tese performance de ensaio musical

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Técnicas de ensaio

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  • Universidade de Aveiro Ano 2009

    Departamento de Comunicao e Arte

    RUI MIGUEL DE ARAJO E SILVA

    TCNICAS DE ENSAIO TRS ESTGIOS PARA A PERFORMANCE

  • Universidade de Aveiro Ano 2009

    Departamento de Comunicao e Arte

    RUI MIGUEL DE ARAJO E SILVA

    TCNICAS DE ENSAIO TRS ESTGIOS PARA A PERFORMANCE

    Dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Msica ramo Direco, realizada sob a orientao cientfica do Doutor Antnio Jos Vassalo Neves Loureno, Professor auxiliar do Departamento de Comunicao e Arte da Universidade de Aveiro.

  • Aos meus pais, irmos e Olga

  • o jri

    presidente Prof. Doutor Vasco Manuel Paiva de Abreu Trigo de Negreiros professor auxiliar da Universidade de Aveiro

    Prof. Doutor Antnio Jos Vassalo Neves Loureno professor auxiliar da Universidade de Aveiro

    Maestro Ernst Schelle

  • agradecimentos

    Este trabalho um projecto que beneficiou da ajuda de muitas pessoas. No podia deixar passar esta oportunidade para reconhecer e mostrar a minha gratido para com aquelas que, de forma mais directa, contriburam para a sua concretizao. Ao Professor Doutor Antnio Jos Vassalo Neves Loureno, por ter aceitado orientar este trabalho, pelo empenho com que o acompanhou desde o incio, pela confiana em mim depositada, pelas crticas, pelas sugestes, pela pronta disponibilidade com que sempre me atendeu, o meu reconhecimento. Ao Maestro Ernst Schelle, por todos os ensinamentos e colaborao prestada, o meu agradecimento. A todos os elementos da Orquestra de Sopros Intemporalis, as palavras sero sempre poucas para agradecer o empenho, a dedicao, o companheirismo e a amizade. Aos meus colegas da Banda de Msica da Fora Area Portuguesa particularmente aos amigos Paulo Carvalho, Amrico Russo, Sertrio Calado pela amizade e todas as formas de apoio ao longo da realizao deste trabalho. Ao Ateneu Artstico Vilafranquense, nomeadamente ao Presidente da Direco Mrio Calado, ao Sr. Lus Quintelas e ao Sr. Carlos Miranda, agradeo a disponibilidade e carinho com que apoiaram este projecto. Ao Tenente Coronel lio Murcho e ao Tenente Antnio Rosado, pela motivao e pronta ajuda que me deram nestes dois anos de mestrado.

  • palavras-chave

    msica, performance, direco, orquestra de sopros, banda, tcnicas de ensaio.

    resumo

    Dissertao desenvolvida no mbito da concluso do mestrado em direco vertente direco de bandas e orquestras de sopros. Sendo este um documento de apoio ao concerto final, a temtica centra-se nas problemticas das tcnicas de ensaio. Com o objectivo de responder de forma mais eficiente, defender e recriar a ideia musical do compositor, so apresentados dois captulos que abordam respectivamente o trabalho individual do maestro, e o ensaio. Preparao e Planificao descreve a primeira etapa de trabalho de um maestro e reala a preponderncia que esta assume no trabalho de ensaio. referida uma metodologia de estudo da partitura baseada em trs etapas progressivas de trabalho, com abordagens e objectivos a atingir distintos. So enunciadas algumas orientaes gerais na marcao da partitura, preponderantes na fluidez psicomotora do maestro, e por ltimo, algumas ideias gerais sobre a planificao de ensaios, domnio importante no aproveitamento do tempo til de ensaio. Organizao do Ensaio Divide-se em dois domnios. O primeiro, Preparao Instrumental, aborda a utilizao de tcnicas que tm em vista o aquecimento e a afinao da orquestra. O segundo, Trs Estgios de Ensaio I Primeira Leitura, II Aperfeioamento dos Contedos e III Interpretao visa a concretizao de objectivos bem definidos de uma forma sistemtica e progressiva, com a finalidade de responder de maneira mais eficiente s problemticas inerentes na preparao para a performance. Orquestra de Sopros Intemporalis objecto de estudo desta dissertao, apresenta um relatrio sobre a actividade desenvolvida na preparao do concerto final. Os resultados foram obtidos atravs da observao participante e o inqurito feito aos msicos da orquestra. No Sumrio e Concluses feita uma sntese e so formuladas algumas consideraes finais onde se destaca a validade e eficcia das tcnicas utilizadas, assim como o papel decisivo das mesmas no concerto final.

  • keywords

    music, performance, conducting, wind orchestra, wind band, rehearsal techniques.

    abstract

    Thesis developed in order to conclude the Masters degree in conducting conducting wind bands and wind orchestras. Being a support document to the final concert, its main theme is focused on the subject of the rehearsal techniques. With the main goal of trying to give answers in a more effective way, defend and recreate the composers musical idea, two chapters are presented which respectively concern the conductors individual work, and the rehearsal. Preparation and Planning describes the first phase of the conductors work and enhances its preponderance in the work of the rehearsal. Refers a method of score study based on three progressive work stages, with different approaches and goals to achieve. Presents some general guidelines in the score marking process, fundamental to the psychomotor fluidity of the conductor, and at last, some general ideas about the rehearsal planning, an important domain in making the most of the useful rehearsal time. Organizing the Rehearsal it is divided in two domains. The first one, Instrumental Preparation, approaches the use of techniques in the warming up and in the orchestras tuning processes. The second one, The Rehearsals Three Stages I First Reading, II Improvement of the Contents and III Interpretation aims to achieve well defined goals in a systematic and progressive way, in order to answer in a more effective way to the inherent subject of Preparing for the Performance. Wind Orchestra Intemporalis subject of study in this paper, presents a report about the activity developed preparing for the final concert. The results were obtained through participant observation and also through an inquiry made to the orchestras musicians. In Summary and Conclusions, a synthesis is made and some final considerations are presented, enhancing the validity of the applied techniques and also their decisive role in the final concert.

  • 8

    NDICE

    NDICE 8NDICEDEFIGURAS 10NDICEDETABELAS 10INTRODUO 12CAPTULO 1 PREPARAOEPLANIFICAO 151.1 ESTUDODAPARTITURA 161.1.1APROXIMAOPARTITURA 171.1.2ANLISEDAPARTITURA 181.1.3SNTESEDAPARTITURA 191.2ANOTAESNAPARTITURA 191.3PLANIFICAODOSENSAIOS 23CAPTULO 2 ORGANIZAODOENSAIO 242.1 PREPARAOINSTRUMENTAL 252.1.1TCNICASDEAQUECIMENTO 262.1.2AFINAO 292.2TRSESTGIOSDEENSAIO 322.2.1IESTGIOPRIMEIRALEITURA 332.2.2IIESTGIOAPROFUNDAMENTODOSCONTEDOS 342.2.3IIIESTGIOINTERPRETAO 362.3SINOPSE 37CAPTULO 3 ORQUESTRADESOPROSINTEMPORALIS 393.1CONSTITUIODAORQUESTRADESOPROSINTEMPORALIS 403.2PLANOTEMPORALDETRABALHO 423.2.1REPERTRIO 423.2.2ANGARIAODEAPOIOSEPATROCNIOS 453.2.3DIVULGAODOEVENTOEPREPARAODOSPROGRAMAS 463.2.4ENSAIOS 463.3INQURITOAOSMSICOS 513.3.1CARACTERIZAODOSELEMENTOSDAORQUESTRAINTEMPORALIS 523.3.2PREPARAOINSTRUMENTAL 533.3.3TRSESTGIOSDEENSAIO 633.3.4AVALIAODOCONCERTOFINAL 693.3.5CRTICAAOCONCERTO,AOPAPELDOMAESTROEAOTRABALHODESENVOLVIDO 73SUMRIOECONCLUSES 74REFERNCIASBIBLIOGRFICAS 77ANEXOS 79ANEXO A ENTREVISTAAOMAESTROERNSTSCHELLE 80

  • 9

    ANEXO B GUIA(EXCERTODOIRISHTUNEDEPERCYGRANGER) 91ANEXO C MARCAODO1TEMPO(PLANOBIDIMENSIONAL) 92ANEXO D CONESDECOMPASSOS 93ANEXO E CARTAZDOCONCERTO 94ANEXO F PROGRAMADECONCERTO 95ANEXO G INQURITOAOSMSICOS 97

  • 10

    NDICE DE F IGURAS Figura1Trsetapasprogressivasnoestudodapartitura _________________________________________________16Figura2conesdecompassos ________________________________________________________________________________22Figura3GrandeEscalaMatriz_______________________________________________________________________________28Figura4Planotemporaldetrabalho________________________________________________________________________51Figura5Grficoderelaoidade/sexo _____________________________________________________________________52Figura6Grficosrelativosactividadeprofissionaleshabilitaesmusicais __________________________53Figura7Modelodeaquecimento ____________________________________________________________________________54Figura8Materiaisutilizadosnoaquecimento ______________________________________________________________55Figura9Parmetroconsideradomaisimportantenoaquecimento ______________________________________59Figura10Parmetroconsideradomenosimportantenoaquecimento ___________________________________60Figura11Importnciadoaquecimentonorendimentodoensaio ________________________________________60Figura12Modelodeafinao _______________________________________________________________________________62Figura13Avaliaodomtododeafinaoutilizado______________________________________________________62Figura14Tipodeabordagemnoensaiodasobras _________________________________________________________63Figura15Classificaodaconcretizaodosobjectivosno1estgiodeensaio_________________________65Figura16Classificaodaconcretizaodosobjectivosno2estgiodeensaio_________________________68Figura17Classificaodaconcretizaodosobjectivosno3estgiodeensaio_________________________69Figura18Avaliaodoconcertofinaltendoemcontaotrabalhodesenvolvido _________________________73

    NDICE DE TABELAS

    Tabela1Abreviaturasdosinstrumentosmaiscomunsemorquestradesopros __________________________21Tabela2ContedosMusicais_________________________________________________________________________________35Tabela3Sinopsedostrsestgiosdeensaio ________________________________________________________________38Tabela4ConstituiodaOrquestra _________________________________________________________________________41Tabela5Planodeensaios ____________________________________________________________________________________48Tabela6Modelodeaquecimento ____________________________________________________________________________54Tabela7Materiaisutilizadosnoaquecimento______________________________________________________________55Tabela8Parmetrosajustadosnoaquecimento ___________________________________________________________56Tabela9Grauderelevnciadosparmetrosajustadosnoaquecimento _________________________________58Tabela10Modelodeafinao _______________________________________________________________________________61Tabela11Tipodeabordagemnoensaiodasobras_________________________________________________________63Tabela12Trsestgiosdeensaioerespectivosobjectivos_________________________________________________64Tabela13Parmetrosnaavaliaodoconcertofinal _____________________________________________________70

  • 11

  • 12

    INTRODUO

    A experincia que tenho vindo a acumular desde alguns anos para c na

    direco de Bandas, como a Banda Marcial de Arnoso, a Banda da Ericeira, a

    Banda da Sociedade Musical Fraternidade Operria Grandolense (SMFOG), na

    participao em vrios Workshops e, agora, no Mestrado em Direco ministrado

    pela Universidade de Aveiro, proporcionou-me o contacto com vrios maestros

    credenciados. Tais so o caso do Professor Doutor Antnio Loureno, Ernst

    Schelle, Robert Perez, Jo Conjaerts, Mitchell J. Fennell e Dlio Gonalves, entre

    outros. Os conhecimentos adquiridos com esta vivncia apresentaram-me no s

    novos conceitos, perspectivas e mtodos de ensaio como tambm novas

    problemticas.

    As tcnicas de ensaio como problemtica so, sem dvida, um tema

    bastante vasto, controverso e, muitas vezes, relegado para um registo secundrio

    da direco. Na minha experincia profissional como msico executante, tive a

    oportunidade de conviver com vrias metodologias que, na maioria dos casos,

    no seguiam critrios objectivos e temporais para o desenvolvimento criativo

    artstico nem seguiam uma planificao com vista a antever e responder aos

    problemas que surgem neste domnio.

    No mbito da disciplina de Contedos e Tpicos de Literatura Especfica

    uma das disciplinas da componente lectiva do mestrado, leccionada pelo

    professor Lus Cardoso tive oportunidade de estudar os artigos The Quantum

    Conductor1, Making Connections2 e The Rehearsal Mastery of Music

    Fundamentals3 da obra de referncia Teaching Music through Performance in

    Band. A aproximao a estas problemticas foi importante no despertar de

    questes no domnio das tcnicas de ensaio. Desde logo, comeou a surgir uma

    1 CORPORON, Eugene (1997), The Quantum Conductor in Teaching Music Through Performance in Band. Chicago: Gia Publications, pp. 11-18. 2 BLOCHER, Larry R. (2000), Making Connections in Teaching Music Through Performance in Band. Chicago: Gia Publications, vol. III, pp. 4-14. 3 LISK, Edward S. (1998), The Rehearsal Mastery of Music Fundamentals in Teaching Music Through Performance in Band. Chicago: Gia Publications, vol. II, pp. 12-28.

  • 13

    hiptese de trabalho que ganhou consistncia aquando do meu contacto com as

    tcnicas de ensaio utilizadas pelo Maestro Ernst Schelle. No estgio de orquestra

    de sopros do 1 ano de mestrado ministrado por este maestro, deparei-me com

    uma abordagem ao ensaio que se dividia em trs etapas, cada uma com

    diferentes objectivos a atingir. Com a necessidade de aprofundar os contedos

    destes procedimentos fiz uma entrevista ao Maestro Ernst Schelle (no anexo A) e

    confrontei estes conhecimentos com bibliografia especializada e com a minha

    prpria experincia. Este estudo fez-me levantar um determinado nmero de

    questes tais como: Qual a recepo do grupo a este tipo de metodologia? Serve

    este modelo para a afirmao de uma pulsao geral? Responde este modelo s

    necessidades tcnicas do grupo? Msicos passivos ou activos? Ser a imitao

    um modelo para a ligao do grupo? So estes trs estgios progressivos?

    So sem dvida vrias as problemticas inerentes a este estudo e todas

    estas questes me levaram ao princpio terico da minha investigao e me

    orientaram para o que aqui apresento como objecto de estudo.

    Assim, formulei a hiptese da utilizao de um plano de ensaios dividido

    em dois domnios: Preparao Instrumental; Trs Estgios de Ensaio. O objecto

    de estudo desta dissertao ser, assim, a implementao e anlise das

    metodologias descritas na preparao do meu concerto final.

    Descritas as circunstncias em que surgiu este trabalho, e explicitado o

    objecto de estudo, passo a enunciar os objectivos centrais que pretendi atingir.

    Desde logo, era meu objectivo desenvolver um trabalho de investigao

    que permita a obteno de dados sobre um domnio que considero dos mais

    importantes na minha especializao. Com isto espero desenvolver competncias

    que tornem a minha abordagem ao ensaio mais eficaz e eficiente e, em ltima

    anlise, aprimorar o nvel de realizao musical em concerto.

    Globalmente, espero que este trabalho possa tambm vir a contribuir, com

    ideias que permitam o desenvolvimento de ferramentas e respostas vlidas, para

    o crescimento artstico das bandas e orquestras de sopros.

    A estrutura global do trabalho, que passo a apresentar, est orientada para

  • 14

    a consecuo destes objectivos.

    O primeiro captulo deste documento Preparao e Planificao ,

    descreve a primeira etapa de trabalho de um maestro. Embora no seja esta

    a problemtica central desta dissertao, considerei de extrema

    importncia abordar esta temtica dado que vai condicionar de forma

    efectiva todo o processo de ensaio e, assim, todo o processo de criao

    artstica. Comeo por expor uma metodologia de estudo da partitura

    fundamentada em trs etapas progressivas de trabalho, com abordagens e

    objectivos a atingir distintos. Seguidamente enuncio algumas orientaes

    gerais na marcao da partitura que se tornam preponderantes na fluidez

    psicomotora do maestro. Por ltimo, apresento algumas ideias gerais sobre a

    planificao de ensaios, domnio importante no aproveitamento do tempo til

    de ensaio.

    O segundo captulo Organizao do Ensaio , temtica principal

    desta dissertao, abarca um conjunto de tcnicas que tm como propsito

    recriar as intenes do compositor atravs de metodologias progressivas e

    eficazes. Compreende dois domnios de ensaio. O primeiro, Preparao

    Instrumental, aborda a utilizao de tcnicas que tm em vista o aquecimento e

    afinao da orquestra. O segundo, Trs Estgios de Ensaio, aborda um processo

    de ensaio que pretende responder de maneira mais eficiente s problemticas

    inerentes na preparao para a performance.

    Seguidamente, o terceiro captulo Orquestra de Sopros Intemporalis ,

    apresenta um relatrio sobre a actividade desenvolvida na preparao do meu

    concerto final. A orquestra, criada para este propsito, foi objecto de estudo na

    aplicao das tcnicas que exponho nesta dissertao. Os resultados

    apresentados, remetem para dois instrumentos metodolgicos de investigao: a

    observao participante e o inqurito feito aos msicos da orquestra.

    Por fim, termino esta dissertao com uma sntese sumria das

    consideraes desenvolvidas ao longo deste trabalho e com uma anlise

    integrada e comparativa dos resultados obtidos no terceiro captulo. Deste modo,

    procuro concluir sobre a pertinncia e eficcia das tcnicas de ensaio referidas

    neste documento.

  • 15

    CAPTULO 1 PREPARAO E PLANIFICAO

    A primeira etapa de trabalho de um maestro consiste na preparao

    das partituras e planificao dos ensaios. Sendo exclusivamente da

    responsabilidade do maestro, um estudo que vai definir o modo de

    conduzir os ensaios, e o tempo gasto nos mesmos. Naturalmente vai

    condicionar os objectivos a atingir e, em ltima anlise, o produto musical

    final. O conhecimento da partitura, do ensemble, a identificao de

    problemas e a planificao do tempo til de ensaio so aspectos que vo

    condicionar positivamente ou negativamente todo o processo de criao

    artstica. No ter percepo deste facto incorrer num erro que leva muitas

    vezes deturpao da mensagem musical do compositor ou ento a uma

    construo de ideias confusas que influenciaro negativamente a

    percepo da orquestra. O tempo que cada um dos maestros deve utilizar

    nesta fase varivel de pessoa para pessoa bem como de pea para pea.

    Como o Maestro Ernst Schelle refere na sua entrevista, na sua preparao

    individual leva trs a quatro vezes mais tempo do que em ensaio com a

    orquestra. Claudio Abbado levou seis meses a estudar a 9 Sinfonia de

    Mahler4 e Herbert von Karajan levou mais de seis meses a sentir-se

    preparado para dirigir a Sinfonia Litrgica de Honegger5. Na minha opinio,

    o tempo dispendido dever ser o necessrio para que haja total assimilao

    dos contedos da partitura, pois s assim possvel partir para a fase de

    comunho entre a ideia do compositor e a do intrprete. tambm um

    espao de tempo em que o maestro deve conhecer, obter referncias da

    orquestra ou grupo musical para identificar problemas, e assim construir

    estratgias, planificar e gerir o tempo de ensaio disponvel. Deste modo

    dever conseguir prever quanto tempo de ensaio ser necessrio

    consecuo do trabalho.

    4 LEBRECHT, Norman (2001) The Maestro Myth Great Conductors in Pursuit of Power. New York: Kensington Publishing, p. 218. 5 OSBORNE, Richard (1989) Conversations with von Karajan. New York: Harper & Row, p. 66.

  • 16

    Existem sem dvida vrias formas de abordar uma partitura e cabe a

    cada um dos maestros procurar os melhores procedimentos. O que em

    seguida ser apresentado partilha algumas ideias gerais com o sistema de

    Frank L. Battisti e de Robert Garofalo6. Pretende ser um guia para todos os

    interessados nestas matrias, e sobretudo para todos aqueles que

    procuram formas mais eficazes de criar uma imagem sonora a partir de

    uma amlgama de sinais.

    1.1 ESTUDODAPARTITURA

    Uma boa interpretao parte sempre de um estudo aprofundado da

    partitura. S depois de um conhecimento detalhado da obra possvel

    ultrapassar as questes que uma partitura nos coloca e assim tomar as

    decises necessrias abordagem dessa obra nos ensaios. Por outras

    palavras, com o aprofundamento do estudo, a interpretao deve caminhar

    da cabea para o corao, de um processo cognitivo para um processo

    emotivo.

    A primeira abordagem que proponho genericamente prxima

    daquilo que descrevo no captulo seguinte: Trs Estgios de Ensaio. Esta

    metodologia consiste em trs etapas contnuas de trabalho. Repare-se na

    figura seguinte:

    Figura1Trsetapasprogressivasnoestudodapartitura 6 BATTISTI, Frank L. e GAROFALO, Robert (2000) Guide to Score Study for the Wind Band Conductor. USA: Meredith Music Publications.

  • 17

    1.1.1Aproximaopartitura

    Este processo parte do princpio de que a primeira abordagem da partitura

    deve recolher os elementos essenciais que permitam uma viso geral da pea.

    Esta primeira etapa subdivide-se por sua vez em duas fases de trabalho:

    1. Orientaes gerais

    Em primeiro lugar deve-se comear por apreender toda a

    informao impressa nas pginas introdutrias da partitura, dando

    assim principal relevo a todas as notas do compositor ou do editor.

    De seguida fundamental examinar a partitura no que diz respeito

    instrumentao, dando particular ateno aos instrumentos

    transpositores, a alguns instrumentos menos habituais, assim como

    a alguma indicao particular da disposio da orquestra.

    Posteriormente importante procurar na partitura todos os tempos

    indicados, mudanas de compasso e tonalidades, assim como

    identificar termos musicais e notaes no conhecidas.

    2. Leitura da partitura

    A primeira leitura deve consistir num trabalho no pormenorizado,

    permitindo obter uma imagem do todo da obra. Deve-se tentar

    captar o maior nmero de elementos, e fazer um esforo para ouvir

    a msica na nossa mente. Pode-se comear por uma leitura rtmica

    passando para uma leitura meldica. Para isso necessrio

    encontrar e determinar uma pulsao confortvel. Tambm

    importante, deixar a nossa intuio, expresso, sentimento e

    imaginao musical flurem, e no fazer o esforo de memorizao

    da msica e muito menos entrar na anlise de detalhes.

    Uma persistente leitura da partitura vai permitir-nos alcanar uma

    imagem sonora global da partitura na nossa cabea, e desenvolver a

    intuio musical para o potencial expressivo da msica.

  • 18

    1.1.2Anlisedapartitura

    Esta etapa tem como objectivos finais adquirir um conhecimento detalhado

    dos vrios componentes da composio e desenvolver uma memria uniforme da

    pea. Devero abordar-se agora, de forma pormenorizada, todos os detalhes da

    partitura. Ao contrrio da primeira etapa, nesta pra-se vrias vezes ao percorrer

    a partitura, pormenorizando o detalhe da msica, tendo em conta os elementos

    composicionais, estruturais, formais e interpretativos que vo criar um

    entendimento das relaes existentes na msica.

    De seguida apresento uma lista de elementos estruturais a ter em conta:

    o Melodia; o Harmonia; o Forma; o Ritmo (tempo, compasso, ritmo); o Instrumentao e textura; o Dinmicas; o Articulaes estilsticas e termos expressivos;

    Fazer uma anlise aprofundada de todos estes elementos essencial para

    uma construo intelectual do esqueleto da pea, a qual nos vai ajudar a perceber

    o verdadeiro plano arquitectural do compositor. Comeamos assim a perceber as

    escolhas do compositor e a pensar no porqu de ele as ter feito. Pensar porque

    que o compositor optou por uma soluo e no por outra oferece-nos um

    discernimento quanto s nossas opes a tomar. Esta etapa, a que podemos

    tambm apelidar de desconstruo, na medida em que preciso desmontar

    todos os elementos e perceber como que eles foram juntos, torna-se importante

    no s para o entendimento geral da pea como tambm para o ensaio com os

    msicos.

    Os instrumentos musicais podero ser uma poderosa ferramenta de

    trabalho a utilizar nesta etapa. O piano visto pela maioria dos maestros como o

    instrumento de eleio na anlise das peas, mas todos os outros instrumentos

    so admissveis. De ressalvar que dentro dos instrumentos a utilizar no devemos

  • 19

    utilizar aqueles que nos possam condicionar negativamente, seja pela falta de

    tcnica no mesmo ou pela falta de enquadramento na pea.

    A anlise da partitura leva-nos a uma outra etapa de trabalho, objectivo

    final do estudo a realizao de uma imagem cognitiva pessoal interpretativa da

    partitura.

    1.1.3Sntesedapartitura

    O objectivo final do estudo da partitura a obteno de uma interpretao

    individual que, embora respeite as directrizes do compositor, tenha impresso o

    nosso cunho pessoal. Para chegar nossa interpretao da msica necessrio

    aplicar todo o conhecimento aprofundado das etapas anteriores e resolver

    questes do ponto de vista dos elementos subjectivos da msica, como:

    o Tempos; o Fraseado (meldico, harmnico, rtmico); o Dinmicas (no plano vertical e horizontal); o Timbres e texturas; o Questes estilsticas;

    tambm essencial um aprofundamento da informao do compositor, da

    sua composio e do perodo estilstico em que esta se enquadra. O apuro

    tcnico de todos estes parmetros leva a um contnuo refinar da imagem sonora

    da obra que vai levar por fim a uma interpretao singular.

    1.2ANOTAESNAPARTITURA

    A marcao de uma partitura uma ferramenta que, sem dvida, pode em

    muito facilitar todo o trabalho de preparao, ensaio e, consequentemente,

    condicionar a performance. Os procedimentos de anotar uma partitura variam de

    maestro para maestro. Alguns apontam tudo, outros apenas algumas coisas que

  • 20

    consideram importantes. Outros h ainda que dizem que no marcam nada7. Por

    experincia prpria, este um mecanismo que, associado aos estgios de

    preparao da partitura, se torna um poderoso auxiliar para o nosso desempenho.

    Fornece-nos pistas no s a nvel psicomotor, bem como um mapa conciso

    localizando aspectos tais como mudanas de tempo, de compasso, forma, e

    informao relativa s dinmicas, fraseados, estruturas rtmicas, estruturas

    meldicas, cadncias, tonalidades, pontos de tenso e resoluo, entradas,

    mudana de claves, Solos, Solis, articulaes e termos descritivos, entre outros.

    No livro Guide to Score Study, os autores Battisti e Garofalo sugerem a

    construo de uma espcie de guia independente da partitura Master Flow

    Chart, onde so representados parmetros como tempo, forma, compasso,

    melodia, harmonia, instrumentao e textura, estilo e dinmicas como se pode

    ver no exemplo apresentado em anexo de um excerto do Irish Tune de Percy

    Granger (Anexo B). Sem dvida que a criao destas tabelas-guia ajuda a

    desmontar e analisar as peas, bem como a criar uma imagem cognitiva do seu

    todo. Desta maneira revela-se uma boa ferramenta a ser usada na segunda etapa

    do estudo da partitura. No entanto, numa fase posterior penso que acaba por criar

    um certo distanciamento da partitura e levar a um condicionamento da realidade

    baseando-se apenas nos elementos retirados da partitura e no na sua totalidade.

    Sou da opinio que devemos apontar e avivar a informao que achemos

    estritamente necessria e que, ao mesmo tempo, seja perceptvel. No devemos

    cair no exagero do excesso de apontamentos que, ao contrrio de direccionar e

    auxiliar, vai confundir e desorientar.

    Nas anotaes da partitura, h a reter trs aspectos:

    o Auxiliar; o Sobressair; o Intuir;

    Embora a forma e modo como as anotaes so utilizadas variem de

    maestro para maestro, existem algumas anotaes que so mais comuns. Um

    7 (OSBORNE, 1989) Karajan um dos poucos maestros que eu conheci que nunca marcou uma partitura.

  • 21

    bom exemplo so as abreviaturas utilizadas para identificar instrumentos e a

    utilizao de cones para a representao de compassos.

    As abreviaturas, algumas adaptadas da terminologia inglesa, tornam-se

    muitas vezes teis quando colocadas em entradas de determinado instrumento ou

    grupo de instrumentos. Observe-se a tabela seguinte:

    Piccolo PIC Trombone TBN

    Flauta FL Trombone Baixo BTBN

    Obo OB Bartono BAR

    Corne Ingls EH* Eufnio EUF

    Clarinete Eb CL Eb Tuba TUB

    Clarinete CL Contrabaixo CB

    Clarinete Alto ACL Piano PNO

    Clarinete Baixo BCL Tmpanos TIMP Clarinete C. Baixo CB CL Caixa SD*

    Fagote FAG Bombo BD*

    Contra Fagote CFAG Pratos CYM*

    Saxofone Alto ASAX Pratos Suspensos SC*

    Saxofone Tenor TSAX Glockenspiel GLOCK Saxofone Bartono BSAX Xilofone XIL

    Trompete TPT Marimba MAR

    Cornetim COR Vibrafone VIB

    Trompa HORN* Sinos Tubulares BLS *Abreviatura da terminologia inglesa.

    Tabela 1 Abreviaturas dos instrumentos mais comuns em orquestra de sopros

  • 22

    O movimento gestual utilizado pelo maestro na marcao de compasso

    sem dvida uma problemtica que tem vrias abordagens e que continua a ser

    muito estudada. Existem dois princpios que condicionam o modo como o msico

    executante vai reagir gstica utilizada pelo maestro. O primeiro princpio que

    os executantes vo atacar o som do modo como o maestro acutila a batuta no

    ictus (ver anexo C). O segundo, que a maneira como o maestro movimenta os

    braos no espao vai ser igual maneira como os executantes vo projectar o ar

    no instrumento ou movimentar o arco nas cordas. Nas obras onde existem vrios

    tipos de compassos, de subdivises e mudanas de ambiente e carcter, torna-se

    importante a utilizao de cones que permitam uma percepo visual mais rpida

    e fluida por parte do maestro.

    Existem quatro cones bsicos que representam quatro unidades de

    medida, repare-se:

    Figura2conesdecompassos

    Estes cones correspondem respectivamente a compassos com 1, 2, 3 e 4

    tempos. Para compassos que excedam os 4 tempos possvel a combinao

    destes sinais. O maestro Dale Lonis, actualmente director da escola de msica da

    Universidade de Manitoba, aprofundou este mtodo e introduziu novos cones,

    como se poder ver na tabela em anexo (D).

    As anotaes na partitura podem tornar-se um instrumento auxiliar

    precioso em todas as etapas de trabalho do maestro. No entanto s faro sentido,

    e s daro o seu contributo, se estiverem interligadas com as metodologias

  • 23

    descritas atrs no estudo da partitura.

    1.3PLANIFICAODOSENSAIOS

    O passo seguinte na preparao dos ensaios a criao de uma agenda

    com a programao de tempo til para ensaio de cada uma das peas a

    trabalhar. Claro est que esta planificao est dependente de muitos factores,

    como o tempo que temos para ensaiar, a frequncia dos ensaios, o tempo de

    cada ensaio, a capacidade tcnica dos msicos e a dificuldade tcnica das peas,

    entre outros.

    imperativo que, na fase de preparao dos ensaios, para alm de se

    fazer um estudo alargado das partituras, antecipemos os problemas tcnicos que

    poderemos vir a encontrar e organizemos uma agenda que programe o tempo de

    ensaio para cada uma das peas. Esta agenda vai evitar que o maestro perca o

    controlo do tempo de ensaio para cada pea e vai permitir um melhor

    aproveitamento do tempo til de ensaio. A indeciso, a falta de estudo das obras

    e a falta de organizao paga-se caro no tempo perdido em ensaio e

    consequentemente na performance do concerto.

  • 24

    CAPTULO 2 ORGANIZAO DO ENSAIO

    Este captulo, como problemtica central desta dissertao, trata da

    implementao das ideias concebidas na primeira etapa de trabalho o Estudo

    da Partitura. O nvel de realizao em concerto est directamente relacionado

    com a preparao do maestro. Fundamental para esta preparao o domnio da

    partitura, a flexibilidade e eficcia do plano de ensaios e a capacidade de

    comunicar. Nesta fase, a forma como imaginamos a pea vai confrontar-se com a

    realidade da orquestra a trabalhar. Como Richard Bach8 dizia:

    Nunca vos dado um desejo sem tambm vos ser

    dado o poder de o tornar realidade... contudo tem que se

    trabalhar para isso.

    Esta a etapa em que passamos da concepo para a realizao da ideia

    musical, ou seja a passagem do plano mental para o fsico transformar as

    ideias em som.

    O processo de ensaio deve ter objectivos claros. Em primeiro lugar deve

    permitir um contnuo aperfeioamento, que nos leve a recriar as intenes do

    compositor, e nos conduza a uma interpretao artstica prpria. O objectivo final

    dos ensaios chegar a uma performance que atinja e defenda a ideia do

    compositor.

    Para alcanar estes objectivos proponho um conjunto de tcnicas divididas

    em dois domnios de ensaio: Preparao Instrumental; Trs Estgios de Ensaio.

    No primeiro domnio, abordo a utilizao de tcnicas que tm em vista o

    aquecimento da orquestra com principal foco no equilbrio, mistura e afinao. No

    segundo, abordo um processo de ensaio que pretende responder de maneira

    mais eficiente s problemticas inerentes preparao para a performance.

    8 in BATTISTI, Frank L. (2007), On Becoming a Conductor Lessons and Meditations on the Art of Conducting. USA: Meredith Music Publications.

  • 25

    2.1 PREPARAOINSTRUMENTAL

    Deve o maestro fazer o aquecimento e afinao da orquestra, ou esta

    uma responsabilidade de cada um dos msicos?

    Esta uma questo que vem sendo feita e para a qual tenho recolhido,

    quer pela bibliografia quer pelos maestros com quem tenho partilhado ideias,

    vrias opinies diferentes. No entanto, comum que as opinies expressas

    indiquem, na sua maioria, que numa orquestra de formao, o aquecimento e

    afinao deva ser uma responsabilidade do maestro. Em orquestras profissionais

    um maestro pressupe partida que um msico tem a capacidade de aquecer e

    afinar convenientemente, dado que este tem os apetrechos tcnicos e um

    conhecimento aprofundado do seu instrumento.

    No entanto pergunto porque que os coros, mesmos os profissionais, na

    sua maioria fazem aquecimento vocal em conjunto?

    Partilho da opinio de especialistas conceituados nesta rea, como o

    caso do Maestro Antnio Vassalo Loureno, meu orientador, na medida em que

    defendo que o aquecimento importante no s por uma questo de preparao

    fsica para o acto de cantar ou tocar, mas tambm por uma questo de

    uniformizao e procura do som do grupo. atravs do aquecimento que se

    transforma o som nico de cada indivduo num som nico colectivo. O

    aquecimento assume-se tambm como uma prioridade em coros amadores como

    um espao de preparao vocal onde o maestro, atravs de exerccios

    especficos de tcnica vocal, ensina os prprios coralistas a cantar, pois, na

    maioria dos casos, estes no recebem essa formao individualmente.

    fundamental que os msicos continuem sem dvida a ter um espao

    para aquecimento e afinao individual. Contudo, essa preparao no substitui o

    trabalho de conjunto de uniformizao que uma orquestra deve ter. Claro que a

    implementao do aquecimento e afinao em grupo deve pressupor objectivos

    especficos. No entendo a realizao deste tipo de trabalho sem o devido

    enquadramento e sem metas delineadas partida. Pela minha experincia

    pessoal em bandas de vrios nveis, os maestros que implementam o

    aquecimento e afinao, fazem-no porque tm conscincia que a maior parte dos

  • 26

    msicos no faz este trabalho individual, o que leva a um aquecimento desligado

    e desarticulado.

    A preparao instrumental colectiva que proponho, deve ser feita no incio

    do ensaio dentro de um espao de tempo que pode variar entre 10 e 20 minutos.

    Processa-se, tal como a preparao individual, em duas etapas interligadas:

    aquecimento e afinao, e tem como objectivos principais:

    o Interligao dos vrios naipes da orquestra; o Preparao para o trabalho a realizar; o Afinao; o Equilbrio e fuso sonora; o Aperfeioamento dos fundamentos musicais (articulaes, dinmicas,

    progresses harmnicas, tonalidades, clulas rtmicas, entre outros);

    o Concentrao auditiva; o Timbre; o Conectar maestro e msicos; o Criao de um ambiente cooperativo entre todos os elementos da

    orquestra;

    o Antecipao de problemas tcnicos;

    Em suma, a maior parte destes aspectos leva criao de um som prprio

    da orquestra que nasce da idealizao do maestro e acaba por ser a assinatura

    do prprio.

    2.1.1Tcnicasdeaquecimento

    So vrios os materiais que podem ser utilizados no aquecimento de uma

    orquestra: corais, escalas, estudos e marchas, entre outros. A escolha que se faz

    prende-se sobretudo com os objectivos que se pretende atingir. Hoje existem

    vrios mtodos venda direccionados especificamente para o aquecimento de

    orquestras e bandas9. Normalmente propem objectivos claros e bem definidos e,

    9 Como referncia: Symphonic warm-ups for Band de Claude T. Smith da Just Music.

  • 27

    na sua maioria, fazem uso de corais, escalas, harpejos e estudos que utilizam

    diferentes fundamentos musicais. A maneira como estes materiais so expostos

    varia de mtodo para mtodo, mas os objectivos so quase sempre os mesmos:

    afinao, qualidade de som e aperfeioamento dos fundamentos musicais. Na

    minha perspectiva, e por experincia prpria, estes so materiais que, se no

    forem combinados com outro tipo de exerccios, criam rotinas que levam

    desmobilizao do grupo. Tm tambm uma srie de condicionantes. Se

    verdade que atingem os objectivos a que se propem, tambm verdade que

    acabam por excluir uma srie de aspectos que, na minha opinio, so essenciais

    neste processo, como j referi anteriormente, tais como a interligao entre os

    vrios naipes da orquestra, a concentrao auditiva e a ligao entre msicos e

    maestro. O processo de aquecimento colectivo deve criar um distanciamento da

    notao musical, dado que o simples facto dos executantes estarem

    concentrados e preocupados com a leitura musical, os desliga de factores que

    so o mago deste processo. Por isto, defendo que deva ser utilizado um

    processo que tenha por base a memorizao, libertando assim o nosso intelecto

    para a concentrao em todos os outros aspectos j mencionados.

    GrandeEscalaMatriz

    A tcnica que descrevo em seguida tem como base conceitos propostos

    por Edward S. Lisk no seu livro The Creative Director Alternative Rehearsal

    Techniques10. Lisk utiliza como base das suas tcnicas a construo de um mapa

    com o crculo de quartas perfeitas (quintas perfeitas invertidas). Repare-se na

    figura que se segue:

    10 LISK, Edward S. (1987) The Creative Director Alternative Rehearsal Techniques. USA: Meredith Music Publications.

  • 28

    Figura3GrandeEscalaMatriz

    No seu livro, Lisk apelida este esquema de crculo de quartas. No entanto,

    mais tarde no seu artigo The Rehearsal - Mastery of Music Fundamentals11,

    apelida este esquema de Grand Master Scale. Vou utilizar a nomenclatura de

    Grande Escala Matriz para me referir a este processo, porque penso que seja a

    traduo que melhor representa os contedos desta tcnica.

    Com esta progresso possvel, de uma forma que se torna intuitiva, fazer

    exerccios com escalas, progresses harmnicas, estruturas rtmicas, dinmicas,

    articulaes e, de uma maneira geral, com todos os fundamentos musicais. Ao

    mesmo tempo possvel focar e direccionar a ateno dos executantes para a

    conexo da orquestra e para problemas como a afinao, equilbrio e mistura.

    Lisk defende que a responsabilidade da qualidade do som deve ser do

    msico, dado que este que individualmente o cria. Embora o ajuste do som

    colectivo deva ser um processo partilhado por todos os membros da orquestra

    bem como pelo maestro, importante focar os ouvidos e eliminar situaes de

    passividade em que os executantes fiquem espera que o maestro lhes diga que

    ajuste devem fazer. Lisk apresenta no seu artigo The Rehearsal - Mastery of

    Music Fundamentals trs questes que cada msico deve colocar no processo de

    conexo com a orquestra, que em seguida transcrevo:

    1. Para determinar o equilbrio, a questo : Se te ouves a ti

    prprio acima de todos os outros no teu naipe ou banda, ests

    a tocar demasiado forte. Ajusta o volume tocando com menos

    11 in LISK, Edward S. (1998), The Rehearsal Mastery of Music Fundamentals Teaching Music Through Performance in Band. Chicago: Gia Publications, vol. II, pp. 12-28.

  • 29

    intensidade: perde a tua identidade tornando o teu som uma

    parte do naipe ou ensemble!

    2. Para determinar a mistura, a questo : Se ainda te ests a

    ouvir aps teres feito o ajuste do ponto 1, porque ests a

    tocar com m qualidade sonora. Ajusta a embocadura, a

    respirao ou a postura. Uma m qualidade de som no se ir

    misturar com o teu naipe ou banda; perde a tua identidade

    tornando o teu som uma parte do naipe ou ensemble.

    3. Para determinar a afinao, a questo : Se ainda te

    ouves a ti prprio e fizeste os ajustes no equilbrio e mistura,

    ests desafinado. Ajusta o comprimento do instrumento.

    2.1.2Afinao

    A afinao uma das componentes principais da qualidade sonora de

    qualquer ensemble. um aspecto essencial que por si s pode fazer a diferena

    entre uma boa e uma m performance. Porm, por vezes um aspecto que

    aparece subvalorizado no trabalho individual e colectivo dos msicos.

    Na minha opinio, independentemente do nvel do grupo musical, a

    afinao um dos aspectos mais importantes a trabalhar. Reforo esta convico

    dado que, pela minha experincia pessoal e por opinies partilhadas com outros

    maestros, um grupo constitudo s por msicos profissionais no significa

    partida que toque afinado. Muitas vezes a preocupao do instrumentista na

    afinao do seu instrumento compreende apenas uma nota (L ou Si bemol), no

    fundo aquela que afinada em tutti pelo ensemble. Existe pouco estudo individual

    focado e direccionado para a afinao. importante que os instrumentistas

    conheam as tcnicas envolvidas na afinao e compreendam as deficincias de

    afinao e tendncias de cada instrumento. Existem guias com este tipo de

    informao que apresentam cartas dos desvios e procedimentos para a afinao

    em cada um dos instrumentos, refiro como exemplos: A Guide to the

    Understanding and Correction of Intonation Problems de Alfred M. Fabrizio;

    Improving Intonation in Band and Orchestra Performance de Robert J. Garofalo.

    A afinao deve ser um princpio a estar presente nas preocupaes de um

  • 30

    maestro no desenvolvimento do seu trabalho. Se verdade que o maestro no

    intervm na produo de som e por isso directamente no responsvel pela

    qualidade da afinao do grupo, as metodologias por ele empregues vo

    condicion-la. Um dos factores essenciais para se conseguir uma boa afinao

    a audio, e por isso fundamental uma posio activa por parte do maestro em

    contrariar a passividade auditiva dos msicos. importante tambm que o

    maestro conhea os factores que podem condicionar negativamente a afinao e

    encontrar processos para os ultrapassar.

    Processodeafinaodaorquestradesopros

    O processo de afinao da orquestra que apresento em seguida assenta

    no princpio em que um som complexo formado por um fundamental e vrios

    parciais. Estes parciais quando mltiplos inteiros da frequncia do som

    fundamental chamam-se harmnicos. Tendo em conta este princpio acstico

    estabeleo que o sentido da afinao num ensemble dever ser dos baixos para

    os agudos, e que os intervalos mais propcios afinao sero o de unssono, 8

    perfeita e 5 perfeita. Esta ideia permite que os instrumentistas fundam a sua

    afinao ao som estabelecido pelos instrumentos de registo grave.

    Este processo compe-se de onze passos, que passo a apresentar:

    o 1 Afinar as tubas atravs do afinador (L a 440Hz) com o Si bemol1 efeito real. Pedir s tubas que sustentem o Si bemol1 de

    concerto, e afinar os trombones e eufnios. Estes dois instrumentos

    devem alternar entre o F2 e o Si bemol3 de concerto. Quando o

    ponto de convergncia for alcanado, o primeiro passo est

    concludo.

    o 2 Solicitar s tubas que sustentem o Si bemol1 de concerto. Afinar as trompas com as notas D3 e F3. Quando afinadas passar ao

    passo seguinte.

    o 3 nota pedal das tubas, adicionar os trompetes com as notas Sol3 e D4. Manter at alcanar os resultados desejados.

  • 31

    o 4 Sustentar a seco de metais em quintas perfeitas e moviment-la atravs de intervalos de meio-tom. Exemplo: Tubas

    em Si bemol1 de concerto; Trombones em divisi com as notas Si

    bemol1, F2 e Si bemol2; Eufnios com as notas Si bemol2 e F3,

    efeito real; Trompas com as notas F3 e D4; Trompetes com Sol3,

    D4 e Sol4. Depois de obtida uma boa afinao e coeso sonora,

    mover todo o bloco para cima ou para baixo por intervalos de meio-

    tom. (O registo agudo deve ser apenas utilizado em ensembles mais

    experientes.)

    o 5 Sustentar o Si bemol1 nas tubas. Afinar Fagotes, Clarinetes Baixo, Clarinete Contrabaixo e Saxofone Bartono com o Si bemol1

    de concerto. As madeiras de registo grave devem tambm alternar

    entre a utilizao das notas Si bemol e F de concerto. (Nota: A nota

    R no Saxofone Bartono efeito real F no uma nota equilibrada

    neste instrumento. Sugere-se que se alterne entre as Sol2 e Sol3,

    respectivamente Si bemol1 e Si bemol2 no efeito real.) Permitir ao

    grupo que alcance um ponto de convergncia, assegurando assim

    uma coeso forte entre as madeiras e os metais.

    o 6 Pedir s madeiras de registo grave que sustentem o Si bemol1 de concerto. Afinar os Saxofones Tenor alternando com as nota D3

    Sol3 e Sol2. Introduzir os Saxofones Alto alternando entre as duas

    oitavas Sol3 e Sol4. Quando afinados passar ao passo seguinte.

    o 7 Solicitar s madeiras de registo grave que sustentem o Si bemol1. Introduzir os clarinetes com as notas Sol3, D4 e Sol4.

    Assegurar uma boa afinao antes de prosseguir para a prxima

    etapa.

    o 8 As madeiras de registo grave continuam a sustentar o Si bemol1. Inserir os obos com as notas F3, Si bemol3 e F4. (Nota:

    Nenhuma destas notas particularmente til na afinao do obo.

    No entanto, permite que o instrumentista se ajuste e assim

    estabelea uma fuso do seu som com o som colectivo.)

  • 32

    o 9 As madeiras de registo grave sustentam o Si bemol1. Adicionar flautas com as notas F4 e Si bemol4.

    o 10 Repetir o processo implementado no 4 passo, mas agora com as madeiras. Exemplo: Fagotes em divisi, com as notas Si bemol1,

    Si bemol2 e F2; Clarinetes Baixo com as notas D2 e Sol2;

    Saxofone Bartono com a nota Sol2; Saxofones Tenor com D3 e

    Sol3; Saxofones Alto com as notas Sol2 e Sol3; Clarinetes com as

    notas Sol3, D4 e Sol4; Obos com Si bemol3 e Flautas com Si

    bemol4. Mover todo o bloco para cima e para baixo atravs de meios

    tons.

    o 11 Por fim, aplicar o processo anterior a toda a orquestra.

    Para que este processo de afinao funcione e se obtenha uma afinao

    consistente, necessrio que os instrumentistas no tenham uma atitude passiva

    esperando as correces do maestro. Importante tambm o nvel dinmico de

    execuo. Este deve ser confortvel, de modo a que possibilite uma melhor

    audio, e por ltimo a fuso e equilbrio sonoro.

    2.2TRSESTGIOSDEENSAIO

    O sucesso do ensaio depende em larga medida da

    preparao geral da Orquestra em tocar em ensemble e

    do discernimento do maestro na aplicao de tcnicas de

    ensaio sem perder de vista o seu objectivo final: uma

    performance que combine preciso com expressividade,

    som equilibrado com animao.

    Max Rudolf12

    No primeiro ensaio da orquestra com uma determinada obra, os

    pontos de partida dos instrumentistas e do maestro so naturalmente

    12 in RUDOLF, Max (1995) The Grammar of Conducting A Comprehensive Guide to Baton Technique and Interpretation. Boston: Thomson Schirmer.

  • 33

    substancialmente diferentes. O maestro dever ter j uma ideia formada

    sobre a interpretao da obra, e um plano de ensaio que permita a

    construo da sua ideia musical pelos msicos da orquestra. Este plano

    dever passar por trs estgios distintos e com objectivos bem definidos a

    alcanar.

    2.2.1IEstgioPrimeiraLeitura

    O primeiro estgio tem como objectivo primrio a criao de uma

    imagem musical global da partitura, que permita um desenvolvimento

    intuitivo para o potencial expressivo da msica. Nesta primeira leitura, o

    maestro deve ter como princpio orientador a comunicao breve do maior

    nmero de elementos rtmicos, meldicos e tcnicos que permitam uma

    visualizao geral da obra musical. Para isso, deve encontrar um tempo e

    uma tcnica de batuta que permitam uma leitura com o menor nmero de

    paragens possvel. Sempre que for necessrio parar, o maestro dever dar

    apenas indicaes necessrias que possibilitem uma leitura contnua.

    O tempo metronmico a ser utilizado, sempre que for possvel,

    dever ser o mais prximo daquele que se pretende para essa obra. No

    entanto, muitas vezes pela dificuldade tcnica da obra, prefervel a

    utilizao de um tempo metronmico mais lento que permita uma primeira

    leitura mais rpida da pea. Com esta leitura o grupo dever conseguir

    desenvolver uma pulsao interna que se mantenha, mesmo sem a

    marcao do maestro.

    Existem alguns maestros e autores que defendem a utilizao da

    audio de gravaes em ensaio. Se verdade que a utilizao destas no

    estudo de uma obra permite uma assimilao mais rpida dos elementos

    constituintes, bem como do todo da obra, tem a desvantagem de tornar

    muito mais difcil o distanciamento necessrio para a criao da nossa ideia

    musical e da nossa interpretao. Nesta perspectiva, defendo que no

    domnio do ensaio no devemos condicionar o colectivo a uma imagem

    musical estabelecida, mas sim devemos dar largas imaginao musical,

  • 34

    expressividade e intuio do grupo.

    Na planificao geral dos ensaios, este estgio dever ser o mais

    curto possvel, e logo que os objectivos principais desta fase tenham sido

    atingidos dever passar-se fase seguinte.

    2.2.2IIEstgioAprofundamentodosContedos

    Esta etapa poder tambm ser denominada de isolamento, no

    sentido em que se pretende isolar pequenos fragmentos e estabelecer

    ligaes, permitindo assim um conhecimento detalhado da composio. Se

    o primeiro estgio privilegiava uma macro abordagem da obra, o ponto de

    partida para este dever ser uma micro abordagem. Os aspectos que

    devem ter particular incidncia nesta etapa devero ser os problemas

    rtmicos, as dinmicas e as articulaes. No entanto, muitos outros

    parmetros podero ser considerados. Cabe a cada um dos maestros

    encontrar as principais prioridades mantendo uma exigncia objectiva e

    economia de tempo extrema. Segue-se uma tabela com os parmetros que

    podem ser tomados em conta nesta fase:

    RITMO

    o Tempo;o Balanortmico;

    o Pulsao;o Preciso;

    SOM

    o Timbre;o Cor;o Equilbrioemistura;

    o Misturasonoradeumasecooudoensemble;o Qualidadedosomaliadaespecificidadedoestiloexecutado;

    FRASEADO

    o Expressomusical;o Definiroincioefimdasfrases;o Formaemovimento;

    o Estilomusical;

    o Pontosdetensoerepouso;o Distribuiodeenergia;

  • 35

    DINMICAS

    o Selecodonveldinmicoapropriado;o Planearcrescendosediminuendos;o Contrastes;

    o Balano,equilbrioeafinao;o Ajustedonveldinmico;

    AFINAO

    o Manutenodaafinaogeral;

    o Afinaodeintervalosnotemperamentonatural;ARTICULAES

    o Clarezadeestilo; o Acentuaes,marcatos,tenutos,staccatos,etc.;

    EXECUO EM ENSEMBLE

    o Audioverticalehorizontal;o Ataqueseconcluses;o Forma;

    o Textura;o Preciso;o Desenvolvimentodaideiadeensemble;

    Tabela 2 Contedos Musicais

    Fixar o tempo e resolver problemas rtmicos deve ser uma das

    principais preocupaes do maestro neste estgio. Herbert von Karajan

    acreditava que a preciso rtmica e o controlo rtmico a longo prazo ,

    seno a mais importante, uma das principais responsabilidades do maestro.

    O processo a utilizar para obter a ligao entre os instrumentistas e o

    maestro deve ser baseado na audio. Os elementos da orquestra devem

    ser activos e no passivos, ou seja, devem perceber o que os rodeia e

    saber como fazer parte do todo. Para que o faam, o maestro pode utilizar

    vrios processos para a transmisso da sua imagem musical, tais como a

    tcnica de batuta (preferencialmente), e sempre que necessrio a utilizao

    de mensagens simples e curtas e ainda o recurso imitao. A imitao o

    processo que mais rapidamente gera melhores resultados. Esta pode ser

    feita atravs da execuo cantada pelo maestro ou ento tocada por um

    instrumento ou seco instrumental. Imaginemos por exemplo que uma

    seco de metais est a tocar em unssono e que a articulao pretendida

    no est a ser executada. O processo a seguir seria eleger um dos

    instrumentistas em que a execuo a desejada e pedir aos restantes

  • 36

    elementos que ouvissem e imitassem seguidamente em tutti. Este tipo de

    procedimento alm de estabelecer ligaes entre a orquestra e tornar os

    msicos activos neste processo, torna o ensaio da obra musical mais

    rpido.

    O outro processo que tambm pode ser utilizado o de enfatizar a

    visualizao do som desde o grave ao agudo, desde a tuba at ao piccolo.

    As primeiras partes devem ser capazes de ouvir a seco grave e

    intermdia da orquestra. A percepo da estrutura vertical da obra

    proporciona uma acuidade musical que leva a que elementos como a

    qualidade do som, equilbrio, mistura, afinao, volume, dinmicas e ritmo,

    sejam mais facilmente apreendidos.

    2.2.3IIIEstgioInterpretao

    No estgio final de preparao para a performance, deve ser feita

    uma macro abordagem da obra, na qual os vrios blocos da estrutura

    musical ensaiados no II estgio so interligados e formam uma imagem

    musical completa.

    Todo o trabalho feito at este momento tem como objectivo final a

    criao de uma ideia musical, de uma imagem musical. Esta ideia musical

    deve fazer intuir o ambiente, a atmosfera, o carcter, as situaes

    dramticas teatrais ou cmicas, as personagens etc. Esta pode advir da

    viso adquirida pelo maestro atravs do estudo da partitura, mas tambm

    pode ser dada pela prpria orquestra. Sir Georg Solti declarava que os

    maestros no deviam carimbar a sua personalidade em tudo, deviam ouvir

    se a orquestra tinha algo melhor para lhes dar do que aquilo que eles

    tinham pensado, e se sim, reconhec-lo e agradecidamente adopt-lo. A

    performance deve ser uma mistura das ideias musicais e sentimentos

    expressivos dos instrumentistas e do maestro. Para este processo fluir

    necessrio que o maestro utilize ideias claras e convincentes. Ernst

    Schelle, nos seus workshops de direco, vai ao encontro desta ideia e

    procura que os alunos utilizem ferramentas como o tom de voz, o canto, os

  • 37

    gestos, as expresses corporais e tambm referncias musicais, artsticas

    ou da vida quotidiana para demonstrar a sua imagem musical.

    2.3SINOPSE

    Os Trs Estgios de Ensaio que anteriormente apresentei so a temtica

    central deste documento. Tm como finalidade principal fornecer um guia com os

    objectivos e metodologias que permitam a construo de ensaios que produzam

    resultados mais eficientes e eficazes, e por ltimo, levem ao sucesso na

    performance final.

    O tempo de ensaio que se deve aplicar a cada um dos estgios propostos

    pode variar tendo em conta factores como a dificuldade das obras, o nvel de

    preparao da orquestra, o tempo de ensaio e outros. No entanto importante

    que o maestro simplifique a obra de ensaio para ensaio, e no a complique cada

    vez mais. O Maestro Ernst Schelle na sua entrevista, afirma que:

    ... Quando chegamos a coisas simples, estamos no

    caminho certo, se tornamos as coisas cada vez mais

    complicadas a msica ir desaparecer passo a passo... vi

    muitos maestros fazerem um primeiro ensaio muito bom

    (porque a orquestra tambm era muito boa), fantstico, e passo

    a passo destruram essa forma de tocar ao complicarem...

    fundamental que o maestro no deixe desaparecer a imagem global da

    obra, mas antes a reforce de ensaio para ensaio.

    O plano de ensaios deve privilegiar o tempo necessrio para que as obras

    sejam executadas com facilidade e conforto na performance. Da mesma maneira

    que a falta de ensaios prejudica o resultado final, o excesso tambm acabar por

    prejudicar.

    Seguidamente apresento um quadro sinptico dos objectivos, abordagens

    e processos a implementar em cada um dos estgios de ensaio:

  • 38

    ESTGIOS OBJECTIVOS ABORDAGEM PROCESSO

    Primeira Leitura

    o Adquirir uma viso

    generalizada da obra;

    o Tempo; o Pulsao geral;

    Macro

    o Leitura

    continua; o Directivas

    simples;

    Aperfeioamento de contedos

    o Preciso; o Afinao; o Equilbrio; o Balano; o Estilo; o Articulaes; o Dinmicas; o Correco de ritmos

    e notas; o Estabelecer

    ligaes; o Fraseado; o Focar os ouvidos

    dos msicos; o Tenso e repouso

    musical; o Textura; o Timbre;

    Micro

    o Repetio; o Imitao; o Percepo

    musical vertical;

    o Audio;

    Interpretao

    o Contextualizao

    dos fragmentos do estgio anterior no todo da obra;

    o Ideia musical; o Criao de

    atmosferas; o Criatividade; o Movimento e

    direco meldica rtmica;

    Macro

    o Tom de voz; o Canto; o Expresses

    corporais; o Gestos; o Referncias

    musicais, artsticas ou da vida quotidiana;

    Tabela 3 Sinopse dos trs estgios de ensaio

  • 39

    CAPTULO 3 ORQUESTRA DE SOPROS INTEMPORALIS

    Este documento tem como principal finalidade o apoio ao meu projecto de

    performance. Tendo esse fim em vista, desenvolvi nos captulos anteriores

    metodologias que foram empregues no trabalho que realizei com a orquestra na

    preparao para o concerto final. Estas metodologias tm como primeiro objectivo

    fornecer instrumentos de apoio tcnico que orientem o maestro na preparao,

    planeamento e organizao do ensaio. As tcnicas que descrevo, elaboradas

    atravs da pesquisa bibliogrfica, do contacto com o Maestro Ernst Schelle, e da

    minha experincia como msico e maestro, tm como objectivo responder

    questo inicial Qual a eficcia dos trs estgios de ensaio na preparao de

    uma performance?

    Para responder a esta e a outras questes inicialmente levantadas,

    precisava de um objecto de estudo onde pudesse aplicar todo este conhecimento

    e analisar os dados obtidos. No fundo, precisava de uma orquestra de sopros ou

    de uma banda de msica que se disponibilizasse a montar um repertrio e fazer

    um concerto sob a minha direco. Nesta procura tive em conta dois aspectos: a

    qualidade do grupo e o tempo disponvel de ensaio. Tendo isso em considerao,

    direccionei o meu contacto para grupos profissionais, dado que tinha como

    perspectiva realizar obras musicais de grande dificuldade. A minha primeira

    escolha e contacto recaiu sobre a Banda de Msica da Fora Area Portuguesa,

    da qual fao parte como msico executante, clarinetista. Os contactos que fiz com

    o Superintendente da Banda mostraram grande abertura para esta iniciativa, no

    entanto acabaram por gorar-se devido a motivos de servio.

    Numa segunda fase delineei um projecto para a concretizao do I Estgio

    de Orquestra de Sopros no Litoral Alentejano. Este projecto tinha como principal

    motivao o facto de eu ser maestro da Banda de Msica da SMFOG, nica no

    Concelho de Grndola mas com uma histria que ultrapassa as fronteiras da

    prpria regio. De lembrar que esta uma instituio cujo legado da luta anti-

    fascista prevalece at hoje, tendo sido um dos seus pontos mais altos a oferta por

    Zeca Afonso da msica Grndola Vila Morena, aps a sua passagem por esta

  • 40

    sociedade. Por tudo isto e com o intuito de promover o desenvolvimento artstico

    e dinamizar esta regio que muitas vezes tem sido esquecida, elaborei este

    projecto. O projecto foi apresentado e apreciado pelo Presidente da Cmara

    Municipal de Grndola, Carlos Beato, e pela Vereadora da Cultura, Graa Nunes,

    tendo obtido aprovao atravs de um patrocnio para esta iniciativa. No entanto,

    a realizao da feira de Agosto e outras actividades culturais do concelho levaram

    a que fosse adiado para o prximo ano (2010). Como esta nova data ficava fora

    dos prazos de concretizao do meu mestrado, optei por delinear outro projecto.

    Da necessidade de arranjar um grupo com vista preparao do concerto, e

    com o qual pudesse aplicar todo o conhecimento e tcnicas expostas neste

    trabalho, nasceu a Orquestra de Sopros Intemporalis.

    Seguidamente vou fazer a apresentao da orquestra e a descrio de

    toda a actividade desenvolvida na prossecuo deste projecto. Culmino com a

    apresentao de dados por mim identificados na qualidade de observador

    participante, assim como os retirados de um inqurito feito aos msicos.

    3.1CONSTITUIODAORQUESTRADESOPROSINTEMPORALIS

    A Orquestra de Sopros Intemporalis foi formada por 59 elementos que,

    quase na totalidade, so msicos profissionais desempenhando funes nas

    principais bandas militares do nosso Pas. A grande maioria pertence Banda de

    Msica da Fora Area Portuguesa, e os restantes so elementos da Banda de

    Msica da Armada, Banda de Msica da Guarda Nacional Republicana e Banda

    de Msica da Polcia de Segurana Pblica. Um grupo reduzido de elementos,

    so ainda estudantes apesar de alguns j exercerem actividade profissional.

    Na formao desta orquestra tive principal ateno ao grau de dificuldade e

    s necessidades instrumentais do repertrio que tinha como objectivo apresentar.

    Exponho em seguida uma tabela com os msicos e respectivos instrumentos que

    fizeram parte deste projecto.

  • 41

    Instrumento Nome Instrumento NomeFlautim Marco Silva Sax. Tenor Hlder Madureira Flauta Armindo Marques Sax. Bartono Lus Martins Flauta Raul Peralta Trompa Pedro Pereira Flauta Rossana Silva Trompa Rui Claro Flauta Nlia Viana Trompa Fausto Mirrado Obo Slvia Correia Trompa Filipe Cordeiro Obo Hlder Silva 1 Trompete Ruben Supelos Fagote Mrio Rico 1 Trompete Nuno Moreira Fagote Joo Magalhes 2 Trompete Jorge Barroso C. Fagote Cidlia Torres 2 Trompete Fernando Ferreira Clarinete Eb Ctia Rocha 3 Trompete Lino Lisboa 1 Clarinete Bb Nuno Maldonado 3 Trompete Andr Gomes 1 Clarinete Bb Rui Cocharra 1 Trombone Henrique Ruivo 1 Clarinete Bb Pedro Conceio 2 Trombone Jos Conde 1 Clarinete Bb Bruno Melo 3 Trombone Rodrigo Lage 2 Clarinete Bb Tiago Ferreira Bombardino Gonalo Marques 2 Clarinete Bb Catarina Batista Bombardino Joo Garcia 2 Clarinete Bb Lina Silva Tuba Pedro Florindo 2 Clarinete Bb Paulo Ferreira Tuba Carlos Santos 3 Clarinete Bb Edgar Cantante Tuba Jos Batista 3 Clarinete Bb Amrico Russo C.B. Cordas Nelson Fernandes 3 Clarinete Bb Nuno Pereira Percusso Paulo Carvalho 3 Clarinete Bb Bruno Madureira Percusso Paulo Assuno Clarinete Alto Lus Silva Percusso Srgio Costa Clarinete Baixo Ana Pratas Percusso Sandro Andrade 1 Sax. Alto Andr Cabica Percusso Tnia Mendes 1 Sax. Alto Ricardo Branco Percusso Gil Faria 2 Sax. Alto Srgio Cura Piano Carlos Garcia 2 Sax. Alto Filipe Mendes Harpa Rebeca Csalog Sax. Tenor Artur Mendes

    Tabela 4 Constituio da Orquestra

  • 42

    3.2PLANOTEMPORALDETRABALHO

    3.2.1Repertrio

    O primeiro passo deste projecto foi a escolha do repertrio, no qual

    privilegiei a apreciao dos seguintes aspectos: o nvel de dificuldade, que se

    exigia elevado; a sua contemporaneidade; e a utilizao de uma paleta

    instrumental que potenciasse o timbre identitrio de uma orquestra de sopros. Em

    considerao tive tambm o repertrio que trabalhei e desenvolvi nestes dois

    anos de mestrado, como o caso do Gagarin que trabalhei no estgio do final do

    1 ano de mestrado sob a orientao do Maestro Ernst Schelle, e o Big Bang de

    minha autoria, desenvolvido na cadeira de Contedos e Tpicos de Leitura

    Especfica, leccionada pelo professor Lus Cardoso. A escolha recaiu nas

    seguintes obras:

    o Short Ride in a Fast Machine de John Adams. Arranjo de Richard L. Saucedo;

    John Adams nasceu em Worcester, Massachusetts, em 1947. Na obra deste compositor americano, apesar de baseada no minimalismo, possivel encontrar influncias na msica popular Americana, no Jazz, em Mozart, em Schoenbeg, no Funk, no Rock e no Ragtime. Entre as suas obras mais emblemticas destacam-se, o Short Ride in a Fast Machine, a pera Nixon na China (1985-87) que se estreou em 1987 na Grand Opra em Houston, e recebeu o Prmio Pulitzer , a pea coral On the Transmigration of Souls (2002) composta em homenagem s vtimas dos ataques de 11 de Setembro de 2001, e que tambm venceu o Prmio Pulitzer de Msica em 2003 , e ainda Chamber Symphony (1992), Century Rolls (1996), Slominskys Earbox (1996), El Dorado (1998), Nave and Sentimental Music (19971998), My Father Knew Charles Ives (2003), e The Dharma at Big Sur (2003). Para alm dos trs Prmios Pulitzer na categoria msica, Adams foi ainda galardoado com o Prmio da Royal Philharmonic. Foi considerado o Compositor do Ano em 1997 pela Musical Amrica e recebeu um doutoramento honoris causa pela Universidade de

  • 43

    Cambridge.

    Short Ride in a Fast Machine, foi encomendada para o concerto de

    abertura do Festival de Great Woods, Massachusetts, a 13 de Junho

    de 1986 e foi executada pela Pittsburgh Symphony Orchestra, dirigida

    pelo Maestro Michael Tilson Thomas. uma obra minimal que consiste

    numa sucesso de fragmentos rtmico-harmnicos em oposio ao

    batimento dos wood blocks. Originalmente composta para orquestra

    sinfnica, Richard Saucedo fez este arranjo para concert band editado

    pela Boosey & Hawkes.

    o Gagarin (Three symphonic scenes) - de Nigel Clarke; De origem britnica, Nigel Clarke iniciou a sua carreira como msico

    militar britnico e s mais tarde desenvolveu o gosto pela composio,

    acabando por estudar na Royal Academy of Music com Paul Patterson.

    Gagarin foi escrita para o Dr. Matthew George e para a Wind

    Symphonic Ensemble da Universidade de St Thomas, Minnesota, EUA.

    Est escrita em trs andamentos: 1 - Estrada Para as Estrelas; 2 -

    rbita; 3 - Regresso a Casa. Yuri Alexeyevich Gagarin, que cresceu no

    campo, foi o rapaz sovitico que se tornou o primeiro homem no

    espao. Em Gagarin, o autor Nigel Clarke tentou capturar o esprito da

    corrida ao espao. Estrada Para as Estrelas descreve o importante

    lanamento da primeira nave espacial pilotada, capturando a excitao

    de todos os envolvidos e a fora do carcter de Gagarin. rbita olha

    para o jbilo que Gagarin deve ter experienciado e para o impacto que

    ver a Terra do espao deve ter tido nele. Regresso a Casa a

    celebrao na forma de uma dana folk Russa.

    o Big Bang - de Rui Silva; Esta composio da minha autoria foi desenvolvida neste mestrado no

    mbito da disciplina de Contedos e Tpicos de Literatura Especfica,

    com o professor Lus Cardoso. Foi estreada pela Banda de Msica da

    Fora Area sob a direco do maestro lio Murcho, no Auditrio

    Municipal do Barreiro, Augusto Cabrita.

  • 44

    uma obra descritiva composta por cinco quadros principais, dispostos

    numa estrutura cclica em forma de espelho. O primeiro movimento

    surge do rudo de fundo e leva-nos ao caos construtivo dos primrdios

    do Universo, onde a instabilidade de vrios elementos, que se

    densificam, provoca uma acumulao de energia. Surge o segundo

    quadro, que nos apresenta a origem da vida e a sua evoluo. Nele

    podemos sentir o frenesim da interaco dos vrios organismos e

    apercebermo-nos do seu papel na complexa teia universal. O terceiro

    quadro aparece-nos como o momento central da pea, onde o espao

    temporal se encontra em suspenso e no qual o criador em xtase

    observa a sua criao. No quarto quadro acabamos novamente por nos

    envolver numa agitao desenfreada que nos leva ao ltimo

    andamento, cuja instabilidade provoca uma desagregao da matria, a

    qual produz uma acumulao de energia e a liberta numa grande

    exploso csmica. E, como num ciclo de vida e morte, tudo desaparece

    nas sombras do espao profundo.

    o Scootin' on Hardrock - de David R. Holsinger; David Holsinger nasceu a 26 de Dezembro de 1945 em Hardin,

    Missouri. Ganhou alguns prmios importantes sendo de destacar os

    dois prmios da ABA Ostwald. Foi-lhe atribudo o doutoramento honoris

    causa do Gustavus Adolphus College pelos trabalhos que fez durante

    toda a sua vida em composio. Neste momento director da Wind

    Ensemble da Universidade de Lee.

    Scootin' on Hardrock foi encomendada pela Grand Island High School

    Symphonic Band e pela Band/Orchestra Boosters Club. Hardrock o

    nome da antiga estrada principal da cidade de Shady Grove, Texas.

    Esta cidade prosperou nos seus primeiros 20 anos de existncia, mas,

    com o passar do tempo, foi-se degradando e foi ficando abandonada.

    Holsinger mostra-nos, numa passagem rpida, o que actualmente se

    encontra quando se caminha por essa rua, como por exemplo casas e

    estbulos abandonados, o cemitrio e uma igreja que foi incendiada.

  • 45

    o Lux Aurumque - de Eric Whitacre; Eric Whitacre, destacado compositor, maestro e conferencista,

    considerado um dos melhores na msica contempornea. Recebeu

    vrios prmios de composio, sendo de destacar o da ASCAP, o da

    Competio de Composio Internacional de Barlow, o da Associao

    Americana de Directores de Coros e o do Frum de Compositores

    Americanos. Em 2001, foi-lhe atribudo o cobiado prmio Raymond C.

    Brock pela Associao Americana de Directores de Coros.

    Nascido em 1970, Whitacre conseguiu muito cedo obter grande

    reconhecimento pblico com a obra Ghost Train, escrita aos 23 anos de

    idade, e com a obra coral Water Night, que tornou-se numa das peas

    corais mais populares da ltima dcada. Aclamado, tanto pela crtica

    como pelo pblico, o seu lbum The music of Eric Whitacre, de 1997,

    esteve no top dos dez melhores CDs de Msica Clssica desse ano.

    Lux Aurumque foi encomendada pela Associao de Educadores de

    Msica do Texas para a sua All-State Band de 2005. uma adaptao

    luxuriante e tocante de uma das obras corais mais populares de Eric

    Whitacre. composta por tradas simples que se decompem em

    harmoniosos acordes que, alternando de um para o outro, nos

    envolvem num mar de cores e luz. Orquestrada de forma elegante pelo

    seu compositor, Lux Aurumque uma experincia profundamente

    tocante, quer para os msicos quer para a audincia.

    3.2.2Angariaodeapoiosepatrocnios

    Para a viabilidade deste projecto, alm da colaborao dos msicos era

    fundamental conseguir o apoio de uma instituio que disponibilizasse instalaes

    para os ensaios e um auditrio para o concerto final. Uma outra necessidade era

    arranjar todo o material de percusso e o apoio logstico para a organizao deste

    evento.

    Em primeiro lugar comecei por procurar o espao. Foram vrios os

    contactos que fiz nesse sentido tendo obtido algumas respostas positivas como

  • 46

    foi o caso da Sociedade Filarmnica Recreio Alverquense, da Banda de Msica

    da Associao Humanitria dos Bombeiros Voluntrios de Loures e da Sociedade

    Recreativa de Pro Pinheiro. No entanto, a proximidade, as deslocaes dos

    msicos e as condies da sala de espectculos levaram-me a optar pelo Ateneu

    Artstico Vilafranquense para a realizao deste projecto.

    Outros apoios importantes foram feitos pela firma Mapa de Sons e pela

    RussoMsica, que gentilmente cederam os instrumentos de percusso, dando

    esta ltima tambm um importante apoio logstico no transporte de material.

    3.2.3Divulgaodoeventoepreparaodosprogramas

    Este evento foi divulgado nas duas semanas que antecederam o

    concerto atravs da colocao de cartazes, e atravs do envio de convites

    para algumas associaes musicais da regio e outros a nvel individual.

    Foi tambm importante a divulgao prestada por alguns sites na internet

    dos quais destaco a especial colaborao do site

    www.bandasfilarmonicas.com. No anexo E, apresento o cartaz do concerto e no anexo F os

    programas distribudos no dia de concerto.

    3.2.4Ensaios

    Foram alguns os factores que condicionaram a planificao do trabalho

    para a realizao deste evento. A natureza da orquestra, com elementos no

    renumerados, e onde o transporte para os ensaios e concerto foi na maior parte

    dos casos assegurado pelos mesmos. A disponibilidade da sala, e as despesas a

    ela associadas, obrigaram-me a fazer um plano de ensaios que fosse o mais curto

    possvel, propiciasse a maior conteno de custos e que evitasse a

    desmobilizao dos elementos da orquestra.

  • 47

    A criao da Orquestra de Sopros Intemporalis, alm de ter como objectivo

    a minha performance final, tinha tambm como pressuposto servir de objecto de

    estudo na implementao das metodologias propostas neste documento. De

    facto, todas as condicionantes envolvidas neste projecto acabaram por se tornar

    num excelente objecto de estudo. O pouco tempo disponvel de ensaio versus

    dificuldade das obras a ensaiar, ofereceu uma oportunidade de perceber, atravs

    do produto final e da anlise dos resultados do estudo, o grau de eficincia do

    mtodo utilizado em ensaio.

    Tendo em conta estas condicionantes, desenvolvi um plano de trabalho

    que compreendia cinco dias de ensaio e uma performance. Cada um dos ensaios

    tinha a durao de 180 minutos, com um intervalo de 20. Dito isto, o tempo til de

    ensaio compreendia 800 minutos na totalidade. Tendo em conta estes parmetros

    e o conhecimento adquirido na primeira etapa de trabalho individual estudo das

    partituras desenvolvi o plano de ensaios que apresento na tabela que se segue:

    DIAS HORRIO ESTGIOSDE

    ENSAIOABORDAGEM

    TEMPO

    ALINHAMENTO20 PreparaoInstrumental2040 ShortRideinaFastMachineGagarin20 Intervalo7

    21h24h PrimeiraLeitura

    Macro

    203010 BigBangScootinonHardrockLuxAurumque20 PreparaoInstrumental3030 ShortRideinaFastMachineGagarin(1and.)20 Intervalo

    ENSA

    IOS

    8

    21h24h Aprofund

    amento

    doscontedo

    sMicro

    3030 Gagarin(2e3and.)ScootinonHardrock

  • 48

    20 PreparaoInstrumental3030 ShortRideinaFastMachineGagarin(1and.)20 Intervalo917h20h 3030 Gagarin(2e3and.)ScootinonHardrock20 PreparaoInstrumental60 Gagarin20 Intervalo1021h24h

    3030 ShortRideinaFastMachineBigBang20 PreparaoInstrumental20401020

    ShortRideinaFastMachineGagarinBigBangScootinonHardrock20 Intervalo

    11

    21h24h

    Interpretao

    Macro

    61810106ShortRideinaFastMachineGagarinBigBangScootinonHardrockLuxAurumque

    CONCERTOFINALAteneuArtsticoVilafranquenseDia13pelas21.30h

    Tabela 5 Plano de ensaios

    1 Ensaio Primeira Leitura

    No primeiro contacto que tive com todos os elementos da orquestra

    estabeleci metas e objectivos a atingir durante a semana de trabalho. Apresentei

    o plano de trabalho e expliquei os processos metodolgicos que me iriam orientar

    na conduo dos ensaios.

  • 49

    Em relao preparao instrumental descrevi e utilizei o processo de

    aquecimento utilizando a Grande Escala Matriz. Com este aquecimento privilegiei

    a afinao, equilbrio e mistura do som. Em relao afinao da orquestra

    utilizei o procedimento descrito no segundo captulo.

    Tendo em conta as directrizes delineadas e apresentadas na tabela

    anterior, era prioridade deste primeiro ensaio fazer uma primeira leitura de todo o

    repertrio de concerto. As obras mais problemticas, que ofereceram mais

    resistncia tcnica por parte da orquestra, foram sem dvida, e tal como estava

    espera, Short Ride in a Fast Machine e Gagarin. A primeira pela elevada

    dificuldade rtmica, e a segunda pela complexa cadeia de fragmentos musicais.

    O objectivo deste primeiro ensaio era adquirir uma viso generalizada das

    obras bem como conseguir fazer sobressair na orquestra a pulsao interna das

    mesmas. Na minha opinio este objectivo foi conseguido em todas as obras

    excepto no Gagarin e no Short Ride in a Fast Machine. De facto, nestas duas

    peas no houve tempo para se alcanar o objectivo na sua totalidade.

    2, 3 e 4 Ensaios Aprofundamentos dos Contedos

    Nestes ensaios utilizei o mesmo procedimento na preparao instrumental.

    De realar que no aquecimento alternei a utilizao da escala matriz com a

    introduo do coral Lux Aurumque.

    As obras a que conferi mais tempo de ensaio neste estgio (Short Ride in a

    Fast Machine e Gagarin) foram aquelas que no meu estudo individual identifiquei

    como sendo as que ofereceriam mais problemas tcnicos orquestra. No

    entanto, fui obrigado tambm a mudar a planificao inicial em relao

    abordagem a concretizar no segundo ensaio. A importncia de adquirir uma

    pulsao interna levou-me a alargar o primeiro estgio para parte do segundo

    ensaio. Prossegui com o ensaio das peas privilegiando o trabalho dos detalhes e

    coeso orquestral. Para fazer os vrios ajustes necessrios utilizei a audio dos

    msicos, atravs de processos de imitao, e utilizei tambm processos de

    construo vertical na interligao dos vrios elementos das obras.

  • 50

    Embora seja este um estgio onde se deve dar nfase micro abordagem,

    tive especial ateno em no deixar desaparecer a imagem global das obras.

    Os objectivos que defini para esta etapa no foram atingidos na sua

    totalidade, sobretudo nas duas obras mais complexas j referidas. Os elementos

    musicais que, na minha perspectiva, foram os pontos fortes deste estgio de

    ensaio foram a conexo da orquestra, o equilbrio e mistura, a textura e o timbre.

    Como pontos fracos observei que a orquestra precisava de mais tempo para

    superar dificuldades tcnicas ao nvel das articulaes e da preciso rtmica. No

    entanto, o tempo disponvel de ensaio obrigou-me a partir para o ltimo estgio de

    ensaio das obras, a Interpretao, com a noo que os objectivos do segundo

    estgio no tinham sido atingidos na sua totalidade.

    5 ensaio Interpretao

    Por motivos imprevistos, a disponibilidade da sala do Ateneu Artstico

    forou-me a mudar o planeamento do ltimo ensaio. Dos 160 minutos de tempo

    til de ensaio, passei a ter apenas 90. Esta reduo de tempo obrigou-me a fazer

    uma abordagem mais sinttica no capitulo da interpretao. No entanto, a criao

    de uma imagem do todo das obras no primeiro estgio de ensaio foi um

    verdadeiro motor que acelerou todo o processo de preparao das obras e foi

    interligando os fragmentos e detalhes ensaiados no segundo estgio de ensaio.

    Este facto no s permitiu um rpido crescimento das obras, como possibilitou

    que, mais facilmente, conseguisse implementar a ideia musical criada no

    estirador, no meu estudo individual, a qual no deixou de, por vezes, ser

    influenciada pelas ideias vindas da orquestra, como parte de um processo de

    construo da obra musical tal como defendi no segundo captulo.

  • 51

    A tabela abaixo indica no tempo, o plano de trabalho que desenvolvi:

    Figura4Planotemporaldetrabalho

    3.3INQURITOAOSMSICOS

    O inqurito por questionrio escrito uma preciosa ferramenta para a

    investigao, sobretudo no domnio das cincias sociais e humanas. Foi um dos

    instrumentos cientficos a que recorri para recolha e anlise de dados, com o

    objectivo de conhecer as opinies dos msicos relativamente s tcnicas

    utilizadas em ensaio, minha performance e ao concerto.

    Este inqurito foi enviado por correio electrnico a todos os msicos

    que participaram na Orquestra de Sopros Intemporalis, constituindo um universo

    de 59 elementos, e foram acompanhados de uma carta de apresentao a

    explicitar o mbito, a finalidade e a importncia deste instrumento de anlise.

    A sua aplicao decorreu durante o perodo de 20 de Setembro de

    2009 a 20 de Outubro de 2009. Dos 59 inquritos enviados recebi 36, constituindo

    Divulgao do Evento/Preparao dos programas

    Junho Julho Agosto Setembro

    Aquisio de Repertrio

    Formao da Orquestra de Sopros

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

    Angariao de apoios e instalaes

    Distribuio das partes

    Estudo das Partituras

    Ensaios

    Concerto

  • 52

    61% do total dos elementos da orquestra.

    O relatrio que seguidamente apresento est estruturado em cinco grupos,

    de acordo com a ordem utilizada no inqurito (ver Anexo G):

    o Caracterizao dos elementos da Orquestra Intemporalis; o Preparao Instrumental Aquecimento e Afinao; o Trs Estgios de Ensaio; o Avaliao do Concerto Final; o Crtica ao concerto, ao papel do maestro, e ao trabalho

    desenvolvido;

    3.3.1CaracterizaodoselementosdaOrquestraIntemporalis

    As primeiras questes do inqurito centram-se na caracterizao dos

    indivduos observados. Para tal foi solicitado ao inquiridos que fornecessem

    dados relativos sua idade, sexo, actividade profissional e habilitaes musicais.

    Quanto s primeiras duas questes segue-se um grfico que representa estes

    dois critrios. Observe-se:

    Figura5Grficoderelaoidade/sexo

    Como se pode reparar, a amostra constituda na sua maioria por

    indivduos do sexo masculino, sendo estes 83% dos sujeitos em estudo. A faixa

  • 53

    etria dos observados varia entre os 17 e os 49 anos, sendo a mdia de idades

    os 31 anos.

    Os dados obtidos no mbito da actividade profissional e habilitaes

    musicais so expostos nos dois grficos que se seguem:

    Actividade profissional

    Habilitaes musicais

    Figura6Grficosrelativosactividadeprofissionaleshabilitaesmusicais

    A respeito da actividade profissional, possvel observar pelo grfico

    exposto na figura anterior que, a grande maioria, 91% dos inquiridos, elemento

    de uma Banda de Msica Militar. O segundo grfico representa em percentagem

    as habilitaes dos sujeitos. Neste ltimo observvel o facto de que a maioria

    dos sujeitos do estudo possui o 8 grau do conservatrio ou o equivalente na

    escola profissional, havendo uma parcela significativa, 25% da amostra, que

    possui o 7 grau do conservatrio. Assinalvel tambm o facto de que a maior

    parte dos sujeitos opta pela formao num conservatrio de msica em vez de

    uma escola profissional. Por ultimo, possvel constatar que embora a maioria

    dos inquiridos seja msico profissional, um grande nmero de indivduos no

    concluiu qualquer curso de msica.

    3.3.2Preparaoinstrumental

    Aquecimento

    Relativamente preparao instrumental, o primeiro aspecto tratado foi o

    aquecimento. Foi pedido aos inquiridos que assinalassem no quadro com qual

    das situaes concordava. No caso de no concordarem com nenhuma das

    opes, solicitava-se que indicassem o mtodo que devia ser utilizado.

  • 54

    a)

    O aquecimento deve ser feito apenas individualmente, sendo da responsabilidade do instrumentista;

    b) O aquecimento deve ser feito numa primeira fase individualmente (antes do ensaio), e numa fase seguinte em colectivo (no ensaio);

    c) O aquecimento deve ser feito apenas em colectivo no ensaio, sendo da responsabilidade do maestro;

    d) O aquecimento no necessrio;

    e) No concordo com nenhuma das hipteses apresentadas;

    Tabela 6 Modelo de aquecimento

    De seguida apresento uma tabela com as opes em estudo e o respectivo

    resultado dos inquritos, e tambm um grfico percentual que permite uma

    melhor comparao de resultados.

    Opes Escolha

    dos inquiridos

    a) 1

    b) 35

    c) 0

    d) 0

    e) 0

    Figura7Modelodeaquecimento

    Como se pode verificar pelo grfico apresentado na figura anterior, apenas

    0% 50% 100%a)b)c)d)e)

    3% 97%0%0%0%

    Percentagemdeinquiridos

    Opes

  • 55

    3%, que corresponde a 1 inquirido, da opinio que o aquecimento deve ser feito

    individualmente. Todos os restantes pensam que o aquecimento deve ser feito em

    duas fases, antes do ensaio individualmente, e no ensaio em colectivo.

    Nesta problemtica pedia-se tambm aos inquiridos que escolhessem os

    materiais que deviam ser utilizados no aquecimento em conjunto. As opes

    dadas eram as seguintes:

    a) Exerccios com escalas (utilizando o mtodo da Grande Escala Matriz);

    b) Corais;

    c) Marchas;

    d) Combinao de vrios exerccios (escalas, corais, marchas);

    e) Outros; Tabela 7 Materiais utilizados no aquecimento

    Os inquiridos responderam da seguinte forma:

    Opes Escolha

    dos inquiridos

    a) 20

    b) 1

    c) 0

    d) 14

    e) 1

    Figura8Materiaisutilizadosnoaquecimento

    Esta questo gerou uma diviso de opinies. A maioria, 56% dos

    inquiridos, demonstrou preferncia pela utilizao da Grande Escala Matriz.

    0% 20% 40% 60%a)b)c)d)e)

    56%3%0% 39%3%

    Percentagemdeinquiridos

    Opes

  • 56

    Assinalvel tambm a escolha de 39% dos consultados da combinao de

    vrios exerccios. Um outro aspecto curioso que se pode observar, que nenhum

    dos