração

mais indicada, também, é o custo histórico. A deliberação CVM 29 enuncia esse

princípio da seguinte forma: "O custo de aquisição de um ativo ou dos insumos

necessários para fabricá-lo e colocá-lo em condições de gerar benefícios para a

Entidade, representa a base de valor para a Contabilidade, expresso em termos

de moeda de poder aquisitivo constante."

A premissa subjacente ao princípio, conforme Iudícibus (2000, p. 54), é a

de que, presumivelmente, o preço acordado entre comprador e vendedor seja a

melhor expressão do valor econômico do ativo, no ato da transação.

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Porém, no futuro, o preço da negociação pode não representar uma boa

aproximação do valor econômico de um ativo. Uma série de fatores pode afetar o

preço de um ativo, tais como: o desgaste físico e natural do ativo, flutuações do

poder aquisitivo da moeda, flutuações específicas do preço do ativo, mudanças

tecnológicas e obsolescência.

Segundo Iudícibus (2003, p. 35), não há nada de errado em registrar um

ativo pelo seu valor de transação. O problema inicia-se logo após o registro,

quando, devido às variações de preços, obsolescência e mudança de valor

econômico, aquele valor inicial não mais se sustenta, em termos de relevância da

informação. Assim, segundo o autor, o enunciado do Princípio do Custo como

Base de Valor, deveria ser amplo a ponto de acolher o valor econômico, ou a

potencialidade do ativo em gerar fluxos futuros de caixa.

A avaliação conservadora, baseada no custo original, conforme ressalta

Iudícibus (2000, p. 55), falha, nas demonstrações financeiras, como elemento

preditivo de tendências futuras para os usuários externos. O investidor em

potencial não tem idéia de quanto deveria gastar para constituir uma entidade

semelhante a que esteja sob análise e, mais importante, não pode formar uma

idéia sobre o valor econômico dos ativos.

A contabilidade tradicional sempre buscou apresentar uma avaliação

objetiva dos ativos, ao invés de buscar o seu verdadeiro valor econômico. Nesse

sentido, o custo histórico representa o valor de um ativo de forma mais objetiva e

verificável do que a mensuração pelo valor justo.

Sobre a objetividade, Iudícibus e Marion (2000, p. 121) destacam que “os

registros contábeis deverão ter suporte, sempre que possível, em documentação

gerada nas transações ou evidência que possibilite (além do registro) a

avaliação.”

Assim, considerando a Convenção da Objetividade, a avaliação dos

ativos pelo custo histórico fornece um valor mais objetivo, uma vez que está

suportado pela documentação gerada na transação. O valor justo, por sua vez, é

baseado numa avaliação efetuada pela instituição, não tendo como base uma

transação ocorrida.

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A aceitação do custo histórico corrigido como base de valor, segundo a

Deliberação CVM 29, não significa que não se possa admitir algumas exceções,

em casos especiais. Se, em função de ramos de negócios especiais, alguma

outra forma de avaliação for utilizada, deve-se evidenciar de forma clara o critério

de avaliação utilizado e o porquê. Exceção ao custo histórico como base de valor

poderia ser constituída pela carteira de títulos de algumas entidades, mantida

para proporcionar rendimento, a qual poderia ser avaliada pelo valor de mercado.

A avaliação dos ativos pelo custo histórico tem sido objeto de muitas

criticas, especialmente no tocante à contabilização de ativos financeiros. Segundo

Jones (1988, p. 56), muitos contadores demonstravam preocupação de que os

princípios contábeis existentes, baseados primariamente no custo histórico como

forma de mensuração, não apresentavam de forma correta a realidade econômica

dos instrumentos complexos existentes e nem a posição financeira e os

resultados das operações das instituições financeiras, cujos balanços consistem,

basicamente, desses instrumentos.

Relativamente à relevância da informação, ou seja, se a divulgação da

informação é capaz de fazer diferença nas decisões dos usuários, Jones (1988, p.

61) esclarece que, se a mudança no valor do ativo não afetar o fluxo de caixa da

entidade, ela pode não ser relevante aos usuários, de forma que justifique uma

mudança nas mensurações desse ativo. Esse é o caso, por exemplo, dos ativos

financeiros que a entidade tenha intenção e capacidade de manter até o

vencimento.

Por outro lado, ativos cujo propósito seja gerar lucro no curto prazo,

através da sua negociação, têm como principal atributo o montante em dinheiro

pelos quais eles podem ser vendidos, ou seja, seus valores justos. Assim,

mudanças no valor justo desses ativos afetam o montante de caixa realizável e,

portanto, podem ser relevantes para os usuários da informação.

Os opositores da contabilização a valor justo argumentam que essa

metodologia envolve uma avaliação subjetiva, necessária para se estimar o valor

justo, especialmente se o ativo não possuir um mercado de negociação ativo.

Assim, surgem questionamentos sobre qual o método mais adequado para se

estimar o valor justo, caso o ativo não seja negociado de forma ativa. Além disso,

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argumentam que nesses casos podem ocorrer erros na mensuração do valor

justo, o que afetaria a validade e a confiabilidade da informação do valor justo e,

como conseqüência, prejudicaria a sua relevância.

A American Bankers Association, associação que representa os bancos

norte-americanos, opõe-se, sistematicamente, à contabilização a valor justo de

forma abrangente, argumentando que o valor justo é apropriado somente para as

atividades de negociação ou nos casos em que a instituição é administrada em

bases de valor justo; que o valor justo não é a mensuração mais relevante para a

maioria das instituições, uma vez que elas não são administradas em bases de

valor justo; que o valor justo irá, na realidade, iludir os usuários das

demonstrações financeiras e que seria mais apropriado ao FASB estudar a

contabilização a valor justo, determinar se a evidenciação do valor justo tem sido

utilizada e estudar como elas podem ser melhoradas.

Atualmente, uma série de pronunciamentos do FASB e do IASB

determinam a utilização do valor justo como forma de avaliação dos ativos.

Na realidade, o custo histórico é a melhor representação do valor justo na

data em que a transação ocorreu. O registro contábil é efetuado pelo custo, pelo

fato de esse representar o valor justo, ou seja, compradores e vendedores

concordaram no valor do ativo negociado e esse é o valor mais relevante e

confiável nessa data. Assim, no reconhecimento inicial o custo histórico e o valor

justo são iguais. Posteriormente, em função das oscilações que ocorrem no valor

do ativo, é que o custo histórico e o valor justo tornam-se diferentes e surge,

então, o debate de qual forma de avaliação é mais relevante e qual o momento

ideal para se reconhecer a receita.

Pelo Princípio da Realização da Receita, o ponto em que o valor justo é

definido de forma mais objetiva e clara, normalmente, é na transferência do bem

ou serviço para o cliente. A Deliberação CVM 29 enuncia o princípio da seguinte

forma:

A receita é considerada realizada e, portanto, passível de registro pela Contabilidade, quando produtos ou serviços produzidos ou prestados pela Entidade são transferidos para outra Entidade ou pessoa física com a anuência destas e mediante pagamento ou compromisso de pagamento especificado perante a Entidade produtora ...

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Isso não obstante, para os ativos financeiros que tenham um mercado de

negociação ativo, pode-se aceitar o reconhecimento da receita antes da

transferência, pois, nesses casos, é possível definir o valor de realização (venda)

de forma confiável e a probabilidade de não-venda é praticamente nula.

Sobre o reconhecimento da receita, Carvalho (2002 , p. 110) destaca que:

O reconhecimento da receita pressupõe, usualmente, três condições: a existência de uma transação; a capacidade de se mensurar o valor dos ativos envolvidos e a conclusão do processo de ganho. À primeira condição tem sido dada cada vez menos importância no que concerne a certos instrumentos financeiros, uma vez que o reconhecimento de valorização ou desvalorização desses itens costuma ser feito mesmo não existindo uma transação que dê respaldo ao reconhecimento. Passam a ser mais importantes a verificabilidade do valor mensurado e a liquidez do item financeiro, que permitem assegurar que a transação, mesmo não tendo sido efetuada, poderia ter sido feita no momento do reconhecimento e como o valor com que foi reconhecido.

Segundo Nakamura (1996, p. 335), o uso do valor justo permite

reconhecer a receita como uma mensuração da validação do mercado ao valor de

troca dos instrumentos financeiros de uma empresa durante o período,

satisfazendo a definição de receita de Sprouse e Moonitz7.

O Princípio da Realização da Receita está intimamente ligado ao Princípio

da Confrontação das Despesas. Iudícibus (2000, p. 58) trata esses dois princípios

em um único tópico, pois, normalmente, não se pode reconhecer a receita sem

que a despesa associada seja delineável, mesmo que apenas como estimativa.

A Deliberação CVM 29 enuncia o Princípio do Confronto das Despesas da

seguinte forma:

Toda despesa diretamente delineável com as receitas reconhecidas em determinado período, com as mesmas deverá ser confrontada; os consumos ou sacrifícios de ativos (atuais ou futuros), realizados em determinado período e que não puderam ser associados à receita do período nem às dos períodos futuros, deverão ser descarregados como despesa do período em que ocorrerem...

A ressaltar que os dois princípios, o da realização da receita e da

confrontação das despesas, são, em conjunto, também conhecidos como Regime

de Competência.

7 Sprouse e Moonitz (1962, p. 46), apud Nakamura, definem que a receita de uma empresa durante um período de tempo representa uma mensuração do valor de troca dos produtos (bens ou serviços) de uma empresa durante aquele período.

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Assim, considerando os princípios de realização da receita e da

confrontação das despesas, as receitas e despesas são reconhecidas, à medida

que o valor justo do ativo financeiro se alterar.

O valor justo, conforme Hendricksen e Van Breda (1999, p. 309), refere-

se ao capital total sobre o qual os investidores têm o direito de obter um retorno

justo. Os autores esclarecem, ainda, que o valor justo não é uma base específica

de avaliação que possa ser aplicada de maneira generalizada às demonstrações

financeiras.

O IASB, no pronunciamento IAS 39 Financial Instruments: recognition and

measurement, de 2003, definiu valor justo como o montante pelo qual um ativo

pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras e dispostas

a isso, numa transação em que não exista relacionamento entre elas.

O FASB definiu o valor justo de forma mais direta e clara, ao estabelecer

que é o montante pelo qual um instrumento pode ser trocado numa transação

corrente entre partes interessadas, desde que não seja uma venda forçada ou

liquidação (FASB, 1991).

Assim, para os instrumentos que tenham um mercado ativo, a cotação de

preços de mercado é a melhor medida do valor justo. Se não houver uma cotação

de preços disponível, o valor justo pode ser baseado em preços de instrumento

similares ou técnicas de avaliação, como, por exemplo, o valor presente de fluxos

de caixa futuros.

Barth e Landsman (1995, p. 99), em artigo em que analisam a utilização

do valor justo, entendem que a definição do FASB é limitada porque, exceto nos

casos de mercados completos e perfeitos8, o valor justo não é bem definido e

pode referir-se a valores de entrada, de saída ou ao valor em uso. Segundo os

autores, tendo em vista que o FASB está preocupado com demonstrações

financeiras dos ativos existentes e não aqueles a serem adquiridos, pode-se

8 Segundo Barth e Landsman (1995, p. 99), em mercados completos e perfeitos o valor justo certamente se iguala ao valor de mercado e, portanto, não existem problemas relacionados à mensuração do valor justo do ativo e o valor de mercado reflete todas as informações relevantes de valor, ou seja, não existem informações privilegiadas.

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concluir que a definição de valor justo deve ser interpretada da perspectiva do

vendedor, sendo, portanto, um valor de saída.

A ressaltar que os termos valor de mercado e valor justo não são

sinônimos. O valor de mercado, normalmente, refere-se aos ativos que possuem

um mercado de negociação ativo. Em muitos casos, o mercado de negociação do

ativo é incipiente, o que dificulta a formação de preços de mercado confiáveis. O

conceito de valor justo é mais abrangente, envolvendo, além do valor de mercado,

outras técnicas de avaliação.

Dessa forma, conforme destaca Nakamura (1996, p. 313):

[...] o termo valor justo é mais adequado do que valor de mercado para descrever um critério de avaliação contábil, pois, apesar de serem quase sinônimos num mercado eficiente, podem apresentar valores muito diferentes num mercado ineficiente, quando, então, o valor de mercado não é parâmetro próprio para avaliação. E, na inexistência de mercado, não há valor de mercado para ser utilizado como critério de mensuração contábil, porém há modelos matemáticos de estimação do “fair value” (valor justo), pelo menos para instrumentos financeiros, conceitualmente adequados.

Na opinião de Pereira (2000, p. 14), o fair value accounting, apesar de

seus valores não serem totalmente verificáveis, pois são obtidos por estimativas

ou cotações de mercado, é a melhor forma no momento de retratar a realidade

econômica dos itens patrimoniais expostos no balanço das empresas.

Para o FASB, o valor justo é a mais relevante forma de mensuração para

os instrumentos financeiros e a única forma de mensuração relevante para os

derivativos. No pronunciamento SFAS 133 Accounting for Derivative Instruments

and Hedging Activities (parágrafo 334), de junho de 1998, o FASB observou que:

O Conselho está empenhado em trabalhar diligentemente em busca de uma solução, em tempo adequado, às questões conceituais e práticas relacionadas à determinação do valor justo dos instrumentos financeiros e portfólios de instrumentos financeiros. Técnicas para a melhoria da mensuração do valor justo de todos os instrumentos financeiros continuam a ser desenvolvidas de forma rápida e o Conselho acredita que todos os instrumentos financeiros devam ser registrados, nas demonstrações financeiras, pelo valor justo, quando as questões conceituais e de mensuração forem resolvidas. (tradução do autor).

O Accounting Standards Executive Committee (AcSEC) do AICPA

concorda com a posição do FASB de que o valor justo é o atributo mais relevante

para os instrumentos financeiros. Porém, o comitê ressalta que, para os

instrumentos financeiros não negociados de forma ativa, existe a necessidade de

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desenvolver e melhorar os métodos de determinação do valor justo. O julgamento

é um aspecto crítico no processo de avaliação; pessoas competentes podem

obter diferentes estimativas de valor justo para instrumentos idênticos. Em função

disso, o AcSEC acredita que seja vital que as entidades evidenciem os métodos e

principais suposições adotadas na determinação do valor justo.

A contabilização dos ativos a valor justo é mais relevante do que a

baseada no custo histórico, especialmente para os ativos financeiros mantidos

para negociação e com um mercado de negociação ativo, pois nesses casos o

valor justo reflete as mudanças das condições econômicas do ativo, quando elas

ocorrem. Por outro lado, o custo histórico reflete somente as condições que

existiam quando a transação ocorreu e as mudanças de preços são refletidas

somente quando forem realizadas, ou seja, quando o ativo for vendido.

Assim, considerando que o valor justo reflete as condições econômicas e

de mercado atuais do ativo, espera-se que ele tenha um valor preditivo maior do

que o custo histórico.

Adicionalmente, os valores justos são comparáveis, tendo em vista que os

ativos são representados pelos seus valores econômicos atuais. O custo histórico,

ao contrário, prejudica a comparabilidade, pois dois ativos com montante, risco e

fluxos de caixa idênticos, podem ser reportados por valores diferentes se foram

adquiridos em tempos diferentes.

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94

IV - AS NORMAS DE CONTABILIZAÇÃO DOS TÍTULOS E VALORES

MOBILIÁRIOS

Nesse capítulo, é apresentado um histórico das normas de contabilização

dos títulos e valores mobiliários e as regras de contabilização vigentes. Esses

dois tópicos são desenvolvidos para as normas norte-americanas, internacionais

e brasileiras. Posteriormente, no tópico 5.4, são apresentadas as principais

diferenças entre as normas.

4.1 Normas contábeis norte-americanas do FASB

Nos Estados Unidos, desde 1973, a organização designada para

estabelecer padrões contábeis é o FASB. Esses padrões, na opinião do FASB,

são essenciais para o funcionamento eficiente da economia, pois os investidores,

credores, auditores e outros dependem de informações financeiras confiáveis,

transparentes e comparáveis. A missão do FASB é “estabelecer e aperfeiçoar

padrões de contabilidade e divulgação para orientação e educação do público,

incluindo, emissores, auditores e usuários de informações financeiras.” (tradução

do autor).

4.1.1 Histórico dos padrões norte-americanos

A avaliação de títulos e valores mobiliários tem sido objeto de muita

discussão nos Estados Unidos. O pronunciamento do FASB, SFAS 12 –

Accounting for Certain Marketable Securities, de dezembro de 1975, ao abordar

os antecedentes históricos da contabilização de títulos, destaca que, por muito

tempo, ela foi realizada de forma inconsistente pelas companhias.

Inicialmente, a legislação norte-americana, por meio do Accounting

Research Bulletin (ARB) 43 - Restatement and Revision of Accounting Research

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Bulletins, restringia a contabilização ao determinar que, no caso dos títulos,

quando o valor de mercado for menor do que o custo num montante significativo e

for evidente que o deságio no valor de mercado não é decorrente de condições

temporárias, o montante a ser contabilizado nos ativos correntes não dever

exceder o valor de mercado. A norma, porém, não esclarecia se era permitida a

contabilização da valorização dos títulos que tinham sofrido um deságio no

passado, ou seja, se era permitida a contabilização de uma recuperação no valor

de mercado dos títulos.

Posteriormente, o APB Opinion 18, The Equity Method of Accounting for

Investments in Common Stock, estabeleceu critérios para a contabilização dos

investimentos pelo método da equivalência patrimonial, nos casos em que o

investidor tenha influência significativa sobre a investida. Adicionalmente, uma

série de diretrizes de auditoria e contabilidade do AICPA estabeleceu práticas

contábeis específicas para alguns setores industriais. Nesse contexto, algumas

empresas contabilizavam os títulos pelo custo, algumas pelo valor de mercado e

outras pelo custo ou mercado, dos dois o menor, e outras, ainda, aplicavam mais

de um desses métodos para diferentes classes de títulos.

Essa situação, evidentemente, prejudicava a comparabilidade das

demonstrações. Nos períodos em que houve um declínio acentuado no valor de

mercado dos títulos, as companhias que avaliavam pelo custo, possuíam um valor

registrado em excesso, comparando-se com o valor de mercado. Por outro lado,

para as companhias que contabilizaram uma perda para refletir a queda do valor

de mercado, a recuperação do valor de mercado fez com que seus títulos fossem

registrados por montantes abaixo, tanto de custo, quanto de valor de mercado.

Com o intuito de reduzir a diversidade existente no tratamento contábil

dos títulos, o FASB publicou o pronunciamento SFAS 12, que tratava da

contabilização das ações negociáveis em mercado. O pronunciamento não

contemplava o investimento em ações em que o investidor detenha mais do que

20% das ações com direito a voto da investida, que devia ser contabilizado pelo

método da equivalência patrimonial, conforme definido no APB Opinion 18. O

pronunciamento, também, não se aplicava a certas indústrias que possuíam

regras específicas para a contabilização de títulos negociáveis em mercado,

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como, por exemplo, companhias de investimento, corretoras e distribuidoras de

títulos e valores mobiliários e companhias de seguro dos ramos vida e

patrimonial.

O SFAS 12 estabelecia que o valor registrado de ações negociáveis em

mercado deve ser o menor entre o custo histórico ou valor de mercado (LOCOM –

Lower of Cost or Market), definidos na data de balanço. O pronunciamento

estabelecia as seguintes regras para o reconhecimento dos ganhos e perdas:

- Os ganhos e perdas realizados devem ser reconhecidos no resultado do

período em que ocorrerem;

- Ajustes a valor de mercado da carteira de ações registrada como ativo

corrente (prazo de um ano ou ciclo operacional da empresa, o que for mais

longo) devem ser reconhecidos no resultado operacional do período e

- Ajustes a valor de mercado da carteira de ações registrada como ativo não

corrente (períodos maiores que um ano ou ciclo operacional da empresa)

devem ser incluídos em um item destacado do Patrimônio Líquido, se o

declínio no valor de mercado for considerado temporário. Entretanto, se a

perda de valor da ação for outra que não temporária, os ajustes devem ser

reconhecidos no resultado do período, passando o valor ajustado a ser a nova

base de valor de custo.

O método de avaliação do custo ou mercado, dos dois o menor,

reconhece as perdas não realizadas, quando o valor de mercado for inferior ao

de custo e os ganhos não realizados, que resultem de uma recuperação do valor

de mercado, até o valor de custo. Porém, se o valor de mercado superar o de

custo, o ganho não deve ser reconhecido.

Em artigo no qual examinam o SFAS 12 dentro do contexto da estrutura

básica da contabilidade, Foran e Foran (1987, p. 45) criticam a utilização do

LOCOM como forma de mensuração de ativos, pois esse método somente

fornece uma apresentação do fluxo de caixa adequada e, conseqüentemente,

informação útil, quando o valor de mercado for menor que ou igual ao valor de

custo do título. Porém, o método será deficiente se o valor de mercado for

superior ao de custo, porque custo e não valor de mercado será incluído no ativo

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total e, na opinião dos autores, o valor de mercado apresenta de forma mais

apropriada o fluxo de caixa a ser realizado.

Foran e Foran (1987, p. 45) afirmam, ainda, que a utilização do LOCOM

abre uma possibilidade para as empresas manipularem os seus resultados. Uma

empresa que deseje postergar o reconhecimento de receitas, manteria em

carteira os títulos com valor de mercado superior ao do custo. Por outro lado,

uma empresa que deseje apresentar um resultado melhor, venderia os títulos

com valor de mercado superior ao do custo, reconheceria o ganho resultante e,

então, após a data do balanço recompraria títulos idênticos ou similares. Dessa

forma, o LOCOM ignora a realidade econômica e distorce a tendência dos lucros

por não reportar mudanças de valor quando elas ocorrem.

Em junho de 1982, o FASB emitiu o pronunciamento SFAS 60 -

Accounting and Reporting by Insurance Enterprises, estabelecendo que os bônus

(bonds) devem ser reportados pelo custo amortizado, se a seguradora tiver a

habilidade e intenção de manter o bônus até o vencimento e se não ocorrer um

declínio no valor de mercado dos bônus que não seja temporário. Se a

seguradora tem a intenção de negociar os bônus de forma ativa e, portanto, não

tem a intenção de mantê-los até o vencimento, deve reportá-los pelo valor de

mercado e alterações temporárias no valor de mercado dos bônus devem ser

reconhecidas como ganhos ou perdas não realizados.

O SFAS 60 estabelece, ainda, que as ações ordinárias e as preferenciais

não resgatáveis devem ser reportadas pelo valor de mercado e alterações

temporárias no valor de mercado desses títulos devem ser reconhecidas como

ganhos ou perdas não realizados. Ações preferenciais que pelas suas cláusulas

devam ser resgatadas pelo emissor devem ser reportadas pelo custo, se a

seguradora tiver a habilidade e intenção de manter a ação até a data do resgate

e não ocorrer um declínio no valor de mercado que não seja temporário.

O SFAS 60 utilizou os termos habilidade e intenção de manter até o

vencimento; já, o SFAS 65 - Accounting for Certain Mortgage Banking Activities,

emitido em setembro de 1982, utilizou os termos habilidade e intenção de manter

os bônus por um período futuro previsível (foreseeable future) ou até o

vencimento. Esse pronunciamento estabelece que os títulos garantidos por

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hipoteca (mortgage-backed securities) mantidos para venda devem ser

reportados pelo custo ou mercado, dos dois o menor, definidos na data de

balanço. A transferência dos títulos para a classificação de investimentos de

longo prazo deve ser efetuada pelo custo ou mercado, dos dois o menor e

qualquer diferença entre os valores deve ser amortizada pela vida útil do título.

Um título garantido por hipoteca não deve ser classificado como investimento de

longo prazo a não ser que a instituição tenha a habilidade e intenção de manter o

título por um período futuro previsível ou até o vencimento.

Johnson e Swieringa (1996, p. 152 e 153) apresentam algumas diretrizes

do AICPA (Audit of Banks, Audit of Credit Unions e Savings and Loans

Associations) nas quais os termos “numa base de longo prazo”, “futuro previsível”

e “mantido até o vencimento” são utilizados para estabelecer quando os títulos

devem ser registrados pelo custo amortizado. O critério da habilidade e intenção

de manter até o vencimento ou algum período futuro foi o padrão em uso por

muito tempo. Historicamente esse padrão existiu num período em que havia

pouco incentivo, exceto por questões tributárias, para a negociação dos títulos. A

exigência para se manter até o vencimento tinha pouco impacto econômico nas

empresas pois um resultado positivo podia ser obtido com razoável segurança

num ambiente em que as taxas de juros eram regulamentadas.

Porém, segundo Johnson e Swieringa (1996, p. 153), conforme o

ambiente foi mudando e as oportunidades e incentivos para a negociação

aumentaram, as normas existentes tornaram-se inadequadas e inconsistentes.

Como resultado das mudanças econômicas e exigências regulamentares

houve um crescimento da volatilidade das taxas de câmbio, de juros e outros

índices de mercado, o que provocou um aumento dos riscos de mercado, de

crédito e de liquidez. Para gerenciar esses riscos foram criadas novas técnicas de

gerenciamento de riscos, como, por exemplo, a negociação ativa dos títulos.

Manter todos os títulos até o vencimento passou a ser considerada uma prática

inadequada de administração pois não maximizava o potencial de ganhos da

empresa.

Nesse contexto, a ausência de orientações uniformes de contabilização

permitiu que a aplicação do custo histórico fosse realizada de forma inconsistente.

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Em 1988, o Office of the Comptroller of the Currency (OCC) emitiu uma circular

para os bancos, identificando certas práticas de investimento consideradas

inadequadas e especificou que títulos adquiridos em conexão com aquelas

práticas, normalmente, não poderiam ser classificados na carteira de investimento

e, conseqüentemente, não deveriam ser reportados pelo custo histórico.

Munter et al (1994, p. 43) afirmam que muitas entidades venderam títulos

de dívida da carteira de investimentos não correntes (registrados pelo custo

histórico), reportando ganhos e mantiveram em carteira somente os títulos com

perdas não realizadas. Essa prática, conhecida como ganhos com negociação

(“gains trading”), foi muito criticada pelos reguladores, tais como o Federal

Deposit Insurance Corporation e outros membros da comunidade de

investimentos.

Parks (1993, p. 50) ressalta que, em função do modelo de contabilização

para instrumentos de dívida ter sido desenvolvido em tempos mais simples, a

continuidade de sua relevância tem sido questionada, particularmente no caso

dos títulos mantidos pelo valor do custo. Padrões contábeis que permitem que as

demonstrações contábeis superestimem de forma significativa o valor econômico

de um empreendimento – como foi o caso de muitos bancos que quebraram – são

objeto de várias criticas.

Assim, cada vez mais, a contabilização dos títulos pelo custo histórico

passou a ser objeto de críticas por parte dos profissionais contadores e da

Comissão de Valores Mobiliários (SEC). Para muitos, a utilização do valor de

mercado representaria de forma mais consistente a real situação das empresas,

especialmente das instituições financeiras.

A utilização do valor de mercado, entretanto, conforme relatam Johnson e

Swieringa (1996, p. 156), foi objeto de algumas ressalvas, como o estudo

realizado pelo Federal Financial Institutions Examination Council (FFIEC), em

agosto de 1983, apontando que, no geral, os resultados dos bancos eram

relativamente estáveis quando mensurados pelo custo histórico; porém, muito

voláteis quando ajustados com ganhos e perdas decorrentes do valor de

mercado.

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Nessa mesma linha de raciocínio, existe, ainda, a carta que Alan

Greenspan, Chairman of the Board of Governors of Federal Reserve System

(Board), escreveu para a SEC em novembro de 1990, apontando uma série de

preocupações sobre a utilização do valor de mercado. Greenspan afirmava que o

Board acreditava que o valor de mercado traz uma série de questões

significativas que precisam ser resolvidas antes de se considerar a

implementação dessa metodologia, no todo ou em parte, para as organizações

bancárias. Uma das questões é que somente cerca de um terço dos ativos

bancários possuem valor de mercado disponível. Assim, a utilização do valor de

mercado para todos ou para um montante significativo dos títulos pode resultar

numa volatilidade nos resultados, que não é indicativa da real condição financeira

dos bancos. Adicionalmente, a adoção do valor de mercado para portfólios de

investimento, também, pode afetar o montante de títulos que os bancos estejam

dispostos a manter em carteira, podendo provocar, em conseqüência, uma

volatilidade no mercado de títulos.

Após várias discussões sobre que ações seriam adotadas, o FASB

decidiu, formalmente, em junho de 1991, incluir um projeto na sua agenda

técnica, requerendo que os investimentos em títulos com valor de mercado e

talvez outros ativos financeiros sejam mensurados ao valor de mercado. Em

setembro de 1992, a proposta “Accounting for Certain Investments in Debt and

Equity Securities” foi publicada para comentários, por um período de 90 dias.

Finalmente, em maio de 1993, o FASB emitiu o pronunciamento SFAS

115 Accounting for Certain Investments in Debt and Equity Securities, que

abrange a contabilização de investimentos em ações que tenham valor justo

prontamente determináveis e todos os investimentos em títulos de dívida. O

SFAS 115 revogou o SFAS 12 e alterou parágrafos dos pronunciamentos SFAS

60 e SFAS 65. O pronunciamento tornou-se efetivo para o ano fiscal iniciando-se

após 15 de dezembro de 1993.

O SFAS 115 alterou as práticas de contabilização, ao expandir a sua

aplicação aos investimentos em ações e a praticamente todos os títulos de dívida

e ao determinar a mensuração dos títulos a valor justo, ao invés do custo ou

mercado, dos dois o menor, utilizado anteriormente.

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De acordo com o pronunciamento SFAS 115, os títulos são classificados

em três categorias:

- Mantidos até o vencimento: títulos de dívida que a empresa tenha a habilidade

e intenção de manter até o vencimento, devendo ser registrados ao custo

amortizado.

- Negociação: títulos de dívida e patrimoniais comprados e vendidos para

realizar lucros de curto prazo, devendo ser registrados a valor justo. Ganhos

ou perdas não realizados devem ser incluídos na demonstração de resultados.

- Disponível para venda: títulos de dívida e patrimoniais que não foram

designados para uma das categorias anteriores, devendo, também, ser

registrados pelo valor justo. Porém, os ganhos e perdas não realizados, líquido

dos efeitos tributários, são registrados em um componente separado do

patrimônio líquido.

O SFAS 115 mostrou-se ser mais evolucionário do que revolucionário.

Ele, provavelmente, não irá agradar àqueles que desejavam manter o status quo

e nem àqueles que desejavam uma mudança para o futuro, com uma

contabilização a valor de mercado de forma mais abrangente (PARKS, 1993, p.

52).

Sob as regras estabelecidas pelo SFAS 115 ainda é possível que as

empresas manipulem os seus resultados. Por exemplo, se a empresa desejasse

melhorar o seu resultado, ela poderia vender títulos classificados como

disponíveis para venda, cujo valor de mercado estivesse superior ao custo,

reconhecendo um ganho na demonstração de resultados do período. Dessa

forma, os ganhos não realizados dos títulos dessa categoria seriam revertidos do

componente separado do patrimônio líquido e reconhecidos como receita do

período.

Wampler e Phillips (1994, p. 47) destacam que o SFAS 115 não soluciona

o problema da manipulação dos resultados e, de certo modo, pode até facilitar a

administração do resultado. Por exemplo, a reclassificação de um título para a

categoria de negociação exige o reconhecimento no resultado de qualquer ganho

ou perda não realizado. Enquanto as regras anteriores exigiam a venda do título

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para manipular o resultado, a nova regra cria o potencial para administrar o

resultado baseado somente na mudança da intenção declarada de venda.

O problema básico é analisar qual método reflete a condição atual de uma

entidade de forma mais apropriada. As normas contábeis não deveriam ser

utilizadas para suavizar os resultados. Se a estratégia de investimento e

financiamento de uma empresa é particularmente sensível às mudanças nas

taxas de juros, as suas demonstrações contábeis deveriam representar o

resultado dessa estratégia de forma verdadeira, mesmo que os resultados

apresentassem maior volatilidade. A contabilização a valor justo atinge esse

objetivo ao reconhecer os ganhos e perdas quando eles ocorrem, ao invés de

quando a administração decide reconhecê-los (WAMPLER; PHILLIPS, 1994, p.

47).

Apesar do problema de manipulação dos resultados não ser resolvido, o

SFAS 115 representa uma evolução na contabilização dos títulos, por eliminar a

disparidade de contabilização existente entre as indústrias e por eliminar a falta

de imparcialidade do método do custo ou mercado, dos dois o menor. O método

do custo ou mercado, dos dois o menor é imparcial pois utiliza o valor de mercado

somente quando esse for inferior ao valor de custo.

Thompson (1994, p. 38) destaca que o pronunciamento responde às

críticas relacionadas à relevância dos dados das demonstrações contábeis.

Muitos usuários das demonstrações contábeis são críticos à contabilização pelo

custo amortizado, argumentando que o valor de custo não é relevante.

Por outro lado, os opositores da contabilização a valor justo defendem

que esse não é relevante para títulos de dívida que sejam mantidos até o

vencimento e a avaliação de somente alguns ativos a valor justo, sem os passivos

relacionados, pode resultar numa volatilidade dos resultados não apropriada.

Essas críticas fizeram com que o FASB mantivesse a contabilização pelo custo

amortizado para os títulos de dívida que sejam mantidos até o vencimento e

excluísse da demonstração de resultados os ganhos e perdas não realizados com

títulos da categoria de disponíveis para venda.

Wampler e Phillips (1994, p. 49) acreditam que a utilização da

contabilização a valor justo para todos os títulos de dívida não só seria mais

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consistente, como iria simplificar a contabilização dos títulos, ao eliminar muitas

complexidades que permanecem sob o SFAS 115 – por exemplo, avaliar a

intenção da administração ou decidir quando um declínio no valor é “outro que

não temporário”. Embora alguns problemas de contabilização adicionais possam

surgir, as vantagens da contabilização a valor justo para títulos – particularmente

em termos de maior relevância da informação – supera as desvantagens.

Segundo os autores, embora o SFAS 115 seja um passo na direção certa, a

adoção completa da abordagem de valor justo para títulos irá resultar em

demonstrações contábeis que refletem a realidade econômica da posição

financeira da empresa de forma mais apropriada.

Em novembro de 1995, o FASB decidiu esclarecer algumas dúvidas na

implementação do pronunciamento SFAS 115, através da guia “A Guide to

Implementation of Statement 115 on Accounting for Certain Investments in Debt

and Equity Securities”. SHAY (1995) relata que o FASB, como parte desse

processo e levando-se em conta a interpretação severamente restritiva e literal

adotada pela SEC na classificação dos títulos mantidos até o vencimento, decidiu

permitir que cada instituição reconsiderasse a sua classificação de títulos. Essa

foi uma oportunidade única para as instituições transferirem os títulos da categoria

de mantidos até o vencimento, antes da publicação dos relatórios de 31 de

dezembro de 1995, sem que fossem questionadas com relação à intenção e

habilidade de manter os títulos até o vencimento.

Em junho de 1997, o FASB emitiu o SFAS 130 Reporting Comprehensive

Income (apresentação do resultado abrangente), que alterou a forma de

apresentação dos ganhos e perdas com títulos. O SFAS 130 estabelece que os

ganhos e perdas não realizados com títulos da categoria disponíveis para venda

devem ser registrados como outros resultados abrangentes. O resultado

abrangente tem o propósito de reportar todas as alterações no patrimônio de uma

empresa que resultem de transações reconhecidas e outros eventos econômicos

do período, que não sejam transações com os acionistas. O resultado abrangente

é definido no Concepts Statement 6 como a mudança no patrimônio de uma

empresa, durante um período, decorrentes de transações e outros eventos e

circunstâncias, de fontes externas aos proprietários. Em outras palavras, isso

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inclui todas as alterações no patrimônio durante o período, exceto aqueles

resultantes de investimentos efetuados pelos proprietários e distribuição de

dividendos aos proprietários.

4.1.2 Contabilização de títulos segundo o SFAS 115, do FASB

O pronunciamento do FASB, em vigor, que aborda a avaliação e

contabilização dos títulos e valores mobiliários é o SFAS 115 – Accounting for

Certain Investments in Debt and Equity Securities, emitido em maio de 1993. O

pronunciamento expande a utilização do valor justo (fair value) para esses títulos;

porém, mantém a utilização do custo histórico para investimentos em títulos de

dívida que a empresa tenha a intenção e habilidade de manter até o vencimento.

Escopo

O FASB identificou cinco problemas relacionados com a contabilização e

divulgação dos títulos e valores mobiliários:

a) A literatura dos órgãos reguladores é inconsistente entre as diferentes

indústrias e tem resultado em práticas de divulgação divergentes;

b) O método do custo ou mercado, dos dois o menor, exigido para títulos de

dívida mantidos para venda e para ações não negociadas no mercado, não é

imparcial, pelo fato de reconhecer a desvalorização no valor líquido, mas não

a apreciação desses títulos;

c) A informação do valor justo dos títulos de dívida é mais relevante do que a do

custo amortizado, para ajudar os usuários a avaliar os efeitos de eventos

econômicos atuais na empresa;

d) As exigências atuais de utilizar o método do custo amortizado permitem o

reconhecimento de lucros através da venda seletiva de títulos com valor de

mercado superior ao de custo; porém, não existe exigência para o

reconhecimento de perdas concomitantes e

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e) As exigências atuais não são baseadas nas características do ativo, mas no

planejamento da administração para manutenção ou venda do investimento. A

contabilização baseada na intenção prejudica a comparabilidade.

O projeto inicial do FASB, que culminou com a publicação do

pronunciamento SFAS 115, pretendia abordar todos esses problemas. Porém, o

FASB concluiu que não iria exigir a contabilização a valor justo de forma

abrangente para todos os títulos e passivos relacionados. Assim, o

pronunciamento abordou os dois primeiros problemas citados anteriormente (a,

b), abordou parcialmente o terceiro problema (c) e deixou os dois últimos

problemas sem solução (d, e), embora as exigências de divulgação irão, pelo

menos, destacar as situações em que ocorreram ganhos com negociação de

títulos.

O SFAS 115 aplica-se aos investimentos em ações que tenham valor

justo prontamente determináveis e para todos os investimentos em títulos de

dívida. Esse pronunciamento não se aplica aos investimentos em ações

contabilizadas pelo método da equivalência patrimonial ou investimentos de

subsidiárias consolidadas. Com relação às empresas, todas estão obrigadas a

seguir o pronunciamento, exceto as organizações sem fins lucrativos e as

empresas cuja prática contábil específica incluí a contabilização de

substancialmente todos os investimentos em títulos e valores mobiliários a valor

de mercado ou valor justo, como, por exemplo, corretoras e distribuidoras de

títulos e valores mobiliários, planos de pensão de benefícios definidos e

companhias de investimento.

Avaliação e contabilização

Conforme já mencionado, de acordo com o pronunciamento SFAS 115,

os títulos são classificados em três categorias e contabilizados da seguinte forma:

a) Mantidos até o vencimento: títulos de dívida que a empresa tenha a habilidade

e intenção de manter até o vencimento, devendo ser registrados ao custo

amortizado;

b) Negociação: títulos de dívida e patrimoniais comprados e vendidos para

realizar lucros de curto prazo, devendo ser registrados a valor justo. Ganhos

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ou perdas não realizados devem ser incluídos na demonstração de resultados

e

c) Disponível para venda: títulos de dívida e patrimoniais que não foram

designados para uma das categorias anteriores. São títulos que deverão ser

mantidos em carteira por um período de tempo não determinado, por exemplo,

aqueles que a entidade poderá vender para atender necessidades de liquidez

ou como parte do gerenciamento de risco da entidade. Esses títulos devem,

também, ser registrados pelo valor justo, porém, os ganhos e perdas não

realizados são registrados como outros resultados abrangentes.

A destacar que o pronunciamento não prevê a classificação de ações na

categoria de mantidos até o vencimento. Isso ocorre, basicamente, pelo fato de as

ações não possuírem uma data de vencimento definida.

O FASB concluiu que os preços cotados a mercado, quando disponíveis,

proporcionam a mais confiável medida de valor justo, pelo fato de serem fáceis de

se obter e serem confiáveis e verificáveis. Para os títulos de dívida que não são

negociados regularmente, uma estimativa razoável pode ser obtida utilizando-se

técnicas de determinação de preço, tais como: análise do fluxo de caixa

descontado, matriz de preços, modelos de determinação de preços de opções e

análise fundamentalista.

Para o FASB, o custo amortizado é a forma de mensuração mais

relevante para os títulos mantidos até o vencimento, pelo fato de que qualquer

ganho ou perda intermediária será revertido no vencimento do título.

O pronunciamento prevê algumas situações que podem levar a empresa

a mudar sua intenção de manter certos títulos até o vencimento, sem que seja

questionada, no futuro, sua intenção de manter os demais títulos até o

vencimento. Portanto, a venda ou transferência de um título mantido até o

vencimento, em função de uma das seguintes mudanças, não será considerada

inconsistente com a classificação original:

a) Evidência de uma deterioração significativa no risco de crédito do emissor do

título.

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107

b) Alteração tributária que elimine ou reduza a isenção sobre os juros recebidos

do título de dívida.

c) Ocorrência de uma alienação ou combinação de negócios que torne

imprescindível a venda ou transferência de títulos mantidos até o vencimento

para manter a posição de risco de taxa de juros ou a política de risco de

crédito da empresa.

d) Mudança nas exigências regulamentares que modifiquem de forma

significativa a composição dos investimentos permitidos ou o nível máximo de

investimentos em certos tipos de títulos, obrigando, portanto, a empresa a se

desfazer do título mantido até o vencimento.

e) Aumento significativo, por parte dos reguladores, de exigência de capital que

torne necessária a diminuição do porte da instituição (downsize), através da

venda de títulos mantidos até o vencimento.

f) Aumento significativo na ponderação do risco de títulos de dívida, utilizada no

cálculo de exigência de capital.

Adicionalmente às mudanças citadas, outros eventos que sejam isolados,

não recorrentes e não usuais, que não podiam ser razoavelmente antecipados,

podem levar a empresa a vender ou transferir os títulos mantidos até o

vencimento, sem que seja questionada, no futuro, a sua intenção de manter os

demais títulos até o vencimento.

O pronunciamento permite, ainda, a venda de títulos de dívida mantidos

até o vencimento em duas situações: (a) quando isso ocorrer em data próxima ao

vencimento (por exemplo, três meses), de forma que o risco de taxa de juros é

substancialmente eliminado, na determinação do preço do título e (b) quando a

venda do título ocorrer após a empresa ter recebido parte substancial (pelo

menos 85%) do principal, seja em função de pagamentos antecipados ou

pagamentos programados.

O FASB determinou que mudanças nas taxas de juros, necessidades de

liquidez, mudanças nas disponibilidades e nos juros de investimentos alternativos,

mudanças nos recursos disponíveis e mudanças no risco cambial, não são

motivos para que a empresa venda os títulos mantidos até o vencimento.

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Em artigo em que analisa a implementação do SFAS 115, Shay (1995)

destaca que a SEC tem adotado uma postura restritiva e interpretação literal com

relação à classificação dos títulos na categoria mantidos até o vencimento. Essa

postura rigorosa da SEC pode ser vista nos seguintes exemplos:

- Uma instituição vendeu, acidentalmente, um bônus da carteira de mantidos até

o vencimento. Após ter descoberto o erro, a instituição apelou à SEC, que não

aceitou as argumentações da instituição, exigindo que todos os títulos da

categoria de mantidos até o vencimento fossem reclassificados para a

categoria disponível para a venda, pelo preço de mercado atual.

- Uma outra instituição possuía um ativo para o qual recebeu uma oferta de

compra. Desde que uma oferta de compra é similar a uma opção de compra, a

instituição vendeu os bônus. A SEC considerou que uma oferta de compra não

era imperativa, que a instituição poderia continuar com os ativos e obrigou a

instituição a transferir todos os títulos da categoria de mantidos até o

vencimento para a categoria de disponível para a venda, pelo preço de

mercado atual.

Pelos exemplos apresentados, fica claro que a SEC tem sido rigorosa

com relação à venda de títulos classificados como mantidos até o vencimento,

não fazendo concessões para erros ou interpretações liberais do pronunciamento.

O SFAS 115 estabelece que os ganhos e perdas não realizados de títulos

para negociação devem ser incluídos na demonstração de resultados. Já para os

títulos classificados como disponíveis para vendas, o SFAS 115 estabeleceu,

inicialmente, que os ganhos e perdas não realizados deveriam ser excluídos da

demonstração de resultados e incluídos em um componente separado do

patrimônio líquido, até que fossem realizados. Posteriormente, o SFAS 130 –

Reporting Comprehensive Income alterou esse parágrafo, determinando que os

ganhos e perdas não realizados devem ser reportados como outros resultados

abrangentes. Assim, os ganhos e perdas não realizados com os títulos da

categoria de disponíveis para venda, muito embora ainda sejam registrados no

patrimônio líquido em uma conta de resultados abrangentes, também devem ser

apresentados na demonstração do resultado abrangente, relatório a ser elaborado

e publicado junto com os demais relatórios existentes.

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O FASB decidiu excluir da demonstração de resultados, os ganhos e

perdas não realizados dos títulos da categoria de disponíveis para venda, em

função de preocupações com a potencial volatilidade nos resultados, em

conseqüência da utilização do valor justo para alguns ativos e nenhum passivo.

O pronunciamento SFAS 115, ao abordar as informações antecedentes

(background information), relata que muitos respondentes, especialmente bancos

e companhias de seguro, comentaram que a abordagem do pronunciamento não

era correta por aplicar a utilização do valor justo somente para alguns ativos

financeiros e nenhum passivo. Os bancos e as companhias de seguro gerenciam

o risco de taxa de juros através da composição de uma carteira de ativos

financeiros coordenada com passivos financeiros. Essas instituições apontaram

que se o FASB exige que os títulos sejam avaliados a valor justo, ele também

deveria exigir (ou pelo menos permitir) que as empresas reportem os passivos

associados a esses ativos a valor justo, para evitar uma volatilidade atípica nas

demonstrações contábeis.

Um problema potencial surge se a contabilização a valor justo é utilizada

para mensurar somente alguns ativos e passivos, enquanto outros continuam a

ser mensurados com base no custo histórico. A aplicação da contabilização a

valor justo a uma parte seletiva do balanço patrimonial pode trazer uma

demonstração incompleta e distorcida da posição atual da empresa. Entretanto, a

contabilização a valor justo de forma abrangente apresenta uma dificuldade pois

o valor justo de muitos ativos e passivos não pode ser estimado (WAMPLER;

PHILLIPS, 1994, p. 47).

Wampler e Phillips (1994, p. 47) defendem que, embora o uso seletivo de

valores de mercado possa resultar em um balanço patrimonial distorcido, não há

razão para acreditar que o balanço patrimonial inteiramente baseado no custo

histórico seja menos distorcido. Incorporar o valor justo no balanço patrimonial,

quando possível, fará com que ele seja menos incorreto.

O FASB defende que uma volatilidade atípica, também, pode ocorrer com

a utilização do custo histórico quando os títulos são vendidos de forma seletiva e

ganhos e perdas são reconhecidos. Essa volatilidade pode ser mais aceita por

alguns pelo fato de a administração poder controlá-la através da decisão de quais

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títulos e quando vender. Adicionalmente, o FASB acredita que seria aconselhável

permitir que certos passivos relacionados a ativos fossem reportados a valor

justo, se fosse exigido que todos os investimentos em títulos sejam reportados a

valor justo. Porém, o FASB não conseguiu identificar e os respondentes não

propuseram, uma forma de abordar a contabilização dos passivos a valor justo

que seja aceitável.

Tendo em vista que muitas empresas administram o risco de taxa de juros

de forma global, para todos os ativos e passivos financeiros, o FASB encontrou

dificuldades em identificar quais passivos deveriam ser considerados como

relacionados com os títulos de dívida contabilizados a valor justo. Além disso, o

FASB afirma que o pronunciamento não expande de forma abrangente a

utilização do valor justo e práticas existentes reconheciam a redução do valor

justo para os títulos mantidos para venda (através do método LOCOM) sem

considerar alterações no valor de qualquer passivo.

Para os títulos classificados nas categorias de disponível para venda e

mantidos até o vencimento, em que haja um declínio no valor de mercado, outro

que não temporário, deve-se efetuar um ajuste a valor justo, com as perdas

incluídas na demonstração de resultados. O SEC definiu que, outro que não

temporário, não significa permanente, ou seja, o reconhecimento da perda deve

ocorrer quando for provável que o investidor não será capaz de recuperar o valor

registrado do investimento. Eventuais recuperações no valor justo desses títulos

não podem ser reconhecidas.

Transferência entre categorias

As transferências de títulos entre as categorias devem ser efetuadas pelo

valor justo. Os ganhos e perdas não realizados de títulos devem ser

contabilizados da seguinte forma:

a) Para os títulos transferidos para a categoria de negociação, a parcela de

ganhos ou perdas não realizados que não tenha sido previamente reconhecida

no resultado, deve ser reconhecida imediatamente. Esse tratamento segue o

procedimento estabelecido para o reconhecimento dos ganhos/perdas na

demonstração de resultados para os títulos da categoria de negociação.

Porém, para os títulos retirados da categoria de negociação, os ganhos e

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perdas não realizados, que foram previamente reconhecidos no resultado, não

podem ser revertidos.

b) Para os títulos transferidos da categoria mantidos até o vencimento para a

categoria de disponíveis para venda, os ganhos ou perdas não realizados

devem ser reportados em outros resultados abrangentes. Para os títulos

transferidos da categoria disponível para venda para mantidos até o

vencimento, os ganhos ou perdas não realizados devem continuar a ser

reportados num componente separado do patrimônio líquido, devendo ser

amortizados durante o prazo remanescente do título, até o seu vencimento.

O FASB ressalta que as retiradas da categoria de mantidos até o

vencimento devem ser raras e dada a natureza dos títulos para negociação,

transferências para e dessa categoria também devem ser raras. A expectativa é

de que os títulos para negociação sejam vendidos e não reclassificados para

outra categoria.

Na aquisição do título, a empresa deve determinar a classificação em

uma das três categorias: mantidos até o vencimento, negociação e disponível

para venda. A cada data de balanço, a conveniência da classificação deve ser

reavaliada.

Exigências de divulgação

Para os títulos classificados em disponíveis para venda devem ser

divulgados o valor justo, os ganhos e perdas totais registrados em outros

resultados abrangentes, segregados por tipo de título. Para os títulos classificados

em mantidos até o vencimento devem ser divulgados o valor justo e os ganhos e

perdas brutos não reconhecidos, segregados por tipo de título.

Para os títulos classificados em disponíveis para venda e mantidos até o

vencimento, deve ser divulgada, separadamente, informação sobre o prazo de

vencimento dos títulos. Os prazos de vencimento podem ser agrupados em

períodos, desde que apresentem pelo menos quatro grupos de vencimento,

sendo: (a) um ano, (b) de um a cinco anos, (c) de 5 a 10 anos e (d) mais de 10

anos.

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Além disso, o FASB exige a divulgação de outras informações, tais como

o lucro na venda de títulos da categoria disponíveis para venda e os

ganhos/perdas realizadas brutas que tenham sido incluídas na demonstração de

resultados; os ganhos/perdas brutas incluídas no resultado decorrentes de

transferências de títulos da categoria de disponível para venda para a de

negociação; e para qualquer venda ou transferência da categoria de mantidos até

o vencimento, o valor contábil líquido do título vendido ou transferido, o respectivo

ganho/perda realizada ou não realizada e as circunstâncias que levaram a

empresa a vender ou transferir o título.

4.2 Normas internacionais do IASB

O IASC (International Accounting Standards Committee) foi fundado em

29 de junho de 1973, como resultado de um acordo de organismos profissionais

de contabilidade de dez países (IASB, 2002, p. 35). Posteriormente, em abril de

2001, a responsabilidade de emissão dos padrões contábeis passou a ser do

IASB (International Accounting Standards Board). Relativamente à missão, o

IASB declara que está comprometido com o desenvolvimento, no interesse

público, de um único conjunto de normas contábeis globais de alta qualidade,

compreensíveis e exeqüíveis, que exijam informações transparentes e

comparáveis nas demonstrações contábeis.

4.2.1 Histórico dos padrões internacionais

As normas internacionais abordaram a contabilização dos títulos,

inicialmente, no pronunciamento IAS 25 - Accounting for Investments, publicado

em 1985. A norma foi reformulada em 1994, porém, não foram feitas mudanças

substanciais no texto original. Foram alterados alguns termos para atualizar a

terminologia e as referências cruzadas foram corrigidas.

O IAS 25 tratava da apresentação dos investimentos nas demonstrações

contábeis e respectivas exigências de divulgação. Segundo a norma, investimento

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é um ativo possuído por uma empresa, para fins de acréscimo patrimonial, para

fins de valorização ou para outros benefícios do investidor, tais como os obtidos

de relacionamento comercial entre empresas.

Essa norma estabelecia que os investimentos deveriam ser segregados

em correntes e a longo prazo. Os investimentos correntes são aqueles que, por

sua natureza, são prontamente realizáveis e destinam-se a serem mantidos por

prazo não superior a um ano. Os investimentos com prazos superiores a um ano

são classificados como de longo prazo.

A norma estabelece duas formas para a contabilização dos investimentos

correntes, podendo ser apresentados no balanço pelo valor de mercado ou pelo

menor valor entre o custo e mercado. Para os investimentos contabilizados a

valor de mercado, a empresa deve definir uma política para contabilização dos

aumentos e diminuições no valor, podendo ser incluídos no resultado ou serem

contabilizados no patrimônio líquido como reserva de reavaliação. Os

investimentos contabilizados pelo menor valor entre o custo e o mercado atendem

ao princípio do conservadorismo, ao registrar um valor prudente no balanço e não

incluir os ganhos não realizados na demonstração de resultados.

Os investimentos classificados como ativos de longo prazo devem ser

registrados pelo custo, por importância reavaliada ou ainda, no caso de títulos

patrimoniais negociáveis, pelo menor valor entre o custo e o mercado,

determinado de forma global pela carteira. Se forem utilizadas importâncias

reavaliadas, deve-se definir uma política para a freqüência de reavaliações a ser

adotada. Caso ocorra um declínio no valor do título que não seja temporário, o

valor contábil deve ser reduzido.

Em 1989, o IASC iniciou um projeto, em conjunto com o Instituto

Canadense de Contadores Públicos, para desenvolver uma norma que tratasse

do reconhecimento, mensuração e divulgação dos instrumentos financeiros de

forma abrangente. Como parte desse projeto, o IASC emitiu a minuta E40, para

comentários até setembro de 1991. Com base nas inúmeras respostas recebidas

foi elaborada uma nova minuta (E48), emitida em janeiro de 1994.

Devido às críticas à minuta E48, o IASC decidiu dividir o projeto em duas

fases, iniciando com a divulgação e apresentação dos instrumentos financeiros,

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nas demonstrações contábeis. A primeira fase foi concluída em março de 1995,

com a emissão do IAS 32 Financial Instruments: Disclosure and Presentation, que

trata da apresentação e divulgação de informações sobre todos os tipos de

instrumentos financeiros. A segunda fase do projeto estava relacionada ao

reconhecimento, mensuração e contabilização de instrumentos financeiros.

Como parte da segunda fase do projeto, o IASC publicou, em março de

1997, uma minuta para discussão: Contabilização de Ativos e Passivos

Financeiros. Os comentários à minuta levam o IASC a concluir que existem

muitas controvérsias e complexidades para a implementação de uma norma

sobre instrumentos financeiros. A aplicação do valor justo em algumas indústrias

e alguns tipos de ativos e passivos financeiros ainda apresentam dificuldades,

embora exista alguma aceitação de que a mensuração de todos os ativos e

passivos financeiros pelo valor justo é necessária para se obter consistência e

relevância nas demonstrações contábeis.

Em junho de 1998, o IASC emitiu uma nova minuta para exposição, a

E62, no qual foi baseado o pronunciamento em vigor, o IAS 39 Financial

Instruments: Recognition and Measurement, que foi emitido em 1999. O IAS 39

substituiu o IAS 25 e estabeleceu os princípios para reconhecimento, mensuração

e divulgação de informações sobre ativos e passivos financeiros. Essa foi a

primeira norma do IASB que tratou de forma abrangente a contabilização dos

instrumentos financeiros, muito embora alguns assuntos já tivessem sido tratados

em outras normas.

O IAS 39 foi objeto de inúmeras críticas, em especial de representantes

da indústria bancária. O Comitê da Basiléia (Basel Committee on Bank

Supervision) elaborou um relatório contendo uma revisão das normas

internacionais de contabilidade. Para o Comitê da Basiléia (2000, p. 14), sob o

IAS 39, a maioria dos passivos financeiros serão reportados pelo custo. Reportar

a maioria dos passivos pelo custo e introduzir uma maior contabilização a valor

justo somente do lado do ativo, irá provavelmente aumentar o risco de volatilidade

nos lucros e no patrimônio liquido, que pode não refletir as práticas de

gerenciamento de risco dos bancos, por exemplo, no caso de posições ativas e

passivas administradas em conjunto.

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Adicionalmente, o Comitê ressalta que surgem dúvidas sobre a

mensuração a valor justo, particularmente com ativos (e passivos) não

negociados de forma ativa, que anteriormente eram mantidos pelo custo. Na

ausência de mercados ativos, existirão dificuldades de se obterem ou calcularem

valores justos confiáveis – e mesmo quando valores justos aparentemente sejam

estimáveis, em alguns países a confiabilidade disso será duvidosa.

O IAS 39 sofreu algumas revisões, em 2000, para aperfeiçoar parágrafos

específicos e assegurar que o pronunciamento seja aplicado de forma

consistente. Em 2003, o IASB efetua nova revisão do IAS 39, com o objetivo de

melhorar o pronunciamento. Finalmente, em junho de 2005, o IASB emite uma

emenda ao IAS 39 para restringir a utilização da opção de designar qualquer ativo

ou passivo financeiro para ser mensurado a valor justo, por via dos resultados.

4.2.2 Contabilização de títulos segundo o IAS 39, do IASB

O IAS 39 Financial Instruments: Recognition and Measurement tem o

objetivo de estabelecer princípios para o reconhecimento e mensuração de ativos

e passivos financeiros e alguns contratos de compra e venda de itens não

financeiros. Dessa forma, o IAS 39 apresenta-se como um documento

abrangente, contemplando a contabilização dos ativos e passivos financeiros, dos

instrumentos financeiros derivativos e da contabilização do hedge. Nos Estados

Unidos, o FASB aborda esses assuntos em pronunciamentos separados,

incluindo o SFAS 114 – Accounting by Creditors for Impairment of a Loan, de

maio de 1993; SFAS 115 – Accounting for Certain Investments in Debt and Equity

Securities, de maio de 1993 e SFAS 133 – Accounting for Derivative Instruments

and Hedging Activities, de junho de 1998.

Escopo

A norma se aplica a todas as entidades e a todos os tipos de instrumentos

financeiros, exceto: (a) interesses em subsidiárias, coligadas e joint ventures que

são contabilizados segundo o IAS 27 Consolidated and Separate Financial

Statements, IAS 28 Investments in Associates ou IAS 31 Interests in Joint

Ventures; (b) direitos e obrigações de contratos de leasing, aos quais se aplica o

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IAS 17 Leases; (c) direitos e obrigações de empregados decorrentes de planos de

benefícios, aos quais se aplica o IAS 19 Employee Benefits; (d) direitos e

obrigações decorrentes de contratos de seguro; (e) instrumentos financeiros que

estejam dentro da definição de patrimônio próprio, segundo o IAS 32; (e)

contratos de eventos contingentes em uma combinação de negócios; (f) contratos

que exijam pagamentos baseados em condições climáticas, geológicas e outras

variáveis físicas.

Avaliação e contabilização

As exigências de mensuração do IAS 39 são, em grande parte, similares

às exigências do FASB. Porém, relativamente aos ativos financeiros a

contabilização definida pela norma do IASB adota alguns termos e procedimentos

diferentes da norma norte-americana (SFAS 115).

O IAS 39 estabelece que os instrumentos financeiros devem ser

classificados em uma das seguintes categorias:

a) Ativos ou passivos financeiros a valor justo, por via dos resultados;

b) Investimentos mantidos até o vencimento;

c) Empréstimos e valores a receber e

d) Ativos financeiros disponíveis para venda.

Essas categorias são utilizadas para definir como um ativo ou passivo

financeiro é reconhecido e mensurado nas demonstrações contábeis.

Os ativos ou passivos financeiros a valor justo, por via dos resultados,

possuem duas subcategorias:

a) Negociação: um ativo ou passivo financeiro é classificado como detido para

negociação se for adquirido ou incorrido principalmente para a venda e

recompra num prazo curto ou se fizerem parte de um portfólio gerenciado em

conjunto, para o qual existe um modelo real e recente de obtenção de lucros

de curto prazo. Negociação, geralmente, reflete a compra/venda ativa e

freqüente e os instrumentos financeiros mantidos para negociação, em geral,

são utilizados com o objetivo de gerar lucro em função da flutuação de curto

prazo, nos preços ou nas margens do negociador.

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b) Designados: qualquer ativo ou passivo financeiro que seja designado, quando

do reconhecimento inicial, para ser mensurado a valor justo, por via dos

resultados. Em 2005, o IASB limitou a utilização dessa opção para os

instrumentos financeiros que atendam às seguintes condições: a) a

designação da opção de valor justo elimina ou reduz de forma significativa

uma contabilização desbalanceada (accounting mismatch); b) um grupo de

ativos financeiros, passivos financeiros ou os dois são gerenciados e a sua

performance é avaliada com base no valor justo, estando em acordo com um

gerenciamento de risco documentado ou estratégia de investimento e c) um

instrumento contém um derivativo embutido que satisfaça certas condições.

A grande vantagem de se designar um ativo ou passivo financeiro a valor

justo, por via dos resultados é a possibilidade de a empresa reduzir a volatilidade

dos resultados, contabilizando a valor justo os ativos e passivos financeiros, que

sejam administrados de forma conjunta. Porém, existe a desvantagem de que a

designação é permanente. Portanto, se um item ativo ou passivo deixar de existir,

a empresa deve manter a contabilização a valor justo do outro item, com os

ganhos e perdas não realizados reconhecidos no resultado.

Os ativos financeiros a valor justo, por via dos resultados devem ser

mensurados a valor justo, devendo os ganhos e perdas não realizados serem

reconhecidos no resultado do período. Para os investimentos em ações que não

tenham um preço de mercado cotado em um mercado ativo e para o qual um

valor justo não possa ser mensurado de forma confiável, a norma abre uma

exceção, determinando que esses devam ser mensurados pelo custo amortizado.

Os investimentos mantidos até o vencimento são ativos financeiros não

derivativos com pagamentos fixos ou determinados e prazo de vencimento

definido que a entidade tenha a intenção positiva e habilidade de manter até o

vencimento. Essa categoria é mensurada pelo custo amortizado.

Uma entidade fica proibida de utilizar a classificação de mantidos até o

vencimento se a entidade tiver, durante o ano corrente ou durante os dois anos

precedentes, vendido ou reclassificado mais do que um montante insignificante de

ativos classificados como mantidos até o vencimento (mais do que insignificante

em relação ao montante total dos investimentos mantidos até o vencimento).

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A norma permite a venda ou reclassificação de ativos mantidos até o

vencimento em algumas situações específicas, sem que seja questionada a

intenção de manter até o vencimento. Isso ocorre quando a venda for efetuada

próxima à data de vencimento ou da opção de compra (menos de três meses), de

forma que as alterações na taxa de juros de mercado não tenham um efeito

significativo no valor justo do ativo; quando a venda ocorrer após a entidade ter

recebido, substancialmente, todo o capital principal ou quando a venda é

decorrente de um evento isolado que esteja fora do controle da entidade, seja não

recorrente e não pudesse ser razoavelmente previsto pela entidade.

Além disso, de forma similar ao SFAS 115, o pronunciamento prevê

algumas situações de venda antes do vencimento, sem que seja questionada, no

futuro, a intenção de manter os demais títulos até o vencimento. Portanto, se a

venda for atribuível a uma das seguintes mudanças, a entidade não será

questionada:

a) Evidência de uma deterioração significativa no risco de crédito do emissor do

título.

b) Alteração tributária que elimine ou reduza a isenção sobre os juros recebidos

do título de dívida.

c) Ocorrência de uma alienação ou combinação de negócios que torne

imprescindível a venda ou transferência de títulos mantidos até o vencimento

para manter a posição do risco de taxa de juros ou a política de risco de

crédito da empresa.

d) Mudança nas exigências regulamentares que modifique de forma significativa

a composição dos investimentos permitidos ou o nível máximo de

investimentos em certos tipos de títulos, obrigando, portanto, a empresa a se

desfazer do título mantido até o vencimento.

e) Aumento significativo, por parte dos reguladores, de exigência de capital que

torne necessária a diminuição do porte da instituição (downsize), através da

venda de títulos mantidos até o vencimento.

f) Aumento significativo na ponderação do risco de títulos de dívida, utilizada no

cálculo de exigência de capital.

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Adicionalmente, o IAS 39 estabelece que uma entidade não tem a

intenção positiva de manter um investimento até o vencimento se: (a) ela

pretende manter o ativo financeiro por um período de tempo não definido; (b) ela

pretende vender o ativo financeiro em decorrência de mudanças nas taxas de

juros ou risco de mercado, de necessidade de liquidez, de mudanças nas

disponibilidades e nos juros de investimentos alternativos, de mudanças nas

fontes de recursos e de mudanças no risco da taxa de câmbio e (c) o emissor tem

o direito de liquidar o ativo financeiro por um montante significativamente inferior

ao custo amortizado.

Os empréstimos e valores a receber são ativos financeiros não derivativos

com pagamentos fixos ou determinados que não sejam cotados em um mercado

ativo. Os ativos dessa categoria devem ser mensurados pelo custo amortizado.

Os empréstimos e valores a receber em que o credor possa não

recuperar substancialmente a totalidade do investimento inicial, devem ser

classificados como disponíveis para venda.

Os ativos financeiros disponíveis para venda são aqueles designados

como disponíveis para venda ou que não sejam classificados numa das

categorias anteriores. Os ativos dessa categoria devem ser avaliados a valor

justo, com os ganhos e perdas não realizados reconhecidos diretamente no

patrimônio líquido.

A opção contida na edição revisada do IAS 39 de 2000, de reconhecer os

ganhos e perdas não realizados dos ativos financeiros disponíveis para venda

diretamente no resultado, foi eliminada. Essa opção não é mais necessária pois

com as alterações introduzidas pela edição revisada de 2003, a entidade, agora,

pode designar qualquer ativo ou passivo financeiro para ser mensurado a valor

justo com os ganhos e perdas reconhecidos no resultado.

O valor justo, conforme definido na norma, é o montante pelo qual um

ativo poderia ser trocado entre partes conhecedoras e interessadas, numa

transação em que não exista relacionamento entre elas. O IASB considera que a

existência de cotações de preço publicadas num mercado ativo é a melhor

evidência de valor justo e quando existirem devem ser utilizadas para mensurar o

ativo financeiro. Se um mercado ativo não existe, o valor justo deve ser

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120

estabelecido através de técnicas de avaliação, como: análise de fluxo de caixa

descontado e referências de valor justo de outros instrumentos semelhantes.

A norma estabelece que as empresas devem avaliar, a cada data de

balanço, se existe qualquer evidência de que um ativo financeiro ou um grupo de

ativos financeiros perdeu valor. A perda de valor de um ativo pode ser decorrente

de uma dificuldade financeira significativa do emissor; uma quebra de contrato, tal

como o descumprimento nos pagamentos dos juros ou principal; uma grande

probabilidade de falência ou o desaparecimento de um mercado ativo para esse

ativo financeiro, decorrente de dificuldades financeiras.

Para os ativos classificados nas categorias de mantidos até o vencimento

e disponíveis para venda, se houver evidência de que houve perda de valor, o

montante da perda deve ser mensurado e reconhecido no resultado. Em períodos

subseqüentes, a reversão de perdas reconhecidas dos ativos mantidos até o

vencimento é permitida até o montante que seria registrado pelo custo

amortizado, se não tivesse sido registrada a perda. As reversões da categoria de

disponíveis para venda são permitidas somente para os títulos de dívida, sendo

proibidas para as ações.

Transferência entre categorias

A transferência para e da categoria ativos financeiros a valor justo, por via

dos resultados não é permitida, enquanto o ativo for mantido em carteira. Em

função da norma permitir que uma entidade designe qualquer ativo ou passivo

financeiro, no reconhecimento inicial, para ser mensurado a valor justo, o IASB

proibiu a reclassificação desses títulos, com o intuito de impor uma disciplina na

utilização dessa categoria.

Se, em decorrência de uma mudança na intenção ou habilidade, não for

mais apropriado classificar um investimento como mantido até o vencimento, ele

deve ser reclassificado para disponível para venda e mensurado a valor justo.

As transferências da categoria de mantidos até o vencimento resultantes

de uma mudança na intenção ou habilidade são consideradas como vendas e,

portanto, salvo circunstâncias excepcionais, quando isso ocorrer, todos os demais

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títulos mantidos até o vencimento devem ser reclassificados para a categoria de

disponível para venda e mensurados a valor justo.

Se, em decorrência de mudança na intenção ou habilidade, ou nas raras

circunstâncias em que uma medida de valor justo não esteja mais disponível, ou

porquê os dois anos de proibição de classificar ativos como mantidos até o

vencimento tenha expirado, se tornar apropriado registrar um ativo financeiro pelo

custo ou custo amortizado em vez do valor justo, o valor justo do ativo registrado

nessa data torna-se o novo custo ou custo amortizado, conforme aplicável.

Exigências de divulgação

As exigências de divulgação que existiam no IAS 39, edição revisada de

2000, foram todas transferidas para o IAS 32 – Financial Instruments: Disclosure

and Presentation. Dessa forma, a edição atual do IAS 32 (revisada de 2003) inclui

todas as exigências de divulgação relativas aos instrumentos financeiros.

O objetivo das exigências de divulgação do IAS 32 é fornecer informações

que permitam avaliar a importância dos instrumentos financeiros para a posição

financeira, a performance e o fluxo de caixa da entidade. O pronunciamento exige

várias divulgações relacionadas aos instrumentos financeiros, incluindo

informações sobre os seus valores justos.

As exigências de divulgação relacionadas com os títulos e valores

mobiliários estão descritas a seguir:

a) Termos, condições e políticas contábeis: para cada classe de ativo financeiro

a entidade deverá divulgar: (a) informações sobre a natureza do ativo

financeiro, incluindo os termos e condições que possam afetar o montante, o

prazo e a certeza dos fluxos de caixa futuros e (b) as políticas contábeis

adotadas, incluindo os critérios de reconhecimento e as bases de mensuração

aplicadas.

b) Risco de taxa de juros: para cada classe de ativo financeiro a entidade deverá

divulgar informações sobre a exposição ao risco de taxa de juros, incluindo as

datas de repactuação ou vencimento, o que ocorrer primeiro, e a taxa de juros

efetiva, quando aplicável.

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c) Risco de crédito: para cada classe de ativo financeiro a entidade deverá

divulgar informações sobre a exposição ao risco de crédito, incluindo o

montante que melhor represente o máximo de exposição ao risco de crédito e

as concentrações relevantes de risco de crédito.

d) Valor justo: para cada classe de ativo financeiro a entidade deverá divulgar o

valor justo do ativo. Entretanto, se o investimento for em ações não cotadas

em mercado, contabilizadas pelo custo, em função do valor justo não ser

mensurável de forma confiável, esse fato deve ser divulgado juntamente com

uma descrição do instrumento financeiro, o montante contabilizado, uma

explicação do porquê o valor justo não pode ser mensurado de forma confiável

e, se possível, um intervalo de estimação, dentro do qual o valor justo pode

estar contido.

e) Ativos financeiros contabilizados a valor justo através dos resultados: a

entidade deve divulgar o montante dos ativos financeiros classificados como

negociação e dos que foram inicialmente designados pela entidade como a

valor justo, por via dos resultados.

f) Reclassificação: se uma entidade reclassificou um ativo financeiro como

mensurado pelo custo ou custo amortizado ao invés de pelo valor justo, ela

deve divulgar a razão dessa reclassificação.

g) Demonstração de resultados e patrimônio: a entidade deve divulgar os itens

relevantes de receita, despesa e ganhos e perdas resultantes de ativos

financeiros, quer incluídos nos resultados quer como um componente

separado do patrimônio líquido. Para os ativos classificados como disponíveis

para venda, deve ser divulgado, ainda, o montante de qualquer ganho ou

perda reconhecido diretamente no patrimônio líquido e o montante que foi

removido do patrimônio e reconhecido no resultado durante o período.

h) Prejuízo por perda de valor: a entidade deve divulgar a natureza e o montante

de qualquer prejuízo por perda de valor de ativo financeiro, reconhecido nos

resultados.

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123

4.3 Normas contábeis brasileiras

No Brasil, não existe uma organização designada para estabelecer

padrões contábeis. As regras de contabilização estão definidas em normas

emitidas por diferentes entidades. As sociedades anônimas devem obedecer às

normas estabelecidas pela Lei 6.404/76 e, adicionalmente, se a sociedade for

uma instituição financeira deverá obedecer, ainda, às normas emitidas pelo Banco

Central. No caso das companhias de seguro é obrigatório obedecer às normas

emitidas pela SUSEP.

4.3.1 Histórico dos padrões brasileiros

No Brasil, as normas contábeis têm utilizado o método do custo ou

mercado, dos dois o menor, para a avaliação dos títulos e valores mobiliários.

O Decreto-lei 2.627 (antiga Lei das Sociedades por Ações), de 26 de

setembro de 1940, estabelecia, em seu artigo 129, § único, alínea b: “valores

mobiliários, matéria prima, bens destinados à alienação, ou que constituem

produtos ou artigos da indústria ou comércio da sociedade, podem ser estimados

pelo custo de aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente no mercado ou

bolsa. Prevalecerá o critério da estimação pelo preço corrente, sempre que este

for inferior ao preço do custo.”

A Lei permitia, ainda, a utilização do preço corrente ou venal quando esse

estivesse acima do valor do custo de aquisição ou fabricação, desde que a

diferença não fosse levada em conta para a distribuição de dividendos, nem para

as percentagens referentes aos fundos de reserva. Porém, a Lei não esclarecia

qual o tratamento a ser dado com a valorização ou desvalorização ocorrida com o

ativo: se deveria ser reconhecida como um ganho/perda na demonstração de

lucros e perdas.

Em 1976, foi promulgada a Lei 6.404 (nova lei para as Sociedades

Anônimas). Essa Lei estabelece, no artigo 183, item I, que os direitos e títulos de

crédito, e quaisquer valores mobiliários não classificados como investimentos,

devem ser avaliados pelo custo de aquisição ou pelo valor de mercado, se este

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for menor. O artigo estabelece, ainda, que será admitido o aumento do custo de

aquisição, até o limite do valor de mercado, para registro de correção monetária,

variação cambial ou juros acrescidos. Segundo a Lei, o valor de mercado dos

bens ou direitos destinados à venda é o preço líquido de realização mediante

venda no mercado, deduzidos os impostos e demais despesas necessárias para

a venda, e a margem de lucro; e o valor de mercado dos investimentos é o valor

líquido pelo qual possam ser alienados a terceiros.

A instrução CVM 235, de 23 de março de 1995, considera, como valor de

mercado, o seguinte:

I - o valor que se pode obter com a negociação do instrumento financeiro em um mercado ativo, em que comprador e vendedor possuam conhecimento do assunto e independência entre si, sem que corresponda a uma transação compulsória ou decorrente de um processo de liquidação, ou

II - na ausência de um mercado ativo para um determinado instrumento financeiro:

a) o valor que se pode obter com a negociação de outro instrumento financeiro de natureza, prazo e risco similares, em um mercado ativo, conforme referido no inciso I deste artigo; ou

b) o valor presente líquido dos fluxos de caixa futuros a serem obtidos, ajustado com base na taxa de juros vigente no mercado, na data do balanço, para instrumentos financeiros de natureza, prazo e risco similares.

Para os investimentos em outras sociedades, cuja intenção de

participação seja de caráter permanente e que não se destinem à manutenção da

atividade da companhia, existem dois métodos de avaliação: método do custo e

método da equivalência patrimonial. Segundo Iudícibus et al (2000, p. 130), o

método do custo é adotado para os investimentos menores e o método da

equivalência patrimonial para os investimentos mais significativos, em termos do

nível de participação acionária na investida e de sua relevância.

O item III, do artigo 183, da Lei 6.404/76, estabelece que os investimentos

no capital social de outras sociedades devem ser registrados pelo custo de

aquisição, deduzido de provisão para perdas prováveis na realização do seu

valor, quando essa perda estiver comprovada como permanente. Entretanto, o

artigo 248 define que os investimentos relevantes em sociedades coligadas sobre

cuja administração tenha influência, ou de que participe com 20% (vinte por

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cento) ou mais do capital social, e em sociedades controladas, deverão ser

avaliados pelo método da equivalência patrimonial.

O método da equivalência patrimonial traz reflexos importantes nas

demonstrações contábeis de muitas empresas, por reconhecer os resultados dos

investimentos relevantes em coligadas e controladas no momento em que tais

resultados ocorrem, e não somente no momento em que são distribuídos na

forma de dividendos, como ocorre no método do custo (IUDÍCIBUS et al, 2000, p.

139).

O Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Resolução CFC 876,

de 18 de abril de 2000, aprovou a NBC T 10.9 Dos aspectos contábeis

específicos das entidades financeiras. Essa Resolução estabelece que a

avaliação dos títulos de renda fixa deverá ser efetuada mensalmente, adotando-

se como base o menor valor entre o contábil e o de mercado. Para os títulos de

renda fixa, o valor de mercado compreende o valor que se pode obter, na data da

avaliação, com a venda do título. Se não houver cotação, adotam-se as taxas de

emissão para títulos semelhantes, em vigor na mesma data, ou ainda as cotações

constantes de publicações especializadas.

Para os títulos de renda variável, a Resolução CFC 876/00 estabelece

que caso eles sejam cotados em bolsa, efetua-se a avaliação através da

comparação entre o valor de custo e a cotação média do último dia útil de cada

mês em que a ação tenha sido cotada, na bolsa de valores onde foi mais

negociada, no trimestre civil imediatamente anterior. Para os títulos não cotados

em bolsa, a avaliação é efetuada comparando-se o valor de custo e o patrimonial,

determinado com base no último balanço publicado ou balancete disponível,

admitindo-se, para tanto, defasagem, em relação à data da avaliação, de no

máximo 12 meses. Para as duas situações, se ocorrerem valorizações no valor do

título, não é admitido o seu reconhecimento, porém, se ocorrerem

desvalorizações, é obrigatória a constituição de provisão.

Para as instituições financeiras, existem normas contábeis específicas

emitidas pelo Banco Central. A Lei 4.595/64, que dispõe sobre a política e as

instituições monetárias, bancárias e creditícias, estabeleceu, no artigo 4º, Inciso

XII, que compete ao CMN expedir normas gerais de contabilidade e estatística a

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serem observadas pelas instituições financeiras. Por meio de Ato proferido em

19/07/1978, o CMN delegou ao BACEN a competência para expedir normas

gerais de contabilidade a serem observadas pelas instituições financeiras.

O Banco Central, por meio da Circular 1.273, de 29 de dezembro de

1987, criou o Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional

(COSIF), com o objetivo de unificar os diversos planos contábeis existentes à

época e uniformizar os procedimentos de registro e elaboração de demonstrações

financeiras. Essa norma, estabeleceu os mesmos procedimentos adotados pela

Lei 6.404/76 para a avaliação dos títulos e valores mobiliários, ou seja, custo ou

mercado, dos dois o menor.

Posteriormente, o Banco Central, por meio da Circular 2.329, de 7 de

julho de 1993, estabeleceu critérios para a atualização monetária das aplicações

em títulos de renda variável. A Circular estabeleceu que a

valorização/desvalorização de cada título individualmente deve ser objeto de

compensação com a valorização/desvalorização de outros títulos, sendo

necessária a constituição de provisão somente no caso do valor de mercado da

carteira ser inferior ao seu custo corrigido monetariamente.

A Circular 2.887, do BACEN, de 12 de maio de 1999, estabeleceu que os

títulos públicos federais com cláusula de variação cambial, adquiridos com a

finalidade de atender à exigência de aplicação dos recursos captados no exterior,

devem ser registrados pelo custo de aquisição, acrescido dos rendimentos

auferidos, desde que a administração tenha a intenção e capacidade financeira de

mantê-los em carteira até o vencimento e seja observado, cumulativamente, que:

os recursos utilizados para a aquisição dos títulos são oriundos de captação

mediante emissão pública no exterior; o prazo de fluência dos títulos é inferior ao

da captação e os títulos permanecerão indisponíveis até o vencimento. Dessa

forma, atendidas essas exigências, não havia a necessidade de se constituir

provisão para ajuste a valor de mercado desses títulos.

Finalmente, com a edição da Circular 3.068/01, o Banco Central

estabeleceu critérios de avaliação de títulos e valores e mobiliários que, embora

sejam divergentes com as regras estabelecidas pela Lei das Sociedades

Anônimas e pelo CFC, estão em harmonia com as normas contábeis adotadas

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internacionalmente: pronunciamentos SFAS 115 Accounting for Certain

investments in debt and equity securities, do FASB e IAS 39 Financial

Instruments: Recognition and Measurement, do IASB.

Além do BACEN, existem critérios de avaliação e contabilização de títulos

e valores mobiliários semelhantes às normas internacionais nas Circulares

emitidas pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) – Circular 192, de

26 de junho de 2002. Posteriormente, a Circular 192 foi revogada pela Circular

224, de 13 de dezembro de 2002; porém, as regras estabelecidas para a

contabilização dos títulos e valores mobiliários não sofreram alterações.

4.3.2 Contabilização dos títulos segundo a Circular 3.068/01, do Banco

Central

A Circular 3068/01 define os critérios para registro e avaliação contábil de

títulos e valores mobiliários. Assim, a partir do balanço de junho de 2002, as

instituições financeiras que atuem no Brasil, devem obedecer à forma de

contabilização estabelecida por essa Circular.

A Circular 3.068/01 adota procedimentos semelhantes aos emanados do

FASB e IASB. O artigo 1º estabelece que os títulos e valores mobiliários devem

ser registrados pelo valor efetivamente pago, inclusive corretagens e

emolumentos, e classificados em três categorias, de forma semelhante ao

estabelecido pelo FASB: negociação, mantidos até o vencimento e disponível

para a venda.

A classificação define a forma de contabilização dos títulos, conforme os

seguintes critérios:

- Os títulos classificados em mantidos até o vencimento devem ser avaliados

pelos respectivos custos de aquisição, acrescido dos rendimentos auferidos.

- Os títulos para negociação e os disponíveis para a venda devem ser avaliados

pelo valor de mercado, sendo que o ajuste decorrente da avaliação deve ser

contabilizado em contrapartida a uma conta de resultado, nos títulos para

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negociação e em contrapartida a uma conta destacada do Patrimônio Líquido,

no caso dos títulos disponíveis para venda.

A norma do Banco Central utilizou o termo “valor de mercado”, ao invés

do termo “valor justo” utilizado pelas normas norte-americanas e internacionais. A

norma estabelece que pode ser utilizado como parâmetro para definição do valor

de mercado:

I - o preço médio de negociação no dia da apuração ou, quando não disponível, o preço médio de negociação no dia útil anterior;

II - o valor líquido provável de realização obtido mediante adoção de técnica ou modelo de precificação;

III - o preço de instrumento financeiro semelhante, levando em consideração, no mínimo, os prazos de pagamento e vencimento, o risco de crédito e a moeda ou indexador.

Assim, verifica-se que o termo “valor de mercado” foi adotado pelo

BACEN com uma interpretação bem abrangente, ao incluir parâmetros que na

realidade se enquadrariam na definição de valor justo.

A capacidade financeira de manter os títulos até o vencimento é

caracterizada pela disponibilidade de recursos de terceiros, exceto dívidas

subordinadas e instrumentos híbridos de capital e dívida, referenciados na mesma

moeda e com prazo igual ou superior ao dos correspondentes títulos.

Posteriormente, a Circular 3.129, do BACEN, de 27 de junho de 2002, alterou a

caracterização da capacidade financeira ao estabelecer que essa deve ser

comprovada com base em projeção de fluxo de caixa, desconsiderada a

possibilidade de venda dos títulos mantidos até o vencimento.

Considerações na adoção da classificação

A classificação dos títulos na categoria de negociação expõe a instituição

a uma volatilidade maior nos resultados, decorrente de variações no valor de

mercado, pois todos os ganhos e perdas são reconhecidos no resultado. Porém,

para os títulos cujo valor de mercado esteja superior ao de custo, ou seja, com

ganhos não realizados, a utilização da categoria de negociação permite melhorar

o lucro líquido do período.

Para os títulos classificados em disponíveis para venda, pode ocorrer uma

maior volatilidade do patrimônio líquido, pois os ajustes decorrentes de variações

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no valor de mercado serão incluídos em um componente separado do patrimônio

líquido.

A classificação dos títulos na categoria de mantidos até o vencimento

evita o impacto dos ajustes a valor de mercado na demonstração de resultados ou

no patrimônio líquido, pois esses títulos ficam registrados pelo custo histórico.

Porém, os títulos mantidos até o vencimento não poderão ser utilizados, no futuro,

para atender uma eventual necessidade de liquidez da instituição. Se um título

dessa categoria for vendido, a classificação de todos os demais títulos mantidos

até o vencimento pode ser questionada e, conseqüentemente, ser exigida a

reclassificação de todos os títulos para a categoria de disponíveis para venda,

com os respectivos ajustes a valor de mercado sendo reconhecidos no patrimônio

líquido.

Transferência entre categorias

A reavaliação quanto à classificação dos títulos somente pode ocorrer nas

datas de balanço. Para os títulos da categoria mantidos até o vencimento, a

venda ou transferência somente poderá ocorrer por um motivo isolado, não usual,

não recorrente e não previsto, de modo a não descaracterizar a intenção

evidenciada pela instituição quando da classificação original.

A restrição de venda foi atenuada com a edição da Resolução 3.181, do

CMN, de 29 de março de 2004, que estabeleceu que a alienação dos títulos

públicos federais classificados na categoria de mantidos até o vencimento,

simultaneamente à aquisição de novos títulos da mesma natureza, com prazo de

vencimento superior e em montante igual ou superior ao dos títulos alienados,

não descaracterizam a intenção da instituição financeira quando da classificação

dos mesmos na referida categoria. Dessa forma, essa norma abrandou as

exigências anteriores, permitindo que houvesse a troca de títulos públicos

federais classificados na categoria de mantidos até o vencimento.

Exigências de divulgação

A Circular 3.068/01 estabelece a obrigatoriedade de divulgação, em notas

explicativas às demonstrações financeiras, de informações que abranjam, no

mínimo, os seguintes aspectos relativos a cada categoria de classificação:

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I - o montante, a natureza e as faixas de vencimento;

II - os valores de custo e de mercado, segregados por tipo de título, bem como os parâmetros utilizados na determinação desses valores;

III - o montante dos títulos reclassificados, o reflexo no resultado e os motivos que levaram à reclassificação;

IV - os ganhos e as perdas não realizados no período, relativos a títulos e valores mobiliários classificados na categoria títulos disponíveis para a venda.

4.4 Principais diferenças entre as normas (FASB, IASB, Banco Central)

Os pronunciamentos do FASB (SFAS 115), IASB (IAS 39) e do Banco

Central (Circular 3.068/01), no tocante à contabilização dos títulos e valores

mobiliários, são em sua maior parte semelhantes, embora algumas diferenças

pontuais existam. No Apêndice I, é apresentada uma comparação detalhada das

normas. A seguir, são destacadas as principais diferenças existentes entre as

normas.

4.4.1 Escopo

O pronunciamento do IASB (IAS 39 Financial Instruments: Recognition

and Measurement) aborda a contabilização de todos os ativos e passivos

financeiros, incluindo os derivativos e a contabilização do hedge.

Nos Estados Unidos, normas similares são estabelecidas em vários

pronunciamentos, conforme relação a seguir:

- SFAS 114, Accounting by Creditors for Impairment of a Loan.

- SFAS 115, Accounting for Certain Investments in Debt and Equity Securities.

- SFAS 133, Accounting for Derivative Instruments and Hedging Activities.

O Banco Central adotou uma estrutura similar à norte-americana, com

regras estabelecidas em várias normas, conforme relação a seguir:

- Resolução 2.682, do CMN, de 21 de dezembro de 1999. Dispõe sobre critérios

de classificação das operações de crédito e regras para constituição de

provisão para créditos de liquidação duvidosa.

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- Circular 3.068, do BACEN, de 8 de novembro de 2001. Estabelece critérios

para registro e avaliação contábil de títulos e valores mobiliários.

- Circular 3.082, do BACEN, de 30 de janeiro de 2002. Estabelece e consolida

critérios para registro e avaliação contábil de instrumentos financeiros

derivativos.

Em função do seu escopo, o IAS 39 permite a classificação de todos os

ativos financeiros em uma das seguintes categorias: disponível para venda,

mantidos até o vencimento ou a valor justo, por via dos resultados. O SFAS 115

(FASB) e a Circular 3.068/01 (Banco Central) que especificam classificação

semelhante, aplicam-se somente aos títulos e valores mobiliários.

Além disso, segundo as normas do IASB, desde que atendidas as

condições estabelecidas na emenda de junho de 20059, qualquer ativo ou passivo

financeiro pode ser avaliado a valor justo, com o reconhecimento dos ganhos e

perdas não realizados na demonstração de resultados. Isso permite que a

empresa reduza a volatilidade dos resultados, através da contabilização a valor

justo dos ativos e passivos financeiros que sejam administrados de forma

conjunta. As normas do FASB e do Banco Central contemplam a contabilização a

valor justo somente dos títulos e valores mobiliários e dos instrumentos

financeiros derivativos. Assim, sob as normas do FASB e do Banco Central, para

evitar a volatilidade dos resultados a empresa deve efetuar a contabilização

dentro das regras específicas da contabilização do hedge.

9 A emenda ao IAS 39, de junho de 2005, relativamente à opção do valor justo estabelece as seguintes condições para que um ativo ou passivo financeiro seja designado para ser mensurado a valor justo, por via dos resultados: a) a designação da opção de valor justo elimina ou reduz de forma significativa uma

contabilização desbalanceada (accounting mismatch) b) um grupo de ativos financeiros, passivos financeiros, ou os dois são gerenciados e a sua

performance é avaliada com base no valor justo, estando em acordo com um gerenciamento de risco documentado ou estratégia de investimento, e

c) um instrumento financeiro contém um derivativo embutido que satisfaça condições particulares.

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4.4.2 Valor justo

Os pronunciamentos IAS 39 e SFAS 115 determinam que os ativos

devem ser avaliados pelo seu valor justo (fair value). No pronunciamento SFAS

115, o FASB esclarece que decidiu utilizar o termo valor justo para evitar a

confusão entre os termos valor justo e valor de mercado; muitas vezes se associa

o termo valor de mercado somente para os itens que são ativamente negociados

no mercado secundário. O FASB acredita que uma estimativa razoável do valor

justo pode ser efetuada ou obtida para os títulos que não sejam negociados

ativamente no mercado. O Banco Central determinou que os ativos devem ser

avaliados pelo seu valor de mercado. Porém, adotou uma interpretação bem

abrangente na definição do que pode ser considerado como valor de mercado.

4.4.3 Contabilização

Segundo o SFAS 115 e a Circular 3.068/01, os títulos e valores

mobiliários devem ser classificados nas seguintes categorias: negociação,

mantidos até o vencimento e disponíveis para venda. O IAS 39 adota categorias

semelhantes, porém, a categoria de negociação é uma subcategoria de ativos

financeiros a valor justo, por via dos resultados. Os ativos financeiros a valor

justo, por via dos resultados possuem duas subcategorias: a de negociação e os

designados como ativos a serem mensurados a valor justo, por via dos

resultados.

Com relação à contabilização dos títulos da categoria de disponíveis para

venda, o SFAS 115 estabelece que os ganhos e perdas não realizados devem

ser reportados como outros resultados abrangentes. Dessa forma, esses ganhos

e perdas devem primeiro transitar pela demonstração dos resultados

abrangentes, para depois serem registrados na conta de resultados abrangentes,

dentro do patrimônio líquido. O IAS 39 e a Circular 3.068/01 estabelecem que os

ganhos e perdas não realizados da categoria de disponível para venda devem ser

registrados em um componente separado do patrimônio líquido.

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4.4.4 Transferência entre categorias

O IAS 39 proíbe a transferência da e para a categoria de valor justo, por

via dos resultados. Dessa forma, a classificação nessa categoria ocorre somente

no momento do reconhecimento inicial do ativo, devendo ser mantida a

classificação até a venda do título. Tanto o SFAS 115, quanto a Circular 3.068/01,

permitem reclassificações da e para a categoria de negociação.

Para a categoria de mantidos até o vencimento, o IAS 39 estabelece uma

pena pela venda desses títulos. Caso uma entidade tenha vendido ou transferido

títulos dessa categoria, todos os demais títulos devem ser reclassificados para a

categoria de disponível para venda. Além disso, o IAS 39 proíbe a utilização da

categoria de mantidos até o vencimento por um prazo de 2 anos, se ocorreu uma

venda ou reclassificação de títulos mantidos até o vencimento. O SFAS 115 adota

os mesmos procedimentos, porém, não prevê um prazo específico, em que a

entidade fica proibida de utilizar a categoria de mantidos até o vencimento. A

Circular 3.068/01 não trata, especificamente, da punição relativamente à venda ou

reclassificação da categoria de mantidos até o vencimento; contudo, a Circular

estabelece que se constatada improbidade ou inconsistência nos processos de

classificação e de avaliação, o Banco Central poderá determinar a reclassificação

dos títulos e valores mobiliários, com o conseqüente reconhecimento dos efeitos

nas demonstrações financeiras. Em 2004, a limitação para a venda de títulos da

categoria de mantidos até o vencimento foi atenuada, com a edição da Resolução

3.181/04, que permitiu a alienação de títulos públicos federais, desde que de

forma simultânea ocorresse a aquisição de novos títulos de mesma natureza, com

prazo de vencimento superior e em montante igual ou superior ao dos títulos

alienados.

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134

V - ANÁLISE EMPÍRICA

Esse capítulo apresenta uma revisão de pesquisas empíricas já

realizadas sobre títulos e valores mobiliários. A seguir, descreve-se a obtenção

dos dados utilizados na pesquisa. Com os dados obtidos são realizados os testes

estatísticos de análise das médias de rentabilidade e da relação entre as variáveis

macroeconômicas e a rentabilidade dos TVMs.

5.1 Revisão de pesquisas empíricas

Essa revisão foi efetuada com a finalidade de se obter conhecimento das

pesquisas empíricas já realizadas sobre a contabilização dos títulos e valores

mobiliários. O assunto tem sido objeto de estudo de vários artigos, principalmente

em publicações norte-americanas, porém, a maioria desses artigos não apresenta

um estudo empírico da implantação da contabilização a valor justo dos títulos.

No Brasil, em função da implementação das normas de contabilização a

valor de mercado dos TVMs ser relativamente recente (junho de 2002), existem

poucas pesquisas sobre o assunto.

A seguir, destacam-se os trabalhos em que foram identificadas pesquisas

empíricas.

O impacto que o SFAS 115 pode ter nas demonstrações financeiras é

analisado por Ivancevich et al (1996). Para mostrar as diferenças que ocorrem

nas demonstrações financeiras, os autores apresentaram uma ilustração

simplificada, baseado num investimento em um único título de dívida.

A ilustração demonstra que, sob o SFAS 115, duas companhias com

títulos idênticos podem parecer bem diferentes na apresentação das

demonstrações financeiras, dependendo da forma como a administração decide

classificar os títulos. Essas diferenças nas demonstrações financeiras podem

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135

impactar nos índices de análise e, em conseqüência, afetar as decisões de

investimento e de crédito.

Finalizando, os autores concluem que a administração pode utilizar as

técnicas de “ganhos com negociação” e/ou “contabilização baseada na intenção”

para atingir os objetivos de demonstrar um crescimento constante de lucros. A

venda de títulos classificados como disponíveis para venda que tenham se

valorizado de forma substancial pode propiciar o aumento dos lucros da

companhia. A administração, também, pode se engajar na “contabilização

baseada na intenção” para gerenciar as demonstrações financeiras e os índices,

através da escolha de classificações de títulos que propiciem o objetivo desejado.

Beatty (1995) examinou a adoção do SFAS 115 pelos bancos para

determinar se o desejo de influenciar os números das demonstrações financeiras,

incluindo a volatilidade do patrimônio líquido, afetou a administração do portfólio

de investimentos. Assim, o foco do artigo foi verificar se a administração do

portfólio de investimentos foi alterada pela adoção do SFAS 115.

A autora concluiu que, baseado na resposta dos bancos à implementação

do SFAS 115, o artigo fornece vários indicativos de que as preocupações dos

bancos e reguladores, sobre o impacto do SFAS 115, têm fundamento. O

decréscimo tanto na proporção, quanto na maturidade dos investimentos em

títulos no trimestre em que o SFAS 115 foi adotado e a redução da proporção dos

títulos classificados como disponíveis para venda à medida que o índice de

endividamento médio e de rentabilidade do patrimônio médio pioram, indicam que

as preocupações com a volatilidade no patrimônio líquido, causado pelo SFAS

115, acarretaram em mudanças na administração do portfólio de investimentos.

Jordan et al (1997/1998) pesquisaram o gerenciamento de resultados sob

o SFAS 115. O reconhecimento dos ganhos e perdas não realizados com os

títulos da categoria de disponíveis para venda no patrimônio líquido, sem transitar

pelo resultado, cria oportunidades para ganhos com negociação e gerenciamento

de resultados. Isto é, para atingir um nível desejado de lucro, a administração

pode vender os títulos de forma seletiva de forma que os ganhos e perdas não

realizados afetem o resultado.

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136

O artigo apresenta uma pesquisa das companhias seguradoras para

determinar se os títulos classificados como disponíveis para venda são utilizados

para obter ganhos com negociação e gerenciamento de resultados. O estudo

forneceu fortes evidências de que ganhos com negociação ocorrem sob o SFAS

115, pelo menos com relação às companhias de seguro.

Segundo os autores, as implicações das descobertas são importantes por

dois motivos. Primeiro, os usuários das demonstrações financeiras devem estar

cientes de que ganhos com negociação e gerenciamento de resultados existem

sob o SFAS 115. Ganhos com negociação para atingir níveis de resultado

desejados não necessariamente implicam em comportamento antiético dos

administradores. Porém, ao avaliar a saúde financeira de uma entidade, os

usuários precisam estar cientes da presença de ganhos com negociação.

Segundo, as descobertas sugerem que as decisões dos administradores são

afetadas, pelo menos em parte, pelos padrões contábeis. Os pronunciamentos do

FASB não têm a intenção de afetar as decisões operacionais e não devem ser

utilizados para moldar a condição financeira da companhia. Isso não obstante,

aparentemente essas duas situações estão ocorrendo sob o SFAS 115. Modificar

o SFAS 115 no sentido de exigir que ganhos e perdas não realizados sejam

reconhecidos no resultado, pode efetivamente eliminar o potencial para ganhos

com negociação, mas, ao fazê-lo, poderá aumentar de forma significativa a

volatilidade dos resultados de ano para ano, pelo fato do lucro flutuar com base

nas mudanças das taxas de juros.

No Brasil, existem dois trabalhos, escritos por Furlani, que abordam a

contabilização dos títulos e valores mobiliários.

No primeiro trabalho - artigo apresentado no 17º Congresso Brasileiro de

Contabilidade - Furlani (2004) pesquisou o nível de aderência das instituições

financeiras brasileiras ao critério do valor justo para avaliação de suas carteiras

de TVM, mediante uma comparação entre a forma como essas distribuíram

aqueles ativos entre as categorias de TVM criadas pela nova regulamentação, em

relação à maneira como suas congêneres dos EUA realizaram o mesmo

procedimento. Segundo o autor, maiores proporções de TVM classificados nas

categorias de títulos mantidos para negociação e disponíveis para venda

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137

significam uma maior aderência ao critério de valor justo como forma de avaliação

das carteiras e, conseqüentemente, maiores proporções de TVM classificados

nas categorias de títulos mantidos até o vencimento, uma menor aderência ao

valor justo.

O estudo inferiu que o nível de utilização do critério do valor justo como

forma de avaliar a carteira de TVM é maior entre as instituições financeiras dos

EUA, se comparadas às brasileiras, durante todo o período de pesquisa.

Adicionalmente, o estudo concluiu que as instituições financeiras dos EUA

apresentaram uma distribuição dos TVM, nas categorias de que trata a

regulamentação, mais estável que as brasileiras, o que é uma evidência de que a

utilização dos procedimentos de classificação já se encontra mais consolidada

naquele país.

O segundo trabalho de Furlani (2005) foi a sua dissertação de mestrado e

teve como objetivo apurar se a implementação do padrão contábil relativo à

utilização do valor justo como critério de avaliação de títulos e valores mobiliários

e instrumentos financeiros derivativos aumentou a volatilidade do Patrimônio de

Referência (PR).

De acordo com o autor, os resultados obtidos pela pesquisa permitem

afirmar que o risco de aumento de volatilidade no capital regulamentar ou PR, no

caso das instituições financeiras brasileiras, não pode ser rejeitado, haja vista a

constatação de alteração estatística relevante na evolução do PR real total e na

forma como o PR dispersou-se em relação ao conjunto completo das entidades

incluídas no trabalho.

A revisão dos estudos empíricos mostra que a implementação das novas

normas de contabilização dos títulos e valores mobiliários tem o potencial de

provocar algum impacto nos resultados apurados com títulos e valores

mobiliários. Nesse contexto, são apresentados, a seguir, os procedimentos

metodológicos adotados para buscar a resposta aos problemas de pesquisas

propostos.

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138

5.2 Dados da pesquisa

Os dados utilizados na pesquisa foram obtidos do relatório 50 Maiores

Bancos e o Consolidado do Sistema Financeiro Nacional, disponível no site do

Banco Central do Brasil. A ressaltar que o recurso de "download" permite

consultar, além dos 50 maiores bancos, os dados das demais instituições,

possibilitando a visualização de todas as instituições do sistema bancário

brasileiro.

Para a pesquisa da média de rentabilidade dos títulos e valores

mobiliários, foram considerados o saldo de aplicações em títulos e valores

mobiliários (contas de ativo) e os resultados de operações com títulos e valores

mobiliários (contas de resultado).

Considerando que no período da pesquisa ocorreram vários processos de

aquisições de instituições, especialmente por parte das instituições financeiras de

grande porte (ABN Amro, Bradesco, Itaú, Santander e Unibanco), foram incluídos

na pesquisa os saldos das instituições adquiridas ao da adquirente.

O escopo da pesquisa não contempla as operações com instrumentos

financeiros derivativos e as operações interfinanceiras de liquidez. Dessa forma,

tanto os saldos ativos, quanto os de resultados referem-se somente às operações

com títulos e valores mobiliários.

A pesquisa foi efetuada em bases trimestrais, contemplando os relatórios

de março de 2000 a março de 2002 (período anterior à implementação da Circular

3.068/01) e de junho de 2002 a junho de 2004 (período posterior). Dessa forma, a

pesquisa inclui os dados de 18 trimestres.

Em junho de 2004, o total de aplicações em títulos e valores mobiliários

do SFN era de R$ 379.780 milhões. A amostra contemplou os conglomerados

financeiros ou instituições independentes com saldo de aplicações e resultados

com títulos e valores mobiliários nos 18 trimestres da pesquisa. Com base nesse

critério, obteve-se uma amostra de 95 conglomerados/instituições que detinham,

em junho de 2004, um saldo de aplicação em títulos e valores mobiliários de R$

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353.279 milhões, que representava 93,02% do total do SFN. A lista das

instituições incluídas na amostra encontra-se no Apêndice II.

A rentabilidade dos títulos e valores mobiliários foi obtida através da

divisão do resultado com títulos e valores mobiliários pelo saldo médio de

aplicações em títulos e valores mobiliários, conforme equação a seguir:

em que:

Rent TVM: rentabilidade dos títulos e valores mobiliários;

Resultado TVM: saldo do resultado com títulos e valores mobiliários (receitas menos despesas) e

TVM: saldo de aplicação em títulos e valores mobiliários (ativo).

Para cada instituição, calcularam-se as médias de rentabilidade dos

TVMs, para os períodos anterior (mar/2000 a mar/2002) e posterior (jun/2002 a

jun/2004) à implementação da Circular 3.068/01.

As médias de rentabilidade dos TVMs foram objeto de pesquisa para

detectar a existência de “outliers”, ou seja, valores que estejam distantes dos

demais elementos da amostra. A verificação dos outliers foi realizada utilizando-

se o teste de Grubbs (Grubbs’ Test), que consiste na mensuração de quão

distante o valor do elemento encontra-se em relação à média da amostra. Para

isso, calcula-se o índice z, que representa a diferença entre o valor do elemento e

a média da amostra, dividido pelo desvio-padrão10. Se o valor calculado z for

maior que o valor crítico de z, então o elemento será considerado um outlier11. A

ferramenta utilizada para a detecção dos outliers foi a calculadora Quickcalcs –

Online Calculators for Scientists, disponível no site

http://www.graphpad.com/quickcalcs/index.cfm.

10 O valor de z é dado pela fórmula: σ

X - Xz i=

11 O valor crítico de z é dado pela fórmula: ( ) ( )2

2

c t2-NNt

*1 -N z+

= ,

em que: N é o tamanho da amostra e t é o valor crítico da distribuição t com N-2 graus de liberdade e um intervalo de confiança de α/(2N).

( ) ,

2TVMTVM

TVM ResultadoTVMRent

1i

ii

−+=

i

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140

A pesquisa detectou a existência de 10 elementos cuja rentabilidade

estava distante dos demais elementos da amostra e foram, portanto,

considerados como “outliers”. Assim, esses elementos foram excluídos da

amostra e o trabalho foi desenvolvido com os 85 conglomerados/instituições

restantes.

5.3 Análise das médias de rentabilidade dos TVMs

A análise das médias de rentabilidade dos títulos e valores mobiliários foi

realizada através da comparação das médias de rentabilidade de cada instituição,

dos períodos anteriores e posteriores à adoção da norma de contabilização a

valor de mercado.

A comparação entre as médias de rentabilidade dos TVMs é apresentada,

inicialmente, em gráficos. Posteriormente, as médias foram objeto de pesquisa

estatística, a fim de avaliar se os resultados apurados nos gráficos são

confirmados pelos testes estatísticos, ou seja, se os resultados não são apenas

atribuíveis ao acaso.

A pesquisa busca responder se a contabilização a valor de mercado dos

títulos e valores mobiliários teve algum impacto na rentabilidade dos títulos e

valores mobiliários. Para isso as seguintes hipóteses foram consideradas:

H0 (nula): não existem diferenças entre as médias.

H1 (alternativa): existem diferenças entre as médias.

A apresentação gráfica da comparação entre as médias foi realizada

através de distribuições de freqüência que, segundo Stevenson (2001, p. 32), é

um método de grupamento de dados em classes, ou intervalos, de tal forma que

se possa determinar o número, ou percentagem (isto é, a freqüência) de cada

classe.

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A comparação das médias foi obtida da diferença entre as médias de

rentabilidade dos TVMs (depois – antes) e apresentada através de um histograma

de freqüência que fornece no eixo horizontal as diferenças obtidas entre as

médias (classes) e no eixo vertical a contagem de casos (freqüência) em cada

classe.

Gráfico 2 – Diferença entre as médias de rentabilidade de TVM depois x antes da implementação da Circular 3.068/01

O Gráfico 2 - Rentabilidade de TVM mostra que os resultados se

encontram concentrados em duas classes: de 0,00 a 0,01 e de 0,01 a 0,02. Essas

duas classes apresentam um total de 50 casos, o que representa 58,8% do total

dos 85 conglomerados/instituições da amostra. Assim, o gráfico mostra uma

tendência de que a implementação da Circular 3.068/01 provocou um impacto na

rentabilidade com TVM, propiciando uma melhora nos resultados.

Uma vantagem dos estudos através de gráficos é a fácil visualização dos

resultados. No presente trabalho, os resultados gráficos indicam que houve uma

melhora na rentabilidade dos TVMs, com a implementação da Circular 3.068/01,

sinalizando para a rejeição da hipótese nula, ou seja, a de que não existe

diferença entre as médias. Porém, essa sinalização não é conclusiva, devendo

ser objeto de testes estatísticos, para avaliar se as afirmações obtidas nos

gráficos são corretas.

Rentabilidade de TVM

02 2

810

2624

8

41 0

0

5

10

15

20

25

30

Menos d

e -0,0

4

de -0

,04 a

-0,03

de -0

,03 a

-0,02

de -0

,02 a

-0,01

de -0

,01 a

0

de 0

a 0,01

de 0,

01 a

0,02

de 0,

02 a

0,03

de 0,

03 a

0,04

de 0,

04 a

0,05

Mais de

0,05

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142

5.3.1 Testes estatísticos realizados

Uma das formas de avaliar se as médias de duas populações são iguais é

a aplicação do teste de significância de duas amostras para médias. Porém, para

a realização desse teste, exige-se que as duas amostras sejam independentes

(isto é, de grupos diferentes). Stevenson (2001, p. 240) alerta que isso significa

que os dados antes-depois não podem ser avaliados dessa maneira, limitando,

assim, a possibilidade de uso desse método no presente trabalho, já que os

dados utilizados são eminentemente dependentes.

Em função disso, a escolha recaiu sobre o teste de duas amostras

relacionadas, cujo objetivo, conforme Stevenson (2001, p. 308), é avaliar o efeito

de algum “tratamento” numa variável de interesse. No presente trabalho, foi

realizada pesquisa para verificar se houve diferenças significativas entre as

médias de rentabilidade dos TVMs, comparando-se duas amostras: antes e

depois da implementação da Circular 3.068/01.

Para analisar as amostras, aplicou-se o teste de sinais por postos,

também conhecido como Teste de Wilcoxon. Nesse teste, a única hipótese

fundamental é que a variável seja contínua.

No Teste de Wilcoxon, os dados são emparelhados e calcula-se a

diferença de cada par. Em seguida, efetua-se a disposição dessas diferenças em

postos, independentemente de se tratar de diferenças positivas ou negativas.

Determina-se, então, a soma dos postos com diferenças positivas (T+) e

negativas (T-) e seleciona-se a soma com menor valor, que é definido como T

(observado).

Segundo Stevenson (2001, p. 314), se a hipótese nula for verdadeira é de

se esperar que os postos se repartam igualmente entre valores positivos e

negativos e que as duas somas sejam aproximadamente iguais. O que se deve

determinar, então, é se a soma dos postos escolhida difere demais da soma

esperada para ser apenas atribuível ao acaso.

A soma esperada dos postos é dada pela equação:

( )4

1NNU t

+=

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143

Se H0 for verdadeira, a diferença entre a soma esperada (Ut) e o resultado

esperado é aproximadamente normal, com desvio-padrão (σ) dado por:

Se H0 for verdadeira, a estatística teste z será aproximadamente normal

com média 0 e desvio-padrão 1, com z sendo definido por:

O valor obtido de z deve ser, então, comparado com o valor de “z crítico”,

que representa, na distribuição normal, os limites da região de aceitação da

hipótese nula, ou seja, se o resultado z, num teste bicaudal, estiver entre os

valores críticos de z, aceita-se a hipótese nula. Caso contrário, a hipótese nula é

rejeitada e aceita-se a hipótese alternativa. Considerando um teste bilateral e

dado um nível de significância de 0,05, aceita-se H0 se o valor de z estiver entre –

1,96 e 1,96. Para o Teste de Wilcoxon, a ferramenta SPSS apresenta ainda o

valor p (Asymp. Sig.), que é a probabilidade de que um resultado observado

aconteceu sob as condições da hipótese nula, em outras palavras, se o valor p for

maior do que o nível de significância α, aceita-se a hipótese nula.

5.3.2 Resultados: rentabilidade dos TVMs

O Teste de Wilcoxon mostra que, após a implementação da Circular

3.068/01, 63 conglomerados/instituições apresentaram média de rentabilidade

dos TVMs maior, o que corresponde a 74,1% do total da amostra (Tabela 6).

Com relação aos resultados estatísticos (Tabela 7), considerando-se um

teste bilateral com nível de significância de 0,05, verifica-se que o z apurado (–

4,358) encontra-se abaixo do valor crítico de z (-1,96<z<1,96), o que sugere a

rejeição da hipótese nula. O valor p (Asymp.Sig.) é praticamente zero o que

também sugere a rejeição da hipótese nula. Dessa forma, os resultados indicam

que com a implementação da Circular 3.068/01 houve alteração na rentabilidade

média com títulos e valores mobiliários.

( )( )24

12N1NN ++=σ

σtU-T

=z

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Tabela 6 – Rentabilidade de TVM (Ranks)

N Mean Rank

Sum of Ranks

Depois Circ 3068 - Antes Circ 3068

Negative Ranks (a) 22 37,86 833,00

Positive Ranks (b) 63 44,79 2822,00 Total 85 a Depois Circ 3068 < Antes Circ 3068 b Depois Circ 3068 > Antes Circ 3068 Fonte: Resultado gerado pela ferramenta SPSS

Tabela 7 – Rentabilidade de TVM (Test Statistics)b

Depois Circ 3068 - Antes Circ 3068 Za -4,358 Asymp. Sig. (2-tailed) ,000 a Based on negative ranks. b Wilcoxon Signed Ranks Test Fonte: Resultado gerado pela ferramenta SPSS

5.4 A relação das variáveis macroeconômicas com a rentabilidade dos

TVMs.

Os resultados da análise da rentabilidade dos TVMs indicam uma

tendência de alteração das médias de rentabilidade, após a implementação das

normas de contabilização a valor de mercado. Isso não obstante, deve-se

considerar que, além das regras de contabilização, existem outros fatores que

podem afetar a rentabilidade dos TVMs, como, por exemplo, as variáveis

macroeconômicas, a conjuntura econômica, o ambiente político e a economia

internacional.

Assim, para se obter um resultado mais conclusivo, pesquisou-se o

relacionamento entre as variáveis macroeconômicas e a rentabilidade dos TVMs.

No Brasil, as aplicações em títulos e valores mobiliários estão

concentradas em títulos de dívida do Governo Federal. O estoque da dívida

pública mobiliária federal interna (títulos de dívida), por tipo de rentabilidade,

apresenta uma concentração em taxa Selic e câmbio, conforme demonstrado na

Tabela 8.

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Tabela 8 - Estoque da Dívida Pública Mobiliária Federal Interna

em poder do público por tipo de rentabilidade1

Indexador dez/00 jun/01 dez/01 jun/02 Dez/02 jun/03 dez/03 jun/04 Prefixada 14,94 10,83 7,82 8,60 2,19 4,48 12,51 16,82 Taxa Selic 52,14 50,24 52,79 50,35 60,83 67,19 61,39 57,52 Câmbio 22,23 26,80 28,61 29,87 22,38 13,49 10,76 8,89 Índice de preços 5,92 7,15 6,99 8,91 12,54 12,83 13,55 14,94 TR 4,70 4,95 3,77 2,24 2,05 2,01 1,79 1,82 Outros 0,07 0,03 0,02 0,03 0,01 0,00 0,00 0,00 Total geral 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 (1) Valores em percentuais Fonte: Tesouro Nacional

Em função dessa composição da dívida, decidiu-se analisar a relação da

taxa Selic e da cotação do dólar com a rentabilidade dos TVMs. Adicionalmente,

incluiu-se na pesquisa a variável inflação (IPCA), em função do índice de preços

também ser utilizado para remunerar os títulos públicos.

Inicialmente, será apresentada a média de rentabilidade dos 85

conglomerados/instituições da amostra para cada data-base, o que propiciará

uma visualização da evolução das médias no período. Posteriormente, serão

apresentadas as evoluções das variáveis macroeconômicas, no período sob

análise. Finalmente, será realizada a análise da relação das variáveis

macroeconômicas com a rentabilidade dos TVMs, aplicando-se a regressão

linear.

A pesquisa busca responder se existe relação das variáveis

macroeconômicas com a rentabilidade dos TVMs. Para isso, as seguintes

hipóteses foram consideradas:

H0 (nula): não existe relação entre as variáveis macroeconômicas e a

rentabilidade dos títulos e valores mobiliários.

H1 (alternativa): existe relação entre as variáveis macroeconômicas e a

rentabilidade dos títulos e valores mobiliários.

Média de rentabilidade dos TVMs

As médias dentro dos 85 conglomerados/instituições da amostra são

apresentadas no Gráfico 3 – Média e desvio-padrão das rentabilidades com TVM.

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146

Adicionalmente, foi calculado o desvio-padrão para obter-se uma medida de

dispersão dos dados da amostra.

Gráfico 3 – Média e desvio-padrão da rentabilidade dos TVMs das 85 instituições da amostra

No início do período (mar/00 a jun/01), a média de rentabilidade ficou

entre 4,0% e 6,0%. Após esse período de relativa estabilidade, a média

apresentou grandes oscilações. Nos dois trimestres subsequentes à

implementação da Circular 3.068/01 - jun/02 e set/02, a média apresentou uma

alta expressiva: 8,5% e 11,6%, respectivamente. Esse fato poderia nos induzir à

conclusão de que a implementação das novas regras de contabilização teve um

impacto nas médias de rentabilidade. Porém, em dez/02 a média teve uma queda

expressiva, para 2,9%, o que contraria aquela conclusão. A partir de dez/02 até

jun/04 a média continuou a apresentar grandes oscilações, variando de 2,5% até

5,7%. O desvio-padrão, também, apresentou grandes oscilações em todo o

período sob análise.

A seguir, é apresentada a evolução das variáveis macroeconômicas, com

breves comentários sobre a situação política e econômica do período, extraídos

dos boletins do Banco Central do Brasil.

Média e Desvio padrão das rentabilidades dos TVM

-2,00%

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

mar

/00

mai

/00

jul/0

0

set/0

0

nov/

00

jan/

01

mar

/01

mai

/01

jul/0

1

set/0

1

nov/

01

jan/

02

mar

/02

mai

/02

jul/0

2

set/0

2

nov/

02

jan/

03

mar

/03

mai

/03

jul/0

3

set/0

3

nov/

03

jan/

04

mar

/04

mai

/04

Média Desvio padrão

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147

Taxa de juros (Selic over)

No período da pesquisa, destacam-se os aumentos expressivos na taxa

Selic, ocorridos a partir de novembro de 2002 (Gráfico 4). Isso ocorreu,

basicamente, devido à trajetória ascendente da taxa de câmbio que elevou o risco

de pressões por repasses aos preços internos, pressionando os índices de

inflação para além da margem fixada. Em resposta às pressões inflacionárias,

decorrentes da depreciação cambial e no intuito de buscar a convergência da

trajetória futura dos índices de preços às metas de inflação estabelecidas, o

Banco Central elevou a meta da taxa Selic (BANCO CENTRAL, 2002, p. 49).

Gráfico 4 – Evolução da taxa de juros – Selic Over

Fonte: Banco Central do Brasil.

A política monetária adotada no primeiro semestre de 2003 e a

apreciação do real contribuíram para arrefecer a pressão inflacionária, com

significativa redução das incertezas presentes na economia. Nesse contexto, no

segundo semestre de 2003, houve uma flexibilização da política monetária com

reduções sucessivas da taxa Selic (BANCO CENTRAL, 2003, p. 52).

Cotação do US$.

No período destaca-se, no ano de 2001, a forte pressão sobre o nível de

taxas de câmbio, devido à deterioração da situação política e econômica da

Taxa de juros (Selic Over)

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

31/1

2/99

30/6

/00

31/1

2/00

30/6

/01

31/1

2/01

30/6

/02

31/1

2/02

30/6

/03

31/1

2/03

30/6

/04

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Argentina e também das incertezas quanto à recuperação da economia norte-

americana (Gráfico 5). No âmbito interno, também ocorreram pressões, devido à

crise na energia elétrica – racionamento na oferta de energia – que provocaria

restrições sobre o nível de produção (BANCO CENTRAL, 2001, p. 131).

Gráfico 5 – Evolução da cotação do US$ Fonte: Banco Central do Brasil.

Já em 2002, a taxa de câmbio apresentou relativa estabilidade nos

primeiros quatro meses. Porém, a partir de maio registrou-se nova situação de

instabilidade financeira, decorrente das incertezas inerentes ao processo eleitoral,

em que o candidato da oposição apresentava chances reais de vencer a eleição.

Também contribuíram para a instabilidade financeira o aprofundamento da crise

argentina e o rebaixamento da classificação do país por agências de risco

internacionais. Nesse contexto, a taxa de câmbio apresentou uma trajetória de

alta contínua, atingindo patamares próximos a R$4/US$1, em out/2002 (BANCO

CENTRAL, 2002, p. 124).

No ano de 2003, a percepção do mercado de que o governo eleito

manteria o compromisso com os princípios básicos que garantiram a estabilidade

monetária e os resultados favoráveis na balança comercial, melhoraram as

expectativas dos investidores internacionais em relação à economia brasileira.

Nesse cenário, a taxa de câmbio passou a apresentar tendência de queda

(BANCO CENTRAL, 2003, p. 122).

Cotação (R$/US$)

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

31/1

2/99

30/6

/00

31/1

2/00

30/6

/01

31/1

2/01

30/6

/02

31/1

2/02

30/6

/03

31/1

2/03

30/6

/04

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149

Inflação mensal

A inflação apresentou picos de alta em meados de 2000, devido ao

aumento dos preços dos bens e serviços administrados, itens cujos preços são

direta ou indiretamente determinados pelos governos federal, estaduais ou

municipais (Gráfico 6). Os itens que mais pressionaram a inflação foram os

combustíveis e as tarifas de ônibus urbanos e de telefonia fixa (BANCO

CENTRAL, 2000, p. 41).

Gráfico 6 – Evolução da inflação (IPCA) Fonte: Banco Central do Brasil.

No final de 2002, houve novo aumento do índice, devido às pressões da

depreciação cambial, que repercutiu tanto nos preços monitorados como nos

preços livres. O comportamento do câmbio afetou de forma acentuada as taxas

de inflação do segundo semestre. A depreciação do câmbio iniciada em abril, que

se tornou mais intensa no segundo semestre, impactou nos preços livres,

repercutindo primeiramente sobre itens de alimentação cujas matérias-primas são

commodities. Posteriormente, o repasse dos aumentos de custos provocados

pela depreciação cambial atingiu os demais preços, em especial eletroeletrônicos,

perfumaria e mobiliários. Os preços administrados, também, foram afetados pela

depreciação, em especial, os preços de combustíveis (BANCO CENTRAL, 2002,

p. 40).

Inflação mensal (IPCA)

-0,50%

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

3,50%

dez/

99

jun/

00

dez/

00

jun/

01

dez/

01

jun/

02

dez/

02

jun/

03

dez/

03

jun/

04

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150

Pelo exposto, nota-se que as médias de rentabilidade dos TVMs não

apresentaram um comportamento consistente nos períodos anteriores e

posteriores à adoção da Circular 3.068/01. Além disso, verifica-se que as

variáveis macroeconômicas apresentaram grandes oscilações no período, o que

poderia influenciar a rentabilidade dos TVMs. Assim, os resultados apurados na

análise das médias de rentabilidade dos TVMs podem não ser devido à

implementação da contabilização a valor de mercado.

Em função disso, pesquisou-se a relação entre as variáveis

macroeconômicas e a rentabilidade dos TVMs.

5.4.1 Testes estatísticos realizados

A regressão linear foi utilizada para testar se existe relação entre as

variáveis macroeconômicas e a rentabilidade dos TVMs. A regressão fornece uma

equação que descreve o relacionamento em termos matemáticos. Dessa forma,

constitui-se numa tentativa de estabelecer uma equação matemática linear (linha

reta) que descreva o relacionamento entre duas variáveis (STEVENSON, 2001, p.

341).

As equações de regressão são uma tentativa de explicar valores de uma

variável em termos da outra, isto é, pode-se suspeitar de uma relação de causa e

efeito entre duas variáveis. Uma equação linear tem a forma: y = a + bx, em que a

é a cota da reta em x=0, também chamado de intercepto e b é o coeficiente

angular da reta. Na equação, os valores y são preditos com base em valores

dados de x. Assim, a variável y é chamada dependente e a variável x

independente.

Segundo Stevenson (2001, p. 355), na análise das equações de

regressão é importante testar se os resultados dos cálculos são significativos, isto

é, se os verdadeiros parâmetros não são nulos. Assim, foi realizada pesquisa

para verificar se as variáveis são de fato relacionadas. Se não há relacionamento,

é de se esperar um coeficiente angular (b) zero. Para verificar a significância,

calcula-se a distribuição amostral da diferença relativa (distribuição t com n-2

graus de liberdade) e, em seguida, compara-se o resultado com o valor crítico

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151

obtido de uma tabela t, para determinar se o tamanho relativo de b é grande ou

pequeno.

Outra medida útil associada à reta de regressão é o coeficiente de

determinação (r2), que representa o grau em que as predições baseadas na

equação de regressão superam as predições baseadas no valor médio de y. O

valor de r2 pode variar de 0 a 1. Quando a dispersão em torno da reta de

regressão é pequena em relação à variação total dos valores de y em torno de

sua média, isso significa que a variação explicada responde por uma grande

percentagem da variação total e r2 estará mais próximo de 1,00. Assim, o fato de

r2 estar próximo a 1,00 sugere que a equação é melhor que a média de y como

preditor.

A pesquisa utilizou como variável dependente, ou “explicada”, a

rentabilidade dos TVMs e as seguintes variáveis independentes, ou

“explanatórias”:

- Taxa Selic Over: é a taxa de juros básica do mercado pois representa o juro

diário do overnight, pago pelo governo na rolagem dos papéis públicos com os

bancos no chamado mercado interbancário. Essa taxa é obtida pela média das

taxas praticadas, ponderada pelo volume das operações de financiamento por

um dia, lastreadas em títulos públicos federais, na forma de operações

compromissadas. A taxa Selic é o indexador que define a rentabilidade de

mais de 50% dos títulos públicos. Portanto, espera-se que ela tenha influência

na rentabilidade dos TVMs.

- Cotação do dólar (US$): utilizada para conversões da moeda nacional para a

moeda norte-americana. Na pesquisa, utilizou-se a variação da cotação do

dólar, para obter-se uma medida de retorno dos investimentos em dólar. O

dólar, durante boa parte da pesquisa, foi o segundo indexador de rentabilidade

dos títulos públicos.

- Índice de inflação (IPCA): índice calculado pelo IBGE. Um índice de preços é

um número que está associado à média ponderada dos preços de uma

determinada cesta de produtos em um determinado período. No caso dos

títulos, a elevação do nível geral dos preços, isto é, da média dos preços de

uma economia, pode ter algum reflexo nos resultados com títulos.

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152

5.4.2 Resultados: relação entre as variáveis macroeconômicas e a

rentabilidade dos TVMs.

Para testar a relação entre as variáveis macroeconômicas e a

rentabilidade dos títulos e valores mobiliários foram realizadas três regressões

lineares simples, para cada variável independente.

Tabela 9 – Regressão: Variáveis dependente e independentes

Variáveis Dependente (y) Independente (x) Data Rentab TVM a US$ a Selic a IPCA a

Mar/00 5,52558 -2,33134 4,41944 0,97314 jun/00 4,60626 3,01535 4,23972 0,66145 set/00 5,79695 2,42732 3,98682 3,18319 Dez/00 4,53544 6,05546 3,75179 1,05368 Mar/01 5,70254 10,53621 3,58046 1,41664 jun/01 4,75144 6,62581 3,84465 1,51761 set/01 8,05860 15,87689 4,48761 2,32783 Dez/01 -0,89652 -13,14984 4,38441 2,20603 Mar/02 3,65354 0,13791 4,21107 1,48731 jun/02 8,46446 22,37385 4,28738 1,43683 set/02 11,60546 36,83009 4,42372 2,58191 Dez/02 2,92950 -9,29067 5,01065 6,56880 Mar/03 4,19454 -5,10218 5,68294 5,13549 jun/03 2,50917 -14,36478 5,80233 1,43683 set/03 5,66313 1,78945 5,64044 1,32582 Dez/03 4,93666 -1,16998 4,42221 1,15441 Mar/04 3,55718 0,67143 3,77744 1,85131 jun/04 4,50350 6,35974 3,74439 1,59844

(a) Valores em percentuais

Na Tabela 9, são apresentados os dados da variável dependente e das

variáveis independentes. A variável dependente Rentab TVM é a média das

rentabilidades dos TVMs das 85 instituições da amostra. Para as variáveis

independentes – US$, Selic e IPCA – foi apurado o percentual médio de cada

trimestre. No caso do dólar, em que é divulgada a cotação R$/US$, foi calculada

a variação da cotação, antes de se apurar o percentual médio.

A Tabela 10 fornece um sumário estatístico dos resultados obtidos para

as três variáveis independentes.

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153

Tabela 10 – Resultados das regressões lineares

Variável Dependente (y)

Variável Independente (x)

Intercepto (a)

Coeficiente (b)

R-quadrado

Estatística t

Valor P

US$ 0,04281 0,19376 0,83414 8,97031 0,00000 Selic 0,07091 -0,47108 0,01510 -0,49526 0,62715 Rentab TVM IPCA 0,05391 -0,18282 0,01110 -0,42374 0,67740

Das três variáveis independentes, somente o dólar (US$) apresentou um

relacionamento significativo com a rentabilidade dos TVMs. As variáveis

independentes Selic e IPCA não apresentaram resultados estatísticos que

indiquem a existência de relacionamento.

O R-quadrado, também chamado coeficiente de determinação, indica a

proporção em que a alteração da variável dependente (Rentab TVM) pode ser

predita pela variável independente (US$). No caso, o resultado é significativo pois

83,41% da alteração na rentabilidade dos TVMs pode ser predito pela variável

dólar.

O coeficiente b é o coeficiente angular da reta, o que significa que para

cada unidade de variação do dólar, corresponde a 0,194 de variação da

rentabilidade dos TVMs. As colunas Estatística t e Valor p fornecem dados para

verificar se o coeficiente b é zero. Considerando um nível de significância de 0,05,

com n-2 graus de liberdade (no caso 16 graus de liberdade), conclui-se que, caso

a estatística t esteja entre os valores críticos (–2,120 < t < +2,120), se deve

aceitar a hipótese de que b é igual a zero. Com relação ao valor p, se esse for

igual ou menor do que 0,05, indica que o resultado é estatisticamente significativo,

ou seja, rejeita-se a hipótese de que o coeficiente b é igual a zero. Na pesquisa, o

valor da estatística t (8,97301) encontra-se fora do intervalo crítico e o valor p é

praticamente igual a zero, o que sugere que o coeficiente angular da reta não é

igual a zero.

Os resultados das variáveis independentes Selic e IPCA mostraram-se

estatisticamente insignificantes, quando testadas contra a variável dependente

rentabilidade dos TVMs, sugerindo que essas variáveis não estejam relacionadas.

O resultado da variável Selic é inesperado, tendo-se em conta que mais

de 50% dos títulos públicos possuíam como indexador de rentabilidade a taxa

Selic. Dentre as possíveis explicações para o ocorrido, têm-se: (a) as instituições

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financeiras possivelmente administraram as suas carteiras com o propósito de

garantir uma rentabilidade em dólar, concentrando as suas aplicações em títulos

indexados à variação cambial e (b) os fundos de investimento, que possuem

aplicações relevantes em títulos públicos, possivelmente direcionaram as suas

aplicações em títulos indexados à taxa Selic, o que poderia afetar o resultado da

variável Selic, pois os fundos não fazem parte do escopo deste trabalho.

Os resultados indicam que existe relação entre a variável dólar e a

rentabilidade dos títulos e valores mobiliários, isto é, aceita-se a hipótese

alternativa. Para as variáveis Selic e IPCA, os resultados não indicaram a

existência de relacionamento entre essas variáveis e a rentabilidade dos TVMs,

devendo-se, portanto, aceitar a hipótese nula.

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155

CONCLUSÃO

O critério de avaliação e contabilização dos títulos e valores mobiliários

tem sido objeto de muitas discussões na comunidade contábil, em especial nos

Estados Unidos. A avaliação dos títulos, antes da implementação da

contabilização a valor justo, era efetuada de diversas formas. Algumas entidades

registravam pelo custo histórico, outras pelo valor de mercado e ainda outras pelo

custo histórico ou valor de mercado, dos dois o menor. A contabilização a valor

justo foi uma resposta a essa falta de consistência no registro dos títulos e valores

mobiliários.

Na busca por uma forma de contabilização mais relevante e útil para a

tomada de decisão dos usuários da informação contábil, o FASB emitiu, em 1993,

o pronunciamento SFAS 115 Accounting for Certain Investments in Debt and

Equity Securities. O pronunciamento expande a utilização do valor justo para os

títulos de dívida e patrimoniais, porém mantém a utilização do custo histórico para

investimentos em títulos de dívida que a empresa tenha a intenção e habilidade

de manter até o vencimento.

O IASB estabeleceu critérios de mensuração e contabilização

semelhantes aos do FASB com a emissão do pronunciamento IAS 39 Financial

Instruments: Recognition and Measurement. O pronunciamento tem como objetivo

estabelecer princípios para o reconhecimento e mensuração de ativos e passivos

financeiros.

O IAS 39 apresenta-se como um documento abrangente, contemplando a

contabilização dos ativos e passivos financeiros, dos instrumentos financeiros

derivativos e da contabilização do hedge.

No Brasil, a busca pela harmonização com as normas internacionais

levou o Banco Central a emitir a Circular 3.068/01, estabelecendo a utilização do

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156

valor de mercado para a avaliação e contabilização de títulos e valores

mobiliários.

O objetivo geral deste trabalho foi estudar a forma de contabilização dos

títulos e valores mobiliários adotada no Brasil, especialmente as normas definidas

para as instituições financeiras, em comparação com as regras do FASB e do

IASB; analisar se a implementação das normas de avaliação a valor de mercado

provocou algum impacto na rentabilidade dos títulos e valores mobiliários das

instituições financeiras no Brasil e analisar a relação entre as variáveis

macroeconômicas e a rentabilidade dos TVMs.

A pesquisa das regras de contabilização dos títulos e valores mobiliários,

estabelecidas pelo Banco Central (Circular 3.068/01), em comparação com o

pronunciamento SFAS 115, do FASB e IAS 39, do IASB, evidenciou que, de

forma geral, essas normas estão em harmonia, embora algumas diferenças

pontuais existam, conforme destacado no Quadro 10.

Os critérios estabelecidos pela Circular 3.068/01, embora sejam

divergentes com as regras estabelecidas pela Lei das Sociedades Anônimas e

pelo CFC, estão em harmonia com os padrões contábeis adotados

internacionalmente.

A pesquisa para avaliar se a introdução das novas regras de

contabilização a valor de mercado, pelo Banco Central, provocou algum impacto

na rentabilidade dos TVMs, indicou que houve alteração nas médias de

rentabilidade dos TVMs, entre os períodos anteriores e posteriores à adoção das

novas regras de contabilização. Considerando um teste bilateral com nível de

significância de 0,05, verificou-se que o z apurado (–4,358) encontra-se abaixo do

valor crítico de z (-1,96<z<1,96), o que sugere a rejeição da hipótese nula, ou

seja, a de que não existe diferenças entre as médias. O valor p (Asymp.Sig.)

apresenta um valor pequeno (0,000) que também sugere a rejeição da hipótese

nula.

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Os resultados da análise das médias de rentabilidade dos TVMs indicam

uma tendência de alteração dos resultados após a implementação das normas de

contabilização a valor de mercado. Isso não obstante, era necessário

complementar essa análise, a fim de verificar se as variáveis macroeconômicas

não tiveram influencia na rentabilidade dos títulos e valores mobiliários. Assim,

para obter-se um resultado mais conclusivo, analisou-se o relacionamento entre

as variáveis macroeconômicas (taxa Selic, cotação US$ e IPCA) e a rentabilidade

dos TVMs.

Quadro 10 – Principais diferenças entre as normas

FASB (SFAS 115) IAS (IAS 39) BACEN (Circular 3.068/01) Escopo Aplica-se somente aos títulos e valores mobiliários.

Escopo Apresenta-se como um pronun-ciamento de escopo abrangen-te, permitindo que qualquer ativo ou passivo financeiro seja avaliado a valor justo.

Escopo Semelhante ao FASB.

Disponíveis para venda Estabelece que os ganhos e perdas não realizados dessa categoria devem ser reportados como outros resultados abrangentes.

Disponíveis para venda Estabelece que os ganhos e perdas não realizados dessa categoria devem ser registra-dos como um componente separado do patrimônio líquido.

Disponíveis para venda Semelhante ao IASB.

Mantidos até o vencimento Estabelece que a venda ou transferência de títulos dessa categoria devem ser raras, podendo ocorrer somente em situações específicas, defini-das no pronunciamento.

Mantidos até o vencimento Semelhante ao FASB.

Mantidos até o vencimento A Resolução 3.181/04 permitiu a alienação de títulos públicos federais dessa categoria, desde que de forma simultânea ocor-resse a aquisição de novos títu-los de mesma natureza, com prazo de vencimento superior e em montante igual ou superior ao dos títulos alienados.

Transferência entre categorias Permite a reclassificação da e para a categoria de nego-ciação, que é similar a cate-goria de valor justo, por via dos resultados adotada pelo IASB.

Transferência entre categorias Proíbe a transferência da e para a categoria de valor justo, por via dos resultados.

Transferência entre categorias Semelhante ao FASB.

A pesquisa para avaliar se a relação das variáveis macroeconômicas com

a rentabilidade dos TVMs é estatisticamente relevante evidenciou que os

resultados das variáveis independentes Selic e IPCA mostraram-se

estatisticamente insignificantes, quando testadas contra a variável dependente

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rentabilidade dos TVMs, sugerindo que essas variáveis não estejam relacionadas.

Já o resultado da variável independente dólar mostrou-se estatisticamente

relevante, sugerindo que o dólar está relacionado com a rentabilidade dos TVMs.

Assim, pode-se inferir que, embora as médias de rentabilidade dos TVMs

alteraram-se no período posterior à implementação das normas de contabilização

a valor de mercado, é mais provável que essa alteração seja devido às oscilações

ocorridas na variável macroeconômica dólar. Colabora para essa afirmação o fato

de que as rentabilidades dos TVMs apresentaram altas expressivas em junho e

setembro de 2002, o que foi determinante para a apuração de médias superiores

no período posterior. Nessas mesmas datas, a cotação do dólar apresentou

tendência similar, de expressiva variação positiva.

Os resultados sugerem que no Brasil as oscilações da cotação do US$

foram mais importantes na determinação das rentabilidades com TVMs do que a

adoção da contabilização a valor de mercado.

A implementação das novas normas de contabilização dos TVMs

provavelmente tiveram algum efeito na rentabilidade dos TVMs; porém, neste

trabalho não foi possível identificar uma alteração nas médias de rentabilidade

que pudesse ser atribuída somente à implementação da contabilização a valor de

mercado.

As principais limitações do trabalho estão relacionadas ao fato de que,

além das variáveis macroeconômicas estudadas, existem outros fatores que

podem afetar a rentabilidade dos TVMs, como, por exemplo, a conjuntura

econômica, o ambiente político e a economia internacional. Além disso, o período

de análise foi relativamente curto, em função da contabilização a valor de

mercado no Brasil ser relativamente recente, a partir de junho de 2002.

O escopo deste trabalho não contemplou um estudo da intenção da

entidade na classificação dos títulos e valores mobiliários em uma das três

categorias previstas na norma. Assim, estudos futuros podem pesquisar se as

entidades utilizam a classificação dos títulos com a finalidade de gerenciar os

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159

seus resultados, ou seja, escolher dentre as alternativas legais aquela que

permita à entidade atingir os resultados desejados.

Finalmente, pesquisas, também, podem ser realizadas para avaliar a

necessidade ou adequação de se utilizar a contabilização a valor justo dos títulos

e valores mobiliários para as demais sociedades anônimas que não sejam

instituições financeiras.

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160

REFERÊNCIAS

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BANCO CENTRAL DO BRASIL. Boletim do Banco Central do Brasil. Relatório Anual de 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004. v. 36, 37, 38, 39 e 40.

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IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

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RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 32. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

ROSS, Stephen A. et al. Princípios de administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

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Anexo I – Instituições que sofreram ajustes no Plano Real, período de 1994 a

1998.

Item Instituição Ajustada Ano Ocorrência 1 BCO ADOLPHO OLIVEIRA & ASSOCIADOS S.A. 94 LIQUIDAÇÃO 2 BCO ATLANTIS S.A. 94 LIQUIDAÇÃO 3 BCO BANCORP S.A. 94 LIQUIDAÇÃO 4 BCO GARAVELO S.A. 94 LIQUIDAÇÃO 5 BCO HERCULES S.A. 94 LIQUIDAÇÃO 6 BCO SELLER S.A. 94 LIQUIDAÇÃO 7 BRASBANCO S.A. BANCO COMERCIAL S.A. 94 LIQUIDAÇÃO

8 BCO AGRIMISA S.A. 95 LIQUIDAÇÃO 9 BCO COMERCIAL BANCESA S.A. 95 LIQUIDAÇÃO 10 BCO DIGIBANCO S.A. 95 TRANSFER. DE CONTROLE 11 BCO GNPP S.A. 95 LIQUIDAÇÃO 12 BCO HOLANDES UNIDO S.A. 95 INCORPORAÇÃO 13 BCO INTERPACIFICO S.A. 95 INCORPORAÇÃO 14 BCO INVESTCORP S.A. 95 LIQUIDAÇÃO 15 BCO INVESTOR S.A. 95 TRANSFORM. EM BI 16 BCO OPEN S.A. 95 LIQUIDAÇÃO 17 BCO ROSA S.A. 95 LIQUIDAÇÃO 18 BCO SÃO JORGE S.A. 95 LIQUIDAÇÃO 19 BFC BANCO S.A. 95 LIQUIDAÇÃO 20 BIG-B. IRMÃOS GUIMARÃES S.A. 95 LIQUIDAÇÃO

21 BCO BANORTE S.A. 96 TRANSFER. DE CONTROLE 22 BCO COMERCIAL DE SÃO PAULO S.A. 96 LIQUIDAÇÃO 23 BCO CREDIPLAN S.A. 96 INCORPORAÇÃO 24 BCO DE FINANCAM.INTERNACIONAL-BFI S.A. 96 LIQUIDAÇÃO 25 BCO DE TOKYO S.A. 96 INCORPORAÇÃO 26 BCO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO S.A. 96 LIQUIDAÇÃO 27 BCO DRACMA S.A. 96 LIQUIDAÇÃO 28 BCO ECONÔMICO S.A. 96 TRANSFER. DE CONTROLE 29 BCO FRANCÊS E BRASILEIRO S.A. 96 TRANSFER. DE CONTROLE 30 BCO GRANDE RIO S.A. 96 TRANSFER. DE CONTROLE 31 BCO INTERUNION S.A. 96 LIQUIDAÇÃO 32 BCO MARTINELLI S.A. 96 TRANSFER. DE CONTROLE 33 BCO MERCANTIL S.A. 96 TRANSFER. DE CONTROLE 34 BCO MISASI S.A. 96 TRANSFORM. EM BI 35 BCO NACIONALS.A. 96 TRANSFER. DE CONTROLE 36 BCO OK S.A. 96 TRANSFORM. EM BI 37 BCO PERFORMANCE S.A. 96 TRANSFORM. EM BI 38 BCO PRIME S.A. 96 TRANSFORM. EM BI 39 BCO TOTAL S.A. 96 TRANSFORM. EM DTVM 40 BCO UNITED S.A. 96 INCORPORAÇÃO 41 BCO UNIVERSAL S.A. 96 LIQUIDAÇÃO 42 BCO VARIG S.A. 96 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC

43 BCO ABC BRASIL S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 44 BCO BAMERINDUS DO BRASIL S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 45 BCO BANERJ S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE

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Item Instituição Ajustada Ano Ocorrência 46 BCO BANFORT-BCO DE FORTALEZA S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 47 BCO BOAVISTA S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 48 BCO BRASEG S.A. 97 TRANSFORM. EM DTVM 49 BCO CINDAM S.A. 97 INCORPORAÇÃO 50 BCO COMERCIAL PARAGUAYO S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 51 BCO CRITERIUM S.A. 97 TRANSFORM. EM DTVM 52 BCO DE CRÉDITO REAL DE MINAS GERAIS S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 53 BCO DIMENSÃO S.A. 97 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 54 BCO DO ESTADO DE ALAGOAS S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 55 BCO DO ESTADO DO AMAPÁ S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 56 BCO DO PROGRESSO S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 57 BCO EMPRESARIALS.A. 97 LIQUIDAÇÃO 58 BCO FININVEST S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 59 BCO GERAL DO COMÉRCIO S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 60 BCO GULFINVEST S.A. 97 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 61 BCO INTERFINANCE S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 62 BCO ITAMARATI S.A. 97 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 63 BCO MERIDIONAL DO BRASIL. S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 64 BCO NORCHEM S.A. 97 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 65 BCO PORTO SEGURO S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 66 BCO PORTUGUÊS DO ATLÂNTICO S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 67 BCO ROYAL S.A. 97 TRANSFORM. EM BI 68 BCO SHECK S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 69 BCO SRL S.A. 97 TRANSFER. DE CONTROLE 70 BCO VEGA S.A. 97 LIQUIDAÇÃO 71 BCO VETOR S.A. 97 LIQUIDAÇÃO

72 BCO AMÉRICA DO SUL S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 73 BCO APLICAP S.A. 98 LIQUIDAÇÃO 74 BCO BANCRED S.A. 98 TRANSFORM. EM AM 75 BCO BANDEIRANTES S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 76 BCO BBM COMERCIAL, CI,CFI S.A. 98 INCORPORAÇÃO 77 BCO BMD S.A. 98 LIQUIDAÇÃO 78 BCO BRASCAN S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 79 BCO BRASILEIRO COMERCIAL S.A. 98 LIQUIDAÇÃO 80 BCO BRASILEIRO IRAQUIANO S.A. 98 LIQUIDAÇÃO 81 BCO CAMBIAL S.A. 98 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 82 BCO CRÉDITO METROPOLITANO S.A. 98 TRANSFORM. EM CFI 83 BCO DE CRÉDITO NACIONAL S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 84 BCO DIBENS S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 85 BCO DO EST. DE MATO GROSSO S.A. 98 LIQUIDAÇÃO 86 BCO DO EST. DE RONDÔNIA S.A. 98 LIQUIDAÇÃO 87 BCO DO ESTADO DE MINAS GERAIS S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 88 BCO DO ESTADO.DE PERNAMBUCO S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 89 BCO EXCEL-ECONÔMICO S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 90 BCO FITAL S.A. 98 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 91 BCO GARANTIA S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 92 BCO GRAPHUS S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 93 BCO INTERATLÂNTICO S.A. 98 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 94 BCO IOCHPE S.A. 98 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 95 BCO ITABANCO S.A. 96 TRANSFER. DE CONTROLE 96 BCO LIBERAL S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE

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Item Instituição Ajustada Ano Ocorrência 97 BCO MARTINELLI S.A. 98 LIQUIDAÇÃO 98 BCO MULTIPLIC S.A. 98 TRANSFORM.EM NÃO-FINANC 99 BCO NOROESTE S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE

100 BCO ÔMEGA S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 101 BCO PONTUAL S.A. 98 LIQUIDAÇÃO 102 BCO SISTEMA S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 103 BCR BCO DE CRÉDITO REAL S.A. 98 TRANSFER. DE CONTROLE 104 MILBANCO S.A. 98 LIQUIDAÇÃO

Fonte: Banco Central do Brasil/ CADINF - DEORF/COPEC

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Anexo II – 50 Maiores Bancos e o Consolidado do Sistema Financeiro

Nacional Data-base: Junho/2004 Em R$ Mil Ranking Instituição TD TC Ativo Total (-)

Intermediação Patrimônio Líquido

Índice Basiléia

1 BB C 1 223.367.601 12.863.546 14,39% 2 CEF I 1 153.633.468 6.158.784 17,58% 3 BRADESCO C 3 131.784.959 13.668.044 18,07% 4 ITAU C 3 111.312.401 13.746.705 19,79% 5 UNIBANCO C 5 66.411.003 7.937.366 16,73% 6 SANTANDER BANESPA C 4 59.890.992 8.088.284 16,40% 7 ABN AMRO C 4 58.338.879 8.792.934 18,41% 8 SAFRA C 3 35.657.930 3.432.601 13,75% 9 HSBC C 4 31.587.024 2.099.976 13,17%

10 CITIBANK C 4 28.951.084 3.162.752 15,78% 11 NOSSA CAIXA I 2 27.546.414 1.897.182 27,15% 12 VOTORANTIM C 3 22.393.414 3.013.760 19,94% 13 BANKBOSTON C 4 18.278.093 2.954.331 23,92% 14 BNB I 1 13.128.011 1.314.899 20,84% 15 BANRISUL C 2 12.211.606 835.381 15,45% 16 PACTUAL C 5 9.106.367 551.860 17,04% 17 CREDIT SUISSE C 4 8.835.297 728.993 31,58% 18 ALFA C 3 7.546.245 1.105.132 20,04% 19 JP MORGAN CHASE C 4 7.399.049 1.260.546 18,71% 20 RURAL C 3 7.311.675 715.118 14,58% 21 SANTOS C 3 5.993.413 600.719 11,52% 22 FIBRA C 3 5.894.133 428.260 17,45% 23 DEUTSCHE C 4 5.416.217 174.180 13,37% 24 BIC C 3 5.287.931 403.534 11,75% 25 BNP PARIBAS I 4 4.782.875 517.069 19,13% 26 BASA I 1 4.203.516 1.466.307 51,42% 27 BBM C 3 3.941.176 344.690 17,69% 28 MERCANTIL DO BRASIL C 3 3.496.072 420.180 12,64% 29 RABOBANK I 4 3.387.632 172.820 15,29% 30 CRUZEIRO DO SUL C 3 3.006.555 127.819 15,01% 31 BANESTES C 2 2.842.445 173.582 17,01% 32 ABC-BRASIL C 4 2.732.462 368.422 15,92% 33 SS C 3 2.688.838 305.224 11,89% 34 BESC I 1 2.422.603 130.095 36,16% 35 BMG C 3 2.399.533 392.189 14,91% 36 WESTLB I 4 2.256.973 341.263 30,29% 37 BMC C 3 2.145.868 229.916 13,63% 38 BRB C 2 2.038.287 245.989 18,99% 39 DRESDNER C 4 1.847.182 288.778 36,93% 40 BANCOOB I 3 1.724.910 58.398 16,22% 41 IBIBANK I 4 1.719.534 333.273 20,10% 42 BVA I 3 1.712.912 138.130 17,73% 43 PINE C 3 1.499.473 162.447 16,06% 44 BEC C 1 1.418.904 331.390 71,86% 45 TOKYOMITSUBISHI I 4 1.345.648 375.791 45,84% 46 SOFISA C 3 1.337.102 241.748 24,23%

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Data-base: Junho/2004 Em R$ Mil Ranking Instituição TD TC Ativo Total (-)

Intermediação Patrimônio Líquido

Índice Basiléia

47 CLASSICO I 3 1.317.659 1.253.600 158,32% 48 SMBC I 4 1.182.918 342.211 64,05% 49 CACIQUE C 3 1.176.471 259.888 22,46% 50 ING C 4 1.119.391 280.444 52,81%

Total 50 Maiores Bancos (Consolidado Bancário I) 1.117.030.145 105.236.550 % 50 maiores Bancos (Consolidado Bancário I) 82,35% 76,96% Total demais bancos 239.460.565 31.502.032 Total Sistema Financeiro Nacional 1.356.490.710 136.738.582 TD (Tipo de Documento): C - Conglomerado, I – Instituição Independente

TC (Tipo de Controle): 1 - Público Federal, 2 - Público Estadual, 3 - Privado Nacional, 4 - Privado Controle Estrangeiro, 5 – Privado Participação Estrangeira

Consolidado Bancário I: Aglutinado das posições contábeis das instituições bancárias em cuja composição se verifica pelo menos uma instituição do tipo Banco Comercial ou Banco Múltiplo com Carteira Comercial

Fonte: Banco Central do Brasil / Sisbacen

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Apêndice I – Comparação das normas relativas à contabilização de títulos e valores mobiliários

FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

Escopo

O pronunciamento aplica-se aos investimentos em ações que tenham valor justo prontamente determináveis e para todos os investimentos em títulos de dívida, mantidos em carteira por qualquer tipo de empresa.

Exceções:

- Investimentos em ações contabilizados pelo método da equivalência patrimonial ou investimentos de subsidiárias consolidadas.

- Organizações sem fins lucrativos e empresas cuja prática contábil específica inclui a contabilização de substancialmente todos os investimentos em títulos e valores mobiliários a valor justo.

Escopo

O pronunciamento aplica-se a todas as entidades e a todos os tipos de instrumentos financeiros, incluindo ativos financeiros, passivos financeiros, derivativos e contabilização de hedge.

Exceções:

- Interesses em subsidiárias, coligadas e joint ventures.

- Direitos e obrigações de contratos de leasing.

- Direitos e obrigações de empregados decorrentes de planos de benefício.

- Direitos e obrigações decorrentes de contratos de seguro.

- Instrumentos financeiros que estejam dentro da definição de patrimônio líquido.

- Contratos de eventos contingentes em uma combinação de negócios.

- Contratos que exijam pagamentos baseados em condições climáticas, geológicas e outras variáveis físicas

Escopo

A norma aplica-se a todas as instituições financeiras, estabelecendo critérios para registro e avaliação dos títulos e valores mobiliários.

Exceções:

- Investimentos em ações contabilizados pelo método da equivalência patrimonial ou investimentos de subsidiárias consolidadas

- Cooperativas de crédito.

- Agências de fomento.

- Sociedades de crédito ao microempreendedor.

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FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

Classificação

Os títulos são classificados em três categorias:

- Negociação: títulos adquiridos e mantidos principalmente com a finalidade de venda no curto prazo.

- Mantidos até o vencimento: títulos que a entidade tenha a intenção positiva e habilidade de manter até o vencimento.

- Disponível para venda: títulos que não foram classificados nas duas categorias anteriores.

- Empréstimos e valores a receber: Não está no escopo do SFAS 115.

Classificação

Os instrumentos financeiros são classificados em quatro categorias:

- Ativo financeiro ou passivo financeiro a valor justo, por via dos resultados. Essa categoria é dividida em duas subcategorias:

a) Negociação: ativo ou passivo financeiro é classificado como negociação se for adquirido principalmente com a finalidade de vender ou recomprar no curto prazo; se fizer parte de um portfólio de instrumentos financeiros identificados que sejam administrados de forma conjunta e para os quais existem evidências de um padrão recente de negócios de curto prazo; e se for um derivativo.

b) Designados: ativo ou passivo financeiro que seja designado pela entidade como a valor justo, por via dos resultados.

- Mantidos até o vencimento: semelhante ao FASB.

- Disponível para venda: semelhante ao FASB.

Empréstimos e valores a receber: ativos financeiros com pagamentos fixos ou

Classificação:

Os títulos são classificados em três categorias:

Negociação: adquiridos com o propósito de serem ativa e freqüentemente negociados.

- Mantidos até o vencimento: títulos para os quais haja intenção e capacidade financeira da instituição de mantê-los até o vencimento.

- Disponível para venda: semelhante ao FASB.

Empréstimos e valores a receber: Não está no escopo da Circular 3.068/01.

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FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

determinados que não sejam cotados em um mercado ativo.

Avaliação e contabilização

Os títulos são avaliados e contabilizados da Seguinte forma:

- Negociação: avaliados a valor justo, com ganhos e perdas não realizados incluídos na demonstração de resultados.

- Mantidos até o vencimento: reportados pelo custo amortizado.

- Disponível para venda: avaliados a valor justo, com ganhos e perdas não realizados reportados como outros resultados abrangentes.

- Empréstimos e valores a receber: não está no escopo do SFAS 115.

Avaliação e contabilização

Os ativos financeiros são avaliados e contabilizados da seguinte forma:

- Ativos financeiros a valor justo, por via dos resultados: reportados a valor justo, com ganhos e perdas não realizados incluídos na demonstração de resultados.

- Mantidos até o vencimento: semelhante ao FASB.

- Disponível para venda: avaliados a valor justo, com ganhos e perdas não realizados reconhecidos diretamente no patrimônio líquido.

- Empréstimos e valores a receber: reportados pelo custo amortizado.

Avaliação e contabilização

Os títulos são avaliados e contabilizados da seguinte forma:

- Negociação: semelhante ao FASB.

- Mantidos até o vencimento: semelhante ao FASB.

- Disponível para venda: semelhante ao IASB

- Empréstimos e valores a receber: não está no escopo da Circular 3.068/01.

Conceito de valor justo

O valor justo é o montante pelo qual um ativo pode ser comprado ou vendido numa transação corrente entre partes interessadas, ou seja, que não seja uma venda forçada. A cotação de preços de mercado, se disponível fornecem a mais confiável medida de valor justo. Para os títulos sem preço de mercado cotado, a estimativa de valor justo pode considerar os preços de ativos similares, ou técnicas de avaliação, tais como valor presente de fluxos de caixa futuros esperados.

Conceito de valor justo

O valor justo é o montante pelo qual um ativo pode ser trocado ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras e dispostas a isso, numa transação que não exista relacionamento entre elas. A existência de cotações de preços publicadas num mercado ativo é a melhor evidência de valor justo e quando elas existem são utilizadas para mensurar o ativo ou passivo financeiro. Se o mercado para um instrumento financeiro não for ativo, a entidade estabelece o valor justo através da utilização de uma técnica de avaliação, tais como: transações

Conceito de valor de mercado

A norma do Banco Central utilizou o termo valor de mercado, adotando uma interpretação mais abrangente do termo, ao estabelecer que pode ser utilizado como parâmetro:

I. O preço médio de negociação no dia da apuração ou, quando não disponível, o preço médio de negociação no dia útil anterior;

II. O valor líquido de realização obtido mediante adoção de técnica ou modelo de precificação;

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FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

O FASB esclarece que decidiu utilizar o termo valor justo para evitar a confusão entre os termos valor justo e valor de mercado; muitas vezes se associa o termo valor de mercado somente para os itens que são ativamente negociados no mercado secundário.

técnica de avaliação, tais como: transações recentes; valor justo de instrumentos semelhantes; análise do fluxo de caixa descontado e modelos de precificação de opções.

precificação;

III. O preço de instrumento financeiro semelhante, levando em consideração, no mínimo, os prazos de pagamento e vencimento, o risco de crédito e a moeda ou indexador.

Transferência entre categorias

Negociação e disponível para venda

A cada data de balanço deve ser reavaliada a conveniência da classificação.

Mantidos até o vencimento

A venda ou transferência de títulos da categoria de mantidos até o vencimento deve ser um fato raro. Portanto, uma entidade não deve classificar um título como mantido até o vencimento se estiver disposta a vendê-lo, em resposta a:

a) Mudanças na taxa de juros.

b) Necessidades de liquidez.

c) Mudanças na disponibilidade e taxas de investimentos alternativos.

d) Mudanças nos termos e fontes de recursos.

e) Mudanças na taxa de câmbio.

Algumas circunstâncias, podem levar a entidade a mudar a intenção de manter um título até o vencimento, sem que seja questionada a sua intenção de manter os

Transferência entre categorias

Valor justo, por via dos resultados

A reclassificação de instrumentos financeiros da e para a categoria de valor justo, por via dos resultados é proibida.

Mantidos até o vencimento

Semelhante ao FASB.

Transferência entre categorias

Negociação e disponível para venda

A reavaliação quanto à classificação dos títulos e valores mobiliários somente poderá ser efetuada por ocasião da elaboração dos balanços semestrais.

Mantidos até o vencimento

A transferência da categoria títulos mantidos até o vencimento para as demais categorias somente poderá ocorrer por motivo isolado, não usual, não recorrente e não previsto.

A norma não especifica situações em que são aceitas a venda ou transferência de títulos mantidos até o vencimento.

Em 29 de março de 2004, a Resolução 3.181 permitiu a alienação de títulos públicos federais classificados nessa categoria, desde que de forma simultânea ocorresse a aquisição de novos títulos de mesma natureza, com prazo de vencimento superior e em montante igual ou superior ao dos títulos alienados.

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FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

demais títulos até o vencimento. Assim, a venda ou transferência de um título mantido até o vencimento devido a uma das seguintes mudanças não será considerada como inconsistente com a classificação original:

a) Evidência de deterioração significativa do risco de crédito do emissor.

b) Mudança na legislação tributária que elimine ou reduza a isenção de tributos do título de dívida.

c) Uma grande combinação de negócios ou venda, que obrigue a venda de títulos mantidos até o vencimento para que a entidade mantenha o nível de risco de taxa de juros ou a política de risco de crédito.

d) Mudança das exigências estatutárias ou regulamentares que modifiquem de forma significativa os investimentos permitidos ou nível máximo de investimentos em certos títulos.

e) Aumento significativo, pelo regulador da indústria, de exigência de capital.

f) Aumento significativo nas ponderações de risco dos títulos de dívida.

Adicionalmente às mudanças descritas, outros eventos que sejam isolados, não recorrentes e não usuais e que não pudessem ser razoavelmente antecipados podem levar a entidade a vender ou transferir um título mantido até o vencimento.

A venda de títulos que se enquadrem numa

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FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

das condições a seguir, será considerada como até o vencimento:

a) Venda de um título que ocorra próximo ao seu vencimento (3 meses), de forma que o risco de taxa de juros é substancialmente eliminado como fator de precificação.

b) Venda de um título que ocorra após a entidade ter recebido parte substancial do principal (pelo menos 85%).

Penalidade pela venda de títulos mantidos até o vencimento.

Semelhante ao IASB, porém o SFAS 115 não define um período em que a entidade fica proibida de utilizar a classificação de mantidos até o vencimento.

Penalidade pela venda de títulos mantidos até o vencimento.

Quando uma entidade vender mais do que um montante significativo dos ativos classificados como mantidos até o vencimento, ela fica proibida de utilizar essa classificação por dois anos. A entidade também deverá reclassificar todos os ativos mantidos até o vencimento para a categoria de disponível para venda.

Penalidade pela venda de títulos mantidos até o vencimento.

A Circular 3.068/01 não prevê uma pena específica para a venda de títulos mantidos até o vencimento; porém, a norma estabelece que se constatada impropriedade ou inconsistência nos processos de classificação e de avaliação, o Banco Central poderá determinar a reclassificação dos títulos e valores mobiliários

Perdas permanentes

Para os títulos classificados como disponíveis para venda ou mantidos até o vencimento, a entidade deve avaliar se o declínio no valor justo abaixo do custo amortizado é outro que não temporário. Se o declínio no valor justo for outro que não temporário, o valor do custo deve ser reajustado e o valor justo passa a ser a nova base do valor de custo.

Perdas permanentes

Semelhante ao FASB.

Perdas permanentes

Semelhante ao FASB.

Exigências de divulgação

Para os títulos classificados como disponíveis para venda deve-se divulgar o valor justo, o total de ganhos/perdas para os títulos com

Exigências de divulgação

As exigências de divulgação que existiam no IAS 39, edição revisada de 2000, foram todas transferidas para o IAS 32 – Financial

Exigências de divulgação

A Circular 3.068/01 estabelece a obrigatoriedade de divulgação, em notas explicativas às demonstrações financeiras, de

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FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

ganhos/perdas acumulados em outros resultados abrangentes, separados pelos principais tipos de títulos.

Para os títulos classificados como mantidos até o vencimento deve-se divulgar o valor justo, ganhos/perdas não reconhecidas e o valor líquido.

Para cada período em que o resultado das operações seja apresentado, deve-se divulgar:

a) A renda decorrente de vendas de títulos da categoria de disponíveis para venda e os ganhos/perdas brutas realizadas.

b) A base em que foi determinado o custo de um título vendido ou o montante reclassificado de outros resultados abrangentes para resultados.

c) Os ganhos/perdas brutas incluídas nos resultados de transferência de títulos da categoria de disponíveis para venda para a de negociação.

d) O montante de ganhos ou perdas não realizados de títulos da categoria disponíveis para venda, no período em que tenha sido incluído em outros resultados abrangentes acumulados e o montante de ganhos e perdas reclassificados de outros resultados abrangentes para resultados no período.

e) A porção de ganhos e perdas com negociação no período, relativa a títulos para negociação ainda mantidos na data do balanço.

Instruments: Disclosure and Presentation.

As exigências de divulgação relacionadas com os títulos e valores mobiliários são:

a) Termos, condições e políticas contábeis – para cada classe de ativo financeiro a entidade deverá divulgar: (a) informações sobre a extensão e natureza do ativo financeiro, incluindo os termos e condições significativas que possam afetar o montante, o prazo e a certeza dos fluxos de caixa futuros; e (b) as políticas contábeis adotadas, incluindo os critérios de reconhecimento e as bases de mensuração aplicadas.

b) Risco de taxa de juros – para cada classe de ativo financeiro a entidade deverá divulgar informações sobre a exposição ao risco de taxa de juros, incluindo as datas de repactuação ou vencimento, o que ocorrer primeiro, e taxa de juros efetiva, quando aplicável.

c) Risco de crédito – para cada classe de ativo financeiro a entidade deverá divulgar informações sobre a exposição ao risco de crédito, incluindo o montante que melhor represente o máximo de exposição ao risco de crédito na data de balanço, e as concentrações significativas de risco de crédito.

d) Valor justo – para cada classe de ativo

informações que abranjam, no mínimo, os seguintes aspectos relativos a cada categoria de classificação:

I - o montante, a natureza e as faixas de vencimento;

II - os valores de custo e de mercado, segregados por tipo de título, bem como os parâmetros utilizados na determinação desses valores;

III - o montante dos títulos reclassificados, o reflexo no resultado e os motivos que levaram à reclassificação;

IV - os ganhos e as perdas não realizados no período, relativos a títulos e valores mobiliários classificados na categoria títulos disponíveis para a venda.

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FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

do balanço.

Para qualquer venda ou transferência de títulos classificados como mantidos até o vencimento deve-se divulgar o valor de custo do título vendido ou transferido, os ganhos e perdas realizados e não realizados e as circunstâncias que levaram à decisão de vender ou transferir o título.

financeiro a entidade deverá divulgar o valor justo do ativo. Entretanto, se o investimento for em ações não cotadas em mercado, contabilizadas pelo custo, em função do valor justo não ser mensurável de forma confiável, esse fato deve ser divulgado juntamente com uma descrição do instrumento financeiro, o montante contabilizado, uma explicação do porque o valor justo não pode ser mensurado de forma confiável, e, se possível, um intervalo de estimação, dentro qual o valor justo pode estar contido. Adicionalmente a entidade deve divulgar: (a) os métodos aplicados na determinação do valor justo, (b) se o valor justo foi determinado de forma direta, no total ou em parte, através da utilização de cotações de preço de um mercado ativo ou foi estimado utilizando-se uma técnica de avaliação, (c) se as demonstrações contábeis incluem instrumentos financeiros mensurados a valor justo, que foram determinados no todo ou em parte utilizando-se uma técnica de avaliação baseada em assunções que não sejam suportadas por observações de preços ou taxas de mercado, e (d) o montante total da alteração no valor justo estimado utilizando uma técnica de avaliação, que tenha sido reconhecido nos resultados durante o período.

e) Ativos financeiros contabilizados a valor justo através dos resultados – a entidade

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FASB (SFAS 115) IASB (IAS 39) Banco Central (Circular 3.068/01)

deve divulgar os montantes escriturados dos ativos financeiros classificados como negociação e dos que foram inicialmente designados pela entidade como ativos financeiros a valor justo através dos resultados.

f) Reclassificação – se uma entidade reclassificou um ativo financeiro como mensurado pelo custo ou custo amortizado ao invés de pelo valor justo, ela deve divulgar a razão dessa reclassificação.

g) Demonstração de resultados e patrimônio – a entidade deve divulgar os itens relevantes de receita, despesa e ganhos e perdas resultantes de ativos financeiros, quer incluídos nos resultados quer como um componente separado do patrimônio líquido, incluindo, para os ativos classificados como disponível para venda, o montante de qualquer ganho ou perda reconhecido diretamente no patrimônio líquido e o montante que foi removido do patrimônio e reconhecido no resultado durante o período.

h) Divulgação de prejuízo por perda de valor – a entidade deve divulgar a natureza e o montante de qualquer prejuízo por perda de valor de ativo financeiro, reconhecido nos resultados.

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Apêndice II – Relação dos conglomerados e instituições independentes

incluídos na amostra.

Item Instituições 1 ABC-BRASIL 2 ABN AMRO 3 ALFA 4 ARBI 5 BANESE 6 BANESTES 7 BANKBOSTON 8 BANRISUL 9 BANSICREDI 10 BARCLAYS 11 BASA 12 BB 13 BBM 14 BCO JOHN DEERE 15 BCOMURUGUAI 16 BEC 17 BEPI 18 BESC 19 BGN 20 BIC 21 BMC 22 BMG 23 BNB 24 BNP PARIBAS 25 BONSUCESSO 26 BRADESCO 27 BRASCAN 28 BRB 29 BVA 30 CACIQUE 31 CARGILL 32 CEDULA 33 CEF 34 CITIBANK 35 CLASSICO 36 CNH CAPITAL 37 CREDIBEL 38 CREDIT SUISSE 39 CRUZEIRO DO SUL 40 DAIMLERCHRYSLER 41 DAYCOVAL 42 DEUTSCHE 43 DRESDNER

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181 Item Instituições 44 EMBLEMA 45 FATOR 46 FIBRA 47 FICSA 48 GE CAPITAL 49 GUANABARA 50 HSBC 51 INDUSTRIAL DO BRASIL 52 INDUSVAL 53 ING 54 INTER AMEX 55 INTERCAP 56 ITAU 57 LA PROVINCIA 58 LA REPUBLICA 59 LLOYDS 60 LUSO BRASILEIRO 61 MATONE 62 MERCANTIL DO BRASIL 63 MODAL 64 NOSSA CAIXA 65 OPPORTUNITY 66 OURINVEST 67 PACTUAL 68 PARANA 69 PEBB 70 PECUNIA 71 PINE 72 PRIMUS 73 PROSPER 74 RABOBANK 75 RENDIMENTO 76 RENNER 77 RIBEIRAO PRETO 78 RURAL 79 SAFRA 80 SANTANDER BANESPA 81 SANTOS 82 SCHAHIN 83 SMBC 84 SOCIETE GENERALE 85 SOCOPA 86 SOFISA 87 SS 88 TOKYOMITSUBISHI 89 TOYOTA

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182 Item Instituições 90 TRIANGULO 91 TRICURY 92 UNIBANCO 93 VOLVO 94 VOTORANTIM 95 VR