tese de nutrição

112
ALESSANDRA CEDRO DA SILVA SANTOS QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA DE DIETAS ENTERAIS E FÓRMULAS INFANTIS PRODUZIDAS EM AMBIENTE HOSPITALAR, SEGUNDO O MODELO DE DONABEDIAN BRASÍLIA – DF 2014

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Tese de nutrição, professora alessandra pronta

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  • ALESSANDRA CEDRO DA SILVA SANTOS

    QUALIDADE HIGINICO-SANITRIA DE DIETAS ENTERAIS E FRMULAS

    INFANTIS PRODUZIDAS EM AMBIENTE HOSPITALAR, SEGUNDO O

    MODELO DE DONABEDIAN

    BRASLIA DF

    2014

  • ALESSANDRA CEDRO DA SILVA SANTOS

    QUALIDADE HIGINICO-SANITRIA DE DIETAS ENTERAIS E FRMULAS

    INFANTIS PRODUZIDAS EM AMBIENTE HOSPITALAR, SEGUNDO O

    MODELO DE DONABEDIAN

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Nutrio Humana da Universidade de Braslia, como requisito para obteno do grau de Mestre em Nutrio Humana.

    Orientadora: Profa. Dra. Wilma Maria Coelho Arajo

    BRASLIA, 2014

  • iii

    Santos, da Silva Cedro Alessandra.

    Qualidade higinico-sanitria de dietas enterais e frmulas infantis produzidas

    em ambiente hospitalar, segundo o modelo de Donabedian. / Alessandra Cedro

    da Silva Santos.

    Orientao: Prof. Dr. Wilma Maria Coelho Arajo

    Braslia, 2014.

    112 p.

    Dissertao de mestrado. Faculdade de Cincias da Sade, Departamento de

    Nutrio, Programa de Ps-Graduao em Nutrio. Universidade de Braslia,

    Braslia DF.

  • iv

    Alessandra Cedro da Silva Santos

    Qualidade higinico-sanitria de dietas enterais e frmulas infantis

    produzidas em ambiente hospitalar, segundo o modelo de Donabedian.

    BANCA EXAMINADORA

    _____________________________________________________

    Professora Doutora Wilma Maria Coelho Arajo

    (Presidente)

    _____________________________________________________

    Professora Doutora Rita de Cssia Coelho de Almeida Akutsu

    (Examinadora)

    _____________________________________________________

    Professor Doutor Luiz Antnio Borgo

    (Examinador)

    _____________________________________________________

    Professora Doutora Maria Rita Carvalho Garbi Novaes

    (Suplente)

    BRASLIA DF 2014

  • v

    Agradecimentos

    Agradeo, primeiramente, a Deus que minha fortaleza e meu guia.

    Aos meus pais, Eduardo e Francisca, os grandes responsveis pela

    minha vida e por tudo o que conquistei at ento.

    Aos meus irmos amados, Adriano e Ana Cristina, por fazerem parte da

    minha vida.

    Ao meu esposo, Weriquison, meu verdadeiro amor, por caminhar ao

    meu lado, sempre me incentivando, me apoiando e enchendo meus dias de

    alegria.

    MSc. Adriana Haack, pelo apoio, incentivo na realizao deste

    trabalho e pela amizade, da qual espero desfrutar sempre.

    minha professora orientadora Wilma Maria Coelho Arajo por toda

    ateno, orientao, confiana e ensinamentos.

    Aos membros da banca examinadora: Dra. Rita Akutsu, Dr. Luiz Borgo e

    Dra. Maria Rita Garbi pelas correes e sugestes que melhoraram a

    qualidade deste trabalho.

    A meus familiares e amigos que estiveram me ajudando e me dando

    foras para que eu pudesse vivenciar mais essa etapa da minha vida.

    A todos que, direta ou indiretamente, contriburam para a realizao deste trabalho.

    Obstculos so aquelas coisas assustadoras que voc v quando desvia seus olhos de sua meta.

    (Henry Ford)

  • vi

    Resumo

    A contaminao microbiolgica das dietas enterais e frmulas infantis pode acarretar uma situao de risco de agravamento do quadro clnico dos pacientes, que j esto debilitados e susceptveis a patgenos. O objetivo geral da pesquisa foi avaliar aspectos da gesto da qualidade higinico-sanitria de dietas enterais e frmulas infantis em ambiente hospitalar, com enfoque na estrutura, no processo e no resultado. Foi feito um estudo observacional, descritivo, prospectivo, com variveis quantitativas e qualitativas. As amostras foram constitudas por produtos industrializados para Nutrio Enteral e Frmula Infantil preparadas nos Servios de Nutrio e Diettica da Secretaria de Estado de Sade do Distrito Federal. A pesquisa foi realizada durante 12 meses e foram coletadas 227 amostras de dietas enterais e 176 de frmulas infantis. As anlises microbiolgicas se basearam na Resoluo RDC n 63, de 06 de julho de 2000 e na Resoluo RDC n 12, de 02 de janeiro de 2001, ambas da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA). Na avaliao das condies operacionais foi aplicada a Ferramenta 2: Preparao da Nutrio Enteral. Os dados obtidos foram analisados a partir do modelo unificado de Donabedian para avaliao dos servios de sade. Os resultados obtidos com a Ferramenta 2 demonstraram que o Bloco Armazenamento atende aos requisitos legais. Por outro lado, o Bloco Vestirio um fator de risco para a contaminao. Nesta pesquisa, limitou-se o item Processo a aspectos objetivos dos itens de verificao dos Blocos Manipulador, Limpeza, Higienizao, Temperatura, Transporte, Tempo de Preparo, Controle de Qualidade e Garantia da Qualidade. Das 403 amostras, 56% corresponderam a amostras de Nutrio Enteral e 44% a amostras de Frmulas Infantis. Os dados obtidos indicam que das 227 amostras de Nutrio Enteral, 6,2% apresentavam-se em desacordo com a legislao, enquanto que das 176 amostras de Frmulas Infantis, 4,6% tambm estavam em desacordo com a legislao. A no aplicao efetiva dos pr-requisitos higinico-sanitrios durante o preparo resulta em um produto microbiologicamente inseguro para pacientes em estado de sade debilitado, e a contagem de micro-organismos mesfilos totais pode ser um bom indicador da segurana microbiolgica.

    Palavras Chave: Donabedian; Vigilncia Sanitria; Nutrio Enteral; Frmula Infantil; Qualidade Higinico-sanitria.

  • vii

    Abstract

    Microbial contamination of enteral feeding and infant formulas can result in a risk of worsening of the clinical condition of the patients, who are already weakened and susceptible to pathogens. The overall objective of the research was to evaluate aspects of the management of quality hygienic - sanitary of enteral feeding and infant formulas in hospitals, focusing on the structure, process and outcome. An observational, descriptive, prospective, with quantitative and qualitative variables study was done. The samples consisted of industrialized products for Enteral Nutrition and Infant Formula prepared in Nutrition and Dietetic Services of Health Secretary / Federal District. The survey was conducted for 12 months and 227 samples of enteral feeding and 176 of infant formula were collected. Microbiological analyzes were based on the Board Resolution No. 63, 06 July 2000 and on the Board Resolution No. 12, 02 January 2001, both from National Agency of Sanitary Surveillance (ANVISA). In evaluating the operating conditions, the Tool 2 was applied to: Enteral Nutrition Preparation. Data were analyzed from the unified Donabedian model for evaluation of health services. The results obtained with the Tool 2 demonstrated that the Storage Block complies with legal requirements. Moreover, Dressing Block is a risk factor for the contamination. In this research, the item Process was limited to objective aspects of verification items of Handler, Cleanliness, Hygiene, Temperature, Transport, Preparation Time, Quality Control and Quality Assurance Blocks. From the 403 samples, 56% corresponded to samples of Enteral Nutrition and 44% to samples of Infant Formulas. The data indicate that from 227 samples of Enteral Nutrition, 6.2% were in disagreement with the legislation, while from 176 samples of Infant Formulas, 4.6% were also in disagreement with the legislation. The ineffective implementation of the sanitary and hygienic requirements during the preparation results in a microbiologically unsafe product to patients in debilitated health state, and the count of mesophilic microorganisms can be a good indicator of microbiological safety.

    Key Words: Donabedian; Health Surveillance; Enteral Nutrition; Infant Formula; Quality Hygienic -sanitary.

  • SUMRIO

    LISTA DE QUADROS

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    1. INTRODUO

    10

    11

    12

    13

    2. REVISO DE LITERATURA 17

    2.1 NUTRIO ENTERAL E FRMULAS INFANTIS 17

    2.2 QUALIDADE HIGINICO-SANITRIA DE PREPARAES PARA

    NUTRIO ENTERAL E FRMULAS INFANTIS

    2.2.1 Contagem de micro-organismos Mesfilos Aerbios

    Estritos Facultativos

    20

    22

    2.2.2 COLIFORMES TOTAIS 22

    2.2.3 COLIFORMES TERMOTOLERANTES 23

    2.2.4 ESCHERICHIA COLI 23

    2.2.5 SALMONELLA SP. 23

    2.2.6 ESTAFILOCOCOS COAGULASE POSITIVA 24

    2.2.7 STAPHYLOCOCCUS AUREUS 24

    2.2.8 BACILLUS CEREUS 25

    2.2.9 LISTERIA MONOCYTOGENES 25

    2.2.10 CLOSTRIDIUM PERFRIGENS 26

    2.3 VIGILNCIA SANITRIA 27

    2.4 AVALIAO DA QUALIDADE DE PRODUTOS E SERVIOS DE

    SADE

    31

    3 MATERIAIS E MTODOS 37

    3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA 37

    3.2 AMOSTRA 38

    3.2.1 Coleta de amostras de nutrio enteral e frmulas i nfantis em

    hospitais sob a inspeo da Secretaria de Sade do Distrito Federal

    39

    3.3 ANLISES MICROBIOLGICAS 39

    3.4 AVALIAO DA ESTRUTURA E DO PROCESSO DE ELABORAO

    DA NUTRIO ENTERAL E DAS FRMULAS INFANTIS

    42

    3.5 ANLISE DE AES CORRETIVAS PROPOSTAS PELAS

  • EMPRESAS RESPONSVEIS PELA PRODUO DAS DIETAS

    ENTERAIS E FRMULAS INFANTIS

    45

    3.6 AVALIAO DA QUALIDADE SEGUNDO MODELO UNIFICADO

    DONABEDIAN

    3.7 TIPO DE TRATAMENTO DAS INFORMAES

    45

    45

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 CONDIES OPERACIONAIS ESTRUTURA E PRODUO DE

    DIETAS ENTERAIS E FRMULAS INFANTIS

    4.2 PROCESSO CONTROLE DE QUALIDADE

    4.3 ANLISE DE AES CORRETIVAS PROPOSTAS PELAS

    EMPRESAS RESPONSVEIS PELA PRODUO DAS DIETAS

    ENTERAIS E FRMULAS INFANTIS

    5 CONSIDERAES FINAIS

    PERSPECTIVAS DA PESQUISA E FEEDBACK DESTE TRABALHO

    PARA A INSTITUIO

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    APNDICES

    APNDICE A: Termo de Consentimento Livre e Esclarec ido TCLE

    APNDICE B - Tabela 3: Planos de ao recomendados para

    minimizar a ocorrncia de micro-organismos contamin antes nas NE e

    FI nas 14 unidades hospitalares.

    ANEXOS

    ANEXO A Protocolo n 127/2012 aprovado pelo Comit de tica em

    Pesquisa em Seres Humanos da Secretaria de Estado d e Sade do

    Distrito Federal CEP/SES/DF

    47

    47

    54

    55

    68

    69

    70

    84

    85

    86

    95

    96

    ANEXO B - Fluxograma da manipulao de NE industria lizada em p 97

    ANEXO C: Fluxograma da manipulao de FI industrial izada em p 98

    ANEXO D - Procedimento Operacional Padro (POP) de Amostragem

    do Laboratrio SABINBIOTEC BIOTECNOLOGIA S/A

    ANEXO E - Anlises microbiolgicas - Mtodos Analt icos Oficiais

    para Anlises Microbiolgicas para Controle de Prod utos de Origem

    Animal e gua

    ANEXO F - Ferramenta 2 Adaptada - Preparao da NE

    99

    100

    105

  • LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1 - Anlises microbiolgicas segundo a RDC n 63, de 06

    de julho de 2000, da ANVISA.

    QUADRO 2 - Anlises microbiolgicas segundo a RDC n 12, de 02

    de janeiro de 2001, da ANVISA.

    QUADRO 3 Parmetros microbiolgicos e referncias utilizadas

    nas anlises das amostras de NE e FI coletadas nos Servios de

    Nutrio e Diettica dos hospitais da Secretaria de Sade do DF-

    Braslia.

    40

    41

    43

    QUADRO 4 Parmetros microbiolgicos e referncias utilizadas

    nas anlises das amostras de NE e FI coletadas nos Servios de

    Nutrio e Diettica dos hospitais da Secretaria de Sade do DF-

    Braslia.

    43

    QUADRO 5 Parmetros microbiolgicos e referncias utilizadas

    nas anlises das amostras de NE e FI coletadas nos Servios de

    Nutrio e Diettica dos hospitais da Secretaria de Sade do DF-

    Braslia.

    44

    QUADRO 6 Parmetros microbiolgicos e referncias utilizadas

    nas anlises das amostras de NE e FI coletadas nos Servios de

    Nutrio e Diettica dos hospitais da Secretaria de Sade do DF-

    Braslia.

    44

    QUADRO 7 Modelo unificado de Avedis Donabedian pa ra

    avaliao da qualidade de servios de sade, adapta do para

    produo de dietas enterais e frmulas infantis par a frmula

    infantil.

    46

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Percentual de atendimento legislao v igente

    segundo nvel de concordncia 75% nos Servios de Nutrio e

    Diettica.

    Tabela 2 Correlao entre o tipo de contaminao em amostras

    de nutrio enteral e frmula infantil e os itens d e verificao em

    discordncia com a legislao vigente.

    Tabela 3: Planos de ao recomendados para minimiza r a

    ocorrncia de micro-organismos contaminantes nas NE e FI nas 14

    unidades hospitalares.

    49

    61

    86

  • 12

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    C Grau Celsius

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    BPPNE Boas Prticas de Preparao de Nutrio Enteral

    C. perfringens Clostridium perfrigens

    DF Distrito Federal

    E. coli Escherichia coli

    FI Frmulas infantis

    ICMSF International Commission on Microbiological Specifications

    for Foods

    NE Nutrio Enteral

    NMP Nmero mais provvel

    POP Procedimento Operacional Padro

    RDC Resoluo da Diretoria Colegiada

    S. aureus Staphylococcus aureus

    SES Secretaria de Estado de Sade

    UFC/g Unidades formadoras de colnias por grama

  • 13

    1 INTRODUO

    A vigilncia sanitria de servios de sade tem como objetivos verificar e

    promover a adeso s normas e aos regulamentos tcnicos vigentes, avaliar as

    condies de funcionamento e identificar os riscos e os danos sade dos

    pacientes, dos trabalhadores e do meio ambiente. A atividade de inspeo

    sanitria consiste, basicamente, em se observar uma dada realidade, comparar

    com o que foi estabelecido como ideal para essa situao, emitir um

    julgamento acerca do que foi observado e adotar medidas em funo desse

    julgamento (BRASIL, 2011).

    Em unidades hospitalares, alguns procedimentos e critrios so

    estabelecidos no intuito de recuperar a sade do paciente, como, por exemplo,

    o cuidado com a dieta, que parte do seu tratamento. Assim, de maneira geral,

    os funcionrios envolvidos nesse processo, principalmente aqueles que

    trabalham na Unidade de Alimentao e Nutrio (UAN) hospitalar, tm uma

    responsabilidade particular, uma vez que esto alimentando pacientes, que

    podem estar ou no com o sistema imunolgico debilitado. O alimento deve ser

    fonte de sade ao ser humano e, de tal forma, deve ser processado seguindo

    as boas prticas que incluem critrios para todas as etapas da produo,

    desde a seleo da matria-prima at o momento de consumo (SOUSA;

    CAMPOS, 2003).

    Registros epidemiolgicos mostram que grande parte dos surtos de

    doenas de origem alimentar causada por alimentos preparados em servios

    de alimentao. Esses surtos surgem, principalmente, da contaminao de

    alimentos por bactrias. No ambiente hospitalar, em mdia, 50% das infeces

    que afetam pacientes hospitalizados so provocadas por micro-organismos

    hospitalares que colonizam o trato gastrintestinal. Apesar disso, pouca ateno

    destinada ao controle das infeces hospitalares veiculadas por alimentos

    (PINTO, CARDOSO, VANETTI, 2004). Neste aspecto, o controle da qualidade

    das dietas enterais e frmulas infantis deve ser rigorosamente realizado, pois

    os pacientes que consomem tais produtos so, normalmente, mais

    susceptveis a infeco, desidratao e suas consequncias (PINTO,

    CARDOSO, VANETTI, 2004).

  • 14

    Ilbery e Kneafsey (2000) consideram que a qualidade em alimentos pode

    ser definida por indicadores objetivos como as caractersticas fsico-qumicas,

    microbiolgicas, nutricionais e organolpticas, alm dos indicadores subjetivos

    (aspectos culturais, ticos, religiosos, sociais, econmicos, entre outros). Para

    os referidos autores, e tambm para Kuaye (1995) e Ablan (2000), a

    inocuidade independe de fatores sociais e econmicos; trata-se de um atributo

    bsico e essencial para todo e qualquer alimento. A inocuidade de um alimento

    destaca-se dos demais atributos que compem o conceito de qualidade em

    funo do impacto de falhas decorrentes na qualidade da sade pblica

    (PERETTI, 2005).

    Segundo a Resoluo da Diretoria Colegiada 63 (BRASIL, 2000), na

    preveno da contaminao microbiolgica da Nutrio enteral (NE), faz-se

    necessrio o uso de tcnicas pr-estabelecidas que assegurem a manuteno

    das caractersticas organolpticas e a garantia microbiolgica e bromatolgica1,

    de acordo com os padres recomendados nas Boas Prticas de Preparao de

    Nutrio Enteral (BPPNE) (BRASIL, 2000).

    O descumprimento das condutas estabelecidas pela Resoluo 63 pode

    favorecer a contaminao microbiolgica destes produtos, dietas enterais e

    frmulas infantis, e comprometer a evoluo clnica dos pacientes, por meio de

    distrbios gastrintestinais e at infeces mais graves, especialmente em

    pacientes imunodeprimidos (BRASIL, 2000; MUNIZ, 2005).

    Dessa forma, a contaminao microbiolgica das dietas enterais pode

    se constituir numa situao de risco de agravamento do quadro clnico dos

    pacientes, que j esto debilitados e mais susceptveis aos patgenos,

    principalmente quando a dieta recebida por meio de sonda (MUNIZ, 2005),

    podendo trazer resultados indesejveis, como complicaes infecciosas.

    As frmulas infantis so utilizadas por crianas sadias e enfermas e

    muitas vezes so administradas por sondas enterais. Elas so preparaes

    manipuladas que usam produtos industrializados e formulaes feitas pelos

    1 Bromatologia refere-se cincia dos alimentos (composio qumica, ao no organismo, valor alimentcio e calrico, propriedades fsicas, qumicas, toxicolgicas, substncias adulterantes, contaminantes, fraudes, aspectos tecnolgicos, legais, etc).

  • 15

    nutricionistas para atender as demandas nutricionais de pacientes internados

    (LINHARES, 2012).

    De maneira geral, o pblico infantil hospitalizado, observa-se que

    crianas menores de cinco anos so mais vulnerveis s doenas de origem

    alimentar devido imaturidade do sistema intestinal e do sistema imunolgico,

    e por estarem no ambiente hospitalar, torna-os mais vulnerveis do que a

    populao sadia (ACCIOLY, SAUNDERS, LACERDA, 2009).

    Os Indicadores Microbiolgicos so utilizados para monitorar a qualidade

    microbiolgica dos alimentos, determinando condies sanitrias inadequadas

    de manipulao, processamento, produo ou armazenamento (ICMSF, 1984).

    Considerando o exposto, observa-se o grande valor social, tcnico e

    econmico da nutrio enteral (NE) e da frmula infantil (FI) e o impacto destes

    produtos na recuperao da sade dos pacientes. Com base em tais

    premissas, a avaliao da qualidade higinico-sanitria analisada por meio de

    indicadores microbiolgicos da nutrio enteral (NE) e de frmula infantil (FI)

    podem fornecer dados sobre a eficcia dos procedimentos adotados na

    preparao e na distribuio da nutrio enteral (NE) e frmula infantil (FI) nos

    servios de sade.

    Assim, o objetivo geral desta pesquisa avaliar aspectos da gesto da

    qualidade higinico-sanitria de dietas enterais e frmulas infantis em ambiente

    hospitalar, com enfoque na estrutura, no processo e no resultado.

    Especificamente, pretende-se:

    Avaliar os dados obtidos para a contagem de micro-organismos

    mesfilos aerbios estritos facultativos nas amostras selecionadas;

    Avaliar os dados obtidos para Bacillus cereus nas amostras

    selecionadas;

    Identificar a existncia de organismos causadores de toxi-infeces

    alimentares Salmonella sp, Estafilococos coagulase positiva,

    Coliformes totais, Coliformes termotolerantes nas amostras

    selecionadas;

    Analisar a existncia de riscos, de natureza biolgica, ocasionados pelos

    micro-organismos presentes nas amostras selecionadas;

  • 16

    Analisar a eficcia de aes corretivas propostas pelas empresas

    responsveis pela produo das dietas enterais e frmulas infantis por

    meio dos registros e dos dados analticos;

    Avaliar os registros de acompanhamento de distribuio das dietas

    enterais e frmulas infantis;

    Avaliar o monitoramento das condies operacionais da produo de

    dietas enterais e frmulas infantis nas amostras selecionadas por meio

    da Ferramenta 2: Preparao da NE (CENICCOLA, ARAJO, AKUTSU,

    2014);

    Discutir as possveis estratgias para minimizar os riscos biolgicos nas

    dietas enterais e frmulas infantis utilizadas em hospitais, segundo o

    modelo unificado de Donabedian (1990).

  • 17

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 NUTRIO ENTERAL E FRMULAS INFANTIS

    Segundo a Resoluo da Diretoria Colegiada (RDC) n 63, de 06 de

    julho de 2000, da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), a

    Nutrio Enteral (NE) definida como:

    alimento para fins especiais, com ingesto controlada de

    nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composio

    definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada

    para uso por sondas ou via oral, industrializada ou no,

    utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou

    complementar a alimentao oral em pacientes, desnutridos ou

    no, conforme suas necessidades nutricionais, em regime

    hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando sntese ou

    manuteno dos tecidos, rgos ou sistemas (BRASIL, 2000,

    p. 03).

    As dietas enterais industrializadas viabilizam maior garantia da qualidade

    nutricional e da inocuidade das dietas destinadas aos pacientes, hospitalizados

    ou no, quando comparada s artesanais (LIMA et al., 2005). So estratgias

    teraputicas rotineiras para pacientes com deficincia proteico-calrica,

    imunocomprometidos, com disfagia severa, estresse metablico, doena ou

    idade avanada, queimaduras, resseco intestinal, fstulas, fibrocsticos,

    pacientes com epidermlise bolhosa congnita, erros inatos do metabolismo,

    sndromes dissabsortivas, em fase aguda, entre outros, pois fornecem suporte

    nutricional necessrio a quem no tem condies de se alimentar por via oral,

    mas que tenha um trato gastrintestinal funcionante, uma vez que oferece

    nutrientes (LIMA et al., 2005). Nesse grupo, esto presentes tambm pacientes

    em terapia intensiva, pacientes em fase ps-cirrgica e bebs prematuros

    (WEENK et al., 1995).

    A desnutrio hospitalar (DH) um problema de carter mundial

    (MARCADENTI, 2011) e afeta de forma adversa a evoluo clnica de

    pacientes hospitalizados, elevando a incidncia de infeces, de doenas

  • 18

    associadas e complicaes ps-operatrias, podendo ser causa de mortalidade

    hospitalar (BEGHETTO et al., 2009).

    A administrao do alimento, no ambiente hospitalar, pode ser feita por

    via oral, enteral e parenteral. Se houver algum tipo de distrbio alimentar e ou

    patolgico com impedimento parcial ou total do uso da via oral (FERREIRA,

    2009), a NE a principal estratgia para minimizar o problema da desnutrio

    hospitalar. A NE sugere menor comprometimento fisiolgico que a parenteral

    (BLOCH; MUELLER, 2002) e ainda evita rompimento de barreiras de defesa

    importantes; alm disso, capaz de manter o principal sistema da absoro e

    metabolismo de nutrientes. Pode ser realizada ou pela utilizao de produtos

    industrializados com frmulas definidas ou frmulas artesanais compostas por

    alimentos in natura e ou processados (ALVES et al., 1999; UNAMUNO et al.,

    2005).

    Dessa forma, a contaminao microbiolgica das dietas enterais pode se

    constituir numa situao de risco de agravamento do quadro clnico dos

    pacientes, que j esto debilitados e mais susceptveis aos patgenos,

    principalmente quando a dieta recebida por meio de sonda (MUNIZ, 2005),

    podendo trazer resultados indesejveis, como complicaes infecciosas.

    Assim como as dietas enterais industrializadas e artesanais, outro

    grande problema a preparao de alimentos infantis. As frmulas infantis

    comercializadas devem ser nutricionalmente completas e adequadas para a

    idade e/ou necessidade dietoterpica, segundo o Codex Alimentarius

    (LINHARES, 2012).

    Frmulas infantis (FI) so frmulas para lactentes2 e para crianas a

    partir de um ano de vida, apresentadas nas formas lquida ou em p. So

    produtos utilizados sob prescrio mdica ou do nutricionista e, especialmente,

    fabricados para satisfazer as carncias nutricionais de crianas com

    necessidades especficas. A Resoluo da Diretoria Colegiada (RDC) n 12, de

    02 de janeiro de 2001, Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), trata

    do regulamento tcnico sobre padres microbiolgicos para alimentos,

    incluindo as frmulas infantis (BRASIL, 2001).

    2 Lactente - criana de zero a doze meses de idade incompletos (11 meses e 29 dias) (RDC n. 12, da ANVISA, de 02/01/2001).

  • 19

    As frmulas infantis so coadjuvantes ou mesmo medida teraputica

    bsica para a recuperao da sade das crianas e so, geralmente, a nica

    fonte de nutrientes para crianas internadas em um hospital. Assim, de

    extrema importncia que essas frmulas sejam adequadas s necessidades

    nutricionais da criana e que sejam seguras microbiologicamente, uma vez que

    as infeces que ocorrem ao longo do primeiro ano de vida so as principais

    causas da elevao do ndice de morbi-mortalidade entre os lactentes

    (SANTOS, 2006).

    Sobre o uso de tais produtos, estudo prospectivo conduzido em 2005,

    por meio da anlise de registros alimentares de 7 dias consecutivos de amostra

    intencional de 179 lactentes saudveis, por cotas e ponderada conforme dados

    do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em trs metrpoles do

    Brasil - Curitiba, So Paulo e Recife, identificou que 50,3% (n = 91) dos

    lactentes j no recebiam aleitamento materno (AM). Destes, 12,0% (n = 11) e

    6,7% (n = 6) dos menores e maiores de 6 meses, respectivamente, faziam uso

    de frmulas infantis em substituio ao leite materno, e a maioria dos lactentes

    era alimentada com leite de vaca integral (CAETANO et al., 2012).

    Para lactentes internados em hospitais, esses produtos so as nicas

    fontes de nutrientes e, portanto, fundamental que tais alimentos sejam

    adequados s necessidades nutricionais e seguros, microbiologicamente, para

    que se evitem infeces ao longo do primeiro ano de vida, no contribuindo, de

    tal forma, para elevar o ndice de morbimortalidade entre os lactentes (ROSSI,

    KABUKI, KUAYE, 2010).

    De acordo com pesquisa realizada, os principais contaminantes

    biolgicos responsveis por surtos relacionados com o consumo de frmulas

    infantis foram as bactrias entricas, principalmente Salmonella sp. e

    Escherichia coli (PESSOA, 1978).

    As frmulas infantis so usadas principalmente como substitutas do

    leite materno para crianas em risco nutricional. Elas foram criadas com o

    objetivo de se assemelharem ao leite materno, porm sua composio no se

    iguala s propriedades fisiolgicas do leite humano, especficas da me para o

    filho (BRASIL, 2012a). No hospital, as frmulas infantis so normalmente

    preparadas no lactrio, que uma unidade destinada ao preparo, higienizao

  • 20

    e distribuio das mamadeiras de leites e seus substitutos para alimentao de

    recm-nascidos e dos pacientes da pediatria (MEZOMO, 1987).

    As vantagens oferecidas pelo emprego da NE muitas vezes tornam

    secundrias as complicaes derivadas de sua utilizao. Contudo, uma das

    principais complicaes, tanto da NE quanto da FI, a contaminao das

    frmulas, que pode estar associada a complicaes infecciosas e parasitrias,

    sendo a diarreia a consequncia mais prevalente (LIMA et al., 2005; SANTOS

    et al., 2004). A administrao de frmulas eventualmente contaminadas pode

    no somente causar distrbios gastrintestinais, mas pode contribuir para

    infeces clnicas como bacteremia, septicemia, pneumonia, enterocolite em

    pacientes imunodeprimidos, idosos e desnutridos (LIMA et al., 2005; SANTOS

    et al., 2004).

    2.2 QUALIDADE HIGINICO-SANITRIA DE PREPARAES PARA

    NUTRIO ENTERAL E FRMULAS INFANTIS

    A NE, assim como a FI, se caracteriza como excelente substrato para o

    desenvolvimento microbiano. A contaminao microbiana da NE e da FI pode

    ocorrer em diversas etapas e a manipulao especialmente crtica para a

    contaminao (LIMA et al., 2005). Estudo realizado por Sullivan et al. (2001)

    identificou que a maioria dos pacientes (63%; n = 10) que receberam dieta por

    via enteral foi colonizada com micro-organismos isolados da prpria dieta. De

    modo geral, os seguintes itens so considerados como potenciais causadores

    de contaminao de dietas enterais e frmulas infantis: I) ingredientes no

    estreis, II) manipulao, III) perodo prolongado de administrao, IV) uso

    prolongado ou reutilizao do sistema de infuso (no caso de NE), e V) outros

    equipamentos utilizados no seu preparo (BELKNAP, DAVIDSON, FLOURNOY,

    1990; GRAHAN, 1993).

    De todas as possveis causas contaminantes da NE e FI, a manipulao

    a mais significante fonte de contaminao microbiana no ambiente hospitalar

    (PATCHEL, 1998). Aspectos ligados s tcnicas de manipulao utilizadas e a

    prpria sade do manipulador, alm do uso de prticas inadequadas de higiene

    e preparo das frmulas enterais e infantis por pessoas inabilitadas, podem

    provocar a contaminao cruzada desses alimentos. A contaminao por

  • 21

    contato manual pode tambm ocorrer durante a transferncia das frmulas de

    seus recipientes originais para os reservatrios de administrao (ANDERTON;

    AIDOO, 1991). Ademais, existem aspectos de riscos inerentes natureza do

    leite, excelente meio de cultivo para a maioria dos micro-organismos,

    associados a outros riscos como higiene no processamento das preparaes

    lcteas, e condies de armazenamento (SALLES; GOULART, 1997).

    Alm do mais, seu tempo de exposio temperatura ambiente durante

    a administrao pode propiciar o desenvolvimento de micro-organismos

    patognicos e promover aumento do risco de infeco hospitalar (MARTINS et

    al., 2007).

    A qualidade alimentar uma preocupao universal pelos seus aspectos

    de sade pblica e mercadolgicos, repercutindo especialmente desde a

    concepo do Codex Alimentarius3, cujas normas passaram a ser referncia

    para os pases signatrios (QUEIMADA, 2007; FAO; WHO, 2008). A qualidade

    microbiolgica o principal fator de garantia de segurana, pois est

    diretamente relacionada com a ocorrncia ou no de doenas transmitidas por

    alimentos. Tais eventos so um problema de sade pblica em pases em

    desenvolvimento, assim como nos desenvolvidos, o que refora a necessidade

    de adoo de procedimentos que evitem ou reduzam os riscos de

    contaminao (SILVA, 2008; SANTOS, 2006).

    Indicadores microbiolgicos so grupos ou espcies de micro-

    organismos que, quando presentes na gua e em alimentos, podem fornecer

    informaes sobre a ocorrncia de contaminao de origem fecal e sobre a

    provvel presena de patgenos, alm de poderem indicar condies sanitrias

    inadequadas. H muito tempo, micro-organismos indicadores so utilizados na

    avaliao da qualidade microbiolgica da gua e, mais recentemente, em

    alimentos, devido s dificuldades encontradas na deteco de micro-

    organismos patognicos (PATHAK et al., 1994). So, portanto, indicadores da

    existncia de riscos de natureza biolgica.

    De acordo com a International Commission on Microbiological

    Specifications for Foods (ICMSF), micro-organismos indicadores so

    3 Codex Alimentarius conjunto de normas e padres criado pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO)/Organizao Mundial de Sade (OMS) em 1963 com o objetivo de prevenir os riscos sade do consumidor.

  • 22

    agrupados em duas categorias: a) micro-organismos que no oferecem risco

    direto sade contagem de micro-organismos mesfilos aerbios estritos

    facultativos; b) micro-organismos que oferecem risco indireto sade

    coliformes totais, coliformes termotolerantes e Escherichia coli (SILVA, 2002).

    2.2.1 Contagem de micro-organismos Mesfilos Aerbi os

    Estritos Facultativos

    Micro-organismos aerbios mesfilos so aqueles que se desenvolvem

    em temperaturas entre 35 C e 37 C em condies de aerobiose. So

    indicativos de qualidade sanitria no processamento de alimentos. Uma alta

    contagem de mesfilos significa condies favorveis para o desenvolvimento

    de patgenos (NERO et al., 2000). De acordo com a ICMSF (1984), o nmero

    de micro-organismos aerbios mesfilos em um alimento tem se tornado um

    dos indicadores microbiolgicos mais utilizados para avaliar a qualidade dos

    alimentos. Por meio desse indicador possvel identificar se a limpeza, a

    desinfeco e o controle da temperatura, transporte e armazenamento foram

    realizados de forma adequada. As alteraes so detectveis quando os

    alimentos apresentam contagem superior a 106 UFC (unidades formadoras de

    colnia) (ICMSF, 1984). Assim, a refrigerao uma estratgia para o controle

    parcial da multiplicao de aerbios mesfilos, uma vez que apenas reduz a

    velocidade de desenvolvimento dos micro-organismos (SANTANA et al., 2001).

    2.2.2 Coliformes Totais

    Composto por bactrias da famlia Enterobacteriaceae, com capacidade

    para fermentar a lactose, quando incubados a 35 C (grau Celsius) - 37 C, por

    48 horas, so bacilos gram-negativos e no formadores de esporos (FRANCO,

    2003). De todas as bactrias desse gnero, a Escherichia coli possui, como

    habitat primrio o trato intestinal do homem e animais homeotrmicos. As

    demais Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella so encontradas nas fezes,

    em vegetaes e no solo. Assim, a presena de coliformes totais no alimento

    no , necessariamente, uma contaminao fecal recente ou ocorrncia de

    enteropatgenos (RIEDEL, 2005).

  • 23

    2.2.3 Coliformes Termotolerantes

    Grupo de coliformes que fazem uso da lactose do meio de cultura a 45

    C, com produo de gs. indicativo da presena de material fecal e, por

    conseguinte, possibilidade de presena de patgenos provenientes,

    possivelmente, da manipulao e da higiene deficiente; dependendo da

    contagem, h risco de toxinfeco alimentar (SILVA JNIOR, 2005). Alis,

    indicam condies sanitrias inadequadas no processamento, produo ou

    armazenamento, e altas contagens podem significar contaminao ps-

    processamento, limpeza e sanitizao deficientes, tratamentos trmicos

    ineficientes (MESQUITA et al., 2006; SIQUEIRA, 1995).

    2.2.4 Escherichia coli

    O uso de E. coli (Escherichia coli) como indicador de contaminao de

    origem fecal presente em gua foi proposto em 1892, uma vez que esse micro-

    organismo encontrado no contedo intestinal do homem e animais de sangue

    quente. O indicador ideal de contaminao fecal deve preencher, alm dos

    requisitos anteriormente citados, os seguintes requisitos: habitat exclusivo no

    trato intestinal do homem e de outros animais; ocorrncia em nmeros muito

    altos nas fezes; alta resistncia ao ambiente extraenteral; tcnicas rpidas,

    simples e precisas para a sua deteco e/ou contagem.

    A pesquisa de coliformes termotolerantes ou de E. coli fornece

    informaes sobre as condies higinicas do produto e melhor indicao da

    eventual presena de enteropatgenos (SILVA; JUNQUEIRA, 1995).

    2.2.5 Salmonella sp.

    A Salmonella sp. um micro-organismo presente na natureza, sendo o

    homem e os animais os principais reservatrios naturais, com ocorrncia de

    salmoneloses. um agente envolvido em surtos de origem alimentar, de

    relevante problema de sade pblica devido a possveis falhas no diagnstico

    pelos sinais e sintomas apresentados. O perodo de incubao normalmente

  • 24

    de seis a 48 horas e a doena dura em mdia 21 dias (SHINOHARA et al.,

    2008).

    A Salmonella sp. o micro-organismo mais envolvido em casos e surtos

    de infeco alimentar. Os alimentos mais relacionados aos surtos de

    salmoneloses so os de alto valor proteico, como o leite e seus derivados, e

    aqueles que no passam por nenhum tratamento trmico (GERMANO;

    GERMANO, 2003).

    2.2.6 Estafilococos coagulase positiva

    Segundo Holt et al. (1994), o gnero Staphylococcus formado por 28

    espcies e 8 subespcies, das quais trs subespcies (Staphylococcus aureus

    subespcie anaerobius, S. aureus subespcie aureus, S. scheleiferii

    subespcie coagulans) e trs espcies (S. delphini, S. intermedius e S. hyicus)

    so produtoras de coagulase. S. aureus (Staphylococcus aureus), S.

    intermedius e S. hyicus so produtoras de enterotoxinas e esto associadas a

    surtos de intoxicao de alimentar em homens e so denominados

    Estafilococos coagulase positiva; sua presena em alimentos processados

    pode indicar a deficincia de processamento ou condies indequadas do

    processo, sendo o S.aureus a espcie presente em casos de intoxicao

    alimentar (JAY, 1996; SILVA; GANDRA, 2004).

    A deteco da enzima coagulase funciona como um marcador para

    diferenciar cepas de S. aureus das demais espcies do gnero, sendo que a da

    produo dessa enzima caracteriza-se como uma identificao presuntiva de

    S. aureus, e um forte indcio, porm no conclusivo, de que as cepas de

    Estafilococos coagulase positiva sejam S. aureus (SOARES et al., 1997).

    De acordo com Koneman et al. (2005), dentre as espcies de

    Staphylococcus de importncia mdica, apenas S. aureus capaz de produzir

    a enzima coagulase.

    2.2.7 Staphylococcus aureus

    uma das bactrias causadora de infeces hospitalares (MENDOZA et

    al., 2000). um dos principais agentes virulentos, considerado membro

  • 25

    persistente da microbiota endgena humana e responsvel por inmeros

    processos infecciosos. Pode ser encontrada colonizando a microbiota normal

    da pele e mucosas de seres humanos (SANTOS, 2000). As fontes de S. aureus

    normalmente so humanas: nariz, pele, garganta, cortes e feridas, por isso

    necessrio ateno maior no manuseio e nas prticas de higiene pessoal,

    principalmente. Ao se multiplicar no alimento a bactria produz toxinas

    termorresistentes.

    Pesquisa realizada nos Estados Unidos com residentes de enfermagem

    mostrou uma taxa de colonizao pelo S. aureus de 62% (n = 213), prevalncia

    considerada alta (MODY et al., 2008). Tal micro-organismo pode estar presente

    em qualquer alimento, especialmente nos mais manipulados. Higiene pessoal,

    sade dos manipuladores de alimentos e Boas Prticas de Fabricao so

    fatores primordiais na preveno de doenas por S. aureus.

    2.2.8 Bacillus cereus

    Grupo com capacidade de produo de toxinas responsveis por

    toxinfeces alimentares, de enzimas extracelulares, que determinam o

    potencial de deteriorao, e de esporos, que podem resistir s adversidades do

    meio ambiente. A contaminao cruzada e a exposio a temperaturas

    inadequadas so fatores que desencadeiam episdios de intoxicaes, muitos

    dos quais nem so diagnosticados (SOTO et al., 2009; RODRIGUES et al.,

    2003). O Bacillus cereus encontrado no solo, em produtos de origem vegetal

    e em leite cru. Recentemente, a bactria B. cereus tem sido reconhecida como

    um patgeno oportunista em pacientes hospitalizados e debilitados, como

    imunocomprometidos e recm-nascidos (GAUR; SHENEP, 2001).

    2.2.9 Listeria monocytogenes

    A Listeria monocytogenes uma bactria patognica para animais de

    sangue quente, sendo essencialmente transmitida por intermdio dos

    alimentos, por isso o controle da contaminao tem se tornado um grande

    desafio para a indstria alimentar (CASTRO, 2011). Os reservatrios dessa

  • 26

    bactria so o solo e o trato gastrointestinal de animais, entre eles mamferos,

    peixes, aves e crustceos (OIE, 2005).

    A maioria dos pases da Unio Europeia tem uma incidncia anual da

    doena de 0,35 casos por 100 mil habitantes por ano. Devido sua alta

    mortalidade, a listeriose est entre uma das mais graves doenas com origem

    alimentar; provoca maior nmero de bitos e a via alimentar considerada a

    principal via de infeco para a espcie humana (ECDC, 2010).

    2.2.10 Clostridium perfrigens

    uma bactria ubiquitria que pode ser encontrada no solo, na poeira,

    nas fezes, nos alimentos, nos intestinos da maioria dos animais saudveis e

    dos seres humanos (OPENGART, 2008). C. perfringens (Clostridium

    perfrigens) um dos agentes com maior nmero de toxinas produzidas e um

    dos mais importantes em funo do grau de toxicidade e da atividade letal

    (SONGER,1996).

    um bacilo Gram positivo, esporulado e imvel que apresenta

    resistncia a temperaturas elevadas, sendo este fator determinante na elevada

    ocorrncia de toxinfeco. A termorresistncia dos seus esporos o principal

    problema para seu controle (LABBE, 1989).

    Outrossim, a avaliao da qualidade microbiolgica do ambiente no qual

    preparado o alimento de extrema importncia, uma vez que a presena de

    micro-organismos no ambiente se constitui numa situao de risco qualidade

    e segurana do produto final. Os micro-organismos provm dos

    manipuladores, da matria-prima, da higiene ambiental, dos aparelhos de

    ventilao, assim como dos aparelhos de ar condicionado, principalmente

    quando a manuteno dos filtros no frequente (AL-DAGAL; FUNG, 1990).

    O homem o principal veculo de transmisso de micro-organismos para

    qualquer ambiente. Tal transmisso ocorre principalmente por meio da pele, da

    boca e do nariz. O falar e/ou espirrar dos manipuladores de alimentos propaga

    gotculas no ambiente que podem conter vrus e/ou bactrias. Essas gotculas

    muito pequenas, se contaminadas, podem contribuir diretamente para

    contaminao ambiental (AL-DAGAL; FUNG, 1990).

  • 27

    2.3 VIGILNCIA SANITRIA

    No Brasil, a interveno sanitria se institucionalizou por meio da

    promulgao de leis, da estruturao e reformas de servios sanitrios e dos

    rearranjos da estrutura do Estado, principalmente ao longo do sculo XX,

    quando houve inmeras reformas, intensa produo de instrumentos legais,

    sobretudo nas reas de medicamentos e alimentos.

    Segundo a Lei n 8.080, a rea da Vigilncia Sanitria responde por um

    amplo conjunto de atribuies que representa um desafio para as trs esferas

    de governo e cujas estratgias se fundamentam no desenvolvimento de aes

    capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos sade e intervir nos

    problemas sanitrios provenientes do meio ambiente, da produo e circulao

    de bens e da prestao de servios de interesse da sade (BRASIL, 1990).

    O Art. 3 da referida lei define que a alimentao se constitui num dos

    fatores determinantes e condicionantes da sade da populao, cujos nveis

    expressam a organizao social e econmica do pas (BRASIL, 1990). O

    controle sanitrio de alimentos e bebidas competncia dos setores da sade

    e da agricultura, cabendo ao primeiro o controle sanitrio e o registro dos

    produtos alimentcios industrializados, com exceo daqueles de origem

    animal, e o controle das guas de consumo humano (BRASIL, 2012b).

    grande a importncia do segmento relativo a alimentos, em funo dos

    riscos nutricionais, de diferentes categorias e magnitudes, que permeiam todo

    o ciclo da vida humana, desde a concepo at a senectude (BRASIL, 2008).

    Nesse contexto, incluem-se tambm a produo e a manipulao de alimentos

    produzidos em servios de sade e destinados a indivduos sadios ou

    enfermos.

    A vigilncia sanitria possui papel essencial para a operacionalizao

    dessa poltica pblica, sendo necessrio o redirecionamento e o fortalecimento

    de suas aes. O controle sanitrio de alimentos prev aes em todas as

    etapas da cadeia produtiva: inspeo de indstrias ou unidades de produo,

    manipulao e comercializao de alimentos; concesso de licenas de

    funcionamento, de registro de produtos ou dispensa de registro, monitoramento

    da qualidade de produto coleta, avaliao e anlise laboratorial, quando

  • 28

    necessria, com o intuito de verificar sua conformidade e orientao aos

    produtores e manipuladores de alimentos (BRASIL, 2011).

    Apesar da rea de vigilncia sanitria de servios de sade no Brasil j

    ter sido objeto de ateno, desde 1932, quando o Decreto n 20.931/32

    determinou que todos os estabelecimentos de sade deveriam ter licena

    sanitria, precedida de inspeo para sua concesso, foi somente nos anos

    1980 que esse servio de sade pblica comeou a funcionar. Mesmo com a

    reformulao do Ministrio da Sade, que deu origem Secretaria Nacional de

    Vigilncia Sanitria, em 1976, observou-se que sua estrutura no contemplava

    esta rea e que sua atuao limitava-se, quase que exclusivamente, a fixar

    normas e padres para prdios, instalaes e equipamentos destinados a

    servios de sade, por meio da Portaria GM/MS n 400/77 (BRASIL, 2011).

    Nos servios de sade, a ao da Vigilncia Sanitria visa eliminar os

    fatores de risco que interferem na qualidade dos alimentos, desde sua

    produo at o consumo, para garantir o consumo de alimento seguro e

    eliminar a morbi-mortalidade por ingesto de alimentos imprprios, diminuindo

    assim as perdas econmicas por deteriorao dos alimentos em suas diversas

    etapas, da produo ao consumo final, alm de garantir a qualidade tcnica da

    prestao de servios de sade, evitando danos sade e iatrogenias mdicas

    (EDUARDO, 1998).

    A partir de um conjunto de acontecimentos, tal como o surgimento da

    Aids, e eventos trgicos, como o acidente radioativo com Csio em Goinia,

    normas foram editadas para distintos servios com a finalidade de capacitar

    seus recursos humanos, possibilitando uma ao mais efetiva da vigilncia

    sanitria sobre os problemas, minimizando os riscos e evitando a ocorrncia de

    danos e agravos. Riscos relacionados ao consumo de produtos e tecnologias

    (riscos iatrognicos), qualidade da gua, aos resduos gerados ou presena

    de vetores (riscos ambientais), s condies e ao ambiente de trabalho (riscos

    ocupacionais); aos recursos disponveis, s condies fsicas, higinicas e

    sanitrias do servio (riscos institucionais) (BRASIL, 2011).

    A infeco hospitalar qualquer infeco adquirida aps a admisso do

    paciente no hospital, podendo ocorrer por consequncia de contaminao do

    ambiente hospitalar (instalaes, equipamentos e utenslios), ou da prpria

    ingesto de medicamentos e alimentos contaminados ingeridos pelo paciente

  • 29

    no hospital (SENAC, 2004). A contaminao pode ter origem no preparo,

    transporte, armazenamento e/ou administrao de alimentos e/ou de

    medicamentos.

    O Art. 6, da Lei n 8080/90 prev, como atribuies especficas do

    Sistema nico de Sade (SUS), a vigilncia nutricional e orientao alimentar

    e o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem

    com a sade, envolvidas todas as etapas e processos, da produo ao

    consumo; esse ltimo sob responsabilidade da rea de vigilncia sanitria

    (BRASIL, 1990).

    A atividade de inspeo sanitria consiste, basicamente, em se observar

    uma dada realidade, comparar com o que foi estabelecido como ideal para

    essa situao, emitir um julgamento acerca do que foi observado e adotar

    medidas em funo desse julgamento. Sendo assim, pode-se, afirmar que essa

    uma atividade de avaliao e, portanto, muito tem a beneficiar com a adoo

    do objeto terico e instrumental da avaliao em sade, em especial da

    avaliao da qualidade de servios de sade (EDUARDO, 1998). A inspeo

    sanitria tem que ir alm do piso, teto, parede. Muitos servios de vigilncia

    sanitria j incorporaram elementos do modelo proposto por Avedis

    Donabedian, pioneiro nos estudos de avaliao da qualidade de servios de

    sade. Para ele, para uma boa avaliao, preciso que sejam adotados trs

    enfoques: da estrutura, do processo e do resultado (DONABEDIAN, 1992;

    DONABEDIAN, 2005).

    Dessa forma, a estrutura engloba os recursos fsicos, humanos,

    materiais, equipamentos e financeiros necessrios para a assistncia mdica.

    O processo se refere s atividades que envolvem os profissionais da sade e

    usurios e inclui o diagnstico, o tratamento e os aspectos ticos da relao

    mdico, equipe de sade e paciente. O resultado corresponde ao produto final

    da assistncia prestada, considerando a sade, a satisfao dos padres e as

    expectativas dos usurios (RIGHI, SCHMIDT, VENTURINI, 2010).

    As normas que vm sendo editadas para a rea de servios no se

    restringem somente a fixar parmetros para a estrutura, mas incorporam

    aspectos relacionados ao processo de trabalho e estabelecem indicadores que

    devem ser monitorados pelos servios e disponibilizados para as autoridades

    sanitrias (BRASIL, 2011).

  • 30

    Os servios de sade so organizaes de extrema complexidade, por

    realizarem uma srie heterognea de processos de trabalho; o trabalhador

    considerado o seu recurso crtico. Tambm a implicao dos riscos contribui

    para sua complexidade e, por consequncia, para as aes da vigilncia

    sanitria. Assim, os servios de sade requerem uma ao incisiva e

    necessariamente de cunho multidisciplinar por parte da vigilncia sanitria,

    uma vez que incorporam a quase totalidade dos objetos sob sua

    responsabilidade medicamentos, alimentos, equipamentos, insumos de

    diversas naturezas, sangue, produtos para limpeza etc (BRASIL, 2011).

    Conhecer o quadro sanitrio, a estrutura demogrfica de um dado

    territrio e, assim, detectar problemas sobre os quais preciso atuar

    possibilitam um melhor planejamento das aes, a otimizao dos recursos, a

    composio adequada das equipes e, por conseguinte, maior eficincia da

    interveno. O processo de pactuao, entre estados e municpios, para

    estabelecer uma atuao solidria entre as esferas de governo, pode ser

    subsidiado pelo conjunto de dados e informaes disponveis para o Sistema

    Nacional de Sade (BRASIL, 2011).

    Segundo Costa (2000), [...] risco a probabilidade de ocorrncia de

    efeitos adversos relacionados a objetos submetidos a controle sanitrio [...]. A

    legislao mais recente procura utiliz-lo na forma de expresses mais

    precisas, tais como fatores de risco, grau de risco, potencial de riscos, grupos

    de risco, gerenciamento de risco e risco potencial.

    O gerenciamento de risco est estruturado nas atividades de

    identificao dos perigos existentes e de suas causas, na estimativa dos riscos

    que tais perigos oferecem, na elaborao e aplicao de medidas de reduo

    destes riscos, se necessrias, seguida da verificao da eficincia das medidas

    adotadas. Na avaliao de risco, avalia-se a necessidade de reduo dos

    riscos estimados anteriormente, e para tanto so implantados e implementados

    os procedimentos de controle de risco (FLORENCE; CALIL, 2005).

    Em vigilncia sanitria, o princpio da precauo consiste em fazer uso

    restrito e controlado de substncias ou processos que possam causar danos

    at que se obtenham evidncias definitivas a respeito da caracterizao de seu

    risco. Esse princpio respalda as medidas sanitrias de proteo sade

    quando e onde as evidncias cientficas so insuficientes caracterizao do

  • 31

    risco e os efeitos negativos sobre a sade so de difcil avaliao (LUCCHESE,

    2001).

    O gerenciamento de risco verifica se as medidas de mitigao esto

    obtendo os resultados esperados, se h consequncias indesejveis advindas

    das medidas adotadas e se os resultados positivos podem ser mantidos em

    longo prazo (DUBUGRAS; PREZ-GUTIRREZ, 2008).

    As anlises realizadas no monitoramento do risco dependem da

    natureza do risco. Para riscos microbiolgicos, podem ser usados os seguintes

    indicadores: prevalncia do patgeno em animais; prevalncia do patgeno no

    incio e no final do processamento e em produtos no varejo. As concluses e as

    decises do gerenciamento de risco devero ser revistas se novas evidncias

    cientficas surgirem (DUBUGRAS; PREZ-GUTIRREZ, 2008).

    Essa reviso tambm dever ser realizada se informaes dos servios

    de inspeo, dados da vigilncia sanitria ou do monitoramento mostrarem que

    as metas do gerenciamento no esto sendo cumpridas ou se indicarem o

    surgimento de novos problemas de segurana dos alimentos (DUBUGRAS;

    PREZ-GUTIRREZ, 2008).

    2.4 AVALIAO DA QUALIDADE DE PRODUTOS E SERVIOS DE

    SADE

    A preocupao com a qualidade dos servios de sade prestados

    populao data do incio do sculo passado. Em 1910, os Estados Unidos

    lanaram o Relatrio Flexner, que tratava da educao mdica e uma

    investigao dos cursos de medicina e dos hospitais da poca. Tal relatrio

    acarretou no fechamento de escolas e na criao de normas para o

    funcionamento dos hospitais e para qualificao dos recursos humanos

    (PEREIRA, 2006).

    A Organizao Mundial da Sade, em 1993, definiu o alto grau de

    competncia profissional, a eficincia na utilizao dos recursos, um mnimo de

    riscos e um alto grau de satisfao dos pacientes como aspectos da qualidade

    da assistncia sade (RACOVEANU; JOHANSEN, 1995; GILMORE;

    NOVAES, 1997). Ainda, preconizou o processo avaliativo como elo do

  • 32

    planejamento, pois a avaliao deve ser usada para tirar lies da experincia

    e aperfeioar atividades em curso ou a serem implantadas (OMS, 1981).

    Para Barros (1997), a histria do sistema de sade brasileiro foi pautada

    na centralizao federal; na desigualdade de acesso; na diviso entre

    preveno e reabilitao; no uso irracional de recursos humanos, tecnolgicos

    e financeiros; na baixa resolutividade dos problemas de sade e, portanto, em

    um alto grau de insatisfao da populao, dos gestores e de profissionais da

    sade.

    A gesto focada na qualidade total dos alimentos tem ganhado certo

    destaque nas empresas, mundialmente, devido ao aumento de aspectos como

    a competitividade, os nveis de produo, a exigncia e demanda dos clientes e

    ainda pelo aparecimento das leis de defesa ao consumidor (SACCOL, 2007).

    Nos servios de sade, a avaliao da qualidade engloba quem utiliza

    os servios, assim como quem os produz, por isso fundamental a

    compreenso de como estes atores visualizam a qualidade dos servios

    prestados, buscando identificar e analisar as mais variadas formas de

    percepes para, ento, intervir de maneira que satisfaa as necessidades de

    todos e promova a melhoria.

    Uma relao de consumo pressupe a existncia de dois atores: o setor

    produtivo e os consumidores. No caso de consumo de alimentos, isso ocorre

    porque o consumidor raramente consegue visualizar no alimento substncias

    ou micro-organismos que podem acarretar perigo sua sade. Dessa forma,

    tal assimetria poder favorecer a ocorrncia de aes oportunistas dos agentes

    do mercado, gerando produtos sem padro de referncia (PERETTI, 2005).

    Muitos riscos sade do indivduo so gerados nessa dinmica de

    processos de consumo, assim como ao meio ambiente e economia do

    consumidor (COSTA; ROZENFELD, 2003) surgindo, assim, a necessidade de

    interveno do terceiro ator dessa relao: o Estado, tornando necessria a

    definio dos direitos e dos deveres desses atores objetivando minimizar a

    ocorrncia de aes que venham prejudicar a sade fsica e financeira destes

    ltimos (PERETTI, 2005).

    Com a incapacidade do mercado de se autorregular, o papel do Estado

    o de mediar as relaes entre produtores e consumidores, permitindo a

    realizao de transaes comerciais com um mnimo de segurana no que se

  • 33

    refere qualidade do produto vendido e qualidade do produto comprado.

    Assim, o consumidor tem garantia de proteo sua sade e ao seu poder

    aquisitivo, isto , proteo dos seus direitos fundamentais de vida e

    sobrevivncia, enquanto o produtor tem a proteo ao seu negcio evitando a

    fraude e a concorrncia desleal e protegendo a credibilidade de sua marca

    (COSTA, 2001).

    Outra atividade importante do Estado a inspeo, isto , a verificao

    de um estabelecimento, produto e sistemas de controle de produtos, matrias-

    primas, processamento e distribuio com enfoque na preservao da sade

    do consumidor e na garantia preventiva da conformidade dos produtos e

    processos, nos diversos elos da cadeia produtiva (BRASIL, 2002a).

    Em observncia s atividades de inspeo, os rgos reguladores e de

    fiscalizao fazem o monitoramento da qualidade dos produtos, pela coleta de

    amostras de alimentos para anlise a fim de detectar o cumprimento ou o no

    cumprimento lei e penalizar os infratores, a partir dos resultados obtidos

    (SPERS, 2003).

    Um sistema de avaliao efetivo busca reordenar a execuo das aes

    e servios, redimensionando-os para que contemplem necessidades do

    pblico, com maior racionalidade ao uso dos recursos (SANTOS; MERHY,

    2006). De acordo com Donabedian (1988), a qualidade est em todos os tipos

    de avaliao, uma vez que caracteriza o estabelecimento de um juzo, a

    atribuio de um valor a alguma coisa que, quando positivo, significa ter

    qualidade.

    Avedis Donabedian foi o primeiro profissional do setor sade que se

    dedicou de forma sistemtica ao estudo sobre a qualidade em sade; adaptou

    a Teoria de Sistemas ao atendimento hospitalar assim como a noo de

    indicadores de estrutura, processo e resultado (DONABEDIAN, 1990).

    Definiu qualidade como a obteno dos maiores benefcios com os

    menores riscos ao paciente e ao menor custo, focando na trade de gesto

    (DONABEDIAN, 1978). Ampliou seus estudos e pesquisas na dcada de 1960,

    por meio de um enfoque de avaliao voltado para uma abordagem normativa

    e com foco nos conceitos da administrao clssica de eficincia, eficcia e

    efetividade, otimizao dos recursos, aceitabilidade, legitimidade e equidade.

  • 34

    A eficcia resulta da capacidade do cuidado obtido na melhor situao

    possvel, na sua forma mais perfeita de contribuio para a melhoria das

    condies de sade, enquanto a efetividade o resultado do quadro de

    melhorias possveis nas condies de sade, cuidado obtido na situao real.

    A eficincia a medida de custo com o qual uma dada melhoria na sade

    alcanada; a otimizao, o cuidado relativizado quanto ao custo (do ponto de

    vista do paciente). A aceitabilidade se refere adaptao do cuidado aos

    desejos, expectativas e valores dos pacientes. A legitimidade a aceitabilidade

    do cuidado do ponto de vista da sociedade, enquanto a equidade aquilo que

    justo ou razovel na distribuio dos cuidados e dos benefcios

    (DONABEDIAN, 1990).

    A equidade, acessibilidade, adequao e qualidade tcnico-cientfica

    tambm so parte dos atributos da qualidade nestes servios (VUORI, 1993),

    alm da continuidade dos cuidados e a comunicao entre o profissional e o

    usurio (ACURCIO, 1991). O Modelo Donabedian usado mundialmente como

    referncia para avaliar a qualidade dos servios de sade (AKERMAN;

    NADANOVSKY, 1992; MEDRONHO, 2006; PEREIRA, 2006).

    Para se medir o nvel de qualidade alcanado so analisadas as

    informaes das dimenses de Estrutura, Processo e Resultado, a partir de

    critrios previamente estabelecidos. O item Estrutura relaciona-se com as

    caractersticas estveis e necessrias ao processo assistencial, comportando a

    rea fsica, recursos humanos (nmero, tipo, distribuio e qualificao),

    recursos materiais e financeiros, sistemas de informao e instrumentos

    normativos tcnico-administrativos, apoio poltico e condies organizacionais

    (PAGANINI, 1993).

    O item Processo representa a prestao da assistncia conforme

    padres tcnico-cientficos, estabelecidos e aceitos na rea cientfica sobre

    dado assunto e a utilizao dos recursos nos seus aspectos quanti-qualitativos.

    Abrange a identificao de problemas, mtodos diagnsticos e cuidados

    prestados (PAGANINI, 1993).

    O item Resultados abrange as consequncias das atividades realizadas

    nos servios de sade, ou pelo profissional, como as mudanas identificadas

    no estado de sade dos pacientes, mudanas relacionadas a conhecimentos e

    comportamentos, e tambm a satisfao do usurio e do funcionrio envolvidos

  • 35

    no processo. Sendo assim, com a avaliao dos resultados gerados pela

    assistncia prestada, busca-se a interveno na promoo de mudanas e

    melhoria da qualidade dos servios (PAGANINI, 1993).

    Diante disso, entende-se que a avaliao s vivel quando existe uma

    relao de dependncia entre estrutura, processo e resultado, uma vez que

    uma boa estrutura eleva a possibilidade de um bom processo e um bom

    processo viabiliza um bom resultado.

    Donabedian (1990) demonstra que a melhor maneira de se fazer uma

    avaliao da qualidade pelos indicadores representativos das trs categorias

    que englobem a estrutura, o processo e o resultado que permite, ao final,

    estabelecer o nvel de qualidade alcanado, os problemas e as falhas

    ocorridos, implicando na busca de estratgias para correo e melhoria dos

    aspectos no satisfatrios. Atualmente, a satisfao dos usurios de servios

    de sade vem se tornando cada vez mais o reflexo de um indicador da

    qualidade da ateno (MENDONA; GUERRA, 2007).

    indispensvel que a avaliao tenha um crculo contnuo com as

    seguintes etapas: entendimento da misso do servio no sistema de sade,

    estabelecimento dos objetivos da avaliao, escolha das dimenses a serem

    avaliadas, construo de critrios, padres e indicadores; desenho do estudo

    de avaliao; procedimentos de avaliao; identificao dos problemas e

    falhas, propostas de mudana; execuo das aes de correo e reavaliao.

    O processo se reinicia indefinidamente em um crculo contnuo (CAMPOS,

    2005).

    Para que se tenha qualidade nos servios da nutrio enteral e na oferta

    das frmulas infantis, indispensvel que as aes sejam planificadas, de

    forma sistemtica e racional, para que os objetivos determinados sejam

    atendidos, face aos recursos existentes. A essncia da planificao antecipar

    e prever o futuro, relacionar os meios com os fins e construir um esquema que

    oriente a ao (CUNHA, 2008).

    Na administrao da nutrio enteral e da frmula infantil, alm da

    necessidade de se avaliar cada paciente, observando seu estado nutricional e

    a gravidade de seu problema, faz-se necessrio planejar o procedimento para

    a preparao desses alimentos para que a terapia nutricional seja efetiva

    (ASSIS et al., 2010). importante garantir que o paciente receba o volume e o

  • 36

    aporte energtico adequados (CAMPANELLA et al., 2008), assim como

    fundamental garantir a oferta de um alimento seguro sob o aspecto

    microbiolgico.

  • 37

    3 MATERIAIS E MTODOS

    Este projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa em Seres

    Humanos da Secretaria de Estado de Sade do Distrito Federal

    CEP/SES/DF, conforme protocolo n 127/2012 (ANEXO A).

    O Nutricionista responsvel por cada Servio de Nutrio e Diettica das

    amostras de dietas enterais e frmulas infantis foi esclarecido sobre o objetivo

    da pesquisa e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE,

    assim como o manipulador. (APNDICE A).

    3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

    Estudo observacional, descritivo, prospectivo, com variveis

    quantitativas e qualitativas. um estudo observacional porque conduzido

    sem interferncia do investigador, que apenas observa e mede o objeto de

    estudo, avaliando se h associao entre um determinado fator e um resultado.

    Os elementos da amostra no so designados por processo aleatrio,

    classificados no incio da pesquisa. Estudo descritivo por ter, unicamente, o

    objetivo de descrever a ocorrncia de um evento, segundo diversas exposies

    ou caractersticas, local e tempo.

    quantitativo uma vez que usa da quantificao, tanto na coleta quanto

    no tratamento das informaes. Os dados podem ser mensurados em

    nmeros, classificados e analisados, e passveis de anlise estatstica. Uso de

    variveis discretas com caractersticas mensurveis que podem assumir um

    nmero finito ou infinito contvel de valores, de variveis categricas, por meio

    de caractersticas que representam uma classificao dos elementos, sendo

    elas nominais (contaminada/ausente de contaminao) ou ordinais (meses de

    observao: janeiro, fevereiro, etc.) e de variveis dependentes, uma vez que

    sero apenas medidas ou registradas. Pesquisa prospectiva porque os fatos

    so acompanhados ao longo do tempo e objetiva determinar a incidncia de

    condies adversas sade e investigar determinantes dessas condies

    (COSTA; BARRETO, 2003).

  • 38

    3.2 AMOSTRA

    As amostras foram constitudas por produtos industrializados para NE e

    FI preparados nos respectivos Servios de Nutrio e Diettica de todas as

    unidades hospitalares pertencentes SES/DF, composta por 14 unidades

    hospitalares, doravante denominadas H1, H2, H3, H4, H5, H6, H7, H8, H9,

    H10, H11, H12, H13 e H14. Dessas, seis unidades oferecem procedimentos de

    alta complexidade4: H1, H2, H3, H8, H9 e H10. Dentre as unidades

    especializadas esto H1 e H2. Pacientes oncolgicos e que necessitam de

    cuidados paliativos so atendidos no H1. Atendimentos de alta complexidade

    para todas as especialidades mdicas, como cirurgia oncolgica, radioterapia e

    quimioterapia, so encaminhados para o H2, que a mais complexa estrutura

    terciria de atendimento em sade no SUS do Distrito Federal.

    As amostras foram preparadas e analisadas, mensalmente, conforme

    cronograma estabelecido pela empresa responsvel pela realizao das

    anlises microbiolgicas. Cada amostra de NE e FI foi composta por uma

    alquota de 200 ml da frmula selecionada pelo Servio de Nutrio e Diettica,

    que foi envasada em frascos de dieta, calculada com base na padronizao da

    frmula. Tal padronizao foi definida pela Gerncia de Nutrio/SES/DF com

    base nas informaes padronizadas no Manual de BPPNE (BRASLIA, 2003) e

    no Manual de Boas Prticas de Preparao de Frmulas Infantis no Lactrio,

    coordenado pela Gerncia de Nutrio da SES/DF (BRASLIA, 2007). Em cada

    hospital, foi realizada, no mnimo, uma coleta de FI e uma de NE. Este estudo

    foi desenvolvido no perodo de 12 meses. O Procedimento Operacional Padro

    (POP) para coleta de amostras, conforme legislao, de responsabilidade do

    laboratrio responsvel pelas anlises microbiolgicas e, consequentemente,

    responsvel pela coleta da NE e FI (ANEXOS B e C).

    Considerando-se o nmero total de hospitais da rede pblica do DF (14),

    o nmero de amostras coletadas mensalmente e o perodo estabelecido para a

    realizao da pesquisa 12 meses, contados a partir de setembro de 2012, o

    nmero de amostras foi igual a 168 para dietas enterais e 168 para frmulas

    4 Alta complexidade - conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta tecnologia e alto custo, com objetivo de propiciar populao acesso a servios qualificados, integrando-os aos demais nveis de ateno sade (ateno bsica e de mdia complexidade) (HAACK et al., 2012).

  • 39

    infantis. Apesar do valor (n) estimado ser igual a 168 para dietas enterais e 168

    para frmulas infantis, foram analisadas neste perodo 227 amostras de NE e

    176 de FI.

    3.2.1 Coleta de amostras de nutrio enteral e frm ulas infantis em

    hospitais sob a Inspeo da Secretaria de Sade do Distrito Federal

    As amostras foram coletadas seguindo critrios da RDC n 275, de 21

    de outubro de 2002 e RCD N 63, de 6 de julho de 2000, segundo o

    Procedimento Operacional Padro POP de Amostragem do laboratrio

    SABINBIOTEC BIOTECNOLOGIA S/A (2012) Segurana alimentar e

    ambiental (ANEXO D), laboratrio responsvel pelas anlises microbiolgicas

    conforme contrato estabelecido entre as empresas terceirizadas e o laboratrio

    SABINBIOTEC para prestao de servio SES/DF.

    A coleta da amostra ocorre aps o envase dos frascos por ser esta a

    etapa final da cadeia produtiva de manipulao e incio da administrao do

    produto ao paciente (Anexos B e C). realizada sem aviso prvio, uma vez ao

    ms, em um nico perodo, com alternncia, vez no turno matutino e vez no

    turno vespertino, para que no haja enviesamento amostral; contudo, todos os

    profissionais so informados de que este procedimento poder ocorrer em

    qualquer momento.

    Os frascos devem ser acondicionados em sacos plsticos rotulados,

    prprios e esterilizados. De acordo com a Resoluo 63 (BRASIL, 2000), as

    amostras so acondicionadas em refrigerao, entre 2 C e 8 C at o

    momento do recolhimento pelo laboratrio. So transportadas em caixas

    trmicas com gelo, nestas mesmas condies de temperatura (BRASIL, 2000).

    3.3 ANLISES MICROBIOLGICAS

    As anlises microbiolgicas realizadas neste estudo se basearam na

    RDC n 63, de 06 de julho de 2000, da ANVISA (BRASIL, 2000) e na RDC n

    12, de 02 de janeiro de 2001, da ANVISA (BRASIL, 2001). Contudo, de acordo

    com contrato estabelecido entre a Secretaria de Estado de Sade (SES) e as

    duas empresas prestadoras do servio de alimentao, foram realizadas as

  • 40

    anlises microbiolgicas para Contagem de micro-organismos mesfilos

    aerbios estritos facultativos, Coliformes totais, Salmonella sp. e Estafilococos

    coagulase positiva (S. aureus) nas amostras coletadas de NE, nas quatorze

    unidades hospitalares (ANEXO E).

    A RDC 63/2000 prev ainda Bacillus cereus em concentrao menor

    que 103 UFC/g; Escherichia coli menor que 3 UFC/g; Listeria monocytogenes

    ausente; Yersinia enterocolitica ausente, e Clostridium perfrigens

    concentrao menor que 103 UFC/g (Quadro 1).

    As anlises de Bacillus cereus, Escherichia coli, Listeria monocytogenes

    e Clostridium perfrigens foram realizadas em apenas uma unidade hospitalar

    (H14), porque a empresa prestadora de servio diferente daquela

    responsvel pelas anlises nos outros treze hospitais, porm o laboratrio que

    realiza as anlises o mesmo (Quadro 1).

    Quadro 1 - Anlises microbiolgicas segundo a RDC n 63, de 06 de julho de 2000, da

    ANVISA (BRASIL, 2000).

    NE (contrato) *H1 H14

    *Contagem de micro-organismos mesfilos aerbios estritos facultativos

    *Coliformes totais

    *Salmonella sp

    *Estafilococos coagulase positiva (S. aureus)

    NE (RDC 63/2000)

    Bacillus cereus, Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Clostridium perfrigens (H14)

    Yersinia enterocolitica (no realizado em nenhuma unidade hospitalar)

    Os contratos das duas empresas terceirizadas abordam anlises

    microbiolgicas diferenciadas, apesar do laboratrio responsvel pelas anlises

    ser o mesmo. No contrato realizado com a empresa responsvel por apenas

    uma unidade hospitalar ficou estabelecida a realizao das anlises de quase

    todos os indicadores microbiolgicos exigidos pela legislao, exceto para a

    Yersinia enterocolitica (Quadro 1). Nas outras treze unidades hospitalares, a

    anlise no realizada para todos os indicadores microbiolgicos, pois na

  • 41

    substituio da empresa prestadora deste servio, ocorrida no ano de 2011,

    por questes financeiras, essas anlises no foram includas no contrato.

    A escolha pela anlise de Estafilococos coagulase positiva se deve ao

    fato de ser a espcie S. aureus a mais importante no gnero Estafilococos, e

    responsvel pelo segundo maior nmero de infeces em seres humanos.

    Esse gnero dividido em dois grandes grupos, com base na capacidade de

    coagulao do plasma. A enzima extracelular mais importante a coagulase. A

    produo de coagulase exclusiva do Staphylococcus aureus. Assim, a

    presena de Estafilococos coagulase positiva sugere a presena de S. aureus.

    O teste de coagulase considerado o mais simples para diferenciar

    organismos potencialmente patognicos; porm, nem todas as cepas

    coagulase positiva produzem toxinas, alm do fato de cepas coagulase

    negativa j terem sido implicadas em surtos (NASCIMENTO, CORBIA,

    NASCIMENTO, 2001).

    Para amostras de frmulas infantis foram realizadas anlises para

    deteco de Salmonella sp., Coliformes Termotolerantes e Totais, Bacillus

    cereus e Estafilococos coagulase positiva (ANEXO E), conforme contrato

    estabelecido entre a SES e as empresas prestadoras do servio de

    alimentao, conforme a legislao (Quadro 2).

    Quadro 2 - Anlises microbiolgicas segundo a RDC n 12, de 02 de janeiro de 2001,

    da ANVISA (BRASIL, 2001).

    FI (contrato e RDC 12/2001) *H1 H14

    *Salmonella sp

    *Coliformes Termotolerantes

    *Coliformes Totais

    *Bacillus cereus

    *Estafilococos coagulase positiva

    Os mtodos empregados para realizao dessas anlises foram

    preconizados pela RDC 63/2000 (Quadro 3) e pela RDC 12/2001, conforme

    Quadros 4, 5 e 6, e pelo contrato estabelecido. A contagem de micro-

  • 42

    organismos foi expressa como unidades formadoras de colnias (UFC) ou

    nmero mais provvel (NMP) por mililitro (BRASIL, 2000) (ANEXO E).

    3.4 AVALIAO DA ESTRUTURA E DO PROCESSO DE

    ELABORAO DA NUTRIO ENTERAL E DAS FRMULAS

    INFANTIS

    Para verificar as condies operacionais da produo de NE e de FI foi

    aplicada a Ferramenta 2: Preparao da NE (CENICCOLA, ARAJO,

    AKUTSU, 2014), composta por 119 itens. Considerando que na maior parte

    das unidades hospitalares, tanto a NE como a FI so produzidas na mesma

    rea, tendo como diferencial apenas o horrio de produo, esta ferramenta foi

    adaptada a tais condies e passou a ter 72 itens de verificao. Os itens de

    verificao tratam da identificao da empresa, rea fsica, recursos humanos,

    gua, prescrio da nutrio enteral, armazenamento, preparao, limpeza e

    higienizao, vestirio, conservao e transporte, controle de qualidade e

    garantia de qualidade. Tais condies esto representadas como Blocos e

    podem ser analisadas individualmente ou em conjunto. Assim, a NE e FI so

    avaliadas da mesma maneira dentro dos blocos.

    Os demais itens (n= 47), referentes aos blocos rea Fsica, Recursos

    Humanos, gua e Prescrio da Nutrio Enteral, no se aplicam esta

    pesquisa e por isso no foram considerados.

    Neste trabalho, considerou-se que a Estrutura se refere aos blocos

    Armazenamento e Vestirios, que contemplam 19 itens de verificao. O

    Processo inclui os blocos Preparao, Limpeza, Higienizao, Conservao e

    Transporte e conta com 32 itens de verificao. O Resultado contempla 21

    itens de verificao e envolve os blocos de Controle da Qualidade e Garantia

    da Qualidade.

    Para cada afirmao dos respectivos Blocos, a resposta deve ser dada

    seguindo a escala tipo Likert de 5 pontos (1 5), segundo nvel de

    concordncia (ANEXO F). A interpretao da escala Likert representada pela

    seguinte equivalncia: 1 Discordo totalmente, 2 Discordo parcialmente, 3

    Indiferente, 4 Concordo parcialmente, 5 Concordo totalmente.

  • 43

    Quadro 3 Parmetros microbiolgicos e referncias utilizadas nas anlises das amostras de NE coletadas nos Servios de Nutrio e

    Diettica dos hospitais da Secretaria de Sade do DF-Braslia.

    Anlises Valor Mximo Permitido Ato Legal Metodolog ia

    Micro-organismos Mesfilos Aerbios Estritos e Facultativos

    103 UFC/g

    Coliformes Totais (a 35 C) 3 UFC/g

    Salmonella sp. Ausncia/25g

    Estafilococos coagulase positiva (Staphylococcus aureus) 3 UFC/g

    Resoluo - RDC n 63, de 6 de julho de 2000 Regulamento tcnico para a terapia de nutrio enteral

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Secretaria de Defesa. Agropecuria. Instruo Normativa n 62, de 26 de agosto de 2003. Mtodos Analticos Oficiais para Anlises Microbiolgicas para Controle de Produtos de Origem Animal e gua. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 18 set. 2003, seo 1, p. 14-51.

    Fonte : Adaptado de SABINBIOTEC BIOTECNOLOGIA S/A (2012).

    Quadro 4 Parmetros microbiolgicos e referncias utilizadas nas anlises das amostras de FI (crianas acima de 1 ano) coletadas nos

    Servios de Nutrio e Diettica dos hospitais da Secretaria de Sade do DF-Braslia.

    Anlises Valor Mxim o Permitido Ato Legal Metodologia

    Coliformes Totais (a 35 C)

    20 UFC/g ou ml

    Coliformes Termotolerantes (a 45 C) 1 UFC/g ou ml

    Estafilococos coagulase positiva 50 UFC/g ou ml

    Bacillus cereus

    Salmonella sp.

    500 UFC/g ou ml

    Ausncia/25g ou ml

    Resoluo RDC n 12, de 02 de janeiro de 2001, da ANVISA.

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Secretaria de Defesa. Agropecuria. Instruo Normativa n 62, de 26 de agosto de 2003. Mtodos Analticos Oficiais para Anlises Microbiolgicas para Controle de Produtos de Origem Animal e gua. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 18 set. 2003, seo 1, p. 14-51

    Fonte : Adaptado de SABINBIOTEC BIOTECNOLOGIA S/A (2012).

  • 44

    Quadro 5 - Parmetros microbiolgicos e referncias utilizadas nas anlises das amostras de FI (crianas at 1 ano) coletadas nos Servios

    de Nutrio e Diettica dos hospitais da Secretaria de Sade do DF-Braslia.

    Anlises Valor Mximo Pe rmitido Ato Legal Metodologia

    Coliformes Totais (a 35 C)

    10 UFC/g ou ml

    Coliformes Termotolerantes (a 45 C) Ausncia /g ou ml

    Estafilococos coagulase positiva Ausncia /g ou ml

    Bacillus cereus

    Salmonella sp.

    10 UFC/g ou ml

    Ausncia/25g ou ml

    Resoluo RDC n 12, de

    02 de janeiro de 2001, da ANVISA.

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Secretaria de Defesa. Agropecuria. Instruo Normativa n 62, de 26 de agosto de 2003. Mtodos Analticos Oficiais para Anlises Microbiolgicas para Controle de Produtos de Origem Animal e gua. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 18 set. 2003, seo 1, p. 14-51.

    Fonte : Adaptado de SABINBIOTEC BIOTECNOLOGIA S/A (2012).

    Quadro 6 - Parmetros microbiolgicos e referncias utilizadas nas anlises das amostras de FI (crianas prematuras) coletadas nos Servios

    de Nutrio e Diettica dos hospitais da Secretaria de Sade do DF-Braslia.

    Anlises Valor Mximo Permitido Ato Legal Metodolog ia

    Coliformes Totais (a 35 C)

    10 UFC/g ou ml

    Coliformes Termotolerantes (a 45 C) Ausncia /g ou ml

    Estafilococos coagulase positiva Ausncia /g ou ml

    Bacillus cereus Salmonella sp.

    50 UFC/g ou ml Ausncia/25g ou ml

    Resoluo RDC n 12, de 02 de janeiro de 2001, da

    ANVISA.

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Secretaria de Defesa. Agropecuria. Instruo Normativa n 62, de 26 de agosto de 2003. Mtodos Analticos Oficiais para Anlises Microbiolgicas para Controle de Produtos de Origem Animal e gua. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 18 set. 2003, seo 1, p. 14-51.

    Fonte : Adaptado de SABINBIOTEC BIOTECNOLOGIA S/A (2012).

  • 45

    Para avaliar o percentual de atendimento de cada unidade legislao

    vigente, adotou-se como referncia para esta estimativa as seguintes

    condies: as respostas dadas segundo a interpretao da escala Likert (0 - 4)

    foram agrupadas nos seguintes intervalos 0 - 1, 2, 3 - 4, que corresponderam,

    respectivamente, ao no atendimento legislao vigente, falta de

    informao e ao atendimento legislao vigente. Considerou-se que os

    Servios de Nutrio e Diettica atenderam legislao vigente quando

    tiveram um nvel de concordncia 75% para as respostas correspondentes a

    este quesito (CENICCOLA, ARAJO, AKUTSU, 2014).

    3.5 ANLISE DE AES CORRETIVAS PROPOSTAS PELAS

    EMPRESAS RESPONSVEIS PELA PRODUO DAS DIETAS ENTERAIS E

    FRMULAS INFANTIS

    A anlise de aes corretivas propostas para minimizar a presena de

    riscos biolgicos foi realizada por meio de registros documentados elaborados

    pela equipe responsvel pela produo da NE e FI, em cada unidade

    hospitalar. Foram considerados todos os relatrios mensais.

    3.6 AVALIAO DA QUALIDADE SEGUNDO MODELO UNIFICADO

    DONABEDIAN

    Para avaliar a qualidade da produo de NE e de FI, os dados obtidos

    foram analisados a partir do modelo unificado de Donabedian (1990), adaptado

    para esta situao (Quadro 7).

    3.7 TIPO DE TRATAMENTO DAS INFORMAES

    Os dados apresentados nos laudos das anlises microbiolgicas foram

    organizados e analisados quanto sua adequao percentual em relao aos

    padres microbiolgicos estabelecidos pela legislao vigente,- NE/FI 2013, no

    programa Microsoft Excel (verso 2007), onde as variveis foram tratadas a

    partir de estatstica descritiva. A significncia estatstica aceita foi de 95%, com

    erro amostral de 2%.

  • 46

    Quadro 7 - Modelo unificado de Avedis Donabedian para avaliao da qualidade de

    servios de sade, adaptado para produo de dietas enterais e frmulas infantis.

    Estrutura Processo Resultado

    Condies fsicas do processo de preparo da NE e da FI.

    Ferramenta 2 rea fsica

    Preparo da NE e da FI.

    Ferramenta 2 Preparao da NE e da FI

    Ausncia do risco biolgico.

    Ferramenta 2 Controle e garantia da qualidade

    Indicador

    Adequao da rea fsica para o Armazenamento e vestirio, segundo a legislao com um nvel de concordncia 75% para as respostas correspondentes a este quesito conforme Ceniccola, Arajo e Akutsu (2014).

    Indicadores

    Anlises microbiolgicas

    Adequao das condies de Preparao, Limpeza, Higienizao, Conservao e Transporte, segundo a legislao com um nvel de concordncia 75% para as respostas correspondentes a este quesito conforme Ceniccola, Arajo e Akutsu (2014).

    Registros de aes corretivas para possveis situaes de risco.

    Indicador

    Ausncia do risco biolgico

    Fonte : Adaptado de Donabedian (1990).

  • 47

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 CONDIES OPERACIONAIS ESTRUTURA E PRODUO DE

    DIETAS ENTERAIS E FRMULAS INFANTIS

    No Modelo Unificado de Donabedian, com adaptao para este estudo,

    a categoria Estrutura se refere s condies operacionais do processo de

    preparo da NE e da FI e inclui as condies dos locais de Armazenamento de

    produtos e afins, assim como dos Vestirios para os manipuladores. Sua

    avaliao foi realizada pela Ferramenta 2 (CENNICOLA, ARAJO, AKUTSU,

    2014) e tem como indicador a adequao destas reas legislao vigente

    (Tabela 1).

    Para avaliao da qualidade nos servios de sade imprescindvel

    considerar uma srie de variveis, monitorar indicadores e responder a

    questes como: onde, com o qu, como, o qu, quando, e por qu se pratica

    determinada ao. Assim, possvel identificar oportunidades de melhorias nos

    servios e de mudanas positivas com o propsito de se obter a garantia da

    qualidade (MALIK, 1996).

    Donabedian (1990), Mendona e Guerra (2007) consideram que a

    melhor maneira de se fazer uma avaliao da qualidade por meio de

    indicadores representativos das trs categorias Estrutura, Processo e

    Resultado, o que permite estabelecer o nvel de qualidade alcanado,

    identificar problemas e buscar estratgias para correo e melhoria dos

    aspectos no satisfatrios.

    Apesar de Paganini (1993) estabelecer que o item Estrutura relaciona-se

    com as caractersticas estveis e necessrias ao processo assistencial,

    comportando a rea fsica, recursos humanos (nmero, tipo, distribuio e

    qualificao), recursos materiais e financeiros, sistemas de informao e

    instrumentos normativos tcnico-administrativos, apoio poltico e condies

    organizacionais, nesta pesquisa limitou-se o item Estrutura a aspectos

    objetivos dos itens de verificao dos blocos Armazenamento e Vestirio

    (Antessala) na rea de manipulao da NE e da FI, por estes ambientes

    estarem contidos em um espao especfico da unidade hospitalar e assim ser a

    avaliao global hospitalar uma questo de maior grau de complexidade.

  • 48

    Os resultados obtidos neste estudo esto dispostos na Tabela 1.

    Considerando-se um nvel de concordncia 75% para as respostas

    correspondentes ao atendimento da legislao vigente, verificou-se, para essa

    categoria, que os dados indicam que o Bloco 2 Armazenamento de produtos

    para NE e FI, atendeu aos requisitos legais em 92,95% (n = 13) dos Servios

    de Nutrio e Diettica pesquisados. Contudo, para o Bloco 5 Vestirio

    (Antessala), observou-se que apenas 57,14% (n = 8) destes apresentaram um

    nvel de concordncia 75%; 42,86% (n = 6) tiveram um nvel de concordncia

    < 75%.

    Com relao ao Bloco Armazenamento de produtos, que ainda h

    unidades hospitalares que no dispem de POPs disponveis para o adequado

    armazenamento dos produtos. A ausncia de vestirio exclusivo no Servio de

    Nutrio e Diettica, na maioria das unidades hospitalares pesquisadas, pode

    facilitar a contaminao, uma vez que no se encontram na rea destinada a

    esse Servio, e, sim, nas suas proximidades, propiciando uma condio

    favorvel contaminao microbiana, pois os manipuladores passam por

    diferentes ambientes, salubres ou no, podem ter contato com outras pessoas,

    dividem o vestirio com outras equipes do hospital, at chegarem ao Servio

    especfico.

    Alm disso, os POPs para paramentao e higienizao das mos no

    esto disponveis e tampouco visveis na maior parte dos vestirios das

    unidades hospitalares. As pias existentes nos vestirios no possuem pedal,

    em sua maioria. Em alguns casos, no existem sanitrios no local, o que

    propicia um fluxo maior de entrada e sada no Servio de Nutrio e Diettica,

    e quando, do retorno desses manipuladoras possvel que a paramentao e

    a higienizao no ocorrem adequadamente. O