texto etnocentrismo

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  • Universidade de So Paulo

    Faculdade de filosofia, letras e cincias humanas

    Ncleo de estudos das diversidades, intolerncias e conflitos

    Renan Marcondes Cevales

    Levantamento dos textos discutidos em sala de aula na primeira etapa do curso.

    Texto apresentado disciplina Etnocentrismo,

    natureza e cultura, ministrada pelos

    Professores Doutores Antnio Almeida,

    Margarida Maria Moura e Maria das Graas

    de Souza para obteno parcial de nota

    semestral.

    So Paulo

    2014

  • Levantamento dos textos discutidos em sala de aula na primeira etapa do curso.

    Trs embates conceituais so colocados nessa primeira etapa do curso: a relao entre

    primitivo e civilizado; entre natureza e cultura e entre ocidente e oriente. Nos trs casos,

    podemos ver como h uma dialtica na prpria constituio e argumentao desses textos, seja

    na poca de sua escritura ou no debate contemporneo sobre ele.

    No primeiro texto discutido em aula, Dos canibais, de Michel de Montaigne,

    possvel analisar criticamente a relao que se teve com o desconhecido no sculo XVI,

    pensando como essa relao se configura na contemporaneidade atravs de um comparativo

    histrico. Discorrendo sobre os modos de relao e o olhar que os europeus tinham com os

    ndios brasileiros, na poca chamados de brbaros, Montaigne se coloca distanciado em relao

    aos usos do termo, entendendo que ele nada mais pressupe que uma ignorncia e

    desconhecimento em relao ao outro, realizando assim uma crtica paradigmtica ao

    etnocentrismo.

    Demonstrando diferenas sociais e culturais como a antropofagia, Montaigne nos

    explicita determinados traos de aproximao em relao aos fins do ato e evidencia que a

    diferena mais formal do que tica (afinal, o que diferencia o uso ou no de cales), assim

    como certas percepes sutis sobre o modo de funcionamento da sociedade europeia e suas

    idiossincrasias, ao narrar o encontro dos ndios com o Rei Carlos IV.

    Porm, o texto ganhar novas luzes quando colocado em contraponto ao artigo O brasil

    de Montaigne, de Frank Lestringant, que aprofunda e atualiza o pensamento sobre o texto,

    desviando-o de um devaneio primitivista, como cita o prprio autor. Vemos aqui como o carter

    retrico dos textos do autor conseguem provar o carter irredutvel de uma alteridade indita

    e, a bem dizer, impossvel de apreender, que se traduz numa imagem sinttica e um tanto

    ficcional desse outro e o amerndio do Brasil, tomado como um objeto quase hipottico e no

    visto in loco, carrega no texto uma srie de hibridizaes.

    Rousseau e seu texto Discurso sobre a origem da desiguladade, discutido juntamente

    com o texto de Levi-Strauss Jean Jacques Rousseau fundador das cincias do homem, serve

    como mote para se pensar tanto o lugar discursivo do etnlogo quanto para se discutir a relao

    entre uma possvel essncia natural do homem e seu atual estado civilizatrio. Sobre o primeiro,

    a argumentao de Levi-Strauss o coloca como um embreante da ao e do discurso do

  • etnlogo, colocando-se como um outro, antes mesmo de ousar ser um eu. Essa transformao

    na ordem do discurso, possibilitadora de uma alteridade experimentada no prprio texto, fora-

    o a se retirar de um olhar centralizado do outro e dissolve a relao sujeito e objeto que

    determina um olhar positivista sobre o outro.

    J sobre a relao entre natureza e o homem, interessa-nos observar como no h, como

    pode-se supor com uma leitura superficial de Rousseau, uma tentativa de retorno uma

    animalidade original do homem, entendendo-a como melhor que a sua atual situao. O que h

    uma suposio de que poderia haver um estado natural do homem, reduzido ao mnimo

    possvel e que, a partir disso, possvel pensar determinados percursos sociais do homem,

    tomado pela transformao desses princpios hipotticos naturais. Aqui h novamente uma

    recusa crtica aos princpios histricos aos quais o pensador estava submetido, no caso, o

    Iluminismo.

    Por fim, temos um caso de literatura contempornea para pensar a relao entre ocidente

    e oriente: o conto A procura de Averris, de Borges. Nele, o autor narra a tentativa do pensador

    muulmano de traduzir as palavras tragdia e comdia dos textos de Aristteles, pois no h

    nenhuma aproximao cultural que o possibilite compreender esses termos. Ao fim do texto,

    Borges se coloca e se compara ao personagem de seu conto, que tenta tambm reconstituir um

    passado do outro com fragmentos que no se completam pois os deslocamentos culturais no

    permitem uma compreenso plena ou entendimento desse outro. Junto ele, Sayid e seu livro

    Orientalismo nos permitem ver que esse exerccio no apenas de carter imaginativo, mas

    possui tambm uma complexa relao de poder envolvida no que tange s possibilidade de

    criao e ao domnio de um discurso que perdure no tempo. Aqui a dialtica se evidencia ainda

    mais, pois podemos ver como o Oriente ajuda a formar a prpria imagem da Europa, inclusive

    constituindo um poder que possibilita retornar um olhar idealizado e ideolgico para esse

    Oriente, que se pauta em uma representao exterior dele e o entendeu historicamente apenas

    como um objeto de estudo.

  • BIBLIOGRAFIA

    BORGES, Jorge Luis. A procura de Averrois, conto, in O Aleph, in Obras Completas, So Paulo: Editora Globo, 1999

    LAS CASAS, Bartolomeu. Brevssima relao da destruio das ndias O paraso destrudo, So Paulo: LP&M, 1985.

    LEVI-STRAUSS, Claude. Jean-Jacques Rousseau fundador das cincias do homem, in Antropologia Estrutural 2, Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, captulo II.

    MONTAIGNE, Michel. Dos canibais, in Ensaios, livro I, XXXI, So Paulo: Abril Cultural, 1972, Coleo Os pensadores.

    ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade, So Paulo: Abril

    Cultural, 1970, Coleo Os pensadores. http://groups-beta.google.com/group/digitalsource

    SAID, Edward. Orientalismo O oriente como inveno do ocidente, So Paulo: Cia das Letras, 2003.