tese de doutorado jambpelicano.ipen.br/posg30/textocompleto/jose alberto maia barbosa_… · 1.1...
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INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES
Autarquia associada à Universidade de São Paulo
CONTRIBUIÇÃO À LEGISLAÇÃO BRASILEIRA NO SETOR DE
ENERGIA NUCLEAR
JOSÉ ALBERTO MAIA BARBOSA
São Paulo 2009
Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Doutor em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear – Aplicações. Orientador: Dr. Gian-Maria Agostino Angelo Sordi
Co - orientador: Dr. Leandro Del Moral Ituarte
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Dedico este trabalho científico à Lorene Aparecida Norte da Silva, por ter
estado ao meu lado, em todos os momentos desta jornada, principalmente nos de
maior dificuldade, com palavras de carinho, incentivo e sabedoria, que me deram
força e segurança para trilhar o caminho até o seu final, onde a distância não foi
fronteira para o grande afeto que nos une.
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AGRADECIMENTOS
Quero agradecer as seguintes instituições e pessoas que contribuíram de
maneira relevante para o meu ingresso, realização e conclusão no Programa de Pós-
Graduação em Tecnologia Nuclear em nível de Doutorado do Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares.
À Universidade de São Paulo, por promover e desenvolver todas as formas
de conhecimento, por meio do ensino e da pesquisa, visando à formação de pessoas
capacitadas ao exercício da investigação e do magistério em todas as áreas do
conhecimento, bem como à qualificação para as atividades profissionais.
Ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, pelos ensinamentos
transmitidos, pela oportunidade de convivência com profissionais da mais alta
competência e pelos recursos tecnológicos colocados ao meu dispor para realização da
pesquisa e desenvolvimento deste estudo.
Ao Banco Santander, pela bolsa de estudos do Programa de Mobilidade
Internacional de Pós-Graduandos da Universidade de São Paulo (USP), que me
permitiu a realização de um estágio na Universidad de Sevilla na Espanha.
Ao Doutor Gian-Maria Agostino Angelo Sordi, por ter aceitado ser meu
orientador junto ao Programa de Pós-Graduação, que, nos anos de convivência, muito
me ensinou, contribuindo para meu crescimento científico e intelectual, compartilhando
todo o seu conhecimento técnico-científico, que foram fundamentais, para o
desenvolvimento e conclusão do presente estudo e principalmente por sua preciosa
amizade.
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Aos Doutores José Esteban Castro, Leandro Del Moral Ituarte e Álvaro
Avelino Sánchez Bravo, facilitadores e responsáveis pelo meu intercâmbio de
conhecimentos na Universidad de Sevilla na Espanha, essenciais para a
complementação de minha formação acadêmica.
À Doutora Magda Vieira da Silva, pela sua participação na Comissão
julgadora do meu exame de capacidade, e seus comentários críticos ao Plano de
trabalho.
À Mestra Selma Violato Frazão, pelas aulas particulares das disciplinas de
fundamentos de tecnologia nuclear e por sua valiosa amizade.
À Doralice de Lima Xavier, pela gentil acolhida em Sampa, período que
me permitiu assistir aulas importantes sobre temas abordados no presente estudo.
À Marlene Cestarolli, pelo seu amor, carinho, presença constante,
dedicação, incentivo e apoio incondicional, oferecidos durante minha estada na
Espanha e nos derradeiros meses de conclusão da Pós-Graduação.
Aos meus irmãos Eduardo Ribeiro Barbosa e Isabel Cristina Maia
Barbosa, pelo apoio constante nas tarefas cotidianas, me proporcionando tempo para
total dedicação aos estudos da Pós-Graduação.
À minha mãe Alice Aparecida Maia Barbosa.
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ἐµοὶ δὲ θαυµάσαι θεῶν τελεσάντων οὐδέν ποτε φαίνεται ἔµµεν ἄπιστον
“Para mim, quando os deuses realizam maravilhas, nada parece inacreditável”
Píndaro, Pi. P. 10.48-50
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CONTRIBUIÇÃO À LEGISLAÇÃO BRASILEIRA NO SETOR DE
ENERGIA NUCLEAR
José Alberto Maia Barbosa
RESUMO
Tecnologia nuclear, ter o seu domínio é, considerado nos dias de hoje, um diferencial para
um país frente aos demais, podendo representar uma ameaça internacional a ser contida ou
um aspecto de valorização tecnológica e política para aqueles cuja credibilidade
internacional é reconhecida. Diante do uso crescente de novas tecnologias no setor e a
necessidade de uma regulamentação, de acordo com os padrões de segurança
internacionais, para assegurar a sua utilização, o objetivo desse estudo foi demonstrar se a
radioproteção ocupacional e ambiental praticada em nosso país está de acordo com os
padrões internacionais de segurança radiológica e nuclear. Para tanto, foi atualizada e
revisada a legislação brasileira na área da energia nuclear comparando-a com as da União
Europeia, contextualizados os pontos fortes e os pontos fracos da legislação nacional,
apontadas críticas e sugestões para que reformas sejam realizadas visando a sua adequação
aos padrões internacionais. A hipótese considerada demonstrou que mudanças na estrutura
de regulação do setor nuclear brasileiro são necessárias, visando à criação de uma agência
reguladora de atividades nucleares, com o intuito de assegurar que o estado da arte e da
tecnologia, em termos de segurança nuclear, seja a base do exercício de suas atividades
normativas de fiscalização e de avaliação de segurança na preservação do meio ambiente,
da saúde do público e dos trabalhadores, frente às aplicações da energia nuclear.
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CONTRIBUTION TO THE BRAZILIAN LEGISLATION IN NUCLEAR
ENERGY FIELD
José Alberto Maia Barbosa
ABSTRACT
Nuclear technology: to keep its domain is actually considered a differential for a country in
relation to other ones, being able to represent an international threat to be contained or an
aspect on technological and political valorization for those ones with recognized
international credibility. Face to a raising use of new technologies in the field and the
requirement asking for regulation in accordance with international safety standards, in
order to assure its employment, the objective of this study was to demonstrate whether
occupational and environmental radioprotection performed in our country is within
radiological and nuclear safety international standards, and so it was updated and revised
the Brazilian law in nuclear energy area, by comparing it with European Union,
contextualized strong and weak points from national law, indicating criticisms and
suggestions, in order that modifications will be able to be accomplished, aiming to its
adequacy to international standards. The considered hypothesis showed that are required
changes in the regulation structure in Brazilian nuclear area, aiming to the creation of a
regulator agency of nuclear activities, with the purpose of assuring that the state of art and
of technology, in terms of nuclear safety, to be the basis of the exercise related to their
normative, control and safety assessment activities, on environment preservation, public
and workers health, face to nuclear energy applications.
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BEITRAG ZUR BRASILIANISCHEN GESETZGEBUNG IM BEREICH DER
KERNENERGIE
José Alberto Maia Barbosa
ZUSAMMENFASSUNG
Die Beherrschung der Kernenergie wird heutzutage als eine Besonderheit gegenueber
andere Laender betrachtet, sie kann als eine internationale zurueckzuhaltende Bedrohung
oder als ein Aspekt der technologischen und politischen Bewertung fuer die, deren
internationale Glaubwuerdigkeit anerkannt wird, darstellen. Angesichts der wachsenden
Nutzung neuer Technologien in diesem Bereich und der Notwendigkeit einer Regelung in
Uebereinstimmung mit den internationalen Sicherheitsnormen um ihre Benutzung
sicherzustellen, ist das Ziel dieser Studie vorzuweisen, ob die in unserem Land
angewendete Radio-Beschuetzung mit den internationalen Normen fuer Radiologie-und
Kernenergie-Sicherheit uebereinstimmt. Dafuer wurde die brasilianische Regelung im
Bereich der Kernenergie aktualisiert, nachgeprueft. und mit denen der EU verglichen.
Dabei wurden die Schwachpunkte und die Staerken der nationalen Gesetzgebung in
Betracht gezogen, auf Vorschlaege und Kritiken hingewiesen, damit die notwendigen
Reformen in Uebereinstimmung mit den internationalen Normen, durchgefuehrt werden
koennen. Die beruecksichtigte Hypothese zeigt, dass Aenderungen in der Regelung des
brasilianischen Kernenergie-Bereichs notwendig sind mit der Absicht eine Agentur zur
Regulierung der Kernenergie-Aktivitaeten zu erschaffen. Damit wird beabsichtigt,
sicherzustellen, dass das Kunst-und Technologiewesen in Bezug auf Kernenergie-
Sicherheit die Grundlage ist, zur Ausuebung ihrer normativen Aktivitaeten bei der
Kontrolle und Bewertung der Sicherheit, in der Erhaltung der Umwelt, der Gesundheit des
Volkes und der Arbeiter bei der Kernenergie-Benutzung.
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SUMÁRIO
Página
1 INTRODUÇÃO 12
1.1 Energia Nuclear: Os desafios para o futuro 12
1.2 Principais razões que levaram o autor a realizar a pesquisa 13
1.3 A importância do problema levantado 13
1.3.1 O problema da pesquisa 13
1.3.2 Hipótese básica 13
1.4 Alcance da pesquisa e delimitação do assunto 14
1.5 Relação do trabalho com outros similares 15
2 FINALIDADE, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA 16
2.1 Finalidade 16
2.2 Objetivos 16
2.3 Justificativa 16
3 METODOLOGIA 18
4 A HISTÓRIA DA ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL 20
4.1 Primórdios da energia nuclear no Brasil 20
4.2 Uma política nuclear nacional 22
4.3 Primeira usina nuclear brasileira 22
4.4 Implantação de centrais nucleares 23
4.5 Rompimento das negociações com os americanos 23
4.6 Acordo Brasil - Alemanha 25
4.7 Avaliação do PNB pós-governos militares 26
4.8 Programa Nuclear Autônomo 28
4.9 Viabilização econômica das usinas Angra 2 e Angra 3 29
4.10 Retomada do PNB e a conclusão de Angra 3 32
5 ORDENAMENTO JURÍDICO E INSTITUCIONAL NACIONAL 36
5.1 Ordenamento jurídico 36
5.2 Processo legislativo 36
5.3 Atos administrativos 38
5.4 Constituição Brasileira e o Direito Nuclear 41
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5.5 Legislação infraconstitucional brasileira 42
5.6 Legislação Internacional 49
6 MARCO REGULATÓRIO 51
6.1 Regulação na área Nuclear 51
6.2 Regulação nuclear no Brasil 51
6.3 Controle regulatório exercido no Brasil 52
7 FORMAÇÃO DO ESPAÇO EUROPEU 55
7.1 Principais instituições encarregadas da legislação e das políticas comunitárias 55
7.1.1 Parlamento Europeu 55
7.1.2 Conselho da UE 55
7.1.3 Comissão Europeia 56
7.2 Ordenamento jurídico 58
7.2.1 Tratados 58
7.2.2 Acordos internacionais 58
7.2.3 Acordos com países terceiros ou organizações internacionais 59
7.2.4 Acordos entre os Estados-Membros 59
7.2.5 Direito derivado 60
7.2.6 Regulamento 60
7.2.7 Diretiva 60
7.2.8 Decisão 60
7.2.9 Recomendação 61
7.2.10 Parecer 61
7.2.11 Ação comum 61
7.2.12 Decisão, decisão-quadro e ação comum 61
7.2.13 Posição comum 62
7.2.14 Acordo internacional 62
7.2.15 Jurisprudência 62
7.2.16 Princípios gerais de direito 62
7.2.17 Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias 62
8 PANORAMA DA ENERGIA NUCLEAR NA EUROPA 64
8.1 Origem 64
8.2 Objetivos 65
8.3 Âmbito de aplicação 66
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8.4 Regime jurídico 66
8.5 Estrutura 67
8.6 Missões 68
8.7 Futuro do Tratado Euratom 71
8.8 Gestão dos riscos ligados à energia nuclear 72
8.9 Proteção contra as radiações 73
8.10 Investigação europeia no domínio nuclear 74
8.11 Energia nuclear e competitividade 75
9 DISCUSSÃO 77
10 CONCLUSÕES 92
11 FUTUROS TRABALHOS 95
APÊNDICE - CONSOLIDADO DA LEGISLAÇÃO NA ÁREA NUCLEAR 96
GLOSSÁRIO 129
REFERÊNCIAS 137
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 141
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1 INTRODUÇÃO
1.1 Energia Nuclear: Os desafios para o futuro
O século XXI deverá ser o século da energia nuclear, não apenas sob as
formas que já vêm sendo exploradas pela humanidade há mais de meio século, mas
também com os avanços proporcionados pelo crescente conhecimento dos processos que
ocorrem no núcleo atômico, os quais prometem expandir as aplicações da energia nuclear
à sintetização de novos materiais e combustíveis baseados no hidrogênio, dessalinização da
água do mar e muitas outras.
Ademais, a indústria nuclear amplificada e aprimorada deverá ser um dos
setores de ponta para levar a economia mundial a níveis mais elevados de produtividade
física e postos de trabalho qualificados, que possibilitem uma reversão dos enormes
desequilíbrios e desigualdades fomentados pelas políticas econômico-financeiras das
últimas décadas1.
O mundo presencia agora um grande renascimento da energia nuclear,
desencadeado principalmente pelos altos níveis recentes de crescimento das economias
físicas da China, Índia e alguns outros países do que se costumava chamar “terceiro
mundo”. Praticamente todas as grandes nações estão engajadas ou planejando engajar-se
em programas de energia nuclear. A Rússia anunciou a intenção de construir 40 usinas
nucleares nos próximos 25 anos; os Estados Unidos da América (EUA) estão reativando a
sua indústria nuclear; a França anunciou uma nova ofensiva para aumentar as exportações
de tecnologia nuclear; e a África do Sul está se preparando para produzir em massa o seu
projeto próprio de reator nuclear, o reator modular de alta temperatura, tanto para uso
doméstico, como para exportação para países em desenvolvimento em todo o mundo. A
lista poderia ser continuada. E, não menos importante, o Brasil está se comprometendo
para com um futuro com energia nuclear2.
No governo do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil
recupera a percepção de que a excelência científico-tecnológica é o caminho mais
interessante para um desenvolvimento sócioeconômico nacional sustentável. Nesse
sentido, o incremento da área nuclear, por seu caráter multifacetado, é defendido como um
dos vetores fundamentais para a viabilização desse projeto, tornando-se base para a
realização do interesse nacional, qual seja, uma inserção externa soberana em que pesem a
valorização e prestígio do país frente àqueles desenvolvidos e aos seus pares em
desenvolvimento.
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Nesse contexto, a energia nuclear aparece também como alternativa, mas
inspira cuidados no desenvolvimento tecnológico pela interface bélica e político-
estratégica que possui. Os pontos positivos dessa energia estão relacionados ao
desenvolvimento de uma tecnologia de ponta, ao alcance de excelência que pode ser
absorvida em outros setores da produção, ao incremento da indústria de defesa, ainda que
para fins pacíficos e à possibilidade de diversificação da pauta de exportações,
participando do restrito mercado de produtos do ciclo do combustível nuclear.
Paralelamente, a energia nuclear traz como negatividade o alto custo e tempo para a
construção de usinas, a pressão internacional nas áreas de defesa e comércio e a questão
ambiental, pois, se de um lado, ao se adequar às exigências do Protocolo de Kioto sobre a
redução na emissão de gases poluentes, por outro, produz rejeitos radioativos que
requerem processos de tratamento específicos, problema não totalmente solucionado em
todos os países que utilizam termonucleares3.
1.2 Principais razões que levaram o autor a realizar a pesquisa
A motivação para a escolha do tema está associada à necessidade da
introdução, da segurança em um grau elevado de sofisticação e da harmonização nas
atividades empreendidas pelo uso da energia nuclear e das radiações ionizantes com a
utilização de uma legislação rígida. Com a finalidade de salvaguardar a saúde e o bem estar
do indivíduo, impondo o paradigma de que o uso da energia nuclear e das radiações
ionizantes produz um benefício máximo e um detrimento mínimo à saúde da população
como um todo e dos indivíduos considerados singularmente. Trata-se da exposição de um
estudo científico de tema único e bem delimitado, elaborado com base em investigação
original, constituindo-se em real contribuição para a especialidade em questão.
1.3 A importância do problema levantado
1.3.1 O problema da pesquisa
A radioproteção ocupacional e ambiental praticada em nosso país está de
acordo com os padrões internacionais de segurança radiológica e nuclear?
1.3.2 Hipótese básica
Tendo por base a hipótese de que a proteção e segurança das usinas e
instalações nucleares, assim como das instalações radiativas, são fundamentais para que a
área nuclear se consolide e tenha apoio da sociedade e da comunidade científica. Um
incidente ou acidente em qualquer das instalações pode provocar um veto político à
tecnologia por décadas, além do impacto indesejável na opinião pública mundial e no
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relacionamento entre as nações. Portanto, a preservação do meio ambiente e a proteção da
população e dos trabalhadores dos efeitos indesejáveis da energia nuclear devem ser
pressupostos fundamentais na organização das empresas e da pesquisa, seguindo os
padrões e acordos internacionais, garantindo um desenvolvimento ao mesmo nível dos
países detentores da tecnologia, como aos da União Europeia (UE).
Acordos internacionais na área nuclear, dos quais o Brasil participou da
elaboração e é signatário, exigem que haja separação efetiva entre fiscalização/controle e
pesquisa/desenvolvimento. Sendo assim, concluímos que mudanças na estrutura de
regulação do setor nuclear brasileiro são necessárias, objetivando a criação de uma agência
reguladora de atividades nucleares nacional, para que a radioproteção ocupacional e
ambiental praticada em nosso país, embora exista e seja efetiva, venha estar de acordo com
os padrões internacionais de segurança radiológica e nuclear.
A experiência internacional dos órgãos regulatórios nucleares e os erros e
acertos na criação das agências regulatórias brasileiras representam um ponto de partida
importante na formulação de uma legislação moderna para a criação de uma agência
reguladora de atividades nucleares nacional. Com o objetivo de assegurar que o estado da
arte e da tecnologia, em termos de segurança nuclear, seja à base do exercício de suas
atividades normativas, de fiscalização e de avaliação de segurança. Assim como seja
garantida a participação em suas decisões de todos os segmentos da sociedade envolvidos
na preservação do meio ambiente, da saúde do público e dos trabalhadores, frente às
aplicações da energia nuclear. A garantia de independência política de atuação da agência
reguladora de atividades nucleares é um dos dispositivos jurídicos essenciais para que os
interesses dos proprietários das instalações e da indústria nuclear não venham a interferir
em suas decisões.
1.4 Alcance da pesquisa e delimitação do assunto
O tema estudado é original e contemporâneo, pois é objeto de análises e
críticas, não só no âmbito nacional, mas também no internacional, diante do uso crescente
de novas tecnologias no setor e a necessidade de uma regulamentação atual e de acordo
com os padrões de segurança internacionais para assegurar a sua utilização. Com efeito, o
processo de consolidação normativa na área nuclear brasileira exige um novo marco
regulatório; o trabalho elaborado poderá desenvolver contribuição efetiva para esse debate
e para as mudanças necessárias na área regulatória. A delimitação do assunto está
estruturada por um recorte de pesquisa que investiga a atualização e a otimização da
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legislação brasileira na área de energia nuclear para seu uso pacífico e de acordo com os
padrões internacionais de segurança e sustentabilidade. Assim sendo, o campo de
observação da tese centrou-se e desenvolveu-se nesta área de estudo, um trabalho de
investigação que representa contribuição original ao estado da arte do tema tratado para a
construção do conhecimento e para a prática profissional.
1.5 Relação do trabalho com outros similares
O presente trabalho objetivou, partindo de uma revisão do arcabouço legal
nuclear na legislação nacional, comparar o resultado com a legislação nuclear da UE, que
atualmente congrega 27 países europeus democráticos e constitui sua base jurídica no
Tratado Euratom, Tratado que fixa obrigações e competências desenvolvidas no domínio
da energia nuclear, particularmente em matéria de investigação bem como do controle da
segurança nuclear. As salvaguardas nucleares do Tratado Euratom, bem como sua
legislação, se articulam com as garantias exercidas pela Agência Internacional da Energia
Atômica (AIEA) e suas recomendações, no âmbito de acordos tripartidos concluídos pelos
Estados-Membros, a Comunidade Europeia e a AIEA.
Com a comparação entre as legislações, foram contextualizados os pontos
fortes e os pontos fracos entre ambas, com destaque para os aspectos de proteção e
segurança e oferecidas sugestões para as mudanças que julgamos necessárias na legislação
nacional. Pontos em destaque da originalidade do presente estudo.
Tomando como referencial essas considerações, o presente estudo não encontra
similaridade com outros na literatura científica e está estruturado por meio de uma
discussão subdividida em onze seções e um apêndice.
Por fim, considerações finais são tecidas à guisa de conclusão a partir de
recuperação de algumas constatações desenvolvidas ao longo do texto, com o objetivo de
sintetizar uma discussão final sobre a temática em questão.
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2 FINALIDADE, OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA
2.1 Finalidade
Demonstrar se a radioproteção ocupacional e ambiental praticada em nosso
país está de acordo com os padrões internacionais de segurança radiológica e nuclear.
2.2 Objetivos
• Atualizar e revisar a legislação brasileira no setor de energia nuclear,
comparando-a com as da UE.
• Contextualizar os pontos fortes e os pontos fracos da legislação nacional a
partir da comparação.
• Apontar a importância da adoção de ações corretivas, fundamentando-se o
direito e sua aplicação.
• Contribuir com críticas e sugestões, para que haja uma maior e cuidadosa
reflexão sobre a questão e, consequentemente, para que reformas sejam
realizadas na legislação nacional vigente, visando a sua otimização e
adequação aos padrões internacionais.
2.3 Justificativa
Há uma ampla gama de necessidades de aplicações nucleares nas áreas de
energia, indústria, saúde, meio ambiente, agricultura e recursos hídricos que demandam
continuamente novos e melhores produtos e serviços, que contribuem diretamente para a
qualidade de vida da população. Para a utilização segura dessas aplicações, deve-se
considerar a necessidade de assegurar a proteção do trabalhador, da população e do meio
ambiente, a partir do aumento do número de instalações nucleares e radioativas no país e
do conseqüente aumento da geração de rejeitos radioativos.
A atualização e revisão da legislação brasileira no setor da energia nuclear
concernente às atividades nucleares no Brasil é um aspecto que deve ser aprimorada e
constantemente acompanhada, até como meio que proporcione o fortalecimento da
comunicação e interação da equipe gerencial e executiva.
Com o reaparecimento dos debates concernentes às mudanças climáticas, a
tendência é de se enfatizar as atividades nucleares no setor de energia, visando à
diversificação da matriz energética brasileira e a busca ao aceleramento das pesquisas em
fusão nuclear.
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A expansão das atividades nucleares exige que os atores envolvidos continuem
mantendo negociações para reformulação do Programa Nuclear Brasileiro (PNB) e para a
melhoria do arcabouço institucional vigente.
Nesse cenário, a importância científica e social do problema, a atualidade do
tema e a contribuição efetiva que se poderá realizar para a formulação de políticas públicas
para o setor de energia nuclear, a opção pelo tema se justifica, e a sua relevância, para o
autor.
Neste contexto, o tema do presente trabalho é realmente significante,
apresentando contribuição original à área do conhecimento.
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3 METODOLOGIA
A presente pesquisa classifica-se quanto aos fins em exploratória e quanto aos
meios em bibliográfica e documental.
Na elaboração da pesquisa bibliográfica e documental foram utilizadas bases
de dados referenciais nacionais e internacionais de assuntos que estão publicados em
livros, artigos de revistas, eventos e teses, a saber: INIS - International Nuclear
Information System, Nuclear Power, IAEA Library Catalogue, Nuclear Fuel Cycle &
Waste Technology, Planning & Economic Studies Section, Energy Technology Data
Exchange, Scielo - Scientific Electronic Library Online, NDLTD -Networked Digital
Library of Theses and Dissertation, Biblioteca digital brasileira de teses e dissertações,
Biblioteca do Senado Federal, Bibliografia Brasileira de Direito, Biblioteca Digital de
Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo, Banco de teses da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
da UNESP.
Também foram consultados livros e artigos com literatura especializada na área
nuclear, dos últimos 10 anos, nos idiomas português e inglês. Para responder aos objetivos
desse estudo, com relação à legislação nacional, o corpo teórico utilizado centrou-se
inicialmente em um histórico da energia nuclear em nosso país, em seguida foi efetuada
uma análise da Constituição da República Federativa do Brasil (CF) e de um consolidado
da legislação brasileira aplicada ao setor nuclear, uma seleção de textos legislativos
inerentes à área, elaborada e organizada pelo autor em quatro partes. A saber: Decreto,
Decreto-Lei, Decreto Legislativo e Lei. Cada parte iniciando-se por uma relação histórica
da legislação com os respectivos objetos explicitados que se encontram em vigor ou são
referenciados na atual legislação. Essa bibliografia encontra-se no apêndice deste trabalho.
Esse trabalho bibliográfico atualizado até dezembro de 2007, ampliado até a
presente data e completado com os textos, na íntegra, será posteriormente colocado no
formato adequado para futura publicação a respeito de toda a legislação nacional em
apreço.
Em seguida foi realizada uma pequena introdução à regulação internacional e
nacional na área nuclear para adentrar-se posteriormente na legislação européia, onde
foram selecionados e estudados os Tratados constitutivos da base da UE, para
compreensão da sua estrutura e funcionamento como um todo e com ênfase estudou-se o
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Tratado Euratom que abarca a energia nuclear na UE. Por fim foi discutido o panorama
atual da energia nuclear na Europa.
O autor foi contemplado com uma bolsa de estudos do Programa de
Mobilidade Internacional de Pós-Graduandos da Universidade de São Paulo (USP), que lhe
permitiu a realização de um estágio na Universidad de Sevilla, na Espanha, por um período
de seis meses onde, além de realizar pesquisas nas bibliotecas da Universidade, participou
do Curso de Extensão Universitária, denominado Tratado de Lisboa: Novedades en el
proceso de construcción comunitária, que discorre sobre a legislação, a política do meio
ambiente e desenvolvimento sustentável na UE. Curso esse promovido pelo Centro de
Documentação Européia da Universidad de Sevilla, realizado pela Faculdade de Direito da
referida Universidade.
Participou também, de visitas monitoradas às Casas Legislativas do Brasil
(Câmara dos Deputados e Senado Federal) e da UE (Conselho e Comissão Europeia).
Durante a realização do estágio e das visitas, foi observado na teoria e na prática, o
desenvolvimento das leis, que formam a base jurídica da legislação nacional e européia,
com ênfase na área nuclear. Para o desenvolvimento de toda essa parte referente à energia
nuclear na EU, essas participações foram de grande utilidade.
Com a bibliografia colocada no apêndice deste trabalho acredita-se ter
cumprido o primeiro objetivo.
Entenda-se ser original o conteúdo do apêndice, ainda que seja uma mera
compilação de Decretos, Decretos-Lei, Decretos Legislativos e Leis nacionais a respeito da
energia nuclear, pela colocação do autor.
As idéias expostas no presente trabalho são todas originais, uma vez que
representam a visão e o conhecimento adquirido pelo autor, no sentido de implantar uma
política nuclear nacionalista que permita ao país entrar na competitividade internacional e
formar uma indústria nuclear nacional, utilizando-se dos meios mais modernos de
proteção, segurança e seguridade.
De posse de todo o arcabouço técnico-científico e legislativo nacional e
internacional, partiu-se para cumprir os demais objetivos.
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4 A HISTÓRIA DA ENERGIA NUCLEAR NO BRASIL
4.1 Primórdios da energia nuclear no Brasil
A história da energia nuclear no Brasil inicia-se no pós-guerra com a luta do
Almirante Álvaro Alberto da Motta Silva contra as “pressões” americanas para alcançar o
controle de propriedade das reservas mundiais de Tório e Urânio. O Almirante Álvaro
Alberto, representante brasileiro na Comissão de Energia Atômica (CEA), do Conselho de
Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), no qual teve por duas vezes assento,
(1946-1947), se insurgiu contra a administração e domínio das jazidas de minerais
nucleares estratégicos, por organização a ser criada pela CEA, proposta pelo representante
norte-americano Bernard Baruch, mundialmente conhecida como Plano Baruch. A
proposta visava a criação de uma autoridade internacional de controle de energia atômica
que deveria assumir a posse e a administração de todos os respectivos meios de produção,
controlando as reservas de minerais radioativos, ao redor do mundo, propondo que todos
os países, com reservas de minerais nucleares, colocassem os seus suprimentos sob a sua
responsabilidade. O objetivo era não permitir que os países tivessem acesso a materiais ou
equipamentos com que fosse possível construir armas nucleares, devendo todos ficar na
posse e sob controle dessa autoridade4.
Em 1951, o Presidente da República Getúlio Vargas criou o Conselho Nacional
de Pesquisas (CNPQ) nomeando o Almirante Álvaro Alberto para presidi-lo.
No mesmo ano, o Almirante Álvaro Alberto propôs uma legislação que
protegesse as reservas nacionais de Tório e Urânio contra a espoliação estrangeira. Nesse
contexto, o Almirante defendeu a tese das compensações específicas, o que valia dizer que
nenhuma transação comercial com minerais estratégicos deveria se realizar contra
pagamento em dólares, mas sim em base de troca de tecnologia.
As resistências do Almirante Álvaro Alberto foram insuficientes para impedir o
“arrebatamento” das jazidas brasileiras pelos norte-americanos que, já em 1952,
importavam de uma só vez toda a cota de Tório que lhes foram garantidas para dois anos
de acordo.
A inflexibilidade dos norte-americanos “comprometidos” pela força do
Mcmahon-Act inviabilizava qualquer cooperação com o Brasil. A pretendida cooperação,
entretanto, era uma ilusão do enviado americano para “nutrir” a política de exportação de
minerais que Gordon Dean, Presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados
Unidos da América (CEAEUA) de 1950 a 1953, insistia em “fomentar”. Em virtude, disso
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o Almirante Álvaro Alberto pediu autorização ao governo brasileiro para encetar
negociações com outros países. Em missão do CNPQ, ele viajou para a Europa onde faria
contato na França e na Alemanha ocupada pelos aliados.
Na França, negociou a aquisição de uma usina de yellow cake e, na Alemanha
propôs que os cientistas alemães, em atividade à margem da legalidade aliada, fornecessem
ao Brasil a tecnologia de enriquecimento de Urânio rejeitada pelos americanos.
Nesse ponto a missão do Almirante Álvaro Alberto assumia forma de missão
secreta, na medida em que suas ações passavam a ignorar outras instâncias decisórias,
como o Conselho de Segurança Nacional (CSN), o Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM) e o Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), pois, para completar sua
tarefa, isto é, transferir os protótipos das centrífugas de Urânio para o Brasil, ele dependia
de uma diplomacia secreta à margem do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. A
embaixada brasileira em Bonn recomendou que se aguardasse o estabelecimento da plena
soberania da Alemanha Ocidental, quando então seria possível a importação das
centrífugas.
Formalmente o CNPQ aceitou a recomendação, mas o Almirante Álvaro
Alberto solicitou ao então Presidente da República Getúlio Vargas, uma autorização
especial no sentido de que o Ministério das Relações Exteriores apoiasse o embarque
secreto das máquinas.
As centrífugas foram apreendidas em Göttingen e Hamburgo pelo Conselho
Militar de Segurança, menos de 24 horas após essa consulta. O plano do golpe feito contra
a encomenda fora forjado pela CEAEUA. O Almirante Álvaro Alberto, ao contatar o
presidente dessa Comissão Lewis Strauss, presidente de 1953 a 1958, não recebeu desse,
nenhuma esperança de que os aparelhos apreendidos pelos aliados fossem liberados. Por
outro lado Strauss, habilmente, contra-atacaria com uma oferta de “ajuda” dos EUA, nos
moldes permitidos pela política nuclear americana. O Almirante Álvaro Alberto, mais uma
vez, repetiria os desejos de seu governo: usinas de enriquecimento, uma fábrica de
produção de hexafluoreto de Urânio, além de reatores de pesquisa.
A rejeição da CEAEUA fez o Almirante voltar de mãos vazias e a providência
seguinte foi sua exoneração do CNPQ, em março de 1955. Logo em seguida, em agosto do
mesmo ano, é assinado com os EUA o Programa de cooperação para o reconhecimento dos
recursos de Urânio no Brasil. Em meados de 1956 é instalada uma Comissão parlamentar
de inquérito (CPI) para investigar o problema da energia atômica no país, devido à
aceitação das condições de negociação com os EUA levando à mudança da política
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brasileira na exportação de minerais estratégicos, como também a possível relação da
exoneração do Almirante Álvaro Alberto ter sido motivada por “pressões” norte-
americanas, explicitadas em quatro documentos secretos, oriundos da diplomacia
americana5.
4.2 Uma política nuclear nacional
A CPI recomendou a revisão de acordos internacionais que prejudicavam o
país, e o Governo, então, nomeou uma comissão interministerial, cujas diretrizes,
aprovadas pelo CSN, estabeleciam que o ponto fundamental da política nuclear deveria ser
produzir no país combustíveis nucleares sob total controle e propriedade do Governo.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), desmembrada do CNPQ
em 1956 para executar a política nuclear já citada, estabeleceu estreita colaboração com os
EUA, através de acordo de cooperação nuclear dentro do Programa Átomos para a Paz.
Nessa fase perderam-se iniciativas promissoras, como o Grupo do Tório, grupo
esse do Instituto de Pesquisas Radioativas de Belo Horizonte, que conseguiu, entre 1955 e
1960, desenvolver um projeto de um reator alimentado a Tório. No entanto, findo o
trabalho, o grupo foi dissolvido. Segundo o relatório final do Grupo do Tório, foi
desenvolvido o projeto preliminar de referência de um reator, cuja tecnologia ligada ao
projeto, poderia ser desenvolvida no Brasil, que não era tão complexa, já que tudo indicava
que o mais apropriado para o país era a opção Urânio natural, seguida da opção Plutônio-
Tório para o prazo mais longo5.
4.3 Primeira usina nuclear brasileira
O Governo brasileiro, ainda sob forte influência dos acordos de 1955 com os
norte-americanos, assumiu uma decisão, precedida de estudos preliminares detalhados;
esse estudo oficial definiu uma conceituação básica para o projeto da central nuclear da
região sudeste do Brasil. Segundo este estudo a central nuclear deveria ter como
finalidades principais:
• Demonstrar a viabilidade técnica e econômica da energia produzir material
físsil para o futuro;
• Iniciar a implantação de uma indústria nuclear no país.
Em 1968, entre as opções de reatores a água leve (EUA), a gás grafite (França
e Inglaterra) e água pesada (Canadá e Suécia), foi escolhida a opção Urânio enriquecido,
sob a razão principal de adoção do tipo de reator comprovado tecnicamente, a vista do
vulto dos investimentos e da importância da central como fonte confiável do suprimento do
sistema elétrico brasileiro.
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Em julho de 1972, o Brasil assinava um contrato com a empresa Westinghouse,
dos EUA, que assumiu o compromisso de construir a primeira usina nuclear de potência no
Brasil.
Nesse contrato, a “dependência” dos EUA era ampla, não deixando muita
liberdade para o crescimento da tecnologia nuclear no país. Dessa forma, era previsto o
fornecimento de 500 t de Urânio enriquecido para ser utilizado no reator, no prazo de 30
anos e o governo dos EUA teria direitos, tais como: examinar o projeto de qualquer reator;
examinar outros equipamentos e artefatos cujo projeto tivesse, ao juízo da Comissão
regulatória americana, relevância para aplicação de salvaguardas nucleares.
Além dessas graves disposições unilaterais, os EUA se asseguravam, ainda, do
direito de designar o pessoal que teria acesso no Brasil a todas as instalações e a todos os
dados necessários para o inventário de material fértil e do material nuclear.
O país não poderia alcançar assim, evidentemente, nenhum desenvolvimento
no setor nuclear com tal “subordinação” política5.
4.4 Implantação de centrais nucleares
Nos anos de 1973 e 1974 a CNEN, através de sua subsidiária, a Companhia
Brasileira de Tecnologia Nuclear (CBTN), criada em 1971, realizou estudos de viabilidade
referentes à introdução da tecnologia nuclear em larga escala no país. Como resultado
desses estudos foi estabelecida uma estratégia de implantação de centrais nucleares que
resultou na criação da Empresas Nucleares Brasileiras (NUCLEBRAS), oriunda da CBTN
e que seria a empresa majoritária encarregada de implantar no país uma indústria pesada
para a fabricação de reatores e uma indústria abrangendo todas as etapas do chamado ciclo
do combustível nuclear, para proporcionar uma capacidade nuclear de eletricidade.
A estratégia definida nos estudos da CBTN, e adotada pela nova empresa
majoritária do setor, optou pelo modelo de transferência de tecnologia, sendo interessante
frisar que Angra 1 foi um empreendimento fora dessa estratégia de implantação de
tecnologia nuclear e transferência de tecnologia, tendo sido um empreendimento turn-key.
A partir desse ponto as negociações que vieram a se concretizar, em 1975, na
assinatura do acordo com a República Federal da Alemanha (RFA), foram feitas no maior
sigilo, para evitar-se as experiências anteriores em que interferências externas à soberania
nacional impediram o desenvolvimento nesse setor5.
4.5 Rompimento das negociações com os americanos
As “pressões” dos norte-americanos prosseguiram através do Senado dos EUA
e até mesmo durante a campanha presidencial do candidato Jimmy Carter.
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O Brasil havia rompido negociações com os EUA meses antes do acordo com a
Alemanha, em razão das empresas americanas não poderem legalmente realizar as
seguintes transações:
• Produção/participação de material nuclear fora dos EUA;
• Construção de instalação para o processamento de elementos irradiados ou
para a produção de água pesada;
• Construção de instalação ou fornecimento de peças para a separação
isotópica;
• Prestar auxílio aos estrangeiros na compra, projeto ou instalações para o
enriquecimento de Urânio e processamento de material irradiado.
No início de 1977, o Governo Carter ameaçou colocar em prática um programa
de estágios repressivos, caso os parceiros do acordo não aceitassem condições americanas
constituídas do seguinte elenco de possíveis propostas, algumas mutuamente exclusivas:
• Participação americana no acordo e no processo de transferência de
tecnologia do enriquecimento e reprocessamento de Urânio;
• Usina de reprocessamento construída num país neutro, do continente latino
americano, e submetida ao controle internacional. Em sendo a usina construída no Brasil,
teria que ser submetida aos controles complementares do sistema da Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA);
• Propunham a formação de um cartel internacional de empresas construtoras
e vendedoras de tecnologia nuclear, proporcionando uma margem de lucro ao setor, de
forma que pudesse dispensar os acordos de exportação dessa tecnologia aos países em
desenvolvimento5.
O programa de represálias constituía-se de:
• Levantar pesadas barreiras alfandegárias contra produtos alemães e
brasileiros no mercado interno americano;
• Bloquear a exportação de produtos dos quais havia dependência no Brasil e
na Alemanha;
• Bloquear o acesso do Brasil aos mercados financeiros;
• Embargar o fornecimento de Urânio enriquecido e em forma natural que já
tinha sido contratado com a Alemanha;
• Demagogicamente ameaçar a retirada das “tropas” de proteção norte-
americanas sediadas em solo alemão.
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4.6 Acordo Brasil - Alemanha
As diplomacias brasileira e alemã resistiram às “pressões” dos EUA e, através
da NUCLEBRAS, o Acordo Brasil-Alemanha para implantação de tecnologia nuclear no
Brasil, foi iniciado.
O artigo primeiro do acordo diz que o Brasil e a RFA fomentarão a cooperação
entre instituições de pesquisa científica e tecnológica e entre empresas dos dois países,
abrangendo o seguinte:
• Prospecção e processamento de minerais de Urânio;
• Produção de compostos de Urânio;
• Produção de reatores nucleares e outras instalações nucleares bem como
seus componentes;
• Enriquecimento de Urânio e serviços de enriquecimento;
• Produção de elementos combustíveis;
• Reprocessamento de combustíveis irradiados.
Essa cooperação implicava intercâmbio de informações tecnológicas, sendo o
Brasil co-proprietário das mesmas. A partir do acordo foram criadas, como instrumento de
implementação, as seguintes empresas binacionais:
• NUCLEP - NUCLEBRAS Equipamentos Pesados (75% da NUCLEBRAS e
25% da KWU, GHH e VAL) com o fim de projetar, desenvolver, fabricar e vender
componentes pesados de usinas nucleares e de outros projetos energéticos, instalada em
Itaguaí-RJ.
• NUCLAM - NUCLEBRAS Auxiliar de Mineração (51% da NUCLEBRAS
e o restante da URANGESELLSCHAFT) destinada a realizar a prospecção, a pesquisa, o
desenvolvimento e a exploração dos depósitos de Urânio e extrair, beneficiar, processar e
tornar adequados ao comércio o Urânio natural e seus subprodutos.
• NUCLEN - NUCLEBRAS Engenharia S/A (75% da NUCLEBRAS e 25%
da KRAFTWERKE UNION GESELLSCHAFT), com o fim de elaborar projetos de
engenharia para usinas nucleares e projetos afins e habilitar a indústria brasileira a fabricar
componentes para essas usinas.
• NUCLEI - NUCLEBRAS Enriquecimento Isotópico (75% da
NUCLEBRAS e 15% da INTERATOM e 10% da STEAG), usina de enriquecimento a jato
centrífugo em Resende-RJ.
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• NUSTEP (50% da NUCLEBRAS e 50% da STEAG) para o
desenvolvimento do processo jato centrífugo de enriquecimento.
E as nacionais:
• NUCLEMON - NUCLEBRAS Pesquisa de Tório e Areias Monazíticas S/A
(100% NUCLEBRAS) atuando fora da execução do acordo nas atividades de pesquisa,
lavra, concentração e industrialização.
• NUCON - NUCLEBRAS Construtora de Centrais Nucleares S.A., criada
em 23/10/1980 (100% NUCLEBRAS) para a construção de centrais nucleares.
As dificuldades financeiras impostas ao Brasil concorreram, a partir de 1983,
para reduzir a regularidade, principalmente das usinas nucleares de Angra 2 e Angra 3. As
usinas 4 e 5, previstas inicialmente no acordo e cujos sítios chegaram a ser definidos
tiveram seus cronogramas congelados em 1983 e a concorrência para entrada da contratada
para a construção civil, cancelada.
Iríamos iniciar um período abrangendo três Presidentes da República onde, a
indecisão do Governo, na tomada de uma decisão política deixaria o Programa Nuclear
Brasileiro (PNB), especificamente, no que concerne à construção de usinas nucleares,
praticamente estacionada por longos 13 anos.
De lá para cá ocorreram muitas mudanças institucionais, algumas frutos do
casuísmo típico da política brasileira, outras necessárias para correção de rumos e busca de
equações financeiras que permitissem dar continuidade ao que restava do PNB5.
4.7 Avaliação do PNB pós-governos militares
Com o início da chamada “nova república” e o fim do ciclo de Governos
militares, em 1985 houve a criação de uma Comissão de alto nível para avaliação do PNB,
cujo relatório final, em 1986, apresentou as seguintes e principais conclusões gerais:
• As aplicações pacíficas da energia nuclear assumem importante e crescente
papel no desenvolvimento social e econômico dos povos e vem promovendo profundas
alterações na distribuição de poder entre as nações. Entre as aplicações do domínio do
núcleo atômico, avulta, pela escala de produção, complexidade e volume de recursos
envolvidos em seu desenvolvimento, a implementação da geração nucleoelétrica que,
mundialmente, já apresenta 18% da geração de eletricidade;
• A tecnologia nuclear faz apelo aos mais diversos setores industriais de
ponta, exigindo níveis de qualidade e segurança tais, que seu domínio propicia grandes
benefícios à sociedade como um todo. Ela não só participa cada vez mais da geração de
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energia elétrica, como promove a melhoria de qualidade de vida do homem através de suas
múltiplas aplicações à medicina, agricultura e indústria;
• O Brasil deverá atender suas necessidades energéticas futuras pelo uso cada
vez mais intenso de fontes térmicas, notadamente do carvão e da energia nuclear, face ao
esgotamento previsível de seu potencial hidroelétrico. Adotando-se projeções de demanda
de energia elétrica mais conservadoras e os custos de geração eletronuclear mais elevados,
o potencial hidroelétrico estará esgotado no ano 2016 necessitando-se, a partir desta data,
de um mínimo de 3.000 MW/ano de origem térmica para o atendimento do mercado;
• A auto-suficiência nacional no setor energético e o uso eficiente de formas
pioneiras de geração de energia, hoje em desenvolvimento serão alcançados mediante a
implantação de intenso e coordenado trabalho de pesquisas científicas e tecnológicas, de
pesquisas aplicadas e das empresas. A natureza multidisciplinar e o caráter universal do
uso da energia exigem a mais forte interação de setores, que transcende o campo
energético, tal como ordinariamente compreendido. No caso da energia nuclear, este
esforço deve ser dirigido não só para a apropriação, adaptação e nacionalização da
tecnologia disponível através dos programas estabelecidos de cooperação internacional,
mas também para aquelas vias de desenvolvimento que se revelam promissoras para levar
o país no mais breve período, à independência tecnológica no setor;
• A retomada do PNB a um nível de atividades compatível com a
complexidade técnico-científica, industrial e de segurança própria do setor nuclear
demanda um esquema financeiro capaz de dar-lhe sustentação por períodos de tempo
suficientemente longos para assegurar o seu êxito.
A Comissão de avaliação do PNB submete ao Presidente da República José
Sarney de Araújo Costa as seguintes principais recomendações:
• Manter o PNB em face da importância estratégica que o domínio pleno e
autônomo da tecnologia nuclear deverá desempenhar no atendimento da demanda de
energia elétrica e na ampliação de benefícios múltiplos, à medicina, à agricultura e à
indústria nacional;
• O ritmo de desenvolvimento do programa deverá basear-se em um
equilíbrio cuidadoso entre as necessidades de suprimento energético, os custos da energia
proveniente das várias fontes alternativas e o domínio imperativo da tecnologia nuclear,
indispensáveis ao fornecimento da energia de que necessitará o país a médio e longo prazo;
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• Manter as relações de cooperações sobre os usos pacíficos da energia
nuclear com a RFA, inclusive quanto as suas aplicações financeiras, levando em conta as
modificações decorrentes do novo ritmo de implementação e da estrutura que venha a se
adotar para o PNB;
• À vista do adiantado estágio de avanço dos programas nacionais de
aplicações pacíficas da energia nuclear no Brasil e da Argentina, que são largamente
equivalentes, buscar intensificar a cooperação nuclear bilateral visando, a promoção de
empreendimentos conjuntos no campo dos usos pacíficos da energia nuclear, bem como o
estabelecimento gradual de um mecanismo de inspeção mútua, de tais atividades, nos dois
países.
Quanto ao programa de construções de centrais de equipamentos pesados e a
implantação do ciclo do combustível nuclear:
• Continuar os trabalhos de construção das usinas de Angra 2 e Angra 3,
obedecidos aos cronogramas previstos para os seus términos (1992 e 1995), de modo a
garantir o suprimento da demanda prevista tanto no Balanço Energético Nacional como no
Plano de Recuperação do Setor de Energia Elétrica (1984);
• Manter as atividades de fabricação de componentes pesados em um ritmo
compatível com as necessidades das centrais em construção. Paralelamente, mediante um
acordo com o setor privado e revisto do protocolo NUCLEBRAS/ABDIB, devem ser
buscados mercados complementares para os componentes referidos, tanto no país como no
exterior;
• Prosseguir a implantação do ciclo de combustível nuclear adequando-o à
demanda provável da geração nucleoelétrica e promovendo sua nacionalização
progressiva.
Apesar das conclusões e recomendações do relatório da Comissão conhecido
como Comissão Vargas (nome do cientista que comandou os trabalhos) os anos de 1986 e
1987 se passaram sem que medidas concretas com relação aos recursos do Tesouro
Nacional fossem tomadas para operacionalizar as recomendações de retomada de ritmo na
construção das centrais de Angra 2 e Angra 3. Os esforços entre a NUCLEBRAS e a
ELETROBRAS foram somados, mas nada foi conseguido de efetivo na ocasião5.
4.8 Programa Nuclear Autônomo
No início da década de 80, o programa autônomo da Marinha, sob a direção do
Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, começou a concretizar-se sobretudo, depois de se
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verificar que a pretensa transferência de tecnologia de enriquecimento de Urânio através do
processo de jato centrífugo que seria absorvida pela NUCLEBRAS, se mostrava inviável.
Durante esta década o programa nuclear civil é retirado de prioridade enquanto
se intensificam as pesquisas paralelas em busca do domínio do ciclo do combustível
nuclear.
Das experiências dessa década, destaca-se a implantação do Centro
Experimental de Aramar (CEA) sob a área de influência da Marinha que, com farta
alocação de recursos financeiros, logrou grande desenvolvimento.
Em quatro de setembro de 1987, o Presidente da República José Sarney de
Araújo Costa anunciou, de forma suntuosa, o domínio da tecnologia do enriquecimento de
Urânio pelo processo de ultra centrifugação dentro de um programa coordenado pela
CNEN, executado no CEA e com a participação do Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares (IPEN).
Esse programa contando com a participação também dos militares,
principalmente a Marinha foi corriqueiramente conhecido no país, até 1988, como
Programa Nuclear Paralelo (PNP), para diferenciá-lo do Programa Oficial da
NUCLEBRAS. Embora, como ambos eram suportados pelo Governo, ambos teriam que
ser considerados oficiais.
Mais tarde, a Marinha resolveu denominá-lo de Programa Nuclear Autônomo
(PNA).
O esforço da Marinha estava e continua até hoje orientado para a futura
construção no país de reatores para equipar submarinos5.
4.9 Viabilização econômica das usinas Angra 2 e Angra 3
Em 16 de maio de 1988, a portaria interministerial n.º 48, da Secretaria Geral
do Conselho de Segurança Nacional, criou um Grupo de trabalho interministerial (GTI)
com finalidade de propor medidas para a viabilização econômica da conclusão de Angra 2
e Angra 3.
Nesse grupo, todas as partes envolvidas foram incluídas o que não acontecera
antes com a Comissão Vargas, onde não havia participação de membros do Ministério da
Fazenda (MF) e Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral (SEPRAN).
Os estudos do GTI foram sumarizados na Exposição de Motivos
Interministerial n.º 7 de 31/08/88 que apontava no seu item cinco os seguintes principais
óbices decorrentes do modelo institucional vigente:
• Inviabilização da construção das usinas de Angra 2 e Angra 3;
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• Aumento do risco de racionamento de energia elétrica na região sudeste;
• Deterioração do relacionamento com a parte alemã;
• Dependência exclusiva da NUCLEBRAS de recursos do Tesouro Nacional;
• Dificuldades de participação da iniciativa privada nas atividades do setor
nuclear;
• Sentimento de que o Governo sustenta dois programas independentes, um
civil e outro militar;
• Descrédito da sociedade na energia nuclear.
Como conseqüência do trabalho do GTI, o Presidente da República José
Sarney de Araújo Costa sancionou o Decreto-Lei 2464 de 31/08/886 que modificava
integralmente a estrutura do setor nuclear brasileiro.
As principais mudanças determinadas pelo Decreto-Lei foram:
• Extinção da NUCLEBRAS;
• Criação das Indústrias Nucleares Brasileiras (INB);
• Transferências do controle de todas as atividades do antigo Grupo
NUCLEBRAS para a CNEN, com exceção daquelas relativas à construção de Angra 2 e
Angra 3;
• Transferência da NUCLEN para a ELETROBRAS;
• Dissolução da NUCLAM e NUCLEI;
• Inclusão da NUCLEP e NUCLEMON nos programas governamentais de
privatização.
Assim foram extintas a NUCLEI, NUCLAN, NUCLEMON E NUSTEP.
A NUCLEBRAS foi transformada nas Indústrias Nucleares Brasileiras (INB),
controlada pela CNEN, englobando as funções do ciclo do combustível nuclear desde a
mineração, passando pelo enriquecimento e atingindo a fabricação do combustível nuclear.
O ciclo do combustível nuclear foi fortemente influenciado pelos militares através da
Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), por tornar efetivo um acordo entre a Marinha e
a INB para industrialização do processo de enriquecimento isotópico por centrífugas.
A NUCLEP, também controlada pela CNEN, atua no setor de equipamentos
pesados, com forte influência da Marinha na sua administração, que conta com seus
recursos para a construção de cascos de submarinos.
A NUCLEN, transferida para a ELETROBRAS, veio em 1997 fundindo-se
com o Departamento Nuclear de Furnas, que se cindiu de FURNAS, transformar-se na
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ELETRONUCLEAR, empresa projetista e operadora de centrais nucleares. A cisão da
parte nuclear de FURNAS estava ligada à privatização do setor elétrico, que não poderia
ser efetivada, de acordo com a CF9, tendo as atividades nucleares em seu bojo.
Ao analisarmos os objetivos explícitos do Decreto-Lei, vemos que apenas o
óbice “d”, do Decreto-Lei foi, em parte, removido. Em parte, pois a transferência das
centrais para o setor elétrico não impediu a continuação das restrições orçamentárias que
penalizavam estes projetos desde 1983.
Houve uma evidente resistência por parte do setor elétrico ao recebimento da
herança nuclear, pois o Decreto-Lei foi promulgado à revelia do setor que não queria
aceitar os encargos financeiros adicionais decorrentes da absorção de Angra 2 e Angra 3.
Quanto aos objetivos secretos, foram alcançados, pois ao mesmo tempo em que
se oficializava um programa militar, colocavam-se sob os cuidados da SAE, todas as
atividades de pesquisa básica e industrial do setor nuclear.
Às vésperas da promulgação da CF9 de 1988, que limitaria o desenvolvimento
da atividade nuclear à prévia autorização do Congresso Nacional, a NUCLEBRAS é
extinta e as até então atividades secretas oficializadas e trazidas ao conhecimento da
sociedade brasileira através do Decreto-Lei 24646.
Em maio de 1990 um novo grupo denominado GT-PRONEN foi formado, já
então no governo do Presidente da República Fernando Affonso Collor de Mello, em uma
clara demonstração de que o modelo estabelecido pelo Decreto-Lei 24646 não atingiu os
objetivos, permanecendo a falta de decisão política para equacionar de forma definitiva o
setor nuclear.
Ao entramos, no governo do Presidente da República Fernando Henrique
Cardoso, em 1994, completavam-se 19 anos desde a assinatura do acordo nuclear com a
Alemanha e o país não possuía nenhuma usina dentro de seu escopo em operação
comercial. Angra 2 ostentava o recorde mundial de usina nuclear com maior tempo de
construção sem possuir, até aquela data, um cronograma estável de conclusão.
Talvez essa obscura referência e o argumento do risco de racionamento de
energia elétrica na região sudeste, cada mês mais adquirindo força, fizeram com que,
finalmente, o Governo brasileiro decidisse pela conclusão de Angra 2.
Em fins de 1994, meados de 1995, as equações financeiras e orçamentárias,
elaboradas entre FURNAS e a ELETROBRAS permitiram autorizar a licitação pública
para a contratação da montagem que vinha sendo frustrada desde 1982.
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Um cronograma com término previsto inicialmente para junho de 1999 foi
acertado e, finalmente, em abril de 1996, foi assinado o contrato entre FURNAS e o
Consórcio denominado UNAMON, formado por sete empresas de construção e montagem,
para a montagem eletromecânica de Angra 2. O cronograma contratual foi sucessivamente
reformulado para meados de 2000 e finalmente a usina iniciou sua pré-operação comercial
em julho de 2000, embora sem ainda ter equacionado o contrato de suprimento de energia
para FURNAS que não previa o faturamento da energia gerada por Angra 2, contemplando
apenas a energia gerada por Angra 15.
4.10 Retomada do PNB e a conclusão de Angra 3
Decorridos 33 anos da assinatura do Acordo Brasil-Alemanha pode-se dizer
que o que resta desse acordo é a usina de Angra 2, que ficou pronta 25 anos após a
assinatura do chamado “acordo do século”, e Angra 3, ainda nas fundações.
O setor nuclear, na esteira das dificuldades da crise energética de 2001,
conseguiu incluir, novamente na pauta energética, a discussão da retomada das obras de
Angra 3, embora a construção dessa usina, que demandaria ainda cerca de cinco anos e
meio para entrar em operação, não poderia ser apresentada como solução de curto prazo
para os problemas de racionamento de energia elétrica.
Angra 3, levando-se em conta os equipamentos já adquiridos, é considerada
pela ELETRONUCLEAR como estando com um progresso de 30% na construção, mas
não foi incluída nos relatórios mundiais da AIEA de 2002 (dados até dezembro de 2001),
como usina "em construção", talvez devido à indefinição quanto à retomada das obras.
Após a apresentação ao Comitê Técnico nº 2 do Conselho Nacional de Política
Energética (CNPE), em cinco de dezembro de 2001, foram aprovados os estudos
preliminares para a conclusão da obra da usina nuclear de Angra 3, iniciada em 1983,
paralisada após três anos e na qual foram consumidos US$ 750 milhões, devendo ainda
demandar cerca de outros US$ 1.75 bilhões para entrada em operação dentro de cinco anos
e meio, caso se consiga um cronograma sem restrições financeiras. O custo da manutenção
da obra parada era de US$ 20 milhões por ano. Esta aprovação foi obtida após a quebra de
resistências de membros do Governo, como o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo
(ANP), David Zylberstajn, do ex-presidente da Petrobras, Henri Reichstul e finalmente o
ex-ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, que acabou através do Conselho Nacional de
Meio Ambiente aprovando o projeto e selando a questão no Governo do Presidente da
República Fernando Henrique Cardoso.
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Com a eleição de um novo Governo, com uma política energética divergente
da política do Governo anterior, essa aprovação não foi suficiente para determinar-se uma
data para o reinício das obras, até mesmo porque a aprovação, no âmbito do Governo do
Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, dependia de aprovações
complementares dos Ministérios da Fazenda (MF), Planejamento, Orçamento e Gestão
(MPOG), Minas e Energia (MME) e Meio Ambiente (MMA).
No ano de 2003 esperava-se selar, definitivamente, o destino das obras de
Angra 3. A partir daquele ano, se ela fosse construída, já arrebataria de Angra 2 o título
mundial de usina nuclear com maior tempo em construção.
O debate ainda não teria chegado ao fim. Luiz Pinguelli Rosa, então presidente
da ELETROBRAS, afirmou no dia 19/09/2003 que, na nova matriz energética, não tinha
absoluta convicção de qual seria a posição de Angra 3 e propôs que a iniciativa privada
viabilizasse tal usina, com participação da estatal na gestão. Segundo explicou5:
"A idéia é fazer uma empresa que teria um contrato com ELETRONUCLEAR
para que toda a energia de Angra 3 fosse dessa empresa e comercializada por ela. Seria uma empresa comercializadora, mas não como as existentes aí. Ela seria criada para viabilizar o investimento e teria a garantia de que por 20 anos, ou pelo tempo acordado, toda a energia produzida seria dela. A empresa ganharia vendendo energia!".
Pinguelli Rosa disse não saber se a proposta era factível, devido às
complicações contratuais, pois os custos de transações disso é que poderiam ser
impeditivos, mas há exemplos anteriores, como no caso de Serra da Mesa, que inspiraram
essa possibilidade.
A idéia se baseava na possibilidade de que a FRAMATONE, empresa francesa
que adquiriu o capital da SIEMENS, investi-se os US$ 1.8 bilhões necessários à conclusão
de Angra 3.
As Comissões de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias e de
Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados realizaram
audiência pública no dia 24/09/2003 para debater a política nuclear brasileira. O encontro
atendeu a requerimentos aprovados nas Comissões de autoria dos deputados Ronaldo
Vasconcellos (PTB-MG), Edson Duarte (PV-BA), Sarney Filho (PV-MA), Fernando Ferro
(PT-PE), João Pizzolati (PP-SC) e Renato Cozzolino (PSC-RJ).
O objetivo foi discutir a retomada do PNB e a construção de Angra 3,
comparecendo representantes dos MCT, MMA, MME, da ELETROBRAS, da
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ELETRONUCLEAR, da CNEN, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), além de organizações não-governamentais ambientalistas e sindicalistas. As
primeiras informações publicadas na página eletrônica da ELETRONUCLEAR indicaram
que esse foi um movimento de um grupo de “pressão” pró-Angra 3.
Esse grupo bastante ativo, programou em seguida um novo evento, o
Seminário em Brasília Tecnologia Nuclear - Soberania e Desenvolvimento, realizado nos
dias 30/09/03 e 1/10/03, com o objetivo de despertar a atenção das autoridades e da
sociedade para a necessidade de dar prosseguimento ao PNB. Organizado pelas Comissões
de Relações Exteriores, de Defesa Nacional, de Minas e Energia, de Ciência e Tecnologia
e Comunicação e Informática, o encontro reuniu conferencistas que discutiram a
importância da continuidade do PNB. Entre os temas, encontravam-se o Impacto dos
Programas Nucleares no Mundo e o Impacto da Energia Nuclear na Indústria, na Medicina
e na Agricultura. Finalmente, 2003 ainda não foi o ano da decisão tão defendida pelo setor
nuclear5.
Em 2007, o CNPE, órgão de assessoramento do Presidente da República para a
formulação e diretrizes de políticas públicas para o setor de energia, aprovou a conclusão
da usina termonuclear Angra 3 e o início dos estudos de localização de uma quarta usina,
indicando uma retomada do PNB. Estudos da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) do
MME, apresentam a necessidade de construção de quatro a oito usinas nucleares até 2030.
Nesse contexto, no âmbito do MCT, foi iniciada a ampliação das ações relacionadas à
viabilização do PNB, incluindo o fortalecimento institucional da CNEN, responsável pelas
pesquisas e regulação do setor, e ainda, ações voltadas à capacitação da NUCLEP, para a
fabricação de componentes destinados às novas usinas nucleares.
Com relação ao ciclo do combustível nuclear, foram ampliados os
investimentos para a finalização da primeira fase da planta de enriquecimento de Urânio da
INB, instalação da planta-piloto de produção de hexafluoreto de Urânio por conversão
gasosa, no CEA e o aumento da produção de Urânio. Essas ações estão destacadas no Plano de Ações 2007-2010 de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento
(PACTI), em que o Programa Nacional de Atividades Nucleares (PNAN) é considerado
estratégico.
Ainda na INB, em sua Unidade de Enriquecimento de Urânio, foram em 2007
concluídas as obras de infraestrutura relativas ao Módulo I, que compreende as cascatas de
ultra centrífugas 1, 2, 3 e 4. Tais iniciativas fazem parte da estratégia para criar a
capacidade industrial de suprir as futuras expansões da geração núcleoelétrica com um
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produto de alto valor agregado, além de dotar o país de autonomia tecnológica e industrial
no fornecimento de combustível para as usinas nucleares Angra 1 e 2.
Em 2008, no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em
Belo Horizonte (MG), foram concluídas as instalações da nova unidade produtora de
radioisótopos de meia-vida curta, que permitirá a ampliação da produção de radioisótopos
e radiofármacos para diagnóstico e terapia de várias doenças.
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5 ORDENAMENTO JURÍDICO E INSTITUCIONAL NACIONAL
5.1 Ordenamento jurídico
O campo nuclear trabalha com fontes de radiação ionizante e estas, em
qualquer quantidade, por menor que seja, são consideradas nocivas à saúde. Em virtude
disso, a proteção e a segurança tanto da fonte de radiação, do meio ambiente e dos
indivíduos torna-se de suma importância. Por causa disso a legislação do desenvolvimento
das tecnologias nucleares está intimamente vinculada à legislação de proteção e
segurança. Atualmente o campo de tecnologia nuclear abrange o intervalo de
conhecimentos científicos e técnicos e, portanto, emprega profissionais em todos os
campos do conhecimento, entre eles profissionais em Direito.
A proteção e a segurança são realizadas por meios físicos e outros, mas em seu
nível inferior dentro da legislação nacional necessita de regulamentos. Geralmente
realizados por profissionais técnicos pouco ou praticamente nada versados na parte
legislativa e nestes casos cometem absurdos. Como este trabalho situa-se completamente
no campo legislativo da tecnologia nuclear, mas é de fundamental interesse em ambos os
campos, legislativo e técnico, esta subseção foi introduzida para esclarecimento dos
conhecimentos técnicos atinentes ao campo normativo da legislação no desenvolvimento
da tecnologia7.
5.2 Processo legislativo
As normas que compõem o ordenamento jurídico brasileiro encontram-se
dispostas hierarquicamente e em forma piramidal, estando a CF9 no ápice dessa pirâmide
legal, subordinando todas as demais. A subordinação jurídica implica em que uma
determinada norma prevaleça sobre a inferior em casos de conflito. A norma
hierarquicamente superior obriga a obediência da subordinada, de maneira que esta lhe
deverá dar sempre inteiro cumprimento sob pena de vir a ser viciada8.
A CF9, no seu artigo 59, estabelece o processo legislativo brasileiro de forma
hierárquica, compreendendo:
I - Emendas à Constituição;
II - Leis complementares;
III - Leis ordinárias; IV - Leis delegadas;
V - Medidas provisórias;
VI - Decretos legislativos;
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VII - Resoluções.
Estes atos, pela sua importância, abrangem normas gerais e abstratas que são
editadas com a participação do Poder Legislativo.
O Poder Executivo participa do respectivo processo de elaboração legislativa
em termos de iniciativa de projetos, de sanção e de veto. Atualmente, participa do processo
legislativo - função atípica - pela elaboração de medidas provisórias que, contudo, deverão
ser convertidas em lei 30 dias após a sua edição.
O Congresso Nacional participa do processo em termos de iniciativa própria de
projetos ou de apuração dos apresentados pelo Poder Executivo; de sua discussão e
aprovação, e, conforme a sua natureza, de remessa do projeto aprovado ao Presidente da
República para a formalidade da sanção ou, se esta for negada através do veto, de
apreciação deste, acolhê-lo ou rejeitá-lo.
Os atos editados tão-só pelo Poder Executivo não fazem parte do processo
legislativo.
Emendas constitucionais: são modificações ou alterações introduzidas no corpo
da CF9, propostas ao Congresso Nacional que, no exercício do seu poder constituinte
derivado da mesma CF9, as aprovará ou não seguindo um procedimento especial,
totalmente original em relação ao processo legislativo comum.
A emenda aprovada é promulgada pelo próprio Congresso, independentemente
da sanção do Presidente da República.
Leis complementares: são as que se destinam a desenvolver os princípios
constitucionais que não sejam auto-aplicáveis, dependendo de regulamentação que elas
consubstanciam.
Leis ordinárias: são as que versam matéria de natureza não constitucional. O
seu processo de elaboração é o clássico, compreendendo a apresentação de um Projeto,
passando pela discussão no Parlamento, indo à sanção do Presidente da República, e,
finalmente, sendo publicada, quando adquire força impositiva geral.
Lei delegada: é aquela que, não sendo da competência privada de qualquer das
casas do Congresso, pode ter a sua elaboração delegada do Presidente da República, a
pedido deste.
Medidas provisórias: são atos legislativos com força de lei, de vigência
temporária de trinta dias, postas excepcionalmente na esfera de competência privativa do
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Presidente da República, para enfrentar situação caracterizadamente de grande relevância
social que esteja a reclamar solução urgente.
Decreto legislativo: está para o Congresso como o Decreto está para o
Presidente da República. Em razão da matéria, mutatis mutandis, se equivalem,
destinando-se o primeiro a legislar sobre a administração interna do Poder Legislativo; e o
último, a regulamentar a ação do Poder Executivo no cumprimento das suas atribuições e
das leis.
A diferença entre Decreto legislativo e Resolução, de que a seguir trataremos,
está na sua tramitação, o primeiro obedecendo a todos os termos do processo legislativo
ordinário, ao passo que o último segue um rito mais abreviado.
Resoluções: como os Decretos Legislativos, são atos de autoridade do Poder
Legislativo não sujeitos nem subordinados à aprovação ou referendo do Poder Executivo.
Qualquer das duas Casas do Legislativo Federal, assim como o Congresso
Nacional, pode aprovar resoluções próprias de sua competência exclusiva7.
5.3 Atos administrativos
Além das normas provenientes do Legislativo, existem outras no ordenamento
jurídico nacional, que não integram o processo legislativo, mas encontram-se sob a
nomenclatura de legislação, e são subordinadas àquelas.
Dentre estas, destacam-se os atos normativos e os atos ordinatórios.
• Atos normativos:
São os atos administrativos que contém um comando geral, sendo provenientes
do Executivo. Como definido por Meirelles10:
“[...] tais atos, conquanto normalmente estabeleçam regras gerais abstratas de
conduta, não são Leis em sentido formal. São leis apenas em sentido material, vale dizer, provimentos executivos com conteúdo de lei, com matéria de lei, contudo proveniente de Poder outro que não o Legislativo. Esses atos, quanto gerais e abstratos, têm a mesma normatividade da lei e a ela se equiparam (não sofrendo controle judicial, somente quanto a sua constitucionalidade), mas, quando sob a aparência de norma, individualizam situações e impõem encargos específicos aos administrados, são considerados de efeitos concretos e podem ser atacados e invalidados direta e imediatamente por via judicial comum, ou por mandado de segurança, se lesivos de direito individual líquido e certo”.
São eles:
“Decretos: são atos administrativos da competência exclusiva dos chefes do Executivo, destinados a prover situações gerais ou individuais. Comumente, o Decreto é normativo e geral, podendo ser específico ou individual. Como ato
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administrativo, o Decreto está sempre em situação inferior à da lei e, por isso mesmo, não a pode contrariar. O Decreto geral tem, entretanto, a mesma normatividade da lei, desde que não ultrapasse a alçada regulamentar de que dispõe o Executivo”.
Segundo classifica Meirelles10, o “[...] ordenamento administrativo admite duas
modalidades de Decreto geral (normativo): o independente ou autônomo e o regulamentar
ou de execução.”, cujas definições dadas pelo mesmo autor encontram-se a seguir:
“Decreto independente ou autônomo: é o que dispõe sobre matéria ainda não
regulada especificamente em lei. São admitidos somente para suprir a omissão do legislador, desde que não invadam as reservas da lei, isto é, as matérias que só por lei podem ser reguladas”.
“Advirta-se, todavia, que os Decretos autônomos ou independentes não
substituem definitivamente a lei: suprem, apenas, a sua ausência, naquilo que pode ser provido por ato do Executivo, até que a lei disponha a respeito. Promulgada a lei, fica superado o Decreto”.
“Decreto regulamentar ou de execução: é o que visa a explicar a lei e facilitar
sua execução, aclarando seus mandamentos e orientando sua aplicação. Tal Decreto comumente aprova, em texto à parte, o regulamento a que se refere. Questiona-se se esse Decreto continua em vigor quando a lei regulamentada é revogada e substituída por outra. Entendemos que sim, desde que a nova lei contenha a mesma matéria regulamentada”.
“Regulamentos: Os Regulamentos são atos administrativos, postos em vigência
por Decreto, para especificar os mandamentos da lei ou prover situações ainda não disciplinadas por lei. Desta conceituação ressaltam os caracteres marcantes do Regulamento: ato administrativo (e não legislativo): ato explicativo ou supletivo da lei; ato hierarquicamente inferior à lei; ato de eficácia externa”.
“O Regulamento, embora não possa modificar a lei, tem a missão de explicá-la
e de prover sobre minúcias não abrangidas pela norma geral editada pelo Legislativo”.
“Como ato inferior à lei, o Regulamento não pode contrariá-la ou ir além do
que ela permite”. “No que o Regulamento infringir ou extravasar da lei, é írrito e nulo, por
caracterizar situação de ilegalidade. Quando o Regulamento visa a explicar a lei (regulamento de execução), terá que se cingir ao que a lei contém; quando se tratar de Regulamento destinado a prover situações não contempladas em lei (Regulamento autônomo ou independente), terá que se ater aos limites da competência do Executivo, não podendo, nunca, invadir as reservas da lei, isto é, suprir a lei naquilo que é da exclusiva competência da norma legislativa (lei em sentido formal e material). Assim sendo, o Regulamento jamais poderá instituir ou majorar tributos, criar cargos, aumentar vencimentos, perdoar
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dívidas ativas, conceder isenções tributárias e o mais que depender de lei propriamente dita”.
“Regimentos: Os Regimentos são atos administrativos normativos de atuação
interna, pois se destinam a reger o funcionamento de órgãos colegiados e de corporações legislativas. Como ato regulamentar interno, o Regimento só se dirige aos que devem executar o serviço ou realizar a atividade funcional regimentada, sem obrigar aos particulares em geral”.
“São postos em vigência por resolução do corpo direto do órgão ou colegiado,
através do hierárquico do executivo ou da capacidade de auto organização interna das corporações legislativas e judiciárias, razão pela qual só se dirigem aos que se acham sujeitos à disciplina do órgão que os expediu”.
“Resoluções: são atos administrativos normativos expedidos pelas altas
autoridades do Executivo (mas não pelo Chefe do Executivo, que só deve expedir Decretos) ou pelos Presidentes de tribunais, órgãos legislativos e colegiados administrativos, para disciplinar matéria de sua competência específica. Por exceção admitem-se Resoluções individuais”.
“As Resoluções, normativas ou individuais, são sempre atos inferiores ao
Regulamento e ao Regimento, não podendo invocá-los ou contrariá-los, mas unicamente complementá-los e explicá-los. Seus efeitos podem ser internos ou externos, conforme o campo de atuação da norma ou dos destinatários da providência concreta”.
“Deliberações: são atos administrativos normativos ou decisórios emanados de
órgãos colegiados. Quando normativas, são atos gerais; quando decisórias, são atos individuais”.
“Aquelas são sempre superiores a estas, de modo que o órgão que as expediu
não pode contrariá-las nas decisões subseqüentes: uma deliberação normativa só se revoga ou modifica por outra deliberação normativa; nunca por uma deliberação individual do mesmo órgão”.
“As deliberações devem sempre obediência ao Regulamento e ao Regimento
que houver para a organização e funcionamento do colegiado. Quando expedidas em conformidade com as normas superiores são vinculantes para a Administração e podem gerar direitos subjetivos para seus beneficiários”.
• Atos ordinatórios
Segundo Meirelles10, servem estes atos para disciplinar o funcionamento da
administração e a conduta de seu pessoal, orientando os funcionários no desempenho das
suas atribuições. Dentre eles destacam-se:
“Instruções normativas: as instruções normativas são atos administrativos
expedidos pelos Ministros de Estado para a execução das leis, Decretos e
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Regulamentos, mas são também utilizadas por outros órgãos superiores para o mesmo fim”.
“Portarias: são atos administrativos internos, através dos quais os superiores
hierárquicos oficializam determinações gerais aos seus subordinados”. 5.4 Constituição Brasileira e o Direito Nuclear
O Direito Nuclear no Brasil tem origem no dispositivo constitucional que dá
competência à União Federal para legislar sobre a matéria.
A CF9 de 1988 que se encontra em vigor, no que se refere às atividades e
materiais nucleares, contém os seguintes preceitos:
“Art. 21. Compete à União: ....................................... XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e
exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;
......................................” “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: ....................................... XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; ......................................” “Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da
República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:
....................................... IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento; .......................................” “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;