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autoconceito, problemas de comportamento, adolescentesTRANSCRIPT
INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA
Escola Superior de Altos Estudos
AUTOCONCEITO E COMPORTAMENTO EM
ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA TÉCNICA
PROFISSIONAL
CARLA JACINTA DOS SANTOS MARQUES
Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica
Coimbra, 2013
AUTOCONCEITO E COMPORTAMENTO EM
ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA TÉCNICA
PROFISSIONAL
CARLA JACINTA DOS SANTOS MARQUES
Dissertação Apresentada ao ISMT para Obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica
Ramo de Familia e Intervenção Sistémica
Orientadora: Professora Doutora Sónia Simões
Coimbra, janeiro de 2013
I
Agradecimentos
Em especial aos meus pais e à minha avó pelo incentivo, apoio e carinho ao longo deste
percurso. Por todos os minutos de amor e tolerância que me dedicaram, e por partilharem
comigo a vida!
À Direção da Escola Técnica Profissional por me possibilitarem a realização deste estudo.
A todos os jovens que se disponibilizaram para participar neste estudo.
Aos meus amigos, particularmente à Catarina, Ana e Inês por toda a amizade ao longo destes
anos e por acreditarem sempre em mim.
Aos meus colegas de curso, pelo apoio e disponibilidade prestada sempre que precisei.
À minha orientadora, Doutora Sónia Simões, pelo incentivo, palavras de confiança,
orientações críticas, sugestões relevantes feitas durante a orientação e a sua disponibilidade,
foram cruciais na construção deste trabalho.
II
Resumo
Ao longo do tempo, a literatura tem destacado a importância do impacto do autoconceito no
comportamento de crianças e adolescentes. Assim, a presente investigação tem como o
principal objetivo analisar a relação entre o autoconceito e os comportamentos de
adolescentes que frequentam uma Escola Técnica Profissional de Coimbra.
A amostra foi composta por 56 alunos, 30 são do sexo masculino e 26 do sexo feminino, com
idades compreendidas entre os 14 e os 18 (M = 16,1).
O protocolo do estudo englobou o Piers-Harris Children’s Self-Concept Scale (PHCSCS-2),
para avaliar o autoconceito dos adolescentes, e o Youth Self Report (YSR), que avaliou os
problemas de comportamento.
Os resultados desta investigação demonstram que os adolescentes que têm uma média de
notas igual ou superior a 3 têm um autoconceito mais elevado. Relativamente aos problemas
de comportamento, em específico, o nosso estudo mostrou que no comportamento antissocial
são os rapazes que apresentam os valores mais elevados, enquanto as raparigas têm
pontuações mais altas nas queixas somáticas. Verificou-se também que existe uma tendência
para os jovens mais velhos se isolarem mais e para desenvolverem psicopatologia. Quanto às
notas escolares, são os adolescentes que têm uma média de notas inferior a 3 que apresentam
mais comportamentos antissociais e de isolamento. Destaca-se a existência de associações
entre o autoconceito global e os problemas de comportamento, nomeadamente associações
negativas com as dimensões comportamento antissocial, problemas de atenção e
hiperactividade e ansiedade/depressão. O autoconceito global apresenta, ainda, associações
significativas negativas com a síndrome de externalização, e com a síndrome de
internalização e o total de psicopatologia. Assim, os adolescentes que manifestam mais
problemas de comportamento têm um autoconceito mais baixo.
Estes resultados fortalecem a ideia de que o autoconceito e os problemas de comportamento
internalizantes e externalizantes dos adolescentes tendem a estar relacionados e que, quanto
menor o autoconceito dos adolescentes, mais estes parecem ter uma propensão para
manifestar problemas de comportamento.
Palavras-chave: autoconceito, problemas de comportamento, adolescentes
III
Abstract
Over time, the literature has highlighted the importance of the impact of self-concept in the
behavior of children and adolescents. So, this research has the main objective to analyze the
relationship between self-concept and behavior of adolescents attending a vocational
technical school in Coimbra.
The sample consisted in 56 students, 30 of them males and 26 females, aged between 14 and
18 (M = 16,1).
The study protocol included the Piers-Harris Children’s Self-Concept Scale (PHCSCS-2), to
evaluate the adolescents' self-concept, and the Youth Self Report (YSR), which evaluated the
behavioral problems.
The results of this investigation show that adolescents who have a mean grades equal or less
to 3 have a higher self-concept. For behavior problems, in particular, our study showed that
antisocial behavior in boys are showing the highest values, while girls have higher scores on
somatic complaints. There was also a trend for older youth to isolate themselves more and
develop psychopathology. As for school grades, teenagers who have an average grade point
below 3 shows more antisocial behavior and isolation. We highlight the existence of
associations between self-concept and overall behavior problems, including negative
associations with the dimensions of antisocial behavior, hyperactivity, attention problems and
anxiety/depression. The overall self-concept also presents significant negative associations
with externalizing syndrome and internalizing syndrome and the total of psychopathology.
These results support the idea that the self-concept and the internalizing and externalizing
behavior problems in adolescents tend to be related and that the lower the self-concept of
adolescents, the more they seem to have a propensity to manifest behavior problems.
Keywords: self-concept, behavior problems, adolescents
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
Introdução
Adolescência e Autoconceito
A adolescência é considerada um período de grandes descobertas e transformações
nos mais diversos níveis (sociocultural, psicológico, cognitivo e físico). Nesta etapa, o jovem
experiencia intensamente novas situações, sentimentos e formas de ver a realidade,
procurando aquele(s) com que(m) mais se identifica. A busca de novas experiências permite
o desenvolvimento da sua própria personalidade, e da sua forma de estar e de compreender o
mundo. Este mapeamento possibilita-lhe construir a sua identidade e autonomia, sendo
necessário reformular os conceitos que tem a respeito de si próprio, desinvestir na sua
autoimagem infantil, de forma a idealizar e arquitetar planos para a vida futura (Henriques,
2009).
Segundo Hattie (1992), esta fase de desenvolvimento assume-se como uma etapa
fulcral para a elaboração de um bom autoconceito, pois é na adolescência que o autoconceito
se modifica e se consolida. Importa referir que as experiências vividas, por exemplo no
contexto familiar, escolar, com o grupo de pares, bem como as interpretações que possam
fazer dessas experiências e as avaliações que outras figuras significativas possam fazer dos
seus comportamentos, influenciam as perceções que o indivíduo tem acerca de si próprio e o
autoconhecimento que vai construindo (Marsh e Hattie,1996).
Do ponto de vista psicológico, a investigação sobre o autoconceito remonta a William
James, sendo o primeiro investigador a analisar este construto numa perspetiva psicológica
(Hattie, 1992). Assim, o autoconceito é frequentemente designado pelo “conceito de si”.
Apesar de ser mencionado em algumas pesquisas, tem sido por vezes confundido com outros
construtos, embora nos últimos anos seja notório o seu progresso, quer ao nível da sua
concetualização, quer da sua evolução (Marsh e Craven, 1997).
As investigações documentadas sobre o autoconceito são marcadas por uma
diversidade de definições. Assim, para clarificar este construto, serão apresentadas de seguida
algumas definições propostas por alguns autores. De acordo com Fontaine (1991), de modo
geral, o autoconceito pode ser caraterizado como a percepção que a pessoa tem de si mesma
e, em termos particulares, como o conjunto de atitudes, sentimentos e autoconhecimento
acerca das suas capacidades, competências, aparência física e aceitação social.
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
Segundo Purkey (1970) pode-se definir autoconceito como um sistema complexo,
organizado e dinâmico que está relacionado com as crenças, atitudes, sentimentos,
capacidades, habilidades, aparência e aceitabilidade social que cada um considera como suas.
Por outro lado, na revisão realizada por Simões e Vaz Serra (1986), o autoconceito é
comparado a uma constelação de perceções que os indivíduos fazem acerca de si próprios, e
que pode ser refletido através de duas dimensões: a identidade (que se refere ao conteúdo das
percepções e crenças pessoais acerca de si próprio) e a autoestima (que diz respeito à
avaliação que o indivíduo faz de si próprio). Portanto, o autoconceito é um construto amplo,
que abrange em simultâneo ideias, pensamentos, atitudes e sentimentos (Gottfredson, 1985).
Acrescente-se que o autoconceito está organizado de forma hierárquica, ou seja, o
autoconceito global está no topo da hierarquia, dividindo-se em autoconceito académico e
autoconceito não académico. Por sua vez, o autoconceito académico está dividido em
diferentes disciplinas escolares, tais como: o autoconceito matemático e o autoconceito à
língua materna. Por outro lado, o autoconceito não académico é composto pelos
autoconceitos social, física e emocional (Shavelson, Hubner e Stantonm, 1976).
A literatura referente ao autoconceito também foca frequentemente a importância da
autoestima. Por exemplo, Gonida, Metallidou e Dermitzaki (2000), ao analisarem a relação
entre o autoconceito e a autoestima, compreenderam que a autoestima está envolvida com o
autoconceito, estando associada à parte afetiva, enquanto as autoperceções e autoimagens dos
jovens estão relacionadas com a parte cognitiva.
Em síntese, pode então definir-se o autoconceito como o resultado das avaliações
cognitivas que envolvem o conhecimento sobre as avaliações de si próprio, bem como as
avaliações feitas por figuras significativas. Por outro lado, este construto contempla uma
componente afetiva, a autoestima, que tem um valor importante, visto que espelha o resultado
da avaliação das qualidades dos adolescentes.
O autoconceito na adolescência tem sido foco de várias pesquisas, vinculando-se a
algumas variáveis a fim de compreender-se o impacto que têm no desenvolvimento do
autoconceito em adolescentes. Assim, existem fatores que o podem influenciar, tais como: o
sexo, idade, rendimento escolar.
Neste sentido, têm sido realizados diversos estudos sobre a associação entre o
autoconceito e o sexo. Porém, não se consegue encontrar uma total concordância quanto ao
modo como estas variáveis se associam. Por exemplo, Wylie (1979 cit. por Peixoto e Mata,
1993) verificou que não existem diferenças no autoconceito global dos adolescentes em
ambos os sexos, independentemente da idade. Este autor sugere que estas diferenças podem
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
existir em fatores específicos do autoconceito, contudo dissolvem-se no resultado global.
Neste contexto, Hattie (1992) e Garaigordobil, Durá e Pérez (2005) mencionam, ainda, que
nas diferenças de género do autoconceito global, os rapazes são mais beneficiados.
Quanto ao impacto da idade no autoconceito, os estudos tem-se mostrado pouco
consistentes quanto à relação destas duas variáveis. Marsh (1989, cit. por Faria e Azevedo,
2004) relata que o autoconceito evolui com a idade, podendo evidenciar um declínio no início
da adolescência, porém, aumenta no seu final e no começo da idade adulta. Das investigações
realizadas por Marsh (1989, cit. por Peixoto e Mata, 1993), surge a teoria explicativa de que a
diminuição do autoconceito se deve ao fato de haver um aumento da noção de realismo por
parte dos jovens, adquirido ao longo do tempo pelas experiências vivenciadas.
Num estudo realizado por Veiga (1988), o rendimento escolar e o autoconceito
académico evidenciaram uma forte associação, verificando-se que os alunos que tinham um
rendimento escolar elevado apresentavam níveis de autoconceito mais elevados. Por sua vez,
Peixoto (1998) encontrou diferenças significativas no autoconceito académico em função do
número de retenções, sendo que os alunos que nunca reprovaram tinham um autoconceito
académico mais elevado, comparativamente aos que já tinham pelo menos uma reprovação
no seu percurso escolar.
Uma vez que literatura menciona a importância do impacto do autoconceito no
comportamento dos jovens, considerou-se pertinente abordar o comportamento e a forma
como este se manifesta durante a adolescência.
O comportamento na adolescência
De acordo com a revisão feita por Pereira, Cia e Barham (2008), a etapa da
adolescência tem uma grande importância para a psicopatologia do desenvolvimento
humano, por ser considerada um período de grandes mudanças, que pode trazer implicações
negativas na vida do jovem, pondo em causa a sua saúde, bem-estar e o seu comportamento.
Segundo os mesmos autores, são inúmeros os fatores de risco associados a esta fase, podendo
ser representados por problemas socioemocionais, como um baixo autoconceito, presença de
comportamentos problemáticos e conflitos no relacionamento com os outros (Atzaba-Poria,
Pike e Deater-Deckard, 2004; Bolsoni-Silva, Del Prette e Del Prette, 2000; Cia, D’ Affonseca
e Barham, 2004; Del Prette, Del Prette e Del Prette, no prelo; Hallahan e Kauffaman, 2000;
Maturano, 2004; Reppold, Pacheco, Bardagi e Hutz, 2002; Schenker e Minayo, 2005).
Achenbach (1995) distingue duas grandes categorias de problemas relacionados com a
psicopatologia da criança e do adolescente, nomeadamente: o comportamento antissocial ou
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
problemas externalizantes e problemas emocionais ou internalizantes. A primeira categoria
abrange os comportamentos do tipo de agressão, da hiperatividade, da oposição e da
delinquência. A segunda categoria envolve problemas como a depressão, a ansiedade, as
queixas somáticas e o isolamento social (Simões, Fonseca, Formosinho, Rebelo, Ferreira e
Gregório, 2000). Importa salientar que os problemas internalizantes são “problemas que
implicam sobretudo o conflito e mal estar internos”, e os problemas externalizates abrangem
“problemas que envolvem conflitos com as outras pessoas, bem como as expetativas
relativamente à criança/adolescente” (Achenbach, Verhulst, Edelbrock, Baron e Akkerhuis,
1987, p. 330).
Os adolescentes apresentam uma grande variedade de problemas emocionais como a
ansiedade, isolamento, problemas de humor, tristeza acentuada e depressão. Estes problemas,
mais ou menos intensos, apresentam uma grande estabilidade ao longo da adolescência e da
vida adulta. Mutos deles surgem associados a outros problemas de adaptação, afetando o
relacionamento com os outros e comprometendo o desenvolvimento futuro dos jovens
(Monteiro e Fonseca, 1998).
Na literatura são poucos os estudos que abordam os problemas internalizantes e
externalizantes como um todo, limitando-se a tratar especificamente cada comportamento em
particular. Assim, tem sido estudada a depressão que, de entre os comportamentos
internalizantes, foi aquele sobre o qual mais estudos se realizaram (Merrell e Dobmeyer,
1996), ou o comportamento agressivo, no âmbito dos problemas de externalização (Hyde e
Frost, 1993 cit, por Simões et al., 2000).
No que diz respeito à diferença e prevalência de problemas internalizantes e
externalizantes em função da variável sexo, os estudos sublinham a tendência dos rapazes
terem mais problemas de externalização do que as raparigas, sendo um dos resultados mais
consistentes e claros nesta área. Algumas investigações apontam, ainda, para as raparigas
terem mais problemas de internalização que os rapazes, embora ainda não seja totalmente
clara e robusta tal afirmação. Ainda se destaca uma relação entre a idade e os diferentes
problemas de comportamento, constatando-se por exemplo que as raparigas mais velhas
apresentam mais problemas emocionais do que as mais novas. (Monteiro e Fonseca, 1998).
A relação entre o autoconceito e os problemas de comportamento em adolescentes
Sobre a relação entre o autoconceito e os problemas de comportamento em
adolescentes, existem alguns estudos como o de Simões e Vaz Serra (1986) e Simões (2001)
que referem que o autoconceito se assume como uma variável de extrema importância, por
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
interferir no comportamento dos jovens, no seu desempenho e no ajustamento individual, ao
ser um quadro de referência através do qual os indivíduos se organizam e coordenam as suas
atitudes e o seu comportamento.
Como já foi mencionado anteriormente, o autoconceito modifica-se ao longo do
desenvolvimento, no entanto alguns jovens desvalorizam-se a si próprios, as suas
capacidades, abandonando ou desistindo de situações desafiantes, pondo em causa o seu
autoconceito e, por isso, afeta os seus comportamentos. Também ficam numa posição de
risco para desenvolverem futuras reações emocionais desajustadas, como é o caso da
ansiedade e da depressão (Fontaine e Faria, 1989; Fontaine, 1991). Outros adolescentes, por
sua vez sobreavaliam de tal maneira as suas capacidades e competências, aceitando tarefas
demasiado exigentes, para as quais não estão preparados, o que pode levar a um futuro
fracasso (Harter, 1993).
De acordo com Willis e Campbell (1992), o comportamento é influenciado pelo
autoconceito, fazendo parte da personalidade do sujeito, estando relacionado com a perceção
que tem de si próprio, a forma como se avalia e comporta. Já Henderson, Dakof, Schwartz e
Liddle (2006) mencionam que o autoconceito em crianças/adolescentes com problemas de
comportamento é mais baixo do que o de jovens sem problemas de comportamento,
independentemente dos problemas serem internalizados ou externalizados. Por consequência,
aqueles que têm um autoconceito baixo, tendem a ser mais rejeitados pelos outros, e por isso
desenvolvem comportamentos agressivos, antissociais, de inibição ou de isolamento.
Segundo Clemente e Santos (2010), os jovens que manifestam um autoconceito global
reduzido têm mais problemas de comportamento. Por outro lado, Garaigordobil et al. (2005)
referem que os adolescentes que têm um maior autoconceito apresentam níveis reduzidos de
problemas de comportamento, sublinhando também que certas variáveis predizem o
autoconceito dos jovens, nomeadamente: alguns sintomas depressivos, alguns problemas
escolares, e alguns sintomas interpessoais.
Quando os adolescentes não acreditam nas suas competências e capacidades, as suas
perspetivas futuras são diminutas, demonstrando alguma vulnerabilidade em relação às
pressões exercidas por aqueles que lhes são importantes como os pais, amigos e professores
(Faria, 2005). Não obstante, os fatores protetores tais como o autoconceito positivo e o apoio
social constituem uma ferramenta importante para evitar o desenvolvimento de problemas de
ordem diversa (Brendt e Hestenes, 1996).
Assim, ao finalizar a revisão da literatura, constata-se que o autoconceito tem uma
organização e estrutura específica, tendo também diferentes facetas que se vão
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
desenvolvendo da infância até à idade adulta. Pela importância atribuída ao autoconceito, e
sendo este parte integrante da nossa personalidade, a literatura menciona a sua relação com o
comportamento dos jovens em diversos contextos. Desta forma, este construto ajuda-nos a
entender a consistência e coerência do comportamento, e porque existem determinados
padrões de comportamento que permanecem ao longo do tempo.
Para clarificar esta temática, o presente estudo tem como objetivo principal avaliar a
relação entre o autoconceito e os problemas de comportamento em adolescentes pertencentes
a uma escola técnica profissional.
Como objetivos específicos procuraremos: 1) Analisar se existem diferenças ao nível
do autoconceito, avaliado pela Escala de Autoconceito de Piers-Harris (PHCSCS-2) e dos
problemas de comportamento dos adolescentes, avaliados pelo Youth Self Report (YSR) em
função de algumas variáveis sociodemográficas individuais (sexo e idade) e escolares (média
de notas do 2º período e número de reprovações); 2) Estudar as associações entre o
autoconceito e os problemas de comportamento dos adolescentes, nomeadamente as
dimensões do YSR, os clusters internalizantes/externalizantes e o score global de
psicopatologia.
Materiais e Métodos
O estudo é descritivo e correlacional, na medida em que se baseia principalmente na
estatística descritiva e correlacional, averiguando a existência ou não de diferenças e de
relações entre variáveis (Reis, 2010).
Procedimentos
A recolha de dados foi efetuada numa escola técnica profissional em Coimbra, entre
março e abril de 2012. Para o efeito, foram obtidas as devidas autorizações num primeiro
momento junto do Diretor/Conselho Pedagógico da escola e, posteriormente, foi enviado o
consentimento informado a todos os encarregados de educação dos alunos das 5 turmas do
ensino técnico e profissional do nível 2, tipo 1 e tipo 2.
A recolha de dados decorreu durante o período letivo e em contexto de turma, tendo
sido explicado a todos os adolescentes o objetivo do estudo, garantindo o anonimato e a
confidencialidade dos dados, obedecendo assim aos princípios éticos subjacentes à
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
investigação científica. As turmas integravam entre 18 e 20 alunos e as aplicações foram
sempre asseguradas por duas investigadoras.
O protocolo foi composto pelo Questionário Sociodemográfico, o Youth Self Report e
a Escala de Autoconceito de Piers-Harris (PHCSCS-2).
Instrumentos
Questionário Sociodemográfico
O Questionário Sociodemográfico foi elaborado com o objetivo de recolher
informações pessoais e académicas sobre os adolescentes e sobre o seu agregado familiar,
sendo constituído por itens de resposta rápida.
No que respeita aos adolescentes, foram colocadas as seguintes questões: sexo; idade
(dicotomizámos esta variável da seguinte forma: 1) 14-16 anos; e 2) 17-18 anos); ano de
escolaridade; com quem vive; se tem irmãos, quantos e qual a posição na fratria; se alguma
vez reprovou, quantas vezes e em que anos; se teve processos disciplinares; se mudou de
escola; e média de notas obtidas no 2º período.
Existiram igualmente questões relacionadas com os pais dos adolescentes,
nomeadamente: a idade; o nível de escolaridade (categorizada por: 1) 1.º, 2.º e 3.º ciclo do
ensino básico; 2) ensino secundário; e 3) curso superior); por fim, a profissão dos pais e a sua
situação profissional.
Youth Self Report de Achenbach – YSR
O Youth Self Report (YSR) foi desenvolvido por Achenbach (1991a), versão
portuguesa de Fonseca e Monteiro (1999). É um dos instrumentos mais utilizados em
investigação, pois engloba aspetos relevantes, visando a compreensão de problemas
emocionais, salientando-se a ansiedade e a depressão, devido ao seu caráter subjetivo que é
de difícil acesso por observação direta (Fonseca e Monteiro, 1999).
Foi aplicada a versão do instrumento dirigida a adolescentes entre os 11 e os 18 anos,
estando divido em duas partes. A primeira parte é composta por 17 itens, que se referem a
competências, atividades e interesses sociais dos sujeitos. A segunda parte é constituída por
119 itens, entre os quais 103 dizem respeito a determinados problemas do comportamento e
16 relacionam-se com comportamentos socialmente desejáveis (Fonseca e Monteiro, 1999).
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
Assim, o YSR é constituído por oito escalas, onde as respostas dos participantes têm uma
cotação de 0 a 2, 0 se a afirmação na é verdadeira, 1 se a afirmação é algumas vezes
verdadeira) e 2 se a afirmação é muitas vezes verdadeira. Ao nível temporal, as questões
relacionam- se com os últimos 6 meses que antecipam as respostas ao questionário.
O YSR divide-se em seis dimensões, nomeadamente: I antissocial (itens 16, 20, 21,
23, 37, 39, 43, 68, 82, 90, 97, 105, 101), II problemas de atenção/hiperatividade (itens 1, 3,
7, 8, 10, 41, 68, 74, 86, 87, 93, 94, 95, 104), III ansiedade/depressão (itens 12, 13, 14, 33, 34,
35, 38, 48, 52, 62, 103), IV isolamento (itens 17, 45, 63, 69, 71, 75, 89, 112), V queixas
somáticas (itens 51, 54, 56a, 56b, 56c, 56d, 56e, 56f, 56g) e problemas de
comportamento/esquizoide (itens 9, 40, 66, 70, 84, 85, 100) (Fonseca e Monteiro, 1999). O
agrupamento das duas primeiras dimensões (I e II) formam as síndromes de externalização, e
o agrupamento das dimensões III, IV e V formam as síndromes de internalização. A
pontuação global de psicopatologia calcula-se pela soma dos pontos obtidos em cada um dos
itens relativos a problemas do comportamento, com exceção dos itens 2, 4, 56h e dos itens de
comportamentos socialmente desejáveis (6, 15, 28, 49, 59, 60, 73, 78, 80, 88, 92, 98, 106,
107, 108 e 109) (Fonseca e Monteiro, 1999).
Assim, os participantes podem ser considerados não-clínicos, clínicos e limítrofes,
sendo que, para fins de discriminação entre grupos desviantes ou não, esta última categoria
pode ser incluída na clínica. Os indivíduos podem ser avaliados nas escalas individuais, como
também em relação ao distúrbio total, através da soma total dos itens (Achenbach, 1991).
Relativamente à fidedignidade do instrumento original, os valores de alfa de Cronbach
do YSR variam entre 0,70 e 0,80 (Achenbach, 1991b). Para a população portuguesa, os
valores de alfa para as dimensões antissocial e problemas de atenção/hiperatividade é de 0,80,
para a dimensão ansiedade/depressão é de 0,79 e para o isolamento, queixas somáticas e
problemas de comportamento/esquizoide é de 0,70. (Fonseca e Monteiro, 1999).
Relativamente ao nosso estudo, o alfa de Cronbach para a dimensão Antissocial é de
0,76, para os Problemas de Atenção/Hiperatividade de 0,65 e para a Ansiedade/Depressão de
0,83, para o Isolamento e Queixas Somáticas de 0,74 e para os Problemas de Comportamento
Esquizoide de 0,69. Explorámos também a consistência interna da Síndrome de
Externalização, obtendo-se um alfa de 0,80, na Síndrome Internalização, que apresenta um
alfa de 0,89 e na Psicopatologia um alfa de 0,91. A análise de consistência interna do YSR
varia entre 0,65 e 0,91, podendo ser classificado entre moderadas e muito altas (Pestana e
Gageiro, 2008).
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
Piers-Harris Children's Self-Concept Scale – PHCSCS-2
A Escala de Autoconceito de Piers-Harris (PHCSCS) foi criada e desenvolvida pelo
psicólogo americano Piers na década de 60. Posteriormente, realizou-se uma revisão,
surgindo a versão do PHCSCS-2 (Piers e Herzberg, 2002, cit. por Veiga, 2006), cujo objetivo
visa o conhecimento sobre o autoconceito e a sua relação com o comportamento (Veiga,
2006).
O PHCSCS-2 é formado por 60 itens, havendo alguns invertidos (itens 1, 3, 4, 6, 7, 8,
10, 11, 13, 14, 17, 19, 20, 21, 23, 25, 27, 29, 30, 32, 35, 36, 37, 38, 40, 43, 45, 47, 48, 51, 52,
56, 57, 58 e 59). Relativamente a este instrumento, pode referir-se que é composto por itens
de caráter dicotómico (escala de Thurstone), onde a pontuação de cada item pode ser de 1
ponto ou 0 pontos, consoante a resposta dada pelo participante, ou seja, se está associada a
uma atitude positiva ou negativa sobre si mesmo (Veiga, 2006).
A versão portuguesa deste instrumento desenvolvida por Veiga (2006) é constituída
por seis fatores, entre os quais se salientam: I) Aspeto comportamental (AC) que envolve os
itens 12, 13, 14, 18, 19, 20, 27, 30, 36, 38, 45, 48 e 58, que se relacionam com a perceção que
o indivíduo tem do seu próprio comportamento em determinados contextos, tais como em
casa e na escola, e a responsabilidade pelos próprios seus atos II) Ansiedade (AN) que
compreende os itens 4, 7, 10, 17, 23, 29, 56 e 59, estando associados aos receios,
preocupações e insegurança sobre si mesmo e situações relacionadas com expectativas e
emoções negativas; III) Estatuto intelectual (EI) que abrange os itens 5, 16, 21, 22, 24, 25,
26, 34, 39, 43, 50, 52 e 55, que indicam a forma como o indivíduo perceciona o seu
desempenho inteletual, assim como a admiração que pensa que lhe seja atribuída na turma,
em virtude das suas capacidades; IV) Popularidade (PO) que envolve os seguintes itens 1, 3,
6, 11, 32, 37, 41, 47, 51 e 57, que se relacionam com a socialização, nomeadamente na
facilidade em estabelecer relações de amizade, ao nível da popularidade e à sua integração
em atividades de grupo; V) Aparência Física (AF) que engloba os itens 8, 9, 15, 33, 44, 46,
49 e 54, que visam avaliar a perceção do sujeito relativamente ao seu aspeto físico; VI)
Satisfação-felicidade (SF) que compreende os itens 2, 28, 31, 35, 40, 42, 53 e 60, que estão
associados à satisfação que o sujeito tem de si próprio, estando igualmente relacionado com o
nível de felicidade de forma geral (Veiga, 1989, 2006). De salientar que, quanto mais elevado
for o resultado em todos os fatores, maior é o nível de autoconceito. Porém, quanto maior é a
pontuação no fator Ansiedade, menor é a ansiedade sentida pelo sujeito.
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
No que concerne à fidedignidade do PHCSCS-2, o coeficiente de consistência interna
da amostra total da versão portuguesa tende a ser mais elevado, sobretudo na dimensão
estatuto intelectual (0,75) e na dimensão geral, que obteve resultados muito altos (0,90).
Dado que existe um menor número de itens na dimensão satisfação-felicidade (0,67) e
popularidade (0,70), os valores da consistência interna das mesmas são considerados
aceitáveis (Veiga, 2006).
No presente estudo, obteve-se através do coeficiente Kuder – Richardson 20 um valor
de 0,64, sendo considerado baixo. Realizou-se uma análise da consistência interna através do
alfa de Cronbach, uma vez que este apresenta maiores potencialidades para um estudo
psicométrico da escala. Mais uma vez os coeficientes foram bastante baixos nas respetivas
dimensões, com alfas de: AC- 0,44; EI- 0,31; AF-0,42; AN-0,66; PO-0,56; e SF-0,15, sendo
de 0,58 para a escala global. Foi conduzida uma análise fatorial com rotação varimax, tendo-
se verificado que os itens saturavam em vários fatores em simultâneo. Optou-se, então, por
efetuar a análise da consistência interna da escala total, tendo sido retirados todos os itens que
apresentavam uma correlação negativa com a escala. Num primeiro momento foram
eliminados os itens 12, 14, 15, 18, 26, 33 e 52. Num segundo momento repetiu-se o
procedimento, tendo sido eliminados os itens 2, 24, 31, 42 e 60. A escala ficou composta por
48 itens, com um alfa de Cronbach de 0,80, que pode ser considerado como um bom valor
(Pestana e Gageiro, 2008).
Amostra
Inicialmente definiu-se a forma como se selecionariam os participantes que iriam
constituir a amostra. Assim, utilizou-se a amostragem não-probabilística acidental, dado que
os sujeitos foram selecionados pela sua conveniência (Maroco, 2010).
Também se definiram critérios de inclusão e exclusão na amostra. Os critérios de
inclusão envolviam serem adolescentes com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos,
estando atualmente a frequentar o 2º nível de formação técnica e profissional, do tipo 2 e 3
(equivalente ao 9º ano de escolaridade), e foi considerado critério de exclusão os adolescentes
estarem institucionalizados.
Após a recolha de dados, realizou-se uma primeira triagem dos protocolos, onde os
que apresentavam elevada invariabilidade de resposta (indicando resposta aleatória notória) e
um elevado número de omissões de resposta, foram eliminados da amostra. Por isso, a
amostra ficou composta por 56 sujeitos, em que 30 são do sexo masculino (53,6%) e 26 do
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
sexo feminino (46,4%), com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos, tendo a maioria
entre 14 e 16 anos (67,9 %), com uma média de idades de 16,1 anos (DP =1,0). Mais de
metade da amostra (62,5%) frequenta o curso tipo 2 (Tabela 1).
Tabela 1
Descrição da Amostra de Adolescentes
n = 56 %
Sexo Masculino 30
26
53,6
Feminino 46,4
Idade dicotomizada
14 – 16 Anos 38 67,9
17 – 18 Anos 18 32,1
M ± DP 16,1±1,0
Ano de escolaridade Nível II - Tipo 2 35 62,5
Nível II - Tipo 3 21 37,5
Notas: n = número de sujeitos da amostra; M = Média; DP = Desvio-Padrão
No que diz respeito ao percurso escolar dos adolescentes (Tabela 2), verifica-se que
todos os alunos têm pelo menos uma retenção, sendo que 71,4% tinham sido retidos uma ou
duas vezes e 28,6% ficaram retidos três ou quatro vezes. Destaca-se ainda que todos os
alunos ficaram retidos pelo menos uma vez, com maior frequência no 1º ciclo do ensino
básico (41,1%). Relativamente à mudança de escola, 37,5% dos alunos mudaram de escola
três ou mais vezes. Por último, 60,7% dos alunos já tiveram procedimentos disciplinares.
Tabela 2
Percurso Escolar dos Adolescentes
n=56 =
%
Reprovações Retido 1 ou 2 vezes 40 71,4
Retido 2 ou 3 vezes 16 28,6
1ª Vez 2ª Vez 3ª Vez 4ª Vez
Ano em que reprovou
1º Ciclo 23 41,1 0 0,0 1 6,3 0 0,0 2º Ciclo 12 21,4 6 13,6 3 18,8 0 0,0
3º Ciclo 21 37,5 38 86,4 12 75,0 2 100,0
Total 56 100,0 44 100,0 16 100,0 2 100,0
Nº de vezes que mudou de escola Mudou 1 ou 2 vezes 35 62,50
Mudou 3 ou 4 vezes 21 37,50
Existência de processos disciplinares Não 22 39,30
Sim 34 60,70
Notas: n = número de sujeitos da amostra
Na Tabela 3 apresentam-se algumas caraterísticas do agregado familiar dos
adolescentes. Os pais apresentam uma média de idade de 45,6 anos (DP = 5,8) e as mães de
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
43,6 anos (DP = 6,6). Em relação ao nível de escolaridade dos pais, verifica-se que 89,6%
dos pais e 62,7% das mães possuem o ensino básico, 6,2% e 37,3% dos pais e das mães têm,
respetivamente, o ensino secundário e somente 4.2% dos pais têm formação superior.
Relativamente à situação profissional, a maioria encontra-se em situação de emprego (pais =
77,6%; mães = 82,7%). No que concerne à composição do agregado familiar, a maioria dos
jovens vive em famílias nucleares (53,6%), comparando com os restantes adolescentes que
vivem em outros tipos de família (famílias monoparentais, reconstituídas e alargadas). Por
fim, destaca-se que 71,5% dos adolescentes tem entre 1 a 2 irmãos, e que apenas 7,1% são
filhos únicos.
Tabela 3
Caraterísticas do Agregado Familiar dos Adolescentes
Pai Mãe N % n %
Idade Média ±DP 45,6 ± 5,8 43,6 ± 6,6 Nível de escolaridade
Básico 43 89,6 32 62,7 Secundário 3 6,2 9 37,3 Superior 2 4,2 0
Total 48 100,00 51 100,00 Situação profissional
Empregado Desempregado Total
38 11 49
77,60 22,40 100,00
43 9 52
82,70 17,30 100,00
n %
Composição do agregado familiar
Família nuclear Família monoparental Família reconstituída Família alargada
30 53,6
14 25,0 10 17,9 2 3,6
Número de irmãos 0 1 a 2 3 ou mais
4 40 12
7,1 71,5 21,5
Notas: n = número de sujeitos da amostra; M = Média; DP = Desvio-Padrão
Análise Estatística
Para a realização desta investigação, recorremos a um programa informático de
análise estatística, o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 19.0.
Primeiramente, realizámos o teste de Kolmogorov-Smirnov, que evidenciou que a
amostra do presente estudo não tem uma distribuição normal em relação às principais
variáveis consideradas, por isso foi utilizada uma estatística não paramétrica.
De seguida, procedemos ao cálculo da estatística descritiva (medidas de tendência
central e de dispersão). Através do teste U de Mann Whitney para amostras independentes,
fomos verificar se existiam diferenças estatisticamente significativas nas variáveis centrais do
estudo (PHCSCS-2 e YSR), em função das variáveis sociodemográficas consideradas. Foram
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
ainda testadas as associações entre o autoconceito e os problemas de comportamento, através
do coeficiente de correlação de rho de Spearman.
Resultados
Foram estudadas as diferenças no autoconceito total em função das variáveis género,
idade e número de reprovações. Não se observaram diferenças estatisticamente significativas
(p > 0,05). No entanto, quando se analisaram as diferenças no autoconceito em função da
média das notas do 2º período, verificou-se que existem diferenças significativas (p = 0,002),
em que os adolescentes que têm uma média de notas igual ou superior a 3 têm um
autoconceito mais elevado (OM = 33,2), comparando com os jovens que têm uma média
inferior a 3 (OM = 19,9) (Tabela 4).
Tabela 4
Diferenças no Autoconceito dependendo do Género, Idade, Reprovações e Média das Notas
do 2º Período
M DP OM P Sexo
Masculino (n=30) 23,80 7,69 27,3
0,559
Feminino (n=26) 25,27 6,17 29,9
Idade
14 - 16 anos (n=38) 24,74 7,63 28,8 0,394
17 - 18 anos (n=18) 23,94 5,61 25,8
Reprovações
1 ou 2 vezes (n=40) 25,33 6,25 29,9 0,296
3 ou 4 vezes (n=16) 22,38 8,64 24,9
Médias das notas
<3 (n=23) 21,39 7,32 19,9 0,002 ≥3 (n=31) 27,26 5,23 33,2
Notas: n = número de sujeitos da amostra; M = Média;; DP = Desvio-Padrão OM = Ordenação Média; p = nível de ≤significância
Na Tabela 5 são apresentadas as diferenças no YSR em função do sexo e idade dos
alunos. Em relação ao sexo do aluno, há diferenças significativas na dimensão
comportamento antissocial (p = 0,044) e na dimensão queixas somáticas (p = 0,001). Pode
constatar-se que, em relação ao comportamento antissocial, são os rapazes que manifestam os
valores mais altos (OM = 32,6) comparativamente com as raparigas (OM = 23,8). Já na
dimensão queixas somáticas são as raparigas que manifestam as pontuações mais elevadas
(OM = 35,8) face aos rapazes (OM = 22,1). Relativamente ao impacto da idade dos
adolescentes no comportamento, verifica-se que existe uma tendência (p = 0,054) para os
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
jovens mais velhos se isolarem mais (OM = 34,6) em comparação com os jovens mais novos
(OM = 25,6), assim como uma propensão (p = 0,058) para estes desenvolverem
psicopatologia (OM = 34,6), relativamente aos mais novos (OM = 25,6), ainda que a
diferença não seja estatisticamente significativa (p = 0,054).
Tabela 5
Diferenças no Comportamento dos Adolescentes dependendo do Sexo e da Idade
Sexo
p
Idade
p Masculino Feminino 14 - 16 Anos 17 - 18 Anos
M DP OM M DP OM M DP OM M DP OM
Antissocial 5,20 3,69 32,6 3,38 3,14 23,8 0,044 4,32 3,46 28,6 4,44 3,79 28,4 0,972
Problemas de Atenção/Hiperatividade
7,97 3,71 26,9 8,92 3,44 30,3 0,432 8,00 2,91 27,1 9,28 4,69 31,5 0,345
Ansiedade Depressão 3,93 3,30 27,8 4,77 4,62 29,3 0,716 3,92 3,86 26,9 5,17 4,13 31,9 0,273
Isolamento 5,73 3,12 25,6 7,27 3,65 31,8 0,150 5,87 3,21 25,6 7,67 3,65 34,6 0,054
Queixas Somáticas 0,90 1,42 22,1 2,54 2,61 35,8 0,001 1,55 1,93 28,6 1,89 2,74 28,2 0,927
Problemas de Comportamento/ Esquizoide
2,43 2,25 27,1 3,19 3,10 30,1 0,494 2,45 2,47 26,4 3,50 3,03 32,9 0,159
Externalização 13,17 6,49 29,4 12,31 5,86 27,5 0,657 12,32 5,35 27,8 13,72 7,69 29,9 0,654
Internalização 13,00 7,49 26,0 17,77 11,50 31,4 0,217 13,79 9,29 25,8 18,22 10,32 34,2 0,073
Psicopatologia 44,47 15,95 25,2 53,12 17,33 32,3 0,105 45,47 15,77 25,7 54,83 18,24 34,5 0,058
Teste U de Mann-Whitney
Seguidamente, na Tabela 6 podem observar-se as diferenças das dimensões do YSR
em função do número de reprovações e a média das notas no 2º período. Em relação à média
das notas dos adolescentes, verificou-se a existência de diferenças significativas no
comportamento antissocial (p = 0,022) e no isolamento (p = 0,018). Constata-se que são os
adolescentes que têm uma média de notas inferior a 3 que evidenciam as pontuações mais
altas, tanto no comportamento antissocial (OM = 34,2), como no isolamento (OM = 43,2),
comparativamente aos seus colegas com uma média de notas igual ou superior a 3
(comportamento antissocial: OM = 33,2; isolamento: OM = 42,2). No que respeita ao número
de reprovações, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas (p > 0,05).
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
Tabela 6
Diferenças no YSR dependendo da Média das Notas e do Número de Reprovações
Média das Notas
p
Reprovações
P ≥ 3 < 3 1 ou 2 vezes 3 ou 4 vezes
M DP OM M DP OM M DP OM M DP OM
Antissocial 5,70 4,09 33,2 3,23 2,60 34,2 0,022 4,03 3,37 27,0 5,19 3,90 32,2 0,278
Problemas de Atenção/Hiperatividade
9,13 4,42 36,2 7,81 2,89 37,2 0,299 8,20 3,27 28,1 8,94 4,36 29,6 0,743
Ansiedade Depressão 4,70 4,43 39,2 3,68 3,32 40,2 0,647 4,28 3,90 28,4 4,44 4,21 28,8 0,927
Isolamento 7,52 3,79 42,2 5,48 2,35 43,2 0,018 6,38 3,28 28,1 6,63 3,90 29,5 0,763
Queixas Somáticas 1,22 1,28 45,2 1,87 2,54 46,2 0,572 1,60 1,89 29,4 1,81 2,90 26,2 0,479
Problemas de Comport Esquizóide
2,83 2,74 48,2 2,61 2,50 49,2 0,908 2,75 2,49 28,7 2,88 3,20 27,9 0,861
Externalização 14,83 7,73 51,2 11,03 4,21 52,2 0,109 12,23 5,70 27,6 14,13 7,22 30,8 0,501
Internalização 16,26 10,12 54,2 13,65 8,12 55,2 0,358 15,00 9,09 28,5 15,75 11,59 28,6 0,971
Psicopatologia 51,39 20,67 57,2 45,77 11,60 58,2 0,237 47,98 15,40 28,2 49,75 21,05 29,4 0,799
Teste U de Mann-Whitney
Na Tabela 7 são apresentadas as correlações entre as dimensões do YSR, os clusters
internalizante e externalizantes, e score global de psicopatologia, realizados através do
coeficiente de correlação de rho de Spearman1.
Num primeiro momento, analisou-se as correlações entre as dimensões do YSR,
podendo salientar-se que a dimensão antissocial tem uma correlação positiva com os
problemas de atenção e hiperatividade (ρ = 0,430; p = 0,001), com a ansiedade/depressão (ρ
= 0,550; p = 0,000), com os problemas de comportamento esquizoide (ρ = 0,270; p = 0,044),
com as síndromes de externalização (ρ = 0,797; p = 0,000) e de internalização (ρ = 0,408; p
= 0,002), e com o total de psicopatologia (ρ = 0,397; p = 0,002). Os problemas de atenção e
hiperatividade têm associações significativas positivas com a ansiedade/depressão (ρ =
0,611; p = 0,000), com o isolamento (ρ = 0,561; p = 0,000), com as queixas somáticas (ρ =
0,342; p = 0,010), com os problemas de comportamento esquizoide (ρ = 0,475; p = 0,000), e
com a síndrome de internalização (ρ = 0,645; p = 0,000), realçando-se que também tem
associações positivas altas com a síndrome de externalização (ρ = 0,865; p = 0,000) e com o
total de psicopatologia (ρ = 0,783; p = 0,000). A ansiedade/depressão tem correlações
significativas positivas com o isolamento (ρ = 0,619; p = 0,000), com as queixas somáticas (ρ
1 Nas correlações muito baixas o p situa-se abaixo de 0,19; nas baixas, o p está entre o 0,20 e 0,39, enquanto nas correlações moderadas o p está entre 0,40 a 0,69. Um p que se situe entre 0,70 e 0,89 considera-se uma correlação alta (Pestana e Gageiro, 2008).
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
= 0,365; p = 0,006), com os problemas de comportamento esquizoide (ρ = 0,549; p = 0,001),
e com a síndrome de externalização (ρ = 0,685; p = 0,000). Destaca-se ainda, que tem
correlações positivas altas com a síndrome de internalização (ρ = 0,880; p = 0,000) e com o
total de psicopatologia (ρ = 0,753; p = 0,000). O isolamento tem associações positivas com
as queixas somáticas (ρ = 0,442; p = 0,001), com os problemas de comportamento esquizoide
(ρ = 0,443; p = 0,001), com as síndromes de externalização (ρ = 0,477; p = 0,000) e de
internalização (ρ = 0,826; p = 0,000), e com o total de psicopatologia (ρ = 0,816; p = 0,000).
As queixas somáticas têm uma correlação positiva com as síndromes de externalização (ρ =
0,322; p = 0,016) e de internalização (ρ = 0,541; p = 0,000), assim como com o total de
psicopatologia (ρ = 0,530; p = 0,000). Por fim, os problemas de comportamento esquizoide
têm correlações positivas com as síndromes de externalização (ρ = 0,479; p = 0,000) e de
internalização (ρ = 0,689; p = 0,000), e com o total de psicopatologia (ρ = 0,692; p = 0,000).
Posteriormente, analisou-se os clusters de externalização e internalização, e o
distúrbio total de psicopatologia. Neste contexto, pode referir-se que o cluster de
externalização tem uma correlação positiva com o cluster de internalização (ρ = 0,627; p =
0,000), realçando-se que tem igualmente uma correlação positiva alta com o total de
psicopatologia (ρ = 0,713; p = 0,000). Por fim, no que respeita ao cluster de internalização,
este tem uma correlação positiva com o total de psicopatologia (ρ = 0,913; p = 0,000).
Tabela 7
Correlações entre as Dimensões do YSR, Clusters (Internalizante e Externalizante), e o Score
Global de Psicopatologia
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
1. Antissocial ρ ---
2. Problemas de Atenção/Hiperatividade ρ 0,430** ---
3. Ansiedade/Depressão ρ 0,550** 0,611** ---
4. Isolamento ρ 0,250 0,561** 0,619** ---
5. Queixas Somáticas ρ 0,228 0,342** 0,365** 0,442** ---
6. Problemas de Comportamento Esquizoide ρ 0,270* 0,475** 0,549** 0,433** 0,208 --- ---
7. Síndrome de Externalização ρ 0,797** 0,865** 0,685** 0,477** 0,322* 0,479** ---
8. Síndrome de Internalização ρ 0,408** 0,645** 0,880** 0,826** 0,541** 0,689** 0,627** ---
9. Total de Psicopatologia ρ 0,397** 0,783** 0,753** 0,816** 0,530** 0,692** 0,713** 0,913**
Coeficiente de Spearman ( *p < 0,05;** p < 0,01)
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
Na Tabela 8 apresentam-se as correlações entre o autoconceito e as dimensões do
YSR, os clusters internalizante e externalizante, e o score global de psicopatologia .
Destaca-se que o autoconceito global tem associações negativas com a dimensão
antissocial (ρ = - 0,341; p = 0,010), com a dimensão problemas de atenção e hiperactividade
(ρ = - 0,485; p = 0,000), e com a dimensão ansiedade/depressão (ρ = - 0,487; p = 0,000). O
autoconceito global apresenta, ainda, associações negativas com a síndrome de externalização
(ρ = - 0,472; p = 0,000), e com a síndrome de internalização (ρ = - 0,342; p = 0,010). Por
fim, o autoconceito também se associa de forma negativa com o total de psicopatologia (ρ =
- 0,334; p = 0,012).
Tabela 8
Correlação entre o Autoconceito Global e o YSR
YSR Autoconceito Global P
Antissocial -,341* ,010 Problemas de Atenção Hiperatividade -,485** ,000 Ansiedade/Depressão -,487** ,000 Isolamento -,233 ,084 Queixas Somáticas ,066 ,628 Problemas de Comportamento Esquizoide -,241 ,073 Síndrome de Externalização -,472** ,000 Síndrome de Internalização -,342* ,010 Total Psicopatologia -,334** ,012
Coeficiente de Spearman (*p <0,05;**p <0,01)
Discussão e Conclusão
Após a análise estatística, iremos realizar de seguida a discussão dos resultados, tendo
como fio condutor os objetivos que se formularam. Assim, com a presente investigação
pretendemos avaliar a relação entre o autoconceito e os problemas de comportamento em
adolescentes pertencentes a uma escola técnica profissional, bem como analisar as diferenças
do autoconceito e dos problemas de comportamento dos adolescentes em função de algumas
variáveis sociodemográficas (género e idade) e escolares (média de notas e número de
reprovações).
No que concerne ao autoconceito, a nossa amostra não apresentou diferenças
significativas resultantes do sexo dos jovens. A maior parte da literatura corrobora os nossos
resultados, mencionando que não há diferenças no autoconceito global dos adolescentes em
ambos os sexos, sugerindo que estas diferenças podem existir em fatores específicos do
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
autoconceito, contudo, são inexistentes no seu resultado global (Wylie, 1979 cit. por Peixoto
e Mata, 1993). Porém, o estudo de Hattie (1992) diverge da nossa investigação, referindo que
existem diferenças de género no autoconceito global, sendo os rapazes os mais beneficiados,
ainda que se ressalve que a diferença entre rapazes e raparigas é ligeira.
A literatura relata que a idade se relaciona com o autoconceito, no entanto os estudos
têm-se mostrado pouco consistentes quanto a esta relação. Por exemplo, Marsh (1989, cit. por
Faria e Azevedo, 2004) refere que o autoconceito evolui com a idade, ou seja, pode
evidenciar um declínio no início da adolescência, aumentando no seu final e no começo da
idade adulta. Marsh (1989, cit. por Peixoto e Mata, 1993) dá uma hipótese explicativa,
dizendo que a diminuição do autoconceito se deve ao fato de haver um aumento da noção de
realismo por parte dos adolescentes, adquirido ao longo do tempo. No nosso estudo, os
resultados são diferentes dos das investigações anteriormente mencionadas, uma vez que não
há diferenças estatisticamente significativas. Contudo, pode salientar-se que existe uma
tendência para os adolescentes com idades entre os 14 e os 16 anos apresentarem um
autoconceito mais elevado, em comparação com os adolescentes que têm idades entre os 17 e
18 anos.
Quanto às variáveis escolares, os resultados da nossa investigação apresentaram
diferenças significativas no autoconceito em função da média das notas do 2º período,
verificando-se que os adolescentes que têm uma média de notas igual ou superior a 3
manifestam um autoconceito mais elevado. Os estudos de Taliuli (1982) e Veiga (1988)
apoiam os nossos resultados, dizendo que os jovens que têm um maior desempenho escolar
evidenciam um autoconceito mais elevado, comparando com os adolescentes que têm um
desempenho escolar pobre. No que diz respeito à diferença no autoconceito, resultante do
número de reprovações dos adolescentes, a nossa investigação não apresenta valores
significativos, contudo, existe uma tendência para os jovens que apenas reprovaram 1 ou 2
vezes terem um maior autoconceito, em relação aos adolescentes que reprovam mais que 2
vezes. Ainda que a nossa amostra seja constituída por adolescentes que já ficaram retidos
pelo menos uma vez, os nossos resultados parecem ir ao encontro do estudo de Peixoto
(1998), que refere que os alunos que nunca reprovaram têm um autoconceito académico mais
elevado, comparativamente com os que já reprovaram.
Relativamente aos problemas de comportamento em função do sexo dos alunos,
constatou-se que existem diferenças significativas no comportamento antissocial e nas
queixas somáticas dos adolescentes. No que respeita ao comportamento antissocial, são os
rapazes que apresentam os valores mais elevados, enquanto as raparigas manifestam mais
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
queixas somáticas. Estes resultados vão ao encontro da literatura, visto que alguns estudos
têm demostrado que os comportamentos internalizantes são mais frequentes nas raparigas e
que os comportamentos externalizantes se manifestam mais nos rapazes (Fonseca, Simões e
Formosinho 2000; Monteiro e Fonseca, 1998; Simões et al., 2000).
No âmbito dos problemas de comportamento, a literatura revela que as raparigas mais
velhas tendem a apresentar comportamentos que envolvam mais problemas emocionais, do
que as mais novas (Monteiro e Fonseca, 1998). O nosso estudo corrobora os resultados dos
autores citados. Neste mesmo sentido, verificou-se que a idade dos adolescentes é uma
variável que apresenta alguma propensão para estar relacionada com os problemas de
comportamento, sobretudo nos adolescentes mais velhos (17-18 anos), que têm uma
tendência para se isolarem mais e para desenvolverem psicopatologia.
De acordo com o nosso estudo, a análise das diferenças dos problemas de
comportamento resultante da variável média das notas no 2º período apresentou resultados
significativos, sendo os adolescentes que têm uma média de notas inferior a 3, os que
demonstram comportamentos antissociais, assim como isolamento. Já na variável número de
reprovações não se observaram valores significativos, podendo sugerir que esta variável não
tem uma influência preponderante no comportamento dos jovens desta amostra específica.
Neste contexto, Fonseca, Simões e Formosinho (2000) realizaram uma investigação onde
comparam dois grupos, o de alunos não repetentes e o de alunos repetentes. Através dos
resultados empíricos, constataram que o grupo de alunos repetentes apresentava índices de
comportamentos externalizantes mais elevados, do que os alunos que não tinham reprovado,
destacando-se que a maior parte destes alunos eram rapazes.
Nesta investigação, observámos que existem correlações entre as dimensões do YSR,
os problemas de internalização, os problemas de externalização e a psicopatologia,
destacando-se que os problemas de atenção e hiperatividade têm associações altas com os
problemas de externalização e com a psicopatologia, e que a ansiedade/depressão também
apresenta correlações altas com os problemas de internalização e com a psicopatologia. A
análise das correlações dos problemas de externalização e de internalização, e a
psicopatologia, revelou que tanto os problemas de externalização como os de internalização
têm uma correlação alta com a psicopatologia. Alguns estudos com valores correlacionais
semelhantes apoiam os nossos resultados (Monteiro e Fonseca, 1998; Simões et al., 2000).
O principal objetivo desta pesquisa consistiu em estudar as relações entre o
autoconceito e os problemas de comportamento dos jovens. Esta análise revelou que o
autoconceito apresenta associações negativas com o comportamento antissocial, com os
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
problemas de atenção e hiperatividade, e com a ansiedade/depressão, apresentando, ainda,
associações negativas com os problemas de externalização e internalização, e com a
psicopatologia. Resultados que, em parte, são congruentes com a literatura (e.g.,
Garaigordobil, Durá e Pérez, 2005).
Deste modo, os resultados desta investigação alertam para a importância do
desenvolvimento do autoconceito em adolescentes, bem como para o papel fundamental que
os pais têm no desenvolvimento adaptativo dos jovens. Todavia, também se deve dar atenção
em termos de prevenção de possíveis desenvolvimentos de perturbações mentais nesta fase
do ciclo vital, uma vez que os dados deste estudo sugerem que quanto menor o autoconceito
dos jovens, mais estes parecem ter uma tendência para terem problemas de comportamento.
No âmbito das limitações encontradas neste estudo, pode mencionar-se o fato de a
amostra apresentar dimensões reduzidas, devido a constrangimentos temporais. A aplicação
de instrumentos de autorresposta a adolescentes também foi uma limitação, uma vez que os
participantes apresentaram dificuldades a responder a determinadas questões, ou porque
possam ter dado respostas segundo o que é socialmente desejável. Além deste facto, os itens
do questionário de autoconceito (PHCSCS-2) saturaram em vários fatores, não apresentando
validade facial relativamente à dimensão em que estavam inseridos. Justificou-se, deste
modo, a necessidade de conduzir um estudo psicométrico do instrumento, que parece ficar
comprometido no modo como os itens se distribuíam pelas várias dimensões do autoconceito,
pelo que se optou por não estudar as dimensões da escala. Por fim, este estudo não permite
compreender determinados processos psicológicos que lhe são inerentes, por isso o seu
caráter transversal é limitativo.
A título sugestivo seria importante alargar a amostra, incluindo alunos de uma escola
pública e, eventualmente, conduzir um estudo comparativo entre adolescentes provenientes
de escolas técnicas profissionais e adolescentes a frequentar o ensino regular. Desta forma,
poder-se-ia encontrar diferenças eventualmente significativas, e perceber se as caraterísticas
do meio em que os adolescentes estão inseridos modifica a sua perceção face ao autoconceito
e, consequentemente, se afeta os seus comportamentos.
Ao concluir este estudo, debruçamo-nos sobre o percurso académico destes jovens
provenientes de uma escola técnica e profissional, reconhecendo-se que, neste caso, a sua
vida escolar é pautada pelo insucesso escolar caraterizado pelas retenções, e pela
existência de processos disciplinares. Atualmente, a existência de cursos alterativos auxilia
bastante as escolas a darem uma resposta às necessidades educativas destes alunos.
Autoconceito e Comportamento em Adolescentes 2013
Os dados obtidos neste estudo sugerem ser importante a intervenção do psicólogo,
sobretudo ao nível da implementação de programas de sensibilização a pais e professores,
ajudando-os a identificar e a lidar com os problemas desenvolvimentais e comportamentais
dos adolescentes. A aplicação de programas para consolidar determinadas competências para
o crescimento pessoal e académico dos adolescentes é essencial, em particular a promoção de
apoio especializado a alunos com dificuldades de aprendizagem, com problemas de
comportamento e/ou emocionais, bem como, a valoração do envolvimento familiar. É
importante lembrar que todas os jovens têm talentos que podem ser incentivados. Despender
algum tempo para reconhecer cada adolescente cria nele um sentimento de “ser especial”, que
promove o seu autoconceito e a sua autoestima .
Independentemente das limitações referidas anteriormente, considera-se que os
objetivos da presente investigação foram respondidos, e que certamente são um importante
contributo, sendo um mote para outras investigações.
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Apêndices
Pedido de autorização submetido à Direção da Escola Técnica Profissional
Pedido de Consentimento Informado aos Encarregados de Educação
Questionário Sociodemográfico
Apêndice 1
Pedido de autorização submetido à Direção da Escola Técnica Profissional
Coimbra, 19 de Dezembro de 2011
Exmo Senhor do Conselho da Direção
Eu, Carla Jacinta dos Santos Marques estudante do Mestrado em Psicologia Clinica
do Instituto Superior Miguel Torga, encontro-me a realizar um estudo sobre o Autoconceito e
Comportamento em estudantes do 3º ciclo da respetiva Escola Técnica Profissional.
Pretendo através desta carta requerer permissão para a realização desta investigação e
solicitar a recolha de dados, no decorrer do 2º Período, garantindo a confidencialidade da
escola e dos alunos participantes, na dissertação e em qualquer artigo publicado que decorra
deste estudo.
Na expectativa de uma resposta favorável, subscrevo com os melhores cumprimentos,
ficando à Vossa inteira disposição para prestar quaisquer esclarecimentos.
Atentamente,
Carla Marques
Apêndice 2
Pedido de Consentimento Informado aos Encarregados de Educação
Coimbra, Fevereiro de 2012
Exmo. (a) Sr. (a) Encarregado de Educação
Eu, Carla Jacinta dos Santos Marques estudante do Mestrado em Psicologia Clinica
do Instituto Superior Miguel Torga, encontro-me a realizar um estudo sobre o autoconceito e
comportamentos em estudantes do 3º ciclo da Escola Técnica Profissional de Coimbra.
Assim, solicito que autorize a participação do seu filho nesta investigação, que
envolve o preenchimento de alguns questionários para avaliar as medidas em estudo. O seu
preenchimento será de aproximadamente 30 minutos e, se o adolescente quiser desistir, será
livre de o fazer a qualquer momento.
Todos os questionários administrados serão anónimos e de extrema confidencialidade,
sendo os dados recolhidos utilizados exclusivamente em proveito deste estudo.
Sem outro assunto e na expectativa de uma resposta favorável da sua parte, agradeço a
atenção dispensada e despeço-me com os melhores cumprimentos.
Atentamente,
Carla Marques
Eu, Encarregado de Educação do aluno(a), _________________________________________________________________________ autorizo/não autorizo(*) o meu educando a participar no preenchimento dos questionários. Assinatura: ________________________________________________________________ Data: ___ / ___ / ___ (*) – Riscar o que não interessa.
Apêndice 3
Eu, Carla Jacinta dos Santos Marques estudante do Mestrado em Psicologia Clinica do Instituto Superior Miguel Torga, encontro-me a realizar um estudo sobre o
autoconceito e comportamentos em estudantes do 3º ciclo.
Todos os questionários administrados serão anónimos e de extrema confidencialidade, sendo os dados recolhidos utilizados exclusivamente em proveito deste estudo.
Questionário Sociodemográfico
Anexo 2
ESCALA DE AUTO-CONCEITO
(ADAPTADO DE PIERS-HARRIS CHILDREN’S SELF-CONCEPT SCALE 2, POR F. H. VEIGA, 2006)
INSTRUÇÕES: Encontra-se no questionário que se segue um conjunto de afirmações que
descreve aquilo que algumas pessoas sentem em relação a si mesmas. Lê cada uma dessas
afirmações e vê se ela descreve ou não o que tu achas de ti próprio. Se for verdadeiro ou
verdadeiro em grande parte põe um círculo em volta da palavra "Sim", que está a seguir à
frase. Se for falso ou falso em grande parte põe um círculo em volta da palavra "Não".
Responde a todas as perguntas, mesmo que em relação a algumas, seja difícil de decidir.
Não assinales "Sim" e "Não” na mesma frase.
Lembra-te de que não há respostas certas ou erradas. Só tu nos podes dizer o que é que
achas de ti mesmo(a), por isso esperamos que respondas de acordo com o que realmente
sentes.
Resultado total: Resultado bruto_______ Percentil_______ Statines_______ Clusters: I_____ II_____ III_____ IV_____ V_____ VI______ 1 Os meus colegas de turma troçam de mim. Sim Não 2 Sou uma pessoa feliz. Sim Não 3 Tenho dificuldades em fazer amizades Sim Não 4 Estou triste muitas vezes. Sim Não 5 Sou uma pessoa esperta. Sim Não 6 Sou uma pessoa tímida. Sim Não 7 Fico nervoso(a) quando o Professor me faz perguntas. Sim Não 8 A minha aparência física desagrada-me. Sim Não 9 Sou um chefe nas brincadeiras e no desporto. Sim Não 10 Fico preocupado(a) quando temos testes na escola. Sim Não 11 Sou impopular. Sim Não 12 Porto-me bem na escola. Sim Não 13 Quando qualquer coisa corre mal, a culpa é geralmente minha. Sim Não 14 Crio problemas à minha família. Sim Não 15 Sou forte. Sim Não 16 Sou um membro importante da minha família. Sim Não 17 Desisto facilmente. Sim Não 18 Faço bem os meus trabalhos escolares. Sim Não 19 Faço muitas coisas más. Sim Não
20 Porto-me mal em casa. Sim Não 21 Sou lento(a) a terminar, trabalhos escolares. Sim Não 22 Sou um membro importante da minha turma. Sim Não 23 Sou nervoso(a). Sim Não 24 Sou capaz de dar uma boa impressão perante a turma. Sim Não 25 Na escola estou distraído(a) a pensar noutras coisas. Sim Não 26 Os meus amigos gostam das minhas ideias. Sim Não 27 Meto-me frequentemente em sarilhos. Sim Não 28 Tenho sorte. Sim Não 29 Preocupo-me muito. Sim Não 30 Os meus pais esperam demasiado de mim. Sim Não 31 Gosto de ser como sou. Sim Não 32 Sinto-me posto de parte. Sim Não 33 Tenho o cabelo bonito. Sim Não 34 Na escola, ofereço-me várias vezes como voluntário(a). Sim Não 35 Gostava de ser diferente daquilo que sou. Sim Não 36 Odeio a escola. Sim Não 37 Sou dos últimos a ser escolhido(a) para jogos e desportos. Sim Não 38 Muitas vezes sou antipático(a) com as outras pessoas. Sim Não 39 Os meus colegas da escola acham que tenho boas ideias. Sim Não 40 Sou infeliz. Sim Não 41 Tenho muitos amigos. Sim Não 42 Sou alegre. Sim Não 43 Sou estúpido(a) em relação a muitas coisas. Sim Não 44 Sou bonito(a). (Tenho bom aspeto) Sim Não 45 Meto-me em muitas brigas. Sim Não 46 Sou popular entre os rapazes. Sim Não 47 As pessoas pegam comigo. Sim Não 48 A minha família está desapontada comigo. Sim Não 49 Tenho uma cara agradável. Sim Não 50 Quando for maior, vou ser uma pessoa importante. Sim Não 51 Nas brincadeiras e nos desportos, observo em vez de, participar. Sim Não 52 Esqueço o que aprendo. Sim Não 53 Dou-me bem com os outros. Sim Não 54 Sou popular entre as raparigas. Sim Não 55 (gosto de ler) Sou bom leitor Sim Não 56 Tenho medo muitas vezes. Sim Não 57 Sou diferente das outras pessoas. Sim Não 58 Penso em coisas más. Sim Não 59 Choro facilmente. Sim Não 60 Sou uma boa pessoa. Sim Não
Obrigado/a pela colaboração