tgdci 1ªt 04-01-2012
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Exame com pistas de correção de Teoria Geral do Direito Civil.TRANSCRIPT
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO Todos os artigos indicados pertencem do Código Civil português
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I
1.ª Turma 4 de Janeiro de 2012
I) (5 valores)
Distinga:
a) Direito potestativo de direito subjectivo stricto senso;
b) Assistência de representação legal;
c) "wrongful birth" de "wrongful life".
d) Boa fé em sentido subjectivo de boa fé em sentido objectivo.
Ver respostas no LIVRO E NA BIBLIOGRAFIA INDICADA
II) (7,5 Valores)
Maria nasceu no dia 1 de Janeiro de 1994. Em Outubro de 2009, Maria, com 15 anos de idade, participou
e venceu um concurso de piano, tendo recebido como prémio €3.000.
a) Um ano depois (em Outubro de 2010), com esse dinheiro, adquiriu uma bicicleta para descidas
de montanha. Será o negócio válido?
Expor sucintamente o regime da menoridade.
O negócio é válido – cfr. art. 127.º /1-a).
Questionar o facto de ter adquirido o dinheiro com 15 anos…
b) Durante uma descida em Penacova (em Novembro de 2010), Maria sofreu uma grave lesão e
ficou inconsciente, tendo imediatamente sido socorrida pela equipa do INEM (Instituto Nacional
de Emergência Médica). Qual a causa de justificação para a intervenção médica?
Consentimento presumido – art. 340.º/ 3
Art. 70.º - Direitos de personalidade – dever geral de respeito
c) Maria, com 17 anos, consentiu na realização de uma cirurgia plástica para corrigir os aleijões no
nariz, a fim melhorar o seu aspecto físico. Será válido e suficiente este consentimento?
Considerando que já se havia casado, estava emancipada (art. 132.º), logo é válido
o consentimento (art. 81.º, 340.º)
Considerando que era solteira, com 17 anos, problematizando o regime do
consentimento para intervenções médico-cirúrgicas dos adolescentes, aplicar o
regime em vigor: o consentimento é válido mas não suficiente: necessidade de
consentimento dos representantes legais (pais) – art. 124.º, 1878.º
Explicar o regime do consentimento (art. 81.º, 340.º); naturalmente a intervenção é
conforme aos bons costumes!
d) Em Dezembro de 2010, Maria casou-se com Jorge, seu primo direito, inabilitado por
prodigalidade. Quid juris?
CASAMENTO VÁLIDO! Apenas COM A IRREGULARIDADE do art. 1649.º
Menor pode casar: (1601.º, 1604.º, a); 1627.º e 1649.º)
Inabilitado por prodigalidade pode casar: cfr. 1601.º b)
NÃO há qualquer impedimento impediente relativo (art. 1602.º)!! para cômputo
dos graus (de parentesco) cfr. art. 1581.º
e) Em virtude de um outro acidente de bicicleta, ocorrido no dia 2 de Janeiro de 2012, Maria viria a
falecer. Na eventualidade de a aquisição da bicicleta ser anulável, podem os seus herdeiros pedir
a anulação do negócio?
Maria estava casada, logo emancipada desde Dezembro de 2010. Assim, o direito
de anulação caducou passado um ano, ou seja, em Dezembro de 2011. Assim, não
podem os herdeiros requerer a anulação (cfr. art. 125.º c) e b)).
Comente juridicamente as diversas situações apresentadas e responda às perguntas formuladas em cada
uma das alíneas.
III) (7,5 valores)
Vanda, de 30 anos de idade, trabalha como técnica de vendas para a firma Monteiro e Rocha, Lda, com
sede em Coimbra.
a) No dia 4 de Fevereiro de 2001, durante uma deslocação, no carro da empresa, ao domicílio de
um cliente na Lousã, desviou-se da sua rota e foi visitar a sua amiga Rute na Curia. Em virtude
de uma mancha de óleo na estrada, veio a atropelar um peão que circulava no passeio.
Peão sofre Danos patrimoniais (art. 566.º) e Danos não patrimoniais (496.º);
Direito à integridade física (70.º n.º 1)
Responsabilidade Civil de Vanda (483.º)? Ausência de culpa (487.º); … “mancha
de óleo”… Mas art. 503.º - Responsabilidade pelo risco – detenção de veículo
automóvel);
Responsabilidade do comitente? NÃO!
o Requisitos do art. 500.º; não se verifica o art. 500.º, n.º2: “no exercício das
funções”… mas “por ocasião destas”…
b) Quando, finalmente, chegou a casa do cliente, Manuel, e ao efectuar a troca de um trem de
cozinha defeituoso por outro em boas condições, derrubou um vaso chinês, avaliado em €10.000,
que se encontrava na entrada da casa.
Responsabilidade contratual. Deveres acessórios. Relação obrigacional complexa.
Art. 799.º, n.1 – presunção de culpa
Art. 800.º – Actos dos auxiliares
Monteiro e Rocha, Lda responde pelos danos
Se entender haver apenas responsabilidade extracontratual, art. 500.º. Verificam-
se os 3 requisitos. Eventual direito de regresso sobre Vanda (500.º, n.º3), mas não
se afigura evidente…
c) Aproveitando a distracção do cliente, Vanda furtou um relógio valioso que se encontrava no
quarto de dormir, escondido da cómoda.
Responsabilidade civil de Vanda (483.º); eventual responsabilidade criminal.
Responsabilidade do comitente – art. 500.º?
o Em princípio não: art. 500.º, n.º 2: “fora do exercício das funções”, apenas
com interesse pessoal para Vanda…
o Mas, eventual aplicação da doutrina da aparência social…
responsabilidade da pessoa colectiva… Nesse caso, responsabilidade
solidária… Vanda terá que cumprir o direito de regresso (500.º, n.º3)
d) Vanda e a sua filha Zaida, ao tempo com 5 anos de idade, encontram-se desaparecidas desde
essa data e não são conhecidos mais familiares ou herdeiros.
Ausência… 89.º e ss…
Arts. 91.º e 99.º Legitimidade do Ministério Público… Curadoria provisória e
curadoria definitiva…
Morte presumida…
o 114.º, n.º3 – independente das outras medidas…
o Estado é herdeiro legítimo (cfr. arts. 2133.º e 2152.º)
o 115.º - Efeitos
o Quando:
Vanda – já decorreram 10 anos – pode haver declaração de morte
presumida
Zaida: 5 anos a de Fevereiro de 2001… morte presumida quando
atingir 23 anos (5 anos após a maioridade (art 114.º 1 e 2))… logo
em 2019… Agora só poderá haver lugar à curadoria definitiva.
1) Comente as situações descritas e refira contra quem pode reagir o peão atropelado e, bem assim,
contra quem pode Manuel fazer valer os seus direitos.
2) Que tipo de medidas pode pedir-se, relativamente a Vanda e a Zaida, tendo em conta a situação
descrita na alínea d)?