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TERRORISMO E TERRORISMO DE ESTADO: O CASO BRASILERO Prof. Antonio Celso Baeta Minhoto Legale março 2019

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TERRORISMO E

TERRORISMO DE

ESTADO: O CASO

BRASILERO

Prof. Antonio Celso Baeta Minhoto

Legale – março 2019

O terrorismo contemporâneo se apresenta não

somente como uma ruptura do Estado de Direito,

mas também um ataque aos direitos

fundamentais e à democracia.

O termo terrorismo resulta da junção de duas

expressões latinas, terrere (tremer) e deterrere(por ou colocar medo). Modernamente,

recordemos da Revolução Francesa e seu

“Período de Terror” (1792-1794), com mais de

17.000 “inimigos da revolução” mortos – 5000 na

guilhotina.

“Terrorismo é uma ação deliberada ou ameaça de violência com o objetivo de gerar medo e/ou um comportamento de concordância numa vítima e/ou no público em geral em face desta ação” (Stohl e Lopez,

1984)

5

Há um tipo de terrorismo mais ideológico. Seu

objetivo é trazer apoios às suas ideias por meio da

intimidação e do terror. Dois exemplos deste tipo

de manifestação são o ETA – Euskadi TaAskatasuna (expressão basca para Pátria Basca e

Liberdade), na Espanha, e o IRA – Irish

Republican Army, na Irlanda, ambos já

INATIVOS.

6

Por outro lado, há um outro terrorismo cuja base de

existência se poderia nomear até mesmo de niilista

ou “não-propositiva” de um ponto de vista

ideológico-político. São grupos que buscam

simplesmente prevalecer de maneira violenta,

sempre procurando não apenas intimidar, mas

também destruir seus inimigos.

Al Qaeda, Boko Haram e ISIS (ou EI – Estado

Islâmico) são exemplos de terrorismo com esse

perfil.

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O terrorismo, nada obstante, não é

exclusividade de organizações sociais,

civis, paramilitares ou não-

governamentais.

Plenamente possível, desse modo, que o

Estado adote recursos, estratégias,

instrumentos e até mesmo uma base

ideológica típica do terrorismo. É o

chamado “Terrorismo de Estado”.

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Neste ponto, vemos alguns autores

sustentando que a pobreza e a miséria são

uma manifestação de terror estatal.

“a violência urbana aponta para a existência de um

terrorismo de Estado, traduzido na violência da polícia

sobre a população civil, especialmente jovens, negros e

pobres, vítimas de um genocídio silencioso que requer

medidas urgentes para a sua erradicação” – Silvio

Caccia Bava, Le Monde Diplomatique Brasil

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“O estado brasileiro é terrorista porque manifesta: racismo estrutural; tortura sistemática nas prisões; genocídio de crianças, jovens e adultos negros; matanças e execuções sumárias por grupos de extermínio e; genocídio indígena” –

Juan Luis Berterretche,

http://desacato.info/brasil-e-o-terrorismo-

de-estado/

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Esses pontos de vista, contudo, são carentes

de uma base mais técnica. Os autores

mencionados claramente partem de uma

concepção pré-compreendida, e fortemente

pessoal/ideológica, em que se busca ver a

realidade não pelo que ela é, mas pelo que

se desejaria que fosse.

É óbvio que a situação dos negros, pobres e

índios é uma tragédia no Brasil, mas não é

manifestação de terrorismo.

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Por outro lado, o Estado Brasileiro já atuou de

forma terrorista, especialmente durante a ditadura

militar (1964-1985). Ali a situação era bem

distinta, já que haviam prisões sem base jurídico-

legal, prisões arbitrárias (para “averiguação”),

extermínio, tortura, desaparecimentos,

perseguição, exílio forçado, censura, extrema

agressividade.

Tudo praticado por agentes estatais e dentro de

uma concepção ideológica que amparava tal

conduta.

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“A prática da tortura e a certeza da impunidade constituem a diferença essencial entre os militantes da luta armada e o aparato repressivo ‘oficial’, expressão do terrorismo de Estado e do medo em que foi mantida a sociedade brasileira” – Maria

Lygia Quartim de Moraes,

http://segall.ifch.unicamp.br/publicacoes_

ael/index.php/cadernos_ael/article/viewFil

e/38/40

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Um caso marcante foi o do jornalista Vladimir

Herzog (Vlado) que, em 1975, era diretor de

jornalismo da TV Cultura de São Paulo.

Em outubro daquele ano, Vlado foi “convidado”

a esclarecer suas presumíveis ligações com o

partido comunista brasileiro, bem como com a

luta armada. Assim, foi levado às

dependências do DOI-CODI, em São Paulo

(Destacamento de Operações de Informação -

Centro de Operações de Defesa Interna).

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Nas dependências do DOI-CODI, Vlado ficou

preso com Rodolfo Konder e George Benigno,

ambos jornalistas. Ante a negativa de Vlado em

confessar qualquer ligação com o PCB e com a

luta armada, foi torturado com choques elétricos.

Para abafar o som da tortura, um rádio com som

alto foi ligado.

Posteriormente, Konder foi obrigado a assinar um

documento no qual ele afirmava ter aliciado

Vlado "para entrar no PCB”. Konder também foi

torturado, e Vlado foi morto, sendo dado

oficialmente como suicídio a causa de sua morte.

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A família de Herzog entrou com uma ação contra o

estado para ser indenizada, mas principalmente

para que fossem corrigidos os assentamentos

oficiais de um suicídio que nunca existiu

A sentença dada pelo então juiz Márcio José de

Moraes (27/10/1978) era clara: “Pelo exposto, julgo a presente ação procedente e o faço para declarar a existência de relação jurídica entre os autores e a ré, consistente na obrigação desta, indenizar aqueles danos materiais e morais decorrentes da morte do jornalista Vladimir Herzog, marido e pai dos autores”.

Procuramos indicar que o tema do Terrorismo de

Estado é fundamental para se construir em

renovadas bases, não somente o direito e a

democracia, mas também a própria sociedade

brasileira. Mas seu estudo deve fundar-se em

pressupostos e métodos científicos, algo que até

pode gerar algum limitação ao pesquisador,

porém lhe possibilita obter resultado mais

confiáveis.

Gracias por su atencion!

Grazie mille!

Antonio Celso Baeta Minhoto

[email protected]