qualidade e valorização do camarão sete-barbas ... · tese apresentada ao programa de...

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Qualidade e valorização do camarão sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri, Heller, 1862): aspectos sensoriais e vida útil em gelo Érika Fabiane Furlan São Paulo 2013 Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Nutrição em Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências. Área de Concentração: Nutrição em Saúde Pública Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth A.F.S.Torres

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Qualidade e valorizao do camaro sete-barbas

(Xiphopenaeus kroyeri, Heller, 1862): aspectos

sensoriais e vida til em gelo

rika Fabiane Furlan

So Paulo

2013

Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao em Nutrio em Sade Pblica da Faculdade de

Sade Pblica da Universidade de So Paulo para

obteno do ttulo de Doutor em Cincias.

rea de Concentrao: Nutrio em Sade Pblica

Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth A.F.S.Torres

expressamente proibida a comercializao deste documento, tanto na sua forma

impressa como eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida

exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, desde que na reproduo figure a

identificao do autor, do ttulo, instituio e ano da tese.

No h escola que se iguale a um lar decente, nem professores que se igualem a pais honestos e virtuosos (Mahatma Gandhi).

Aos meus pais, Itacyr e

Tereza, pelo carinho,

credibilidade e principalmente,

pela educao e valores

proporcionados, que me levam a

qualquer lugar.

Aos meus sobrinhos Pedro,

Jordano, Julia e Nicoly pelo

carinho.

Dedico

AGRADECIMENTOS

Primeiramente Deus, pelas belas oportunidades que coloca em meu caminho.

colega Rbia Yuri Tomita, pela orientao e dedicao na realizao do projeto de

pesquisa Processo FAPESP 10/06525-0, que deu origem a esta Tese e ainda, pela amizade, muito

obrigada R!!

Karoline Barbosa, Eduardo Oliveira, Bruno Hara, Marina Carrato, Ana Ramos, Lilia

Evans, Thais Farina e Andr Balbino, pela dedicao, aprendizado e carinho.

minha orientadora professora Dra Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva Torres por me

receber de braos abertos nesta renomada instituio que a FSP, por acreditar no meu potencial, pelo

incentivo nas minhas buscas.

Ao Instituto de Pesca/Apta/SAA por toda estrutura disponibilizada para a realizao

satisfatria desta pesquisa.

A minha equipe de julgadores Gasto Bastos, Luiz Miguel, Ana Ramos, Rbia Tomita,

Camila Ataliba, Accio Toms, Juliana Kolling, Natlia, Willian Francisco e Thais Farina pela

dedicao incansvel.

Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo e seus gentis funcionrios

sempre dispostos a auxiliar, em especial Vnia e Alessandra da Seo de PG, Rosana Soares do

Laboratrio de Nutrio, Mrcia e Matheus do comit de tica, Joo do financeiro, entre outros que

me auxiliaram neste meu percurso.

Aos colegas da Estatstica Pesqueira do Instituto de Pesca, em especial Marcus Carneiro,

Camila Ataliba e coletores da Baixada Santista, por toda colaborao na definio e viabilizao das

coletas dos camares e ainda pelas conversas amistosas.

Ao Dr. Evandro Rodrigues pelas elucidaes quanto a espcie alvo do estudo.

Fundao de Apoio Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESP pelo apoio financeiro ao

projeto FAPESP 10/06525-0

Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior - CAPES pela bolsa

concedida para a realizao de estgio de doutoramento no exterior.

Dra. Leonor Nunes do IPIMAR/INRB, I.P. Lisboa -PT pelo convite a desfrutar do

aprendizado junto a sua experiente equipe da Unidade de Investigao de Valorizao dos Produtos da

Pesca e Aquicultura, muito obrigada pela oportunidade!

Aos pesquisadores, tcnicos e bolsistas do IPIMAR, Tereza Gama Pereira, Suzana

Gonalves, Margarida Muro, Manuel, Marta S, Snia Pedro, Dra. Fernanda, Lena Loureno, Lena

Silva, Cristina Nunes, Tereza Moita, Narcisa Bandarra, entre outros simpticos colegas, pelo intenso

aprendizado em Qualidade do Pescado, bem como, em culinria e cultura portuguesa. Em especial

Dra. Amparo Gonalves, responsvel pelo meu treinamento no QIM-Eurofish, pesquisadora generosa

e de excelncia, cujos conhecimentos me trouxeram motivao que muito me marcaram na realizao

deste doutorado. Minha profunda gratido pela amizade, incentivo contnuo e apoio incansvel.

As doutoras Geni Sampaio, Telma Faraldo e Tatiana Saldanha pelos ensinamentos, apoio e

amizade.

s colegas da Unidade Laboratorial de Tecnologia do Pescado, do Instituto de Pesca,

Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva, Thais Moron Machado, Marildes Josefina Lemos Neto, pelo

estmulo, disposio e colaborao nas mais diferenciadas atividades.

A prof. Dra. Dbora Bastos pelas conversas sempre amigveis e produtivas.

Aos colegas do Instituto Adolfo Lutz Dr. Mrio Tavares e Estevo Passos pelo apoio nas

anlises de clostrdios.

As colegas e amigas da ESALQ/USP Juliana Galvo, Luciana Kimie, Ligianne Shirahigue,

Tatiana Pacheco e Lia Ferraz por sempre poder contar com vocs para todas as ??????? profissionais,

intelectuais ou no!rs

Carmem Pestana pelo apoio constante com as questes burocrticas, pela sempre

disposio em ajudar e pelo sorriso involuntrio.

minha famlia em Portugal: Maurcio, Alessandra, Miguel, Dbora, Toninho, Mnica e

Maria pelos momentos incrveis que passamos juntos, pelo cuidado, carinho e longas conversas

regadas a um bom vinho portugus.

Aos meus amigos de todas as horas Priscila Rocha, Maria Augusta, Mariana Daher, Karin

Forti, Gica Boni, Eduardo Leal, Ana Paula Galdino e Karin Borges por todo o apoio, torcida e por

aquecerem meu corao.

minha famlia querida por todo o apoio e compreenso de sempre!!

Furlan F. Qualidade e valorizao do camaro sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri,

Heller, 1862): aspectos sensoriais e vida til em gelo [Tese de Doutorado]. So

Paulo: Faculdade de Sade Pblica da USP; 2012

Resumo

Introduo: Os crustceos ocupam o quarto lugar em volume de captura no mundo e

o seu elevado valor comercial, os tornam relevantes em relao ao montante

financeiro gerado pela atividade pesqueira. Atualmente, a garantia da qualidade

requisito para a permanncia no mercado, sendo exigida dentro de especificaes

previamente estabelecidas, tanto pelas autoridades sanitrias brasileiras como dos

pases para os quais o pescado exportado. Objetivo: Caracterizar a qualidade dos

camares sete-barbas desembarcados na regio Metropolitana da Baixada Santista,

visando a segurana alimentar e a sustentabilidade da cadeia produtiva e, a partir do

mtodo do ndice de qualidade (QIM), desenvolver um protocolo de avaliao do

frescor para o camaro marinho Xiphopenaeu kroyeri inteiro armazenado em gelo.

Mtodos: Aps o levantamento dos principais pontos de desembarque do camaro

sete-barbas na regio Metropolitana da Baixada Santista, SP., considerando a

produo e frota pesqueira; realizou-se a caracterizao da qualidade do camaro

desembarcado na regio pela determinao da biometria e dos parmetros fsicos,

qumicos e microbiolgicos regulados (pH, bases nitrogenadas volteis totais

(BNVT), trimetilamina (TMA), residual de dixido de enxofre, mercrio e pesquisa

de Staphylococcus aureus e Salmonella spp). Foi realizada a determinao

instrumental de cor e textura; a quantificao das substncias reativas ao cido

tiobarbitrico (TBARS), as contagens de coliformes totais e termotolerantes, de

clostrdios sulfito redutores e testes sensoriais de aceitao. Para otimizar o protocolo

de avaliao do frescor do camaro X. kroyeri armazenado em gelo, com e sem o uso

de sulfito, foram conduzidos ensaios de vida til empregando-se as anlises fsica e

qumicas (pH, BNVT, TMA, TBARS e aminas biognicas), microbiolgicas

(S.aureus, Salmonella spp, coliformes totais, bolores e leveduras, contagens padro

de bactrias heterotrficas aerbias psicrotrficas e mesfilas) e testes sensoriais,

onde se utilizou o protocolo elaborado. Resultados: A anlise global dos parmetros

de qualidade de 20 desembarques mostra que os camares apresentavam-se em

desacordo com os limites propostos pelo Regulamento de Inspeo Industrial e

Sanitria de Produtos de Origem Animal, embora atendessem aos padres

microbiolgicos do Ministrio da Sade e, em alguns casos, foram qualificados

sensorialmente como muito bons. Indicando a necessidade de adequao dos

limites estipulados para os parmetros fsico e qumicos nacionais vigentes para o

consumo do camaro sete-barbas. Os padres de colorao para a espcie parecem

bem promissores, mas devem ser mais estudados, frente a gama de fatores que

afetam a mesma. A rejeio sensorial do produto sem sulfito ocorreu primeiro, pelo

escurecimento do cefalotrax do camaro (melanose) no 2 dia de armazenamento

em gelo, tanto para o produto cru como para o cozido. A eficincia do uso de

sulfitos, em soluo a 1,25%, na conservao do camaro foi indicada pela rejeio

sensorial que ocorreu com 3 ou 4 dias e foi determinada pela presena de odores no

caractersticos (amoniacal, cido e/ou sulfdrico) no camaro cozido, os quais

apresentaram correlao com o perodo de armazenamento em gelo (r= 0,70; p <

0,05). O limite residual de dixido de enxofre em camares provenientes de pescas

longas (3 a 10 dias) apresentou-se sempre acima do limite permitido pela Agncia

Nacional da Vigilncia Sanitria, confirmando que o uso do metabissulfito de sdio

para retardar o aparecimento da melanose, deve ser cauteloso, com vistas a no

causar prejuzos sade do consumidor. A regresso linear dos parmetros sensoriais

propostos no protocolo QIM (cor, odor, melanose, aderncia do cefalotrax ao corpo

e aderncia da carapaa) mostrou a correlao dos mesmos com o perodo de

estocagem em gelo, tanto para os camares do controle, como para os tratados com

sulfito. Concluso: Com vistas classificao de um lote de camaro sete-barbas

como aceitvel para o consumo so sugeridos os seguintes limites: pH 7,7; BNVT

35 mg.100 g-1

de msculo; firmeza muscular (entre os 2 primeiros segmentos da

cauda) > 6 N, sendo desejvel valores superiores para o camaro recm

desembarcado. H necessidade de melhorias nas prticas a bordo das embarcaes

pesqueiras. O protocolo QIM para o camaro X.kroyeri inteiro e conservado em gelo,

consiste de 5 parmetros e seus descritores, os quais somam 11 pontos de demrito e

pode ser utilizado em camares tratados ou no com sulfitos.

Descritores: Crustceos, Sete-barbas, Segurana do alimento, ndice de Qualidade,

Sulfitos.

Furlan F. Quality and value added for seabob shrimp (Xiphopenaeus kroyeri,

Heller, 1862): sensory aspects and shelf life on ice [Thesis]. Sao Paulo (BR): School

of Public Health of University of So Paulo; 2012

Abstract

Introduction: Crustaceans occupy the fourth place in world capture volume and

their high economic value makes them relevant fishery activity in the market share.

Nowadays, quality assurance is a mandatory requirement to be kept in market, due

specific established requirements from national sanitary authorities or from imported

countries. Objectives: Characterize the quality of the seabob-shrimp landed in

Santos, SP (BR), to food security and sustainability of supply chain and, using the

quality index method (QIM) to develop a protocol for freshness evaluation of Raw

whole Xiphopenaeus kroyeri shrimp stored on ice. Methods: After the assessment of

the main landing points of the seabob-shrimp in the metropolitan area of Santos, SP

(BR), considering the production and shipping fleet; the characterization of the

shrimp quality landed in the region was carried out by biometry determination and

physical, chemical and regulated microbiological parameters (pH, total volatile basic

nitrogen (TVB-N), trimethylamine (TMA), sulfur dioxide residue, mercury, S.

aureus and Salmonella spp,). Instrumental determination of the color and texture,

substances thiobarbituric acid reactive quantification (TBARS), total and fecal

coliforms counts, Clostridium sulfide reductors and sensory acceptance tests were

also performed. To optimize the protocol for the evaluation of ice stored X. kroyeri

shrimp freshness, treated or not with sulfite, trials of shelf life were conducted using

physical and chemicals analyzes (pH, TVB-N, TMA, TBARS and biogenic amines),

microbiological (S.aureus, Salmonella spp, total coliforms counts, molds and yeasts,

Mesophilic and Psychrotrophic Bacteria) and sensory analysis, where established

protocol was used. Results: Overall analysis of the quality parameters of 20 landings

has shown that the shrimps were in disagreement with limits proposed by the

Regulation of Industrial and Sanitary Inspection of Animal Products, although the

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2663181/

microbiological standards requirements of the Ministry of Health were attended and,

in some cases, were sensorially qualified as "very good". This implies the necessity

of physical and chemical parameters adequacy for the current national seabob-shrimp

consumption. The staining patterns for the species look very promising, but should

be further studied, since the great range of factors that affect it. The sensory rejection

of products without sulfite occurred first with a darkening of the shrimp carapace

(melanosis) in the 2nd day of storage on ice, as much to the crude product as cooked

one. The efficiency of the sulphites, in solution at 1.25%, in the seabob-shrimp

conservation was indicated by the sensory rejection that occurred in 3 or 4 days and

was determined by the presence of uncharacteristic odors (ammonia, acid and/ or

hydrogen sulfide) in cooked shrimp, that showed correlation with ice storage period

(r = 0.70, p < 0.05). Results of residual sulfur dioxide in shrimps from long fisheries

(3 to 10 days) were always above the limit allowed by ANVISA, which confirms that

the usage of sodium metabisulfite to delay the onset of melanosis should be cautious

to avoid consumer health. The linear regression of the parameters proposed in the

protocol QIM (color, odor, melanosis, adhesion of the cephalothorax and of the

carapace to the body) showed a correlation between the period of storage on ice for

both, control shrimps and treated with sulphite. Conclusion: In order to classify a

batch of seabob-shrimp as acceptable for consumption the following limits are

suggested: pH 7.7; TVB-N 35 mg.100 g-1 of muscle; muscle firmness (between

the first and second segment of tail) > 6 N, with higher values for freshly landed

shrimp. It is necessary to improve practices onboard of fishing vessels. The Quality

Index protocol for shrimp X. kroyeri "in natura" consists of five parameters and their

descriptors, with total 11 demerit points and can be used in shrimps treated or not

with sulfite.

Key-words: Shellfish, Sea-bob, Food safety, Quality Index Method, Sulfite.

NDICE

1. INTRODUO ................................................................................................................. 1

1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 2

2. CAPTULO 1 REVISO DE LITERATURA ............................................................... 4

2.1 PANORAMA DA PRODUO DE CAMARES MARINHOS ............................. 4

2.2 O CAMARO Xiphopenaeus kroyeri (Heller, 1862) .................................................. 5

2.3 DIAGNSTICO DO MERCADO DE CAMARES ................................................. 7

2.4 QUALIDADE DOS PRODUTOS PESQUEIROS ...................................................... 8

2.4.1 Padres brasileiros para aferio da qualidade de camares .................................................... 11

2.4.2 Aspecto sensorial do pescado: mtodo do ndice de qualidade ................................................... 13

2.4.3 Aspecto microbiolgico .............................................................................................................. 14

2.4.4 Aspecto fsico ............................................................................................................................. 16

2.4.5 Aspecto qumico ......................................................................................................................... 18

2.5 SEGURANA ALIMENTAR NA CADEIA PRODUTIVA DO PESCADO .......... 20

2.6 MELANOSE EM CAMARES ................................................................................ 22

2.7 VIDA TIL DOS CAMARES ............................................................................... 25

2.8 MANUSCRITOS ....................................................................................................... 27

3. OBJETIVOS .................................................................................................................... 28

3.1 GERAL ...................................................................................................................... 28

3.2. ESPECFICOS .......................................................................................................... 28

4 REFERNCIAS ................................................................................................................ 29

5. CAPTULO 2 - QUALIDADE DO CAMARO SETE-BARBAS (Xiphopenaeus

kroyeri, HELLER, 1862) DESEMBARCADO NA REGIO METROPOLITANA DA

BAIXADA SANTISTA, SP - BRASIL. .............................................................................. 41

5.1 INTRODUO ............................................................................................................. 43

5.2 MATERIAL E MTODOS ........................................................................................... 46

5.2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO .......................................................................... 46

5.2.2 MATRIA-PRIMA ................................................................................................. 48

5.2.3 ANLISES FSICAS, FSICO QUMICA E QUMICAS .................................... 49

5.2.3.1 Biometria ................................................................................................................................ 49

5.2.3.2 Valor do pH ............................................................................................................................ 49

5.2.3.3 Bases Nitrogenadas Volteis Totais (BNVT) ............................................................................ 50

5.2.3.4 Trimetilamina (TMA) .............................................................................................................. 51

5.2.3.5 Substncias reativas ao cido tiobarbitrico (TBARS) ............................................................ 51

5.2.3.6 Teor residual de Dixido de Enxofre (SO2) .............................................................................. 52

5.2.3.7 Determinao instrumental da cor .......................................................................................... 53

5.2.3.8 Determinao instrumental da textura..................................................................................... 54

5.2.3.9 Mercrio (Hg) ......................................................................................................................... 55

5.2.4 ANLISES MICROBIOLGICAS ....................................................................... 55

5.2.4.1 Staphylococcus coagulase positiva .......................................................................................... 55

5.2.4.2 Salmonella sp .......................................................................................................................... 56

5.2.4.3 Coliformes totais e termotolerantes ......................................................................................... 57

5.2.4.4 Clostridium sulfito redutores ................................................................................................... 58

5.2.5 ANLISE SENSORIAL ......................................................................................... 58

5.2.6 ANLISE ESTATSTICA ..................................................................................... 59

5.3 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................... 60

5.3.1 LEVANTAMENTO DOS PRINCIPAIS PONTOS DE DESEMBARQUE DO

CAMARO Xiphopenaeus kroyeri NO ESTADO DE SO PAULO E

DEFINIO DOS PONTOS DE COLETA .................................................................... 60

5.3.2 ANLISES FSICAS, FSICO QUMICA E QUMICAS .................................... 62

5.3.2.1 Biometria ................................................................................................................................ 62

5.3.2.2 Valor de pH ............................................................................................................................. 66

5.3.2.3 Bases nitrogenadas volteis .................................................................................................... 68

5.3.2.4 Substncias reativas ao cido tiobarbitrico ........................................................................... 71

5.3.2.5 Teor residual de dixido de enxofre ......................................................................................... 72

5.3.2.6 Determinao instrumental da cor .......................................................................................... 74

5.3.2.7 Determinao instrumental da textura..................................................................................... 76

5.3.2.8 Mercrio (Hg) ......................................................................................................................... 78

5.3.3 ANLISES MICROBIOLGICAS ....................................................................... 78

5.3.3.1 Staphylococcus coagulase positiva e Salmonella spp ............................................................... 78

5.3.3.2 Coliformes totais e termotolerantes ......................................................................................... 79

5.3.3.3 Clostridium perfringens........................................................................................................... 80

5.3.4 ANLISE SENSORIAL ......................................................................................... 81

5.3.5 ANLISE GLOBAL .............................................................................................. 82

5.4 CONCLUSO ............................................................................................................... 83

6. REFERNCIAS ............................................................................................................... 84

7. CAPTULO 3 - DESENVOLVIMENTO DE PROTOCOLO PARA

OTIMIZAO DA AVALIAO SENSORIAL DO FRESCOR PARA O

CAMARO MARINHO Xiphopenaeus kroyeri ARMAZENADO EM GELO ................. 92

7.1 INTRODUO ............................................................................................................. 95

7.2 MATERIAL E MTODOS ........................................................................................... 97

7.2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO .......................................................................... 97

7.2.2 MATRIA-PRIMA ................................................................................................. 98

7.2.3 ANLISES FSICAS E QUMICAS ..................................................................... 99

7.2.3.1 Determinao Biometria ......................................................................................................... 99

7.2.3.2 Valor do pH .......................................................................................................................... 100

7.2.3.3 Bases Nitrogenadas Volteis Totais (BNVT) .......................................................................... 100

7.2.3.4 Trimetilamina (TMA) ............................................................................................................ 101

7.2.3.5 Aminas Biognicas ................................................................................................................ 102

7.2.4 ANLISES MICROBIOLGICAS ..................................................................... 103

7.2.4.1 Staphylococcus aureus .......................................................................................................... 103

7.2.4.2 Salmonella sp ........................................................................................................................ 104

7.2.4.3 Contagem de coliformes totais e termotolerantes .................................................................. 105

7.2.4.4 Bolores e Leveduras .............................................................................................................. 106

7.2.4.5 Microrganismos aerbios mesfilos ...................................................................................... 106

7.2.4.6 Microrganismos aerbios psicrotrficos ............................................................................... 107

7.2.5 ANLISE SENSORIAL E DESENVOLVIMENTO DO PROTOCOLO

PRELIMINAR ............................................................................................................... 108

7.2.6 VERIFICAO DA VIDA TIL E OTIMIZAO DO PROTOCOLO QIM

PARA O CAMARO MARINHO Xiphopenaeus kroyeri INTEIRO, ESTOCADO

EM GELO ...................................................................................................................... 109

7.2.7 ANLISE ESTATSTICA ................................................................................... 111

7. 3 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................ 112

7.3.1 Valor do pH ........................................................................................................... 112

7.3.2 Bases Nitrogenadas Volteis Totais ...................................................................... 113

7.3.3 Aminas Biognicas ................................................................................................ 115

7.3.4 ANLISES MICROBIOLGICAS ..................................................................... 117

7.3.5 ANLISE SENSORIAL E VERIFICAO DA VIDA TIL DO

CAMARO Xiphopenaeus kroyeri INTEIRO ESTOCADO EM GELO ..................... 118

7.3.6 OTIMIZAO DO PROTOCOLO QIM PARA O CAMARO Xiphopenaeus

kroyeri INTEIRO ARMAZENADO EM GELO ........................................................... 120

7.4 CONCLUSO ............................................................................................................. 124

7.5 CONSIDERAES .................................................................................................... 125

8. REFERNCIAS ............................................................................................................. 126

Anexo 1- Manuscrito ...................................................................................................... 132

Anexo 2 Capa do Livro publicado em novembro/2012 - Captulo 6 Manuscrito 2 . 142

Anexo 3 Ficha da anlise sensorial de aceitao do camaro sete-barbas in natura. . 143

Anexo 4 Ficha de anlise sensorial de camares sete-barbas cozido. ......................... 144

Anexo 5 Parecer do comit de tica ........................................................................... 145

Anexo 6 Primeira pgina do Currculo Lattes da aluna .............................................. 146

Anexo 7 Primeira pgina do Currculo Lattes da orientadora ..................................... 147

Lista de tabelas

Tabela 1. Principais espcies de pescado (t) descarregado na Baixada Santista, SP.,

por municpio, no perodo de janeiro a junho 2011. .................................................. 60

Tabela 2. Comprimento mdio (cm) de camares sete-barbas (X. kroyeri)

desembarcados na regio metropolitana da Baixada Santista, de outubro/2011

fevereiro/2012. ........................................................................................................... 65

Tabela 3. Valores mdios de BNVT, pH, TBARS, residual de SO2, firmeza,

mercrio e aceitao sensorial de camares X.kroyeri desembarcados na regio

Metropolitana da Baixada Santista, de outubro de 2011a fevereiro de 2012. ........... 67

Tabela 4. Coeficiente de correlao da colorao de camares sete-barbas,

determinada pelo CIELab sistem, com os parmetros sensoriais e fsico e qumico,

pH e BNVT (p < 0,01). .............................................................................................. 75

Lista de figuras

Figura 1. Camaro Xiphopenaeus kroyeri Extrado de: IBAMA, (2011). ................ 6

Figura 2. Aspectos da qualidade do pescado. Adaptado de LASFSDTTIR et al.,

(1997). .......................................................................................................................... 9

Figura 3. Fluxograma dos procedimentos para a caracterizao da qualidade do

camaro sete-barbas desembarcado na Baixada Santista, SP - Brasil ....................... 47

Figura 4. Amostras de camaro sete-barbas. ............................................................. 48

Figura 5. Amostra em cpsula preta, colormetro CR-400 e placa de calibrao

(branco). ..................................................................................................................... 54

Figura 6. Ilustrao de um camaro e destaque da regio do corte efetuado para

avaliao da textura. .................................................................................................. 54

Figura 7. Mapa do Estado de So Paulo e abaixo dos municpios da Baixada Santista.

................................................................................................................................... 61

Figura 8. Amostras por municpio (%).

Figura 9. Amostras por tipo de pesca (%). ................................................................ 62

Figura 10. Camaro sete-barbas colhidos na Baixada Santista, SP., por faixas de

comprimento (%). ...................................................................................................... 63

Figura 11. Disperso dos valores mdios de BNVT (mg N.100g-1

) pelo comprimento

(cm). ........................................................................................................................... 64

Figura 12. Colorao de camares sete-barbas inteiros (CIELab system), valores

mdios de L* a* b*. ................................................................................................... 74

Figura 13. Camares sete-barbas com 3 dias de vida til, tratados com sulfito

(esquerda) e sem sulfito (direita). .............................................................................. 75

Figura 14. Procedimentos para a determinao da vida til do camaro sete-barbas e

para desenvolvimento e otimizao do protocolo QIM para avaliao do seu frescor.

................................................................................................................................... 97

Figura 15. Lote de camaro sete-barbas in natura.

Figura 16. Preparo da soluo de sulfito de sdio. .................................................... 98

Figura 17. Protocolo de avaliao do frescor do camaro Xiphopenaeus kroyeri

armazenado em gelo ................................................................................................ 109

Figura 18. Variao dos valores de pH de camares sete-barbas durante

armazenamento em gelo .......................................................................................... 113

Figura 19. Valores de BNVT em camares sete-barbas durante armazenamento em

gelo ........................................................................................................................... 114

Figura 20. Valores mdios do parmetro odor no caracterstico (amoniacal, cido

e/ou sulfdrico) detectado no camaro sete-barbas com sulfito, durante o

armazenamento em gelo. ......................................................................................... 119

Figura 21. Regresso linear entre os valores mdios dos parmetros sensoriais

(escore) e o perodo de armazenamento em gelo do camaro sete-barbas sem sulfito,

referentes a 3 ensaios independentes (fevereiro/2012, julho/2012 e agosto/2012,

n=3) . ....................................................................................................................... 121

Figura 22. Regresso linear entre os valores mdios dos parmetros sensoriais

(escore) e o perodo de armazenamento em gelo do camaro sete-barbas tratado com

sulfito (1,25%), referentes a 3 ensaios independentes (fevereiro/2012, julho/2012 e

agosto/2012, n=3) . ................................................................................................ 122

Figura 23. Evoluo do ndice de Qualidade do camaro sete-barbas inteiro durante o

armazenamento em gelo (22C), baseado em trs ensaios de vida til

independentes. .......................................................................................................... 123

Lista de abreviaturas

ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas

ADP Adenosina Difosfato

AM - (Di) Aldedo Malnico

AMP Adenosina Monofosfato

ANVISA - Agncia Nacional da Vigilncia Sanitria

AOAC Association of Official Analytical Chemists

APHA - American Public Health Association

APPCC - Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controle

APTA - Agncia Paulista de Tecnologia dos Agronegcios.

ATP Adenosina Trifosfato

BNVT - Bases Nitrogenadas Volteis Totais

BPM - Boas Prticas de Manipulao

CLAE - Cromatografia Lquida de Alta Eficincia

CLAE/UV - Cromatografia Lquida de Alta Eficincia com gradiente de eluio e

deteco ultravioleta

CEBImar - Centro de Biologia Marinha

CFSAN - Center for Food Safety and Applied Nutrition

CNNPA - Comisso Nacional de Normas e Padres para Alimentos

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

CSSP - Canadian Shellfish Sanitation Program

DMA Dimetilamina

DTA Doena Transmitida por Alimentos

FA Formaldedo

FAO Food and Agricultural Organization

FDA - Food and Drug Administration

Hx Hipoxantina

ICMSF - International Commission on Microbial Specifications for Foods

IEA Instituto de Economia Agrcola

IMP Inosina Monofosfato

INO Inosina

LANAGRO Laboratrio Nacional Agropecurio

NACMCF - National Advisory Committee on Microbiological Criteria for Foods

NSSP - National Shellfish Sanitation Program

OTMA - xido de trimetilamina

PCC Ponto Crtico de Controle

PMAP - Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira

QIM - Quality Index Method

RIISPOA - Regulamento da Inspeo Industrial e Sanitria de Produtos de Origem

Animal

SAN - Segurana Alimentar e Nutricional

SAA - Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de So Paulo

SOFIA - The State of World Fisheries and Aquaculture

TBA cido Tiobarbitrico

TBARS Substncias reativas ao cido Tiobarbitrico

TCA cido Tricloroactico

TMA - Trimetilamina

UFC - Unidade Formadora de Colnia

VHA - Vrus da Hepatite tipo A

1

1 INTRODUO

O consumo brasileiro de pescado est em pleno crescimento e o camaro

Xiphopenaeus kroyeri (Heller, 1862) foi a segunda principal espcie marinha

desembarcada no Estado de So Paulo Brasil, em 2011 (INSTITUTO DE PESCA,

2011).

Por ser uma espcie costeira, o camaro sete-barbas acessvel pesca de

pequena escala, destacando-se entre as espcies marinhas desembarcadas no Estado

de So Paulo em volume capturado e nmero de embarcaes envolvidas na

atividade (SEVERINO-RODRIGUES et al., 1993; INSTITUTO DE PESCA, 2011),

tendo relevncia econmica e social (GRAA LOPES et al., 2007).

Os camares so normalmente comercializados frescos ou congelados. Uma

vez capturados estes devem ser imediatamente lavados, classificados por tamanho e

pesados. Todo camaro mesmo se comercializado in natura, deve passar por um

processo de beneficiamento, seja este primrio ou integral. O beneficiamento

primrio deve ser realizado ainda na embarcao (PINHEIRO; CINTRA, 1999) e o

integral dever ser realizado por uma unidade credenciada pelo Ministrio da

Agricultura, que obedea a um sistema de controle da qualidade de Anlise de

Perigos e Pontos Crticos de Controle (APPCC). A adoo deste critrio exigncia

dos mercados internacionais e, mais recentemente, nacional e requer, em suma, a

implementao de princpios que objetivam prevenir ou eliminar as condies de

risco durante a despesca e/ou colheita at o processamento dos camares (NUNES,

2001).

Aps a morte do pescado, as enzimas presentes na carne e vsceras passam a

atacar as substncias do seu prprio corpo. Esta ao, conhecida como autlise,

provoca o amolecimento da carne e a produo de odores desagradveis. Outra

conseqncia deste fenmeno o aparecimento de manchas pretas (melanose) em

lagostas e camares, principal agravante para os pases que exploram tais recursos,

devido as grandes perdas comerciais.

2

A inocuidade dos alimentos fator de preocupao das autoridades sanitrias

e consumidores. Essa preocupao recai, entre outros aspectos, sobre a contaminao

por produtos qumicos, como a presena de agrotxicos, aditivos e antibiticos.

O uso excessivo de sulfitos para a preveno da melanose em camares, a

deficiente qualidade do camaro desembarcado e comercializado no Brasil, bem

como o impacto da manipulao inadequada levando contaminao de camares

vem sendo apontados em alguns estudos (THAMPURAN; GOPAKUMAR, 1990;

MOURA et al., 2003; OGAWA et al., 2003; YOKOYAMA, 2007; FURLAN;

TORRES, 2010; MACHADO et al., 2010; FURLAN et al., 2012).

Aliando estas problemticas antiga legislao vigente para pescado

(BRASIL, 1952) e falta de especificidade da mesma frente as vrias espcies

exploradas comercialmente no pas, v-se a necessidade de desenvolvimento de

ferramentas que contribuam para reduo dos riscos sade associados ao consumo

do pescado e que em contrapartida, valorizem a sua qualidade.

1.1 JUSTIFICATIVA

O setor pesqueiro brasileiro apresenta carncia por mtodos de padronizao

rpida para avaliao da qualidade do pescado e seus produtos. No Brasil, o principal

mtodo utilizado pelas indstrias e servio de inspeo para a avaliao do frescor

em pescado in natura ou de produtos derivados o sensorial, visto que os demais

mtodos existentes, fsico-qumicos e microbiolgicos, muitas vezes so morosos e/

ou de alto custo.

No entanto, no existe um regulamento tcnico de produo, identidade e

qualidade para o camaro marinho X. kroyeri, comprometendo a eficcia desta

avaliao, embora haja no pas uma crescente preocupao em aumentar a oferta de

alimentos com condies fsicas, qumicas e microbiolgicas satisfatrias,

apresentando assim maior qualidade e segurana.

3

Neste contexto, torna-se imprescindvel o estabelecimento de uma

metodologia eficiente na averiguao da qualidade do camaro X. kroyeri, que

oferea informao necessria e de forma simples, viabilizando sua aplicao na

rotina dos inspetores e das plantas de processamento.

O Quality Index Method (QIM) um mtodo rpido e tem sido indicado

como referncia na padronizao e harmonizao da avaliao sensorial de pescado

na Europa (MARTINSDTTIR et al., 2003). Segundo alguns autores o QIM tem se

mostrado uma ferramenta til no planejamento da produo e no trabalho de garantia

da qualidade (BREMNER, 1985; HYLDIG; NIELSEN, 2004; NUNES; BATISTA,

2004; ESTEVES; ANBAL, 2007).

4

2 CAPTULO 1 REVISO DE LITERATURA

2.1 PANORAMA DA PRODUO DE CAMARES MARINHOS

A pesca e aquicultura mundial contriburam com, aproximadamente, 148

milhes de toneladas do pescado destinado ao consumo humano em 2010, tendo

propiciado um consumo mdio aparente, per capita, de 18,4 kg em 2009, o mais alto

j registrado. A aquicultura continua sendo o setor de produo de alimentos de

origem animal que mais cresce no mundo, enquanto a produo pesqueira mundial

tem permanecido estvel nas ltimas dcadas, aproximadamente 90 milhes de

toneladas, com exceo do mercado da anchoveta, que mais suscetvel s

flutuaes em funo das condies ambientais (FAO, 2012b).

Segundo o documento The State of World Fisheries and Aquaculture (FAO,

2008) a produo mundial de camares, capturados e de cultivo, encontra-se ao redor

dos 6 milhes de toneladas. O camaro o produto pesqueiro mais importante

comercializado no mercado internacional e a atividade extrativa ainda a principal

responsvel pela oferta global do produto (PAIVA; RODRIGUES; AMORIM, 2003;

FAO, 2012a).

No mundo inteiro, um pouco menos de 300 espcies de camaro so de

interesse econmico. Destes, aproximadamente 100 espcies compem as principais

capturas. Sendo o camaro Acetes japonicus a mais importante espcie em volume

no mundo (FAO, 2008).

Globalmente, pouco se conhece quanto ao nmero de embarcaes e

profissionais envolvidos na pesca do camaro. Contudo, estatsticas de produo e

comrcio indicam a importncia desta atividade, uma vez que o camaro sete-barbas

encontra-se entre as 10 espcies de camaro mais capturadas em volume no mundo,

tendo atingido 41.716 t em 2010 (FAO, 2007, 2012a).

5

O Xiphopenaeus kroyeri (Heller, 1862), tambm conhecido como camaro

sete-barbas, uma espcie da famlia Penaeidae que se distribui desde o litoral da

Carolina do Norte (E.U.A) at Santa Catarina (BR). No Brasil, desembarcado nos

litorais do Paran, Esprito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e So Paulo, tendo

alcanado uma produo de mais de 6.000 t, em 2007 (IBAMA, 2011).

No Estado de So Paulo operam, atualmente, seis frotas ou categorias de

barcos de pesca classificadas segundo o equipamento de pesca utilizado, entre elas,

os arrasteiros-de-portas so os responsveis pela pesca do camaro. As principais

espcies de camaro desembarcadas para o comrcio local so o carmaro-sete-

barbas (X.kroyeri), o camaro-rosa (Farfantepenaeus paulensis, F. brasiliensis e F.

subtilis) e o camaro legtimo (Litopenaeus schmitti). Sendo, o camaro sete-barbas,

a segunda principal espcie de pescado desembarcada no Estado de So Paulo em

2011, com uma produo de 2.862,4 t (INSTITUTO DE PESCA, 2011).

Por ser uma espcie costeira, o camaro sete-barbas acessvel pesca de

pequena escala, destacando-se entre as espcies marinhas desembarcadas no Estado

de So Paulo pelo volume capturado e pelo nmero de embarcaes envolvidas na

atividade (SEVERINO-RODRIGUES et al., 1993; INSTITUTO DE PESCA, 2011),

possuindo grande relevncia social e econmica (GRAA LOPES et al., 2007).

Segundo Valentini et al.(1991ab), a pesca de camares na costa do Estado de So

Paulo importante para a economia pesqueira no litoral Sudeste do Brasil, desde a

dcada de 1960.

2.2 O CAMARO Xiphopenaeus kroyeri (Heller, 1862)

O gnero Xiphopenaeus representado no Brasil por uma nica espcie,

Xiphopenaeus kroyeri (Figura 1), comercialmente denominada por camaro sete-

barbas.

6

O camaro sete-barbas uma espcie da famlia Penaeidae e que apresenta

ampla distribuio no Atlntico ocidental, da Carolina do Norte (Estados Unidos) ao

Rio Grande do Sul (Brasil), incluindo o Caribe e a Amrica Central. No Brasil tem

ocorrncia registrada em todos os estados, desde o Amap at o Rio Grande do Sul,

neste ltimo apenas com frequncia ocasional. Caracteriza-se pelo pequeno tamanho

e apresenta 4 e 5 pereipodos alongados, rostro longo, fino e encurvado para cima e

tlico fechado (IBAMA, 2011).

Figura 1. Camaro Xiphopenaeus kroyeri Extrado de: IBAMA, (2011).

Por no apresentar estratificao populacional bem definida em seu ciclo de

vida, a presena de larvas, jovens e adultos de Xiphopenaeus kroyeri comum na

mesma rea onde ocorre a pesca da espcie, sendo tradicionalmente capturada com o

emprego de arrasto de fundo. Por habitar guas costeiras rasas principalmente

acessvel pesca de pequena escala, embora embarcaes consideradas industriais

faam parte dessa frota, em especial nos estados de So Paulo e de Santa Catarina

(SEVERINO-RODRIGUES et al., 1993).

Os desembarques dessas pescarias ocorrem em muitas comunidades ao longo

de todo o litoral da regio e so importantes tanto do ponto de vista da segurana

alimentar, garantido o alimento na mesa do pescador, como fonte geradora de renda

para grande massa de pescadores (IBAMA, 2011).

7

2.3 DIAGNSTICO DO MERCADO DE CAMARES

O preo dos produtos pesqueiros seguiu a tendncia geral de aumento junto

com outros gneros alimentcios no curso de 2007 e princpio de 2008. Esta foi a

primeira vez, em dcadas, que o preo do pescado aumentou (FAO, 2008).

O pescado e seus produtos derivados so altamente comercializados, com

mais de 37% da produo total voltada para o comrcio internacional. Embora um

enfraquecimento na demanda no final de 2007 e incio de 2008, resultante da

agitao do setor financeiro e que afetou a confiana do consumidor nos principais

mercados, a tendncia, em longo prazo, para o comrcio de pescado positiva, com

aumento parcial da produo tanto em pases desenvolvidos como em

desenvolvimento (FAO, 2008).

Segundo o documento The State of World Fisheries and Aquaculture (FAO,

2012b), apesar do ceticismo e preocupao com a situao econmica nos EUA e

Europa, as importaes de camaro, em 2011, aumentaram em comparao ao ano

anterior. No mercado japons, o camaro cru foi substitudo por produtos congelados

a base de camaro cozido, com valor agregado, assim pagou-se mais pelas

importaes. Os mercados nacionais e regionais na sia e Amrica Latina tambm

consumiram mais camaro, por isso os preos mantiveram-se relativamente elevados

e estveis ao longo do referido ano.

Dados da FAO (2012b) demonstram que, em 2010, os camares

representaram 15% do valor total dos produtos pesqueiros comercializados

internacionalmente, classificando-os como o mais importante produto pesqueiro

comercializado no mercado internacional.

O camaro um excelente candidato a fonte de protena alimentar, dado sua

popularidade, valor agregado e elevada demanda nos mercados dos EUA, Japo e

Europa. Em muitas regies do mundo faz parte da dieta alimentar e representa

importante fonte de protena de origem animal (HORTON; WRIGHT; WRIGHT,

2008; FAO, 2012b).

8

Atualmente, um nmero cada vez maior de pessoas prefere o pescado, como

uma alternativa saudvel carne e, conforme exposto, grande parte do pescado ainda

proveniente do extrativismo. Assim, a indstria de processamento de pescado

marinho no Brasil encontra-se limitada na escolha de suas matrias-primas, ao que

est disponvel em termos de tamanho, condio e espcies.

Neste contexto, o pescador a pedra fundamental desta cadeia produtiva, pois

no existe procedimento posterior colheita que reconstitua a qualidade inicial da

matria prima a ser utilizada pelas processadoras. Cabendo s instituies

governamentais, indstrias e rgos de ensino e pesquisa aproximarem a comunidade

de pescadores dos avanos cientficos e da realidade do comrcio globalizado

(YOKOYHAMA, 2007).

2.4 QUALIDADE DOS PRODUTOS PESQUEIROS

O termo qualidade com referncia aos produtos alimentares pode ter

diversos significados. Pode se referir s caractersticas sensoriais de um produto,

como aparncia, sabor, odor e textura, mas pode indicar tambm o valor nutricional e

diettico, o frescor, higiene, facilidade de utilizao pelo consumidor, segurana e

disponibilidade (Figura 2). No caso do pescado, o frescor assume particular

relevncia, pois constitui o primeiro critrio para a sua aceitao ou rejeio

(NUNES; BATISTA, 2004).

9

Figura 2. Aspectos da qualidade do pescado. Adaptado de LASFSDTTIR et al., (1997).

Os produtos pesqueiros so altamente perecveis e a manuteno da cadeia do

frio, com flutuaes mnimas na temperatura, fundamental para a obteno de um

produto de alta qualidade, principalmente se levarmos em conta a distncia

transcorrida pelos produtos alimentcios num pas de grandes extenses como o

Brasil.

Os processos de autlise ou de perda da qualidade iniciam-se logo aps a

morte do pescado. Em muitos destes processos esto envolvidas substncias que

derivam da metabolizao do nitrognio. Dentre estas substncias h de se salientar o

xido de trimetilamina (OTMA), um agente osmoregulador em peixes (SORENSEN;

GLOB, 1987).

O OTMA pode ser transformado em trimetilamina (TMA), por ao

bacteriana ou dimetilamina (DMA) e formaldedo (FA), por influncia enzimtica

(HUSS; ABABOUCH; GRAM, 2004).

Grande parte das alteraes da qualidade do pescado consequncia da

atividade de microrganismos deteriorantes, como a Shewanella putrefaciens,

Vibronaceae, Enterobacteriaceae, Photobacterium sp., Halococcus sp. e

10

Halobacterium sp. A deteriorao do pescado acelerada quando a carga microbiana

supera 107 UFC/g (HUSS, 1995).

As modificaes qumicas que acontecem durante a deteriorao ocorrem

tambm ao nvel da frao lipdica do pescado. Esta frao pode sofrer reaes de

oxidao e hidrlise, as quais resultam na produo de substncias responsveis pela

rancidez e por sabores desagradveis (HUSS; ABABOUCH; GRAM, 2004).

No caso do camaro marinho, o conceito de qualidade envolve atributos

fsicos, qumicos, biolgicos, sensoriais, e ainda as tcnicas de captura,

processamento, apresentao do produto, armazenamento, distribuio,

rastreabilidade e rotulagem, ateno da empresa com os aspectos ambientais e

contribuio para o bem estar social. O consumidor moderno est mais exigente

quanto ao cumprimento dos requisitos de qualidade por parte das empresas

produtoras nos aspectos de segurana do alimento, padronizao e fraude econmica,

alm de responsabilidade ambiental e social.

Os produtos pesqueiros em geral devem concordar com os padres de

qualidade e segurana estabelecidos para plantas de processamento, bem como estar

de acordo com a legislao para o tipo de produto. No Brasil, os padres de

qualidade do pescado e derivados esto baseados nos limites estaelecidos para

compostos como BNVT e TMA, bem como, na mensurao do pH (BRASIL, 1952).

Para a determinao das BNVT, emprega-se um mtodo relativamente simples e

consequentemente, muito utilizado para avaliar quimicamente a deteriorao do

pescado.

Atualmente, com a abertura dos mercados internacionais, processadores

devem no somente atender as expectativas nacionais quanto a qualidade, mas

tambm adquirir competitividade no mercado internacional; a anlise sensorial um

dos mtodos mais utilizados pelos servios de inspeo do pescado para garantir o

frescor e a qualidade no setor pesqueiro.

De acordo com Martinsdttir (2002), os consumidores, cada vez mais

exigentes quanto qualidade dos alimentos, escolhem o pescado especialmente pela

sua aparncia a fresco. Portanto, a aceitao do pescado pelo consumidor tambm

determinada pela qualidade sensorial do produto ofertado. Sendo assim, faz-se

extremamente til o desenvolvimento de mtodos que descrevam as propriedades

11

sensoriais do alimento, caracterizando os atributos iniciais e as principais mudanas

que ocorrem ao longo do seu armazenamento (HUIDOBRO; PASTOR; TEJADA,

2000).

Segundo Bonilla (2004), o QIM poder se tornar um mtodo sensorial de

referncia na avaliao de qualidade de pescado fresco dentro da Europa.

2.4.1 Padres brasileiros para aferio da qualidade de camares

Grande parte das alteraes na qualidade do pescado consequncia da

atividade de microrganismos deteriorantes. No entanto, a contagem do nmero de

clulas viveis complexa e consome tempo, no sendo um mtodo prtico para

definir o frescor. Alguns pases, como os Estados Unidos, praticam o monitoramento

microbiano das guas de cultivo.

No Brasil no existe ainda um programa de monitoramento efetivo das guas

nas reas de criao e/ou pesca; o Conselho Nacional do Meio Ambiente

(CONAMA), por meio da resoluo 357, considera que as guas para a criao

natural e/ ou intensiva de espcies destinadas alimentao humana no devem

exceder um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100 mL, em 80% ou mais

de pelo menos 6 amostras coletadas durante o perodo de um ano, com periodicidade

bimestral. (BRASIL, 2005).

Os coliformes termotolerantes so indicadores especficos e apresentam uma

elevada correlao positiva com a contaminao fecal por animais de sangue quente.

A enumerao de coliformes totais em gua menos representativa como indicao

de contaminao fecal que a enumerao de coliformes termotolerantes ou

Escherichia coli. No entanto, sua enumerao muito utilizada em indstrias

alimentcias indicando poluio pr-sanitizao, contaminao ps-sanitizao ou

ps-processo (PADUA, 2003).

No Brasil, a Agncia Nacional da Vigilncia Sanitria (ANVISA), rgo que

regulamenta os padres microbiolgicos em alimentos, por meio da resoluo RDC

12

n12, preconiza que o camaro in natura, resfriado ou congelado e que no ser

consumido cru, apresente-se livre de Salmonella sp. em 25g e limita em 103

a

contagem de Staphylococcus coagulase positiva.g-1

do pescado (BRASIL, 2001).

O Ministrio da Sade, na da Portaria n. 685, de 27 de agosto de 1998,

estabelece os limites mximos de tolerncia para contaminantes inorgnicos em

produtos da pesca, a saber: arsnio 1mg. Kg-1

; chumbo 2 mg. Kg-1

; cdmio 1 mg. Kg-

1 e mercrio 0,5 mg. Kg

-1 (BRASIL, 1998).

Segundo o Regulamento de Inspeo Industrial e Sanitria dos Produtos de

Origem Animal (RIISPOA) (BRASIL, 1952), os crustceos devem apresentar

aspecto brilhante, mido; corpo em curvatura natural, rgido e com artculos firmes e

resistentes; carapaa bem aderente ao corpo; colorao prpria da espcie, sem

qualquer pigmentao estranha; olhos vivos, destacados; cheiro prprio e suave.

Os padres analticos da qualidade do camaro tambm esto baseados na

anlise de compostos como BNVT, TMA e ainda, na mensurao do pH e do teor de

indol (BRASIL,1952). Para Botta (1995), estes parmetros no so capazes de

identificar estgios iniciais da perda do frescor; indicando apenas se o produto

encontra-se em estgios avanados de deteriorao. O mesmo autor alerta que

estudos visando o estabelecimento de limites crticos mais adequados so

necessrios, com monitoramento das amostras imediato aps a captura e ao longo da

sua vida til, sob condies ideais de armazenamento.

Sendo uma prtica comum o uso de sulfitos em crustceos, a legislao

brasileira, por meio da Resoluo CNS/MS N. 04, de 24 de novembro de 1988,

aprova o uso do metabissulfito de sdio, metabissulfito de potssio, metabissulfito de

clcio, sulfito de sdio, sulfito de clcio, sulfito de potssio, bissulfito de clcio,

bissulfito de sdio e bissulfito de potssio em camares e lagostas (exclusivamente

na matria-prima aps a captura); limitando o teor residual de dixido de enxofre a

100 mg. Kg-1

de camaro cru, e a 30 mg. Kg-1

no produto cozido (BRASIL, 1988).

13

2.4.2 Aspecto sensorial do pescado: mtodo do ndice de qualidade

A anlise sensorial tem tido papel fundamental como um dos mtodos mais

utilizados para garantir o frescor e a qualidade do pescado pelos servios de inspeo

(ABBAS et al., 2008). No entanto, uma metodologia subjetiva, que apesar das

vantagens como baixo custo, rapidez e apresentar relao direta com os padres de

aceitao do consumidor; exige a participao de um nmero representativo de

julgadores treinados para obteno de resultados confiveis e reprodutveis, o que na

prtica, muitas vezes, no vivel.

Neste contexto, alternativamente, em tempos recentes, alguns autores vm

estabelecendo o Mtodo do ndice de Qualidade, ou QIM para diferentes espcies

de pescado de importncia comercial, a saber: Merluccius merluccius, Rachycentron

canadum, Sparus aurata, L., Pagellus bogaraveo, Trachurus trachurus,

Dicentrarchus labrax, Sepia officinalis, L., Salvelinus alpinus, Gadus morhua, Solea

senegalensis, Chelidonichthys lucernus, Hippoglossus hippoglossus, Engraulis

encrasicholus , entre outras. No entanto, nenhum estudo foi realizado com o camaro

Xiphopeneaus kroyeri.

O QIM foi desenvolvido, durante a dcada de 1980, na Tasmanian Food

Research Unit (BREMNER, 1985) e baseia-se na avaliao dos atributos sensoriais

considerados significativos (aparncia, textura, odor, entre outros.) atravs de um

sistema de classificao por pontos de demrito (de 0 a 3), onde a soma dessas

classificaes quantifica a falta de qualidade sensorial at um valor mximo,

especfico de cada espcie/gnero, que corresponde ausncia total de qualidade

(imprprio para consumo humano) e que se obtm a partir da anlise sensorial do

pescado por um painel restrito de julgadores treinados (HUSS, 1995).

Segundo Martinsdttir et al. (2003), trata-se de um mtodo rpido e que tem

sido indicado como referncia na padronizao e harmonizao da avaliao

sensorial do pescado na Europa. Os autores sugerem uma relao linear entre o QIM

e o tempo de estocagem em gelo para diversas espcies de pescado, sendo uma

ferramenta prtica, objetiva e til para a indstria da pesca.

http://www.fishbase.org/Summary/SpeciesSummary.php?ID=30&AT=european+hakehttp://www.fishbase.org/Summary/SpeciesSummary.php?ID=1365&AT=Horse+Mackerelhttp://www.fishbase.org/Summary/SpeciesSummary.php?ID=1371&AT=Atlantic+Halibut

14

Esteves e Anbal (2007) tambm indicaram o QIM como ferramenta para o

estabelecimento da vida til do pescado, uma vez que os resultados obtidos esto

linearmente relacionados com o tempo de conservao.

Os consumidores, cada vez mais exigentes quanto qualidade dos alimentos,

tambm determinam a aceitao ou rejeio sensorial do pescado e produtos

derivados (MARTINSDTTIR et al., 2001). Por esta razo faz-se extremamente til

o desenvolvimento de mtodos que descrevam as propriedades sensoriais do

alimento, caracterizando os atributos iniciais e as principais alteraes que possam

ocorrer ao longo da estocagem (HUIDOBRO; PASTOR; TEJADA, 2000).

Segundo Hyldig e Nielsen (2004) e Nunes e Batista (2004), as vantagens do

QIM so requerer treinamento simples, ser rpido, no-destrutivo e objetivo.

Nenhum atributo tem peso excessivo na classificao final do pescado e quanto

maiores forem as alteraes em determinada caracterstica, derivadas da

deteriorao, maior ser a classificao atribuda. Podendo ser til como ferramenta

no planejamento, na produo e na garantia da qualidade.

2.4.3 Aspecto microbiolgico

Uma srie de testes microbiolgicos so utilizados pelas indstrias e agncias

sanitrias na averiguao da condio microbiolgica do pescado e produtos

derivados. O objetivo destas anlises detectar a presena de bactrias patognicas

(Salmonella spp., Vibrio parahaemolyticus, Staphylococcus aureus, Listeria

monocytogenes, Escherichia coli) e/ou de microrganismos indicadores de

contaminao fecal (E. coli) ou outros tipos de contaminao, como as resultantes de

prticas inadequadas de manipulao (coliformes totais, Streptococcus spp, S.

aureus), da contaminao ambiental (Clostridium botulinum), entre outros.

Embora o controle microbiolgico seja parte essencial em qualquer programa

de controle e gesto da qualidade de alimentos, h certas limitaes e deficincias. A

alta rotatividade de pessoal nos sistemas de fiscalizao e nas reas de

15

processamento obriga que o processo de capacitao seja um exerccio contnuo. Os

ensaios microbiolgicos tambm tem algumas limitaes, como a morosidade, no se

obtendo os resultados em tempo vivel comercializao do pescado e, ainda, h

dificuldades relacionadas a amostragem, aos mtodos de anlise e a utilizao de

organismos indicadores (HUSS, 1993).

Grande parte das alteraes na qualidade do pescado consequncia da

atividade de microrganismos deteriorantes. Segundo Lyhs (2009), algumas das

principais bactrias deteriorantes em produtos pesqueiros so as Pseudomonas spp.,

bactrias produtoras de H2S, Shewanella spp., Enterobacteriaceae, bactrias cido

lticas, Photobacterium phosphoreum, Brochothrix thermospacta, entre outras.

Alguns peixes de gua doce e muitas espcies de guas tropicais, durante o

armazenamento em gelo e em condies aerbias, tm como caracterstica o

desenvolvimento de odor frutado, sulfdrico e enjoativo, tpico da deteriorao

causada por Pseudomonas (HUSS, 1995). Vieira (2011) afirma que a presena de

Pseudomonas mais pronunciada no pescado marinho, independente das condies

de temperatura da gua e que, a presena de Enterobacteriaceaes, principalmente os

coliformes, mais frequente no pescado fluvial.

Chinivasagam et al., (1998) estudaram o desenvolvimento de bactrias

produtoras de H2S em camares (Penaeus plebejus, Metapenaeus bennettae e P.

esculentos/ semiculcatus) armazenados em gelo e em gelo lquido, encontrando que,

as bactrias produtoras de H2S eram 10% ou menos do total das bactrias, durante o

armazenamento em gelo, enquanto no armazenamento em gelo lquido, o

desenvolvimento das mesmas foi crescente ao longo do perodo de estocagem.

Huss (1993) ressalta que a refrigerao adequada dos produtos pesqueiros

essencial para controle do crescimento de microrganismos, inclusive de vbrios

patognicos.

A excelncia nutricional do pescado como fonte de protena, o seu elevado

teor de umidade, a elevada digestibilidade de suas fibras musculares e o seu pH

prximo da neutralidade, propiciam o crescimento microbiano e, por sua vez,

determinam a sua reduzida vida til. Portanto, com vistas a garantir a segurana

alimentar na cadeia produtiva do pescado imprescindvel a manuteno da alta

16

qualidade em cada elo da cadeia produtiva, como prev a ABNT NBR ISO 22000

Sistemas de gesto da segurana de alimentos.

No caso do pescado, os cuidados com a qualidade iniciam-se na gua. Assim,

programas de monitoramento das guas de cultivo ou de captura, do pescado

continental, so estratgias importantes no controle sanitrio do pescado. Somando-

se aos programas de monitoramento, a capacitao contnua dos profissionais da

pesca e manipuladores de pescado em BPM, bem como, a implantao de sistemas

de qualidade nas indstrias, avanar-se- na oferta de produtos de pescado de maior

valor agregado.

Neste sentido a ABNT NBR ISO 22000 uma ferramenta importante, pois

aplicvel todas as organizaes da cadeia produtiva de alimentos, envolvendo todas

as pessoas e todas as etapas da cadeia produtiva.

2.4.4 Aspecto fsico

A reduo do pH muscular do pescado, aps a morte, exerce efeito sobre as

suas propriedades fsicas. medida que o pH decresce, ocorre uma desnaturao

parcial das protenas e estas perdem a capacidade de reteno da gua, afetando a

textura do msculo (HAARD, 1992; HUSS, 1995). Apesar do pH isoladamente, no

ser considerado um bom parmetro da qualidade, o conhecimento do valor de pH do

msculo do pescado pode fornecer informao importante sobre a sua condio.

Com a morte do pescado, uma vez suprimida a chegada de oxignio ao

msculo, a gliclise ocorre em condies de anaerobiose, resultando na formao de

cido ltico e consequente reduo no pH muscular. O msculo do pescado,

geralmente, contm nveis de glicognio inferiores aos mamferos, conferindo um pH

final mais elevado. Ao longo da degradao do pescado o decrscimo do pH varia de

7,0 para 6,2 - 6,5, enquanto em outras carnes este abaixamento maior, para cerca de

5,5 (OGAWA; MAIA, 1999; VAZ-PIRES, 2006).

17

H variao do teor de glicognio entre as diferentes espcies de pescado,

bem como, entre as diferentes partes do corpo dos peixes. Em peixes e crustceos, o

glicognio decomposto a cido ltico, enquanto nos moluscos, alm do cido ltico

h formao da octopina (OGAWA; MAIA, 1999).

As condies de morte do pescado tambm influenciam no seu contedo de

glicognio. O pescado abatido ou que morre aps atividade muscular intensa

apresenta teores reduzidos de glicognio, suas clulas contm mais cido ltico e o

rigor mortis se instala precocemente. Segundo Vaz-Pires (2006), quanto menores o

estresse e a temperatura de conservao do pescado, mais tardio o incio do rigor

mortis e mais extenso o seu perodo de conservao til.

As alteraes bioqumicas, como o aumento do BNVT devido degradao

por microrganismos e ao de enzimas tissulares, promovem a elevao do pH

muscular. Gonalves e Junior (2009) obtiveram pH 9,10 e 9,27 para o camaro sete-

barbas, no tempo zero do armazenamento sob congelamento. Estes mesmos autores

demonstraram a reduo do pH muscular durante o armazenamento sob

congelamento do produto glaciado.

Mendes et al., (2005) verificaram que amostras de camaro Parapenaeus

longirostris de qualidade aceitvel apresentavam pH 7,9.

De acordo com o RIISPOA, o pescado considerado adequado para o

consumo quando o pH da carne externa inferior a 6,8 e o da carne interna inferior a

6,5 (BRASIL, 1952).

largamente divulgado que, em pescado de alta qualidade, os tecidos

retornam sua forma original aps serem pressionados levemente. Uma textura mole

ou uma sensao viscosa so indicadores de deteriorao avanada. No entanto, so

escassos os estudos que analisam a relao entre propriedades de textura e a

qualidade do pescado in natura.

Gkodlu, zden e Erkan (1998) observaram que sardinhas estocadas por 10

dias a 4C apresentaram firmeza reduzida ao longo do perodo de armazenamento,

enquanto o pH se elevava. Pornrat et al., (2007) apontaram que o aumento da

temperatura leva ao amolecimento precoce do pescado, uma vez que propicia o

desenvolvimento microbiano.

18

A velocidade de decomposio do pescado depende do nmero e da espcie

das bactrias infectantes, uma vez que h grande variao no comportamento destas

quanto capacidade de causar deteriorao. Assim, os cuidados com o binmio

tempo X temperatura, acrescido da higiene, so determinantes na qualidade do

pescado.

2.4.5 Aspecto qumico

Os produtos pesqueiros apresentam uma composio em aminocidos

essenciais balanceada. Sendo, a sua protena muito sensvel as aes deteriorantes,

devido a presena de enzimas que as hidrolisam. No entanto, sob condies

apropriadas de manipulao e conservao, a perda da qualidade devido a hidrlise,

polimerizao, desaminao, descarboxilao, oxidao, dentre outras alteraes,

podem ser prevenidas ou minimizadas (SHAHIDI, 2004).

As alteraes post-mortem ou degradao um fenmeno complexo e inicia-

se com a morte do pescado, embora alguns acontecimentos que a antecedem

influenciem todo o processo. Os primeiros acontecimentos aps a morte do pescado

esto relacionados a adenosina-trifosfato (ATP) e produtos da sua decomposio

(VAZ-PIRES, 2006). Por isso, em linhas gerais, as nicas determinaes qumicas

relacionadas a determinao do frescor em pescado so as que quantificam os

nucleotdeos e os produtos da sua decomposio, como a hipoxantina, inosina ou

ainda, o valor K.

Saito, Arai e Matsuyoshi (1959) foram os primeiros a observar essas

alteraes autolticas e a desenvolver uma frmula para determinar o frescor do

pescado:

K(%) = _ ______[Inosina] __ +___ [Hipoxantina]_____ X 100,

[ATP] +[ADP] + [AMP] + [IMP] + [Ino] + [Hx]

19

Onde [ATP], [ADP], [AMP], [IMP], [Ino] e [Hx] representam as

concentraes relativas destes compostos, mensuradas no msculo do pescado

durante o perodo de armazenamento sob refrigerao, a saber: Adenosina Trifosfato,

Adenosina Difosfato, Adenosina Monofosfato, Inosina Monofosfato, Inosina e

Hipoxantina, respectivamente.

Com alguns parmetros qumicos j estabelecidos pode-se estabelecer uma

escala de frescor para o pescado, entre eles, a determinao do BNVT, a

quantificao das aminas biognicas, bem como, de perxidos e do indol. No

entanto, muitos destes compostos so formados quando o pescado j apresenta uma

deteriorao avanada e j no pode ser consumido.

No Brasil, os padres qumicos da qualidade do pescado e derivados so

prerrogativas do RIISPOA e esto baseados na anlise de compostos como BNVT e

TMA, bem como, do teor de indol e na reao negativa de gs sulfdrico (BRASIL,

1952). Para a determinao das BNVT, emprega-se um mtodo relativamente

simples e, consequentemente, largamente utilizado para avaliar quimicamente se o

pescado encontra-se com qualidade para o consumo.

J a determinao do teor do indol caiu em desuso pelos laboratrios de

cunho fiscal no pas, Laboratrios Nacionais Agropecurios (LANAGRO). Leito e

Rios (2000) e Mendes et al., (2005), verificaram a rejeio sensorial de camares

antes mesmo da deteco do indol, indicando a ineficcia da utilizao deste ndice

de forma isolada.

A putrescina e cadaverina so aminas biognicas mensurveis,

principalmente, durante os ltimos estgios de armazenamento sob refrigerao,

sendo normalmente utilizadas como indicadoras da qualidade e inocuidade do

pescado. Segundo Otwell et al., (2001) e Benner et al., (2003), estas aminas podem

confirmar mais prematuramente a decomposio sensorial de camares que o indol.

As aminas biognicas so formadas como resultado da descarboxilao dos

aminocidos livres pelos microrganismos presentes no pescado, merecendo especial

ateno devido ao seu potencial txico. Entretanto, os nveis de toxicidade das

aminas so difceis de estabelecer, uma vez que dependem de fatores do indivduo e

da presena de outras aminas.

20

A histamina, devido a sua elevada toxicidade, apresenta limite estabelecido

de at 100 mg. Kg-1

de alimento (BRASIL, 1997) . Nos EUA, o FDA estabelece

limites para peixes susceptveis formao de histamina, como os das famlias

Scombridae e Scomberesocidae, de 50 mg. Kg-1

(EUA, 2011).

Segundo nal (2007), a putrescina, a cadaverina, a espermina e a

espermidina no apresentam efeitos adversos significativos comprovados, mas estas,

alm de potenciarem os efeitos da histamina, podem reagir com nitritos e formar

nitrosaminas carcinognicas.

De acordo com o Departamento de Sade e Servios Humanos dos EUA

(EUA, 2011), tambm os produtos qumicos formados a partir da oxidao das

gorduras dos alimentos podem causar, em longo prazo, efeitos deletrios sade.

Para Fogaa e SantAna, (2009), devido ao alto grau de insaturao dos

cidos graxos presentes no pescado, a oxidao lipdica uma das principais causas

da sua deteriorao.

Muitos mtodos tm sido propostos para quantificar os compostos resultantes

da oxidao lipdica, a saber, a determinao do ndice de perxido, TBARS, teste de

Kreis, entre outros. Em tecidos animais, a determinao de TBARS tem sido o

mtodo mais utilizado na avaliao da oxidao lipdica, onde o (di)aldedo

malnico, principal composto secundrio encontrado nos lipdios oxidados, reage

com o TBA (VYNCKE, 1970).

Segundo Huss (1995), o pescado gordo naturalmente mais susceptvel

degradao de lpidos, o que pode desencadear graves problemas de qualidade,

mesmo em armazenamento a baixas temperaturas.

2.5 SEGURANA ALIMENTAR NA CADEIA PRODUTIVA DO PESCADO

Muitos consumidores sabem que o pescado e muitos de seus produtos

derivados so itens alimentares altamente perecveis, mas poucos conhecem a

21

complexidade desta cadeia produtiva e quo complicada pode ser a trajetria do

pescado at o prato do consumidor (SCHRDER, 2008).

Informaes quanto s tcnicas de manipulao, processamento e estocagem,

incluindo histrico de tempo e temperatura, que podem afetar o frescor e qualidade

dos produtos, so de grande importncia para os agentes desta cadeia produtiva.

Adicionalmente, as condies ambientais, que afetam as reas de pesca, os mtodos

de captura e a ocorrncia de defeitos, influenciam diretamente na qualidade geral dos

produtos pesqueiros (ABBAS et al., 2008).

Os processos de autlise, que levam a perda da qualidade, iniciam-se logo

aps a morte do pescado (HUSS, 1995). As aminas biognicas formadas, como

resultado da descarboxilao dos aminocidos livres, pelos microrganismos presentes

no pescado merecem especial ateno, devido ao seu potencial txico.

Dentre as aminas biognicas, a mais comentada a histamina, responsvel

pela intoxicao histamnica ou por escombrdeos, assim denominada por estar

associada, principalmente, a ingesto de atuns, cavalas, bonitos, entre outras espcies

da famlia Scombridae. Em algumas espcies de pescado, especialmente nos

moluscos, a agmatina a amina de maior importncia (LAPA-GUIMARES, 2005).

Em lagostas e camares, como conseqncia do processo deteriorativo, h o

aparecimento de manchas pretas (melanose). Substncias redutoras tais como

sulfitos, cido ascrbico e cistena, so normalmente utilizadas no controle da

melanose (OGAWA; DINIZ, 1999).

Outra fonte importante de contaminao a manipulao do pescado, desde o

momento da captura at a sua destinao final. Como conseqncia direta da

manipulao inadequada tem-se apontado os Streptococcus spp e o Staphylococcus

aureus, ambos de origem humana, presentes nas mucosas e superfcie da pele, e que

encontram no pescado ambiente favorvel sua multiplicao.

O pescado tambm pode ser veiculador de uma gama de microrganismos

patognicos para o homem, a maior parte deles oriundos da contaminao ambiental.

Neste sentido importante destacar as bactrias do gnero Samonella e a Shigella

spp, encontradas em guas poludas por esgotos ou excretas animais. No caso

particular da pesca martima, a captura em guas costeiras oferece maiores riscos do

que a realizada em alto mar (GERMANO; GERMANO; OLIVEIRA, 2008).

22

Ainda relacionado ao ambiente hdrico temos os vbrios, merecendo destaque

o vrus da hepatite tipo A (VHA) e o vrus de Norwalk ou norovrus (LIMA DOS

SANTOS, 2010)

Poluentes qumicos, biotoxinas e endoparasitas so outros riscos associados

ao consumo do pescado. Dentre os poluentes qumicos o mercrio e o arsnio

assumem grande relevncia em sade pblica, devido a elevada toxicidade,

persistncia, efeito cumulativo para o homem e porque o pescado considerado a

principal fonte de exposio destes contaminantes (BRASIL, 1999).

Tambm os parasitas zoonticos so uma crescente preocupao no mercado

nacional, frente ao considervel aumento na oferta de produtos de pescado cru do

tipo sashimi e sushi. Lima dos Santos (2010), em levantamento recente sobre as

doenas transmitidas por pescado no Brasil, aponta como os principais parasitas

patognicos ao homem os helmintos pertencentes as famlias Opisthorchiidae,

Heterophyidae, Paragonimidae (trematides), Anisakidae, Gnathostomidae

(nematides) e Diphyllobothridae (cestides).

Diante deste cenrio, torna-se evidente a importncia de os consumidores e

demais elementos desta cadeia produtiva se atentarem origem e qualidade dos

produtos de pescado consumidos e comercializados, bem como, a necessidade de se

implantar programas de gesto da qualidade, sobretudo de rastreabilidade dos

produtos da pesca e aqicultura.

Atualmente, para se garantir a segurana no consumo do alimento pode-se

lanar mos da ABNT NBR ISO 22000 Sistemas de gesto da segurana de

alimentos, que permite s organizaes demonstrar sua habilidade em controlar os

perigos de contaminao.

2.6 MELANOSE EM CAMARES

A melanose, tambm denominada black spot caracteriza-se pelo

desenvolvimento de manchas pretas em crustceos, sendo considerada inofensiva,

23

visto no causar prejuzos sade do consumidor. Entretanto, a causa mais comum

da rejeio de lagostas e camares, ou seja, o principal entrave na comercializao

destes crustceos.

O escurecimento ocorre, principalmente, ao longo das plepodes, cefalotrax,

cauda e nas adjacencias da carapaa, antes de se espalhar ao longo do corpo. Os

fatores que induzem melanose ainda no esto bem esclarecidos, evidenciado que

a formao de melanina compreende uma reao enzimtica oxidativa, seguida de

reaes de autoxidao e polimerizao (OGAWA; DINIZ, 1999).

Substncias redutoras tais como sulfitos, cido ascrbico e cistena so

usualmente empregadas no controle da melanose, devido a propriedade de reduzirem

imediatamente -quinona, retardando a formao da melanina (OGAWA; DINIZ,

1999).

No entanto, o uso de aditivos qumicos em camares, com o intuito de

prevenir a melanose, vem sofrendo restries, principalmente pelo mercado externo,

devido aos excessos aplicados e efeitos txicos por eles provocados (MORAIS,

1984, WHO, 2009).

O emprego de metabissulfito de sdio para inibio da melanose em

camares de extrativismo, bem como, daqueles provenientes da carcinicultura tem

sido alvo de crticas, pelo uso inapropriado ou falta de conhecimento em relao ao

uso adequado deste produto qumico. Os sulfitos so empregados ainda a bordo das

embarcaes e quando usados em excesso podem no s causar reaes adversas em

indivduos sensveis ao dixido de enxofre, mas tambm favorecer a decomposio

do xido de trimetilamina (OTMA) dimetilamina (DMA) e a formaldedo (FA),

comprometendo a qualidade do produto e do meio ambiente quando seus resduos

so descartados sem tratamento adequado.

No Brasil, o uso do metabissulfito de sdio comum entre pescadores,

carcinicultores e processadores de camaro, visando impedir o aparecimento da

melanose. A utilizao deste produto qumico est amparada na legislao brasileira

pela resoluo 14/77 da Comisso Nacional de Normas e Padres para Alimentos

(CNNPA) que diz Estender o emprego de bissulfito de sdio em soluo para

imerso ou no gelo, a 1,25% como conservador para camares e lagostas crus, no

24

devendo o dixido de enxofre (SO2) residual ultrapassar 100 mg.Kg-1

, pressuposto o

emprego de adequada tecnologia de processamento (BRASIL, 1988).

O FDA recomenda nveis menores que 100 mg.Kg-1

de SO2 na poro

comestvel de camares e que seja adotado o mtodo de Monier-Williams

modificado na determinao (COOPER et al., 1986, HILLERY et al. 1989).

Segundo Ogawa e Maia (1999), na regio Norte do pas procede-se a imerso

dos camares em soluo a 2% de metabissulfito de sdio, em temperatura em torno

de 10C, durante 10 min. Esses autores, afirmam que o emprego de concentraes

usuais do bissulfito de sdio dificilmente inibir a formao de tais manchas se os

espcimes sofreram traumas previamente, o que de se esperar numa operao de

pesca, e que com a utilizao da referida concentrao o teor residual de SO2 no

produto seria maior que o recomendado. A necessidade de altas concentraes de

aditivos para preveno da melanose em camares tambm fora apontada por

Montero, Lopez-Caballero e Perez-Mateos (2001).

Diante do exposto se vislumbra a necessidade de implantao das Boas

Prticas de Manipulao (BPM) nas embarcaes pesqueiras, visando minimizar os

impactos negativos sobre a qualidade da matria-prima, com consequente reduo no

aporte de preservativos e dos riscos sade.

O uso excessivo de sulfitos e a deficiente qualidade do pescado

desembarcado no Brasil vm sendo apontados em alguns estudos (THAMPURAN;

GOPAKUMAR, 1990; MOURA et al., 2003; OGAWA et al., 2003; YOKOYAMA,

2007; FURLAN; TORRES, 2010; MACHADO et al., 2010; FURLAN et al., 2012).

Os sulfitos ingeridos so oxidados a sulfatos e tiossulfatos, por ao

enzimtica, sendo excretados pela urina, no causando risco em nveis normais de

uso para a maioria da populao (MACHADO; TOLEDO; VICENTE, 2006).

Porm, alguns estudos indicam casos de sensibilidade ingesto de sulfitos.

O FDA atravs do Center for Food Safety and Applied Nutrition (CFSAN) tem

monitorado casos de reaes adversas ligadas ingesto de alimentos com sulfitos

desde 1980. Do total de 799 casos analisados, at o ano 2000, 48,6% foram

classificados como severos; estudos posteriores sugeriram os sulfitos, na forma de

dixido de enxofre, como agente causal das enfermidades (EUA, 2000).

25

No Brasil, nas ltimas dcadas, o ndice de camares danificados pela

melanose, vem decrescendo. Esta reduo na rejeio pode estar associada ao

emprego abusivo de sulfitos, o que pode estar comprometendo o consumo do

camaro no mercado interno pelo desenvolvimento de alergias. Aliando esta

problemtica a deficiente fiscalizao dos produtos pesqueiros destinados ao

mercado interno, v-se a necessidade de desenvolvimento de ferramentas que

contribuam para reduo dos riscos associados ao consumo de camares.

Morais (1995) pesquisou o uso do metabissulfito associado ao cido ctrico e

afirmou ser vivel tecnicamente a utilizao do sistema cido-conservante na

reduo dos casos de melanose em camares sete-barbas inteiros e descabeados,

reduzindo os teores residuais de SO2 no produto. No entanto, este mesmo autor

sugere a necessidade de se investigar combinaes de cido ctrico com substncias

que possuam propriedades conservantes mais estveis que o metabissulfito de sdio.

Montero, Martnez-lvarez e Gmez-Guilln (2004) verificaram a eficincia

da utilizao do 4-hexylresorcinol na inibio da melanose em camares

(Parapenaeus longirostris), ainda a bordo da embarcao, e seu uso em combinao

com cido ctrico, ascrbico e cido actico e sugeriram que as combinaes no

alteram a vida til do camaro quando comparado ao uso do 4-hexylresorcinol

isoladamente, mas a presena dos cidos conferiu uma melhor aparncia.

2.7 VIDA TIL DOS CAMARES

Entende-se por vida til de um produto pesqueiro, o perodo compreendido

desde a sua morte ou abate at a sua rejeio por determinado fator (BARBOSA;

BREMNER; VAZ-PIRES, 2002), como por exemplo, a inadequao para o

consumo.

Para Martinsdttir et al., (2001), o perodo de vida til do pescado o tempo

em que ele se encontra apto para o consumo. Sendo a degradao devida atividade

microbiana, o maior limitante deste perodo de conservao til.

26

Outra importante causa da degradao a rancidez, especialmente em

espcies de peixes gordos.

A vida til para as diversas espcies de pescado estimada, nas investigaes

cientficas, assumindo condies timas de armazenamento e, normalmente,

utilizando-se de mtodos sensoriais combinados aos mtodos fsico, qumicos e/ou

microbiolgicos.

Os mtodos sensoriais so normalmente baseados em tabelas sensoriais. O

mtodo sensorial mais difundido na Europa a tabela Torry, utilizada oficialmente e,

mais recentemente, o QIM, que vem sendo desenvolvido para as espcies de pescado

de importncia comercial.

Quando se usa a tabela Torry, o perodo de vida til determinado pela

rejeio do pescado inteiro, com base em aspectos visveis externamente e ensaios

no-destrutivos, recorrendo a avaliao das caractersticas internas, apenas quando o

peixe apresenta-se eviscerado.

A rejeio pelo QIM pode ser estimada comparando-se o ndice de qualidade

com os resultados obtidos na avaliao sensorial do produto cozido por um painel de

julgadores.

Na avaliao sensorial do pescado cozido recorre-se frequentemente s

tabelas descritivas Torry, principalmente, para avaliao do odor e sabor

(HOWGATE, 1982; MARTINSDTTIR et al., 2009). Em geral, a pontuao varia

entre 10 e 3 pontos, correspondendo ao pescado muito fresco e deteriorado,

respectivamente. Esta classificao tem sido usada para determinar a rejeio

sensorial de pescado e como critrio para definio do perodo de vida til.

Independentemente de tabelas ou sistemas, os mtodos sensoriais so os mais

apropriados para se estimar a vida til do pescado, pois representam a opinio do

consumidor, alm de serem mais rpidos e simples, requisito essencial na avaliao

de produtos altamente perecveis, como no caso do pescado (BARBOSA;

BREMNER; VAZ-PIRES, 2002).

O pescado, de maneira geral, apresenta uma vida comercial restrita. O

perodo de vida til depende, principalmente, da temperatura de conservao e da

espcie em questo (HUSS, 1995; GRAM; HUSS, 1996).

27

Os crustceos apresentam uma vida til ainda mais restrita, visto

apresentarem uma rejeio precoce devido ao desenvolvimento da melanose.

Entretanto, so escassos os estudos que determinam a vida til dos camares.

Kirschnik e Viegas (2004) encontraram que o camaro Macrobrachium

rosenbergii manteve-se apto ao consumo at o 4 dia de armazenamento em gelo, em

contato direto ou embalado em saco de polietileno. Enquanto, Leito e Rios (2000)

indicaram 10 dias de vida til a 0C para a mesma espcie, com reduo da sua vida

til para 5 dias, quando armazenados em temperatura de 5C.

Garrido et al. (2012) estimaram uma vida til de 14 dias para camares

Litopenaeus vannamei, adequadamente manipulados e tratados com Everfresh (4-

hexylresorcinol) e apontam que o uso de conservantes essencial para manuteno