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8 1 DEFININDO O PROBLEMA 1.1 Introduo 1.1.1 Contextualizao O sculo XX se caracterizou basicamente como o sculo da tecnologia. Nunca na histria a humanidade havia experimentado avanos to significativos em to pouco tempo. Os avanos da cincia, atuando de maneira mais notria e influente nos sculos XVIII e XIX, formaram uma base seminal slida, e prepararam o terreno para o que viria a ser a grande exploso tecnolgica do sculo XX, que absorveu propostas antigas, formulou novas possibilidades e deixou para o sculo XXI o desafio de seguir com a humanidade por um caminho tico, mas nem por isso menos sofisticado em matria de tecnologia. O processo continua, e de forma cada vez mais acelerada, com o emprego da tecnologia da informao entrando em uma nova fase evolutiva no sculo presente. A sociedade, at ento acostumada a lidar com barreiras fsicas, geopolticas, e scioeconmicas bem definidas, presencia um progressivo encurtamento das distncias, a gradual eliminao das fronteiras territoriais, a reduo das diferenas entre culturas, enfim, um cenrio favorvel para o processo de globalizao, no qual o mundo caminha para uma entidade uma. Mas no se pode esquecer que atravs dos tempos formaram-se conceitos que serviram de alicerce para as novas noes que aplicamos hoje. A velocidade de informao diminui hoje as barreiras entre os grupos sociais, aproximando-os mais, mas ao mesmo tempo distanciando as geraes de indivduos com lacunas/diferenas de conhecimento cada vez maiores em intervalos de tempo cada vez menores. E a sociedade, est preparada para acompanhar todo esse processo de transformao? Surge um novo mundo, uma nova ordem estrutural na qual na impossibilidade momentnea de sobrepujar o fator tempo - a noo de espao fsico, e seus respectivos efeitos - torna-se cada vez mais diluda. A rede mundial de computadores, a internet, j disponibiliza em termos prticos uma nova gama de relaes, com uma diversidade aparentemente infinita de interatividades humanas. Este mundo virtual, em sua marcha irrefrevel, parece no fazer concesses ao tempo para que se questione ou mesmo seja dada ateno preservao de 9 valores essenciais soluo de conflitos que certamente persistiro neste novo mundo, alm de outros, mais complexos, que surgiro, trazidos no bojo dessa revoluo tecnolgica. a que entra o desafio - talvez o maior do Direito. Como pacificar uma sociedade em cujo interior a idia de Estado se encontra cada vez mais diminuta? A definio ortodoxa estabelece que so necessrios territrio, nao e povo para que tenhamos Estado. No interior desse mundo virtual existe uma sociedade onde se verifica uma hierarquia, mas no se encontram as caractersticas de nao e territrio. H povo, na medida em que ele entendido como grupos de indivduos unidos em torno de algo em comum, mas no temos nao e soberania. Sem dvida testemunha-se um perodo de transio, e no h transio sem turbulncia. Sem buscar questionamentos mais profundos sobre as implicaes que esse processo de transio traz em seu bojo, segmentos organizados da sociedade procuram se inserir nesse novo contexto, lanando mo dos novos procedimentos que toda a tecnologia do momento oferece. A nova ordem afigura-se como um caminho sem volta, e aqueles que a ela se adaptaram mais prontamente caminharo frente no processo. Instituies herdeiras da tradio de Estado grande, onipresente e distante da sociedade, como diversos setores do servio pblico, vem no uso da tecnologia da informao em seus procedimentos a chance de se tornarem eficazes, eficientes e mais prximas de seus pblicos-alvo. O Poder Judicirio, tradicionalmente visto como o mais hermtico em relao sociedade, tem realizado investimentos de vulto na rea de tecnologia da informao, onde acredita que encontrar a soluo para questes como sua histrica morosidade e a ausncia

ou precariedade de um canal de comunicao efetivo com seus pblicos. Descrevendo uma trajetria ascendente, a informatizao do Judicirio trouxe benefcios significativos no que diz respeito armazenagem, o acesso e difuso dos dados dos autos do processo, naquilo que poderia resultar, no mdio e no longo prazo, numa maior celeridade na prestao jurisdicional. Enfim, encurtando as barreiras da comunicao, o Judicirio no ficaria excludo do novo cenrio. Mas novas necessidades surgem ao longo do caminho, e a idia do processo virtual, ou melhor ainda, processo eletrnico, vem ganhando vulto nos ltimos anos, como carro-chefe da ltima gerao de investimentos na rea de tecnologia da informao. J existe tecnologia 10 suficiente para sua implantao, e no mbito do Judicirio Trabalhista, esta realidade j se verifica em seis estados brasileiros (Santa Catarina, So Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pernambuco e Gois), com enfoques diferentes e de maneira isolada. A Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006, que dispe sobre a informatizao do processo judicial, embora com alguns atrasos e imperfeies, veio lanar as bases para uma uniformizao de procedimentos neste novo territrio, por cujo caminho envereda o Judicirio. Magistrados, procuradores e partes podero lidar com os autos do processo sem ter de manuse-los fisicamente, e as decises seriam divulgadas em mdia eletrnica, atravs do correio eletrnico ou nos portais das instituies, aos interessados cadastrados. Com a implementao dessas inovaes, o Judicirio espera ainda romper com a cultura organizacional de preservao do meio fsico - que encontra no papel seu representante mais expressivo - na armazenagem e acesso aos dados, e contribuir para a implantao e difuso de uma cultura organizacional virtual no servio pblico, cultura essa j amplamente difundida h muito nas organizaes privadas. A medida tem impacto positivo inclusive na preservao do meio ambiente, e coloca os Tribunais - e em uma perspectiva mais ampla, o servio pblico em geral - em sintonia com o panorama que se afigura para as futuras geraes de indivduos, potencialmente mais familiarizadas com o uso das novas tecnologias de informao. Cabe aqui estabelecer uma noo bem clara do que se entende por processo eletrnico. O termo se refere aos autos sem adoo de papel como veculo de apresentao, desde a protocolizao da petio inicial at sua extino. Por no utilizar o meio papel, o processo eletrnico possibilita seu acompanhamento de maneira rpida e prtica para magistrados, partes e procuradores, mediante condies rgidas de segurana preenchidas por todos os interessados, que devero portar certificao digital. A realidade predominante no momento a do uso de procedimentos eletrnicos, ou seja, o registro dos dados do processo e sua respectiva disponibilizao para acompanhamento em sistemas informatizados. O processo existe fisicamente, em meio papel, com todos os documentos a ele pertencentes. 11 Mas como o elemento humano se encontra inserido neste contexto? Indivduos de geraes mais antigas - e mesmo mais recentes - de servidores, advogados, magistrados e partes, ainda mostram resistncia em lidar com equipamentos da rea de informtica. Esse contingente no pode ficar margem da onda evolutiva que se apresenta. Como citado anteriormente, no h transio sem turbulncia; assim sendo, necessrio que haja cautela no sentido de no excluir aqueles que por alguma razo preferem a maneira tradicional de praticar e acessar os atos processuais. Vendo a questo internamente ao servio pblico, como se encontram os servidores? Esto preparados para absorver e se adaptar a toda essa nova cultura? A resistncia aqui pode ganhar contornos bem especficos, no apenas como desdobramentos dos j mencionados anteriormente, mas tambm como focos de manuteno da prpria natureza tradicionalista do servio pblico. A implantao do processo virtual, ou eletrnico, pode facilitar em muito o trabalho e eliminar o retrabalho em muitas das tarefas de rotina processual, mas pode eliminar

mais ainda o elemento humano das reparties pblicas, das secretarias das Varas do Trabalho, e do Distribuidor, ponto nevrlgico que representa o marco inicial da prestao jurisdicional, uma vez que recebe a petio inicial que d origem ao processo. Como o servidor pblico poder reagir s novas prticas caractersticas deste servio, mesmo inicialmente disponibilizado em carter opcional? Partindo dessa exposio, baseado na observao realizada atravs da experincia de trabalho adquirida desde antes e aps a informatizao em junho de 1992 da Seo de Distribuio de Feitos de Primeira Instncia do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro - a primeira seo do rgo a funcionar sob a nova estrutura de procedimentos; buscando elementos luminares nas noes de qualidade total, e considerando que todo procedimento para ser eficaz e eficiente, deve ser bem feito desde a primeira vez, ou seja, desde seu incio; e ainda levando-se em considerao a possibilidade real de implantao da petio inicial eletrnica, que dar origem ao processo eletrnico, busca-se responder seguinte questo: quais os aspectos positivos e negativos que trar o advento da petio inicial eletrnica nos procedimentos e na conduo do servio no Distribuidor de Feitos de Primeira Instncia do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro? Este o objetivo do presente trabalho. 12 1.2 Objetivo l.2.1. Objetivo Final O presente trabalho tem por objetivo final identificar os pontos positivos e negativos decorrentes da implantao do servio de recebimento da petio eletrnica no Distribuidor de Feitos de Primeira Instncia do Tribunal Regional do Trabalho da 1 Regio. Algumas perspectivas mereceram ateno especial: a humana, sob o ponto de vista do servidor pblico, dos magistrados e procuradores; a da estrutura de procedimentos administrativos de trabalho no Distribuidor, com foco no estudo comparativo entre padres administrativos existentes e futuros; e a cultural, com nfase na difuso dos novos valores e na potencial aceitao que a mudana organizacional obter, preparando o caminho para a formao de um novo sistema cultural que substituir o vigente sem desprezar alguns de seus conceitos bsicos. 1.2.2. Objetivos Intermedirios Traar um histrico das rotinas de servio essenciais do Distribuidor, desde pouco antes at a sua informatizao em junho de 1992, inaugurando a prtica de procedimentos eletrnicos; Investigar realidades existentes nas rotinas de servio das regies da Justia do Trabalho onde o processo eletrnico j se encontra implementado e tambm em outros rgos do Judicirio que funcionam na capital do Rio de Janeiro, como por exemplo, a Justia Federal; Descobrir at que ponto a implantao do servio de recebimento da petio inicial eletrnica vai propiciar uma maior qualidade no processo eletrnico que vai gerar como produto, guisa de uma maior preciso e melhor manuseio das informaes, eliminando ou reduzindo o retrabalho nas sees do TRT encarregadas do processamento dos dados no sistema; Identificar o cenrio em que se encontra a Primeira Regio (Comarca da Capital do Rio de Janeiro), no que diz respeito s condies de aceitao para lidar com o 13 novo modo operacional, que oferece segurana e agilidade, mas exige preciso no fornecimento dos dados; Expor luz das dicotomias fsico/virtual e humano/eletrnico as dificuldades do servio como ele feito atualmente, provenientes por imprecises de dados causadas pela limitao humana e do profissionalismo duvidoso, desde a confeco da petio inicial no escritrio de advocacia at o recebimento no

Distribuidor; Verificar, com base no nvel de aceitao, se magistrados, advogados e servidores esto realmente preparados para lidar com o novo modo operacional. 1.3 Hiptese Paralelamente ao problema de pesquisa do presente projeto, existe a hiptese de que a implantao do servio de recebimento da petio inicial eletrnica na 1 Regio da Justia do Trabalho trar para o dia-a-dia de servio um elenco de tarefas simples e de conferncia mais gil e precisa, oferecendo a advogados e funcionrios a possibilidade de um servio mais livre de erros e incoerncias, que no sistema atual, via meio fsico (papel), provocam prejuzos na prestao jurisdicional, como extines de feitos trabalhistas provocadas por simples imprecises de dados fornecidos. Pr prova essa hiptese, conforme detalhado no captulo reservado para as concluses, serviu de auxlio na consecuo dos objetivos a que se prope o presente trabalho. Para tanto, procurou-se delinear os novos ambientes de trabalho dentro e fora do Distribuidor de Feitos, expor e analisar criticamente as questes envolvendo o emprego da assinatura eletrnica por parte dos procuradores e magistrados, e de que maneira isso contribui no novo desenho das rotinas de trabalho em um escritrio de advocacia e no Distribuidor, para a partir da ter sustentada ou refutada a hiptese levantada. 1.4 Relevncia do Estudo O estudo a que se refere o presente projeto considerado relevante, na medida em que no h ainda extensa bibliografia sobre o assunto, e as poucas obras disponveis enfocam o processo eletrnico sob um ponto de vista jurdico, objetivando oferecer subsdios com vistas a uma possvel reformulao no estudo do Direito, qual seja, a criao de um novo ramo, o 14 Direito Eletrnico, ou Direito de Informtica. A denominao ideal deste novo campo ainda no se encontra consagrada entre os estudiosos do Direito, mas isto foge ao escopo do presente trabalho. A perspectiva jurdica funciona como balizador para que seja desenvolvida a perspectiva administrativa, na medida em que os textos legais forem determinando quais procedimentos devero ser adotados, e de que maneira a adaptao a esses procedimentos, face s dificuldades intrnsecas, dever ser conduzida, com identificao de pontos controversos de aplicao da lei servindo de exemplos, sempre tomando por base a situao atual, ou seja, antes do advento do peticionamento eletrnico, e projetando para a realidade hipoteticamente implementada. O que se pretende colocar aqui uma nfase na perspectiva administrativa, ou seja, procurar oferecer aos gestores elementos de auxlio para, luz da realidade do processo eletrnico, identificar pontos de estrangulamento na rede de procedimentos, verificar problemas de adaptao funcional s novas rotinas de trabalho, remodelar os padres administrativos e agregar valor a fim de que os Distribuidores que posteriormente passaro pela mesma transio alcancem de forma mais tranqila a consolidao da nova sistemtica. Outro ponto de anlise diz respeito ao percentual de utilizao do peticionamento eletrnico em relao ao universo de peties recebidas nos Distribuidores. Atravs de avaliao comparada entre os Regionais que utilizam o servio, e tambm considerando o desempenho em outros rgos do Poder Judicirio que funcionam na capital do Rio de Janeiro, espera-se descobrir onde se verificam as maiores e menores concentraes de uso do peticionamento eletrnico em relao ao volume total de peties recebidas, e a partir da projetar para o Distribuidor da Justia do Trabalho do Rio de Janeiro um esboo da potencial realidade. 15 2 PROCESSO ELETRNICO X PROCEDIMENTOS ELETRNICOS 2.1 Noes Preliminares Antes de serem colocadas em confronto as idias de processo eletrnico e procedimentos eletrnicos, convm chamar a ateno para atitudes que se encontram to

enraizadas no cotidiano que quase j no so percebidas. Procedimentos eletrnicos fazem parte de forma corriqueira da vida do ser humano, por exemplo, quando se seleciona um programa especfico na mquina de lavar, ou quando se programa o aparelho de televiso para desligar em determinada hora. O processo judicial, tal como conhecido, uma seqncia de atos coordenados na direo da soluo de conflitos judiciais; o meio pelo qual se faz atuar o exerccio da funo jurisdicional, ou como assinala Santos, citado por Clementino (2007, p.29), uma srie de atos coordenados tendentes atuao da lei, tendo por escopo a composio da lide". Grande parte desses atos coordenados j praticada em verso eletrnica, disponibilizada pelos sistemas de acompanhamento de processos utilizados nas diversas Casas do Poder Judicirio, em maior ou menor grau de abrangncia. At a informatizao do Tribunal Regional do Trabalho da 1 Regio, no havia procedimentos eletrnicos na rede de tarefas. Todo o servio era feito manualmente. A partir de junho de 1992 que se inauguram os primeiros procedimentos eletrnicos, e torna-se possvel a consulta processual via Sistema de Acompanhamento de Processos SAP. Mediante a distribuio via SAP, tramitaes automticas eram geradas e outras, medida que o processo tinha seguimento, eram introduzidas manualmente no sistema. Tal lgica corroborada por Wambier, citado por Almeida Filho (2007, p.142), ao asseverar que o procedimento (na praxe, muitas vezes tambm designado rito), embora esteja ligado ao processo, como esse no se identifica. O procedimento o mecanismo pelo qual se desenvolvem os processos diante da jurisdio. 2.1.1 Procedimentos Eletrnicos na 1 Regio Comparados com Outros Regionais Uma das principais limitaes do SAP era a de no funcionar em ambiente de rede, ou seja, usando a internet como plataforma. Em 2008, o SAP d lugar ao Sapweb, o primeiro 16 sistema de acompanhamento de processos totalmente em ambiente de rede no Judicirio trabalhista. Ainda em fase de ajustes, o Sapweb promete maior segurana no tratamento dos dados, acesso mais gil e transparncia dos dados aos interessados na prestao jurisdicional. Isso sem falar na disponibilidade para comportar no futuro o processo eletrnico, mas no momento o que existe no mbito do TRT da 1 Regio uma sofisticao maior nos procedimentos eletrnicos. Para Almeida Filho (2007), a informatizao judicial no Brasil trata-se de procedimento. Segundo o autor, se estivermos tratando de processo, a competncia para legislar exclusiva da Unio. Mas, em se tratando de procedimento, a legislao concorrente e, com isto, poderemos reviver, ainda que de forma branda, os Cdigos de Processo estaduais. Esse pensamento se justifica diante da norma inserida no art. 24, inciso X, da Constituio Federal, que prev a criao, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas. Embora o processo eletrnico ainda no se encontre implementado na 1 Regio (Rio de Janeiro), o autor assinala que nos Estados do Sul, os Juizados Especiais Federais j se encontram informatizados e com processamento exclusivo por meio eletrnico uma exceo no pas. Clementino (2007) ratifica Almeida Filho quando informa que o funcionamento do Processo Eletrnico j se encontra implantado no Tribunal Regional Federal da 4 Regio (TRF 4), que abrange os Estados do Paran, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por intermdio da Resoluo 13, de 11 de maro de 2004, que estabeleceu as normas no mbito de atuao dos Juizados. Este sistema, segundo o autor, j est funcionando nos Juizados Especiais Federais de Blumenau (SC), Florianpolis (SC), Londrina (PR), e Rio Grande (RS). No que diz respeito Justia do Trabalho, a 18 Regio (Gois) desenvolveu um sistema de distribuio de Cartas Precatrias totalmente eletrnico, que j se encontra implantado em vrios outros Regionais. um exemplo de experincia bem-sucedida adotado, com os devidos ajustes, conforme as necessidades especficas de cada Regional. 2.1.2 Aspectos Funcionais e Legais Aplicados Distribuio Eletrnica

Uma das inovaes do Sapweb, atualmente usado no mbito do TRT da 1 Regio, no tocante aos procedimentos eletrnicos, o conceito dos lotes de remessa. Uma vez distribuda a petio inicial, a localizao virtual da petio muda automaticamente, do 17 Distribuidor para a Vara do Trabalho contemplada pela distribuio, antes mesmo de l chegar fisicamente, sob a forma de processo inicial. H casos em que pode ocorrer o inverso, ou seja, o processo fsico chega Vara do Trabalho sem que tenha sido feito o lote de remessa. Nesse caso, por razes de segurana, o funcionrio da Vara no poder operar no processo via sistema. O Distribuidor dever ento proceder ao envio do lote com o processo em questo. O procedimento se aplica tambm para as redistribuies e o envio de documentos, e aponta na direo de maiores conferncia e segurana como referncia para localizar os autos e peties. No futuro, quando o processo eletrnico estiver funcionando de maneira consolidada, ser eliminada a confuso que a diferena entre localizaes virtual e fsica dos autos e peties venha a causar. Comentando o art. 10 da Lei 11.419/06, Alvim e Cabral Junior (2008), assinalam que a distribuio no apenas pode ser feita, mas deve ser feita pela forma eletrnica, porque o respectivo processo estar em condies de recepcionar o ato por essa forma e no pela forma tradicional de se fazer um processo. Para que seja distribuda, a petio inicial deve estar em formato digital, pois essa a forma que permite a sua insero no processo eletrnico, seja transmitida on-line, atravs do e-doc - o sistema de recebimento eletrnico disponibilizado nos stios eletrnicos de muitos Tribunais -, seja digitalizada, aps recebida fisicamente no meio papel, como, por exemplo, na Justia Federal da 2 Regio. Almeida Filho (2007, p. 149) afirma que [...] o Brasil adota, ainda que sob a terminologia equivocada, o procedimento eletrnico, como sendo processo eletrnico, ou pior ainda, processo virtual. Ainda de acordo com o autor, Poderemos caminhar para um processo eletrnico, mas ser preciso muitos anos at alcanarmos este objetivo. A pesquisa de campo que faz parte do presente trabalho demonstrar mais adiante o que pensam servidores, magistrados e advogados, os trs principais segmentos envolvidos pela nova sistemtica, acerca de quanto tempo ser necessrio para que o processo eletrnico substitua completamente ainda que em carter opcional o processo veiculado em meio papel. Decerto que o caminho pelo meio fsico dificilmente deixar de existir, mas o que vai haver no futuro ser uma inverso de valores: a regra geral ainda a do processo em meio fsico, com o processo eletrnico ainda incipiente, como servio disponibilizado em regime de opo. Futuramente, a regra geral ser a do processo eletrnico, com a materializao em 18 papel ocorrendo em situaes que o limitem ou o impeam, qual sejam, o envio de autos eletrnicos para um juzo que ainda no disponha da infra-estrutura necessria para o processo eletrnico (caso limitador) e a interrupo no fornecimento de energia eltrica (caso impeditivo), apenas para citar alguns exemplos. Interessante notar que no ltimo exemplo a materializao que vir a ser o servio opcional. O pargrafo 3 do art. 10 da Lei 11.419/06 dispe que Os rgos do Poder Judicirio devero manter equipamentos de digitalizao e de acesso rede mundial de computadores disposio dos interessados para distribuio de peas processuais. Alvim e Cabral Junior (2008) assinalam que embora se fale em distribuio de peas processuais, trata-se, na verdade, de remessa dessas peas, porquanto a distribuio diz respeito a uma especial pea do processo eletrnico, que a petio inicial. 2.2 Documento Eletrnico Uma definio inicial de documento poderia regredir ao latim documentum, segundo Santos, citado por Clementino (2007), derivando do verbo doceo, que significa ensinar, mostrar, indicar. Em outras palavras, segundo o autor citado, significa uma coisa que tem em si a virtude de fazer conhecer outra coisa. Santos acrescenta ainda que um documento pode ser representativo de idias ou fatos.

Em sentido amplo, de acordo com Gico Junior, citado por Parentoni (2007, p.32), [...] qualquer base de conhecimento, fixada materialmente e disposta de maneira que se possa utiliz-la para extrair cognio do que est registrado. Parentoni lembra que em sentido amplo, portanto, a definio de documento abrange tanto textos escritos quando objetos grficos, ainda que no tenham valor jurdico. Nessa acepo, consideram-se como documento, por exemplo, fotografias, filmagens, escritos, dentre outros. Citando Greco Filho, Clementino (2007, p.91) esclarece que:O documento liga-se idia de papel escrito. Contudo, no apenas os papis escritos so documentos. Documento todo objeto do qual se extraem fatos em virtude da existncia de smbolos, ou sinais grficos, mecnicos, eletromagnticos etc.

19 Como se depreende desta idia, qualquer suporte material onde estejam registrados caracteres, sinais grficos, cinematogrficos, sonoros, smbolos ou letras seria um documento. Indo mais adiante no raciocnio, fitas magnticas, filmes fotogrficos e cinematogrficos, cartes e CDs/DVDs para armazenamento de imagens tambm podem ser considerados documentos, desde que reproduzidos em aparelho prprio. Almeida Filho e Castro (2005) conceituam documento eletrnico como toda e qualquer representao de um fato, decodificada por meios utilizados na informtica, nas telecomunicaes e demais formas de produo ciberntica, no perecvel e que possa ser traduzido por meios idneos de reproduo, no sendo admitido, contudo, aquele obtido por meio de designer grfico. Os autores denominam estes como documentos reproduzidos no chamado cut and paste, onde h possibilidade de cpia de um documento obtido atravs de qualquer meio e trabalhado com avanados programas de designer grfico. De acordo com Marques (2006), busca-se, no mbito jurdico, conceituar o documento como sendo o instrumento atravs do qual objetiva-se provar a existncia de algum fato. Citando Chiovenda, o autor assinala que documento, em sentido amplo, toda representao material destinada a reproduzir determinada manifestao do pensamento, como a voz fixada duradouramente (vox mortua). Parentoni (2007) aduz que quanto forma dos atos praticados no seio do procedimento eletrnico, a Lei 11.419/06 impe, como requisito de validade, que sejam assinados digitalmente, segundo as normas traadas pela Medida Provisria 2.200-2 e pelo Comit Gestor da Infra-Estrutura de Chaves Pblicas Brasileira (ICP-Brasil). Conforme Pellegrini, Dinamarco e Cintra, citados por Almeida Filho (2007, p. 149):Terminologicamente muito comum a confuso entre processo, procedimento e autos. Mas, como se disse, procedimento mero aspecto formal do processo, no se confundindo conceitualmente com este; autos, por sua vez, so a materialidade dos documentos em que se corporificam os atos do procedimento. Assim, no se deve falar, por exemplo, em fases do processo, mas do procedimento; nem em consultar o processo, mas os autos. Na legislao brasileira, o vigente Cdigo de Processo Civil o nico diploma que se esmerou na preciso da linguagem.

20 Marques, J., citado por Marques (2006, p. 122), diz que documento a prova histrica real, visto que representa fatos e acontecimentos pretritos em um objeto fsico, servindo assim de instrumento de convico. Marques (2006) afirma que os documentos eletrnicos possuem os mesmos elementos de um documento escrito em suporte de papel, contendo, entretanto, os seguintes aspectos: a) constam em suporte material (disquete, circuitos, chips de memria, redes); b) contm uma mensagem, que est escrita em linguagem convencional de dgitos binrios ou bits, entidades magnticas que os sentidos humanos no podem perceber diretamente; c) esto escritos em um idioma ou cdigo determinado; d) podem ser atribudos a uma pessoa determinada com a qualidade de autor, mediante uma assinatura digital ou chave eletrnica. Brasil, citada por Marques (2006, p. 127), define documento eletrnico como

representao de um fato concretizado por meio de um computador e armazenado em programa especfico capaz de traduzir uma seqncia da unidade internacional conhecida como bits. Clementino (2007) ressalta que a certeza da autenticidade deve ser uma caracterstica que diga respeito pessoa do signatrio do documento e no de um equipamento que este utilize. necessrio que, no Processo Judicial Eletrnico, tenha-se absoluta certeza de que o remetente indicado seja efetivamente o signatrio daquele documento eletronicamente produzido e transmitido. O mesmo autor chama ainda a ateno para o fato de que a questo relativa data do documento eletrnico no padece das mesmas dificuldades que ocorrem com os documentos tradicionais. O art. 370 do Cdigo de Processo Civil traz uma srie de regramentos que devem ser obedecidos quanto aferio da data de assinatura de um documento particular, o que desnecessrio em relao ao documento eletronicamente assinado, que j traz automaticamente embutida a respectiva data de produo/assinatura, o que no se aplica aos documentos meramente digitalizados. 21 Pinheiro (2008) assinala que a problemtica da substituio do papel mais cultural que jurdica, uma vez que o Cdigo Civil prev contratos orais e determina que a manifestao de vontade pode ser expressa por qualquer meio. A autora acrescenta que para que haja finalmente o desapego ao papel preciso criar uma nova metodologia para certificao de documentos e de assinaturas com formato digital. O documento em papel ainda nos transmite sensao de proteo e segurana, ao menos do ponto de vista emocional. 2.2.1 Fundamentao Terica do Documento Eletrnico na Lei 11.419/06 Em se tratando de um documento, e levando-se em considerao o fato de que boa parte das transaes comerciais eletrnicas que envolvem bens e servios processada hoje em dia por meio de um contrato de adeso, Parentoni (2007) relaciona quatro teorias que procuram determinar o momento exato da formao desse tipo de contrato atravs de um documento eletrnico e, em conseqncia, a validade do documento eletrnico que quele d forma. A primeira teoria, a da Cognio, prescreve que o pacto se forma quando o proponente toma conhecimento da aceitao. No basta que a aceitao tenha sido recebida, preciso que quem faz a proposta leia e tome conhecimento da aceitao. Da decorre que o proponente pode adiar indefinidamente a formao do negcio, bastando para isso que ele se recuse a ler a aceitao, o que d margem a fraudes. De maneira oposta, posiciona-se a Teoria da Declarao, ou Agnio. Esta teoria considera concludo o contrato no momento em que o aceitante escreve a resposta afirmativa, antes mesmo de envi-la ao proponente. Parentoni (2007) assinala que aqui tambm h margem a fraudes, pois pode haver pacto em vigor sem que o proponente tenha cincia disto. Citando Pereira, o autor mostra que [...] peca do defeito de impreciso, por no haver um meio certo de determinar o policitante quando o fato ocorra. Situando-se entre essas teorias que delimitam os extremos, h duas outras. A Teoria da Expedio considera perfeito o negcio quando a aceitao enviada ao destinatrio. O problema aqui, da mesma forma que o que ocorre com a Teoria da Declarao, que torna-se necessrio certificar-se de que a outra parte efetivamente recebeu a aceitao. No basta enviar o documento. Um exemplo peculiar o do e-mail. No se pode considerar o negcio perfeito com o simples envio da mensagem. 22 Finalizando, a Teoria da Recepo prope que o vnculo jurdico formado quando o proponente recebe a aceitao. Estando a mensagem no campo de domnio do proponente, no necessria a efetiva leitura da mensagem, conforme previsto na Teoria da Cognio, pois a sua leitura possvel. Como aqui no se constatam quaisquer vcios, reputa-se esse entendimento prefervel em relao aos demais. Importante ressaltar que de maneira especfica em relao prtica de atos

processuais em meio eletrnico, a Lei 11.419/06 adotou a Teoria da Recepo. 2.3 Assinatura Eletrnica A assinatura eletrnica, conforme cita Parentoni (2007), um modo de garantir que o documento proveniente de seu autor e que seu contedo est ntegro, pois a criptografia assimtrica cria um vnculo entre a assinatura e o corpo do documento. A criptografia, segundo Zimmermann, citado por Parentoni (2007, p. 20), nada mais do que a arte de escrever em cifras ou cdigos, com a utilizao de algoritmos matemticos que cifram a mensagem, tornando-a ininteligvel para os que no possuem a chave para decodific-la. Citando Gueiros, Parentoni (2007, p. 21) aduz que o sistema de criptografia assimtrica utiliza uma chave pblica, de conhecimento de todos, e outra privada, de conhecimento apenas do emissor, pelo que com a decodificao pela chave pblica tem-se a certeza de que o documento autntico. A chave pblica a chave de um par chaves criptogrficas que divulgada pelo seu dono e usada para verificar a assinatura digital criada com a chave privada correspondente ou, dependendo do algoritmo criptogrfico utilizado, para cifrar e decifrar mensagens. A chave privada a chave de um par de chaves mantida secreta pelo seu dono e usada no sentido de criar assinaturas para cifrar mensagens com as chaves pblicas correspondentes. As chaves criptogrficas so um par de chaves (pblica e privada) matematicamente relacionadas, que utilizam a criptografia assimtrica. A fim de que se entenda melhor o exposto no pargrafo anterior, cifrao, de acordo com Clementino (2007), o processo de transformao de um texto original (plaintext) em uma forma incompreensvel (ciphertext), usando um algoritmo criptogrfico e uma chave criptogrfica. A decifrao o processo inverso da cifrao. 23 Parentoni (2007) assevera que a criptografia assimtrica uma modalidade de criptografia que utiliza um par de chaves distintas e independentes, denominadas chaves pblica e privada, de modo que a mensagem codificada por uma das chaves s possa ser decodificada com o uso da outra chave do mesmo par. Citando Pinto, a criptografia simtrica, por seu turno, consiste na utilizao da mesma chave para cifrar e decifrar a mensagem. Atualmente, a criptografia simtrica se vale de complexas frmulas matemticas, mas na essncia, obedece ao mesmo princpio seguido pela criptografia assimtrica. Importante destacar, conforme Clementino (2007), que o Brasil adotou a criptografia assimtrica como mecanismo de proteo ao sigilo das comunicaes eletrnicas com a edio da Medida Provisria 2.200 (segunda edio), de 24 de agosto de 2001, publicada no Dirio Oficial de 27 de agosto do mesmo ano, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Pblicas Brasileira ICP-Brasil, transformando o Instituto Nacional de Tecnologia da Informao em autarquia, dentre outras providncias. A assinatura digital, de acordo com Marques (2006), um mtodo que garante que determinada mensagem no seja alterada durante seu trajeto. Esse processo envolve criar a mensagem, cifr-la e envi-la conjuntamente, tanto a mensagem original como a cifrada. Uma vez recebidas, o destinatrio compara o contedo das duas mensagens, para certificar-se de que no houve alterao. Alvim e Cabral Junior (2008) assinalam que a adoo desse sistema de transmisso de dados permite que qualquer pessoa, seja ou no advogado, possa faz-la em nome e por conta do remetente, dispensando assim papel e assinatura, pelo que desaparecero as peties apcrifas, que so protocoladas sem que tenham sido assinadas pelos advogados. Almeida Filho (2007) distingue assinatura digital de assinatura digitalizada afirmando que a assinatura digital processo de encriptao de dados, ao passo que a assinatura digitalizada aquela obtida por processo de digitalizao material, atravs de um scanner ou aparelho similar. O autor ressalta ainda que todos os sujeitos do processo devero possuir certificado de assinatura digital, a fim de garantir segurana e confidencialidade dos dados transmitidos pela internet. Parentoni (2007) corrobora o raciocnio, acrescentando que aquilo que se chama de assinatura digitalizada, na verdade, no uma assinatura, mas simples

24 cpia, que pode ser extrada por qualquer um. Por isso, no serve para comprovar a autoria e integridade do documento. Almeida Filho (2007) relata que:A assinatura digital uma modalidade de assinatura eletrnica, resultado de uma operao matemtica que utiliza algoritmos de criptografia assimtrica e permite aferir, com segurana, a origem e a integridade do documento. A assinatura digital fica de tal modo vinculada ao documento eletrnico subscrito que, ante a menor alterao neste, a assinatura se torna invlida. A tcnica permite no s verificar a autoria do documento, como estabelece tambm uma imutabilidade lgica de seu contedo, pois qualquer alterao do documento, como por exemplo a insero de mais um espao entre duas palavras, invalida a assinatura.

O autor destaca ainda que algumas prticas devem ser rigorosamente adotadas para a insero do processo eletrnico no Brasil: a) criao de sistemas, atravs de software livre e com distribuio gratuita, para os usurios, preferencialmente a nvel nacional; b) somente admitir que os sistemas se utilizem de chaves para assinatura digital; c) adoo do documento eletrnico. Almeida Filho (2007) aponta o Gerenciamento Eletrnico de Documentos GED como de grande valia para que os trs elementos propostos sejam utilizados. Com a utilizao do GED, segundo o autor, nos termos da Norma ABNT n 27001/2006, todo o processamento de dados no processo eletrnico e a verificao da integridade dos documentos sero automticos, impedindo, desta forma, a adulterao de qualquer material inserido nos autos do procedimento eletrnico. 2.4 Certificao Digital Os certificados digitais funcionam como identidades eletrnicas, emitidas por uma autoridade representada por rgo de confiana do governo. Assim, as Autoridades Certificadoras (AC) garantem a identidade dos usurios para os quais emitem certificados digitais, com o aval do governo. 25 Um certificado digital nada mais do que um arquivo binrio. Alm de uma chave pblica, ele contm o nome e as informaes de identificao do portador. No caso de certificados pertencentes Infra-Estrutura de Chaves Pblicas do Brasil - ICP-Brasil, a validao somente feita na presena daquele que ser identificado, que dever apresentar ainda alguns documentos para que sejam geradas as chaves, como carteira de identidade, CPF, ttulo de eleitor, e comprovante de residncia. Com isso, ele comprova para as pessoas e aplicaes com as quais se deseja interagir, a quem pertence aquela chave pblica. Os certificados digitais contm ainda o nmero de srie, a data de validade e informaes sobre os direitos, usos e privilgios associados ao certificado. Finalmente, o certificado digital contm informaes sobre a autoridade certificadora (AC) que o emitiu. Organizaes, servidores, roteadores e outras entidades tambm podem possuir certificao digital. Todos os certificados so assinados digitalmente com a chave privativa da Autoridade Certificadora. A fim de evitar a falsificao de certificados, as Autoridades Certificadoras devem oferecer garantia de proteo da chave privativa. Disso depende toda a segurana do sistema de gerao de certificados, bem como das demais aplicaes que venham a utilizar certificao digital. O Brasil utiliza como padro na utilizao de certificados o adotado pela InfraEstrutura de Chaves Pblicas Brasileira ICP-Brasil. Esta autoridade certificadora observa um procedimento normatizado para gerenciamento de certificados digitais, visando garantir integridade, privacidade, autenticao e aceitao em transaes eletrnicas feitas por entidades finais. A ICP-Brasil foi instituda pela Presidncia da Repblica atravs da Medida Provisria 2200-2, de 24 de agosto de 2001. A Resoluo n 2 do Comit Gestor da ICP-Brasil estabeleceu as diretrizes de

segurana a serem adotadas pelas entidades participantes dessa Infra-Estrutura de Chaves Pblicas. Requisitos como segurana humana, lgica, fsica e de recursos criptogrficos so prioridade. A resoluo especifica ainda que devem ser realizadas auditorias peridicas nas entidades integrantes, a fim de garantir maior segurana comunidade de usurios. Esse elevado nvel de controle e segurana - pioneirismo da ICP-Brasil -, superior ao das demais 26 Autoridades Certificadoras, um dos principais fatores que justificam a sua adoo por parte do governo brasileiro. 27 3 ORGANIZAO JUDICIRIA DO TRT 1 REGIO COM FOCO NO DISTRIBUIDOR 3.1 Breve Histrico A Seo de Distribuio de Feitos o Distribuidor - existe na Justia do Trabalho da capital desde a sua implantao e regulamentao, tendo recebido vrias denominaes ao longo dos anos, conforme a estrutura organizacional do Regional do Rio de Janeiro foi sofrendo mudanas. O Decreto 6.596, de 12 de dezembro de 1940, aprovou o regulamento da Justia do Trabalho, e determinou a criao das primeiras seis Juntas de Conciliao e Julgamento as JCJs. Progressivamente, com o passar dos tempos e com a maior complexidade das relaes de emprego, o nmero de demandas de natureza trabalhista foi aumentando, e isso se traduziu na criao peridica de novas Juntas. J em 1945, o nmero de Juntas na capital do Rio de Janeiro que poca era o Distrito Federal - era de nove, de acordo com o Decreto-Lei 8.087, de 15 de outubro de 1945. A Lei 2.694, de 24 de dezembro de 1955, criou mais seis JCJs; a Lei 3.610, de 11 de agosto de 1959 elevou o nmero de JCJs para vinte. Este quantitativo seria novamente aumentado onze anos depois, conforme a Lei 5.633, de 02 de dezembro de 1970, que elevou o total de JCJs para vinte e cinco. Em 1978, de acordo com a Lei 6.563, de 19 de setembro de 1978, o total de JCJs iria para trinta e cinco. Na dcada seguinte, a Lei 7.471, de 30 de abril de 1986, criou mais cinco JCJs, elevando o total para quarenta. Mais dez JCJs seriam criadas pela Lei 7.729 de 16 de janeiro de 1989, deixando o TRT da 1 Regio com cinqenta e uma JCJs na comarca da capital. Nos anos 1990, a Lei 8.432, de 11 de junho de 1992, elevou o total para setenta e trs JCJs com a criao de mais vinte e duas a maior taxa de incremento em criao de JCJs. Finalmente, a Lei 10.770, de 21 de novembro de 2003, criou mais nove Varas do Trabalho denominao que veio substituir a das Juntas de Conciliao e Julgamento, deixando o total nas oitenta e duas Varas do Trabalho que funcionam nos dias atuais. Importante ter em mente que JCJs e Varas do Trabalho tambm foram sendo criadas nas cidades do interior da 1 Regio. Assim, Petrpolis e Campos dos Goytacazes tiveram suas Juntas nicas e conseqentemente ainda sem Distribuidor de acordo com o Decreto28 Lei 5.926, de 26 de outubro de 1943. Duque de Caxias, Nova Friburgo, Nova Iguau e Volta Redonda ganharam suas primeiras Juntas nicas conforme o disposto na Lei 3.610, de 11 de agosto de 1959. Nos anos 1970, Duque de Caxias e Nova Iguau passaram a funcionar com o Distribuidor a partir da Lei 5.633, de 02 de dezembro de 1970. Esta mesma lei criou ainda Juntas nicas em Itaperuna, So Gonalo e Trs Rios. A Lei 6.563, de 19 de setembro de 1978, criou Juntas nicas nas cidades de Araruama, Barra do Pira, So Joo de Meriti e Terespolis. Duque de Caxias, Niteri e Nova Iguau ganharam mais uma JCJ, ficando com trs cada. Petrpolis e Volta Redonda ganharam suas segundas JCJs e conseqentemente o Distribuidor. Maca ganhou sua primeira JCJ nos anos 1980, conforme a Lei 7.471, de 30 de abril de 1986, que criou em Petrpolis e Volta Redonda suas segundas JCJs, passando assim a funcionar com o Distribuidor. A Lei 7.471, de 30 de abril de 1986, criou em So Gonalo sua segunda JCJ e conseqentemente o Distribuidor. A Lei 7.729, de 16 de janeiro de 1989,

criou JCJs nicas nas cidades de Angra dos Reis, Itabora, Itagua, Mag e Nilpolis. A 1 Regio ficaria ainda mais modificada pela Lei 8.432, de 11 de junho de 1992, que criou JCJs nicas em Cabo Frio, Cordeiro e Resende, alm de criar mais uma JCJ em Campos dos Goytacazes agora com Distribuidor -, trs em Duque de Caxias, uma em Niteri, duas em Nova Iguau, uma em So Gonalo e uma em So Joo de Meriti. Finalmente, o sculo XXI assiste s primeiras criaes de Varas do Trabalho com a Lei 10.770, de 21 de novembro de 2003, que incluiu Barra Mansa no rol das cidades onde h Judicirio Trabalhista, com sua primeira Vara do Trabalho. Alm disso, a mesma lei cria mais uma VT em Cabo Frio a partir de ento com Distribuidor -, uma em Campos dos Goytacazes, uma em Duque de Caxias, uma em Maca tambm agora com Distribuidor -, trs em Niteri, uma em Nova Iguau, uma em So Gonalo e uma em Volta Redonda. Atualmente, encontram-se sem Distribuidor, ou seja, funcionando com Varas nicas, as cidades de Angra dos Reis, Araruama, Barra do Pira, Barra Mansa, Cordeiro, Itabora, Itagua, Itaperuna, Mag, Nilpolis, Nova Friburgo, Resende, Terespolis e Trs Rios. 29 3.2 Funcionamento Pr-Informatizao do Distribuidor At junho de 1992, o TRT da 1 Regio no dispunha de uma estrutura informatizada capaz ao menos de viabilizar procedimentos eletrnicos para acompanhar o andamento dos processos trabalhistas. No que se pode classificar como um sinal inequvoco de atraso em relao situao verificada nas prticas da iniciativa privada, o uso do computador no existia. O advento da internet ainda era uma novidade, e sua utilizao, tanto nas empresas privadas como nos lares, muito distante da dimenso que possui hoje. O recebimento das peties iniciais era realizado da mesma maneira como ainda feito hoje, ou seja, com um relgio datador eltrico/mecnico funcionando no balco. O nmero de protocolo, bem como a data e o horrio de recebimento, eram informaes muito importantes, pois distinguiam uma petio de outra, em caso de peties com os mesmos nomes das partes, protocoladas em momentos diferentes, uma vez que o nmero do processo s seria definido na Junta de Conciliao e Julgamento contemplada com a distribuio. Para garantir uma distribuio realmente aleatria, procedia-se a um sorteio dirio. Um globo com bolinhas numeradas at a ltima numerao de Junta existente poca, do mesmo tipo daqueles utilizados nas casas de bingos, mediante sorteio, determinava a distribuio. Faziam-se grupos, em pilhas, de tantas peties quantas fossem as Juntas existentes, sempre guardando a ordem seqencial de nmero de protocolo do dia. Isso garantia que todas as Juntas obtivessem ao menos uma distribuio diria. O sorteio era feito no incio de cada dia para a primeira petio de cada pilha, e a partir da as peties seguintes desta mesma pilha tinham suas distribuies determinadas em seqncia. Por exemplo, se no dia do sorteio, havendo 51 Juntas, a primeira Junta contemplada foi a 25, a petio seguinte seria distribuda para a 26 JCJ; a seguinte, para a 27 JCJ, e assim por diante, at a 51 petio inicial, a do final da pilha, quando ento era feito novo sorteio no globo para determinar a distribuio da primeira petio da pilha seguinte, e assim sucessivamente at esgotarem-se as pilhas de peties iniciais. No exemplo em questo, teriam sido feitos 51 sorteios no globo. Havendo necessidade, dependendo da quantidade de peties recebidas e do andamento do servio, outros sorteios eram realizados durante a tarde. 30 Um dado importante que, como no se dependia de energia eltrica para colocar em funcionamento um sistema informatizado de distribuio o que descartava a possibilidade de mal funcionamento ou lentido -, no havia necessidade de reiniciar diariamente a numerao do relgio datador, tal como feito atualmente, para se ter idia do ponto em que se encontra a distribuio em relao ao montante de peties iniciais recebidas. Outro dado importante que ainda no havia distribuio em quantidade expressiva de Cartas Precatrias; em virtude disso, seus sorteios eram realizados em separado. As precatrias eram agrupadas por tipo de carta (citatria, executria, inquiritria, notificatria

entre outros), e distribudas seguindo esse critrio. Assim sendo, no era necessrio que elas tivessem nmeros de protocolo. A distribuio era feita por ordem de chegada, via malote. Os casos de impedimento de juzes de Juntas, seja em relao parte, seja em relao ao advogado funcionando na petio inicial, eram solucionados a posteriori, ou seja, quando uma petio retornava da Junta contemplada pela distribuio em razo de impedimento, o espao de distribuio da decorrente era preenchido no Distribuidor com outra petio inicial, respeitada a ordem cronolgica de recebimento. As peties devolvidas eram guardadas em pasta prpria, e novamente submetidas a sorteio. At entrar em vigor o Provimento 2, de 1985, estabelecendo que a assistncia judiciria deveria ser prestada mediante a constituio de um advogado, boa parte das peties iniciais era confeccionada no prprio Distribuidor. As reclamaes verbais, como eram chamadas, requeriam funcionrios com conhecimento de legislao e processo trabalhista para prestar atendimento s partes carentes, sem condies de arcar com as despesas decorrentes da contratao de um advogado. Em vista disso, esse atendimento era realizado preferencialmente por bacharis em Direito, e dessa forma, a petio inicial nascia no seio da Justia do Trabalho, reduzida a termo. Atualmente, apenas em casos especficos as reclamaes trabalhistas verbais podem ser excepcionalmente reduzidas a termo. A exemplo das Cartas Precatrias, as reclamaes verbais tambm eram distribudas em separado. A partir do mencionado Provimento, a assistncia judiciria passou a ser prestada mediante encaminhamento da parte atravs de ofcio expedido aos sindicatos das diversas categorias profissionais ou aos escritrios-modelo de advocacia que funcionam nas 31 faculdades, pblicas ou particulares, ou ainda em instituies de assistncia social que tambm prestam esse servio, como por exemplo, o Banco da Providncia. Definidas as Juntas de destino de todas as peties iniciais recebidas no dia, os dados da distribuio de cada uma delas eram registrados em pequenas fichas, datilografadas em duas vias, com o uso de papel carbono. Nesta ficha eram lanadas as seguintes informaes: nomes das partes reclamante e reclamada -, nmero de protocolo, data da distribuio e nmero da Junta contemplada. As primeiras vias, originais, eram ordenadas alfabeticamente por nome do reclamante, e as cpias, ordenadas por nome da reclamada. Se a petio era plrima, ou seja, com mais de um reclamante e/ou reclamada, constavam das fichas apenas os principais de cada plo o primeiro reclamante e a primeira reclamada. Vrios arquivos de metal com gavetas eram dispostos em duas fileiras paralelas, uma destinada s fichas dos reclamantes e outra para as fichas das reclamadas, que seriam encaixadas, preservando-se as respectivas ordens alfabticas. Dessa forma, era possvel a consulta da distribuio pelo nome de cada parte por fileira de arquivo correspondente, informao esta que era passada para as partes e advogados interessados. As fileiras de arquivos com fichas devidamente ordenadas serviam ainda como fonte de pesquisa para a elaborao da Certido de Feitos Trabalhistas, um documento gerado at os dias de hoje pelos Distribuidores de cada Comarca. Sua finalidade informar aos interessados o quantitativo das aes em que consta o nome da parte, seja no plo ativo (reclamante), seja no plo passivo (reclamada), conforme o perodo de busca requerido pelo interessado. Dependendo do que era solicitado no requerimento, a busca seria efetuada em um, outro ou em ambos os arquivos. O documento informava ainda os totais de processos distribudos para Junta. No havia como informar a numerao dos processos, tal como feito hoje, pois somente nas Juntas que a distribuio ganharia numerao especfica. 3.3 Informatizao do Distribuidor Em junho de 1992, iniciou-se o processo de informatizao da Justia do Trabalho da 1 Regio, com o desenvolvimento da primeira verso do Sistema de Acompanhamento de Processos SAP. Atravs da seleo prvia do tipo de processo (Reclamao Trabalhista, Ao de Consignao em Pagamento, dentre outros), o servio de digitao realizado at 32

hoje por pessoal terceirizado introduz os dados que qualificam as partes formadoras dos dois plos da lide. Aps a finalizao desta etapa, o nmero do processo fornecido pelo sistema, com indicao da JCJ mais tarde VT contemplada com a distribuio. Automaticamente, as tramitaes de distribuio e marcao de audincia conforme o caso so geradas para visualizao quando de eventual consulta por nmero do processo. Alm disso, os nomes constantes nos plos ativo e passivo ficam arquivados para consulta pelo nome das partes e posterior elaborao da Certido de Feitos Trabalhistas, mediante rotina especfica do SAP. O Distribuidor de Feitos da Capital foi a primeira seo a ser informatizada na Justia do Trabalho da Primeira Regio. Aps a experincia bem-sucedida, teve incio um perodo de intercmbio medida que os Distribuidores das comarcas do interior iam se informatizando. Deslocamentos de funcionrios dos Distribuidores da capital para o interior e vice-versa, alm de funcionrios da Seo de Informtica, puderam trocar pessoalmente suas experincias e promover a ambientao com a nova sistemtica de trabalho. S a partir da informatizao dos Distribuidores que foi possvel levar o SAP para as Varas do Trabalho. Partindo da capital, onde poca existiam cinqenta e uma Juntas de Conciliao e Julgamento, a informatizao foi alcanando progressivamente as Juntas do interior. Naquele mesmo ms de junho, a Lei 8.432, de 11 de junho de 1992, criava mais vinte e duas JCJs na capital. Assim, o Judicirio Trabalhista de primeira instncia seguiria at o final dos anos 1990 com setenta e trs JCJs funcionando na cidade do Rio de Janeiro. Duas dessas Juntas, a 55 e a 73, funcionavam em carter itinerante, cada uma no interior de um veculo mvel, do tipo nibus, devidamente adaptado, que fazia visitas mensais, observando a ordem nominal, aos vrios bairros distantes do centro da cidade, buscando viabilizar acesso mais fcil ao incio da prestao jurisdicional. Possuam juzes titulares e realizavam expediente pblico e audincias. Institudas, respectivamente, pelas Resolues Administrativas 19/93 e 14/94, tiveram seu carter itinerante extinto pela Resoluo Administrativa 13/95. Inicialmente no informatizadas no que diz respeito distribuio, as duas Varas itinerantes tinham seus processos cadastrados a posteriori no SAP, com respectiva marcao manual e realizao de audincia. 33 Necessrio se torna ressaltar que, apesar da informatizao no TRT 1 Regio, o que se verificava na prtica ainda era a utilizao de procedimentos eletrnicos. Sinal dos tempos: pouco antes, em fins de 1991, a primeira manifestao legal sobre tal uso entraria em vigor. A Lei 8.245, de 18 de outubro, vinha dispor sobre as locaes dos imveis urbanos e os procedimentos a ela pertinentes, e revelando ateno s modernas tecnologias de comunicao, prev em seu Artigo 58 a possibilidade de citao por meio de fac simile. Anos mais tarde, a Lei 9.800, de 26 de maio de 1999, viria permitir s partes a utilizao do sistema de transmisso de dados para a prtica de atos processuais que dependessem de petio escrita. A Lei do Fax, como ficou conhecida, representava um salto adiante na sistemtica processual, pois estabelecia tal prtica sem prejuzo do cumprimento dos prazos processuais, desde que os originais fossem entregues em juzo, necessariamente, at cinco dias da data do trmino do prazo. A Medida Provisria 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, viria dar novo impulso aos procedimentos eletrnicos, mais especificamente no que diz respeito validade jurdica do documento eletrnico, assunto que ser examinado mais adiante. Parentoni (2007) assinala que tal medida criou um sistema de certificao digital dos documentos eletrnicos denominado Infra-Estrutura de Chaves Pblicas Brasileira ICP Brasil. Ainda segundo o autor, a medida atribui plena validade jurdica ao documento eletrnico produzido em conformidade com suas disposies. O modelo de certificao acolhido pela norma misto, ou seja, a validade do documento eletrnico pode ser aferida tanto por rgos credenciados pela ICP-Brasil como por particulares. Parentoni (2007) lembra tambm que mesmo estando em vigor h mais de sessenta

dias, a Medida Provisria 2.200-2/01 no perdeu a eficcia, pois a Emenda Constitucional 32/01 disps que as medidas provisrias publicadas at 11 de setembro de 2001 continuariam em vigor, no se lhes aplicando as normas do pargrafo 3 do Art. 62 da Constituio da Repblica. Portanto, a Medida Provisria 2.200-2/01 est apta a vigorar indefinidamente, at que seja convertida em lei ou revogada. Finalmente, a Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006, veio estabelecer as bases para a implementao do processo eletrnico, embora esta realidade ainda no se verifique de maneira consolidada no Judicirio brasileiro. Alterando vrios artigos do Cdigo de Processo 34 Civil para disciplinar os seus aspectos informticos, a Lei disciplina os procedimentos eletrnicos que iro subsidiar o processo em sua marcha rumo abolio do uso do papel. 3.4 Processo Eletrnico no Judicirio Trabalhista com Foco no Distribuidor De uma maneira geral, o processo eletrnico no Judicirio trabalhista encontra-se praticamente inexistente. A rede de procedimentos eletrnicos, no concernente aos servios do Distribuidor, ainda prevalece, mas h algumas inovaes, como o sistema de distribuio eletrnica de Cartas Precatrias, desenvolvido pelo TRT da 18 Regio (Gois) e aplicado em diversos outros Regionais com as devidas adaptaes para as necessidades especficas de cada Casa. Por essa via, possvel que se recebam as Cartas Precatrias por fax, e-mail ou mesmo papel. O e-doc, sistema de recebimento eletrnico de peties, uma realidade disponvel nos stios dos Regionais, como a 2 (So Paulo), a 4 (Rio Grande do Sul), a 6 (Pernambuco), a 9 (Paran), a 12 (Santa Catarina), a 18 (Gois) e a 23 (Mato Grosso). Se por um lado o edoc facilitou o trabalho de alguns advogados que dispem dos recursos tecnolgicos mnimos para peticionar eletronicamente, por outro aumentou a carga de trabalho nos Distribuidores dos Regionais que o disponibilizam, pois ainda existe a necessidade de se imprimirem as peties, distribuir e autuar o processo. Se a petio for de meio, ou seja, no inicial, ela impressa, protocolizada e encaminhada para a Vara a cujo processo a petio se refere. No necessrio o posterior envio das peties em meio fsico. A possibilidade de reduo de emprego mo-de-obra ainda se encontra distante, com a sofisticao cada vez maior nos procedimentos eletrnicos e com a nova estrutura de tarefas. Em alguns Regionais, a implantao do e-doc e da Carta Precatria Eletrnica se deu em tempo prximo quele em que se estabeleceu o aumento da competncia da Justia do Trabalho, previsto na Emenda Constitucional n 45, de 31/12/2004. H Regionais que desenvolveram projetos-piloto, como por exemplo, a 4 Regio (Rio Grande do Sul), para o recebimento de Cartas Precatrias Eletrnicas (CPE). Cinco das trinta Varas do Trabalho da comarca da capital (14, 15, 19, 20, e 23) e mais cinco do interior do estado participam do projeto-piloto, que s no foi estendido ainda para toda a Regio por faltarem ainda alguns ajustes solicitados 18 Regio, que desenvolveu o sistema e faz 35 adaptaes de acordo com as necessidades especficas, customizando assim o produto. As cartas so distribudas aleatoriamente e transmitidas eletronicamente para as Varas deprecadas, bem como a comunicao, ao juzo deprecante, acerca da distribuio. O e-doc encontra-se l funcionando para peties encaminhadas a todas as instncias, ou seja, Varas, Tribunal Regional e Tribunal Superior do Trabalho. Na 3 Regio (Minas Gerais), o e-doc funciona sem passar pelo Distribuidor. As peties de meio so recebidas diretamente por cada Vara do Trabalho, e apenas na comarca da capital, Belo Horizonte. A Carta Precatria Eletrnica ainda no foi implantada. De maneira semelhante a um provedor de mensagens eletrnicas, o sistema de Cartas Precatrias Eletrnicas utilizado no Distribuidor da 10 Regio (Braslia) disponibiliza atravs de um cone de acesso em seu sistema se chegou alguma Carta Precatria. As que chegam so distribudas entre as 21 Varas do Trabalho l existentes, ficando a cargo do Diretor de Secretaria de cada uma delas verificar da mesma forma se chegou alguma carta precatria

para sua Vara. nfimo ainda o quantitativo de peties iniciais eletrnicas que chegam ao Distribuidor nos Regionais trabalhistas. Calcula-se, de acordo com dados do Distribuidor de Primeira Instncia da 4 Regio, que em um ms sejam distribudas, no mximo, sete peties iniciais por meio eletrnico. muito pouco, comparado com a mdia de aproximadamente 4.500 peties distribudas mensalmente. Dessa forma, fica inviabilizada a possibilidade de que se comparem os percentuais de recebimento de peties iniciais eletrnicas em relao ao quantitativo de peties fsicas protocoladas, em bases expressivas. Some-se a isso a disparidade de contextos verificada nos diversos Regionais, que tambm contribui para inviabilizar o estabelecimento de parmetros a fim de que se projete uma possvel realidade para a 1 Regio que, afinal, tambm deve iniciar-se em bases semelhantes s verificadas nos cenrios sondados. A transio do meio fsico para o eletrnico ainda muito lenta. Processos antigos, se poca em que foram iniciados, trouxessem informados o CPF e/ou o CNPJ das partes, hoje poderiam ser facilmente acessados e relacionados a fim de se emitir a Certido de Feitos Trabalhistas. Em muitos Regionais persiste a busca pelo nome das partes no Sistema de Acompanhamento de Processos, o que ainda prejudica a preciso do documento, dada a maior 36 possibilidade de haver erros de digitao. Nos prximos anos, quando a prtica de informar o CPF e/ou o CNPJ das partes dos processos estiver completamente inserida no perodo de abrangncia de uma certido de 5 a 10 anos -, ser finalmente possvel emitir certides mais precisas. Em ltima instncia, isso possibilitar que esse documento seja enfim emitido online, eliminando fisicamente esse servio dos Distribuidores. Muitos Regionais, e isso inclui a 1 Regio, apenas disponibilizam em seus stios os formulrios de requerimento de Certido de Feitos Trabalhistas e guias de recolhimento de emolumentos. Aps recebidos fisicamente o requerimento e a comprovao de recolhimento, e efetuada a busca, estes Regionais emitem a certido em papel. A 10 Regio (Braslia), ao contrrio, recebe e emite Certides de Feitos Trabalhistas on-line, em seu prprio stio na internet, sem que para isso seja recolhido qualquer emolumento. A 9 Regio (Paran), para fazer frente ao grande aumento no volume de requerimentos de Certides de Feitos Trabalhistas, encontra-se implantando a emisso desse documento via internet, tal como feito na 10 Regio. No Paran a certido requisito obrigatrio nos casos de alienao e financiamento de imveis. S na cidade de Curitiba o Distribuidor de Feitos emitiu 74.000 certides desde o incio de 2008. A 7 Regio (Cear) possui trs ambientes de distribuio em seu sistema. Um para a distribuio aleatria das peties iniciais, recebidas no protocolo e cadastradas pelos servidores para subseqente distribuio; um para as peties de processos em andamento, que depois de recebidas so encaminhadas s Varas do Trabalho no prazo mximo de um dia; e outro semelhante ao aplicado s peties iniciais, porm destinado distribuio das Cartas Precatrias recebidas fsica e eletronicamente. O recebimento eletrnico de Cartas Precatrias encontra-se l funcionando desde o ms de agosto de 2008. O e-doc, a exemplo do que feito na 3 Regio (Minas Gerais), tambm no passa pelo Distribuidor. As peties seguem diretamente para as Varas do Trabalho. 37 4 ESTUDO DE CASO: O PROCESSO ELETRNICO NA JUSTIA FEDERAL 4.1 Estrutura Organizacional A Justia Federal da Segunda Regio, que engloba as Sees Judicirias dos Estados do Rio de Janeiro e do Esprito Santo, foi escolhida para estudo de caso no que diz respeito utilizao do processo eletrnico, em virtude de j possuir em boa parte de sua organizao interna as condies mnimas para seu funcionamento. H nove Juizados Especiais Federais na capital. Para fins de aplicao do processo eletrnico, os cinco primeiros Juizados Especiais so competentes para julgar em matria cvel

e os quatro ltimos competentes para julgar em matria previdenciria, todos funcionando com o processo eletrnico. Os seis primeiros so oriundos de transformaes de Varas Federais. Os Juizados Especiais julgam ainda em matria criminal, mas de forma no eletrnica, nos crimes de menor potencial ofensivo, cuja pena no ultrapasse dois anos de recluso. Dentre as Varas Federais, anteriormente em nmero de quarenta e uma, seis delas foram transformadas em Juizados Especiais. Outras quatro transformaram-se em Varas Federais Criminais, cujo total chega a oito, com previso prxima de criao de mais nove. Alcana-se assim o quantitativo atual de trinta e uma Varas Federais, vinte e sete julgando em matria cvel e quatro em matria previdenciria. As Varas Federais da capital no funcionam com o processo eletrnico. H ainda oito Varas de Execues Fiscais, onde apenas uma delas a terceira funciona de maneira eletrnica. Em matria de processo eletrnico, portanto, h apenas dez juzos na capital dispondo desta funcionalidade. No interior, h cidades onde funcionam apenas Varas Federais, mas estas tambm podem julgar matria de competncia de Juizado Especial, ou seja, causas com valor de alada inferior a sessenta salrios mnimos. Neste caso particular, o funcionamento eletrnico, pois este procedimento est disponvel no interior somente para matrias de Juizados, a exemplo do que ocorre na capital. Apenas a cidade de Maca (com uma Vara Federal) ainda no funciona eletronicamente, mas tinha previso para iniciar o novo conjunto de procedimentos j no primeiro semestre do ano de 2008. Portanto, todas as cidades onde h pelo menos um Juizado Especial Federal tambm funcionam eletronicamente, e onde h pelo menos uma Vara Federal, sem Juizados, o funcionamento eletrnico para matrias de competncia de Juizados. 38 Assim sendo, o processo eletrnico j uma realidade nas seguintes cidades: Angra dos Reis (com uma Vara Federal), Barra do Pira (com uma Vara Federal), Campos dos Goytacazes (com duas Varas Federais e um Juizado Especial Federal), Duque de Caxias (com trs Juizados Especiais Federais), Itabora (com uma Vara Federal), Itaperuna (com uma Vara Federal), Mag (com uma Vara Federal), Niteri (com cinco Varas Federais e dois Juizados Especiais Federais), Nova Friburgo (com uma Vara Federal e um Juizado Especial Federal), Nova Iguau (com trs Juizados Especiais Federais), Petrpolis (com duas Varas Federais), Resende (com uma Vara Federal e um Juizado Especial Federal), So Gonalo (com duas Varas Federais, dois Juizados Especiais Federais e uma Vara de Execues Fiscais), So Joo de Meriti (com trs Varas Federais, dois Juizados Especiais Federais e duas Varas de Execues Fiscais), So Pedro da Aldeia (com uma Vara Federal), Terespolis (com uma Vara Federal), Trs Rios (com uma Vara Federal) e Volta Redonda (com trs Varas Federais e dois Juizados Especiais Federais). importante assinalar que a quase totalidade destas cidades teve de passar pela transio do processo fsico para o processo eletrnico. Seria mais correto afirmar que tais cidades ainda esto passando por essa transio, a exemplo do que acontece na capital, onde a implantao do processo eletrnico se deu h pouco mais de dois anos, quando foram criadas a Seo de Distribuio de Juizados e de Execuo Fiscal SEDJE (eletrnica) e a Seo de Distribuio Criminal e Previdenciria SEDCP (no eletrnica). Uma exceo digna de nota no interior So Gonalo, onde seus dois Juizados Especiais Federais foram criados em 2004, j na forma eletrnica. 4.2 Funcionamento do Processo Eletrnico A Justia Federal da Segunda Regio utiliza atualmente o sistema Apolo, implementado h cerca de quatro anos; antes, portanto, do advento do processo eletrnico, mas disponibilizando funcionalidades para seu posterior funcionamento. Anteriormente a este sistema, o utilizado era o W-Emul, que funcionava em ambiente DOS (Disk Operating System, isto , sistema operacional em disco) e no disponibilizava tal funcionalidade. O sistema Apolo permite controlar ao longo do expediente o servio que se encontra no protocolo e direcion-lo atribuio do Chefe da SEDJE - aos funcionrios que faro o servio 39

de digitalizao e cadastro. Estes servios so realizados por pessoal terceirizado. Os conceitos de balco virtual (no protocolo), mesa virtual (para o Chefe da SEDJE e funcionrios) e escaninhos virtuais (para o servio que ser direcionado para os Juizados), funcionalidades caractersticas do Apolo, reduzem ao mnimo possvel o deslocamento em papel das peties iniciais, que quando so encaminhadas fisicamente para o setor de digitalizao e cadastro, j haviam sido antes direcionadas para l eletronicamente, via sistema, pelo Chefe da SEDJE. Nos Juizados, estes conceitos se estendem, com a mesma aplicabilidade, ao Diretor de Secretaria, aos servidores e ao Juiz. Ao longo do dia, cada funcionrio, acessando o sistema, pode ver as suas prprias mesa e escaninho virtuais, mas no tem como ver os de seus colegas. O Diretor de Secretaria v e controla todas as mesas e escaninhos virtuais de seus funcionrios, o que necessrio para que seja feita a distribuio das tarefas. O Juiz tem acesso s suas prprias mesa e escaninho virtuais, onde encontrar os processos aguardando deciso ou despacho. Para executar as tarefas especficas, cada um, servidor ou magistrado, utiliza um token, que desempenha funo semelhante dos cartes magnticos fornecidos pelas autoridades certificadoras de assinatura eletrnica. Mediante sua insero no computador, o sistema identifica qual usurio estar nele trabalhando. O token permite ainda que os servios sejam assinados e certificados eletronicamente. Juzes, alm de terem disposio o token, contam com um leitor de cartes magnticos e um leitor de impresso digital para confirmao de identidade para assinarem eletronicamente. Para o recebimento das peties iniciais, h dois protocolos, um para as peties iniciais sob tutela de um advogado, e outro para as peties iniciais confeccionadas pela prpria parte, sem assistncia de advogado. As aes de competncia dos Juizados, como j dito anteriormente, possuem valor de alada inferior a sessenta salrios mnimos, o que faculta parte o patrocnio por parte de um advogado. Os protocolos recebem um volume que se traduz numa distribuio mdia de trezentas peties iniciais dirias para os Juizados, isto em pocas de menor movimento. Para as Varas de Execues Fiscais, o clculo de distribuio mdia mais difcil e de menor preciso, pois h perodos de quase no recebimento que se alternam com outros de alto ndice de 40 concentrao, mas pode-se afirmar que o volume de aproximadamente 30.000 peties iniciais distribudas por ano, o que representa, longe de ser um valor mdio que retrate precisamente a realidade, um quantitativo de cento e quatorze peties por dia. No protocolo, a petio inicial recebe ento um nmero que ser o do processo - no h numerao de protocolo -, bem como seu respectivo cdigo de barras, o que para o advogado, e mesmo para a parte, representa uma informao importante recebida de imediato. Resta apenas saber qual ser o Juizado contemplado com a distribuio, cuja certificao vir expressa no Termo de Autuao. A leitura tica do cdigo de barras, seja na SEDJE ou no Juizado, possibilitar, restringindo a possibilidade de ocorrncia de erros de digitao no momento de acesso, que os autos sejam consultados de maneira rpida e prtica. Podem ser utilizados dois monitores compartilhando lado a lado a informao referente ao mesmo processo, um para permitir a execuo de tarefas como certificao nos autos (assinados eletronicamente) e destinao de servios para os funcionrios (no caso do Chefe da SEDJE), e outro para a visualizao de suas imagens digitalizadas, pgina a pgina, numeradas e carimbadas automaticamente pelo sistema. Note-se que na rede de procedimentos existe pelo menos um momento de entrelaamento entre os procedimentos fsico e virtual. A informao sobre a pea fsica circula eletronicamente, via sistema Apolo, e em rpidas etapas, em concomitncia com o deslocamento em papel, mais lento e realizado em pouqussimos passos, o que contribui para a reduo do risco de extravio e ainda facilita sua localizao. No setor de digitalizao e

cadastro a petio inicial fsica introduzida, ou seja, cadastrada no sistema, com o mnimo de informaes necessrias para o cadastro, reduzindo assim a possibilidade de erros. Estes, se houver, no sero mais que a repetio dos dados informados pelo advogado ou parte peticionante. Duas tabelas so utilizadas na etapa de cadastro: a T.U.A. (Tabela nica de Assuntos) e a T.U.C. (Tabela nica de Classes). A primeira relaciona-se ao assunto a que cada petio se refere a causa de pedir -, e guarda semelhana com o antigo Tipo de Processo, peculiar ao Judicirio Trabalhista. A segunda fornece a classe que vai determinar o destino da petio inicial quando da distribuio (Juizado Especial Cvel de matria cvel ou previdenciria ou 41 Vara de Execuo Fiscal). A estas tabelas adicione-se a Tabela nica de Movimentos (T.U.M.), relacionada aos andamentos que informaro a situao em que se encontra o processo. Conforme determinao do Conselho Nacional de Justia CNJ, estas tabelas, outrora com variaes de Regio para Regio, encontram-se unificadas no mbito da Justia Federal desde aproximadamente cinco anos, e sua utilizao no mbito da Justia do Trabalho data de outubro de 2008. Uma vez feito o cadastro, o servio de digitalizao, que inclui todo o texto e documentos anexados, faz a converso da petio fsica em um lote contendo um ou mais arquivos com extenso .pdf (Portable Document Format, isto , formato de documento porttil). Os arquivos de formato .pdf foram desenvolvidos pela Adobe Systems Incorporated em 1993, e permitem a representao de documentos, independentemente do programa, do hardware e/ou sistema operacional utilizado para ger-los. De acordo com a Lei 11.419/06, que dispe sobre a informatizao do processo judicial, cada arquivo no pode ser de tamanho superior a dois Mb (dois megabytes, aproximadamente dois milhes de bytes, ou dezesseis milhes de bits). Essa medida equivale a aproximadamente trinta pginas somente de texto. Se houver documentos a digitalizar, a quantidade de pginas disponvel por arquivo diminui, e conforme for o tamanho da petio inicial, mais arquivos .pdf sero gerados, aumentando conseqentemente o tamanho do lote. O tratamento dos erros, ou seja, conferncia e correo chamadas comumente na Justia Federal de anotao fica sensivelmente reduzido, pois a petio se encontra digitalizada, tal como foi recebida no protocolo, e poucos dados so introduzidos nas etapas de cadastro e distribuio, o que minimiza a quantidade de erros. Alm disso, h no sistema um cadastro das partes principais pessoas jurdicas mais freqentemente acionadas - pela inscrio no Cadastro Nacional de Pessoas Jurdicas CNPJ. O sistema detecta ainda, no caso do Cadastro de Pessoas Fsicas CPF, quando um registro invlido. Inscries dos advogados na Ordem dos Advogados do Brasil OAB tambm esto interligadas ao sistema Apolo, o que facilita a deteco de erros de digitao. A conferncia dos lotes de arquivos .pdf digitalizados feita pela quantidade de folhas, ou seja, se todas elas se encontram digitalizadas e agrupadas nos lotes de arquivos, e se cada arquivo .pdf no ultrapassa o limite de trinta pginas de texto, se for o caso. 42 No momento da distribuio, o sistema Apolo pode colocar a petio inicial em situao de pendncia quando h possibilidade de preveno de algum juzo. Tal funcionalidade til ferramenta, pois provoca uma deciso do Juiz que determinar como vai ser feito o sorteio pelo sistema. Resolvida a pendncia, a petio cadastrada e transformada no lote de arquivos .pdf finalmente distribuda, o Termo de Autuao expedido, certificado, assinado eletronicamente e juntado aos autos. Fecha-se ento o ciclo fsico da petio inicial, cujas peas fsicas so guardadas acauteladas - na SEDJE em ordem cronolgica de data de recebimento no protocolo, e l permanecem at o trnsito em julgado da sentena. Aplica-se ainda uma tabela de temporalidade, que vai determinar o tempo que cada documento deve permanecer preservado em cada Seo. Findo este perodo, as peties so encaminhadas ao arquivo geral, atualmente localizado no bairro de So Cristvo.

importante aqui ressaltar a importncia de se preservarem os originais das peties iniciais recebidas. Muitas delas so protocoladas com documentos originais ao invs de cpias. Uma parte ou procurador que necessitar do desentranhamento de tais documentos poder localiz-los na SEDJE ou no arquivo. Outro dado relevante que h casos em que o processo virtual pode ter a sua competncia para ser julgado declinada para um juzo que ainda no funciona eletronicamente. H, por exemplo, na primeira instncia da Justia do Trabalho da Primeira Regio, muitos processos oriundos de Varas de Execues Fiscais. Se um deles provier da Terceira Vara de Execues Fiscais (a nica que funciona eletronicamente), ser necessrio um processo de materializao, ou seja, uma converso do processo virtual em fsico, com reproduo em papel da seqncia dos atos processuais desde o estgio em que esta se achava inicialmente na Vara. Essa reproduo ser reunida cpia dos originais da petio inicial armazenada na SEDJE. S a partir da que, fisicamente, o processo poder seguir para o juzo para o qual foi declinada a competncia. Uma informao fundamental para que se compreenda o estgio em que o processo eletrnico se encontra na Justia Federal a de que no se realiza ainda o peticionamento inicial tpico dos Distribuidores de forma eletrnica. Em todas as hipteses, o processo nasce fsico, desde a protocolizao da petio inicial, que direcionada via sistema Apolo para a SEDJE. L a petio se transforma em processo eletrnico, atravs do respectivo cadastro e posterior digitalizao, para depois ganhar a distribuio que determinar o juzo contemplado, o que ser certificado e assinado eletronicamente, atravs do Termo de 43 Autuao. O processo segue da em diante virtualmente, ou seja, no mais se desloca fisicamente para os Juizados, e sim on line, via intranet. As peties no-iniciais, ditas de meio, contudo, podem ser protocoladas eletronicamente, via internet. Para tanto, h no momento um grupo reduzido e selecionado, de apenas trs advogados, mais os procuradores da Fazenda Nacional e do Instituto Nacional do Seguro Social INSS, que esto cadastrados e habilitados a peticionar eletronicamente nos processos j em curso. Dessa forma, trabalhando ainda de forma embrionria, dentro de um universo ainda restrito em possibilidades, torna-se mais simples detectar erros de diversas naturezas, corrigi-los com significativo ganho de tempo, quase no momento em que constatado o erro, e ainda fazer os ajustes necessrios para que as ocorrncias no se repitam em escala maior. A Justia Federal vem ainda fazendo contatos com advogados de quatro conselhos regionais profissionais com o intuito de ampliar o rol de cadastrados habilitados a praticar atos processuais eletrnicos. Com o passar do tempo, esses procuradores inicialmente cadastrados atuaro como multiplicadores do conhecimento adquirido, transmitindo suas experincias aos colegas de profisso e contribuindo na difuso da nova cultura. Examinando em retrospecto, as razes para o emprego de tal conjunto de medidas so justificveis: em primeiro lugar, a grande maioria dos advogados ainda no dispe dos requisitos mnimos equipamentos que incluem computador, scanner para digitalizar a petio e transform-la em um lote de arquivos .pdf para envio on line mediante programa especfico, cujo manuseio requer ainda familiaridade com o uso. Some-se a isso a necessidade de adaptao prtica do servio, que pode gerar erros de procedimento e conseqentes noconformidades com a Lei 11.419/06, o que em ltima instncia pode prejudicar a parte peticionante. Somente com o passar do tempo o panorama scio-tcnico-cultural poder apresentar condies mais favorveis. Por fim, os Juizados so competentes para julgar as aes cujo valor de alada inferior a sessenta salrios mnimos, o que elimina a obrigatoriedade do patrocnio da parte por um advogado. Neste momento entra no cenrio um elemento que acaba atuando como fator de ponderao para bem e para mal no avano do processo de implementao do processo eletrnico: a carncia de que sofrem muitos usurios da Justia Federal, e do Judicirio como

44 um todo. Esta carncia atinge at mesmo advogados, e a excluso de usurios no o caminho mais sensato. Nesse contexto, a parte peticionante, da mesma forma que o advogado, no necessariamente dispor daqueles requisitos mnimos para peticionar eletronicamente, e o seu desconhecimento pessoal da Lei 11.419/06 acarretar da mesma forma no-conformidades que iro tambm prejudic-la. 4.3 Entraves e Alavancas no Processo Eletrnico Analisando-se em primeiro lugar os pontos negativos, chega-se concluso de que o principal agente limitador na utilizao do processo eletrnico, como j se verifica quando se fala em procedimentos eletrnicos, o fornecimento de energia eltrica. Se houver interrupo ou falta de regularidade no fornecimento, no se pode trabalhar de outra forma que no seja a fsica, o que faz com que a seqncia do servio avance somente at certo ponto. Outro ponto de entrave na conduo do servio, que se constitui no grande ponto de afunilamento o gargalo da rede de procedimentos -, o servio de cadastro e digitalizao. Este guarda estreita relao de dependncia com o bom funcionamento do sistema Apolo, que quando apresenta sintomas negativos, como quedas ou lentido, afeta sobremaneira o andamento daquele servio. Em outras palavras, as peties iniciais j foram recebidas, mas a distribuio de forma eletrnica para os Juizados e para as Varas de Execues Fiscais depende do cadastro da petio e, principalmente, da sua transformao em arquivos de imagens, sem os quais o servio no tem como sair da SEDJE via Termo de Autuao. Da mesma forma, os sintomas negativos do sistema afetam a visualizao da quantidade de servio nos protocolos e posterior controle para direcionamento. As peties entram fisicamente, mas fica em suspenso a interface de comunicao com a SEDJE, que para ter uma idia do volume de servio existente que oferea condies de traar uma estratgia de emergncia para quando o sistema volte a funcionar, necessita do deslocamento fsico de um funcionrio normalmente o chefe da SEDJE at o protocolo. Se a informao for coletada via contato telefnico ou via e-mail com os protocolos, diminui seu grau de preciso no primeiro caso - e/ou de velocidade no segundo caso, o que de alguma forma compromete a eficcia da estratgia de emergncia. 45 Em contraposio s limitaes e deficincias de ordem tcnica, que ultrapassam o raio de ao dos funcionrios da SEDJE, bem como dos terceirizados que operam no servio de digitalizao e cadastro, os principais resultados positivos auferidos pelo sistema Apolo so sem dvida a celeridade e fluidez da informao que permeia toda a rede de procedimentos. Tais benefcios constituem-se em plena justificativa para a implantao e funcionamento do processo eletrnico. Os dados fluem horizontalmente entre as sees envolvidas nas tarefas ligadas distribuio. Alm disso, resguardadas as prioridades privativas de acesso, conforme os nveis de hierarquia deste ou daquele funcionrio ou mesmo magistrado, o acesso se d de maneira democrtica, ou seja, est disponvel em tempo real a todos os que estiverem na intranet. Ressalte-se aqui a caracterstica dicotmica liberdade/controle da informao que circula na internet, reproduzida de maneira tpica na intranet da Justia Federal. Outro ponto de anlise que merece qualificao positiva so os conceitos de balco, mesa e escaninho virtuais, que permitem que se visualize a quantidade de servio existente sem o impacto moral e psicolgico que causam, por exemplo, pilhas de peties aguardando cadastro. As noes do que muito e do que pouco, para avaliar a dimenso do que se precisa fazer num dado momento, sobrevivem, porm de uma maneira mais limpa e enxuta, sem congestionamento de mesas e/ou balces. Basta periodicamente consultar a mesa ou balco, ou escaninho - virtual. Assim, o conceito do que se v d lugar ao conceito do que se visualiza, embora as duas idias possam parecer idnticas. Como j foi dito anteriormente, o deslocamento fsico do servio se desenrola em poucas etapas, e em lotes, o que diminui o risco de extravio e facilita a localizao. Assim, no se vem diversas peties circulando de maneira autnoma, de um lugar para o outro,

dificultando o controle do paradeiro de cada uma, o que acaba gerando situaes desgastantes, com indagaes do tipo voc sabe onde est a petio tal?, ou onde foi parar o Termo de Autuao da petio tal?. Reduzida ao mnimo esta tenso, forma-se uma reserva emocional, de comunicao e intelectual, disponvel para situaes em que os esforos realmente devem ser despendidos. Embora o uso dos cartes magnticos com chips de assinatura eletrnica ainda no esteja implantado em larga escala, os tokens, mais comumente utilizados, oferecem segurana aos usurios e higiene nos procedimentos. Desaparecem os carimbos e almofadas com tinta, o que acarreta limpeza e economia de material de escritrio. Para que no se percam, em virtude 46 de seu tamanho, os tokens podem ser pendurados juntamente com os crachs funcionais que se colocam em volta do pescoo. A preciso aumenta na medida em que o funcionrio sabe o que est assinando, e no pode assinar em lugar de outro funcionrio. Para os Juzes, o leitor de impresso digital para confirmao de identidade outro ponto positivo, dado o carter estritamente pessoal da sentena ou despacho. A eliminao e simplificao de algumas rotinas de trabalho tambm so computadas como ponto positivo. Um exemplo tpico a tarefa de numerar e rubricar as pginas dos autos, e usar os velhos carimbos do tipo bolinha. O sistema executa esta tarefa automaticamente, e elimina erros de seqenciamento da numerao, minimizando as falhas humanas. Alm do mais, onde praticamente no se verifica a impresso em papel, no h que se falar em segundas-vias, novas emisses de relatrios em decorrncia do mau funcionamento do equipamento (mastigao do papel, erros de configurao da impressora ou falha na impresso causada por cartuchos de m qualidade) ou mesmo reimpresses de documentos emitidos pelo Distribuidor. Com isto, testemunha-se um ganho de sobrevida til para as impressoras e cartuchos de tinta. Com o fim de resumir todos os pontos positivos, o mais apropriado seria dizer que o retrabalho na SEDJE sofre em geral sensvel reduo. Dados submetidos a padronizao, como CNPJ, CPF e inscrio na OAB encontram-se interligados com os do sistema. A segurana e exigncia de exatido dos dados, presentes at no momento de determinar a distribuio que uma petio inicial deve tomar, caso haja suspeita de preveno, conferem maior tranqilidade e menor repetio na execuo das tarefas. Postos de reconferncia so assim reduzidos em quantidade significativa. Enfim, onde h simplificao, segurana, e preciso, no h necessidade de se rever o que j foi feito, pois a confiana cresce onde h qualidade. Alm disso, onde h menos retrabalho, o desgaste mental e psicolgico menor, o que em ltima instncia proporciona melhor qualidade de vida a quem realiza o trabalho. Como se pode depreender do exposto, a Justia Federal da Segunda Regio adota uma postura bastante cautelosa no funcionamento do processo eletrnico. E no poderia ser de outra forma, j que outros limitadores, alm dos inmeros citados anteriormente, poderiam ser elencados, como por exemplo, a resistncia com que muitos encaram o novo. E isso se aplica a todos os atores envolvidos, ou seja, partes, procuradores, servidores e magistrados. A cultura do virtual, e conseqente reduo e eliminao do uso do papel, est apenas comeando a ser 47 absorvida pela sociedade, e o caminho tem de ser percorrido de forma lenta e gradual. No se pode excluir de uma s vez a totalidade dos indivduos interessados, pois cada um tem o seu momento particular de encontrar adaptao a qualquer processo inovador. No futuro, quando as novas geraes de atores estiverem familiarizadas com a cultura do virtual, potencialmente o meio fsico deixaria de existir, porm ainda pode permanecer como caminho alternativo, pois o mundo virtual ainda depende da energia eltrica para funcionar efetivamente. Em poucas palavras, enquanto a eletricidade for o pr-requisito no mundo virtual, o que antes era exceo tornar-se- regra, mas a velha regra ainda poder ser aplicada em carter de exceo. Este o caminho. 48

5 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO 5.1 Metodologia e Tipos de Pesquisa O presente trabalho teve por metodologia a pesquisa bibliogrfica e a de campo. A pesquisa bibliogrfica teve por objetivo servir de base terica para que sejam operacionalizados os conceitos de processo eletrnico, documento eletrnico, procedimentos eletrnicos, assinatura eletrnica e certificao digital, dentre outros, alm de fornecer elementos para que as perspectivas humana, de estrutura de procedimentos e cultural fossem desenvolvidas, sempre tomando por norte o ponto de vista do Distribuidor de Feitos de Primeira Instncia da Justia do Trabalho da Primeira Regio, Comarca da Capital, Rio de Janeiro. A pesquisa de campo teve por objetivo coletar dados sobre o momento em que se encontra a informatizao do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Regio, em plena fase de implantao e ajustes do novo Sistema de Acompanhamento de Processos Sapweb -, na sua nova verso em ambiente de rede, pela internet. Magistrados, advogados e servidores foram sondados sobre os seguintes aspectos: viso geral da informatizao do Judicirio Trabalhista, celeridade e eficcia na prestao jurisdicional, impactos nos setores que iro lidar diretamente com o peticionamento eletrnico, reflexos na dinmica de servio dentro dos setores, facilidade de acesso aos dados dos autos eletrnicos e trato em relao ao cumprimento dos prazos, dentre outros. 5.1.1 Operacionalizao de Conceitos O conceito recorrente no tema do presente trabalho diz respeito ao processo eletrnico implantado no Judicirio trabalhista. A fim de que se evitassem confuses relativas ao sentido da expresso, foi especificado no questionrio aplicado que processo eletrnico o processo sem o uso do papel como veculo, em oposio aos procedimentos eletrnicos, j conhecidos e praticados nas diversas rotinas de trabalho, sem dispensar o uso do papel. A fim de tornar clara a distino, de forma tambm recorrente, utiliza-se ao longo do texto o termo e-doc como sendo o sistema de recebimento de peties de forma eletrnica 49 disponibilizado nos stios eletrnicos das diversas Casas do Poder Judicirio. Cabe lembrar que, embora no utilize tambm o papel como veculo, o e-doc no deve ser confundido com o processo eletrnico, e sim como um procedimento eletrnico preexistente, de transio e subsidirio ao processo eletrnico. 5.1.2 Universo e Amostra O Universo tomado por base foi o conjunto dos magistrados (juzes titulares de Varas do Trabalho e desembargadores), advogados e servidores que interagem de maneira direta ou indireta com a prestao jurisdicional no Tribunal Regional do Trabalho da 1 Regio. A amostra foi obtida atravs da distribuio aleatria de questionrios semiestruturados para magistrados, servidores