textos sobre questão agrária no brasil.2015

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  • Brasil Questo Agrria

    "Metade dos documentos de posse de terra no Brasil ilegal" por Marcella Lourenzetto publicado 20/06/2013 14h46, ltima modificao 20/06/2013 14h51

    A afirmao do gegrafo Ariovaldo Umbelino, para quem o programa Terra Legal permitir que terras do patrimnio pblico ocupadas ilegalmente se transformem em propriedade privada O gegrafo, pesquisador e professor da USP Ariovaldo Umbelino fala sobre a situao de propriedades que uti-lizam terras retiradas do patrimnio pblico ilegalmen-te, os famosos casos de grilagem, e tambm se diz com-trrio ao programa Terra Legal do Governo Federal.

    Ns temos no Brasil hoje um numero elevadssimo de escrituras onde no h fazendas, comenta o gegrafo. Ele explica que no pas existe um nmero alto de frau-des na documentao de terras, principalmente em municpios com importncia econmica, como em So Flix do Xingu, no Par, que possui o segundo maior rebanho de carne bovina do pas.

    No comeo de 2012, o gegrafo integrou um grupo que realizou um comparativo entre o processo de retomada das terras devolutas do Pontal do Paranapanema, em So Paulo, com o que estava acontecendo em So Flix

    Joo Paulo Brito

    Ariovaldo: "h diversas formas de burlar a lei. Em So Flix do Xin-gu, quase 100% dos documentos do cartrio tm que ser anulados."

    do Xingu. Advogados da Faculdade de Direito do Par tambm participaram do projeto e o pesquisador liderou a equipe que foi a campo analisar a situao da regio.

    Ns verificamos que, na realidade, praticamente 100% dos documentos legais do cartrio tm que ser anulados, porque so falsos. A corregedoria do Par anulou todas as escrituras registradas no cartrio de registro de imveis de So Flix do Xingu, afirma. E tambm indaga: Ningum dono das terras mais. Bem, dono do papel. Mas quem est l na fazenda hoje?.

    Umbelino alerta que o problema no uma situao isolada ao norte do Brasil. Atualmente ele enfrenta a mesma realidade em outros estados do pas. Isso tem em todos os municpios do Brasil. Estou fazendo esse trabalho l em Minas Gerais, em Riacho dos Machados, a mesma coisa. Metade dos documentos ilegal, afirma.

    Programa Terra Legal

    O programa uma iniciativa do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio que visa promover a regularizao fundiria de ocupaes em terras pblicas federais situadas na Amaznia Legal. Teve incio em 2009, durante o governo Lula e, de acordo com o Governo Federal, a meta se baseia em legalizar as terras ocupadas por cerca de 300 mil posseiros. Com o projeto, o governo tambm busca reduzir o desmatamento, ampliar as aes de desenvolvimento de forma sustentvel na regio e reduzir os casos de grilagem.

    Entretanto, para o gegrafo, no bem isso o que acontece. Ariovaldo acredita que as medidas provisrias propostas pelo ex-presidente Luiz Incio Lula da Silva, que autorizam a doao de pores de terras pblicas e aceleram os processos de regularizao das propriedades, permitem a legalizao de mil e quinhentos hectares. Para ele, isso um ato inconstitucional e que tambm contribui na legalizao dos grilos. O direito a legitimao de posse s pode ser feito para cinquenta hectares. Como eu elevo para mil e quinhentos? Estou ferindo a Constituio, diz.

    Ele ainda afirma que h formas de burlar a lei: Coloco mil e quinhentos no nome de um filho, depois mil e quinhentos no nome de outra filha, e legalizo dez mil, vinte mil hectares. Umbelino defende que h o princpio baseado na ilegalidade e outro baseado na justia social. Quem tem terra no tem que ter mais terra, conclui.

    http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/metade-dos-documentos-de-posse-de-terra-no-brasil-e-ilegal-7116.html

  • Nova morte de indgena por disputa de terras com ruralistas agrava tenso no MS Aps dez anos de espera por demarcao, guaranis-kaiow tentam reocupar territrio demarcado e sofrem retaliao brutal por pistoleiros, a mando de latifundirios da regio por Redao da RBA publicado 01/09/2015 12:24, ltima modificao 01/09/2015 16:51

    FACEBOOK/ATY GUASU

    Povo Guarani-Kaiowa promete unio nas defesa das terras do anderu Marangatu, aps a morte de Semio Vilhalva

    So Paulo A morte a tiros do jovem guarani-kaiow Semio Vilhalva, de 24 anos, do tekoh (territrio) anderu Marangatu, no municpio de Antnio Joo, em Mato Grosso do Sul, voltou a fazer da regio um territrio beira da convulso social. Vilhalva morreu no ltimo sbado (29), durante ataque de pistoleiros, a mando de fazendeiros da regio, segundo denncia da Comisso Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionrio (Cimi).

    Reportagens de Maril Cabaas para a Rdio Brasil atual apontam que a rea atacada j foi demarcada e homologada, em 2005, pelo presidente Lula, mas a homologao foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em deciso do ministro Gilmar Mendes, a pedido dos fazendeiros. No ltimo dia 21, "num ato desesperado", relata a jornalista, os indgenas tentaram retomar o territrio, mas dias depois foram duramente retaliados pelos proprietrios, numa ao revelia da lei.

    Num relato que pode revelar apenas parcialmente a gravidade da situao, a professora guarani-kaiow Inaye Gomes Lopes estava no local quando Semio foi assassinado, e conta os detalhes: "Os fazendeiros entraram com (....) os pistoleiros deles. Houve massacres em dois lugares. Um na fazenda da proprietria Roseli, presidenta do Sindicato Rural, e em outra fazenda, do proprietrio Dcio Queiroz, onde houve morte. Eles chegaram atirando, queimando motos, atirando com balas de borracha. Muitas pessoas se machucaram, ensanguentadas. Um jovem foi assassinado. Ele levou um tiro no rosto e morreu na beira do rio."

    Inaye diz que Semio saiu, em meio ao conflito, para procurar a mulher, que estava com o filho de 2 anos desmaiado no colo, quando foi atingido por um tiro no rosto.

    A professora afirma ainda que Rozeli Maria Ruiz, proprietria de uma das fazendas, havia feito ameaas, h cerca de duas semanas. "'Se os indgenas querem ocupar a minha terra, vou matar um deles primeiro, Foi o que ela falou, e ela cumpriu. Um guerreiro nosso est morto", relatou.

    O secretrio-executivo do Cimi, Cleber Buzatto, concorda que o ataque foi premeditado e afirma que os fazendeiros se prepararam durante toda a semana que antecedeu o crime, divulgando mentiras e incitando a populao local contra os povos indgenas e seus aliados. Ele classificou a operao ordenada pelos fazendeiros como "uma verdadeira ao paramilitar".

    Cleber afirma reporter que, se as autoridades no tomarem iniciativas para restabelecer o estado democrtico de direito naquela regio, mais lideranas indgenas podem ser assassinadas.

  • "A comunidade vive, h mais de dez anos, em menos de 100 hectares, mais de mil indgenas. Uma situao de confinamento. Durante todo esse processo, a comunidade sempre se manteve extremamente pacfica. H uma semana, diante de uma situao de extrema vulnerabilidade, de angstia e morte de crianas, a comunidade fez a retomada de algumas fazendas, que incidem sobre o territrio, e, nesse momento, os fazendeiros os atacam. Em vez de buscar os amparos da legislao, esto preferindo fazer aes paramilitares, no ataque aos guarani-kaiow", denuncia Cleber.

    Durante o conflito, um beb foi alvejado por uma bala de borracha, o que levanta suspeita de que tenha sido atingido por policias, ou que os fazendeiros estariam de posse de armamentos de uso exclusivo das foras militares. "Tem que investigar. Infelizmente, o DOF (Departamento de Operaes da Fronteira), tem atuado mais como um elemento de proteo aos fazendeiros do que na tentativa de evitar o conflito entre as partes", denuncia o secretrio-executivo do Cimi.

    Para o presidente da Comisso de Direitos Humanos (CDH) da Cmara, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), o assassinato de Semio Vilhalva a "crnica de uma morte anunciada", e diz que os fazendeiros optaram por "fazer justia com as suas prprias mos", ao no aguardar a deciso final da Justia.

    Ele afirma que, dentre as causas para o aumento da tenso entre indgenas e proprietrios rurais na regio est a instabilidade causada pela "morosidade do poder Judicirio" e "insuficincia das aes do poder Executivo".

    O deputado tambm acusa a polcia local de cumplicidade. "H uma postura de contemplao a uma srie de desmandos que, evidentemente, poderiam ser minimizados", diz Pimenta, que ressalta a condio de completo desequilbrio entre as partes envolvidas no conflito. "De um lado o poder poltico, o poder econmico e a contemplao da autoridade policial. E os ndios, que contam, nica e exclusivamente, com o seu povo, a sua histria, sua trajetria."

    O presidente da CDH diz estar "muito empenhado e preocupado", na busca de uma soluo para o conflito. Ele cita uma srie de procedimentos e aes a tomar, como o envio de peritos federais para garantir iseno nas investigaes, e prometeu, ainda nesta semana, visitar a regio do conflito, em misso oficial.

    O Cimi anunciou que vai levar o caso do assassinato de Semio Vilhalva ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Sua.

    A professora Inaye Gomes Lopes faz o apelo: "Ns, indgenas, somos humanos e queremos sobreviver. A gente no tem segurana. A qualquer momento, algum pode chegar atirando e matar mais um. Por isso, gostaria muito que a Justia resolvesse logo essa situao, porque seno a gente vai acabar morrendo. A gente est aflito. Queremos respostas", prometendo: "A gente no vai desistir. Chegamos at aqui, e daqui a gente no sai". http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2015/09/morte-de-jovem-guarani-kaiowa-agrava-tensao-no-ms-em-disputa-de-terras-com-ruralistas-7164.html

    ndios protestam em Braslia contra assassinato de guarani-kaiowa no MS Tropas do Exrcito chegaram ao Mato Grosso do Sul para conter conflito iminente entre ndios e fazendeiros por Redao da RBA publicado 02/09/2015 11:20

    REPRODUO/TVT

    Lideranas indgenas pedem punio aos responsveis pela morte de Semio Vilhalva

    So Paulo Lideranas indgenas realizaram um protesto na tarde de ontem (1), em Braslia, para lembrar a morte lder guarani-kaiow Semio Vilhalva, assassinado com um tiro na cabea, no ltimo final de semana, em confronto com fazendeiros que tentaram ocupar uma rea de reserva, no Sudoeste do Mato Grosso.

    Um caixo representando o corpo de Semio foi levado Esplanada dos Ministrios. Os manifestantes cobraram celeridade nas demarcaes de reservas e respeito s terras indgenas. Segundo os representantes das tribos que vieram a Braslia, tambm havia polticos locais participando dos ataques. "Quem manda so os fazendeiros. Um boi vale mais que uma criana. A vida vale menos que uma bala. Eles nos matam como animais", denunciou o lder guarani-kaiow Incio Perauta.

  • As lideranas indgenas tambm culparam o Congresso Nacional pela violncia, por causa da presso da bancada ruralista, que tenta aprovar a Proposta de Emenda Constituio (PEC) 215, que transfere para o Legislativo o direito de demarcao das terras indgenas. Eles tambm criticaram o poder Executivo, devido burocracia que atrasa a regulamentao das reservas.

    Dada a crescente tenso entre ndios e fazendeiros, a presidenta Dilma Rousseff autorizou o envio de tropas do Exrcito para conter o conflito.

    O deputado federal Paulo Pimenta, presidente da Comisso de Direitos Humanos (CDH) da Cmara, lembrou que a rea de anderu Marangatu, no municpio de Antnio Joo (MS) j deveria ter sido totalmente demarcada, pois tem homologao de reserva, desde 2005, mas os processos esto paralisados, no Supremo Tribunal Federal.

    Ele disse que a morte do lder indgena resultado "da omisso, da morosidade, da burocracia, e da falta de coragem e de determinao" das autoridades pblicas e "da fora, cada vez maior do poder econmico", dos grandes proprietrios de terras e produtores de acar, na regio. Pimenta lembrou ainda que a maioria dos guarani-kaiowa que vivem em condies precrias, sem acesso gua potvel ou servios de sade e educao.

    http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2015/09/indios-fazem-protesto-contra-assassinato-de-lider-guarani-kaiowa-6287.html

    CPT registra 23 mortes no campo somente no primeiro semestre de 2015 Em 2014 haviam sido 20 assassinatos no primeiro semestre. Em 2015 foram registrados 23, sendo que desse total somente um no foi na Amaznia.

    O Centro de Documentao Dom Toms Balduino, da Comisso Pastoral da Terra (CPT), registrou at julho de 2015, 23 assassinatos em conflitos no campo em todo o Brasil. No ano anterior haviam sido registrados, no mesmo perodo, 20 assassinatos. Desse total de 23, apenas um no aconteceu na Amaznia, foi o assassinato de um indgena Tupinamb na Bahia.

    Foram 22 assassinatos em trs estados da Amaznia: Par (11), Rondnia (10) e Maranho (1).

    Par e Rondnia, estados nos quais esto sendo desenvolvidos grandes projetos como a usina de Belo Monte, a de Tapajs, Jirau e Santo Antnio, foi onde mais se matou no Brasil em conflitos no campo. A Articulao das CPTs da Amaznia tem denunciado os constantes conflitos na regio, bem como o acirramento da violncia e os impactos desses grandes projetos sobre a vida dos povos e comunidades amaznicas. Acompanhe aqui as notcias da Articulao.

    Violncia no campo

    No Par foram assassinados, em sua maioria, assentados e sem terras, pressionados para deixarem o pedao de terra conquistado ou mesmo a luta por ele. Alm disso, um trabalhador rural submetido a trabalho escravo foi morto com um tiro no peito ao cobrar do patro o pagamento a que teria direito pelo trabalho prestado.

    No caso de Rondnia, a violncia se concentrou na grande regio de Ariquemes e no entorno do Vale do Jamari, (Buritis, Monte Negro, Campo Novo, Cujubim, Distrito Rio Pardo, e Machadinho do Oeste). A maioria das mortes do campo de 2015 no estado (9), at o momento, alm de duas tentativas de homicdio por conflito agrrio, aconteceu nessa regio. Um dos assassinatos ocorreu no dia 15 de julho, enquanto a CPT realizava seu IV Congresso Nacional, com cerca de mil participantes, na capital rondoniense, Porto Velho.

    Foram registrados no estado, ainda, duas tentativas de assassinato. Em janeiro, Elizeu Berganola, gegrafo, sofreu um atentado a tiros, em Machadinho do Oeste. Ele continua ameaado por denunciar, juntamente com os seringueiros, a extrao clandestina de madeira de reas extrativistas. J no dia 2 de maio, Alexandre Batista de Souza, sem-terra, foi baleado no Assentamento Nova Esperana, localizado na linha LC 110 de Cojubim.

    Conforme informaes da CPT no estado, o que mais preocupa em Rondnia a espiral crescente de mortes de sem terras por jagunos, a mando dos latifundirios, com denncias (reiteradas e no esclarecidas) de envolvimento de policiais e milcias armadas. Segundo a CPT no estado, com acampamentos a beira da estrada e conflitos sem soluo por dcadas, o governo de Rondnia tem apenas criado, quando o faz, novos assentamentos. Alm disso, com o aumento do desemprego nas cidades, a cada dia mais empobrecidos das periferias olham de novo para o campo como uma alternativa de sobrevivncia e ocupam terras abandonadas, reivindicando a reforma agrria.

  • No Maranho, foi uma liderana indgena Kaapor que foi assassinada, o que mostra, tambm, a investida contra os territrios tradicionais e contra as lideranas, em especial, que tem sofrido constantes ameaas.

    Histrico dos assassinatos no campo de janeiro a julho de 2015:

    MARCUS, 14 DE JANEIRO DE 2015 FLORESTA DO ARAGUAIA, PA. Os trabalhadores Marcus e Cosmo foram cobrar do patro pelo tempo de servio. Marcus entrou para falar com patro e levou um tiro no peito de espingarda cartucheira. Cosmo testemunhou o crime, e saiu correndo pela mata adentro.

    JOS ANTNIO DRIA DOS SANTOS, 27 DE JANEIRO DE 2015 - CAMPO NOVO, RO. Jos Antnio Dria dos Santos, conhecido como Z Minhenga, de 49 anos, foi morto a tiros durante a noite da tera-feira, 27 de janeiro de 2015, no Distrito Rio Branco, situado entre Campo Novo e Buritis, Rondnia. Suspeita-se de pistoleiros comandados por ex-policiais que atuam na regio, em represlia luta pela desapropriao da fazenda Formosa/Acampamento 10 de Maio. Desde 2004 um grupo de famlias reivindica a criao de um assentamento no local.

    CASAL, 3 FILHOS E SOBRINHO (6 PESSOAS), 17 DE FEVEREIRO DE 2015 CONCEIO DO ARAGUAIA, PA. Casal, trs filhos e sobrinho foram assassinados a tiros e golpes de faco. O crime foi motivado por disputa por lote de terra entre ocupantes. Os irmos Oziel e Oliveira, aps abandonarem a rea, queriam o terreno de volta. Os investigadores da Polcia Civil tambm apuram a denncia de que o Incra orientou as vtimas a ocupar o lote, mesmo sem ainda estar legalizado. Para CPT uma das principais causas do acirramento da violncia no campo a demora na regularizao fundiria. No caso da ocupao ilegal onde a famlia foi assassinada, por exemplo, desde 2010 existe um decreto presidencial determinando a desapropriao da rea para reforma agrria. S que o processo foi parar na Justia e at hoje, cinco anos depois, os colonos ainda no foram assentados.

    ALTAMIRO LOPES FERREIRA, 47 ANOS - COSTA MARQUES, RO. Encontrado morto no dia 13/03/2015, com o corpo em estado avanado de decomposio. Estava desaparecido desde 04/03/2015. A vtima fazia parte das famlias sem-terra despejadas no ms de fevereiro/2015, do Acampamento Nova Esperana, municpio de Costa Marques. Trata-se de rea pblica reivindicada para a reforma agrria e sob anlise do Programa Terra Legal para suspenso de ttulos provisrios. As famlias denunciam que a rea est sendo usada para extrao ilegal de madeira. Antes de desaparecer, Altamiro Lopes relatou aos agentes da CPT Rondnia que foi ameaado de morte. Por enquanto, no se tem informao de quem o ameaou e assassinou.

    PAULO JUSTINO PEREIRA, 01 DE MAIO DE 2015; ODILON BARBOSA DO NASCIMENTO, 10 DE ABRIL DE 2015 E JANDER BORGES FARIAS, 17 DE ABRIL DE 2015, DA ASSOCIAO VLADIMIR LENIN, NO DISTRITO DE RIO PARDO, PORTO VELHO, RO. Envolvidos no conflito da Flona Bom Futuro, (local onde morreu um policial da Fora Nacional no ano passado) aps criar a Associao Vladimir Lenin, Paulo Justino Carcar cobrava o reassentamento dos despejados da rea ambiental, defendendo o seu retorno para a reserva. Foi assassinado em frente Escola Municipal do Distrito de Rio Pardo, no dia seguinte da audincia pblica realizada em Porto Velho pela Comisso Nacional de Combate Violncia no Campo. Dias antes do assassinato de PAULO JUSTINO PEREIRA, tambm foram assassinados ODILON BARBOSA do NASCIMENTO, no dia 10/04/2015 e o topgrafo JANDER BORGES FARIAS, no dia 17/04/2015, sendo este ltimo amigo de Paulo Justino, que tambm fazia parte da Diretoria da Associao Vladimir Lnin. Paulo Justino considerava que a origem de todo o conflito da Flona Bom Futuro vinha do fato da rea abrigar uma grande jazida de cassiterita e nibio.

    FBIO CARLOS DA SILVA TEIXEIRA, 12 ABRIL DE 2015 - MACHADINHO DO OESTE, RO. Assassinado a pauladas, na linha SME-15, Vila Brinati, perto do Acampamento Fortaleza, local em que residia. Homicdio ocorrido no contexto de conflito resultante da apropriao indevida de lotes destinados reforma agrria. O acampamento Fortaleza foi formado dentro do Stio Alto Alegre, o qual concentra irregularmente cinquenta lotes destinados ao Assentamento Santa Maria II, criado pelo Incra em 1996. Desde o ano de 2014, cerca de 55 famlias vinculadas Liga dos Camponeses Pobres (LCP) resistem no referido local, pedindo que a rea seja regularizada.

    EUSBIO KAAPOR, 26 DE ABRIL DE 2015 CENTRO DO GUILHERME, MA. Liderana indgena, 42 anos. Assassinado a tiros disparados por dois pistoleiros, quando voltava para casa (Aldeia Xiborend, T. I. Alto Turiau). De acordo com indgenas, que pediram para no serem identificados, os responsveis pelo crime so madeireiros do municpio de Centro do Guilherme, revoltados com as aes de autofiscalizao e vigilncia territorial iniciadas pelos Ka'apor no local, desde 2013. Consta que Eusbio era um dos nomes da "lista de execuo" dos madeireiros.

    ADENILSON DA SILVA NASCIMENTO (PINDUCA), 1 DE MAIO DE 2015 ILHUS, BA. Liderana indgena Tupinamb. Assassinado a tiros efetuados por pistoleiros, na regio de Serra das Trempes, rea disputada h anos pelos indgenas e fazendeiros. Na hora do crime, Adenilson estava acompanhado pela esposa, duas filhas crianas (10 e 11 anos) e um filho de 1 ano e 11 meses. A esposa da vtima foi baleada nas pernas e nas costas. As crianas no foram atingidas pelos disparos. A quantidade de tiros foi tanta que a equipe do Departamento de Polcia Tcnica (DPT) no teve condies de levantar, no local, o nmero de tiros disparados contra os indgenas.

    DOIS MORTOS NA FAZENDA FORMOSA, 11 MAIO DE 2015 EM ALTO PARASO/MONTE NEGRO, RO: Trabalhadores sem-terra assassinados no contexto da luta pela desapropriao da fazenda Formosa. As vtimas no portavam documentao, por isso, no foram identificadas. Os corpos apresentavam perfuraes de armas de fogo e fortes resqucios de crueldade. A polcia acredita que os trabalhadores foram assassinados em outro local e arrastados com fios eltricos para as proximidades do Acampamento 10 de Maio, constitudo na fazenda Formosa. Por enquanto, no constam mais informaes sobre o fato.

    JOO MIRANDA, 15 DE MAIO DE 2015 SO FLIX DO XINGU, PA. O sem-terra Joo Miranda e sua esposa Cleonice Arajo, sofreram uma emboscada e foram feridos bala. Joo Miranda morreu no local do crime e Cleonice conseguiu escapar e se esconder dos tiros. Eles estavam acampados na Fazenda Santa Terezinha, desde 2013, e eram ligados Fetagri. Segundo a Polcia Civil, que abriu inqurito para investigar o caso, a fazenda est ocupada h dois anos e o mandado de reintegrao de posse do terreno nunca foi cumprido.

    DANIEL VILANOVA DIAS e LEIDIANE DROSDROSKI MACHADO, 18 DE MAIO DE 2015 VITRIA DO XINGU, PA. Um carro avanou no meio de uma manifestao de atingidos por barragens, e atropelou trs manifestantes. Duas pessoas morreram e uma ficou ferida. O crime aconteceu na altura do km 55 da BR-230, em Vitria do Xingu. As lideranas do protesto afirmaram que o crime teria sido planejado. "A pessoa acelerou e partiu pra cima, conta o agricultor Deilson Fernandes. "As pessoas no estavam fechando a estrada no momento do crime. Ele mirou

  • exatamente em cima das pessoas", declarou Joo Batista, coordenador da Fundao Viver, Produzir e Preservar. Cerca de 650 atingidos pela UHE de Belo Monte, entre pescadores e ribeirinhos, bloqueavam a BR-230 desde o dia 17/05, reivindicando serem reconhecidas como atingidas pela Norte Energia.

    JOS OSVALDO RODRIGUES DE SOUSA, 14 DE JUNHO DE 2015 TUCURU, PA. Assassinado por pistoleiros, depois de dois dias de terror, quando 25 pistoleiros atacaram as 120 famlias que esperam h 13 anos pela regularizao da rea, que est em disputa com um suposto proprietrio Tarcsio Antnio Strapasson, que nunca apresentou o documento da terra.

    CLOVES DE SOUZA PALMA, 42 ANOS, DIA 01 DE JULHO DE 2015 COJUBIM, RO. Assassinado a tiros, diante da sua residncia por um homem no identificado. Casado, 42 anos. Liderava a luta de um grupo de famlias sem-terra, na regio da Linha C-114, zona rural de Cujubim. Suspeita-se que o crime esteja relacionado a este fato.

    DELSON MOTA, CAPIXABA, 15 DE JULHO DE 2015 BURITIS, RO. Assassinado com cinco tiros no centro da cidade de Buritis. Liderava a luta por terra na regio. Crime com caracterstica de pistolagem. O caso foi encaminhado para investigao junto Polcia Civil, que ainda no tem pistas dos responsveis pelo homicdio. Por enquanto, no constam mais informaes. Delson foi assassinado durante os dias em que a CPT realizava seu IV Congresso Nacional na capital de Rondnia, Porto Velho.

    http://www.cptnacional.org.br/index.php/noticias/conflitos-no-campo/2042-conflitos-no-campo-brasil-2013

    Dorothy Stang 12/02/2015 08h14

    A luta pela reforma agrria e pela preservao do meio ambiente foi a bandeira que guiou a vida da missionria Dorothy Stang. Nascida em 1931 nos Estados Unidos e naturalizada brasileira, ela morreu sem abrir mo de suas convices sobre o direito terra.

    Assassinada a tiros no dia 12 de fevereiro de 2005, Dorothy atuou por mais de quatro dcadas no Brasil e deu alguns passos para realizar o sonho de ver trabalhadores rurais retirando o sustento de suas prprias terras e convivendo em harmonia com a Floresta Amaznica.

    A Agncia Brasil visitou Anapu, no sudoeste do Par, onde a freira trabalhou por cerca de 20 anos na luta pela implantao do primeiro Projeto de Desenvolvimento Sustentvel (PDS) do Brasil. Pioneiro na forma com que promovia a subsistncia e a explorao sustentvel da floresta, o projeto ganhou o nome de Esperana para ilustrar o desejo dos trabalhadores que chegavam ao municpio em busca de uma vida nova e de um territrio onde pudessem criar sua famlia.

    No local, a histrica tenso envolvendo conflitos fundirios, que aumentava constantemente com a expanso do comrcio ilegal de madeiras, atinge o seu pice no incio dos anos 2000, em grande parte devido ausncia do Estado, e se estabiliza momentaneamente logo aps o assassinato.

    Nos testemunhos ouvidos pela reportagem foi possvel confirmar que o caso de Dorothy, apesar da grande repercusso, inclusive internacional, no uma exceo na histria de disputas por terra no pas, protagonizados por poderosos de um lado e pessoas simples de outro.

    A frase Irm Dorothy Vive! estampa camisetas usadas por aqueles que conviveram com a missionria. O sangue de Dorothy lava a terra, anuncia um cartaz que pede reforma agrria. Para o bispo dom Erwin Krautler, que recebeu a missionria em 1982, quando ela chegou regio do Xingu, reforma agrria no s cortar lotes de terra e distribu-los a famlias carentes. fixar o homem e a mulher na terra, fazer com que encontrem na terra a sua vida e a vida de seus filhos e netos, resume.

    Foi dele a sugesto para que Dorothy Stang atuasse no Par em uma regio onde havia gente pauprrima porque ela queria trabalhar entre os pobres mais pobres.

    O estado que contabiliza a morte da missionria tambm o lder no ranking de mortes por conflitos no campo. Segundo dados da Comisso Pastoral da Terra (CPT), 645 pessoas foram assassinadas no Par de 1985 a 2013 o que representa 38% do total de 1.680 homicdios por disputa de terra registrados nesse perodo.

  • O alto nmero de mortes, entretanto, no proporcional ao de condenaes por episdios de violncia no campo o que gera uma sensao de impunidade entre vrios setores da sociedade civil. Nos ltimos 30 anos, 1.270 casos de morte por disputa de terra foram registrados pela CPT. Apenas 28 mandantes foram condenados e 13 foram absolvidos no mesmo perodo. Entre os executores, 86 foram responsabilizados pela Justia e 58, absolvidos.

    Atualmente, o PDS Esperana abriga 261 famlias de pequenos agricultores que ainda pedem mais presena do Poder Pblico. Apesar de as condies de vida terem melhorado na ltima dcada, muitos dos trabalhadores rurais vivem um cenrio de instabilidade gerado por longos processos na Justia sobre a posse da terra e a presso de madeireiros que tm interesse em extrair rvores nativas de modo desenfreado. Depois da implantao do PDS Esperana, em 2004, o Brasil avanou na formalizao de estruturas que seguem a lgica do desenvolvimento sustentvel e, hoje, contabiliza 129 projetos implantados. De acordo com o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra), esses assentamentos abrigam 25 mil famlias.

    Reportagem: Paulo Victor Chagas | Edio: Llian Beraldo | Fotos: Tomaz Silva | Desenvolvimento: Pedro Ivo de Oliveira

    H dois anos no PDS Esperana, o mesmo projeto que a missionria Dorothy Stang lutou para implantar, a camponesa Luzinete Sales, 41 anos, complementa a renda da plantao de cacau feita pelo marido, Robson Silva, com a produo de bonecas para enfeite e sorvete. No incio, faltavam algumas coisas, mas agora j melhorou bastante. No passamos necessidade. s vezes no tem carne, mas a tem um vizinho que traz um pedacinho, conta a artes sobre a vida na comunidade. Eu acredito que [daqui] uns dois anos vai estar melhor. Todo mundo j vai ter produzido mais. Valeu a pena o esforo [de Dorothy Stang]. Tivemos o direito a um pedao de terra. s arregaar as mangas que as coisas melhoram, garante.

    O agricultor Edilson do Nascimento, 39 anos, mora h dez em um terreno s margens do PDS Esperana e aguarda uma deciso da Justia sobre a posse do lote que ocupa. Um grande fazendeiro da regio se diz dono da terra que tambm pleiteada pela Unio. Mesmo com o cenrio de indefinio e instabilidade, ele conta que no se arrepende de ter ido para a regio procura de um lugar para tirar o sustento. "Eu vim atrs da terra para sobreviver e acho que, para mim, foi uma coisa muito boa. Se eu no tivesse vindo para c, eu estava como uma pedra, rolando para l e para c, sem criar lodo, relata o trabalhador que mora com a mulher e trs filhos.

    A convivncia com as freiras da Congregao Notre Dame de Namur rendeu a Ivonilde Santos Sousa, 48 anos, o apelido de Irmzona. Ela conta que, no incio dos anos 2000, pessoas contrrias implantao do PDS diziam que a regio no se desenvolveria. O pessoal dizia que a gente ia comer casca de pau, que no ia ter nada. E hoje a maioria das coisas que sai para o municpio de Anapu daqui de dentro." Defensora do modelo sustentvel adotado pelos assentados, ela reivindica mais auxlio do Estado para consolidar o trabalho desenvolvido no local. Eu gostaria que o governo olhasse mais para ns e visse a nossa situao aqui, a nossa luta, nossa batalha. A gente vive tentando levar esse assentamento nas costas do modo que ela [Dorothy] queria, que os agricultores tivessem direito terra e condies de trabalho.

    http://agenciabrasil.ebc.com.br/especial/2015-02/dorothy-stang

  • Uma dcada sem Dorothy Stang e com muito sangue na terra por Felipe Milanez publicado 12/02/2015 12h06, ltima modificao 10/06/2015 18h54

    Os dois mandantes que participaram diretamente do caso, o Bida e o Tarado, esto soltos

    A missionria Dorothy Stang foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005, no interior de Anapu, cidade na beira da Transamaznica, no Par. Desde ento, parte da qua-drilha que organizou o crime passou pela cadeia. Em um levantamento feito pela EBC (sim, preciso fazer um levantamento para descobrir se algum est preso), foi constatado que ningum, efetivamente, est na ca-deia pelo crime apenas o pistoleiro que reincidiu em mais homicdios.

    Os dois mandantes que participaram diretamente do ca-so, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvo, o Tarado, esto soltos. Outros pode-rosos fazendeiros e madeireiros da regio que tambm tiveram participao na organizao e financiamento, conseguiram escapar j na fase dos inquritos. Comen-ta-se pelo menos o nome de um grande madeireiro, que

    Agncia Brasil

    Assassinato de Dorothy Stang comoveu o Brasil, mas segue impune

    foi vice-prefeito em Anapu e candidato a prefeito em Altamira, que tambm teria participao no crime Bida fugiu utilizando a pista de pouso de sua propriedade, num jogo aparentemente de cartas marcadas. Tarado foi condenado a 30 anos, mas no cumpriu a pena. Esses outros que permanecem annimos na justia integram o chamado consrcio, que ficou protegido pela impunidade em razo da falta de provas.

    O levantamento da EBC detalha o paradeiro dos criminosos: Clodoaldo Batista, um dos autores do assassinato condenado a 18 anos de priso, cumpre pena em regime semiaberto em um centro de recuperao em Belm. Rayfran das Neves Sales, autor dos disparos, foi condenado a 27 anos de priso, cumpriu quase nove anos na cadeia e teve direito progresso de regime, com priso domiciliar. Em outubro de 2014, entretanto, ele foi detido novamente acusado de envolvimento em outro assassinato. Amair Feijoli Cunha, indicado como intermedirio e condenado a 17 anos, cumpre priso domiciliar em Tailndia, no sudeste do Par.

    Por que o sangue jorra na Amaznia? Quando Lasa Santos Sampaio, irm de Maria do Esprito Santo da Silva e cunhada de Jos Cludio Ribeiro da Silva, foi receber o prmio pstumo em homenagem a eles da ONU de Heris da Floresta, ela disse: Na Amaznia tem se intensificado casos de assassinatos de pessoas que como eles defendem a vida na floresta. A Amaznia manchada de sangue. E essa mancha continua se espalhando.

    Na ltima dcada, de 2005 at 2014, segundo levantamento da Comisso Pastoral da Terra, foram assassinadas 325 pessoas em razo de conflitos no campo, sendo que mais da metade desses crimes aconteceram na Amaznia (67,3% dos casos). O Greenpeace chama de um crculo vicioso de mortes, impunidade e mais violncia alimenta uma indstria que vem financiando h anos o desmatamento da Amaznia.

    Os crimes seguem um padro muito semelhante. So mortes por encomenda, servio de pistolagem, por empresas de segurana, e as impunidades so sempre garantidas como parte de um sistema que, invertendo a lgica de Max Weber de que o Estado seria o detentor do monoplio do uso legtimo da fora, na Amaznia, segundo interpreta a sociloga Violenta Loureiro, esse monoplio compartilhado com o setor privado. O uso da fora cabe tanto ao Estado quanto a classe dominante. Matar, na Amaznia, faz parte do jogo poltico-econmico.

    Essa violncia pode estar, ou no, associada ao desmatamento ao contrrio do que se popularizou dizer. Isso porque as reas onde ocorre o desmatamento so tambm reas violentas, com uso intensivo do trabalho escravo, assassinato dos trabalhadores e disputa, como numa fronteira de expanso, pela terra. Acontece que essa tese que associa desmatamento a assassinados no explica porque, nos ltimos anos, diminuiu o desmatamento e continuou alto e constante o assassinato de trabalhadorxs no campo?

    Do sul do Par Terra do Meio Antes de ir para Anapu lutar ao lado dos pequenos agricultores sem-terra que chegavam por l atrs de um pedao de cho e de floresta, a missionria Dorothy Stang havia trabalhado, por muitos anos durante a violentssima dcada de

  • 1975 a 1985, em Jacund, no sudeste do Par. Ela sabia muito bem como essas reas de disputa na Amaznia so violentas. Sabia como se organizava os sindicatos do crime, os consrcios das mortes dos latifundirios. E sabia que os pobres precisavam de um territrio para viver que a migrao como peo do trecho ou garimpeiro uma terrvel forma de explorao.

    A regio de Anapu, ao contrrio de outros trechos da Transamaznica, no foi dividida entre pequenos proprie-trios, mas sim entre grandes latifndios. Esses latifundi-rios no s grilaram terras como se beneficiaram de diver-sos esquemas de corrupo e de investimento pblicos que se destinava a desenvolver a Amaznia. Foi ali que a Mfia da Sudam desviou milhes e milhes.

    Por outro lado, chegavam sem parar pobres vindos do Maranho, expulsos de outras reas de conflitos nos sul do Par, garimpeiros que no bamburraram. Por que no organizar esse pessoal para viver da floresta, ao contrrio de deixar as terras publicas e a floresta serem consumidas pelos mesmos mafiosos que roubaram milhes do Estado e Madeira ilegal na regio em que Dorothy Stang foi assassinada

    matam tanta gente? Explicando de forma bem simples, a lgica dos Projetos de Desenvolvimento Sustentvel que foram implantados em Anapu tinha tudo para dar certo. No fosse a funesta aliana entre setores corruptos do Estado e um sindicato do crime que explora os recursos naturais locais para acumular mais e mais dinheiro.

    O Projeto de Desenvolvimento Sustentvel (PDS) Esperana foi talvez o estopim que provocou o consorcio a tramar a morte da missionria. Do outro lado da Transamaznica, um outro PDS Virola Jatob, vive as mesmas dificuldades. Foi preciso colocar uma guarita, a pedido dos assentados, para evitar a sada indiscriminada de madeira. difcil imaginar que a guarita vai dar conta de segurar toda a riqueza que est sendo saqueada. Uma investigao do Greenpeace mostrou como ocorre a lavagem da madeira ilegal que sai do Virola Jatob, feita pela empresa Vitria Rgia, de um dos cabeas do assassinato de Dorothy que escapou do inqurito e protegido pela impunidade. O relatrio pode ser baixado aqui ( http://www.chegademadeirailegal.org.br/doc/doc03pt-br.pdf ).

    Chama a ateno que essa mesma mfia que organiza a extrao ilegal de madeiras e grilagem de terras, responsvel pela morte da missionria Dorothy Stang, tambm atua distribuindo crdito ilegal para legalizao da produo de carvo, que consumido pelas siderrgicas do polo de Marab. Voc pode conferir essa outra profunda investigao do Greenpeace ( http://www.greenpeace.org/brasil/Global/brasil/documentos/2012/423%20-%20Pig%20Iron%20D3_portugues.pdf ) .

    A produo ilegal de carvo um dos maiores vetores de desmatamento, de trabalho escravo e de violncias. O casal Jos Cludio e Maria lutava contra a produo ilegal de carvo dentro do assentamento agroextrativista onde viviam, em Nova Ipixuna. E por isso eram ameaados de morte. constrangedor pensar que a mesma mfia que matou Dorothy tambm tenha envolvimento, ao menos no aspecto econmico, com a morte de Ze Cludio e Maria.

    A economia e a poltica da morte e do saque a economia, e a organizao poltica, o que tem provocado tantas mortes na Amaznia. A economia predatria, baseada seja na extrao dos recursos naturais para a exportao o chamado neo-extrativismo. Ou a economia da grilagem de terras, da renda fundiria. Esses dois sistemas se articulam na Amaznia, e essa articulao feita por uma elite extremamente violenta, escravagista, que so os latifundirios, a Confederao Nacional da Agricultura (CNA) que ocupa, hoje, o espao da violenta Unio Democrtica Ruralista (UDR).

    por isso que mesmo que o desmatamento tenha diminudo, muita gente continua sendo morta. A luta pela terra e pelos recursos dos territrios continua mesmo depois de criados os assentamentos, por exemplo, com a explorao da madeira, ou a expanso da minerao sobre terra de camponeses no caso do sul do Par, pela Vale.

    E depois das mortes fsicas, preciso tambm operar as mortes simblicas para esse sistema funcionar. Dorothy Stang, a senhora de 73 anos assassinada com seis tiros, passou a ser difamada localmente como uma guerrilheira e traficante de armas. O que pode parecer e bizarro, faz algum sentido no imaginrio local pois evoca-se a memria da Guer-rilha do Araguaia, fortemente presente. E como os assassinos do Araguaia continuam impunes e os corpos dos guerri-lheiros seguem desaparecidos, faz um certo sentido evocar essa histria de terror presente no imaginrio local.

    Com um Congresso reacionrio que representa os interesses desses grupos violentos do campo, e com o governo federal aliado a esses grupos e acelerando ainda mais o avano de mega-projetos que provocam mais disputas por territrios, tudo indica que, infelizmente, os prximos anos devem ser ainda mais duros e violentos. A morte de Dorothy Stang no um evento do passado, mas uma premonio de um futuro desigual, triste e violento caso essa trajetria no seja mudada.

    http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-milanez/uma-decada-sem-dorothy-stang-e-com-muito-sangue-na-terra-6385.html