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Thiago Galindo Pecin
Ações Mecânicas Tornádicas Globais sobre Torres de
Linhas de Transmissão
Tese de Doutorado
Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio.
Orientador: João Luis Pascal Roehl
Rio de Janeiro, agosto de 2008
Thiago Galindo Pecin
Ações Mecânicas Tornádicas Globais sobre Torres de
Linhas de Transmissão
Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.
Prof. João Luis Pascal Roehl Orientador
Departamento de Engenharia Civil - PUC-Rio
Profa. Andréia Abreu Diniz de Almeida Departamento de Engenharia Civil - PUC-Rio
Prof. Paulo Batista Gonçalves Departamento de Engenharia Civil - PUC-Rio
Prof. André Teófilo Beck USP
D.Sc. Nelson Henrique Costa Santiago Fluxo Engenharia
José Eugênio Leal Coordenador Setorial do Centro Técnico Científico - PUC-Rio
Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2008
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e do orientador.
Thiago Galindo Pecin
Mestre em Engenharia Civil pela PUC-Rio em 2006. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Goiás em 2004. Atua na linha de pesquisa de Instabilidade e Dinâmica das Estruturas.
Ficha Catalográfica
CDD: 624
Galindo Pecin, Thiago
Ações mecânicas tornádicas globais sobre
torres de linhas de transmissão / Thiago Galindo Pecin; orientador: João Luis Pascal Roehl. – 2008.
179 f. : il. ; 30 cm Tese (Doutorado em Engenharia Civil)–
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
Inclui bibliografia. 1. Engenharia civil – Teses. 2. Tornado. 3.
Torres de transmissão. 4. Efeitos globais. 5. Estruturas. 6. Vento. I. Roehl, João Luis Pascal. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Civil. III. Título.
Aos professores que tive durante a vida, sem os quais não me seriam
possíveis nem os primeiros passos.
Agradecimentos
Ao desconhecido. À dimensão da existência desobediente à relação causa-efeito
que governa a razão humana, deixando nossas questões fundamentais sem
respostas.
Aos meus pais, João e Alexânia, por me darem a vida e, cada um a seu modo,
oferecerem-me boa parte de seus sentimentos e pensamentos.
Aos meus irmãos, Diego, Giselle, João Lucas, Guilherme e Fillipe, pela
convivência e amizade, essenciais à constituição da minha personalidade.
A minha namorada, Érica, com quem muito aprendi, e continuo aprendendo, sobre
coisas outras que tese alguma pode ensinar. Obrigado por estar ao meu lado e
pelos maravilhosos momentos juntos. Te amo!
A minha vó, Eni, pelo amor e carinho; ao meu primo, Alex, amigo de toda uma
vida.
Ao professor João Luis Roehl, pela valiosa orientação e pelo exemplo. Sinto
muito orgulho em ter sido seu orientado. “Vamos em frente”, Mestre. Obrigado.
À professora Andréia, pela gentil colaboração.
Aos amigos da sala 609, que proporcionaram sempre enriquecedores debates:
Fredão, Renata, Pantoja, Diegão, João, Igor e Paul. Sempre me lembrarei dos
memoráveis intervalos do café. Meu grande abraço a todos vocês!
Aos amigos dos bares e da República Redonda: Diegão, Patrício, Magnus,
Christiano, Joabson, Adriano, Zé, Tio Chico, Jean, Pekeno e Gigante. Valeu por
tantas vezes atrapalharem meu trabalho com propostas tentadoras, geralmente
relacionadas ao Baixo Gávea ou algo similar.
Ao CNPq, Eletronuclear e Fluxo Engenharia, pelo apoio financeiro.
Resumo
Pecin, Thiago Galindo; Roehl, João Luis Pascal. Ações Mecânicas Tornádicas Globais sobre Torres de Linhas de Transmissão. Rio de Janeiro, 2008. 179p. Tese de Doutorado - Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Tornados são fenômenos atmosféricos de pequena escala com grande
poder de destruição ao longo de sua trilha e têm sido reportados com freqüência
crescente no território brasileiro. Do ponto de vista da engenharia de estruturas,
atenção especial deve ser destinada a instalações sensíveis, como centrais
nucleares e torres de transmissão de energia. A despeito do registro do colapso
dessas últimas por conta da ação de tornados no território nacional, pesquisas
brasileiras dessa natureza são incipientes. Neste contexto, estudam-se os efeitos
mecânicos decorrentes da incidência de tornados sobre torres de transmissão,
comparando-os com valores prescritos em normas para ventos usuais de projeto.
Para isso, utiliza-se o modelo de campo de vento proposto por Wen (1975) a partir
do trabalho de Kuo (1971) e simulações de torres de transmissão representativas
da região das bacias hidrográficas do Sul e Sudeste, propícias a tornados. A partir
desses estudos, propõe-se e exemplifica-se uma metodologia para avaliação dos
efeitos globais tornádicos no projeto das torres de transmissão. O método é
construído através da variação de diversos parâmetros envolvidos no problema,
buscando-se situações críticas. Na seqüência, realiza-se uma análise mais
abrangente da demanda tornádica e sugere-se, a partir da mesma, uma
metodologia para avaliação da probabilidade anual de falha de uma torre de
transmissão a eventos dessa natureza, que é ilustrada ao final.
Palavras-chave
Tornado, torres de transmissão, efeitos globais, estruturas, vento.
Abstract
Pecin, Thiago Galindo; Roehl, João Luis Pascal. Global Tornadic Mechanical Actions on EETL Towers . Rio de Janeiro, 2008. 179p. D.Sc. Thesis – Department of Civil Engineering, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Tornadoes are small-scale atmospheric phenomena that have large power of
destruction along their path. Tornado occurrence has been reported with
increasing frequency in Brazilian territory. From the point of view of engineering,
special attention should be destined to sensible structures, such as nuclear power
plants and towers for transmission of electric energy. In spite of observed
collapses of these systems due to the action of tornadoes in national territory,
Brazilian researches on this subject are incipient. In this context, the mechanical
effects of tornado incidence on transmission towers are studied and compared
with values prescribed by the usual standards for wind design. The wind field
model proposed by Wen (1975) based on the work of Kuo (1971) and simulations
of representative transmission towers of South and Southeast Brazilian river
basins, favorable to such events, are used. From these studies, a methodology for
evaluation of the tornadic global effects in the design of transmission towers is
proposed and exemplified. The method is carried out through the variation of
several parameters involved in the problem, seeking to critical situations. Finally,
a broader tornadic demand analysis is made and a methodology for evaluation of
transmission tower annual probability of failure due to tornado events is suggested
and illustrated.
Keywords
Tornado, transmission towers, global effects, structures, wind.
Sumário
1 Introdução 26
2 Revisão bibliográfica 28
2.1 O evento meteorológico 28
2.1.1 Considerações gerais 28
2.1.2 Situações atmosféricas favoráveis à formação de tornados 30
2.1.3 Ocorrências 31
2.1.4 O movimento e a estrutura do tornado 36
2.1.5 A escala de Fujita 43
2.2 Considerações de projeto 48
2.2.1 Efeitos mecânicos sobre estruturas 50
2.2.2 Ações de tornados sobre torres de transmissão 55
2.2.3 Ações de tornados sobre usinas nucleares 56
2.2.4 Ações de tornados sobre outras estruturas 58
2.2.5 Análise não-determinística da solicitação tornádica 59
2.3 Linhas aéreas de transmissão e tipos usuais de torres 63
2.3.1 Tensões usuais e componentes de uma linha de transmissão 63
2.3.2 Tipos usuais de torres 66
2.3.3 Tipos usuais de fundações 69
3 Modelos gerais – ações mecânicas 71
3.1 Modelo de tornado segundo Kuo/Wen 71
3.2 Avaliação da pressão sobre a estrutura 75
4 Cenários 77
4.1 Modelo do tornado para os ensaios 77
4.2 Modelo dos sistemas estruturais 77
5 Análises preliminares 81
5.1 Modelo inicial 83
5.1.1 Estrutura tomada como eixo material 84
5.1.2 Efeitos da consideração da estrutura como corpo extenso 86
5.2 Modelo simplificado 89
5.2.1 Análise estática 90
5.2.2 Análise dinâmica 94
5.3 Torre SA 97
5.3.1 Torre isolada 98
5.3.2 Torre na linha de transmissão 102
5.4 Torre SE 107
5.4.1 Torre isolada 108
5.4.2 Torre na linha de transmissão 112
5.5 Conclusões parciais 117
6 Metodologia para avaliação da ação mecânica global de tornados
no projeto de torres de transmissão 119
6.1 Ações horizontais de vento 120
6.1.1 Torre 120
6.1.2 Cabos condutores e pára-raios 128
6.2 Ações verticais de vento 130
6.2.1 Torre 130
6.2.2 Cabos condutores e pára-raios 132
6.3 Interação entre ações horizontais e verticais 134
6.4 Estudos complementares 136
6.4.1 Eixo material versus corpo extenso 136
6.4.2 Força de arrasto versus força de inércia 139
6.4.3 Análise estática versus análise dinâmica 141
6.5 Síntese e exemplo 144
7 Análise não-determinística da solicitação de tornados sobre torres
de transmissão 152
7.1 Estudo da demanda tornádica 152
7.2 Metodologia para avaliação da probabilidade de falha de torres
de transmissão a tornados 163
7.2.1 Metodologia 163
7.2.2 Exemplo 164
8 Conclusões e recomendações 167
9 Referências bibliográficas 169
10 Apêndice 178
Lista de figuras
Figura 2.1 - Exemplo de tornado na Flórida, EUA, 1991 (foto de Fred
Smith) ..........................................................................................................29
Figura 2.2 – Funil rotativo de condensação em Xanxerê – SC (2005) ......29
Figura 2.3 - Dias anuais com condições favoráveis à ocorrência de
tornados no período de 1980 a 1999 – Brooks et al (2006) ..............32
Figura 2.4 – Ocorrência de tornados na Argentina – Goliger e Milford
(1998)..........................................................................................................32
Figura 2.5 – Tornado ocorrido em Indaiatuba, SP, 2005 – Rodovia das
Colinas S.A. ...............................................................................................33
Figura 2.6 – Tromba d’água na Bacia de Campos, RJ, próximo à
plataforma P-17, 2001.............................................................................33
Figura 2.7 – Ocorrências de tornados e conformação das bacias
hidrográficas – ...........................................................................................35
Figura 2.8 – Ocorrência de tornados na América do Sul – Relatório 001/4
(2007)..........................................................................................................36
Figura 2.9 – Tornados ocorridos em 03/05/1999, em Oklahoma: sentido
nordeste - National Weather Service, Norman, Oklahoma................37
Figura 2.10 – Trilhas de tornados hemisfério sul: sentido sudeste – Dyer
(1991)..........................................................................................................37
Figura 2.11 – Mudança brusca na direção de movimento do tornado,
Iowa, 1999 – National Weather Service (2003) ...................................38
Figura 2.12 – Estrutura do tornado – adaptada de Lewellen (1976); foto:
Willhelmsom e Wicker (2001) .................................................................38
Figura 2.13 - Ilustração esquemática de tipos de vórtice de canto -
Lewellen (1993) .........................................................................................41
Figura 2.14 – Imagens do radar Doppler móvel, mostrando subvórtices no
tornado de Oklahoma, em 1999 – Wurman (2002) .............................42
Figura 2.15 – Danos a construções em superfície causados pela
velocidade radial dentro da camada limite - Federal Emergency
Management Agency, FEMA, 1999.......................................................43
Figura 2.16 – A escala de Fujita (1971) ..........................................................44
Figura 2.17 – Relação entre intensidade, largura (a) e comprimento (b)
das trilhas tornádicas – adaptada de National Weather Service
(2003)..........................................................................................................46
Figura 2.18 – Ruptura de torre na Bacia do Prata causada por tornado...55
Figura 2.19 – Divisão do território americano para definição de parâmetros
de projeto a tornados – Simiu e Scanlan (1986)..................................57
Figura 2.20 – Curvas de ameaça tornádica para o território nacional –
Relat. 001/4 (2007) ...................................................................................61
Figura 2.21 – Probabilidade de falha condicionada à ameaça – Almeida
(2002)..........................................................................................................62
Figura 2.22 – Exemplos de torres autoportantes: circuito duplo (a),
configuração horizontal (b) e configuração delta (c) – Santiago
(1983)..........................................................................................................68
Figura 2.23 – Exemplos de torres estaiadas: tipo portal (a), tipo trapézio
(b), tipo V (c) e tipo Y (d) – Santiago (1983).........................................69
Figura 3.1 – Parcelas de velocidade no tornado – adaptada de Dutta et al
(2002)..........................................................................................................71
Figura 3.2 - Representação esquemática do campo de vento tornádico
proposto por Kuo – adaptada de Savory et al (2001) .........................72
Figura 3.3 – Geometria do problema – adaptada de Wen (1975) ..............75
Figura 4.1 – Torre SA.........................................................................................78
Figura 4.2 - Torre SE..........................................................................................79
Figura 4.3 – Modelo para análise numérica da torre SA..............................80
Figura 4.4 – Modelo para análise numérica da torre SE..............................80
Figura 5.1 – Sentidos vetoriais adotados para consideração dos efeitos
globais.........................................................................................................83
Figura 5.2 – Nó do topo, Nt, onde se analisam os efeitos da flexibilidade
dos modelos...............................................................................................83
Figura 5.3 – Modelo inicial.................................................................................84
Figura 5.4 – Forças cortantes globais para o modelo inicial .......................85
Figura 5.5 – Momentos globais para o modelo inicial...................................85
Figura 5.6 – Força cortante global na direção radial para o modelo inicial
.....................................................................................................................86
Figura 5.7 – Força cortante global na direção radial para o modelo inicial
.....................................................................................................................87
Figura 5.8 – Momento global na direção radial para o modelo inicial........87
Figura 5.9 – Força cortante global na direção tangencial para o modelo
inicial ...........................................................................................................87
Figura 5.10 – Momento global na direção tangencial para o modelo inicial
.....................................................................................................................88
Figura 5.11 – Força global na direção vertical para o modelo inicial .........88
Figura 5.12 – Momento global de torção obtido para o modelo inicial
discretizado ................................................................................................89
Figura 5.13 – Modelo simplificado, adaptada de Aguilera (2007)...............90
Figura 5.14 – Forças globais para o modelo simplificado ............................91
Figura 5.15 – Momentos globais para o modelo simplificado .....................91
Figura 5.16 – Força cortante global na direção radial para o modelo
simplificado ................................................................................................92
Figura 5.17 – Momento global na direção radial para o modelo
simplificado ................................................................................................92
Figura 5.18 - Força cortante global na direção tangencial para o modelo
simplificado ................................................................................................92
Figura 5.19 – Momento global na direção tangencial para o modelo
simplificado ................................................................................................93
Figura 5.20 – Força global na direção vertical para o modelo simplificado
.....................................................................................................................93
Figura 5.21 – Força cortante global na direção radial para o modelo
simplificado, ...............................................................................................94
Figura 5.22 – Força cortante global na direção tangencial para o modelo
simplificado, ...............................................................................................95
Figura 5.23 – Deslocamento do topo na direção radial para o modelo
simplificado, ...............................................................................................95
Figura 5.24 – Deslocamento do topo na direção tangencial para o modelo
simplificado, ...............................................................................................95
Figura 5.25 – Força global na direção vertical para o modelo simplificado
.....................................................................................................................96
Figura 5.26 – Espectro de resposta do deslocamento do topo na direção
tangencial para o modelo simplificado ..................................................97
Figura 5.27 – Forças cortantes globais para a torre SA...............................98
Figura 5.28 – Momentos globais para a torre SA ..........................................99
Figura 5.29 – Força global na direção vertical para a torre SA...................99
Figura 5.30 – Força cortante global na direção radial para a torre SA, fo x
rmax/V = 19,82.......................................................................................... 100
Figura 5.31 - Força cortante global na direção tangencial para a torre SA,
.................................................................................................................. 100
Figura 5.32 - Deslocamento do topo na direção radial para a torre SA, fo x
rmax/V = 19,82.......................................................................................... 101
Figura 5.33 - Deslocamento do topo na direção tangencial para a torre
SA,............................................................................................................ 101
Figura 5.34 – Esforço normal nas pernas da torre SA, fo x rmax/V = 19,82
.................................................................................................................. 102
Figura 5.35 - Forças cortantes globais para a torre SA na linha de
transmissão............................................................................................. 103
Figura 5.36 - Momentos globais para a torre SA na linha de transmissão
.................................................................................................................. 103
Figura 5.37 - Força global na direção vertical para a torre SA na linha de
transmissão............................................................................................. 104
Figura 5.38 - Força cortante global na direção radial para a torre SA na
linha de transmissão, fo x rmax/V = 6,63 .............................................. 105
Figura 5.39 - Força cortante global na direção tangencial para a torre SA
na linha de transmissão, fo x rmax/V = 6,63 ......................................... 105
Figura 5.40 - Deslocamento do topo na direção radial para a torre SA na
linha de transmissão, fo x rmax/V = 6,63 .............................................. 106
Figura 5.41 - Deslocamento do topo na direção tangencial para a torre SA
na linha de transmissão, fo x rmax/V = 6,63 ......................................... 106
Figura 5.42 - Esforço normal nas pernas da torre SA na linha de
transmissão,............................................................................................ 107
Figura 5.43 - Forças cortantes globais para a torre SE............................. 108
Figura 5.44 – Momentos globais para a torre SE....................................... 108
Figura 5.45 - Força global na direção vertical para a torre SE................. 109
Figura 5.46 - Força cortante global na direção radial para a torre SE, fo x
rmax/V = 10,04.......................................................................................... 110
Figura 5.47 - Força cortante global na direção tangencial para a torre SE,
.................................................................................................................. 110
Figura 5.48 - Deslocamento do topo na direção radial para a torre SE, fo x
rmax/V = 10,04.......................................................................................... 110
Figura 5.49 - Deslocamento do topo na direção tangencial para a torre
SE,............................................................................................................ 111
Figura 5.50 - Esforço normal nos mastros da torre SE, fo x rmax/V = 10,04
.................................................................................................................. 112
Figura 5.51 – Esforço normal de tração nos estais da torre SE, fo x rmax/V =
10,04 ........................................................................................................ 112
Figura 5.52 - Forças cortantes globais para a torre SE na linha de
transmissão............................................................................................. 113
Figura 5.53 - Momentos globais para a torre SE na linha de transmissão
.................................................................................................................. 113
Figura 5.54 - Força global na direção vertical para a torre SE na linha de
transmissão............................................................................................. 114
Figura 5.55 - Força cortante global na direção radial para a torre SE na
linha de transmissão, fo x rmax/V = 5,74 .............................................. 114
Figura 5.56 - Força cortante global na direção tangencial para a torre SE
na linha de transmissão, fo x rmax/V = 5,74 ......................................... 115
Figura 5.57 - Deslocamento do topo na direção radial para a torre SE na
linha de transmissão, fo x rmax/V = 5,74 .............................................. 116
Figura 5.58 - Deslocamento do topo na direção tangencial para a torre SE
na linha de transmissão, fo x rmax/V = 5,74 ......................................... 116
Figura 5.59 - Esforço normal nos mastros da torre SE na linha de
transmissão,............................................................................................ 116
Figura 5.60 - Esforço normal de tração nos estais da torre SE na linha de
transmissão,............................................................................................ 117
Figura 6.1 – Relação entre a força cortante global resultante máxima e a
força global máxima atuante em uma face do modelo SA50, δ0 = 500
m............................................................................................................... 122
Figura 6.2 - Relação entre a força cortante global resultante máxima e a
força global máxima atuante em uma face do modelo SE42, δ0 = 500
m............................................................................................................... 123
Figura 6.3 – Variação de Crh no modelo SA50 para diferentes valores de
δ0............................................................................................................... 123
Figura 6.4 - Variação de Crh no modelo SE42 para diferentes valores de δ0
.................................................................................................................. 124
Figura 6.5 - Variação de Crh em função de δ0 para modelos autoportantes
.................................................................................................................. 124
Figura 6.6 - Variação de Crh em função de δ0 para modelos estaiados.. 125
Figura 6.7 - Variação de Crh para diversas posições torre-tornado na face
transversal do modelo SA50, δ0 = 100 m........................................... 126
Figura 6.8 - Variação de Crh para diversas posições torre-tornado na face
transversal do modelo SE42, δ0 = 100 m........................................... 126
Figura 6.9 – Valores máximos de Crh para os modelos autoportantes, δ0 =
100 m ....................................................................................................... 126
Figura 6.10 - Valores máximos de Crh para os modelos estaiados, δ0 = 100
m............................................................................................................... 127
Figura 6.11 – Variação de Crh na face transversal do modelo SA50 para
diferentes velocidades de translação, δ0 = 100 m ............................ 127
Figura 6.12 – Velocidade tangencial atuante no cabo de uma linha de
transmissão............................................................................................. 128
Figura 6.13 - Velocidade radial atuante no cabo de uma linha de
transmissão............................................................................................. 129
Figura 6.14 – Velocidade radial equivalente nos cabos da linha de
transmissão............................................................................................. 129
Figura 6.15 – Variação de Crv em função de δ0 para modelos
autoportantes .......................................................................................... 131
Figura 6.16 - Variação de Crv em função de δ0 para modelos estaiados131
Figura 6.17 – Velocidade vertical ao longo do cabo para diferentes valores
de z/δ0 ...................................................................................................... 133
Figura 6.18 – Perfil aproximado da pressão vertical tornádica sobre cabos
condutores e pára-raios ........................................................................ 133
Figura 6.19 – Forças globais horizontais e verticais, D/rmax = 0 ............... 135
Figura 6.20 - Forças globais horizontais e verticais, D/rmax = 0,5 ............ 135
Figura 6.21 – Forças globais horizontais e verticais, D/rmax = 1 ............... 135
Figura 6.22 – Relação entre forças globais verticais de eixo material e
corpo extenso ......................................................................................... 136
Figura 6.23 – Relação entre forças cortantes globais de eixo material e
corpo extenso ......................................................................................... 137
Figura 6.24 - Relação entre momentos globais de eixo material e corpo
extenso .................................................................................................... 137
Figura 6.25 – Momentos globais de torção no modelo SA50................... 138
Figura 6.26 – Relação entre força horizontal de torção e força cortante
global........................................................................................................ 139
Figura 6.27 - Relevância da força de inércia em função da espessura
média da estrutura ................................................................................. 140
Figura 6.28 – Espectros de resposta a tornados para o modelo SA50 .. 142
Figura 6.29 - Espectros de resposta a tornados para o modelo SE42 ... 142
Figura 6.30 – Espectro de resposta para projeto a tornados ................... 143
Figura 6.31 – Hipótese de projeto 1 .............................................................. 147
Figura 6.32 – Hipótese de projeto 2 .............................................................. 147
Figura 6.33 – Hipótese de projeto 3 .............................................................. 148
Figura 6.34 – Hipótese de projeto 4 .............................................................. 149
Figura 6.35 – Hipótese de projeto 5 .............................................................. 149
Figura 6.36 – Hipótese de projeto 6 .............................................................. 150
Figura 6.37 – Hipótese de projeto 7 .............................................................. 150
Figura 6.38 – Hipótese de projeto 8 .............................................................. 151
Figura 6.39 – Hipótese de projeto 9 .............................................................. 151
Figura 7.1 – Funções de distribuição acumulada de Crh para a força
cortante global nos modelos autoportantes....................................... 153
Figura 7.2 – Funções de distribuição acumulada de Crh para a força
cortante global nos modelos estaiados .............................................. 153
Figura 7.3 - Funções de distribuição acumulada de Crh para o momento
global nos modelos autoportantes ...................................................... 154
Figura 7.4 - Funções de distribuição acumulada de Crh para o momento
global nos modelos estaiados.............................................................. 154
Figura 7.5 – Funções de distribuição acumulada para Crv nas torres
autoportantes .......................................................................................... 155
Figura 7.6 - Funções de distribuição acumulada para Crv nas torres
estaiadas ................................................................................................. 155
Figura 7.7 - Funções de distribuição acumulada para Crc nas torres
autoportantes .......................................................................................... 157
Figura 7.8 - Funções de distribuição acumulada para Crc nas torres
estaiadas ................................................................................................. 157
Figura 7.9 - Funções de distribuição acumulada para Crt nas torres
autoportantes .......................................................................................... 158
Figura 7.10 - Funções de distribuição acumulada para Crt nas torres
estaiadas ................................................................................................. 158
Figura 7.11 - Funções de distribuição acumulada para Crtmast nas torres
estaiadas ................................................................................................. 159
Figura 7.12 – Funções de distribuição propostas para Crh (momento
global) e Crt ............................................................................................. 160
Figura 7.13 - Funções de distribuição propostas para Crh (força cortante
global) e ................................................................................................... 160
Figura 7.14 - Funções de distribuição propostas para Crc nas torres
estaiadas ................................................................................................. 161
Figura 7.15 - Funções de distribuição propostas para Crt nas torres
estaiadas ................................................................................................. 161
Figura 7.16 - Funções de distribuição propostas para Crv nas torres
autoportantes .......................................................................................... 162
Figura 7.17 - Funções de distribuição propostas para Crv nas torres
estaiadas ................................................................................................. 162
Figura 7.18 – Funções de densidade de probabilidade da demanda, Vmax
= 85 m/s, e da capacidade para força cortante global na torre SA50
.................................................................................................................. 165
Figura 7.19 – Curva de fragilidade a tornados para força cortante global
na torre SA50.......................................................................................... 165
Lista de tabelas
Tabela 2.1 – Escala de Fujita ............................................................................45
Tabela 2.2 - Escala Fujita-Pearson..................................................................47
Tabela 2.3 – Escala de Fujita Aprimorada......................................................48
Tabela 2.4 – Parâmetros de projeto para tornados nos Estados Unidos..58
Tabela 2.5 – Parâmetros de pressão para tornados nos Estados Unidos58
Tabela 4.1 - Freqüências naturais, em Hz, dos modelos de torre
analisados ..................................................................................................80
Tabela 6.1 – Parâmetro rmax/V ....................................................................... 143
Tabela 7.1 – Ajuste das funções de distribuição dos coeficientes de
demanda tornádicos .............................................................................. 163
Lista de símbolos
Ai área de exposição ao vento do módulo i;
Aexp projeção da área do corpo ortogonalmente ao vento incidente;
A0 área de uma dada região local de interesse;
A1
área, do lado do compartimento 1, da parede entre os compartimentos
1 e 2;
A2 área que conecta os compartimentos 1 e 2;
B projeção da largura do corpo no sentido da velocidade ou aceleração
incidente;
C(t) grandeza aleatória referente à capacidade da estrutura;
Cc coeficiente de compressibilidade;
Cd coeficiente de arrasto;
Ci coeficiente de arrasto de norma para o módulo i;
Cm coeficiente de inércia;
Cp coeficiente de pressão externa;
Cpi coeficiente de pressão interna;
Crc coeficiente de redução à compressão;
Crh coeficiente de redução horizontal;
Crt coeficiente de redução à tração;
Crtmast coeficiente de redução à tração no mastro;
Crv coeficiente de redução vertical;
Csf coeficiente de redução da pressão externa básica;
Csm coeficiente de redução da pressão interna básica;
D distância do centro da estrutura ao caminho do tornado;
D(t) grandeza aleatória referente à demanda causada pela solicitação;
F força;
FA força de arrasto;
Fb força cortante global de projeto;
Fblong força cortante global de projeto na direção longitudinal;
Fbtrans força cortante global de projeto na direção transversal;
FD função de distribuição de probabilidade da demanda;
Fh força global na direção horizontal;
Fhce força global horizontal, tomando a estrutura como corpo extenso;
Fhem força global horizontal, tomando a estrutura como eixo material;
FI força de inércia;
Fmax força global máxima em uma face da torre;
FN referência à classificação de tornados na Escala Fujita;
Fn força normal em um elemento do modelo devida ao tornado;
Fnb força normal em um elemento do modelo devida ao vento de projeto;
Fq força cortante global;
Fql força cortante global para vento na direção longitudinal;
Fqt força cortante global para vento na direção transversal;
Fq45 força cortante global para vento a 45º;
Fr força cortante global na direção radial;
Fres força global resultante máxima;
Ft força cortante global na direção tangencial;
Fv força global na direção vertical;
Fvce força global vertical, tomando a estrutura como corpo extenso;
Fvem força global vertical, tomando a estrutura como eixo material;
FAmax fator de amplificação de resposta máximo;
G taxa de fluxo de massa;
GN(in)(tj) massa de ar por unidade de tempo que entra no compartimento N no
instante tj;
GN(out)(tj) massa de ar por unidade de tempo que sai do compartimento N no
instante tj;
K constante de proporcionalidade da velocidade horizontal;
M momento global;
Mb momento global de projeto;
Mblong momento global de projeto devido ao vento na direção longitudinal;
Mbtrans momento global de projeto devido ao vento na direção transversal;
Mce momento global, tomando a estrutura como corpo extenso;
Mem momento global, tomando a estrutura como eixo material;
MPto momento de torção de projeto a tornados;
Mr momento global na direção radial;
Mt, momento global na direção tangencial;
MTlong momento global de torção para vento na direção longitudinal;
MTtrans momento global de torção para vento na direção transversal;
MT45 momento global de torção para vento a 45º;
Mto momento global de torção;
P peso próprio da torre;
Pf probabilidade de falha anual;
Pf/h probabilidade de falha condicionada a um valor da ameaça;
Pf/Vmax probabilidade de falha condicionada a Vmax;
PH(Vmax) probabilidade da ameaça tornádica;
Ptotal peso próprio da torre somado ao peso dos outros elementos da linha;
P(S) probabilidade anual de um tornado atingir um ponto;
P(Vs) probabilidade de a velocidade máxima de vento superar o valor Vs em
determinado tornado;
P(V>Vs) probabilidade anual de um ponto na área de interesse superar um
determinado valor Vs;
R velocidade radial;
RCOND velocidade radial no condutor;
Req velocidade radial equivalente no cabo;
S parâmetro de giro tornádico;
S0 distância entre os centros do tornado e da estrutura no início da
análise;
T velocidade tangencial;
TCOND velocidade tangencial no condutor;
Tmax velocidade tangencial máxima;
U deslocamento do topo;
Ub deslocamento do topo devido ao vento de projeto;
Ur deslocamento do topo na direção radial;
Ulong deslocamento do topo na direção longitudinal;
Ut deslocamento do topo na direção tangencial;
Utrans deslocamento do topo na direção transversal;
Uven velocidade de vento incidente;
U0 vento prevalecente da região;
V velocidade de translação do tornado;
Vc projeção do volume do corpo ortogonalmente à acelereção incidente;
Vh velocidade horizontal;
Vmax velocidade horizontal máxima de vento;
Vp velocidade de projeto a ventos usuais;
VPH velocidade horizontal de projeto a tornados;
VPHcabo velocidade horizontal de projeto a tornados no cabo;
VPHest velocidade horizontal estática de projeto a tornados;
VPV velocidade vertical de projeto a tornados;
VPVcabo velocidade vertical de projeto a tornados no cabo;
VPVest velocidade vertical estática de projeto a tornados;
Vro velocidade rotacional;
Vromax velocidade rotacional máxima;
Vs velocidade de vento genérica utilizada na análise probabilística;
Vsom velocidade do som;
W velocidade vertical;
WN(tj) massa de ar no compartimento N no instante tj;
WN(tj+1) massa de ar no compartimento N no instante tj+1;
a área média da trilha de dano;
ah convergência horizontal do vento no ambiente;
b parâmetro de flutuação das componentes de velocidade;
em espessura média da estrutura;
fC função de densidade de probabilidade da capacidade da estrutura;
fD função de densidade de probabilidade da demanda;
fH função de densidade de probabilidade da ameaça;
f0 freqüência fundamental do sistema;
h determinado valor de ameaça;
h' altura até o topo do domínio;
k razão entre os calores específicos do ar à pressão constante e a volume
constante;
lv vão de vento da linha de transmissão;
n freqüência anual de tornados observada na área A0;
pa queda de pressão atmosférica;
pamax queda de pressão atmosférica máxima;
pi mudança de pressão interna;
piN(tj) pressão no compartimento N no instante tj;
piN(tj+1) pressão no compartimento N no instante tj+1;
pmax pressão de vento máxima;
pv pressão de vento vertical no cabo;
pw pressão de vento utilizada no projeto de estruturas;
p1 pressão no compartimento 1;
p2 pressão no compartimento 2;
qf pressão externa básica;
qm pressão interna básica;
r distância ao centro do tornado dividida pelo raio do núcleo, r’/rmax;
r’ distância ao centro do tornado;
rmax raio do núcleo, onde ocorre a velocidade tangencial máxima;
u velocidade incidente na estrutura na direção x;
v velocidade incidente na estrutura na direção y;
w velocidade incidente na estrutura na direção z;
w0 velocidade vertical média no topo do domínio;
z altura sobre o solo;
β ângulo entre a trajetória do tornado e o eixo x;
γ1 peso por unidade de volume no compartimento 1;
∆t incremento de tempo;
δ(r) espessura da camada limite em função de r;
δ0 espessura da camada limite quando r >> 1;
η razão entre a altura sobre o solo e a espessura da camada limite, z/δ;
θ ângulo entre a trajetória do tornado e a reta que une os centros do
tornado e da estrutura;
ρ massa específica do ar;
φ ângulo entre o eixo x e a reta que une os centros do tornado e da
estrutura;
ω vorticidade vertical do ambiente.
“A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que
poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar.”
Sigmund Freud
1 Introdução
O tornado é um fenômeno meteorológico de ocorrência pontual que possui
um poder de destruição como poucos fenômenos da natureza. A despeito de ser
mais comum nas zonas temperadas do hemisfério norte, várias ocorrências têm
sido registradas em outros locais do planeta, incluindo-se o Brasil. Em território
nacional, acontece principalmente na região correspondente às bacias
hidrográficas do Sul e Sudeste. Do ponto de vista da engenharia estrutural,
atenção especial deve ser destinada a instalações industriais sensíveis, nas quais
eventuais danos resultariam em sérias conseqüências à vida humana e ao meio-
ambiente, como centrais nucleares. Torres de transmissão de energia elétrica são
também estruturas de destaque a tais efeitos, pois interrupções de fornecimento
são freqüentemente relatadas como conseqüência da queda desses suportes da
linha, por vezes decorrentes de tempestades de pequena escala para as quais não
foram projetadas, como tornados.
A maioria dos trabalhos existentes na literatura trata da questão sob
enfoques meteorológico e estatístico. Poucos estudos discorrem sobre os efeitos
mecânicos da incidência de tornados sobre estruturas, provavelmente por conta do
pouco conhecimento desenvolvido sobre os campos de vento e pressão tornádicos.
Wen (1975) adapta o modelo de Kuo (1971) e apresenta uma análise dinâmica de
um edifício alto em estrutura de aço, incluindo efeitos convectivos. Eberline et al
(1991) reportam a resposta estrutural não- linear de um sistema condutor de
carvão, mostrando grande sensibilidade da estrutura à velocidade de translação do
tornado incidente. Dutta et al (2002) mostram que o efeito combinado do
carregamento lateral de vento com a componente vertical é mais danoso do que o
primeiro tomado isoladamente. Uma análise numérica da ruptura de uma torre de
transmissão de energia elétrica por conta de um tornado é realizada por Savory et
al (2001). Estudos brasileiros dessa natureza são incipientes.
27
Neste contexto, objetiva-se o aprofundamento do estudo dos efeitos
mecânicos advindos da incidência de tornados em torres de transmissão de energia
elétrica. Em termos mais estritos, as principais metas são:
• Estudo da resposta mecânica de torres de transmissão
representativas do território nacional submetidas a tornados factíveis
nesse território;
• Proposta de metodologia para avaliação dos efeitos mecânicos
globais de tornados no projeto de torres de transmissão;
• Proposta de metodologia para avaliação da probabilidade de falha
de torres de transmissão a tornados.
Com foco em tais metas, o trabalho é organizado. No capítulo 2, apresenta-
se a revisão bibliográfica, onde se descreve o fenômeno sob ótica meteorológica e
comenta-se sobre as metodologias existentes para a avaliação de efeitos
mecânicos. O território brasileiro é, por vezes, tratado em particular. No capítulo
3, introduz-se o modelo de campo de vento tornádico utilizado neste estudo,
proposto por Wen (1975) a partir do trabalho de Kuo (1971). Os modelos de
torres são descritos e mostrados no capítulo 4.
Transcorridas as ponderações iniciais, passa-se às análises estruturais no
capítulo 5. Estudam-se modelos simples e de torres representativas da região
brasileira crítica à ocorrência de tornados, com enfoque sobre ações mecânicas
globais. Comparações com valores de projeto são realizadas e elegem-se aspectos
relevantes e simplificações importantes para o problema em questão. A partir das
inferências dessa abordagem, sugere-se e ilustra-se, no capítulo 6, a metodologia
para estimativa do carregamento a ser considerado no projeto de torres de
transmissão a tornados. Por fim, no capítulo 7, a ferramenta para avaliação da
probabilidade anual de falha é proposta e exemplificada.
2 Revisão bibliográfica
2.1 O evento meteorológico
2.1.1 Considerações gerais
Dependendo de sua intensidade, tornados podem chegar a devastar
completamente uma comunidade, pela ação combinada do vento giratório e
diferença de pressão exercidos sobre a área localizada. De acordo com Kessler
(1970), nos Estados Unidos, onde sua ocorrência é muito freqüente, causa danos
estimados em US$ 100 milhões por ano. Apresenta diâmetro médio da ordem de
300 m e se desenvolve dentro de uma severa tempestade, movendo-se com
velocidade translacional que pode chegar a 100 km/h em uma trilha de
aproximadamente 15 km, geralmente em sentido nordeste. A velocidade
tangencial do vento pode chegar a 350 km/h na região limite do funil.
Segundo Nalivkin (1983), o fenômeno consiste em uma chaminé de ar de
altíssima rotação, pendente de uma nuvem cúmulo-nimbo. O Glossário de
Meteorologia da American Meteorological Society (2000) assim define tornado:
“uma coluna de ar com rotação violenta e em contato com o solo, pendente de
uma nuvem cumuliforme ou sob uma nuvem cumuliforme e geralmente, mas nem
sempre, visível como um funil de condensação”. A maior parte dos estudos sobre
tornados os tem considerado de maneira independente, isto é, desvinculados das
nuvens de tempestade. Somente nos últimos anos é que alguns estudiosos
passaram a dar atenção ao relacionamento direto entre tornados e a vorticidade
das nuvens. O fenômeno principal é justamente essa vorticidade da chamada
nuvem-mãe, sendo o tornado uma formação semelhante, secundária, dela
originada e pendendo da mesma em forma de tuba ou tromba. Exemplo de
29
tornado encontra-se na Figura 2.1, onde se pode visualizar nitidamente a nuvem-
mãe e o funil dela originado.
Figura 2.1 - Exemplo de tornado na Flórida, EUA, 1991 (foto de Fred Smith)
Um detalhe importante, conseqüência da própria definição de tornado, é o
fato de a circulação estar em contato com o solo. Quando o funil rotativo de
condensação não atinge o solo, temos uma nuvem-funil, não um tornado, como
mostrado na Figura 2.2. A circulação pode, ainda, atingir o solo, mesmo sem que
o funil de condensação o faça, caracterizando um tornado.
Figura 2.2 – Funil rotativo de condensação em Xanxerê – SC (2005)
30
Há dois tipos de tornados. O primeiro, tipo 1, formado a partir de
tempestade tipo supercélula, é mais intenso. Tais tempestades possuem longa
duração (>1h) e apresentam uma corrente de ar ascendente com rotação. São as
tempestades convectivas mais intensas que existem. Ocorrem em latitudes médias
e subtropicais. O segundo, do tipo 2, corresponde àqueles tornados, mais fracos,
gerados por nuvens tipo cúmulo-nimbo não-supercélulas, de curta duração, na
fase inicial de seu desenvolvimento. Essas tempestades não são confinadas às
latitudes médias e subtropicais.
2.1.2 Situações atmosféricas favoráveis à formação de tornados
As situações propícias à formação de tornados são condicionadas por
inúmeros fatores meteorológicos distribuídos em diversas escalas de movimento,
desde a escala sinótica (da ordem de centenas de quilômetros e com várias horas
de duração) até a escala de nuvem (da ordem de poucos quilômetros e alguns
minutos de duração). Tais fatores dificilmente estão presentes todos ao mesmo
tempo em um dado ponto e, por isso, tornados são fenômenos meteorológicos
raros.
Para a formação de uma supercélula, o primeiro fator básico é a presença de
instabilidade termodinâmica, necessária para a ocorrência de qualquer tipo de
tempestade. A mesma consiste nos movimentos ascendente e descendente de
correntes de ar causados pelo resfriamento em baixos níveis e aquecimento em
níveis médios. Outra condição é o cisalhamento vertical de vento entre a
superfície e aproximadamente 5 km de altura, gerando vorticidade horizontal.
Essa, juntamente com a variação da velocidade vertical ascendente, pode levar à
formação de mesociclones ou mesoanticiclones.
Para haver cisalhamento vertical do vento em grande escala, é necessária
grande variação horizontal de temperatura, isto é, uma atmosfera baroclínica. A
atmosfera em latitudes médias e subtropicais é bem mais baroclínica do que a
atmosfera em latitudes tropicais/equatoriais. Por isso, supercélulas (e tornados tipo
1) formam-se em latitudes mais altas. O fenômeno pode ocorrer em qualquer
época, mas é mais comum na primavera, quando a atmosfera nos níveis superiores
ainda está fria e os aquecimentos, mesmo não tão grandes nessa estação, causam
31
convecções intensas devidas à diferença de temperatura entre a superfície e os
níveis superiores. Asnani (1993) faz referência desde condições de trovoadas
severas até o nível de tornado devido à forte instabilidade convectiva.
Os tornados tipo 2 geralmente se formam no estágio inicial da nuvem
convectiva, quando a corrente ascendente está ganhando força. Não requerem,
portanto, cisalhamento vertical de vento na escala sinótica. Por isso, são
observados também na região tropical/equatorial. Podem assim, inclusive, ocorrer
em qualquer lugar do Brasil.
2.1.3 Ocorrências
2.1.3.1 No mundo
Como já mencionado, o fenômeno é mais freqüente nas latitudes
extratropicais do que nos trópicos. Dentro da faixa tropical, entre 20ºN e 20ºS, os
tornados mostram-se mais fracos, desenvolvendo-se, na maioria das vezes, como
trombas de água cruzando o litoral (Asnani, 1993). A região do mundo que
apresenta maior ocorrência são os Estados Unidos. Segundo Flora (1953), durante
um período de 35 anos, de 1916 a 1950, foi registrada a passagem de 5200
tornados, com a morte de 7961 pessoas; de 1916 a 1961, esse número de tornados
atingiu a casa de 11053 habitantes em todo o território norte-americano. Tornados
têm sido registrados também, embora com freqüências menores, na Austrália,
Europa Ocidental, Índia e Japão. A Figura 2.3, de Brooks et al (2006), mostra a
quantidade anual de dias sob condições favoráveis à ocorrência de tornados no
período entre 1980 e 1999. Praticamente, nota-se que tais condições ocorrem
somente em zonas de clima temperado.
Na América do Sul, o país que contabiliza mais registros é a Argentina,
seguido por Brasil e Paraguai. Segundo Dyer (1991), muito embora notícias de
tornados tenham sido registradas há longo tempo nos órgãos de imprensa da
Argentina, somente a partir de 1971 tais sinistros começaram a ser,
sistematicamente, estudados. No Paraguai a matéria é pouco documentada. Taxas
de ocorrência de tornados baseadas em um banco de dados de mais de 50 anos
32
para o caso argentino são mostradas na Figura 2.4, extraídas de Schwarzkopf et al
(1993, apud Goliger e Milford, 1998). A região ‘A’ apresenta probabilidade anual
de 2.10-4/km2, correspondente ao dobro da probabilidade em ‘B’ e ao quádruplo
de ‘C’. A área hachurada indica regiões onde ventos de alta intensidade, incluindo
tornados, ocorrem.
Figura 2.3 - Dias anuais com condições favoráveis à ocorrência de tornados no período
de 1980 a 1999 – Brooks et al (2006)
Figura 2.4 – Ocorrência de tornados na Argentina – Goliger e Milford (1998)
2.1.3.2 No Brasil
Dyer (1991) apresenta dados sobre a ocorrência de tornados no Brasil,
Argentina e Paraguai. A partir de imagens de fotografias aéreas tomadas em 1965
33
e em algumas imagens Landsat no início da década de 1970, o autor, pioneiro no
estudo de tornados no Brasil, identifica uma série de 24 rastros de desmatamento
em meio a densas florestas na região da Bacia do Paraná. A extensão e a largura
de tais rastros apresentam variações, sendo que o mais longo apresenta
comprimento de cerca de 70 km, enquanto que a maior largura observada é de 2
km, aproximadamente. Exemplos de tornados ocorridos no território nacional são
mostrados nas Figuras 2.5 e 2.6. Este último, ocorrido no mar, é também
denominado tromba d’água.
Figura 2.5 – Tornado ocorrido em Indaiatuba, SP, 2005 – Rodovia das Colinas S.A.
Figura 2.6 – Tromba d’água na Bacia de Campos, RJ, próximo à plataforma P-17, 2001
34
Há outros estudos brasileiros sobre o assunto. Oliveira (2000) apresenta
levantamento de tornados ocorridos em Santa Catarina e Nechet (2002) descreve a
ocorrência de tornados em diversas regiões do país.
Dadas as condições favoráveis à ocorrência de tornados e a extensão do
território brasileiro, que possui regimes atmosféricos distintos, pode-se dividir o
mesmo em dois setores, no contexto de atividades de tempestades severas:
tropical e subtropical. O setor tropical, com ênfase sobre a bacia amazônica,
apresenta escoamento de leste em escala sinótica, com teor de umidade elevado e
moderada instabilidade termodinâmica. Apesar de ser a região brasileira que
apresenta a maior atividade convectiva, a ausência de variação horizontal da
temperatura em escala sinótica e, conseqüentemente, de força cortante de vento
intensa, faz com que a bacia amazônica não seja uma região propícia à formação
de supercélulas, o que faz com que os tornados sejam menos intensos.
Já o cenário para o setor subtropical é diferente, sendo caracterizado pelo
escoamento de oeste, que, em determinadas ocasiões, pode ser acompanhado de
ingredientes necessários à formação de supercélulas (Nascimento, 2004), como
baroclinia, instabilidade termodinâmica, oferta de umidade em baixos níveis e
mecanismo de disparo das tempestades (por exemplo, o avanço de um sistema
frontal). Assim, apesar de registrarem menor atividade de convecção quando
comparadas com a Amazônia, as regiões Sul e Sudeste do Brasil apresentam
condições mais propícias para a formação de supercélulas e, por conseguinte, de
tornados mais intensos.
Levando-se em conta ainda a orografia, definem-se assim dois ambientes
principais onde tornados são possíveis:
• Setor Tropical (STROP): região da Planície Amazônica ao norte de
10° S;
• Setor Subtropical (SSUBT): região ao sul de 20° S, particularmente os
estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo,
Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais.
Considerando-se esses dois setores principais do território brasileiro onde
tornados são possíveis, as localizações das ocorrências de tornados com a
respectiva classificação de intensidade segundo a Escala Fujita (a ser apresentada
35
em 2.1.5), e delimitando uma área propícia a essas ocorrências, sugere-se uma
regionalização do ambiente atmosférico correspondente em três províncias
tornádicas: Província da Bacia Amazônica – PBA, Província da Bacia Paraná-
Paraguai-Uruguai (do Prata) – PBP, Província da Bacia do Atlântico Sul-Sudeste
– PBASSE.
As Figuras 2.7 e 2.8 apresentam, respectivamente, mapas com a
conformação das bacias hidrográficas do território nacional e a divisão política da
América do Sul e, sobre ambos, a plotagem das ocorrências de tornados com a
respectiva classificação de intensidade segundo a Escala Fujita. As províncias
tornádicas da Bacia Amazônica e da Bacia do Prata estão representadas
esquematicamente por poligonais, enquanto a Província da Bacia do Atlântico
Sul-Sudeste é ilustrada pela área em verde.
Figura 2.7 – Ocorrências de tornados e conformação das bacias hidrográficas –
Relatório 001/4 (2007)
36
Figura 2.8 – Ocorrência de tornados na América do Sul – Relatório 001/4 (2007)
2.1.4 O movimento e a estrutura do tornado
O movimento de translação do tornado essencialmente acompanha o
deslocamento da tempestade que o forma . Isso ocorre porque o tornado está
diretamente associado, e deve sua existência, à corrente ascendente da tempestade,
a qual promove a inclinação de vórtices horizontais e/ou o estiramento vertical de
vórtices em baixos níveis, o que essencialmente gera e mantém o tornado (Klemp,
1987). A velocidade translacional pode variar entre 0 e 100 km/h. No hemisfério
norte é, na maioria das vezes, mas nem sempre, no sentido sudoeste-nordeste. No
hemisfério sul, a tendência é que se desloquem no sentido noroeste-sudeste. Tais
fatos são ilustrados pelas trilhas mostradas nas Figuras 2.9 e 2.10.
Apesar dessa tendência de comportamento, o movimento de um tornado é
incerto, conforme exemplo mostrado na Figura 2.11. Há casos reportados de
tornados que permanecem estacionários por algum momento e, então, mudam sua
direção bruscamente (Sherman, 1973; Melaragno, 1982). No caso de um tornado
ocorrido na Índia, em 1987, há uma reversão no movimento de 180º, seguida por
um deslocamento e outra reversão, desta vez em 90º (Agarwal et al, 1997).
37
Figura 2.9 – Tornados ocorridos em 03/05/1999, em Oklahoma: sentido nordeste -
National Weather Service, Norman, Oklahoma
Figura 2.10 – Trilhas de tornados hemisfério sul: sentido sudeste – Dyer (1991)
38
Figura 2.11 – Mudança brusca na direção de movimento do tornado, Iowa, 1999 –
National Weather Service (2003)
Quanto à estrutura, o tornado é um vórtice, geralmente ciclônico, com baixa
pressão em seu centro. A queda de pressão pode chegar a 100 mb.
Lewellen (1976) considera cinco regiões na estrutura de um tornado (Figura
2.12):
Figura 2.12 – Estrutura do tornado – adaptada de Lewellen (1976); foto: Willhelmsom e
Wicker (2001)
39
• Região I: Escoamento externo;
• Região II: Núcleo do vórtice;
• Região III: Escoamento de canto;
• Região IV: Camada limite ou camada de influxo;
• Região V: Pluma convectiva.
O escoamento externo, região I, estende-se radialmente por cerca de 1 km a
partir da “parede” do núcleo. Nessa região, o ar aproxima-se do núcleo e sobe ao
encontrar a região II. O ar da região I não consegue penetrar na região II porque a
força do gradiente horizontal de pressão (que acelera o ar na direção do tornado)
não consegue superar a força centrípeta na fronteira da região II. O escoamento
dessa região não é o que mais ameaça as edificações e estruturas em superfície
(mas pode ser uma ameaça para a aviação nas proximidades do tornado; por
exemplo, helicópteros tentando aproximação).
O núcleo, região II, estende-se para fora a partir do eixo de rotação até
aproximadamente o setor de velocidade tangencial mais alta. Seu raio varia de
dezenas a centenas de metros. Núcleos pequenos estão aproximadamente em
rotação de corpo sólido. Núcleos maiores podem ter velocidade angular maior
conforme se afasta do seu eixo central.
O movimento vertical dentro da região II é ascendente ou uma combinação
de movimentos ascendente e descendente. No caso de presença de corrente
descendente, têm-se pontos de estagnação na fronteira entre os movimentos
ascendente e descendente. Como não existem trocas de ar entre as regiões I e II, o
ar dentro do núcleo advém das regiões III, IV ou V. O escoamento da região II
não afeta diretamente edificações e estruturas em superfície, mas detritos e
escombros leves adentrando essa região podem ser carregados para distâncias
maiores. Em trombas d’água (tornados formados na água), isso pode incluir
peixes. Tem-se ainda que o escoamento dessa região está em balanço ciclostrófico
(Davies-Jones et al, 2001), que é o equilíbrio entre as forças centrípeta e de
gradiente de pressão.
O escoamento de canto, região III, é o desvio vertical abrupto do influxo
vindo da região IV. É nessa região que a maior destruição é causada, mísseis são
gerados, detritos e escombros são lançados ao ar. Lewellen (1976) sugere que a
40
velocidade tangencial máxima do tornado ocorre na metade superior do
escoamento de canto. Observações da estrutura interna do tornado feitas com
radar Doppler parecem confirmar isso (Wurman, 2002). Processos que ocorrem na
região III podem levar à formação de subvórtices (subtornados), com poder
destrutivo maior do que o do tornado em si. Tal formação depende da fração do
volume do fluxo em excesso na camada limite, que é avaliada pelo parâmetro de
giro, S, definido como a razão entre a vorticidade vertical (que é uma medida de
rotação do fluido) e a convergência horizontal do vento ambiental — por
“ambiente”, entenda-se o ambiente externo vizinho ao vórtice, que tem influência
direta sobre o comportamento do mesmo. O parâmetro de giro é avaliado pela
equação a seguir:
( )0
max
h
max
wT
)h' a 2(r
S =ω
= (2.1)
onde ? é a vorticidade vertical do ambiente, ah é a convergência horizontal do
vento no ambiente, Tmax é a velocidade tangencial do influxo em rmax, que é o raio
do núcleo tornádico, w0 é a velocidade vertical média no topo do domínio e h’ é a
altura até o topo do domínio.
A Figura 2.13 ilustra como o escoamento de canto em um vórtice
semelhante a um tornado tem seu comportamento qualitativamente representado
pelo parâmetro S. Quando S tende a zero (isto é, quando não há a formação de um
vórtice; ? ≈0 ou Tmax≈0), a camada limite no escoamento de canto sofre uma
separação, com o influxo circundando uma região de estagnação (Figura 2.13a).
Um valor pequeno de S, indicando a presença de alguma rotação, é suficiente para
manter o escoamento de canto rente ao solo (Figura 2.13b). Esse é o caso clá ssico
associado, por exemplo, a um tornado com uma única célula de rotação.
Para valores de S da ordem de grandeza de 1, o fluxo vertical ascendente de
ar na corrente de canto passa a ser mais intenso do que o suportado pela condição
de contorno superior para a velocidade vertical (dada por w0). Como
conseqüência, uma corrente descendente tem de se formar no eixo do vórtice
(Figura 2.13c) para que, em média, a velocidade vertical ao longo do topo do
domínio satisfaça a condição de contorno superior. Há, assim, em um ponto acima
da superfície, uma transição brusca do escoamento entre corrente ascendente e
41
descendente. Nos níveis acima dessa região de transição, o vórtice apresenta um
padrão de duas células de rotação.
Figura 2.13 - Ilustração esquemática de tipos de vórtice de canto - Lewellen (1993)
Para valores mais altos de S, a corrente descendente pode atingir a
superfície (Figura 2.13d), e nesse caso a região de corrente ascendente no vórtice
em superfície não se dá mais em um ponto central de convergência (como no caso
da Figura 2.13b), mas ao longo de um anel em torno do centro do vórtice. Esse
caso passa a apresentar o padrão de duas células de rotação ao nível do solo e
representa aproximadamente o caso de um tornado com dois subvórtices girando
em torno de um eixo principal. Finalmente, se S continuar a aumentar, podem
ocorrer instabilidades ao longo do anel de correntes ascendentes e um número
maior de subvórtices pode ocorrer (Figura 2.13e). Imagens de um radar Doppler
42
móvel mostrando os subvórtices de um tornado ocorrido em Oklahoma em 1999
podem ser vistas na Figura 2.14.
Figura 2.14 – Imagens do radar Doppler móvel, mostrando subvórtices no tornado de
Oklahoma, em 1999 – Wurman (2002)
Fica evidente que a complexidade do escoamento do vento em superfície no
vórtice será tanto maior quanto maior for S. O último caso representa a situação
de vários subvórtices tornádicos, que é a condição de maior poder destrutivo em
superfície, como, por exemplo, no caso do tornado na cidade de Indaiatuba/SP.
Acredita-se que a velocidade de movimento dos subvórtices em torno do eixo do
tornado varie entre 50 e 100% da velocidade tangencial do mesmo (Wurman,
2002).
A região IV, de influxo, próxima à superfície, é caracterizada pela redução
da velocidade tangencial por causa da força de atrito existente entre o escoamento
e o solo. Desfaz-se então o balanço ciclostrófico, pois a força do gradiente de
pressão torna-se bem mais intensa do que a força centrípeta. Portanto, o
escoamento perto da superfície nas vizinhanças de um tornado é acelerado na
direção do mesmo. O vento na camada de influxo pode ser intenso o suficiente
para causar danos significativos em edificações e estruturas. Ou seja, uma
estrutura não precisa ser atingida diretamente pelo núcleo tornárdico para sofrer
danos (Figura 2.15).
43
Figura 2.15 – Danos a construções em superfície causados pela velocidade radial dentro
da camada limite - Federal Emergency Management Agency, FEMA, 1999
A Região V é a chamada nuvem ou tempestade-mãe, que impõe a condição
de contorno superior e alimenta de energia todo o processo pela transformação de
sua energia potencial em energia cinética do vento no vórtice do tornado, muito
perto da superfície, onde é possível causar grande destruição. O momento angular
do vórtice primário é transferido e dissipado de forma turbulenta no contorno
superior.
2.1.5 A escala de Fujita
Uma característica importante relacionada ao estudo de tornados é a
necessidade de escalas que permitam estimar a velocidade do vento, pois essa
raramente pode ser medida de modo direto. A escala mais utilizada é a proposta
44
por Fujita (1971), a partir de um intenso levantamento fotogramétrico, feito desde
o início dos anos 60, da destruição causada por tornados e micro-explosões nos
Estados Unidos. Baseado na ampla experiência adquirida com esses
levantamentos, ele propõe uma escala de classificação de tornados. A idéia
consiste em dividir a intensidade do vento tornádico em categorias, a partir da
conexão da velocidade B12 da Escala Beaufort, de 1805, com o número Mach 1,
através de uma curva suave (Figura 2.16):
5,1
Nmax )2F(3,6V += (2.2)
onde Vmax (em m/s) é o limite inferior de cada categoria FN.
Figura 2.16 – A escala de Fujita (1971)
F1 corresponde a B12 e F12 a Mach1 (a -3º C). A velocidade na escala de
Fujita (ou Escala-F) refere-se ao vento máximo que é sustentado por um quarto de
milha (cerca de 402 m). Portanto, velocidades superiores a 80 m/s na Escala Fujita
correspondem a rajadas de vento (duração menor que 5 s).
45
Assim, os tornados são classificados em seis categorias, de F0 a F5,
considerando eventualmente categorias de F6 a F12, de acordo com o seu poder
de destruição (Tabela 2.1).
Tabela 2.1 – Escala de Fujita
Escala Denominação Velocidade máxima
de vento, Vmax (m/s) Danos
F0 Tornado Rajada 17 - 32
Danos a antenas,
quebra de galhos de
árvores
F1 Tornado Moderado 32 - 50
Danos a fundações,
movimentação de
carros
F2 Tornado Significante 50 - 70
Grandes árvores
arrancadas, objetos
leves arremessados
F3 Tornado Severo 70 - 92
Carros pesados
transportados, trens
virados
F4 Tornado Devastador 92 - 116
Casas frágeis
transportadas, carros
arremessados
F5 Tornado Inacreditável 116 - 142
Casas fortes
desintegradas, carros
arremessados por até
100 m
F6-F12 Tornado Inconcebível 142 - Vsom Danos inconcebíveis
A intensidade e o tamanho do rastro de destruição de um tornado estão
relacionados, pelo menos estatisticamente. Quando a largura e/ou o comprimento
da trilha aumenta, maior a probabilidade de se ter um tornado mais intenso na
Escala-F (Figura 2.17). Portanto, é razoável assumir que os dados geométricos da
trilha de um tornado sejam um indicador de sua intensidade. Não se recomenda,
no entanto, a aplicação desses valores estatísticos diretamente a tornados
específicos (National Weather Service, 2003)
46
Figura 2.17 – Relação entre intensidade, largura (a) e comprimento (b) das trilhas
tornádicas – adaptada de National Weather Service (2003)
A escala de Pearson, que complementa a Escala-F, também tem seis níveis
que indicam o comprimento e a largura médios da trilha (rastro) de dano. Um
tornado pode ser convenientemente classificado pelo seu número FPP, onde a
letra F associa-se à intensidade na escala de Fujita, enquanto a primeira e a
47
segunda letra P representam, respectivamente, o comprimento e a largura da trilha
segundo a escala de Pearson. Por exemplo, um tornado 3,2,4 apresenta intensidade
F3, comprimento de trilha P2 e largura P4. A Tabela 2.2 mostra as classificações
FPP.
Tabela 2.2 - Escala Fujita-Pearson
Categoria Comprimento (km) Largura (m)
P0 0,5-1,6 5,5-16,5
P1 1,6-5 16,5-50,3
P2 5-16 50,3-161
P3 16-50 161-483
P4 50-161 483-1609
P5 161-507 1609-5149
T. Fujita reconhece que há uma limitação séria em sua escala no que diz
respeito à estimativa da velocidade do vento baseada no grau de destruição de
estruturas. Estruturas fracas podem sofrer grande destruição, mesmo com ventos
não muito intensos. Em 1992, ele propõe uma modificação em sua escala, que
considera o tipo de estrutura para a classificação na Escala-F.
Ainda assim, grande insatisfação nas comunidades de meteorologia e
engenharia em relação à escala de Fujita persiste. Sente-se a necessidade de maior
detalhamento nos indicadores de danos, de consideração da qualidade e da
variabilidade da qualidade das construções e de uma melhor correlação entre
danos e velocidade do vento. Estudos mais recentes (e.g., Phan e Simiu, 1998)
mostram que ventos de 420 km/h não são necessários para destruir completamente
uma casa bem construída e espalhar seus escombros. Velocidades abaixo desse
limiar já seriam capazes de causar esse tipo de destruição.
Em 2001, uma equipe de especialistas (engenheiros, meteorologistas e
arquitetos) com ampla experiência em análise de danos causados por ventos nos
Estados Unidos reúne-se para estabelecer a chamada Escala de Fujita Aprimorada
(Escala-EF). Os principais objetivos são: identificar indicadores de danos mais
detalhados; discriminar graus de destruição para cada um desses indicadores;
melhorar a estimativa de velocidades de vento para cada categoria de tornado, mas
48
sem comprometer a longa série histórica de classificação baseada na Escala-F
original. Chegam então a uma classificação que preserva a sistemática inicial,
alterando apenas os limiares de velocidade de vento para cada categoria (Tabela
2.3).
Tabela 2.3 – Escala de Fujita Aprimorada
Classificação na escala-F Classificação
correspondente na escala-EF
Novos limiares de velocidade
do vento (m/s)
F0 EF0 29-35
F1 EF1 35-50
F2 EF2 50-63
F3 EF3 63-86
F4 EF4 86-90
F5 EF5 >90
2.2 Considerações de projeto
Os primeiros estudos sobre tornados são remotos, do final do século XIX.
Finley (1884, apud Dutta et al, 2002) apresent a um trabalho sobre as
características de seiscentos tornados. Esses primeiros estudos dão maior ênfase
aos aspectos meteorológicos e à estimativa de danos. Quando se pensa em
avaliação de efeitos mecânicos sob o ponto de vista da engenharia, torna-se de
fundamental importância o conhecimento dos campos cinemáticos de vento e de
pressão dos tornados. Tal conhecimento é de difícil obtenção, dada a
imprevisibilidade e curta duração do fenômeno, o que torna bastante trabalhosa a
realização de medições diretas. Estudos nesse sentido iniciam-se na década de
1960, com os trabalhos pioneiros de Hoecker (1960, 1961). Através de
observações de campo do tornado de Dallas, ocorrido em 1957, o autor chega a
conclusões interessantes sobre a estrutura do vórtice, notando que o mesmo
assemelha-se ao vórtice de Rankine para alturas maiores que 330 m. Ou seja,
nessa região, do centro até um raio rmax, o regime é de um corpo sólido e, a partir
daí, a velocidade tangencial é inversamente proporcional à distância ao centro do
49
tornado. Para pequenas alturas, menores que 45 m, tal comportamento desvia-se
um pouco disso, dada a interferência do solo. A velocidade tangencial máxima
ocorre na fronteira do núcleo. Trabalhos semelhantes são desenvolvidos nessa
mesma década. Glassler (1960) estuda a aplicabilidade da equação ciclostrófica
para a estimativa da queda de pressão atmosférica devida ao tornado. Fujita
(1960) apresenta análises de campo detalhadas de tornados ocorridos em Fargo. O
modelo teórico desenvolvido por Kuo (1971) resulta em perfis das componentes
de velocidade do tornado, dependentes da distância radial e da altura sobre o solo.
Tal modelo é adaptado por Wen (1975) para aplicações em engenharia, sendo o
mesmo adotado no que segue.
Estudos de engenharia, porém, iniciam-se apenas no ano de 1966 (Dutta et
al, 2002), principalmente por causa dos requisitos de segurança exigidos para
usinas nucleares. Chang (1966) anuncia o primeiro tornado produzido em
laboratório. Em trabalhos subseqüentes, Chang (1971), Chang e Wan (1972), o
autor apresenta detalhes da simulação de tornados, com medidas de diferentes
componentes de velocidade e suas variações. Chang* (1971) sugere ainda que
estruturas projetadas a tornados devam ser dimensionadas para acréscimos de
pressão dinâmica de 20 a 70% da média.
A maioria das análises dos efeitos de tornados sobre sistemas estruturais
apresentada na literatura é estática. McDonald (1970) mostra a resposta de um
edifício de 20 andares ao tornado de Lubbock, Texas. Doan (1970) discute
considerações de tornados para usinas nucleares. Trabalho semelhante é realizado
por McDonald et al (1974). Sherman (1973) apresenta considerações dos efeitos
de tornados sobre estruturas simples, com o objetivo de propor uma metodologia
de projeto. Ainda em relação à análise estática, citam-se os estudos de Mehta et al
(1976) e Sparks et al (1988).
A primeira análise dinâmica é realizada por Wen (1975), que apresenta a
resposta estrutural de edifícios altos, utilizando o modelo de campo de vento de
Kuo (1971). O autor introduz ainda a consideração dos efeitos da parcela de
inércia na solicitação (eq. 3.8), essenciais em fluxos tornádicos, pois os mesmos
apresentam variações bruscas das componentes de velocidade, o que resulta em
elevados gradientes. Mehta e McDonald (1986) apontam a dificuldade de medição
de velocidades e pressões no tornado e a conseqüente falta de conhecimento sobre
50
esses campos. Ainda segundo os autores, devido a esse fato, análises dinâmicas
dos mesmos sobre estruturas são raras.
Estudos geralmente têm considerado que o custo associado à execução de
estruturas usuais projetadas para suportar efeitos de tornados é significantemente
maior que o risco associado ao fenômeno. Por essa razão, a maioria das normas de
projeto (e.g. Uniform Building Code, Southern Building Code, American National
Standard A58.1) não inclui recomendações para resistência a tornados. Entretanto,
quando se trata de estruturas cujos danos associados resultam em conseqüências
extremamente graves, os efeitos da ocorrência de tornados devem ser
explicitamente considerados. Para usinas nucleares, por exemplo, a norma
americana preconiza que “... estruturas, sistemas e componentes importantes para
a segurança... projetados para resistir ao efeito de fenômenos naturais como...
tornados... sem perda da capacidade de desempenhar suas funções de segurança”.
Nos Estados Unidos, a permissão para construção ou operação de usinas nucleares
só é obtida se cumpridas as normas dos Guias Reguladores da USNRC (United
States Nuclear Regulatory Commission).
As ações mecânicas de tornados sobre estruturas podem ser divididas em
três grupos, analisados a seguir:
1) Pressões de vento, causadas pela ação direta sobre a estrutura;
2) Sucções associadas à variação do campo de pressão atmosférica na região
do tornado;
3) Forças de impacto causadas pelo choque de projéteis arremessados.
2.2.1 Efeitos mecânicos sobre estruturas
2.2.1.1 Pressão direta de vento
Modelos usuais para aplicações em engenharia assumem que o tornado é
governado por cinco parâmetros: velocidade de rotação máxima, Vromax;
velocidade de translação do tornado, V; raio da velocidade tangencial máxima,
rmax; queda de pressão, pa; e taxa de queda de pressão, dpa/dt. Vários modelos
51
teóricos baseados em fluxos hidrodinâmicos são propostos na literatura (e.g.,
Abdullah, 1955; Kuo, 1971). Modelos práticos são sugeridos (e.g., Bates e
Swanson, 1967; Paddleford, 1969) a partir dos estudos de Hoecker (1960) sobre o
tornado ocorrido em Dallas, 1957.
Obtém-se a pressão de vento na estrutura a partir da velocidade de vento
incidente. As propostas existentes são semelhantes, não considerando, em sua
maioria, efeitos de inércia. O procedimento descrito é sugerido por Rotz et al
(1974), admitindo o modelo experimental de campo de vento de Hoecker (1960),
e considera que:
1. As velocidades e pressões não variam com a altura;
2. A componente tangencial, T, da velocidade é dada por:
maxmax
r'T= T
r (0 ≤ r’ ≤ rmax) (2.3)
maxmax
rT= T
r' (rmax ≤ r’ < ∞) (2.4)
3. A velocidade horizontal total, Vh, é dada por:
Vh = K.T (2.5)
onde K é uma constante de proporcionalidade.
A pressão de vento pw usada no projeto de estruturas ou em parte dessas é
dada pela equação abaixo:
pw = qf Cp + qmCpi (2.6)
onde:
Cp - coeficiente de pressão externa;
Cpi - coeficiente de pressão interna;
qf - pressão externa básica;
qm - pressão interna básica.
52
Valores dos coeficientes de pressão são sugeridos pelo American National
Standards Institute (1982). Os valores de qf e qm podem ser calculados pelas
expressões:
qf = Csf pmax (2.7)
qm = Csm pmax (2.8)
onde:
2maxmax
1p = V
2ρ (2.9)
Na equação anterior, ρ é a massa específica do ar e Vmax é a máxima
velocidade horizontal do vento. Csf e Csm são coeficientes de redução para
considerar a variação espacial do campo de vento do tornado e podem ser obtidos
por metodologia específica. A eq. (2.9), com a massa específica do ar colocada
implicitamente, é constante também na NBR 6123 - Forças devidas ao vento em
edificações (ABNT, 1988).
2.2.1.2 Efeito de sucção
Conhecido o campo de velocidade, o campo de pressão pode ser obtido
através da equação ciclostrófica:
2
adp Tdr' r '
= ρ (2.10)
Integrando-se a expressão acima, considerando T dado pelas eqs. (2.3) e
(2.4), obtém-se a queda de pressão total para uma distância r’ (Rotz et al, 1974):
2 2max
a 2max
T r 'p (r') 2
2 r
= ρ −
(0 ≤ r’ ≤ rmax) (2.11)
2 2max max
a 2
T rp (r')
2 r '= ρ (rmax ≤ r’ < ∞) (2.12)
53
No caso de estruturas não-ventiladas, a pressão interna não se altera com a
passagem do tornado. Portanto, a queda de pressão total é pa(r’). A máxima
diferença de pressão ocorre quando r’ = 0:
2max
maxa Tp ρ= (2.13)
Para estruturas completamente abertas, a pressão iguala-se quase
instantaneamente e a sucção é considerada, para efeitos práticos, nula. Em
estruturas ventiladas, a pressão interna muda durante a passagem do tornado por
um valor pi(t). Denotando-se por pa(t) a mudança de pressão externa, a diferença
de pressão que age na estrutura é pa(t) – pi(t).
O valor de pa(t) pode ser obtido substituindo-se r’ = Vt, onde V é a
velocidade de translação do tornado, nas eqs. (2.11) e (2.12). O valor de pi(t) pode
ser estimado iterativamente (Rotz et al, 1974). Considerando-se uma estrutura de
n compartimentos, a massa de ar no compartimento N (N ≤ n) no tempo tj+1 é
WN(tj+1) e pode ser escrita como:
N j 1 N j N(in) j N(out) jW (t ) W (t ) [G (t ) G (t )] t+ = + − ∆ (2.14)
onde GN(in) e GN(out) representam as massas de ar que entram e saem do
compartimento por unidade de tempo e ∆t é o incremento desse. Tais taxas podem
ser calculadas como função das pressões externa e interna no compartimento N e
de parâmetros geométricos relevantes, incluindo o tamanho de aberturas. A
pressão interna no compartimento N no tempo tj+1, piN(tj+1), pode ser assim escrita:
k
N j 1iN j 1 iN j
N j
W (t )p (t ) p (t )
W (t )+
+
=
(2.15)
onde k = 1,4 é a razão entre os calores específicos do ar à pressão e a volume
constantes.
Um programa de computador para cálculo de carregamento em estruturas
ventiladas é brevemente descrito por Rotz et al (1974, apud Simiu e Scanlan,
54
1986). O programa incorpora o seguinte modelo para a taxa de fluxo de massa,
retirado de Binder (1949, apud Simiu e Scanlan, 1986).
G = 0,6CcA2[2gγ1(p1 – p2)]1/2 (2.16)
onde:
1 /22 / k (k 1)/k 2
2 2 1 2 1c 2 2 / k
1 2 1 2 1 2 1
p k 1 (p / p ) 1 (A / A )C
p k 1 1 p / p 1 (A / A ) (p / p )
− − − = − − − (2.17)
sendo: A1 - área, do lado do compartimento 1, da parede entre os compartimentos
1 e 2; A2 - área que conecta os compartimentos 1 e 2; Cc - coeficiente de
compressibilidade; g - aceleração da gravidade; k = 1,4; p1 - pressão no
compartimento 1; p2 - pressão no compartimento 2 (p2 < p1); e γ1 - peso por
unidade de volume no compartimento 1.
2.2.1.3 Impacto de projéteis
Para a estimativa da velocidade alcançada por objetos que se movem pela
ação de forças aerodinâmicas induzidas por tornados, é necessária uma série de
considerações, como:
• características aerodinâmicas do objeto;
• aspectos detalhados do campo de vento;
• posição inicial do objeto, em relação ao solo e ao centro do tornado,
e sua velocidade inicial.
Muito se encontra sobre o assunto na literatura (Fung, 1969; Paddleford,
1969; Simiu e Cordes, 1976, 1980; etc.). Os modelos existentes dividem-se em
três grandes grupos, a saber: modelos determinísticos, modelos probabilísticos
envolvendo simulações numéricas e modelos que consideram o transporte de
projéteis como um processo de difusão de Markov. Este último assume que a
55
probabilidade de transição de um ponto para outro independa da história prévia do
sistema. Tal tópico não faz parte do escopo principal deste trabalho, portanto não
se estende a discussão sobre esses métodos.
2.2.2 Ações de tornados sobre torres de transmissão
Torres de transmissão, especialmente de energia elé trica, são alvos
constantes de eventos atmosféricos de pequena escala, como tornados e
downbursts. Estima-se que mais de 80% das falhas dessas estruturas relacionadas
a condições meteorológicas sejam devidas a tais eventos de pequena escala
(Savory et al, 2001). A despeito desse fato, normas e códigos tratam do assunto
com limitada atenção (Goliger e Milford, 1997). O único código que faz
referência específica a tornados é o da ASCE (1990).
A falha das torres nem sempre se deve à magnitude da velocidade do vento
incidente, mas também a ações não previstas em projeto. No caso dos tornados,
cita-se a ação vertical ascendente de vento. No Brasil, as rupturas de torres
devidas a tornados são comuns na região da Bacia do Prata, onde a ocorrência de
tornados é razoável e a quantidade dessas linhas é grande, por conta da grande
demanda energética das regiões Sul e Sudeste e da presença de hidrelétricas como
a de Itaipu. Um exemplo é mostrado na Figura 2.18, onde a falha ocorre por
ruptura local de um dos mastros de uma torre estaiada.
Figura 2.18 – Ruptura de torre na Bacia do Prata causada por tornado
56
Pouco se encontra na literatura sobre a análise estrutural determinística de
torres de transmissão submetidas a tornados. Savory et al (2001) estudam a
resposta de uma dessas torres quando submetida a um tornado modelado pelas
equações propostas por Wen (1975). Gráficos de deslocamentos e esforços são
apresentados. Não se consideram esforços verticais na modelagem numérica e a
ruptura acontece pela falha local de membros estruturais inferiores.
A maioria dos trabalhos existentes na literatura sobre o assunto é de caráter
não-determinístico. Como exemplo, citam-se os trabalhos de Milford e Goliger
(1997) e Li (1999), que investigam o risco de um tornado atingir uma linha de
transmissão.
2.2.3 Ações de tornados sobre usinas nucleares
Existem algumas publicações (Doan, 1970; McDonald et al, 1974; Rotz et
al, 1974) que tratam de metodologias de projeto para usinas nucleares. Como o
conhecimento sobre os campos de vento e de pressão do tornado é ainda bastante
limitado, como citado anteriormente, tais metodologias são conservadoras e não
consideram efeitos de inércia, não- linearidades, etc. As mesmas são semelhantes e
versam sobre os três efeitos descritos anteriormente.
Em projetos de instalações nucleares, é elemento inicial importante a
avaliação da probabilidade anual de vento ultrapassar um valor Vs, designado
probabilidade de ameaça do tornado.
Nesse contexto, a primeira iniciativa da USNRC é empregar a sistemática de
Thom (1963), onde a probabilidade anual de um tornado atingir um ponto, dentro
da região de interesse, é estimada pela expressão:
0
aP(S) n
A= (2.18)
onde A0 é a área de uma dada região local de interesse, n é a freqüência anual de
tornados observada nesse local e‘a’ é a área média de dano da trilha.
A seguir, assumindo a independência entre a ocorrência e a intensidade do
tornado, Markee et al (1974) sugerem que a probabilidade anual de um ponto na
57
região de interesse experimentar velocidades de vento superiores a Vs, P(V>Vs),
seja dada pela eq. (2.19).
P(V>Vs) = P(Vs)P(S) (2.19)
onde P(Vs) é a probabilidade de a velocidade máxima do vento em qualquer
tornado superar o valor Vs e P(S) é dado pela eq. (2.18).
Nos Estados Unidos, de acordo com Markee et al (1974), “para proteger
adequadamente a saúde e a segurança públicas, a determinação das bases de
projeto a tornados é baseada na premissa de que a probabilidade de ocorrência de
um tornado que exceda a Design Basis Tornado (DBT) deve ser da ordem de 10-7
por ano por usina nuclear.” Ou seja:
P(Vs)P(S) = 10-7 (2.20)
A partir de uma base de dados de 13 anos (1955-1967), avalia-se P(S), que,
substituído na eq. (2.20), fornece valores de P(Vs). Então, o valor Vs é obtido da
distribuição do vento ajustada aos registros de tornados. Por fim, esses resultados
são usados para identificar três regiões de probabilidade de ameaça tornádica, que
podem ser visualizadas na Figura 2.19. Os parâmetros de projeto para cada região
são dados na Tabela 2.4.
Figura 2.19 – Divisão do território americano para definição de parâmetros de projeto a
tornados – Simiu e Scanlan (1986)
58
Tabela 2.4 – Parâmetros de projeto para tornados nos Estados Unidos
Região
Velocidade
máxima de
vento, Vmax
(mph)
Velocidade
rotacional
máxima, Vromax
(mph)
Velocidade de
translação, V
(mph)
Raio da
velocidade
tangencial
máxima, rmax (ft)
I 360 290 70 150
II 300 240 60 150
III 240 190 50 150
A queda de pressão devido à passagem do tornado pode ser estimada
através das eqs. (2.11) e (2.12). Os valores de projeto dados pela norma americana
estão na Tabela 2.5.
Tabela 2.5 – Parâmetros de pressão para tornados nos Estados Unidos
Região Queda de pressão total (psi) Taxa de queda de pressão
(psi/s)
I 3,0 2,0
II 2,25 1,2
III 1,5 0,6
Atualmente, os métodos de avaliação da probabilidade de ameaça exigem o
conhecimento das relações de área-intensidade e de ocorrência- intensidade para a
região geográfica que contém a instalação de interesse. Uma vez estabelecidas,
essas relações em nada alteram a metodologia apresentada.
A USNRC prescreve ainda considerações sobre impacto de projéteis
arremessados por tornados sobre usinas nucleares. Há uma lista de mísseis a
serem considerados, incluindo desde rodas e tubos a automóveis. Há vários
estudos de modelos que descrevem o comportamento desses objetos quando nos
campos de vento e pressão do tornado, como já comentado em 2.2.1.3.
2.2.4 Ações de tornados sobre outras estruturas
Comentam-se brevemente alguns trabalhos que versam sobre efeitos de
tornados em estruturas. Todos tratam apenas da pressão direta de vento.
59
Wen (1975) avalia os efeitos da incidência de um tornado modelado sobre
um pórtico tridimensional de aço. Para isso, adapta a solução analítica de Kuo
(1971) para os modelos dos campos de vento e pressão. O estudo leva em conta os
efeitos de inércia. Como as variações nas componentes de velocidade são grandes,
tais efeitos mostram-se relevantes, principalmente para a direção radial, sendo
importantes também para a direção tangencial nas regiões próximas ao solo. O
efeito combinado da análise dinâmica com a consideração da parcela de inércia
resulta em uma amplificação de quatro vezes do deslocamento do topo em relação
à resposta estática para a maior velocidade tangencial de vento. Geralmente, os
efeitos são mais relevantes quando a trajetória do tornado passa pelo eixo de
simetria da estrutura, em planta.
Dutta et al (2002) apresentam a resposta dinâmica de um pórtico
bidimensional sujeito a um perfil de vento de um tornado real apresentado por
Fujita (1976). Os autores concluem que os efeitos são mais danosos quando se
considera a componente vertical de velocidade do que quando se leva apenas em
conta o vento lateral. Varia-se também a velocidade de translação. Como essa
altera a função de tempo, as maiores respostas são observadas quando a
freqüência da excitação se aproxima da freqüência de ressonância do sistema
estrutural.
Eberline et al (1991) reproduzem numericamente a falha de um sistema
condutor de carvão, em estrutura de aço, atingido por um tornado. Para isso,
utilizam o modelo de campo de vento proposto por Hoecker (1960). A análise é
não- linear e utiliza o método dos elementos finitos. O sistema mostra bastante
sensibilidade à máxima velocidade rotacional adotada para o tornado,
apresentando vários pontos de falha para valores superiores a 380 km/h.
2.2.5 Análise não-determinística da solicitação tornádica
A probabilidade anual de determinada falha ocorrer a um sistema estrutural
em decorrência da ação tornádica pode ser avaliada por:
∫=H
Hh/ff dh)h(fPP (2.21)
60
onde Pf/h é a probabilidade de falha condicionada a um valor da ameaça e fH(h) é a
função de distribuição de probabilidade da mesma (no caso do tornado, um
parâmetro conveniente para a definição da ameaça é a velocidade horizontal
máxima de vento, Vmax). A eq. (2.21) pode ser assim escrita:
∫∞
−=0
maxV/fmax
maxHf dV)P)
dV)V(dP
((Pmax
(2.22)
onde PH(Vmax) é a probabilidade da ameaça tornádica. Tais grandezas são
definidas e explicadas nos itens a seguir.
2.2.5.1 Avaliação da ameaça tornádica
Pesquisas direcionadas à análise probabilística de tornados despontam da
década de 1960, mas, como já mencionado, a carência de dados continua sendo
uma grande limitação (McDonald, 1983). Basicamente os modelos podem ser
divididos em duas classes:
• Modelos que estimam a probabilidade para pontos-alvo
(probabilidade de ponto-alvo);
• Modelos que consideram o tamanho e a orientação da instalação na
avaliação da probabilidade (probabilidade de área).
O conceito de probabilidade de ponto-alvo é mais conveniente para a
regionalização das probabilidades de ameaça a tornados, uma vez que independe
do tamanho e da orientação da estrutura. As potenciais vantagens em se
considerarem as dimensões do alvo são neutralizadas pela carência de dados
(McDonald, 1983).
Os órgãos americanos ligados à segurança e projeto de centrais nucleares
aplicam o conceito de probabilidade de ponto-alvo para a ameaça tornádica,
diferindo apenas na aplicação dos fatores de correção da curva. O DOE
(Department of Energy) segue a metodologia proposta por Fujita, conforme
61
descrita por Coats (1984), enquanto a USNRC usa a sistemática proposta por
McDonald (1983).
Aplicando-se a metodologia de McDonald (1983) para o território nacional
e utilizando-se um levantamento das ocorrências tornádicas, tem-se, na Figura
2.20, a curva de ameaça para as províncias anteriormente descritas (Relatório
001/4, 2007). A mesma é apresentada em termos de a probabilidade anual de
determinada velocidade máxima ser ultrapassada. A curva identificada como
PBP+ refere-se à ameaça proposta para a região correspondente às Províncias da
Bacia do Prata e do Atlântico Sul-Sudeste.
1,E-09
1,E-08
1,E-07
1,E-06
1,E-05
10 100 1000
Velocidade máxima do vento (km/h)
P(V
>=
Vj )
PBP PBASSE
PBA PBP+
Figura 2.20 – Curvas de ameaça tornádica para o território nacional – Relat. 001/4 (2007)
2.2.5.2 Probabilidade de falha condicionada a um valor de ameaça
Nesta etapa, objetiva-se determinar a probabilidade de determinada falha
estrutural, dado um valor de ameaça; no caso do tornado, para um valor
especificado da velocidade horizontal máxima de vento. Para isso, se faz
necessária a caracterização probabilística da demanda causada pela excitação e da
capacidade resistente da estrutura.
62
Nesse sentido, a excitação ambiental é tratada como um processo aleatório
e, conseqüentemente, a resposta da estrutura (demanda) também o é. Tais
processos aleatórios são condicionados a um valor do parâmetro definidor da
ameaça.
São definidas duas grandezas aleatórias - a demanda, D(t), e a capacidade,
C(t), onde a demanda é representada por um efeito de interesse da estrutura. No
caso presente, onde a análise não-determinística é conduzida a partir de um
modelo numérico para o campo de vento, podem-se considerar somente os picos
da demanda, tratando essa variável como independente do tempo, ou seja, uma
variável aleatória. A capacidade é também tomada como tal. Em suma, tem-se o
cenário representado pela Figura 2.21:
Figura 2.21 – Probabilidade de falha condicionada à ameaça – Almeida (2002)
Como se observa, a função de distribuição de probabilidade da capacidade é
invariável em relação ao parâmetro da ameaça. Já a f.d.p. da demanda muda para
cada valor desse parâmetro. Tal mudança dá-se com a alteração do desvio padrão
e/ou da média da distribuição, enquanto o tipo de distribuição mantém-se
constante.
63
Admitindo-se que demanda e capacidade são independentes entre si, avalia-
se a probabilidade de falha condicionada à ameaça, Pf/h, a partir da equação:
∫ ∫∞
∞−
∞
⋅⋅=c
DCh/f dcdd))d(f)c(f(P (2.23)
Ou ainda, já considerando também o parâmetro definidor da ameaça
tornádica, Vmax:
∫∞
⋅−=0
CDV/f dc)c(f))c(F1(Pmax
(2.24)
onde fC(c) é a função de densidade de probabilidade da capacidade; fD(d) é a
função de densidade de probabilidade da demanda e FD(d) é a função de
distribuição de probabilidade da demanda.
Ao repetir o procedimento para vários valores de ameaça, obtém-se a curva
de fragilidade. Esta, juntamente com a curva de ameaça (Figura 2.20), compõe a
integral da eq. (2.22), que fornece a probabilidade anual de falha.
2.3 Linhas aéreas de transmissão e tipos usuais de torres
2.3.1 Tensões usuais e componentes de uma linha de transmissão
As linhas, quanto as suas tensões nominais, podem ser assim classificadas:
• 13,8 kV e 34,5 kV – linhas de distribuição;
• 69 kV, 138 kV e 230 kV – linhas de alta tensão (transmissão e
subtransmissão);
• 345 kV, 500 kV e 750 kV – linhas de extra-alta tensão.
64
Os principais componentes de uma linha de transmissão e suas
características básicas são descritos a seguir, segundo Santiago (1983):
I) Cabos condutores
Os cabos condutores constituem o guia de onda para a propagação do
campo eletromagnético e geralmente são formados por várias camadas de fios
encordoados. Podem ser constituídos de fios de um só metal, como, por exemplo,
os cabos AAC (só fios de alumínio) e os cabos AAAC (só fios de alumínio- liga)
ou de dois metais, como os cabos ACSR (fios de alumínio em torno de uma alma
formada de fios de aço). Há também os cabos ACAR (fios de alumínio em torno
de uma alma formada de fios de alumínio- liga). No Brasil, praticamente todas as
linhas de transmissão utilizam condutores ACSR.
II) Cabos pára-raios
Os cabos pára-raios têm como função proteger a linha contra surtos
atmosféricos, blindando os condutores de fase. Em geral, são constituídos de fios
encordoados de aço galvanizado de alta resistência mecânica (HS) e extra-alta
resistência (EHS), podendo-se empregar também cabos ACSR de alta resistência
ou os cabos do tipo Alumoweld (composto de fios de aço revestidos de alumínio).
III) Estruturas
As estruturas de uma linha de transmissão servem de suporte para os cabos
condutores e pára-raios, mantendo uma distância mínima de segurança entre os
condutores e o solo. As estruturas são construídas em treliças com perfis de aço
galvanizado ou em postes de aço, concreto ou madeira. As estruturas treliçadas
podem ser rígidas ou estaiadas.
No Brasil, é usual utilizarem-se estruturas com postes de madeira em
tensões de 33 kV e 69 kV. Estruturas com postes de concreto são em geral
aplicadas na faixa de 69 kV a 230 kV. A grande maioria das linhas com tensões de
345 kV e 750 kV utiliza estruturas treliçadas de aço.
65
IV) Fundações
As fundações resistem e transmitem ao solo as forças oriundas das
estruturas e dos demais elementos da linha. Podem ser em concreto ou do tipo
grelha (estrutura de aço enterrada).
V) Cadeias de isoladores e ferragens dos condutores
As cadeias de isoladores e suas respectivas ferragens servem para fixar os
condutores nas estruturas, mantendo-se o isolamento necessário entre eles. Em
geral, os isoladores são discos de vidro, porcelana ou poliméricos e as ferragens
de aço galvanizado.
VI) Ferragens dos cabos pára-raios
As ferragens dos cabos pára-raios são utilizadas para fixá-los nas estruturas
e são compostas de peças de aço galvanizado.
VII) Espaçadores
Em linhas de transmissão com feixe de condutores são utilizados
espaçadores entre os subcondutores com o intuito de se manter a distância entre
eles e evitar que os mesmos se choquem sob a ação do vento, danificando os
respectivos fios da camada externa. Para evitar fadiga nos condutores devido a
vibrações eólicas e oscilações de subvão, é comum a utilização de espaçadores
amortecedores.
VIII) Amortecedores
São aplicados, quando necessários, tanto nos condutores de fase como nos
cabos pára-raios e servem para absorver a vibração desses cabos sob a ação do
vento, evitando que os mesmos danifiquem-se por fadiga. Existem vários tipos de
amortecedores, como os do tipo stockbridge e suas variações, amortecedores de
impacto, torcional e outros.
66
IX) Contrapeso
Tem como função diminuir a resistência de aterramento das estruturas, a
fim de se obter um dado desempenho quanto a surtos atmosféricos estipulado em
projeto. Em geral, são alguns fios de aço ou do tipo Copperweld enterrados no
solo a uma dada profundidade e conectados à estrutura.
2.3.2 Tipos usuais de torres
Os suportes podem ser classificados nos seguintes tipos, que normalmente
integram uma “família de estruturas”, ou “série de estruturas”, para uma linha
(Labegalini et al, 1992):
a) Tipo “suspensão” ou “alinhamento” – são suportes dimensionados
para, em condições normais de operação, resistir aos esforços
verticais devido ao peso dos cabos, isoladores e suas ferragens.
Poderão ser solicitados igualmente no sentido vertical pelas forças
decorrentes do estaiamento. Devem suportar igualmente as forças
horizontais transversais da pressão do vento sobre cabos, isoladores
e sobre seus próprios elementos. Esse tipo de estrutura é, na
maioria das linhas, o mais freqüentemente empregado, podendo
haver em uma mesma linha suportes calculados para dois ou mais
vãos de referência. São os menos reforçados;
b) Tipo “terminal” ou “ancoragem total” – constituem os suportes
utilizados no início e no fim das linhas, cabendo- lhes a
responsabilidade de manter os cabos esticados. São os suportes
mais solicitados, sendo, portanto, os mais reforçados;
c) Tipo “ancoragem intermediária” – semelhantes ao tipo anterior,
porém empregados no meio das linhas, com trações longitudinais
equilibradas à frente e à ré. São menos reforçados que os
anteriores, pois resistem unilateralmente apenas aos esforços
decorrentes do tensionamento dos cabos durante a montagem ou
após a ruptura de alguns deles;
67
d) Para “ângulos” – são estruturas dimensionadas para suportar, além
dos esforços verticais e transversais, a resultante das forças de
tração dos cabos nos dois alinhamentos que se cruzam;
e) Para “transposição” ou “rotação de fases” – a fim de se assegurar o
equilíbrio eletromagnético das linhas, e com isso a igualdade das
quedas de tensão nas três fases, efetua-se a transposição de fases, o
que exige estruturas especiais;
f) Para “derivação” – freqüentemente se efetuam sangrias nas linhas
para alimentar um ramal, sem necessidade de algum pátio de
seccionamento e manobras. Nesses casos, uma estrutura
especialmente projetada para esse fim é utilizada.
Quanto à forma de resistir, as torres podem ser classificadas em dois
grupos:
• Estruturas autoportantes: transmitem todos os esforços ao solo
através de suas fundações.
• Estruturas estaiadas: nesses tipos de suportes são empregados
tirantes ou estais para absorver os esforços horizontais transversais
e longitudinais. O emprego de tirantes é uma prática bastante
antiga, principalmente em distribuição e em linhas de tensões
menores, constituídas por postes articulados engastados, a fim de
enrijecê-las.
As estruturas das linhas podem ainda ser classificadas conforme o material
utilizado em sua construção: madeira, concreto armado ou aço. Este trabalho
trata destas últimas. As Figuras 2.22 e 2.23 mostram alguns tipos de torres
metálicas autoportantes e estaiadas.
68
Figura 2.22 – Exemplos de torres autoportantes: circuito duplo (a), configuração
horizontal (b) e configuração delta (c) – Santiago (1983)
69
Figura 2.23 – Exemplos de torres estaiadas: tipo portal (a), tipo trapézio (b), tipo V (c) e
tipo Y (d) – Santiago (1983)
2.3.3 Tipos usuais de fundações
As fundações podem ser em grelha (estrutura de aço enterrada) ou em
concreto (sapatas, tubulões e blocos sobre estacas). Devido a efeitos de corrosão,
as primeiras têm entrado em desuso. A decisão quanto à escolha do tipo de
fundação depende de critérios técnico-econômicos. Como critério geral, as
seguintes diretrizes para a seleção do tipo de fundação são colocadas (Santiago,
1983):
70
• Grelhas – solos de boas características, quanto à sua resistência e
compressibilidade, sem presença do lençol d’água;
• Tubulões – solos de características idênticas ao caso de grelhas, para
os casos de estruturas com elevados carregamentos;
• Sapatas – como alternativa ao uso de grelhas e ainda em solos não
muito fracos com presença de lençol subterrâneo elevado;
• Estacas – solos fracos, onde é inviável o emprego dos demais tipos de
fundações mencionadas;
• Especiais – que fogem à regra da grande maioria das fundações das
estruturas de uma linha de transmissão, como tirantes metálicos
helicoidais.
3 Modelos gerais – ações mecânicas
3.1 Modelo de tornado segundo Kuo/Wen
A análise numérica dos efeitos de tornados sobre estruturas pressupõe a
incidência de um tornado com perfis de velocidade e pressão conhecidos.
Simulações de laboratório (e.g. Jischke e Light, 1983) e medições de campo (e.g.
Hoecker, 1960) são realizadas pela comunidade científica a fim de se propor
modelos de campos de vento e pressão adequados. O campo de vento de um
tornado parece-se com um vórtice combinado de Rankine, apesar de apresentar
comportamento muito mais complexo. A estrutura de tal campo de vento tem sido
objeto de pesquisa de meteorologistas há algum tempo. Um grande número de
trabalhos teóricos e experimentais tem sido feito (Fujita, 1960; Ying e Chang,
1970, etc.). Desses estudos, conhecimentos básicos sobre os carregamentos de
vento têm sido obtidos e usados em projetos de resistência a tornados (e.g.
Sherman, 1973).
Em cada ponto do tornado identificam-se quatro parcelas de velocidade:
tangencial, radial, vertical e translacional. As direções e sentidos dessas parcelas
estão mostrados na Figura 3.1.
Figura 3.1 – Parcelas de velocidade no tornado – adaptada de Dutta et al (2002)
W
72
Um modelo teórico do fluxo tridimensional do vórtice tornádico, onde os
perfis de velocidade do vento são apresentados em função da distância radial e da
altura sobre o solo, é apresentado por Kuo (1971). As duas equações de contorno
não- lineares para a distribuição de velocidades vertical e radial são resolvidas por
um método iterativo. Encontra-se que a espessura da camada limite é muito
pequena no centro do núcleo, crescendo rapidamente com o aumento da distância
radial e mantendo valor praticamente constante na região externa. O perfil vertical
das componentes de velocidade apresenta comportamento distinto nas regiões
interna e externa à camada limite. Na região interna, há oscilação de todas as
componentes, enquanto elas aproximam-se assintoticamente, sem flutuação, de
determinados valores, na região externa. A solução teórica de Kuo pode ser
visualizada na Figura 3.2.
Figura 3.2 - Representação esquemática do campo de vento tornádico proposto por Kuo
– adaptada de Savory et al (2001)
Wen (1975) propõe um campo de vento que é qualitativamente baseado na
solução teórica de Kuo (1971), entretanto com um formato simplificado e número
de parâmetros reduzido para facilitar aplicações em engenharia. De acordo com o
73
autor, a espessura da camada limite em função da distância radial, δ(r), é dada
pela equação a seguir :
2
0(r) = [1-exp(-0,5r )]δ δ (3.1)
onde r = r’/rmax; rmax é o raio onde a velocidade tangencial é máxima; e δ0 é a
espessura quando r >> 1.
Nota-se que a expressão mantém as propriedades básicas citadas por Kuo
(1971), ou seja, a espessura tende a zero quando a distância radial também tende a
se anular, cresce rapidamente até r = 1 e permanece constante quando r >> 1.
Quanto às componentes de velocidade, T, R e W, distinguem-se duas
regiões, definidas pela camada limite. As equações são apresentadas para cada
região, separadamente. Acima da camada limite, a componente radial é nula e a
componente tangencial é dada por:
2maxTT( ,r) = f(r) = 1,4 [1-exp(-1,256r )]
rη para η > 1 (3.2)
onde Tmax é a velocidade tangencial máxima acima da camada limite; η = z/δ; e z
é a altura sobre o solo.
A eq. (3.2) mostra semelhanças com o vórtice combinado de Rankine, pois
quando r ? 0, T(r) α r, e quando r >> 1, T(r) α 1/r. A componente vertical da
solução de Kuo (1971) é ajustada por:
3
maxW( ,r) = g(r) = 93r exp(-5r)Tη para η > 1 (3.3)
Tal componente vertical tem um movimento descendente muito fraco na
região externa ao núcleo e um forte movimento ascendente no núcleo, atingindo o
máximo na região entre r = 0,6 e r = 1,0. Tal movimento é também notado por
Hoecker (1960) em observações de campo feitas para um tornado ocorrido em
Dallas, EUA, em 1957.
Dentro da camada limite, as componentes de velocidade são dadas pelas
equações:
74
-T( ,r) = f(r)[1-e cos(2b )]πηη πη
-R( ,r) = f(r){0,672e sen[(b+1) ]}πηη πη para η ≤ 1 (3.4)
-W( ,r) = g(r)[1-e cos(2b )]πηη πη
onde R(η,r) é a componente radial e b(r) = 1,2exp(-0,8r4). As funções senoidais e
co-senoidais vistas nas expressões acima indicam o caráter oscilatório dos perfis
dessas componentes de velocidade na região interna da camada limite. O termo b
é função de r e as flutuações deixam de existir na região externa (b ? 0).
Observa-se que todas as equações do modelo até agora vistas são escritas
em função de três parâmetros livres: rmax, Tmax e δ0, que podem ser escolhidos
apropriadamente conforme características básicas do tornado, como suas
dimensões, intensidade, etc. Wen (1975) faz uma comparação dos perfis de
velocidade descritos até o momento com aqueles observados por Hoecker (1960),
para três alturas diferentes (46, 92 e 305 m), obtendo resultados satisfatórios.
Para a trajetória do tornado esquematizada na Figura 3.3, os perfis de
velocidade incidente, u, v e w, segundo as direções principais da estrutura, x, y e
z, são dados como:
u(z, t) = -T(η, r)senφ - R(η,r)cosφ + U0(z)cosβ
v(z, t) = T(η, r)cosφ - R(η,r)senφ + U0(z)senβ (3.5)
w(z, t) = W(η, r)
T, R e W são dados pelas eqs. (3.2) a (3.4). Tem-se ainda:
r = 2 20 maxD +(S -V.t) / r (3.6)
θ = tan-1[D/(So – V.t)] (3.7)
onde φ = β - θ; U0(z) = vento prevalecente da região. Portanto, φ, T e R para uma
altura fixa, z, são apenas funções do tempo. D é a distância do centro da estrutura
à trajetória do tornado, S0 é a distância entre o tornado e a estrutura, tomada centro
a centro, no início da análise, e V é a velocidade de translação.
75
Figura 3.3 – Geometria do problema – adaptada de Wen (1975)
3.2 Avaliação da pressão sobre a estrutura
É geralmente aceito na literatura (Keulegan e Carpenter, 1958; Davenport,
1961; Etkin, 1966) que, para um corpo delgado e de forma não-suave, a relação
força/velocidade pode ser descrita pela equação de Morrison (aqui apresentada
modificada para o caso de barras prismáticas das torres de transmissão; a equação
original é deduzida para um cilindro):
dtdU
VCUUAC21
)t(F vencmvenvenexpd ρ+ρ= (3.8)
F(t) é a força total. Trata-se da soma de duas parcelas: a primeira é a força de
arrasto, proporcional ao quadrado da velocidade, e a segunda refere-se à força de
inércia, proporcional à aceleração do fluxo. Cd e Cm são os coeficientes de arrasto
e de inércia, ρ é a massa específica do fluido, Uven é a velocidade de vento
incidente, Aexp e Vc são, respectivamente, a área e o volume do corpo expostos
perpendicularmente à velocidade e aceleração do vento. Os valores dos
coeficientes são determinados experimentalmente. Alguns autores tratam do
assunto (Davenport, 1961; Vickery e Kao, 1972). Têm-se obtido valores de Cd
Trajetória do centro do tornado
Direção da velocidade ou aceleração do vento
B(α)
D
α
rmax
rθ
φβ
φ
So - Vt
Estrutura
b
a
V
P
X
Y
76
próximos à unidade e insensíveis ao número de Reynolds para edifícios
prismáticos (Scruton e Rogers, 1971, apud Wen, 1975).
Para a excitação tornádica, a velocidade incidente em determinada direção é
dada pela eq. (3.5). A aceleração consiste de um termo local, correspondente à
derivada parcial em relação ao tempo das expressões de velocidade, e de uma
parcela convectiva, igual ao produto do vetor velocidade pelo seu gradiente. O
trabalhoso procedimento para obtenção da aceleração é demonstrado no
Apêndice.
4 Cenários
4.1 Modelo do tornado para os ensaios
Para os resultados mostrados nas seções 5.1 e 5.2, considera-se um tornado
classificado no patamar inferior da classe F5, com as seguintes características:
• Tmax = 90 m/s;
• rmax = 60 m;
• V = 20 m/s;
• δ0 = 460 m.
Nas seções 5.3 e 5.4, considerando-se os modelos de torre descritos em 4.2,
opta-se por adotar um tornado com características de um F3 médio, compatível
com a ameaça ao território brasileiro, especialmente na região da Bacia do Prata,
onde se localiza a linha de transmissão tratada. Os parâmetros adotados são:
• Tmax = 65 m/s;
• rmax = 80 m;
• V = 10 m/s;
• δ0 = 460 m.
4.2 Modelo dos sistemas estruturais
As torres ensaiadas a tornados neste trabalho são constituintes de uma linha
de transmissão de energia elétrica em operação na Bacia do Paraná na tensão
78
de 525 kV. São consideradas duas torres de suspensão, uma autoportante,
denominada SA (Suspensão Autoportante), e outra estaiada, SE (Suspensão
Estaiada). Os projetos das mesmas são feitos e fornecidos por uma empresa de
consultoria. As fundações são, em ambas as estruturas, em tubulão ou sapata pré-
moldada, com dimensões que dependem, naturalmente, de aspectos locais do
terreno.
A altura das torres autoportantes na linha em questão varia de 22,5 a 49,5 m.
A variação se dá com o número de módulos intermediários e com os diferentes
comprimentos de perna. Apresenta-se a torre de 49,5 m (Figura 4.1).
Figura 4.1 – Torre SA
79
As torres estaiadas tipo SE possuem alturas que variam de 24 a 42 m, a
depender da quantidade de módulos intermediários, para esta linha. A Figura 4.2
ilustra essa variação.
Figura 4.2 - Torre SE
Realiza-se a análise numérica dos efeitos tornádicos para a torre
autoportante de 49,5 m. Para a torre estaiada, toma-se a altura de 42 m. Os
modelos utilizados são mostrados nas Figuras 4.3 e 4.4.
80
Figura 4.3 – Modelo para análise numérica da torre SA
Figura 4.4 – Modelo para análise numérica da torre SE
As cinco primeiras freqüências naturais dos modelos são mostradas na
Tabela 4.1.
Tabela 4.1 - Freqüências naturais, em Hz, dos modelos de torre analisados
Modo 1 2 3 4 5
Torre SA 2,48 3,02 3,26 4,00 4,52
Torre SE 1,25 1,36 1,37 1,43 3,03
5 Análises preliminares
Analisam-se os efeitos da incidência de um tornado, com o campo de vento
dado pelas equações de Kuo/Wen, descritas em 3.1, em modelos estruturais de
torres de transmissão de energia. Objetiva-se, com isso, aprofundar o
conhecimento do campo de vento tornádico em seus diversos aspectos e sua
interação com as torres de transmissão. Tem-se assim o desenvolvimento da
sensibilidade necessária e a eleição de aspectos relevantes para a avaliação da
solicitação tornádica no projeto dessas estruturas. As seguintes definições são
importantes:
• Efeitos globais - efeitos totais atuantes na base das torres. Três efeitos
são tratados: força cortante global, força vertical global e momento
global. São também referenciados como “força cortante total na base”,
“momento de tombamento”, etc. Eventualmente, analisa-se ainda o
momento global de torção;
• Eixo material – simplificação que desconsidera as dimensões
horizontais da estrutura para análise dos efeitos mecânicos, ou seja, a
avaliação dos mesmos é realizada no eixo de simetria do modelo. Em
planta, esse seria representado por um ponto material. Nesse caso, por
exemplo, o momento global de torção é desprezado;
• Corpo extenso – consideram-se as dimensões horizontais da estrutura
para a análise dos efeitos mecânicos;
Quatro modelos são estudados. O primeiro é hipotético e de características
singelas, denominado ‘modelo inicial’ e tratado na seção 5.1. Na seção 5.2,
representa-se simplificadamente a estrutura de uma torre de transmissão. Nas
seções 5.3 e 5.4, são estudados dois modelos de torres, uma autoportante e outra
82
estaiada, representativas da região brasileira mais suscetível a tornados. As
mesmas são apresentadas em 4.2.
Os objetivos principais são o estudo das componentes de vento radial,
tangencial e vertical, além de comparações entre as seguintes hipóteses de análise:
• Eixo material versus corpo extenso – estuda-se a influência da
consideração das dimensões horizontais da estrutura sobre os efeitos
mecânicos decorrentes da incidência tornádica. A discussão é realizada
na seção 5.1;
• Força de arrasto versus força de inércia – comparação entre as forças de
arrasto e inércia, definidas em 3.2, de tornados sobre torres de
transmissão, realizada na análise do modelo simplificado na seção 5.2;
• Análise estática versus análise dinâmica – análise da influência da
flexibilidade de torres de transmissão na resposta mecânica a tornados.
Conduzida nas seções 5.2 a 5.4.
Os efeitos mecânicos resultantes da incidência de tornados em torres de
transmissão devem-se quase integralmente à pressão direta de vento, pois as
torres, sendo estruturas abertas, praticamente não sofrem efeitos de sucção. O
estudo tem ainda enfoque sobre efeitos globais. Acredita-se que essa é uma
primeira forma de abordagem adequada à natureza do problema, de modo a se ter
uma idéia sintética dos efeitos mecânicos sobre as torres, e mormente sobre suas
fundações, considerando-se a grande variação de ações elementares do tornado.
Análises cinemáticas são também eventualmente realizadas. Utilizam-se os
programas MAPLE®, de álgebra simbólica, e ANSYS®, de análise estrutural pelo
Método dos Elementos Finitos.
Considera-se também que o eixo de translação do tornado passe pelo centro
da torre, em planta. Nesse caso, a direção do movimento do mesmo coincide com
a direção da velocidade radial e é denominada ‘direção radial’; a direção
perpendicular é referenciada como ‘direção tangencial’. Os efeitos globais são
dados em relação à convenção de vetores mostrada na Figura 5.1. Importante
notar que a denominação dos momentos de tombamento é feita de tal forma a
considerar a direção do vento incidente que os causa. O nó do topo tomado como
83
referência para análise de deslocamentos é visualizado na Figura 5.2, bem como
os sentidos vetoriais adotados para estudos cinemáticos.
Figura 5.1 – Sentidos vetoriais adotados para consideração dos efeitos globais
Figura 5.2 – Nó do topo, Nt, onde se analisam os efeitos da flexibilidade dos modelos
5.1 Modelo inicial
Inicialmente, estuda-se um modelo tridimensional singelo, que possui
quatro barras verticais, de 180 m de altura, dispostas de tal modo a constituírem
vértices de um quadrado de lado 10 m. Às mesmas, acrescentam-se barras
horizontais nas quatro faces, a cada 5 m de altura. Todas as barras possuem
diâmetro externo de 0,5 m e interno de 0,4 m. A estrutura pode ser visualizada na
Figura 5.3.
84
Figura 5.3 – Modelo inicial
Considera-se a incidência do tornado F5 descrito em 4.1. Nesta primeira
análise, estudam-se as respostas mecânicas estáticas em termos dos efeitos
globais. Inicialmente, toma-se a estrutura como eixo material e, a seguir, a
influência da consideração de corpo extenso é analisada. Em todos os resultados
desta seção, inclui-se a parcela de inércia no cálculo da força atuante. As ações
são parametrizadas em relação a valores calculados através da metodologia
preconizada pela NBR 6123 (ABNT, 1988) para a máxima velocidade básica de
vento (45 m/s). Os coeficientes de arrasto e inércia são tomados como unitários
para o tornado.
5.1.1 Estrutura tomada como eixo material
Os resultados para os efeitos globais nas direções radial, tangencial e
vertical podem ser visualizados nas Figuras 5.4 e 5.5. Nesses primeiros resultados,
despreza-se o efeito da velocidade de translação, de modo a possibilitar uma
comparação mais fiel entre as componentes de vento tornádicas.
85
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
F/F
b
Fr/Fb Ft/Fb Fv/Fb
Figura 5.4 – Forças cortantes globais para o modelo inicial
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
M/M
b
Mr/Mb Mt/Mb
Figura 5.5 – Momentos globais para o modelo inicial
Nota-se a preponderância das ações tangenciais sobre as radiais, resultado já
verificado em estudos anteriores sobre a incidência de tornados em estruturas
fechadas (Pecin, 2006). A ação sobre a estrutura assemelha-se a dois pulsos,
referentes às situações de aproximação e afastamento do centro do tornado em
relação ao alvo estrutural. Os picos na direção tangencial são cerca de 70%
superiores aos valores previstos pela norma. Os resultados mostram que a
componente vertical possui valor bastante significativo, comparável à ação
tangencial do tornado.
86
No caso em que a trajetória do eixo do tornado passa pelo centro geométrico
da estrutura, tratado aqui, a parcela de vento translacional atua apenas na direção
radial. A influência da consideração de tal parcela na força cortante global nessa
direção é analisada a partir da Figura 5.6.
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Fr/F
b
Com translação Sem translação
Figura 5.6 – Força cortante global na direção radial para o modelo inicial
O trecho onde os perfis não são coincidentes corresponde ao núcleo
tornádico, região onde se considera a velocidade translacional atuante. O cômputo
dessa velocidade resulta nas descontinuidades observadas na solicitação. Nota-se
que a consideração de tal componente aumenta a força cortante global na direção
radial em aproximadamente 4 vezes. No entanto, tal valor é ainda
significativamente menor que o calculado pela metodologia preconizada na NBR
6123/88, corroborando a pouca relevância das ações tornádicas nessa direção.
5.1.2 Efeitos da consideração da estrutura como corpo extenso
Estuda-se o efeito da discretização horizontal do modelo. Portanto, as ações
tornádicas não são mais avaliadas no eixo de simetria da estrutura. Em todos os
exemplos, deste item em diante, considera-se a velocidade de translação do
87
tornado. Os resultados obtidos para as ações globais radiais e tangenciais podem
ser visualizados nas Figuras 5.7 a 5.10.
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Fr/
F b
Eixo Material Corpo Extenso
Figura 5.7 – Força cortante global na direção radial para o modelo inicial
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Mr/
Mb
Eixo Material Corpo Extenso
Figura 5.8 – Momento global na direção radial para o modelo inicial
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Ft/F
b
Eixo Material Corpo Extenso
Figura 5.9 – Força cortante global na direção tangencial para o modelo inicial
88
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Mt/M
b
Eixo Material Corpo Extenso
Figura 5.10 – Momento global na direção tangencial para o modelo inicial
As ações globais radiais tendem a ser ligeiramente majoradas com a
discretização do modelo. As ações tangenciais apresentam valores semelhantes,
quer se considere a estrutura como eixo material ou corpo extenso.
As forças verticais obtidas são mostradas na Figura 5.11. Os perfis são
praticamente coincidentes.
00,20,40,60,8
11,21,41,61,8
2
0 2 4 6 8 10
t (s)
F v/F
b
Eixo Material Corpo Extenso
Figura 5.11 – Força global na direção vertical para o modelo inicial
O momento global de torção é mostrado na Figura 5.12. O mesmo é
parametrizado pela força cortante global máxima, Fq, e pela dimensão da base do
modelo, B.
89
-0,06
-0,04
-0,02
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Mto
/(F
q x
B)
Figura 5.12 – Momento global de torção obtido para o modelo inicial discretizado
O acréscimo de carga horizontal na fundação é de aproximadamente 7%.
Tal resultado é semelhante ao observado por Pecin (2006) para estruturas
fechadas. O momento de torção constitui uma singularidade da ação tornádica em
relação ao vento usual de projeto.
5.2 Modelo simplificado
Avaliam-se os efeitos mecânicos estáticos e dinâmicos em um modelo
simplificado de torre, mostrado na Figura 5.13, quando submetido ao tornado F5
descrito em 4.1. A altura total da estrutura é de 55 m, com base quadrada de lado
igual a 17 m (Aguilera, 2007). A freqüência fundamental do modelo é de 0,38 Hz.
O mesmo é tomado como eixo material perante o tornado. Para a avaliação da
pressão sobre a estrutura, considera-se a projeção ortogonal da área exposta de
cada barra. Analisa-se a influência da parcela de inércia durante a análise estática.
Os resultados apresentados incluem essa parcela, exceto quando indicado o
contrário. A exemplo da seção 5.1, os mesmos são parametrizados em relação à
metodologia da NBR 6123/88.
90
Figura 5.13 – Modelo simplificado, adaptada de Aguilera (2007)
5.2.1 Análise estática
Os efeitos mecânicos estáticos para as forças totais nas direções radial,
tangencial e vertical, assim como os momentos de tombamento, são mostrados
nas Figuras 5.14 e 5.15. Consideram-se unitários os coeficientes de arrasto e
inércia.
91
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
F/F
b
Fr/Fb Ft/Fb Fv/Fb
Figura 5.14 – Forças globais para o modelo simplificado
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
M/M
b
Mr/Mb Mt/Mb
Figura 5.15 – Momentos globais para o modelo simplificado
As ações tangenciais e verticais são preponderantes. As primeiras
ultrapassam as ações de norma em cerca de 25%. As ações verticais não são
usualmente consideradas em projeto e promovem o arrancamento da torre de sua
fundação. A excitação radial é influenciada substancialmente pela velocidade de
translação, tendo sua resposta estática afastada do comportamento de duplo pulso.
Analisa-se a influência da consideração da parcela de inércia (eq. 3.8) no
cálculo das ações globais do tornado no modelo em questão. Para isso, obtêm-se
92
os efeitos globais tomando-se apenas a parcela de arrasto. A comparação pode ser
realizada a partir das Figuras 5.16 a 5.20.
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Fr/
Fb
Com inércia Sem inércia
Figura 5.16 – Força cortante global na direção radial para o modelo simplificado
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Mr/
Mb
Com inércia Sem inércia
Figura 5.17 – Momento global na direção radial para o modelo simplificado
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Ft/F
b
Com inércia Sem inércia
Figura 5.18 - Força cortante global na direção tangencial para o modelo simplificado
93
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16
t (s)
Mt/M
b
Com inércia Sem inércia
Figura 5.19 – Momento global na direção tangencial para o modelo simplificado
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 2 4 6 8 10
t (s)
Fv/
P
Com inércia Sem inércia
Figura 5.20 – Força global na direção vertical para o modelo simplificado
Como se nota, a parcela de inércia é desprezível no cômputo das ações
globais. Esse comportamento difere do observado para modelos fechados (Wen,
1975; Pecin, 2006). Isso ocorre devido ao pequeno volume de uma estrutura
reticulada em relação a sua área exposta, ao contrário do que ocorre para
estruturas fechadas. Portanto, para as primeiras, espera-se que a força de inércia,
como função do volume de fluido deslocado, seja menos relevante do que para as
últimas. O cálculo dessa força é particularmente trabalhoso e sua desconsideração
94
permite a elaboração de metodologias de projeto mais aplicáveis, reproduzíveis e
normalizáveis. Em relação às forças verticais, Figura 5.20, uma observação
interessante é o fato de as mesmas superarem o peso próprio da estrutura.
5.2.2 Análise dinâmica
Obtém-se a resposta dinâmica do modelo estrutural, em termos de efeitos
globais e deslocamentos de um nó do topo da torre. Despreza-se o amortecimento.
As forças globais obtidas segundo as direções radial e tangencial podem ser
visualizadas nas Figuras 5.21 e 5.22. O parâmetro ‘rmax/V’ representa
aproximadamente a duração do pulso de aproximação ou afastamento do tornado
em relação ao alvo estrutural.
O FAmax é de aproximadamente 1,3 na direção radial e de 2,1 na direção
tangencial. Há predominância da freqüência fundamental na resposta para as duas
direções, como se nota pelo comportamento apresentado pela estrutura durante a
vibração livre. O máximo ocorre durante o pulso para as duas direções.
As respostas para os deslocamentos do topo, U, são mostradas nas Figuras
5.23 e 5.24. O comportamento é semelhante ao observado para os efeitos globais,
corroborando os aspectos comentados anteriormente para as duas direções.
-0,5-0,4-0,3-0,2-0,1
00,10,20,30,40,50,6
0 5 10 15 20 25
t (s)
F r/F
b
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.21 – Força cortante global na direção radial para o modelo simplificado,
f0 x rmax/V = 1,13
95
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
0 5 10 15 20 25
t (s)
Ft/F
b
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.22 – Força cortante global na direção tangencial para o modelo simplificado,
f0 x rmax/V = 1,13
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0 5 10 15 20 25
t (s)
Ur/U
b (
m)
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.23 – Deslocamento do topo na direção radial para o modelo simplificado,
f0 x rmax/V = 1,13
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
0 5 10 15 20 25
t (s)
Ut/U
b(m
)
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.24 – Deslocamento do topo na direção tangencial para o modelo simplificado,
f0 x rmax/V = 1,13
96
A Figura 5.25 mostra as forças globais na direção vertical. As respostas
estática e dinâmica são praticamente coincidentes, devido à grande rigidez da
estrutura nessa direção. Portanto, metodologias para projeto podem considerar as
ações verticais atuando estaticamente.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 2 4 6 8 10
t (s)
Fv/
P
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.25 – Força global na direção vertical para o modelo simplificado
Na literatura, é freqüente a análise estrutural a tornados ser feita através de
variações de parâmetros do mesmo ou da estrutura, como raio do núc leo, altura do
modelo, velocidade de translação, etc. Propõe-se a utilização de espectros de
resposta, que, ao considerar o período da excitação e a freqüência fundamental da
estrutura, inclui os casos particulares anteriores, podendo constituir uma poderosa
ferramenta de análise.
O espectro apresentado, Figura 5.26, é para o deslocamento cinemático do
topo na direção tangencial, Ut. Varia-se a freqüência fundamental da estrutura
através da variação de sua massa.
Há dois picos, com amplificações máximas de aproximadamente 2,25 e 2,5.
A principal diferença observada em relação ao espectro clássico para pulso
senoidal é a presença de um vale, onde o FAmax é próximo a 1,4. Tal
comportamento é o mesmo observado por Pecin (2006) para estruturas
aporticadas flexíveis e reflete características singulares da excitação tornádica.
97
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
0 1 2 3 4 5 6 7 8
f0 x rmax/V
FA
max
Figura 5.26 – Espectro de resposta do deslocamento do topo na direção tangencial para
o modelo simplificado
5.3 Torre SA
Apresentam-se os resultados obtidos para a torre SA, mostrada em 4.2,
quando submetida ao tornado F3 descrito em 4.1, que a incide conforme Figura
5.1. Assume-se a linha de transmissão localizada de modo perpendicular à direção
de translação do tornado. Assim, a direção radial tornádica equivale à direção
transversal do vento de projeto. O mesmo se aplica às direções tangencial e
longitudinal. Essa é a convenção utilizada nesta seção e na seguinte.
Baseando-se nos estudos realizados em 5.1 e 5.2, adota-se a simplificação de
eixo material e desconsidera-se o efeito da parcela de inércia. A apresentação dos
resultados é feita do seguinte modo: primeiro toma-se a torre isoladamente. A
seguir, avaliam-se os efeitos da participação dos outros elementos da linha. Os
resultados são parametrizados em relação a valores de projeto da norma IEC
60826/00 – Loading Strength of Overhead Transmission Lines. Os coeficientes de
arrasto obtidos a partir desta são aplicados também à solicitação tornádica.
98
5.3.1 Torre isolada
5.3.1.1 Análise estática
As respostas estáticas podem ser visualizadas através das Figuras 5.27 a
5.29. Os resultados vão ao encontro do exposto para o modelo simplificado (seção
5.2). As ações tornádicas preponderantes são as tangenciais e verticais. As
mesmas são, ainda, anti-simétricas e simétricas, respectivamente. Isso se deve à
natureza do modelo de Kuo/Wen e da desconsideração da parcela de inércia na
equação de Morrison.
A relação entre as forças cortantes tangenciais causadas pelo tornado e
aquelas advindas do vento de projeto atinge o pico de 1,25. Para os momentos, tal
relação vai a mais de 1,5. As forças globais verticais superam o peso próprio em
75% para a torre em estudo. Essa solicitação, não prevista em projeto para ventos
usuais, resulta no aumento das forças de tração nas pernas da torre e em suas
fundações. As ações radiais tornádicas, como esperado, mostram-se pouco
relevantes quando comparadas às ações do vento de projeto.
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fq/F
b
Fr/Fbtrans Ft/Fblong
Figura 5.27 – Forças cortantes globais para a torre SA
99
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 5 10 15 20 25
t (s)
M/M
b
Mr/Mbtrans Mt/Mblong
Figura 5.28 – Momentos globais para a torre SA
00,20,40,60,8
11,21,41,61,8
2
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fv/
P
Figura 5.29 – Força global na direção vertical para a torre SA
5.3.1.2 Análise dinâmica
As respostas dinâmicas não-amortecidas da torre em questão são tratadas
neste item. Nas Figuras 5.30 e 5.31, podem ser visualizadas as forças cortantes
globais obtidas para o modelo nas direções radial e tangencial. Opta-se pela não
realização da análise dinâmica na direção vertical, dada a pequena flexibilidade da
estrutura nessa direção. Como já mencionado, ‘rmax/V’ representa
100
aproximadamente a duração do pulso de aproximação ou afastamento do tornado
em relação ao alvo estrutural.
-0,15-0,1
-0,050
0,050,1
0,150,2
0,250,3
0,35
0 10 20 30 40 50
t (s)
Fr/
Fb
tran
s
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.30 – Força cortante global na direção radial para a torre SA, fo x rmax/V = 19,82
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ft/F
blo
ng
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.31 - Força cortante global na direção tangencial para a torre SA,
fo x rmax /V = 19,82
Nota-se que a estrutura não apresenta amplificações dinâmicas
consideráveis para o tornado em questão. As respostas dinâmicas, em ambas as
direções, assemelham-se às estáticas, com fatores de amplificação próximos à
unidade. Os máximos ocorrem durante o pulso nas duas direções. Para a direção
101
radial, tem-se uma vibração livre mais pronunciada. Observa-se também que a
consideração da velocidade de translação altera o perfil da solicitação nessa
direção, fazendo com que o mesmo se diferencie de um duplo pulso anti-
simétrico, como observado para a direção tangencial. O comportamento estrutural
em vibração livre indica a predominância da freqüência fundamental para as duas
direções. Os deslocamentos do topo são mostrados nas Figuras 5.32 e 5.33,
corroborando as observações feitas para as forças globais.
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ur/
Utr
ans
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.32 - Deslocamento do topo na direção radial para a torre SA, fo x rmax /V = 19,82
-2,5-2
-1,5-1
-0,50
0,51
1,52
2,5
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ut/U
lon
g
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.33 - Deslocamento do topo na direção tangencial para a torre SA,
fo x rmax /V = 19,82
102
A Figura 5.34 mostra como varia o esforço normal nas pernas da torre SA
quando da passagem do tornado, comparando-o com o máximo esforço normal
resultante da incidência do vento de projeto. Desconsideram-se cargas
permanentes. Para a tração, a relação atinge o pico de cerca de 2,3, ficando em 1,6
para a compressão. Tais resultados apresentam-se conforme esperado, pois a força
vertical tornádica atua de modo a tracionar as pernas da torre, fazendo com que os
esforços de tração nas pernas sejam mais críticos que os de compressão. Nota-se
também que a resposta dinâmica assemelha-se à estática, fato já esperado, dadas
as observações anteriores.
-2-1,5
-1-0,5
00,5
11,5
22,5
3
0 10 20 30 40 50
t (s)
Fn/F
nb
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.34 – Esforço normal nas pernas da torre SA, fo x rmax /V = 19,82
5.3.2 Torre na linha de transmissão
Considera-se a influência dos cabos condutores e pára-raios da linha de
transmissão na resposta mecânica da torre SA submetida ao tornado em questão.
5.3.2.1 Análise estática
As forças cortantes e momentos globais para as direções radial e tangencial,
Figuras 5.35 e 5.36, apresentam comportamento semelhante ao observado para o
103
caso da torre tomada isoladamente. Isso ocorre porque as ações tangenciais nos
cabos condutores, por serem anti-simétricas, não acrescentam forças nos suportes.
Na direção transversal à linha, há acréscimo de solicitação por conta da incidência
das velocidades radial e translacional. Considera-se esta última atuante apenas na
região do núcleo tornádico. Como o vento transversal de projeto apresenta
intensidade consideravelmente maior (pressão nos condutores e pára-raios) do que
o vento longitudinal, a solicitação radial torna-se ainda menos relevante frente à
tangencial.
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fq/
Fb
Fr/Fbtrans Ft/Fblong
Figura 5.35 - Forças cortantes globais para a torre SA na linha de transmissão
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 5 10 15 20 25
t (s)
M/M
b
Mr/Mbtrans Mt/Mblong
Figura 5.36 - Momentos globais para a torre SA na linha de transmissão
104
A Figura 5.37 mostra como varia a força vertical tornádica em relação ao
peso total do conjunto, que considera os outros elementos da linha ; tal peso é
cerca de 2,5 vezes superior ao peso próprio da torre. A mesma diferencia-se da
Figura 5.29 (força vertical tomando a torre isoladamente) sobretudo pela presença
de um patamar entre os dois picos. Tal comportamento é conseqüência da ação
vertical do tornado sobre os cabos condutores e pára-raios, que é máxima quando
essa mesma ação anula-se na torre. O valor de pico (em torno de 0,8) é menor do
que o observado na análise da torre tomada isoladamente, naturalmente por conta
do aumento do peso total do conjunto ao se considerarem os demais elementos
constituintes da linha de transmissão de energia.
0
0,10,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fv/
Pto
tal
Figura 5.37 - Força global na direção vertical para a torre SA na linha de transmissão
5.3.2.2 Análise dinâmica
A análise dinâmica é realizada considerando o acréscimo de massa do
sistema estrutural por conta dos cabos condutores, pára-raios, isoladores e demais
elementos da linha. Tem-se assim, portanto, uma diminuição da freqüência natural
do modelo. Os resultados obtidos para as forças cortantes globais nas direções
radial e tangencial são mostrados nas Figuras 5.38 e 5.39.
105
-0,15
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0 10 20 30 40 50
t (s)
Fr/
Fb
tran
s
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.38 - Força cortante global na direção radial para a torre SA na linha de
transmissão, fo x rmax /V = 6,63
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ft/F
blo
ng
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.39 - Força cortante global na direção tangencial para a torre SA na linha de
transmissão, fo x rmax /V = 6,63
A despeito da alteração da freqüência natural do sistema, nota-se que não há
amplificações dinâmicas consideráveis para a direção tangencial, a exemplo do
que foi observado para a análise da torre isolada. Para a direção radial, tal fator é
de aproximadamente 1,35. A diferença mais pronunciada entre as situações de
consideração ou não dos outros elementos da linha é no valor de pico da resposta
na direção radial (Figura 5.38). Isso se deve ao fato de, no caso em estudo, essa
106
direção corresponder ao vento transversal de projeto, que tem seu valor
sensivelmente aumentado quando se assume a existência da linha, em decorrência
da contribuição do vento incidente nos cabos condutores e pára-raios. A alteração
da freqüência natural do sistema pode ser observada pelo comportamento da
resposta em vibração livre (Figuras 5.38 e 5.39). Os deslocamentos do topo da
torre confirmam essas observações (Figuras 5.40 e 5.41), com a ressalva de os
fatores de amplificação serem próximos à unidade para as duas direções.
-0,15
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ur/
Utr
ans
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.40 - Deslocamento do topo na direção radial para a torre SA na linha de
transmissão, fo x rmax/V = 6,63
-2,5-2
-1,5-1
-0,50
0,51
1,5
22,5
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ut/U
lon
g
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.41 - Deslocamento do topo na direção tangencial para a torre SA na linha de
transmissão, fo x rmax /V = 6,63
107
O esforço normal nas pernas da torre pode ser analisado através da Figura
5.42. Como se vê, para esse caso, a passagem do tornado não causa esforços de
tração e compressão que superem os esforços de projeto, ao contrário do
observado para a torre isolada. A relação fica em torno de 0,5 para a compressão e
de 0,7 para a tração. O vento de projeto incidente nos cabos condutores e pára-
raios provoca acréscimo nos esforços de tração nessas pernas. O vento tornádico,
por apresentar anti-simetria na direção tangencial, não causa solicitações
horizontais adicionais relevantes nos suportes quando interage com os outros
elementos da linha.
-0,8-0,6
-0,4-0,2
0
0,2
0,40,6
0,8
1
0 10 20 30 40 50
t (s)
F n/F
nb
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.42 - Esforço normal nas pernas da torre SA na linha de transmissão,
fo x rmax /V = 6,63
5.4 Torre SE
Os resultados obtidos para a torre SE, descrita em 4.2, são mostrados na
seqüência, considerando o mesmo tornado incidente e as demais condições
adotadas para a torre anterior.
108
5.4.1 Torre isolada
5.4.1.1 Análise estática
As respostas estáticas da torre SE podem ser visualizadas através das
Figuras 5.43 a 5.45.
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fq/
Fb
Fr/Fbtrans Ft/Fblong
Figura 5.43 - Forças cortantes globais para a torre SE
-2,5-2
-1,5-1
-0,50
0,51
1,52
2,5
0 5 10 15 20 25
t (s)
M/M
b
Mr/Mbtrans Mt/Mblong
Figura 5.44 – Momentos globais para a torre SE
109
0
0,5
1
1,5
2
2,5
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fv/
P
Figura 5.45 - Força global na direção vertical para a torre SE
Os resultados são semelhantes aos observados para a torre autoportante. A
relação entre a força tangencial do tornado e a do vento de projeto atinge o pico de
1,68. Para os momentos, a mesma é maior que 2. A força vertical total advinda da
incidência tornádica é 2,3 vezes superior ao peso próprio da estrutura. As
solicitações radiais são pouco relevantes quando comparadas às ações previstas
em projeto.
5.4.1.2 Análise dinâmica
As respostas dinâmicas não-amortecidas para a torre estaiada nas direções
radial e tangencial são mostradas nas Figuras 5.46 e 5.47. O FAmax para a direção
radial é de 1,47. Na direção tangencial, mais relevante em termos de efeitos
estruturais, a resposta dinâmica é praticamente coincidente à estática. Os demais
aspectos são semelhantes aos já expostos para a torre autoportante. As Figuras
5.48 e 5.49 mostram os deslocamentos do topo da torre devidos ao tornado.
110
-0,2
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fr/
F btr
ans
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.46 - Força cortante global na direção radial para a torre SE, fo x rmax/V = 10,04
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 5 10 15 20 25
t (s)
Ft/
F blo
ng
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.47 - Força cortante global na direção tangencial para a torre SE,
fo x rmax /V = 10,04
-2-1,5
-1-0,5
00,5
11,5
22,5
3
0 5 10 15 20 25
t (s)
Ur/
Utr
ans
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.48 - Deslocamento do topo na direção radial para a torre SE, fo x rmax /V = 10,04
111
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
0 5 10 15 20 25
t (s)
Ut/U
lon
g
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.49 - Deslocamento do topo na direção tangencial para a torre SE,
fo x rmax /V = 10,04
A presença dos estais provoca significativas alterações nos perfis de
deslocamento do topo para as duas direções. Para a direção radial (Figura 5.48), a
relação chega a 2,5, apesar de ser igual a 0,3 para a força global. Isso se deve à
alteração da rigidez da estrutura por conta dos estais. Na direção tangencial
(Figura 5.49), tal alteração leva a uma resposta de pulso único. A amplificação
dinâmica é desprezível para ambos os casos.
A Figura 5.50 mostra como varia o esforço normal em um dos mastros da
torre SE e o compara aos esforços de projeto. De modo semelhante ao notado para
as pernas da torre autoportante, as barras são submetidas a esforços de compressão
e tração durante a passagem do tornado. No caso em questão, tem-se que os
esforços de tração tornádicos superam levemente a previsão de projeto. A
compressão do mastro pelo vento de projeto é superior à causada pelo tornado. A
presença dos estais evita que os mesmos sejam sobrecarregados. A amplificação
dinâmica é de aproximadamente 1,3 para a tração e 1,1 para a compressão.
O esforço de tração nos estais pode ser visualizado na Figura 5.51. O
mesmo supera o esforço de projeto em mais de duas vezes. O estai
especificamente tratado aqui, como se nota, só é mobilizado durante o
afastamento do tornado. Naturalmente, outros estais são mobilizados durante a
aproximação do mesmo. A amplificação dinâmica é desprezível.
112
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fn,
Fn
b (k
N)
Tornado - modelo rígido Tornado - modelo flexível
Vento de projeto - tração Vento de projeto - compressão
Figura 5.50 - Esforço normal nos mastros da torre SE, fo x rmax /V = 10,04
0
0,5
1
1,5
2
2,5
0 5 10 15 20 25
t (s)
Fn/F
nb
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.51 – Esforço normal de tração nos estais da torre SE, fo x rmax /V = 10,04
5.4.2 Torre na linha de transmissão
Considera-se a influência dos cabos condutores e pára-raios da linha de
transmissão na resposta mecânica da torre SE submetida ao tornado em questão.
113
5.4.2.1 Análise estática
Os efeitos globais são mostrados nas Figuras 5.52 a 5.54. Os valores de pico
superam os obtidos para a torre autoportante. A força tangencial máxima é 1,6 vez
superior ao previsto em projeto. Para o momento nessa mesma direção, tal relação
é de 2. Esses valores são próximos aos observados para o caso da torre isolada. A
força vertical não é superior ao peso total da estrutura (que inclui os outros
elementos da linha e é cerca de 3,5 vezes superior ao peso da torre). A razão entre
ambas atinge o máximo de 0,74. Outros aspectos são semelhantes ao descrito em
5.4.2.1 para a torre autoportante.
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 5 10 15 20 25
t (s)
F q/F
b
Fr/Fbtrans Ft/Fblong
Figura 5.52 - Forças cortantes globais para a torre SE na linha de transmissão
-2,5-2
-1,5-1
-0,50
0,51
1,52
2,5
0 5 10 15 20 25
t (s)
M/M
b
Mr/Mbtrans Mt/Mblong
Figura 5.53 - Momentos globais para a torre SE na linha de transmissão
114
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0 5 10 15 20 25
t (s)
F v/P
tota
l
Figura 5.54 - Força global na direção vertical para a torre SE na linha de transmissão
5.4.2.2 Análise dinâmica
O acréscimo da massa correspondente aos demais elementos da linha
diminui, naturalmente, a freqüência natural do sistema estrutural, modificando o
seu comportamento dinâmico. As forças cortantes globais nas direções radial e
tangencial podem ser visualizadas nas Figuras 5.55 e 5.56.
-0,15
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0 10 20 30 40 50
t (s)
Fr/
Fb
tran
s
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.55 - Força cortante global na direção radial para a torre SE na linha de
transmissão, fo x rmax /V = 5,74
115
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ft/F
blo
ng
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.56 - Força cortante global na direção tangencial para a torre SE na linha de
transmissão, fo x rmax /V = 5,74
O pico da resposta na direção radial é consideravelmente menor que o
observado para a torre tomada isoladamente. Isso ocorre porque, no caso em
questão, tal direção corresponde ao vento transversal de projeto, incidente nos
cabos condutores e pára-raios. O fator de amplificação máximo é de 1,4 para a
direção radial e próximo à unidade para a direção tangencial.
Os deslocamentos do topo são mostrados nas Figuras 5.57 e 5.58. Os perfis
são semelhantes aos observados para o caso da torre isolada (Figuras 5.48 e 5.49),
exceto pelo valor de pico na direção radial, pelos mesmos motivos descritos para
as forças globais.
O esforço normal em um dos mastros da torre SE é mostrado na Figura
5.59. Há um aumento considerável da força de compressão de projeto por conta da
atuação do vento nos cabos. Não há amplificações dinâmicas consideráveis.
Na Figura 5.60, mostra-se o comportamento do esforço de tração nos estais.
Há um ligeiro acréscimo em relação ao caso em que se toma a torre isoladamente,
devido à força vertical tornádica nos cabos condutores e pára-raios. Tal acréscimo
não é suficiente para superar o esforço de tração do vento de projeto.
116
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ur/
Utr
ans
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.57 - Deslocamento do topo na direção radial para a torre SE na linha de
transmissão, fo x rmax /V = 5,74
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
0 10 20 30 40 50
t (s)
Ut/U
lon
g
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.58 - Deslocamento do topo na direção tangencial para a torre SE na linha de
transmissão, fo x rmax /V = 5,74
-150
-100
-50
0
50
100
0 10 20 30 40 50
t (s)
F n,
Fn
b (k
N)
Tornado - modelo rígido Tornado - modelo flexível
Vento de projeto - tração Vento de projeto - compressão
Figura 5.59 - Esforço normal nos mastros da torre SE na linha de transmissão,
fo x rmax /V = 5,74
117
00,10,20,30,40,50,60,70,80,9
0 10 20 30 40 50
t (s)
Fn/F
nb
Modelo Rígido Modelo Flexível
Figura 5.60 - Esforço normal de tração nos estais da torre SE na linha de transmissão,
fo x rmax /V = 5,74
5.5 Conclusões parciais
As principais inferências dos resultados obtidos para os modelos
apresentados são:
• A resposta estática assemelha-se a um duplo pulso, correspondente às
situações de aproximação e afastamento do tornado em relação à
estrutura. As ações tangenciais são preponderantes sobre as radiais;
• As barras horizontais permitem o surgimento de uma força vertical
ascendente, quando da ocorrência do tornado, sobre as torres de
transmissão. Tal força possui intensidade comparável às ações
horizontais causadas pelo próprio tornado e é cerca de duas vezes
superior ao peso próprio das torres, tendendo a promover o
arrancamento da estrutura de sua fundação;
• A parcela de inércia da excitação tornádica é desprezível para a
avaliação de ações globais sobre torres de transmissão. O fato de a
solicitação dever-se quase integralmente às forças de arrasto é bastante
relevante, pois essas são de obtenção consideravelmente mais simples,
118
facilitando a difusão de conhecimento e a elaboração de metodologias
para projeto;
• Os efeitos globais são pouco sensíveis a se considerar o modelo
estrutural como corpo extenso ou eixo material perante o tornado. Tal
fato também vai ao encontro da elaboração de metodologias para
projeto mais simplificadas e difusíveis;
• Torres de transmissão respondem a solicitações de tornados de modo
aproximadamente estático;
• Torres representativas de linhas brasileiras atingidas por tornados
factíveis no território nacional são sujeitas a efeitos globais superiores
aos valores de projeto;
• A ação de tornados sobre torres de transmissão diferencia-se da ação
do vento de projeto, preconizado em normas, principalmente por dois
aspectos: o surgimento de uma força vertical ascendente e de um
momento de torção.
6 Metodologia para avaliação da ação mecânica global de
tornados no projeto de torres de transmissão
Dos estudos já realizados, infere-se que a resposta de torres de transmissão a
tornados pode ser avaliada a partir de simplificações importantes. A primeira
delas é considerar a estrutura, no caso a torre de transmissão, como eixo material
perante o tornado (avaliação de todas as ações em seu eixo de simetria). Estudos
anteriores para edifícios fechados (Pecin, 2006) e resultados mostrados na seção
5.1 indicam que as forças cortantes e momentos globais não são substancialmente
alterados por essa hipótese. Outra constatação importante diz respeito à
desconsideração da parcela de inércia na equação de Morrison (eq. 3.8). Tal
parcela não se mostra relevante porque é proporcional ao volume do alvo
estrutural, pequeno em relação à área de exposição ao vento no caso de barras de
torres de transmissão. Resultados mostrados na seção 5.2 corroboram tal
observação. Por fim, estudos conduzidos nas seções 5.3 e 5.4 revelam que, para as
torres e tornado considerados, a amplificação dinâmica não é significativa para as
componentes de vento de interesse.
A metodologia é proposta a partir da seguinte abordagem do problema:
obtêm-se os efeitos de vento tornádico nas direções horizontal e vertical (seções
6.1 a 6.3) para a torre e seus cabos, considerando-se as simplificações expostas.
Ou seja, inicialmente, se assume o problema como sendo de natureza estática,
com análise de eixo material e tomando-se apenas a força de arrasto.
Posteriormente (seção 6.4), estuda-se cada uma dessas simplificações, de modo a
se extraírem eventuais compensações por tê- las adotado a priori.
120
6.1 Ações horizontais de vento
Os efeitos estáticos da incidência tornádica, tomando-se a estrutura como
eixo material e considerando-se somente a força de arrasto do vento, são
analisados, separadamente para a torre e para os cabos.
6.1.1 Torre
Feitas as ponderações anteriores, o problema recai no estudo da interação
entre o campo de vento do tornado, dado pelo modelo de Kuo/Wen, e as
simulações das torres de transmissão. Particularmente, nessa interação, o modelo
estrutural contribui apenas com sua área de obstrução às componentes do vento
tornádico. A idéia mais intuitiva e elementar, já que se trata de uma solicitação
estática, é a aplicação da máxima velocidade horizontal de vento do tornado, Vmax,
tal como definida na Figura 3.1. Naturalmente, isso leva a superestimar as forças
atuantes, pois tal velocidade não ocorre em todos os pontos do alvo estrutural
simultaneamente. Procura-se então, neste item, por um coeficiente de redução
horizontal adequado, Crh, que, multiplicado por Vmax, resulte em efeitos globais
semelhantes aos observados para as situações crít icas de interação entre o tornado
e a torre. Ou seja, tem-se que Crh para determinada análise (entenda-se um tornado
e torre determinados que interagem mediante trajetória relativa também
conhecida) pode ser calculado através da raiz quadrada da razão entre os efeitos
globais obtidos e aqueles resultantes da aplicação do vento horizontal máximo.
Deste modo, define-se:
VPHest = CrhVmax (6.1)
onde VPHest representa a ve locidade horizontal estática de projeto a tornados, Crh é
o coeficiente de redução horizontal e Vmax é a velocidade máxima horizontal de
vento do tornado.
Definidos tornado e estrutura específicos, os efeitos globais dependem da
trajetória em relação ao alvo, caracterizada por dois parâmetros: D/rmax, que
121
representa a razão entre a distância do modelo à trajetória tornádica e o raio do
núcleo desse; e β, ângulo entre essa trajetória e a linha de simetria da estrutura,
conforme Figura 3.3. Sendo assim, convenciona-se o uso do termo u(D/rmax)(β) ou
v(D/rmax)(β) para representar a posição relativa entre a torre e o tornado, sendo u e
v as componentes horizontais de vento (eq. 3.5) atuantes nas faces transversal e
longitudinal, indistintamente. Portanto, para cada dessas nomenclaturas, têm-se
duas posições, conforme a componente considerada atue em uma das faces. O
ângulo é dado em graus. Tome-se como exemplo a denominação u(0,75)(30).
Indica-se uma torre que está, portanto, a ¾ do raio do núcleo de distância da
trajetória do tornado e inclinada 30º em relação a essa trajetória. A visualização é
facilitada com auxílio da Figura 3.3. Duas posições de interação torre-tornado são
possíveis: a componente u pode atuar na face transversal ou longitudinal da torre.
Naturalmente, em qua isquer dos casos, a face perpendicular está submetida à
componente v(0,75)(30), de tal modo que ambas as faces são solicitadas
simultaneamente pelas componentes u e v correspondentes a determinada posição.
Para a estrutura atingida pelo núc leo tornádico, tem-se que -1 = D/rmax = 1 e 0 =
β = 90º.
São estudados dez modelos de torres, cinco autoportantes e cinco estaiados,
denominados SA22, SA36, SA50, SA100, SA200, SE24, SE33, SE42, SE126 e
SE210. O número corresponde à altura aproximada da estrutura, em metro. Tais
alturas são escolhidas de modo a representar a variação de torres usuais. Os
modelos SA100 e SA200 são propostos a partir do SA50, mantendo, portanto,
suas proporções. O mesmo diz-se das torres SE126 e SE210, criadas a partir da
SE42. As demais estruturas são reais e representativas da região das bacias do Sul
e Sudeste. As Figuras 4.1 e 4.2 correspondem às torres SA50 e SE42, analisadas
no capítulo anterior. As outras são a elas semelhantes, a despeito das diferenças de
altura.
Nas equações do modelo de campo de vento apresentadas (seção 3.1), há
três parâmetros livres: rmax, Tmax e δ0. Os efeitos globais estáticos não dependem
do primeiro diretamente (e sim de D/rmax). Como as componentes de vento são
proporcionais a Tmax (Eqs. 3.1 a 3.4) e toma-se ainda V≅ (1/6)Tmax (Dutta et al,
2002), tem-se que o coeficiente Crh procurado independe da intensidade do
tornado, Vmax. De fato, verifica-se que, dadas as considerações acima,
122
Vmax ≅ 1,3Tmax. Assim sendo, as ações globais, advindas da incidência do tornado
ou do vento horizontal máximo, são proporcionais a T2max (a força de arrasto é
proporcional ao quadrado da velocidade, vide eq. 3.8). O coeficiente Crh provém
da razão entre essas ações, sendo, por esse motivo, independente de Tmax ou Vmax.
Infere-se, assim, que o parâmetro tornádico de interesse para avaliação de Crh é a
espessura da camada limite quando r >> 1, δ0.
Como a torre é mobilizada simultaneamente em ambas as faces, um
primeiro questionamento é se a eq. (6.1) pode ser avaliada, para cada posição de
análise, a partir da ação do tornado atuante na face mais solicitada. Em outros
termos, busca-se conhecer se a ação global resultante máxima sobre a torre pode
ser aproximada satisfatoriamente pela ação global máxima atuante em uma das
faces, de tal modo que quando essa face esteja submetida à excitação crítica, a
solicitação na outra possa ser desprezada. De fato, as análises levam a essa
conclusão. Como exemplo, apresentam-se os resultados obtidos para a força
cortante global na base das torres SA50 e SE42 (Figuras 6.1 e 6.2). Toma-se δ0 =
500 m para o tornado. O parâmetro D/rmax varia entre -1 e 1, em intervalos de
0,25; β vai de 0 a 75º, em intervalos de 15º. O eixo ‘posição’ refere-se à seguinte
convenção: (-1)(0) para a posição 1, (-1)(15) para a posição 2, etc. São, ao todo,
portanto, 108 posições, sendo a primeira metade para a componente u atuante na
face longitudinal e a segunda para a componente v atuante nessa face.
Naturalmente, a face transversal é, em ambos os casos, submetida às componentes
v e u, respectivamente.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
0 20 40 60 80 100 120
Posição
Fre
s/F
max
Figura 6.1 – Relação entre a força cortante global resultante máxima e a força global
máxima atuante em uma face do modelo SA50, δ0 = 500 m
123
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
0 20 40 60 80 100 120Posição
F re
s/F m
ax
Figura 6.2 - Relação entre a força cortante global resultante máxima e a força global
máxima atuante em uma face do modelo SE42, δ0 = 500 m
Exceto para algumas posições localizadas na fronteira do núcleo (D/rmax =
1), a relação entre as forças é aproximadamente unitária. Essa região constitui
caso particular, em que as ações máximas nas faces da torre ocorrem
simultaneamente. Assim, no prosseguimento deste estudo, toma-se a ação máxima
atuante em uma face da torre (a que se revelar mais crítica) como representativa
da ação resultante máxima sobre o modelo.
Nas Figuras 6.3 e 6.4 são mostrados os valores de Crh obtidos para as torres
SA50 e SE42, respectivamente, para diferentes valores de δ0. O efeito analisado é
a força cortante global.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
0 20 40 60 80 100 120
Posição
Crh
100 m 400 m 700 m
Figura 6.3 – Variação de Crh no modelo SA50 para diferentes valores de δ0
124
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
0 20 40 60 80 100 120
Posição
Crh
100 m 400 m 700 m
Figura 6.4 - Variação de Crh no modelo SE42 para diferentes valores de δ0
Há uma tendência de queda do valor de Crh quando há aumento da espessura
da camada limite. Tal comportamento é observado também para os outros
modelos analisados. Na Figura 6.5, visualiza-se a variação dos valores máximos
de Crh para a força cortante global atuante nas torres autoportantes em função de
δ0.
00,10,20,30,40,50,60,70,80,9
1
0 200 400 600 800 1000
δ0 (m)
Crh
SA22 SA36 SA50 SA100 SA200
Figura 6.5 - Variação de Crh em função de δ0 para modelos autoportantes
Nota-se que torres de maior altura tendem a apresentar valores de Crh mais
elevados. No entanto, para pequenos valores de δ0 (< 200 m), os valores do
coeficiente tendem a se igualar para todos os modelos, atingindo o máximo de
125
aproximadamente 0,9. Os resultados obtidos para os modelos estaiados podem ser
visualizados na Figura 6.6, de onde se extraem conclusões semelhantes.
00,10,20,30,40,50,60,70,80,9
1
0 200 400 600 800 1000
δ0 (m)
Crh
SE24 SE33 SE42 SE126 SE210
Figura 6.6 - Variação de Crh em função de δ0 para modelos estaiados
Os coeficientes de redução apresentam grande sensibilidade ao parâmetro
δ0, exceto para torres de elevada altura. No entanto, valores característicos do
mesmo não são reportados com grande freqüência na literatura e correlações com
outros parâmetros tornádicos são fracamente estabelecidas. Opta-se, neste
trabalho, por se prosseguir com os estudos para δ0 = 100 m, valor arbitrado de
modo a representar uma situação que se julga factível e crítica.
A comparação entre os valores de Crh obtidos para a força cortante total na
base e aqueles referentes ao momento de tombamento pode ser feita através das
Figuras 6.7 e 6.8, onde se mostram os resultados obtidos para as vinte posições
mais críticas dos modelos SA50 e SE42. Neste exemplo, toma-se a face
transversal das torres.
Os valores de Crh tendem a ser maiores para o momento de tombamento do
que para a força cortante total. As direções críticas, onde se notam os maiores
efeitos mecânicos da incidência tornádica, são aproximadamente na região de
D/rmax = 0,75. Os valores máximos de Crh obtidos para os demais modelos são
mostrados nas Figuras 6.9 e 6.10, corroborando a preponderância dos coeficientes
de redução para o momento global.
126
0,65
0,7
0,75
0,8
0,85
0,9
u(0,
25)(
60)
u(0,
5)(1
5)u(
0,5)
(30)
u(0,
5)(4
5)
u(0,
5)(6
0)u(
0,75
)(0)
u(0,
75)(
15)
u(0,
75)(
30)
u(0,
75)(
45)
u(1)
(0)
u(1)
(15)
v(0,
25)(
15)
v(0,
25)(
30)
v(0,
5)(3
0)v(
0,5)
(45)
v(0,
5)(6
0)
v(0,
75)(
45)
v(0,
75)(
60)
v(0,
75)(
75)
v(1)
(75)
Posição
Crh
Fh M
Figura 6.7 - Variação de Crh para diversas posições torre-tornado na face transversal do
modelo SA50, δ0 = 100 m
0,7
0,75
0,8
0,85
0,9
u(0,
25)(
60)
u(0,
25)(
75)
u(0,
5)(3
0)u(
0,5)
(45)
u(0,
5)(6
0)
u(0,
75)(
0)u(
0,75
)(15
)u(
0,75
)(30
)u(
0,75
)(45
)u(
1)(0
)
u(1)
(15)
v(0,
25)(
15)
v(0,
25)(
30)
v(0,
5)(3
0)v(
0,5)
(45)
v(0,
5)(6
0)v(
0,75
)(45
)v(
0,75
)(60
)v(
0,75
)(75
)v(
1)(7
5)
Posição
Crh
Fh M
Figura 6.8 - Variação de Crh para diversas posições torre-tornado na face transversal do
modelo SE42, δ0 = 100 m
0,8
0,82
0,84
0,86
0,88
0,9
0,92
SA
22
SA
36
SA
50
SA
100
SA
200
Modelo
Crh
Fh M
Figura 6.9 – Valores máximos de Crh para os modelos autoportantes, δ0 = 100 m
127
0,82
0,84
0,86
0,88
0,9
0,92
0,94
SE
24
SE
33
SE
42
SE
126
SE
210
Modelo
Crh
Fh M
Figura 6.10 - Valores máximos de Crh para os modelos estaiados, δ0 = 100 m
Nas situações até agora consideradas, toma-se a velocidade de translação, V,
como sendo 1/8 da máxima velocidade horizontal de vento, Vmax (Dutta et al,
2002). A título de exemplo, a Figura 6.11 ilustra a variação do coeficiente Crh para
a força cortante global na face transversal da torre SA50 quando tal relação se
modifica. De forma geral, os valores de Crh tendem a aumentar para velocidades
de translação menores.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
u(0,
25)(
60)
u(0,
5)(1
5)
u(0,
5)(3
0)
u(0,
5)(4
5)
u(0,
5)(6
0)
u(0,
75)(
0)
u(0,
75)(
15)
u(0,
75)(
30)
u(0,
75)(
45)
u(1)
(0)
u(1)
(15)
v(0,
25)(
15)
v(0,
25)(
30)
v(0,
5)(3
0)
v(0,
5)(4
5)
v(0,
5)(6
0)
v(0,
75)(
45)
v(0,
75)(
60)
v(0,
75)(
75)
v(1)
(75)
Posição
Crh
V = Vmax/4 V = Vmax/8 V = Vmax/16
Figura 6.11 – Variação de Crh na face transversal do modelo SA50 para diferentes
velocidades de translação, δ0 = 100 m
128
T TCOND
TCOND T
r r'
T
Nos estudos realizados, uma observação é recorrente, a despeito da variação
de Crh para as diversas situações e modelos: o mesmo apresenta valor máximo
igual a aproximadamente 0,9. Eventualmente, tal valor é levemente ultrapassado,
conforme se tome uma ou outra situação específica. Entretanto, no contexto das
incertezas relacionadas à excitação tornádica e à definição de parâmetros para a
análise dos efeitos mecânicos resultantes dessa excitação, julga-se conveniente
propor o valor mencionado para representar a solicitação estática máxima em uma
torre de transmissão por conta da incidência de um tornado. Deste modo, tem-se:
VPHest = 0,9Vmax (6.2)
6.1.2 Cabos condutores e pára-raios
A solicitação horizontal de vento nos cabos decorrente da incidência do
tornado deve-se a três parcelas: tangencial, radial e translacional. A componente
tangencial, anti-simétrica, tem seu efeito resultante no cabo nulo, conforme Figura
6.12 (considera-se apenas um ponto de fixação na torre para condutores e pára-
raios). O mesmo não ocorre para a componente radial, que apresenta resultante
sobre o cabo, como mostra a Figura 6.13.
Figura 6.12 – Velocidade tangencial atuante no cabo de uma linha de transmissão
Cabo
129
R
RCOND
R
RCOND
r'
Figura 6.13 - Velocidade radial atuante no cabo de uma linha de transmissão
Na Figura 6.14, tem-se o valor da velocidade radial equivalente no cabo,
Req, em relação à velocidade tangencial máxima, para diversas alturas e instantes
de análise, representados pelo parâmetro D/rmax (neste caso, D é a distância do
cabo ao centro do tornado). Considera-se o vão básico de vento igual a 700 m para
a linha. Simplificações importantes são feitas, como a não-consideração da
flexibilidade do cabo, não- linearidades geométricas, etc. O valor de pico é inferior
a 0,1Tmax.
00,010,020,030,040,050,060,070,080,09
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
z/δο
Req
/Tm
ax
D/rmax = 0,25 D/rmax = 0,5 D/rmax = 0,75
Figura 6.14 – Velocidade radial equivalente nos cabos da linha de transmissão
A velocidade de translação atua na região do cabo atingida pelo tornado,
possuindo, naturalmente, o sentido do movimento desse. Valores característicos
Cabo
130
da velocidade de translação variam de 5 a 30 m/s. No entanto, tornados não
ocorrem desvinculados de severas tempestades. Ou seja, a região do cabo externa
ao núcleo tornádico experimenta a ação de vento ordinário, resultante dessas
tempestades.
Uma abordagem inicial e conservadora da questão conduz a considerar a
máxima velocidade translacional (aproximadamente 30 m/s) atuando em todo o
cabo, não apenas na região atingida pelo núcleo do tornado. A essa se somaria a
velocidade radial equivalente. Entretanto, considerando a natureza aproximada da
estimativa das velocidades tornádicas atuantes na linha de transmissão, e
observando-se ainda que tais estimativas conduzem, em princípio, a valores
próximos aos ventos usuais de projeto, Vp, opta-se pela recomendação destes
últimos na análise da solicitação horizontal nos cabos. Tem-se então:
VPHcabo = Vp (6.3)
6.2 Ações verticais de vento
6.2.1 Torre
De modo similar à abordagem utilizada para a solicitação horizontal de
vento, procura-se, neste item, por um coeficiente de redução vertical adequado,
Crv, que, multiplicado pela velocidade horizontal máxima característica do
tornado, Vmax, corresponda à solicitação estática máxima na direção vertical,
conforme eq. (6.4):
VPVest = CrvVmax (6.4)
VPVest representa a velocidade vertical estática de projeto a tornados, Crv é o
coeficiente de redução vertical e Vmax é a velocidade máxima horizontal de vento
do tornado considerado.
Uma simplificação importante neste caso merece menção: as ações verticais
independem do ângulo β e podem ser avaliadas somente para as posições onde
131
D/rmax = 0. Nas outras situações, a função de tempo da força vertical ascendente é
parte da função obtida para essa condição.
Deste modo, apresentam-se os valores do coeficiente Crv em função de δ0.
Nas Figura 6.15 e 6.16, visualizam-se os resultados obtidos para as torres
autoportantes e estaiadas, respectivamente. Considera-se V = Vmax/8 (Dutta et al,
2002).
O comportamento é diferente do observado para a ação horizontal. Não há
uma tendência clara de queda do coeficiente com aumento de δ0 para todos os
tipos de torre. Geralmente, observa-se uma ascensão inicial, com pico em uma
região intermediária, que depende do modelo analisado, seguido por um
movimento de queda. O coeficiente apresenta valor máximo de cerca de 0,85,
observado para o modelo SE-24.
0,5
0,55
0,6
0,65
0,7
0,75
0,8
0,85
0 200 400 600 800 1000
δ0 (m)
Crv
SA22 SA36 SA50 SA100 SA200
Figura 6.15 – Variação de Crv em função de δ0 para modelos autoportantes
0,65
0,7
0,75
0,8
0,85
0,9
0 200 400 600 800 1000
δ0 (m)
Crv
SE24 SE33 SE42 SE126 SE210
Figura 6.16 - Variação de Crv em função de δ0 para modelos estaiados
132
Os valores de Crv são mais sensíveis à velocidade de translação, V. Isso
porque, conforme já mencionado e explicitado na eq. (3.5), a componente vertical
é independente da inclinação da torre em relação à trajetória do tornado. Tem-se
que, para determinado tornado de projeto, caracterizado por uma velocidade
horizontal máxima Vmax, o valor de Tmax é tanto maior quanto menor é o valor da
velocidade translacional V (vide definição de Vmax na Figura 3.1). Assim, para
tornados com V < Vmax/8, há aumento proporcional nos valores de Crv. No
entanto, mesmo para baixas velocidades de translação, o coeficiente de redução
vertical é, na grande maioria dos casos, inferior a 0,9, valor que se mostra,
novamente, característico de uma situação crítica de solicitação estática.
Analisando as respostas obtidas, julga-se recomendável a adoção de um Crv
único, a despeito da variação observada nos coeficientes em função da altura e do
tipo de modelo estrutural avaliado. De fato, tal variação não é significativa a ponto
de justificar eventuais metodologias que levem em conta a altura ou a
configuração da torre. Assim, escreve-se:
VPVest = 0,9Vmax (6.5)
6.2.2 Cabos condutores e pára-raios
A ação tornádica vertical ascendente nos cabos é, naturalmente, função do
tempo. Adota-se, neste item, a simplificação também mencionada na seção 6.1.2:
desconsidera-se a flexibilidade do cabo, a não- linearidade geométrica do
problema, etc. Estima-se então a ação estática vertical crítica. A velocidade
atuante no cabo é função do parâmetro z/δ0 (representação adimensional da altura
sobre o solo). Os perfis são semelhantes para diferentes valores desse parâmetro.
Como exemplo, na Figura 6.17 mostram-se quatro situações. Na abscissa, l/rmax
representa a região do cabo atingida pela excitação (a região entre -1 e 1
corresponde ao núcleo tornádico). Toma-se Vmax ˜ 1,3Tmax.
A solicitação sobre o cabo é igual a um duplo pulso simétrico, característico
de ações verticais tornádicas, como apresentado em ocasiões anteriores. A partir
da velocidade incidente, chega-se ao duplo pulso aproximado da Figura 6.18,
representativo da pressão crítica sobre o condutor. Nele, considera-se a pressão de
133
vento atuando apenas na região do núcleo. O pico é de 0,74 em relação à pressão
resultante da incidência do vento máximo horizontal que caracteriza o tornado,
Vmax.
00,10,20,30,40,50,60,70,80,9
1
-2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
l/rmax
w/V
max
w(0,04) w(0,08) w(0,1) w(0,2)
Figura 6.17 – Velocidade vertical ao longo do cabo para diferentes valores de z/δ0
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
-1 -0,5 0 0,5 1
l/rmax
pv/
pm
ax
Figura 6.18 – Perfil aproximado da pressão vertical tornádica sobre cabos condutores e
pára-raios
A velocidade vertical de projeto a tornados no cabo, VPVcabo, pode então ser
calculada a partir da área sob o gráfico da Figura 6.18:
134
2V74,0
V2max2
PVcabo ρ=ρ (6.6)
De onde, tem-se:
VPVcabo ˜ 0,6Vmax (6.7)
A velocidade calculada leva em conta apenas a região do cabo. Corrigindo-
se para o vão de vento da linha, lv, obtém-se a expressão final:
VPVcabo = max5,0
v
max V)l
r(6,0 (6.8)
Valores de rmax para tornados são bastantes variáveis. Praticamente, não há,
na literatura, correlações com outros parâmetros associados ao fenômeno. Sugere-
se rmax = 200 m para uso na eq. (6.8), valor que se julga representativo de um
limite superior para a dimensão tornádica.
6.3 Interação entre ações horizontais e verticais
Para a determinação das situações críticas de projeto a tornados, é
importante verificar como as ações horizontais e verticais relacionam-se entre si,
já que atuam simultaneamente no alvo estrutural. Como exemplo, para
visualização dessa interação, mostram-se as forças horizontais e verticais obtidas
para diferentes posições da torre SA-50 nas Figuras 6.19 a 6.21. Para as ações
horizontais, toma-se a face transversal do modelo e adota-se, entre as
componentes u e v, a mais crítica; assume-se ainda β = 0. O tornado é o F3
descrito em 4.1.
O comportamento geral das forças é semelhante, inclusive a magnitude,
exceto para a situação onde D/rmax = 1. Essa situação (por inferência, em posições
próximas à fronteira do núcleo) revela uma hipótese de projeto que necessita ser
considerada: atuação apenas de vento horizontal, sem ação vertical, o que leva
efeitos de compressão mais expressivos. O pico de 100 kN para a força vertical no
135
exemplo considerado (Figura 6.21) representa apenas cerca de 7% das forças
verticais atuantes nas fundações por conta do momento de tombamento causado
pelo vento horizontal. Como se observa também, outra situação de projeto é a de
ventos horizontais e verticais máximos atuando simultaneamente.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0 5 10 15 20 25 30
t(s)
F(kN
)
Fh Fv
Figura 6.19 – Forças globais horizontais e verticais, D/rmax = 0
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0 5 10 15 20 25 30
t(s)
F(kN
)
Fh Fv
Figura 6.20 - Forças globais horizontais e verticais, D/rmax = 0,5
0
50
100
150
200
250
300
350
400
0 5 10 15 20 25 30
t(s)
F(kN
)
Fh Fv
Figura 6.21 – Forças globais horizontais e verticais, D/rmax = 1
136
6.4 Estudos complementares
6.4.1 Eixo material versus corpo extenso
Critica-se, neste item, a simplificação de eixo material das torres de
transmissão, adotada nas análises realizadas. Sabe-se que, para estruturas
fechadas, tal simplificação não conduz a discrepâncias significativas para a
estimativa de efeitos globais (Pecin, 2006). Na Figura 6.22, são mostradas as
razões entre as forças globais verticais obtidas com as metodologias de eixo
material e corpo extenso.
1
1,05
1,1
1,15
1,2
1,25
0 200 400 600 800 1000
δo (m)
F vem
/Fv c
e
SA22 SA50 SE24 SE42
Figura 6.22 – Relação entre forças globais verticais de eixo material e corpo extenso
Tal razão é sempre superior a 1, pois, para o modelo de campo de vento
adotado, a força global vertical máxima sobre a estrutura é obtida quando se toma
a mesma como eixo material e se faz D/rmax = 0. Portanto, tal análise é sempre a
favor da segurança em relação ao lift (força vertical ascendente). Como se nota, a
razão entre as forças calculadas pelos dois métodos chega a cerca de 1,2.
Na Figura 6.23, mostram-se as relações entre as forças cortantes globais
obtidas com metodologias de eixo material e corpo extenso para seis direções
críticas. As relações entre os momentos globais são visualizadas na Figura 6.24.
137
Considera-se que o tornado atue na face transversal dos modelos, o que resulta em
momentos de torção mais elevados, e se faz ainda δ0 = 100 m.
0,90,95
11,05
1,1
1,15
1,2u(
0,5)
(45)
u(0,
75)(
0)
u(1)
(0)
v(0,
5)(4
5)
v(0,
75)(
60)
v(0,
75)(
75)
Posição
Fh
em/F
hce
SA22 SA50 SE24 SE42
Figura 6.23 – Relação entre forças cortantes globais de eixo material e corpo extenso
0,850,9
0,951
1,051,1
1,151,2
u(0,
5)(4
5)
u(0,
75)(
0)
u(1)
(0)
v(0,
5)(4
5)
v(0,
75)(
60)
v(0,
75)(
75)
Posição
Mem
/Mce
SA22 SA50 SE24 SE42
Figura 6.24 - Relação entre momentos globais de eixo material e corpo extenso
As relações são próximas à unidade. Constitui exceção a direção u(1)(0),
cuja razão é em torno de 1,15. Esse fato é natural e relaciona-se com situações
onde D/rmax = 1. Nessa condição, parte do modelo é atingida e parte não atingida
pelo núcleo tornádico em um instante de ações horizontais intensas, causando a
discrepância.
138
Opta-se, nesta metodologia, por desprezar essas diferenças e adotar a
abordagem de eixo material, mais simples e a favor da segurança na maioria dos
casos. Deste modo, termina-se ainda por balancear, para posições próximas à
fronteira do núcleo, o efeito de se considerar a ação global na face crítica da torre
em detrimento do efeito global resultante máximo (vide Figuras 6.1 e 6.2).
No entanto, para prosseguir-se com essa simplificação, torna-se necessária
uma investigação sobre a magnitude do momento de torção negligenciado na
abordagem de eixo material. Tal momento constitui, de fato, o único fator
importante não levado em conta nessa abordagem, devendo ser acrescentado às
outras solicitações tornádicas na torre. Para visualização dessa ação, apresentam-
se na Figura 6.25, como exemplo, os momentos de torção atuantes na torre SA50
durante a passagem do tornado F3 descrito na seção 4.1, para diferentes posições.
-400
-300
-200
-1000
100
200
300
400
500
0 5 10 15 20 25 30
t (s)
Mto
(kN
m)
u(0,5)(45) u(1)(0) v(0,75)(75)
Figura 6.25 – Momentos globais de torção no modelo SA50
Um aspecto interessante da física do problema fica evidenciado. Os picos
dos momentos torçores ocorrem quando parte da torre encontra-se no núcleo e
parte fora desse. Inclusive, na fronteira do mesmo (D/rmax = 1), a situação é mais
crítica, como se nota. O momento de torção máximo, para esta torre, é da ordem
de 400 kNm, o que corresponde a um incremento das forças horizontais nas
fundações de cerca de 24 kN.
139
Na Figura 6.26, apresentam-se as relações entre a força horizontal resultante
do momento de torção e a força cortante global para as seis direções críticas
anteriormente consideradas.
00,020,040,060,080,1
0,120,14
u(0,
5)(4
5)
u(0,
75)(
0)
u(1)
(0)
v(0,
5)(4
5)
v(0,
75)(
60)
v(0,
75)(
75)
Posição
Mto
/(F
qxB
)
SA22 SA50 SE24 SE42
Figura 6.26 – Relação entre força horizontal de torção e força cortante global
Os maiores efeitos ocorrem para D/rmax = 1, por motivo já exposto. Os picos
atingem aproximadamente 0,12. Deste modo, recomenda-se a adoção de um
momento de torção nas torres de transmissão projetadas a tornados, MPto dado
pela expressão:
qPto BF12,0M = (6.9)
Fq é a força cortante global na face considerada em projeto e B é a largura
dessa face – para as torres autoportantes, toma-se a largura da base; para as
estaiadas, sugere-se a dimensão da parte superior do módulo de suporte da mísula.
6.4.2 Força de arrasto versus força de inércia
Nos resultados até aqui obtidos e nas análises feitas a partir desses, toma-se
a força de inércia como desprezível para torres de transmissão. Neste item, visa-se
formalizar tal simplificação. A partir da eq. (3.8), escreve-se a relação FI/FA (força
de inércia em relação à força de arrasto):
140
venvenexpd
vencm
A
I
UUAC21
dtdU
VC
FF
ρ
ρ= (6.10)
Fazendo Cd = Cm, considerando apenas os módulos das forças e chamando
em = Vc/Aexp (espessura média), tem-se:
ven2
ven
mA
I
Udt
dU
e2FF
= (6.11)
Como se nota, a relação entre as forças de inércia e arrasto é proporcional à
espessura média do modelo. Na Figura 6.27, visualiza-se a relevância da parcela
de inércia em função da espessura média do modelo estrutural.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3
em (m)
FI/F
Figura 6.27 - Relevância da força de inércia em função da espessura média da estrutura
O resultado é obtido considerando-se os módulos das forças resultantes de
arrasto e inércia em uma torre simétrica quando D/rmax = β = 0. Toma-se a
envoltória de um conjunto de análises para diferentes valores de Vmax.
141
No caso das barras das torres de transmissão analisadas, a espessura média
varia entre aproximadamente 6 e 24 mm, o que justifica a consideração apenas da
força de arrasto tornádica.
6.4.3 Análise estática versus análise dinâmica
Os resultados apresentados nas seções 5.3 e 5.4 indicam, em termos gerais,
que a resposta de torres de transmissão às ações tornádicas é predominantemente
estática. Por essa razão, a metodologia proposta ao longo deste capítulo
desenvolve-se a partir dessa premissa. Neste item, critica-se tal simplificação
através de uma análise da influência da flexibilidade dos modelos estruturais em
função de parâmetros associados ao problema.
A idéia é a proposição de um espectro de resposta a tornados. Tal espectro
independe da intensidade do tornado, pois as parcelas de velocidade do mesmo
são proporcionais a Tmax (eqs. 3.2 a 3.4). Inclui-se a velocidade de translação,
tomada como Tmax/6 (Dutta et al, 2002). No entanto, diversos parâmetros
envolvidos na análise conduzem a espectros de resposta diferentes. Como
exemplos, citam-se δ0, D/rmax, tipo e altura de torre, efeito estrutural observado,
etc. Nesse contexto, tendo em vista o objetivo de proposição de um espectro de
resposta para projeto a tornados, tomam-se as seguintes atitudes: opta-se pela
adoção dos modelos SA50 e SE42 como padrões para os estudos realizados;
toma-se δ0 = 100 m, compatível com solicitações críticas; e define-se a força
cortante global como efeito a ser analisado. Nas Figuras 6.28 e 6.29, encontram-se
os resultados obtidos para os modelos em diferentes posições. A despeito de o
espectro se referir à força cortante global, conforme mencionado, os valores de
FAmax mostrados relacionam-se à velocidade horizontal máxima de vento
tornádico, Vmax, de modo a se adequar ao contexto da metodologia estudada.
142
0
0,5
1
1,5
2
0 1 2 3 4 5 6 7
f0 x rmax/V
FA
max
D/rmax = 0 D/rmax = 0,25 D/rmax = 0,5
D/rmax = 0,75 D/rmax = 1
Figura 6.28 – Espectros de resposta a tornados para o modelo SA50
00,20,40,60,8
11,21,41,6
0 1 2 3 4 5
f0 x rmax/V
FA
max
D/rmax = 0 D/rmax = 0,25 D/rmax = 0,5
D/rmax = 0,75 D/rmax = 1
Figura 6.29 - Espectros de resposta a tornados para o modelo SE42
Ressalta-se que a duração da ação é proporcional ao parâmetro rmax/V para
qualquer valor de D/rmax. Sugere-se, no contexto da metodologia proposta, a
utilização do espectro de resposta obtido para o modelo SA50 na posição D/rmax =
0, situação que se revela crítica aos efeitos de flexib ilidade estrutural. Tal espectro
é mostrado isoladamente na Figura 6.30.
143
00,2
0,40,6
0,81
1,21,4
1,61,8
2
0 5 10 15 20 25 30
f0 x rmax/V
FAm
ax
Figura 6.30 – Espectro de resposta para projeto a tornados
Notam-se dois picos separados por um vale, a exemplo do espectro
apresentado seção 5.2. Ademais, o mesmo parece-se com o observado para um
pulso senoidal. O primeiro pico apresenta FAmax pouco superior a 1,8 e o segundo
é da ordem de 1,6. Na região de depressão, observada entre eles, FAmax ˜ 1,3.
Como já dito, a dimensão do núcleo tornádico, rmax, é incerta. Não há, na
literatura, correlações estritas desse com outros parâmetros, como a velocidade
horizontal máxima, Vmax. A velocidade de translação, V, também não pode ser
considerada dependente estritamente de outros parâmetros, a despeito de algumas
correlações serem propostas na literatura. Baseando-se em alguns tornados
reportados, sugerem-se, a título de referência, alguns limites para o parâmetro
rmax/V em função da classificação na Escala Fujita, apresentados na Tablela 6.1.
Tabela 6.1 – Parâmetro rmax/V
Escala rmax/V (s)
F0 40-120
F1 20-60
F2 8-24
F3 4-12
F4 2-8
F5 1-5
144
6.5 Síntese e exemplo
Em suma, as ações de projeto a tornados nas torres de transmissão são
escritas, na sua forma mais geral, conforme as expressões seguintes:
VPH = 0,9VmaxFAmax
VPHcabo = Vp
VPV = 0,9Vmax (6.12)
VPVcabo = max5,0
v
max V)l
r(6,0
qPto BF12,0M =
Os termos são definidos nas seções anteriores. Considerando o exposto,
especialmente na seção 6.3, onde se analisa a interação entre as componentes
horizontal e vertical do vento tornádico, e levando-se em conta ainda as situações
críticas de solicitação de torres de transmissão do ponto de vista estrutural,
propõem-se onze hipóteses para o projeto a tornados:
Hipótese 1: vento tornádico transversal e vertical atuantes na torre, tomada
isoladamente;
Hipótese 2: vento tornádico longitudinal e vertical atuantes na torre, tomada
isoladamente;
Hipótese 3: vento tornádico a 45º e vertical atuantes na torre, tomada
isoladamente;
Hipótese 4: vento tornádico transversal atuante na torre e nos outros
elementos da linha de transmissão;
Hipótese 5: vento tornádico longitudinal atuante na torre e nos outros
elementos da linha de transmissão;
Hipótese 6: vento tornádico a 45º atuante na torre e nos outros elementos da
linha de transmissão;
Hipótese 7: vento tornádico transversal e vertical atuantes na torre e nos
outros elementos da linha de transmissão;
145
Hipótese 8: vento tornádico longitudinal e vertical atuantes na torre e nos
outros elementos da linha de transmissão;
Hipótese 9: vento tornádico a 45º e vertical atuantes na torre e nos outros
elementos da linha de transmissão.
As duas outras se referem exclusivamente às torres estaiadas, visando a
ocorrências críticas de forças de tração nos mastros:
Hipótese 10: vento tornádico vertical atuante na torre, tomada isoladamente;
Hipótese 11: vento tornádico vertical atuante na torre e nos outros elementos
da linha de transmissão.
Ressalta-se que as ações críticas nos condutores podem ocorrer
simultaneamente às ações críticas nas torres, já que independem de D/rmax
(considerando um ponto único de fixação dos cabos nas estruturas). As hipóteses
previstas contemplam essa condição. Os ventos tornádicos transversais e
longitudinais são acompanhados de momentos de torção na base dos modelos,
conforme demonstrado em 6.4.1.
Como exemplo, tome-se a torre SA50 (Figura 4.1), que deve ser projetada
para resistir a um tornado F3 médio. Sua base é de, aproximadamente, 16 x 12 m.
A área das barras exposta ao vento transversal (face longitudinal) é de 40,63 m2 e
ao vento longitudinal (face transversal) é de 45,44 m2. Utilizando a Escala Fujita
Aprimorada (Tabela 2.3), tem-se que Vmax = 75 m/s. O modelo possui freqüência
fundamental, f0, igual a 2,48 Hz. Com base na Tabela 6.1, adota-se rmax/V = 8 s
(valor médio). Tem-se então f0 x rmax/V ˜ 20. Isso leva a um FAmax ˜ 1,1 (Figura
6.30). Assim, escreve-se para este exemplo:
VPH = 0,9x75x1,1 ˜ 74,3 m/s
VPV = 0,9x75 = 67,5 m/s (6.13)
A carga de vento é calculada utilizando-se a expressão preconizada pela
norma IEC 60826/00:
146
)senCScosCS)(2sen2,01(GqA 22XT2T
21XT1T
2T0t α+αα+= , onde: (6.14)
q0 – pressão dinâmica de referência (=0,5ρV2p);
GT – fator de vento combinado;
ST 1 – área líquida da face longitudinal;
ST 2 – área líquida da face transversal;
CXT1 – coeficiente de arrasto da face longitudinal;
CXT2 – coeficiente de arrasto da face transversal;
α - ângulo de incidência do vento com a face longitudinal (0 para vento
transversal e 90º para vento longitudinal).
Faz-se ρ = 1,2 kg/m3 (massa específica do ar) e obtém-se a força cortante
global para as direções transversal, longitudinal e a 45º (Fqt, Fql, Fq45). Como
aproximação, neste exemplo, adota-se um coeficiente de arrasto uniforme para a
torre de 2,7.
Fqt = 0,5 x 1,2 x (74,3)2 x 2,7 x 40,63 ˜ 363362 N ˜ 363 kN
Fql = 0,5 x 1,2 x (74,3)2 x 2,7 x 45,44 ˜ 406379 N ˜ 406 kN (6.15)
Fq45 = 0,5 x 1,2 x (74,3)2 x 2,7 x 1,2 x (40,63 x 0,5 + 45,44 x 0,5)
˜ 461844 N ˜ 462 kN
Os momentos de torção são então calculados:
MTtrans = 0,12 x 12 x 363 = 523 kNm
MTlong = 0,12 x 16 x 406 = 780 kNm (6.16)
MT45 = 0,12 x (122 + 162)1/2 x 462 = 1109 kNm
As hipóteses 1,2 e 3 podem então ser representadas (omitem-se as cargas
permanentes):
147
Figura 6.31 – Hipótese de projeto 1
Figura 6.32 – Hipótese de projeto 2
VPH = 74,3 m/s VPV = 67,5 m/s
MTtrans = 523 kNm
VPH = 74,3 m/s
VPV = 67,5 m/s
MTlong= 780 kNm
148
Figura 6.33 – Hipótese de projeto 3
Para os casos de carregamento referentes à torre com os outros elementos da
linha, necessária é a determinação da nova freqüência fundamental, f0, resultante
do acréscimo de massa ao sistema estrutural. No exemplo em questão, tal
freqüência cai a 0,83 Hz. O novo valor de f0 x rmax/V é, portanto, 6,63. Do
espectro da Figura 6.30, obtém-se FAmax ˜ 1,15. Ainda, tem-se que o vento
horizontal nos cabos é o vento usual de projeto. Assume-se Vp = 30 m/s. Portanto:
VPH = 0,9x75x1,15 = 77,6 m/s
VPHcabo = 30 m/s (6.17)
Com essa nova velocidade horizontal de projeto, calculam-se os momentos
torçores, do mesmo modo que mostrado nas eqs. (6.15) e (6.16), obtendo-se:
MTtrans = 571 kNm
MTlong = 853 kNm (6.18)
MT45 = 1208 kNm
Chega-se então às hipóteses 4, 5 e 6:
VPH = 74,3 m/s VPV = 67,5 m/s
MT45= 1109 kNm
45º
149
Figura 6.34 – Hipótese de projeto 4
Figura 6.35 – Hipótese de projeto 5
VPH = 77,6 m/s
MTtrans= 571 kNm
VPHcabo = 30 m/s
VPH = 77,6 m/s
MTlong= 853 kNm
VPHcabo = 30 m/s
150
Figura 6.36 – Hipótese de projeto 6
Calculam-se as ações verticais, considerando também os outros elementos
da linha. Tomando-se o vão de vento, lv, igual a 800 m:
VPV = 0,9x75 = 67,5 m/s
VPVcabo = 0,6 x (200/800)0,5 x 75 = 22,5 m/s (6.19)
Representam-se, por fim, as hipóteses 7, 8 e 9:
Figura 6.37 – Hipótese de projeto 7
VPH = 77,6 m/s
45º
MT45 = 1208 kNm
VPHcabo = 30 m/s
VPH = 77,6 m/s VPV = 67,5 m/s
MTtrans = 571 kNm
VPHcabo = 30 m/s
VPVcabo = 22,5 m/s
151
Figura 6.38 – Hipótese de projeto 8
Figura 6.39 – Hipótese de projeto 9
VPH = 77,6 m/s
VPV = 67,5 m/s
MTlong = 853 kNm
VPH = 77,6 m/s
MT45 = 1208 kNm
VPV = 67,5 m/s
VPHcabo = 30 m/s VPVcabo = 22,5 m/s
VPVcabo = 22,5 m/s
VPHcabo = 30 m/s
45º
7 Análise não-determinística da solicitação de tornados
sobre torres de transmissão
Conforme visto na seção 2.2.5, a análise não-determinística de efeitos
estruturais pressupõe o conhecimento da curva de ameaça e das distribuições de
demanda e capacidade estrutural. As curvas de ameaça a tornados obtidas para o
território brasileiro estão mostradas na Figura 2.20 (Relatório 001/4, 2007).
Aprofunda-se, neste capítulo, o estudo da demanda tornádica e propõe-se, a partir
da mesma, uma metodologia para a estimativa da probabilidade de falha.
7.1 Estudo da demanda tornádica
Na análise estática, os valores de Crh e Crv (coeficientes de redução
horizontal e vertical, definidos no capítulo 7) dependem, para determinada torre,
de três parâmetros: δ0, D/rmax e β. Olhando-se para o problema sob ótica
determinística, o interesse recai sobre situações críticas, em que esses coeficientes
apresentem valores máximos, conforme capítulo anterior. Na condução da análise
não-determinística, especificamente no estudo da demanda, faz-se necessária a
obtenção da distribuição de probabilidade desses coeficientes.
Com esse intuito, assume-se que a espessura da camada limite do tornado,
δ0, independa de outras características do mesmo e possua distribuição normal,
com média 500 m e desvio-padrão arbitrado de tal forma a 80% das ocorrências
localizarem-se entre 100 e 900 m. Tal estimativa é feita com base em valores
médios utilizados na literatura. Atribui-se ainda aos parâmetros D/rmax e β uma
distribuição probabilística uniforme e independente de δ0. Para obtenção das
distribuições dos coeficientes de demanda, são realizadas diversas análises
estruturais determinísticas para combinações desses parâmetros. Utilizam-se em
torno de 500 discretizações. Consideram-se ainda as mesmas torres autoportantes
153
e estaiadas estudadas no capítulo anterior, representativas da faixa de alturas
usuais dessas estruturas.
Opta-se pela realização do estudo a partir das funções de distribuição
acumulada, por permitirem a análise comparativa de modo mais simples e eficaz.
As Figuras 7.1 e 7.2 mostram as curvas de distribuição do coeficiente de demanda
Crh obtidas para força a cortante global em três modelos de torre autoportantes e
estaiados, respectivamente.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crh
F(C
rh)
SA22 SA36 SA50
Figura 7.1 – Funções de distribuição acumulada de Crh para a força cortante global nos
modelos autoportantes
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crh
F(C
rh)
SE24 SE33 SE42
Figura 7.2 – Funções de distribuição acumulada de Crh para a força cortante global nos
modelos estaiados
154
O coeficiente varia entre aproximadamente 0,2 e 0,9. As torres mais altas
apresentam comportamento mais crítico em relação à probabilidade de o
coeficiente ultrapassar determinado nível. Tal constatação corrobora observações
feitas no capítulo anterior (Figuras 6.5 e 6.6). Nas Figuras 7.3 e 7.4, observam-se
as distribuições de Crh calculadas agora a partir do momento de tombamento nas
estruturas.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crh
F(C
rh)
SA22 SA36 SA50
Figura 7.3 - Funções de distribuição acumulada de Crh para o momento global nos
modelos autoportantes
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crh
F(C
rh)
SE24 SE33 SE42
Figura 7.4 - Funções de distribuição acumulada de Crh para o momento global nos
modelos estaiados
155
O comportamento é bastante semelhante ao observado para a força cortante
global, havendo um deslocamento das curvas no sentido do aumento da
probabilidade de ultrapassagem de determinado nível, fato natural e coerente com
observações anteriores relativas ao fato de os momentos de tombamento tenderem
a apresentar coeficientes de redução mais elevados.
As distribuições para Crv são também obtidas e apresentadas nas Figuras 7.5
e 7.6 para torres autoportantes e estaiadas.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crv
F(C
rv)
SA22 SA36 SA50
Figura 7.5 – Funções de distribuição acumulada para Crv nas torres autoportantes
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crv
F(C
rv)
SE24 SE33 SE42
Figura 7.6 - Funções de distribuição acumulada para Crv nas torres estaiadas
156
As curvas são bastante diferentes das calculadas para Crh. De fato, a
natureza das duas ações é notoriamente diferente, sendo a ação vertical, por
exemplo, independente do ângulo β (eq. 3.5). Em concordância com o observado
para as ações horizontais, há uma tendência de as torres mais altas apresentarem
maior probabilidade de ultrapassagem de determinado coeficiente também para as
ações verticais.
A força vertical depende, determinados uma torre e um tornado, apenas de r
(=r’/rmax), o que leva a uma distribuição concentrada em valores específicos, mais
intensamente entre 0,6 e 0,8. De fato, tem-se que, fixada uma relação z/δ0, pode-se
determinar o valor de r para o qual a ação vertical é máxima. Sabe-se que a torre
experimenta essa ação máxima para qualquer D/rmax inferior a esse valor.
Portanto, quando todos os módulos da torre se encontram nessa situação, não há
alteração na força vertical máxima total, o que resulta em valores de Crv idênticos.
É possível inferir matematicamente essa conclusão através da interpretação das
eqs. (3.3) a (3.5). Há ainda simetria da análise em relação ao parâmetro D/rmax.
As curvas de coeficientes de demanda até agora obtidas prestam-se ao
estudo probabilístico de ações globais, tomadas isoladamente como horizontais ou
verticais, não havendo intercâmbio direto entre as curvas de Crh e Crv, a despeito
de ambas as ações ocorrerem de modo simultâneo. De especial interesse são os
efeitos nas fundações, resultantes da interação entre as forças horizontais e
verticais tornádicas. Deste modo, obtêm-se as distribuições de coeficientes de
demanda de compressão e tração nos pontos de apoio das torres estudadas.
Naturalmente, a partir dessas ações verticais nos elementos isolados de fundação,
as ações horizontais nos mesmos podem ser estimadas.
Definem-se então os coeficientes de redução à compressão e à tração,
chamados Crc e Crt, da mesma forma que Crh e Crv. O coeficiente Crc para
determinada análise é igual à raiz quadrada da relação entre a maior força de
compressão observada em um ponto de apoio da torre e aquela obtida pela
aplicação direta de Vmax na face da torre que resulte em uma força de compressão
mais elevada. Para esta última força, designada de referência, não se considera a
ação vertical, que tende a diminuí- la. O cômputo de Crt é semelhante, com a
diferença de levar-se em conta a ação vertical de Vmax no cálculo da força de
referência à tração. As Figuras 7.7 e 7.8 mostram as distribuições acumuladas de
Crc para torres autoportantes e estaiadas, respectivamente.
157
As curvas obtidas para as torres autoportantes são semelhantes àquelas
apresentadas para o coeficiente de redução horizontal. No caso das torres
estaiadas, esse comportamento se altera, com probabilidades significativas
observadas também para valores menores de Crc. Tal fato deve-se à natureza física
das duas situações, que é diferente. No caso da torre autoportante, há quatro
pontos de apoio que podem ser comprimidos (pernas), ao passo em que para a
torre estaiada há apenas dois (mastros). A própria disposição geométrica desses
elementos é bastante distinta.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crc
F(C
rc)
SA22 SA36 SA50
Figura 7.7 - Funções de distribuição acumulada para Crc nas torres autoportantes
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crc
F(C
rc)
SE24 SE33 SE42
Figura 7.8 - Funções de distribuição acumulada para Crc nas torres estaiadas
158
As distribuições dos coeficientes Crt podem ser visualizadas nas Figuras 7.9
e 7.10, respectivamente para torres autoportantes e estaiadas. Naturalmente, nas
torres autoportantes a máxima tração ocorre em um dos pontos de apoio das
quatro pernas. Nas estaiadas, em um dos pontos de fixação dos quatro estais. Em
decorrência dessa semelhança física e geométrica do problema, os perfis não se
distinguem consideravelmente e apresentam comportamento próximo ao
observado para o Crh obtido para o momento de tombamento (Figuras 7.3 e 7.4).
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crt
F(C
rt)
SA22 SA36 SA50
Figura 7.9 - Funções de distribuição acumulada para Crt nas torres autoportantes
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crt
F(C
rt)
SE24 SE33 SE42
Figura 7.10 - Funções de distribuição acumulada para Crt nas torres estaiadas
159
Durante a solicitação tornádica em torres de transmissão, há a possibilidade
de os mastros sofrerem também efeitos de tração. Por esse motivo, é de interesse a
avaliação da distribuição da menor força de compressão atuante no mastro (que
pode ser uma força de tração). A Figura 7.11 apresenta as curvas dos coeficientes
de demanda obtidos para a tração no mastro, Crtmast. Valores negativos, de
compressão, referem-se a situações nas quais o mastro não é tracionado.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5
Crtmast
F(C
rtm
ast)
SE24 SE33 SE42
Figura 7.11 - Funções de distribuição acumulada para Crtmast nas torres estaiadas
Os coeficientes Crtmast são calculados tomando-se como referência a força de
tração atuante em um dos pontos de apoio devido à aplicação de Vmax na direção
vertical, sem ação horizontal. Em aproximadamente 40% das ocorrências, o
mastro não sofre efeitos de tração. Limites superiores para Crtmast são da ordem de
0,75.
Nas análises de compressão e tração nos pontos de apoio, exceto para a
força de tração nos mastros, uma observação é constante e condizente com o
observado para as ações globais (Crh e Crv): as torres mais altas apresentam maior
probabilidade de ultrapassagem de um determinado coeficiente limite. A despeito
de algumas exceções e hipóteses, crê-se, portanto, que tal generalização não
incorre em erro grosseiro.
Com o intuito de fornecer uma ferramenta para análise da probabilidade de
falha de torres de transmissão a tornados, busca-se reunir as curvas apresentadas
anteriormente em um conjunto tanto menor e representativo quanto possível.
160
Assim, perfis de distribuição acumulada semelhantes, que não levem a diferenças
significativas na avaliação da probabilidade anual de falha, são agrupados e
apresentados para três diferentes classes de altura: 25, 35 e 45 m, que são valores
aproximados tomados para as torres estudadas.
As curvas de Crt e Crh (para momento de tombamento) apresentam
comportamento semelhante para torres de alturas próximas, tanto autoportantes
quanto estaiadas. Reúnem-se as mesmas, conforme Figura 7.12. Do mesmo modo,
os perfis de Crh obtidos para a força cortante global e as distribuições de Crc nas
pernas podem ser vistos na Figura 7.13.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crh,Crt
F(C
rh,C
rt)
25 m 35 m 45 m
Figura 7.12 – Funções de distribuição propostas para Crh (momento global) e Crt
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crh,Crc
F(C
rh,C
rc)
25 m 35 m 45 m
Figura 7.13 - Funções de distribuição propostas para Crh (força cortante global) e
Crc (torres autoportantes)
161
A distribuição dos coeficientes de demanda para as forças de compressão e
tração nos pontos de apoio dos mastros das torres estaiadas é apresentada nas
Figuras 7.14 e 7.15. Nas Figuras 7.16 e 7.17, mostram-se as curvas para o
coeficiente Crv, referentes à ação global vertical, para as torres autoportantes e
estaiadas, respectivamente.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crc
F(C
rc)
25 m 35 m 45 m
Figura 7.14 - Funções de distribuição propostas para Crc nas torres estaiadas
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5
Crtmast
F(C
rtm
ast)
25 m 35 m 45 m
Figura 7.15 - Funções de distribuição propostas para Crt nas torres estaiadas
162
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crv
F(C
rv)
25 m 35 m 45 m
Figura 7.16 - Funções de distribuição propostas para Crv nas torres autoportantes
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Crv
F(C
rv)
25 m 35 m 45 m
Figura 7.17 - Funções de distribuição propostas para Crv nas torres estaiadas
As funções propostas não podem ser representadas por distribuições
clássicas. No entanto, as curvas mostradas nas Figuras 7.12 a 7.14 são ajustáveis
com boa precisão por polinômios de quinto grau, conforme Tabela 7.1. Na última
coluna, apresentam-se os coeficientes de correlação.
163
Tabela 7.1 – Ajuste das funções de distribuição dos coeficientes de demanda tornádicos
Coeficientes polinômio Função distribuição Altura (m)
5ª pot. 4ª pot. 3a pot. 2a pot. 1a pot. Indep. R2
25 -12,049 24,192 -17,887 7,4336 -0,8302 0,018 0,999
35 -22,3 46,645 -33,329 11,215 -1,3979 0,0401 0,9986 Crh (momento global) e Crt
45 -27,473 57,588 -40,228 12,421 -1,4841 0,0426 0,9979
25 -4,2869 4,9814 -1,8928 2,2696 -0,1967 -0,0005 0,9986
35 -8,8585 12,691 -4,7303 1,918 -0,1969 0,0021 0,9981 Crh (força cortante global) e Crc
(torres autportantes) 45 -14,349 23,672 -11,244 3,008 -0,3032 0,0061 0,9979
25 2,8938 -7,2237 3,9277 0,5868 0,8191 -0,0394 0,9988
35 0,5175 -3,0637 1,3871 1,8695 0,2356 -0,0211 0,9986 Crc (torres estaiadas)
45 -0,5486 -2,3722 2,2928 1,5655 -0,0332 -0,0083 0,9984
7.2 Metodologia para avaliação da probabilidade de falha de torres
de transmissão a tornados
Baseando-se no estudo de demanda apresentado, propõe-se uma
metodologia para avaliação da probabilidade anual de falha de torres de
transmissão por conta da incidência de tornados e exemplifica-se para o caso
brasileiro.
7.2.1 Metodologia
A probabilidade anual de falha pode ser estimada conforme seguintes
passos:
• Escolha de um efeito mecânico definidor da falha e da curva de
distribuição de probabilidade do coeficiente de demanda a ele
correspondente (Figuras 7.12 a 7.17);
• Obtenção da distribuição da demanda do efeito de interesse
condicionada a determinado valor de ameaça, empregando a curva
escolhida anteriormente;
• Definição da densidade de probabilidade da capacidade estrutural;
• Avaliação da probabilidade de falha condicionada através da eq.
(2.24);
164
• Repetição do procedimento para outros valores de ameaça e obtenção
da curva de fragilidade da estrutura;
• Com as curvas de fragilidade estrutural e ameaça para o sítio em
questão, obtém-se a probabilidade anual de falha através da
convolução das mesmas, conforme eq. (2.22).
7.2.2 Exemplo
Para ilustrar a aplicação da metodologia, obtém-se a probabilidade anual de
falha da torre SA50 à força cortante global devido à incidência de tornados.
Considera-se a torre localizada na Província da Bacia do Prata.
Toma-se então, para a avaliação da demanda, a função de distribuição do Crh
para força cortante global apresentada na Figura 7.13 para altura 45 m. Para cada
valor de ameaça, Vmax, obtém-se uma curva de demanda para a força cortante
global. Essa relaciona-se com o coeficiente Crh através da expressão:
2maxrhiiq )VC(AC
21
F ∑ρ= (7.1)
onde ρ é a massa específica do ar; Ci e Ai são o coeficiente de arrasto e a área de
exposição do módulo i. A escolha da face de análise é irrelevante para a
estimativa da probabilidade de falha. Toma-se aqui a face transversal. Como se
nota, trata-se apenas de uma transformação da velocidade incidente de vento na
força cortante global, utilizando para isso a massa específica do ar e propriedades
geométricas da torre. De forma semelhante, é possível obter, a partir da
velocidade de vento incidente e características geométricas da torre analisada,
outros efeitos globais, como momento de tombamento e força vertical total, além
de forças de compressão e tração máximas atuantes nos elementos de apoio.
Arbitra-se para a capacidade uma distribuição normal com desvio-padrão
igual a 10% da média. Essa é calculada de tal forma que a torre apresente 10% de
probabilidade de falha ao ser submetida ao vento de projeto.
A distribuição da capacidade é, naturalmente, mantida invariável e, para
cada curva de demanda, a eq. (2.24) é avaliada numericamente, de modo a se
165
obter a probabilidade de falha condicionada à ameaça, Pf/Vmax. As funções de
densidade de probabilidade da capacidade e da demanda para um tornado com
Vmax = 85 m/s (correspondente a um F3 médio) são mostradas na Figura 7.18, a
título de exemplo.
Os valores de Pf/Vmax obtidos para diversos valores de Vmax permitem a
construção da curva de fragilidade da torre SA50 em relação ao efeito
considerado, mostrada na Figura 7.19. Tal curva indica a probabilidade de falha
dado que um tornado, com determinado Vmax, ocorre no sítio em questão e atinge
a torre.
0
0,005
0,01
0,015
0,02
0 100 200 300 400 500
Fh (kN)
f(Fh
)
Demanda Capacidade
Figura 7.18 – Funções de densidade de probabilidade da demanda, Vmax = 85 m/s,
e da capacidade para força cortante global na torre SA50
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 50 100 150 200 250 300 350
Vmax (m/s)
Pf/V
max
Figura 7.19 – Curva de fragilidade a tornados para força cortante global na torre SA50
166
Por fim, a probabilidade anual de falha é calculada através da convolução
das curvas de fragilidade e ameaça, conforme eq. (2.22). Utiliza-se a curva de
ameaça correspondente à Província da Bacia do Prata (PBP), mostrada na Figura
2.20. Integrando-se numericamente, obtém-se:
Pf = 1,03 x 10-7 (7.2)
Ressalta-se que esse valor está associado a uma distribuição hipotética da
capacidade estrutural da torre.
8 Conclusões e recomendações
As ações de tornados sobre torres de transmissão podem ser divididas em
horizontais e verticais. Adotando-se o modelo de Kuo/Wen para o campo de
vento, essas ações, quando representadas em função do tempo, assemelham-se a
um duplo pulso, com duração que depende da dimensão e da velocidade de
translação do tornado. A intensidade da solicitação relaciona-se a características
do mesmo, como espessura da camada limite e velocidade máxima horizontal, e à
trajetória em relação ao alvo estrutural. Torres representativas de linhas
brasileiras, quando submetidas a tornados compatíveis com a ameaça ao território
nacional, são sujeitas a efeitos globais superiores aos valores de projeto. As barras
com projeção horizontal permitem ainda o surgimento de uma força vertical
ascendente, não prevista nas normas para ventos usuais.
As ações mecânicas globais de tornados sobre torres de transmissão podem
ser analisadas a partir de hipóteses simplificadoras importantes:
• A solicitação pode ser avaliada no eixo de simetria da estrutura, pois,
dessa forma, não se alteram substancialmente os efeitos globais;
• A parcela de inércia da excitação tornádica pode ser desprezada, pois
as barras apresentam volume reduzido, comparado à área de exposição
ao vento;
• Para as freqüências fundamentais correntes, a reposta estrutural é
aproximadamente estática.
Nesse contexto, propõe-se um procedimento consistente aproximado para
avaliação das forças globais de tornados nas fundações das torres, a ser aplicado
conforme passos seguintes:
168
• Definição do tornado de projeto e, conseqüentemente, de sua
velocidade máxima;
• Obtenção das velocidades de projeto, a partir dos coeficientes de
redução horizontal e vertical propostos;
• Aplicação das hipóteses para projeto a tornados apresentadas.
A metodologia adapta-se ao roteiro usual para projeto de torres de
transmissão e acrescenta ao mesmo as hipóteses referentes às situações críticas da
solicitação mecânica de tornados. As principais diferenças em relação às hipóteses
usuais de projeto são as ações de uma força vertical ascendente e de um momento
global de torção.
Sugere-se ainda uma sistemática para determinação da distribuição de
probabilidade da demanda tornádica a ser empregada na avaliação da
confiabilidade do projeto. Ao final, exemplifica-se a mesma com a resolução de
um problema de confiabilidade clássico no contexto de manifestações severas da
natureza, admitindo-se uma distribuição simplificada da capacidade estrutural.
Para prosseguimento dos estudos desenvolvidos, recomenda-se:
• Delimitação do emprego de modelos de campos cinemáticos dos
tornados e da transformação desses indicadores em valores de pressão
sobre a estrutura;
• Extensão da análise não-determinística na avaliação dos efeitos globais
de tornados sobre torres de transmissão.
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10 Apêndice
É demonstrado o processo de obtenção da aceleração nas direções x e y,
adaptado de Wen (1975):
acx = ut + u.ux + v.uy + w.uz (10.1)
acy = vt + u.vx + v.vy + w.vz (10.2)
onde u, v e w são dados no texto (eq. 3.5).
ut = -rt.(Tr.senφ + Rr.cosφ) + Tt.(Tcosφ – Rsenφ) (10.3)
vt = rt.(Tr.cosφ + Rr.senφ) + Tt.(Tsenφ + Rcosφ) (10.4)
ux = ur.rx + uφ.φx (10.5)
uy = ur.ry + uφ.φy (10.6)
vx = vr.rx + vφ.φx (10.7)
vy = vr.ry + vφ.φy (10.8)
uz = -Tz.senφ – Rz.cosφ + U0z.senβ (10.9)
vz = Tz.cosφ – Rz.senφ + U0z.senβ (10.10)
uφ = -Tcosφ + Rsenφ (10.11)
vφ = -Tsenφ – Rcosφ (10.12)
2 2 1/20
max
[(S V.t) D ]r
r− +
= (10.13)
0t 2
max
S V.tr V
r.r−
= − (10.14)
0x 2
max
(S V.t)cos Dsenr
r.r− β + β
= (10.15)
0y 2
max
(S V.t)sen Dcosr
r.r− β − β
= (10.16)
179
yx
r
r
−φ = (10.17)
xy
rr
φ = (10.18)
t 2max
VD(r.r )
θ = (10.19)
0
max
sen(S V.t) cos
Dsen Dr.r
β− − β
φ = (10.20)
0
max
cos(S V.t) sen
Dcos Dr.r
β− + β
φ = (10.21)
ur = -Tr.senφ – Rr.cosφ (10.22)
vr = -Rr.senφ + Tr.cosφ (10.23)
Nas expressões acima, T e R são dados no texto (eqs. 3.2 a 3.4); Tr, Rr, Tz
e Rz são as derivadas espaciais dessas componentes.