tiempo real y tiempo verbal. aspecto y modo (língua portuguesa)
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Gramática portuguesa em portuguêsTRANSCRIPT
Tema 18. Tiempo real y tiempo verbal. Aspecto y modo.
Tempo real e tempo verbal. Aspecto e modo.
Índice
1. O aspecto
1.1. Valores aspectuais
1.2. Valores de tempo e de aspecto em formas verbais
2. O modo
1.1. Modos verbais
1.2. Valor modal
1. O aspecto
O aspecto é uma categoria gramatical que exprime a maneira como uma situação é
perspectivada, apresentando-se como um todo completo ou em desenvolvimento,
ou ainda acentuando o início, o desenrolar ou o fim de uma acção. Na construção
do valor aspectual de um enunciado convergem o aspecto lexical e o ascpecto
gramatical.
Embora mais visível nos tempos verbais, esta categoria surge também associada a
perífrases verbais (construção de verbo auxiliar e verbo principal, p. ex., ir + passear
em “vou passear”) e a advérbios e locuções adverbiais (p. ex., “durante dez minutos”,
“de manhã”, “há bocado”). Pode, ainda, ser visível no significado de certos verbos,
como saltitar, empalidecer...
1.1. Valores aspectuais
Aspecto lexical. No aspecto, podemos diferenciar o aspecto lexical (construído
graças a processos lexicais) em que as formas verbais, pelo seu significado,
apontam para determinadas características semânticas que nos permitem
distinguir:
Eventos. São situações apresentadas. Podem ser:
– Eventos instantâneos. Situações pontuais (verbos como nascer, morrer, chegar...)
Ele chegou à escola às oito horas
– Eventos prolongados. Situações a que é associada uma duração (verbos como almoçar, pintar uma tela, jogar um jogo...).
Ele almoçou com os amigos
Actividades. Situações dinâmicas que se mantêm homogéneas ao longo do tempo de duração (verbos como correr, nadar, ler, dormir, tocar um instrumento...).
Ele nadou durante uma hora
Estados. Situações não dinâmicas, independentes da dimensão temporal (verbos e expressões como ser simpático, saber línguas, estar em casa...).
- Propiedades. Ele é baixo
- Sentimentos. Ele é simpático
- Relações de localização. Ele está em casa
Aspecto gramatical. Este aspecto prende-se sobretudo com o valor expresso por
certos tempos verbais ou complexos verbais (perífrases verbais aspectuais) ou
ainda por outras características da construção do enunciado (advérbios, locuções
adverbiais, frases/orações subordinadas).
Os valores básicos do aspecto gramatical são o aspecto perfectivo e o imperfectivo.
Perfectivo. Apresenta um processo completo (já terminado) no momento da enunciação.
Estudei na Europa
Imperfectivo. Refere um processo em realização.
Estudo numa capital europeia
Os valores aspectuais podem ainda ter a ver com a caracterização específica da
situação que pode ser instantânea ou estender-se por um determinado período de
tempo. Assim, o aspecto pode ser pontual ou durativo.
Pontual ou momentâneo. Indica um processo que dura apenas um instante.
O Rui abriu a janela
Durativo. Exprime uma acção que perdura no tempo.
Ela esperava ansiosamente notícias
Ele tem treinado muito
Quando se marcam as diferentes fases no desenvolvimento da situação temos o
aspecto ingressivo, progressivo, terminativo e resultativo.
Ingressivo (inceptivo ou incoativo). Apresenta o principiar da acção.
Eles adormeceram
Anoitece
Progressivo (cursivo). A acção é apresentada como estando em curso.
O Rui estava a apreciar o jardim
Terminativo (conclusivo). Este aspecto acentua a ideia de conclusão de uma acção.
No ninho, os filhotes acabaram de comer
Resultativo. Acentua-se a ideia de que algo foi afectado pelo processo e é o seu resultado.
O vento destruiu a estufa do jardim
O valor aspectual pode ainda ter a ver com a quantificação da situação, isto é,
acentuar as vezes em que a situação acontece e a regularidade ou frequência com
que acontece. Temos, então, o aspecto genérico, o aspecto habitual e o aspecto
iterativo.
Genérico. Exprime uma pluralidade infinita de situações:
O homem é mortal.
Habitual. Exprime uma pluralidade infinita de situações durante um período ilimitado.
O João joga futebol aos domingos.
O rapaz desmaiou na escola
Frequentativo ou Iterativo. Indica uma pluralidade de situações eventivas que se repetem regularmente durante um certo período, delimitado ou não delimitado.
No ano passado, o João foi ao cinema todas as semanas (período delimitado)
O João tem ido ao cinema (período não delimitado)
A categoria do aspecto pode ser expressa por:
Conteúdo lexical e semântico do verbo.
Dormir (durativo)Cair (pontual ou momentâneo)
Sufixos.
Saltitar, dormitar (frequentativo ou iterativo)Empalidecer, adormecer (inceptivo ou incoativo)
Conjugação perifrástica com verbo auxiliar aspectual.
Começou a nadar (inceptivo ou incoativo)Está a dormir (durativo)Vai viajar (inceptivo ou incoativo)Acabou de vestir-se (cessativo ou conclusivo)
Repetição da mesma forma verbal.
Voava, voava (durativo)
Advérbios ou locuções adverbiais.
Repentinamente falou (pontual ou momentâneo)Tomo duche todos os dias (frequentativo ou iterativo)A pouco e pouco esqueceu os desgostos (durativo)
1.2. Valores de tempo e de aspecto em formas verbais
Nem sempre os tempos verbais apresentam o valor temporal que habitualmente
lhes é atribuído; muitas vezes expressam sobretudo informação aspectual. A língua
é um fenómeno dinâmico, vivo, complexo.
Presente do indicativo.
Fornece, frequentemente, mais indicações de aspecto habitual, genérico, do
que de tempo.
Figo remata forte / Vivo no Estoril/ O homem é um ser pensante
Refere, muitas vezes, um tempo posterior ao da enunciação, sobretudo quando
apoiado por advérbios ou locuções adverbiais de tempo.
Amanhã vou ao cinema com uns amigos
Coloca na actualidade (presente histórico), em contextos com alguma referência
ao passado, factos desse mesmo passado.
D. Afonso Henriques, com a ajuda de cruzados, conquista Lisboa em 1143
Expressa um valor modal, próximo da modalidade deôntica, quando usado em
instruções ou proibições.
Sentas-te ao volante, desembraias, ligas a chave, engatas a primeira e aceleras
suavemente
Voltas a fazer o mesmo e zango-me mesmo contigo
Veicula modalidade apreciativa (quando equivale ao pretérito imperfeito do
conjuntivo.
Se me lembro a tempo, não pagaria juros de mora
Manifesta valores de cortesia/delicadeza, e não de tempo, nas situações em
que o locutor o usa como substituto do imperativo.
Quer o Rui dizer-me o que se passou?
Pretérito imperfeito do indicativo
Embora seja tempo gramatical com informação de passado, frequentemente não
apresenta essas características temporais.
Quando projecta a acção para o futuro.
A estas horas já almoçava
Eu gostava de ver aquele filme
Quando expressa modalidade (imperfeito de delicadeza)
Trazia-me um café e uma tosta mista
Pretérito perfeito simples
É tipicamente o tempo do passado, com valor aspectual perfectivo, em que o ponto
de referência temporal é o momento presente da enunciação.
Paguei os seguros pela internet
Porém, numa sequência de frases narrativas no pretérito perfeito (em que se
mantém o valor aspectual perfectivo) cada uma das ocorrências do pretérito
perfeito é o ponto de referência temporal para a ocorrência seguinte, como se
exemplifica.
Depois da saudação da praxe, dirigiram-se os três para a sala. Interromperam-se as
conversas e levantaram-se os convidados para virem falar com o Bispo.
Mal terminaram os cumprimentos, ouviu-se um grande estrondo lá fora.
Houve então um pequeno momento de confusão. Correram pessoas para a janela e
viram no pátio iluminado um grande automóvel preto e sumptuoso esbarrado
contra o pilar esquerdo do portão.
Isto causou grande sensação. Houve exclamações e perguntas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares.
Futuro simples do indicativo
O futuro simples poucas vezes expressa tempo posterior ao tempo da enunciação.
No português europeu, a posterioridade é expressa principalmente com o recurso
ao presente do indicativo com o apoio de advérbios ou locuções adverbiais de
tempo que remetem para o futuro, ou pela construção ir + infinitivo.
Mudo de casa daqui a duas semanas
O Francisco vai fazer exame de condução
O futuro simples é, muitas vezes, a expressão da modalidade apreciativa.
Agora será tarde para apresentares recurso
O futuro simples é também uma das maneiras de apresentar o conteúdo de um
enunciado com valor genérico, universal.
Amarás a Deus sobre todas a coisas
Futuro do passado/condicional
Exprime valor de passado só quando o ponto de referência se localiza também no
passado.
O pintor encontrou ontem a sua grande amiga; depois de acalmadas as emoções,
convidá-la-ia a proferir umas palavras na abertura da exposição
Noutras situações transmite.
- Valores de delicadeza. Poderia mostrar-me a ementa?
- Modalidade apreciativa. Foi mesmo ele quem boicotou o processo! Quem
diria!
Infinitivo (não flexionado)
O infinitivo (não flexionado) transmite.
Conteúdos intemporais, tidos como verdades ou sentenças universais (aspecto
genérico).
Ser descontente é ser homem
Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer
Conteúdos equivalentes à forma do imperativo (modalidade deôntica).
Destroçar, à vontade! (voz de comando militar)
Tempos compostos
Pretérito perfeito composto do indicativo
O pretérito perfeito composto (auxiliar ter + verbo principal) não é muitas vezes,
nem um marcador de tempo só passado nem de um evento completo (perfeito)
mas um indicador de algo que teve início no passado e continua no presente da
enunciação e, certamente, se prolongará na posterioridade.
Tenho prestado particular atenção à urgência de se repensar a ONU
O pretérito perfeito composto do indicativo é um processo com que o locutor
veicula valores de iteratividade (repetição de um tipo de ocorrências de um mesmo
acontecimento), de eventos. O locutor vai reforçando, frequentemente, esses
mesmos valores de iteração com expressões adverbiais de valor iterativo (muitas
vezes, repetidamente, todas as semanas, etc.)
O primeiro-ministro tem dito, muitas vezes, que a inovação tecnológica é vital
Pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo
Este tempo refere algo passado completo (aspecto perfectivo) e que tem o seu
ponto de referência noutro estado de coisas também passado.
Quando o carro apareceu, já o sinal tinha passado a vermelho
O pretérito mais-que-perfeito composto é um tempo anafórico, pois que expressa a
sua referência temporal dependente de outro, o pretérito perfeito.
Futuro composto do indicativo
O futuro composto pode apresentar.
Valores de tempo futuro e de aspecto perfectivo quando é marco de referência
temporal em relação a outro momento que se lhe seguirá, como também
futuro.
Já terei sido pai quando for avô
Já terei concluído o 12º ano quando entrar na Faculdade
Valores de modalidade (possibilidade, dúvida).
O João já terá chegado ao Porto
Condicional composto
O condicional composto, muitas vezes, não apresenta valores de modalização
(como possibilidade, hipótese), sobretudo quando se pode substituir pelo mais-
que-perfeito composto e o sentido da frase, no essencial, não se altera.
Consultei dois especialistas que já teriam tratado de questões similares
Valores aspectuais de expressões verbais
Estar a + verbo principal. Refere o desenrolar dos momentos de eventos
prolongados (aspecto durativo e imperfectivo).
Os cientistas estão a tentar recuperar a medula dos paraplégicos
Andar a + verbo. Expressa um estado de coisas habitual ou frequentativo.
Os instrutores andam a preparar mais vinte aviadores
Começar a + verbo. Refere um estado de coisas momentâneo.
Começou a nevar
Continuar a + verbo. Refere estados ou eventos prolongados no processar-se da
sua duração temporal.
O vento continua a soprar
Deixar de + verbo. Expressa um estado de coisas, completo, ou o momento em
que cessa um evento (aspecto perfectivo).
O miúdo deixou de ser agressivo
Parar de + verbo. Marca interrupção de eventos (não de estados). Marca um
aspecto momentâneo.
Parou de chover
Acabar de + verbo. Expressa o culminar ou término de um processo.
Os trabalhadores acabaram de colocar o telhado na casa
O aspecto perfectivo é mais nítido quando na frase ocorrem também formas
adverbiais de localização ou de medição temporal.
O Pedro acabou de elaborar o relatório às 17 horas
2. Modo
O modo indica a atitude do locutor em relação ao facto apresentado.
2.1. Modos verbais
Na flexão do verbo distinguem-se cinco modos.
Indicativo . Apresenta um facto como real.
Os teus amigos chegam sempre atrasados
Todos estavam muito positivos
Conjuntivo. Exprime uma possibilidade, uma dúvida, um desejo.
É possível que parta amanhã (possibilidade)
Talvez apareça para jantar (dúvida)
Gostava que viesses (desejo)
Imperativo. Pode exprimir uma ordem, um conselho, um pedido.
Sai da aula (ordem)
Reza todas as noites (conselho)
Empresta-me o teu telemóvel (pedido)
Condicional. Considera a realização da acção dependente de uma condição.
Ficaria contente se recebesse um prémio
Infinitivo (pessoal). Indica a acção de uma maneira vaga, em abstracto.
Passearmos à noite é agradável
O verbo possui ainda formas impessoais que equivalem a nomes ou a adjectivos - as formas nominais.
Infinitivo impessoal. Equivale a um nome, mas sem qualquer flexão.
Sonhar é preciso
Particípio. Equivale a um adjectivo, com flexão de género e número. Exprime o desenrolar da acção.
Ultrapassadas algumas dificuldades, conseguiram vencer o jogo
Gerúndio. Tem valor equivalente a um adjectivo ou a um advérbio. Exprime o desenrolar da acção.
Comprou um quadro representando a sua cidade
Anoitecendo, volto para casa
Emprego particular dos modos
Em certos contextos, o modo pode ser representado por formas diferentes das que lhe são próprias. Vejamos alguns casos mais significativos do emprego especial dos modos:
Uso de formas de futuro de indicativo ou de infinitivo para expressar a ideia de ordem.
Não matarás!
Apontar! Disparar!
Não fumar
Não pisar a relva
O modo indicativo pode aparecer com valor de conjuntivo.
Se não actuas vais ter aborrecimentos
O modo indicativo pode exprimir dúvida.
Terás actuado assim como tu dizes?
2.1.Valor modal
A subjectividade do locutor, a sua atitude em relação ao que diz e ao destinatário das
suas palavras surge num enunciado sob formas diversas; pode ser expressa através da
entoação, dos modos verbais, da utilização de verbos auxiliares modais, de verbos
principiais com valor modal, de adjectivos com valor modal ou de advérbios... À
presença dessa subjectividade num enunciado damos o nome de modalidade.
Podemos considerar três grandes tipos de modalidade.
Modalidade apreciativa. O locutor pretende exprimir uma opinião, uma apreciação sobre o conteúdo de um enunciado.
É pena que não tenhas feito o exame
Lamento que tenhas tido má nota no teste
Alguns adjectivos têm valor modal porque transmitem uma avaliação (positiva ou negativa) do locutor a propósito de algo.
É desagradável/agradável ler o jornal
É bom que ele leia o jornal
A opinião pode, também, surgir em construções de tipo exclamativo.
Bonito serviço!
Que fácil é o teste!
Modalidade deôntica. O locutor pretende agir sobre o seu interlocutor através do enunciado para exprimir imposição/obrigação ou proibição/permissão.
Preenche o formulário (valor de imposição/obrigação)
Não preenchas nada (valor de proibição/permissão)
Modalidade epistémica. O locutor pretende expressar um valor de certeza ou de probabilidade/possibilidade em relação ao conteúdo do enunciado que produz.
O Convento de Mafra foi construído no século XVIII (ideia de certeza)
É possível que o Convento de Mafra tenha sido construído no século XVIII (ideia de probabilidade/possibilidade)
A língua dispõe de vários processos com que os falantes expressam a modalidade (e não apenas pelo “modo verbal”: indicativo, conjuntivo, etc.)
Verbos como poder e dever (verbos modais); saber, crer (verbos do “saber” e da “crença”), permitir, obrigar, ter de, precisar de.
Advérbios de frase como possivelmente, necessariamente, provavelmente.
Provavelmente essa é a melhor solução
Adjectivos com sentido modal como possível, provável, capaz. Estes adjectivos modalizantes entram também em construções subordinantes.
É possível que chova
Afixos derivacionais (expressando possibilidade, capacidade) como em lavável, solúvel ou admirável, por exemplo.
Modos verbais. Por exemplo, o modo imperativo está claramente relacionado com o modo deôntico, bem como o modo conjuntivo, quanto tem valores de imperativo.
Prestem atenção
Construções exclamativas e interrogativas.
A verdade que eu conto, nua e pura
Vence toda a grandiloqua escritura!
Camões, Os Lusíadas, V, 89
Bibliografia
Arruda, Lígia, Gramática de Português para Estrangeiros, Porto Editora
Azeredo, M. Olga e outros, Gramática prática de português: da comunicação à
expressão, Lisboa Editora.
Castro, Pinto e outros, Gramática do Português Moderno, Plátano Editora
Oliveira, Luísa e Sardinha, Leonor, Saber Português Hoje, Gramática Pedagógica da
Língua Portuguesa, Didáctica Editora