racismo como forma de etnocentrismo

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ESCOLA SECUNDÁRIA MANUEL CARGALEIRO Filosofia Andreia Silva Andreia Nunes Clara Simões Diana Rocha Isa Catarino PROFESSORA: Ana Mateus Fogueteiro, 15 de Março de 2007

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Page 1: Racismo Como Forma de Etnocentrismo

EESSCCOOLLAA SSEECCUUNNDDÁÁRRIIAA MMAANNUUEELL CCAARRGGAALLEEIIRROO

Filosofia

Andreia Silva

Andreia Nunes

Clara Simões

Diana Rocha

Isa Catarino

PROFESSORA:

Ana Mateus

Fogueteiro, 15 de Março de 2007

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Racismo como Forma de Etnocentrismo

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p.

Introdução ……………………………………………………………………………... 1

Definição de Racismo e Etnocentrismo ……………………………………………….. 2

Etnocentrismo …………………………………………………………………...…….. 3

Multiplicidade cultural e etnocentrismo ………………………………………….…… 7

Racismo ………………………………………………………………………………... 9

Origens ……………………………………………………………………………….. 10

Antiguidade e Idade Média ………………………………………………………….... 11

Renascimento …………………………………………………………………...……. 11

Chegada dos Conquistadores Portugueses a África ………………………………..... 11

O Racismo no Brasil – Ameríndios e Negros ……………………………………….. 12

Racismo e Xenofobia ……………………………………………………………...….. 12

A tentativa de explicação da superioridade racial ……………...…………………….. 13

Nazismo ……………………………………………………………………………… 13

Apartheid …………………………………………………………………………...….. 13

Genética ……………………………………………………………………………… 15

Pessoas que marcaram a luta contra a discriminação racial …...…………………….. 16

Racismo como forma de Etnocentrismo …………………………………………… 18

Conclusão ………………………………………………………………………………..

Bibliografia ……………………………………………………………………………….

Neste trabalho, desenvolvido no âmbito da disciplina de Filosofia, vamos abordar a

temática do racismo quando inserida no problema do etnocentrismo. Este tema, embora

facilmente observável no nosso quotidiano, é poucas vezes abordado e alvo de discussão por

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parte da sociedade, o que impossibilita que se tomem medidas contra o racismo.

Tendo isto em mente, decidimos tratá-los ao longo deste trabalho.

Desta forma, achámos por bem dar a conhecer a toda a população os problemas rela-

cionados com o etnocentrismo e com o racismo, referido as suas origens e evoluções ao lon-

go da História Mundial. Para além disso, decidimos apresentar vários argumentos que permi-

tem justificar o facto de o racismo ser uma forma de etnocentrismo, o que o torna uma ati-

tude discriminatória e, portanto, condenável.

Para além de querermos informar a sociedade acerca desta problemática, o nosso

principal objectivo é levar as pessoas a olhar com outros olhos para as pessoas com diferen-

ças, sem que as discriminem, ou seja, pretendemos, acima de tudo, que o preconceito racial

seja destruído.

È necessário definir tanto etnocentrismo como racismo para conseguir estabelecer as

analogias e semelhanças que existem entre estes dois fenómenos, uma vez que o racismo é

uma atitude inserida no etnocentrismo, ou seja, sempre que se é racista é-se também etno-

cêntrico.

Etnocentrismo é a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e vali-

dade às normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade, ou seja, tem a sua origem na

tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios

padrões culturais, declarando os valores da sociedade a que pertencemos como valores uni-

versalizáveis, aplicáveis a todos os homens, isto é, dada a sua "superioridade" devem ser

seguidos por todas as outras sociedades e culturas.

Racismo é a atitude tida por aquele que tem algum tipo de preconceito em relação a

indivíduos de outras raças, podendo esta atitude variar desde uma pequena aversão ao conví-

vio com pessoas de determinadas raças até à crença na superioridade de uma raça sobre as

outras.

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Racismo como Forma de Etnocentrismo

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O Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso

próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os

outros são pensados e sentidos através dos nossos valores,

nossos modelos, nossas definições do que é a existência, pelo

que todas as outras sociedades são consideradas inferiores à

nossas, logo esta atitude é preconceituosa.

O choque gerador de etnocentrismo nasce, talvez, na

constatação das diferenças. De um lado, conhecemos um grupo

do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de

coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita

nos mesmos deuses da mesma forma, empresta à vida significa-

dos em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente,

deparamo-nos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas

como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não as reconhecemos como possíveis.

Para além disso, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no

mundo e, ainda que diferente, também existe. Deste modo, a diferença é ameaçadora, porque

fere a nossa própria identidade cultural. O monólogo etnocêntrico pode, pois, seguir um

caminho lógico mais ou menos assim: Como aquele mundo de doidos pode funcionar? Espan-

to! Como é que eles fazem? Curiosidade perplexa. Eles só podem estar errados ou tudo o

que eu sei está errado! Dúvida ameaçadora?! Não, a vida deles não presta, é selvagem, bárba-

ra, primitiva! Decisão hostil.

Este problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única socieda-

de. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os factos humanos, um daqueles de mais unanimida-

de, contudo, na nossa sociedade, revestiu-se de um carácter activista e colonizador com os

mais diferentes empreendimentos de conquista e destruição de outros povos. Durante o

século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos

nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poli-

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gamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo

de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado

como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas

que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do

homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero

entre as mulheres e orfandade entre as crianças. Embora o complexo de superioridade cultu-

ral não fosse um exclusivo dos Europeus, o domínio tecnológico, científico e militar da Euro-

pa, bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios

padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades

diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores, bárbaros e selva-

gens. Desta forma, os principais perigos do etnocentrismo residem precisamente no facto de

puderem desencadear crimes, massacres e extermínios, que aliados ás ambições económicas,

marcaram a nossa História Mundial.

È possível entender melhor a existência de etnocentrismo entre as várias sociedades

através do seguinte exemplo:

“Ao receber a missão de ir pregar junto aos selvagens um pastor se preparou durante dias

para vir ao Brasil e iniciar no Xingu seu trabalho de evangelização e catequese. Muito generoso,

comprou para os selvagens contas, espelhos, pentes, etc.; modesto, comprou para si mesmo apenas

um moderníssimo relógio digital capaz de acender luzes, alarmes, fazer contas, marcar segundos,

cronometrar e até dizer a hora sempre

absolutamente certa, infalível. Ao chegar,

venceu as burocracias inevitáveis e, após

alguns meses, encontrava-se em meio às

sociedades tribais do Xingu distribuindo

seus presentes e sua doutrinação. Tem-

pos depois, fez-se amigo de um índio

muito jovem que o acompanhava a todos

os lugares de sua pregação e mostrava-

se admirado de muitas coisas, especialmente do barulhento, colorido e estranho objecto que o pastor

trazia no pulso e consultava frequentemente. Um dia, por fim, vencido por insistentes pedidos, o pas-

tor perdeu seu relógio dando-o, meio sem jeito e a contra gosto, ao jovem índio.

A surpresa maior estava, porém, por vir. Dias depois, o índio chamou-o apressadamente para

mostrar-lhe, muito feliz, seu trabalho. Apontando seguidamente o galho superior de uma árvore altís-

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sima nas cercanias da aldeia, o índio fez o pastor divisar, não sem dificuldade, um belo

ornamento de penas e conta multicores, e no centro o relógio. O índio queria que o pastor comparti-

lhasse a alegria da beleza transmitida por aquele novo e interessante objecto. Quase indistinguível em

meio às penas e contas e, ainda por cima, pendurado a vários metros de altura, o relógio, agora

mínimo e sem nenhuma função, contemplava o sorriso inevitavelmente amarelo no rosto do pastor.

Fora-se o relógio.

Passados mais alguns meses o pastor também se foi de volta para casa. Sua tarefa seguinte

era entregar aos superiores seus relatórios e,

naquela manhã, dar uma ultima revisada na

comunicação que iria fazer em seguida a seus

colegas em um congresso sobre evangelização.

Seu tema: “A catequese e os selvagens”. Levantou-

se, deu uma olhada no relógio novo, quinze para as

dez. era hora de ir. Como que buscando uma ins-

piração de última hora examinou detalhadamente as paredes do seu escritório. Nelas, arcos, flechas,

tacapes, bordunas, cocares, e até uma flauta formavam uma bela decoração. Rústica e sóbria ao

mesmo tempo, trazia-lhe estranhas lembranças. Com o pé na porta ainda pensou e sorriu para si

mesmo. Engraçado o que aquele índio fizera com o seu relógio.”

Esta história, não necessariamente verdadeira, é bastante plausível, demonstrando

alguns dos importantes sentidos da questão do etnocentrismo.

Em primeiro lugar, neste choque de culturas, as personagens de cada uma fizeram,

obviamente, a mesma coisa. Privilegiaram ambos as funções estéticas, ornamentais, decorati-

vas de objectos que, na cultura do “outro”, desempenhavam funções que seriam principal-

mente técnicas. Para o pastor, o uso inusitado do seu relógio causou tanto espanto quanto

causaria ao jovem índio conhecer o uso que o pastor deu a seu arco e flecha. Cada um “tra-

duziu” nos termos de sua própria cultura o significado dos objectos cujo sentido original foi

forjado na cultura do “outro”.

Em segundo lugar, esta história representa o que se poderia chamar, se isso fosse pos-

sível, de um etnocentrismo “cordial”, já que ambos – o índio e o pastor – tiveram atitudes

concretas sem maiores consequências. Por vezes, o etnocentrismo implica uma apreensão do

“outro” que se reveste de uma forma bastante violenta. Como já vimos, pode colocá-lo como

“primitivo”, como “algo a ser destruído”, como “atraso ao desenvolvimento”, (fórmula, aliás,

muito comum e de uso geral na matança dos índios). Por exemplo, um famoso cientista do

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início do século, Hermann von Ihering, diretor do Museu Paulista, justificava o

extermínio dos índios Caingangue por serem um empecilho ao desenvolvimento e à coloniza-

ção das regiões do sertão que eles habitavam.

Em terceiro lugar, a história ensina ainda que o “outro” e sua cultura, da qual falamos na nos-

sa sociedade, são apenas uma representação, uma imagem distorcida que é manipulada como

bem entendemos. Por outras palavras, aqueles que são diferentes do grupo do eu – os diver-

sos “outros” deste mundo – por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representa-

dos pela óptica etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos.

Alguns livros afirmam que os índios eram incapazes de trabalhar nos engenhos de açú-

car por serem indolentes e preguiçosos. Ora, como aplicar adjectivos tais como “indolente” e

“preguiçoso” a alguém, um povo ou uma pessoa, que se recuse a trabalhar como escravo,

numa lavoura que não é a sua, para a riqueza de um colonizador que nem sequer é seu amigo:

antes, muito pelo contrário, esta recusa é, no mínimo, sinal de saúde mental. “Os índios anda-

vam nus.” Esta situação é outra que expressa escândalo nos livros e que na verdade esconde a

nossa noção absolutista do que deva ser uma roupa e o que, num corpo, ela deve mostrar e

esconder. Da mesma maneira, nada garante que os índios andem nus a não ser a concepção

que eles mesmos teriam de nudez e vestuário.

Assim são as subtilezas, violências, persistências do que chamamos etnocentrismo. Os

exemplos multiplicam-se no nosso quotidiano. A “indústria cultural” – TV, jornais, revistas,

publicidade, certo tipo de cinema, rádio – está, frequentemente, a fornecer exemplos de

etnocentrismo. No universo da indústria cultural é criado, sistematicamente, um enorme con-

junto de “outros” que servem para reafirmar, por oposi-

ção, uma série de valores de um grupo dominante que se

autopromove modelo da humanidade. A cultura industrial

confunde- -se, nesta concepção, com a Cultura Popular

autodenominando-se de pop. Todas as produções popula-

res podem tornar-se produto industrializado. Assim, a

Black Music norte- -americana da década de 60 pas-

sou de movimento de resistência dos negros contra o

apartheid para uma moda das discotecas. O protesto ori-

ginado nos guetos, através do hip hop, tornou-se sucesso

global com os rappers pops Eminem, 50 Cent, Sean Paul, Puff Dady... Desta forma difunde-se a

cultura pop pelo mundo, tornando-a sinónimo e padrão daquilo que é o sucesso, pelo que

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todas as pessoas que não a absorvem são discriminadas e postas à margem como

sendo culturalmente inferiores.

As nossas próprias atitudes frente a outros grupos sociais com os quais convivemos

nas grandes cidades são, muitas vezes, repletas de atitudes etnocêntricas. Rotulamos e apli-

camos estereótipos através dos quais nos guiamos para o confronto quotidiano com a dife-

rença. As ideias etnocêntricas que temos sobre as “mulheres”, os “negros”, os “empregados”,

os “homens das obras”, os “colunáveis”, os “doidos”, os “surfistas”, as “tias”, os “velhos”, os

“caretas”, os “vagabundos”, os “gays” e todos os demais “outros” com os quais temos familia-

ridade, são uma espécie de “conhecimento” um “saber” baseado em formulações ideológicas,

que no fundo transforma a diferença pura e simples num juízo de valor perigosamente etno-

cêntrico.

Mas, existem ideias que se contrapõem ao etnocentrismo. Uma das mais importantes

é o relativismo cultural. Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de

essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos a relativizar. Quando compreen-

demos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. Relativi-

zar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal,

mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença.

A nossa sociedade já vem, há alguns séculos, construindo um conhecimento ou, se qui-

sermos, uma ciência sobre a diferença entre os seres humanos - Antropologia Social. Diferen-

temente do saber de “senso comum”, o movimento da Antropologia é no sentido de ver a

diferença como forma pela qual os seres humanos deram soluções diversas a limites existen-

ciais comuns. Assim, a diferença não se equaciona com a ameaça, mas com a alternativa. Ela

não é uma hostilidade do “outro”, mas uma possibilidade que o “outro” pode abrir para o

“eu”.

Multiplicidade cultural e etnocentrismo

Como é de conhecimento geral existe uma grande diversidade de padrões e valores

culturais que traduzem a variedade de estilos de vida e culturas dos vários povos da terra,

como se exemplifica em seguida:

“É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de fami-

liares quando atingem uma idade avançada; os Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nes-

sas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as con-

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denam (pena de morte na Arábia Saudita). Em vários

países muçulmanos a poligamia é uma prática normal,

ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como

imoral e ilegal. Certas tribos da Nova Guiné consideram

que roubar é moralmente correcto; a maior parte das

sociedades condenam esse acto. O infanticídio é moral-

mente repelente para a maior parte das culturas, mas

algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi aboli-

da; algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um

membro qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.”

A multiplicidade de culturas que se encontram num mundo onde as distâncias são cada

vez menores traz assim o desafio da convivência entre os diferentes modos de vida. A relati-

vização destes pode inviabilizar a convivência entre os diferentes grupos culturais principal-

mente quando ocorrem choques entre as tradições. Para evitar a intolerância ou a imposição

de valores de uma cultura sobre outra, Stuart HALL (2003) propõe que as sociedades reco-

nheçam que:

1. O universal (conceitos, regras, leis e modos de vida válidos para todos) é um espaço para

negociação sem conteúdo predeterminado. Caso contrário, pode servir para legitimar a

opressão contra dominados.

2. Já as culturas particulares devem estar abertas para negociação com outras culturas. Nego-

ciar significa saber abrir mão equitativamente de alguns costumes ou símbolos de uma cultura

que impeçam a convivência com outras.

3. O constante encontro de diferentes modos de vida leva à hibridação cultural. Tradições,

significados, estilos são misturados de forma que não se pode mais invocar uma exclusividade

ou pureza cultural.

4. Em todas as culturas encontramos valores positivos e valores negativos.

5. Se certas normas e práticas nos parecem absurdas devemos procurar o seu sentido inte-

grando-as na totalidade cultural sem a qual são incompreensíveis.

6. O conhecimento metódico e descomplexado de culturas diferentes da nossa permite-nos

compreender o que há de arbitrário nalguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por

exemplo, por orientações religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar

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determinados valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações

sociais, com a natureza, etc.

Fora o caminho da negociação, resta, segundo Hall, a etnicidade que gera conflitos

entre os grupos e o subjectivismo liberal baseado nas escolhas individuas que não possibilitam

a sociabilidade. O desafio, no entanto, tornar-se maior quando vivemos em sociedades mar-

cadas pela exclusão social. Como então não ser etnocêntrico onde a própria compreensão

dominante de cultura entende preconceituosamente como sinónimo de intelectualidade ou

como mercadoria colocada à venda?

O racismo é a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá gran-

de importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras.

Existe a convicção de que alguns indivíduos e sua relação entre características físicas hereditá-

rias, e determinados traços de carácter e inteligência ou manifestações culturais, são superio-

res a outros. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré conce-

bidas onde a principal função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres humanos. A

crença da existência de raças superiores e inferiores foi utilizada muitas vezes para justificar a

escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que ocorreram

durante toda a história da humanidade.

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ESCALA DE MANIFESTAÇÃO INDIRETA DE PRECONCEITO

(Estimulada e única, em %) Concorda totalmente Concorda

em parte Discorda

em parte Discorda totalmente

1. Negro bom é negro de alma branca 2 pontos 1 ponto 1 ponto zero ponto 2. Uma coisa boa do povo brasileiro é a mistura de raças zero ponto 1 ponto 1 ponto 2 pontos 3. As únicas coisas que os negros sabem fazer bem são música e esporte 2 pontos 1 ponto 1 ponto zero ponto

4. Toda raça tem gente boa e gente ruim, isso não depende de cor

da pele zero ponto 1 ponto 1 ponto 2 pontos

5. Negro, quando não faz besteira na entrada, faz na saída 2 pontos 1 ponto 1 ponto zero ponto 6. Se pudessem comer bem e estudar, os negros teriam sucesso em qualquer profissão zero ponto 1 ponto 1 ponto 2 pontos

7. Se Deus fez raças diferentes é para que elas não se misturem 2 pontos 1 ponto 1 ponto zero ponto

ÍNDICE DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL

(Estimulada e única, em %) Total Branca Parda Preta Indígena Branca Não-

Branca

Percepção de discriminação na escola

Já sofreu discriminação 7 5 6 14 12 5 9 Não sofreu 93 95 94 87 88 95 92

Percepção de discriminação no trabalho

Já sofreu discriminação 8 5 8 18 8 5 11 Não sofreu 91 94 90 82 89 94 88

Percepção de discriminação pela polícia

Já sofreu discriminação 6 4 5 15 7 4 8 Não sofreu 93 96 96 85 93 96 92

Percepção de discriminação na saúde

Já sofreu discriminação 3 1 3 6 3 1 4 Não sofreu 97 99 97 94 97 99 96

Percepção de discriminação no lazer

Já sofreu discriminação 3 1 2 8 8 1 4 Não sofreu 97 99 98 92 92 99 96

Origens

As origens do racismo são bastante controversas. O fenômeno ocorre em todas as

etnias e países. Um exemplo típico de racismo ocorreu quando o Japão atingiu um desenvol-

vimento econômico e social equivalente aos países mais adiantados econômica e tecnologica-

mente do mundo. O povo japonês começou então a comportar-se de forma extremamente

racista em relação a outras nacionalidades, sendo que os estrangeiros em terras japonesas

não eram bem-vindos. Nas Américas, em especial nos Estados Unidos da América, o racismo

chega aos extremos contra os negros e contra os latinos, em especial no sul do país. Até a

década de 50, nos EUA, os negros eram enforcados em árvores, sem julgamento, sem que os

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autores destes assassinatos fossem punidos. Havia mesmo uma sociedade secreta,

a Ku Klux Klan, que se propunha a perseguir e "fazer justiçar pelas próprias mãos".

Antiguidade e Idade Média

Na antiguidade, entre romanos, gregos, egípcios e outros povos, as relações

eram sempre de vencedor e cativo. Estas existiam independentemente da raça, pois muitas

vezes povos da mesma matriz racial guerreavam entre si e o vencido passava a ser cativo do

vencedor, neste caso o racismo aproximava-se da xenofobia.

Por muito tempo o racismo permaneceu de uma forma mais xenofóbica do que racial

propriamente dita, permanecendo latente até a época de expansão das nações européias.

Com o avançar das conquistas territoriais e culturais dos povos europeus, ainda na

Idade Média não havia necessariamente o racismo na forma actual, o que havia era o senti-

mento de superioridade xenofóbico de origem religiosa. Isto ocorria devido ao poder político

da igreja cristã que justificava a submissão dos povos conquistados de forma a incorporá-los

na cristandade. Porém, àqueles que não se submetiam era aplicado o genocídio.

Renascimento

À medida em que a tecnologia foi avançando, a Europa iniciou a sua caminhada em

direção à conquista econômica e tecnológica sobre o planeta.

Começaram a surgir ideologias que tentavam justificavar o domínio europeu sobre as

demais regiões alegando existir na Europa uma raça superior que tinha sido destinada por

Deus e pela história a comandar o mundo e dominar as raças que não eram européias, por-

tanto, consideradas inferiores.

Chegada dos Conquistadores Portugueses a África

Quando houve os primeiros contactos entre conquistadores portugueses e africanos,

no século XV, não houve atritos de origem racial. Os negros e outros povos de África entra-

ram em acordos comerciais com os europeus, que incluíam o comércio de escravos que,

naquela época, era uma forma aceite de aumentar o número de trabalhadores numa socieda-

de e não uma questão racial.

No entanto, quando os europeus, no século XIX, começaram a colonizar o Continen-

te negro, encontraram justificações para impor aos povos colonizados as suas leis e formas de

viver. Uma dessas justificações foi a ideia errónea de que os negros eram uma "raça" inferior

e passaram a aplicar a discriminação com base racial nas suas colónias. O caso mais extremo

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foi a instituição do apartheid na África do Sul, em que essa discriminação foi

suportada por leis decretadas pelo Estado.

O Racismo no Brasil – Ameríndios e Negros

O surgimento do racismo no Brasil começou no período colonial, quando os portu-

gueses trouxeram os primeiros africanos negros, vindos principalmente da região onde atual-

mente se localizam a Nigéria e a Angola.

Os negros foram trazidos para o Brasil para serem escravos nos engenhos de cana de

açúcar, devido às dificuldades da escravização dos ameríndios. A Igreja Católica era contra a

predação dos ameríndios, pois queria evangelizá-los. Em contrapartida a Igreja não se opunha

à escravidão negra, pois acreditava que ao trazê-los de África para o Brasil seria mais fácil

cristianizá-los - neste sentido, o papa Nicolau V, em 1455, emitiu uma bula a favor da escravi-

zação negra por portugueses. Um mito muito divulgado é o de que a Igreja negava que negros

tivessem alma, o que vai contra factos como a canonização de santos negros como Santa Ifi-

gênia e São Elesbão, que viveram na Antiguidade. Montesquieu, pensador iluminista, acreditava

que os negros não tinham almas e que isto justificaria sua escravização.

A abolição da escravatura brasileira foi um processo lento do qual passou por varias

etapas antes sua concretização. Criaram-se leis com o intuito de retardar esse processo de

abolição como a lei do ventre livre e a do sexagenário entre outras, as quais pouco favore-

ciam os escravos.

Quando finalmente foi decretada abolição da escravatura não se realizaram projetos

de assistência ou leis para a facilitação da inclusão dos negros na sociedade, fazendo com que

continuassem a ser tratados como inferiores e a ter traços da sua cultura e religião marginali-

zados, criando danos aos afrodescendentes até os dias de hoje.

Racismo e Xenofobia

Muitas vezes o racismo e a xenofobia, embora fenômenos distintos, podem ser consi-

derados paralelos e de mesma raiz. Isto ocorre quando um determinado grupo social começa

a hostilizar outro por motivos torpes. Esta antipatia gera um movimento onde o grupo mais

poderoso e homogêneo hostiliza o grupo mais fraco, ou diferente, pois o segundo não aceita

seguir as mesmas regras e princípios ditados pelo primeiro. Muitas vezes, com a justificativa

da diferença física, que acaba por tornar-se a base do comportamento racista. “O ódio do

estrangeiro precede um sentimento violento de intolerância; em seguida, instala-se um senti-

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Racismo como Forma de Etnocentrismo

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mento de superioridade e acaba-se concluindo que ou outros não são ninguém,

não prestam para nada, não fazem nada de certo. É, então, que o racismo se instala…”,

segundo Georges Jean.

A tentativa de explicação da superioridade racial

No século XIX houve uma tentativa científica para explicar a superioridade racial atra-

vés da obra do conde de Gobineau, intitulada Essai sur l'inégalité des races humaines (Ensaio

sobre a desigualdade das raças humanas). Nesta obra o autor sustentou que da raça ariana

nasceu a aristocracia que dominou a civilização européia e cujos descendentes eram os

senhores naturais das outras raças inferiores.

Nazismo

Em 1899, o inglês Houston Stewart Chamberlain, chamado de O antropólogo do Kaiser,

publicou na Alemanha a obra Die Grundlagen des neunzehnten Jahrhunderts (Os fundamentos

do século XIX). Esta obra trouxe o mito da raça ariana novamente e identificou-a com o

povo alemão.

Alfred Rosenberg também criou obras que reforçaram a teoria da superioridade racial.

Estas foram aproveitadas pelo programa político do nazismo visando à unificação dos alemães

utilizando a identificação dos traços raciais específicos do povo dos senhores. Como a raça

alemã era bastante miscigenada, isto é, não havia uma normalidade de traços fisionômicos,

criaram-se então raças inimigas, fazendo desta forma surgir um sentimento de hostilidade e

aversão dirigido a pessoas e coisas estrangeiras. Desta forma, os nazistas usaram a xenofobia

associada ao racismo para a atribuição a indivíduos e grupos sociais de atos de discriminação

para amalgamar o povo alemão contra o que era diferente. A escravização dos povos da

Europa oriental e a perseguição aos judeus eram as provas pretendidas pelos nazistas da

superioridade da raça ariana sobre os demais grupos diferentes e raciais também.

Apartheid

O apartheid foi um dos regimes de discriminação mais cruéis de que se tem notícia no

mundo. Ele vigorou na África do Sul de 1948 até 1990 e durante todo esse tempo esteve

ligado à política do país. A antiga Constituição sul-africana incluía artigos onde era clara a

discriminação racial entre os cidadãos, mesmo os negros sendo maioria na população.

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Após a descoberta da África do Sul, a região foi povoada por holandeses,

franceses, ingleses e alemães. Os descendentes dessa minoria branca começaram a criar leis,

no começo do século XX, que garantiam o seu poder sobre a população negra. Essa política

de segregação racial, o apartheid, ganhou força e foi oficializada em 1948, quando o Partido

Nacional, dos brancos, assumiu o poder.

O apartheid, que quer dizer

separação na língua africâner dos

imigrantes europeus, atingia a habi-

tação, o emprego, a educação e os

serviços públicos, pois os negros

não podiam ser proprietários de

terras, não tinham direito de parti-

cipação na política e eram obrigados

a viver em zonas residenciais sepa-

radas das dos brancos. Os casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças diferentes

eram ilegais. Os negros geralmente trabalhavam nas minas, comandados por capatazes bran-

cos e viviam em guetos miseráveis e superpovoados.

Para lutar contra essas injustiças, os negros acionaram o Congresso Nacional Africano

- CNA, uma organização negra clandestina, que tinha como líder Nelson Mandela. Após o

massacre de Sharpeville, o CNA optou pela luta armada contra o governo branco, o que fez

com que Nelson Mandela fosse preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. A partir daí, o

apartheid tornou-se ainda mais forte e violento, chegando ao ponto de definir territórios tri-

bais chamados bantustões, onde os negros eram distribuídos em grupos étnicos e ficavam con-

finados nessas regiões.

A partir de 1975, a comunidade internacional e a Organização das Nações Unidas -

ONU faziam pressão pelo fim da segregação racial. Em 1991, o então presidente Frederick de

Klerk não teve outra saída: condenou oficialmente o apartheid e libertou líderes políticos,

entre eles Nelson Mandela.

A partir daí, outras conquistas foram obtidas: o Congresso Nacional Africano foi lega-

lizado, De Klerk e Mandela receberam o Prêmio Nobel da Paz (1993), uma nova Constituição

não-racial passou a vigorar, os negros adquiriram direito ao voto e em 1994 foram realizadas

as primeiras eleições multirraciais na África do Sul e Nelson Mandela se tornou presidente da

África do Sul.

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Genética

Embora existam classificações raciais propostas pelas mais diversas correntes científi-

cas, pode-se citar que a taxonomia referencia uma oscilação de cinco a duas centenas de

raças humanas espalhadas pelo planeta.

A separação racial torna-se completamente irracional em função das composições

raciais, das miscigenações, recomposições e padronizações a nível da espécie que houve des-

de o início da caminhada da humanidade sobre o planeta.

A genética demonstra que a variabilidade humana quanto às combinações raciais pode

ser imensa. Mas as diferentes adaptações ocorridas a nível racial não alteraram a sua estrutura

enquanto espécie.

Todas as raças provêm de um só tronco, o Homo sapiens, portanto o patrimônio

hereditário dos humanos é comum. E isto por si só não justifica o racismo, pois as raças não

são nem superiores, nem inferiores, são apenas diferentes.

Os trabalhos de geneticistas, antropólogos, sociólogos e outros cientistas do mundo

inteiro deitaram por terra toda e qualquer possibilidade de superioridade racial, e estes estu-

dos culminaram com a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

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Pessoas que marcaram a luta contra a discriminação racial

Martin Luther King

Foi um grande líder negro americano que lutou pelos direitos civis dos cidadãos, prin-

cipalmente contra a discriminação racial. Era pas-

tor e sonhava com um mundo onde houvesse

liberdade e justiça para todos. Foi assassinado a 4

de Abril de 1968, permanecendo a sua figura na

História da Humanidade como símbolo da luta

contra o racismo.

Foi assassinado por um homem branco.

Durante 14 anos, Martin Luther King lutou para

acabar com a discriminação racial no seu país e

nesse tempo ganhou o prêmio Nobel da Paz. Procurou sempre lembrar a todos e fazer valer

o princípio fundamental da Declaração da Independência Americana que diz que "Todos os

homens são iguais" e conseguiu convencer a maioria dos negros que era possível haver igual-

dade social. Alguns dias após a morte de Martin Luther King, o presidente Lyndon Johnson

assinou uma lei acabando com a discriminação social, dando esperanças ao surgimento de

uma sociedade mais justa de milhões de negros americanos. A terceira segunda-feira de janei-

ro é um feriado nacional em sua homenagem.

Malcolm X

"Não lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres

humanos. Lutamos por direitos humanos."

Malcolm X, ou El-Hajj Malik El-Shabazz, foi outra personalidade que se sobressaiu na

luta contra a discriminação racial. Ele não era

tão pacífico como Luther King, que era adep-

to da não-violência, entretanto foram con-

temporâneos e seus ideais eram bem pareci-

dos buscando a dignidade humana.

Desde cedo enfrentou a discriminação

e marginalização dos negros americanos, que

viviam em bairros periféricos, excluídos e

sem condições dignas de habitação, saúde e educação.

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Foi nesse cenário que Malcolm X se tornou um dos grandes líderes do

nosso tempo, dedicando-se à construção e organização do Movimento Islâmico nos Estados

Unidos (Black Muslim), defendendo os negros e a religião do islamismo.

Malcolm X foi um dos principais críticos do sistema americano. E por isso mesmo era

visto pela classe dominante como uma ameaça a esse sistema. No dia 21 de fevereiro de

1965, na cidade de Nova Iorque, foi assassinado por três homens, que dispararam 16 tiros

contra ele. Muitas de suas frases ficaram famosas. Veja alguns de seus pensamentos:

Sobre seu nome:

"Neste país o negro é tratado como animal e os animais não têm sobrenome".

Sobre os americanos:

"Não é o fato de sentar à sua mesa e assistir você jantar que fará de mim uma pessoa

que também esteja jantando. Nascer aqui na América não faz de você um americano".

Sobre a liberdade:

"Você só vai conseguir a sua liberdade se deixar o seu inimigo saber que você não está

fazendo nada para conquistá-la. Esta é a única maneira de conseguir a liberdade".

Nelson Mandela

"A luta é minha vida". A frase de Nelson Mandela, nascido em 1918, na África do Sul,

resume sua existência. Mandela dedicou sua vida à luta contra a discriminação racial e as injus-

tiças contra a população negra.

Foi o fundador da Liga Jovem do Congresso Nacional Africano, em 1944, e traçou uma

estratégia que foi adotada anos mais tarde pelo

Congresso na luta contra o apartheid. A partir daí

foi o líder do movimento de resistência a opressão

da minoria branca sobre a maioria negra na África

do Sul.

Ainda hoje, Nelson Mandela é símbolo de

resistência pelo vigor com que enfrentou os

governos racistas em seu país e o apartheid, sem

perder a força e a crença nos seus ideais, inclusive

nos 28 anos em que esteve preso (1962-1990),

acusado de sabotagem e luta armada contra o

governo. Nem mesmo as propostas de redução da pena e de liberdade que recebeu de presi-

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dentes sul-africanos ele aceitou, pois o governo queria um acordo onde o movi-

mento negro teria que ceder. Ele preferiu resistir e em 1990 foi solto. A sua liberdade foi um

dos primeiros passos para uma sociedade mais democrática na África do Sul, culminando com

a eleição de Nelson Mandela como presidente do país em 1994. Um facto histórico onde os

negros puderam votar pela primeira vez em seu país.

Ninguém tem direito de afirmar que a sua raça é superior a outra, pois isso não é cor-

recto, muito menos verdadeiro, trata-se de uma atitude preconceituosa e discriminatória que

dá pelo nome de Racismo. O racismo é uma forma de etnocentrismo, pois quando várias cul-

turas convivem/coabitam no mesmo espaço geográfico existe tendência para umas se valori-

zaram em relação às outras, provocando fenómenos de segregação social, discriminação das

minorias étnicas e raciais.

O racismo tem uma remonta origem e uma progressiva evolução, tendo-se originado

com os Descobrimentos. Nesta altura, os exploradores achavam que a sua raça era superior

às outras, que estes estavam acima dos povos estrangeiros, considerando-se, desta forma,

mais evoluídos, mais instruídos e mais civilizados, entre outras coisas, como se comprova

através de uma citação do livro “O Racismo contado às Crianças”: “(…) já no séc. XVI, quan-

do no rasto de Cristóvão Colombo descobriram os habitantes das Antilhas, os Espanhóis

interrogaram-se se esses “selvagens” seriam homens, na plena acepção da palavra. Devo, no

entanto, acrescentar que, pelo seu lado, os ditos “selvagens” também interrogaram se os

guerreiros que viam desembarcar, tão estranhamente vestidos eram criaturas humanas como

eles.” Um exemplo claro desta situação foi o que ocorreu no descobrimento do Brasil, pois

como é do conhecimento público o Brasil já era um país habitado, contudo os designados

“exploradores” consideraram-se no direito de escravizar os já habitantes daquele país, pois

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achavam-se superiores a estes. Deste modo, é legítimo afirmar que o racismo

apareceu quase simultaneamente à aversão pelos estrangeiros (xenofobia), como afirma

Georges Jean. “O ódio do estrangeiro precede um sentimento violento de intolerância; em

seguida, instala-se um sentimento de superioridade e acaba-se concluindo que ou outros não

são ninguém, não prestam para nada, não fazem nada de certo. É, então, que o racismo se

instala…”. Condena- -se plenamente a atitude racista, pois todas as raças têm as suas peculia-

ridades e as suas diferenças, tendo estas de ser respeitadas, pois não existe prova alguma que

demonstre a existência de superioridade racial. Por outro lado, existem diversos argumentos

que comprovam precisamente esta situação, isto é, que não existe nenhuma raça superior às

outras, muito pelo contrário.

Inicialmente, é necessário esclarecer o significado da palavra “raça”: “agrupamento

natural de indivíduos que apresentam um conjunto comum de caracteres hereditários, tais

como a cor da pele, os traços do rosto, o tipo de cabelo, etc., que definem variações dentro

da mesma espécie”, ou seja, segundo esta definição tirada de um dicionário de Língua Portu-

guesa da Porto Editora, cada espécie é constituída por indivíduos cujas diferenças não são

mais do que variações naturais da espécie, pelo que a existência de raças é algo que se deve à

Natureza, não algo que seja indicativo da superioridade de uma raça em relação a outra. Esta

situação pode ser observada em outras espécies animais como é o caso dos coelhos. Existem

coelhos brancos, outros pretos, outros castanhos, outros malhados, e outros há com outras

características, contudo, uma coisa é certa, eles não se discriminam devido às suas disseme-

lhanças, passando-se o mesmo entre macacos, cavalos, ratos, etc. Então questiona-se: qual é o

animal que está errado nos seus juízos, será o Homem ou todas as outras espécies de seres

vivos? Parece evidente que é o Homem, pois é o único ser que tem uma atitude atípica em

relação à variedade intraespecífica, o que sugere que os homens, estão errados. Pode-se con-

tra argumentar dizendo que os animais não são racionais, apenas o Homem o é, ao qual se

returque dizendo que apenas supomos que os animais são irracionais, pois não se sabe o que

estes pensam. Já Santo António, que era uma pessoa sábia, pregou aos peixes, pois os

Homens demonstraram ser mais irracionais que os peixes, o que vem apenas reforçar a ideia

de que os animais são mais “tolerantes” e “doutos” do que os homens e que a humanidade

deveria aprender com os animais.

Em seguida, contraria-se uma das tão utilizadas expressões racistas: “Todos os negros

[quem diz negro, diz cigano, chinês, caucasiano, etc.] são criminosos.” Estas expressão revela

claramente a atitude preconceituosa inerente ao racismo no que respeita à diversidade de

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raças, isto porque, ao dizê-la, o emissor considera que apenas as pessoas de

outras raças são “más”, excluindo automaticamente a sua. A frase citada pode ser facilmente

refutada se considerarmos que a maldade é uma característica humana e, como tal, todos os

homens, independentemente da sua raça, estão sujeitos a possuí-la. Todos sabem que existem

criminosos de todas as etnias, por isso, não se pode generalizar dizendo que todos os indiví-

duos de raça x são criminosos, não se pode estabelecer esse tipo de estereótipo, pois caso

contrário, todas as raças teriam fama de criminosas, uma vez que existem pessoas brancas tão

criminosas como pessoas negras, ou de outra raça qualquer. O que se quer deixar bem claro

é que a raça não é a chave da maldade, mas sim a educação, a personalidade, os princípios que

se têm, entre outros factores sociais, pois “a maldade não é uma questão de raça, de cor de

pele” como diz Georges Jean.

Por outro lado, assiste-se a uma crescente onda de racismo, pois as pessoas culpam-se

umas às outras pelos seus problemas e, hoje em dia, o bode expiatório são os emigrantes

ilegais ou não, as pessoas de outras raças. A sociedade culpa estas pessoas por lhes roubar

postos de trabalho ou até por terem determinadas regalias dos programas de apoio social do

governo que os beneficia em detrimento dos habitantes do país. Relativamente ao emigrante

ilegal, assiste-se, infelizmente, a uma dupla discriminação. A primeira deve-se ao empregador

que se aproveita da situação precária da mão-de-obra ilegal, contribuindo para agravar ainda

mais esta situação, paga-lhes salários baixos e confere-lhes poucas ou nenhumas condições de

trabalho, originando assim a chamada neoescravatura. A segunda discriminação faz-se sentir

por parte da população em geral, que se sente prejudicada em relação às oportunidades de

emprego. Já no que visa a certos apoios comunitários que são dados a estas pessoas, gera-se

uma onda de revolta na população, pois, como acontece em Portugal, não existe dinheiro

para dar apoios às famílias portuguesas, mas, para dar ajudas aos emigrantes, estas “caem do

céu”, sendo essas ajudas provenientes dos dinheiros públicos. Tendo em contas estas situa-

ções não é possível ficar indiferente à injustiça que se faz sentir em ambos os lados, sendo

que os ideais anti-racistas são abalados por estas ocorrências, pois existem sempre dois lados

da mesma moeda, logo ao apoiar-se um dos lados, o outro fica, automaticamente, a perder,

mesmo que tenha razão.

Em suma, o racismo é uma situação já bastante enraizada no nosso quotidiano, pelo

que é bastante complicado ficar indiferente aos dois lados da questão, contudo, pensa-se que

todas as pessoas devem ser aceites tal e qual como são, apesar das diferenças, como é defen-

dido na “Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação

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Racial” e na “Declaração Universal dos Direitos do Homem”. Considera-se que o

etnocentrismo é tão condenável quanto o racismo e a xenofobia, pelo que devem ser comba-

tidos da mesma forma. No entanto, considera-se que esta situação apenas pode ser ultrapas-

sada se todos se unirem contra estas posturas discriminatórias, pois todos nós, independen-

temente da raça, somos Homens e, como tal, devemos aprender com as diferenças uns dos

outros e viver em completa miscigenação, fazendo cumprir o mandamento do amor, por

Jesus ensinado: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.”.

De acordo com a informação desenvolvida ao longo deste trabalho foi possível ficar a

conhecer de perto o racismo e o etnocentrismo, tendo sido possível verificar que o racismo

é uma forma de etnocentrismo, pois quando se tem uma atitude racista perante um indivíduo

estamos a sobrepor os nossos valores, a nossa cultura à da outra pessoa, considerando-a

inferior.

Esperamos que este trabalho alerte as pessoas para as possíveis consequências do

racismo e do etnocentrismo. Esperamos ainda que este trabalho tenha convencido as pessoas

que é necessário mudar a nossa atitude discriminatória em relação às outras pessoas e socie-

dades, para que seja possível um convívio pacifico entre todos.

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Racismo como Forma de Etnocentrismo

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