texto libÂneo - pedagogia e pedagogos para quê p17-60

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  • 5/13/2018 texto LIBNEO - Pedagogia e pedagogos para qu p17-60

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    ,CAPITULO ro CAMPO DO CONHECIMENTOPEDAGOGICO E A IDENTIDADEPROFISSIONAL DO PEDAGOGO

    As questoes referentes ao campo de estudo da Pedagogia,da estrutura do conhecimento pedagogico, da identidadeprofissional do pedagogo, do sistema de formacao de peda-gogos e professores, freqiientam 0 debate em todo 0 paislui quase vinte anos nas varias organizacoes cientfficas eprofissionais de educadores. Entretanto, nao s6 os resultadosdesse movimento foram muito modestos, como tern sidodificil aos educadores obter urn minima de consenso sabreelas. Os problemas e dilernas continuam, persistem velhospreconceitos, mantern-se apego a teses ultrapassadas, a s vezescom 0 fragil argumento de que sao conq uistas historicas, Eo que se pode ver par exemplo na insistencia em temascomo: a docencia como base da identidade profissional detodo educador, a divisao do trabalho na escola, a separacaoconteiido- metod as , a escola como local de tra balho capitalista.Junto a essas dificuldades, e vis! vel que a profissao depedagogo, como a de professor, tern sido abalada por todosos lados: baixos salaries. deficiencias de formacao, desva-lorizacao profissional implicando baixo status social e pro-

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    fissional, falta de condicoes de trabalho, falta de profissio-nalismo etc. Esses fatores, par sua vez, rebatem na desqua-lificacao academica da area, fazendo com que docentes e

    , pesq uisadores de outras areas desconhecam a especificidade""::;a Pedagogia, embora a critiq uem. Este Iivro pretende trazeruma parcela dessas quest6es para 0 debate, especialmentetentando oferecer subsidies para a discussao sabre 0 campocientifico da Pedagogia e 0 exercicio profissional do peda-gogo.i

    Urn cooceito ampliado de educacao e de Pedagogia" ' "j Urn dos fenomenos mais significati vas dos processos

    sociais contemporfineos e a ampliacao do concei to de edu-cacao. \Nao que isso nao tivesse sido constatado antes por

    "~fil6sofos, sociologos, antrop61ogos e ate pedagogos. Urndeles, a antrop6Iogo Carlos Brandao, expressou bern essaideia quando escreveu em seu 0 que e educaciio, em 1981:

    Ninguern escapa da educacao. Ern casa, na rua, na igreja ouna escola, de urn modo au de muitos, todos nos envoI vemospedacos da vida com ela: para aprender, para ensinar, paraaprender-e-ensinar. Para saber, para faze-f. para ser au paraconviver, todos os dias misruramos a vida com a educacao,Corn uma all corn vdrias: educacao? Educacoes, (...) Niio hauma forma tinica nern urn rinico modele de educacao; a escolanao e 0 tinico lugar em que ela acontece e taIvez nem seja 0melhor; a ensino escolar niio e a iinica pnitica, e 0 professorprofissional nao e seu unico praticante.Mas e evidente que as transformacoes contemporaneas

    contribufrarn para consolidar 0 entendimento da educacaocomo fenomeno pIurifacetado, ocorrendo em rnuitos lugares,institucianalizado ou nao, sob varias rnodalidades.

    Os varies capftulos deste Iivro se prop6em a rnostrarque essa ampliacac do conceito de educacao, decorrente da"complexificac;ao da sociedade e da diersificacao das ativi-dades educati vas, nao poderia deixar de afetar a Pedagogia,

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    tomada como teoria e pratic a da cducacao, Em varias esferasda sociedade surge a necessidade de disseminacao e inter-nalizacao de saberes e modos de a

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    como req uisito para enfrentamento da intelectualizacao doprocesso produ tivo.

    Considerando-se, ainda, as vinculos entre educacao eeconomia, as mudancas recentes no capitalismo intemacionalcolocam novas questoes para a Pedagogia. 0mundo assi stehoj e a intensas transforrnacoes, como a internacionalizacaoda economia, as inovacoes tecno16gicas em varies camposcomo a informatica, a microeletronica, a bioenergetica, Essastransformacoes tecnol6gicas e cientfficas levam a introducao,no processo prod uti vo, de novos sistemas de organizacaodo trabalho, mudanca no perfil profissional e novas exigenciasde qualificacao dos trabalhadores, que acabam afetando assistemas de ensino. Nao e casual que parcela do ernpresariado,surpreendenternente, esteja redescobrindo a escola basicaalem do interesse por processos de requalificacao profissional.De fato, com a "intelectualizacao" do processo produtivo,o trabalhador nao pade mais ser improvisado. Sao requeridasnovas habilidades, mais capacidade de abstracao, de atencfio,urn comportamento profissional rnais flex! vel. Para tanto,repoe-se a necessidade de formacao geral, implicando rea-valiacao dos processos de aprendizagem, familiarizacao comos meios de cornunicacao e com a informatica, desen vol vi-menta de competencias comunicativas, de capacidades cria-tivas para analise de situacoes novas e modified veis, capa-cidade de pensar e agir com horizontes mais amplos. Pormais que se reconheca que as transformacoes na educacaodecorrem de necessidades e exigencias geradas pela reorga-nizacao produtiva e pela competitividade no ambito dasinstituicoes capitalistas, portanto, com urn carater economi-cista, tecnocratico e expoliador, e notorio que nos encontramosdiante de novas realidades em relacao ao conhecimento ea formacao,

    ____ Verifica -se, pais, uma acao pedag6gica rmil tipla na- - S : , sociedade, 0 pedagogico perpassa toda a sociedade, extra-

    polando 0 ambito escolar formal, abrangendo esferas maisamplas da educacao informal e nao- formal, Apesar disso,nao deixa de ser surpreendente que instituicoes e profissionais

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    cuja atividade esta permeada de acoes pedagogicas desco-nhecam a teoria pedag6gica. t

    Com efeito, apesar dessa evidente redescoberta daPedagogia como campo de estudos especificos relacionadoscom as praticas educativas, essarnesma Pedagogia esta embaixa entre intelectuais e profissionais do meio educacional,desde quando, em meados dos anos 80, 0 posicionamentode urn segmento dos educadores identificando a Pedagogia

    ~com as "habilitacoes profissionais", fez reduzir nas faculdades9:le educacao os estudos especfficos de Pedagogia. Hoje emdia, rnuitos pedagogos parecem estar se escondendo de suaprofissao ou, ao men os , precisando justificar cotidianamenteseu trabalho. Por razoes ainda muito poueo esclarecidas,boa parte dos soci61ogos da ed ucacao, psicologos da educacao,filosofos da educacao que tern seus empregos e suas pesquisasem faculdades de educacao, mobilizam-se pela desativacaodos estudos especfficos da Pedagogia.j'Essa posicao aindapersiste par eonta dos varies reducionismos de que e refemo campo do educati vo, especialmen te 0 sociologismo e 0psicologismo, sem que os pedagogos consigam ordenar seuproprio discurso e sua propria pratica profissional para fazero contraponto aos seus crfticos. Nao se trata, de nenhummodo," de negar os aportes das ciencias da educacao para" a construcao do objeto de estudo da Pedagogia, a pratica"C.\edueativa, que, por natureza, e pIuridimensional. 0 que ateoria pedag6gica faz e integrar num todo articulado osdiferentes processos analiticos que correspondem aos obj etosespecificos (e parciais) de estudo de cada uma das cienciasda educacaoljf Sarramona & Marques, 1985), conforrne sebuscara comprovar ao longo deste livro.

    Pedagogia como teoria e pratica da educaeao' ' ' " ' , -~ -o" H " a uma ideia de sensa comum, inclusi ve de muitospedagogos, de que Pedagogia e 0 modo como se ensina, 0modo de ensinar a materia, 0 uso de tecnicas de ensino. 0pedagog ico af diz respeito ao metodol6gico, aos procedi-mentos. Trata -se de uma ideia sirnplista e reducionista. f

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    "C.~ A meu ver, a Pedagogia ocupa -se, de fato, dos processos.educati vas, metod os, maneiras de ensinar, mas antes dissoela tern urn significado bern mais amplo, bern mais globa-lizante. Ela e urn campo de conhecimentos sabre a proble-matica educati va na sua totalidade e historicidade e, aomesmo tempo, uma diretriz orientadora da acao educati va.G pedag6gico refere-sea finalidades da acao educativa,implicando objetivos sociopoliticos a partir dos quais seestabelecern formas organizativas e metodo16gicas da aciioeducati va."Nesse entendimento, 0fenomeno educativo apre-senta -se como expressao de interesses sociais em conflitona sociedade. E par isso que a Pedagogia expressa finalidadessociopoliticas, au seja, uma direcao explfcita da a~ao edu-cativa. E devido a esse carater socio- hist6rico que 0pedagogopolones Suchodolski considera a Pedagogia uma cienciasabre a atividade transformadora da realidade educativa.o didata alemao Schmied-Kowarzik chama a Pedagogiade ciencia da e para a educacao, teoria e pratica da educacao.Tern, portanto, urn carater explicativo, praxiol6gico e nor-mativo da realidade educacional. Tambem a pedagogo francesJean Houssaye escreve que "a Pedagogia busca unir a teoriae a pratica a partir de sua propria acao. E nesta producaoespecffica da relacao teoria-pnitica em educacao que a Pe-dagogia tern sua origem, se cria, se inventa e se renova"(1996).

    Pedagogia e , entao, 0 campo do conhecimento que seocupa do estudo sistematico da educacao, isto e, do atoeducativa, da pratica educati va concreta que se realiza na

    , sociedade como urn dos ingredien tes basicos da configuracao~)da atividade humana. Nesse sentido, educacao e 0 conjuntodas acoes, processos, influencias, estruturas, que intervemno desenvolvime nto humano de individuos e g rupos na suarelaciio ativa com 0 meio natural e social, Ill/In determinado, ,contexto de relacoe s entre g rupos e classes sociais. \E umapratica social que atua na configuracao da existencia humanaindividual e grupal, para realizar nos sujeitos humanos ascaracteristicas de user humano", Numa sociedade em queas relacoes sociais baseiam-se em relacoes de antagonismo,

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    em relacoes de exploracao de uns sabre outros, a educacaos6 pode ter cunha emancipatorio, pois a humanizacao plenaimplica a transformacao dessas relacoes.'

    Sao esses processos formativos que constituem a objetode estudo da Pedagogia. Mas, como" ja se mencionou, 0campo do educati vo e bastante vasto, porque a ed ucac aoocorre na familia, no trabalho, na rua, na fabrica, nos meiosde comunicacao, na polftica. Com isso, cum pre distinguir

    .... diferentes rnanifestacoes e modalidades de pratica educati va,.~-. . . . ."tais como a educacao informal, nao-formal e formal. Aeducaciio informal corresponderia a acoes e influencias exer-cidas pelo meio, pelo ambiente sociocultural, e que sedesenvolve par meio das relacoes dos individuos e gruposcom seu ambiente humano, social, ecologico, ffsico e cultural,das quais resultam conhecimentos, experiencias, praticas,mas que nao estao ligadas especificamente a uma instituicao,nem sao intencionais e organizadas. A educaciio niio-formalseria a realizada em insti tuicoes educati vas fora dos marcosinstitucionais, mas com certo grau de sisternatizacao e es-truturacao, A educaciio formal compreenderia instancias deformacao, escolares Oll nao, onde ha objeti vos educati vosexplicitos e uma a

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    por conseqtiencia, varias pedagogias: a pedagogia familiar,a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicacaoetc., e tambem a pedagogia escolar,

    Essas consideracoes visam demonstrar que existe umaproblematica educativa peculiar, urn terreno de investigacaoproprio da Pedagogia e do qual nenhum outro campo doconhecimento se ocupa. Mas 0 que e esse educativo pro-priamente dito? Procurei mostrar anteriorrnente que 0 conceitoampliado de educacao caracteriza -a como pratica social,portanto enraizada no contexto geral da sociedade, e incluicomo agentes educativos rmiltiplas instiruicoes e praticas.Schmied- Kowarzik escreve:

    A educacao e uma funcao parcial integrante da producao ereproducao da vida social, que e determinada par meio datarefa natural, e ao mesmo tempo cunhada socialrnente, daregeneracao de sujeitos humanos, sern as quais niio existirianenhurna praxis social. A historia do progresso social e simul-taneamente tambem urn desenvol vimento dos indi vfduos emsuas capacidades espirituais e corporais e em suas relacoesmutuas. A sociedade depende tanto da formacao e da evolucaodos indivfduos que a constituern, quanto estes niio podem sedesenvolver fora das relacoes sociais (1983).A educacao associa-se, pais, a processos de comunicacao

    e interacao pelos quais os membros de uma sociedadeassimilam saberes, habilidades, tecnicas, atitudes, valoresexistentes no meio culturalmente organizado e, com isso,ganham 0 patamar necessario para prod uzir outros saberes,tecnicas, valores etc. E intrinseco ao ato educati vo seucarater de mediacao que favorece a desen volvirnento dosindividuos na dinamica sociocultural de seu grupo, sendoque a conteudo dessa mediaciio silo as saberes e modosde actio. E esta ideia -fore;a que explica as varias educacoes,suas modalidades e instituicoes, entre elas a educacao escolar.Tambern dai decorrem as varias projecoes do educati vo emprojetos nacionais, regionais, locais, que expressam intencoese acoes logo materializadas nos currfculos, A Pedagog ia,mediante conhecimentos cientfficos, filosoficos e tecnico-profissionais, investiga a realidade educacional em transfor-

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    macae, para explieitar objeti vas e proces sos de intervencaometodol6gica e organizati va referentes a transmissao/assimi-Iacao de saberes e modos de acao, 3 Eia visa ao entendimento,global e intencionalmente dirigido, dos problemas educativos

    < e, para isso, reeorre aos aportes teoricos providos pelas:aemais ciencias da educacao. Par sua vez, pedagogo e aprofissional que atua em varias instfincias da pratica educativa,direta au indiretamente ligadas a organizacao e aos processosde transmissao e assimilacao de saberes e modos de a~ao,tendo em vista abj etivas de formacao humana previamentedefinidos em sua contextualizacao historica, t -

    Vejamos mais de perto a sentido de trabalho pedago-gi co. 0 que define algo - urn conceito, uma acao, umapratica - como sendo pedag6gico? Mencionei, anteriormente,que ha praticas de educacao informal, nao- formal e formal,caracterizando a educacao informal com nao-intencional. isto, _ e , sem objeti vas explfcitos, sem 0carater de institucionalidade'-~; estruturacao, e as outras duas como intencionais. A Pe-rdagogia ocupa-se da educacao intencional. }Como tal, investigaas fatores que contribuem para a construcao do ser humanocomo membra de uma deterrninada sociedade, e os processose meios dessa formacao, Os resultados obtidos dessa inves-tigacao servem de orientacao da a

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    hri sempre uma intervencao voltada para fins desejaveis doprocesso de formacao, confonne opcoes do educador quantoa concepcao de homem e sociedade; ou seja, existe sempreuma intencionalidade educati va, implicando escolhas, val ores,compromissos eticos, No segundo caso, a educacao e umfenomeno social, ou melhor, uma pratica social que s o podeser compreendida no quadro do funcionamen to geral dasociedade da qual faz parte. Isto quer dizer que as praticaseducati vas nao se dao de forma isolada das relacoes sociaisque caracterizam a estrutura econ6mica e polftica de umasociedade, estando subordinadas a interesses sociais, econo-micos, politicos e ideologicos de grupos e classes sociais,Sendo assim, ao investigar questoes atinentes a formacaohumana e praticas educativas correspondentes, a Pedagogiacomeca perguntando que interesses estao par detras daspropostas educacionais. Precisamente par isso, a a~ao peda-gogica da uma direcao, urn rumo a s praticas educati vas,conforme esses interesses. 0proeesso educativo se viabiliza,portanto, como prdtica social precisamente par ser dirigidopedago gicamente. Em outras palavras, e 0 carater pedagogicoque introduz 0 elemento diferencial nos processos educati vasque se manifestam em situacoes hist6ricas e sociais concretas.Sobretudo pelo fato de a pratica educativa desenvolver-seno seio de relacoes entre grupos e classes sociais e que seressalta a mediacao pedag6gica para determinar finalidadessociopolfticas e formas de intervencao organizati va e meto-dol6gica do ato educati vo.

    Em sfntese, dizer do carater pedagogico da praticaeducati va, e dizer que a Pedagogia, a par de sua caracteristicade cuidar dos objetivas e fonnas metodol6gicas e organi-zati vas de transmissao de saberes e modos de acao emfuncao da construcao humana, refere-se, explicitamente, aobjetivos eticos e a projetos politicos de gestae social.

    E 0 campo do didritico? Na linguagem comum efreqliente a identificacao entre a pedagogico e 0 didatico,ou seja, fala -se indistintamente de acoes pedag6gicas e aedesdidaticas, A meu ver, nao sao termos sinonimos. 0 didatico.-~..----.~--~.-. .. . .0

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    refere-se especificamente a teoria e pratica do ensino eaprendizagem, considerando-se 0 ensino como urn tipo depratica educativa, vale dizer, uma modalidade de trabalhopedagogico, fDessa forma, a trabalho docente e pedag6gicoporque e uma ati vidade intencional, implicando uma direcao(embora nem todo trabalho pedagogico seja trabalho docen te).o que significa dizer que todo ensino sup6e uma "pedago-gizacao", isto e , sup5e uma direcao pedagogica (intencional,consciente, organizada), para converter as bases da cienciaem materia de ensino.!o desenvol vimento mais recente da teoria pedag6gicatern acentuado de forma mais pon tual 0 cunho pratico-teoricoda Pedagogia (Suchodolski, 1977, Schmied-Kowarzik, 1983,Houssaye, 1996, Contreras Domingo, 1997, Pimenta, 1997).Suchodolski utiliza as tennos cienc ia pratica e ciencia teorica,pretendendo superar as dicotomias entre a teo ria e a pratica,de modo que a Pedagogia possa constituir -se como teoriapratica e pratica te6rica. Por sua vez, escreve Houssaye:

    Por definicao, a pedagogo nao pode ser nem urn puro e simplespnitico nem urn puro e simples teorico. Ele esta entre os dais.A liga~aa deve ser ao mesmo tempo permanente e irredutfvel,porque nao pode existir urn fosso entre a teoria e a pratica,E esta abertura que permite a producao pedagogica. Em con-4. "Pcdagogizar" a ciencia a ser ensinada significa submeter os contciidos

    cientificos a objeti vos explfcitos de cunho etico, filosofico, politico, que daraouma determinada direcao (intencionalidade) ao trabalho com a disciplina c a forrnasorganizadas do ensino. Ncsse sentido, converter a ciencia em materia de ensinoe colocar parametros pedagogico-didaticos na docencia da disciplina, ou seja, juntaros elementos Iogico-cientfflcos da disciplina com os polnico-ideotogicos, eticos,psicopedagdgicos e os propriarnente didaticos. Isso quer dizer que para ensinarMaternatica niio basta ser urn born especialista ern Maternatica, E preciso que 0professor agreguc 0pedagogico-didatico, ou seja: que conteiidos da Matematica-ciencla devern constituir-se na Maternatica-materia de ensino visando a formacaodos alunos? A que objetivos sociopolfticos serve 0 conhecimento escolar daMaternatica? Que representacoes, atitudes, conviccoes sao formadas em cirna doconhecimento matematico? Ou, que habilidades, habitus, rnetodos, modes de agir,ligados a essa materia, podem auxiliar os alunos a agirem praticarnente diante desituacdes concretas da vida? Que sequencia de conteudos e mats adequada aaprendizagem dos alunos, considerando sua idade, nfvel de escolarizacao, conceitosjri disponfveis dos alunos etc.?

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    sequencia, 0 pnitico em si mesmo nao e urn pedagogo, e maisurn utilizador de elementos, de ideias ou de sistemas pedag6gicos.Mas 0 teorico da educacao como tal nao e tambern urn pedagogo;pensar 0 ato pedag6gico nao basta. Somente sera consideradopedagogo aquele que fara surgir urn "rnais" na e pela articulacaoteoria-pratica na educacao, Tal e a caldeira da fabricacaopedagogica (Houssaye, 1996).Contreras Domingo (1997) raciocina de modo seme-lhante em relacao a Didatica, acentuanda 0 carater praticodes sa disciplina no sentido de que torna 0 conhecimento

    te6rico com intencao pratica, isto 61a service do conhecimentoprofissional do professor. 0 conhecimento provido peladidatica e 0 que perrui te uma continua reelaboracao daexperiencia profissional, de modo que 0 professor possapensar sobre sua a~ao.

    Pimenta tern sugesti vas contribuicoes nessa linha, emtrabalhos sucessi vos que vern publicando desde 1994 a partirde posicoes de varies autores sabre a natureza da Pedagogiae da ac;ao pedagogico-didatica, Defende a Pedagogia comociencia da pratica da educacao, sen ponto de partida e apratica e a eIa se dirige. Sao as demandas da pratica efeti vaque irao dar configuracao aos saberes da docencia: saberesda experiencia, saberes cientificos e saberes pedag6gicos. Aideia que desenvolve e a de que 0 ensino ocorre em contextossociais especificos, tais como as aulas, as escolas, os sistemasde ensino, as culturas e que e preciso conhecer essa praticaestabelecendo nexos e relacoes entre esses contextos; paraisso, a teoria torna-se indispensa vel,

    A nocao de Pedagogia como ciencia pratica ou cienciada e .para a educacao foi trabalhada sistematicamente porpedagogos marxistas. Hti mais de vinte anos, par exemplo,Schimied -Kowarzik (edicao alema, 1974, brasileira, 1983)situava a Pedagogia ao Iado da Etica e da Politic a comociencias praticas, para as quais se exige uma teoria que naotern seu objet! vo ern si mesma, mas na realizacao efeti vade uma atividade humana de sentido deterrninado e que,portanto, sao ciencias da praxis para a praxis. Para es seautor, a Pedagogia dialetica representa a exigencia, ainda a

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    ser realizada, do auto-encontrar -se da Pedagogia como cienciada e para a praxis edueacional, transformando-se par issona determinacao de obj eti vos pedag6gicos a partir da e paraa praxis.

    Este entendimento permite afirmar que sao pedagogoslato sensu os professores de todos as niveis de ensino e asdemais profissionais que se ocupam de dominios e problemas .da pratica educativa, especialmente no campo dos saberese modos de acao, em suas varias manifestacoes e modalidades;eles sao, genuinamente, pedagogos. Certamente, e tambernlegitimo identificar como pedagogos stricto sensu aquelesespecialistas que, sem restringir sua atividade profissionalao ensino, dedicam -se a ati vidades de pesquisa, documen-tacao, formacao profissional, gestae de sistemas escolares eescolas, coordenacao pedagogica, animacao sociocultural, for-macae continuada em empresas, escolas e outras instituicoes.

    A Pedagogia e as ciencias da educacao'\." A Pedagogia nao e , certamente, a unica area cientffica

    que ~tern a educacao como obj eto de estudo.v Tambem aSociologia, a Psicologia, a Econornia, a Lingtiistica, podemocupar-se de problemas educativos, para alem de seus pr6priosobjetos de investigacao e, nessa medida, os resultados deseus estudos sao imprescindiveis para a compreensdo doeducative. Entretanto, cada uma dessas ciencias aborda 0fen6meno educativo sob a perspectiva de seus pr6prios3, conceitos e metodos de investigacao. E a Pedagogia que~ode postular 0 educati vo propr~arr:en te \ dito e. s~r cienc iaintegradora dos aportes das dernais areas.i Isso significa que,1embora nao ocupe lugar hierarquicamente superior a s outrasciencias da educacao, tern urn Igar diferenciado.>

    5. Houssaye, neste ponte, tern posrcao mcisrva, confonne a leitura dePimenta (1997). Prirneiro, afirma que a Pedagogia njlo tern sua origem nas cienciasda educacao, porquc estas nao podem forpecer a pratica, indispensavel a elaboracaopedag6gica. Tais ciencias tratam de saberes sobre a educacao e a pedagogia, e

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    A Pedagogia, com isso, e urn campo de estudos comidentidade e problematicas proprius. Seu campo compreendeos elementos da at;ao educati va e sua contextualizacao, taiscomo a aluno como sujeito do processo de socializacao eaprendizagem; os agentes de formacao (inclusive a eseolae 0 professor); as situacoes concretas em que se dao asprocessos forrnati vos (entre eles a ensino); 0 saber comoobjeto de transmissao/assimilacao: a contexto socioinstitu-cional das instituicoes (entre elas as escolas e salas de aula).Resumidamente, 0 objetivo do pedag6gico se configura narelacao entre os elementos 'da pratica educativa: 0 sujeito quese educa, 0 educador, 0 saber e os contextos em que ocorre. I

    Nao e diffcil constatar que nenhuma das chamadasciencias da educacao trata especifieamente desta problematica,Quando urn psic6logo investiga ou atua no campo educa-cional, ele aplica af os conceitos e metodos da Psicologia,e os resultados que obtem sao de ordem psicol6gica (Estrela,1992). 0 mesmo oeorre com a Sociologia, Economia etc.A .Pedagogia integra os enfoques parciais dessas di versasciencias em razao de uma aproximacao global e in tencio-nalmente dirigida aos problemas educati vos e, nesse caso,as saberes dessas ciencias con vertem-se em saberes peda-g6gicos. Houssaye, citado por Pimenta ( 1997), diz que 0retorno it Pedagogia ocorrera se as ciencias da educacaodeixarem de partir de diferentes saberes especificos e co-mecarem a tomar a pratica dos formados como 0 ponto departida e de chegada para seus objetos de estudo,

    A formacao de pedagogosFinalmente, uma pala vra sabre a sistema de formacaode .pedagogos, 0 curso de Pedagogia deve formar 0pedagogo

    nao de saberes pedagogicos, que sao constitufdos a partir da pratica. Segundo,que e a Pedagogia que pode construir esses saberes a partir de necessidadespedagogicas postas pelo rca], para alem dos csquernas apriorfsticos das cienciasda educacao. E se estas desejarern ocupar-se da pratica pedagogica, que recorrama pedagogia,

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    stricto sensu, isto e , urn profi ssional qualificado para atuarem v~D-OSc~lInpos educativospara atender demandas socio-educati vas de tipo formal e nao- formal e informal, decorrentesde novas realidades - novas tecnologias, novas atoressociais, ampliacao das formas de lazer, mudancas nos ritmosde vida, presenca dos meios de comunicacao e informacao,rnudancas profissionais, desen volvimento sustentado, preser-vacao ambiental - nao ~~l!_~._na _g_~"~.tii.

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    que a base de sua identidade profissional seja a teoria e a"\ .pratica em torno de saberes pedag6gicos:{\ .Em recente resenha do livro de Iria Brzezinski, Peda-

    gogia, pedagogos e formaciio de professores - Busca emovimento (Libaneo, 1996), tomo posicao mais explicita emrelacao ao movimento pela formacao profissional de educa-dores.

    No enfrentamento dos dilernas que ainda persistem, a Al\TOPEprecisa dar seguimento a questoes inudiavels em termos depoliticas e diretrizes de formacao de educadores, algumas delasja presentes em suas metas: 1) Reconhecimento da ampliacaodo conceito de pniticas educativas e sua correspondencia comuma diversidade de acoes pedagogicas nao restritas a escola(animacao cultural. movimentos sociais, meios de comunicacao,saride publica, educacao popular, educacao ambiental, educacaosindical, empresas etc.), abrindo 0campo de exercicio profissionaldo pedagogo. 2) Revigoramento da pesquisa no ambito daciencia pedag6gica, aproxirnando-a mais das necessidades deintervencao te6rica e pratica na formncao de professores e depedagogos nao-doceutes. 3) Reavaliacao da organizacao formalda formacao inicial de pedagogos e docentes tendo como criteriaas praticas pedag6gicas reais e as necessidades de formacaocontinuada. 4) Maior investimento na investigacao da profis-sionalidade de professores e especialistas, considerando as de-mandas educacionais da realidade contemporflnea. 5) Reavaliacaodas possibilidades de consolidacao da Faculdade ou Institutoou Centro de Educacao para a formacao dos especialistas, doscientistas da educacao e dos docentes para 0 ensino fundamentale medio, em nivel de graduacao (como primeira instancia),tendo como base as areas do conhecimento pedag6gico. 6)Total revisao das formas de articulacao das Faculdades de~Educacao com as redes piiblicas de ensino, mediante esquemasde interligacao entre formacao inicial e formacao continuada.Presentemente, ante novas realidades econ6micas e sociais,especialmente os avances tecnol6gicos na comunicacao e in-formacao, novos sistemas produti vos e novos paradigrnas doconhecimento, irnp6em-se novas exigencias no debate sobre aqualidade da educacao e, por conseqtlencia, sabre a formacaode educadores. Nao cabe mais uma visao empobrecida dosestudos pedagogicos, restringindo-os aos ingredientes de forma-t;ao de licenciados, Nao se tram de desvalorizacao da docencia,

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    mas de valorizacao da atividade pedagogica em sentido maisamplo, no qual a docente esta incluida. ] a chega a ser urnatraso no ambito das varias ciencias da educacao desconhecera sociedade pedag6 gica que se institui hoje no mundo inteiro.

    rr-_,\ E imperioso que a escola se incorpore a outras agencias

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    CONTRERAS DOMINGO, Jose. Enseiianza. curriculum y prole sorado.Madrid, Akal, 1990.___ . La autonomia del profesorado. Madrid, Morata, 1997.ESTRELA, Albano. Pedagogia ou ciencia da educacdo'l Porto, Porto

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    PIMENTA, Selma G. Para uma re-significacao da didatica - Cienciasda educacao, Pedagogia e didatica (uma revisao conceitual euma sfntese provisoria), In, PIMENT At Selma G. (Org.). Didaticae Formacao de Professores - Percursos e perspectivas noBrasil e em Portugal. Sao Paulo, Cortez, 1997.

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    ,- .];34

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    CAPITULO IIQUE DESTINO OS

    . - "EDUCADORES DARAO APEDAGOGIA?

    Em varias instituicoes de ensino superior, 0 curso dePedagogia continua nas pautas de discussao, Os estudosreferentes a historia desse curso, no Brasil, mostram umasucessao de ...fL_Q1bigilidadese indefinicoes, com repercuss6esno desen volvimento teorico do seu campo de conhecimentoe na formacao intelectual e profissional do pedagogo, Osmovimentos e organizacoes de educadores que vern susten-tando 0 debate sobre as cursos de Pedagogia e Licenciaturas,desde a inicio da decada de 1980;~exercerarn papel signi-ficativo na luta pela valorizacao do profissional da educacao.Entretanto, conseguiram pouco em relacao a medidas maisefeti vas de cunho legislativo e operacional; no geral, asmudancas ocorridas ficaram restri tas tao-somente a alteracoesna grade curricular dos cursos, sem avancar em questoesrnais de fundo, como a problematic a epistemologica daPedagogia, a desen volvimento da teoria educacional e ainvestigacao pedag6gica.o presen te texto faz consideracoes a respei to do de-senvolvimento dos estudos de Pedagogia no Brasil, retornando

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    a analise da especificidade do conhecimento pedag6gico eda atuacao profissional do pedagogo, abrindo perspectivasde reconstrucao dos cursos de Pedagogia. Sua elaboracaofoi motivada por uma proposta que apresentei no VI EncontroNacional da Anfope (Associacao Nacional pela Formacaodos Profissionais da Educacao), realizado em julho de 1992em Belo Horizonte-MG. Naquela ocasiao, discutia-se 0 papeldas Faculdades de Educacao e en sugeria que elas deveriamoferecer dais cursos distintos: a de Pedagogia e 0 deLicenciatura para a formacao de professores para todo 0ensino fundamental e media. A proposta foi discutida naqueleencontro, mas nao votada, com a justificati va dos organi-zadores de que nao se ajustava aos princlpios historicamentedefinidas pelo movimenta de reformulacao dos cursos deformacao de" educadores.

    A proposta, em sintese, foi a seguinte:1) A Faculdade de Educacao teria dais cursos distintos:

    urn formaria 0 pedagogo e a outro os licenciados paradocencia no ensino fundamental e no 2 grau. 0 pedagogoobteria especializacoes atraves de habilitacoes, entre elas ade Pedagogia Escolar (desdobrando-se, conforme a caso, nashabilitacoes convencionais au outras), 0 licenciado obteriahabilitacoes para: a) docencia no curso de magisterio; b)docencia das disciplinas de s a a ga serie e 2 grau; c)docencia nas series iniciais do ensino fundamental, Os cursosde formacao de professores poderiam receber a denorninacaode Centro au Instituto de Formacao de Professores.

    2) A estrutura curricular seria constituida de: a) umabase comum composta de .disciplinas, .referentes a teoria efundamentos da educacao e a compreensao e organizacaoda escola e do ensino; b) ul!?'!-parte especffica referente aconhecimentos tecnico-profissionais, conforme 0 ambito dea t u a ~ a ( ) profissional '(pcdagogo," docente au outra habilitacao).

    3) Poder-se-ia prever na organizacao curricular a pos-sibilidade de 0 pedagogo habilitar-se como docente e dodocente habilitar-se como pedagogo, em alguma forma deorganizacao e sequencia de estudos .

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    4) _Q_gedagogo..(escolar ou nao), segundo esta proposta,~e!~ consi_q~w_o_um_profissional .especializado.cemestudos~~~~_e._~_~e1~~i9n~iQ~.~g_Qnl1: l ._ .Gie_ncia __pedagogica, pesquisapedag6gica e problematica educati va, abordando 0 fen6menoeducativo em sua multidimensionalidade. Nesse sent~_g_o,~9curso de Pedagogia ofereceria formacao teorica, ...~JelltJfj_(_L.~- . . . . . . , - - . .- . . .- - - - - . -~-.~-. - -~. -~ - ~_ -.. ..._ -- _ ....-,--.~ ..~ - - _ " - -- . - ---"_- ~.-~-. - . -~--- .... -_ ---",_--t~nica_paraslla ..atuacao emdiferen te_s_.~~t_Qres._Jj_~_tl!iy_iq_ades:nos niveis...centrais e intermediaries do sistema de.iensino- - - --- - - ...~~..;;_:_,:_:..-___:_.-.;-.--- ..... -~. . . -"_ - - - -_ . - - - - .. . _ " -.-.~---.--.---~.--- - -(polfticas piiblicas para a educacao, planificacac e gestae,pesquisa e sllpervisao. do sistema de ensino); na_~escola,(administracao, supervisao do ensino, assistencia pedag6gi-co-didatica a professores e alunos, formacao continuada,avaliacao); nas atividades extra-escola (praticas educati vasparaescolares, services de saude e promocao social, meiosde comunicacao, formacao profissional, producao de materiaisdidaticos de variada natureza etc.); D ~ _ S _ . ! l t . !vidades J!g.~.cl.as~formacao e capacitacao de pessoal nas emp'r~.s,!s...~----- ~ ---_- -~ --- - ~ _- . -.. --_... . -.- ..~. _ .. - - . "_" .-.~~. ~~- .~- "__ ". _,- - - ... - .

    Em razao das consideracoes que se seguem, convernfirmar, de infcio, meu entendimento de que urn curso delicenciatura para formar 0 professor das series iniciais de10 gran e do curso de magisterio nao deveria substi tuir 0curso de Pedagogia. Ou seja, 0 curso de Pedagogi a deveser distinto do de Licenciatura, ainda que 0 pedagogo possaser tambern urn licenciado, no sentido de que se pade formarurn docente no pedagogo. Meu ponte de vista e de que 0curso de Pedagogia e 0 que forma 0 pedagogo strictq sensl_l,kisto e_:_.EII)._p_rofjssio_na_~_~~o_~_g_irelan:iente_docente _que )!P~.-coni-fatos, estruturas, processes, .contextos, situacoes, refe-- r e f i r e s - a - i > r i i i l c a - ~du~~ti~~m' suas vaiias mo-daHclades ernanifestacoes.iA 'caricterlzac;ao do pedagogo stricto sensutorna-se necessaria, uma vez que, lato sensu, todos os.professores sao pedagogos. Por isso mesmo, importa forma-lizar uma distincao entre trabalho pedagogico, implicandoatuacao em urn amplo leque de pniticas educativas, e trabalhodocente, forma peculiar que 0 trabalho pedag6gico assumena escola.

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    Breve referencia hist6ricaA primeira regulamentacao do curso de Pedagogia noBrasil, em 1939, preve a formacao do bacharel em Pedagogia,

    conhecido como "tecnico em educacao". A legislacao pos-terior, em atendimento it Lei n 4.024/61 (LDB), manterno curso de bacharelado para formacao do pedagogo (ParecerCFE 251/62) e regulamenta as licenciaturas (Parecer CFE29?/62). 0 Parecer CFE 252/69 - a ultima regularnentacaoexistente - abole a distincac entre bacharelado e licenciatura,mas mantern a formacao de especialistas nas vririas habili-tacoes, no mesmo espfri to do Parecer CFE 251/62. Comsuporte na ideia de "forrnar 0 especialista no professor", alegislacao em vigor estabelece que a fonnado no curso dePedagogia recebe 0 titulo de licenciado.

    Depois disso, as iniciativas de repensar ou reformularo curso de Pedagogia e as licenciaturas surgem na segundametade da decada de 1970, envoI vendo organismos oficiaise entidades independentes de educadores. A partir dos anos1980 destaca -se a atuacao do movimento de reformulacaodos cursos de formacao do educador cuj a ati vidade perduraate hoje na Anfope. Esse movimento manteve, nos documen-tos que produziu, 0 espirito do Parecer CFE 257/69 de naodiferenciar a formacao do professor e do especialista, tendendoa esvaziar 0 prescri to nesse Parecer quanta as habilitacoesdo curso. Tambem reafinnou a ideia de que_o-curs0- dePE.~!!gQgj!l,.~~uma-licen~~jail.lia,--c~tri buindo para descaracte-rizar a formacao do pedagogo stricto sensu.Em meados da decada de 1980 algumas Faculdadesde Educacao, par infl uencia de pesquisas, debates em en-contros e indicacoes do movimento nacional pela formacao J J 'do educador I suspenderam Oll suprimiram as habilitacoes ,-,convencionais (administracao escolar, orientacao educacional, ~

    L~~supervisao escolar etc.), para investir num curricula centrado ~~na formacao de professores para as series iniciais do ensino }fundamental e curso de magisterio, A justificati va mais \.'"comum para essa medida foi e' tern sido 0 entendimento det,'

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    que 0 Parecer CFE 252/69~ ao instituir as habilitacoes, estariareproduzindo a ideologia implfci ta na Refonna Uni versitariade 68, ou sej a, estaria introduzindo na escola a divisao dotraba~ho e 0 controle segundo 0 modelo da administracaocapi talista, levando a fragrnentacao da pratica pedag6gica(Silva, 1988), A ideia seria a de formar urn novo professor,capacitado inclusive para exercer funcoes de direcao, super-visao etc. Por outro Iado, h a instituicoes de ensino superiorque mantem a curso de Pedagogia com as caracteristicasdo Parecer CFE 252/69, enquanto outras gostariam de fazerreformulacoes para retomar a formacao do pedagogo strictosensu au a reconsideracao dos tipas de habilitacoes, Emoutras, ainda se discute a conveniencia de se atribuir aocurso de Pedagogia a tarefa especffica de formacao doprofessor para as series iniciais do ens ina fundamental emnivel superior. Pode-se deduzir, entretanto, com base emalguns poucos estudos sabre inovacoes nas instituicoes ecursos de Pedagogia, que 0 saldo dessas iniciati vas e modesto,enquanto ~ .pr._Qbl~_~~~cr~_os~ lais c_9:rno_Q _ inter-mill~'y_eL_qQestionam~nJo_,da i ~ _ ~ _ p _ t i . Q ~ ~ ~ , . ~ c ; _ l ~ .r ~_ g~gQg i a _ e_ __ ( _ l 1 iarnbiguidadesq ua_nt.9~!!!!~_?:i!.,~4Q__~~~~91'sempre refletidosnos documentos legais. Sao, de fato, mais de 50 anos decontroversias em tomo da manutencao au extincao do curso,da pertinencia ou nao de urn campo de estudo proprio aPedagogia, da formacao do professor prirnario em nivelsuperior 1da formacao de especialistas au tecnicos em edu-cacao etc. (cf. Chaves, 1986, Brzezinski, 1994).

    A hist6ria dos estudos pedagogicos, do curso de Pe-da go g i a , da formacao do pedagogo e de sua identidadeprofissional esta demarcada por certas peculiaridades dahist6ria da educacao brasileira desde 0 inicio do seculo, A t _ ~os anos__2 . J J . L , D J ! Q " S , ~ , .punha 'em questao. .a..existencia. de .umacj~Il~ia,. pedagogica, a_~p-o~fl fortemente infl UG_n

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    inspiracao norte-americana, que vai tamando conta, nos anos30, de uma elite intelectual de educadores brasileiros. Aadocao da teoria educacional de J. Dewey provoca, emmuitas instituicoes de formacao de educadores, 0 arrefeci-mento do micleo de estudos denominada "Pedagogia" ouPedagagia geral. A concepcao imanentista de Dewey sabreas fins da educacao nao poderia combinar com uma nociiode Pedagagia de eunha normative, razao pela qual ele tratade uma "ciencia da educacao" (Dewey, 1968). ~os anos 50i~iia-se a p ro p ag a~ ~ 9 ._c l .~_I lQYJl~L. t~_Oj_t .}_s_e c l ~c ac i_na i~ , _Qdg i~nadas J 1 9 _ & . J ~ V . A e rotuladas com a expressao "tecnicismoedl!~acionar', que'se intensifica nosjmos 70. Difundem-seexpressoes como planejamento instrucional, modelos de en-sino, estrategias de ensino-aprendizagern, Ace!ltua,=-~~"a,jd~iiJ,~_,gerenc~amento dos ...sistemas. escoJ~~,._e_,escolas, comtentati vas de dar t i m cunho empresarial a administracfioescolar e a sala de aula para atender exigencias de racio-nalidade cien tifica e tecnica da escola.

    I~~tg,.,(), __?sc;_?}ar.tg'YJs~()---,~O!TIQ,.__~c~~mp- ..endg.m-' auma~_y_i~_~{),ientificista do educati YO, a psicologizacao daatividade escolar, retirando da Pedagogia seu caniter etico-normativo e de disciplina integradora dos varies enfoquesde analise do fen6meno educati vo, Em conseqtiencia, ocgrre

    _ -~.~._ ____ ._ "__o------.--"_r+~~._~-u_!!!_!~_~!:!,~i()!1i!p()dos., termos "pedagogia" .e. "pedagogico",que passam a ser empregados para indicar meramente osaspectos metodologicos e organizati vas da escola. Nao ecasual que nos paises anglo-saxoes sej a utilizada a expressao"Ciencia da Educacao", no singular, e se empregue 0 terrno"Educacao' para designar 0 que, em outros Iugares, secanhece como "Pedagogia", Numa direcao diferente, seg-mentos de educadores brasileiros incorparam infl uencias doescolanovismo frances por intermedio, principalrnente, deMialaret (1976), e aderem a expressao "ciencias da educacao"(entre as quais nem sernpre figura a Pedagogia), de restobastante difundida em pafses como Italia, Espanha e Portugal,onde, tambem, se busca demarcar 0 estatuto cientifico daPedagogia (cf. Visalberghi, 1983, Sarramona & Marques,1985, Benedi to, 1987, Es trela, 1992).

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    Em meados da dec ada de 1970, boa parte dos educadoresune-se em tomo da teoria da reproducao e das teorias crfticasda sociedade, ambas dando suporte teorico para se fazer acritica da educacao no capitalismo e, particularrnente, daconcepcao neopositivista de ciencia e seus reflexos na edu-cacao. Parte dos educadores que aderem a esse movimentotambern resiste fortemente a existenc ia de uma cienciapedag6gica. Segundo alguns representantes dessas teorias, aPedagogia seria na sociedade de classes 0 proprio modo deser da ideologia dominante, ja que a educacao escolar atuariacomo reprodutora dos antagonismos de classes sociais. Ateoria pedagogica e , entao, esvaziada para dar Iugar a umateoria sociopolitica da educacao. Essa orientacao passa anutrir boa parte da producao dos intelectuais da area, prin-cipalmente fil6sofos e sociologos da educacao, que se dis-puseram a contribuir na formulacao de propostas para oscurriculos de formacao de educadores (cf. Libaneo, 1990).o movimento pela revalorizacao da educacao publica,surgido par -volta dos anos SOt busca saidas para a crise daescola brasileira, tambem a partir de urn posicionamentocrftico em relacao ao capitalismo, Esse movimento, inicial-mente sustentado pela Ande - Associacao Nacional deEducacao - atua como contraponto aquele de cunha re-produtivista mencionado anterionnente. Posiciona-se pelo en-tendimento da escola como lugar em que se reprod uzem ascontradicoes sociais, portanto, urn Iugar de Iu ta hegemonicade classes, de resistencia, de conq uistaida .cultura e daciencia como instrumentos de Iuta contra as desiguaIdadessociais impostas pela organizacao capitalista da sociedade.Desen vol vern-set nesse quadro, outras vertentes das teoriascritic as da educacao et entre elas, a Pedagogia critico-socialdos conteiidos e a concepcao historico-crftica da cducacao,que trouxerarn contri buicoes substanti vas para a reabilitacaoda especificidade da Pedagogia (Libfineo, 1991).

    E neste contexte dos anos 80 - marcado pela criticada educacao no capitalismo, par urn Iado, e pela associacaoentre analise crftica e fonnas de intervencao na pratica

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    escolar, por outro -~ que se retomam as discuss6es sobrea sistematica de formacao de educadores. Com esse proposito,realiza-se na Unicamp (Campinas-Sf', 1978) ISerninariode Educacao Brasileira. Surgem os Comites Pro-Reformulacaodos Cursas de Pedagogia (Gcifinia-GO, 1980)~ depois aComissao Nacional dos Cursos de Formacao do Educador(Belo Horizonte-MG, 1983), transformada recentemente(1990) em Anfope, Nos encontros dessa entidade, comotambern nas Conferencias Brasileiras de Educacao (CBE) eoutros eventos dos profissionais da educacao, voltam aodebate temas como: especificidade do curso de Pedagogiae das Licenciaturas, formacao de especialistas nao-docentes,formacao dos professores das series iniciais do 10 grau emnivel superior, a base comum nacionaI de formacao doseducadores, a questao da escola iinica de formacao deprofessores e autros.o movimento de reformulacao dos cursos de formacaode educadores, representado hoje pela Anfope, produziu aolongo destes anas dacumentos bastante expressi vas do debate,tendo exercido efeti va influencia na concepcao de formacaodo professor e na reformulacao de curriculos em algumasFaculdades de Educacao. No entanto, e forcoso reconhecerque, par insuficiente base teorica, par falta de propostasconsensuais dos varies grupos de intelectuais envoIvidos,por dificuldades encontradas na pr6pria realidade au, mesmo,por obstaculos legais, e ainda modesto 0 nivel de alcancede seus objeti vos. Com efeito, mesmo as experiencias con-sideradas inovadoras nao resistern a uma analise te6rica maisapurada, como nao conseguem escapar de reducionismos,Em faculdades que suprimiram as habilitacoes, disciplinasvoltadas mais especificamente para formar 0pedagogo strictosensu foram retiradas do curriculo ou esvaziadas (por exern-plo, disciplinas relacionadas com administracao escolar, su-pervisao, pesquisa e, em alguns lugares, a didatica), Osreducionismos prejudicaram, tambem, a qualidade da ofertade disciplinas nas Licenciaturas. 0esfaceIamento dos estudosno funbito da ciencia pedag6gica com a conseq liente sub-juncao do especialista no docen te, e a improcedente identi-

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    ficacao dos estudos pedag6gicos a uma licenciatura, tal vezsejam dois dos mais expressi vos equi vocos te6ricos e ope-racionais da legislacao e do proprio movimento da refor-mulacao dos cursos de formacao do educador, no que serefere a formacao do pedagogo.

    Embara seja justa reconhecer meritos nas prapostas eacoes do. movimento mencionado, os impasses continuam eexigem persistir na busca de safdas, N as consideracoes aseguir serao discutidos temas como: a especificidade doconhecimento pedagogico, a identidade profissianal do pe-dagogo, a necessidade do pedagogo na escola e a pertinenciadas habilitacoes, Outras questoes como a Licenciatura, abase comum nacional de formacao, a natureza do trabalhoescolar e a divisao do trabalho na escola, serao apenastangenciados dentro do foco central do artigo: a Pedagogiae a formacao do pedagogo nao diretamente docente.

    . A especificidade do conhecimento pedag6gicoUrn dos resultados rnais polemicos do movimento que

    estamos analisando e a difusao do conhecido mote: "Adocencia constitui a base da identidade profissional de todoeducador" (Encontro Nacional de Belo Horizonte-MG, 1983).Trata -se de urn paradoxa que permeia as documentos pro-duzidos nos varies encontros. Por um lado, partern de umaanalise global da educacao brasileira, acentuam uma formacaoampliada do educador insistindo fortemente na dimensaopolftica; par outro, incentivam curriculos e praticas quereduzem a atuacao do educador a docencia. E quase unanimeentre os estudiosos, hoje, 0entendimento de que as pniticaseducati vas estendem-se a s mais variadas instancias da vidasocial nao se restringindo, portanto, a escola e muito menosa docencia, embora estas devam ser a referencia da formacaodo pedagogo escolar. Sendo assim, 0campo de atuacao doprofissional formado em Pedagogia e tao vasto quanta saoas praticas educati vas na sociedade. Em todo Ingar onde

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    houver uma pratica educativa com carater de intencionaIidade,ha at uma pedagogia.

    Sem _descartar a necessidade da analise episternologicadas ciencias da educacao ou dos criterios de demarcacaodo conceito de ciencia, parto da ideia de que Pedagogia euma area de conhecimento que investiga a realidade educativa,no geral e no particular. Mediante conhecimentos cientfficos,filos6ficos e tecnico-profissionais, eIa busca a explicitacaode objetivos e formas de intervencao metodol6gica e orga-nizativa em instancias da atividade educati va implicadas noprocesso de transmissao/apropriacao ativa de saberes e modosde acao.' Pedagogo e a profissional que atua ern y_~riasinstancias da pratica educativa, diretaou indiretamente ligadasa organizacao -e aos _processos de transmissao e _a&- s i@~_~oativa de saberes e modos de acao, tendo__rn vista objetivos.de formacao humana definidos -_ern sua contextualizacao

    -"_ ~ L __ ~ __ ~ " _ - - ~~ -~ - -____ ~ _ _ ~ -~ .~ ~

    1. Alguns intelectuais da educacao rejeitam a expressao "transmissao desaberes", como ja se fez com outros terrnos do campo conceitual da area comoinstrucao, tecnica, treinameuto etc. Nao vejo razao s6lida para essa rejeicao. Aexpressfio processo de transmissiio/apropriaciio ativa (au assimilaciia ativa) , fre-qllentemente utilizada nos meus textos, deve ser entendida num quadro conccitualrnais amplo, Na proposta pedagogica que defendo, 0 que a humanidade produz,cria, transforma, em sua atividade socio-historica, vai constituindo os sabereslogico-sistematicos que formam 0 patrim6nio cultural acurnulado ou, como dizemoutrcs, a experiencia humana culturalrnente organizada. Os resultados dessa atividadesocio-historica sao objeti vades e, dar. cornunlcados, transmitidos, como ccndicaopara que os sujeitos possam "apropriar-se' dcles e continuar produzindo saberes,criando novas forrnas culturais, Naoha, pois, auto-educacao sem 0 provirncntode qualidades hurnanas, scm a transmissao de saberes e modos de a~.ao (gosternou nao as educadores do termo transmissiioy; porque a natureza humana naD edada ao bornern, ela e coustitufda socialmente no processo da atividade socio-his-t6rica. Isso nao desfaz 0 entendimento de que os indivfduos silo agentes ativose socioconstrutores dos scus conhecimentos. A educacao intencionada, precisarnente,mobiliza 0 processo de transmissfto/assimilacan ativa, mediante urn conjunto depraticas sociais que auxiliarn os indivfduos a assirnilar e incorporar (internalizar)a atividade socio-historica humana (expressa em saberes e modos de acao), quepossibilitani a construeao de novos conhecirnentos e de si proprios, A assimilacaoconsciente e ativa e a contrapartida da trans rnissao , 0 que e 0 mesmo que dizerque a apropriacao ativa de conhecimentos Csocia1mente mediada. E uma apropriacaoativa, nao-passiva, implicando uma iateracao entre sujeito e objeto c urn processointemo de elaboracao mental, A Pedagogia e a ciencia que se ocupa do que epeculiar e pr6prio desse processo,

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    _hist6rica. Em outras palavras, pedagogo e um profiss ionalque Zilla" C O l l I fatos, es truturas, contextos, situacoes, referentes7prlitica .educativa em -suns -,'addi modalidades emanifes-taciies.

    A ideia subj acente a essas formulacoes e a de que 0fen6meno ed ucati vo e urn aspecto da realidade social, dis-tinguindo-se de outros aspectos da realidade. Ou seja, e urnfato da vida individual e social possivel de ser descrito,explicado, cornpreendido, em suas varias dimensoes, mediantemetodos de investigacao e elaboracao sistematica de resul-tados, em funcao de urn corpo de conceitos e proposicoes,A Pedagogia e a teoria, a reflexaovsobre esse aspecto dareafklade em suas relacoes com OUtrOS aspectos, Constitui-se,' pois~ como campo de investigacao especifico cuj a fonte e -a pr6pria pratica educati va e os aportes te6ricos providospelas demais ciencias da educacao e euja tarefa e a corn-preensao, global e inteneionalmente dirigida, dos problemaseducati vos (Libaneo, 1993).

    E esse 0 entendimento de alguns autores estrangeiros.o pedagogo argentino Ricardo Nassif (1958: 67) escreveque a Pedagogia, embora niio possua urn conteiido "intrin-secamente proprio" ~ tern urn dominic proprio - a educacao-, e urn enfoque proprio - 0 educacional -, que lheassegura 0 carater de disc iplina aut6noma diante de outrasesferas do saber e do fazer humanos. Diz que as fontes doconteiido da Pedagogia sao, em primeiro Iugar ~ a pr6priaprdtica educativa e, depois, para 0 conhecimento da praticaeducati va, recebe ajuda de fontes secundarias, as cienciasauxiliares, eujo material forma 0 conteiido da cienc ia pe-dag6gica. 0 italiano Visalberghi (1983: 265) emprega 0termo "pedagogia" para denotar 0complexo de conhecimentosreferentes ao fen6meno educati vo visando a uma "aproxi-macao global" dos problemas ed ucati vos. Embora reconhecaa difusao da expressao "ciencias da educacao H~niio v e razaopara repudiar 0 terrno "pedagogia", inclusive para relembrarque "0 educador e mesmo 0 pesquisador pedag6gico, ne-cessi tam nao apenas de conhecimentos cientfficos e filosoficos

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    mas tambem de conhecimentos e atitudes deri vados direta-mente da experiencia educativa concreta". 0 espanhol Sar-ramona (1985: 56) escreve que "a dirnensao polifacetica dofenomeno educativo nao pade eliminar sua unicidade comotal, sob 0 risco de perder sua justificacao como processoobjeto de estudo cientffico", Para esse autor, a Pedagogiapade dar coerencia a multiplicidade de acoes parcializadasexatamente a medida que estabelece urn corpo cientfficoque toma como objeto de estudo 0 fenomeno educati vo emsen conjunto, Nesse caso, elabora uma sintese integradorados diferentes processas analiticas que correspondem a cadauma das ciencias da educacao,

    Entende-se, assim, que a ciencia pedag6gica pode pos-tular a si ramos de estudo pr6prios dedicados aos variesambitos da pratica educativa (teoria da educacao, teoria doensino, organizacao do trabalho escolar, politica educacional),complementados com a contribuicjio das demais ciencias daeducacao, Esse complexo de conhecimentos funda-se noentendimento de que a Pedagogia e uma ciencia inseridan o conjunto das ciencias da educacao, Todavia, destaca-sedelas para assegurar a unidade e "dar sentido a s contribuicoesdas demais ciencias, ja que the cabe a enfoq ue globalizantee unitario do fen6meno educati vo. Obviamente, as conhe-cimentos obtidos dessas ciencias, a medida que estao referidosao fenomeno educati vo, convertem-se em conhecimen tospedag6 gicos f iinica razao para que se consti tua uma Sociologiada educaciio, Psicologia da educaciio etc.

    Dentro desse entendirnento, nao se esta postulando aPedagogia uma exclusi vidade no tratamento cientifico daeducacao. 0 fenorneno educativo requer, efetivamente, umaabordagem pluridisciplinar. 0 que se defende aqui e apeculiaridade da Pedagogia de responsabilizar-se pela reflexaoproblematizadora e unificadora dos problemas educati vos,para alern dos aportes parcializados das demais ciencias daeducacao. Portanto, a multiplicidade dos enfoq ues e analisesque caracteriza a fenomeno educati vo nao torna desnecessariaa Pedagogia, como querem alguns intelectuais; ao contrario,

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    precisamente em razao disso, ela institui -se como campoproprio de investigacao para possibilitar urn tratamento glo-balizante e intencionalmente dirigido dos problemas educa-tivos. Quanto mais der conta de explicitar seu dominioproprio de investigacao, mais podera apropriar-se da contri-buicao especffica das demais ciencias (Libflneo, 1992).

    A identidade profissional do pedagogo se reconhece,portanto, na identidade do campo de investigacao e na suaatuacao dentro da variedade de atividades voltadas para 0educacional e para 0 educati vo. 0 aspecto educacional dizrespeito a ati vidades do sistema educacional, da politic aeducacional, da estrutura e gestae da educacao em suasvarias modalidades, das finalidades mais amplas da educacaoe de suas relacoes com a totaIidade da vida social. 0 aspectoeducativo diz respeito a atividade de educar propriamentedita, a relacao educati va entre os agentes, en vol venda ob-jeti vas e meios de educacao e instrucao, em varias moda-lidades e instancias, Desse modo, todos os profissionais quese ocupam de dominios e problemas da pratica educati vaem suas varias manifestacoes e modalidades e onde hajaurn carater de intencionalidade sao, genuinamente, pedagogos:pais, professores, supervisores de trabalho, agentes dos meiosde cornunicacao, autores de Iivros, orientadores e guias deturismo, agentes de educacao em movimentos sociais etc.

    obviamente me refiro ao pedagogo em sentido amplo.Mas a argumentacao que venho trazendo permite-me afirmarque 0 trabalho pedagogico nao se red uz ao trabalho escolare docente, embora todo trabalho docente seja urn trabalhopedag6gico. Vai dar que a base comum de formacao doed ucador deva ser expressa num corpo de conhecimentosligados a Pedagogia e nao a docencia, uma vez que anatureza e os conteiidos da educacao nos remetem primeiroa conhecimentos pedag6gicos e s6 depois ao ensino, comomodalidade .peculiar de pratica educati va-In verte-se, p__gjs,- - - - - -a eonhecido mote "a docencia constitui a base da identidadeL "_ L_L __ _ - ~ _ - _ - ~ - ~ ~ _~ L _~ .~ _ .r_ .. ~ __ . . ~~_._ __ --_ ... _ . -.~.profissionalrie todo ..educador", A,. base _da.identi.dadeprQ~fissional do - educador e a acao.cpedagogica, ...nao ..a ..a~ao

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    docente. Com efeito, a Pedagogia correspC?nd~__! .Q objtivos .e processos do educativo.-Justamei:ite~..em .razao do vinculo ...

    . ~..... - .- .-._ -._~ -~~ ...~. - .... -. . - ....- ... _ ... _ . ... . . ----......._-~~--necessaria entre a a~ao educativa intencional e a dinfimicadas-relacoes .eritreclasses egrupos s o c l ~ l i s ~ : f f q u e : _ c l a _nvesti~os fatores que contribuem para a formacao humana em cadacontexte historico-social, pelo que vai constituindo e recriandoseu objeto proprio de estudo e seu conteiido - a educacao,Somente com esse entendimento e passive 1 fonnular umaconcepcao de formacao do educador, pais e a teoria peda-g6gica que pode, a partir da pratica, formular diretrizes quedarao uma direcao a ac;ao educati va.o mesmo raciocinio e elaborado pelo autor alemaoSchmied-Kowarzik: a Pedagogia precisa pensar-se a si propriaern sua relacao com a pratica na qual se enraiza e a partirda qual e para a qual estabelece proposicoes. Por isso elanao e apenas "uma diretriz no plano te6rico da ciencia daeducacao, mas a preocupacao te6rico-cientifica da funda-mentacao da Pedagogia como ciencia que, enq uanto pratica,nao pass ui seu sentido em si mesma, mas na humanizacaoda praxis". (1983: 15)

    Com essas consideracoes, podemos retomar a discussaosobre a especificidade do campo do conhecimento pedag6gico.

    A analise do desen volvimento hist6rico da Pedagogiapermite identificar, desde Comenio, Rousseau, Herbart, De-wey ~ os elementos constitutivos da relacao pedag6gica: 0aluno, os contetidos, os metodos, a sociedade, articuladospela ac;ao do educador. Ainda que as praticas educativashoje se encontrern bastante ampliadas, nan se reduzindo aoensino, continua pertinente reconhecer nesses elementos cons-titutivos do pedagogico a micleo de referencia dos conhe-cimentos cientificos, filos6ficos e tecnico-profissionais quecompreendem a competencia profissional do pedagogo.

    Tais elementos vilo levando, ao longo da historia, auma progressiva diversificacao das ciencias da educacao(Psicologia, Sociologia, Filosofia, Didatica) e a constituicaodas materias de ensino a partir das ciencias que lhes daoorigem. Por certo, a ampliacao do campo de ac;ao do

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    pedagogo, em correspondencia com a amplitude cada vezmaior das praticas educati vas na sociedade, leva, tambem,ao aparecimento de operadores do processo educati vo paraalern do educador escolar. Com isso, aqueles elementosconstituti vas da relacao pedag6gica van adquirindo outrasacepcoes de aluno e educador. 0educador nao e maisapenas 0 docente, sao os multiples agentes educativos COll-forme as instfincias em que operem (familia, escola, meiosde comunicacao, fabric a, movimentos sociais etc.). Nao eapenas 0 aluno na escola, mas 0 adulto, as pais, 0 teles-pectador, 0 leitor, 0 trabalhador, 0 rnorador, 0 consumidoretc. Os conteiidos e metodos tambem sofrem outras rnodu-lacoes conforme a variedade de situacoes pedagogicas. Pode-se dimensionar, por meio desse raciocinio, outras areas doconhecimento que nao devem ficar ausentes da formacaodo educador, tais como a informatica, as teorias da cornu-nicacao, as ciencias da linguagem etc.

    Como se ve, par rnais que se considere 0 progressodas ciencias, nao se modificam, em essencia, as categoriasdo pedagogico, nao havendo razao para inventar uma novabase comum de disciplinas para a formacao profissional.Trata -se, sim, de reconceitua -las, de submete-las ao erivode seus determinantes sociais, economicos, polfticos, mediantea abordagem critica da realidade educativa em suas rnani-festacoes concretas. Em outras palavras, a reflexao vaipenetrando as campos da realidade educati va historicamenteconstitufdos, reconcebendo os objeti vos, as conteiidos e ascategorias basicas da analise pedagogica, em funcao denecessidades concretas da vida social. Suchodolski (1977 :19) desenvolve esta ideia da seguinte forma:

    Este e 0metoda de toda ciencia rnoderna: conhecer a realidadeatraves da construcao de uma nova realidade. (... ) A definicaode' pedagogia que aqui propomos assume precisamente essecaniter. Trata-se do conhecimento da realidade educati va me-diante a participacao na criacao das formas mais adequadas a s necessidades da civilizacao em desenvolvimento e a s tarefasque a humanidade deve solucionar nestas condicoes, Ao con-siderar a pedagogia como uma ciencia sobre a atividade trans-

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    fonnadora da realidade educativa, temos a possibilidade de umanova determinacao dos objetivos da educacao e de suas categoriasfundamentais.

    Em termos praticos, percorrido esse processo de refle-xao, nada impede que se formule urn micleo de disciplinascontemplando uma base comum de formacao do educador,naturalmente sempre subrnetida a uma analise metodol6gicacritico-social.

    Em sfntese, 0 campo do conhecimento pedag6gicocorresponde ao estudo cientffico e filos6fico da educacao eaos conhecimentos te6ricos e praticos de sua aplicacao, Maisespecificarnente, podem ser agrupados em tres areas:a) Conhecimentos cientfficos e filosoficos da educacao,

    abrangendo os elementos constituti vas da relacao peda-g6gica ja rnencionados, dentro da multiplicidade de ana-lises do fenomeno educati vo, As disciplinas desta areaformam uma parte do micleo basico de formacao. Porexemplo: Filosofia da Educacao, Psicologia da Educacao,Sociologia da Educacao, Psicolingufstica, Teorias da Co-rnunicacao, Historia da Educacao, Teoria do Conhecimentoetc.

    b) Conhecimentos especfficos da atividade propriamente pe-dag6gica e que constituem a referencia basica do trata-menta do fenomeno educativo. Formam a autra parte domicleo basico de formacao do pedagogo. No caso particularda Pedagogia escolar refere-se a conhecimentos te6ricose praticos que proporcionam compreensao de conjuntoda escola e do ensino e as bases teorico-praticas deatuacao profissional. Por exemplo: teoria da educacao,didatica, organizacao escolar, politica educacional, estru-tura e funcionamento do ensino etc.

    c) Conhecimentos tecnico- profissionais especfficos conformeo ambito da atuacao profissional, Por exemplo: princfpiose praticas de administracao escolar, supervisao escolar,orientacao ed ucacional, avaliacao, currfculo etc.

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    ,Areas de atuacao pro fissional do pedagogoHa uma diversidade de praticas educati vas na sociedade

    e, em todas elas, desde que se configurem como intencionais,esta presente a ac;aopedag6gica. A contemporaneidade mostrauma "sociedade pedagogica" (Beillerot, 1985), revelandoamplos campos de atuacao pedag6gica. A partir de indicacoesdesse autor, podem-se definir para 0pedagogo duas esferasde a~ao educativa: escolar e extra-escolar.

    Na campo da a~ao pedag6gica escolar distinguem-setres tipos de atividades:..a) a de professores do ensino publico e privado, de todos

    os nfveis de ensino e dos que exercem atividades correlatasfora da escola can vencional;

    b) a de especialistas da a

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    b) formadores ocasionais que ocupam parte de seu tempoem atividades pedag6gicas em orgaos piiblicos estatais enao-estatais e empresas referentes a transmissao de saberese tecnicas ligados a outra atividade profissional especia-Iizada, Trata -se, par exemplo, de engenheiros, supervisoresde trabalho, tecnicos etc., que dedicam boa parte de seutempo a supervisionar ou ensinar trabalhadores no localde trabalho, orientar estagiarios etc.Nesta categoria incluem-se trabalhadores sociais, mo-

    nitores e instrutores de recreacao e educacao fisica, berncomo profissionais das mais diversas areas profissionais ondeocorre algum tipo de atividade pedag6gica, tais como: ad-ministradores de pessoal, redatores de jornais e revistas,comunic adores sociais e apresentadores de programas deradio e TV, criadores de programas de TVt de videoseducativos, de jegos e brinquedos, elaboradores de guiasurbanos e turisticos, mapas, folhetos informati vos, agentesde difusao cultural e cientifica etc.

    Ocampo da atividade pedag6gica extra-escolar e ex-tenso. Poder -se- ia incluir no item da educacao extra -escolartoda a gama de agentes pedag6gicos que atuam no ambitoda vida privada e social: pais, parentes, trabalhadores vo-Iuntarios em partidos politicos, sindicatos, associacoes, centrosde lazer etc.

    Obviarnente, nao cabe imaginar que urn curso de Pe-dagogia venha a incluir a formacao de todos os profissionaismencionados. Par exemplo, varias categorias de profissionaisdo segundo grupo sao pedagogos apenas em sentido amplo(pode-se dizer que realizam uma atividade de cunho peda-g6gico). Em todo caso, pader-se-ia preyer para esses "for-madores ocasionais" farmas tambem ocasionais de suprimentode capacitacao profissional, tais como cursos de aperfeicoa-menta au atualizacao dentro, talvez, de atividades de extensaouniversitaria. 0 mesma se pode dizer em relacao a formacaode agentes pedag6gicos que atuam na vida privada e social(cursos para pais, cursos de costura, culinaria, l:fnguas etc.).

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    Por que 0 pedagogo especialista OIl pedagogo escolarE not6rio 0 crescimento e a complexidade cada vez

    maior do sistema escolar (federal, estadual, municipal), emface da amplitude que vao assumindo as diversas modalidadesde pratica educativa na sociedade. Sao especialmente per-manentes e crescentes as necessidades de atendimento escolara populacao jovem. Com isso, obviamente, vai sendo re-querida uma variedade maior de agentes do processo ed u-cacional: os que se dedicam a docencia, aqueles ocupadoscom 0 planejamento, gestae e administracao dos sistemasescalares e escolas, assirn como supervisao e assistenciapedagogico-didatica aD sistema e a s escolas, os profissionaisque atuam em atividades paraescolares, extra-escolares e ematividades teorico-cientfficas (pesq uisa, elaboracao).

    E consensual que na base dos sistemas de ensino edas escolas esta a relacao direta professor-alunos, para aqual devem con vergir todas as acoes. Toda via, comprovadaa amplitude dos sistemas educacionais, ha que se admitir,tambern, tarefas educativas especializadas, tais como as quese realizam nos niveis centrais e intermediaries da adminis-tracao e gestae dos sistemas, nas escolas, nas ati vidadesextra-escolares, na atividade teorico-cientffica (pesquisa) exis-tente nas Secretarias de Educacao, Universidades e outrasinstituicoes .

    Considerando-se a variedade de niveis de atuacao pro-fissional dopedagogo, h a que se con vir que os problemas,as modos de atuacao e os requisitos de exercicio profissionalnesses niveis nao sao necessariamente da mesma natureza,ainda que todos sejam modalidades de pratica pedag6gica.De fato, os focos de atuacao e as realidades com que lidam,embora se unifiq uem em torno das q uestoes do ensino, saodiferenciados, 0 que justi fica a necessidade de formacao deprofissionais da educacao niio diretamente docentes. Ou seja,niveis distintos de pratica pedag6gica requerem uma variedadede agentes pedag6gicos e requisitos especificos de exercfcio

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    I' ,

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    pro fissional que urn sistema de formacao de educadores niio=pode ignorar .

    . ~ ) ~ ~ ~ !~ !.lS ~ Q ._ Q Q - p~

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    Licenciatura nao comporta. Se nao bastarem esses argumentos,v a l e I e m o r a r -que--o~'Qesen vol vimento das ciencias, 0apare-cimento de novas condicionantes do rendimento escolar dosalunos e a busca de uma escola m a i s compativel com ascaracteristicas de nossa epoca implicam a formacao conti-nuada do professor. "

    A presenca do pedagogo escolar ~Q_I11~t:S~J_pois.; ! ! - ! T I ~exigencia d o s -s i s t e m a s - - o e - - - - e i i s i n o - - e da__ealidadejescolar, .tendo -ein-vlsta--melho"rar--a_-q_ualidacle- da oferta de ensinopara ' 8 . - populacao; Q U i U 1 d - o " s e 'airlbuem ao-peQa.gQg9~-as, " t a r e f a s d e coordenar e p r e s t a r assistenciapedagogico-didatica-ao - p r o f e s ' s o r ~' n a o e s i ~ s - e supondo que ele deva ter dominia .dos conteiidos- metodos de todas as materias, Sua contribuicaovern dos campos do conhecimento implicados no processoeducati vo-docen te, operando uma interseccao entre a t e o r i apedag6gica e as conteudos-metodos especificos de cadamateria de ensino, entre 0-conhecimento pedag6gico e asala de aula. 0 pedagogo entra n aq ue la s sit_ 1:!~~_ Q ~~-_ ~Il_ 1_ quea atividade docente extrapolao ambito-e~specifico damaterla-'de" erisin6:-na-d~fini~~~-~ -o b J ~ t i v o s ~ ' e d i i c ' a i i v { i s , - - n i s ' - - i ~ p i i = ._ca~5es--psico16gicast---sociiti~,c ~ i ~ ~ r a ~ s ' i i _ o - e n s ~ o ; n a ~ - ' - p e c - u=liaridades d o processode ensino e aprendizagem, 'n u d e t e ' c ~ ode problemas- t ieaprendi~~ge-m entre os a l i I 1 ! J s ~_ ~ a ~ a v ' a T h i ~ ~ ~ ~no jiso .'de' tecnicas -e .recursos de ensino etc, 0 pedagogo

    . -.. . - .. _ . _. . . . . . .. . . .. .,-.-- _ . _ - - - . -----.entra, tambem, na coordenacao do plano pedag6gico e planes - .de ensino, da articulacao horizontal e - v e r t _ i _ f ~ C i . f Q ~ : ~ 9 n t e ( i d 6 s ~ .da -composicao .'de' turrnas, das reunioes de estudo, ~()nselho-de classe etc. 'Sabre isso escreve Pirnenfa--(19-S8: -61): _.- .

    A escola (...) requer 0 concurso de varies profissionais. ( )Cornpreender a natureza do trabalho coletivo na escola ( )aponta para a necessidade de que a nova organizacao escolarse de a partir da constatacao de que 0 trabalho de educacaoescolar assenta-se Duma pratica social coletiva de varios pro-fissionais que possuem diferentes especialidades (...) A organi-za~ao da escola compete aos profissionais docentes e nao-do-centes. Seria ingenue advogar que 0 professor de' sala de auladevesse suprir todas as funcoes que estao fora da sala de aulamas que interferem no trabalho docente.

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    Can vern aeentuar que tais tarefas sao diretamente co-nectadas as metodologias especfficas das rnaterias que, porsuposto, sao da competencia do professor. Nao se trata,obviamente, de submeter trabalho do professor ao controledo pedagogo. Ao contrario, sao especialistas que se respeitam,sem imposicao de metodos e sem romper drasticamente comos modos usuais de agir. au seja, pedagogos e docentestern suas atividadesmutuamente fecundadas por conta daespecialidade de cada urn, da experiencia profissional, dotrato cotidiano das quest5es de ensino e aprendizagem dasmaterias, dos encontros de trabalho em que 0 geral e 0especffico do ensino van se interpenetrando.

    lI

    Quem e contra a Pedagogia?Pretendi mostrar, ate aqui, a diversidade de praticaseducati vas na sociedade e a ocorrencia de acoes pedag6gicas

    em todas as praticas educativas que se configuram comointencionais. A partir daf, procurei distinguir 0 lugar daPedagogia entre as ciencias da educacao, bem como as areasde atuacao do pedagogo (atividades escolares, paraeseolarese extra-escolares), Pedagogos seriam, pais, os professoresde todos as graus de ensino, especialistas vinculados aosistema de ensino e as escolas, especialistas que atuam emacoes pedag6gicas paraescolares ou extra-escolares em orgaosdo setor publico, pri vado e publico nao-estatal (animadores,instrutores, consultores, organizadores, trabalhadores sociais,formadores de opiniao, especialistas em comunicacao, cria-dores de videos, livros didaticos, agentes de difusao culturaletc.), Ou seja, proe urou -se ate aqui reconhecer no trabalhopedag6gico uma atividade real, urn campo de atuacao definidoe uma area de estudos com identidade pr6pria.

    Entretanto, na illtima decada da educacao brasileiraveio oeorrendo urn paradoxa. A sociedade foi se tomandocada vez mais "pedagogica' t, enquanto a quantidade e qua-lidade profissional dos pedagogos foram diminuindo, 0movimen to de reformulacao dos cursos de formacao de

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    educadores preocupou-se mais com 0 "curso' e menos comas bases te6ricas da Pedagogia. A enfase na formacao dodocente reduziu 0 peso da formacao pedag6gica te6rica maisaprofundada. Por sua vez, as pedagogos que participaramdesse movimento ou cederam ao discurso ora sociologizante,ora psicologizante, au sua participacao foi tao pequena queseu discurso teorico quase foi silenciado. Hoje nossas Fa-culdades de Educacao estao repletas de filosofos, sociologose psicologos da educacao e esvaziadas de pedagogos, mesmoporq ue aqueles raramerite se reconhecem como pedagogos.Juntando esses ingredientes, acentuou -se a tendencia quevinha se delineando desde os anos 20 com 0 movimentoescolanovista de empobrecimento dos estudos especfficos deteoria pedag6gica.

    A critica a Pedagogia tern aumentado: ela nao cobririaos requisitos de "cientificidade"; seria urna tarefa voltadapara a pratica, estando mais no campo da intuicao e da artedo que no campo cientffico; nao teria objeto de estudoproprio porque 0 fenomeno educativo e pluridimensional,assim como nao disporia de urn sistema claro e coerentede conceitos. Em primeiro Ingar, algumas dessas Iirnitacoessao atribufveis a s Ciencias Sociais em geral. Segundo, oscrfticos da Pedagogia nao perce bern que a ocorrencia dessasdificuldades epistemologicas nao constituem razao suficientepara se ignorar a atividade pratica correspondente ao campode conhecimento pedag6gico. Tal atividade, definida espe-cificamente como formacao humana, envoIve dimensoes dateoria cientffica e da pratica, reflexao e a~ao. Nesse sentido,a insistencia na reducao do trabalho pedag6gico ao trabalhodocente - presente nos pareceres e resol ucoes do ConselhoFederal de Educacao, do movimento de reformulacao doscursos de Pedagogia e, por consequencia, do curriculo deFaculdades de Educacao - foi e tern sido urn 0bstaculoao desenvol vimento dos estudos propriamente pedagogicos,Com efeito, a negacao da existencia de conhecimentosteoricos e praticos proprios da ciencia pedag6gica . (em co-nexao com as demais ciencias da educacao) e a recusa deadmitir-se urn campo de atuacao profissional mais amplo

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    ao pedagogo abriram flancos a toda sorte de red ucionismos,it intransigencia e intolerancia das posicoes estabelecidas noscampos do conhecimento, resultando no empo brecimento dainvestigacao pedag6gica especifica, no vazio teorico da for-macao pro fissional, na desvalorizacao da formacao pedag6-gico-didatica dos licenciandos.

    Onde estaria a raiz desta intolerancia a Pedagogia comociencia OU, ao menos, como urn campo especffico de co-nhecimen tos e praticas? E uma pergunta diffcil de responder.Seria ver nela urn caniter dogrnatico, excessivamente voltadopara postulados etico-normati vos num mundo propicio arelativizacao de valares? Ou, por outro lado, urn caniterracionalista ou mesmo tecnicista, no sentido de que tadaciencia seria domesticadora, erigindo-se acima da sociedade?Ou a intolerancia seria decorrente da subestimacao dosobjeti vos e processos pedagogico-didaticos em favor da tesede que, para uma boa aprendizagem, os con teiidos/metodosde cada materia se bastam? Se for isso, onde a docentebuscara criterios de escolha de objetivos sociopoliticos eselecao de conteiidos cientificos e rnetodos, para traduzi -losem escolhas concretas de modos de instrucao e formacao?Para essa tarefa bastaria a Filosofia, a Sociologia, a Psicologia,OU, mesmo, as pr6prios conteiidos/metodos de cada materia?Mas para onde esses conhecimentos can vergem, se naohouver urn campo de conhecimentos orientado intencional-mente para a pratica educati va? Alern disso tudo, can viriaanalisar mais a fundo a hip6tese de que a desprestigioacademico dos estudos em Pedagogia se expl icaria comoreflexo direto da desv alorizacao social e profissional doeducador escolar.

    Seja como for, entendo que retirar da pratica docenteseus fundamentos pedag6gicos (onde estao necessariamenteimplicados objetivos sociopoliticos da pratica educativa) sig-nifica recusar a direcao de sentido do ensino diante de umasociedade marcada por antagonismos de classes e grupossociais, Isto leva a reduzir 0 ensino a sua dimensao cientificae tecnica, desprezando-se sua dimensao valorati va, intencio-

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    nal. 0 processo docente e pedag6gico precisamente porquee intencional, porque tern objeti vos explfci tos em face doquadro de interesses antagonicos existente na sociedade; epor isso que se justi fica a mediacao pedag6gica e didatica.Como escreve Manacorda: "decidir 0 que e como ensinarsignifica decidir que homem se pretende formar, que modelode homem se tern em mente" (In: Maragliano et al., 1986:8). No meu ponto de vista, e isto basicamente 0que justificauma pedagogia.

    Uma visao verdadeiramen te crftica do ensino, do pontode vista historico-social, nao pode simplesmente suprimir aPedagogia, sob pena de afirmar-se a recusa it formulacaode objetivos sociopoliticos e formativos e a abordagem criticados conteiidos culturais. Todos os educadores seriamenteinteressados nas ciencias da educacao, entre elas a Pedagogia,precisam concentrar esforcos em propostas de .intcrvencaopedag6gica nas varias esferas do educati vo para enfrentamentodos desafios colocados pelas novas realidades do mundoconternporflneo.

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