tese_potencial energético do bagaço e palhiço de cana-de-açúcar, cv. sp80-1842, em Área de...
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TESE_Potencial Energético Do Bagaço e Palhiço de Cana-De-Açúcar, Cv. SP80-1842, Em Área de Alambique ArtesanalTRANSCRIPT
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LARYSSA FERREIRA VIANA
POTENCIAL ENERGTICO DO BAGAO E PALHIO DE CANA-DE-ACAR,
CV. SP80-1842, EM REA DE ALAMBIQUE ARTESANAL
LAVRAS-MG
2011
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LARYSSA FERREIRA VIANA
POTENCIAL ENERGTICO DO BAGAO E PALHIO DE CANA-DE-ACAR, CV. SP80-1842, EM REA DE ALAMBIQUE ARTESANAL
Tese apresentada Universidade Federal de Lavras, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Agronomia/Fitotecnia, rea de concentrao em Produo Vegetal, para obteno do ttulo de Doutor.
Orientador
Dr. Luiz Antnio de Bastos Andrade
Coorientador
Dr. Paulo Fernando Trugilho
LAVRAS-MG
2011
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Viana, Laryssa Ferreira.
Potencial energtico do bagao e palhio de cana-de-acar, cv. SP80-1842, em rea de alambique artesanal / Laryssa Ferreira Viana. Lavras : UFLA, 2011. 102 p. : il. Tese (doutorado) Universidade Federal de Lavras, 2011.
Orientador: Luiz Antnio de Bastos Andrade. Bibliografia.
1. Biomassa. 2. Bagao. 3. Energia. 4. Resduos. I. Universidade
Federal de Lavras. II. Ttulo. CDD 662.88
Ficha Catalogrfica Preparada pela Diviso de Processos Tcnicos da Biblioteca da UFLA
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LARYSSA FERREIRA VIANA
POTENCIAL ENERGTICO DO BAGAO E PALHIO DE CANA-DE-ACAR, CV. SP80-1842, EM REA DE ALAMBIQUE ARTESANAL
Tese apresentada Universidade Federal de Lavras, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Agronomia/Fitotecnia, rea de concentrao em Produo Vegetal, para obteno do ttulo de Doutor.
APROVADA em 04 de fevereiro de 2011. Dr. Moiss de Sousa Reis EPAMIG
Dr. Jlio Csar Garcia IAC
Dr. Ivan Antnio dos Anjos IAC
Dr. Luiz Antnio de Bastos Andrade
Orientador
Dr. Paulo Fernando Trugilho
Coorientador
LAVRAS-MG
2011
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por mais esta etapa vencida.
Universidade Federal de Lavras e ao Departamento de Agricultura,
pela oportunidade concedida.
Ao professor Luiz Antnio de Bastos Andrade, pela fora, orientao,
ensinamento, compreenso e pelo estmulo em buscar sempre mais
conhecimento.
Ao professor Paulo Fernando Trugilho, pelos ensinamentos e amigvel
convivncia.
Aos pesquisadores Ivan Antnio dos Anjos, Jlio Csar Garcia e Moizes
de Sousa Reis, pela disponibilidade em participarem da banca de defesa e pelas
contribuies apresentadas.
A todos os colegas e amigos do Curso de Fitotecnia, pela enriquecedora
convivncia e auxlio nos trabalhos.
Aos funcionrios de campo e aos funcionrios do Departamento de
Agricultura e do Departamento de Cincias Florestais, pela ateno e amizade.
Agradecimento especial ao alambique Joo Mendes- JM, no municpio de
Perdes, que nos cedeu com presteza o local para realizao dos trabalhos.
Homenagem pstuma ao Sr. Joo Mendes, o meu eterno reconhecimento e
agradecimento.
Agradeo aos meus pais e familiares, pelo apoio constante em todos os
momentos de minha vida.
Enfim, a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contriburam para a
realizao deste trabalho.
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RESUMO
O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o potencial energtico do bagao e palhio de cana, produzidos por um alambique artesanal, tpico de pequenos produtores de cachaa de Minas Gerais, ao longo da safra de cana, junho a outubro, ciclo da cana soca, colhida sem a queima prvia do canavial. Foi utilizada a variedade SP80-1842 que apresenta boa produtividade agrcola em cana planta e soca. O experimento foi instalado em rea do alambique Joo Mendes - JM, no municpio de Perdes, Minas Gerais no ano agrcola de 2008/2009. Os tratamentos foram avaliados utilizando-se o delineamento experimental de blocos casualizados, com 5 tratamentos, correspondendo a cinco pocas de corte (junho, julho, agosto, setembro e outubro), com cinco repeties, totalizando 25 parcelas, sendo os dados tomados nas trs linhas centrais. Os caracteres avaliados foram: rendimento de cana integral, rendimento de colmos, rendimento de palhio, rendimento de bagao, rendimento de bagao + palhio, brix (%) caldo, rendimento de matria seca do palhio e do bagao, poder calorfico do bagao e do palhio e anlise elementar do material. Foi realizada anlise de varincia com o auxlio do uso do sistema computacional Sisvar. O rendimento de bagao foi maior em setembro, provavelmente devido ao pico da poca de seca na regio. Os valores obtidos para brix foram maiores em agosto/setembro/outubro devido a maior maturao da cana-de-acar. Foi constatado que o poder calorfico superior e rendimento em calorias do bagao e palhio foi maior em setembro/outubro do que nos meses de junho/julho/agosto, provavelmente devido ao menor teor de umidade e maior rendimento em matria seca nos meses de setembro/outubro. Para a umidade em base seca h uma maior variao presente no bagao e, em geral, quanto menor a umidade, maior o poder calorfico. O Poder Calorfico Inferior, o Poder Calorfico til e o Rendimento em calorias do bagao e palhio aumentaram com o avanar da safra de cana-de-acar. Palavras-chave: Biomassa. Cana-de-acar. Bagao. Energia. Resduos.
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ABSTRACT
The present work was conducted with the objective of evaluate the energetic potential of the sugar-cane bagasse and chaff, produced by an artisan distillery, carachteristical to small cachaa producers in Minas Gerais, during harvest season of the sugar cane, from June to October, cicle of the rattoon, harvested without prior burning of the crop. It was utilized the variety SP80-1842 which presents a good agricultural productivity in plant-cane and rattoon. The experiment was held in the area of distillery Joo Mendes JM, in Perdes, Minas Gerais in the agricultural year of 2008/2009. The treatments were evaluated utilizing the experimental design consisted of ramdomized blocks, with 5 treatments , corresponding to 5 cutting times (June, July, August, September and October), with 5 repetitions, totalizing 25 parcels, being the data taken in the three central lines. The evaluated characters were: the yield of the whole cane, yield of the culm, yield of the chaff, yield of the bagasse, yield of the bagasse + chaff, brix (%) juice, yield of the dry matter of the chaff and of the bagasse and elementar analysis of the material. It was made variance analysis with the aid of the use of computer system Sisvar. The yield of the bagasse was higher in September, probably this is due to peak of drougt time in the region.The values obtained for the brix were higher in August/September/October due to the a greater maturation of the sugar-cane. It was verified that the superior calorific power and yield in calories of the bagasse and chaff was higher in the months of September/October than in the months of June/July/August, probably this is due to less moisture contents and higher yield in dry matter in September/October. For the moisture in dry base there is a bigger variation present in the bagasse and, in general, the lower the moisture the higher the calorific power is. The Inferior Calorific Power, The Useful Calorific Power and the Yield in calories of the bagasse and chaff increased with the progress of the harvest season of the sugar cane. Keywords: Biomass. Sugarcane. Bagasse. Energy. Residues.
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Rendimento de colmos (t.ha-1) em funo das pocas de colheita.........................................................................
55 Grfico 2 Rendimento de cana integral (t.ha-1) em funo das pocas
de colheita............................................................................. 56
Grfico 3 Rendimento de palhio (t.ha-1) em funo das pocas de colheita..................................................................................
57
Grfico 4 Rendimento de bagao (t.ha-1) em funo das pocas de colheita..................................................................................
58
Grfico 5 Rendimento de palhio+bagao (t.ha-1) em funo das pocas de colheita.................................................................
58 Grfico 6 Teor de brix (%) em funo das pocas de
colheita.................................................................................
61 Grfico 7 Poder calorfico superior do palhio (cal.g-1) em funo das
pocas de colheita...........................................................
63 Grfico 8 Poder calorfico superior do bagao (cal.g-1) em funo das
pocas de colheita.............................................................
63 Grfico 9 Poder calorfico inferior do bagao (Kcal. kg-1) em funo
das pocas de colheita.....................................................
66 Grfico 10 Poder calorfico til do bagao (Kcal. kg-1) em funo das
pocas de colheita............................................................
66 Grfico 11 Poder calorfico inferior do palhio (Kcal. kg-1) em funo
das pocas de colheita......................................................
67 Grfico 12 Poder calorfico til do palhio (Kcal. kg-1) em funo das
pocas de colheita............................................................
67 Grfico 13 Rendimento em calorias do palhio (Mcal.ha-1)................... 69 Grfico 14 Rendimento em calorias do bagao (Mcal.ha-1)................... 69 Grfico 15 Rendimento em calorias do palhio + bagao
(Mcal.ha1).............................................................................. 70
Grfico 16 Teor de nitrognio (%) do palhio em funo das pocas de colheita...............................................................................
73 Grfico 17 Teor de nitrognio (%) do bagao em funo das pocas de
colheita...............................................................................
73 Grfico 18 Teor de Carbono (%) em funo das pocas de
colheita...........................................................................
74 Grfico 19 Teor de hidrognio (%) do palhio em funo das pocas de
colheita..............................................................................
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Grfico 20 Teor de hidrognio (%) do bagao em funo das pocas de colheita..............................................................................
75 Grfico 21 Teor de enxofre (%) em funo das pocas de
colheita.................................................................................
75 Grfico 22 Teor de oxignio (%) em funo das pocas de
colheita.................................................................................
76 Grfico 23 Teores de umidade em base seca do palhio (%) em funo
das pocas de colheita..........................................................
78 Grfico 24 Teores de umidade em base seca do bagao (%) em funo
das pocas de colheita......................................................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Poderes calorficos superiores (PCS, Kcal.kg-1), de diferentes biomassas vegetais, obtidos por diversos autores. (2) Andrade (1961), (3) Arola (1976), (5) Atchison (1977), (4) Brito (1986) e (1) Sumner et al. (1983).
37 Tabela 2 Caractersticas qumicas do solo da rea experimental, nas
camadas de 0 a 20 cm e 20 a 40 cm......................................
45 Tabela 3 Resumos das anlises de varincia para rendimento de colmos
(t.ha-1), cana integral (t.ha-1) e palhio (t.ha-1) em funo das pocas de colheita.................................................................
54 Tabela 4 Resumos das anlises de varincia para rendimento de bagao
(t.ha-1) e palhio + bagao (t.ha-1) em funo das pocas de colheita..................................................................................
54 Tabela 5 Resumo da anlise de varincia Brix (%) caldo em funo das
pocas de colheita.................................................................
60 Tabela 6 Resumos da anlise de varincia para Poder Calorfico Superior
(PCS) do palhio (PCS palhio) em cal.g-1 e Poder Calorfico Superior do bagao (PCS bagao) em cal.g-1 em funo das pocas de colheita...................................................................
62 Tabela 7 Resumos da anlise de varincia para Poder Calorfico Inferior
do bagao (Kcal.Kg-1), Poder Calorfico til do bagao (Kcal.Kg-1) em funo das pocas de colheita.....................
64 Tabela 8 Resumos da anlise de varincia para Poder Calorfico Inferior
do palhio (Kcal.Kg-1), Poder Calorfico til do palhio (Kcal.Kg-1) em funo das pocas de colheita.....................
64 Tabela 9 Resumos da anlise de varincia para rendimento em calorias
do palhio (Calor. palhio) em Mcal.ha-1, rendimento em calorias do bagao (Calor. bagao) em Mcal.ha-1 e rendimento em calorias do palhio mais bagao (Calor. palhio + bagao) em Mcal.ha-1 em funo das pocas de colheita.........................
68 Tabela 10 Resumos da anlise de varincia para teores de nutrientes no
Palhio: Nitrognio (%), Carbono (%), Hidrognio (%), Enxofre (%) e Oxignio (%) em funo das pocas de colheita...................................................................................
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Tabela 11 Resumos da anlise de varincia para teores de nutrientes no
Bagao: Nitrognio (%), Carbono (%), Hidrognio (%), Enxofre (%) e Oxignio (%) em funo das pocas de colheita............................................................................
71 Tabela 12 Valores de referncia para a anlise elementar................... 72 Tabela 13 Resumos das anlises de varincia para teores de Umidade em
Base Seca do palhio em % e Umidade em Base Seca do bagao em % em funo das pocas de colheita................
78 Tabela 14 Simulao energtica do bagao......................................... 82 Tabela 15 Simulao energtica do palhio.......................................... 82 Tabela 16 Simulao energtica do palhio + bagao.......................... 83
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SUMRIO
1 INTRODUO .....................................................................................12 2 REFERENCIAL TERICO ................................................................14 2.1 O desenvolvimento sustentvel e a biomassa para gerao de energia...................................................................................................14 2.2 A cana-de-acar como fonte de biomassa .........................................19 2.3 Cana-energia: potencial e obteno .....................................................25 2.4 Potencial de resduos de cana-de-acar como fonte de energia ......29 2.5 Poder calorfico e a cogerao trmica e eltrica na indstria de
cana- de- acar ..................................................................................36 2.6 Cogerao de energia eltrica em alambiques ....................................41 3 MATERIAL E MTODOS ..................................................................45 3.1 Caracterizao da rea experimental..................................................45 3.2 Delineamento experimental, tratamentos e parcelas .........................45 3.3 Caracterizao da variedade utilizada ................................................46 3.4 Instalao e conduo do experimento ................................................46 3.5 Caractersticas estudadas .....................................................................47 3.5.1 Rendimento de cana integral................................................................47 3.5.2 Rendimento de colmos (TCH) ..............................................................47 3.5.3 Rendimento de palhio..........................................................................47 3.5.4 Rendimento de bagao ..........................................................................47 3.5.5 Rendimento de bagao + palhio .........................................................48 3.5.6 Brix (%) caldo .......................................................................................48 3.5.7 Rendimento de matria seca do palhio e do bagao .........................48 3.5.8 Poder calorfico do bagao e do palhio ..............................................48 3.5.9 Anlise elementar do material..............................................................52 3.6 Anlises estatsticas ...............................................................................53 4 RESULTADOS E DISCUSSO ..........................................................54 4.1 Rendimento de colmos, cana integral, bagao e palhio ....................54 4.2 Teor de Brix (%) caldo .........................................................................60 4.3 Poder calorfico......................................................................................62 4.4 Rendimento em calorias do bagao e do palhio ................................68 4.5 Anlise elementar dos resduos .............................................................71 4.6 Teores de umidade do material em base seca ......................................77 5 CONCLUSES ......................................................................................84 REFERNCIAS .....................................................................................85
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1 INTRODUO
A extrema dependncia da sociedade moderna em relao ao petrleo
como principal fonte de energia da atualidade, associada s incertezas de ordem
poltico-militar, tem levado inmeros pases a buscar novas fontes alternativas
de energia, principalmente as renovveis.
Muitas pesquisas vm sendo desenvolvidas, nesse sentido, cujo interesse
comum o de associar a busca pela produtividade energtica e garantir a
sustentabilidade, reduzindo ao mximo os impactos ao meio ambiente. Tanto no
mercado internacional como no Brasil, a biomassa tem sido considerada como
uma das principais alternativas para a diversificao da matriz energtica e
diminuio da utilizao dos combustveis fsseis (COPERSUCAR, 2001).
No Brasil, a cana-de-acar (Saccharum spp.) apresenta-se como uma
excelente produtora de biomassa, podendo ressaltar que, na matriz energtica
brasileira em 2007, contribuiu com cerca de 20% do total (BRASIL, 2008).
A parte area da cana-de-acar constituda por colmos, que representa
de 80 a 85% da biomassa total, o restante se constituindo de folhas + palmito
(palhio).
Como sabido, dos colmos se extrai o caldo para produo de acar,
lcool, aguardente, rapadura e outros produtos. No entanto, quantidade
considervel de bagao produzida, o qual mesmo que seja utilizado na
produo de vapor, em substituio da lenha, ainda sobra grande quantidade de
um ano para o outro. Ressalta-se que em muitas unidades produtoras de acar e
lcool j utilizam o bagao na co-gerao de energia eltrica. Tambm existem
estudos para a produo de lcool a partir da celulose (BALBO; PADOVANI
NETO, 1987; CAMPOS, 1987).
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Alm do bagao, tambm o palhio (folhas + ponteiros) pode ser usado
na co-gerao de energia, como j tem sido feito por algumas usinas e
destilarias.
A ideia do aproveitamento da cana-de-acar como planta energtica
oferece uma oportunidade mpar para o Brasil aumentar ainda mais a sua
competitividade em matria de energia renovvel de biomassa, com benefcios
incomensurveis sociedade brasileira, alm do valor estratgico.
interessante ressaltar que esta energia pode ser gerada no apenas nas
grandes usinas e destilarias, mas tambm nas pequenas unidades produtoras,
como, por exemplo, os alambiques artesanais, podendo torn-los auto-
suficientes do ponto de vista energtico. Entretanto, faltam estudos que
envolvam a determinao do poder calorfico nestas pequenas unidades
produtoras.
O autor do presente trabalho teve por objetivo, atravs das pesquisas,
avaliar o potencial energtico do bagao e palhio de cana, variedade SP80-
1842, produzidos por um alambique artesanal, tpico de pequenos produtores de
cachaa de Minas Gerais, ao longo da safra de cana, junho a outubro, ciclo da
cana soca, colhida sem a queima prvia do canavial.
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2 REFERENCIAL TERICO
2.1 O desenvolvimento sustentvel e a biomassa para gerao de energia
Criado pelas Naes Unidas, no incio da dcada de 70, devido a uma
srie de preocupaes com os problemas ambientais decorrentes dos processos
de crescimento, o desenvolvimento sustentvel tido como aquele capaz de
suprir as necessidades da gerao atual, sem comprometer a capacidade de
atender as necessidades das futuras geraes (BEZERRA; BURSZTYN, 2000;
BRUSEKE, 2003; CAMARGO, 2002; CAVALCANTI, 2003).
A partir de meados da dcada de 80, surgiram algumas dificuldades
tambm no setor energtico brasileiro, que desde ento entrou em uma fase de
reestruturao e que provocou algumas alteraes em vrios e diferentes setores
(PRIETO, 2003).
Tolmasquim (2000) j destacava como principais causas desta
conturbada fase, o aumento do consumo de energia e a escassez das chuvas, que
deixaram de abastecer os reservatrios das principais hidreltricas brasileiras,
evidenciando, assim, a falta e a insuficincia de investimentos no setor
energtico brasileiro, o que incentivou o pas a buscar novas e diferentes
alternativas de produo de energia.
Um dos mtodos mais utilizados neste setor, principalmente pelos pases
que no possuem recursos hdricos nem outras fontes renovveis, o emprego
de combustveis fsseis (MENEGUELLO; CASTRO, 2007), prtica que vem
intensificando a concentrao de dixido de carbono (CO2) na atmosfera e
aumentando os problemas relacionados ao efeito estufa.
Para um maior controle dessas emisses, foi criada a Conveno Quadro
das Naes Unidas para Mudanas Climticas- United Nations Framework
Convention on Climate Change (UNFCCC) na qual seus membros se renem
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para discusses sobre o tema nas Conferncias das Partes (Conference of
Parties-COP) (ROCHA; MELLO, 2004). O ltimo autor afirma que, dentre
todas as que mais se destacou foi a que ocorreu em Kyoto, no Japo, em 1997.
Nesta reunio foi criado o Protocolo de Kyoto, que determinou a
reduo dos Gases do Efeito Estufa (GEE) nos pases industrializados como
medida contra o aquecimento global do Planeta (ROCHA; MELLO, 2004).
Neste protocolo est descrito, em seu artigo 12, o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) que apresenta uma proposta para que cada
tonelada de CO2 retirada ou deixada de ser emitida na atmosfera, em projetos
instalados para pases em desenvolvimento, possa ser negociada no mercado
internacional com uma Reduo Certificada de Emisses (RCE) ou um crdito
de carbono (OLIVEIRA, 2007; OLIVEIRA et al., 2007).
Sendo assim, o mundo tem buscado novas e diferentes alternativas,
procura de fontes mais eficientes e menos impactantes, procurando priorizar as
mais limpas. Como resultado, as que mais tm se destacado so as fontes ditas
como renovveis, que j se destacavam em sua crescente utilizao no mundo
como insumo energtico (CENTRO DE GESTO E ESTUDOS
ESTRATGICOS - CGEE, 2001; CENTRO NACIONAL DE REFERNCIA
EM BIOMASSA - IEE, 2001).
As inovaes que permitiram o uso do lcool como combustvel, do
bagao em maior escala e da palha como fontes de energia, so reconhecidas
como contribuies importantes para a reduo dos GEEs, por substiturem
combustveis derivados do petrleo. A gerao de energia eltrica, com baixas
emisses atmosfricas, a partir do excedente de bagao, considerada atividade
passvel de obter crditos de carbono atravs do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL).
Como uma fonte de energia primria, a biomassa tida como uma das
principais responsveis pela energia consumida nos pases em desenvolvimento.
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Segundo Rosillo-Calle, Bajay e Rothman (2005) esta fonte renovvel possui
escala de produo de energia suficiente para desempenhar um papel expressivo
no desenvolvimento de programas de energias renovveis e na criao de uma
sociedade ecologicamente mais consciente.
No caso do Brasil, dadas as condies climticas favorveis, a
disponibilidade de terras e a experincia acumulada ao longo do tempo, a
biomassa deve desempenhar um papel fundamental na busca de uma diversidade
de fontes de energia sustentveis no pas. A substituio de combustveis fsseis
por combustveis oriundos da biomassa, por meio do uso de tecnologias de
converso de energia eficientes e aceitveis do ponto de vista ambiental, uma
alternativa importante que contribui, simultaneamente, para a reduo da
poluio da atmosfera e da presso sobre os recursos no renovveis do pas.
Naturalmente, a presso dos ambientalistas pode ser vista como um fator
importante em prol do consumo de combustveis oriundos da biomassa.
A Agncia Nacional de Energia Eltrica - ANEEL (2005) define a
biomassa como todo recurso renovvel constitudo principalmente de
substncias de origem orgnica (de origem vegetal ou animal). A biomassa tem
sido usada de forma crescente no mundo como insumo energtico, muito mais
para usos finais como energia trmica, mas j com destaque como geradora de
energia eltrica, e de forma tambm crescente como origem de combustveis
lquidos (BARROS, 2007), como exemplo temos o etanol.
Nos pases em desenvolvimento, a produo de energia eltrica a partir
da biomassa, tem sido bastante defendida (BARROS, 2007). Alguns programas
nacionais comearam a ser desenvolvidos visando o incremento da eficincia de
sistemas, o que no tem sido diferente no Brasil, onde h vrios anos tem sido
crescente a aplicao de tecnologias para a utilizao da biomassa como fonte
geradora de energia, gerando empregos e com muito pouco recurso financeiro
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(FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SO PAULO - FIESP,
2001).
Lora e Teixeira (2001) apresentam algumas vantagens do uso da
biomassa como combustvel, quando comparados com a utilizao de
combustveis fsseis. Como vantagens os autores apresentam o fato de ser uma
fonte de energia renovvel, possuir baixo custo de aquisio e o de suas
emisses lquidas de CO2 serem baixas. Da mesma forma, afirma que as
emisses de xidos de nitrognio, xidos de enxofre e fuligem so muito
menores que as emisses provocadas no uso de leo combustvel e carvo
mineral. Como desvantagens, apontam alguns fatores principais tais como
menor poder calorfico; maior possibilidade de gerao de material particulado
para a atmosfera, o que significa maior custo de investimento para a caldeira e
os equipamentos para remoo de material particulado e dificuldades no estoque
e armazenamento.
Em termos de alternativas de fontes de biomassa, os pases
desenvolvidos do hemisfrio Norte tm buscado o aproveitamento de resduos
agrcolas e urbanos. O mais apropriado e econmico energeticamente seriam os
cultivos agrcolas especialmente dedicados a produzir energia.
Para produzir biomassa em atendimento necessidade energtica da
humanidade sem competir com a produo de alimentos, deve-se priorizar a
produo de plantas fibrosas em vez de amilceas e oleaginosas (STICKLEN,
2008). Plantas fibrosas trazem diversas vantagens e atendem bem aos requisitos
julgados importantes para serem eleitas como produtoras de biomassa. A partir
dos trabalhos de Coombs (1984), Hill et al. (2006), Rubin (2008) e Sticklen
(2008), podem ser enumerados os seguintes requisitos: plantas de alta eficincia
energtica, isto , de alta capacidade de transformao da energia solar em
biomassa sem requerer muita gua, nutrientes e outros inputs (plantas C4);
crescimento perene e dossel de longa durao para permitir colheita durante a
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maior parte do ano; possibilidade de aplicao de tecnologia agrcola de
produo em grande escala; ser de fcil e eficiente transformao em formas
utilizveis de energia; e explorao sustentvel econmica e ambientalmente.
Surgem, ento, dois tipos de cultivo para os trpicos: as florestas
artificiais, especialmente de eucalipto, e as gramneas (poaceaes) como a cana-
de-acar. So justamente duas plantas que se desenvolvem bem nos trpicos e
subtrpicos, de alta eficincia fotossinttica, por coincidncia plantas que
possuem o processo fotossinttico C4, processo este de maior eficincia na
fixao de C em condies de temperatura mais elevada daquelas regies (EL-
BASSAM, 1998). Outra gramnea tambm de alta produtividade o capim-
elefante, mas, o destaque a cana-de-acar, mesmo porque, alm de maior
potencial de produtividade (EL-BASSAM, 1998; WOODARD; PRINE, 1993),
oferece maior oportunidade de melhoramento gentico e, consequentemente,
maior ganho futuro de eficincia.
A utilizao da fibra da biomassa como matria-prima para fins
energticos pode ser feita segundo quatro plataformas bsicas: combusto direta
para produo de energia trmica (vapor) e eltrica (co-gerao); hidrlise
qumica ou enzimtica da fibra (celulose e hemiceluloses) para obteno de
acares fermentveis e produo de combustveis lquidos; gaseificao para
produo de gs de sntese (monxido de carbono e hidrognio) ou gerao de
biogs; e pirlise para produo de bio-leo ou carvo/coque.
Em se tratando de biomassa, a inovao tecnolgica dever ocorrer no
apenas nos processos de converso, mas principalmente, na rea agrcola. Nesta
merecem destaque, o desenvolvimento de novas variedades de plantas,
melhorias nas prticas agrcolas e nas tcnicas de colheita, onde a mecanizao
uma tendncia; na adubao, no controle de pragas e doenas e na reduo e
mitigao dos impactos ambientais.
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Em resumo, a biomassa tem um enorme potencial para auxiliar na
reduo das emisses de gases de efeito estufa, no aumento da segurana
energtica de cada pas e no aumento da oferta de empregos e renda no meio
rural. A transio da cultura de biomassa/ alimento para biomassa/ alimento +
energia, para ser bem sucedida, vai requerer muita criatividade e investimentos
em Pesquisa e Desenvolvimento, seja para reduzir os custos das matrias-primas
e dos processos de transformao, seja para reduzir e mitigar os impactos scio-
ambientais do aumento de reas cultivadas, de forma a garantir um
desenvolvimento sustentvel.
Atualmente a utilizao de biomassa para produo de energia, tanto
eltrica como em forma de vapor, em caldeiras ou fornos j uma realidade no
Brasil e tem sido bastante expressiva quanto ao crescimento e desenvolvimento
do setor (GRAUER; KAWANO, 2001). Diversas fontes renovveis de biomassa
so conhecidas, tais como a lenha, carvo vegetal, babau, leos vegetais, sisal,
biogs, casca de arroz e resduos vegetais, como o caso do bagao e palhio de
cana-de-acar.
2.2 A cana-de-acar como fonte de biomassa
O Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (BRASIL, 2009)
afirma que, no Brasil, existem 423 usinas sucroalcooleiras em funcionamento,
sendo 16 usinas unicamente produtoras de acar, 159 de lcool e 248 mistas
(produo de acar e lcool). Cada tonelada de cana (colmos) produz 140 kg
(massa seca) de bagao, dos quais 90% so utilizados para produzir energia
trmica e eltrica na usina. Adicionalmente, contm 150 kg de acares (usado
na produo de acar, etanol e, agora, plsticos) e 140 kg (massa seca) de
palha, que perdida por meio de queimadas no campo.
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20
O Estado de So Paulo produziu, na safra 2008-2009, cerca de 20
bilhes de litros de etanol (consumo interno mais exportaes). Nessa mesma
safra, foi o responsvel por aproximadamente 61% da produo total brasileira
de etanol, sendo tambm o maior produtor de energia eltrica cogerada a partir
do bagao e da palha da cana-de-acar (UNIO DAS INDSTRIAS DE
CANA-DE-ACAR - NICA, 2009).
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB
(2009), a safra 2009/10 de cana-de-acar foi de 612 milhes de toneladas.
Segundo Corra Neto (2009), as expectativas apontam para um aumento da
capacidade de produo e processamento de cana-de-acar, chegando a
aproximadamente 715 milhes de toneladas por ano, em 2015. Um grande
trabalho tem sido realizado no Brasil na busca de tecnologia para a colheita e
transporte da palha, assim como para a avaliao da sua disponibilidade real. A
legislao que restringe gradualmente a queima pr-colheita dever atuar
positivamente para que este resduo seja incorporado ao sistema de gerao de
energia (MACEDO, 2001).
Introduzida no Brasil pelos portugueses no incio do sculo XVI, a cana-
de-acar (Saccharum officinarum L.), principal matria-prima do setor, tem
sido utilizada para gerao de energia. O elevado potencial de gerao de
energia a partir de sua biomassa tem provocado crescentes buscas por opes
diferenciadas do completo aproveitamento dessa matria-prima.
A agroindstria da cana-de-acar foi milenarmente explorada para a
produo de acar (sacarose). Em 1975, o Brasil abriu caminho para uma nova
explorao, a produo de etanol combustvel em larga escala (CARMO, 1977;
HAMMOND, 1977; NATALE NETTO, 2007; NEMIR, 1983; VIDAL;
VASCONCELLOS, 1998; XAVIER, 2007). Porm, alm do etanol e da energia
trmica e eltrica que se obtm da cana-de-acar, centenas de outros produtos e
subprodutos podem ainda ser desenvolvidos a partir dessa matria-prima
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21
(INSTITUTO CUBANO DE INVESTIGACIONES DE LOS DERIVADOS DE
LA CAA DE AZCAR - ICIDCA, 1999).
Desde o seu incio, o Prolcool brasileiro foi objeto de observao e
anlise internacional pela sua ousadia, propriedade e originalidade (COOMBS,
1984; HAMMOND, 1977; NEMIR, 1983). Hammond (1977) observava que o
Prolcool tinha possibilidade de tornar o Brasil no s lder mundial em fontes
renovveis de energia como tambm o primeiro pas em estgio de
desenvolvimento a encontrar o seu prprio caminho de independncia
energtica.
Efetivamente, tudo isso se confirmou e, hoje, o etanol j um
importante componente da matriz energtica nacional, contribuindo para uma
economia substancial de divisas, para a diminuio da poluio ambiental e a
mitigao do efeito estufa.
Do seu processo industrial obtm-se principalmente o acar, o lcool
combustvel (etanol- anidro e hidratado), aguardente, rapadura, melado, acar
mascavo, produtos farmoqumicos. Alm destes produtos so gerados
subprodutos como a vinhaa ou vinhoto, a torta de filtro, o bagao e, com a
colheita de cana crua, gerado grande quantidade de palhio (folhas + palmito),
que at ento deixado no campo como sistema de cobertura do solo
proporcionando grandes vantagens ao sistema solo-gua-planta. No entanto, seja
nas grandes indstrias como nos alambiques, a queima do bagao, para produo
de energia (vapor) se faz notria. Porm, mais recentemente, nas indstrias este
resduo tem sido utilizado tambm como produtor de energia trmica e eltrica
em sistemas de cogerao instalados na maioria das sucroalcooleiras distribudas
pelo Brasil e atravs da utilizao tambm do palhio esto com potencialidade
em estudo para produo do etanol celulsico, mais conhecido como etanol de
segunda gerao (DIAS et al., 2009).
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22
Ribeiro e Morelli (2009) mostram que processos de reutilizao e
reaproveitamento de resduos como estes economizam recursos naturais e
reduzem os impactos ambientais ao serem utilizados em seu processo produtivo,
quando comparados aos processos que utilizam matrias-primas virgens.
Como uma das mais importantes culturas agrcolas brasileiras, a cana
apresenta um ciclo produtivo mdio de seis a sete anos, com possibilidade de
seis cortes e um rendimento mdio de 75 toneladas por hectare, podendo
alcanar uma mdia de at 120 toneladas por hectare (SCARPINELLA et al.,
2009). Segundo Jank (2007), cada tonelada colhida e processada nas usinas pode
gerar at 82 litros de lcool combustvel ou 138 quilos de acar e de acordo
com Andreolli (2008) cada tonelada de cana gera aproximadamente 250 kg de
bagao mido (50% b.u.) (NICA, 2009) e, produz ainda, em mdia, 204 kg de
palha e pontas.
O Estado de So Paulo produziu, na safra 2008-2009, cerca de 20
bilhes de litros de etanol (consumo interno mais exportaes). Nessa mesma
safra, foi o responsvel por aproximadamente 61% da produo total brasileira
de etanol, sendo tambm o maior produtor de energia eltrica cogerada a partir
do bagao e da palha da cana-de-acar (NICA, 2009).
Apesar de a agroindstria sucroalcooleira ter sido tradicionalmente alvo
de crticas, hoje j cresce a percepo da sociedade sobre o seu valor para o pas.
Nos ltimos anos, o setor tem crescido em ritmo superior a muitos outros, com
perspectiva de seguir assim ainda por muitos anos.
A produo de etanol celulsico est recebendo grande investimento
tecnolgico nos pases ricos, como EUA, Canad e Unio Europeia, pois sua
eficincia energtica ser ainda maior se comparada com a atual tecnologia de
transformao da sacarose (JOHNSON, 2007; RUBIN, 2008; SCHMER et al.,
2008; STICKLEN, 2007).
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23
Macedo (1998) apresentou balanos da gerao de energia, na forma de
sacarose, etanol e eletricidade, por uma usina de acar operando
convencionalmente ou de forma atualizada (maquinrios de ltima gerao e
com alto rendimento, j disponveis no mercado), levando-se em considerao
dois panoramas de matria-prima: com variedades atualmente cultivadas de
cana-de-acar ou com variedades de cana-energia.
Segundo este autor, foram utilizados nestes clculos valores mdios de
produtividade agrcola e industrial. Assim, considerando que a biomassa total de
um canavial seja de 110 t, tm-se 85 toneladas de colmos industrializveis, 15
toneladas de palhada (25% de umidade) que ficam no campo, conforme o
processo usual. Tem-se, ento, 12,8 t de sacarose (ATR-acar total recupervel)
extradas dos colmos e que resultaro em 6 t de acar; e o restante da sacarose,
uma vez fermentado, resultar em 3.500 litros de etanol. O subproduto bagao
(23,8 t, 50% de umidade) ser queimado e gerar 6,1 MWh, dos quais uma parte
(62 t de vapor ou 5,18 MWh para usinas atuais e 36 t de vapor ou 3 MWh para
usinas atualizadas) ser utilizada pela prpria usina para alimentar o processo
todo e o restante ser um excedente de energia eltrica de 0,92 MWh (usinas
convencionais) ou 3,1 MWh (usinas atualizadas).
O balano final se resume a 6 t de sacarose, 3.500 litros de etanol e 3,1
MWh de eletricidade excedente no caso de usinas atualizadas. Se a cana-energia
for a matria-prima a ser utilizada, ter-se-ia, pela sua maior produtividade (137 t
de colmos industrializveis e 24 t de palhada) e pela utilizao de 60% da
palhada, considerando-se um ATR igual das variedades atuais, um balano
final das mesmas 6 t de sacarose, 3.500 litros de etanol e um excedente de
eletricidade vindo da queima do bagao (9,8 MWh) de 9,6 MWh ou 11,8 MWh,
nos casos de usinas atualizadas, com um ganho de energia eltrica de
aproximadamente quatro vezes em relao utilizao das variedades atuais.
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24
Alm disso, a biomassa da cana-energia poder ser utilizada, como j
descrito, como fonte de energia trmica em termeltricas ou mesmo
transformadas termoquimicamente em carvo vegetal, com liberao de biogs e
bio-leos, todos de grande valor econmico e especialmente ambiental.
Entretanto, devido s caractersticas fsicas de umidade e granulao do bagao,
sua principal aplicao atual se restringe a processos de combusto direta em
caldeiras para gerao de calor, vapor e energia eltrica (co-gerao). Outras
caractersticas do bagao de cana, como composio ligno-celulsica
homognea (celulose, hemiceluloses e lignina), processamento (triturado e
lavado) e disponibilidade (abundncia e estocagem), habilitam essa biomassa
como uma das melhores matrias-primas para a utilizao nos futuros processos
de hidrlise enzimtica ou qumica.
Devido a essas caractersticas, o bagao tambm pode ser aproveitado
em processos mais sofisticados, como gaseificao, desde que ele seja
transformado em briquetes ou pellets, para o aumento de densidade e sua
adequada aplicao e utilizao em gaseificadores. O gs gerado a partir da
gaseificao poder ser usado na alimentao de motores em processos de
combusto direta ou como gs de sntese em processos termoqumicos ou
fermentativos.
A cana-energia, em sua forma in natura e desidratada, tambm poder
ser utilizada diretamente em processos de combusto e gaseificao, desde que o
corte dos colmos seja feito no tamanho de pellets ou diretamente com os colmos
inteiros em processos de pirlise para produo de bio-leo ou carvo/coque.
Os seculares engenhos de acar, que apenas no ltimo sculo se
transformaram em agroindstrias de acar e, mais recentemente no Brasil,
tambm de lcool, havero de evoluir para complexas biorrefinarias a
produzirem alimento, energia eltrica, combustveis lquidos e toda uma cadeia
de subprodutos substitutos daqueles provenientes do petrleo, alm de
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substncias qumicas diversas e frmacos. Mais recentemente vem sendo
desenvolvida a tecnologia para se produzir outros hidrocarbonetos que no
simplesmente etanol (LAKSHMANAN et al., 2005; RUBIN, 2008; STICKLEN,
2008), como a fabricao de poli-3-hidroxibutirato (PHB), o plstico
biodegradvel, que tambm j esto se tornando realidade.
2.3 Cana-energia: potencial e obteno
Ao longo deste ltimo sculo, houve grande esforo dos programas de
melhoramento gentico convencional e da pesquisa agronmica para o aumento
da produtividade de cana, de acar e lcool para se chegar ao atual nvel.
Porm, segundo Moore (2005), a produtividade agroindustrial chegou a um
patamar difcil de ser suplantado se consideradas as atuais condies de manejo
agronmico. Portanto, de acordo com Jackson (2005), ocorre um limite difcil de
ser suplantado na partio do assimilado entre acmulo de sacarose e
crescimento.
Por essa razo, muito esforo tem sido feito para se aprofundar no
conhecimento da sntese, do transporte e do acmulo de sacarose (LINGLE,
2004; MOORE, 2005; RAE et al., 2005; ZHU; KOMOR; MOORE, 1997) e de
genes que regulam esse processo, com o intuito de, por meio da transgenia, se
conseguir romper essa barreira (LAKSMANAN et al., 2005; MING et al., 2006;
MOORE, 2005; SINGELS; DONALDSON; SMITH, 2005; WATT et al., 2005;
ZHU; ALBERT; MOORE, 2000).
O melhoramento gentico da cana-de-acar est, portanto, num novo
divisor de guas neste incio de sculo: enquanto durante 100 anos se buscou
maior produtividade de acar, agora o novo modelo de cana dever ser
direcionado para alta produtividade de fibra. A vantagem de se produzir mais
fibra em detrimento do acar que as plantas sero mais rsticas, o que traz
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26
uma srie de vantagens econmicas e ambientais: as plantas sero menos
exigentes em solo, clima, gua e nutrientes e mais resistentes a pragas e doenas,
da resultando maior eficincia energtica no seu cultivo, ou seja, maior unidade
de energia produzida por energia gasta, se considerada toda a cadeia
(output/input). Este um parmetro essencial e finalista que determinar as
opes energticas a serem consideradas, se o objetivo final for a preservao
ambiental e a sustentabilidade (HILL et al., 2006; JOHNSON et al., 2007).
A ideia do aproveitamento da cana-de-acar como planta energtica ao
invs de apenas como fonte de sacarose iniciou-se ao final da dcada de 70 do
sculo passado, nos EUA, em razo da crise do petrleo e do prenncio de mais
problemas frente (ALEXANDER, 1985, 1988; BISCHOFF et al., 2008).
Demonstrou-se, quela poca, que, alm da utilizao de etanol combustvel,
como estava fazendo o Brasil, devia se olhar a cana-de-acar como grande
planta produtora de biomassa, pois at ento apenas o colmo era o alvo e, deste,
apenas a sacarose (ALEXANDER, 1985). Uma vez que a fibra passasse a ser o
composto carbnico mais importante, haveria possibilidade de se incrementar a
produtividade em maior grau do que com a cana tradicional, ainda que custa de
diminuio no teor de sacarose (ALEXANDER, 1985; GIAMALVA; CLARKE;
STEIN, 1984).
Esse novo tipo de cana foi cunhado como cana-energia (energy cane) na
Louisiana e em Porto Rico, onde ocorreram os primeiros trabalhos de
melhoramento dirigidos para esse fim (GIAMALVA; CLARKE; STEIN, 1984;
SAMUELS et al., 1984). quela poca, Alexander (1985) demonstrou que, com
uma renncia de 25 a 35% na sacarose, ter-se-ia aumento no total de biomassa
de at mais de 100%, se a colheita fosse de cana integral. Em outro resultado,
Samuels et al. (1984) demonstraram que, embora a produo de slidos solveis
(Brix) fosse 37% menor, a produo de massa seca (Brix + fibra) era 13% maior,
devido maior produo de fibra, resultando em produtividade final de massa
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27
seca por hectare 20% maior. Esses programas foram descontinuados e, agora,
com o renovado interesse em biocombustveis e em biomassa, a cana-energia
retoma interesse nos EUA (BISCHOFF et al., 2008).
H muita diversidade gentica vivel para produo de biomassa no
germoplasma comumente utilizado para criao de novos hbridos de cana-de-
acar. Esses hbridos compartilham basicamente genes das espcies S.
officinarum e S. spontaneum, sendo complexos aneuploides com conformao
2n + n, com fixao total dos cromossomos de S. officinarum e dos de S.
spontaneum, havendo ainda cromossomos conjugados (GRIVET; ARRUDA,
2001; HONT et al., 2008).
Devido a essa complexidade gnica, so frequentes numa prognie
hbrida formas mais prximas de S. spontaneum, plantas pequenas, de colmos
finos e com baixo brix e baixa pureza sacarina, como tambm plantas de alta
capacidade produtiva, mais rsticas do que aquelas selecionadas como
cultivares, mas usualmente descartadas por terem teor de sacarose abaixo do
limite pr-estabelecido pelo padro atual, ou seja, menor que 12%. Se essas
plantas fossem selecionadas, j dariam um ganho de produtividade total, slidos
solveis mais fibra, de at 20% em relao ao principal hbrido comercial, se
considerados apenas os colmos industrializveis, ou de mais de 30% de energia
calorfica por rea, se aproveitados tambm as folhas e os palmitos
(MATSUOKA; ARIZONO, 1987).
Portanto, nas populaes usuais de melhoramento gentico, seria
possvel selecionar plantas do primeiro estdio de cana-energia, ou seja, plantas
de maior produtividade de biomassa. Com essas plantas, na agroindstria
sucroalcooleira atual, com uma destilaria de lcool anexa e ainda uma unidade
de co-gerao de eletricidade, poder-se-ia ter retorno econmico final maior do
que o propiciado por uma variedade de alto teor de sacarose.
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28
Em sntese, constituem-se caractersticas e qualidades do uso da cana-
energia: produz energia renovvel, o que contribui para mitigar o efeito estufa;
apresenta alta converso do Carbono atmosfrico em Carbono orgnico, ou seja,
alta produo de biomassa; poder ser um dos principais cultivos na mudana de
paradigma da civilizao do petrleo para a civilizao de energia multifacetada,
compreendendo fontes mltiplas de energias renovveis; tem alta densidade de
energia, ou seja, energtica e economicamente matria-prima mais eficiente do
que aquela de plantas alimentcias; tem elevada resistncia a estresses biticos e
abiticos, de forma que possvel produzir com menor input (menos
fertilizantes, pesticidas e energia), alm de ser cultivada em terras de menor
valor agronmico, i.e., menos frteis, de menor disponibilidade de gua, de
temperaturas mais extremas (tanto baixas como altas) e mais salinas; oferece
menor competio com a produo de alimentos por consequncia dos fatores
citados; tem poder de controle da eroso maior do que plantas herbceas, fixa
mais carbono no solo, devido ao seu sistema radicular fasciculado.
Somando-se a isso a sua caracterstica de semiperenidade, oferece
grande capacidade de proteo aos solos, em razo dos fatores j citados; seu
cultivo, manejo, colheita e transporte so procedimentos j dominados;
possvel desenvolver cultivares de alta produtividade para cada regio
geogrfica por processo de melhoramento.
importante enfatizar a caracterstica, porque existem casos de plantas
dedicadas produo de energia que constituem ameaa ambiental, pela
possibilidade de se tornarem plantas daninhas de alto poder invasivo
(DITOMASO; BARNEY; FOX, 2007).
Observa-se que a cana-energia apresenta grande potencial energtico
no aproveitado totalmente e que deve ser meta prioritria de polticas
energticas e ambientais do governo brasileiro.
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29
2.4 Potencial de resduos de cana-de-acar como fonte de energia
A utilizao de resduos na indstria sucroalcooleira uma necessidade
no s do ponto de vista ambiental, mas tambm uma forma de evitar
desperdcio de um material que pode vir a gerar lucros. Os resduos do
processamento da cana-de-acar para a produo de acar e lcool, que hoje
em dia j so gerados em quantidade expressiva, com variedades e manejos
melhores, devem aumentar consideravelmente nos prximos anos, com a
expanso das lavouras e o desenvolvimento de novas unidades agroindustriais.
Estes resduos podem ser usados como matria-prima para a produo de novos
produtos.
Na utilizao dos resduos vegetais para a gerao de energia,
importante o conhecimento de algumas propriedades destes por meio da anlise
elementar, da anlise qumica imediata e do poder calorfico. Pela anlise
elementar so determinados os teores de carbono, hidrognio, oxignio,
nitrognio, enxofre e cinzas, dos quais os elementos de maior contribuio para
o poder calorfico so o carbono e o hidrognio. A anlise qumica imediata
fornece os teores materiais volteis, cinzas e, por diferena, o carbono fixo
(VALE; GENTIL, 2008).
O poder calorfico uma propriedade importante na avaliao de um
combustvel slido e consiste na quantidade de calorias liberadas na combusto
completa de uma unidade de massa do material combustvel, expressa em cal.g-1
ou Kcal.kg-1. O poder calorfico chamado superior (PCS) quando a gua
proveniente da queima est presente em estado lquido (ASSOCIAO
BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS - ABNT, 1984). A partir do PCS,
desconta-se a energia gasta para evaporar o hidrognio de constituio do
combustvel, na forma de gua, e obtm-se o poder calorfico inferior
(NASCIMENTO; DUTRA; NUMAZAWA, 2006).
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30
Segundo Vale e Gentil (2008), o modelo energtico brasileiro,
inicialmente sustentado pela lenha, modificou-se ao longo das ltimas dcadas,
atingindo atualmente 41,06% da oferta interna bruta de energia representada
pelos combustveis renovveis (biomassa e eletricidade). A participao dos
resduos no balano energtico nacional ainda pequena, mas significativo o
crescimento ao longo dos ltimos anos.
A produo de etanol atualmente utiliza a sacarose como matria-prima,
o que corresponde a usar aproximadamente um tero da energia contida na cana.
O bagao queimado com baixa eficincia energtica para a gerao de
vapor e energia eltrica, e a palha deixada sobre o solo no processo de colheita.
Com o uso crescente de colhedeiras mecnicas e com a eliminao gradativa da
queima da palha (SO PAULO, 2002), espera-se que a cana possa ser
aproveitada integralmente.
Devido s extensas reas de produo, a gerao de resduos na indstria
canavieira por si s impactante, pelos volumes gerados. Entretanto, resduos
como bagao, torta de filtro e vinhaa tm alto valor agregado e constituem-se
em matria-prima para outras atividades agrcolas e industriais. Todos os
resduos da cadeia produtiva da cana so reutilizados no prprio processo
produtivo, o que faz do setor canavieiro um exemplo a ser seguido no quesito
gerenciamento ambiental.
Tambm muito relevante a importncia do subproduto bagao na
gerao de energia. O setor praticamente independente do ponto de vista
energtico. Toda a energia necessria para o funcionamento da agroindstria
vem da gerao de vapor na queima do bagao pelas caldeiras. E ainda sobra um
excedente representado por 3.400 MW que pode ser comercializado para o
fornecimento de energia eltrica nas cidades. A produo de energia eltrica,
atravs do bagao, com baixas emisses atmosfricas, permite a obteno de
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31
crditos de carbono, por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), instrumento contido no artigo 12 do protocolo de Kyoto.
Segundo Corra Neto e Ramon (2002), as usinas sucroalcooleiras so
auto-suficientes em 98% de suas necessidades energticas, utilizando como
combustvel o bagao da cana-de-acar. No entanto, a opo histrica do setor
foi por tecnologias de baixa eficincia porque o objetivo primordial era
maximizar a queima do bagao devido dificuldade de armazenamento e a
pouca relevncia do mercado de bagao in natura. Neste sentido, existe um
imenso potencial de produo de excedentes de eletricidade a serem exportados
para rede com a adoo de tecnologias de produo mais eficientes.
Estuda-se ainda a retirada da palhada ou de parte dela, para a queima nas
caldeiras e aumento de produo de energia, podendo liberar parte do bagao
para outros usos, como a produo de lcool. Futuramente, com o
desenvolvimento da tecnologia de produo do etanol de segunda gerao (a
partir de materiais celulsicos), a palha e o bagao tero ainda maior
importncia na produo de energia. Essas tecnologias representaro grande
avano, uma vez que a retirada parcial da palhada do campo no afetar
significativamente os benefcios que esta promove ao solo, e o aporte energtico
que a palhada poder representar, em termos de co-gerao de energia eltrica,
representar uma participao maior do setor na composio da matriz
energtica, com ganhos ambientais.
O estudo da viabilidade de aproveitamento do palhio para a gerao de
energia pode ser feito com base no custo e no balano de energia, ou seja, a
energia gerada por essa biomassa menos a energia consumida no processo.
Conforme Sartori (2001) e Sartori et al. (2001), na tentativa de
minimizar o impacto ambiental e as influncias causadas na produtividade e,
consequentemente, no lucro das empresas sucroalcooleiras, pesquisadores tm
persistido na escolha da variedade que derive palhios com maior poder
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32
calorfico e com baixo custo de coleta, sem perder as caractersticas de
produo. Somente assim seria vivel o aproveitamento desse resduo para co-
gerao de energia.
Com o aproveitamento do palhio, alm do potencial energtico dessa
biomassa, tm-se como vantagens as questes ambientais, a manuteno de
empregos e a projeo de vida limitada para os recursos energticos de fontes
naturais (EID; CHAN; PINTO, 1998). Uma das grandes dificuldades ainda
encontrada para o aproveitamento desse resduo, porm, est na parte
econmica. Alm do fator custo, a viabilidade desse aproveitamento est ligada
tambm ao balano de energia, pois segundo Ripoli (2002a, 2002b), o processo
envolve o uso de quatro tipos de mquinas, as quais consomem energia em
forma de combustveis derivados do petrleo.
Segundo Ripoli e Ripoli (2001) o palhio fornece, em mdia, 13.551
MJ.t-1 , sendo que estimaram para o Brasil que este material, se fosse recolhido e
levado at as usinas e destilarias, poderia gerar energia suficiente para abastecer
9,85 milhes de pessoas de consumo de baixa renda, por ano, enquanto que o
bagao, que j amplamente utilizado para produo energtica, poderia atender
5,55 milhes de pessoas.
Castro e Dantas (2008a) enunciam que a potncia instalada para a
gerao de bioeletricidade no setor sucroalcooleiro no incio de 2008 era de
aproximadamente 3.900 MW para auto-suprimento e apenas 900 MW
exportados. Isto em uma conjuntura onde a tecnologia de extra-condensao
capaz de gerar 80 kWh de energia eltrica excedente a ser comercializada est
disponvel e o setor sucroalcooleiro passa por um ciclo expansivo sustentvel.
Por sua vez, o progressivo fim das queimadas ir disponibilizar uma quantidade
adicional de biomassa a ser utilizada como combustvel oriundo da palha. Neste
sentido, torna-se ntido o quanto a potncia instalada atual est aqum da
potencial gerao de bioeletricidade.
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33
Alm das vantagens inerentes a uma fonte de energia renovvel gerada
de forma eficiente, a insero da bioeletricidade sucroalcooleira no sistema
hidreltrico brasileiro possui a importante funo de mitigar o risco hidrolgico
porque o perodo de safra, entre maio e novembro, coincidente com o perodo
seco na regio Sudeste, onde se encontra localizados os maiores reservatrios
brasileiros (CASTRO; DANTAS, 2008b).
A viabilidade tcnica e econmica de gerao de eletricidade, a apartir
de resduos de colheita de cana crua, foi estudada por Cock, Briceo e Torres
(2000), na Colmbia. Os autores concluram que, se os custos de recolhimento
no campo e no transporte para o local de gerao de eletricidade fossem
reduzidos para menos de US$8,00 por tonelada de resduo, com umidade de
35%, a gerao de eletricidade seria um excelente investimento. Os autores
citaram que a maioria das variedades de cana-de-acar cultivadas na Colmbia
produz mais de 30% de resduos, com poder calorfico da ordem de 10.000 KJ.
kg-1 com umidade de 35%.
No Brasil, um trabalho pioneiro sobre o assunto foi desenvolvido por
Ripoli e Molina Jnior (1991), que estimaram que, de 1 hectare de canavial,
poder-se-ia obter em torno de 67.080 Mcal, em equivalentes energticos, assim
distribudos: 20,09% na forma de lcool, 40,03% no aproveitamento do bagao
como combustvel para fornalhas de caldeiras de usinas e destilarias, e os
restantes 39,88%, estariam contidos no material remanescente da colheita
(ponteiros, folhas verdes, palhas, colmos e suas fraes no colhidos),
principalmente, a mecanizada.
Para Freitas (2001), nos dias atuais, no Brasil, o bagao de cana-de-
acar a biomassa mais promissora para gerao de energia eltrica. As mais
recentes tecnologias agrcolas e industriais do setor sucroalcooleiro tm
oferecido grandes quantidades desse material que poderiam fornecer energia
eltrica, via usinas e destilarias, interligadas aos principais sistemas eltricos,
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34
atendendo aos centros de consumo dos Estados das regies Sul e Sudeste,
principalmente.
Segundo a ANEEL (2002), entre outras razes que justificam a busca de
fontes mais competitivas de gerao de energia eltrica, est a necessidade de
reduo das emisses de dixido de carbono. Sob esta tica, a biomassa
apresenta-se tcnica e economicamente competitiva, e sua utilizao promove a
gerao local e descentralizada de empregos, reduzindo o problema do xodo
rural e a dependncia externa de energia, em funo da sua disponibilidade local.
No Brasil, a biomassa representa cerca de 20% da oferta primria de
energia. A extenso do territrio nacional, em grande parte localizada em
regies tropicais e chuvosas, apresenta condies das mais adequadas para a
produo e o uso energtico da biomassa em larga escala. Especificamente no
Estado de So Paulo, a produo de biomassa energtica, por meio da cultura
canavieira, significativa, sendo comparvel produo de energia hidrulica.
No Estado de So Paulo, o setor gera para consumo prprio entre 1.200
e 1.500 MW, 40 usinas produzem excedentes de 158 MW e a luz que vem da
cana j ajuda a iluminar diversas cidades. O potencial de gerao de energia da
agroindstria canavieira est em torno de 12 mil MW (NICA, 2003).
De acordo com Castro (2001), uma tonelada de cana produz cerca de
240 kg de bagao e tem potencial para gerar 70 kWh, dos quais 30 so utilizados
na produo de acar e lcool. Se cerca das 130 usinas e destilarias do Estado
de So Paulo gerassem 40 kWh de energia eltrica excedente por tonelada de
cana, a produo seria equivalente de duas turbinas da Usina Hidreltrica de
Itaipu, ou seja, 1,5 GW.
Segundo Kitayama (2007), a utilizao de 75% do bagao disponvel e
50% da palha disponvel na safra 2012/13, na qual se estima uma produo de
cana de 696 milhes de toneladas, permite projetar uma potncia instalada para
exportao de 19.284 MW em um horizonte de cinco anos, equivalendo a uma
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35
energia assegurada de 9.642 MWmed a ser inserida na rede, o que equivale
energia firme ofertada pela usina de Itaipu.
Considerando um rendimento mdio de 75 t.ha-1 de cana para o Brasil,
provvel que o rendimento correspondente de cana crua, ou seja, com a
manuteno do palhio no campo, essa produtividade possa alcanar 105 t.ha-1.
Cerca de 30 t.ha-1 da biomassa formada por resduos de cana com um teor de
umidade mdio de aproximadamente 50%. O bagao, tambm com um teor de
umidade de aproximadamente 50%, representa outras 30 t.ha-1.
Numa estimativa conservadora de que apenas 50% das plantaes sejam
apropriadas para os sistemas de colheita mecanizada e que somente 50% dos
resduos dessas plantaes sejam recuperveis por problemas com o cultivo e
pelas perdas nos vrios estgios do processo, cerca de 40 milhes de toneladas
poderiam ser utilizadas para a gerao de energia e outras finalidades.
Os resduos da cana, palha e bagao combinados tm um valor
calorfico bruto de aproximadamente 17 GJ/t de matria seca. Portanto, o teor
energtico dos resduos recuperveis seria aproximadamente 57 mil GWh de
eletricidade, supondo que a eficincia global da tecnologia de converso seja de
30% (BAUEN et al., 1998).
Para se ter uma ideia da relevncia do potencial da bioeletricidade,
projees do Operador Nacional do Sistema Eltrico (ONS), rgo responsvel
pela coordenao e controle de operao da gerao e transmisso de energia
eltrica, indicam que cada 1.000 megawatts mdios (MWmed) de
bioeletricidade inseridos na matriz eltrica entre maio e novembro representam
economia de quase 4% da capacidade dos reservatrios das regies Sudeste e
Centro-Oeste.
Ora, um pas como o Brasil que, por um lado, importa 20% de suas
necessidades de petrleo e no vem conseguindo ampliar, satisfatoriamente, seu
parque hidreltrico e, por outro lado, apresenta um potencial bastante grande em
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relao a biomassa vegetal, no pode se dar ao luxo de se desprezar o caminho
que leve ao aproveitamento racional desse potencial. O binmio energia de
biomassa-controle ambiental deve ser meta prioritria de polticas energticas e
ambientais do governo brasileiro.
Dessa forma, a utilizao dos resduos da cana-de-acar como fonte de
energia pode transformar a agroindstria sucroalcooleira em verdadeira usina de
biomassa. Neste contexto, a utilizao de fontes alternativas de energia, em
particular os resduos da cana-de-acar, aparece como uma oportunidade de
particular importncia para colaborar na oferta de energia para o pas.
2.5 Poder calorfico e a cogerao trmica e eltrica na indstria de cana-
de-acar
No estudo de biomassas vegetais como matria-prima para produo de
energia eltrica, necessrio caracterizar os seus poderes calorficos que a
medida da quantidade de energia que o material combustvel libera quando
queimado totalmente, dado normalmente em cal.g-1 ou Kcal.kg-1 para os
combustveis slidos e lquidos e em Kcal.m-3 para os combustveis gasosos.
A medida do poder calorfico de extrema importncia na avaliao
energtica de qualquer combustvel. Este pode ser determinado como Poder
Calorfico Superior (PCS), Inferior (PCI) e til (PCU), dependendo da forma
como obtido.
A norma NBR8633 (ABNT, 1984) define Poder Calorfico Superior
(PCS) como sendo o nmero de unidades de calor liberado, pela combusto de
uma unidade de massa de uma substncia, em bomba calorimtrica, em
atmosfera de oxignio, a volume constante e sob condies especficas, de modo
que toda gua proveniente da combusto esteja no estado lquido.
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37
Poder Calorfico Inferior o poder calorfico obtido sem levar em
considerao o calor latente do vapor d gua. A gua gerada perdida sob a
forma de vapor pelo sistema e, assim, leva uma parte da energia liberada pelo
material (calor latente do vapor d gua). Portanto, um valor menor que o do
poder calorfico superior.
Oliveira (1982) definiu Poder Calorfico Inferior (PCI) como sendo o
calor liberado pelo combustvel menos o calor de vaporizao da gua.
Para Brito e Barrichello (1982), a diferena entre o PCS e o PCI ocorre
em funo de se considerar ou no o calor liberado pela condensao de gua de
constituio da biomassa. Recomendam que, na prtica, o PCI deve ser o
preferido; porm, no processo de determinao, regra geral, utiliza-se de bomba
calorimtrica, que fornece o PCS. Para contornar a situao; lana-se mo da
relao entre PCS e PCI, a qual regida pela quantidade de hidrognio contida
no combustvel, tendo-se, ento, descontado o calor de vaporizao da gua
formada no processo.
Diversos autores determinaram o Poder Calorfico Superior de inmeras
biomassas, como apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 Poderes calorficos superiores (PCS em Kcal. kg-1), de diferentes biomassas vegetais, obtidos por diversos autores. (2) Andrade (1961), (3) Arola (1976), (5) Atchison (1977), (4) Brito (1986) e (1) Sumner et al. (1983)
Biomassas PCS Biomassas PCS Paino (1) 4.178 Casca de pecan (1) 4.345 Colmo de sorgo (1) 4.273 Laranja (fruto) (1) 4.464 Folhas de sorgo (1) 4.631 Pecan (fruto) (1) 4.536 Capim-napier (1) 4.369 Grape fruit (1) 4.464 Grama-bermuda (1) 4.584 Cone de Pinus spp.(1) 4.870 Pinus spp. (1) 4.249 Palha de Pinus spp. (1) 5.348 Pssego (fruto) (1) 4.608 Pinus strobus (2) 5.285 Eucalyptus saligna (3) 4.670 Pinus ponderosa (2) 5.000 Eucalyptus robusta (3) 4.774 Eucalyptus tereticornis (4) 8.248 Madeira dura (5) 4.555 a 4.665 Madeira mole (5) 4.665 a 5.550 Palha de cereal (5) 4.445 Bagao de cana (5) 4.445 a 4.665
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Ripoli et al. (1990) e Ripoli, Mialhe e Brito (1990), estudando trs
variedades de cana-de-acar, concluram que o palhio varia entre 17 e 31% em
peso mido, em relao quantidade de colmos industrializveis e que seu
poder calorfico til da ordem de 3.600 Kcal. kg-1.
Molina Jnior et al. (1995), estudando mtodos de recolhimento de
resduos de colheita manual de cana-de-acar, variedade SP70-6163, no
municpio de Piracicaba, determinaram ndice de Palhio de 0,34 e poderes
calorficos superior de 4.538,8 Kcal. kg-1, Inferior de 4.200,2 Kcal. kg-1 e til de
2.341,4 Kcal. kg-1 .
A cultura canavieira, segundo relatos de vrios autores (AGUILLAR et
al., 1989; BETANCOURT, 1976; COPERSUCAR, 2001) pode gerar, alm dos
colmos industrializveis, uma quantidade de palhio da ordem de 15 a 30% em
peso da parte area das plantas, dependendo das condies de campo (variedade,
idade, nmero de corte e condies edafoclimticas). O poder calorfico deste
material equivalente ao da madeira e superior ao do prprio bagao da cana,
por volta de 1.896 Kcal.kg-1 , o que o torna no mais um material descartvel,
mas um importante produto para agregao de valor para o setor sucroalcooleiro
(RIPOLI, 1991).
O sistema de cogerao o principal responsvel pelo suprimento de
energia trmica e eletromecnica nas usinas de cana-de-acar espalhadas pelo
mundo. Como descrito em Costa e Balestieri (1998) a cogerao um processo
no qual uma fonte de energia primria alimenta uma mquina ou aparelho
trmico que, pela reao de combusto, transforma a energia qumica do
combustvel em mecnica de eixo, que convertida em energia eltrica por meio
de geradores eltricos.
Os primeiros sistemas de cogerao passaram a ser instalados ao redor
do mundo na primeira dcada do sculo XX (GOMAZAKO; OLIVEIRA, 2007).
Segundo estes autores, diante da necessidade de independncia energtica, a
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39
gerao de energia eltrica passou a ser prtica adotada pela agroindstria
sucroalcooleira. Tal prtica iniciou-se pela queima do bagao.
No Brasil, a cogerao uma prtica tradicional h alguns anos. O que
tem mudado a eficincia com que os resduos vm sendo utilizados (RAMOS
et al., 2003). Inicialmente, a cogerao chegou a ser muito utilizada pelas
indstrias, poca em que foram adaptados modelos tecnolgicos com emprego
preferencial de energia proveniente de combustveis fsseis como o carvo
mineral, o gs natural e o petrleo (SCHIRMER, 2006).
Este autor explica ainda que, a partir da algumas usinas e destilarias
passaram por uma fase de transio, acompanhadas por uma reduo no
consumo de energia trmica nos processos. Contudo, juntamente com a
necessidade de reduzir emisses de CO2, um novo modelo no setor eltrico
voltou a estimular a produo de energia eltrica local que fosse mais eficiente e
com custos reduzidos que beneficiasse no s as usinas de grande, mas tambm
as de pequeno e mdio porte.
Dados da ANEEL (2005), tambm apresentados por Souza e Azevedo
(2006) apontam que cada tonelada de cana processada requer em mdia
aproximadamente 12 MWh de energia eltrica, o que facilmente gerado nos
sistemas convencionais de cogerao instalados nessas usinas.
De acordo com Souza (2003), utilizando-se das tecnologias disponveis
de cogerao a partir do bagao para produo de excedentes de energia por
parte das usinas paulistas, seria capaz de suprir o dficit de toda regio sudeste
devido o racionamento durante a crise de 2001 e 2002. Com isso, o autor explica
que, as empresas passaram a focar a cogerao tambm como mais uma opo
de lucros, junto com o acar e o lcool.
Em um estudo feito pelo Instituto Euvaldo Lodi - IEL (2008), em
parceria com a Confederao Nacional da Indstria (CNI) e a Itaipu Binacional,
apresentou que a biomassa da cana tem condies de adicionar ao sistema
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40
eltrico brasileiro at 2020 aproximadamente 15 mil megawatts (MW) de
eletricidade, o que seria equivalente a incorporar uma nova Itaipu ao parque
gerador nacional. Tais dados mostram que o setor poder vir a contribuir para
suprir a crescente demanda por energia no Pas.
Atualmente, quase todas as usinas e destilarias brasileiras possuem
sistemas de gerao de vapor, que operam em cogerao queimando o bagao, e
algumas delas j vm adicionando a palha, devido ao seu elevado potencial
energtico (DANTAS; MAUAD; OMETTO, 2009). O bagao ainda utilizado
em quantidade muito superior que a palha, pois a maior parte da palha fica no
campo e mais da metade aproveitada como adubo.
Mas, pela lei estadual n11. 241 de 2002 do Estado de So Paulo, at
2021 ser proibida a queima da palha na rea mecanizvel, e at 2031 na rea
no mecanizvel (SO PAULO, 2002). Mas, o governo do Estado assinou um
Protocolo Agroambiental se comprometendo em sanar essa queima at 2014 na
rea mecanizvel e at 2017 na rea onde no possvel o trabalho com
mquinas (ASSINATURA..., 2008). Com isso, sobrar muita palha e a tendncia
que a disponibilidade e utilizao deste insumo para gerao de energia
aumentem ao longo dos prximos anos.
Uma t de cana produz 250 Kg de bagao e 204 de palha e pontas, 1 t de
cana (bagao + palha) gera 199,9 kWh para exportao, Poder Calorfico
Inferior (PCI) da palha=1,7 PCI do bagao, Fator de capacidade=0,5 (Koblitz),
utilizando caldeira de 65 bar (NICA, 2009). Considera-se, em 2008/09, a
utilizao de 75% do bagao disponvel e 5% da palha disponvel e, a partir de
2015/16, a utilizao de 75% do bagao disponvel e 70% da palha disponvel.
At 2010 foi considerada a energia comercializada nos Leiles de Energia no
Ambiente de Contratao Regulado, em 2011 foi considerado um incremento de
1600 MW, e a partir de 2012 incrementos de 2.000 MW por ano.
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41
medida que a colheita mecnica de cana crua for implementada, a
quantidade disponvel de palhio ir aumentar e, portanto, poderia ser usado
com a finalidade de produo de energia eltrica, uma vez que seu poder
calorfico igual a 12,75 MJ.Kg-1 com 15% de umidade, superior ao do bagao
em 7,5 MJ.Kg-1 com 50% de umidade (MACEDO; LEAL; SILVA, 2004).
Estima-se que haja um potencial para a safra de 2010/2011 de 4.407
MW, aproveitando bagao e palhio, contra a mdia atual de 2.715 MW,
aproveitando-se somente o bagao (ASSOCIAO DA INDSTRIA DE
COGERAO DE ENERGIA - COGEN, 2008).
O potencial de gerao de energia a partir da cana considerando a sobra
total de bagao (cana crua e queimada) e a palha da cana cortada sem queimar,
seria de 1.715 MWh em 2002, chegando a 17.148 MWh em 2021, durante toda a
safra. Considerando uma safra de 180 dias e uma eficincia de moagem de 85%,
poderiam ser gerados em 2002, um total de 262.335 MWh, podendo atingir 2,62
milhes de MWh em 2021.
A bioeletricidade sucroenergtica fundamental para atingir esse
propsito, como demonstra o perfil da matriz energtica brasileira. Em 2008, a
biomassa como um todo, incorporando bagao de cana e palha, representava
menos de 5% da matriz, enquanto o mercado teria condies de absorver o
equivalente aos 12% da matriz em 2020, considerando-se apenas o potencial do
setor sucroenergtico.
2.6 Cogerao de energia eltrica em alambiques
Na atualidade, com uma produo oficial estimada em 1,5 bilhes de
litros por ano, a cachaa a segunda bebida mais consumida no Brasil. So
Paulo o principal estado produtor, prevalecendo a cachaa industrial
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42
(empresarial) e Minas Gerais, o segundo produtor, com o predomnio da cachaa
artesanal (ANDRADE; CARDOSO, 2008).
Em Minas Gerais, o agronegcio cachaa tem significativa importncia
econmica e social. De acordo com o Servio de Apoio s Micro e Pequenas
Empresas - SEBRAE (2001), so 8466 produtores, a maior parte concentrada
nas regies mais carentes como Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. A
cadeia produtiva da cachaa gera, s na produo, 115.000 empregos diretos e
cerca de 46.000 empregos indiretos.
Esse forte apelo social e econmico do setor vem recebendo grande
ateno por parte dos setores pblicos e privados mineiros, visando ancorar o
fortalecimento do meio rural e aproveitar as potencialidades do mercado
consumidor da bebida. Como exemplo destaca-se a Lei Estadual n 13.949
(INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECURIA - IMA, 2001), que estabeleceu
a Cachaa de Minas como produto exclusivamente mineiro, a Instruo
Normativa n 56, que regulamentou as normas relativas aos requisitos e
procedimentos para registro de estabelecimento produtores de cachaa
organizados em cooperativas legalmente constitudas, a criao de entidades
para a organizao do setor, como a Associao Mineira dos Produtores de
Cachaa (AMPAQ) e a elaborao de estudos visando o desenvolvimento da
produo.
Na produo de cachaa artesanal em Minas Gerais, a cana-de-acar
no queimada antes da colheita, o que resulta em uma grande quantidade de
restos culturais, representados por pontas de cana e folhas laterais (ANDRADE;
CARDOSO, 2008). Estes restos culturais (palhio), juntamente com o bagao
resultante da moagem de colmos da cana-de-acar ou parte dele que sobra do
processo de queima nas caldeiras para produo de vapor, podem se constituir
em biomassa promissora para gerao de energia eltrica. Entretanto, faltam
estudos que envolvam a determinao do poder calorfico do bagao e palhio
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43
em pequenas unidades produtoras, como o caso dos alambiques existentes em
Minas Gerais.
Os resduos da produo de cachaa, dentre os quais se destacam o
vinhoto e o bagao, tambm tm sido objeto de estudos para entidades ligadas
agricultura mineira que buscam meios para aliar o aumento na qualidade do
produto com preservao ambiental, o que resultaria em grandes benefcios para
o produtor. Deste modo, outra importante forma de integrao a utilizao das
sobras no poluentes da produo de cachaa, como o bagao, a ponta e o caldo
da cana, na alimentao de bovinos e sunos.
Assim, como a safra da cachaa concentra-se no perodo em que a seca
mais acentuada, a ponta da cana e o bagao podem ser utilizados na
alimentao do gado como uma forma de substituir a falta de pasto. Em relao
aos sunos, vrios estudos tm demonstrado que a cana e o caldo-de-cana podem
ser utilizados como fonte de energia, substituindo parcialmente o seu principal
alimento, o milho. Outra forma de integrao suno/cachaa a utilizao do
bagao picado como cama para os porcos, a qual pode ser posteriormente
utilizada como matria orgnica para as plantaes (BARCELOS; REZENDE,
2002).
A utilizao do bagao como fonte para gerao de energia, pode ser
uma alternativa econmica, ecolgica e tecnolgica para os pequenos
produtores, pois economizam na aquisio de lenha e evitam problemas
ambientais.
A expectativa de que este aproveitamento de resduos nos alambiques,
possa transform-los numa espcie de mini termoeltricas, semelhana da
gerao de energia eltrica que j acontece em grande escala na agroindstria
sucro-alcooleira.
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Mas, para isto, fazem-se necessrios estudos que, num primeiro
momento, determinem o poder calorfico do bagao e palhio em pequenos
alambiques, ao longo da safra de cana-de-acar.
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45
3 MATERIAL E MTODOS
3.1 Caracterizao da rea experimental
O experimento foi instalado em rea do alambique Joo Mendes - JM,
no municpio de Perdes, Minas Gerais, regio Campos das Vertentes, situado
nas coordenadas geogrficas de latitude de 21o 05` 20, longitude de 45o 05`50 e
altitude de 826 m.
O clima da regio do tipo Cwa, caracterizado por temperatura mdia
do ms mais quente de 22,1 oC e a do ms mais frio de 15,8 oC. A temperatura
mdia anual de 19,3 oC e a precipitao pluvial total anual de 1529,7 mm
(BRASIL, 1992).
O solo no qual foi instalado o experimento caracteriza-se como
Latossolo Vermelho Amarelo Distrfico, textura mdia, cujas caractersticas
qumicas so apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2 Caractersticas qumicas do solo da rea experimental, nas camadas de 0 a 20 cm e 20 a 40 cm. Local: Perdes - MG. Data: Junho de 2008
Camada pH P K Ca Mg Al H+Al MO Zn Fe Mn
Cm mg.dm-3- -------cmolc.dm-3------- dag.kg-1 mg.dm-3
0 a 20 5,2 0,9 23 1,0 0,4 0,2 3,2 2,0 0,2 45,6 2,7
20 a 40 5,5 0,6 17 1,1 0,6 0,2 3,2 1,9 0,8 43,5 3,0
P e K extrator Mehlich 1; Ca, Mg e Al: extrator KCl 1 N; H + Al extrados com acetato de clcio 1N, pH 7,0.
3.2 Delineamento experimental, tratamentos e parcelas
Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados, com 5
tratamentos, correspondendo cinco pocas de corte (junho, julho, agosto,
setembro e outubro), com cinco repeties, totalizando 25 parcelas.
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46
As parcelas foram constitudas por cinco linhas de cana-de-acar, de
15,0 m de comprimento, espaadas de 1,40 m entre si, sendo a rea total de
105,0 m2. Considerou-se como rea til as trs linhas centrais, totalizando uma
rea de 63,0 m2.
3.3 Caracterizao da variedade utilizada
A variedade utilizada foi a SP80-1842, que apresenta boa produtividade
agrcola em cana planta e soca, sendo caracterizada pelo rpido crescimento
vegetativo, boa brotao da soqueira, alto teor de sacarose, no sendo comum a
ocorrncia de isoporizao, resistente a carvo e ferrugem e susceptvel
escaldadura e broca da cana-de-acar (COPERSUCAR, 2001).
3.4 Instalao e conduo do experimento
O experimento foi instalado em junho de 2008, demarcando-se as
parcelas em rea de cana soca, imediatamente aps o primeiro corte, realizado
de forma manual, sem a queima prvia do canavial.
A adubao da soqueira foi feita com base na anlise de solo, conforme
recomendao da Comisso de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais -
CFSEMG (1999), aplicando-se 400 kg.ha-1 da frmula 20-05-20 em cobertura,
entre as linhas de cana-de-acar.
A fim de se combater formigas, utilizou-se inseticida lquido, aplicado
via termonebulizador. J para o controle de plantas daninhas, foram realizadas
capinas manuais, mantendo-se a cana no limpo nos primeiros cem dias ps-
corte.
As colheitas foram feitas de acordo com as pocas pr-estabelecidas,
junho a outubro de 2009, de forma manual, sem a queima prvia.
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47
3.5 Caractersticas estudadas
3.5.1 Rendimento de cana integral
O rendimento de massa verde total (colmos + ponteiros + folhas
laterais), em cada poca de corte, foi realizado na rea til da parcela por meio
de pesagens realizadas em balana tipo dinammetro, com capacidade para 120
kg, de acordo com metodologia preconizada por Mariotti e Lascano (1969
citados por ARIZONO et al., 1998). Posteriormente, realizou-se a transformao
para toneladas de cana integral por hectare.
3.5.2 Rendimento de colmos (TCH)
O rendimento de colmos, despontados e despalhados, em cada poca de
corte, foi obtido a partir da determinao da massa total de colmos (kg) por rea
til de parcela e sua posterior transformao para t.ha-1 (TCH), de acordo com
Arizono et al. (1998).
3.5.3 Rendimento de palhio
O rendimento de palhio (pontas e folhas laterais) foi obtido pela
diferena entre o rendimento de cana integral e o rendimento de colmos por
hectare.
3.5.4 Rendimento de bagao
Para a determinao desta caracterstica, 15 colmos despontados e
despalhados foram pesados e posteriormente esmagados, pesando-se o bagao
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obtido. Calculou-se o rendimento (%) de bagao, que foi multiplicado pelo
rendimento de colmos por hectare, obtendo-se o rendimento de bagao por
hectare.
3.5.5 Rendimento de bagao + palhio
Esta caracterstica foi determinada somando-se o rendimento de bagao
e o de palhio por hectare.
3.5.6 Brix (%) caldo
O caldo obtido da moagem de colmos foi homogeneizado e dele foram
retiradas amostras para determinao do brix (porcentagem de slidos solveis),
atravs do refratmetro de campo.
3.5.7 Rendimento de matria seca do palhio e do bagao
Amostras do palhio e do bagao foram pesadas e colocadas em estufa,
aos 70 C, at obter-se estabilidade de massa. Calculou-se, assim, a porcentagem
de matria seca que foi, ento, multiplicada pela massa do palhio e bagao por
hectare, obtendo-se o rendimento da matria seca do palhio e bagao por
hectare.
3.5.8 Poder calorfico do bagao e do palhio
Amostras do bagao e do palhio, obtidas aps cada colheita, foram
modas, secas e peneiradas em peneira ABNT 70, segundo norma NBR 8633,
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49
sendo levadas em estufa de (1052) C at a estabilizao da massa (ABNT,
1984). Aps esse procedimento, as amostras foram novamente pesadas.
A anlise do Poder Calorfico Superior foi realizada em um calormetro
da marca Parr,conforme a Norma 8633 da ABNT (1984). Foi ento
determinado o Poder Calorfico Superior (PCS) de cada amostra, pela
combusto de uma unidade de massa em bomba calorimtrica, em atmosfera de
oxignio, a volume constante e sob condies especficas.
Com base nos dados obtidos, foi calculado o poder calorfico superior
do bagao e do palhio por hectare de cana-de-acar. Para isto, dividiu-se a
massa seca pela massa mida do bagao e do palhio, calculando-se a
porcentagem de matria-seca e, multiplicando-se pelos seus respectivos
rendimentos de bagao e palhio por hectare encontrou-se a massa de bagao e
palhio seco em toneladas por hectare.
A frmula utilizada para calcular o PCS foi a equao (1):
PCS= W x (t) - C1 C2 m
(1)
PCS= Poder Calorfico Superior (cal/g)
W= constante do calormetro= 2479,76
t= diferencial de temperatura
C1= correo para queima do fio de nquel-cromo
C2= correo para a formao do cido ntrico (titulao com carbonato de
sdio).
m= massa (g)
As determinaes de PCI foram em duplicatas por amostra.
Obtido o Poder Calorfico Superior (PCS) das amostras, aplicou-se o
mtodo de Doat (1977) para a obteno do Poder Calorfico Inferior (PCI), que
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50
leva em conta a quantidade de hidrognio contida no material, calor absorvido
para vaporizao da gua nele contido e da proporo da gua formada na
combusto conforme a equao (2):
PCI= PCS-600(U+9H) 1+U
(2)
PCI= Poder Calorfico Inferior (cal.g-1)
PCS= Poder Calorfico Superior (cal. g-1)
U= Teor de umidade do material (%)
H= Teor de hidrognio (%)
600 (cal) = valor mdio de energia absorvida por grama de gua, para se atingir
a temperatura de evaporao.
9= mltiplo do peso de hidrognio, contido no material, que fornece o peso da
gua formada durante a combusto.
O Poder Calorfico Lquido (PCL) calculado por meio de equaes
aproximadas que proporcionam o clculo do poder calorfico em funo da
umidade, como em base seca (BRITO; BARRICHELO, 1982; DOAT, 1977)
conforme a equao (3):
PCL={[PCI (6 x W)]/(100 + W)} x 100 (3)