thompson, john b. - ideologia e cultura moderna

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SinopseLuiz Felipe Pondé: Um homem politicamente incorreto.“O Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”, de Luiz Felipe Pondé, e o terceiro da coleção Politicamente Incorreto. Nele, Pondé, com a ironia costumeira, desbrava a história do politicamente correto, através do pensamento de grandes filósofos, como Nietzsche, Darwin, o escritor Nelson Rodrigues, entre outros. “Para os defensores do politicamente correto, tudo é justificado dizendo que você é pobre, gay, negro, índio, ou seja, algumas das vítimas sociais do mundo contemporâneo. Não se trata de dizer que não há sofrimento na história de tais grupos, mas sim dos exageros do politicamente correto em querer fazer deles os proprietários do monopólio do sofrimento e da capacidade de salvar o mundo. O mundo não tem salvação”. Dividido por temas, a obra se baseia em conceitos defendidos por grandes filósofos do mundo inteiro para abordar assuntos como capitalismo, religião, mulheres, instintos humanos, preconceito, felicidade e covardia. Se até o aeroporto se tornou um churrasco na laje, o futuro mais otimista para o mundo é ser brega. “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” não é um livro sobre a história da filosofia, mas sim um ensaio sobre a filosofia do cotidiano. Luiz Felipe Pondé, o pecador irônico, confessa uma mentira moral e universal na sociedade: o politicamente correto. Porque no fundo, você sabe que também achou graça na piada do seu amigo.

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    Ficha Tcnica

    Copyright Luiz Felipe Pond, 2012

    Diretor editorial Pascoal SotoEditora Tain Bispo

    Coordenao de produo Carochinha EditorialPreparao de textos Dbora Tamayose Lopes

    Reviso de provas Bruna Lasevicius Carreira e Ceclia Madars

    ndice Bruna Lasevicius Carreira e Aline InforsatoCapa e projeto grfico Ana Carolina Mesquita

    Ilustraes de capa Gilmar Fraga

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Ficha catalogrfica elaborada por Oficina Mirade, RJ, Brasil.

    Pond, Luiz FelipeGuia politicamente incorreto da filosofia /

    Luiz Felipe Pond. So Paulo : Leya, 2012.232 p. : il.

    ISBN 9788580445435

    1. Ensaios brasileiros 2. Filosofia 3. IroniaI. Ttulo.

    12-02524 CDD199.81

    2012Todos os direitos desta edio reservados a

    Texto Editores Ltda.[Uma editora do Grupo Leya]

    Rua Desembargador Paulo Passalqua, 8601248-010 Pacaembu So Paulo, SP Brasil

    www.leya.com.br

    http://www.leya.com.br/http://www.leya.com.br/
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    Para minha irmMnica Pond(1957-2011)

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    No fcil definir o politicamente correto com preciso, mas fcil dereconhecer quando est presente. Ele age em mim como o som, de quandoeu era criana, da unha de um professor arranhando a lousa (quadro-negro)

    porque seu giz era muito pequeno: isso me dava arrepios na espinha. atentativa de reformar o pensamento tornando algumas coisas indizveis;tambm a obscena, para no dizer intimidadora, demonstrao de virtude

    (concebida como a adeso pblica s vises corretas, isto , progressistas)por meio de um vocabulrio purificado e de sentimentos humanos abstratos.Contradizer tais sentimentos, ou no usar tal vocabulrio, colocar-se forado grupo de homens civilizados (ou deveria eu dizer pessoas?).

    THEODORE DALRYMPLE

    Respeite a natureza, mas no h garantias de que ela o respeitar de volta.

    PROPAGANDA DA GRIFE DE ROUPA ISLANDESA 66 NORTH. REYKJAVK,ISLNDIA, 2011

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    INTRODU

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    ACONFISSO DE UM PECADOR IRNIC

    Estou voando, na classe executiva, no suportaria estar numa classe econmica, galinheiro de gente. Costumo dizer que os aeroportos e os avies, alm de todos os lugaremundo, viraram um grande churrasco na laje. O futuro do mundo ser brega. Isso um f

    apesar de ser um pecado mortal afirm-lo. Mas pecado contra o que mesmo, se a mais pverdade? Ainda no vou dizer pecado contra o que, mas pode ver neste livro, caro leidesde j, a confisso de um pecador.

    Este livro no um livro de histria da filosofia, mas sim um ensaio de filosofia do cotidimais especificamente um ensaio de ironia filosfica que dialoga com a filosofia e sua histmovido por uma inteno especfica: ser desagradvel para um tipo especfico de pessoa (espero, seja voc ou algum que voc conhece), ou, talvez, para um tipo de comportamento (espero, seja o seu ou o de um amigo inteligentinho que voc tem). Mas, afinal, que tipo

    pessoa? Esse tipo que vive numa bolha de conscincia social (nunca entendi bem o que ve

    ser conscincia social) sendo politicamente correto, ao que, s vezes, me refiro neste encomo a praga PC. Se voc uma delas, tenha em mim um fiel e devoto inimigo. Desejoextino.

    A ironia na filosofia uma prima-irm do ceticismo. Como o ceticismo, ela duvida, mdiferente dele, ela tem afeto na sua dvida nesse sentido, ela mais venenosa do que

    primo e cai sobre sua vtima de forma mais cruel: sua inteno a desmoralizao do oposquase uma humilhao com intenes filosficas, isto , ela, a ironia, visa demonstrar algverdade que o opositor esconde e que, ao vir tona, o humilha. Para a ironia filosficmentira que seu opositor esconde sempre de ordem moral, um caso de hipocrisia a

    revelado. Portanto, o problema do conhecimento, a verdade do conhecimento, digamos, paironia, est sempre tingida da cor moral. Uma mentira moral sempre uma hipocrisia.Sendo assim, este livro uma confisso de um pecador irnico.E qual essa mentira moral contra a qual peco ironicamente? O politicamente correto,

    direi j o que vem a ser de forma mais precisa, mas tenha pacincia.Eu dizia que estou voando, na classe executiva. Volto da Islndia, um pas maravilhoso. An

    de tudo porque ainda vazio. Talvez dure um pouco antes de ser devorado pela breguiceindstria do turismo. Um amigo meu costuma dizer que, no futuro, gente culta e rica no viamais porque o mundo ser como um grande bingo. Como a Islndia no fim do mundo, m

    fria (no vero a temperatura varia entre 6 e 13 graus centgrados!), quase sem lojas e com muvulces, talvez resista praga da revoluo dos bichos.

    Mas no pense mal de mim, caro leitor. No fundo, sou um pobre melanclico que achfelicidade muito barulhenta e cheia de gente. Ironizo porque sofro. Diriam os psicanalistasminha filosofia uma formao reativa, ou, no melhor dos casos, uma forma primitivadefesa infantil. Tenho medo do mundo, por isso, com a idade (hoje tenho 52 anos), tenhotornado um homem sem muita curiosidade pelos outros, porque no fundo as pessoas so montonas.

    Ao chegar Islndia, minha mulher me chamou ateno para uma propaganda colada

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    paredes do aeroporto. Tratava-se do anncio de uma grife de roupa islandesa chamada North. Na foto, havia um homem com roupas para o inverno islands, ao lado de um texto,dizia: Respeite a natureza, mas no h garantias de que ela o respeitar de volta. Tomo lema islands como inspirao para este ensaio. Alis, tambm como incio do meu dilespecfico com a baboseira verde (a teoria gaia), uma forma de romantismo para idiotas tomou conta do mundo. Voltarei a ela mais tarde.

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    O POLITICAMENTcorreto e o general Patto

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    CONTRA A COVARD

    O general Patton, do exrcitoamericano, foi um dos responsveis diretos pela derrotanazistas, alm de figura controversa e claramente anticomunista (no me interessam aqui controvrsias polticas). Nos anos 70 foi feito um filme com o ator George C. S

    representando o seu papel. Segundo o que nos conta o filme (aqui me interessa pouco se o fi biograficamente preciso ou no), num dado momento, aps uma dura batalha na Itligeneral visita a enfermaria onde soldados feridos esto internados.

    Diante de um deles, muito mal, Patton se ajoelha e coloca uma medalha. Reza e depoisalgumas palavras ao seu ouvido, visivelmente emocionado. O personagem do generaapresentado como algum que habita o mundo da moral aristocrtica guerreira da AntiguidPara ele, a enfermaria um lugar de honra, como ele mesmo diz nessa cena. Com isso, elrefere ao fato bvio de que soldados feridos na batalha so homens de honra por enfrentaremorte com coragem.

    Agora vejamos. Na mesma cena, ao sair da enfermaria, Patton v um soldado sentado nenhum ferimento aparente. Pergunta a ele o que se passou. O soldado, com a voz estremecresponde que o problema eram seus nervos. Patton fica estarrecido. Grita com o soldaesbofeteia-o, ameaa puxar o revlver do gatilho e manda que o tirem dali porque ali lugar de honra, e ele no queria ver seus homens corajosos feridos maculados pela preseele usa esta expresso, de um covarde.

    Na sequncia, o filme narra a queda de Patton, ainda que ele volte a comandar um exramericano aps o Dia D, mas sem qualquer grande reconhecimento. E, para sua mhumilhao, ele passar a ser comandado por um colega que sempre fora seu segundo oficia

    queda de Patton se d por conta do barulho que a mdia faz acerca dos maus-tratos quedemonstrara ao soldado covarde (assumo aqui, claro, o ponto de vista de Patton).O estardalhao da mdia gera no exrcito a reao que levar Patton desgraa. O filme f

    em plena era da Guerra do Vietn ecoa o sabido impacto negativo (do ponto de vista do exramericano) que a mdia e a sociedade americanas tiveram sobre o desenrolar da GuerraVietn. Ali nascia a praga PC.

    O que esse fato do filme relata o nascimento do politicamente correto. Patton politicamente incorreto ao chamar o soldado pelo seu nome, covarde, porque o exrcitsua reao como insensvel aos limites do soldado em questo e ruim para a boa imagem

    instituio. A praga PC uma mistura de covardia, informao falsa e preocupao comimagem. Combina com uma poca frouxa como a nossa.

    No filme (nele testemunhamos os primeiros sinais do processo que daria no politicamcorreto em seu embrio), vemos um dos melhores generais dos Estados Unidos prejudicado pfato de se mover dentro do espectro da tica da coragem, virtude guerreira mxima.

    politicamente correto nesse caso negar o valor da coragem em favor da sensibilidade frdo soldado. Do ponto de vista de Patton, a guerra e o exrcito so instituies que glorificahumanidade fazendo brilhar seus homens mais corajosos. Punindo-o da forma como o exrca mdia o puniram, estaramos faltando ao respeito para com os homens que morrem porque

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    fogem do medo e da morte, como o sensvel fugiu. Um exrcito de covardes, ou um exrque desculpa a covardia, seria um exrcito morto. O mesmo vale para a humanidade comotodo.

    Claro que existe a sensibilidade humana tambm, mas, ao querer transformar coisas coessas em polticas pblicas, o politicamente correto destri aquilo mesmo que quer valoriEsse um de seus grandes pecados. A sensibilidade de um soldado s pode ser medida dide sua coragem, e no sem ela. Homens sensveis tambm morrem na guerra porque fo

    corajosos, logo, o que levou aquele soldado em questo enfermaria no foi sua sensibilidmas sua covardia.

    A tica aristocrtica da coragem marca das sociedades guerreiras. Muita gente hoje emconsidera essa posio retrgrada e reacionria porque ela no levaria em conta os limitehumano. Para Patton, e o que ele representa no filme, a ideia falsa, porque na vida, vista couma guerra contnua, a falta de coragem sempre reconhecida pelos que no mentem ou agem de m-f (a guerra seria uma representao da vida, como nos mostra Tolsti em monumental Guerra e Paz). Voc no precisa estar num campo de batalha, onde brotamcorajosos e os covardes a olho nu, para saber que no cotidiano os covardes mentem mais, fodas responsabilidades, traem seus amigos e colegas, usurpam glrias que no so suas, enmesmo morta a sociedade guerreira da Antiguidade, permanece a conscincia cristalina de sabemos identificar a coragem quando ela se revela diante de nossos olhos. Por acaso vocviu um covarde? Talvez no espelho? J teve vontade de ficar de joelhos diante de algum qufato no teme aquilo que a maioria teme (seja a morte, representao mais evidente da quesseja a perda do emprego, o abandono, a tristeza)?

    Uma das coisas que os politicamente corretos mais temem a tica aristocrtica da coralevada para a vida cotidiana, porque ela desvela o que h de mais terrvel no ser human

    saber, que ele o animal mais assustado e amedrontado do mundo. Para os politicamcorretos, o correto mentir sobre isso, a fim de aliviar a agonia que temos porque sabemos somos todos no fundo covardes e dispostos a colaborar com nazistas (ou seus similares) se pns for melhor em termos de sobrevivncia. H uma profunda relao entre essa praga autoajuda, na medida em que ambas mentem sobre os verdadeiros problemas dos seres humae de nossa natureza sofrida e angustiada. Dizem eles que tudo isso culpa do machismocapitalismo, do cristianismo, dos marcianos. Outra coisa que o politicamente correto detesta

    prpria noo de aristocracia (que a filosofia, j em Plato, separou da noo de aristocrde sangue para defini-la como o governo dos mais virtuosos), porque ela afirma que

    poucos so melhores do que a maioria dos homens. A sensibilidade democrtica odeia verdade: os homens no so iguais, e os poucos melhores sempre carregaram a humanidadecostas.

    Voltaremos questo da aristocracia mais tarde, porque ela uma das melhores chaves ppensarmos o que seria uma filosofia politicamente incorreta. Mas, antes, vejamos o que , afo politicamente correto, essa praga contempornea.

    O politicamente correto um ramo do pensamento de esquerda americano. Se pensarmocontexto onde ele nasceu, veremos a ascenso social dos negros americanos no final dos a60. Fenmeno semelhante aos gays a partir dos anos 80. A semelhana apenas comprova a t

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    assim como a ascenso social dos negros nos anos 60, a ascenso social dos gays nos anogerou o que podemos chamar de mal-estar com relao ao mau tratamento dado aos gayvida social comum. Se voc encontra negros (ou gays) no mesmo restaurante em que vai jancomea a ficar feio dizer piadas desagradveis diante deles. Antes de tudo, trata-se de

    problema de educao domstica.Mas, pelo fato de ter sido um fenmeno que entrou para a agenda da nova esquerda americ

    a necessidade de melhores maneiras no convvio com os negros acabou por se transformar n

    programa poltico de criao de uma nova conscincia social mantras como esse me alergia. A diferena entre a velha esquerda e a nova esquerda que, para a velha, a classe salvaria o mundo seria o proletariado (os pobres), enquanto, para a nova, todo tipo de grude excludos: mulheres, negros, gays, aborgines, ndios, marcianos... E tambm odiferena o carter revisionista. Isto , nada de revoluo violenta, nada de destruiocapitalismo, mas sim de acomodao do status quo econmico s demandas de incluso grupos de excludos. Claro que isso implica uma acomodao de duas mos: o capitaliaprenderia que pode tambm incluir em sua festa todas as raas e sexos, e os excluaprenderiam que o capital um excelente parceiro na luta pelos direitos. No caso dos gay

    processo to evidente quanto a luz do sol. Como os gays so um grupo de grande poaquisitivo (gente sem filhos, boa formao profissional, alto consumo), fazer a ordem econmaceit-los foi muito fcil, muito mais fcil do que aos negros. Por isso, muitos chamarevoluo gay de revoluo conservadora, porque tudo que eles querem andar de mos dano shopping e ir reunio de pais e mestres na escola do filho. Mas todo mundo com Amexmo.

    O politicamente correto, assim, nesse momento, se caracterizar por ser um movimento busca moldar comportamentos, hbitos, gestos e linguagem para gerar a incluso social de

    grupos e, por tabela, combater comportamentos, hbitos, gestos e linguagem que indiquem recusa dessa incluso. Da foi um salto para virar aes afirmativas, isto , leis e poltpblicas que gerassem a realizao do processo (cotas de negros, gays, ndios nas universidae nas empresas, por exemplo). Associado a isso, a universidade comeou a produzir (senduniversidade sempre de esquerda) teorias sobre como a ideologia (estamos falandodescendentes diretos de Marx) de ricos, brancos, homens heterossexuais, ocidentais, criscriaram mentiras para colocar as vtimas (os grupos de excludos citados acima) como semenos inteligentes, capazes, honestos etc. O prximo passo foi a criao de departamentosuniversidades dedicados crtica da ideologia dos poderosos.

    Em que pese o fato de que preconceito de fato existe, e que num bom convvio devemos aceitar e respeitar, na medida do possvel, as pessoas em suas diferenas (e, portanto, notrata de reduzir a crtica praga PC ao direito de contar piadas contra negros, judeus e gs algum de m-f pensaria isso. O problema com o politicamente correto que ele acaboucriar uma agenda de mentiras intelectuais (filosficas, histricas, psicolgicas, antropolgetc.) a servio do bem, gerando censura e perseguies nas universidades e na mdia aqueles que ousam pr em dvida suas mentiras do bem. Grande parte do esprito que meste livro criticar algumas dessas mentiras ou coloc-las sob o olhar da filosofia e de algfilsofos.

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    Movidos pela ideia rousseauniana de que o mais fraco politicamente por definio memoralmente, o exrcito do politicamente correto se transformou numa grande horda de violna esfera intelectual nas ltimas dcadas, criando uma verdadeira cosmologia politicamcorreta por exemplo, dizendo que Deus na verdade uma Deusa a servio da transformado mundo no mundo que eles tm na cabea, muitas vezes inviabilizando qualquer possibilidde pensar diferente.

    Falta apenas um detalhe tcnico. No incio do sculo 20, filsofos americanos como J

    Dewey, William James e Charles Sanders Peirce, com diferenas entre eles, criaram uma escde filosofia chamada pragmatismo (pragma em grego significa ao), que afirmava quverdade de uma palavra seu uso eficaz em termos de criao de fatos no mundo. Por exemse eu comeo a relacionar (devido presso das universidades e da mdia) a expresso funegro ideia de que tenho preconceito contra negros (porque a ideologia dominante

    brancos coloca esse preconceito em mim), por isso uso negro nessa expresso como adjede um futuro ruim, um dia deixarei de usar essa expresso porque terei assimilado a crtica

    preconceito embutida na condenao politicamente correta da expresso. Se eu chamo DeuDeus porque julgo que o homem (gnero) mais parecido com Deus do que a mulher. Por que uma determinao poltica de demonizar uma expresso dever salvar o mundo, pormoldar novas conscincias crticas. A eficcia do politicamente correto estaria exatamna criao do novo fato: a proibio do uso da expresso futuro negro, seja por contamal-estar moral que ela deva causar em voc, seja pela punio da lei (como no Canquando se usam expresses como essa.

    Vemos, assim, um contexto econmico, associado a uma teoria poltica e a uma tefilosfica sobre a linguagem, criar um Leviat. O politicamente correto hoje muito amplo cofenmeno, mas sempre autoritrio na sua essncia, porque supe estar salvando o mundo.

    demais ensaios, voltarei a definies do politicamente correto vrias vezes naquilo que cadadeles desvela como filosofia contrria a ele. A escolha dos temas de cada um dos ensaios seapenas a intuio de que, atravs deles, podemos criticar filosoficamente essa pcontempornea.

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    ARISTOCRACIAos poucos melhores carregam o mundo n

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    ALGUNS POUCOS HOMENS SO MELHOREDO QUE A MAIOR

    O termo aristocracia significa,grosso modo, governo dos virtuosos. Em grego antigo, a virtude (fora), cracia governo. Mas o que significa ter aret? Se entendermos a palavrseu sentido mais pleno, aristoi aquele que fica de p por si mesmo porque tem fora inteou carter.

    Antes de tudo, a palavra significa que aristocrata um membro do grupo dos melhores de ucidade ou grupo social. O termo foi evidentemente usado para descrever sociedahierarquizadas pelo nascimento ou herana de sangue familiar, ou pelo poder econmico

    patrimonial herdado. Mas a filosofia cedo criticou esse uso, apesar de tambm reconhecer qlinhagem de nascimento, assim como a de herana patrimonial, muitas vezes pode predialgum para ter mais virtudes pela sorte de ter nascido bem. Claro que voc pode na

    pobre e melhorar, nascimento no destino, mas muito mais fcil dar certo na vida se vtiver sorte com a famlia e a classe social em que nasceu.J em Plato e Aristteles a questo dos melhores aparece de modo claro. NaRepblic

    escola deveria selecionar os melhores para cuidar da cidade, e Aristteles no seu livro tiNicmaco fala da grande alma como o homem mais virtuoso e capaz, a partir do quaoutros vivem, como se a abundncia de fora desse homem alimentasse toda a comunidadque fica claro em ambos a percepo de que alguns poucos capazes so sempre respons

    pelo mundo. A funo da educao exatamente identificar nos alunos suas diferenas e cololas a servio da sociedade. Os melhores lideram, os mdios e medocres seguem. Qualq

    professor sabe disso numa sala de aula. Uma das maiores besteiras em educao dizer todos os alunos so iguais em capacidade de produzir e receber conhecimento.A chamada tica das virtudes de Aristteles pressupe que a prtica das virtudes como to

    um instrumento musical: quanto mais se pratica, mais virtuoso se fica. A antipatia que esta fode tica ganhou depois do sculo 18 (ainda que haja uma tendncia contempornea em recupla) se deve recusa da sensibilidade democrtica em reconhecer que nem todos so capazedesenvolver um carter forte. A maioria tende covardia e fraqueza. Desculpar a faltafora de carter da maioria se transformou em fato comum numa certa filosofia revoluciondepois da politizao da tica na esteira de Rousseau e Marx ou da ideologizao de t

    como quando se culpa o capitalismo por tudo de mau no mundo. Basicamente, o mundo semfoi mau e continuar a ser, porque ele fruto do comportamento humano, que parece ter ce

    pressupostos naturais.Para os defensores do politicamente correto, tudo justificado dizendo que voc pobre,

    negro, ndio, ou seja, algumas das vtimas sociais do mundo contemporneo. No se tratadizer que no h sofrimento na histria de tais grupos, mas sim dos exageros do politicamcorreto em querer fazer deles os proprietrios do monoplio do sofrimento e da capacidadesalvar o mundo. O mundo no tem salvao.

    O aristoisofre muito mais do que o homem comum. mais solitrio, objeto de inveja e

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    entende muito mais das coisas do que a maioria mediana, enfim, est muito longe da ideia de os melhores so aproveitadores dos outros, pelo contrrio, os outros vivem graas a estegrande alma do Aristteles).

    No Renascimento, outro filsofo, Maquiavel, volta ao tema da virtude, ainda que de mdiferente. Para o filsofo de Florena, alguns homens tm virt(virtude) enquanto a maioria E o que a virt?

    Virt uma qualidade do carter de alguns homens que os faz mais fortes e capazes

    resolver problemas e enfrentar as dificuldades colocadas pelo dia a dia. Maquievidentemente pensa no lder poltico, mas podemos ampliar sua anlise para alm da polA observao do comportamento humano e da experincia histrica parece mostrar que nomaioria dos homens que tem virt, a maioria banal, como sempre. Por outro lado, o concde fortuna o segundo termo importante do par essencial no pensamento maquiavelianoseu famoso livro O Prncipe, ao lado da virt. Fortuna acaso. Para Maquiavel, e muitos oufilsofos, a realidade dominada pelo acaso, isto , no h providncia divina nenhuma gerios eventos da vida ou do mundo. Vale salientar que aqui discutimos apenas o Maquiavel d

    Prncipe.O virtuoso enfrenta melhor a fortuna, observando inclusive que muita coisa que as pess

    comuns remetem aos deuses ou ao prprio acaso pode ser enfrentada pela observadisciplina, ousadia e coragem. Maquiavel nos lembra que a fortuna representada como mulher. Por isso, como toda mulher, ela demanda coragem, ousadia e impetuosidade no tratno, medo, timidez e covardia. A proximidade entre virte competncia com a lida da vienorme. De qualquer forma, o domnio da fortuna sempre determinante, mas o virtuoso pter mais sucesso nesse enfrentamento durante algum tempo. Outra coisa que o politicamcorreto detesta numa posio como a maquiaveliana seu desprezo por qualquer forma

    idealizao do ser humano. Para o filsofo de Florena, a natureza humana, talvez devidopavor diante dos efeitos avassaladores da fortuna, sempre fraca, mentirosa, volvel, ininteresseira. Em poucas palavras, sofre de agonia por precariedade. No h, aparenteme

    possibilidade para a ideia de um cidado consciente que escapa desse determinismo caupelo terror da fortuna. Todavia, um bom prncipe (leia-se, virtuoso) pode tirar o que hmelhor do homem, na medida em que d a ele a possibilidade de uma vida menos dominada fortuna, pelo menos nos limites do convvio poltico e social. A ideia de uma aristocrcompetente dando ao homem comum uma vida menos terrvel evidente no pensamentoMaquiavel.

    J no sculo 20, uma filsofa russa exilada nos Estados Unidos, Ayn Rand, nos deu a meldescrio do que seria uma tica aristocrtica das virtudes no mundo contemporneo e burgSua monumental obra de ficoA Revolta de Atlas uma distopia. Distopias so o contrriutopias (que descrevem parasos futuros), pois descrevem futuros polticos e sociais terrvAs duas distopias mais famosas da literatura soAdmirvel Mundo Novo, de Aldous Huxle1984, de George Orwell. A distopia de Rand descreve um mundo dominado pela mentalidsocialista, coletivista e por isso mesmo preguiosa. Na minha vida j tive a (infeoportunidade de participar de vrias reunies na universidade, seja como aluno, seja co

    professor, nas quais estavam presentes muitas pessoas preocupadas com o coletivo

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    igualdade, e nunca vi tamanha concentrao de pensamento a servio de tanta estupidenulidade. Como dizia Tocqueville no sculo 19, autor do maior livro sobre democraciescrito, Democracia na Amrica, a igualdade ama a mediocridade. Rand acerta em cquando mostra uma sociedade que s fala no bem comum e na igualdade entre as pessocontra as diferenas naturais de virtudes entre elas, estas a servio do mau-caratismo

    preguia e da nulidade. Ao buscar destruir as injustias sociais, o mundo descrito por Rdestri a produtividade, fonte de toda a vida, paralisando o mundo.

    Rand conhecida por seu realismo objetivo em tica. Para ela, uma pessoa corajtrabalhadora, inteligente, ousada produz a sua volta relaes humanas (sejam elas econmi

    polticas, existenciais) concretas que so teis, abundantes, produtivas. Por exemplo, coraproduz no mundo ganhos materiais para todo mundo. Preguia e covardia produzem mismesquinhez, mentira. Isso mesmo: fora e coragem fazem as pessoas verdadeiras nas relaes, enquanto a ausncia de virtudes como essas as faz mentirosas e traioeiras. A distodescrita por Rand a melhor imagem do mundo dominado pelo politicamente correto: inv

    preguia, mentira, pobreza, destruio do pensamento, tudo regado pelo falso amor humanidade. Atlas aqui representa todos os homens e mulheres que carregam e semcarregaram o mundo nas costas e que nos ltimos 200 anos passaram a ser objeto de crtica pesquerda rousseauniana. Alguns trechos do livro podero fazer voc ter nuseas se for u

    pessoa que sofre na pele a mentira dos preguiosos amantes da igualdade. Rand afirma qmaior parte da humanidade sempre viveu s custas de uma minoria mais capaz e minteligente.

    Antes que algum leitor politicamente correto, com o mau carter que o caracteriza, tente dque isso fascismo, peo que me poupe. Nada h de fascismo em Rand, apereconhecimento do bvio: poucos carregam muitos. Isso nada tem a ver com dio de ra

    destruio das vtimas (pelo contrrio, menos vtimas de pobreza existiro se existir mgente produzindo riqueza) ou outros croquetes ideolgicos. Uma das qualidades supremasRand ter percebido ainda em meados do sculo 20 que o mundo se preparava desvalorizar aqueles mesmos graas aos quais os outros vivem, sob o papinho da jussocial. Se ela tivesse conhecido Obama, vomitaria.

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    A DEMOCRACIAsua sensibilidade e seus idiot

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    AMEDIOCRIDADE ANDA EM BANDO, EDEMOCRACIA AMA OS MEDOCRE

    A democracia um regime que vive entre dois valores essenciais: liberdade e igualdsegundo Tocqueville. E esse convvio no fcil. Entre os dois, habita o que eu chamosensibilidade democrtica, um conjunto de caractersticas que vo alm do mero debate acdas instituies democrticas, como poderes pblicos, partidos, eleies, plebiscitos etc.

    No se trata de falar mal da democracia, ela o regime poltico menos ruim. At ondespecialistas podem falar, precisamos viver em grupos para sobreviver, mas para isso fazemconcesses ao grupo em troca de alguma segurana. Nesse sentido sou hobbesiano: o homemlobo do homem, e o estado de natureza (grosso modo, a maneira pr-poltico de vida, uespcie de vida em bando do Neoltico) devia ser bem pssimo. Por isso precisamosorganizao e poder. Dentro desse quadro de ausncia de opo de vida sem Estado polti

    a democracia o menos pior porque procura institucionalizar as tenses da vida em grudistribuindo os poderes de modo menos concentrado. A tentativa de definir a democrcomo regime de direitos ridcula porque no existem direitos sem deveres, por isso a ide que piolhos ou frangos tenham direitos comea a aparecer quando separamos direitos decontrapartida anterior, os deveres. A praga PC costuma fazer essa separao por motivosmarketing poltico e ignorncia filosfica.

    Mas, independentemente de a democracia ser nossa melhor opo, h problemas nela, cComo dizia Tocqueville, a democracia tem impactos especficos nos humores, temperamenhbitos e costumes. O que chamo de sensibilidade democrtica parte desses impactos.

    Uma coisa que salta aos olhos a tentativa de chamar qualquer um que critique a democrde antidemocrtico. A sensibilidade democrtica dolorida, qualquer coisa ela grita. Masme engano com ela: esse grito nada mais do que a tentativa de impedir crticas que redua vocao tambm tirnica que a democracia tem como regime do povo. O povo semopressor, Rousseau e Marx so dois mentirosos. Mesmo na Bblia, quando os profetas de Iscriticavam os poderosos, tambm criticavam o povo, que nunca foi heri de nada. Alirisco da tirania do povo j tinha sido apontado pelo prprio Tocqueville. As duas formais evidentes de tirania so a da maioria e a do dinheiro (criador de uma aristocraciadinheiro em lugar da de sangue). Para evitar esse risco tirnico, precisamos cuidar

    mecanismos de pesos e contrapesos da democracia (suas instituies em conflito, minstncias de razo pblica, como escolas, universidades, a prpria mdia, tribunais etccombater a tendncia de reduzir a democracia a um regime da vontade popular ou um regdo povo. O povo sempre opressor. Quando aparece politicamente, para quebrar coisa

    povo adere fcil e descaradamente (como aderiu nos sculos 19 e 20) a toda formatotalitarismo. Se der comida, casa e hospital, o povo faz qualquer coisa que voc pedir. Conno povo como regulador da democracia confiar nos bons modos de um leo mesa.mentirosos e ignorantes tm orgasmos polticos com o povo.

    Mas, voltando a liberdade igualdade, principal tenso na democracia: segundo Tocquev

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    no h como evitar essa tenso porque ambas so valores de raiz da democracia. Quando vd mais espao para a liberdade, a tendncia de que a democracia acentue as diferenas eas pessoas e os grupos que nela vivem. Mas a liberdade a chave da capacidade criativempreendedora do homem. Quando voc acentua a igualdade, a democracia ganha nivelamento e perde em criatividade e gerao de abundncia para as pessoas. O politicamcorreto um caso clssico de censura liberdade de pensamento, por isso, sob ele

    pensamento pblico fica pobre e repetitivo, por isso medocre e covarde. Quando se acent

    igualdade na democracia, amplia-se a mediocridade, porque os covardes temem a liberdPor exemplo, os regimes marxistas, assim como os fascistas de direita (os marxistas sofascistas de esquerda), reduziram o pensamento e a vida das pessoas ao nvel de formigueiro. Mas a sensibilidade democrtica sofre quando se aponta a relao entre cultoigualdade e mediocridade. Essa questo toca fundo na natureza humana, que tende facilmeninrcia, a fim de garantir o cotidiano. Algo na natureza humana ama a mediocridade.

    Outra caracterstica problemtica da democracia sua vocao tagarela, como dizia o code Tocqueville. Nela, as pessoas so estimuladas a ter opinio sobre tudo, e a afirmao de todos os homens so iguais (quando a igualdade deve ser apenas perante um tribunal) lev

    pessoas mais idiotas a assumir que so capazes de opinar sobre tudo. E, como dizia nconde, Descartes (filsofo francs do sculo 17) nunca imaginou que algum levasse to a ssua ideia de que o bom senso foi dado a todos os homens em quantidades iguais o evidentemente uma mentira emprica. O resultado que, se voc pe em dvida a capacidigual entre os homens de ter opinies, a sensibilidade democrtica grita de agonia. Mehomens com diploma universitrio de engenharia, por exemplo, se julgam capazes

    pensamentos profundos sobre o mundo, revelando como a universidade, ao se tornarfenmeno de massa (como dizia o filsofo espanhol Ortega y Gasset no sculo 20), crio

    iluso de opinies banais com ares cultos. Uma coisa que nosso conde percebeu quhomem da democracia, quando quer saber algo, pergunta para a pessoa do seu lado, e o qumaioria disser, ele assume como verdade. Da que, no lugar do conhecimento, a democrcriou a opinio pblica.

    Mas talvez a pior coisa da democracia seja o fato de que ela deu aos idiotas a conscinciseu poder numrico, como dizia o sbio Nelson Rodrigues. Em suas colunas de jornai

    Nelson costumava dizer que os idiotas, maioria absoluta da humanidade, antes do adventoRevoluo Francesa, viviam suas vidas comendo, reproduzindo e babando na gravata. CoRevoluo Francesa e a democracia (que a primeira no criou exatamente porque foi muito m

    um regime de terror autoritrio), os idiotas perceberam que so em maior nmero, e de l pc todo mundo passou a ter de agrad-los, a fim de ter a possibilidade de existir (principalmintelectualmente). O nome disso marketing. Todo mundo que pensa um pouco vive com mda fora democrtica (numrica) dos idiotas. O politicamente correto uma das faces iradesses idiotas.

    O filsofo ingls Michael Oakeshott escreveu vrios textos criticando as utopias poltcriadas a partir do sculo 15. Um deles, em especial, O nascimento do homem-massademocracia representativa, dialoga com a intuio rodriguiana. Para ambos, a democrsempre d a vitria aos idiotas porque so a massa.

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    Oakeshott descreve o nascimento, ainda no Renascimento, de uma moda intelectual segua qual todos os homens seriam capazes de ser indivduos. O nascimento da noo de indivno Renascimento italiano j tinha sido apontado pelo historiador suo do Renascimento JaBurckhardt no sculo 19. O autor suo chegou mesmo a descrever em sua obra o fato de mu

    burgueses pagarem a escritores em condies financeiras ruins para escrever sobre suas vienaltecendo seus feitos. Nas palavras de Burckhardt, a inteno era criar a noo do que hchamamos de ter uma personalidade prpria e especial. Claro que h uma relao import

    entre o nascimento da noo de indivduo e o surgimento da burguesia, a classe que defineprprio destino pela competncia de cada um, e no pela mera herana de sangue. Com a rda sociedade rural feudal, quase imvel, os burgueses criam o valor da individualidcompetente e responsvel por si mesma, uma espcie de caso histrico do homem criadoseus prprios valores, como na utopia nietzschiana do super-homem. Entretanto, quase tofracassam na empreitada, porque o mundo sempre hostil individualidade, que fontevalor para si mesma.

    O argumento de Oakeshott que quase ningum indivduo de fato (isto , quase ningum uma personalidade autnoma e ativa, e di ter uma personalidade assim), por isso a regrepetir o que a maioria faz, mentindo-se sobre o fracasso da individualidade verdadeira.contrrio de Kant, no sculo 18, que sonhava com uma sociedade de homens cada vez mmaduros (a maioridade kantiana igual capacidade de tomar decises por si s, ou sautonomia), Oakeshott suspeitava que tomar decises por si mesmo era a maldio de pouco

    politicamente correto adora dizer que a democracia feita de cidados conscientes e que toso capazes de tomar decises autnomas, numa espcie de kantismo barato. Para Oakeshottum indivduo implica solido e inseguranas que a maioria das pessoas simplesmente suporta e, por isso, desiste. Mas, como a democracia faz a propaganda da autonomia

    indivduo como lastro dela mesma, acaba sendo hbito mentirmos sobre o fracasso da autonoem escala poltica. Mas, se parasse por a, menos mal. Oakeshott dir que todos os indivdfracassados odiaro os verdadeiros indivduos, caando-os pelo mundo porque eles resistemassificao necessria para a operao da democracia moderna. Ao contrrio do que se didemocracia no opera pela autonomia, mas sim pela massificao crescente das opinies, co

    j dissera Tocqueville. Aquele indivduo fracassado (indivduo manqu) rapidamentetransformar em anti-indivduo e homem-massa, comprando modelos de personalidade qumdia vende e seguindo lderes autoritrios ou populistas que afirmaro a autonomia para to

    como se a autonomia fosse uma espcie de bolsa-famlia para toda a populao. O indiv

    verdadeiro sofre a perseguio mais descarada, porque ele sim vive a dureza de ter upersonalidade ativa e por isso mesmo acaba sendo um ctico com relao s promessaautonomia para as massas. No fundo, o indivduo fracassado e o homem-massa invejamliberdade do indivduo verdadeiro porque ela lhes parece um luxo. Na realidade so primitdemais para entender a maldio que ser indivduo e a dor que ser livre sem perten

    bandos.O encontro de Tocqueville, Nelson Rodrigues e Oakeshott evidente: o idiota raivoso

    sempre com fora de bando e, na democracia de massa em que vivemos, ele sim tem o poabsoluto de destruir todos os que no se submetem a sua regra de estupidez bem adaptada.

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    O OUTR

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    S O OUTRO INSUPORTVEL IMPORT

    Est na moda dizer queo outro lindo. Mentira. Quando o outro no cria problema,h nenhum valor tico supremo em toler-lo. E, quando cria, quase sempre ningum o tolera.

    Veja, por exemplo, os eventos para dilogo inter-religioso. A discusso no pode durar m

    do que meia hora, e logo devero servir osdrinks

    e oscroquettes

    , porque mais do que mhora implicaria comear a falar a srio sobre as diferenas entre as religies (as religies querem todas a mesma coisa, isso conversa de mulherzinha). Imagine cristos e judconversando sobre suas religies. Cristos assumem que Jesus foi o Messias que os judesperavam (e tambm que Ele Deus), e, portanto, os judeus teriam perdido o bonde da histao no reconhecer Jesus como Messias. Por sua vez, os judeus pensam que os cristos pegao bonde errado ao assumir que Jesus foi o Messias. Logo, conflito. Melhor tomar drinkse cocroquettes.

    Muulmanos so lindos, ndios so lindos, a frica linda, canibais so lindos, imigra

    ilegais so lindos, enfim, todos os outros so lindos. Uma das reas mais amadas pela prdo politicamente correto a chamada tica do outro, ou seja, uma obrigao de acharmoso outro sempre legal. Outro aqui significa quase sempre outras culturas ou algo oposIgreja, Deus, heterossexual, capitalismo ou arrumar o quarto e lavar o banheiro todo dia.

    Evidente que conviver com o diferente essencial numa sociedade como a nossa, assopelos movimentos geogrficos humanos, mas da a dizer que todo outro lindo falso e, csempre acontece com o politicamente correto, desvaloriza o prprio drama da convivncia o outro.

    Existem dois filsofos muito ligados a esta causa da tica da alteridade (o que no q

    dizer que eles carregam em si a praga do politicamente correto), nome tcnico para o frissonamor a todos os outros. Um deles Martin Buber, e o outro, Emmanuel Levinas, ambossculo 20 e ambos judeus. Buber afirmava que as relaes no devem ser pautadas pelo bineu-isso, mas eu-tu. Tanto faz se o outro for uma pessoa, um animal ou a natureza. A id em si muito boa como elevao do padro tico nas relaes no mundo, claro que s vezimpossvel, porque o mundo funciona na lgica das trocas de interesses e de possibilidadeinteresses, e a natureza humana est mais para o Prncipe do Maquiavel do que para o PequPrncipe. J o Levinas, mais recente, afirmava que o rosto do outro, uma espcie de frm

    para falar de qualquer outro e todos os outros, deve pautar as relaes humanas, o que m

    prximo, resumindo a pera, da posio de Buber. Para Levinas, no devemos querer sabque as pessoas so ou para que elas servem, mas sim que so pessoas, e esse tipo de relaomodo de Deus operar, porque Deus o rosto do outro.

    Filosofias como essas sustentam o direito da existncia do outro no plano das relahumanas e acabam por ser banalizadas no papinho de que o outro sempre legal e boniti(por isso alguns filsofos profissionais consideram Levinas filsofo de mulherzinha). Esum problema que acomete as ideias abstratas e universais como esta: a realidade semmenor ou maior do que ideias e, por isso, nunca igual s ideias. Grande parte da crtica fazem filsofos como Nietzsche (sculo 19) e Plato sobre essa tendncia a descrever m

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    mundo porque o fazemos desde um ponto de vista ideal e no real. O problema da idealizado outro em nosso mundo contemporneo pior porque somos saturados de outros (pessoas vivem e pensam de modo estranho e quase sempre desagradvel para ns) em toda parte: condomnios, no metr, no nibus, no trnsito, no cinema, no aeroporto. Quando os outros elonge, do outro lado do oceano, bonitinho amar todos os outros, mas, quando eles tm cheihbitos outros, a coisa complica. A crtica bobagem de o outro ser lindo no implica a deda destruio do outro, mas sim encararmos os impasses que a convivncia com o outro

    para a filosofia e para a vida. O pecado capital da praga PC sempre dourar a plulamnimo.

    Em sociedades promscuas culturalmente, como as do capitalismo avanado, em que pesse misturam no metr e nas lojas, o outro est sempre ao seu lado e s vezes, na hora do r

    pisando no seu p ou tomando seu lugar no nibus ou a vaga no estacionamento. Mas pode fpior. Vejamos.

    Muitas pessoas gostam de dizer que as diferenas culturais so lindas, mas isso nem sempverdade. E que d para viver sempre em paz. Eu gostaria que isso fosse verdade.

    Imagine que voc mora em Londres, cidade saturada de outros. Imagine que voc seja pessoa legal e sem preconceitos. De boa vontade, inclusive. Agora imagine que voc tem filha educada nos padres bsicos ocidentais de um cristianismo relaxado e secularizado, issem muitos salamaleques religiosos, e que voc seja um crente na ordem pblica pautada liberdade de crena ou descrena. Sua filha, ento, comea a namorar um muulmano...

    precisa ser um radical extremista... Como seria?No precisa imaginar questes muito complicadas sobre escolha entre Jesus e Maom, p

    apenas na educao dos netos, nos papis masculinos e femininos, na vida profissional da filha, na relao com os ancestrais, nos calendrios religiosos...

    No sou contra casamentos interculturais, falo apenas da falsa facilidade com a qual se lediscusses como essas. Transtornos culturais se resolvem mais facilmente quando as pesenvolvidas no do muita bola para rituais e crenas especficas e aceitam a pasteurizacontempornea dessas crenas. No limite, a dissoluo de qualquer grande pertena culturaidentidade cultural marcante. Se tomar como identidade cultural esse jeito blas de ser ocidentais secularizados, voc poder ter algum conflito, mesmo que no seja um crentesistemas religiosos de fato, se tiver que dividir o futuro dos seus filhos e netos. Se for um crno respeito ao outro, como acho que devemos ser na realidade, voc provavelmdescobrir que a maioria esmagadora desses outros de que o politicamente correto fala n

    muito valor a respeitar outro algum. Esse problema tpico da cultura ocidental e de herana crist e iluminista. A maior parte do islamismo no est nem a para esse papinhorespeito ao outro.

    A marca infantil, na melhor das hipteses, do politicamente correto revela, mais uma vez,alma inconsistente.

    Vejamos o problema da frica. Um antdoto excelente ler V. S. Naipaul. A frica que brdos relatos de suas viagens a infeliz condio neoltica do continente, mesmo antesdevastao realizada pela colonizao europeia. Massacres, escravido (os africanosescravizavam seus irmos antes dos brancos e mais tarde os venderam aos rabes, qu

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    venderam aos brancos), queimar e mutilar pessoas vivas, bruxaria como ferramenta oficial negcios da vida (na Nigria, segundo o que ele relata, um homem pode perder o patrimnifor acusado de fazer um trabalho contra algum que tenha poder suficiente para provaqueixa). Em Uganda, sacrifcios de crianas so quase to comuns quanto a fome, sempre foiGabo, vive-se no Neoltico. Enfim, todo mundo sabe disso, mas a mentira politicamente cornega.

    E os muulmanos? O tema do fundamentalismo islmico uma constante no mal-e

    contemporneo das relaes entre diferentes culturas. Independentemente do fato que pesno so iguais e que evidentemente a maioria dos muulmanos vive sua vida comum e cotiddistante de intenes terroristas ou fundamentalistas (ainda que a modernizao seja mmenor no mundo islmico e, portanto, um muulmano mdio tende a ser bem mmuulmano do que um ocidental cristo mdio cristo), h uma relao histrica recentre fenmenos polticos violentos e alguns integrantes da comunidade muulminternacional. A tentativa de chamar o islamismo de religion of peace ridcula, uma vezh elementos evidentes de risco de contaminao de muitos muulmanos por grupos radicaimesma religio. bvio que a religio em si no basta para fazer algum violento, mas coseparar a cultura desses violentos do ambiente religioso em que vivem? Claro que todareligies conhecidas j tiveram ou tm elementos de violncia em sua histria, mcontemporaneamente, o islamismo tem, infelizmente, suprido a cota de terrorismo de modo mfrequente. Achar que podemos transformar terroristas muulmanos em membros do pardemocrata americano, como pensa o atual presidente dos Estados Unidos de origem muulmBarack Hussein Obama, uma piada. Basta se perguntar como, por exemplo, eles aceitariacasamento gay em seus pases.

    Outro fator importante a relao entre a religio muulmana e o Estado nesses pases.

    muitos deles voc no poderia pregar a converso de um muulmano ao cristianismo porqucrime, e o convertido seria considerado traidor. Negar fatos como esses s dificulta a reflexa informao das pessoas com relao aos problemas contemporneos.

    Como disse acima, sempre bonitinho falar do outro quando ele s existe em minha cabProporia uma estadia de alguns anos entre radicais islmicos para esses caras que acham quradicais querem se sentar e conversar civilizadamente. Inclusive as mulheres que ficam po

    posando de amantes do governo iraniano.Se pensarmos no que diz Edmund Burke (sculo 18) sobre preconceitos, veremos que e

    so mecanismos espontneos de reao moral. Nesse sentido muito difcil ve

    preconceitos. Principalmente quando se trata de pessoas que creem que sua religio deve regmundo e que quem no crer nela infiel e deve morrer.

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    ROMANTISMOe a nature

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    ROMANTISMO PARA IDIOTA

    O movimento romnticoeuropeu, cujo epicentro se deu entre o final do sculo 18 e o finasculo 19, est intimamente ligado ao tema do outro, mas o ultrapassa em densidadimportncia filosfica. Essa relao se d por conta do medo que o romntico tinha do futuro

    mundo e da sociedade do dinheiro, e por isso muita gente sonhava que os ndios, que vivemIdade da Pedra, seriam melhores do que ns, ocidentais (porque no viviam na ganncia emns vivemos). Quando voc comea a pensar que tribos que no conheciam a roda at ontcomo alguns ndios brasileiros e alguns povos africanos, podem ser nossa esperana, poacordar sendo um romntico idiota. Mas o que o politicamente correto tem a ver com romntico idiota? Vejamos.

    O filme Avatar de alguns anos atrs um exemplo ideal para entendermos o que romantismo para idiotas. No filme, a humanidade interesseira est destruindo uma civilizandios azuis, os Naavis, que vivem num planeta cujo solo tem riquezas minerais. Ao final, alg

    humanos unidos aos ndios azuis salvam a deusa natureza do planeta, expulsam os malvahumanos (representantes da usura moderna) e voltam a viver em contato com a natureza.Cenas como as que mostram conversas com rvores, bestas-feras que se unem aos bons n

    azuis contra os capitalistas malvados ou os ndios azuis de mos dadas cantando sons mgao redor de rvores emocionaram milhares de idiotas pelo mundo. Todo mundo sabe que quningum est disposto a viver como os ndios, mas comum gente boba achsuperavanados com suas tcnicas mdicas do Neoltico. Abraar rvores no resolve nmuito menos supor que poderamos voltar a viver em sociedades pr-escrita ou pr-rodamenos que mais da metade da populao mundial morresse, esses delrios no servem

    nada.Da que o justo medo da modernidade e do mundo do dinheiro pode fazer de vocretardado, como todo medo faz: corremos o risco de ficar em pnico e infantilizados. Mas o caracteriza o retardamento mental abenoado pelo politicamente correto crer que voltarmo

    Neoltico nos salvaria das contradies do desenvolvimento da tcnica, fruto de nossos prpesforos para superar nossos sofrimentos. Para a praga PC, dizer que ndios so popula

    prximas ao Neoltico um pecado capital, ainda que a maioria desses crentes apenas famor por eles.

    A relao entre o politicamente correto e a natureza revelado neste filme Avatarpara a

    apenas do tema do outro perfeito. A relao revelada tambm na sua face religiosa neopaA ideia de que a natureza seja perfeita religiosa e primitiva. Nossos ancestrais facilmcultuavam a natureza porque ela os fazia sentir pequenos, dependentes e protegidos destrudos por ela. Qualquer relao adulta com a natureza implica saber que ela gera e dese, nesse sentido, nossos ancestrais eram mais adultos do que os retardados contemporneos, cultuavam a natureza no porque viam nela uma pureza santinha, mas porque enxergavam

    poder dos deuses ancestrais: beleza e crueldade. Os idiotas romnticos de hoje em dia esqueque cncer to natural quanto os passarinhos e pensam que a natureza seja apenas

    passarinhos.

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    Esse tipo de comportamento avana sobre crenas ligadas sade e nutrio, fazendo que um dia, quem sabe, seja politicamente incorreto comermos animais. Isso no est distant

    posio de filsofos como Peter Singer e sua crtica ao especismo, termo cunhado para revnossos preconceitos contra os animais (assim como contra os negros), porque noreconhecemos como pessoas com direitos. Talvez este seja um dos tipos do politicamcorreto mais de ponta: comer animal ser um dia proibido por lei se depender deseguidores de Peter Singer. Claro que no devemos maltratar seres por simples gosto (a me

    que voc seja menino, more no mato e no tenha muito o que fazer...), mas, se fssemos coesses caras do animal liberation, no teramos sobrevivido seleo natural. E maicincia muito avana graas a testes com animais. Ser que esses caras esto dispostos a mode cncer mesmo que tenham a possibilidade de usar novas drogas? Diro que sim, mas mentirosos.

    O que se revela aqui o eterno carter retardado mental (quando no mau carter apenas) o politicamente correto aplica a este tema da natureza e dos animais: a crueldade parte esquemas de sobrevivncia dos seres vivos, e no adianta projetarmos uma viso de purmoral de ns mesmos, porque o mundo pararia de existir. O que suspeito fortemente de esses caras apenas desejam passar a imagem de bonzinhos porque no gostam de comer carn

    Salta aos olhos que muita gente se faz de bonzinho em cima do discurso politicamente cortipo save the whales. Parece-me difcil sobreviver se quisermos salvar tudo o que vive soo planeta. E o que mais espanta que justamente a tal da natureza a primeira a ser cruel, e

    parecem que no veem. Basta ver o canal Discovery para perceber que no existe a natupoliticamente correta, ela o oposto dessa praga.

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    SEXUALIDADEmulheres e homen

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    MULHER GOSTA DE DINHEIR

    Esse tema um dos preferidospela praga politicamente correta. Para eles, nem temos smas gnero. O que gnero, nesse caso?

    A teoria de gnero afirma que nossa sexualidade socialmente construda. Nada h nela

    biolgica. Assim sendo, as sociedades constroem os gneros (leia-se, os sexos) na dependdo poder das classes sociais ou dos grupos malvados da vez. Claro, ao final, quem paga o pasempre o homem heterossexual.

    Essa discusso incide diretamente sobre questes caras ao politicamente correto, desdmais gerais at as mais especficas, como o patriarcalismo, para algumas feministas o culp

    pela poluio e pelos erros do Big Bang csmico, ou o fato de que mulheres tm normalmpresso arterial mais baixa devido opresso patriarcal, e no a dados fisiolgicos conhecidos. Mesmo a gravidez deve ser culpa do patriarcalismo. Aqui vale contar um real ocorrido comigo.

    Certa feita, sentado ao lado de uma amiga um tanto feminista (infelizmente, porque ela abonitinha, e feministas, normalmente, so azedas porque so feias) antes de um debate do participaramos, vi com meus prprios olhos o quo absurdo pode ser o mau-caratismopoliticamente correto (no caso especfico da sexualidade e das diferenas entre mulherhomens).

    Minutos antes de o debate comear, ainda sentados na plateia, ela se sente mal. Mos ftontura, mal-estar. Digo a ela que v ao ambulatrio da instituio porque deve ser pre

    baixa, fato comum nas mulheres (que tm presso em mdia mais baixa do que os homsegundo todas as pesquisas mdicas conhecidas). Ela vai. Minutos depois volta se senti

    melhor, dizendo que era mesmo presso baixa e que depois de uns minutos deitada e upequena medicao melhorou.Ao iniciar o debate, ela diz ao pblico como sou machista porque supus que ela, ao se se

    mal, e por ser mulher, deveria estar com presso baixa. Independentemente do fato de euacertado o diagnstico (os sintomas eram de presso baixa), e de que a presso mais baixamulheres uma constatao cientfica (decorre de sua menor massa e metabolismo), ela insque tudo isso era mero machismo e ideologia patriarcal. Resultado: as diferenas fisiolgso tambm fruto das construes sociais para as fanticas da teoria de gnero.

    Esse fato em si um diagnstico: como o politicamente correto afeta mesmo pes

    inteligentes (e bonitas).O que est pressuposto por trs da hiptese da minha amiga afetada por essa praga? Qu

    sou machista, que a medicina machista, que os medidores de presso arterial so machisque os ambulatrios so machistas, enfim, que o tomo machista. A construo social seassim: nem a fisiologia biolgica, mas social e poltica. D sono, no?

    Para esses fanticos, homens e mulheres no existem da mesma forma que ces e gatos, so projetos ideolgicos. Todas as diferenas de temperamento, comportamento, expectativmesmo biolgicas so fruto do patriarcalismo.

    Um bom antdoto contra o politicamente correto nesse campo o darwinismo. Mas, antes,

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    breve explicao de como o darwinismo funciona.O mecanismo de seleo natural no pressupe qualquer inteligncia operando acima

    matria e seus elementos. No me interessa aqui a discusso do darwinismo comcriacionismo, portanto no vou entrar em reflexes cosmolgicas ou (a)teolgicas acercaorigem do universo. Meu interesse recai apenas sobre o que o darwinismo nos relata a respda psicologia evolucionista, ou seja, o mecanismo de seleo natural atuante no mbitocomportamento humano.

    A seleo natural opera a partir de dois conceitos bsicos: acaso e acmulo de design cegacaso diz que o meio ambiente acaso, e a mutao do DNA tambm. A rigor, no darwiniscontemporneo, o que passa por seleo o DNA ou material gentico. Mutaes ao acocorrem nesse material e so selecionadas pelos efeitos do meio ambiente. As mais adaptasobrevivem e levam prole, via reproduo, seu sucesso adaptativo. O verbo em ingls toPor sua vez, o acmulo de design cego o processo atravs do qual (a evoluo propriamdita) um conjunto especfico de material gentico vai sendo selecionado, e aquilo que deleeliminado jamais voltar ao mercado da seleo natural, portanto, ao longo do tempo,conjunto especfico de genes permanece desenhando (designing) uma espcie mais adaptada. Por exemplo, sendo o Neandertal extinto, voc no pode ter um filho Neandertahistria da seleo natural no anda para trs, da a evoluo. Ao longo do tempo, a sensade uma relao invisvel entre o material gentico adaptado e as demandas do meio ambina histria da seleo daquela espcie, da a impresso de que h um design (projeto), mas ecego (ningum est olhando e organizando o processo).

    No caso de comportamentos, apenas temos que adicionar a hiptese de que um comportam(ou um conjunto de comportamentos e regras de comportamento) determinado por composio gentica bem-sucedida, por isso reproduzida nos descendentes. O exemplo cls

    o que chamamos de moral: a moral como um todo se revelou como um sucesso adaptatporque todos os grupos humanos a tm (mesmo que com variao de valores), e ela regacomoda as tenses dentro do grupo humano. Quando falamos em moral aqui, falamoshbitos mesmo inconscientes (a psicologia evolucionista trabalha com a noo de inconsciente biolgico selecionado ao longo do tempo determinando a conscincia) que fo

    bem-sucedidos e por isso passaram para a frente, at chegarem a ns.Assim sendo, segundo o darwinismo, homens e mulheres tm caractersticas diferen

    herdadas pela seleo natural, as quais no so passveis de construo ou desconstruo socomo querem as chatas feministas, porque so frutos do inconsciente gentico herd

    Mesmo que voc d uma boneca para meninos pequenos e os vista com roupa identificada code meninas, isso no garantir uma menina feliz consigo mesma.Por exemplo, por que dizer para um homem que o filho a cara dele conta muito enqu

    para a mulher nada acrescenta de essencial na sua relao com a criana? Por uma razo msimples: a mulher no tem insegurana com relao prole, mas o homem tem, porque ele nutem certeza de que o filho seja seu e, se no se cuidar, pode acabar cuidando do filho do vizinE a capacidade de uma mulher de 100 mil anos atrs de ter um homem com ela era fdeterminante para a sua sobrevivncia, principalmente quando grvida, por isso a importde ela se mostrar fiel a ele. Era assim na caverna e ainda o hoje mesmo mulh

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    independentes se sentem mal quando so mes solteiras e sozinhas, mesmo que as chatindigam o contrrio. A confiana na mulher chave essencial da relao de investimento

    paternidade em famlia. Os homens foram selecionados assim porque os ciumentos foram ostiveram sucesso em garantir sua sucesso. Os desencanados so desencanados porsimplesmente no estavam nem esto interessados nela ou na prole deles. Mesmo hoje em diavoc for pedir a sua mulher para fazer um exame de DNA, o casamento acabar por conta d

    pedido e voc ser mesmo um idiota em faz-lo. Dizer para uma mulher que o filho a

    dela nada acrescenta em sua plena segurana quanto maternidade. Dizer para um homem qfilho a cara dele significa que ele no cria filhos que no so dele e, para ela, que ela fi

    portanto ela fica bem na fita. Homens e mulheres no agem assim porque querem, mas poos que agem assim foram bem-sucedidos na manuteno da sua descendncia, e ela est aquihoje. Isso a moral: homem que ama investe e inseguro, por isso precisa de sinaisfidelidade da mulher. Mulher que quer ser amada e se sentir segura se comporta de modo avista como fiel, se ela quer o que as americanas chamam de homens keepers(guardies ou b

    partidos). A possibilidade de desenvolver amor pela parceira e pela sua cria foi um gaadaptativo, porque o macho pode assim ter famlia (somos um animal gregrio porque nossa custa caro, principalmente num meio ambiente onde podia ser comida toda hora

    predadores), e a mulher pode assim ser menos vtima de predadores em funo da gravidez risco de morte no parto. O nmero de fmeas ancestrais que morriam sozinhas muito jovdevido ao parto dado conhecido pela paleontologia. Ossos solitrios so encontrarevelando a morte da jovem me e de seu beb, cercados pela solido e por predadores.

    Sendo assim, como Shakespeare j suspeitava em sua pea Otelo(o grande mouro que desua vida por duvidar de sua amada Desdmona, como todo homem apaixonado), quanto maishomem ama (investe afetivamente em) uma mulher, mais ele fica inseguro e ciumento. Se

    namorado estimula voc a viajar sozinha, ele provavelmente a est rifando. E a mulher bando no podem abrir mo do macho investidor (aqui essa palavra no significa meramdinheiro), porque o meio ambiente no qual evolumos sempre foi extremamente perigoso.isso mesmo, uma fmea at hoje no suporta machos fracos, medrosos e pobres.

    O grande problema da fmea da espcie humana j h mais de dezenas de milhares de ancomo sobreviver gravidez e lida com a prole. Passar sozinha por ambas as coisas semprem ideia, tanto fisiolgica quanto psicologicamente. A gravidez cara fisiologicamente pafmea (logo, o sexo tambm), e no para o macho. Tirar o macho do exlio meramente ani

    para a humanizao (faz-lo amar, e no apenas transar) foi um enorme ganho adaptativ

    espcie. Mas machos frouxos e pobres no servem para keepers. Logo, mulher gostadinheiro.O politicamente correto parece ser anticientfico. Mas, mais do que isso, ele faz mal p

    homens e mulheres porque atrapalha milhares de anos de seleo natural de comportamentosquais homens e mulheres se reconhecem. A presso pela crtica ao macho contaminarelaes porque, apesar de se falar muito hoje em dia sobre homens serem mais sensveis do outrora, as mulheres (que no suportam fracos) s aguentam a sensibilidade masculina a

    pgina trs. Passou da, elas se enchem. A superao da praga do politicamente corretnecessria em todos os campos do pensamento, mas nesse, talvez, mais do que em todo

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    outros, porque, sendo a vida sexual e afetiva uma das chaves do convvio humano, e sendoacima de tudo uma carga sobre as costas dos heterossexuais, embaralhar, falsamentepapis masculinos e femininos pssimo para a vida cotidiana. Isso nada tem a ver negar a vida profissional das mulheres, mas sim com lembrarmos que mulheres so mulhee homens so homens, pouco importando o que as azedas queiram dizer. Claro que a sociedimpacta a sexualidade e seus modos de ao, mas dizer que no h nada no homem e na mu(ou na maioria esmagadora deles) que tenha a ver com sua herana biolgica como negar a

    da gravidade dizendo que os corpos caem apenas porque a ideologia opressora perseguecorpos de menor massa.

    Para terminar, um detalhe. Lembraria leitora que no adianta ficar nervosa porque os homno erotizam a inteligncia das mulheres, enquanto as mulheres erotizam a inteligncia homens. Fcil de entender: inteligncia no homem como dinheiro, uma forma de potnciahomem apenas precisa da beleza da mulher e, se a amar, da sua fidelidade. Isso no precisamotivo de briga na humanidade, tem lugar para quase todo mundo.

    Uma das coisas que ganhamos quando vemos as coisas sob o ponto de vista darwinianopr-histrico uma sensibilidade maior para refletir se os hbitos passados no teriam, afalgum sentido.

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    A BELEZA E A INVEJ

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    OMUNDO RESPIRA MELHOR QUANDO TEMULHER BONITA POR PERT

    As feias odeiam as bonitas(os feios e pobres tambm porque no conseguem peg-las). Nno estou sendo cnico. A beleza no um ponto isolado no espao, mas um gradiente e conjunto de caractersticas fsicas associadas a traos invisveis da alma. Beleza atrai inve, nas mulheres, beleza sempre fundamental. Sendo assim, pode uma mulher usar sua becomo forma de sobrevivncia ou ela deve buscar ser feia porque a maioria e, assim,estaria sendo politicamente correta?

    A mulher sempre usou sua beleza, provavelmente desde a caverna. E por razes bviamaioria esmagadora dos homens baba pela beleza feminina. A tentativa de fazer da mulher usimples vtima do homem uma piada, pelo menos para os homens e as mulheres que experincia um do outro. Um dos erros crassos do feminismo, e que atrapalha a vida de m

    gente, confundir problema de cadeia (espancamento de mulheres) com vida cotidianadificuldade do feminismo est em no delirar: uma coisa impedir que uma mulher dirijacarro, como em alguns pases muulmanos, outra coisa dizer que, se ela usa sua beleza pconseguir uma coisa, est sendo vtima de abuso de poder. A afirmao chega a ser risvecom o tempo passei a suspeitar de que, sim, h uma pitada de mau-caratismo no feminism

    provavelmente porque suas lderes so, em grande maioria, feias e mal-amadas e por querem um mundo feio e infeliz para se sentir mais em casa.

    A maior inimiga da beleza da mulher a outra mulher, a feia. A condenao do uso da belfeminina por parte das mulheres uma ferramenta das que no tm, por azar (a beleza ainda

    recurso contingente), acesso beleza, seja porque so feias, seja porque (no caso dos homeem sendo feio (ou fraco), ele no pode pegar a beleza da mulher nas mos, beij-lapenetr-la. Claro que h sofrimento aqui, mas de nada adianta resolver o sofrimento negaum fato bvio: as feias tm raiva das bonitas. Talvez esta seja uma das maiores crticas qutenha contra essa praga: ao tentar resolver problemas centrais da vida, ela nos engana sobverdadeira gravidade deles. Como no caso dessa oposio beleza fealdade nas mulheres todos ns, mas nas mulheres mais, pelas razes que descrevi acima, e porque, como sou home gosto de mulher, gosto de falar sobre elas), vidas so dilaceradas pela inveja da beleza numulher. As feias, que so num certo sentido maioria e a regra, s aceitam uma mulher bo

    quando esta j no mais to bonita. Beleza no s beleza, abundncia, fertilidfecundidade, enfim, signo de vida. Sentir-se excluda disso por um simples azar (por issgasta tanto dinheiro para corrigir esse azar) di como uma espcie de condenao que perpa solido e a esterilidade.

    A beleza numa mulher me faz querer entend-la melhor, ouvi-la melhor, ser mais genercom ela, mais justo, enfim, ser um homem melhor. No se trata apenas de um desejo meramanimal se assim fosse, at seria menos danoso o mal que a praga politicamente correta gao negar a agonia da beleza no mundo devido inveja das feias. O alcance espiritual da belefato estudado pelas religies: o mal inveja a beleza do bem. Mas, para alm (ou aqum

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    dimenso espiritual, no h nada melhor no mundo do que uma mulher linda a fim de voc.Por isso melhor levarmos a beleza mais a srio. Toda tentativa de proibir a exibio

    beleza feminina um ato nascido da inveja. Se voc for bonita, observe se no trabalho noalguma feia que a detesta. O dio das feias pelas bonitas nada mais do que a agonia quabundncia gera na precariedade. Como somos seres precrios (somos mortais, insignificacosmicamente e frgeis biologicamente), a falta de beleza a regra (quase) universal.

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    OS FUNCIONRIOda educao, do intelecto e da ar

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    OMUNDO DO INTELECTO UMA MORADQUE TEM MUITAS CASAS, E QUASE TODA

    TOMADAS POR CANALHA

    Sou professor e gosto dedar aula, coisa rara na rea. Na maioria dos casos, professoreuniversidade (ou no) so pessoas que, alm de no gostar dos alunos, tm uma inteligmediana e foram, quando jovens, alunos medocres, que fizeram cincias humanas porsempre foi fcil entrar na faculdade em cursos de cincias humanas. Claro que quase to

    pensavam em si mesmos como Marx ou Freud ainda no revelados. Ao final, o que se revcom mais frequncia algum fracassado que ganha mal e odeia os alunos. Professnormalmente no gostam de ler ou de estudar, mas dizem que esse pecado apenas dos aluH um enorme sofrimento na maioria dos professores porque tm de fingir o tempo todo

    acreditam na importncia do que fazem. A maioria sucumbe.Se adicionarmos uma pitada de insegurana prpria capacidade intelectual (refiro-me a uinsegurana maior do que aquela que todos ns temos em alguma medida), teremos o perfimaior parte dos funcionrios da educao, da arte, da cultura e do intelecto, e no s

    professores. Tal insegurana associada quase absoluta falta de originalidade (as qnormalmente vm juntas) explica em grande parte a razo de o politicamente correto enconentre esses funcionrios seu lar ideal. Claro, afora a covardia, sempre necessria para voctransformar em algum que persegue os outros porque pensa diferente de voc ou porqumelhor do que voc. Nada mais temido por um covarde do que a liberdade de pensame

    Toda forma de totalitarismo (o politicamente correto uma forma de totalitarismo, e essa foest presente na palavra correto) sobrevive graas s hordas de inseguros, medocrecovardes que povoam a educao e o mundo da cultura e da arte.

    Na escola, a mediocridade vem regada busca de novas teorias pedaggicas (normalmcom baixssimo impacto ou possibilidade de verificao de suas premissas); na universidvem vestida de burocracia da produtividade e corporativismo de bando; na arte, nos discucontemporneos sobre a destruio da forma. Modos distintos de fazer nada ocupatempo e gerando institucionalizao e papo-furado cheio de jargo tcnico. Mas ela no paraEngana-se quem supe que a mediocridade no se reproduz de vrias formas apenas por

    aparentemente a espcie no teria sobrevivido se fosse apenas de covardes. Digo isso por argumentos. O primeiro porque os medocres so maioria, e isso pode ser indicativo de qucovardia foi adaptativa em grande medida. O segundo porque as baratas parecem ser adaptadas ao mundo e so maioria absoluta, como j suspeitava Kafka.

    A suspeita de que a mediocridade reina entre os funcionrios da educao e do intelaparece, por exemplo, na obra de dois grandes intelectuais do sculo 20, o crtico canade

    Northrop Frye e o historiador do pensamento conservador americano Russell Kirk.Frye afirma na introduo do seu monumental Cdigo dos Cdigos, seu livro sobre a B

    como grande matriz da literatura ocidental, que a universidade tomada por pessoas

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    personalidade insegura e medocre que se escondem atrs de teorias consagradas a fimgarantir seu espao intelectual nas instituies do conhecimento. No apenas as universidamas tambm a mdia povoada por pessoas que afirmam o que a maioria quer ouvir, porisso garante adeses e reduz riscos de confronto. O politicamente correto um caso tpicoopo, por gerar adeses a um discurso autoritrio. Basta analisarmos grande parte do qufala na academia e na mdia para perceber o quanto se repete o mesmo papinho do bem est longe de descrever a realidade, quase sempre intratvel ao Bem.

    Para pegar um exemplo da mdia, basta pensarmos em figuras como o atual presidente Estados Unidos, Obama, e o ex-presidente do mesmo pas, Jimmy Carter (ambos claramincompetentes em assuntos domsticos e internacionais e lderes para mulherzinhas), paraexemplos claros do que dizer coisas legais para receber as palmas de jovens e feminisAmbos so gente muito esperanosa que mais atrapalha do que ajuda, na medida em desconhece as realidades sua volta. A incapacidade, por exemplo, de ambos entenderemOriente Mdio sofrvel mas voltaremos ao tema quando discutirmos as religies. A mmuitas vezes parece uma reunio de centro acadmico de cincias sociais na formasimplificar o mundo ao nvel de uma menina de 12 anos.

    J Russell Kirk, historiador do pensamento conservador anglo-saxo, nos anos 50 percque a universidade corria o risco de virar espao onde gente sem posses busca ascensocial. O que aconteceu. Aqui o que importa no tanto o nmero de propriedades que algtem em seu nome, mas a atitude de bancrio ou burocrata para com a vida universitSujeito sem posses, como descreve Kirk, so pessoas que se apropriam da mquinstitucional da universidade a fim de garantir seu (e de seus amigos) futuro salarial. O

    posse aqui implica antes de tudo a ausncia de posse intelectual enquanto tal. Kafka diria: de rato, alma de barata. Um funcionrio como esse teme antes de tudo a inteligncia, por

    age de modo violento quando a percebe, muitas vezes em nome do coletivo e da burocraDesconfio de todo mundo que usa a palavra coletivo numa reunio de professores.Juntando os dois argumentos, chegamos mediocridade enturmada que caracteriza a

    intelectual e acadmica. Nada h de se esperar da universidade. As cincias duras ainda poentregar remdios e robots, as cincias humanas no tm nada para entregar. Quando algoimportante nelas acontece, revelia das instituies que as sediam. Todos esto quase semocupados com seus miserveis salrios, mas dizem que no. O cotidiano , assim, corrodo esforo do autoengano e da hipocrisia.

    Outro tipo mentiroso e politicamente correto o artista. As artes plsticas contemporn

    ajudam muito para isso, na medida em que gente que no sabe desenhar pode ser arfigurativo. Nada que eu consiga desenhar ou pintar pode ser levado a srio como arte figuratporque eu no sei pintar ou desenhar nada. Um amigo num caderno cultural importante ou tese de doutorado ilegvel numa universidade de nome sobre a obra de algum pode fazer um grande artista. A crtica da forma e da coerncia na narrativa esttica (que em si pode ter um significado) tornou-se um grande cabide de emprego para artistas falsos, mas relacionados.

    O que me leva a uma ltima questo envolvendo esses funcionrios da cultura. A tiTodos so muito ticos e vo mdia falar em nome da tica. Os acadmicos, pelo qu

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    foi dito aqui, no parecem seres muito ticos, ainda mais quando se lembra de que manipuconcursos ao seu bel-prazer. Quanto aos funcionrios da arte, estes no ficam atrs. Camcom quase zero de institucionalizao, quase sempre marcado por testes do sof e conveem coquetis em lugar de qualquer seleo criteriosa. Talvez no exista universo menos que o da cultura, da arte e da educao, mas graas a Deus ningum sabe disso, e funcionrios podem continuar posando de corretos.

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    VIAJAJAMA

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    OMUNDO VIROU UM CHURRASCO NA LA

    Um dos projetos da minhavida no viajar nunca mais, pelo menos, cada vez menos e pmenos longe. Exterior, nem pensar. Se acha estranho o que eu estou dizendo, porque voc viaja o suficiente ou porque sofre daquele tipo de sintoma caracterstico da espiritualidade

    classe mdia, que querer conhecer o mundo, os museus, os aeroportos e sentirfrisson

    porir a Paris. Se voc bate foto dentro do avio, porque no h esperanas para voc. Ffeliz por sair de frias de avio brega. Um conselho: se voc tem mais de 20 anos e acha avchique, finja que no acha. Sinto dizer, o mundo acabou. Fique em casa.

    Um amigo meu, especialista em anlise estratgica de comportamento, me disse recentemque em alguns anos a elite no mais viajar, afora para suas prprias propriedades. O aeropser um dos piores lugares para voc ser visto. Temo que seja verdade. Dito de outra forma

    pobres (de esprito) viajaro, pois eles herdaro a Terra. Quando Jesus disse isso no Evangeele nunca imaginou que isso aconteceria graas aos aeroportos e aos hotis de luxo do mun

    Essa herana j se sente nos aeroportos e nos hotis, pouco importa a classe ou o nmeroestrelas. O mundo acabou, fique em casa. Ver filmes em casa ficou mais chique do que ir paexterior. Hordas de turistas, com sua alegria de classe mdia, destroem os pases, invadicatedrais com suas mquinas de filmar e suas fotografias digitais, tiradas enquanto comcomida (com gosto de plstico) de avio.

    Sem dvida que para a indstria do turismo isso tudo muito bom, mas essa tragdia prapenas como o mundo contraditrio. Marx no poderia ter acertado mais na sua crticacapitalismo do que quando viu que seu crescimento poderia ser autodestrutivo. O filromeno, radicado na Frana, Emil Cioran j dizia nos anos 60 que no era mais poss

    conhecer o mundo porque os brbaros turistas o estavam destruindo. Talvez eu concorde ele por um motivo que vai alm do fato de o mundo ter virado um churrasco na laje, talveconcorde com ele porque, assim como ele quando fala das hordas da classe mdia franinvadindo a Normandia nos fins de semana com suas baguettes, sucumbo a cada diasentimento horroroso de que o mundo virou uma praa de alimentao de shopping center nsbado tarde. Em determinados assuntos, a melancolia mero controle de qualidade.

    Esse tema especialmente dramtico, ainda que seja em si mesmo mnimo como probleporque ele revela uma das maiores regras do politicamente correto: ningum pode dizer gente pobre (de esprito, porque voc pode ter dinheiro e ainda assim ter esprito de churra

    na laje) insuportvel quando fica feliz em pblico. Principalmente quando acha lindo filhos correndo e pulando em cima dos outros. Uma coisa simples que aparentemente muita gno entende: lindos so apenas seus filhos para voc, para os outros so pequenos shumanos mal-educados fazendo barulho. Aqui se traa uma fronteira clara entre voc ser ou um esprito de churrasco na laje: nunca pense que seus filhos so lindos universalmente.

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    A TRAGDIA DO KEEPER(o bom partido

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    DAQUI A UNS SCULOS VO VER NOSSPOCA COMO A POCA DA HISTER

    FEMININA SEM LIMITE

    Imagino o nmero de mulheres, provavelmente as que no entendem nada de psicanfreudiana ou que so muito chatas, que ficariam irritadas com o que vou dizer, mas vou dizemesmo jeito: daqui a uns sculos vo ver nossa poca como a poca da histeria feminina so

    Qualquer pessoa sabe que difcil saber o que queremos com certeza. Uma das vantagnegativas da condio da mulher antiga era poder pr a culpa no homem mesmo quandono sabia direito a causa de sua irritao o fato que ela ainda o faz, s que agora

    podemos dizer que ela o faz. Um dos modos de o senso comum se referir histeria feminina,to longe do pensamento freudiano, dizer que a mulher no sabe o que quer e que se ente

    com tudo o que tem. No vou entrar no mrito dessa discusso tcnica. fato que a prnoo de que a mulher seria o sexo frgil sempre deu a ela a possibilidade de ter crisesmodo mais tranquilo. Dificilmente veremos homens recomeando suas vidas num cursoPedagogia aos 50 anos. O fracasso profissional e financeiro quase sempre o fim da linha pos homens, apesar das mentiras que dizem por a. J para as mulheres, a vida profissional c

    primeira opo ainda uma opo. Apesar da presso sobre os homens, dizendo que vivenum novo mundo, para os melhores, as coisas no mudaram muito e, se mudaram, muda

    para pior.Quando digo melhores, me refiro ao que as americanas chamam de keepers(bons partid

    O verbo to keep em ingls nos permite brincar com o sentido da palavra em portugus, levando a pensar que um bom partido um homem que sabe guardar (cuidar, mansustentar) sua famlia. No se esquea, cara leitora, do que vimos anteriormente quadiscutimos a falsa teoria de gnero psicologia evolucionista: mulheres, independentementquanto ganham e de quo emancipadas so, no gostam de sustentar homem, mesmo mentirosas digam o contrrio. s vezes acontece, mas sempre por pouco tempo ou pelo mesob a aura da exceo indesejada ou inesperada.

    O que chamo de tragdia do keeper o fato de que os melhores homens so os que msofrem com o lado negativo da mulher moderna, em vez de aprender a usufruir a condi

    estar cercado de mulheres modernas. E por que assim? E qual seria esse usufruto?O escritor americano Philip Roth, em seu livro O Animal Agonizante, afirma que infelizm

    a emancipao feminina no foi usada pelos homens naquilo que ela seria uma vantagem peles: a libertao masculina com relao histeria da mulher que deixa os homens (os melho

    porque se preocupam em satisfazer e cuidar de suas mulheres e famlias) em apuros, porcomo todo homem sabe, a mulher nunca est satisfeita. E, se voc se preocupa em deixsatisfeita, voc vive uma batalha sem fim, que ela mesma no reconhece como existente.

    parte da histeria no ter conscincia de si mesma.Mas essa histeria tem um trao essencial para entendermos a argumentao de Roth

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    condio de fragilidade da mulher, to negada pela emancipao feminina. Se ela frghomem bom, atento, deve satisfaz-la justamente, e mais dramaticamente, porque ela frSempre fez parte do jogo homem-mulher a suposta dependncia que ela teria com relao a e

    por conta da fragilidade. Seja no sexo (a deliciosa ideia de que dominamos as mulheres), na vida fora da cama, justamente porque no eram emancipadas e por isso eram dependeeconmica, psicolgica e socialmente. Sem entrar no mrito de se as mulheres eram ou sofato frgeis, dependentes ou seja l o que for, o que importa aqui que essa fragilidade e

    dependncia sempre foram um dado da cultura (talvez, antes de tudo, pela evidente fragilidfsica da mulher em comparao ao macho da espcie). Combater com ferro e fogo dependncia foi e um dos objetivos mais nobres da emancipao feminina. Os homens acusados pelas feministas de usarem e abusarem das mulheres porque elas seriam, antigamedependentes dos homens.

    Mas, antes de responder s duas perguntas que fiz acima, relacionadas ao argumento de PhRoth, vale a pena lembrar que, como diz a antifeminista americana Phyllis Schafler, feministas s conheceram na vida homens ruins, por isso falam o que falam dos homens. Amos autores parecem concordar numa coisa: o feminismo s conhece homens ruins, e seus efes se abatem sobre homens bons: os melhores, os keepers. E so justamente esses, seguRoth, que um autor identificado com o iderio da esquerda americana, diferentementePhyllis Schafler, que mais sofrem com as agonias das mulheres, e no os ruins, que nunc

    preocuparam em deixar mulher nenhuma feliz (so esses que as feministas conhecem).Com a emancipao feminina, as mulheres no precisam mais ser dependentes dos hom

    mas os melhores no conseguem simplesmente ficar indiferentes aos sofrimentos das mulhemancipadas (que continuam, independentemente de sua condio econmica, a buscar relanas quais sua fragilidade atvica seja contemplada pela ateno e pela sensibilidade

    homens keepers) e por isso no usufruem os ganhos possveis da emancipao femin(deix-las entregues a sua prpria sorte de mulheres livres). Esse o usufruto quemelhores deixam de praticar, enquanto os piores, que nunca sofreram com a dependfeminina porque sempre foram indiferentes a elas (os que as feministas conhecem), esto m

    bem, obrigados.Assim sendo, a tragdia do keeper a mesma tragdia da mulher emancipada. Ele, por

    sofre na medida em que lhe negado o direito de ser reconhecido como o macho cuidadoele seria um mero machista ; e ela, porque afasta de si o keeper, pois ele se v acuaddesvalorizado e por isso desiste de cuidar da mulher. O homem indiferente apenas se div

    (come todas, ainda mais quando so sozinhas e fceis), enquanto o keeper(o bom partidodeprime, e a mulher fica s imersa numa personagem que na realidade no existe: a mulher no precisa de um keepere que acaba sendo apenas a velha e comum mulher fcil de tranE caidinha...

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    RELIGIESfundamentalismos e budismo lig

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    AS RELIGIES CORREM O RISCO DE VIRAUMA MISTURA DE HOPI HARI, FANATISM

    BREGA E DIETA BALANCEAD

    Deus deve estar profundamente deprimido com o mercado religioso. E no s ele, tambm Buda e similares.

    Falar mal do cristianismo e do judasmo esperado numa pessoa politicamente corporque essas religies so opressoras, alm, claro, de ser provavelmente a religio dos deles, e por isso eles querem ser crticos. Desconfio muito de gente crtica. Normalment

    pessoas crticas posam para seus amigos menos cultos sua parca inteligncia feitageneralidades.

    O maior inimigo de Deus so seus crentes fervorosos. Como dizia o filsofo alemo Heine

    sculo 19: S se trado pelos seus. Refiro-me aos novos fundamentalistas, dos pentecoque incorporam o Esprito Santo na periferia das grandes cidades do Brasil e do mundo muulmanos chatos que querem matar todo mundo toda hora. Em algumas mesquitas, se vrespirar alto, falta de respeito. Grande parte dos muulmanos no gente que acredita em amor e diferenas, ao contrrio do que intelectuais mal-informados pensam. Costumo dizer qnusea que esse tipo de crente me causa poderia fazer de mim um ateu mais facilmente do quateus que se julgam brilhantes porque so ateus. At golfinhos conseguem ser ateus, porquatesmo a viso de mundo mais fcil de ter: a vida fruto do acaso e no tem sentido alm

    pequenos sentidos que inventamos.

    No vou falar aqui dos pentecostais porque no politicamente incorreto falar djustamente porque so cristos. Mas acho que vale a pena uma ou duas palavrinhas sobrfundamentalistas islmicos (e sobre os budistas ocidentais, mais adiante), porque est na mdizer que o Isl a religion of peace. S para cegos e ignorantes. Isso no significa que tmundo seja fundamentalista no islamismo, de forma alguma. Mas sim que, alm dos fatos b(terrorismo islmico), h muita movimentao radical no mundo islmico. Por mundo islmquero dizer no s rabe muulmano, mas tambm muulmano no rabe.

    Recentemente (em 2011) o mundo rabe passou pelo que as cheerleaders da esquerdaintelectuais que babam em cima de tudo que lhes parece antiamericano) gostam de cha

    primavera rabe. Elas, as cheerleaders, no conhecem muito bem o mundo rabe (alis, conhecem nada muito bem, porque normalmente no leem muito nem gostam de estudar, por no tempo da faculdade ficavam no centro acadmico, sonhando com Cuba) e logo pensaraml estavam estudantes franceses dizendo que proibido proibir, como na revoluo francde maio de 1968, que acabou numa gostosa noite de queijos e vinhos, e as colegas csobremesa (essa parte aceitvel!). O primeiro pas da primavera rabe foi a Tunsia, e elaa primeira a fazer uma eleio democrtica por votos, mas indcios claros foram dados de qislamismo ou o Coro seriam referncias importantes mesmo na Tunsia, pas razoavelmedesenvolvido e distante de barbarismos, como o Afeganisto. Um dos ministros do governo

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    transio da Tunsia deixou claro que qualquer lei contra a lei islmica seria abolida. O parvitorioso foi um dos islmicos. Partido ilegal durante a ditadura, com o fim dela, prometeu ser fundamentalista como sempre foi. Chegando ao poder, como chegou, veremos o que o fuguarda. O mesmo quadro se revelou no Egito, que chegou a eleies um pouco depois e tamdeu vitria a dois partidos islmicos (60% dos votos), sendo que o primeiro colocado (tratda velha Irmandade Muulmana, inspirador da Al-Qaeda), diferena do segundo lugar eleies, os salafistas radicais, se diz agora light, como o primeiro colocado na Turquia

    primeiro na Tunsia.O que voc acharia se no Brasil o gov