tese_mestrado em gestao e economia da saude_ruben rodrigues_200910
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FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
SATISFAO GLOBAL AFERIDA PELOS PACIENTES:
UMA APLICAO AO SERVIO DE URGNCIA PORTUGUS
Rben Carlos Ramos Pires Rodrigues
Tese submetida como requisito parcial para obteno do grau de
Mestre em Gesto e Economia da Sade
Orientador: Professor Doutor Pedro Lopes Ferreira, Professor Associado,
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Co-orientador: Professor Doutor Mrio Antnio Gomes Augusto, Professor Auxiliar,
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Outubro, 2009
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minha amada esposa Paula Pereira e aos meus filhotes Pris e Joni
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Quality is never an accident; it is always the result of high intention, sincere effort, intelligent direction, and skilful execution; it represents the wise choice of many alternatives. Foster apud Jones (1988) Measuring quality isnt the problem. Changing it is. Davies (2001)
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Agradecimentos Algumas situaes fizeram com que a entrega desta dissertao fosse adiada por muito mais
tempo do que alguma vez imaginei. Mas est finalmente concluda!
O meu Muito Obrigado:
A Deus, por tudo!
Paula, minha querida esposa, pelo amor, pacincia, apoio e sacrifcio na criao das
condies para tornar possvel a concretizao do mestrado, sem esquecer o auxlio na
reviso final desta dissertao.
Ao Joni e Pris, minhas prendas de Deus, pela sua alegria contagiante e compreenso
quando as horas de disponibilidade e de brincadeira no foram as pretendidas.
Ao meu pai e minha me, pela vida, amor e pelo suporte financeiro para este
empreendimento.
Aos meus pais, sogros, irm e cunhada, pela sua motivao, apoio e por acreditarem em
mim.
Aos meus orientadores, pelos seus conselhos e por me encorajarem numa altura em que
pensava desistir.
Direco da Associao de Socorros Mdicos O Vigilante por me ter disponibilizado o
tempo e os meios facilitadores deste projecto.
famlia da Dra. Zaida Pego, pela documentao que ela prontamente me disponibilizou
para a elaborao desta tese.
Aos meus amigos que estiveram ao meu lado, quer com palavras de nimo, quer orando
por mim, pelo seu carinho e preocupao.
A todos os que tiveram de aguentar o meu temporrio mau humor, fruto de noites mal
dormidas, pela vossa pacincia.
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ndice
ndice de Figuras ....................................................................................................................... vi
ndice de Tabelas ................................................................................................................... vii
ndice de Caixas de Texto ...................................................................................................... xii
Siglas e Abreviaturas ................................................................................................................ xiii
Resumo ..................................................................................................................................... xv
Abstract ..................................................................................................................................... xvi
Introduo .............................................................................................................................. 1
Captulo 1 Qualidade em Sade: Conceitos, Evoluo e Avaliao .......................... 2
1.1 Conceito de Qualidade ...................................................................................................... 2
1.2 Qualidade na Sade ......................................................................................................... 9
1.3 Qualidade dos Cuidados de Sade ................................................................................. 11
1.4 Avaliao da Qualidade nos Cuidados de Sade ......................................................... 16
Captulo 2 O Papel dos Doentes na Qualidade em Sade ........................................... 32
2.1 A Satisfao dos Utentes Como Indicador de Qualidade dos Cuidados de Sade
............. 33
2.2 Conceito de Satisfao dos Utentes .............................................................................. 37
2.3 O Juzo dos Utentes ......................................................................................................... 38
2.4 Validade da Informao Disponibilizada pelos Utentes ........................................... 41
2.5 Determinantes da Satisfao dos Utentes: Conceptualizao ..................................... 49
2.6 Satisfao com os Servios de Urgncia ....................................................................... 53
Captulo 3 Metodologia ...................................................................................................... 68
3.1 Descrio da Amostra ...................................................................................................... 68
3.2 Descrio do Questionrio ............................................................................................... 71
3.3 Modelo Global de Satisfao ........................................................................................... 75
Captulo 4 Resultados ......................................................................................................... 86
4.1 Anlise Descritiva da Amostra ........................................................................................ 86
4.2 Aplicao do Modelo Global de Satisfao ................................................................... 118
Capitulo 5 Discusso ......................................................................................................... 128
Captulo 6 Concluso ......................................................................................................... 141Bibliografia .............................................................................................................................. 145
Anexo Questionrio IAQH-UA ........................................................................................ 168
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vi
ndice de Figuras
Figura N. 1: Modelo de Grnroos (Qualidade Total Apercebida) ....................... 19
Figura N. 2: Modelo Servqual (Qualidade de Servios) de Parasuraman ............. 20
Figura N. 3: Gnero dos sujeitos inquiridos ............................................................. 71
Figura N. 4: Histograma das idades dos sujeitos inquiridos ................................. 72
Figura N. 5: Inquiridos casados e no casados ......................................................... 73
Figura N. 6: Sujeitos que no se encontram a trabalhar ........................................ 74
Figura N. 7: Diagrama do Modelo de Satisfao Global Proposto ....................... 76
Figura N. 8: Construo da varivel alta (planeamento/orientaops-Urgncias)
................ 80
Figura N. 9: Algumas razes subjacentes ida ao Servio de UrgnciaHospitalar
................ 87
Figura N. 10: Sentimento dos indivduos enquanto esperavam para ser observados
................ 88
Figura N. 11: O que os indivduos pensam sobre a observao mdica ................ 89
Figura N. 12: Satisfao dos indivduos com a cortesia, o apoio, os cuidados e a informao
..... 90
Figura N. 13: Satisfao dos indivduos com aspectos de amenidades ................... 91
Figura N. 14: Recomendao do Servio de Urgncia Hospitalar a terceiros ...... 91
Figura N. 15: Estimao do Modelo de Satisfao Global Proposto(coeficientes estandardizados)
................ 119
Figura N. 16: Reestimao do Modelo de Satisfao Global Proposto com excluso das relaes que no so estatisticamente significativas (coeficientes estandardizados)
...... 120
Figura N. 17: Matriz de Covarincias do Modelo Proposto ..................................... 123
Figura N. 18: Matriz de Correlaes do Modelo Proposto ..................................... 123
Figura N. 19: Matriz de Covarincias dos Resduos Estandardizados do Modelo Proposto
...... 124
Figura N. 20: Estimao do Modelo de Satisfao Global Proposto nas 2 sub-amostras aleatrias
...... 136
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vii
ndice de Tabelas
Tabela N. 1: Componentes da Qualidade ................................................................... 24
Tabela N. 2: Resumo de Estudos sobre Avaliao de Factores e daSatisfao Global
................. 58-60
Tabela N. 3: Distribuio dos sujeitos por idades .................................................. 71
Tabela N. 4: Distribuio dos sujeitos por grupos etrios ..................................... 72
Tabela N. 5: Distribuio dos sujeitos pela sua situao familiar ........................... 72
Tabela N. 6: Distribuio dos sujeitos por nvel de escolaridade ........................... 73
Tabela N. 7: Distribuio dos sujeitos pela sua situao face ao trabalho ............. 73
Tabela N. 8: Resumo das Hipteses assumidas no Modelo Global deSatisfao Proposto
................ 77
Tabela N. 9: Modificao da escala de medio da pergunta 15(Tempo de Espera)
................ 78
Tabela N. 10: Modificao da escala de medio da pergunta 17(Informao sobre a Espera)
................ 78
Tabela N. 11: Matriz de Componentes da varivel Avaliao da Espera ................ 78
Tabela N. 12: Modificao da escala de medio da pergunta 19a(Estava calmo?)
................ 79
Tabela N. 13: Modificao da escala de medio das perguntas 19b a 19g ............. 79
Tabela N. 14: Matriz de Componentes da varivel Sentimento na Espera ............. 79
Tabela N. 15: Modificao da escala de medio das perguntas 20a a 20d ............. 79
Tabela N. 16: Matriz de Componentes da varivel Observao .............................. 80
Tabela N. 17: Modificao da escala de medio da pergunta 25(Sentimento de recuperao)
................ 81
Tabela N. 18: Modificao da escala de medio das 6 alneas da pergunta 31 (Amenidades)
...... 81
Tabela N. 19: Matriz de Componentes da varivel Amenidades .............................. 81
Tabela N. 20: Matriz de Componentes da varivel Inter-relao .............................. 82
Tabela N. 21: Nveis aceitveis das Medidas de Ajustamento do Modelo ............. 85
Tabela N. 22: Recomendao antes da deslocao s Urgncias .............................. 86
Tabela N. 23: O que os indivduos acharam do tempo que tiveram de estar espera
..... 87
Tabela N. 24: Foi dada explicao para a demora no atendimento .......................... 88
Tabela N. 25: Sentimento de recuperao por parte dos indivduos ...................... 90
Tabela N. 26: Tabela de dupla entrada Tempo de espera previsto (P12) vsTempo de espera efectivo (P13)
...... 92
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viii
Tabela N. 27: Tabela de dupla entrada Tempo de espera previsto (P12) vsAvaliao da espera (P15)
...... 92
Tabela N. 28: Tabela de dupla entrada Tempo de espera efectivo (P13) vsAvaliao da espera (P15)
...... 92
Tabela N. 29: Estatisticas Descritivas da ANOVA - Avaliao da espera (P15) por Tempo efectivo de espera (P13)
...... 93
Tabela N. 30: Construo da diferena entre a espera efectiva e aespera prevista
.............. 93
Tabela N. 31: Estatisticas Descritivas da ANOVA - Avaliao da espera (P15) por Diferenas entre Espera Efectiva e Prevista ...... 94
Tabela N. 32: Modificao da escala de medio da questo P5a(Esperava ser internado/a?)
................ 94
Tabela N. 33: Modificao da escala de medio da questo P22a(Foi internado/a no prrpio Servio de Urgncia?)
................ 95
Tabela N. 34: Estatisticas Descritivas da ANOVA - Foi internado (P22a) por Esperava ser internado (P5a)
...... 95
Tabela N. 35: Tabela de dupla entrada Calmo? (P19a) vs A sofrer? (P19b) ........... 95
Tabela N. 36: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio deUrgncia, entre respondentes de ambos os sexos
...... 96
Tabela N. 37: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientescom o Servio de Urgncia, entre grupos etrios diferentes
...... 97
Tabela N. 38: Modificao da escala de medio da pergunta 42(situao familiar)
................ 98
Tabela N. 39: Resumo da comparao das mdias de satisfao dospacientes com o Servio de Urgncia, entre inquiridos emdiferentes situaes familiares
...... 98
Tabela N. 40: Nova modificao da escala de medio da pergunta 42(situao familiar)
...... 99
Tabela N. 41: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, entre inquiridos em diferentes situaes familiares
...... 99
Tabela N. 42: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientescom o Servio de Urgncia, entre grupos com diferentessituaes perante o trabalho
...... 100
Tabela N. 43: Modificao da escala de medio da pergunta 46(habilitaes literrias)
................ 101
Tabela N. 44: Resumo da comparao das mdias de satisfao dospacientes com o Servio de Urgncia, entre grupos comdiferentes habilitaes literrias
...... 102
-
ix
Tabela N. 45: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio deUrgncia, entre funcionrios e no funcionrios do hospitalem anlise
...... 103
Tabela N. 46: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio deUrgncia, entre inquiridos com e sem familiares a trabalhar nohospital em anlise
...... 103
Tabela N. 47: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio deUrgncia, entre inquiridos que perspectivam ou no ficareminternados aquando da sua deslocao s Urgncias
...... 104
Tabela N. 48: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio deUrgncia, entre inquiridos que estiveram ou no internadosnos 3 meses que precederam a deslocao s Urgncias
...... 104
Tabela N. 49: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio deUrgncia, entre inquiridos que estiveram ou no nas Urgnciasnos 3 meses que precederam a deslocao s Urgncias
...... 105
Tabela N. 50: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio deUrgncia, entre inquiridos que se deslocam szinhos ouacompanhados s Urgncias
...... 106
Tabela N. 51: Modificao da escala de medio da pergunta 7 .............................. 106
Tabela N. 52: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientescom o Servio de Urgncia, entre grupos com diferentestratamentos e informao aos acompanhantes
...... 107
Tabela N. 53: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias da satisfao dos pacientes com o Servio deUrgncia, entre inquiridos que receberam e que no receberaminformao sobre possveis demoras no atendimento
...... 108
Tabela N. 54: Resumo da comparao de mdias da satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, entre grupos de inquiridos com esem explicao para o seu tempo de espera
...... 108
Tabela N. 55: Modificao da escala de medio da pergunta 14 .......................... 109
Tabela N. 56: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, entre grupos com diferentes locaisde espera nas Urgncias
...... 110
Tabela N. 57: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientescom o Servio de Urgncia, entre grupos com diferentes avaliaes da sua espera
...... 111
Tabela N. 58: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientescom o Servio de Urgncia, entre grupos com diferentespercepes sobre o mdico ter feito uma observaocuidadosa
...... 113
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x
Tabela N. 59: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientescom o Servio de Urgncia, entre grupos com diferentespercepes sobre o mdico ter inspirado confiana
...... 113
Tabela N. 60: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, entre grupos com diferentes percepes sobre como se sentiram em falar com o mdico
...... 113
Tabela N. 61: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, entre grupos com diferentes percepes sobre o mdico ter-lhes explicado os resultados
...... 114
Tabela N. 62: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, em funo das orientaes para o ps-alta
...... 115
Tabela N. 63: Resumo da comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, entre grupos de inquiridos com diferentes percepes de recuperao
...... 116
Tabela N. 64: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, entre inquiridos no urgentes e urgentes, na perspectiva do prestador
...... 117
Tabela N. 65: Resumo da comparao de mdias de recomendao entregrupos de inquiridos com distintos nveis de satisfao
...... 117
Tabela N. 66: Diferenas das mdias de recomendao entre grupos derespondentes com nveis de satisfao diferentes
...... 118
Tabela N. 67: Resumo do teste t-amostras independentes para comparao das mdias de satisfao dos pacientes com o Servio de Urgncia, entre inquiridos que o recomendam e que no orecomendam, posteriori
...... 118
Tabela N. 68: Estimao do Modelo de Medida Proposto ........................................ 120
Tabela N. 69: Erros padro inerentes aos coeficientes no estandardizados estimados
...... 121
Tabela N. 70: Reestimao do Modelo de Medida ...................................................... 121
Tabela N. 71: Varincias dos erros das variveis estimadas ..................................... 121
Tabela N. 72: Coeficientes de correlao mltipla da Satisfao e da Recomendao
................ 122
Tabela N. 73: Descriminao dos efeitos estandardizados sobre aRecomendao
................ 122
Tabela N. 74: Descriminao dos efeitos estandardizados sobre asAmenidades
................ 122
Tabela N. 75: Descriminao dos efeitos estandardizados sobre a Inter-relao .. 122
Tabela N. 76: Descriminao dos efeitos estandardizados sobre a Informao .. 122
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xi
Tabela N. 77: Estatsticas descritivas, matriz de correlaes, Composite Reliability e Average Variance Extracted
................ 123
Tabela N. 78: Indices de Modificao Covarincias ............................................... 124
Tabela N. 79: Indices de Modificao Coeficientes de Regresso ....................... 125
Tabela N. 80: Medidas de Ajustamento do Modelo de SatisfaoGlobal Proposto
................ 125
Tabela N. 81: Estimao do Modelo de Medida nas 2 sub-amostras aleatrias .. 125
Tabela N. 82: Varincias dos erros das variveis estimadas nas 2 sub-amostras aleatrias
................ 126
Tabela N. 83: Coeficientes de correlao mltipla da Satisfao eRecomendao nas 2 sub-amostras aleatrias
................ 126
Tabela N. 84: Descriminao dos efeitos estandardizados sobre aRecomendao nas 2 sub-amostras aleatrias
................ 127
Tabela N. 85: Descriminao dos efeitos estandardizados sobre asAmenidades nas 2 sub-amostras aleatrias
................ 127
Tabela N. 86: Descriminao dos efeitos estandardizados sobre aInter-relao nas 2 sub-amostras aleatrias
................ 127
Tabela N. 87: Descriminao dos efeitos estandardizados sobre aInformao nas 2 sub-amostras aleatrias
................ 127
Tabela N. 88: Estatsticas descritivas, matriz de correlaes, Composite Reliability e Average Variance Extracted nas 2 sub-amostras aleatrias
................ 127
Tabela N. 89: Medidas de Ajustamento do Modelo de SatisfaoGlobal Proposto nas 2 sub-amostras aleatrias
................ 127
Tabela N. 90: Hipteses no suportadas pela estimao do Modelo deSatisfao Global Proposto
................ 138
Tabela N. 91: Hipteses suportadas pela estimao do Modelo deSatisfao Global Proposto (valores aps reestimao)
................ 138
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xii
ndice de Caixas de Texto
Caixa de Texto N. 1: Definies de Qualidade Elevada de Cuidados de Sade .. 16
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xiii
Siglas e Abreviaturas A&E - Accident & Emergency
AJPH - American Journal of Public Health
AMOS - Analysis of Moment Structures
ANOVA - Analysis of Variance
APES - Associao Portuguesa de Economia da Sade
AVE - Average Variance Extracted
CFI - Comparative Fit Index
CLAD - Centro Latinoamericano de Administrao para o Desenvolvimento
CR - Composite Reliability
CEISUC - Centro de Estudos e Investigao em Sade da Universidade de Coimbra
et al. - et alii (latim); e outros (portugus)
EUA - Estados Unidos da Amrica
GEPEQ - Grupo de Estudo e Pesquisa em Qualidade.
GFI - Goodness of Fit Index
gl - graus de liberdade
HEPE - Hospitais com estatuto de Entidade Pblica Empresarial
HUC - Hospitais da Universidade de Coimbra
IAQH-UA - Instrumentos de Avaliao da Qualidade Hospitalar Urgncias de Adultos
ICBAS - Instituto de Cincias Biomdicas Abel Salazar
IM - ndice de Modificao
IOM - Institute of Medicine
ISO - International Organization for Standardization
JAMA - Journal of the American Medical Association
JGIM - Journal of General Internal Medicine
LISREL - Linear Structural Relations
n.d. - no disponvel
N. - Nmero
NHS - National Health Service
NMCUES - National Medical Care Utilization and Expenditure Survey
OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development
OMS - Organizao Mundial de Sade
p - p-value(s)
p. - pgina
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xiv
PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat
RMSEA - Root Mean Square Error Approximation
RSF - Resposta Sem Franquia
SEM - Structural Equation Modeling
SPSS - Statistical Package for the Social Sciences
TLI - Turcker-Lewis Index
Tukeys HSD - Tukeys Honestly Significant Difference
VAS - Visual Analogue Scale
Vol. - Volume
vs - versus
WHO - World Health Organization
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xv
Resumo Este trabalho utiliza o questionrio IAQH-UA (Instrumentos de Avaliao da Qualidade
Hospitalar Urgncias de Adultos), aplicado ao nvel da Urgncia Hospitalar de 17
hospitais portugueses, para aferir o comportamento de factores que a literatura tem vindo a
reconhecer como proeminentes sobre a satisfao dos indivduos. A percepo que os
pacientes tm da Espera e da Observao Mdica realizada, a existncia de Orientaes
para a ps-Urgncia e o sentimento de Recuperao so algumas das variveis em que se
observam nveis mdios de satisfao diferentes para os grupos de indivduos inerentes.
Aplicando esses 4 factores Satisfao e Recomendao dos Servios de Urgncia
Hospitalar em estudo, foi possvel encontrar, por intermdio do SEM (Strutural Equation
Modeling), uma modelizao parcimoniosa, que se ajusta relativamente bem aos dados, e que
explica cerca de 77,9% da satisfao dos pacientes (pelo efeito positivo de cada uma das 4
variveis indicadas) e 37,1% da sua recomendao (para o que apenas contribui a aferio
da Espera e da Satisfao manifestada pelos sujeitos). Os factores de maior peso e
significncia encontrados so, para a Recomendao do Servio de Urgncia Hospitalar, a
Satisfao evidenciada pelos pacientes (0,487), e para esta ltima, a Espera (0,512) e a
percepo que os indivduos obtm da Observao efectuada (0,473).
Palavras-Chave: Avaliao da Qualidade, Satisfao, Servio de Urgncia, Urgncias, SEM,
Modelo de Equaes Estruturais.
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xvi
Abstract The present study uses the questionnaire IAQH-UA (Instruments of Hospital Quality
Assessment Adults Emergencies), applied to the Accident and Emergency Department
of 17 Portuguese hospitals, to assess the role of factors that the literature has recognized as
prominent on patient satisfaction. The patients overall perceptions of the Waiting and of
the Medical Observation, the existence of Orientations for the post-Emergency and the
patients feeling of Recovery, are some of the variables where are observed different
average satisfaction scores between groups of individuals. Applying these 4 variables to the
Satisfaction and Recommendation of the Emergency Departments in study, it was possible
to find, using SEM (Strutural Equation Modeling), a parsimonious model that fits well the data
and explains about 77,9% of the patients satisfaction (through the positive effect of each
one of the 4 pointed variables) and 37,1% of the recommendation (to which only
contributes the overall assessment of the Waiting and the Satisfaction manifested by the
subjects). The factors with higher rating are, for the Recommendation of the Hospital
A&E Department, the Satisfaction evidenced by the patients (0,487), and for this last, the
patients overall perceptions of the Waiting (0,512) and of Medical Observation (0,473).
Keywords: Quality Assessment, Patient Satisfaction, Emergency Department, Emergencies,
SEM, Structural Equation Modeling.
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Satisfao global aferida pelos pacientes: uma aplicao ao servio de urgncia portugus
Mestrado em Gesto e Economia da Sade da FEUC Rben Rodrigues, Outubro de 2009
1
Introduo
A avaliao da qualidade dos cuidados de sade uma preocupao importante e
premente, quer por parte das Instituies de Sade, como dos governantes, que se vem a
braos com custos exponenciais, para os quais dispem de recursos limitados. Contudo, a
forma de aferir esta qualidade, um tema que ainda est longe de ser consensual,
encontrando-se na literatura uma vasta panplia de abordagens documentadas.
Apesar de desvalorizada, no passado, a centralidade dos pacientes na prestao dos
cuidados de sade tem vindo a ser, cada vez mais, advogada. E a avaliao da satisfao dos
mesmos , cada vez mais, assumida como uma importante ferramenta de pesquisa,
administrao e planeamento.
Para aferir a satisfao dos pacientes recorrente o uso de questionrios validados. Um dos
mais proeminentes, em Portugal, ao nvel das Urgncias Hospitalares o IAQH-UA.
Procurar-se- analisar o comportamento de alguns factores, referenciados na literatura,
sobre a satisfao dos indivduos que se deslocam s Urgncias Hospitalares, em Portugal,
utilizando o referido inqurito. E, por fim, recorrendo ao uso do Modelo de Equaes
Estruturais (SEM), um instrumento estatstico amplamente usado na avaliao da
satisfao, testar-se- uma modelizao que procura explicar a satisfao dos pacientes e a
sua posterior recomendao dos Servios de Urgncia Hospitalar, com base em resultados
referenciados em estudos prvios.
Conhecendo o que mais influi sobre a satisfao dos indivduos que se deslocam s
Urgncias Hospitalares, ser possvel a concentrao de esforos em reas crticas,
maximizando-se assim a qualidade apercebida pelos pacientes, ao nvel dos cuidados
prestados no Servio de Urgncia Hospitalar, e, consequentemente, a sua satisfao e
posterior recomendao dos mesmos.
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Satisfao global aferida pelos pacientes: uma aplicao ao servio de urgncia portugus
Mestrado em Gesto e Economia da Sade da FEUC Rben Rodrigues, Outubro de 2009
2
Captulo 1 Qualidade em Sade: Conceitos, Evoluo e Avaliao 1.1 Conceito de Qualidade
A qualidade, apesar de ser amplamente utilizada na nossa sociedade e de se assumir como
um estandarte da gesto, um conceito com mltiplas definies. Kitchenham afirma
mesmo que quality is hard to define, impossible to measure1, easy to recognize (Kitchenham, 1989
apud Ramani, 2007: p. 5).
Embora seja por si s uma palavra neutra, acaba por transportar significados diferentes
para diferentes indivduos (inclusive em questes da vida diria) e diferentes interpretaes
em diferentes situaes. Desta forma, no podemos, de todo, assumi-la como um valor
absoluto (Pisco, 2001).
Ainda assim, Welle (2002)2 salienta que, de uma forma geral, se assume que a boa
qualidade, apesar de poder diferir com o indivduo, o momento, o lugar e a situao, ,
habitualmente, reconhecida por todos e apresenta, sempre, uma conotao positiva.
A qualidade ser, ento, um conceito multi-dimensional para a qual contribuem uma
panplia de factores (Pisco, 2001), acabando as discordncias entre as vrias definies
existentes por se encontrarem relacionadas com o tipo ou a dimenso da qualidade que
cada uma dessas perspectivas reala (Ferreira, 1991).
Para que a qualidade possa, efectivamente, assumir um papel estratgico na gesto das
organizaes, indispensvel um claro entendimento do seu real significado. Assim sendo,
vejamos seguidamente algumas definies, no contexto das cinco abordagens identificadas
por Garvin (1988), para a explicao da qualidade.
Abordagem Transcendente
Nesta perspectiva, Garvin (1988) assume a qualidade como uma caracterstica inerente,
imensurvel e reconhecida quando observada.
1 Impossvel, no aspecto de no se conseguir traduzir a qualidade por uma simples medida quantitativa. 2 Apud Pego (1998).
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Satisfao global aferida pelos pacientes: uma aplicao ao servio de urgncia portugus
Mestrado em Gesto e Economia da Sade da FEUC Rben Rodrigues, Outubro de 2009
3
Partindo da assumpo de que a qualidade uma caracterstica absoluta que se sobrepe a
mudanas de gostos e de estilos e que no depende de uma comparao temporal ou
espacial, entende-se que a qualidade de um produto ou de um servio no pode ser definida
de forma precisa mas , no entanto, facilmente reconhecida com a experincia, tornando-se
sinnimo de excelncia inata.
A viso desta abordagem acaba, ento, por considerar a qualidade como uma entidade
independente de uma ideia abstracta ou de uma coisa concreta. Sabe-se o que qualidade,
mesmo no a conseguindo definir (Pirsig, 1974). E, numa ptica de excelncia, Tuchman
(1980) entende que a qualidade ser a inconformidade com o mal feito e a procura
(alcanar) do padro mais elevado.
Esta perspectiva transcendente pode ser observada, segundo Paladini (1995), em alguns
aspectos inerentes ao produto, no relacionados directamente com as suas caractersticas
ou atributos, como , por exemplo, o caso da marca, algo pelo qual a empresa dispe de
um zelo extremo. Todavia, a orientao prtica que se consegue extrair de uma abordagem
em que a mensagem implcita que no so relevantes as caractersticas da qualidade pois
as pessoas conseguem reconhec-la quando a virem, extremamente reduzida.
Abordagem baseada no Produto
A viso da qualidade na perspectiva do produto assume que as discrepncias que se
observam ao nvel da qualidade resultam de diferenas de quantidades de ingredientes ou
de atributos nos produtos (Abbott, 1955).
A qualidade de um produto est relacionada, nesta abordagem, com algo de acrescido valor
que este possui face a outros produtos similares (Israelian et al., 1996). Assim sendo,
encontramo-nos no contexto de uma abordagem economicista onde, como salienta
Paladini (1995), melhor qualidade sinnimo de um produto apresentar caractersticas
melhores e em maior nmero.
E, nesta perspectiva, a qualidade de um produto aparece, ento, segundo Garvin (1988),
como uma varivel precisa e mensurvel.
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Desta forma, partindo da assumpo de que as diferenas de qualidade se encontram
relacionadas com diferenas de quantidades de um atributo ou de um ingrediente de um
produto, possvel retirar duas elaes importantes:
i. Uma melhor qualidade acarreta maiores custos.
ii. A qualidade pode ser analisada de forma objectiva (caracterstica inerente aos
produtos) e no com base naquilo que algum acha ou em preferncias (algo que se
possa atribuir a esses produtos).
Esta abordagem baseada no produto apresenta como ponto positivo, face perspectiva
anterior, a sua objectividade. No entanto, tambm dispe de limitaes, dado nem sempre
ser possvel estabelecer uma correspondncia directa entre a qualidade e os atributos
existentes. De facto, melhor qualidade poder significar uma especificidade prpria e no
necessariamente a maior quantidade de um determinado conjunto de atributos. O caso da
esttica um exemplo em que esta abordagem apresenta limitaes evidentes, tendo em
conta no levar em considerao diferenas de gosto.
Abordagem baseada no Utilizador
Nesta abordagem, assume-se que a qualidade se encontra centrada no utilizador/cliente,
sendo os padres de qualidade definidos em conformidade com as suas exigncias
(Israelian et al., 1996), preferncias (Kuehn e Day, 1962) ou desejos (Edwards, 1968). Assim
sendo, Garvin (1988) conota-a como pessoal e idiossincrtica e uma das perspectivas mais
subjectivas de qualidade.
Esta viso, defendida, em particular, por Joseph Juran nos anos 40 do sculo passado,
assume que a qualidade est associada capacidade do produto ir ao encontro de
determinadas necessidades do cliente, de quem depende a sua avaliao (fitness to use)3.
Depois de analisar a literatura de marketing4, de economia5 e de administrao de
operaes6, Garvin (1988) apercebe-se de dois problemas:
3 Juran e Gryna (1988): p. 2. 4 Pontos ideais so combinaes especficas de atributos de produtos que conduzem a uma maior satisfao de um consumidor. 5 Diferenas de qualidade so perceptveis pela deslocao da curva da procura de um produto. 6 A questo da adequao ao uso de Juran.
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i. Como efectuar a agregao de preferncias individuais muito variveis, de forma a
se conseguirem, ao nvel do mercado, definies significativas de qualidade?
ii. Como distinguir atributos meramente maximizadores da satisfao do consumidor,
daqueles que, de facto, sejam um sinal de qualidade?
Partindo da assumpo de que os produtos de elevada qualidade so os que melhor
satisfazem as necessidades da maioria dos consumidores7, acaba-se por resolver o primeiro
problema. No entanto, esta abordagem peca por desprezar a diferena de pesos que
diferentes indivduos atribuem a caractersticas da qualidade, apresentando alguma
dificuldade em conseguir estabelecer um procedimento estatstico sem distores na
agregao dessas preferncias.
No tocante segunda questo levantada por Garvin (1988), de facto, a qualidade e a
satisfao mxima no so a mesma coisa, acabando por se desfazer a suposta equivalncia
integral assumida quando analisada na prtica. Um exemplo claro desta situao pode
constatar-se no tocante venda de livros. Apesar dos livros mais vendidos serem,
obviamente, os preferidos pela maioria dos leitores, poucos so os que defendem que esses
representam o ex-lbris da literatura.
No entanto, o enfoque desta abordagem no cliente fez com que as empresas passassem a
olhar para o exterior, criando produtos em funo do que as pessoas, de facto, desejam em
vez de produtos baseados nas suposies dos responsveis do seu desenvolvimento.
Abordagem baseada na Produo/Construo
A qualidade, na perspectiva da produo/construo, encontra-se ligada conformidade
com as especificaes e requisitos assim como com a ausncia de defeitos (Israelian et al.,
1996). Ou seja, enquanto que na abordagem baseada no utilizador se tem em conta o lado
da procura, neste outro contexto, os esforos de definio concentram-se no lado da
oferta.
7 Parte-se do princpio que existe um consenso de opinies no seio dos utilizadores onde uma maioria concorda relativamente s vantagens de determinados atributos de um produto.
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Define-se, desta forma, qualidade como o grau de conformidade de um determinado
produto com um projecto ou uma especificao (Gilmore, 1974). E assim, um desvio face
s especificaes do projecto acarreta uma quebra na qualidade.
Desta forma, o enfoque desta abordagem , como refere Paladini (1995), o esforo de
produo de um artigo em conformidade com as suas especificaes bsicas na fbrica que
incluem, por exemplo, a dimenso e a tolerncia admissvel de um determinado
componente. Na rea da sade, as referidas especificaes podem ser entendidas como
protocolos ou padres de qualidade para determinados procedimentos clnicos.
Neste contexto, a excelncia significar o respeito pelas especificaes e o fazer algo bem
logo da primeira vez.
Apesar desta abordagem ter sido inicialmente associada produo poder-se- aplicar os
mesmos princpios prestao de servios, entendendo-se, neste ltimo caso,
conformidade como exactido (por exemplo, informaes correctas num servio de
atendimento telefnico) ou como cumprimento de prazos (por exemplo, horrios numa
companhia area).
A abordagem baseada na produo apresenta, desta forma, um mbito, basicamente,
interno, sendo a qualidade definida no sentido da simplificao da engenharia e do controlo
de produo. E assim, a grande desvantagem desta viso acaba por ser a pouca ateno
dispensada ligao que os consumidores efectuam entre as caractersticas de um produto
e a sua qualidade, para alm da sua conformidade (Marcineiro, 2001). De facto, esta viso
de qualidade poderia conduzir os mdicos a considerarem a qualidade como o mero
cumprimento de uma especificao. Uma vez observada essa especificao, o mdico ter
completado a sua obrigao, mesmo que as expectativas do doente no tenham sido
alcanadas.
Enquanto que do lado do projecto esta abordagem tem implicado uma nfase na
engenharia da confiabilidade, do lado da produo, a nfase tem recado no controlo
estatstico da qualidade, almejando ambas, desde o incio, afastar os desvios. A primeira,
analisando os componentes bsicos de um produto para identificar possveis modos de
falha e a segunda, aplicando tcnicas estatsticas para determinar se um processo de
produo se encontra fora dos limites aceitveis (Marcineiro, 2001).
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Abordagem baseada no Valor
No contexto da abordagem baseada no valor, considera-se um produto de qualidade aquele
que disponibiliza um desempenho/conformidade a um preo/custo aceitvel. Ou seja,
tem-se em conta a relao custo-benefcio (Israelian et al., 1996), apresentando-se a
qualidade a um preo especfico. E assim, a qualidade conceptualizada como o grau de
excelncia e o controlo da variao a um preo/custo aceitveis (Broh, 1982).
Existe uma clara convico de Paladini (1995) de que, apesar do preo e a qualidade
parecerem relacionar-se, so, de facto, coisas distintas, quer no tocante sua estrutura, quer
em termos da sua origem. O mesmo autor refere, mesmo, que ser possvel conseguir-se
qualidade a preos baixos usando-se a imaginao e a criatividade, associadas a bons
desempenhos dos equipamentos, dos materiais e da mo-de-obra.
Esta perspectiva custo-benefcio tem vindo a ganhar um peso considervel, evidenciando-
se, por exemplo, num estudo citado por Garvin8 (1988) que os consumidores se
encontram, cada vez mais, a basear a sua percepo de qualidade numa abordagem baseada
no valor, sendo o preo cada vez mais considerado nas preocupaes aquando da aquisio
de um produto. O referido preo, como reala, ainda, Feigenbaum (1961), acaba, tambm,
por envolver uma questo de adequao do produto ao seu fim.
Depois de identificar as abordagens descritas anteriormente, Garvin (1988) descreve oito
dimenses que sugerem medidas de qualidade similares s medies fsicas:
i. Performance: caractersticas operacionais primrias de um produto.
ii. Caractersticas: caractersticas secundrias, que possibilitam a diferenciao de
produtos.
iii. Confiana: probabilidade de avaria ou de erro, no funcionamento de um produto9.
iv. Conformidade: grau de adequao, de um produto, aos padres estabelecidos.
v. Durabilidade: vida de um produto.
vi. Manuteno: facilidade na reparao de um produto, caso seja necessrio (inclui a
competncia, a velocidade da reparao e a cortesia no atendimento).
8 Estudo de percepes de qualidade de consumidores para 28 categorias de produtos. 9 Adequada, essencialmente, a bens duradouros.
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vii. Esttica: baseada nas opinies pessoais (aspecto, cheiro, sabor e reaco ao tacto
do produto).
viii. Percepo da qualidade: forma como o produto visto pelo consumidor
(partindo-se do pressuposto transcendente de que o consumidor consegue
reconhecer a qualidade quando a v).
Uma organizao de excelncia no deve restringir-se a uma nica definio de qualidade,
uma vez que isso poder tornar-se numa fonte de problemas. Tendo em conta que todas as
abordagens apresentam aspectos negativos, aconselha-se, frequentemente, a adopo de
definies mltiplas quanto qualidade, mudando-se de abordagem medida que os
produtos passam do projecto para o mercado.
Todavia, as definies que tomam por base a abordagem baseada no cliente so, de facto,
como referem Israelian et al. (1996), aquelas que acabam por ser mais interessantes, dado
levarem em conta a opinio de quem vai, efectivamente, utilizar o produto ou o servio.
Deming (1986), por exemplo, estava convicto de que o cliente assume o papel primordial
em todo o processo, salientando que a qualidade deve ser direccionada para ir ao encontro
das necessidades actuais e futuras dos consumidores, para alm de exigir um
aperfeioamento contnuo em todos os processos organizacionais. Ele defendia que, mais
do que consumidores satisfeitos, necessrio que os mesmos estejam seduzidos, o que
conduzir sua fidelizao e transmisso do valor dos servios prestados pela
organizao a terceiros. Essa seduo dos consumidores passar, por exemplo, por algo
que Nelson et al. (1989) salientam na sua definio de qualidade, ou seja, o exceder as
expectativas dos clientes.
Algo interessante ser, por exemplo, tomar em considerao cumulativamente a posio do
cliente e a do fornecedor do produto/servio na definio de qualidade. Se assim for,
teremos adequao ao uso e satisfao do cliente.
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1.2 Qualidade na Sade
A maioria das definies de qualidade em sade acaba por ser listagens de atributos (mais
ou menos desejveis) para os cuidados de sade. E, apesar de existirem inmeras
definies, nenhuma acaba por ser, de forma consensual, totalmente satisfatria.
Uma das mais conhecidas a definio apresentada por Maxwell (1984)10, que indica que a
qualidade em sade est relacionada com:
i. Efectividade (para os doentes individuais).
ii. Aceitabilidade social.
iii. Eficincia (maximizao do resultado para um determinado input).
iv. Acessibilidade aos servios (inexistncia de barreiras).
v. Equidade (imparcialidade).
vi. Relevncia (aplicabilidade face s necessidades da comunidade).
A qualidade passou a ser um assunto de grande importncia, inclusive, na rea da Sade.
Neste particular sector, a evoluo rumo qualidade foi acompanhada de algumas
condies determinantes, das quais se destaca o facto de: os profissionais de sade
desejarem aperfeioar a sua performance e ser mais prestigiados; a nvel tico, existir uma
elevada responsabilidade que advm da confiana que os cidados depositam nos
profissionais de sade; a nvel poltico, a qualidade se ter tornado numa preocupao
estratgica; a nvel social, o cidado cada vez se ter tornado mais exigente; e a nvel
econmico, os recursos existentes serem escassos para fazer face s grandes necessidades
(Portugal, 1997 apud Pego, 1998).
, contudo, tambm, indispensvel lembrar ainda, como sendo decisivas para a referida
evoluo, as transformaes paralelas na rea empresarial e industrial; as mudanas na rea
da sade que tiveram lugar em pases como os Estados Unidos da Amrica, a Holanda, a
Inglaterra e a Sucia; e os xitos e fracassos registados, nos servios de sade, como
resultado da aplicao dos vrios conceitos (Heidemann, 1993).
10 A Tabela N. 1, apresentada no ponto 1.4 do presente estudo, exibe um resumo, que Coster e Buetow (2001) efectuaram, de algumas listagens de componentes de avaliao da qualidade, na perspectiva de vrios autores.
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A forma de a entender e os mtodos para obter a qualidade no tm sido unnimes.
Enquanto que os gestores dispem de uma viso centrada na economia e na eficincia
(dominada pelos custos e implicando a melhor utilizao possvel dos recursos
disponveis11), os profissionais dos cuidados de sade centram a sua ateno na avaliao da
efectividade (sem uma natural associao aos custos respectivos). Estes mesmos
profissionais consideram impossvel utilizar medidas padro (standard) dado considerarem
cada doente como nico (fisiologicamente, culturalmente e em termos de personalidade) e
logo no padronizvel. neste contexto que surge a definio de qualidade em sade pelo
Institute of Medicine: the degree to which health services for individuals and populations increase the
likelihood of desired health outcomes and are consistent with current professional knowledge (Institute of
Medicine, 2002: p. 1).
Os avanos tecnolgicos na rea da Sade conduziram adopo natural do modelo
industrial de garantia da qualidade. No entanto, os cuidados de sade tm especificidades
muito prprias. Em primeiro lugar, no so, exactamente um servio comercial (Welle,
1992 apud Pego, 1998), em segundo lugar, resultam da conjugao de esforos entre o
doente e o profissional de sade (com as reconhecidas limitaes do consumidor para
efectuar as escolhas certas Barros, Lucena e Gouveia, 1996) e, para alm disso, so
evidentes algumas dificuldades na obteno de determinados servios (por exemplo,
cuidados especializados, hospitalares e alguns cuidados mdicos).
Partindo do pressuposto que o conceito de qualidade subjectivo, expectvel que varie
com quem o aplica (mdico, doente, gestor ou autoridade de sade). Assim, a qualidade
dever ser definida por intermdio do equilbrio entre todas as referidas perspectivas
(Donabedian, 1980). Ferreira (1999) define, em particular, qualidade como a melhoria
contnua dos servios, de modo a satisfazer as necessidades, as preferncias e as
expectativas dos doentes, mdicos, enfermeiros, pagadores, empregados e a comunidade
servida pelo hospital12 (Ferreira, 1999: p. 5).
A qualidade em sade apresenta, de facto, algumas especificidades muito prprias e
distintas das de outros sectores: tem um carcter pr-activo; encontra-se orientada para as
necessidades (e no apenas para a procura); e observada, conjuntamente, com outros
atributos dos cuidados de sade (Pisco e Biscaia, 2001). nesta perspectiva que o
11 Ausncia de desperdcio. 12 Note-se que a satisfao de mdicos no implica a de utentes, vice-versa e a por diante.
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Ministrio da Sade em 1998 (Sistema Portugus da Qualidade na Sade) define a questo
da qualidade na sade como sendo: satisfazer e diminuir as necessidades e no responder
procura, oferecendo mais; ser pr-activo para prevenir e dar resposta e no para a
procura de novas oportunidades de mercado; reunir integradamente como atributo a
efectividade, eficincia, aceitabilidade e a equidade e no a exigncia nica da
aceitabilidade13 (Barros, 1999: p. 1-2).
Assim sendo, o objectivo ltimo de um sistema de qualidade a melhoria contnua da
qualidade em sade (Pisco e Biscaia, 2001: p. 43), uma vez que a qualidade no um
estatuto mas resulta de uma ateno continuada aos resultados do desempenho dos
profissionais, envolvidos na prestao de cuidados de sade aos utentes14.
Apesar de no ser um conceito recente, a nova nfase da qualidade conduziu a um
conjunto de novos conceitos: a garantia da qualidade, a avaliao da qualidade, a qualidade
de vida, a qualidade de sade, a qualidade de servios de sade e a qualidade dos cuidados
de sade (Welle, 1995 apud Pego, 1998).
Abordaremos de seguida o ltimo conceito enunciado.
1.3 Qualidade dos Cuidados de Sade
Antes de compreender o conceito de qualidade dos cuidados de sade necessrio, como
refere Ferreira (1991), abordar os conceitos de Sade e de cuidados de sade.
Conceito de Sade
No existe uma definio consensual sobre Sade, dispersando-se as mais diversas
definies entre a reducionista ausncia de doena15 e a da Organizao Mundial de Sade
(OMS) que a concebe como a state of complete physical, mental and social well-being and not merely
the absence of disease or infirmity16 (Grad, 2002: p. 984).
13 Ou, como resume Pedro Pita Barros, deve-se fazer o melhor possvel (Barros, 1998: p. 2). 14 Recordemos o ciclo de melhoria contnua de Deming: Plan Do Check Act. 15 Definio naturalista apresentada por Christopher Boorse em 1977 (Boorse, 1977 apud Marcum e Krushwitz, 2007). 16 Esta definio no foi consensualmente aceite por todos, sendo alvo de vrias crticas por no poder ser usada, segundo alguns autores, como meta pelos servios de sade, em virtude de ser algo ideal e inatingvel. Ultimamente, outros autores defendem, ainda, a introduo dos termos espiritual e dinmico na definio
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O modelo holstico de sade que advm da definio da OMS, onde a sade definida
pelos aspectos fsicos, mentais e sociais, centrado no bem-estar do indivduo, apesar de
bastante criticado, acaba por se tornar numa alternativa popular ao modelo biomdico.
O grande mrito da definio da OMS, como salienta Seedhouse (1986), um novo
enfoque mais positivo e mais amplo da sade, contrariando a anterior definio baseada
exclusivamente na doena. A sade, definida agora pela positiva, acaba por incluir a
satisfao com a vida, o bem-estar psicolgico, a integrao na comunidade e a capacidade
para enfrentar situaes de stress (Lamb et al., 1988 apud Bowling, 1992).
Ferreira (1996) reala que ...sem que se desse conta, estvamos a assistir evoluo do
conceito de sade, de ausncia de doena para sinnimo de bem-estar.
Concomitantemente, o modelo de doena, sustentado em sinais e sintomas era cada vez
menos usado (Ferreira, 1996: p. 248). A repercusso acaba por se sentir no apenas a
mudana de comportamento perante a sade mas, tambm, no desempenho dos servios
de sade (Wilkin, 1993).
A sade passa, ento, a ser entendida, com esta definio da OMS, como um equilbrio
dinmico entre factores intrnsecos (natureza biolgica, psico-afectiva e comportamental) e
extrnsecos (meio ambiente fsico e relacional que rodeia o indivduo). , contudo, tambm
encarada, como a capacidade de se desenvolver potencialidades/recursos a nvel individual
e colectivo, para se conseguir melhores nveis de bem-estar e qualidade de vida. Ou seja, a
Sade, um recurso que necessitamos aprender a preservar e promover (Portugal, 1997
apud Pego, 1998).
O Escritrio Regional Europeu da OMS define Sade como a extenso em que um
indivduo ou grupo , por um lado, capaz de realizar as suas aspiraes e satisfazer as suas
necessidades e, por outro, capaz de modificar ou lidar com o meio que o envolve. A sade
passa a ser vista como um recurso para a vida do dia-a-dia, e uma dimenso da qualidade de
vida (WHO, 1986). Esta viso funcional de Sade, acaba por ser de grande interesse para
os profissionais de sade pblica, dado poder ser utilizada com vista melhoria da
equidade dos servios de sade, ou seja, providenciar cuidados, em funo das necessidades
individuais ou de grupo. do conceito de sade, referindo que permitiria reconhecer a espiritualidade do indivduo, para alm de fundamentar, em termos tericos, a interdependncia entre as vrias facetas da vida humana que constituem o conceito de sade. Do frgil equilbrio entre todas depende a qualidade de vida.
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Conceito de Cuidados de Sade
Constanzo e Vertinsky definem cuidados de sade como um servio abrangente fornecido
com o objectivo de produzir mudanas nos estados fisiopatolgicos e/ou psicolgicos das
pessoas (Ferreira, 1991: p. 98).
Definir, ento, a qualidade dos cuidados de sade passar obrigatoriamente, segundo
Donabedian (1981), pela definio dos atributos dos cuidados prestados, assim como, dos
critrios que constituem bons cuidados.
Ferreira (1991) destaca as duas componentes consensuais entre os autores em termos dos
cuidados de sade, nomeadamente, a componente interpessoal dos cuidados (funo de
cuidar) e a componente tcnica dos cuidados (funo de curar).
A componente tcnica diz respeito aplicao da cincia, da tecnologia mdica e de
outras cincias da sade, para lidar com um problema pessoal de sade (Donabedian,
1980). Ou, como refere Vuori (1982), a forma como as cincias da sade so, em geral,
aplicadas numa situao especfica, tendo em conta o conhecimento e a tecnologia mdica
disponveis. Desta forma, centra-se na competncia dos prestadores e na sua adeso a altos
padres de diagnstico e tratamento (Ware, Davies-Avery e Stewart, 1978). O apuramento
da qualidade tcnica tem passado, ento, pela avaliao do entendimento dos pacientes
relativamente aos equipamentos e servios (modernidade e excelncia) e capacidade dos
prestadores (avaliada, por exemplo, pela exactido, experincia e treino dos profissionais,
bem como a sua capacidade para prestar ateno aos pormenores, evitar os erros, realizar
bons exames mdicos e explicar claramente o que esperam dos doentes (Pego, 1998: p.
83).
A componente interpessoal, por outro lado, diz respeito ao aspecto scio-psicolgico da
interaco entre o mdico e o doente em termos de cortesia, pacincia, amizade e
sinceridade (Ware, Davies-Avery e Stewart, 1978). De facto, as normas interpessoais que
orientam, em particular, a relao mdico-doente acabam por derivar, semelhana de
qualquer outra relao social, de princpios e normas ticas (Donabedian, 1980). A
qualidade das relaes interpessoais dos aspectos mais importantes para os doentes
aquando da avaliao da qualidade dos cuidados prestados, acabando mesmo, por
conseguir afectar a qualidade tcnica dos cuidados de sade (Donabedian, 1980) e o
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resultado do tratamento17 (Lochman, 1983). Donabedian (1988) salienta, mesmo, que esta
componente o veculo atravs do qual o cuidado tcnico prestado e do qual depende o
seu sucesso.
Vrias definies acabam por estar, efectivamente, centradas no episdio (encontro) dos
cuidados de sade, incluindo como atributos as caractersticas interpessoais e o processo
tcnico de cuidados.
No entanto, para alm destas duas componentes, so, ainda, frequentemente referidas18,
para aferio da qualidade dos cuidados de sade as amenidades (propriedades de um
estabelecimento ou dos prprios cuidados) como, por exemplo, a temperatura, atributos
estticos, o conforto ou a limpeza da sala de espera.
Donabedian (1980) define, ento, qualidade de cuidados de sade como o tipo de cuidados
que maximiza uma medida que inclui o bem-estar dos pacientes, depois de se considerar o
equilbrio entre os ganhos e as perdas esperadas que acompanham todo o processo de
cuidados, em todas as suas componentes.
E, Palmer (1983)19 defende que um sistema de garantia de qualidade, ao nvel dos cuidados
de sade, tem como principal objectivo de tornar o mais efectivos possvel os cuidados
prestados, melhorando o estado de sade e a satisfao da populao, dentro dos recursos
que a sociedade e os indivduos decidiram gastar com tais cuidados (Ferreira, 1991: p. 96).
Atendendo ao facto de podermos observar vrios espectros e vises de qualidade dever-se-
procurar descrever, efectivamente, o que o termo procura designar, ou seja, qual a faceta
da qualidade?; de quem?; para quem?; e com que objectivo? Qualquer avaliao da
qualidade dos cuidados de sade apenas ser possvel depois de se responder a estas
questes.
17 Uma deficiente comunicao acaba por, frequentemente, resultar no incumprimento das recomendaes mdicas por parte dos doentes. 18 Em particular, por Donabedian (1980). 19 Apud Ferreira (1991).
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Abordagens de Alan Gillies sobre Qualidade nos Cuidados de Sade
Alan Gillies (2001) props, no seguimento da abordagem de Garvin (1988), um modelo
com cinco perspectivas de anlise do conceito de qualidade, mais ajustado aos cuidados de
sade.
A primeira destas perspectivas a abordagem transcendente. Apesar da utilidade
reduzida desta ptica na melhoria da qualidade dos cuidados de sade (j referida por
Garvin, 1988), acaba por ser um conceito indispensvel para a compreenso do que
qualidade, para um vasto nmero de indivduos.
A abordagem da sade pblica uma perspectiva estratgica na prestao de cuidados
de sade de qualidade que se encontra baseada na viso de que a qualidade dos cuidados
prestados tem um, efectivo, reflexo na Sade da Nao (Pisco, 2001). Mais do que cuidar
da doena, entende-se, nesta ptica, que a qualidade dos cuidados deve procurar, acima de
tudo, manter e melhorar a sade.
Na abordagem baseada nos recursos entende-se que a qualidade dos cuidados de sade
reporta-se ao mximo de cuidados que possvel obter com os recursos alocados no pas
sade. As preocupaes nesta perspectiva so a reduo do desperdcio, a efectividade dos
cuidados e a promoo de cuidados com vista a uma avaliao em termos de custo-
benefcio.
A ptica dos profissionais enfatiza os resultados e os conhecimentos clnicos, tomando
como principal medida de qualidade um resultado clnico de sucesso. E, apesar de se ter
encaminhado para uma promoo desta viso com base no trabalho em equipa, esta
perspectiva d, tradicionalmente, relevo ao papel central do mdico.
Por fim, a ltima das perspectivas propostas a dos utilizadores. Nesta ptica entende-se
que o bem-estar e a satisfao dos utilizadores so caractersticas essenciais. Tendo em
conta que as necessidades de cada utilizador so muito prprias, podendo ser diferentes das
de outros utilizadores e colidir, mesmo, com a abordagem dos profissionais, esta
perspectiva tende, muitas vezes, a ser mais individual do que colectiva.
Cada uma das cinco perspectivas propostas , obviamente, um esteretipo, representando,
apenas, uma parte da realidade. A qualidade em sade parece, pois, depender do
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observador (Pisco, 2001: p. 6). Contudo, os vrios pontos de vista entram,
frequentemente, em tenso e conflito. De facto, para os gestores, a qualidade tem a ver
com aspectos de eficincia, de rentabilizao dos investimentos e com a obteno dos
resultados desejados. J para os prestadores, a qualidade encontra-se focada nas
capacidades tcnicas e na obteno de resultados clnicos. E, por fim, para os doentes, ela
significa aspectos como a melhoria do estado de sade, a amabilidade ou a acessibilidade.
Estes conflitos inter-abordagens acabam por transformar, de facto, as questes respeitantes
qualidade na prestao de cuidados de sade como complexas e difceis de abordar. E, ao
se expressar uma determinada perspectiva, deve-se ter a conscincia de que existem, pelo
menos, mais quatro pontos de vista a serem tomados em considerao.
Antes de abordarmos a questo de como se pode avaliar a qualidade nos cuidados de
sade, vejamos algumas declaraes formais que procuram definir a elevada qualidade de
cuidados da sade.
Caixa de Texto N. 1: Definies de Qualidade Elevada de Cuidados de Sade
Fonte: Coster e Buetow (2001): p. 7.
1.4 Avaliao da Qualidade nos Cuidados de Sade
A avaliao de algo consiste no seu juzo fundamentado e no enviesado. Para tal, na
vertente da interveno social, Aguilar & Ander-Egg20 salientam que, utilizando o mtodo
cientfico, devem-se empregar procedimentos para obter a informao pertinente e aferir o
mrito do que est sobre avaliao de forma justificvel.
Avaliar , na prtica, confrontar o que existe com o que deveria existir, tendo em conta os
objectivos que se pretendem atingir. Para tal, este processo dinmico envolve, segundo
Almeida e Xavier (1995), trs dimenses: medio, valorao e deciso.
20 Apud Uchimura e Bosi (2002).
That kind of care which is expected to maximise an inclusive measure of patient welfare, after one has taken account of the balance of expected gains and losses that altered the process of care in all its parts (Donabedian, 1980). The degree to which health services for individuals and populations increase the likelihood of desired health outcomes and are consistent with current professional knowledge (Institute of Medicine, 1992). Care which consistently contributes to the improvement or maintenance of quality and/or duration of life (American Medical Association, 1994)
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Enquanto que a avaliao da qualidade est ligada realizao de uma medio, num
determinado perodo temporal21, a garantia de qualidade pressupe no apenas a avaliao
mas, tambm, a implementao, de forma planeada e organizada, de medidas correctivas ou
de melhoria (Cardoso, 2002). A avaliao no dever, efectivamente, ser considerada um
fim em si mesma, mas como uma parte de um processo onde, depois da elaborao de um
julgamento explcito, se desencadeia um movimento de alteraes no sentido da qualidade
previamente almejada.
Avaliar a qualidade dos cuidados de sade uma preocupao actual e pertinente, no
apenas das Instituies de sade mas tambm dos governantes, que se vm a braos com
custos que crescem exponencialmente e para os quais dispem de recursos bastante
limitados.
Os utentes apresentam-se cada vez mais exigentes relativamente aos servios prestados em
termos dos cuidados de sade e dispem de expectativas cada vez mais elevadas.
Consequentemente, com vista prestao de cuidados de elevada qualidade e para atender
a todas as necessidades e exigncias dos doentes, as Instituies vem-se foradas a
despender cada vez mais recursos.
No entanto, tambm os prprios prestadores de cuidados de sade tm vindo a adoptar
uma poltica de melhoria de desempenho que, pela satisfao dos seus utentes, acaba por se
traduzir num evidente aumento do seu prestgio profissional. Donabedian (1989) refere,
mesmo, que, quer Instituies, quer prestadores de cuidados de sade, fazem da prestao
de cuidados de qualidade, ao mais baixo custo, um alvo fundamental. Conseguindo-se
satisfazer as necessidades de sade dos utentes, as Instituies obtm prestgio e ganhos
econmicos, os prestadores de cuidados alcanam satisfao profissional e os utentes
conseguem um aumento da sua qualidade de vida, para alm da conscincia de que os
recursos econmicos do pas esto a ser bem geridos (Cardoso, 2002).
imprescindvel, ento, tomar uma deciso (e explicit-la claramente) quanto a qual o
enfoque da avaliao da qualidade (a cura ou o cuidado) assim como a qual o aspecto da
qualidade em considerao. E, de facto, apesar de uma tendncia tradicional centrada na
21 Entenda-se que uma avaliao ou julgamento envolve sempre mais do que uma mera medio. Incorpora expectativas, valores, preconceitos, convices e preferncias dos indivduos ou grupos que efectuam essa avaliao da qualidade.
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avaliao da qualidade no mbito da cura, cada vez mais se tem sentido necessidade de uma
extenso, de forma sistemtica e quantificvel, a caractersticas do cuidado.
Modelos Tericos de Qualidade em Sade
Nas ltimas dcadas foram desenvolvidos alguns modelos para avaliar a qualidade dos
servios, explicando a importncia entre o relacionamento do consumidor/doente
(percepo e avaliao dos servios) e os elementos ligados ao lado da oferta.
Apresentamos, de seguida, alguns desses modelos.
Modelo de Grnroos
Grnroos (1984) define o servio como uma actividade (ou um conjunto de actividades)
intangvel disponibilizada para solucionar o(s) problema(s) do(s) cliente(s).
Partindo dessa definio, Grnroos (1984) considera que a qualidade dos servios pode ser
subdividida em dois elementos diferentes, mas relacionados: a qualidade tcnica e a
qualidade funcional. A qualidade tcnica ou de resultado encontra-se relacionada com a
correco do servio realizado, destacando-se a competncia como determinante
fundamental, e est focada em dar resposta ao que o consumidor recebe. A qualidade
funcional ou de processo medida face ao contexto e meios de prestao de servios,
encontrando-se focada em dar resposta a como o consumidor recebe.
Segundo este autor, a qualidade apercebida de um servio, por um consumidor, resulta da
comparao entre os servios efectivamente recebidos e as suas expectativas, avaliando-se,
em particular, os vrios recursos e as formas de utilizao destes pelo prestador. Esta
imagem construda pela combinao dos 2 factores supra mencionados (qualidade tcnica
e qualidade funcional). Quando a qualidade experimentada atinge ou supera as expectativas
dos clientes, a qualidade apercebida positiva. Caso contrrio, a qualidade apercebida
negativa.
Especula-se que os consumidores, na falta de capacidade para aceder qualidade tcnica,
realizam o seu juzo com base em elementos de qualidade funcional. No caso dos cuidados
de sade, esta premissa acaba por tomar algum relevo dado os pacientes, regra geral, no se
encontrarem tecnicamente habilitados para compreenderem o seu diagnstico e terapia
(Lopes, 2000).
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Figura N. 1: Modelo de Grnroos (Qualidade Total Apercebida)
Fonte: Grnroos (1984).
Modelo de Parasuraman
Neste modelo, assume-se que a avaliao de um servio se encontra relacionada com a
comparao entre a forma como o servio desempenhado e as expectativas do
consumidor, considerando-se quer os resultados, quer o processo de desempenho.
A presena de qualidade est associada correspondncia entre a realidade (o que a
organizao oferece) e as expectativas do consumidor (o que ele deseja). A falta dessa
correspondncia resultar na ausncia de qualidade.
A ausncia de correspondncia entre as expectativas do cliente e o servio prestado poder
ocorrer, segundo Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985), como resultado de pelo menos um
de cinco factores (a que denominam de gaps):
i. Gap 1 discrepncia entre as expectativas do consumidor e da gesto da
organizao.
ii. Gap 2 discrepncia entre o que a gesto da organizao pensa que o consumidor
deseja e o que estabelecem como especificidade do servio (diferenas entre o
esperado e o implementado pela gesto).
iii. Gap 3 discrepncia entre o servio entregue e as especificidades do servio (que
devem estar apoiadas em recursos adequados e apropriados)
iv. Gap 4 discrepncia entre o servio prometido (exteriorizado por exemplo por
publicidade e absorvido pelo doente) e o fornecido.
Qualidade esperada Qualidade experimentada Qualidade Total Apercebida
Imagem
Qualidade funcional:Como?
Qualidade tcnica:O qu?
Comunicao c/ o Mercado Imagem
Comunicao boa a boca Necessidades do Consumidor
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v. Gap 5 discrepncia entre o que o consumidor espera e a sua percepo sobre o
servio que a organizao fornece.
Segundo este modelo, a criao de uma percepo de qualidade passa por evitar os
referidos gaps e pela gesto dos determinantes de qualidade enunciados por Parasuraman,
Zeithaml e Berry (1985), nomeadamente, a competncia (funcionrios com capacidade e
conhecimentos adequados), a credibilidade (transmisso de confiana pela instituio e
funcionrios), a confiana (desempenho consistente e preciso), a comunicao (utilizao
de linguagem acurada do cliente), a receptividade (resposta s solicitaes em tempo
aceitvel), o acesso (instalaes e horrios adequados, tempos de espera aceitveis), a
cortesia (amabilidade e ateno dos funcionrios), a segurana (ausncia de perigo, risco e
insegurana), a tangibilidade (a instituio deve efectuar uma gesto cuidadosa de todos os
elementos tangveis, designadamente, das instalaes fsicas e da aparncia dos membros
operacionais)22 e a compreenso (tentativa de conhecimento dos clientes e das suas
necessidades).
Figura N. 2: Modelo Servqual (Qualidade de Servios) de Parasuraman
Fonte: Parasuraman, Zeithaml e Berry (2001). 22 Cunha (2002) salienta, em particular, o facto do espao fsico ajudar a comunicar a identidade e a imagem da organizao.
GAP 1
GAP 2
GAP 5
GAP 3
GAP 4
Necessidades PessoaisComunicao boca a boca Experincias passadas
Expectativas do utilizador quanto ao servio
Percepo do utilizador quanto ao servio
Prestao do servio Comunicao externa com o utilizador
Especificao do servio pela percepo da gesto
Percepo pela gesto das expectativas dos utilizadores
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21
Modelo de Donabedian Donabedian um autor de referncia na literatura mdica quanto avaliao da qualidade
dos servios de sade, tendo publicado um conjunto de trabalhos importantes nas 3
ltimas dcadas do sculo passado. De facto, a esmagadora maioria dos artigos publicados
baseiam-se ou citam, destacadamente, o trabalho deste autor.
Apesar de Donabedian (1980) aceitar o aproveitamento de alguns pontos dos modelos
industriais de qualidade23, este autor reala a clara especificidade prpria da gesto da
qualidade em sade. Ele salienta, em particular, que os referidos modelos valorizam as
actividades relacionadas com a produo, no enquadrando a especificidade da prtica
clnica; desvalorizam a importncia das competncias, dos conhecimentos tcnico-
cientficos e da motivao dos profissionais de sade; ignoram a complexidade da relao
mdico-doente; e desvalorizam os factores sociais, culturais e psicolgicos, interpretando a
qualidade de forma muito objectiva.
Na avaliao da qualidade de cuidados de sade, Donabedian (1980) refere existirem trs
dimenses fulcrais (zonas de medio de qualidade): a estrutura, o processo e os
resultados24.
A estrutura engloba a arquitectura da Instituio, a organizao do trabalho e os recursos
(humanos, tcnicos e econmicos) que suportam as suas actividades25. Corresponde ao
conjunto das caractersticas relativamente estveis dos prestadores de cuidados de sade26,
dos instrumentos e recursos que tm ao seu dispor, e dos meios fsicos e organizacionais
em que actuam27. Uma boa estrutura uma condio necessria, mas no suficiente, de um
nvel de qualidade de cuidados/servios elevado. De facto, Greene (1976) adverte que, uma
investigao baseada, exclusivamente, na estrutura, sem considerao das correlaes com
os efeitos, poder conduzir a concluses precipitadas.
23 Ou seja, a inevitabilidade de se prestar ateno acrescida s necessidades, valores e exigncias do cliente; ao desenho dos sistemas e processos como meios de garantia de qualidade; educao e treinamento de todos na monitorizao e garantia da qualidade; e de se aumentar a responsabilidade da administrao nessa garantia da qualidade dos cuidados de sade. 24 Regularmente denominadas como a trilogia de Donabedian. 25 Engloba, ento, as amenidades. 26 Incluindo-se o tipo de perfil profissional, preparao e experincia. 27 Incluindo-se a adequao s normas vigentes.
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22
O processo depende da estrutura e engloba os cuidados directos, os no directos e os
padres de comportamento dos profissionais. Esta abordagem fundamenta-se nas fortes
correlaes entre conhecimento, tecnologia mdica e efeitos (Kane et al., 1977) e
corresponde ao conjunto das actividades desenvolvidas entre prestadores de cuidados e
doentes, no mbito de um servio, desde a admisso alta. Fruto da sua relao com os
resultados, o processo acaba por dispor de um papel fulcral no nvel da qualidade dos
cuidados prestados. Ainda assim, a utilizao exclusiva de variveis processuais levar a
introduo de distores face validade da avaliao, conforme descrito por Brook e
Williams (1975) e Ferreira (1991): no existe registo escrito da arte de cuidar e dos aspectos
cognitivos da prestao dos cuidados (conhecimentos do prestador); raramente existe uma
documentao da lgica de base da prestao que conduziu s vrias decises (situaes
que no alteraram o curso das aces so muito poucas vezes registadas); e, alguns dos
indicadores de bons cuidados de sade utilizados nas variveis de processuais no so
reconhecidos por parte da investigao, a nvel universal.
Os resultados so os efeitos gerados pela prestao de cuidados de sade e envolvem,
necessariamente, a comparao entre o que foi planeado e que foi, na realidade,
conseguido, possibilitando determinar-se a eficincia, a efectividade e a satisfao dos
utentes face aos cuidados prestados. Correspondem alterao no estado de sade (actual
ou futuro) de um paciente passvel de ser atribuda a uma prvia prestao de cuidados de
sade. Um mau resultado no significa, contudo, impreterivelmente, um baixo nvel de
qualidade, uma vez que podem existir factores externos influenciadores dessa qualidade
(idade, gravidade da situao ou a carga psico-social dos utentes).
Importa ainda referir que, na literatura, se procede com regularidade, clara distino entre
efeitos e resultados. Gustafson et al. (1989) retratam esta situao atravs do exemplo da
amputao de um dedo da mo a um pianista e a um professor de engenharia. De facto,
apesar do resultado dos cuidados de sade prestados ter sido idntico, os efeitos foram
completamente distintos. O pianista viu a sua carreira ficar completamente destruda,
enquanto que o engenheiro teve apenas de se habituar a teclar o computador com quatro
dedos numa das mos. Contudo, e apesar de algumas dificuldades que possam surgir, estes
autores advogam o uso de medidas de efeito aquando da avaliao e da tomada de decises
sobre o sistema de prestao de cuidados, visto entrarem em considerao com a satisfao
do utente e com a auto-avaliao do seu estado de sade.
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23
A estrutura, o processo e os resultados apresentados por Donabedian (1980) no so, no
seu entender, caractersticas de qualidade, mas antes elementos que contribuem para se
adquirir informao sobre a ausncia ou a presena de atributos que compem ou definem
qualidade.
Como medida aproximada dos efeitos dos servios de sade na qualidade de vida de uma
populao utilizada, frequentemente, a avaliao da estrutura e do processo, apesar de
uma melhoria nestas duas dimenses no garantirem uma melhoria nos resultados (e
consequentemente na qualidade, efectiva, dos cuidados). O pressuposto inerente referida
aproximao o de que a existncia de recursos e tecnologia adequada contribui para uma
prestao adequada de cuidados, a qual por sua vez, leva a um estado de sade favorvel.
Contudo, isoladamente, estas medidas acabam por, frequentemente, serem consideradas
como muito fracas (Cardoso, 2002).
A avaliao de servios, segundo Donabedian, dever comportar sempre as componentes
supra mencionadas dos cuidados de sade, ou seja, a componente tcnica (a questo do
desempenho tcnico), a componente interpessoal (relacionamento pessoal mdico-doente)
e as amenidades.
Dado existir uma clara inter-relao entre as referidas componentes dos cuidados de sade,
apenas se conseguir, na realidade, obter um conhecimento mais fidedigno da qualidade
dos cuidados de sade pela avaliao no isolada da estrutura, do processo e dos resultados.
Assim, Lucas (1984) reala que, para a aferio da qualidade dos cuidados de sade, um
cada vez maior nmero de autores prope a avaliao dos resultados (a mais vlida e
directa medida de aferio da qualidade) associada avaliao de pelo menos mais uma
dimenso.
No incio da ltima dcada do sculo passado, Donabedian (1990) ampliou a sua definio
de qualidade, introduzindo alguns conceitos que considerou indispensveis para uma
avaliao da qualidade em sade mais abrangente, a que denominou de sete pilares da
qualidade: eficcia; efectividade; eficincia; optimizao; aceitabilidade (envolvendo outros
factores como: acessibilidade, oportunidade, relao profissional-paciente, comodidade,
resultados, custo e honestidade); legitimidade e equidade.
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Componentes de Avaliao da Qualidade
Coster e BueTow (2001) sintetizam algumas das vrias tentativas de identificao das
componentes da qualidade. Esse resumo apresentado na Tabela N. 1.
Tabela N. 1: Componentes da Qualidade
Componentes da Qualidade
Palmer (1983)
Maxwell (1984)
Donabedian (1990)
OLeary e MR (1992)
Klein (1998) National Health
Committee (2001) Efectividade Efectividade Efectividade Efectividade
Eficcia Eficcia Eficcia Eficincia Eficincia Eficincia Eficincia Eficincia Eficincia
Relevncia Convenincia Convenincia
Competncia do prestador de cuidados
Competncia tcnica
Segurana Acessibilidade Acessibilidade Acessibilidade
Equidade Equidade Equidade Equidade Aceitabilidade Aceitabilidade Aceitabilidade Aceitabilidade
Legitimidade Continuidade
Perspectivas dos Pacientes Participao do
Consumidor Respeito Escolha
Disponibilidade de informao
Optimizao Fonte: Coster e Buetow (2001): p. 8. De seguida, e partindo da definio de Palmer (1983)28, procuraremos descrever as
componentes da qualidade, habitualmente, mais estudadas.
Definio de Qualidade de Cuidados de Sade em funo das Componentes da sua Avaliao
Tomando por base a definio do Instituto de Medicina dos Estados Unidos da Amrica
sobre o objectivo primordial de um sistema de sade29, Palmer (1983)30 identificou cinco
componentes que ilustram os aspectos e a forma de interaco entre as preocupaes
clnicas e no clnicas numa Instituio de Sade, nomeadamente a eficcia, a eficincia, a
acessibilidade, a aceitabilidade e a competncia do prestador de cuidados.
28 Apud Ferreira (1991). 29 O principal objectivo de um sistema de garantia de qualidade deve ser o de tornar o mais efectivos possvel os cuidados prestados, melhorando o estado de sade e a satisfao da populao, dentro dos recursos que a sociedade e os indivduos decidiram gastar com tais cuidados (Palmer, 1983 apud Ferreira, 1991: p. 96). 30 Apud Ferreira (1991).
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A eficcia definida por Palmer (1983)31 como a caracterstica de um determinado
tratamento ou procedimento clnico que tende a melhorar o estado de sade. a
capacidade de, com base em objectivos traados, se conseguir obter os resultados
desejados. E, tendo em conta a avaliao da populao em condies ideais, indica o
benefcio potencial mximo como resultado de uma determinada interveno.
Para Palmer (1983)32, a eficincia est relacionada com a maximizao do fornecimento de
unidades comparveis de cuidados de sade quando se utiliza uma determinada unidade de
recursos de sade. J Vuori (1982) descreve-a como a relao entre o actual impacto de um
servio ou programa e o seu custo. A soluo eficiente a que, ao mais baixo custo, a
mais efectiva. Isto significa que aquela que permite atingir um determinado fim por
intermdio do menor esforo e custo (investimento de recursos), ou a que possibilita a
obteno do nvel mais elevado de qualidade com base numa quantidade pr-determinada
de recursos.
A acessibilidade , segundo Palmer (1983)33, o grau de acesso aos cuidados de sade,
tendo em conta as barreiras existentes (de ordem organizacional, financeira, emocional ou
cultural). Est relacionada com a facilidade na obteno dos cuidados de sade face a
barreiras (econmicas, organizativas34, emocionais) e com a rapidez e adequao dos
cuidados (tempos de espera para marcao de consulta e atendimento assim como a
possibilidade, por exemplo, de recebimento de cuidados no domicilio). Esta dimenso
apresenta uma relao directa com a disponibilidade de recursos existente (prestadores e
unidades de sade), a distribuio geogrfica, os meios de transporte e as condies que
possibilitam o livre acesso a todos os cidados.
Palmer (1983)35 define a aceitabilidade como o grau de satisfao dos pacientes
relativamente aos cuidados de sade prestados. Est relacionada com a adaptao dos
cuidados de sade s expectativas, valores e desejos dos pacientes e das suas famlias,
atribuindo-se, frequentemente, a esta dimenso conceitos como: relao mdico-paciente,
amenidades, preferncias do paciente quanto aos custos e efeitos da assistncia (Gastal,
31 Idem. 32 Idem. 33 Idem. 34 Distncias e horrios de atendimento, por exemplo. 35 Apud Ferreira (1991).
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1995). , ento, uma medida da satisfao das necessidades dos utentes face aos efeitos dos
cuidados ou de tratamentos recebidos pelos prestadores sobre o seu estado de sade.
E, por fim, Palmer (1983)36 descreve a competncia do prestador de cuidados como a
capacidade deste utilizar, para as suas tomadas de deciso, o melhor conhecimento
disponvel. Esta situao traduz-se, no final, em consumidores sos e satisfeitos. A
com