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Revista de Odontologia da UBC
v.1, n.1 Jan-‐Jun 2015
Revista de Odontologia da UBC
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NOSSA CAPA Igreja Matriz Catedral Sant'Anna e Obelisco,
Mogi das Cruzes, SP
"O bandeirante Gaspar Vaz foi o responsável por abrir o primeiro caminho de acesso de São Paulo a Mogi, dando início a um povoado na região, que foi elevado à Vila em 17 de agosto de 1611, com o nome de Vila de Sant'Anna
de Mogi Mirim. A oficialização ocorreu em 1º de setembro, dia em que se comemora o aniversário da cidade.
Mogi é uma alteração de Boigy que, por sua vez, vem de M'Boigy,
o que significa "Rio das Cobras", denominação que os índios davam a um trecho do Tietê. Quando a Vila foi criada em 1611, devido ao costume de adotar o nome do padroeiro, passou a ser
denominada "Sant'Anna de Mogy Mirim".
Na língua indígena, Mirim quer dizer pequeno. Provavelmente, uma referência ao riacho Mogi Mirim. A linguagem popular tratou
de acrescentar o termo "cruzes" ao nome oficial da Vila. Era costume dos povoadores sinalizar com cruzes os marcos que
indicavam os limites da Vila".
Professor Jurandyr Ferraz de Campos, Historiador. (Disponível em: www.mogidascruzes.sp.gov.br)
Universidade Braz Cubas Diretora Acadêmica: Profa. Dra. Niube Ruggiero Coordenador Acadêmico Geral: Prof. Claudio Osiris de Oliveira Coordenador do Curso de Odontologia: Prof. Rafael Ribeiro Revista de Odontologia da UBC Publicação Digital Semestral volume 1, número 1 – Jan-‐Jun 2015 Corpo Editoral Científico: Profs: Alexandre do Valle Wuo (UBC), Bianca Fréo (UBC), Bruno Bittencourt (NASF-‐Sta.Marcelina), Claudio Osiris de Oliveira (UBC), Fabio Sartorato (UBC), Haine Beck (UBC), Leandro Tavares Lucato (HC-‐USP), Rafael Ribeiro (UBC). Responsabilidade Editorial A Revista de Odontologia da UBC é uma publicação de conteúdos relacionados à Odontologia, não possuindo qualquer vínculo com os trabalhos científicos aqui expostos. Os conceitos e afirmações constantes nos originais são de inteira responsabilidade do(s) autor(es), não refletindo, necessariamente, a opinião da Revista, representada por meio de seu corpo editorial.
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Iniciamos com esta edição uma nova jornada no projeto de desenvolvimento de uma via de
divulgação voltada ao meio acadêmico odontológico. Agora propiciamos a todos uma revista com conteúdo
integral de artigos científicos odontológicos.
Não há como separar a qualidade do nosso ensino odontológico com a necessidade de termos
nossos trabalhos e projetos divulgados em veículo próprio. Hoje nossa revista fornece suporte para isso.
Passamos a ter um instrumento real que trabalhará de forma a honrar tudo o que já foi conquistado pelo
nosso curso.
Convocamos a todos que acreditam neste sonho a participar deste projeto. Inclusive, o nosso futuro
depende e muito de uma participação o mais abrangente possível, que envolva professores, alunos e
colegas de profissões da área da saúde. Essa interação, inclusive, é de fundamental importância para
qualquer projeto sério e duradouro, uma exigência dos nossos tempos.
Obrigado a todos os colegas pelo ajuda e suporte necessário para que este projeto tenha sucesso.
Sem o comprometimento de todos nada disso seria possível.
Boa leitura e até a próxima edição!!
Editorial
Prof. Haine Beck Editor Científico
Revista de Odontologia da UBC
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Prof. Haine Beck Prof. Haine Beck
Revista de Odontologia da UBC -‐ v.1, n.1. Jan-‐Jun 2015
SUMÁRIO
Editorial 3
Impacto da Saúde Bucal na Qualidade de Vida de Adolescentes com Sinais e Sintomas de DTM
Giuriato JB, Motta LJ, Guedes CC. 5
Panorama Atual do Tratamento Odontológico de Pacientes Especiais
FIgueiredo MEB, Freo B. 16
Aspectos da Doença Periodontal em Pacientes com Paralisia Cerebral
Santos WM, Santanna M, Jeremias JEM, Bachiega JC. 25
Vantagens dos Pinos de Fibra de Vidro Fernandes Jr D, Beck H. 35
Normas de Publicação 45
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Impacto da Saúde Bucal na Qualidade de Vida de Adolescentes com Sinais e Sintomas de DTM
Jéssika Barcellos Giuriato1, Lara Jansiski Motta2, Carolina Cardoso Guedes3
1. Mestranda em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.
2. Professora da Disciplina de Clínica Infantil e do Programa de Mestrado em Gestão de Sistemas da Saúde da
Universidade Nove de Julho.
3. Professora da Disciplina de Cariologia e da Disciplina de Odontopediatria do Curso de Odontologia da
Universidade Braz Cubas. (correspondência: [email protected]) RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da saúde bucal na qualidade de vida em
adolescentes com disfunção temporomandibular (DTM) atendidos na Clínica Odontológica da
Universidade Braz Cubas no ano de 2012. A avaliação de sinais e sintomas de DTM foi obtida
pelo Questionário de Fonseca determinando a presença e severidade da desordem. Para medir
a percepção do indivíduo sobre as desordens bucais à qualidade de vida foi utilizado o
questionário OHIP-14 (Oral Health Impact Profile) no qual são abordados os seguintes aspectos:
limitação funcional, dor física, desconforto psicológico, incapacidade física, incapacidade
psicológica, incapacidade social e deficiência/ handicap. Para análise dos dados utilizou-se o
programa estatístico SPSS 12 for Win e para comparação das médias com nível de significância
de 5% foram utilizados o teste qui-quadrado e a análise de variância (ANOVA). A análise
descritiva, expressa por porcentagens médias e desvios-padrão, revelou que os pacientes mais
velhos apresentaram mais DTM e maior grau desta. Dos pacientes com DTM moderada 75%
apresentaram impacto forte da saúde bucal na qualidade de vida, para os pacientes com DTM
leve esta porcentagem foi de 40,7%, ou seja, quanto maior o grau de DTM, maior o impacto
causado na qualidade de vida. Não foram encontradas correlações entre sexo e DTM, impacto
da saúde bucal sobre a qualidade de vida e idade ou sexo na amostra estudada.
Palavras-chave: qualidade de vida, saúde bucal, síndrome da disfunção temporomandibular.
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INTRODUÇÃO Apesar dos grandes avanços em
relação à saúde bucal, muitas pessoas -
especialmente com situação econômica
mais desfavorável - ainda são afetadas por
problemas bucais como a cárie e a doença
periodontal1.
A cárie é a doença mais comum na
infância, trazendo efeitos negativos sobre a
vida das pessoas, tais como: dificuldade de
mastigar, diminuição do apetite, perda de
peso, dificuldade para dormir, alteração no
comportamento (irritabilidade e baixa
autoestima) e diminuição do rendimento no
seu dia a dia1. Os agravos bucais e suas
sequelas são de grande prevalência no
Brasil, constituindo-se em problemas de
saúde pública, com graves consequências
sociais e econômicas2,3.
O uso de escova, pasta, fio dental,
visitas preventivas ao dentista, controle no
consumo de açúcares e da utilização de
fumo e álcool são considerados como
comportamentos saudáveis em saúde
bucal4,5.
A disfunção temporomandibular
(DTM) corresponde a um conjunto de
manifestações clínicas de sinais e sintomas
envolvendo os músculos mastigatórios, as
articulações temporomandibulares e
estruturas associadas5,6. Quanto à etiologia
da DTM, esta é multifatorial. Podem-se
evidenciar vários sinais e sintomas como:
cefaléias, mialgias, zumbido, ruídos
articulares, sensibilidade à palpação dos
músculos mastigatórios e das articulações
temporomandibulares e movimentos
mandibulares limitados6.
Normalmente, o diagnóstico das
DTMs envolve o exame físico dos
músculos mastigatórios e da ATM por meio
de palpação muscular, palpação e
auscultação de ruídos articulares, e a
mensuração da amplitude dos movimentos
mandibulares6.
Até recentemente, poucos estudos
investigaram a relação entre as condições
bucais, a DTM e seu impacto na vida das
pessoas, mas na última década, houve
aumento do interesse em quantificar as
conseqüências das doenças. Vários
instrumentos foram desenvolvidos na
tentativa de conhecer e avaliar como os
problemas bucais têm afetado a vida diária
das pessoas6.
A qualidade de vida do ser humano
está inserida em importantes fatores
representados em seu dia a dia. O sujeito
busca para sua qualidade de vida aspectos
pertinente a sua atividade de vida diária,
bem como sua representação frente à
sociedade.
Quando o indivíduo apresenta
problemas em sua saúde bucal, tanto no
seu aspecto funcional quanto estético, este
distúrbio pode ocasionar dificuldades para
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relaxar, dor, embaraço, restrição em comer
determinados alimentos e a perda da
vontade de sair de casa, podendo levar até
ao isolamento social. A perda dentária ou o
uso de próteses inadequadas implicam
impactos negativos na qualidade de vida,
principalmente no que diz respeito à
preocupação, estresse decorrente de
problemas bucais e à vergonha7,8.
Os indicadores sócio-dentais são
considerados subjetivos, criados para
revelar a expectativa do paciente em
relação à saúde, levando em consideração
estilo de vida, nível sócio-econômico e
cultural, como objetivo de avaliar a
qualidade de vida9,10,11. O questionário Oral
Health Impact Profile (OHIP) associa
impacto relatado pelo paciente como: dor,
desconforto, questões estéticas, restrições
alimentares e na comunicação às medidas
clínicas de condições de saúde bucal9,12,13.
Existem diversos indicadores que
são utilizados para associar a qualidade de
vida com saúde bucal14,15. O Oral Health
Impact Profile (OHIP) foi desenvolvido por
pesquisadores australianos Slader &
Spencer e na sua versão original o
questionário apresenta 49 itens. Este
instrumento é considerado um indicador
subjetivo, pois revela a expectativa do
indivíduo em relação a sua saúde bucal.
Atualmente está sendo utilizado em
diversos países e tem como função,
capturar a percepção do indivíduo sobre as
desordens bucais associadas à qualidade
de vida16. Tem como intuito também prover
uma mensuração abrangente das
disfunções, desconfortos e inaptidões
relatadas pelo próprio indivíduo que são
atribuídas a condições bucais17,18,19,20.
Até recentemente, poucos estudos
investigaram a relação entre as condições
bucais e seu impacto na vida das pessoas,
mas na última década, houve aumento do
interesse em quantificar as conseqüências
das doenças21,22. Vários instrumentos
foram desenvolvidos na tentativa de
conhecer e avaliar como os problemas
bucais têm afetado a vida diária das
pessoas5,23,24.
O questionário auto-adiminstrado
para avaliação de DTM desenvolvido por
Fonseca25 mostra como vantagem uma
preocupação com o desenvolvimento de
um índice anamnésico para avaliação da
DTM adaptado à população brasileira, que
fosse de fácil compreensão e aplicação.
Além disso, este índice exige uma menor
capacidade diagnostica do profissional, o
que possibilita o uso em serviços públicos,
levantamentos epidemiológicos e controle
de tratamento26.
Todas as manifestações
relacionadas com a DTM podem causar
algum impacto na qualidade de vida do
indivíduo, afetando seu convívio social e
sua saúde emocional27.
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O objetivo deste estudo foi avaliar o
impacto da saúde bucal na qualidade de
vida de adolescentes com disfunção
temporomandibular atendidos na Clínica
Odontológica da Universidade Braz Cubas
no ano de 2012.
METODOLOGIA
Pacientes adolescentes, entre 12 e
18 anos de idade atendidos na Clínica
Odontológica da Universidade Braz Cubas
foram convidados a participar do estudo.
Dos voluntários que aceitaram participar da
pesquisa, foram escolhidos os primeiros 31
pacientes (n=31), que contemplaram o
critério de inclusão, que era estar em boa
saúde, não estar fazendo nenhum tipo de
tratamento médico no momento e nem
fazendo uso de qualquer tipo de
medicamento. Foram excluídos os
pacientes que estivam em tratamento
médico e que injeriam qualquer tipo de
medicamento.
O estudo seguiu as normas
regulamentadoras de pesquisa em seres
humanos com submissão ao Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade Braz
Cubas (CEP 045/11). Os voluntários
assinaram o termo de consentimento livre
(Anexo I) após esclarecimentos para
autorização da participação na pesquisa.
Para avaliação do impacto da saúde
bucal na qualidade de vida dos pacientes
foi utilizado o questionário do Oral Health
Impact Profile (OHIP - 14) (Anexo II) que
tem como objetivo capturar a percepção do
indivíduo sobre as doenças bucais
associadas à qualidade de vida dos
pacientes tratados na clínica em questão.
O questionário é composto de 14 questões,
onde foram abordados os seguintes
aspectos: limitação funcional, dor física,
desconforto psicológico, incapacidade
física, incapacidade psicológica,
incapacidade social e deficiência/ handicap.
Foi assegurado a privacidade, o anonimato
e sigilo absoluto sobre as respostas e
declarações, atendendo à Resolução nº
196/96 através da assinatura de duas vias
e entrega do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
A pesquisa foi feita por meio de
aplicação de questionário, não trazendo
qualquer tipo de risco ou malefício ao
paciente. Os pacientes, por participarem da
pesquisa, receberam atendimento
odontológico preventivo gratuito (profilaxia
dentária) e foram orientados quanto à
disfunção temporomandibular. Para
determinar a presença de DTM utilizou-se o
Índice de Fonseca6 (Anexo IV) que inclui
informações a respeito de dificuldades em
abrir a boca e movimentação da
mandíbula, dores na cabeça, nuca,
pescoço ou regiões articulares, ruído nas
articulações temporomandibulares, hábito
de apertar ou ranger os dentes. O
questionário é composto por 10 perguntas
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nas quais as possíveis respostas são sim
(10 pontos), às vezes (5 pontos) e não (0
pontos). Sendo que para cada pergunta,
somente pode ser assinalada uma
resposta. A soma de pontos é usada para
classificar a severidade de DTM como
severa (70 a 100 pontos), moderada (45 a
65), leve (20 a 40) e sem disfunção (0 a
15).
Análise Estatística
Para análise dos dados utilizou-se o
programa estatístico SPSS 12 O for Win.
Foi realizada a análise descritiva, expressa
por porcentagens médias e desvios-
padrão. Para análise da presença de
associação entre as variáveis ser o teste
qui-quadrado com nível de significância de
5%.
RESULTADOS Foram avaliados 31 adolescentes
atendidos na Clínica Odontológica da
Universidade Braz Cubas, entre 12 a 18
anos, com média de idade 15,61 (desvio
padrão = 1,91). Destes 35,48 % (n=11) do
sexo masculino e 64,52% (n=20) do sexo
feminino.
Quando analisada as variáveis sexo
e grau de DTM não houve associação
estatisticamente significante (p=0,112) pelo
teste qui-quadrado.
Já na comparação entre idade e o
grau de DTM, foi possível observar por
meio do teste qui-quadrado, que o maior
grau de DTM (moderada) esteve presente
nos pacientes com 17 anos e o maior
numero de pacientes com DTM leve foi o
grupo com 18 anos, ou seja, os mais
velhos apresentaram mais DTM e em maior
grau e esta associação foi estatisticamente
significante (p=0,022) (Tabela 1).
Tabela1: DTM x Idade
Idade Total
12 13 14 16 17 18
Valor
de p
DTM Leve n 5 2 4 5 4 7 27
% 18,5% 7,4% 14,8% 18,5% 14,8% 25,9%
100,0
%
Moderada n 0 0 0 0 4 0 4
% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
100,0
% 0,0%
100,0
%
Total n 5 2 4 5 8 7 31
% 16,1% 6,5% 12,9% 16,1% 25,8% 22,6%
100,0
%
0,022*
*estatisticamente significante, p<0,05
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No questionário OHIP a escala pode
alcançar a variação geral de 0 a 28.
Quando o índice esteve classificado entre 0
e 9, foi considerado de fraco impacto, entre
10 e 18 foi considerado médio impacto e
entre 19 e 28 de forte impacto a saúde
bucal sobre a qualidade de vida. Ou, seja,
quanto menor o valor tanto menor é o
impacto negativo da saúde bucal. Foi
possível observar que dos adolescentes
que responderam o questionário 54,8% (n=
17) apresentaram médio impacto e 45,2%
(n=14) forte impacto.
Relacionando impacto da qualidade
de vida com a idade não houve diferença
estatisticamente significante (p=0,64), na
associação entre impacto da qualidade de
vida e sexo também não foi encontrada
diferença estatisticamente significante
(p=0,34).
Já na comparação entre impacto da
qualidade de vida e DTM (Tabela 2), foi
observado impacto forte em 75% dos
pacientes com DTM moderada, enquanto
que com DTM leve esta porcentagem foi
40,7%. Esta diferença foi estatisticamente
significante (p=0,019).
Tabela 2: Impacto x DTM
DTM
Leve Moderada Valor de p
Impacto Médio n 16 1
% 59,3% 25%
Forte n 11 3
% 40,7% 75%
Total n 27 4
% 100,0% 100,0%
0,019*
*estatisticamente significante, p<0,05
DISCUSSÃO O objetivo desta pesquisa foi analisar
o impacto da saúde bucal na qualidade de
vida de adolescentes com disfunção
temporomandibular (DTM) na Clínica
Odontológica da Universidade Braz Cubas
(UBC), em Mogi das Cruzes, SP.
A DTM tem sido objeto de
observações e estudos em diversas áreas
da Odontologia. Inúmeros pesquisadores
têm demonstrado interesse em
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compreender tanto os sinais e sintomas,
como as causas que determinam tais
alterações. Diversos fatores podem estar
relacionados à etiologia da DTM, dentre
eles estão: maloclusão, restaurações ou
prótese mal adaptadas, mastigação
unilateral, hábitos bucais inadequados, má-
postura, tensão emocional, estresse,
patologia ou trauma na articulação e fatores
sistêmicos, podendo estar associados, mas
o que determinará se o paciente
apresentará ou não a desordem será a
tolerância física e a estrutura do indivíduo22.
Diversos trabalhos mostram que a
DTM é uma das principais causas de dor
crônica facial e que estão relacionadas com
estresse físico e psicossomático como
fadiga, alterações do sono, ansiedade e
depressão3,7,12. A DTM crônica associada à
dor tem sido relacionada com alterações na
qualidade de vida8.
Jedel et al.28 avaliaram a frequência
de DTM em crianças e associaram com a
qualidade de vida e verificaram que
crianças com quadros de dor relacionada a
DTM mais de uma vez por semana,
mostraram escores de qualidade de vida
inferiores a crianças do grupo controle. Os
autores concluíram que avaliar a qualidade
de vida em pacientes com DTM é muito
importante para que se possa empregar
medidas terapêuticas para esta doença.
Para estudos epidemiológicos ou
populacionais dos sintomas de DTM,
questionários específicos para DTM podem
ser muito úteis, e os dados resultantes
desses questionários podem ser utilizados
para triar pacientes para clínicas e
pesquisas, embora devam ser interpretados
com cautela, já que a presença de sinais e
sintomas de DTM não é indicativo da
doença, por isso há a necessidade de
associar a avaliação de sintomas uma
análise clínica mais direcionada 23.
A literatura já comprova que as dores
crônicas estão relacionadas com os
aspectos biológicos e psicossociais; e que,
após a instalação do quadro doloroso,
verifica-se uma influência direta dessa dor
sobre as atividades funcionais e relações
sociais na vida desses pacientes, gerando
um grande impacto na qualidade de vida.
Biasotto-Gonçalez et al.29 observou
em seu estudo que dentre as variáveis de
qualidade de vida estudadas, os aspectos
emocionais, mostraram-se muito alterados
estando associados a uma pior qualidade
de vida nos portadores de DTM. A relação
entre a qualidade de vida e estresse
emocional é evidenciada em vários
estudos, principalmente naqueles em que
intervenções terapêuticas envolvendo
relaxamento melhoram a qualidade de vida.
Carvalho et al.23 relata que a dor de
cabeça é provavelmente o sintoma mais
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comum e a queixa mais relatada dentre os
sintomas da DTM, sendo que uma parte
significativa, 85%, dessas dores de cabeça
são relacionadas com alterações do tônus
muscular podem estar relacionadas com
atividades musculares, embora outros
fatores podem causar ou contribuir para o
aparecimento dessas dores, porém esses
dados não foram encontrados nesse
estudo.
Entre os hábitos deletérios, o habito
de apertar ou ranger os dentes, conhecido
como bruxismo, foi o sinal mais relatado no
Índice de Fonseca, e podem causar dor e
redução da coordenação dos músculos
atingidos sendo associado com a maioria
dos sintomas dolorosos da DTM23.
O estalido durante o movimento da
ATM foi observado em 60% dos pacientes
estudados, valor semelhante ao encontrado
por Santos et. al.30. Thinlander et. al.18 que
associam o estalido com o deslocamento da
mandíbula, sensibilidade muscular,
capacidade de abertura bucal reduzida e
interferências, contudo neste estudo tais
sinais e sintomas não foram observados.
Diferente de outros estudos, onde a
prevalência da DTM ocorre mais no sexo
feminino2,16,17,19,31, esse resultado não foi
encontrado nesse trabalho onde não houve
associação entre sexo e a presença de
DTM, também não foi encontrada
associação entre idade e impacto da saúde
bucal.
Quando analisada a relação entre a
severidade de DTM e o impacto da saúde
bucal causada na qualidade de vida,
observou-se que quanto maior o grau de
DTM, maior o impacto, dessa forma os
pacientes com DTM mais grave tendem a
relatar uma pior qualidade de vida do que
os que apresentam sinais mais moderados
e suaves.
CONCLUSÃO
Por meio dos resultados obtidos
neste estudo pode-se concluir que a
qualidade de vida está relacionada à saúde
bucal e que a idade tem grande influencia
sobre a presença da DTM, já que os
pacientes mais velhos apresentaram mais
DTM e maior grau desta. Não foram
encontradas correlações entre sexo e DTM,
impacto da saúde bucal sobre a qualidade
de vida e idade ou gênero na amostra
estudada.
Revista de Odontologia da UBC
13
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Revista de Odontologia da UBC
16
Panorama Atual do Tratamento Odontológico de
Pacientes Especiais
Maria Eugenia Bianconsini de Figueiredo1, Bianca Freo2
1. Cirurgiã Dentista.
2. Professora da Disciplina de Semiologia e da Disciplina de Biossegurança do Curso de Odontologia da
Universidade Braz Cubas.
(correspondência: [email protected])
RESUMO Para fins de assistência odontológica, paciente especial é todo aquele indivíduo que
apresente desvios de normalidade acentuados de tal maneira que não se benefice de programas
rotineiros de assistência e para que esses indivíduos usufruam de um serviço de saúde bucal
satisfatório, exige setores, pessoal e serviços especializados, capazes de atender às suas
necessidades específicas. De acordo com o Censo Demográfico 2000, 14,5% da população
brasileira é portadora de algum tipo de deficiência, mas apenas 3% desses pacientes recebem
atendimento odontológico. O objetivo é analisar o panorama atual do tratamento odontológico
dos pacientes especiais, tanto da prevenção e do tratamento quanto da manutenção da saúde
bucal, e avaliar as diretrizes básicas, éticas e legais do especialista em pacientes especiais.
Para realização dessa revisão bibliográfica foram feitas pesquisas nos sites de procura Google
acadêmico e Scielo, com as palavras chave “odontologia para pacientes especiais”, “pacientes
especiais”, “especialista em pacientes especiais”. O atendimento odontológico a pacientes
especiais é complexo, porém se feito da maneira correta e por profissionais capacitados a este
atendimento, pode ser executado como se o paciente fosse não-especial, ou, o dito “normal”.
Para tanto é necessário ter paciência, habilidade e carinho, pois são indivíduos muitas das vezes
não alcançados pelas políticas públicas de saúde e necessitados de atendimento especializado,
principalmente no que se refere ao tratamento odontológico.
Palavras-Chave: saúde bucal; assistência odontológica para pacientes especiais; especialidade
pacientes especiais.
INTRODUÇÃO Paciente portador de necessidades
especiais (PPNE) é denominado aquele
que não se adapta física, intelectual ou
emocionalmente aos parâmetros normais,
considerando os padrões de crescimento,
desenvolvimento mental e controle
emocional, além dos relacionados à
conservação da saúde1.
A Organização Mundial de Saúde
(OMS) relata que, para fins de assistência
odontológica, entende-se por PPNE todo
aquele indivíduo que apresenta desvios de
normalidade – de ordem mental, física,
sensorial, de comportamento e crescimento
– tão acentuados a ponto de não se
beneficiar de programas rotineiros de
assistência. Para que goze de saúde bucal,
exige setores, pessoal e serviços
especializados, capazes de atender às suas
necessidades específicas2.
Na condição de Cirurgião-Dentista, é
dever reconhecer e identificar as afecções
bucais, determinando o tipo de lesão, o
agente etiológico e outros dados de
importância para o diagnóstico e o
tratamento da afecção. Já a qualidade de
especialista em odontologia para pacientes
com necessidades especiais (resolução do
Conselho Federal de Odontologia (CFO)
22/2001, seção XI, artigo 31) exige ter em
mente a complicação orgânica presente na
maioria das pessoas. E, em seguida,
identificar a deficiência – se física, mental,
emocional, social ou orgânica –, bem como
quais delas envolvem distúrbios de
comportamento e de personalidade3.
A literatura especializada pauta-se
mais em tópicos relativos a conceitos,
classificação e conduta no atendimento,
sendo pequena a abordagem sobre os
aspectos éticos e legais4.
No Brasil, o número de especialistas,
segundo o Conselho Federal de
Odontologia, é de 401 em todo o país5. Um
dos aspectos mais inquietantes do
tratamento odontológico aos pacientes
portadores de distúrbios
neuropsicomotores, é a relação que se
estabelece entre o cirurgião dentista, a
família e o paciente.
O cirurgião-dentista deve instituir um
programa de saúde bucal não somente ao
paciente, mas também aos responsáveis
para receberem instruções da técnica de
escovação adequada e do uso do fio
dental7.
REVISÃO DE LITERATURA
O Censo Demográfico 2000 mostrou
que 14,5% da população brasileira é
portadora de algum tipo de deficiência,
onde 48,1% são portadores de deficiência
visual; 22,9% motora; 16,7% auditiva; 8,3%
mental e 4,1% física8. No entanto o IBGE
considera que dos 10% que apresentam
necessidades especiais, apenas 3%
recebem atendimento odontológico, os
quais em dados atuais correspondem a
praticamente meio milhão de pacientes9.
A Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (CID-10) define
alguns termos que são normalmente
usados na abordagem do paciente especial.
A CID-10 afirma que “as Deficiências –
impairments – dizem respeito à perda ou
anormalidade de estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica. Em
princípio, as deficiências representam
distúrbios no nível do órgão”. Portanto,
desse ponto de vista, fica equivocado se
afirmar que “a pessoa é deficiente” . Ainda
segundo a CID-10, “as Incapacidades –
disabilities – refletem as conseqüências da
deficiência em termos de qualquer restrição
ou falta de habilidade para se realizar uma
atividade de uma maneira ou dentro da
amplitude normal para o ser humano. As
incapacidades refletem distúrbios no nível
da pessoa”. Como exemplo, podemos
afirmar que uma deficiência de dentes torna
a pessoa incapaz de mastigar
adequadamente ou que uma deficiência de
audição torna a pessoa incapaz de ouvir.
Existe, pois, uma incapacidade auditiva ou
surdez, incapacidade de mastigação ou
incapacidade de locomoção sem auxilio de
outras pessoas. A CID-10 afirma que, “as
Desvantagens – handicaps – são aquelas,
resultantes ou de deficiência ou de uma
incapacidade, que limitam ou impedem o
cumprimento de um papel que é normal
(dependendo da idade, do sexo e de fatores
sociais e culturais) para aquele indivíduo”. 10.
A Classificação Internacional da
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
(CIF), também aceita pela OMS, se
caracteriza como uma classificação que se
propõe a retratar os aspectos de funciona-
lidade, incapacidade e saúde das pessoas.
Como instrumento estatístico, a CIF pode
servir para a apresentação e comparação
de dados entre países, disciplinas de
cuidados de saúde, entre diferentes tipos
de serviços e longitudinalmente no tempo11.
Em nível internacional, a
International Association for Disability and
Oral Health (IADH) inclui, além dos
portadores de deficiência, pessoas com
restrições de capacidades advindas da
idade ou de agravos adquiridos, os quais
limitam a função intelectual, física ou social
– essa associação atua no incentivo ao
Revista de Odontologia da UBC
19
desenvolvimento da pesquisa, educação e
tratamento da saúde bucal de pessoas com
condições incapacitantes12.
As manifestações bucais variam de
acordo com o grau de comprometimento
neuropsicomotor e a conduta dos
responsáveis, no que diz respeito ao auxilio
do controle preventivo, evitando ou
minimizando a maior incidência das
doenças bucais, como cáries e doença
periodontal, bem como maloclusões
decorrentes de hábitos bucais deletérios.
Outro fator que favorece não só a cárie
como também a doença periodontal, é a
dieta inadequada destes pacientes. A
incapacidade neuro-muscular impede que
façam uso de alimentos mais consistentes.
Portanto a alta prevalência da doença cárie
e periodontal estão relacionadas à
dificuldade dos responsáveis em higienizar
corretamente os dentes e a qualidade da
alimentação com potencial cariogênico7.
Ninguém porta uma necessidade,
mas sim, é portador de uma doença ou
deficiência que leva a ter uma necessidade
especial em vários aspectos do todo de que
é composto. Dessa forma, há a
necessidade de individualização na
abordagem e plano de tratamento, sendo
cada caso único, com características
peculiares, ainda que a moléstia de base
seja a mesma13.
A situação da saúde bucal dos
pacientes especiais é pouco estudada e os
dados fidedignos no Brasil são escassos.
Essa realidade atinge cerca de 10% da
população brasileira, representada por
cerca de 15 milhões de deficientes, em sua
maioria assistidos esporadicamente, em
caráter de benemerência. Ocorre a falta de
vivência clínica dos cirurgiões-dentistas,
falta de recursos odontológicos, mesmo nos
centros hospitalares, para tratamento
preventivo, cirúrgico-restaurador e
reabilitador, e a falta de recursos financeiros
que contribuí para que sejam adotadas
soluções extremas, como exodontias
múltiplas14.
Pelas diversas peculiaridades
referentes ao atendimento de pacientes
especiais, atualmente, no Brasil, o
atendimento odontológico a essa
população, muitas vezes, limita-se a
instituições, onde o Cirurgião-Dentista, em
raros casos, integra uma equipe
multidisciplinar e desempenha importante
papel na manutenção e melhoria da
qualidade de vida desses pacientes15.
A resolução 25/2002, publicada no
Diário Oficial da União em 28/05/2002 pelo
Conselho Federal de Odontologia,
regulamentou-se a especialidade, com
intenção de capacitar os cirurgiões-
dentistas ao atendimento de pessoas que
necessitam de cuidados odontológicos
especiais durante toda a vida ou por um
período. Apesar de estar claro na
Constituição do Brasil de 1988 que a saúde
Revista de Odontologia da UBC
20
é um direito de todos e um dever do
Estado, observa-se que a atenção à pessoa
com necessidades especiais tem sido
prestada de forma predominantemente
irregular e antidemocrática, contando muito
com a ajuda de trabalhos voluntários17.
A qualidade de especialista em
Odontologia para pacientes com
necessidades especiais (resolução CFO
22/2001, seção XI, artigo 31) exige ter em
mente a complicação orgânica presente na
maioria das pessoas. E, em seguida,
identificar a deficiência – se física, mental,
emocional, social ou orgânica –, bem como
quais delas envolvem distúrbios de
comportamento e de personalidade18,19, 20.
A incidência de cárie dentária e
gengivite é geralmente muito alta. A
incapacidade desses pacientes para manter
uma higiene bucal adequada é suficiente
para explicar o índice elevado dessas
ocorrências. A este fator etiológico podem,
entretanto, somar-se outros como
respirador bucal, anormalidade de oclusão,
dieta cariogênica e efeitos de
medicamentos21.
Estes pacientes, geralmente,
possuem uma alimentação mais pastosa,
usam mamadeira por mais tempo,
apresentam deglutição atípica e utilizam
medicamentos contendo em sua
composição a sacarose ou medicamentos
que podem causar xerostomia22.
Vale a pena ressaltar que a utilização
rotineira de medicamentos psicoativos,
provocam a redução no volume do fluxo
salivar, fundamental na manutenção da
homeostasia do meio bucal, afetam a
coordenação motora, e dificultam a
higienização da cavidade bucal23.
O conceito de qualidade de vida tem
ampliado a visão do profissional de saúde
sobre o cuidado com seus pacientes.
Refere-se a bem-estar e é multidimensional,
não estando restrita aos efeitos físicos ou
psicológicos do tratamento. Já se sabe que
tratar apenas os sinais e sintomas de uma
doença não promove a saúde integral do
indivíduo24, 25.
OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo
analisar através da revisão bibliográfica,
qual o panorama atual do tratamento
odontológico dos pacientes especiais no
que tange os aspectos tanto da prevenção
e do tratamento quanto da manutenção da
saúde bucal. Por fim, busca-se avaliar as
diretrizes básicas, éticas e legais do
trabalho do especialista da área e desta
forma contribuir pra um melhor
entendimento do tema.
Revista de Odontologia da UBC
21
DISCUSSÃOA dificuldade em se estabelecer
programas de promoção da saúde e
melhoria da qualidade de vida em pacientes
excepcionais é enorme. Os dados
estatísticos além de desatualizados
demonstram-se imprecisos visto que o dado
encontrado durante a revisão bibliográfica
refere-se ao censo de 2000 e o censo de
2010, o mais recente realizado pelo IBGE,
utilizou novamente o método de
amostragem para captar dados sobre as
pessoas com deficiência.8 O método de
amostragem não é capaz de trazer dados
confiáveis e satisfatórios para se traçar
políticas públicas, pois em apenas um de
cada dez questionários havia perguntas
sobre estas pessoas, ou seja, apenas dez
por centos dos formulários coletaram dados
relacionados aos portadores de
necessidades especiais.9
A falta de definição clara de “deficiência” ou
“incapacidade” entre os profissionais da
saúde tem sido apontada como outro
impedimento para a promoção de saúde de
pessoas com deficiência. A família de
classificações internacionais da OMS
constitui uma ferramenta valiosa que
permite descrever e comparar a saúde das
populações num contexto internacional.
Nestas classificações, as condições ou
estados de saúde propriamente ditos
(doenças, distúrbios, lesões, etc.) são
classificados principalmente na CID-10.10
Por sua vez, funcionalidade e incapacidade
associadas aos estados de saúde são
classificadas na CIF. Isto a torna um
instrumento bem mais complexo que a CID,
o que faz com que exija um maior
detalhamento.11
A população-alvo do especialista em
odontologia para tratamento de pacientes
especiais é ampla e nem sempre elucidada
apenas pelo aspecto físico, devendo o
cirurgião-dentista estar apto a identificá-la,
proporcionando um atendimento
odontológico integral e seguro. Para um
adequado atendimento, pode utilizar- se de
uma equipe multidisciplinar composta de
médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo,
psicólogo, filósofos clínicos entre outros.15,16
Pacientes portadores de deficiência
física e mental podem apresentar, para os
dentistas, algumas dificuldades no seu
manejo e no próprio tratamento
odontológico. Entretanto, estas dificuldades
podem e devem ser superadas através do
enfoque humanitário do tratamento levando
em consideração que saúde e qualidade de
vida são condições fundamentais para a
dignidade humana.20,.
A partir do momento que a
abordagem e o tratamento envolvem um
planejamento terapêutico, deve-se fazer
presente uma anamnese completa,
abordando os mais diversos aspectos e
contemplando, preferencialmente: os
Revista de Odontologia da UBC
22
aspectos gerais do paciente; tipo e
gravidade da doença; medicamentos
usados; relacionamento multidisciplinar;
avaliação dos riscos; avaliação do grau de
estresse, medo e ansiedade; métodos de
contenção; procedimentos necessários. 13
A grande maioria dos pacientes
especiais pode ser tratada em ambiente
ambulatorial, sendo de suma importância
que o profissional possua conhecimentos
técnicos e científicos sobre alguns dos
problemas mais comuns que afetam esses
pacientes. Somente alguns distúrbios
podem exigir equipamentos especiais, além
de certas deficiências profundas que
indicam um tratamento sob anestesia geral. 7,21
A realidade é que durante o curso de
graduação, muitos cirurgiões-dentistas não
têm a oportunidade de conhecer e vivenciar
este tipo de tratamento e por conta disso a
maioria dos profissionais prefere não
atender este tipo de público encaminhando-
os a centros de referência já saturados. 14,15,17
CONCLUSÃO
O atendimento odontológico a
pacientes especiais é altamente exigente,
pois são indivíduos muitas das vezes não
alcançados pelas políticas públicas de
saúde, e necessitados de atendimento
especializado. O sucesso depende não
apenas do conhecimento da conduta
clínica, mas também da natureza das
deficiências físicas, intelectuais, emocionais
e sociais desse indivíduo. Desta forma, a
proposta de integração ou mesmo de
melhoria da qualidade de vida se
complementa a simples idéia de promover
dignidade humana através da prática da
odontologia.
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Revista de Odontologia da UBC
24
necessidades especiais de serviços
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1996.
Revista de Odontologia da UBC
25
Aspectos da Doença Periodontal em Pacientes
com Paralisia Cerebral
Wellyn Modesti dos Santos1, Michelle Santanna2, José Eduardo Massucato Jeremias3, Joanna
Carolina Bachiega4
1. Cirurgiã Dentista.
2. Aluna do Curso de Graduação em Odontologia da Universidade Braz Cubas .
3. Fisioterapeuta.
4. Professora da Disciplina de Odontopediatria do Curso de Odontologia da Universidade Braz Cubas.
(correspondência: [email protected])
RESUMO Com a dificuldade em manter uma higiene oral adequada, o presente estudo teve como
objetivo realizar uma revisão de literatura relatando a doença periodontal em pacientes com
paralisia cerebral. As doenças periodontais consistem em processos inflamatórios de origem
infecciosa que acometem os tecidos gengivais e/ou os tecidos de suporte dos dentes por meio
do acumulo de biofilme. Em pacientes com paralisia cerebral as doenças periodontais estão
associadas, além da presença do biofilme, a diversos fatores como hiperplasia gengival
medicamentosa, a falta de vedamento labial e dificuldade na deglutição salivar devido a falta de
tonicidade da musculatura facial. Com a capacidade limitada da mastigação, lentidão no ritmo do
fluxo salivar e a falta da higiene oral do paciente, instala-se uma condição favorável ao maior
acúmulo de biofilme, gerando um processo inflamatório. Para esta revisão foi utilizado
levantamento bibliográfico com base nos sites de buscas de publicações científicas PubMed,
Bireme, Scielo. Medidas preventivas como uma boa higiene oral, raspagem e alisamento
radicular devem ser valorizadas, mantendo a microbiota sob controle, prevenindo a instalação de
um processo infeccioso.
Palavras-chave: paralisia cerebral, higiene bucal, doenças periodontais
INTRODUÇÃO A paralisia cerebral (PC) é
caracterizada por uma alteração dos
movimentos controlados ou posturais dos
pacientes, aparecendo cedo, sendo
secundária a uma lesão, danificação ou
disfunção do sistema nervoso central (SNC)
não sendo reconhecido como resultado de
uma doença cerebral progressiva ou
degenerativa. Está associada com
desordens convulsivas e distúrbios da
sensação, cognição, fala, audição, visão. O
evento lesivo pode ocorrer no período pré,
peri ou pós natal. As encefalopatias crônicas
da infância incluem numerosas afecções
com várias etiologias e quadros clínicos
diversos tendo em comum o fato de
afetarem o sistema nervoso central das
crianças com um caráter crônico1,2.
Os distúrbios neuromotores
relacionados ao tônus patológico provoca
mudanças na função da região orofacial nos
portadores de paralisia cerebral.
Dificuldades na coordenação motora aliadas
a salivação excessiva e desenvolvimento de
hábitos parafuncionais orofaciais levam a
dificuldade em manter uma adequada
higiene oral. Estes fatores expõe estes
indivíduos a uma grande incidência e
prevalência de cárie, má oclusão, bruxismo
e doença periodontal3.
As alterações periodontais em
pacientes com paralisia cerebral estão
associadas a diversos fatores, como
hiperplasia gengival medicamentosa,
relacionada ao uso de medicamentos
anticonvulsivantes, a sialorréia (baba
excessiva por falta de vedamento labial e
dificuldade na deglutição salivar),
consistência dos alimentos, tonicidade da
musculatura facial, carência de informações
e falta de atendimento ambulatorial
odontológico, ocasionando incapacidade,
perda de auto-suficiência e prejuízo da
qualidade de vida5. Com isso, o presente
artigo realizou uma revisão de literatura
enfatizando a ligação da saúde bucal com a
paralisia cerebral e suas consequências.
MÉTODOS Para esta revisão foi utilizado
levantamento bibliográfico com base nos
sites de buscas de publicações científicas
PubMed
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/Pubmed),
Bireme (www.bireme.com.br), Scielo
(www.Scielo.org), que indicam os artigos
mais relevantes sobre definição de paralisia
cerebral, complicações odontológicas e
doença periodontal em pacientes com
paralisia cerebral. Para isto, foram
pesquisados os seguintes termos: paralisia
cerebral, higiene bucal, doenças
periodontais, qualidade de vida; cerebral
paisy, oral hygiene, periodontal disease,
quality of life.
Revista de Odontologia da UBC
27
Os artigos utilizados nesta revisão de
literatura foram publicados entre 1969 a
2010.
REVISÃO DA LITERATURA Desde o Simpósio de Oxford, em 1959, a
expressão paralisia cerebral foi definida como
“sequela de uma agressão encefálica, que se
caracteriza, primordialmente, por um transtorno
persistente, mas não invariável, do tônus, da
postura e do movimento, que aparece na
primeira infância e que não só é secundário a
esta lesão não evolutiva do encéfalo, mas
também, por influência que tal lesão exerce na
maturação neurológica”6.
A definição de PC mais atual propõe
que as desordens do desenvolvimento
motor, advindas da lesão encefálica
primária, são de caráter permanente e
mutáveis, ocasionando alterações
musculoesqueléticas secundárias e
limitações nas atividades funcionais7,8.
Está associada ao prejuízo motor e
com inúmeros problemas como convulsões,
déficit da fala, audição, visão,
comprometimentos cognitivo, sensorial e
comportamental1,9.
Embora a lesão encefálica não tenha
caráter progressivo, o comprometimento dos
movimentos pode apresentar piora quando
não se faz o tratamento específico10,11.
Estudos epidemiológicos em países
desenvolvidos relataram um índice de PC de 2,5
em cada 1.000 nascidos vivos. Em países
subdesenvolvidos, por sua vez, a incidência é
maior, chegando a 7 em cada 1.000 nascidos
vivos. No Brasil, estima-se que ocorram 30.000 a
40.000 novos casos por ano12,13.
Segundo dados do IBGE (2010), há
cerca de 2.617.025 pessoas com alguma
deficiência mental/intelectual permanente e
13.273.969 com alguma deficiência motora
permanente, como dificuldade de caminhar,
subir escada, escovar os dentes14.
O tipo de comprometimento cerebral
depende do momento em que o agente atuou,
de sua duração e da sua intensidade. Quanto ao
momento em que o agente etiológico incide
sobre o sistema nervoso central (SNC) em
desenvolvimento, distinguem-se os períodos pré-
natal, perinatal e pós-natal15,16. Os fatores de risco para a PC incluem:
hipóxia, isquemia cerebral, hemorragia
intracraniana grave, cistos periventriculares,
infecções, prematuridade, consumo de álcool,
fumo e outras drogas pela gestante, entre
outros17. Existem várias classificações para a
PC, que se distinguem de acordo com a
informação que disponibilizam, incluindo a
distribuição do acometimento no corpo
(Diplegia, Paraplegia, Tetraplegia) tipo de
tônus (Hipotonia ou Espasticidade), controle
motor (Discinesias) e nível de
independência18,19. Entre as alterações tônicas, a mais
comum é a espasticidade, sendo que 75%
das crianças com PC apresentam tônus
elevado exacerbação dos reflexos tendíneos
e da resistência à movimentação passiva
Revista de Odontologia da UBC
28
rápida As crianças espásticas, de acordo
com a classificação topográfica, podem ser:
1.Hemiplegia: É o padrão
neuropatologica mais freqüente, com
comprometimento de todo o Hemicorpo
(Membro Superior, Tronco e Membro
Inferior); O paciente assume atitude em
semiflexão do membro superior,
permanecendo o membro inferior
hiperestendido e aduzido, e o pé em postura
eqüinovara.
2. Tetraplegia: Comprometimento
amplo, com déficit motor da região Cervical,
Tronco, Membros Superiores e Inferiores;
provocado por lesões difusas bilaterais no
sistema Piramidal. Presença de grave
tetraparesia espástica com intensas
retrações musculotendíneas em semiflexão
dos Membros, síndrome pseudobulbar
(hipomimia, disfagia e disartria), podendo
ocorrer ainda microcefalia, deficiência
mental e epilepsia. 3. Diplegia: Forma mais comum em
prematuros. Trata-se do comprometimento
motor dos membros inferiores, comumente
evidenciando uma acentuada hipertonia dos
adutores do Quadril, que configura em
alguns doentes o aspecto semiológico
denominado Síndrome de Little (postura
com cruzamento dos membros inferiores e
marcha “em tesoura”). 19-21
A alteração do tônus muscular que
prejudica a mastigação e a deglutição
também acarreta dificuldades à higiene
bucal. O déficit da motricidade oral desses
pacientes induz a hábitos de dieta alimentar
diferenciada. Com a capacidade limitada da
mastigação e consequente lentidão no ritmo
do fluxo salivar, instala-se uma condição
favorável ao maior acúmulo de biofilme22.
Diversos fatores associados com
precária saúde bucal, como o tipo e
consistência da alimentação, o uso de
medicamentos anticonvulsionantes, a falta
de informação e de acesso a serviços
odontológicos, comprometem a saúde oral
do deficiente físico. As doenças bucais que
mais afetam os portadores de paralisia
cerebral são as mesmas que encontramos
na população geral, como: cárie, má
oclusão, bruxismo, hipoplasia de esmalte e
doença periodontal1,23-26.
A doença periodontal intensifica-se na
presença de placa bacteriana, higiene bucal
precária, vômito, maloclusão, pouca força
mastigatória, respiração bucal, estresse,
deficiências fagocitárias e nutricionais9,5.
As doenças periodontais consistem
em processos inflamatórios de origem
infecciosa que acometem os tecidos
gengivais e/ou os tecidos de suporte dos
dentes. Ocorrem como consequência das
reações inflamatórias e imunológicas nos
tecidos periodontais induzidas pelos
microorganismos do biofilme dental,
danificando o tecido conjuntivo e o osso
alveolar27-29.
Revista de Odontologia da UBC
29
A gengivite tem como principal fator
etiológico a ação microbiana do biofilme. É
restrita ao periodonto de proteção e
caracterizada pela formação de bolsas
gengivais detectadas por meio da sondagem
ou sangramento espontâneo30.
As periodontites são inflamações
crônicas e progressivas, caracterizadas
clinicamente por inflamação gengival,
sangramento à sondagem, diminuição da
resistência dos tecidos periodontais à
sondagem, perda de inserção gengival e do
osso alveolar31,32.
O início das periodontites se dá com
uma gengivite em crianças e logo após a
puberdade, mas como a progressão é lenta,
os sintomas como a perda óssea e a
inserção só serão observados
posteriormente. Por isso, a idade não é
considerada um fator de risco, mas uma
consequência dos efeitos acumulados
durante os anos32.
Na infância as doenças periodontais
tem progressão lenta, se manifestando como
um processo inflamatório no periodonto de
revestimento. As que mais acometem as
dentições decídua, mista e permanente, não
representam uma única classe, tendo muitas
lacunas em função de parâmetros clínicos,
radiográficos, microbiológicos, imunológicos
e terapêuticos30.
O diagnóstico deve ser dado
precocemente, para minimizar os danos,
principalmente na puberdade. É
imprescindível à avaliação da determinação
do risco individual de adquirir essas
patologias, como a predisposição individual
ou familiar de apresentar perda de inserção
conjuntiva30.
DISCUSSÃO
A Paralisia Cerebral ocasiona
distúrbios sensório motores, ocorridos
durante a vida fetal e os primeiros meses de
vida comprometendo regiões de tônus
muscular, postura, afetando atividades
motoras essenciais para o desempenho de
tarefas da rotina diária. Uma parcela
significativa dos pacientes com PC
apresentam problemas na deglutição,
dificuldade no fechamento da cavidade oral
e vedamento dos lábios dificultando o ato de
deglutir5,9.
Destaca-se que muitos
medicamentos utilizados desde a primeira
infância nos indivíduos com PC têm efeitos
adversos sobre os dentes. Ansiolíticos,
anticolinégicos, antidepressivos, anti-
histamínicos, antináuseas, antipsicótico,
agentes antiparkinson, dilatadores de
brônquios, descongestionante nasal,
sedativos, xarope contra tosse e febre, todos
têm ação xerogênica, isto é, podem produzir
xerostomia33.
Os cuidadores não têm sido alertados
sobre os efeitos dessas drogas na cavidade
bucal e nem como minimizá-los, crendo
unicamente no mito do antibiótico como
Revista de Odontologia da UBC
30
causador único da cárie dental. Estudos
constataram que pacientes com
hipossalivação podem apresentar uma
alteração no estado dentário geral, com
aumento da placa bacteriana e do número
de lesões de cárie, presença de áreas de
desmineralização e recidivas, manifestação
típica de alto risco de cárie, principalmente
nos casos em que a medicação foi
administrada na forma de xarope ou com o
auxílio de um veículo açucarado33,34.
A falta de higiene oral adequada leva
a problemas periodontais graves, em
pacientes que tomam fenitoína, como por
exemplo alto grau de hiperplasia gengival. A
condição da PC por si só não predispõe às
doenças cárie e periodontal, contudo os
aspectos socioeconômicos e culturais
interferem nestas doenças, como a
negligência no controle da ingestão com
alimentos cariogênicos e a inadequada
higienização bucal. Conforme relato de
diversos estudos35-41, as crianças portadoras
de paralisia cerebral estão recebendo pouca
atenção odontológica, principalmente em
decorrência da dificuldade de manejo com
estes pacientes.
Guerreiro e Garcias1, avaliaram 41
crianças portadoras de paralisia cerebral e
concluíram índices elevados de alteração
gengival e experiência de intervenção
precoce, seja com programas educativos.
A doença periodontal representa a
interação de uma microbiota
periodontopatogênica, hospedeiros e o
ambiente42.
Xavier et al30, verificaram a ocorrência
de gengivite em 91,40% das 93 crianças
selecionadas para o estudo na faixa etária
de 6 a 12 anos, onde a gengivite leve
apresentou uma maior prevalência, seguida
pela gengivite moderada e apenas 8,6% das
crianças evidenciaram ausência da
gengivite, corroborando com outros
estudos43,44. No mesmo estudo não foi
observado relação significativa entre
severidade da condição clínica gengival e
sexo (x=0,681), como também relatado em
outra pesquisa45.
Alguns trabalhos46,47 mostram que a
periodontite afeta a dentição decídua,
podendo se apresentar tanto na forma
localizada quanto na forma generalizada. A
forma localizada afeta frequentemente os
primeiros molares decíduos e os tecidos
gengivais exibem inflamação discreta com
acúmulo moderado de placa. A forma
generalizada apresenta inflamação gengival
aguda, recessão gengival, rápida destruição
de osso alveolar algumas vezes
acompanhada de destruição radicular e
perda dos dentes decíduos.
Medidas preventivas como uma boa
higiene oral, raspagem e alisamento
radicular devem ser valorizadas, mantendo a
microbiota sob controle, prevenindo a
instalação de um processo infeccioso capaz
Revista de Odontologia da UBC
31
de levar à perda de inserção conjuntiva e de
tecido alveolar48,30.
CONCLUSÃO De acordo com a revisão de literatura
pode-se concluir que diversos fatores
associados com a má higiene bucal
comprometem a saúde oral do deficiente
físico. As doenças bucais que mais afetam
os portadores de paralisia cerebral são as
mesmas que encontramos na população
geral, como: cárie, má oclusão, bruxismo,
hipoplasia de esmalte e doença periodontal A alteração do tônus muscular que
prejudica a mastigação e a deglutição
também acarreta dificuldades à higiene
bucal. Com a capacidade limitada da
mastigação e lentidão no ritmo do fluxo
salivar, instala-se uma condição favorável ao
maior acúmulo de biofilme. Medidas preventivas como uma boa
higiene oral, raspagem e alisamento
radicular devem ser valorizadas, mantendo a
microbiota sob controle, prevenindo a
instalação de um processo infeccioso.
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Revista de Odontologia da UBC
35
Vantagens dos Pinos de Fibra de Vidro
Daniel Fernandes Junior1, Haine Beck2.
1. Cirurgião Dentista.
2. Professor da Disciplina de Materiais Odontológicos e da Disciplina de Clínica Integrada do Curso de
Odontologia da Universidades Braz Cubas.
(correspondência: [email protected])
RESUMO
Dentes tratados endodonticamente são friáveis, suas estruturas se encontram
desprovidas de vascularização pulpar, favorecendo a desidratação da dentina, tendo como
consequencia perda da elasticidade e posteriormente fratura da coroa e da raiz radicular.
Durante muitos anos o uso de núcleos metálicos foi a técnica mais empregada para recuperação
da função, porém com a evolução dos materiais e afirmação dos conceitos estéticos, os pinos de
fibra de vidro passaram a ser uma alternativa ao cirurgião dentista. Este trabalho teve como
objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as vantagens do uso dos pinos de fibra de vidro
em Odontologia, utilizando bases de dados de trabalhos acadêmicos. As principais vantagens
encontradas são: módulo de elasticidade semelhante ao da dentina radicular, protegendo a raiz
contra o estresse minimizando as tensões; adesão à dentina através dos cimentos resinosos,
baixo custo, menor desgaste a estrutura dental, não apresenta risco de corrosão quando
comparado aos pinos metálicos, tem fácil aplicação e dispensa as etapas de laboratório
protético.
Palavras-chave: pinos intraradiculares, materiais odontológicos, odontologia estética
Revista de Odontologia da UBC
36
INTRODUÇÃO
Com a evolução da tecnologia de
materiais a Odontologia se encontra em
crescente desenvolvimento científico,
possibilitando grandes e variadas opções em
relação às técnicas restauradoras. Até
então, dentes tratados endodonticamente e
com grande perda de estrutura dentinária
tinham como única opção os núcleos
metálicos fundidos, uma técnica de
reabilitação que apresenta desvantagens,
como necessidade de um maior número de
sessões clinicas, maior número de
procedimentos laboratoriais, custo protético,
maior desgaste da estrutura dental sadia1;
risco dos núcleos sofrerem corrosão
favorecendo a pigmentação pelo processo
de oxidação e dificuldade na remoção do
núcleo quando necessário2,3.
Outra desvantagem dos núcleos
metálicos fundidos é em relação ao alto
módulo de elasticidade, ou seja, um material
que apresenta alta rigidez em relação ao
elemento dental onde os dentes restaurados
com núcleo metálico fundido quando
submetido às cargas mastigatórias, elas
transmitem quase integralmente as forças ao
sistema estomatognático, elevando a
concentração de tensões e a transmissão de
forças durante a mastigação diretamente à
estrutura radicular, piorando o prognóstico
da restauração4.
Por fim, sabe-se que, embora os
núcleos metálicos fundidos ainda sejam
muitos utilizados, a estética também tem que
ser levada em consideração, principalmente
quando tratamos de dentes anteriores.
As características ideais de um pino
intracanal é ser de fácil uso, biocompativel,
preservar a dentina radicular, evitar tensões
na raiz e promover união química e
mecânica com material restaurador, custo
baixo, resistente a corrosão e ser estético5.
Com o desenvolvimento tecnológico
novos produtos foram introduzidos no
mercado odontológico, como materiais
adesivos, compósitos, cimentos resinosos
entre outros. Neste avanço da tecnologia,
surgiram os pinos pré fabricados não
metálicos, como os de fibra de carbono,
zircônia e fibra de vidro, tendo estes dois
últimos, além de características funcionais
próprias, grande apelo estético. Os pinos de
fibra de vidro são uma alternativa promissora
e possuem inúmeras vantagens, um dos
seus aspectos mais importantes é a estética,
pois é constituído de um material que
permite a passagem da luz. Em sua
composição, encontra-se uma matriz
resinosa, na qual estão imersos diversos
tipos de fibra de reforço. O seu módulo de
elasticidade é semelhante ao da dentina
radicular, o que preserva o dente contra o
estresse e conseqüente fratura.
Revista de Odontologia da UBC
37
O objetivo desse trabalho foi realizar
uma revisão de literatura referente as
vantagens que os pinos de fibra de vidro
proporcionam quando selecionados para
procedimentos odontológicos.
REVISÃO DA LITERATURA
Dentes tratados endodônticamente se
tornam fragilizados por estarem desprovidos
de vascularização pulpar, apresentam com
desidratação de dentina e se torna
susceptível à fratura, necessitando de
reforço para atuar efetivamente quando em
função6. O tratamento endodôntico por si só
diminui a resistência do dente, pela
considerável remoção de esmalte e dentina
coronária necessária ao acesso do canal
radicular e pela redução da dentina
intrarradicular durante a instrumentação do
sistema de canais radiculares, resultando
muitas vezes em dentes com grandes
destruições coronárias, o que agrava a
dificuldade na escolha do melhor
procedimento restaurador.
Torbjorner et al7. (1995) compararam
e avaliaram o tipo de falha relacionada ao
insucesso dos retentores metálicos fundidos
e pré fabricados em pacientes reabilitados
com diversas modalidades de tratamento
protético. Foram analisados 788 retentores
intra-radiculares por um período de 4 a 5
anos. A perda de retenção foi a mais
freqüente falha relacionada a ambos
retentores, enquanto que, a fratura da raiz
foi a mais séria conseqüência resultando em
exodontia. Os retentores pré fabricados
obtiveram uma taxa de sucesso
significativamente maior em relação aos
metálicos fundidos, os quais apresentaram
uma freqüência altamente significativa de
fraturas radiculares. Os resultados também
mostraram que os pinos fibra vidro
obtiveram menor falha na cimentação (8%)
do que os núcleos metálicos fundidos (15%).
Os autores sugerem que os dentes tratados
endodonticamente recebessem reforço, pois
prevenir fraturas é mais econômico que
recuperar um dente fraturado. A conclusão
foi que, o ideal na reconstrução de dentes
tratados endodonticamente, fosse uma
restauração com as seguintes
características: propriedades mecânicas
idênticas as da dentina, forma idêntica ao
volume perdido para que não haja ou seja,
minimizada a fratura, e caso haja
necessidade de um pino intrarradicular, que
este deve preencher o espaço do conduto
radicular para que os esforços sejam
transmitidos de forma homogênea para a
superfície radicular.
Martinez-Insua et al6. (1998)
analisaram a resistência à fratura in vitro de
coroas totais metálicas em pré molares.
Quarenta e quatro pré molares foram
extraídos e divididos em dois grupos: a)
restauração com pino de fibra e núcleo em
resina composta; b) restauração com pino e
núcleo fundido em liga ouro. O tamanho e o
Revista de Odontologia da UBC
38
formato dos pinos foram semelhantes para
os dois grupos. Todos os dentes foram
cobertos por uma coroa metálica. A
resistência à fratura foi medida aplicando
uma força numa inclinação de 45° ao longo
eixo do dente. No grupo dos pinos de fibra
as fraturas ocorreram na interface
pino/resina composta. No grupo que foi
utilizado núcleo metálico fundido, as fraturas
ocorreram no substrato dental, fraturando o
remanescente dental.
Galzer8 (2000) realizou um estudo
para avaliar o sucesso dos retentores de
fibra na reabilitação de pacientes que
haviam perdido mais de 50% de estrutura
coronária. Um total de 59 pinos
intrarradiculares foram cimentados em 47
pacientes que foram monitorados por um
período de 2 anos. As falhas foram
relacionadas ao deslocamento dos núcleos
de resina que receberam coroas unitárias e
em um dente pilar de prótese fixa. Não
ocorreram fraturas da porção radicular dos
pinos de fibra durante a pesquisa e
concluíram que os pinos mostraram-se
menos invasivos à estrutura remanescente
com facilidade de remoção do sistema em
casos de falhas mecânicas ou biológicas.
Fernandes e Dessai9 (2001) orientam que os
retentores intrarradiculares devem ser
colocados no longo eixo do dente e no
centro do conduto radicular, já que essa é
considerada uma área neutra com relação a
concentração de força, e que o comprimento
do pino tem um efeito significativo sobre a
retenção e resistência devendo ser o mais
longo possível e não enfraquecer o
selamento apical ou causar perfuração da
raiz. Ressaltam também que o pino deve ter
o diâmetro mais estreito possível e suficiente
para resistir a flexão, preservando a dentina
ao máximo. De todos os tipos de formatos,
os rosqueáveis geram maiores tensões do
que os pinos passivos e que esses
produzem, conseqüentemente, uma menor
freqüência de fratura sobre a raíz.
Quando existe perda significativa da
estrutura dental, o uso de núcleos ou pinos pré-‐
fabricados torna-‐se essencial para reter a
restauração. Em dentes com estrutura coronária
insuficiente faz-‐se necessário o uso de pinos
intrarradiculares, por isso deve-‐se conhecer a
estrutura radicular interna e externa para poder
selecionar o melhor sistema de pinos
aumentando a retenção e minimizando a fratura
da raiz. As características estéticas dessa
restauração são fortemente influenciadas pelo
material de preenchimento intracoronário. O
avanço tecnológico e a busca por materiais cada
vez mais semelhantes aos tecidos dentários
resultaram no uso freqüente dos pinos de fibra
translúcidos ou brancos que possibilitam a
transmissão das cores através da estrutura
dental, porcelana ou resina, sem necessidade de
fazer uso de opacificadores ou modificadores,
além de aderirem quimicamente às resinas
Revista de Odontologia da UBC
39
compostas, dispensando ou diminuindo qualquer
tipo de tratamento de superfície5.
Newman et al10. (2003) realizaram um
estudo para comparar o efeito entre
diferentes sistemas de pinos pré fabricados
(aço inoxidável e resina reforçada com fibra
de vidro e fibra de polietileno) com relação a
resistência à fratura e ao insucesso de
dentes tratados endodonticamente. Os
autores concluíram que entre os sistemas de
retentores intrarradiculares não houve
diferenças significantes em relação à média
de carga para falha, os retentores pré
fabricados de resina reforçados com fibra
suportaram menores quantidades de cargas
em relação aos retentores de aço inoxidável.
Na falha produzida nos retentores pré
fabricados de resina reforçada por fibra não
ocorreu fratura da raiz, diferente dos casos
restaurados com retentores de aço
inoxidável.
Sato et al11. (2004) cita como
vantagens do uso de núcleos de fibra de
vidro em relação aos metálicos fundidos,
além da estética, a facilidade de uso, a
biocompatibilidade com a estrutura dental
devido ao seu módulo de elasticidade e a
simplicidade dos procedimentos clínicos,
dispensando a etapa de moldagem e
eliminando a fase laboratorial; porém cita a
contra indicação nos casos em que já existia
um núcleo metálico fundido e o conduto
esteja extremamente alargado, onde poderia
ocorrer, no terço cervical, uma interface
muito extensa entre o pino e a parede
radicular criando uma linha de cimentação
muito espessa, com contração de
polimerização acentuada. A utilização dos
pinos de fibra de vidro em próteses fixas
extensas, devido às forças exercidas sobre o
pôntico, também seria uma contra-indicação,
pela possibilidade de deslocamento dos
pinos nos pilares.
Magalhães et al12 (2004) realizou um
estudo comparativo da profundidade de
fratura de dentes restaurados com núcleos
metálicos fundidos e núcleos de fibra.
Através de ensaio mecânico de compressão,
esses dois sistemas foram avaliados e
concluiu-se que o núcleo metálico fundido
provocou maior incidência de fraturas,
dificultando a restauração dos dentes
envolvidos e que seu módulo de elasticidade
pode levar a um sistema de alavanca sobre
a superfície radicular, levando a fratura do
terço médio das raízes, diferentemente do
sistema de pinos fibra.
Ribeiro13 (2004) realizou análise pelo
método de elementos finitos, da distribuição
de tensões em dentes com ou sem
remanescente coronário, utilizando
diferentes pinos intrarradiculares em um
incisivo central superior. Os pinos utilizados
foram núcleo metálico fundido, fibra de
carbono, fibra de vidro, zircônia e titânio.
Foram simuladas diferentes situações
clinicas com a finalidade de avaliar o
comportamento de cada tipo de pino
Revista de Odontologia da UBC
40
utilizado. Para realizar a simulação foi
construído um modelo geométrico, onde
uma carga de 100 Newtons foi aplicada no
terço incisal da região palatina do incisivo
central superior com uma inclinação de 45°
em relação ao longo eixo do dente,
simulando o contato do antagonista durante
movimentos mastigatórios. Concluiu-se que
nos pinos de fibra de vidro e carbono
obtiveram tensões mais uniformes ao longo
do conduto radicular, distribuindo melhor as
concentrações de tensões na região do
conduto da raiz.
Teófilo et al14 (2005) relataram que a
perda de estrutura dental decorrente de lesões
cariosas, traumatismo dentários, procedimentos
restauradores anteriores, somado ao desgaste
adicional dos procedimentos endodônticos,
resultaram em perda de suporte dentário, o que
interfere no tipo de restauração a ser
confeccionada. Em dentes tratados
endodônticamente deve ser levado em
consideração o grau de distribuição do dente na
arcada, do suporte ósseo, o tipo de prótese e os
tipos de forças às quais esses dentes serão
submetidos. Diante destas considerações, os
autores concluíram que os retentores
intrarradiculares devem ser utilizados somente
quando houver necessidade de retenção do núcleo
ou restaurações coronárias e que a rigidez do
material do retentor intrarradicular pode aumentar
a chance de fratura do conduto radicular.
Pasqualin15 (2007) avaliou a
resistência à fratura de raízes portadoras de
pinos metálicos fundidos e de fibra de vidro.
Através de testes de compressão, foram
avaliados 50 incisivos centrais superiores,
sendo que 10 receberam apenas o preparo
coronário (grupo controle) e 40 tiveram suas
coroas seccionadas e seus canais tratados
endodonticamente (grupos experimentais).
Todos os dentes foram inseridos em bloco
de resina, com exceção de 4milímetro
cervicais, que foram divididos em 5 grupos:
controle(I), pino metálico fundido de forma
cilíndrica (ll) e cônica (lll), pino de fibra de
vidro de forma cilíndrica (lV) e cônica (V), em
seguida foram cimentadas. Os corpos de
prova foram submetidos ao ensaio de
compressão, aplicando uma força constante
de 1milímetro por minuto, com angulação de
135° em relação ao longo eixo das raízes.
Com base na metodologia utilizada neste
estudo concluiu-se que os pinos pré
fabricados de fibra de vidro cilíndricos
apresentaram os maiores valores de
resistência à compressão necessária para a
fratura da raiz, com valores semelhantes aos
da espécie do grupo controle.
Ramalho16 (2008) realizou um estudo
comparativo da resistência radicular à fratura
em raízes restauradas por pinos
intrarradiculares pré fabricados metálicos e
de pinos fibra de vidro cimentados em
diferentes profundidades. Os resultados
demonstraram que os pinos pré fabricados
metálicos intrarradiculares devem ser
limitados ao reforço da interface dente /
Revista de Odontologia da UBC
41
restauração, em razão da sua maior rigidez
e consequentemente do seu maior módulo
de elasticidade em comparação a dentina,
pois não absorvem satisfatoriamente as
tensões oriundas da força mastigatória,
diferentemente dos pinos de fibra de vidro.
DISCUSSÃO
Os pinos intrarradiculares de fibra de
vidro proporcionam uma melhor distribuição
das cargas mastigatórias que os núcleos
metálicos fundidos por possuir um módulo
de elasticidade semelhante ao da
dentina4,5,6,7,8,9,10,11,13,16 .
Os núcleos metálicos fundidos
apresentam um alto módulo de elasticidade
e transmitem quase que integralmente as
forças de mastigação ao conduto radicular
por apresentarem alta rigidez em relação ao
elemento dental4. Os pinos fibra de vidro
possuem uma taxa de sucesso maior em
relação aos metálicos fundidos e
apresentam um módulo de elasticidade bem
mais favorável, e que quanto à fratura
radicular, os pinos metálicos fundidos tem se
apresentado como prognóstico menos
favorável7. Martinez et al6 (1998) avaliaram o
desempenho em relação à resistência à
fratura de dentes despolpados e restaurados
com pino núcleo metálico fundido e pino de
fibra e evidenciaram que o limiar de fratura
dos pinos fundidos foi significativamente
maior que nos pinos de fibra. Confirmando
que o módulo de elasticidade dos pinos de
fibra de vidro foi próximo ao tecido
dentinário, diminuindo com isso a
possibilidade de fraturas radiculares, os
pinos de fibra de vidro favorecem um mínimo
deslocamento entre o pino e a resina
composta, e as forças obtidas na interface
entre os pinos de fibra e o remanescente
dental são melhores distribuídas ao longo do
eixo do conduto tendo como consequencia
melhor prognóstico quando comparado com
núcleos metálicos.
Nos testes laboratoriais realizados
por Newman et al.10, foi comparado o
módulo de elasticidade dos pinos de aço
inoxidável e de fibra de vidro. Obtiveram
como resultado que os pinos de fibra de
vidro suportam menos cargas
comparativamente aos pré fabricados de
aço inoxidável, promovendo menor tensão
ao conduto radicular, preservando-o. Essas
opiniões reforçam em concordância com
Magalhães et al.12, os núcleos metálicos
fundidos apresentam um alto módulo de
elasticidade o que pode provocar um maior
índice de fratura do conduto, promovendo
um sistema de alavanca sobre a superfície
da raiz, devido não somente ao alto módulo
de elasticidade mas também à dureza da
ligas. Ribeiro13 (2004) relata que a
distribuição de tensões em relação a pinos
pré fabricados são menores em pinos de
titânio e núcleos metálicos fundidos,
apresentando elevado módulo de
elasticidade, com grande geração de tensão
Revista de Odontologia da UBC
42
ao longo eixo do remanescente dentinario,
diferentemente dos pinos de fibra de
carbono e fibra de vidro que proporcionaram
menor concentração de tensão.
A corrosão também é um fator
importante a ser considerado quanto aos
núcleos de ligas metálicas, por favorecer a
pigmentação e comprometendo a estética2,3.
Sato et al11 (2004) cita como vantagens dos
núcleos de fibra de vidro, a facilidade de
uso, a simplicidade dos procedimentos
clínicos e a estética, além de apresentarem
uma boa união com cimentos resinosos e
com resinas de preenchimento, porém
contra indica o uso de pinos estético quando
já existia um núcleo metálico fundido, por já
ter um conduto muito largo, ocorreria um
espaço muito grande entre o pino estético e
o material de cimentação aumentando a
contração de polimerização.
Para a cimentação dos pinos de fibra,
os materiais resinosos são os de primeira
escolha, podendo ser autopolimerizáveis,
fotopolimerizáveis ou de polimerização dual,
com a adesão entre dentina e os pinos
obtendo um grau razoável de rigidez,
elasticidade e resistência. Como
desvantagens os cimentos resinosos
apresentam contração e tensão de
polimerização, diminuindo com o passar do
tempo a força de retenção dos pinos10.
Os estudos mostram que os dentes
que receberam pinos de fibra demonstraram
maior resistência que aqueles que
receberam pinos metálicos. Estas diferenças
podem ser explicadas pelo módulo de
elasticidade do material que constitui o pino,
um pino com alto módulo de elasticidade,
como os núcleos metálicos fundidos e pinos
metálicos, quando pressionados contra a
dentina radicular, as forças são transmitidas
do pino para a dentina que é menos rígida, e
quando um pino com módulo de elasticidade
similar a dentina radicular é utilizado a
transferência de forças são reduzidas. O
módulo de elasticidade próximo ao da
dentina é uma das propriedades mais
relevantes dos pinos de fibra, possibilitando
uma distribuição de forças mais favorável e
conseqüente redução do risco de fratura
radicular1.
Apesar de o núcleo metálico fundido
ser o procedimento mais escolhido entre os
cirurgiões dentistas, o uso de núcleos
estéticos tem sido bem aceito pelos
profissionais. O importante é ressaltar que
não há um procedimento padrão em todos
os casos para a instalação de retentores
intrarradiculares devido às diferenças
anatômicas entre as raízes e outras
considerações clinicas, especificas de cada
caso3.
A utilização de pinos de fibra de vidro
tem se mostrado como uma alternativa
clinicamente confiável, pois apresentam alto
percentual de sucesso. Os insucessos não
incluem fraturas radiculares e estão mais
Revista de Odontologia da UBC
43
frequentemente ligados à descimentação do
pino.
CONCLUSÃO
Em face do estudo, este trabalho
pode concluir que as vantagens do uso de
pinos de fibra de vidro em Odontologia são:
- O módulo de elasticidade próximo
da dentina, possibilitando uma distribuição
de forças mais favorável e conseqüente
redução do risco de fratura radicular;
- Adesão à dentina, através dos
cimentos resinosos;
- Baixo custo;
- Menor desgaste da estrutura dental;
- Não apresenta risco de corrosão
comparado aos pinos metálicos, que é um
fator de escurecimento dentinário e limitante
quanto à longevidade estética do
procedimento restaurador;
- Fácil aplicação após treinamento;
- Dispensa laboratório protético,
resultando em um menor número de
consultas.
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45
TRATAMENTO ODONTOLOGICO
NORMAS DE PUBLICAÇÃO 1. MISSÃO A Revista de Odontologia da UBC (ROUBC) é publicada trimestralmente e destina-se à veiculação de originais nas seguintes categorias: artigo original; relato de caso(s) clínico(s); revisão de literatura; informações sobre os Cursos; informações gerais para profissionais. Respeitadas as categorias apresentadas acima, os originais submetidos devem estar de acordo com a linha editorial da Revista, eminentemente voltada aos clínicos e especialistas, devendo oferecer uma visão clínica integrada da Odontologia. A ROUBC aceita artigos de autores nacionais e internacionais, desde que estejam em inglês, espanhol ou português. 2. NORMAS GERAIS 2.a. Os originais deverão ser submetidos por meio do endereço eletrônica [email protected]. 2.b. O conteúdo dos originais deve ser inédito. Não pode ter sido publicado anteriormente nem ser concomitantemente submetido à apreciação em outros periódicos, sejam eles nacionais ou internacionais. 2.c. Uma vez submetidos os originais, a ROUBC passa a deter os direitos autorais exclusivos sobre o seu conteúdo, podendo autorizar ou desautorizar a sua veiculação, total ou parcial, em qualquer outro meio de comunicação, resguardando-se a divulgação de sua autoria original. Para tanto, deverá ser anexado por meio do site o documento de transferência de direitos autorais contendo a assinatura de cada um dos autores, cujo modelo está reproduzido abaixo: Termo de Transferência de Direitos Autorais Eu (nós), autor(es) do trabalho intitulado [título do trabalho], o qual submeto(emos) à apreciação da Revista de Odontologia da UBC, declaro(amos) concordar, por meio deste suficiente instrumento, que os direitos autorais referentes ao citado trabalho tornem-se propriedade exclusiva da Revista de Odontologia da UBC desde a data de sua submissão, sendo vedada qualquer reprodução, total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação de qualquer natureza, sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada e obtida junto à Revista de Odontologia da UBC. No caso de não-aceitação para publicação, essa transferência de direitos autorais será automaticamente revogada após a devolu-ção definitiva do citado trabalho por parte da Revista de Odontologia da UBC, mediante o recebimento, por parte do autor, de ofício específico para esse fim. [Data/assinatura(s)] 2.d. A Revista de Odontologia da UBC reserva-se o direito de adequar o texto e as figuras recebidos segundo princípios de clareza e qualidade. 2.e. Os conceitos e as afirmações constantes nos originais são de inteira responsabilidade do(s) autor(es), não refletindo, necessariamente, a opinião da Revista de Odontologia da UBC, representada por meio de seu corpo editorial e comissão de avaliação. 3. FORMA DE APRESENTAÇÃO DE ORIGINAIS Os artigos devem ser redigidos utilizando-se fonte Arial ou similar, tamanho 12, espaçamento duplo entre linhas, em páginas numeradas tamanho A4 com margens de 2,5 cm. 3.a. Categorias de originais, elementos constituintes obrigatórios, ordem de apresentação e limites: Artigo original – Título; resumo; descritores; relevância clínica; introdução; materiais e métodos; resultados; discussão; conclusão; agradecimentos (se houver); referências; legendas; título, resumo (abstract) e descritores em inglês (descriptors). Limites: 20 páginas de texto, 2 tabelas e 16 figuras. Relato de caso(s) clínico(s) – Título; resumo; descritores; relevância clínica; introdução; relato do(s) caso(s) clínico(s), discussão; conclusão; agradecimentos (se houver); referências; legendas; título, resumo (abstract) e descritores em inglês (descriptors). Limites: 10 páginas de texto, 2 tabelas e 16 figuras.
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3.b. Texto 3.b.1. Página de rosto: a página de rosto deverá conter o título; nome completo, titulação e afiliação acadêmica dos autores; endereço completo contendo telefone, FAX e e-mail para contato do autor correspondente; especificação da categoria sob a qual os originais devem ser avaliados; especificação da área (ou áreas associadas) de enfoque do trabalho (ex.: Ortodontia, Periodontia/Dentística). 3.b.2. Título: máximo de 100 caracteres. 3.b.3. Resumo: máximo de 250 palavras. Deve ser composto seguindo a seguinte sequência: Objetivos, Materiais e Métodos, Resultados, Conclusão. 3.b.4. Relevância Clínica: descrição sucinta (de 2 a 4 linhas de texto) da relevância clínica do trabalho apresentado. 3.b.5. Descritores: máximo de cinco. Para a escolha de descritores indexados, consultar Descritores em Ciências da Saúde, obra publicada pela Bireme http://decs.bvs.br/. 3.b.6. Resumo, título e descritores em inglês: devem seguir as mesmas normas para os ítens em português. Os autores devem buscar assessoria linguística profissional (revisores e/ou tradutores certificados em língua inglesa) para correção destes itens. 3.b.7. Introdução: deve ser apresentada de forma sucinta (de uma a duas páginas de texto) com clareza enfocando o tópico es- tudado na pesquisa e o conhecimento atual pertinente ao assunto. O objetivo deve ser apresentado no final desta seção. 3.b.8. Materiais e Métodos: identificar os métodos, procedimentos, materiais e equipamentos (entre parênteses dar o nome do fabricante, cidade, estado e país de fabricação) e em detalhes suficientes para permitir que outros pesquisadores reproduzam o experimento. Indique os métodos estatísticos utilizados. Identificar com precisão todas as drogas e substâncias químicas utilizadas, incluindo nome genérico, dose e via de administração e citar no artigo o número do protocolo de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). 3.b.9. Resultados: devem ser apresentados em uma sequência lógica no texto com o mínimo possível de discussão, acompanhados de tabelas apropriadas. Relatar os resultados da análise estatística. Não utilizar referências nesta seção. 3.b.10. Discussão: deve explicar e interpretar os dados obtidos, relacionando-os ao conhecimento já existente e aos obtidos em outros estudos relevantes. Enfatizar os aspectos novos e importantes do estudo e as conclusões derivadas. Não repetir em detalhes dados já citados na seções de Introdução ou Resultados. Incluir implicações para pesquisas futuras. 3.b.11. Conclusão: deve ser pertinente aos objetivos propostos e justificados nos próprios resultados obtidos. A hipótese do trabalho deve ser respondida. 3.b.12. Agradecimentos: Especifique auxílios financeiros citando o nome da organização de apoio de fomento e o número do processo (Ex.: Este estudo foi financiado pela FAPESP, 04/07582-1). Mencionar se o artigo fez parte de Dissertação de Mestrado ou Tese de Doutorado (Ex.: Baseado em uma Tese submetida à Faculdade de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Doutor em Clínica Odontológica, área de Dentística). Pessoas que tenham contribuído de maneira significativa para o estudo podem ser citadas. 3.b.13. Referências: máximo de 30. A exatidão das referências bibliográficas é de responsabilidade dos autores. IMPORTANTE: a utilização de referências atuais é de fundamental importância para o aceite do trabalho. As referências devem ser numeradas de acordo com a ordem de citação e apresentadas em sobrescrito no texto. Sua apresentação deve seguir a normatização do estilo Vancouver, conforme orientações fornecidas no site da National Library of Medicine: http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_ requirements.html. Nas publicações com sete ou mais autores, citam-se os seis primeiros e, em seguida, a expressão latina et al. Deve-se evitar a citação de comunicações pessoais, trabalhos em andamento e não publicados.
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Exemplos: Livro Fejerskov O, Kidd E. Cárie dentária : a doença e seu tratamento clínico. 1a. ed. São Paulo: Santos; 2005. Capítulo de Livro Papapanou PN. Epidemiology and natural history of periodontal disease. In: Lang NP, Karring T. Proceedings of the 1st European Workshop on Periodontology. 1st ed.London: Quintessence, 1994:23-41. Artigo de Periódico Iwata T, Yamato M, Zhang Z, Mukobata S, Wa- shio K, Ando T, Feijen J, Okano T, Ishikawa I. Validation of human periodontal ligament-derived cells as a reliable source for cytotherapeutic use. J Clin Periodontol 2010;37(12):1088-99. Dissertações e Teses Antoniazzi JH. Analise “in vitro” da atividade antimicrobiana de algumas substancias auxiliares da instrumentação no preparo quimico-mecanico de canais radiculares de dentes humanos [Tese de Doutorado]. Ribeirão Preto: Faculdade de Far-mácia e Odontologia de Ribeirão Preto; 1968. Consultas Digitais Tong, Josie (2002), “Citation Style Guides for Internet and Electronic Sources”. Página consultada em 10 de novembro de 2010, http://www. guides.library.ualberta.ca/citation_internet. 3.c. Tabelas Devem estar no final do texto ou em forma de figuras na resolução adequada. A legenda deve acompanhar a tabela. 3.d. Figuras – normas gerais As ilustrações (fotografias, gráficos, desenhos, quadros etc.), serão consideradas no texto como figuras e devem ser citadas no corpo do texto obrigatoriamente. As figuras devem possuir boa qualidade técnica e artística para permitir uma reprodução adequada. São aceitas apenas imagens digitalizadas que estejam em resolução mínima de 300 dpi, em formato TIF, com 6 cm de altura e 8 cm de largura. Não serão aceitas fotografias embutidas no arquivo de texto. Não serão aceitas imagens fotográficas fora de foco, com excesso de brilho, escuras demais ou com outro problema que dificulte a visualização do assunto de interesse ou a reprodução. Os limites máximos apresentados para imagens poderão ser ultrapassados em casos especiais desde que as imagens adicionais sejam necessárias à compreensão do assunto, sob condição de que os autores assumam possíveis custos devido à inclusão destas imagens. 4. ASPECTOS ÉTICOS 4.a. Estudos realizados in vivo ou que envolvam a utilização de materiais biológicos deverão estar de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e seus complementos, e ser acompanha-do de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do estabelecimento onde foram realizados. 4.b. Na apresentação de imagens e texto deve-se evitar o uso de iniciais, nome e número de registro de pacientes. O paciente não poderá ser identificado ou estar reconhecível em fotografias. O termo de consentimento do paciente quanto ao uso de sua imagem e documentação odontológica é obrigatório e deve se referir especificamente à ROUBC. 4.c. Figuras e Tabelas já publicadas em outras revistas ou livros devem conter as respectivas referências e o consentimento por escrito do autor e dos editores. 5. ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS Devem estar em conformidade com as especificações contratadas com o setor comercial. A ROUBC exime-se de qualquer responsabilidade pelos serviços e/ou produtos anunciados, cujas condições de fornecimento e veiculação publicitária estão sujeitas ao Código de Defesa do Consumidor e ao CONAR - Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária. 6. ETAPAS DE AVALIAÇÃO 6.a. Controle do cumprimento das normas de publicação pelo corpo editorial. 6.b. Avaliação dos originais pelo corpo editorial quanto à compatibilidade com a linha editorial da Revista. 6.c. O conteúdo científico dos originais é avaliado por no mínimo dois assessores ad hoc segundo os critérios: originalidade, relevância clínica e/ou científica, metodologia empregada e isenção na análise dos resultados. A comissão de avaliação emite um parecer sobre os originais, contendo uma das quatro possíveis avaliações: “desfavorável”, “sujeito a pequenas modificações”, “sujeito a grandes modificações” ou “favorável”. 6.d. Os originais com a avaliação “desfavorável” são devolvidos aos autores, revogando-se a transferência de direitos autorais. Os originais com avaliação “sujeitos a modificações” são re- metidos aos autores, para que as modificações pertinentes sejam realizadas e posteriormente reavaliadas pelos assessores ad hoc.
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