tipos de leitura

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2.1 Tipos de leitura Quatro são os tipos de leitura expostos por Martins (1984): a sensorial, a emocional, a intelectual e a racional. 2.1.1 A leitura sensorial Os referenciais para essa leitura são a visão, tato, audição, olfato, paladar. Essa leitura nos acompanha por toda a vida, pois lemos tudo o que está ao nosso redor, músicas, imagens, cheiros. Lemos, também, o livro que tem além do escrito, a forma, a cor, a textura, o volume, o cheiro, sendo um objeto palpável que passa pelos nossos sentidos, indo para além da compreensão. Essa leitura refere-se à impressão que temos dela através dos sentidos, que nos marca definitivamente, seja para o bem ou para o mal, ou seja, para voltarmos à ela ou esquecê-la em definitivo. 2.1.2 A leitura emocional É uma leitura feita por sentimentos, por uma escolha subjetiva. Essa é a leitura mais comum e que incita mais prazer e, por isso, é menos valorizada. E isto acontece porque a leitura emocional mexe com nossos sentimentos, imaginação, fantasia, leva-nos de encontro às situações de nossa vida, por vezes até, ajudando-nos a lidar com ela. Esse tipo de leitura acaba marcando momentos, pois há uma identificação com o que foi lido. Na leitura emocional acontece a empatia, colocamo-nos no lugar do personagem ou, até mesmo, assumimos seu papel, reportando-nos para o tempo/espaço da história lida. Essa leitura requer disponibilidade e predisposição para aceitar o que vem de fora, para aceitar esse outro da história. Nessa leitura, o leitor lê sem se perguntar como o texto foi feito, sem buscar finalidades e objetivos de leitura, transformando-a em uma “válvula de escape” de tensões e frustrações, como uma “leitura de evasão”, na qual fugimos da realidade, das circunstâncias e

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2.1 Tipos de leituraQuatro so os tipos de leitura expostos por Martins (1984): a sensorial, a emocional, aintelectual e a racional.2.1.1 A leitura sensorialOs referenciais para essa leitura so a viso, tato, audio, olfato, paladar. Essa leituranos acompanha por toda a vida, pois lemos tudo o que est ao nosso redor, msicas, imagens,cheiros. Lemos, tambm, o livro que tem alm do escrito, a forma, a cor, a textura, o volume,o cheiro, sendo um objeto palpvel que passa pelos nossos sentidos, indo para alm dacompreenso. Essa leitura refere-se impresso que temos dela atravs dos sentidos, que nosmarca definitivamente, seja para o bem ou para o mal, ou seja, para voltarmos ela ouesquec-la em definitivo.2.1.2 A leitura emocional uma leitura feita por sentimentos, por uma escolha subjetiva. Essa a leitura maiscomum e que incita mais prazer e, por isso, menos valorizada. E isto acontece porque aleitura emocional mexe com nossos sentimentos, imaginao, fantasia, leva-nos de encontros situaes de nossa vida, por vezes at, ajudando-nos a lidar com ela. Esse tipo de leituraacaba marcando momentos, pois h uma identificao com o que foi lido.Na leitura emocional acontece a empatia, colocamo-nos no lugar do personagem ou,at mesmo, assumimos seu papel, reportando-nos para o tempo/espao da histria lida. Essaleitura requer disponibilidade e predisposio para aceitar o que vem de fora, para aceitar esseoutro da histria.Nessa leitura, o leitor l sem se perguntar como o texto foi feito, sem buscarfinalidades e objetivos de leitura, transformando-a em uma vlvula de escape de tenses efrustraes, como uma leitura de evaso, na qual fugimos da realidade, das circunstncias eentregamo-nos ao texto, como um refgio de uma realidade insuportvel.Este tipo de leitura provoca o leitor, mexe com ele, algo acontece. Em geral, a leiturade romance, reportagem, novela, revista etc., algo visto por intelectuais como sendo de valorpejorativo, como um passatempo alienante. A leitura emocional desconsiderada devido auma possvel falta de atitude intelectual, sendo caracterizada como mera distrao.2.1.3 A leitura intelectualTrata-se de uma leitura mais sria, correta, intelectualizada, considerada pela classedominante. Esta leitura apenas para a elite, para os pensadores e crticos que ditam asnormas de leitura, considerando a leitura sensorial e emocional irrelevante e ignorante.Na leitura puramente intelectual, o leitor mantm certo distanciamento do texto, no seenvolve pessoalmente com ele, orientado por normas ideologicamente pr-estabelecidas.Geralmente, o texto utilizado como pretexto para provas e avaliaes e para individualizar oconhecimento. Este tipo de leitura requer educao formal, certo grau de cultura e erudio doleitor. Visa meramente a percepo da estrutura do texto e das relaes entre as partes que ocompem.2.1.4 A leitura racionalTem carter reflexivo e dinmico, atualizado e referenciado. Ao mesmo tempo emque busca a realidade do texto lido, busca-se sua percepo com base na experincia pessoal,estabelecendo um dilogo entre o texto e o leitor juntamente com o contexto. Estabelece,portanto, uma ponte entre leitor, conhecimento, reflexo, reordenamento do mundo, dandosentido ao texto e questionando a leitura, abrindo um leque de possibilidades de leiturainterrelacionada com a realidade.De acordo com Martins (1984, p. 80-81):A leitura racional tende a ser prospectiva, medida que a reflexo determina umpasso frente no raciocnio, isto , transforma o conhecimento prvio em um novoconhecimento ou em novas questes, implica mais concretamente possibilidades dedesenvolver o discernimento acerca do texto lido.Este tipo de leitura permite uma familiaridade, relao do leitor com o texto,conhecimento. No se trata apenas de sentir o texto e, nem tampouco, s perceber nele suaestrutura e as relaes entre as partes que o compem. A leitura racional permite umacompreenso maior do texto em si, percebendo a relao leitor, texto e contexto. possvelcaptar como se constri o sentido ou os sentidos, pelo reconhecimento dos indcios textuais,que se referem as pistas para que o leitor compreenda o que leu.A leitura racional mais exigente, predispe a indagao, compreenso,questionamento, dilogo com o que lido. O leitor se desprende de sua emoo com afinalidade de aprender, produzir e criar a partir da leitura. H um processo de conquista, quevisa o conhecimento e respeito leitura, requer ateno especial para poder perceber suaspeculiaridades. Sendo assim, as possibilidades de leitura se multiplicam, ampliando oconhecimento, as necessidades e exigncias.Os quatro tipos de leitura acima descritos interrelacionam-se simultaneamente, aindaque um possa prevalecer frente ao outro, j que o indivduo , na maioria das vezes, sensao,emoo e razo ao mesmo tempo, no tendo uma dicotomia entre as partes, essas instncias seinterpenetram e complementam-se. O homem l da mesma forma como vive, em umconstante processo de interao entre sensao, emoo e pensamento.No h uma hierarquia entre os tipos de leitura, embora, pelo amadurecimento deleitura, comumente aconteam na ordem supracitada. Porm, o fator mais preponderante paraque haja um tipo de leitura se d pelo fato de que existe um momento, um contexto, umaexperincia, um objetivo, ou seja, as circunstncias de cada leitor no ato de ler que difere ostipos de leitura. , pois, a dinmica da relao com o texto que vai determinar o nvel deleitura predominante. Alm do que, h sempre uma nova leitura a cada vez que o leitor seaproxima do texto podendo, desta forma, alternar entre os tipos de leitura. Essa alternnciadepender da inteno e da finalidade da leitura a ser feita e do momento ao qual o leitor afaz, ou seja, tudo depende das condies exteriores e do leitor que far a leitura.O sentido do texto depende do leitor e de sua histria. Tudo o que se l depende daforma como se percebe o que est sendo lido, da inteno da leitura e da interpretao que sefaz dela. Nenhum texto puro em si, ele faz parte de outras vozes, leituras e contextos. ,portanto, produto de uma criao coletiva, sendo assim, o autor, aquele que escreveu o texto,no a nica fonte de seu dizer, porque seu discurso est marcado por outrens.Quando o autor escreve, ele tem em mente o pblico ao qual quer atingir, no entanto,nem sempre esse leitor imaginado o leitor real. Essa distncia entre o leitor real e oimaginrio acontece porque, segundo Silva (2002), existem alguns tipos de leitor que votransformando-se de acordo com os objetivos da leitura. Os sujeitos so diferentes e a formacomo leem tambm. Os textos na escola precisam ser mltiplos e tocar o leitor para que cadaum descubra o que ler e como gosta de ler.A leitura possibilita a conquista de autonomia, amplia horizontes, implicaresponsabilidades. uma atividade individual, em que cada leitor atribui-lhe um significado,dependendo da experincia, vivncia e do conhecimento que tenha. A leitura perpassa osmbitos pessoal das relaes e o social que se refere a oportunidade cultural, econmica,poltica, material.Deve-se buscar formar leitores e no ledores, que recuperem o sentido do texto e asintenes do autor. O texto deve comportar ainda a concepo, percepo e a compreenso dodilogo que provocar no leitor. O leitor um co-produtor, um parceiro. O texto no ,portanto, algo acabado, mas um componente que venha a contribuir para formar o leitorreflexivo.A leitura e a escrita, como atos polticos, colocam as crianas, os jovens e os adultoscomo experimentadores de textos. Tais prticas nos levam para alm do que est escrito emfolhas de papel, para um espao aberto e plural, sendo este um convite que faz aparecer umuniverso de entes, coisas, posturas, gestos... Essa realidade textual potencializa a criao delinhas de fuga que podem suscitar conflitos internos nos sujeitos e nos grupos.A leitura tem mltiplos sentidos e interpretaes, sendo assim, no se pode esperar quea partir de uma leitura todos os leitores cheguem ao mesmo pensamento, como se houvesseuma nica verdade possvel para se interpretar, visto que, como j vimos, a compreenso daleitura depende do tipo de leitura que se faz e do tipo de leitor que l. Buscar essa ditaverdade na leitura acaba contribuindo por afastar o leitor da leitura porque este se julga ummau leitor.