tesauro jurÍdico da justiÇa federal: análise de seus...

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO Lenora de Beaurepaire da Silva Schwaitzer TESAURO JURÍDICO DA JUSTIÇA FEDERAL: análise de seus princípios metodológicos NITERÓI 2015

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAO SOCIAL

    DEPARTAMENTO DE CINCIA DA INFORMAO

    CURSO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAO

    Lenora de Beaurepaire da Silva Schwaitzer

    TESAURO JURDICO DA JUSTIA FEDERAL:

    anlise de seus princpios metodolgicos

    NITERI

    2015

  • LENORA DE BEAUREPAIRE DA SILVA SCHWAITZER

    TESAURO JURDICO DA JUSTIA FEDERAL: anlise de seus

    princpios metodolgicos

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Universidade Federal

    Fluminense como requisito parcial para a obteno do ttulo de Bacharel em

    Biblioteconomia e Documentao. Orientadora: Profa Dr Joice Cleide

    Cardoso Ennes de Souza

    Niteri

    2015

  • S398t Schwaitzer, Lenora de Beaurepaire da Silva.

    Tesauro Jurdico da Justia Federal: anlise de seus

    princpios metodolgicos / Lenora de Beaurepaire da Silva Schwaitzer. 2015.

    f. 75

    Orientadora: Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza. Trabalho de concluso de curso (Graduao em

    Biblioteconomia e Documentao) Universidade Federal Fluminense. Referncias: f. 66-69

    1. Tesauro Jurdico da Justia Federal. 2. Anlise. 3. Tesauro conceitual. I. Souza, Joice Cleide Cardoso Ennes. II.

    Ttulo.

    CDD 025.04

  • LENORA DE BEAUREPAIRE DA SILVA SCHWAITZER

    TESAURO JURDICO DA JUSTIA FEDERAL: anlise de seus princpios

    metodolgicos

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Universidade Federal

    Fluminense como requisito parcial para a obteno do ttulo de Bacharel em Biblioteconomia e Documentao.

    BANCA EXAMINADORA

    Aprovado em: ____/____/_____

    Profa Dr Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza Universidade Federal Fluminense - orientadora

    Profa Dra Maria Luiza de Almeida Campos

    Universidade Federal Fluminense

    Profa Dra Michely Jabala Mamede Vogel Universidade Federal Fluminense

    Niteri 2015

  • A Paulinha,

    que organizava o afeto

    a seus entes queridos em prateleiras.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus professores, sempre generosos em compartilhar conhecimentos, e, em

    particular, minha orientadora, Joice, no apenas pelas contribuies ao meu

    trabalho, como tambm pela bibliografia, pelo incentivo e pelo constante bom humor;

    A Carmem Lucia de Castro, que relembrou as aes da comisso responsvel pela

    criao do Tesauro Jurdico da Justia Federal, pelo companheirismo e pelo carinho

    de sempre;

    A Mauro Figueiredo, pela reviso do texto e pelas opinies No sei como teria

    conseguido entregar a tempo sem o seu auxlio incansvel e clere!;

    A Wellington Santos, que sempre me socorreu nas dvidas relativas s referncias

    bibliogrficas e Maria Cristina Paiva, que me auxiliou na ltima reviso;

    A todos os que facilitaram meu trajeto de minha casa na Barra da Tijuca at a

    faculdade, em Niteri;

    minha me, que me recebe sempre com carinho em sua casa quando vou UFF.

  • Tudo para ns est em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo modificar o mundo para ns.

    Fernando Pessoa

  • RESUMO

    Elabora anlise do Tesauro Jurdico da Justia Federal a partir de critrios que

    resultam de uma viso a partir das teorias do conceito e da classificao facetada, e que fundamentam os tesauros conceituais. Para isso, discorre sobre temas como representao da informao, servio de recuperao da informao, linguagem

    documentria e, em particular, o tesauro. Descreve o contexto histrico da criao do Tesauro Jurdico, os princpios e a metodologia utilizada para sua construo,

    identificando inconsistncias relevantes que desaconselham sua adoo no estado em que se encontra poca de sua anlise. Reconhece que a linguagem documentria datada, e aponta a construo de novo instrumento que apresente

    uma parte alfabtica com a descrio do conceito dos termos utilizados e uma parte sistemtica, elaborada com base na teoria facetada de Ranganathan.

    PALAVRAS-CHAVE: Tesauro Jurdico da Justia Federal. Anlise. Tesauro

    conceitual. Teoria do conceito. Teoria da classificao facetada.

  • ABSTRACT

    This paper makes an analysis of the Federal Court of Justice Juridical Thesaurus. The analysis is based on criteria deriving from the perspective of theory of concepts

    and faceted theory, which form the basis of conceptual thesaurus. In order to do that, this paper deals with topics such as information representation and information retrieval system, index language and, more specifically, thesaurus. It describes the

    historical context in which the Juridical Thesaurus was created, the principles and methodology used to build it, and identifies relevant inconsistencies that make it

    inadvisable to adopt if one takes into account the way it was at the time the analysis was made. In recognition of the fact that documentary language is dated, it is suggested that a new tool is created that can count on two parts, namely: one with an

    alphabetical display, along with a description of the concepts of the terms used, and the other with a systematic display based on Ranganathans faceted theory.

    KEYWORDS: The Federal Courts Juridical Thesaurus. Analysis. Conceptual Thesaurus. Theory of concepts. Faceted theory.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................ 10

    2 MARCO TERICO......................................................................................................... 16

    2.1 LINGUAGEM JURDICA .......................................................................................... 16

    2.2 REPRESENTAO DA INFORMAO............................................................... 18

    2.3 SISTEMAS DE RECUPERAO DA INFORMAO (SRIs) ........................... 19

    2.4 LINGUAGEM DOCUMENTRIA ............................................................................ 21

    2.4.1 Breve histrico ....................................................................................................... 21

    2.4.2 Linguagem documentria: conceito em desenvolvimento ............................. 23

    2.4.3 Tesauro enquanto linguagem documentria .................................................... 25

    2.5 PRINCPIOS TERICOS DE TESAUROS CONCEITUAIS .............................. 28

    2.5.1 Teoria do conceito ................................................................................................ 28

    2.5.2 Teoria da classificao facetada ........................................................................ 30

    2.6 METODOLOGIA PARA ELABORAO DE TESAURO .................................... 34

    2.7 CRITRIOS PARA AVALIAO DE TESAURO................................................. 38

    3 TESAURO JURDICO DA JUSTIA FEDERAL ...................................................... 40

    3.1 A IMPORTNCIA DE SRIs PARA O UNIVERSO JURDICO ........................... 40

    3.2 CONTEXTO DE PRODUO DO TESAURO..................................................... 42

    3.3 HISTRIA DO TESAURO JURDICO DA JUSTIA FEDERAL ....................... 44

    3.4 ANLISE DO TESAURO ......................................................................................... 47

    3.4.1 O software TECER ............................................................................................... 47

    3.4.2 Estrutura dos termos e forma de apresentao............................................... 48

    3.4.3 Campo de abrangncia ........................................................................................ 50

    3.4.4 Forma dos descritores.......................................................................................... 52

    3.4.5 Tipos de relao e Estrutura semntica ............................................................ 54

    4 CONSIDERAES ........................................................................................................ 61

    REFERNCIAS..................................................................................................................... 66

    ANEXO A ............................................................................................................................... 70

    ANEXO B ............................................................................................................................... 71

  • 10

    1 INTRODUO

    No ano de 1988, ingressei, mediante concurso pblico, na Justia Federal

    do Rio de Janeiro e, durante muitos anos, atuei na denominada rea-fim daquele

    rgo. Embora tenha comeado minha atividade dentro de um cartrio, decorridos

    seis meses de trabalho, j trabalhava junto ao magistrado, auxiliando-o na produo

    de sentenas, enquanto oficial de gabinete, ou na confeco de relatrio, voto,

    ementa e acrdo, como assessora de juiz. Ali, entendi a importncia das fontes de

    direito e, principalmente, da jurisprudncia.

    Naquela poca, cada magistrado possua seu ementrio1 particular, fruto de

    uma coleta diria de ementas2 e acrdos3 publicados nos dirios oficiais. Como

    oficial de gabinete, cargo poca privativo de bacharel em Direito e de

    assessoramento o magistrado, cabia a mim a leitura das decises ali publicadas, o

    recorte das que considerava relevantes, a sua fixao em fichas, a indexao do

    contedo e o arquivamento em fichrios. Junto com os cdigos, os livros

    particulares, meus e os do magistrado, o livro de sentenas proferidas. Aqueles

    fichrios eram bens valiosos e resultado de anos de trabalho.

    Quando o magistrado com quem eu trabalhava adquiriu um computador

    pessoal para uso na vara, foi desenvolvido uma rotina em dBase que possibilitava

    insero de todos os termos utilizados para indexar cada deciso e auxiliar na

    recuperao da informao. poca, ainda que a ferramenta tecnolgica fosse

    muito limitada, se comparada aos dias de hoje, tal inovao representou um

    profundo avano e a otimizao na busca de um entendimento prvio que servisse

    para corroborar a fundamentao da sentena que seria proferida.

    Com a criao dos Tribunais Regionais Federais TRFs em 1989, assisti ao

    surgimento do setor de jurisprudncia do Tribunal Regional Federal da 2a Regio

    TRF2, localizado no Rio de Janeiro, e, como assessora de um desembargador

    federal, demandava frequentemente pesquisas de jurisprudncia, embora ainda

    continuasse com o hbito de ler o Dirio Oficial e de extrair as decises que me

    pareciam relevantes, agora para alimentar o repertrio do desembargador com

    1 Os ementrios so coletneas de ementas de decises proferidas pelos tribunais.

    2 Ementa o resumo que contm palavras chaves sobre o assunto e o entendimento de um rgo

    colegiado de um tribunal no julgamento de um determinado processo.

  • 11

    quem trabalhava. Afinal, ainda que no possussemos a totalidade das decises

    proferidas, no precisvamos aguardar as pesquisas realizadas pelo setor de

    jurisprudncia, seja quanto aos julgados4 de nosso tribunal, seja na base unificada

    pelo Centro de Informtica e Processamento de Dados do Senado Federal

    PRODASEN, a qual apenas aquele setor tinha acesso.

    Nestes ltimos vinte e seis anos, assisti ao desenvolvimento exponencial

    das tecnologias da informao e, o que era de acesso restrito e demorado, passou a

    estar disponvel a todos que possuam algum dispositivo ligado internet, em

    qualquer lugar e a qualquer momento. Se por um lado este avano tecnolgico abriu

    novas possibilidades e agilizou a circulao e o acesso informao, por outro lado,

    novos desafios surgiram para os profissionais responsveis pela organizao da

    informao.

    Vinte anos aps ter ingressado no TRF2 como assessora, fui nomeada

    diretora da secretaria de documentao qual o setor de jurisprudncia estava

    vinculado. Percebi que, naquelas ltimas duas dcadas, o local havia passado por

    diversas fases. Ao ser criado, era apenas uma seo, com alguns poucos

    servidores, mas, na dcada de 1990, ascendeu posio de diviso e contava com

    mais de uma dezena de servidores. Com o impulso da internet e a criao de um

    sistema informatizado, possibilitou-se no apenas a produo da deciso judicial e

    seu armazenamento em suas bases de dados, mas tambm o acesso remoto e

    direto aos usurios, denominado Inteiro Teor. Com isso, aquela diviso foi reduzida

    e o servio ficou restrito alimentao da base de dados unificada da Justia

    Federal, mantida pelo Conselho da Justia Federal CJF.

    Inconformada com a reduo do prestgio de um local que era o custodiador

    de toda a deciso proferida pelo TRF2, fui me inteirar de seus problemas. Percebi

    que a criao do Inteiro Teor, ao propiciar o acesso aos usurios, retirou da diviso

    de jurisprudncia o papel de interface entre o usurio e os documentos. Ademais,

    aquele setor no estava preparado para modificar suas atividades para se adequar

    nova realidade.

    3 Extrato do resultado do julgamento que contem a identificao do rgo julgador, o nome dos

    magistrados que votaram, 4 Os julgados dos tribunais se constituem de deciso monocrtica, quando apenas o relator emite

    deciso e o conjunto constitudo de relatrio, voto, ementa, acrdo proferidos por um de seus rgos

    colegiados.

  • 12

    Como antiga usuria da fonte de informao que a jurisprudncia, sabia da

    importncia de se manter uma base de dados que privilegiasse a preciso da

    recuperao. Ao mesmo tempo, como adepta ao uso de ferramentas tecnolgicas

    para facilitar minha rotina diria, no entendia como aquele recurso havia impactado

    de forma negativa em um servio de recuperao da informao SRI. Aos poucos,

    fui compreendendo que o retrocesso se deu porque aquele setor no soube como se

    valer dos avanos para automatizar atividades que prescindiam da inteligncia

    humana para realiz-las. Com isso, imprimiam esforos imensos para manter a

    leitura diria dos dirios em busca de novas decises do tribunal para inserir na

    base unificada da Justia Federal no CJF, acrescentando apenas a data e a pgina

    do dirio em que a deciso havia sido publicada. Indagados quanto indexao das

    decises, fui informada de que ela no era mais realizada devido reduo da

    equipe. Alm disso, o tesauro jurdico criado na dcada de 1990, sob a coordenao

    do CJF e com a assessoria tcnica do Instituto Brasileiro de Informao em Cincia

    e Tecnologia IBICT, devido crise instalada em todos os setores de jurisprudncia

    dos TRFs, no sofria atualizaes desde 1999.

    Aps um longo e penoso trabalho de convencimento, sustentando que as

    tecnologias disponveis davam conta daquela atividade mecnica de cotejo entre a

    deciso publicada e a existente na base de jurisprudncia, consegui a contratao

    de servio que customizou uma soluo tecnolgica que faz a comparao entre a

    base e o contedo do dirio. Ao mesmo tempo, busquei alternativas para

    atualizao do Tesauro Jurdico da Justia Federal, que poderia ser alimentado na

    ferramenta de busca automtica contratada, para auxiliar na recuperao da

    informao.

    Enquanto instigava o CJF e os demais TRFs a montar novo grupo para

    atualizar nossa linguagem documentria, frequentava aulas no curso de Arquivologia

    da Universidade Federal Fluminense - UFF e, no decorrer da disciplina de

    Laboratrio de Linguagem Documentria Verbal I, decidi observar de forma mais

    atenta o instrumento elaborado na dcada de 1990 pela Justia Federal para

    mensurar o desafio que iramos enfrentar para a sua atualizao. A partir da

    proposta elaborada por Campos (2016), de estabelecer critrios para fundamentar

    decises de um servio de informao quanto adoo ou no de um tesauro

    existente, fiz um estudo inicial do Tesauro Jurdico da Justia Federal e percebi

    diversos problemas que dificultariam o trabalho.

  • 13

    Apesar de ter sido fruto de um trabalho longo, custoso e extenuante, o

    tesauro se limitava a apresentar uma lista alfabtica de termos com algumas

    relaes de equivalncia, hierrquicas e associativas. Entretanto, aps uma breve

    anlise, era possvel evidenciar diversos problemas de consistncia, seja na relao

    entre os termos, seja no nvel de especificidade.

    Percebendo que o instrumento demandaria mais do que uma atualizao,

    resolvi dedicar meu trabalho de concluso de curso em Biblioteconomia e

    Documentao da UFF a uma anlise mais cuidadosa do Tesauro Jurdico da

    Justia Federal, a fim de propor alternativas viveis para uso de uma linguagem

    documentria na rea do Direito para auxiliar em nosso SRI.

    Desta forma, o objetivo geral deste trabalho a anlise do Tesauro Jurdico

    da Justia Federal, elaborado sob a coordenao do Conselho da Justia Federal, e

    com o apoio tcnico do IBICT, para fins de adoo no servio de informao do

    TRF2. Especificamente, objetivo contextualizar a criao do Tesauro Jurdico da

    Justia Federal, analisar a linguagem documentria a partir de critrios como a

    estrutura dos termos e forma de apresentao, seu campo de abrangncia, a forma

    de seus descritores, os tipos de relaes existentes e a estrutura semntica

    desenvolvida, a partir da base conceitual obtida no decorrer do curso de

    Biblioteconomia e Documentao da UFF. Com isso, espera-se encontrar elementos

    capazes de subsidiar Deciso para a adoo ou no do tesauro jurdico no SRI

    atual.

    O trabalho parte do pressuposto de que, conforme asseverado por

    Lancaster (2004, p. 3), ao se efetuar uma busca em uma base de dados, os

    membros de uma determinada comunidade almejam encontrar documentos que

    sejam teis para satisfazer a uma necessidade de informao, e evitar a

    recuperao de itens teis e que este o desafio a ser enfrentado em todo servio

    de recuperao da informao.

    Ao mesmo tempo, reconhecemos que no espao informacional, verifica-se

    a necessidade de criao de instrumentos que possibilitem a comunicao, no

    mais entre os pares, mas entre os usurios de um sistema de informao e o prprio

    sistema (CAMPOS, 2001, p. 18). No caso especfico deste trabalho, j existe um

    instrumento criado na dcada de 1990, mas preciso verificar sua adequao para

    o uso nos dias atuais, tanto na indexao quanto em um sistema de busca

    automtica em bases de dados.

  • 14

    A metodologia desenvolvida para a realizao deste trabalho de concluso

    de curso foi a pesquisa bibliogrfica, para obteno de conceitos para fundamentar o

    trabalho, tais como o de linguagem jurdica, representao da informao, servio de

    recuperao da informao, linguagem documentria e o conceito de tesauro. Alm

    disso, foram buscados os fundamentos da teoria do conceito e da teoria da

    classificao facetada, que servem de base para a elaborao de um tesauro

    conceitual. Ainda na bibliografia, fomos em busca de critrios para elaborao e

    avaliao de tesauros, capazes de embasar o trabalho a ser desenvolvido.

    Alm disso, pretende-se efetuar uma abordagem qualitativa, a partir de um

    mtodo hipottico-dedutivo, que possui a vantagem de permitir a formulao de

    hipteses ou conjunturas (GIL, 1999, p. 30). De fato, o que aqui se prope a

    realizao de estudo de caso, mais especificamente, da anlise do Tesauro Jurdico

    da Justia Federal a partir de critrios que foram eleitos no curso da pesquisa

    bibliogrfica.

    Conforme ressaltado por Yin (2001), o estudo de caso uma investigao

    holstica, de natureza emprica, centrada em um contexto real e sem fronteiras

    claramente definidas. Minayo (2010) afirma que o estudo de caso tem incio atravs

    de uma fase exploratria, momento em que se constroem suas questes tericas e

    operacionais.

    Desta forma, a anlise do tesauro foi precedida da identificao do contexto

    de sua criao, a fim de buscar elementos para compreender suas motivaes. A

    seguir, elegeu-se base amostral para exame do instrumento. Importa esclarecer que

    Campos (2016) ressalta que, em instrumentos com mais de 200 (duzentos) termos,

    a coleta de amostra recomendvel.

    Como o Tesauro Jurdico da Justia Federal possui 9119 termos, optamos

    pela coleta de uma pequena amostra que, embora no d conta de um estudo

    aprofundado, seja capaz de analisar os termos e suas relaes. Inicialmente,

    pensamos em nos restringir letra A, que possui o total de 873 termos inseridos em

    105 pginas do tesauro. Mas por fora de relaes estabelecidas entre alguns

    termos, foram pesquisados um total de 912 termos, o que representa quase 10% do

    tesauro.

    Os primeiros pontos identificados foram a data da ltima verso, o nmero

    total de termos, a forma de organizao e os tipos de sada. A seguir, procedeu-se

    anlise de sua introduo, a fim de buscar elementos que identificassem a

  • 15

    responsabilidade autoral, abrangncia, finalidade, fundamentao terica, critrios

    estabelecidos para padronizao dos termos, tipografia diferenciada entre

    descritores e no descritores, e nveis hierrquicos estabelecidos.

    Para identificar o nmero mximo de nveis hierrquicos estabelecidos no

    tesauro, foi necessrio pesquisar todo o instrumento, sendo que o primeiro exemplo

    colhido encontrava-se na letra D.

    A seguir, o foco incidiu sobre o uso de conceitos gerais e individuais e a

    forma dos descritores, buscando identificar consistncia no uso do singular, no uso

    de termos em masculino e feminino e na rejeio de abreviaturas. interessante

    mencionar que, de incio, acreditou-se que no ocorreria insero de abreviaturas

    como descritor at que, por fora do acaso, localizou-se uma quebra do critrio que

    apontado no trabalho. Como o objetivo no era o exaurimento da anlise, no

    houve aprofundamento deste ponto.

    Um aspecto que se julgou conveniente inserir, por ter se destacado durante

    o trabalho, foi o uso de termos latinos, que so usuais no campo jurdico. Outra

    etapa desenvolvida foi a anlise das relaes identificadas entre os termos assim

    como sua estrutura semntica. Para isso, foi comparada a proposta declarada na

    introduo do documento com aquela apresentada na relao alfabtica de termos.

    Nos casos em que a anlise revelou inconsistncias mais graves, optou-se por

    sugerir uma proposta de reorganizao, para auxlio em momento futuro em que

    houver a reviso do tesauro.

    O trabalho foi organizado em duas partes: uma de cunho eminentemente

    terico, que apresenta os conceitos j mencionados anteriormente e uma segunda

    parte que de natureza emprica, na qual se analisa o tesauro. Para representar

    essas duas partes, o trabalho foi dividido em apenas dois captulos, seguindo-se um

    ltimo captulo que tece consideraes acerca da pesquisa.

    Espera-se que sua edio venha a contribuir com a rea de representao

    da informao e, em particular, com trabalhos acadmicos que versem sobre

    elaborao e avaliao de tesauros.

  • 16

    2 MARCO TERICO

    A proposta do captulo apresentar conceitos fundamentais que aliceram o

    trabalho, o qual objetiva, em sntese, avaliar o Tesauro Jurdico da Justia Federal.

    Para tanto, considera-se pertinente discorrer, inicialmente, acerca das

    especificidades e finalidades da linguagem jurdica, com o intuito de demonstrar a

    importncia do uso de um vocabulrio controlado para a recuperao da informao

    pelos usurios daquela rea de conhecimento.

    A partir da, elabora-se uma breve discusso sobre os processos de

    organizao da informao e tambm quanto aos sistemas de recuperao da

    informao. Comenta-se, ainda, a origem, a funo, os princpios e tipos de

    linguagens documentrias, com nfase no tesauro e tambm sobre as teorias da

    classificao e do conceito, que constituem a base para a elaborao do tesauro

    conceitual, que vem a ser aquele identificado como mais adequado para a

    representao e recuperao da documentao jurdica.

    2.1 LINGUAGEM JURDICA

    de conhecimento geral o fato de a linguagem jurdica ser marcada pelo

    hermetismo e pela especificidade, chegando ao ponto de ter sido cunhada, ao longo

    dos anos, a expresso juridiqus, que evidencia a falta de compreenso da

    populao quanto linguagem empregada nas peas processuais5 produzidas por

    magistrados e demais operadores do Direito.

    Santos e Dominguez (2014, p. 272) enfatizam que qualquer linguagem

    resulta da vida social e que, ainda que preservadas as funes bsicas, ela difere

    de comunidade para comunidade de tal forma que s funciona entre os membros de

    um determinado grupo que dela se utiliza no convvio social. Por sua vez,

    Mozdzenski (2003) lembra que para a lingustica, e em especial para a

    sociolingustica variacionista, a linguagem jurdica deve ser compreendida como um

    dialeto na dimenso social, que decorre de consenso entre um determinado grupo

    ou classe social a que pertencem os usurios de tal lngua.

    5 Documentos escritos que atendem determinados critrios estabelecidos nos cdigos process uais e

    que compem o processo.

  • 17

    Ao comentar o linguajar jurdico, Len (2004) esclarece que este produz um

    conjunto legal em formato de normas e cdigos, que se estruturam de uma forma

    prpria tpica de um determinado grupo social. Alm disso, identifica alguns traos

    especficos do linguajar jurdico, apontando, entre eles, o uso de verbos assertivos

    na terceira pessoa do singular6, do presente ou do passado composto7, a fim de

    exprimir um aspecto realizado, assim como o uso de indefinidos e do infinitivo

    impessoal do futuro, que visa afirmar generalidade e omnitemporalidade da regra do

    Direito8. Afirma que tal retrica da autonomia, da neutralidade e da universalidade

    o prprio discurso do Direito (LEN, 2004, p. 40).

    Len (2004) destaca ainda que a deciso judicial

    [...] representa a forma por excelncia da palavra autorizada, palavra

    pblica, oficial, enunciada em nome de todos e perante todos; estes enunciados performativos, enquanto juzos de atribuio formulados publicamente por agentes que atuam como mandatrios autorizados de

    uma coletividade e constitudos assim em modelos de todos os aspectos de categorizao. So atos simblicos que so bem sucedidos porque esto altura de se fazerem reconhecer universalmente, portanto, de conseguir que

    ningum possa recusar ou ignorar o ponto de vista que eles impem. (LEN, 2004, p. 42-43)

    Henriques e Ponzilacqua (2013, p. 2) enfatizam que o campo do Direito

    desfruta de razovel autonomia, emergindo como subespao social relativamente

    especfico, com estruturas que residem e refratam s presses de outros campos

    exteriores, mas, tambm, refletem as tenses internas dos embates de fora e de

    poder. Esclarecem que tanto a linguagem jurdica quanto o prprio rito particular

    daquele campo impem uma violncia simblica significativa, fomentando

    desigualdades sociais pelo uso de sutileza e mascaramento das formas de poder

    que as engendra, que acontecem sob a aparncia de rebuscamento, de forma

    inacessvel, da baixa transparncia e do controle burocrtico (HENRIQUES;

    PONZILACQUA, 2013, p. 2-3)

    Do que foi acima mencionado, deve-se reconhecer que a linguagem jurdica

    utilizada em normas legais e, principalmente, nas peas judiciais, difere da

    linguagem natural por ser uma linguagem de especialidade, e os textos com ela

    6 Exemplo de verbo assertivo na 3a pessoa do singular: Publique-se. Intime-se. Cite-se. Proceda-se a

    penhora. etc 7 Exemplo de passado composto (forma eliptica): Vistos, discutidos e relatados estes autos....

    8 Exemplo de indefinido e de atemporalidade da regra do Direito: Art. 155 do Cdigo Penal - Subtrair,

    para si ou para outrem, coisa alheia mvel:

  • 18

    produzidos demandam tratamento sistemtico com foco na representao e

    recuperao da informao neles contidos.

    2.2 REPRESENTAO DA INFORMAO

    Segundo Furgeri (2006), a partir de 1850, com o aumento significativo do

    nmero de peridicos, inicia-se a busca por maneiras mais adequadas de

    representar e recuperar a informao, mas com Paul Otlet que a representao do

    conhecimento recebe o primeiro grande impulso, com a criao, em 1895, em

    parceria com La Fontaine, do Repertoire Bibliographique Universel - RBU, como

    "uma ambiciosa tentativa de desenvolver uma bibliografia-mestre do conhecimento

    mundial acumulado" (FURGERI, 2006, p. 33).

    Entretanto, ainda de acordo com Furgeri (2006), Vannevar Bush, quem

    consegue instigar a preocupao de cientistas e administradores cientficos com a

    representao da informao cientfica e tecnolgica, assim como com o uso de

    tecnologias de processamento da informao para auxiliar a recuperao da

    informao.

    Para Novellino (1996, p. 38), a principal caracterstica do processo de

    representao da informao a substituio de uma entidade lingustica longa e

    complexa - o texto do documento - por sua descrio abreviada.

    Lara (2002) esclarece que a representao do contedo na rea de cincia

    da informao opera-se sempre por analogia e generalizao, procurando reunir os

    conceitos a partir de seus traos comuns, numa tentativa de organizar a informao

    e de garantir sua recuperao posterior.

    Cervantes (2009) expressa entendimento embasado em Naumis Pena no

    sentido de que

    A representao da informao por meio de linguagem o resultado da operao de indexao da informao mediante o uso de termos que representam seus contedos temticos para recuperar, no menor tempo

    possvel, um tema especfico em um conglomerado de documentos que compem um sistema de informao (CERVANTES, 2009, p. 32)

    Por seu turno, Alvarenga (2003, p. 23) afirma que a representao da

    informao constitui processo cognitivo humano e que os profissionais da

    informao desenvolvem diversos tipos de representaes que substituem a

    informao primria por registros especficos a ela relativos visando sua

    recuperao posterior. A autora enfatiza, ainda, que nesse processo de

  • 19

    representao, o documento, ou um conjunto de documentos, pode ser substitudo

    por um conjunto condensado de informaes, a fim de que se torne possvel sua

    localizao e uso pelos usurios.

    E este o objetivo da representao da informao, qual seja, a de

    substituir uma informao mais longa por outra, mais condensada, visando

    recuperao e o uso pelos usurios. Desta forma, para fins desta pesquisa, ao se

    mencionar o conceito de representao, estaremos falando de um processo

    intelectual de substituio de uma informao originria pelo seu substituto, mais

    condensada e que normalmente segue determinados padres, com o intuito de

    auxiliar na organizao, recuperao e uso pelos interessados.

    2.3 SISTEMAS DE RECUPERAO DA INFORMAO (SRIs)

    Segundo Saracevic (2008), nos anos 50, cientistas, engenheiros e

    empreendedores comeam a enfrentar o desafio de tornar acessvel um acervo

    crescente de conhecimento a partir do uso de ferramentas tecnolgicas, conforme

    proposto por Vannevar Bush. naquela poca, mais precisamente em 1951, que

    Calvin Mooers concebe o termo recuperao da informao que "engloba os

    aspectos intelectuais da descrio de informaes e suas especificidades para a

    busca, alm de quaisquer sistemas, tcnicas ou mquinas empregados para o

    desempenho da operao" (MOOERS apud SARACEVIC, 2008, p. 44).

    A partir de ento, ainda de acordo com Saracevic (2008), questes

    envolvendo a descrio da informao, a preciso da busca e a adequao dos

    sistemas, tcnicas ou mtodos adequados impulsionaram no apenas o

    desenvolvimento da cincia da informao como tambm a emergncia, a forma e a

    evoluo da indstria informacional.

    Saracevic (2008) cita, ainda, Kochen, que afirma, em 1974, que a

    recuperao da informao se inscreve dentro de um sistema de conhecimento que

    composto por pessoas que processam as informaes, os documentos, como

    suportes informacionais e os tpicos, como representaes, e que necessrio

    estudar o ciclo de vida de cada um destes elementos assim como a interao entre

    eles.

    Tal compreenso compartilhada por Lancaster e Warner (1993) que

    reconhecem os sistemas de recuperao da informao (SRIs) como uma interface

  • 20

    entre os recursos informacionais, independentemente de seu suporte, e os usurios,

    que desempenham as tarefas de aquisio e armazenamento de documentos,

    organizao e controle dos mesmos e distribuio e disseminao aos usurios.

    Ainda de acordo com Lancaster (2004), os SRIs podem ser divididos em seis

    subsistemas, quais sejam, de documentos, de indexao, de vocabulrio, de busca,

    de interface com o usurio e de matching.

    Souza (2006) entende que, para organizar e viabilizar o acesso aos itens de

    informao, os SRIs desempenham as atividades de representao das informaes

    contidas nos documentos por meio de processos de indexao e descrio,

    armazenamento e gesto fsica e lgica dos documentos e de suas representaes

    e, por fim, da recuperao das informaes representadas e dos documentos

    armazenados, visando satisfao e necessidade de informao dos usurios. O

    autor elabora ainda distino entre SRIs e sistemas de gesto de bancos de dados

    SGBDs, afirmando que o ltimo se limita a armazenar dados em uma estrutura

    matricial com metadados. Diz, ainda, que a recuperao em um SGBD se d por

    meio da busca exaustiva nos campos, enquanto que o SRI se preocupa em

    recuperar os documentos do acervo que melhor atendem s necessidades do

    usurio. Em suas palavras,

    Um sistema de recuperao de informaes deve buscar boa relao entre os ndices de revocao e preciso, para oferecer, em resposta a

    determinada consulta, referncias ao maior nmero possvel de documentos relevantes, ordenados por critrios que meam esta relevncia, e o menor nmero possvel de documentos pouco ou no relevantes, de acordo com

    as necessidades de informao dos usurios (SOUZA, 2006, p. 163-164)

    Miranda (2005), ao descrever vrios aspectos dos SRIs, destaca a

    importncia dos profissionais da informao nos SRIs, que so encarregados de

    atribuir termos de indexao a um documento ou item de informao, de selecionar

    os tpicos a serem representados pelos termos de indexao e de associar

    assuntos aos termos a partir de uma anlise dos critrios de busca do usurio.

    Tem-se, portanto, que um SRI um conjunto de subsistemas

    interdependentes que, a partir da atuao dos profissionais de informao, objetiva a

    representao, a organizao e a disseminao da informao visando atender s

    necessidades do usurio das informaes contidas nos documentos nele

    armazenados.

  • 21

    2.4 LINGUAGEM DOCUMENTRIA

    Neste item, a proposta apresentar um breve histrico sobre a origem das

    linguagens documentrias, enfatizando a busca por um conceito capaz de abarcar

    sua significao e importncia para a Cincia da Informao. Alm disso, pretende-

    se esclarecer os tipos de linguagens documentrias existentes, ressaltando a

    diferena entre linguagem documentria notacional e verbal, principalmente sob o

    aspecto funcional.

    A seguir, dar-se- enfoque s linguagens documentrias verbais,

    esclarecendo a necessidade de, nos dias atuais, com a ocorrncia da exploso

    documental, utilizar uma linguagem documental ps-coordenada capaz de traduzir a

    linguagem natural do documento e a necessidade informacional do usurio em uma

    nova linguagem capaz de ser utilizada pelos sistemas de recuperao da

    informao.

    Seguindo esta linha, ser apresentado o tesauro, esclarecendo sua origem,

    finalidade e vertentes at o advento do tesauro terminolgico, que se vale da Teoria

    do Conceito, desenvolvida por Dahlberg, e da Teoria da Classificao Facetada, de

    autoria de Ranganathan.

    2.4.1 Breve histrico

    Sales (2008) relata que os primeiros instrumentos criados com o objetivo de

    armazenar e recuperar a informao foram identificados na Biblioteca de Alexandria,

    que desenvolveu o Catlogo de Calimacus, denominado Pinakes, que relacionam os

    livros pelo tipo de escritores. Diz que os primeiros ndices de manuscritos teriam sido

    criados na Grcia Antiga, como o De libris propriis liber, de Cludio Galeno, no

    sculo II d.C, e que, na idade mdia, os manuscritos eram organizados em

    inventrios. Ademais, aponta que o primeiro exemplo efetivo de indexao e anlise

    documentaria so as bibliografias surgidas no final do sculo XV.

    Burke (2002, p. 176) assevera que a existncia de livros impressos facilitou

    mais do que nunca a tarefa de encontrar informaes desde que antes se

    encontrasse o livro certo. Para isso, foi preciso compilar catlogos para grandes

    bibliotecas, particulares ou pblicas.

  • 22

    Sales (2008) esclarece que, em meados do sculo XVI, Conrad Gessner

    desenvolve a Bibliotheca Universalis, que era uma bibliografia que continha mais de

    15000 obras manuscritas e impressas em latim, grego e hebraico, com a descrio

    de aproximadamente 3000 autores. Afirma, ainda, que Gessner tambm publicou

    um segundo volume codificado de acordo com um sistema de classificao por ele

    idealizado.

    Segundo Burke (2002, p. 177), as bibliografias gerais como a de Gessner

    foram sucedidas por outras mais especficas e fceis de manusear, oferecendo um

    guia para o mundo dos livros e suas instituies em outras palavras, informaes

    sobre informaes. Diz que, posteriormente, surgiram as resenhas para auxiliar na

    separao dos bons livros. Afirma, ainda, que

    s bibliografias logo se juntaram estantes de outros livros de referncia. Tinham ttulos tais como castelo, compndio, corpus, catlogo, floresta,

    inventrio, biblioteca, espelho, repertrio, teatro ou tesouro, e ofereciam informaes sobre palavras (dicionrios), pessoas (dicionrios biogrficos), lugares (dicionrios geogrficos e atlas), datas (cronologias) e

    coisas (enciclopdias) (BURKE, 2002, p. 178-179).

    Sales (2008) ressalta a importncia de se traar a evoluo histrica dos

    sistemas de classificao por entender que os mesmos so precursores das

    linguagens documentrias.

    Ao tratar sobre a evoluo das linguagens documentrias, Maniez (1993)

    destaca que, no sculo XIX, as bibliotecas eram os principais repositrios de

    conhecimento e que as classificaes documentrias surgiram para reagrupar

    fisicamente os livros, que constituem, simultaneamente, unidades fsicas autnomas

    e unidades intelectuais.

    De outra parte, Lara (2001a) elabora trajetria desenvolvida pelas

    linguagens documentrias a partir da criao da classificao decimal de Dewey

    para esclarecer que, inicialmente, o foco estava na organizao de documentos e

    no na transferncia da informao e aponta como quebra de paradigma a

    concepo da Colon Classification, que introduz a noo de agrupamento por

    categorias e facetas. Diz que, apenas com o tesauros identifica-se a preocupao

    com o controle de vocabulrio, a partir do reconhecimento de que a transferncia da

    informao est atrelada a sistemas de significao (LARA, 2001b, p. 6).

    Observa-se, portanto, que as linguagens documentrias surgem como

    instrumentos para auxiliar a organizao e a recuperao da informao.

  • 23

    2.4.2 Linguagem documentria: conceito em desenvolvimento

    No decorrer da pesquisa, identificou-se que o conceito de linguagem

    documentria gerou longa discusso. Foi possvel reconhecer, ainda, que h duas

    linhas de pensamento bem delineadas para o desenvolvimento das linguagens

    documentrias: uma delas a linha europeia, e outra, a americana.

    Na literatura nacional, e ao longo do trabalho desenvolvido em nvel de

    graduao, no se localizou referncia sistematizada quanto ao desenvolvimento do

    conceito de linguagem documentria nos Estados Unidos, embora haja bastante

    aluso a instrumentos de organizao e busca de informaes. Para reforar esta

    impresso, encontra-se em Lancaster (2004) o reconhecimento de que muitos

    instrumentos foram desenvolvidos em paralelo evoluo do conhecimento da rea,

    o que parece justificar a dificuldade em localizar trabalhos tericos relativos ao

    desenvolvimento da rea nos Estados Unidos.

    No entanto, Vogel (2007) alerta que o conceito de linguagens documentrias

    constitui objeto de disputa entre pesquisadores e destaca que Gardin teria sido o

    responsvel pelo desenvolvimento da ideia do que seria uma linguagem

    documentria, mas teria sido Coyaud o primeiro a utilizar o termo. A autora

    esclarece ainda que, no desenvolvimento do termo pela linhagem francesa, a

    abrangncia daqueles instrumentos tambm foi sendo desenvolvida, ao ponto de

    envolver as funes de fornecer termos para indexao, classificar e garantir a

    recuperao da informao, alm de atuar como sistema simblico para mediao,

    como meio de comunicao e de descrio da linguagem natural. Comenta,

    tambm, que no curso desta evoluo, as linguagens documentrias sofrem

    refinamento quanto proposio de suas caractersticas formais, passando de um

    mero instrumento de indexao para serem reconhecidas como um tipo especfico

    de linguagem.

    Vogel (2007, p. 12) conclui que o conceito atual de linguagem documentria

    a de ser um instrumento para uso em contexto especfico, que pretende sintetizar

    e agrupar documentos, tendo em vista sua recuperao, e, portanto, a circulao

    das informaes que os formam.

    Souza (2007) tambm destaca a natureza controvertida do conceito,

    comentando que localizou diversos termos que remetem mesma proposta das

    linguagens documentrias, entre elas as expresses linguagem de indexao,

  • 24

    linguagem controlada, linguagem de recuperao da informao, lista de termos

    autorizados, vocabulrio controlado, linguagem de transferncia da informao e

    linguagem de informao. A autora entende que linguagens documentrias so

    linguagens artificiais, controladas, criadas dentro dos objetivos de uma

    organizao/setor, a partir de um conjunto de documentos e domnio, para serem

    utilizadas na indexao e recuperao de informao em um determinado sistema

    de recuperao da informao (SOUZA, 2007, p. 18).

    Para Lara (2004), as linguagens documentrias no apenas se referem aos

    instrumentos especializados no tratamento da informao bibliogrfica, mas tambm

    linguagem construda para organizar e facilitar o acesso e a transferncia da

    informao. J Boccato e Vitorini (2011) entendem que linguagem documentria

    constitui um

    sistema de organizao do conhecimento construdo para fins de indexao e recuperao da informao, com a finalidade de organizar e aperfeioar a transferncia da informao, a partir da traduo dos conceitos que

    expressam a idia do autor para posteriormente ser recuperada pelo usurio (BOCCATO; VITORINI, 2011, p. 4)

    Cintra et al (2002, p. 34) sustentam que as linguagens documentrias so

    sistemas simblicos institudos e visam facilitar a comunicao assim como

    instrumentos intermedirios ou instrumentos de comutao, atravs dos quais se

    realiza a traduo da sntese dos textos e das perguntas dos usurios. Reportando-

    se a Gardin, as autoras afirmam que as linguagens documentrias so um conjunto

    de termos, providos ou no de regras sintticas, utilizadas para representar

    contedos de documentos tcnico-cientficos com fins de classificao ou busca

    retrospectiva da informao (CINTRA et al, 2002, p. 35)

    Dodebei (2002, p. 57) elenca as seguintes funes para as linguagens

    documentrias: organizar o campo conceitual da representao documentria, servir

    de instrumento para a distribuio til dos livros ou documentos e controlar as

    disperses lxicas, sintticas e simblicas no processo de anlise.

    Oliveira e Boccato (2013, p. 4) afirmam que a linguagem documentaria

    um componente dos SRI, visando a Representao/Traduo dos conceitos

    identificados e selecionados previamente na Anlise conceitual nos processos de

    indexao e de recuperao da informao.

    Numa tentativa de se extrair uma sntese dos conceitos elencados acima,

    possvel identificar que todos eles inserem, de alguma forma, as finalidades da

  • 25

    linguagem documentria em sua conceituao. H consenso, ainda, quanto

    natureza artificial da linguagem documentria e de seu atuar como instrumento que

    visa traduzir informaes mais longas em outras, mais sintticas, a fim de facilitar a

    recuperao da informao pelo eventual interessado no mbito de um SRI.

    Em assim sendo, para o presente trabalho conceitua-se que linguagens

    documentrias so um sistema de smbolos que atuam como instrumentos

    intermedirios em um sistema de recuperao da informao, que condensam

    informaes visando sua organizao, recuperao e uso pelo interessado.

    2.4.3 Tesauro enquanto linguagem documentria

    Gomes e Campos (1998) lecionam que as linguagens documentrias podem

    ser classificadas segundo a finalidade a que se destinam como linguagens

    documentrias notacionais e verbais. As notacionais, para as autoras, se propem a

    organizar de forma sistemtica o acervo de uma unidade de informao, enquanto

    que as verbais funcionam como interface de representao de assuntos contidos em

    documentos e a necessidade do usurio.

    Por seu turno, Maniez (1993, p. 3) destaca que todos os grandes sistemas

    de informao universais, como a CDD e a CDU, so linguagens documentrias

    inteiramente artificiais em que esto estreitamente imbricados dois subsistemas,

    uma lista hierrquica de todos os assuntos previsveis e uma codificao significativa

    de cada assunto (notao). Ressalta, ainda, que a notao consiste no nmero de

    classificao de cada assunto, que reflete a organizao hierrquica do saber.

    Souza (2007, p. 22) enfatiza que linguagens documentrias verbais tm por

    funo a representao do assunto dos documentos, mas no sua organizao

    fsica, visando o tratamento e a recuperao da informao e, citando Lancaster,

    explica que nas linguagens documentrias pr-coordenadas os cabealhos so

    combinados na entrada do sistema, enquanto que nas ps-coordenadas o

    relacionamento entre os termos se d no momento da recuperao da informao

    (SOUZA, 2007, p. 22).

    Campos (2001, p. 88) esclarece que a palavra thesaurus, cujo significado

    etimolgico tesouro, popularizou-se aps a edio do Thesaurus of English Words

    and Phrases de Peter Mark Roget, de 1852, que, segundo a autora, consistia em um

    esquema de classificao, com um ndice alfabtico remissivo que partia de uma

  • 26

    ideia para se obter a palavra que melhor a representasse. Mas afirma, tambm, que

    foi Hans Peter Luhn, do Research Center da IBM, quem, em 1950, utilizou o termo

    para nomear seu sistema de referncias cruzadas desenvolvido aps perceber que

    listagens alfabticas no eram a melhor opo para recuperao da informao, e

    possibilitou o surgimento de um novo tipo de linguagem documentria que se

    contrapunha s listas de cabealho de assunto e que servia como instrumento

    auxiliar aos sistemas que utilizavam unitermo.

    Dodebei (2002) acrescenta que, no Brasil, existiu o Dicionrio inverso, que

    objetivava facilitar a consulta aos que gostam de se entreter com palavras cruzadas,

    charadas e enigmas em geral, pois oferecia uma ordenao inversa aos dos lxicos

    usuais, a partir do significado para a palavra que o expressa, o que o aproximava da

    iniciativa de Roget.

    Campos (2001) leciona, ainda, que, no incio da dcada de 70, o programa

    Unisist da Unesco define o tesauro sob dois aspectos, quais sejam, segundo sua

    estrutura e a partir de sua funo, a evidenciar que a Unesco objetivava atender

    tanto rea de elaborao de tesauro quanto a de organizao e recuperao da

    informao. Dodebei (2002) comenta que

    O emprego de tesauros nas tarefas de indexao e recuperao de informaes tenta resolver o problema de alocao de documentos em classes de assuntos, no s por sua capacidade de controlar o vocabulrio,

    mas porque um instrumento que relaciona os descritores/termos de forma mais consistente, apresentando uma estrutura sinttica simplificada e uma complexa rede de referncias cruzadas . [...] Apresenta, ainda, um

    relacionamento lgico e hierrquico dos descritores, o que contribui para a indexao dos documentos ao nvel especfico e/ou genrico (modulao). (DODEBEI, 2002, p. 67)

    Ressalte-se que Maniez (1993) aponta, como grande vantagem do tesauro,

    a integrao da ferramenta com a lgica dos sistemas especialistas, que permite

    uma busca mais consistente e ampla para o usurio. J o modelo linguagem por

    facetas postula que todo assunto pode e deve ser decomposto numa sequncia

    ordenada de categorias semnticas fundamentais (MANIEZ, 1993, p. 7),

    acumulando vantagens do tesauro com as da classificao hierrquica, que resulta

    em uma estrutura mais complexa, tornando longa e custosa a indexao.

    Partindo-se destas consideraes, tem-se que o tesauro pode ser entendido

    como um vocabulrio controlado e dinmico, que rene termos sob um determinado

    domnio do conhecimento, relacionados, semntica e logicamente, e que so

    utilizados para traduzir a linguagem natural dos documentos, dos indexadores e dos

  • 27

    sistemas para outra mais condensada, a de um sistema de informao, a fim de

    auxiliar a indexao e recuperao da informao.

    Campos (2001) identifica, ainda, que o tesauro de recuperao possui duas

    vertentes distintas, ou seja, a que est embasada no Unitermo, de abordagem

    alfabtica, e a que sofre influncia da Teoria de Classificao Facetada, e que

    apresenta uma abordagem sistemtica.

    A primeira vertente decorre da passagem do Cabealho de Assuntos para o

    Unitermo, nos Estados Unidos, o que introduziu um novo modelo cuja principal

    caracterstica era a representao do assunto por palavras nicas extradas do texto

    de um documento sem nenhuma forma de controle. Segundo Campos (2001), o

    Unitermo possibilitava a composio do assunto no momento da recuperao da

    informao e foi por isso denominado Sistema Coordenado e, posteriormente,

    Sistema Ps-Coordenado. O Unitermo atuava de forma oposta aos cabealhos de

    assunto, que operava a coordenao no momento da indexao do documento e

    que, por isso, eram identificados como linguagem documentria pr-coordenada.

    J a segunda vertente surge na Europa, influenciada pela Teoria de

    Classificao de Ranganathan, que, segundo Campos (2001, p. 97), oferece

    princpios para melhor posicionar o conceito no sistema de conceitos, fornecendo

    as bases para a ordenao das classes e propondo a apresentao sistemtica do

    tesauro, alm da ordenao alfabtica dos temos.

    Campos (2001) relata que, apesar dos avanos na construo deste novo

    modelo de linguagem documentria ps-coordenada, grande parte das vertentes

    apresenta uma base terica explcita e as instrues para seleo da unidade de

    trabalho possuem base lingustica. A autora ressalta que a partir da dcada de 70,

    com o desenvolvimento, por Dahlberg, da Teoria Analtica do Conceito voltada para

    o Referente, e de sua defesa do uso das Categorias preconizadas por Ranganathan,

    que se passa a dispor de uma soluo para a organizao dos conceitos em um

    Sistema de Conceitos, independentemente da finalidade de aplicao, surgindo, da,

    a tendncia para o desenvolvimento de nova metodologia para elaborao de

    tesauros que gerou o denominado tesauro terminolgico.

    Campos e Gomes (2006) consideram inapropriada a expresso tesauro

    terminolgico e propem a expresso tesauro conceitual, por entenderem que a

    metodologia para elaborao de tesauros toma por base princpios que enfatizam o

    processo de conceituao e sua ordenao sistemtica. Tais princpios, segundo as

  • 28

    autoras, tornam-se necessrios para estabelecimento do termo ou do conceito, bem

    como da relao entre os mesmos.

    2.5 PRINCPIOS TERICOS DE TESAUROS CONCEITUAIS

    Neste subitem do trabalho, prope-se apresentar as teorias do conceito e a

    da classificao facetada que serviro de base para a avaliao do Tesauro Jurdico

    da Justia Federal.

    2.5.1 Teoria do conceito

    Conforme j mencionado acima, Dahlberg (1978), na dcada de 1970,

    desenvolve a Teoria Analtica do Conceito, partindo da premissa de que, no curso

    do desenvolvimento humano, o conhecimento fixou-se atravs de elementos da

    linguagem, que foi se desenvolvendo a partir da agregao de novos

    conhecimentos, e que a linguagem expressa no apenas a capacidade humana de

    designar os objetos como a de comunicar-se com seus semelhantes. Diz, ainda, que

    alm da linguagem criada para atender as necessidades da vida diria, denominada

    linguagem natural, o homem criou outras, conhecidas como linguagens especiais,

    linguagens artificiais ou linguagens formalizadas, que ficam adstritas a uma

    determinada rea de conhecimento.

    Em seu trabalho, Dahlberg (1978) estabelece distino entre objetos

    individuais, que so unidades inconfundveis, pensadas como nicas e distintas das

    demais, e objetos gerais, que estariam fora do tempo e do espao, podendo-se-lhes

    atribuir conceitos gerais, que so extremamente relevantes para a base do processo

    classificatrio. Afirma, tambm, que a formao dos conceitos se d a partir da

    reunio e compilao de enunciados verdadeiros a respeito de determinado objeto

    (DAHLBERG, 1978, p. 102), que se instrumentaliza em uma palavra ou qualquer

    signo capaz de traduzir e fixar a compilao efetuada, no curso denominado anlise

    do conceito, e que tal smbolo pode ser formado por sinais ou conjunto de sinais

    independentes das palavras (DAHLBERG, 1978, p. 102).

    Dahlberg (1978) sustenta que atravs de um mtodo analtico-sinttico

    que ocorre a decomposio do conceito para obteno dos enunciados verdadeiros

    sobre determinado objeto, denominados caractersticas do objeto, que podem ser

  • 29

    do tipo simples ou complexo. A autora afirma que so consideradas caractersticas

    simples aquelas que se referem a uma nica propriedade, como uma forma ou uma

    cor, e caractersticas complexas so aquelas que traduzem uma combinao de

    mais de uma caracterstica, como um processo acrescido de uma cor ou um

    material, como o caso da caracterstica de um saco de lixo de plstico azul, na

    qual o saco azul e tambm de plstico.

    Em sua explicao Dahlberg (1978) menciona que h duas espcies de

    caractersticas: as essenciais (necessrias) ou as acidentais (adicionais ou

    possveis). Diz, tambm, que as caractersticas essenciais, por seu turno, so de

    duas espcies: as constitutivas da essncia e as consecutivas da essncia,

    asseverando que as ltimas so sempre dependentes das primeiras. Esclarece que

    as caractersticas acidentais tambm so de duas espcies, as gerais ou as

    individualizantes, mas que ambas dependem de fatores externos e de condies

    acidentais e que, na formao dos conceitos gerais, as caractersticas essenciais

    tm mais importncia do que as acidentais.

    Dahlberg (1978) leciona, ainda, que o conhecimento das caractersticas dos

    conceitos possibilita o estabelecimento de suas funes, que pode ser a sua

    ordenao classificatria e o respectivo ndice, a sua definio e tambm a formao

    dos nomes dos conceitos.

    Afirma Dahlberg (1978) que a comparao entre as caractersticas de

    conceitos auxilia a estabelecer os possveis relacionamentos de forma a organiz-

    los no apenas nos sistemas de classificao, mas tambm nos tesauros. Identifica,

    como relaes logicamente possveis entre as caractersticas dos conceitos

    analisados a identidade (quando as caractersticas so as mesmas), a implicao

    (quando um conceito est contido no outro), a interseo (quando algum elemento

    coincidente a dois conceitos), a disjuno (quando os conceitos no compartilham

    nenhuma caracterstica em comum) e a negao (quando um dos conceitos possui

    uma caracterstica cuja oposio se encontra no outro). Diz que, a partir da anlise

    das relaes acima identificadas, possvel estabelecer os seguintes

    relacionamentos semnticos entre os conceitos: relao hierrquica, relao

    partitiva, relao de oposio e relao funcional.

    Sustenta, em sntese, que nas relaes hierrquicas, os conceitos possuem

    algumas caractersticas idnticas, sendo que um deles possui mais caractersticas

    do que o outro, fazendo com que ocorra uma implicao entre os conceitos e o

  • 30

    reconhecimento de uma relao do tipo gnero e espcie, na qual o conceito mais

    amplo o mais genrico e o conceito mais restrito, o mais especfico. J nas

    relaes partitivas, tal se d entre um conceito, usualmente de objeto, que exprime

    um todo e outro conceito, que apresenta caractersticas de uma de suas partes. Na

    relao de oposio, identificam-se caractersticas nos conceitos que normalmente

    indicam propriedade e que estabelecem uma relao lgica de negao entre si.

    Finalmente, as relaes funcionais ocorrem, de uma forma geral, entre conceitos

    que expressam processos, e possvel identific-las pelo emprego de verbos e

    respectivos complementos.

    Dahlberg (1978) preconiza a importncia em se obter definies corretas

    dos conceitos gerais, tanto para a comunicao internacional do conhecimento

    quanto para a obteno de perfeita equivalncia verbal, e tambm para reduzir as

    confuses verificadas na compreenso de um termo. Ressalta, por fim, a

    importncia de uma definio real, capaz de apresentar o conhecimento contido em

    determinado conceito a partir do elenco, no apenas de suas caractersticas

    essenciais, mas tambm muitas vezes, das acidentais.

    2.5.2 Teoria da classificao facetada

    Na dcada de 1930, Shiyali Ramamrita Ranganathan comea a postular a

    teoria de classificao facetada a partir do desenvolvimento de sua Colon

    Classification, a qual, de acordo com Campos (2001), apresentada ao longo de

    seus quatro livros bsicos, quais sejam, Five Laws of Library Science, de 1931,

    Prolegomena to Library Classification, de 1937, Philosophy of Book Classification, de

    1951, alm da prpria Colon Classification, de 1933. Campos (2001) destaca que

    aquele autor o primeiro a apresentar os princpios que fundamentam a elaborao

    de sua tabela de classificao.

    Como primeiro ponto, importante ressaltar que o termo facetas definido

    por Ranganathan como um termo genrico usado para denotar algum componente

    pode ser um assunto bsico ou um isolado de um assunto composto, tendo,

    ainda, a funo de formar renques, termos e nmeros (RANGANATHAN apud

    CAMPOS, 2001, p. 53)

    Campos (2001) relata que Ranganathan enfatiza em suas obras que os

    esquemas de classificao bibliogrfica possuem as funes de organizar os

  • 31

    documentos nas estantes e a de representar o conhecimento registrado nas obras.

    Ranganathan entende que, como o conhecimento evolutivo, os esquemas devem

    ser capazes de acompanhar as mudanas e a evoluo do conhecimento, mas que

    os esquemas de classificao existentes apresentam limitada capacidade de

    incluso de novos assuntos.

    Para Ranganathan, conforme esclarece Campos (2001), os esquemas

    existentes foram elaborados a partir de uma teoria descritiva, que confunde a

    estrutura de suas tabelas e os assuntos dos documentos e possibilita apenas a

    organizao dos documentos a partir de uma ordem que j foi pr-estabelecida. A

    autora diz ainda que esses esquemas descritivos foram denominados por

    Ranganathan como esquema de classificao enumerativa, como a Library of

    Congress Classification - LC, que possui base notacional de dgitos semanticamente

    ricos que permite a classificao de assuntos estabelecidos a priori em uma tabela

    bsica; esquema de classificao quase enumerativa, como a Classificao Decimal

    de Dewey CDD, que acrescenta outras tabelas que servem de apoio tabela

    principal; e os esquemas quase facetados, como a Classificao Decimal Universal

    CDU, que acrescenta ainda tabelas especiais e traz alguma orientao para a

    notao.

    A proposta de Ranganathan, segundo Campos (2001, p. 37), desenvolvida

    aos poucos, passando de um esquema rigidamente facetado, no qual cada classe

    bsica tem uma frmula facetada e todos os elementos da frmula devem estar

    presentes no assunto, para um esquema livremente facetado, denominado

    classificao analtico-sinttica, no qual as facetas so identificadas a partir da

    anlise do assunto e a sequncia estabelecida com os postulados e princpios e

    cnones desenvolvidos por Ranganathan.

    De acordo com Campos (2001), a teoria da classificao facetada possui um

    corpus complexo, baseado na produo do conhecimento e inspirado em suas

    razes orientais. A autora esclarece que a definio de universo do conhecimento de

    Ranganathan requer a compreenso dos conceitos de ideia, informao,

    conhecimento e assunto. Diz que ideia um produto do pensamento, da reflexo,

    da imaginao, que passou pelo intelecto, integrando com a ajuda da Lgica uma

    seleo de conjuntos de apercepo, e/ou diretamente apreendida pela intuio e

    depositada na memria (CAMPOS, 2001, p. 39), informao uma ideia

    comunicada por outros ou obtida a partir do estudo pessoal e da investigao,

  • 32

    conhecimento a totalidade de ideias conservadas pela Humanidade e assunto

    um corpo de ideias organizadas e sistematizadas, por extenso e intenso, que

    incide de forma coerente no campo de interesse, de competncia intelectual e de

    especializao de uma pessoa normal (CAMPOS, 2001, p. 40). Conclui que o

    universo original de ideias, tambm chamado de universo do conhecimento, no s

    o local onde as ideias conservadas esto agrupadas, mas tambm o local onde

    existe um movimento que propicia um repensar constante sobre a apreenso das

    observaes feitas pelo ser humano, a partir do mundo que o cerca (CAMPOS,

    2001, p. 40).

    Campos (2001) esclarece que, para Ranganathan, os esquemas de

    classificao devem ter base no desenvolvimento da espiral do universo de

    conhecimento que, em uma rpida explicao, conduz um fato percebido e

    registrado para um indivduo por fases em que o mesmo passa por processos de

    anlise, comparao com leis indutivas e fundamentais at a sua completa

    compreenso, assimilao e acumulao. Deve ainda levar em conta a espiral do

    desenvolvimento de assuntos onde se verifica a relao entre o ato de perceber os

    fatos no mundo fenomenal com a produo do conhecimento. Diz que ambas as

    espirais so regidas pelas mesmas leis do movimento contnuo, e que, assim, o

    desenvolvimento de nossos assuntos decorre da seguinte dinmica: novos

    problemas; pesquisa fundamental; pesquisa aplicada; projeto piloto; novas

    mquinas; novos materiais; novos produtos; utilizao destes produtos; novos

    problemas (CAMPOS, 2001, p. 43).

    Campos (2001) destaca que, na viso de Ranganathan, o universo de

    trabalho de classificao envolve trs planos de trabalho, mentalmente separados e

    com princpios normativos prprios. O primeiro plano o ideacional, um plano

    superior e invisvel, que concentra o processo de pensar e a anlise dos conceitos.

    O segundo, o verbal, que comunica a ideia ou conceito atravs da linguagem, de

    forma livre de homonmia ou sinonmia. O ltimo plano o notacional que, segundo

    Campos (2001), est diretamente relacionado ao que foi convencionado no primeiro

    plano e que confere nmeros para representar os conceitos.

    Campos (2001) diz ainda que os assuntos devem ser agrupados em classes

    e, dentro delas, em renques e cadeias a partir das caractersticas de uma unidade,

    ou seja, de uma determinada propriedade ou especificidade desta unidade.

    Esclarece que renques so classes derivadas de um Universo com base em uma

  • 33

    nica caracterstica em algum passo de diviso para estabelecer um arranjo

    complexo na sequncia preferida (RANGANATHAN apud CAMPOS, 2001, p. 51),

    que cadeia uma sequncia formada por classes e seu universo de deslocamento

    1, 2, 3 etc. at um ponto desejado (RANGANATHAN apud CAMPOS, 2001, p. 51) e

    que ambos possibilitam identificar uma estrutura classificatria hierrquica com

    relaes gnero-espcie e de todo-parte.

    A autora destaca que o princpio de hospitalidade, denominado por Cutter

    como princpio de expansividade, dilatado por Ranganathan, que prev, em

    sntese, a ampliao da base notacional e dos renques, por meio da introduo de

    um dgito oitavizante; a organizao da estrutura classificatria em categorias

    fundamentais PMEST (Personalidade, Matria, Energia, Espao e Tempo) e, com

    isso, o conceito como base para a estrutura classificatria e adoo do mtodo

    analtico-sinttico, que permite a separao entre os momentos da elaborao de

    esquemas de classificao, da anlise do documento e do uso do esquema

    (CAMPOS, 2001, p. 48). Ao discorrer sobre a estrutura classificatria da teoria de

    Ranganathan, a autora afirma que

    Na Teoria de Classificao Facetada, os princpios normativos so postulados em vrios nveis, desde o processo de pensar que o homem

    desenvolve sobre o mundo fenomenal que o cerca, e que interfere no seu conhecimento da realidade, at o trabalho de elaborao das tabelas de classificao (CAMPOS, 2001, p. 48).

    Campos (2001, p. 49) esclarece que os elementos da estrutura

    classificatria proposta por Ranganathan so as unidades classificatrias e sua

    organizao, os renques e cadeias que devem ser distribudos nas facetas e a

    organizao das facetas em categorias. Diz que na teoria da classificao facetada,

    as unidades classificatrias so o assunto bsico, que seria definido como um

    corpo sistematizado de ideias inseridas em um campo especializado e a ideia

    isolada, que, por si s, no pode ser vista como um assunto, mas que em conjunto

    com um assunto bsico se configura num conceito. A autora enfatiza, ainda, que

    Na sua Teoria, Ranganathan prope que se identifiquem os elementos formadores do assunto do documento, para poder distribu-los na tabela (processo de anlise), de forma a agrup-los de novo (processo de sntese)

    atravs da notao, que deve representar o assunto do documento (CAMPOS, 2001, p. 50)

    Campos (2001) enfatiza que Ranganathan apresenta uma srie de cnones

    para garantir a formao uniforme de renques, entre eles, o cnone da

    exaustividade, da exclusividade, da sequncia til e da sequncia consistente.

  • 34

    Atravs do cnone da exaustividade, objetiva garantir que novo tpico possa ser

    includo nas classes formadas por renques. No cnone da exclusividade,

    Ranganathan repudia a polierarquia, impedindo que um componente da estrutura

    possa pertencer a mais de uma classe no renque. O cnone da sequncia til e o da

    sequncia consistente, que s so aplicveis s tabelas de classificao,

    determinam qual a ordem mais adequada para a classificao adotada. Para a

    formao das cadeias, os cnones propostos por Ranganathan so o da extenso

    decrescente e o cnone da modulao. O primeiro estabelece que a classe mais

    abrangente deve preceder a mais especfica e o segundo, de acordo com Campos

    (2001, p. 52), prev que a sequncia das caractersticas na formao dos elos da

    cadeia deve registrar os elos intermedirios.

    Por fim, o postulado das categorias de Ranganathan , de acordo com

    Campos (2001, p. 54), o princpio normativo adotado para organizar um Universo de

    Assuntos, ou seja, um corpo de conhecimento organizado e sistematizado dividido

    em cinco ideias fundamentais, ou categorias fundamentais, quais sejam,

    Personalidade, Matria, Energia, Espao e Tempo.

    Campos (2001) diz que as categorias tempo e espao devem ser entendidas

    a partir de seu significado usual, que a categoria energia expressa uma ao e que

    a categoria matria pode ser encarada como a manifestao de matrias em geral,

    como sua propriedade, e tambm como o constituinte material de todas as espcies

    (CAMPOS, 2001, p. 57). Explica que a categoria personalidade deve identificada a

    partir de um mtodo que Ranganathan denomina de resduos, e nela se insere tudo

    o que no pertencer s demais categorias.

    2.6 METODOLOGIA PARA ELABORAO DE TESAURO

    Partindo da premissa de que sistemas de informao so sistemas abertos e

    que dependem de mecanismos de regulao de diferentes naturezas, Kobashi

    (2007) reconhece que a obteno e manuteno da estabilidade e qualidade

    desejadas para esses sistemas requerem o estabelecimento de princpios e

    mtodos para fabricao de substitutos representacionais, ou seja, da linguagem

    documental.

    De outra parte, Cervantes (2009, p. 38) diz que, para a construo de uma

    linguagem documentria alfabtica, necessria a observao cuidadosa de

  • 35

    normas e princpios norteadores, o cumprimento de procedimentos metodolgicos

    adequados.

    Campos e Gomes (2006) enfatizam a importncia da linguagem

    documentria para o bom funcionamento de um servio de recuperao, mas

    esclarecem que a maior parte dos tesauros construda a partir de uma abordagem

    lingustica, enquanto que, em suas vises, cada termo deve denotar um conceito e,

    portanto, uma unidade de conhecimento.

    Oliveira e Boccato (2013) apontam a existncia de diversas diretrizes

    estabelecidas por normas internacionais, como a ANSI/NISO Z39.19, de 2005 e a

    ISO 25964, de 2011, alm de diversos subsdios tericos e metodolgicos advindos

    de disciplinas e de campos cientficos interdisciplinares, destacando a terminologia,

    a psicologia cognitiva, a lingustica e a cincia da computao. Valorizam, ainda, a

    contribuio de bibliotecrios e de usurios que estejam inseridos no contexto de

    uso da linguagem especializada, para a efetivao da construo de uma linguagem

    documentria.

    Cervantes (2009) identifica trs documentos especficos que podem servir

    como base para a elaborao de tesauros. O primeiro, de autoria do IBICT, o

    segundo, da United Nation Educational, Scientific, Cultural Organization - UNESCO

    e o ltimo foi produzido pela American National Standards Institute/ National

    Information Standards Organization - ANSI/NISO. Cervantes (2009) discorre sobre

    cada uma das propostas para elaborao de tesauro, e apresenta quadro

    comparativo entre os documentos que a seguir reproduzido na figura 2:

  • 36

    Figura 3 Quadro comparativo entre as estruturas manuais para elaborao

    de tesauros elaborado por Cervantes (2009, p. 75)

    Aps avaliar cada uma das diretrizes, Cervantes (2009) identifica um

    conjunto de etapas inerentes ao processo de construo de um tesauro, que podem

    ser agrupadas em sete categorias temticas, quais sejam: trabalho

    preliminar/orientaes gerais; mtodo de compilao; registro de termos; verificao

    de termos/admisso e excluso de termos; especificidade; uso de equipamento

    automtico de processamento de dados e forma e contedo do tesauro. Cervantes

    (2009) afirma que, na categoria trabalho preliminar ou orientaes gerais, todas as

    diretrizes apresentam recomendaes bsicas para a elaborao da linguagem

    documentria.

  • 37

    Diz que nos mtodos de compilao, as diretrizes da UNESCO e do IBICT

    discorrem basicamente quanto ao mtodo dedutivo e ao mtodo indutivo para a

    obteno dos termos que iro compor o tesauro. Com base no mtodo dedutivo, os

    termos so extrados a partir dos documentos (UNESCO) ou da literatura (IBICT)

    durante um estgio preliminar de indexao. No mtodo indutivo, novos termos so

    acrescidos to logo apaream no documento (UNESCO) ou na literatura (IBICT).

    Cervantes (2009) relata que, enquanto as diretrizes da UNESCO mencionam uma

    combinao de mtodos, as do IBICT mencionam o mtodo relacional, no qual se

    utiliza uma abordagem relacional para a obteno dos termos. Cervantes (2009)

    esclarece, ainda, que as diretrizes ANSI/NISO apresentam as seguintes abordagens

    para a construo de tesauro: a abordagem do comit; a abordagem emprica, a

    combinao de mtodos e a assistncia da mquina. Relata que, na primeira etapa,

    especialistas elaboram lista de termos-chave e indicam as relaes entre eles. Na

    abordagem emprica, utiliza-se o mtodo dedutivo e indutivo acima mencionados, a

    partir dos documentos, antes que ocorra a combinao de mtodos. Ademais, a

    assistncia da mquina contribui para a identificao de termos candidatos.

    Quanto ao registro de termos, Cervantes (2009) destaca que cada termo

    admitido deve ser registrado individualmente em ficha. Na etapa seguinte, a autora

    comenta que deve se dar a verificao da adequao dos termos que foram

    admitidos e sua excluso, quando no estiver adequado linguagem usada pelos

    especialistas. Quanto especificidade, a autora alerta para a necessidade de, em

    algumas reas, desenvolver tesauros especficos que venham a estar ligados a um

    tesauro geral. Cervantes (2009) esclarece que as diretrizes recomendam o uso de

    equipamento automtico de processamento de dados para seleo de termos e que

    cada diretriz apresenta uma forma e contedo bsico de um tesauro.

    Analisando as mesmas normas, Campos (2001) entende que a teoria do

    conceito desenvolvida por Dahlberg, e adotada pelo IBICT, vai de encontro teoria

    geral da terminologia adotada pela norma ISO/TC 37 (ISO/DIS 704-1993) que,

    embora, em princpio, possa parecer adequada, denota um certo grau de

    subjetividade. Segundo Campos (2001, p. 101), conceito definido pela teoria geral

    da terminologia como unidade de pensamento, enquanto que Dahlberg prope que

    conceito seja definido como unidade de conhecimento, que, segundo a autora, se

    caracteriza como um entendimento mais objetivo de algo observvel (CAMPOS,

    2001, p. 101). A autora defende, ainda, o uso de categorias para organizao dos

  • 38

    conceitos, da forma preconizada por Dahlberg, ou seja, como um recurso para o

    entendimento da natureza do conceito e para a formao de estruturas conceituais

    (CAMPOS, 2001, p. 103). Campos (2001) sustenta a importncia da relao entre

    conceitos, a fim de formar um todo coeso, ressaltando que

    [...] nos tesauros tradicionais de abordagem alfabtica, no se percebe se os termos formam um todo, porque a ordem alfabtica rene os termos no de uma forma lgica ou sistemtica, mas de uma forma prtica. No h uma

    forma de apresentao que mostre todos os conceitos e todas as relaes e ainda fornea uma viso de todo (CAMPOS, 2001, p. 124).

    Um aspecto destacado por Campos (2001) a relevncia da contribuio de

    Ranganathan, que introduziu o pressuposto das Categorias Fundamentais,

    permitindo que os conceitos sejam reunidos em classes segundo sua natureza,

    pressuposto este que estendido por Dahlberg, no final da dcada de 1970.

    Outro ponto apontado como relevante por Campos (2001) o uso da

    definio de um termo para compreenso do conceito. Diz que, nos tesauros

    tradicionais, a definio serve como auxiliar para o entendimento do termo e advoga

    a favor da criao de um novo instrumento, onde se reuniriam um glossrio e um

    tesauro em um nico instrumento de representao e recuperao da informao

    (CAMPOS, 2001, p. 125-126).

    2.7 CRITRIOS PARA AVALIAO DE TESAURO

    Souza (2007) elabora trajetria para avaliao de tesauro, destacando que,

    entre a dcada de 50 a 70, foram realizados diversos estudos avaliativos em

    recuperao da informao a partir da avaliao das linguagens de indexao.

    Destaca a metodologia desenvolvida por Keen, ao analisar linguagens utilizadas

    para indexar documentos no College of Librarianship Wales, a partir da avaliao de

    sua origem, de seu mtodo de uso, da associao entre os termos e das

    caractersticas do instrumento de representao.

    Souza (2007) comenta ainda sobre as pesquisas realizadas por Lancaster,

    que analisou o servio Medical Literature Analysis and Retrieval System Medlars e

    identificou problemas na recuperao da informao devido falta de

    especificidade, e presena de relaes ambguas entre os termos. Relata que

    Lancaster, alm de apontar a tipografia e layout como critrios relevantes na anlise

    de um tesauro, acrescenta outros critrios como o de equivalncia, que elabora

    anlise comparativa entre descritores e no descritores, de reciprocidade, que avalia

  • 39

    a relao entre os termos, de definio, que visa identificar descritores ambguos

    que no contenham nota de aplicao, de flexibilidade, que mede a proporo entre

    no descritores e descritores e o de pr-coordenao, que identifica o nmero de

    palavras por descritor e o tamanho dos grupos formados pelos termos.

    Tais parmetros, segundo Souza (2007), foram adotados por Urdiciain, que

    em sua avaliao de tesauros espanhis identifica

    [...] composio, tamanho, relaes de equivalncia, taxa de enriquecimento, reciprocidade das relaes de equivalncia (hierrquica e

    associativas), quantidade de notas de escopo, morfologia das palavras, aspectos estticos da composio e tipografia, e nvel de pr-coordenao (SOUZA, 2007, p. 41)

    Souza (2007) relata que Bermejo et al analisaram 47 tesauros a partir da

    observncia da qualidade informativa da apresentao, consistncia interna,

    estrutura semntica e aspectos estticos dos instrumentos. Souza (2007, p. 43)

    esclarece que Strehl, por sua vez, utiliza como critrios de anlise de instrumentos

    de representao o nmero de palavras por descritor, o uso do singular e plural,

    sinnimos, descritores compostos, alm do uso de termos homgrafos ou

    inconsistentes, rotao de descritores, relao entre assuntos redundantes, relao

    de um assunto com sua subcategoria, descritores que indicam perodo histrico,

    identificadores geogrficos e assuntos compostos por identificadores geogrficos e

    cronolgicos.

    Em seu trabalho, Souza (2007) aponta como critrios relevantes para

    avaliao de um vocabulrio controlado, a estrutura dos termos, a forma de

    apresentao, o campo de abrangncia, a forma das palavras, a estrutura

    semntica, as relaes de equivalncia e o software adotado pelo sistema de

    informao. Tais critrios so aqueles eleitos para a avaliao do Tesauro Jurdico

    da Justia Federal.

  • 40

    3 TESAURO JURDICO DA JUSTIA FEDERAL

    Neste captulo, a proposta apresentar o Tesauro Jurdico da Justia

    Federal, que constitui objeto emprico do presente trabalho. De incio, ser

    enfatizada a importncia de sistemas de recuperao da informao no universo

    jurdico para o auxlio das atividades dirias dos operadores de Direito. A seguir,

    aps refazer a trajetria da criao do instrumento documental, com delimitao do

    contexto e momento de sua produo, far-se- um breve sumrio das diretrizes

    propostas em curso realizado no Conselho da Justia Federal para a elaborao

    daquela linguagem documentria. Por fim, pretende-se analisar o tesauro, com

    destaque na sua forma de apresentao, abrangncia, controle terminolgico, tipos

    de relao que contempla, bem como sua estrutura terminolgica.

    3.1 A IMPORTNCIA DE SRIs PARA O UNIVERSO JURDICO

    Fontes informacionais so essenciais em qualquer atividade humana. No

    ordenamento jurdico brasileiro, deve-se observar uma hierarquia entre as fontes do

    direito, cabendo ao juiz, no caso de omisso legal, o uso da analogia, dos costumes,

    dos princpios gerais do direito, da doutrina e da jurisprudncia. A jurisprudncia ,

    desta forma, uma das fontes do direito e deve ser utilizada para dar soluo a um

    conflito judicial se no houver previso clara na lei.

    A fim de auxiliar os profissionais do Direito, sejam eles magistrados,

    advogados, procuradores ou promotores, a desenvolverem suas linhas

    argumentativas a partir das decises pretritas emanadas em casos anlogos ou

    equiparveis, os tribunais vm organizando, ao longo dos anos, sua base de

    conhecimento sobre todas as questes por eles decididas. Para tanto, renem em

    um s local, a ntegra de seus julgados e selecionam aqueles que estabelecem,

    modificam e pacificam o entendimento dos tribunais sobre assuntos variados. Este

    o servio de um setor de jurisprudncia.

    Ao elencar as bases de dados utilizadas como fontes secundrias pelo campo

    do Direito, Passos e Barros (2009, p. 142) ressaltam que a grande maioria dos

    tribunais possui stios com bases de dados de sua jurisprudncia. Esclarecem que

    jurisprudncia pode ser entendida como o conjunto uniforme e constante das

    decises judiciais sobre casos semelhantes e estabelecem a distino entre

  • 41

    precedente, julgados, smulas9 e smulas vinculantes10. O precedente se distingue

    da jurisprudncia, segundo os autores, pois se constitui uma nica deciso em

    determinado sentido, enquanto que o termo jurisprudncia usado para agrupar

    diversas decises no mesmo sentido (PASSOS; BARROS, 2009, p. 71).

    Como esclarecido por Passos e Barros (2009), os tribunais costumam manter

    servio de jurisprudncia, onde renem os precedentes e as decises sumuladas

    proferidas por aquele rgo julgador. Inicialmente disponibilizada em papel, a

    jurisprudncia dos tribunais encontra-se atualmente em bases de dados nas quais

    possvel acessar, por meio da rede mundial de computadores, a ntegra de suas

    decises mais recentes, o que facilita o trabalho de advogados, juzes e

    acadmicos.

    Nos dias atuais, os julgados dos tribunais podem ser consultados, de uma

    forma geral, em sua ntegra, atravs da pgina de sua jurisprudncia. No entanto,

    quando os meios de comunicao eram mais restritos, apenas as decises que

    apresentassem alguma novidade ficavam disponveis para o pblico, seja atravs de

    ementrios, que se restringiam a apresentar parte resumida dos julgamentos, ou nas

    revistas de jurisprudncia, nas quais era possvel obter a ntegra do julgamento.

    Com isso, as bases de dados dos setores de jurisprudncia costumam reunir no

    apenas as decises dos tribunais, mas tambm aquelas que, ao longo dos anos,

    foram selecionadas em virtude de seu ineditismo ou relevncia.

    A grande parte dos tribunais nacionais mantm servio de organizao e

    disponibilizao de sua jurisprudncia em base de dados em que possvel a

    consulta pelos interessados. Tais bases so constantemente alimentadas e

    atualizadas por profissionais especializados na identificao e seleo de novos

    precedentes e revelam a jurisprudncia que est sendo firmada sobre as questes

    ali decididas. Diariamente, inmeros profissionais acessam as pginas dos tribunais

    para elaborar pesquisas de jurisprudncia que serviro para a construo de uma

    linha argumentativa, seja ela acadmica ou profissional.

    9 Smula um verbete que contm o resumo do entendimento jurisprudencial de um determinado

    tribunal acerca de um determinado tema aps reiteradas decises que converge para um mesmo entendimento 10

    Smula vinculante um verbete votado e aprovado por pelo menos 2/3 dos membros do Supremo Tribunal Federal que expressa um entendimento daquela Corte com cunho obrigatrio para outros Tribunais e Juzes. Possui, na prtica, fora de lei.

  • 42

    Partindo-se da premissa de que um SRI se prope a representar, organizar

    e dar acesso s informaes nele contidas com o foco na necessidade de seus

    usurios, deve-se reconhecer que o servio de jurisprudncia fornecido pelos

    tribunais nacionais constituem verdadeiros servios de recuperao da informao

    e, como tal, necessita de uma linguagem documentria que o auxilie a representar

    os documentos inseridos e na recuperao de informaes teis a seus usurios.

    3.2 CONTEXTO DE PRODUO DO TESAURO

    O Tesauro Jurdico fruto de iniciativa do Conselho da Justia Federal -

    CJF, que foi criado atravs da Lei n 5010, de 30 de maio de 1966, com a finalidade

    de organizar, decidir e estabelecer normas administrativas para a Justia Federal,

    que havia sido recriada atravs do Ato Institucional n 2, de 27 de outubro de 1965.

    Entre suas diversas competncias, incumbia ao CJF determinar, mediante

    provimento, as providncias necessrias ao regular funcionamento da Justia e

    disciplina forense, realizar concursos para o cargo de Juiz Federal substituto e

    serventurios da Justia Federal, aplicar penas disciplinares aos Juzes e servidores

    da Justia Federal, fixar a competncia administrativa dos Juzes e estabelecer

    normas para a distribuio dos feitos em primeira instncia, assim como atribuir

    competncia pela natureza dos feitos a determinados Juzes.

    Com o advento da Constituio Federal de 5 de outubro de 1988, foram

    criados cinco Tribunais Regionais Federais - TRFs que iriam absorver a

    competncia originria do extinto Tribunal Federal de Recursos que, at ento,

    apreciava, em grau de recursos, as decises proferidas pelos juzes federais. Dentro

    da estrutura administrativa de cada nova Corte recursal, foi criado um setor de

    jurisprudncia que ficaria incumbido de organizar as decises de segunda instncia

    e facilitar o seu acesso aos operadores de Direito.

    To logo constitudos os servios e iniciadas as trocas de informao entre

    os tribunais, observou-se a necessidade de padronizar os termos de indexao, a

    fim de auxiliar na recuperao de informaes relevantes para os usurios. Com o

    objetivo de melhorar a indexao e recuperao das decises judiciais produzidas

    pelos recm-criados Tribunais Regionais Federais, no decorrer da dcada de 1990,

    mais especificamente entre os anos de 1993 a 1997, o Conselho da Justia Federal

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    CJF promoveu diversas aes que resultaram na criao do Tesauro Jurdico da

    Justia Federal.

    O primeiro passo da trajetria, que durou mais de quatro anos, foi a

    realizao de curso,