tiago gil sobre o comércio ilícito na fronteria sul do brasil

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    SOBRE O COMRCIO ILCITO: A VISO DOS DEMARCADORES DE LIMITES SOBRE OCONTRABANDO TERRESTRE NA FRONTEIRA ENTRE OS DOMNIOS LUSOS EESPANHIS NO RIO DA PRATA (1774-1801). 2OS DEMARCADORES 3O MUNDO DA LAGOA MIRIM 7A REFLEXO DOS DEMARCADORES SOBRE O CONTRABANDO: AZARA, CABRER E OYARVIDE 16

    FONTES PRIMRIAS: 20OUTRAS FONTES: 20BIBLIOGRAFIA: 21

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    SOBRE O COMRCIO ILCITO: A VISO DOS DEMARCADORES DE LIMITES SOBRE O

    CONTRABANDO TERRESTRE NA FRONTEIRA ENTRE OS DOMNIOS LUSOS E

    ESPANHIS NO RIO DA PRATA (1774-1801).

    TIAGO LUS GIL*

    RESUMOAo longo do sculo XVIII, vrias foram as tentativas de demarcao de limites entre os domnios

    portugueses e espanhis na amrica, especialmente no Rio da Prata, zona de contnuos conflitos. A partirde 1777, depois do final de mais uma guerra, as Coroas portuguesa e espanhola enviaram, mais uma vez,equipes de demarcadores de limites para, de uma vez por todas, resolver o problema. Entretanto, conflitosdiplomticos e tcnicos fizeram com que a estada destes gegrafos, astrnomos e matemticos durassemais de vinte anos, sendo que muitos deles acabaram criando razes nesta nova terra. Em meio aostrabalhos de demarcao, estes sbios faziam seus dirios, apontamentos e relatos, muitas vezes tratandode temas prprios da regio. O contrabando, manipulado em quantidade naquelas terras, foi igualmentetratado pela grande maioria destes observadores. Nossa pesquisa procura investigar a forma como ocomrcio ilcito era visto por estes agentes histricos, tendo em vista o estranhamento, o entendimento e o

    julgamentos que os mesmos faziam de semelhante atividade. Pretendemos cruzar o relato destesdemarcadores com outras fontes, especialmente com as investigaes e juizos feitos pelas Coroas para

    perseguio dos contrabandistas. Tal estudo pode contribuir para a compreenso das formas de fidelidademanifestadas pelos sditos naquelas regies dos Imprio.

    Palavras-chave: contrabando; fronteira; astrnomos; engenheiros.

    * * *

    Que sabe ter matado o Sargento da Cavalaria Joaquim Rodrigues a sua mulher e ao cabo

    de esquadra do mesmo corpo Jos Moreira, e que fora voz constante que achando-se em

    casa do coronel [Rafael Pinto] Bandeira na mesma noite em que foram feitos estes

    assassnios, o capito Alexandre Eloy Portela, e o Doutor Saldanha, entrara na mesma

    casa o dito sargento assassino e dizendo ao coronel que tinha de lhe dar uma notcia, se

    encaminhara este com o Sargento para um quarto imediato, e pelos ditos capito Portela

    e Doutor Saldanha foi ouvido comunicar o Sargento ao Coronel o que tinha acabado de

    executar

    (Manuel Jos Digenes de Morais, alferes do Batalho de Infantaria e Artilharia no Rio

    Grande de So Pedro ARQUIVO NACIONAL, Cdice 104, vol. 09).

    *Universidade Federal do Rio de Janeiro

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    Em meados dos anos 1780 a demarcao de limites estava em pleno andamento. Foi durante este perodo

    que o fato narrado acima ocorreu. O incidente, narrado por vrias testemunhas de uma Devassa ocorrida

    em 1787, foi muito comentado na Vila do Rio Grande. As duas testemunhas, o doutor Saldanha e o

    capito Portela, eram demarcadores de limites e estavam parando na casa de Pinto Bandeira,

    provavelmente, por ocasio de algum dos trabalhos de reconhecimento dos terrenos adjacentes. O Coroneltinha uma estncia prxima aos limites e freqentemente franqueava alimentos s equipes de demarcao

    de limites.(GIL, 2003)(CABRER, 1801)

    O fato acima narrado um indcio de o quanto os demarcadores estiveram internalizados na vida social

    da pequena Vila de Rio Grande e suas adjascncias. A maior parte destes demarcadores no apenas

    circulou por estes territrios fronteiros, mas acabou se instalando na regio, diferentemente de outros

    cronistas, como Saint-Hilaire. Esta sua intimidade social faz com que os consideremos observadores

    especiais desta realidade. Sua peculiariadade reside no fato de serem, ao mesmo tempo, forasteiros e

    estabelecidos.

    Nossa inteno aqui no exatamente a de tentar reconstituir o contrabando na regio, atravs dos

    dirios dos demarcadores, ainda que faamos isso em alguns momentos. Nosso objetivo principal, aqui,

    verificar qual o entendimento que estes personagens tinham de semelhante atividade, como concebiam e

    lidavam com este mercado que se realizava diante de seus olhos. Entenderemos, assim, os dirios destes

    demarcadores como etnografias particulares, no apenas na apreciao do comrcio ilcito, mas tambm

    na avaliao dos agentes sociais que se dedicavam a este mercado.

    OS DEMARCADORES

    Os trabalhos de demarcao contavam com grandes equipes. Somente a equipe portuguesa mantinha

    cerca de duzentas pessoas empregadas, entre astrnomos, matemticos, engenheiros, oficiais, soldados,

    canteiros e escravos.(CABRER, 1801) Para este trabalho, consideraremos apenas aqueles que deixaramum dirio escrito, ou outra qualquer anotao que tenha chegado at ns. Entre os espanhis,

    trabalharemos com oDiario de la Segunda Subdivicion de Limites Espaola, feito por Jos Maria Cabrer

    entre 1783 e 1801; aMemoria Rural del Ro de la Plata, de Flix de Azara; oDiario de Demarcacin de

    Andrs de Oyarvide; o Diario de la segunda divisin de lmites, de Diego de Alvear. Entre as obras dos

    portugueses, consideraremos o Dirio Resumido de Jos de Saldanha; o Compndio Noticioso do

    Continente do Rio Grande de So Pedro at o Distrito do Governo de Santa Catarina, extrado dos meus

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    dirios, observaes e notcias, que alcancei nas jornadas que fiz ao dito Continente nos anos de 1774 e

    1775, de Francisco Joo Roscio.

    A equipe espanhola era realmente muito prestigiosa. Isso no se manifesta apenas na qualidade dos

    demarcadores enviados, mas igualmente visvel no fato de existirem mais relatos das demarcaes feitos

    por espanhis do que por lusos. A qualidade dos relatos tambm um indicativo. Os mais refinados, so,

    sem dvida, aqueles feitos por Flix de Azara. Jos Maria Cabrer e Andrs de Oyarvide tambm deixaram

    anotaes meticulosas e inteligentes. Entre os portugueses, destaca-se o Dirio de Jos de Saldanha, onde

    h observaes muito interessantes, ainda que em sua maior parte esteja apenas descrevendo a paisagem e

    anotando as coordenadas da demarcao.

    Outra diferena relevante entre os dirios lusos e espanhis a sua ateno ao contrabando: os

    portugueses silenciam a respeito, enquanto os espanhis descrevem tal prtica com detalhes. Isso se

    explica, em boa medida, pelo carter dos dirios lusitanos, muito preocupados com as questes mais

    tcnicas e com a prpria demarcao. Os espanhis, por sua vez, preocupavam-se com a histria local

    (desde a fundao dos povoados) e com a origem dos nomes dos acidentes geogrficos, assim como com

    a avaliao das atividades produtivas, a fauna e a flora daqueles espaos. Esta caracterstica marca no

    apenas os demarcadores, mas tambm um cronista como Concolorcorvo.(CONCOLORCORVO, 1942)

    Outra explicao para este silncio portugus sobre o contrabando pode estar associada a um certo

    compromisso dos demarcadores lusos com os grupos vinculados ao comrcio ilcito. Esse indcio tomadimenso quando percebemos que trs destes demarcadores mantiveram algum vnculo com famlias

    envolvidas no contrabando: Jos de Saldanha, Chagas Santos e Alexandre Eloi Portelli.

    Sendo um dos engenheiros da partida portuguesa, o Capito Alexandre Eloi Portelli chegava Vila do

    Rio Grande em junho de 1783, juntamente com outros oficiais membros da equipe. A demarcao

    iniciou-se no comeo do ano seguinte. Neste mesmo ano, j tinha Alexandre uma filha natural, Flora

    Maria Alexandrina. Alguns anos depois, em 12 de fevereiro de 1793 (quando j era tenente-coronel)

    Portelli casou-se com Joaquina Marques de Azevedo, filha do tenente-coronel Manuel Marques de Souza.

    Isso vem demonstrar a rpida vinculao social destes na comunidade local. Marques de Souza, era

    comandante da fronteira e aparentado da famlia Pinto Bandeira, a qual mantinha proveitosos negcios de

    contrabando na lagoa Mirim, um dos principais teatros das operaes demarcatrias.(PORTO, 1929)(GIL,

    2003)

    Como vimos no incio deste texto, tanto Portelli como Saldanha estavam presentes na casa de Rafael

    Pinto Bandeira quando um sujeito chegou avisando dos crimes que tinha cometido. Rafael era primo do

    futuro sogro de Portelli e este convvio naquela propriedade pode ter sido o necessrio para os acertos

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    matrimoniais. Outro demarcador, Francisco das Chagas Santos tambm casou no novo territrio, em

    Porto Alegre, em 1798 com Matilde de Figueiredo, descendente da prestigiosa famlia Souza Fernando, a

    qual tambm era aparentada dos Marques de Souza.(PORTO, 1929)

    De todos estes, foi Jos de Saldanha que nos deixou o relato mais substancioso. Seu Dirio Resumido

    minucioso em coordenadas e descrio de acidentes geogrficos e geolgicos. Saldanha cursou filosofia e

    matemtica em Coimbra, onde especializou-se em astronomia e geografia. Embarcou para o Brasil em

    1782, chegando a Vila do Rio Grande juntamente com Portelli e os demais oficiais, em 1783. Coordenou,

    juntamente com Portelli, a 1 Sub-diviso de demarcao, entre 1786 e 1787. Em 1790, recebe a proviso

    de Capito de Infantaria com exerccio de engenheiro. Tendo casado jovem em Portugal, Saldanha veio

    para o Brasil onde se casou novamente, nunca mais retornando sua ptria. Sua esposa, Ana Joaquina

    Tomsia, era filha de um alferes de Drages, Joaquim Tomaz de Andrade e Siqueira.(PORTO, 1929)

    O nico membro da equipe portuguesa que aparentemente no crio vnculos familiares na regio fora o

    2 Comissrio de Demarcao, o Coronel de Infantaria, com exerccio de engenheiro, Francisco Joo

    Roscio. Originrio da Ilha da Madeira, Roscio chegou a exercer o governo interino do Rio Grande de So

    Pedro, no incio do sculo XIX, falecendo em Porto Alegre, em 1805. Seu Compndio Noticioso um

    relato muito interessante sobre diversas regies do Continente do Rio Grande. Mas mesmo sem vnculos

    familiares na regio, Roscio tampouco fala nos contrabandos, ainda que disserte muito sobre as reas

    onde estes aconteciam.(FREITAS, 1980)

    Nem s de vnculos familiares se dava a capilarizao social dos demarcadores naquelas comunidades.

    As equipes no eram formadas apenas por engenheiros e astrnomos, mas eram igualmente formadas por

    militares. A expedio portuguesa, por exemplo, era composta por quase duzentas pessoas, entre as quais

    se incluam o governador, Sebastio Xavier da Veiga Cabral da Cmara, o Capito de Drages Carlos

    Jos da Costa e Silva, o Capito da Cavalaria Ligeira Jernimo Xavier de Azambuja e o tenente da mesma

    companhia, Vasco Pinto Bandeira. Com exceo do governador, todos estes eram aparentados dos Pinto

    Bandeira, alm de manterem diversos negcios de contrabando com Rafael, especialmente seu irmo,Vasco Pinto Bandeira, e o Capito Carlos Jos da Costa, seu cunhado. Alm destes oficiais, havia ainda

    vinte e oito sub-oficiais e soldados da Cavalaria Ligeira, da qual Rafael era comandante.(GIL, 2003)

    Pelo lado espanhol, a figura de maior proeminncia era a de Flix de Azara. Comissrio da 3 Partida

    Espanhola, nasceu em Barbuales, Espanha, em 1742, tendo estudado em Huesca e Barcelona, onde se

    formou engenheiro militar. Venho para o novo continente em 1781, designado para a demarcao do

    Paraguay. Todavia, teve encontros com Sebastio Cabral da Cmara, comissrio portugus, em Rio

    Grande, antes do incio dos trabalhos. Nestas ocasies, bem como quando tratou da povoao de So

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    Miguel do Batovi, junto aos limites, fez cuidadosas observaes sobre a regio. Seus textos, muito mais

    do que descries, trazem comentrios e projetos viveis, todos absolutamente pragmticos.(FREITAS,

    1980)

    A Partida espanhola da qual mais temos informaes daquela que teve por Comissrio Dom Diego de

    Alvear. Alm do prprio comissrio, tambm o engenheiro do grupo, Jos Maria Cabrer, e o piloto,

    Andrs de Oyarvide, deixaram dirios minuciosos dos trabalhos. Alvear era membro de uma prestigiosa

    fidalguia local espanhola, em Montilla.(WINDLER, 1997) Estudou no Real Colegio de Guardias

    Marinas, onde eram admitidos apenas nobres. em 1777, embarcou com Ceballos para a atacar o sul dos

    territrios espanhis na Amrica. Com a demarcao de limites, foi nomeado comissrio, juntamente com

    Varela y Ulloa e Azara.

    Os outros dois membros da equipe liderada por Alvear que deixaram relatos, at onde sabemos, foram

    Jos Maria Cabrer e Andrs de Oyarvide. Cabrer, nascido em Barcelona em 1761, ainda estudava quando

    foi a Guerra com a Inglaterra demandou sua ateno. Algum tempo depois, foi destacado para os

    trabalhos de demarcao, chegando Buenos Aires em 1781. Em 1783, foi juntamente com Alvear para a

    fronteira do Chuy, onde trabalharia por um bom tempo, deixando precioso relato. Convm fazer uma

    observao: os relatos de Alvear e Cabrer so muito parecidos, tendo muitas frases em comum, algumas,

    com uma pequena variao. provvel que Alvear tenha utilizado o relato de Cabrer para compor seu

    texto, na medida em que o texto de Alvear no apresentado como de sua exata autoria, mas como o

    dirio da comisso por ele chefiada. Cabrer foi um dos poucos (e o nico por ns estudado) dos membros

    da equipe demarcatria espanhola a casar-se no Rio da Prata, falecendo em Buenos Aires em 1836,

    quando trabalhava no Departamento Topogrfico.(DE ANGELIS, 1836)

    Andrs de Oyarvide nasceu em Guipzcoa em meados do XVIII. Graduou-se na Real Armada em 1771,

    tornando-se piloto. Dirigiu-se para a Amrica com a expedio de Cevallos em 1776, onde, logo depois,

    foi encarregado de compor a 2 Comisso. O Dirio de Oyarvide bastante detalhado, chegando

    inclusive a citar os nomes de vrias pessoas envolvidas no contrabando, alm dos lugares onde tais coisasocorriam. Oyarvide, assim como Azara, voltou para a Espanha, tendo retornado ao Rio da Prata

    posteriormente para a confeco de cartas martimas.

    At aqui tivemos um conhecimento muito superficial sobre estes demarcadores. Vamos agora tentar

    abord-los a partir de seus prprios textos, tentando perceber o contexto onde as idias daqueles

    engenheiros e astrnomos sobre o contrabando foram gestadas. Estes estudiosos estavam profudamente

    preocupados com alguns dos temas mais relevantes do conhecimento da poca. Saldanha, Cabrer e Alvear

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    citam diretamente a obra de Lineu para problematizar o que observam. Saldanha tenta com esforo aplicar

    as idias daquele autor em seus comentrios.

    Por seu turno, Azara tm uma enorme preocupao em afirmar o mtodo e em organizar cuidadosamente

    as informaes que obtinha. Alm das pranchas com imagens de animais nativos do Rio da Prata, ele

    preocupava-se com a outros procedimentos, que o autorizariam a refletir melhor sobre o assunto: ...o

    haver feito de tudo um mapa; o haver lido todas as histrias impressas e manuscritas do pas, como

    igualmente multido de papis antigos e modernos; inspiraram-me a resoluo de escrever uma histria

    e descrio crticas do Paraguay e Rio da Prata.(AZARA, 1980)

    Mas esta preocupao em coletar e organizar dados sobre a fauna e a flora no era exclusiva de Azara:

    todos os demarcadores foram meticulosos em descrever animais e plantas das localidades por onde

    andavam, alm de dar especial ateno a geografia local, uma das suas tarefas como demarcadores.

    Importante notar que, nesta mesma perspectiva, so descritos os grupos indgenas.

    O MUNDO DA LAGOA MIRIM

    na proximidade da Lagoa Mirim que os dirios convergem para tratar do contrabando. No era sem

    motivo: este era um dos principais espaos onde o comrcio ilcito se desenvolvia, ao lado da chamada

    Fronteira do Rio Pardo.(GIL, 2003) Ali se encontravam espanhis, minuanos, portugueses e guaranis, e

    estes encontros no passaram inclumes. Estranhamentos, alteridades e alianas marcaram cada passo do

    processo demarcatrio, assim como toda a vida daquela fronteira.

    Um primeiro estranhamento entre portugueses e espanhis ocorreu nos primeiros contatos das equipes de

    demarcao. Tal foi narrado por Cabrer e por Alvear, e aparte as semelhanas entre estes dois dirios, h

    significativa diferena quando falam das relaes entre os sditos ibricos nos primeiros dias de

    demarcao.(CABRER, 1801)(ALVEAR, 1837) Alvear fala que os espanhis corresponderam

    urbanidade lusa, com visitas recprocas de pura ceremonia. Cabrer faz um relato mais extenso e

    minucioso:

    Los gefes portugueses seguidos de un lucido acompaamiento de oficialidad, montados

    todos con la mayor desencia nos prebinieron en la atencin de visitarnos, y a la tarde

    correspondimos su hurbanidad, quedando con este terminadas las visitas de pura

    serimonia. Faltariamos al tema de nuestro Diario que dice, como se ha visto al principio,

    'Presentar la verdad como ella es en si, y no vender la pluma la adulacion' & es pues

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    inegable que en este primer paso se incurri por los espaoles en la mayor groseria y

    falta de hurvanidad: a los ojos se biene que nosotros deviamos estar todos prontos y

    montados con la mejor desencia, mandando un Dragon larga distancia, para que asi que

    biese a los portugueses viniera a toda la diligencia a avisarnos, e immediatamente los

    gefes espaoles con toda su oficialidad salir a recivirlos , dejarlos en el campo que se les

    demarc y aun combidarlos a comer la zopa: mas no es esta la unica desatencin que

    usamos con los portugueses en el tiempo que duro la demarcacin. Pero en razn de la

    verdad y de la justicia devemos decir tambien, que muy diferente conducta observo

    nuestro comisario Albear, y toda su oficialidad y soldados de su segunda sub-division

    que en el dilatato tiempo de dies y ocho aos fueron repetidos los combites, obcequios

    de todas clases que se hicieron a los portugueses, reynando a mas de todo esto la mas

    estrecha harmonia y amistad en todos los yndividuos de ambas Naciones. (CABRER,

    1801)

    Este trecho nos apresenta vrios aspectos da vida daqueles homens. Os protocolos sociais das sociedades

    de Antigo Regime esto bastante visveis. A preocupao de Cabrer (e tambm de Alvear) com as

    formalidades no contato, incluindo a necessidade dos espanhis estarem montados e prontos para receber

    os portugueses, sintomtica. Mesmo entre lagoas e pntanos pouco povoados, os velhos costumes

    europeus no deveriam ser abandonados, assim como a hierarquia social, perfeitamente visvel naorganizao das comisses. Por outro lado, nos indica que a distino entre portugueses e espanhis

    permaneceu intacta, mesmo diante de povos to diferentes e brbaros como eram os minuano. Apesar

    da boa relao, no houve clima para uma identidade ibrica. A tendncia foi contrria: polarizar as

    relaes entre as naes da pennsula, incorporando os indgenas, de algum modo, uma ou outra.

    Ao estranhamento seguiu-se o conflito. Por volta de 1784, na identificao de alguns acidentes

    geogrficos onde seriam colocados os marcos de pedra, surgiu uma dvida entre as duas equipes, se o

    Piratini seria um rio ou um arroio. Se fosse um arroio, seria o arroyo meridional referido nos Tratados delimites. Os espanhis argumentavam de que pouco importava se era rio ou arroio, e que aquele era o curso

    referido nos Tratados. O portugueses argumentavam que os limites deveriam ser colocados mais ao sul da

    Lagoa Mirim, j que aquele no era o arroio procurado. Alvear (como tambm Cabrer) logo atribuem isso

    ambio portuguesa: aspiraban a extender sus dominios, todo lo posible, por las riberas

    septentrionales del Ro de la Plata, objeto que ha excitado vivamente en todo tiempo la ambicin

    lusitana, y sobre que jams cesarn sus pretensiones.(ALVEAR, 1837)

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    A prpria caracterizao do espao fronteirio era matizada pela oposio entre ibricos. O cenrio

    construdo pelos dirios marcava a expanso portuguesa na regio, por um lado, frente ao descaso e

    despoviamento da fronteira pelos espanhis. Nas palavras de Cabrer: los portugueses repartieron todo

    este canton en suertes de estancias luego que se establecieron los marcos, procediendo desde el instante

    a su poblacion y cultibo.(CABRER, 1801) A constante presena portuguesa preocupava estesdemarcadores, sendo considerada uma ameaa no apenas pelo risco de conquista de territrios espanhis,

    mas igualmente pela existncia de um contrabando favorvel ao portugueses.

    Mas isso no se dava por uma simples oposio. A imagem de um deserto na fronteira espanhola servia

    para corroborar as propostas de povoamento feitas por estes demarcadores. O mais taxativo Azara.

    Segundo ele, toda a regio ao redor de Cerro Largo e Batovi (localidades mais prximas aos limites)

    estaria carente de povoamento, capelas e professores. A Coroa deveria tomar uma srie de medidas com o

    objetivo de povoar aqueles territrios. Azara prope doze iniciativas, entre as quais se destacam a

    distribuio de terras, a redistribuio de concesses improdutivas e uma espcie de legalizao do

    contrabando.(AZARA, 1980)

    Este cenrio era composto por um peculiar elenco: changadores, gaudrios, ndios infiis e

    contrabandistas. O povoamento proposto por Azara tinha, em certa medida, a inteno de transformar

    estes personagens. A imagem destes povos da fronteira pelos demarcadores era sempre pssima. Azara

    descreve os habitantes daqueles campos:

    ...no levam muita vantagem sobre os ndios infiis; e suas asquerosas habitaes esto

    sempre rodeadas de montes de ossos e carne podre [...] A religio corresponde a seu

    estado; e seus vcios capitais so uma inclinao natural a maltratar cavalos, rejeitar toda

    a ocupao que no se faa a cavalo e correndo, jogar os naipes, a embriagus e o

    roubo...(AZARA, 1980)

    Mesmo na caracterizao destes personagens, no deixava de ter sentido a comparao com os

    portugueses, que eram, segundo Azara, notoriamente mais asseados e econmicos. Azara no o nico

    a avaliar deste modo a populao da campanha. Tambm Concolorcorvo fez sua observaes e

    comentrios sobre os gaudrios Segundo o autor, eram rapazes que viviam em um modo muito

    selvagem, com freqentes incurses ao campo para capturar bois e vacas, ficando a maior parte do tempo

    em ocupaes pouco recomendveis. A banda oriental, todavia, possua uma diversidade econmica

    muito maior. Mantinha uma vasta produo pecuria e tritcola, alm de ser uma rea de forte presena deimigrantes, fossem os Canrios, vindos das ilhas, famlias de Buenos Aires e, em grande medida por

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    sujeitos vindos de Corrientes, Paraguay, Santiago del Estero e Crdoba, reas de onde havia constantes

    fugas populacionais em busca de trabalho.(GELMAN, 1990)(FARBERMAN, 1998)(APOLANT, 1966)

    Certamente uma das maiores produes era de couros, o que foi percebido por Concolorcorvo em 1773:

    El principal rengln de que sacan dinero los hacendados es el de los cueros de toros,

    novillos y vacas [...] Por el nmero de cueros que se embarcan para Espaa no se pueden

    inferir las grandes matanzas que se hacen en Montevideo y sus contornos, y en las

    cercanas de Buenos Aires, porque se debe entrar en cuenta las grandes porciones que

    ocultamente salen para Portugal y la multitud que se gasta en el

    pas.(CONCOLORCORVO, 1942: 31)

    A pena de Cabrer tambm deu conta deste cenrio. As referncias so muito esparsas, no chegando este

    autor a compor um cenrio to complexo quanto o de Azara. Cabrer fazia apontamentos de acordo com a

    ocorrncia de problemas ou com a passagem por locais onde teriam ocorrido eventos relacionados ao

    contrabando e ao trabalho dos changadores. Ainda assim, sua leitura tambm negativa. Eles seriam os

    responsveis pelo deteriorao dos frutos do campo: pues penas se anda una legua de terreno, sin

    encontrar recientes despojos y evidentes bestijios de las crecidas faenas que han permanecido por mucho

    tiempo en este trato. Objeto es este, a la verdad, digno de toda la atencion del gobierno . (CABRER,

    1801: 200)

    Outro grupo que recebeu especial ateno de Cabrer foi o dos indgenas minuano. Segundo Cabrer, estes

    ndios sin haber querido recibir ls luz de la f [...] habiendo agregado ellos algunos delinquentes ,

    facinerosos, gente toda de casta, y perversa, los corrompieron....(CABRER, 1801: 365)O demarcador

    estimava que havia seis aldeias (tolderias), cada uma com seu cacique, tendo, alm destes, um maioral,

    que na poca era Miguel Ayala Carai. Vivendo sem religio alguma, os minuano permaneciam

    sepultados en una torpe aragoneria y grosera ociosidad. Toda su gloria es la vida libre, y errante, y su

    mayor diversion la embriagues. Son muy dados la lujuria, y entre ellos es muy corriente la poligamia.

    Cabrer no deixa de associar os minuano aos problemas daquelas regies. Para ele, havia estreita

    relao entre os changadores e estes indgenas.

    H relatos de negcios entre portugueses e minuano desde o incio do sculo XVIII. Este grupo indgena

    ocupava terras entre o Chui e o rio Uruguai. Com o avanar dos ibricos, acabaram se concentrando junto

    desembocadura do rio Ibicui, um afluente do Rio Uruguai. Os portugueses da Laguna, em especial o

    grupo familiar de Brito Peixoto j mantinham fortes relacionamentos com os minuano, durante os anos

    1720.(BORGES FORTES, 1941) Estes relacionamentos provavelmente se mantiveram dentro da famlia,

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    principalmente na ramificao Pinto Bandeira. Entre a dcada de 1760 e a de 1780, a famlia Pinto

    Bandeira teve acesso privilegiado no contato com estes indgenas, que eram ativos agentes na negociao

    de gados e artefatos derivados da animlia. Mais do que qualquer outro ramo derivado da famlia Brito

    Peixoto, os Pinto Bandeira souberam muito bem como reproduzir e capitalizar os laos criados com este

    grupo autctone.(GIL, 2003)

    Estes relacionamentos foram substantivos para o acesso dos portugueses a esfera de economia praticada

    pelos minuano. Esta esfera estava basicamente ancorada na preia do gado. Desde que comearam a se

    formar grandes manadas de gado selvagem em seus territrios, os minuano passaram a realizar

    procedimentos de caa e coleta destes mamferos, desenvolvendo tcnicas bastante refinadas. O uso do

    cavalo, animal extico na Amrica, foi rapidamente adotado pelos minuano.(SALDANHA, 1929)

    Boa parte das presas dos minuano, no era, contudo, fruto de caa a animais selvagens. Com o aumento

    das povoaes espanholas no rio da Prata e com o estabelecimento de grandes criaes de animais, os

    minuano passaram a valer-se destas reservas, segundo nos falam as continuas queixas dos estancieiros

    espanhis durante todo o sculo XVIII.(Real Cdula... APUD: CONI, 1942: 97) Tambm o demarcador

    Oyarvide reparou nestas atividades. Segundo ele, a dizimao dos gados na Banda Oriental se dava ...por

    las correras que hacen en ellos los dicho Minuano y changadores incesantemente para conducirlos

    hacia la parte de Portugal...(OYARVIDE, 1866) Neste sentido, o demarcador aponta no apenas a

    atividade, mas igualmente o envolvimento de grupos de mestios, espanhis e indgenas, articulados em

    uma atividade produtiva bastante organizada, j que tinha, no mnimo, um comprador certo.

    Ainda que houvesse esta grande disseminao de relacionamentos tnicos, no h dvida que o grupo

    indgena minuano garantiu uma certa identidade, pelo menos at o final do sculo XVIII, quando o

    astrnomo de Sua Majestade, Jos de Saldanha, topou com eles numa das expedies de demarcao dos

    limites.

    Foi numa quarta-feira, 14 de maro de 1787. Neste dia os minuano visitaram o acampamento dos

    demarcadores, que estava prximo a suas terras. Saldanha dedicou vrias pginas de seu dirio para falar

    dos visitantes, demonstrando grande erudio ao faz-lo. Partia de pressupostos de Lineu para tentar

    entender os indgenas e descrev-los da melhor maneira possvel. De toda a narrativa, extramos algumas

    informaes que podem contribuir para entender a participao minuano nos negcios de gado que

    estamos observando.

    Segundo Saldanha, havia entre os minuano grande consumo de tabaco em rolo e aguardente. Tais

    produtos eram obtidos junto aos colonos portugueses, que faziam numerosos negcios nas imediaes.

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    Em troca, os Minuano ofereciam animais e produtos artesanais, ainda que preferissem ser regalados com

    o que precisavam...

    ...em necessidade fazem as suas viagens, a algumas das Povoaes meridionais de

    Misses, ou Guarda de So Martinho, ou finalmente s Estncias Portuguesas, e

    Fronteira do Rio Pardo conduzindo alguns cavalos dos apanhados no campo pares de

    Bolas e Caiapis novos para trocarem por erva mate, panos de algodo facas flamengas,

    tabaco de fumo, aguardente ou alguns freios.(SALDANHA, 1929: 235)

    O astrnomo ressalta a vinculao dos minuano aos portugueses. De fato podemos perceber que as

    relaes travadas por estes indgenas privilegiavam os conquistadores lusos. Isso significou, em vrios

    momentos, um rompimento declarado com os espanhis, dando margem para inmeros conflitos blicos.

    O prprio Saldanha, em uma observao que distoa bastante de Cabrer, comentou:

    Vivem os minuano em um estado propriamente Livre, entre os Espanhis e Portugueses

    [...] Contudo ou pelas ddivas que com mais franqueza encontram nos Portugueses, ou

    por outra qualquer causa pende mais a sua inclinao para esta Nao.

    Saldanha percebia com perspiccia quais eram os motivos desta inclinao dos minuano. A prtica do

    dom e contra-dom era familiar ao cotidiano tanto dos portugueses quanto dos minuano. Havia, alm disso,

    um profundo interesse entre os maiorais de ambas as sociedades de guardar vnculos mais efetivos entre

    dois grupos. Exemplo disso foi o casamento de Rafael Pinto Bandeira com a filha do cacique Miguel

    Carai, Brbara Vitria, em 1761.(SILVA, 1999) Estes relacionamentos se mantiveram e ganharam fora

    durante os conflitos entre lusos e espanhis na dcada de 1770.(RMAPRGS: 115, 124, 175)

    A guerra serviu no apenas para fortalecer aqueles laos existentes, mas para fazer girar, com fora,aquela economia baseada na preia do gado e na sua sada pelo lado portugus. Esta atividade predatria,

    que muitas vezes tinha por alvo estncias espanholas, era estimulada pelas autoridades lusas. Em carta a

    Rafael Pinto Bandeira (que sempre agia na mediao com os minuano) o general luso Joo Henrique de

    Bhm afirmava a aceitao dos minuano sob a obedincia do rei, esperando que fizessem todo tipo de

    hostilidade e runa aos inimigos espanhis. Bhm ainda avisava que ...se lhes comprar tudo o que

    trouxerem pelo seu justo preo, afim de os ter contentes e satisfeitos por todo o modo .(RMAPRGS: 177)

    Tal poltica lusa teve sucesso. Em maio de 1785 um cacique espanhol escrevia para Rafael Pinto Bandeira

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    informando de sua inteno de passar suas famlias e animais para os domnios portugueses.(RMAPRGS:

    497)

    Dizia o cacique Dom Bartolomeu que os espanhis os tinham convidado para se chegar a Montevideo,

    e que lhes dariam tudo que desejassem. Todavia, havia escrito aos lusos pois no queriam saber dos

    espanhis, e queriam ser sditos do Rei portugus. Ao saber disso, o Vice-rei interrogou a Rafael Pinto

    Bandeira que checasse quantos e quais eram os gados que trariam os minuano, e quantas pessoas viriam

    como sditos. Rafael consultou a seu sogro, o tambm cacique Dom Miguel, que lhe informou sobre o

    ocorrido: ...respondeu sumrio o cacique Dom Miguel, dizendo que o cacique Dom Bartolo, que

    solicitou a passagem, tinha sido destroado presentemente pelos espanhis e vendo-se sem gente, fora

    incorporar-se a outros caciques em Japej: que ele Dom Miguel ia tambm ter com aqueles

    caciques...(RMAPRGS: 499)Tanto os minuano como portugueses perceberam formas convenientes de

    ao que decorreriam da manuteno destas relaes.

    Andr de Oyarvide tambm fez uma interessante apreciao daquele cenrio: ao chegar nas proximidades

    do Rio Cebollat (nordeste do atual Uruguay), o demarcador apontou que naquelas terras havia muitos

    changadores, nombre que dan a las gentes que se emplean en estas faenas de matanza de reses [...]

    hacen sus cueros y tratan con los Portugueses del Rio Grande, que se los compran a cambio de bebidas,

    tabaco negro y algunas ropas..(OYARVIDE, 1866: 1) Adiante no texto, o autor explica que os ditos

    changadores levavam os couros em cargueiros at o rio Cebollat, seguindo em canoas at o rio Grande.

    Talvez este fosse o caminho que fazia o espanhol Pepe(ARQUIVO NACIONAL, Cdice 104, vol. 09:

    327v), citado por muitas testemunhas em duas devassas instauradas no Rio Grande de So Pedro, uma em

    1784 e outra em 1787.

    Pepe devia ser muito popular entre os portugueses. Fora citado como notrio contrabandista em 1784.

    Trs anos depois, fora novamente apontado por sete dos vinte e um depoentes de uma devassa. Em 1784,

    a testemunha Joo Coutinho de Amorim(ARQUIVO NACIONAL, Cdice 104, vol. 06: 140) disse que

    Pepe havia trazido uma carga de couros em uma grande canoa, pela Lagoa Mirim, at a vila de RioGrande. Seu depoimento envolvia ainda dois negociantes da vila do Rio Grande, Domingos Rodrigues e

    Manuel Rodrigues Lima, sobre os quais pouco sabemos. Pepe teria alugado a canoa para fazer

    contrabando que fora apreendido pelo depoente. Ainda assim, algum tempo depois Pepe agira novamente.

    Desta vez levava a carga de quatorze rolos de tabaco de fumo e alguma poro de biscoitoem uma

    canoa de quatro remos, que fora igualmente apreendida, desta vez no Sangradouro da Lagoa Mirim.

    Na devassa de 1787, Pepe foi melhor apresentado. Sabemos algo sobre o que Pepe levava, e como. Mas

    com quem negociava? Nicolau Cosme dos Reis, negociante da vila do Rio Grande, nos d algumas pistas:

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    ... sabe por lhe dizer o espanhol Pepe que o coronel Rafael Pinto Bandeira lhe tinha

    vendido uma canoa mas que no sabe por que preo nem se o ajuste foi feito para ser

    paga a dinheiro, ou em couros, e que sabe que o dito espanhol Pepe conduzia

    publicamente para esta vila couros da campanha embarcados em canoas.(ARQUIVONACIONAL, Cdice 104, vol. 09: 337v)

    Tal espanhol mantinha negcios com o coronel Rafael Pinto Bandeira, que ao tempo da devassa j havia

    ocupado o cargo de governador interino e era comandante da Cavalaria Ligeira. Interessante notar que

    fora o prprio Pepe que contara o negcio que fizera ao negociante Nicolau Cosme dos Reis, ainda que

    no falasse sobre o pagamento. Na denncia que originou a devassa, Manuel Jos de Alencastre dizia que

    Rafael teria vendido a canoa a Pepe em troca de quinhentos couros.(ARQUIVO NACIONAL, Cdice104, vol. 09: 310) Uma testemunha, Jos Vieira da Cunha, confirmou a forma de pagamento, ainda que

    no soubesse o nmero exato de couros.(ARQUIVO NACIONAL, Cdice 104, vol. 09: 336)

    Saindo das proximidades do rio Cebollat, Oyarvide tomou o caminho de Santa Tecla, na direo

    noroeste. Ali tambm encontro os changadores, assim como ndios minuano, que faziam correras

    para obteno de gados, ...para conducirlos hacia la parte de Portugal....(OYARVIDE, 1866) Neste

    sentido, Oyarvide distingue toda uma rea que seria de ao de lusos e castelhanos, e que envolvia a

    especial ao de contrabandistas, de gente que fazia do trato ilcito seu principal meio de vida. Certamente

    o demarcador no fora o nico a reparar nestes sujeitos. Em 1785, o vice-reino do Prata procedia contra

    varios reos changadores, por crimes contra a propriedade. Este homens haviam roubado couros, com o

    agravante de que los introducan en Brasil(AGN, LEG.28, EXPTE 21).

    Oyarvide no ficou apenas nos territrios espanhis que ajudara a demarcar. Andou tambm nas

    proximidades da Lagoa Mirim, onde, frente estncia do coronel Rafael Pinto Bandeira, fez uma

    interessante observao. Os cavalos do coronel possuam ...la marca de los vecinos espaoles de

    Corrientes, Santa Fe y Montevideo.(OYARVIDE, 1866: 186) Isso poderia muito bem ser uma calunia de

    um militar espanhol contra um oficial portugus. Mas, considerando as referncias que temos dos

    negcios de Rafael Pinto Bandeira, podemos afirmar que Oyarvide no estava inventando, nem mesmo

    exagerando. Afora os relacionamentos com os minuano e os j mencionados negcios com o espanhol

    Pepe, Rafael Pinto Bandeira mantinha uma rotina de tratos com os sditos espanhis.

    Seguindo os rastros de uns contrabandistas, o furriel de Drages Antonio Pinto da Fontoura andou

    prximo a uma das propriedades de Rafael Pinto Bandeira, quando se topou com um espanhol que dalisaia. Ao v-lo, o dito furriel lhe interrogou sobre o que fazia por ali. Ao que o espanhol ...lhe respondera

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    que viera buscar alguns vveres para o acampamento espanhol que ento se achava no Arroio das

    Pedras....(ARQUIVO NACIONAL, Cdice 104, vol. 09: 338V) Este mesmo espanhol teria dito ao

    furriel:

    ...que naquela mesma ocasio saia outro espanhol por nome D. Pedro, o qual levava

    alguns escravos pertencentes ao dito coronel Rafael Pinto Bandeira, mas que no sabia se

    o dito espanhol D. Pedro os havia comprado ao dito coronel Bandeira ou se os levava por

    conta do mesmo coronel... (ARQUIVO NACIONAL, Cdice 104, vol. 09: 338V)

    Este relato nos evidencia as articulaes que Rafael Pinto Bandeira mantinha junto a grupos da banda

    oriental, possivelmente os changadores. provvel inclusive que o referido D. Pedro se tratasse de

    Pedro Ansnategui, tambm conhecido como Don Pedrito, citado como um dos maiores changadores

    da Banda Oriental, em 1790.(Informe de Don Manuel Cipriano de Melo... IN: CALVO, 1866: 267)

    Da devassa de 1787 mais dois testemunhos confirmam estas relaes de Rafael. Antonio Jos de Feij

    declarou que ele mesmo tinha visto, por vrias vezes, o ingresso de animais da campanha espanhola na

    Estncia do Pavo, de propriedade de Rafael Pinto Bandeira.(ARQUIVO NACIONAL, Cdice 104, vol.

    09: 334v) A mesma testemunha dizia que um soldado desertor, de nome Francisco Pinto, freqentava a

    casa do coronel Rafael Pinto Bandeira, indo e vindo dos domnios espanhis. Na mesma devassa Jos

    Antunes da Porcincula confirma este fato, dizendo ainda que o dito desertor levava cartas de espanhis

    para os portugueses, ainda que no soubesse para quem eram dirigidas.(ARQUIVO NACIONAL, Cdice

    104, vol. 09: 331v)

    Rafael no obtinha o que queria apenas por meios pacficos, ainda que ilcitos. Enquanto duraram os

    conflitos, especialmente entre 1773 e 1776, quando Rafael era comandante das tropas portuguesas na

    guerra aos espanhis, foram feitas sobre sua ordem muitas arreadas e saques s povoaes espanholas.

    Tais fatos foram narrados por vrios participantes destas aes violentas, que obtinham centenas, quandono milhares de cabeas de gado vacum, muar e cavalar. Destas aes, uma, comandada por Bernardo

    Antunes Maciel, cabo de cavalaria ligeira, teve especial destaque. Segundo Oyarvide, Bernardo era

    conhecido pelos espanhis com Bernardillo, e fora lder de um grupo de pees, sendo depois contratado

    pelos portugueses como vaqueano, chegando a cavalaria ligeira, onde atingira o posto de

    Tenente.(OYARVIDE, 1866: 341)

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    A REFLEXO DOS DEMARCADORES SOBRE O CONTRABANDO: AZARA, CABRER E OYARVIDE

    Boa parte dos demarcadores construiu um cenrio catastrfico para descrever os limites prximos

    Lagoa Mirim. Vimos que Azara e Oyarvide carregaram nas tintas, enquanto Cabrer e Saldanha (este

    ltimo ainda mais) atenuam um tanto esta viso. Para alm destas leituras crticas do espao, os textos

    destes dirios esto carregados de alternativas e idias para a soluo dos problemas apresentados. Como

    j afirmamos, a construo deste cenrio dramtico era pano de fundo justamente para a apresentao

    destas idias. Na obra de Azara isso muito claro: em contraponto ao caos campestre instaura-se a Vila

    de Batovi, como paradigma de uma nova sociedade rural naquelas terras. A urbanidade, conceito

    apresentado por Cabrer e Alvear, deveria atingir aquelas gentes, que viviam na maior ociosidade e sem

    religio.

    Por trs destas idias h uma noo de progresso, mas profundamente ligada aos valores aristocrticos ecatlicos. Quando Azara elabora um elenco de propostas para fazer o arreglo dos campos de

    Montevideo, o primeiro tem da lista dar liberdade e terra aos ndios cristos. Mais do que a

    preocupao com o crescimento da agricultura, h a necessidade de promover a f. Ainda que vivesse o

    iluminismo, Azara no era nada anti-clerical. Uma de suas principais queixas a falta de capelas nesta

    regio. A nova proposta de Azara era exigir que os habitantes edificassem, a cada 16 ou 20 lguas, uma

    igreja no estilo da de Batovi. (AZARA, 1980: 68) Este arreglo dos campos passaria tambm pela

    expulso dos minuanos e charruas, os primeiros, especialmente descritos e avaliados pelos demarcadores.Azara propunha o uso da fora para concretizar tal tarefa.

    Dentro deste plano tambm havia lugar para o contrabando. Absolutamente pragmtico, Azara entendia o

    comrcio ilcito como um mal inevitvel que deveria ser aceito e organizado pela Coroa. A oitava

    proposta feita pelo demarcador era admitir em toda parte os portugueses que venham voluntariamente.

    O contato com os portugueses seria bom por vrias razes. Uma delas seria a decncia: Seria um meio

    de introduzir a decncia, admitir muitos portugueses, que so notoriamente mais asseados e econmicos,

    porque seu exemplo seria muito proveitoso. Por outro lado, o comrcio, propriamente dito, tambm seria

    favorvel aos espanhis e ao desenvolvimento daquelas paragens:

    No que diz respeito introduo, eu no permitiria outra que a de escravos e moedas.

    Poder-se-ia pensar que minhas idias fomentariam o contrabando; mas digo: que um

    mal inevitvel; que nunca se impedir, vista da facilidade e do escndalo que h hoje

    nestes desertos; que no tenho por impossvel que no se incline a balana em muito a

    nosso favor... (AZARA, 1980: 69)

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    A idia era justamente legalizar o comrcio ilcito com vistas cobrana de impostos. Mas no era s

    isso: os negcios seriam ampliados e a regio norte da Banda Oriental seria mais povoada e o deserto

    daria lugar a uma fronteira segura: Estabelecidas as coisas de acordo com estes princpios, creio que

    veramos em breve assegurada nossa fronteira sem necessidade de tropa, suprimidos os roubos e

    restabelecidos os gados. Eram medidas sanitrias para a Banda Oriental.(AZARA, 1980: 70)

    Oyarvide, de forma semelhante a Azara, manifestava um grande estranhamento com aqueles habitantes.

    Durante toda a narrativa, percebe-se um profundo desprezo do demarcador pelos changadores. Para

    Oyarvide, estes sujeitos eram criminosos no apenas pelas atrocidades que cometiam freqentemente,

    como assassinatos e desordens. Eles estariam dizimando os depsitos de gado espanhis e os passando

    aos portugueses de modo muito prejudicial aos interesses de Sua Majestade Catlica. Ainda que concorde

    com o diagnstico de Azara, Oyarvide no prope sadas para superara aquele estado de barbrie.

    Sobre o mesmo problema, Cabrer se manifestou de forma dbia. Aos realizar uma minuciosa descrio

    das atividades contrabandistas, o demarcador acaba sugerindo, em distintas passagens do texto, uma

    alternativa semelhante de Azara, por um lado, e a represso violenta aos contrabandistas, por outro.

    Aps citar algumas ocorrncias de contrabando, de todo lo qual no faltaran evidencias en el curso de

    este Diario, e lembrar que os contrabandistas eram gente demasiado vigilante sobre sus empresas,

    Cabrer afirma a importncia da legalizao daquele comrcio, do qual cada nacion sacaria susbentajas. Nota-se aqui um pensamento semelhante ao de Azara. A concluso de Cabrer aproxima ainda

    mais os dois sbios: Estas providencias no parece daaria al comercio nacional pues este muy poco o

    anda se ocupa de estos efectos del pais. Entretanto, ele no chega a assumir plenamente estas posies.

    Aos apresent-las, afirma que algumas pessoas dicen semelhantes coisas, sem afirmar se concorda ou

    no com elas.Era o espao da ambigidade na vida de um oficial...(CABRER, 1801: 138)

    Por outro lado, Cabrer fazia propostas que seguiam fielmente um dos artigos dos Tratados de limites que

    previa o extermnio total dos contrabandos.

    Los portugueses frecuentan [...] los dominios de Nuestro Soberano [...] Fomentan el

    contrabando, introduciendo conciderables cantidades de tabaco negro o de humo y otros

    generos prohibidos y destrozando el ganado de la sierra con sus continuas correrias y

    matanzas para las grandes faenas de cueros, sebo, graxa que conducen el Rio Grande de

    San pedro. La propria esperiencia nos h confirmado repetidas veses de esta verdad en

    esta expedicion pues ni aun por el tiempo que duraba se abitubieron de este

    desorden.Combendria pues, asi para evitarlo, como tambien para impedir las

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    grandes usurpaciones de ganado mayor que hacen por tierra, restablecer el Fuerte

    de San Gonzalo... (CABRER, 1801: 242)

    Esta aparente ambigidade pode ser fruto da situao de Cabrer dentro da partida demarcatria. Seu

    posto de engenheiro, ainda que tivesse destaque frente aos demais, estava longe de ser o melhor, como o

    eram Azara e Alvear. Todavia, a posio deste ltimo, no dirio da expedio, era muito semelhante de

    Cabrer, quando este fala na abertura do comrcio com os portugueses. Todavia, mesmo Alvear toma

    cuidado, afirmando que estas idias no so exatamente suas: No falta an quien intente persuadir, que

    desde aquella feliz poca del comercio libre sera muy conveniente a nuestras Amricas, ajustar un

    tratado de comercio con los portugueses en toda la Costa del Brasil, aunque fuese con ciertas

    restricciones... (ALVEAR, 1837: 383) Azara foi o nico a bancar propostas alternativas ao mero

    policiamento, ainda que estas fossem idias de ampla circulao, como nos sugerem os dirios de Cabrer

    e Alvear.

    Percebe-se que, mesmo quando as propostas incluam a legalizao de laos com os portugueses, a tnica

    ainda era a rivalidade. Quando Azara faz suas propostas, sugere a criao de milcias, a exemplo do que

    faziam os portugueses, e conclui: ...seria vergonhoso dizer que no podemos fazer o que eles

    fazem...(AZARA, 1980: 67)

    Enquanto os espanhis manifestavam uma diversidade de vises, os portugueses eram unnimes em seusilncio. Mesmo Saldanha, to prolixo quando fala dos minuano, silencia quase que totalmente sobre o

    contrabando. O demarcador luso fala em apenas um momento sobre este assunto. Ao discorrer sobre uns

    acidentes geogrficos, comenta de alguns informantes que teve para conhec-los, acrescentando: Nunca

    faltam no mundo criminosos, ou desejosos de contrabando, homens de rstica criao, que facilmente se

    aproveitam destes esconderijos da Natureza., (SALDANHA, 1929: 273) comentrio feito em uma nota

    de rodap O resto silncio, provavelmente relacionado aos vnculos mantidos pelos demarcadores

    portugueses logo de sua chegada. Sua integrao foi to rpida e forte que logo estavam, eles tambm, dealgum modo associados com um grande grupo de contrabandistas que havia naquelas regies.(GIL, 2003)

    O conflito entre ibricos parece ter sido o principal norteador do pensamento dos demarcadores, o qual se

    desenvolvia paralelamente a ambigidade entre o observador crtico e o oficial devotado. Azara foi o

    nico que conseguiu fugir desta dicotomia, apresentando sadas que tinham como objetivo ltimo a

    fortificao do Imprio Espanhol naqueles territrios. Ao mesmo tempo, percebemos que algumas noes

    como urbanidad estavam presentes no pensamento daqueles sbios, o que orientava no apenas a sua

    avaliao da realidade e a feio de propostas para ela, mas seu comportamento diante de seus pares.

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    Essas manifestaes so mais prprias dos espanhis, j que pouco sabemos dos portugueses, dada a

    pouca prolixidade destes. A noo de urbanidade, contudo, parece ser comum, pensando na forma como

    Saldanha entende e explica os prprios minuano. Alm disso, devemos lembrar da iniciativa lusa na troca

    de visitas quando as comitivas ibricas estavam acampadas nas proximidades da Lagoa Mirim. Era um

    cdigo comum.

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    FONTES PRIMRIAS:

    Dirios de Demarcadores

    OYARVIDE, Andrs de. Diario de demarcacin. IN: CALVO, Carlos. Recueil Historique Complet destraits. Paris, 1866.

    SALDANHA, Jos de. Dirio Resumido, e Histrico ou Relao Geogrfica das Marchas eObservaes Astronmicas, com Algumas Notas sobre a Histria Natural, do Pas. IN: Anais da

    Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Vol. LI. Rio de Janeiro: Ministrio da Educao e Sade Servio Grfico, 1938.

    AZARA, Flix de. Memria Rural do Rio da Prata. IN: FREITAS, Dcio. O Capitalismo Pastoril. PortoAlegre: EST - SLB, 1980. (traduo de Dcio Freitas).

    CABRER, Jos Maria. Diario de la Segunda Subdivicion de Limites Espaola. 1801. Arquivo Histricodo Itamaraty. Rio de Janeiro.

    ROSCIO, Francisco Joo. Compndio Noticioso. IN: FREITAS, Dcio. O Capitalismo Pastoril. PortoAlegre: EST - SLB, 1980.

    ALVEAR, Diego de. Diario de la segunda divisin de lmites, al mando de don Diego de Alvear, tenientede navo de la Real Armada. Buenos Aires: Imprenta del Estado, 1837.

    OUTRAS FONTES:

    Autos principaes do conselho de guerra a que foi submettido o coronel Rafael Pinto Bandeira. IN: Revista

    do Museu e Archivo Pblico do Rio Grande do Sul.N 23. MAPRGS/Livraria do Globo, 1930

    CONCOLORCORVO. (Don Calixto Bustamante Carlos) El Lazarillo de Ciegos Caminantes. DesdeBuenos Aires hasta Lima 1773. Buenos Aires: Ediciones Solar, 1942.

    Informe de Don Manuel Cipriano Melo sobre la otra banda, lmites, fuertes y guardias. Buenos Aires, 16de julio de 1790. IN: CALVO, Carlos. Recueil Historique Complet des traits.Paris, 1866.

    ARQUIVO NACIONAL: Secretaria de Estado do Brasil. Correspondncia do Vice-rei com o Rio Grande

    de So Pedro. Cdice 104. Vol.s. 1-15.

    Archivo General de L Nacin. Argentina: Legajo. 28. Expte. 21.

    Mapa do Terreno ocupado pelos Portugueses. IN: MINISTERIO DE EDUCACIN, CULTURA Y

    DEPORTE ESPAA. Las Relaciones Luso Espaolas en Brasil durante los siglos XVI al XVIII. 2001.

  • 7/25/2019 Tiago Gil Sobre o Comrcio Ilcito Na Fronteria Sul Do Brasil

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    APOLANT, J. A. Padrones Olvidados de Montevideo del siglo XVIII. v. I y II. Separata del Boletn

    Histrico del Estado Mayor del Ejercito, no104-105 y no106-107. Montevideo: Imprenta Letras, 1966.

    BIBLIOGRAFIA:

    BARRETO, Abeillard. Bibliografia Sul-riograndense.Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1976.

    CESAR, Guilhermino. O contrabando no sul do Brasil.Caxias do Sul: UCS, 1978.

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