territorialização dos serviços de proteção básica da

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS Territorialização dos serviços de Proteção Básica da Assistência Social em Belo Horizonte e Fortaleza: limites e potenciais do uso do Cadastro Único Mara Rúbia de Souza Albano Felix Belo Horizonte 2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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Mara Rúbia de Souza Albano Felix

Belo Horizonte

2011

Mara Rúbia de Souza Albano Felix

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Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais.

Orientador: Prof. Dr. André Junqueira Caetano

Belo Horizonte

2011

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Felix, Maria Rúblia de Souza Albano F316t Territorialização dos serviços de proteção básica da assistência social em

Belo Horizonte e Fortaleza: limites e potenciais do uso do Cadastro Único / Maria Rúbia de Souza Alvano Felix. Belo Horizonte, 2011.

126f.: il . Orientador: André Junqueira Caetano Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. 1. Sistema Único de Assistência Social (Brasil). 2. Assistência Social –

Belo Horizonte. 3. Assistência social – Fortaleza. 4. Responsabilidade do Estado. 5. Indicadores sociais. 6. Territorialidade humana. I. Caetano, André Junqueira. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais. III. Título.

CDU: 361

Revisão ortográfica e normalização Padrão PUC Minas de responsabilidade do autor.

TTeerrrr ii ttoorr iiaall iizzaaççããoo ddooss sseerrvviiççooss ddee PPrrootteeççããoo BBáássiiccaa ddaa AAssssiissttêênncciiaa SSoocciiaall

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CCaaddaasstt rroo ÚÚnniiccoo

Mara Rúbia de Souza Albano Felix

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais.

Belo Horizonte, 25 de fevereiro de 2011.

____________________________________

Prof. Dr. André Junqueira Caetano

Orientador – PUC Minas

____________________________________

Profa. Dra. Dirce Harue Ueno Koga

UNICSUL

____________________________________

Profa. Dra. Cristina Almeida Cunha Filgueiras

PUC Minas

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu bom e fiel Deus por tudo que tem me dado, sempre, pela

saúde física, mental e psíquica, pela perseverança, equilíbrio e pelo espírito sempre

alerta.

Agradeço a minha família (Jair e Izabela) por compreender minha ausência

nestes tempos de construção e estudo. Aos meus pais por terem me ensinado que o

processo de conhecimento não ocupa espaço dentro de nós, além de ser a única

coisa que não te tiram.

Agradeço ao meu orientador, Professor André Junqueira Caetano, que com

muita atenção, profissionalismo e paciência conseguiu me colocar no rumo certo

para que eu pudesse realizar esse trabalho.

Às professoras Dirce Koga e Cristina Filgueiras que de imediato aceitaram o

meu convite para compor a banca, estando eu certa da valiosa contribuição de

ambas.

Ao professor Carlos Aurélio Pimenta de Faria, antes de tudo um amigo, além

de um professor de verdade, que me conduziu à reflexão. Sua opinião faz a

diferença e sorte minha que a tenho, sempre.

Agradeço aos colegas Julimar Pinto, Beckembaeur Neury e Ângela Andrade

que muito me ajudaram na compreensão dos bancos de dados bem como nas

correções necessárias para o cumprimento das normas técnicas exigidas.

Às amigas, Magda Santana, Elisângela Lopes, Alcione Mesquita, Érika Souza

Salime Hadad e Eliete Rezende pelo incentivo, sempre.

A todas as pessoas da Secretaria Municipal de Assistência Social da cidade

de Fortaleza, Renata Custódio, André, Derleide Andrade e a secretária de

Assistência Social de Fortaleza, Maria Elaene Rodrigues (Lalá), que abriram as

portas da SEMAS e me cederam os dados necessários à minha pesquisa.

Agradeço à Secretaria Municipal de Políticas Sociais de Belo Horizonte na

pessoa do seu secretário Jorge Nahas e da gerente do Programa Bolsa Família

Márcia Teixeira, por ceder os dados do CadÚnico desta referida cidade.

Às outras tantas pessoas, ocultas no meu cotidiano, mas presentes demais

na construção desse trabalho, obrigada.

RESUMO

Esta dissertação utiliza o Cadastro Único (CadUnico) de programas sociais federais para identificar e dimensionar a população prioritária para os serviços de Proteção Social Básica da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) no âmbito do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) em duas capitais estaduais do Brasil, Belo Horizonte (MG) e Fortaleza (CE). O objetivo é identificar e delinear, de forma mais precisa, famílias e indivíduos prioritários para os serviços sociais territorialmente referenciados no Município, de acordo com as diretrizes e normatizações do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) de 2009. A descentralização administrativa no Brasil revelou um hiato entre o nível federal, com sua prerrogativa sobre a concepção, normatização e o financiamento, e o nível Municipal, responsável pela implantação e operação local das políticas sociais nacionais. O caso do SUAS reflete esse hiato. Os Municípios de Belo Horizonte e Fortaleza criaram metodologias próprias para a territorialização da PSB. Tais metodologias padecem de limitações para graduar e localizar a população prioritária nos territórios municipais. Esta dissertação discute a distância entre as duas esferas de governo e a repercussão, no Município, no processo de territorialização dos serviços de Assistência Social preventivos. Os resultados indicam que o CadÚnico configura-se como uma alternativa potencial para que os critérios do MDS sejam seguidos localmente. O cadastramento e a atualização cadastral são responsabilidades do Município. Dentre as inúmeras informações valiosas, vale ressaltar o Código de Endereçamento Postal (CEP) de cada domicílio cadastrado. Palavras-chaves: Sistema Único de Assistência Social, Assistência Social, Proteção Social Básica, Município, CadÚnico, Descentralização, Territorialização, Indicadores Sociais.

ABSTRACT

This thesis employs data from the Cadastro Único (Unified Record System) for federal social programs to identify and measure the demand for basic social assistance services defined in the (Política Nacional de Assistência Social) National Policy for Social Assistance) and established in the Sistema Único de Assistência Social (Unified System of Social Assistance) in two Brazilian state capitals, Belo Horizonte (MG) and Fortaleza (CE). The aim is to characterize, gauge, and locate more precisely the target population of the social assistance reference centers, according to the norms and guidelines that the Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Ministry of Social Development) put forward in 2009. The administrative decentralization in Brazil revealed a gap between the federal level – that keeps the upper hand upon the conception, legislation, and funding – and the municipal level, in charge of implementing as well as operating federal public social policies. The Unified System of Social Assistance reflects this gap. The governments of Belo Horizonte and Fortaleza developed their own methodology to meet the MDS guidelines. Nevertheless, these methodologies present limitations as far as identifying and locating the social assistance’s target population are concerned. This thesis discusses the distance between the two government spheres as well as the consequences for the municipalities to pinpoint where the centers should be located. The findings indicate that the Cadastro Único is a powerful option to the municipalities achieves the MDS criteria. The municipalities are responsible for collecting data for the Cadastro Único as well as for its annual update. Among several invaluable variables gathered, it is worth highlighting the mail address code of each registered household.

Keywords : Unified System of Social Assistance, Social Assistance, basic social assistance services, governments, Cadastro Único, administrative decentralization, Territorialization, Social Indicators.

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 : Classificação dos municípios segundo total de habitantes – Brasil – 2000 ..........................................................................................................................43

TABELA 2 :Concentração da indigência nos grupos de municípios classificados pela população – Brasil – 2000.........................................................................................51

TABELA 3 : Concentração da pobreza nos grupos de municípios classificados pela população – Brasil – 2000.........................................................................................52

TABELA 4 :Classificação da população de Fortaleza, domicílios e setores censitários, segundo categoria de risco do IVS.........................................................74

TABELA 5 :Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo a presença de um ou mais membros beneficiários dos programas PETI, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Agente Jovem e LOAS/BPC ...............................90

TABELA 6 : Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo a presença de um membro ou mais do domicílio beneficiário de Bolsa Escola .......................................................................................................................90

TABELA 7 :Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo a presença de um membro ou mais do domicílio beneficiário de Bolsa Escola .......................................................................................................................90

TABELA 8 : Distribuição percentual dos Domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo insuficiência de renda.................................................................................91

TABELA 9 : Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo insuficiência de renda- membro/s prioritário/s ............................................92

TABELA 10 : Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo presença de membro com deficiência auditiva, visual, física, mental ou de outro tipo ...................................................................................................................92

TABELA 11 : Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo presença de membros até 18 anos e/ou com 60 anos ou mais .................93

TABELA 12 : Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo o valor do Indicador Composto PAIF..........................................................93

TABELA 13 : Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Fortaleza segundo presença de membro com deficiência auditiva, visual, física, mental ou de outro tipo ...................................................................................................................94

TABELA 14 :Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Fortaleza segundo a presença de um ou mais membros beneficiários dos programas PETI, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Agente Jovem e LOAS/BPC ...............................95

TABELA 15 : Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Fortaleza segundo a presença de um membro ou mais do domicílio beneficiário de Bolsa Família ......................................................................................................................95

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 : Serviços da Proteção Social Básica e seus usuários ..............................34

Quadro 2 : Composição de variáveis para construção da Taxa de Vulnerabilidade Social ........................................................................................................................46

Quadro 3 : Indicadores Básicos para composição socioterritorial. ............................48

Quadro 4 : Escala Nacional - Indicador Complementar para Metrópoles..................49

Quadro 5 : os componentes e indicadores sociais que compõe o Mapa de Exclusão Social de Belo Horizonte. ..........................................................................................65

Quadro 6 : Índice de Vulnerabilidade à Saúde (IVS). 2003 .......................................69

Quadro 7 . Indicadores sociais segundo a classificação de sua utilização................73

Quadro 8 : Comparativo IVS anterior e IVS novo ......................................................74

Quadro 9 : Tratamento das informações referentes ao conjunto dos Serviços da Proteção Social Básica .............................................................................................84

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACS - Agente Comunitário de Saúde

BA - Bolsa Alimentação

BE - Bolsa Escola

BPC - Benefício de Prestação Continuada

CADÚNICO - Cadastro Único

CEP - Código de Endereçamento Postal

CIT - Câmara Intergestores Tripartite

CRAS - Centro de Referência da Assistência Social

CREAS - Centro Especializado de Assistência Social

DOU - Diário Oficial da União

ESF - Equipe de Saúde da Família

FAZ/DF - Fundo de Assistência Social do Distrito Federal

FNAS - Fundo Nacional de Assistência Social

GEIMA - Monitoramento e Avaliação

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IGD - Índice de Gestão Descentralizada

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

IQVU - Índice de Qualidade de Vida Urbana

IVS - Índice de Vulnerabilidade à Saúde

IVS – índice de Vulnerabilidade Social

LA - Liberdade Assistida

LBA - Legião Brasileira de Assistência

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MDS - Ministério de Desenvolvimento Social

NAF - Núcleo de Apoio à Família

NIS - Número de Identificação Social

NOAS - Norma Operacional de Assistência Social

NOB/SUAS - Norma Operacional Básica/Sistema Único de Assistência Social

PAIF - Proteção e Atendimento Integral à família

PBF - Programa Bolsa Família

PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PRODABEL - Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte

PSB - Proteção Social Básica

PSC - Prestação de Serviços à Comunidade

PSE - Proteção Social Especial

PSF - Programa Saúde da Família

RF - Responsável pela Unidade Familiar

SEMAS - Secretaria Municipal de Assistência Social

SENARC - Secretaria Nacional de Renda e Cidadania

SESAN - Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

SIG - Sistema de Informação Geográfica

SIU - Sistema de Informação Unificada

SMAAS - Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social

SMPS - Secretaria Municipal de Políticas Sociais

SMSA - Secretaria Municipal de Saúde

SAGI – Secretaria Nacional de Avaliação e Gestão da Informação

SNAS - Secretaria Nacional de Assistência Social

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

SUAS - Sistema Único de Assistência Social

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11

2 DESCENTRALIZAÇÃO, TERRITORIALIZAÇÃO E O SISTEMA ÚNICO DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL.............................................................................................18

2.1 Territorialização no âmbito da saúde: o exemplo do Programa de Saúde da Família (PSF) ............................................................................................................25

2.2 O processo de institucionalização da Assistência Social no Brasil .....................29

2.2.1 A Proteção Social Especial ..............................................................................30

2.2.2 A Proteção Social Básica .................................................................................32

3 O PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL .................................................................................................36

3.1 O território para a Política de Assistência Social no Brasil ..................................41

3.2 O MDS e a identificação da população alvo dos serviços de Proteção Social Básica no Município ..................................................................................................50

3.3 A Assistência Social e o Cadastro Único.............................................................53

4 A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DE CRAS EM BELO HORIZONTE E FORTALEZA .............................................................................................................61

4. 1 O Município de Belo Horizonte/MG ....................................................................61

4.2 O Município de Fortaleza/CE ..............................................................................71

5 METODOLOGIA E RESULTADOS A PARTIR DO USO DO CADASTRO ÚNICO..................................................................................................................................77

5.1 - Belo Horizonte...................................................................................................89

5.2 - Fortaleza ...........................................................................................................94

6 CONCLUSÃO.........................................................................................................98

REFERÊNCIAS.......................................................................................................103

ANEXO A: CADERNO AZUL DO CADASTRO ÚNICO DE PROGRAMAS E PROJETOS DO GOVERNO FEDERAL..................................................................109

ANEXO B: LAYOUT DO ARQUIVO Q1 – DOMICÍLIOS .........................................115

ANEXO C: LAYOUT DO ARQUIVO Q2 – PESSOAS .............................................116

ANEXO D: CARTA DE APRESENTAÇÃO DO ALUNO ÀS INSTITUIÇÕES PARA OBTENÇÃO DOS DADOS DO CADÚNICO............................................................118

ANEXO E: SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA NO DOMICÍLIO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E IDOSAS....................................................................................................................119 ANEXO F: SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA........................................................................................................120

11

1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação aborda o processo de territorialização dos serviços

socioassistenciais de Proteção Social Básica (PSB) no nível municipal, ou, mais

precisamente, a sua localização geográfica intramunicipal em Municípios de maior

porte populacional, conforme ordenam as resoluções e normativas federais que

regem, a partir de 2005, a implantação desses serviços. O seu objetivo principal é

explorar a utilização dos dados do CadÚnico de programas sociais do Ministério de

Desenvolvimento Social (MDS) para esse fim e discutir, a partir dos casos de Belo

Horizonte e Fortaleza, a disjunção existente entre a gestão pública do CadÚnico, por

um lado, e a política de Assistência Social, por outro, na esfera Municipal.

Se os dados do CadÚnico são coletados para que se possa identificar a

população elegível para os programas sociais do Governo Federal, cuja execução

se dá no nível municipal, ele também, estaria em consonância com o que determina

a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) no sentido de identificar a

população prioritária para o atendimento da Proteção Social Básica (PSB), além do

fato de que o CadÚnico possibilita o georreferenciamento dessa população uma vez

que possui Código de Endereçamento Postal (CEP). Entretanto, o que se observa é

que esses dados não são usados para esse fim na maioria dos Municípios

brasileiros, fragilizando a execução da política pública de Assistência Social, dado

que esta necessita de informações atualizadas para implementar e executar o que

determina o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Com esse objetivo em mente pretende-se, nesta dissertação, realizar uma

análise exploratória dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte e Fortaleza seguindo

os critérios e características que definem a população elegível para os serviços da

Proteção Social Básica (PSB), conforme estabelecido pelo Ministério de

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Cabe ressaltar que não foi estabelecida nem recomendada, por parte do

MDS, a utilização de um procedimento específico para identificação do público no

âmbito intramunicipal ficando, portanto, essa tarefa sob responsabilidade do

Município. Ademais, a única fonte de dados que pode ser desagregada ao nível

municipal e intramunicipal é o Censo Demográfico, cuja periodicidade é decenal e

por esse fato não possui a exatidão necessária e, portanto, a validade esperada face

12

à peculiaridade do objeto em questão. Diante da ausência de dados intramunicipais

que sejam atualizados sistematicamente, o CadÚnico configura-se como uma fonte

de informações georreferenciável capaz de fornecer dados para composição de

indicadores que sejam atualizados e atualizáveis, que identifiquem e permitam a

localização mais precisa dessa população vulnerável e, não menos importante,

acessíveis aos gestores municipais.

Vale lembrar que o Município é a esfera responsável pelo cadastramento,

pela atualização cadastral e pela transmissão desses dados para o MDS e é a partir

dessas informações, de qualidade, que o Município recebe recurso financeiro para

gerir o CadÚnico. No Município, é recomendado que a área da Assistência Social

esteja incumbida da atualização cadastral, que deve ser feita preferencialmente por

visita domiciliar, outro ponto que será discutido nessa dissertação. O último Censo

SUAS realizado pelo MDS em outubro de 2010, aponta que 3% dos Municípios

brasileiros não tem a gestão do CadÚnico localizado na Assistência Social.

Quanto à definição de vulnerabilidade adotada aqui, é a mesma adotada pelo

Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e descrita na

Política Nacional de Assistência Social, publicada na Resolução 145 em novembro

de 2004. As vulnerabilidades para a Proteção Social Básica (PSB) referem-se ao

ciclo de vida, ou seja, criança, adolescente e idoso acima de 60 anos, às pessoas

com deficiência, além de famílias inseridas nos programas de Transferência de

Renda tais como o Programa Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada

(BPC).

Em se tratando da Proteção Social Básica (PSB), esta tem como componente

fundamental a família referenciada no território onde vive e, portanto, território

intramunicipal, entendendo-se como referenciadas aquelas que vivem em territórios

também vulneráveis, definidos por indicadores sociais estabelecidos pelo órgão

Federal. Os serviços da Proteção Social Básica devem ser realizados em um

equipamento público, de base territorial, denominado Centro de Referência da

Assistência Social (CRAS). A definição do número de famílias a serem referenciadas

aos CRAS deve guardar relação com o porte do Município, como prevê a Resolução

130 que regulamenta a Norma Operacional Básica do Sistema Único da Assistência

Social de 2005, o que se torna um entrave para os Municípios, já que eles têm

dificuldades de identificar o público dado a precariedade dos dados disponíveis.

(BRASIL, 2005, Resolução 130).

13

Por outro lado, a Proteção Social Especial (PSE) utiliza escala territorial

diferenciada, de âmbito municipal e macromunicipal dependendo da divisão

administrativa de cada Município. A lógica do atendimento da PSE centra-se na

média complexidade e na Alta Complexidade. A Média Complexidade é composta

de serviços que oferecem atendimento às famílias e indivíduos com seus direitos

violados, mas cujos vínculos familiares e comunitários não foram rompidos.

Estes serviços são ofertados nos Centros de Referência Especializados da

Assistência Social (CREAS), tendo como objetivo a orientação e o convívio sócio-

familiar, diferenciando-se da Proteção Social Básica por se tratar de um atendimento

dirigido às situações de violação de direitos. A sua territorialidade centra-se na

macrorregião administrativa dependendo do recorte territorial e administrativo

específico de cada Município.

A Proteção Social de Alta Complexidade tem localização tanto no nível

municipal quanto regional. São serviços que garante a proteção integral a indivíduos

e famílias. São eles a moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para

famílias e indivíduos que se encontram sem referência e/ou em situação de ameaça,

necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e/ou comunitário (BRASIL, 2004,

Resolução 145).

Vê-se, portanto, a partir dessa organização, que a Assistência Social, com o

passar dos anos, tomou uma dimensão de política pública, deixando para trás a sua

ação pautada no assistencialismo. Com a inserção da Assistência Social no tripé da

Seguridade Social na Constituição Federal de 1988 e, avançando em sua

consolidação com a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) de 1993, essa

política passou a ser tomada como dever do Estado, ao qual cabe estabelecer

políticas voltadas para um público que a demande, direcionando sua ação para

territórios onde se localizam situações de vulnerabilidade social. A LOAS no seu art.

6º, “dispõe que as ações na área são organizadas em sistema descentralizado e

participativo, constituído pelas entidades e organizações de assistência social”

(BRASIL, 2004, p.27. Resolução 145). É mediante esse processo de

institucionalidade que a Assistência Social passa a ser operada segundo regras que

deverão ser seguidas em todo o território nacional.

O modelo descentralizado de gestão pública adotado pela Assistência Social

a partir da aprovação da Norma Operacional Básica da Assistência Social

(NOB/SUAS) em 2005, no tocante à descentralização financeira direciona a

14

aplicabilidade dos recursos bem como todo o processo de co-financiamento do

Governo Federal aos Municípios, de acordo com as vulnerabilidades sociais

relacionadas a cada nível de complexidade dos serviços socioassistenciais. Na

Proteção Social Básica, por exemplo, os investimentos do Governo Federal estão

voltados para a implementação dos Centros de Referência da Assistência Social

(CRAS), bem como para cofinanciar os serviços que compõem essa proteção.

No âmbito municipal, existem três níveis de gestão: Inicial, Básica e Plena. Os

incentivos para cada nível de gestão se dão mediante repasse financeiro do

Governo Federal aos Municípios, do Fundo Nacional de Assistência Social para o

Fundo Municipal de Assistência Social, e estão voltados para o combate às

vulnerabilidades e riscos sociais informados pelo gestor Municipal ao Governo

Federal. Tais vulnerabilidades e riscos são identificados através de diagnóstico feito

inicialmente no nível Federal, a partir das informações Municipais sobre infra-

estrutura física, número de adolescentes fora da escola, número de pessoas com

renda de até ¼ de salário mínimo, identificação de idosos e crianças, pessoas com

deficiência. São esses os dados usados para se estabelecer o perfil de cada

município do Brasil (BRASIL, 2005, Resolução 130).

Contudo, os indicadores sociais utilizados pelo MDS para auxiliar na

identificação das vulnerabilidades sociais da população no âmbito Municipal, bem

como intramunicipal, são frágeis, o que dificulta, também, a construção do perfil

social desses territórios a partir das famílias residentes neles. Os fatores que estão

por trás dessa fragilidade dos indicadores são a periodicidade decenal do Censo

Demográfico e a impossibilidade dos dados das Pesquisas Nacionais por Amostra

de Domicílios (PNAD) serem representativas ao nível Municipal.

Percebe-se que há uma limitação do MDS em propor procedimentos

operacionais para se realizar a atualização sistemática sobre o que realmente existe

internamente nos municípios brasileiros. Isso pode se dar pela pouca experiência

que o campo da Assistência Social tem quanto à construção de diagnósticos

socioterritoriais capazes de capturar a especificidade de cada família, além da

precariedade dos procedimentos adotados de retroalimentação sistemática das

informações coletadas. Entretanto, ainda que houvesse disponibilidade de

informações desagregáveis e atualizadas, não seria razoável esperar que o MDS

construísse indicadores e traçasse perfis sociais georreferenciados, periodicamente,

para cada Município brasileiro, dada a abrangência territorial do país. Nesse sentido,

15

há uma limitação também no nível Municipal, mas de outro caráter, qual seja, o não

uso e, até mesmo, o desconhecimento do potencial do CadÚnico para os fins da

política territorializada dos serviços básicos da Assistência Social.

Esta dissertação está organizada em cinco capítulos de forma a abordar e

discutir essas questões. No capítulo 2 será discutida a concepção de território como

novo elemento que passa a orientar algumas políticas a partir da descentralização

federativa, utilizando o exemplo da área da Saúde no que se refere à forma de

territorializar seus serviços, em especial o caso do Programa de Saúde da Família

(PSF), que influenciou o modelo de descentralização da Assistência Social a partir

de 2004.

Passa-se, então, ao estudo específico da Política de Assistência Social e sua

organização a partir da descentralização e territorialização, segundo níveis de

Proteção Social Básica e Proteção Social Especial é feita também, uma discussão,

para fins de contextualização do processo de descentralização do Estado brasileiro,

que de certa forma democratizou a prática relacionada às políticas públicas sociais

até então desenvolvidas, redesenhando o cenário de centralismo administrativo

adotado até a Constituição Federal de 1988. Serão abordados os desafios e

avanços que esse processo de descentralização trouxe para as políticas sociais

como um todo, com destaque para a política de Assistência Social.

O Capítulo 3 trata do processo de descentralização da Assistência Social, sua

organização em dimensão nacional bem como as competências administrativas e

financeiras dos Municípios, no que tange a sua organização. Nesse aspecto é

discutida a concepção e importância do território para a política de Assistência

Social, bem como a forma da organiza territorial e espacialmente os serviços da

Proteção Social Básica (PSB).

São também, apresentados e discutidos neste capítulo os procedimentos

utilizados pelo MDS para elaborar uma “radiografia” dos Municípios segundo a

complexidade e vulnerabilidades sociais que devem orientar os Municípios na

implantação dos serviços, sejam eles da proteção especial ou da proteção básica. A

utilização dos dados do CadÚnico de programas sociais é importante neste estudo,

pois ele passa a ser adotado, neste trabalho em específico, como base para

indicadores dos itens que identificam o público para os serviços da PSB.

O Capítulo 4 traz a experiência de territorialização da Assistência Social em

Belo Horizonte e Fortaleza, e os respectivos processos de implantação dos Centros

16

de Referência da Assistência Social. Esses casos ilustram a realidade vivida pelos

Municípios para cumprir as diretrizes estabelecidas pelo MDS. Os Municípios

enfrentam dificuldades da ordem da sua organização e capacidade operacional para

implementarem os serviços de acordo com o nível de complexidade, em especial

aqueles pertinentes à PSB. Um exemplo dessa dificuldade é a elaboração dos

diagnósticos com dados atuais de forma que possam de fato identificar o público

específico dos serviços que compões a PSB. Enfrentam, acima de tudo, a

dificuldade de circunscrevê-los nos territórios que devem ser identificados para a

implementação dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS).

A escolha desses dois Municípios seguiu alguns critérios. Em primeiro lugar,

ambos se encontram habilitados na gestão plena do SUAS e, portanto, recebem

cofinanciamento federal para implementar serviços dos diversos níveis de proteção

social. Em segundo lugar, nem Belo Horizonte nem Fortaleza basearam-se em

diagnóstico intramunicipal socioterritorial para identificar o público prioritário e

direcionar a implementação do CRAS. Esses Municípios desenvolveram

metodologias próprias para dar conta das determinações do MDS de identificar o

público específico para cada proteção social e fizeram um esforço de construção de

indicadores e índices sociais para identificar e delimitar territórios intraurbanos e

para identificar o público prioritário de atendimento do SUAS.

O capítulo 5 apresenta os resultados da análise exploratória dos dados do

CadÚnico de Belo Horizonte e Fortaleza com o com o objetivo de testar o potencial

desses dados para identificar o público prioritário para a atenção da Proteção Social

Básica (PSB). Indica, também que a construção do caminho para a identificação do

público é de fácil acesso pelos municípios, atualizados periodicamente, além de

conter dados georreferenciáveis que podem servir de indicadores socioterritoriais

para a identificação do público alvo dos serviços da Proteção Social Básica.

Assim trata da construção de indicadores aplicados ao público da PSB,

utilizando os dados dos municípios de Belo Horizonte e Fortaleza para examinar o

potencial para fins de identificação desse público específico, bem como responder a

questão de que o CadÚnico tem elementos suficientes para a identificação do

público de forma mais consistente que outros bancos de dados. É importante

ressaltar, nesse aspecto, que sua gestão está localizada no próprio Município.

Essa discussão desponta no cenário atual da Política de Assistência Social

uma vez que se encontra em plena discussão nacional a sua transformação em Lei

17

do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Para estabelecer o melhor formato

institucional, de comando único da política, ou seja, em todo o território nacional, os

Municípios deverão seguir uma única diretriz para identificar o público prioritário de

Assistência Social em toda a extensão territorial e, em especial, o público da

Proteção Social Básica tratado aqui, com vistas ao fortalecimento do sistema de

proteção social brasileiro. Será tarefa árdua para o Governo Federal se os

Municípios não compreenderem que esse procedimento qualifica a gestão da

Assistência Social. O uso de uma única fonte de dados pode ser um fator importante

para catalisar o fortalecimento dessa padronização da Assistência Social,

respeitando-se e incorporando-se as especificidades de cada Município e de seu

território.

18

2 DESCENTRALIZAÇÃO, TERRITORIALIZAÇÃO E O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Este capítulo discute o processo de descentralização federativa do Estado

brasileiro a partir de 1990, no bojo da reforma do Estado que se voltou à

implantação de processos mais modernos quanto ao perfil da administração pública.

Nele, serão levantadas questões que possibilitem apreciar os elementos pertinentes

à compreensão do contexto específico da política pública de Assistência Social no

Brasil.

Segundo Fernando Luiz Abrúcio (2002), o tema da descentralização começa

a ganhar destaque na década de 1990, mais especificamente no governo do

Presidente Fernando Henrique Cardoso, tendo como destaque a autonomia local, as

formas de democracia participativa, a racionalização da provisão de serviços, a

maior liberdade e responsabilidade dos gestores públicos, entre outras. Abrúcio

(2002) afirma que o processo de descentralização federativa brasileiro influenciou na

redemocratização do país, no redesenho da sua rede de proteção social e na

reforma do Estado. Defini-la é importante para a compreensão correta do tema, em

especial na especificidade da descentralização administrativa. Ele define a

descentralização federativa de forma mais ampliada, como

[...] um processo nitidamente político, circunscrito a um Estado nacional, que resulta da conquista ou transferência efetiva de poder decisório a governos subnacionais, os quais adquirem autonomia para escolher seus governantes e legisladores (1), para comandar diretamente sua administração (2), para elaborar uma legislação referente às competências que lhes cabem (3) e, por fim, para cuidar de sua estrutura tributária e financeira (4) (ABRÚCIO, 2002, p. 2).

As mudanças na base jurídico-legal então existente na década de 1980, antes

da Constituição Federal, em 1988, segundo Pereira (1996), objetivavam modernizar

o aparelho estatal, uma vez que tanto a complexidade das relações institucionais

quanto a necessidade imediata de aprimorar a capilaridade do governo poderiam

refletir-se em uma maior agilidade da administração pública, descentralizando

serviços e financiamentos e criando, assim, certo grau de autonomia de órgãos e

instâncias das administrações subnacionais, no bojo da descentralização federativa.

Este conjunto de medidas na base legal e administrativa da União, através de

19

instrumental jurídico, redireciona o papel de executor do Estado, promovendo,

regulando e ampliando a autonomia administrativa para fundações públicas e

autarquias, além de implementar um modelo gerencial diferenciado nas

administrações públicas (PEREIRA, 1996).

A Constituição Federal de 1988 introduziu em seu texto o tema da

descentralização de forma ampliada (política, administrativa e financeira),

proporcionando um processo de descentralização na medida em que criou

rearranjos nas relações federativas, redistribuindo competências tributárias entre as

esferas de governo e aumentando, para os Estados e Municípios, a receita tributária

e as transferências constitucionais. Isso provocou a redistribuição dos poderes de

decisão dos governos subnacionais ao mesmo tempo em que fortaleceu sua

capacidade de financiamento de políticas sociais.

O processo de descentralização, no que concerne às políticas sociais que se

seguiu à Constituição de 1988, apresenta grande heterogeneidade entre as

diferentes políticas e entre regiões, em decorrência da diversidade de arranjos

institucionais, estratégias de descentralização e da grande desigualdade regional do

Brasil. Foram determinados, desse modo, por contingências de origem estrutural,

institucional e/ou de ação política (ARRETCHE, 2000).

Para discutir a descentralização federativa no contexto da Assistência Social,

com a tônica no processo de descentralização administrativa, inicialmente será

abordada a política de Saúde implantada a partir da Constituição Federal do Brasil

de 1988. O objetivo é estabelecer um marco de comparação entre elas, uma vez

que a descentralização desenhada para a política de Assistência Social no Brasil foi,

em larga medida, orientada pelo modelo de gestão, bem como pelo processo de

descentralização adotado e implementado para a política de Saúde (ARRETCHE,

2002).

Segundo Arretche e Marques (2002), na Saúde o modelo de descentralização

se efetivou nas bases da legislação emitida pela União, avançando a cada ano, a

partir da regulação de procedimentos através de normas operacionais. Em 1991 foi

aprovada a Norma Operacional Básica 01/91, e em 1993, através da Portaria n.º

545, de 20/05/1993, aprovou a Norma Operacional Básica 01/93, regulamentando o

processo de descentralização da gestão dos serviços e ações no âmbito do Sistema

Único de Saúde (SUS) e, por fim, a Resolução 195 de 27/08/1996, que aprovou a

Norma Operacional Básica 01/96, além da Norma Operacional de Assistência Social

20

(NOAS), de 2001, que definiu a regionalização e a descentralização da assistência à

saúde. Desta forma, o “Ministério da Saúde utiliza-as como instrumento pelo qual

são definidas as regras de funcionamento do Sistema Único de Saúde”

(ARRETCHE; MARQUES, 2002, p.467). Essas normas atuam nas esferas de

governo, estabelecendo o que cabe a cada uma delas, sob as formas de co-

atuação, divisão de tarefas, distribuição de trabalhos, custos, benefícios, etc.

A NOB 01/93 definiu as regras de habilitação estadual e municipal ao SUS e suas condições de inserção no Sistema e a NOB 01/96, em vigor, redefine e complementa a NOB 01/93, ampliando as responsabilidades dos municípios (ARRETCHE; MARQUES, 2002, p. 467).

A segunda Norma Operacional da Saúde criada em 1996 atuou sanando as

lacunas da primeira, datada de 1993, ampliando “as funções a serem

desempenhadas pelos estados, conferindo-lhes a função de criar condições para o

aprofundamento do processo de municipalização da gestão dos sistemas de saúde”

(ARRETCHE; MARQUES, 2002, p.468). Objetivou-se, com esta NOB da Saúde de

1996, ampliar o universo de atendimento à saúde, assim como propiciar medidas

menos burocráticas e centralizadoras, passando-se aos municípios certa parte do

poder e uma maior responsabilidade sobre essa questão.

Segundo Arretche e Marques (2002), essa medida, por um lado, causou uma

grande confusão, visto que os municípios não estavam preparados para assumir as

tarefas de implementar serviços com o nível de especificidade exigido pelas

normatizações, mas, por outro, representou um marco na história brasileira, não

somente pela descentralização, mas principalmente pela tentativa de possibilitar

uma verdadeira universalização da Saúde.

Vaitsman, Andrade e Farias (2009), ainda sobre esse assunto, colocam que é

a partir da segunda metade dos anos 1990, em um contexto de estabilização

econômica e de reformas institucionais, que os processos de descentralização e

participação avançam, ocorrendo a organização dos fundos específicos para aporte

de recurso para o financiamento das políticas e a implementação de órgãos e

conselhos estaduais e municipais. O processo de descentralização federativa definiu

competências de modo a diminuir os efeitos da centralização que vigorava até a

Constituição Federal de 1988. Porém, segundo Arretche (2004), a Constituição de

1988 descentralizou receitas, mas não descentralizou encargos, ou seja, a

21

[...] CF não alterou a estrutura institucional de gestão das políticas sociais herdada do governo militar. Mesmo as medidas de reforma aprovadas e implementadas pelos sucessivos presidentes posteriormente à CF de 1988 pouco ou nada alteraram esta estrutura prévia, que é centralizada para as políticas de saúde, desenvolvimento urbano, e centralizada para a política de educação fundamental (ARRETCHE, 2004, p. 22).

Na década de 1990, a União encarregou-se do processo de financiamento

das ações, projetos e programas dos governos subnacionais, significando uma

autonomia do nível federal para tomar decisões importantes, ficando o nível

municipal dependente, inclusive financeiramente, da política central. O modelo da

Saúde, por exemplo, referente às normativas e portarias empregadas na década de

1990, emitidas pelo Ministério da Saúde como instrumento de coordenação nacional,

implicaram numa ação diferenciada do executivo federal, visto que este assumiu a

frente, a partir da segunda metade da década de 1990, da operacionalização da

saúde, fortalecendo a importância da adesão dos Municípios às diretrizes nacionais

por via de assinatura de protocolos de intenção, bem como a adesão dos Municípios

às diretrizes estabelecidas pelo governo nacional, a partir de acordos administrativos

(ARRETCHE, 2004).

O processo de descentralização administrativa da Saúde teve ampla

aceitação dos governos estaduais e municipais, uma vez que objetivava a

universalização do acesso aos serviços, deixando para trás o modelo de Saúde

contributiva, ao mesmo tempo em que transferia para os Municípios a gestão dos

serviços, mantendo a participação dos três entes federados no processo de

financiamento desse modelo. Em 2002 cerca de 99% dos municípios já haviam

assumido a gestão parcial e/ou total dos serviços da Saúde (ARRETCHE, 2002).

Arretche (2004) afirma, também, que o modelo de gestão da política social,

seja da Saúde ou da Assistência Social no Brasil, segue um formato de comando

ainda muito centralizado na União, sendo esta o principal financiador da política,

com traços de autoridade e poder para regular minimamente o desenho da política

nos territórios subnacionais, na perspectiva de atingir as desigualdades territoriais,

ao mesmo tempo e em todos os lugares.

As configurações do modelo de descentralização adotado no Brasil, de

acordo com Arretche (1996), apontam para desafios de várias ordens, tais como o

tamanho da federação, a pouca capacidade operativa dos Municípios e a

heterogeneidade existente no território intramunicipal. As diretrizes relacionadas ao

22

financiamento de ações, serviços e projetos voltados para a política social impõem

um ritmo diferente de trabalho e providências aos Municípios e Estados, destacando

a nova concepção e reordenamento estrutural dos Municípios para que dêem conta,

de fato, do reconhecimento do público prioritário para alocar recursos em projetos,

programas e ações.

Nesse sentido, a União ainda necessita fomentar uma estrutura de incentivos

financeiros para que os Municípios possam visualizar ganhos, inclusive políticos, ao

executarem as diretrizes estabelecidas pelo governo central, ganhos no lugar de

despesas, ao aderirem à gestão compartilhada de ações. Segundo Arretche (2004),

a estrutura de incentivos e a conseqüente propensão à descentralização de cada

política social está vinculada às suas disposições constitucionais, ao desenho de um

programa de descentralização e o seu modo efetivo de implementação.

A Assistência Social, ao longo de décadas, ocupou um lugar de pouca

relevância na formação e constituição do Estado de Bem-Estar brasileiro. Isto

significa que ela não se desenvolveu como ação de Estado e muitas vezes esteve

marcada pela fragmentação organizacional, herança que constitui obstáculo

relevante à tentativa recente de institucionalização da área como política pública.

Viu-se que somente a partir da Constituição Federal de 1988 é que a Assistência

Social passa a ter relevância no conjunto das políticas sociais de forma mais

consistente, embora ainda hoje conviva com problemas que o federalismo coloca

para a implementação de políticas sociais, tais como coordenar e ordenar as

relações intergovernamentais em um contexto de autoridade compartilhada e, em

tese, não hierárquica, sobre o território.

O tema território ganha destaque no modelo de descentralização adotado no

Brasil a partir do momento em que o Governo Federal passa a definir os

investimentos financeiros necessários aos Municípios de acordo com a configuração

social espacialmente heterogênea encontrada no recorte de cada região brasileira.

Isto é, os Municípios, a partir das suas características sociais e perfis

socioeconômicos, orientam os investimentos financeiros do Governo Federal. É

precisamente para e no interior do território intramunicipal que ações da política de

saúde, bem como da política de assistência social, serão concebidas e implantadas.

É importante, inicialmente, definir a concepção de território utilizada pelo

Ministério de Desenvolvimento Social para pensar a política de Assistência Social no

âmbito municipal, dando elementos para compreender o desenho institucional da

23

referida política no município. O direcionamento das políticas públicas, em especial

da política de Assistência Social, a partir de 2000, centra-se na atuação em áreas de

maior vulnerabilidade social. O processo percorrido pelos organismos

governamentais para a identificação de tais áreas contou com um elenco de

pesquisas, cujos indicadores apontavam para uma compreensão espacial e

geográfica dos Municípios que permitisse identificar suas áreas socialmente

vulneráveis.

O estudo espacial dos Municípios a partir do levantamento socioeconômico

traz impactos decisivos na vida daqueles que moram nessas áreas geográficas, seja

pela decisão da não intervenção pública, seja pela decisão da intervenção focalizada

ou até mesmo pela intervenção estrutural (BRASIL, 2004, Resolução 145).

Considerando a responsabilização pública dos Municípios pela escolha das áreas

para a aplicação de investimentos, é fundamental trabalhar a compreensão do

conceito de território. Segundo Santos (2001), por território “entende-se geralmente,

a extensão apropriada e usada do espaço [...]. Num sentido mais restrito, o território

é um nome político para o espaço de um país” (p. 19).

Neste sentido, o território é visto ao mesmo tempo como unidade e

diversidade. “O espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da

própria sociedade que lhe dá vida” (SANTOS, 1996, p. 5). Tal fato fica mais claro

quando é percebido que a variedade de situações criadas pela própria dinâmica da

sociedade é que produz elementos para analisá-lo. A compreensão do espaço social

como sistema de objetos e sistemas de ações se apresenta enquanto defesa da

dinâmica dos territórios, ultrapassando a definição da geografia e cartografia, que o

classifica sob o aspecto do limite físico. De acordo com Dirce Koga,

[...] Assim, o olhar sobre o território é relacional, pois diz respeito à própria dinâmica do cotidiano que ultrapassa os limites geográficos, cartográficos ou comunais, no sentido restrito do termo. Tendo em vista o forte traço relacional da sociedade brasileira, onde a perspectiva territorial pode ganhar um viés de comunidade simplesmente convivial e o local podem significar sinônimo de redução ao exercício da cidadania, é preciso estabelecer a distinção entre dimensão territorial e a dimensão comunitária (KOGA, 2003, p.55).

A questão que se coloca a partir disso é saber se a escolha dos lugares

estaria sendo baseada, também, nos valores comunitários, nas relações de

24

pertencimento, nas histórias que se processam nele. O envolvimento da população é

fundamental, ainda, para auxiliar a compreensão sobre as políticas públicas no que

tange à questão do território. De certo que estes elementos são importantes, porém,

num processo de descentralização administrativa, o território é geográfico, mas em

se tratando de intramunicipal, a dinâmica e o convivido, presentes nestes territórios,

favorece o seu desenvolvimento social.

Torres e Marques (2004) apontam que o recurso às estratégias territoriais

para políticas sociais pode ser pensado em duas vertentes principais. Uma primeira

diz respeito ao que os autores chamam de “territórios concretos”, onde residem as

populações as quais as políticas sociais, de um modo geral, se destinam. O principal

argumento utilizado pelos autores no que se refere à adoção de estratégias

territoriais para as políticas sociais relaciona-se com a existência de fortes

externalidades negativas relacionadas à residência em bairros com alta

concentração da população mais empobrecida.

Nestes locais, segundo Torres e Marques (2004), o desempenho escolar

tende a ser pior e a probabilidade de conseguir um emprego formal é menor, pelo

fato de existir uma baixa proporção de pessoas empregadas no setor formal,

reduzindo as possibilidades de alguém conseguir trabalho através da sua rede de

relações sociais. A outra vertente diz respeito à incorporação de lógicas territoriais

de intervenção às políticas setoriais tradicionais – como a política educacional, de

saúde e de transferência de renda -, que passariam a se apresentar de modo

diferenciado nos locais com alta concentração de pobres, como é, atualmente, o

caso do Programa Saúde da Família (PSF).

A política de Assistência Social, a partir dessa discussão sobre a concepção

de território, não pode operar suas ações levando em consideração exclusivamente

a delimitação geográfica. Valorizar o espaço social como espaço de acontecimentos

e da vida cotidiana pode ser uma saída enquanto instrumental de pesquisa, pois

passaria a incluir novos elementos advindos da percepção sócio-cultural desses

lugares. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) utiliza esses conceitos e

argumentos para priorizar o território na perspectiva da prevenção, foco esse, em

especial, da Proteção Social Básica (BRASIL, 2004, Resolução 145).

Essa concepção de território dinâmico e heterogêneo que está contido no

conceito básico para a territorialização da Assistência Social foi utilizado pela área

da Saúde na ocasião da implantação do Programa de Saúde da Família na década

25

de 1990. Na subseção seguinte será discutido o processo de territorialização da

saúde iniciado nesse período. Essa discussão é importante dada a semelhança do

processo entre as duas políticas sociais uma vez que a política de Assistência Social

serviu-se da política da Saúde para se estruturar enquanto um sistema.

2.1 Territorialização no âmbito da saúde: o exemplo do Programa de Saúde da Família (PSF)

Na Constituição Federal de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) teve

como princípios doutrinários a universalidade, a eqüidade e a integralidade, e, como

diretrizes organizacionais, a regionalização e a descentralização das ações e

serviços de Saúde para os Municípios (PEREIRA; BARCELLOS, 2006). Os

princípios da Saúde foram traduzidos em Leis Orgânicas da Saúde. A Lei n.º 080/90

estabeleceu que os recursos destinados ao SUS fossem provenientes do Orçamento

da Seguridade Social. Em 1994 foi criado o Programa de Saúde da Família (PSF),

reorientando os serviços de atenção básica à saúde no nível intramunicipal. Os

primeiros 55 Municípios que implantaram esse programa colocaram em ação 328

equipes de Saúde da Família. Cada equipe era composta por 1 médico, 1

enfermeiro, 1 auxiliar de enfermagem e de 4 a 6 agentes comunitários de saúde1.

A documentação que regula a política de Saúde tem como eixo a diretriz da

descentralização administrativa. Por isso é fundamental discutir a questão da gestão

da política no território municipal. No que tange à territorialização no campo da

política de Saúde, esta utiliza o termo “adscrição” para descrever a relação entre

território, serviço e população, que diz respeito ao território sob responsabilidade da

Equipe de Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 1997, Portaria n.º 1.886, de 18 dez.

1997). Segundo Martha Priscila Bezerra Pereira e Christovam Barcellos,

foi possível observar que o entendimento sobre o conceito de território varia nos âmbitos federal, estadual e municipal, assim como é diferenciado dentro da própria Equipe de Saúde da Família. Partindo do PSF, a transformação

1 Para ver mais do histórico da saúde no Brasil, acesse http://www.ensp.fiocruz.br/historico_90.cfm. Acesso em: 25 de out. 2010.

26

da realidade local está diretamente relacionada à multiterritorialidade, organizada através da intersetorialidade dentro da Secretaria da Saúde, entre a Secretaria da Saúde e outras Secretarias, e do poder municipal com a comunidade e outras instituições que abrangem escalas geográficas diferenciadas. A delimitação de áreas e microáreas de atuação, essencial para a implantação e avaliação do programa é, em geral, realizada com base apenas no quantitativo de população, sem considerar a dinâmica social e política, inerente aos territórios (PEREIRA; BARCELLOS, 2006, p. 47).

A identificação territorial feita para o Programa de Saúde da Família (PSF),

estabelecida de modo a orientar o Município segundo Neto (2000), é organizada

levando em consideração, também, o reconhecimento da comunidade através da

realização de entrevistas com os moradores e lideranças locais, a sistematização

das informações coletadas, a identificação das microáreas de risco (fatores de risco

e/ou barreiras geográficas ou culturais, indicadores de saúde muito ruins, dentre

outros), a elaboração de um plano de ação, o mapeamento da área de atuação da

Equipe de Saúde da Família, a programação das atividades, acompanhamento e

avaliação da Equipe de Saúde da Família (ESF).

O Manual do Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) 2 orienta as

divisões territoriais dos programas do PSF na lógica da quantidade de população a

ser atendida. O SIAB define o escopo organizativo para a atuação do Agente

Comunitário de Saúde (ACS) por microárea formada por um conjunto de famílias

totalizando de 450 a 750 habitantes. Define também, a área pelo conjunto de

microáreas com aproximadamente 2.400 a 4.500 pessoas (BRASIL, 2003). Já com a

Portaria n.º 1886 do PSF, define-se a área de atuação de uma equipe com o número

de famílias entre 600 e 1.000 famílias (BRASIL, 1997). Cada Agente Comunitário de

Saúde deve atender e acompanhar cerca de 150 famílias ou 750 pessoas (BRASIL,

1997).

Segundo Pereira e Barcellos, o Ministério da Saúde estabeleceu parâmetros

para delimitar o território.

1. A área deve conter um valor máximo de população de modo a permitir um atendimento às suas demandas de saúde (um agente de saúde deve ser responsável por no máximo 150 famílias ou 750 pessoas); 2. O agente deve ser um morador da sua microárea de atuação há pelo menos dois

2 O SIAB é um sistema construído para agregar e para processar as informações sobre a população visitada. Após as visitas, os ACS e técnicos devem registrar as informações nesse sistema. Cada município deve solicitar ao DATASUS a sua instalação (Fonte: www.msa.gov.br).

27

anos; 3. A área deve delimitar comunidades, preferencialmente aquelas mais organizadas, que participem do controle social das ações e serviços de saúde em diversos fóruns como as conferências e conselhos de saúde; 4. A área deve conter uma população mais ou menos homogênea do ponto de vista socioeconômico e epidemiológico, caracterizando áreas homogêneas de risco, ou seja, áreas com as mesmas características; 5. A área deve conter uma unidade básica de saúde (UBS) que será a sede da ESF e local de atendimento da população adscrita; 6. Os limites da área devem considerar barreiras físicas e vias de acesso e transporte da população às unidades de saúde (PEREIRA; BARCELLOS 2006, p.55).

Todas elas são coletadas e processadas no SIAB e, portanto, atualizadas

constantemente pelos próprios agentes de saúde e técnicos da saúde que ficam nos

postos de saúde nos territórios. Este processo favorece a análise processual das

ações, sendo elemento fundamental para o monitoramento e avaliação das mesmas

(BRASIL, 2003).

A área de Saúde, para identificar de forma mais abrangente os territórios para

a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), utilizou-se dos dados do

Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). Outras informações foram retiradas das

bases de dados processadas pelo Departamento de Informática do SUS

(DATASUS) 3. Este possui sistemas e aplicativos orientados para serviços cuja

alimentação e retroalimentação são feitas periodicamente pelos ACS nos postos de

saúde onde se localiza a Equipe de Saúde da Família (ESF). O fato é que uma vez

implantada, a ESF passa a coletar e alimentar regularmente um sistema de

informação que armazena e processa dados específicos sobre a atenção básica na

área adscrita, de forma a permitir uma maior eficiência na orientação dos próprios

serviços do Programa de Saúde à Família (BRASIL, 2007b).

Nota-se, a partir do exposto, que os Municípios têm orientações técnicas do

Ministério da Saúde referente aos dados gerais dos Municípios brasileiros que

disponibiliza dados e aplicativos informacionais para implementar em especial, a

atenção básica e a equipe de Saúde da Família, além de dar diretriz para a

territorialização intramunicipal para implatnação do PSF. As Unidades Básicas de

Saúde também têm acesso ao banco de dados do DATASUS, com o aplicativo do

TABWIN disponível para manuseio e elaboração de diagnósticos atualizados das

3 Órgão da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde. Brasil.

28

famílias do território de circunscrição do Programa de Saúde da Família e das

Equipes de Saúde da Família (BRASIL, 2007b).

Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), nessa atuação territorialmente

demarcada, assumem papel importante, uma vez que são responsáveis por

monitorar permanentemente a situação dos territórios de sua circunscrição. Suas

atribuições básicas estão previstas no subitem 8.14 do Anexo I da Portaria nº

1.886/1997, do Ministro de Estado da Saúde. O exercício da atividade profissional

de Agente Comunitário de Saúde (ACS) está regulamentada pela Lei n.º 10.507, que

cria a profissão de ACS pelo Decreto no 3.189/1999 fixando as diretrizes para o

exercício da atividade de Agente Comunitário de Saúde. Estes ACS assumem,

assim, um papel de agentes da prevenção, com uma extensa programação

específica da saúde (BRASIL, 2002) 4.

Diante do exposto, é possível compreender que o processo de

territorialização da Assistência Social pode ser analisado a partir do processo

ocorrido na área da saúde com o Programa de Saúde da Família (PSF), que, na

concepção da política de Assistência Social seria representado pelo Centro de

Referência da Assistência Social (CRAS), uma unidade de base local,

intramunicipal, responsável por ações de prevenção. De fato, o Ministério de

Desenvolvimento Social (MDS) referenciou-se nesta política para elaborar a Política

Nacional da Assistência Social, guardadas as devidas especificidades desta última

(BRASIL, 2004, Resolução 145). Nota-se que tanto no processo de descentralização

da Saúde quanto da Assistência Social evidencia-se a centralidade federal quanto a

estabelecer portarias, normas e regulamentações dos serviços locais, tanto em

termos de formato desses serviços quanto no que se refere ao financiamento,

deixando para os Municípios a tarefa de elaborar ferramentas capazes de atender às

deliberações oriundas do nível federal, pré-requisito ao financiamento do Governo

Federal para implementar serviços nestes territórios municipais.

Para compreender o novo papel da Assistência Social bem como as suas

funções nos Municípios, a partir do processo de descentralização federativa é

necessário traduzir o percurso de sua institucionalização no Brasil, o qual dividiu a

4 Leia mais informações de legislação da saúde na página da Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde.

29

Assistência Social em níveis de complexidade para determinar procedimentos

diferenciados para demandas específicas para cada público.

2.2 O processo de institucionalização da Assistênci a Social no Brasil

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) de 2004 estabelece como

responsabilidade dos Municípios identifica em seus territórios as áreas vulneráveis

para implantação dos serviços definidos na política de Assistência Social, de acordo

com os níveis de proteção social, quais sejam Proteção Social Básica (PSB) e a

Proteção Social Especial (PSE) de Média e Alta Complexidade. Como mencionado

anteriormente, a Política de Assistência Social ganha status de política pública no

momento em que é incorporada no tripé da seguridade social na Constituição

Federal de 1988, no art. 203 “A Assistência Social será prestada a quem dela

necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social” (BRASIL, 1988,

p. 136). No art. 204, “As ações governamentais na área da Assistência Social serão

realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art.195,

além de outras fontes” (BRASIL, 1988, p. 137). A política de Assistência Social

seguiu as seguintes diretrizes:

I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estaduais e municipais, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II–participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis (BRASIL, 1988, p. 137).

A partir de então, normativas e legislações tornam a Assistência Social mais

dinâmica, ou seja, com esses recursos jurídicos a Assistência Social passa a se

efetivar de fato em todo o território nacional, culminando, em 2004, com a Resolução

145, de 15 de outubro que cria a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) que

estabeleceu princípios e eixos bem como o público prioritário para o atendimento e

diretrizes para o país, na “materialidade do conteúdo da Assistência Social como

pilar do Sistema de Proteção Social Brasileiro” (BRASIL 2004, p. 11, Resolução

145).

30

A Política Nacional de Assistência Social busca incorporar as demandas

claras da sociedade e se responsabilizar por elas, “objetivando tornar claras suas

diretrizes na efetivação da Assistência Social como direito de cidadania e

responsabilidade do Estado” (BRASIL, 2004, p. 13, Resolução 145). Como a

NOB/SUS de 1991, a NOB/SUS de 1993 e a NOB-SUS/1996 na área da Saúde, a

NOB/SUAS/2005 define, respectivamente, o sistema descentralizado e participativo

da Saúde e o da Assistência Social.

2.2.1 A Proteção Social Especial

Segundo a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), o público usuário

da Assistência Social compreende os cidadãos e grupos que se encontram em

situações de vulnerabilidade e riscos, tais como famílias e indivíduos com perda ou

fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida;

desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e/ou no

acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes

formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção

precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e

alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e

social (BRASIL, 2004, Resolução 145).

Para compreender o público da Proteção Social Especial (PSE) é necessário

inicialmente retomar a concepção do termo vulnerabilidade social utilizada como

conceito base para todos os tipos de proteção. A PNAS (BRASIL, 2004, Resolução

145) define uma situação de vulnerabilidade relacionando-a ao ciclo de vida,

crianças e adolescentes de 0 a 18 anos e idosas acima de 60 anos, pessoas com

deficiência e com ausência de renda.

A realidade brasileira nos mostra que existem famílias com as mais diversas situações sócio-econômicas que induzem à violação dos direitos de seus membros, em especial, de suas crianças, adolescentes, jovens, idosos e deficientes, além da geração de outros fenômenos como, por exemplo, pessoas em situação de rua, migrantes, idosos abandonados que estão nesta condição não pela ausência de renda, mas por outras variáveis da exclusão social. Percebe-se que estas situações se agravam justamente nas parcelas da população onde há maiores índices de desemprego e de baixa renda dos adultos (BRASIL, 2004, p.21, Resolução 145).

31

Mediante a definição e identificação do público da Assistência Social e os

conceitos que dão base para implementar serviços e projetos, a especificidade da

Proteção Especial se dá nos vínculos sociais e familiares frágeis, sendo necessários

serviços que dêem conta destas complexidades. A Resolução da Câmara

Intergestores Tripartite (CIT) criou a Tipificação de Serviços Socioassistenciais em

novembro de 2009. Essa Resolução teve como objetivo padronizar as

nomenclaturas e serviços em todo o território nacional. Para a PSE de Média

Complexidade são cinco serviços e para a PSE de Alta Complexidade, quatro

serviços (BRASIL, 2009, Resolução da CIT 109).

A Proteção Social Especial (PSE) de Média Complexidade oferta serviços que

oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, tais

como o trabalho infantil, os atos infracionais cometidas pelos adolescentes, a

violência sexual contra crianças, adolescentes, negligência contra idoso entre

outros. São os seguintes serviços: Serviço Especializado em Abordagem Social;

Serviço de Proteção Social e Adolescentes em Cumprimento de Medida

Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à

Comunidade (PSC); Serviço de Proteção Social Especial a Pessoas com

Deficiência, Idosos (as) e suas Famílias; Serviços Especializados para Pessoas em

Situação de Rua (BRASIL, 2009).

Todos esses serviços devem ser ofertados no Centro Especializado de

Assistência Social (CREAS), cuja localização geográfica deverá ser regionalizada,

de base municipal. Geralmente a base regional segue a divisão política e geográfica

dos Municípios, em especial os maiores onde se dividem em regiões administrativas

para operarem melhor os serviços.

A Proteção Social Especial (PSE) de Alta Complexidade refere-se à proteção

integral a indivíduos e famílias em situação de risco pessoal e social cujos vínculos

familiares foram rompidos ou estão extremamente fragilizados. Os serviços

ofertados são de Acolhimento Institucional, Serviço de Acolhimento em República,

Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, Serviço de Proteção em situações

de Calamidades Públicas e de Emergências. Nota-se que a PSE tem uma estreita

relação com o Sistema de Garantia de Direitos, pois, o público desta proteção é

encaminhado pelos Conselhos de Direito e juizados (BRASIL, 2009, Resolução da

CIT 109).

32

2.2.2 A Proteção Social Básica

A Proteção Social Básica (PSB) está voltada para ações de prevenção de

situações de risco a populações localizadas em territórios intramunicipais

vulneráveis. Destina-se, portanto, à população que vive em situação de

vulnerabilidade social decorrente da pobreza e privação derivada da ausência de

renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, deficiência física e mental,

dentre outras. Os serviços de Proteção Social Básica devem ser executados de

forma direta nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), como já dito

anteriormente, tratando-se da unidade de base local, intramunicipal, que deverá

estar inserida em locais onde foi identificada, em cada Município, a população mais

vulnerável (BRASIL, 2004, Resolução 145).

Segundo a Tipificação de Serviços Socioassistenciais, a Proteção Social

Básica (PSB) oferta três serviços. São eles o Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à família (PAIF); Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos e o

Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para pessoas com deficiência e

idosas. O público específico dessa proteção é aquele que se encontra em

vulnerabilidade social cujos vínculos sociais e pessoais ainda não foram rompidos,

estando somente fragilizados (BRASIL, 2009, Resolução da CIT 109).

A importância de se identificar esse público se dá justamente pela

necessidade de estabelecer a territorialização do CRAS, equipamento que executará

os serviços da PSB. Quadro 1, abaixo, traz a descrição dos serviços da PSB, com

seus respectivos públicos-alvo.

33

Continua Serviços da

PSB Usuários

Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF

Famílias em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, do precário ou nulo acesso aos serviços públicos, da fragilização de vínculos de pertencimento e sociabilidade e/ou qualquer outra situação de vulnerabilidade e risco social residentes nos territórios de abrangência dos CRAS, em especial: - Famílias beneficiárias de programas de transferência de renda e benefícios assistenciais; - Famílias que atendem os critérios de elegibilidade a tais programas ou benefícios, mas que ainda não foram contempladas (recorte de renda igual ou abaixo de ¼ do salário mínimo vigente); - Famílias em situação de vulnerabilidade em decorrência de dificuldades vivenciadas por algum de seus membros; - Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de vulnerabilidade e risco social (vulnerabilidade pelo ciclo de vida e risco referente à violação de direitos tais como violência sexual, maus tratos, negligência roubo entre outros);

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

Crianças de até 6 anos, em especial: - Crianças com deficiência, com prioridade para as beneficiárias do BPC; - Crianças cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda; - Crianças encaminhadas pelos serviços da proteção social especial (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI); serviço de proteção social especial a indivíduos e famílias; reconduzidas ao convívio familiar, após medida protetiva de acolhimento; e outros); - Crianças residentes em territórios com ausência ou precariedade na oferta de serviços e oportunidades de convívio familiar e comunitário; - Crianças que vivenciam situações de fragilização de vínculos. - Crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, em especial: - Crianças e adolescentes com deficiência, com prioridade para as beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC); - Crianças e adolescentes cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda; - Crianças e adolescentes de famílias com precário acesso a renda e a serviços públicos e com dificuldades para manter. - Crianças encaminhadas pelos serviços da proteção social especial (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI); serviço de proteção social especial a indivíduos e famílias; reconduzidas ao convívio familiar, após medida protetiva de acolhimento; e outros); - Crianças e adolescentes com deficiência, com prioridade para as beneficiárias do BPC; - Crianças e adolescentes cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda; - Crianças e adolescentes de famílias com precário acesso a renda

34

e a serviços públicos e com dificuldades para se manter. Adolescentes e Jovens de 15 a 17 anos, em especial: - Adolescentes e Jovens pertencentes às famílias beneficiárias de programas de transferência de renda; - Adolescentes e Jovens egressos de medida socioeducativa de internação ou em cumprimento de outras medidas socioeducativas em meio aberto, conforme disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente - Adolescentes e Jovens em cumprimento ou egressos de medida de proteção, conforme disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990; - Adolescentes e Jovens do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) ou Adolescentes e Jovens egressos ou vinculados a programas de combate à violência e ao abuso e à exploração sexual; - Adolescentes e Jovens de famílias com perfil de renda de programas de transferência de renda; - Jovens com deficiência, em especial beneficiários do BPC; - Jovens fora da escola. Idosos (as) com idade igual ou superior a 60 anos, em situação de vulnerabilidade social, em especial: - Idosos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada; - Idosos de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda; - Idosos com vivências de isolamento por ausência de acesso a serviços e oportunidades de convívio familiar e comunitário e cujas necessidades, interesses e disponibilidade indiquem a inclusão no serviço.

Serviço de Proteção

Social Básica no domicílio

para pessoas com

deficiência e idosas

Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situação de vulnerabilidade social pela fragilização de vínculos familiares e sociais e/ou pela ausência de acesso a possibilidades de inserção, habilitação social e comunitária, em especial: - Beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC); - Membros de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda

Quadro 1: Serviços da Proteção Social Básica e seus usuários

Fonte: BRASIL, Resolução da CIT 109 – Tipificação de Serviços Socioassistenciais. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS). Brasília, 22 de Novembro de 2009.

Este quadro contém informações sobre o público que os serviços

socioassostenciais da Proteção Social Básica devem buscar para o atendimento no

CRAS. Pode ser notada a diversidade do público para cada perfil de serviço no

atendimento aos mesmos. Para melhor compreender a estrutura proposta pelo

SUAS, faz-se necessário discutir o processo de construção dos territórios da PSB no

SUAS.

35

Ressalta-se, portanto, nas disposições da Política Nacional de Assistência

Social (PNAS) a importância de localizar o público alvo para as ações específicas da

PSB. Esse perfil de público, em grande medida, está localizado em territórios de

grande concentração de população vulnerável e, portanto, tidos para a PNAS como

territórios prioritários de intervenção. É justamente nesses territórios e para esse

púbico que se voltam as ações socioassistenciais da política de Proteção Social

Básica nos CRAS. Portanto, localizá-los significa localizar territorialmente bem esse

equipamento de modo que ele possa atender de fato a especificidade de seu

público.

Nesse sentido, é preciso discutir o papel do Ministério de Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (MDS). Este órgão federal foi criado em 23 de Janeiro de

2004, com a responsabilidade de coordenar, supervisionar, controlar e avaliar a

execução dos programas de transferência de renda, como o Programa Fome Zero

do Governo Federal (BRASIL, 2004, Resolução 145). São quatro Secretarias que

fazem parte do MDS: Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(SAN), Secretaria Nacional de Assistência Social (SAS), Secretaria Nacional de

Renda e Cidadania (SNARC) e Secretaria Nacional de Avaliação e Gestão da

Informação (SAGI). O MDS, a partir de sua criação, assumiu a responsabilidade de

construir instrumentos jurídicos com o objetivo de normatizar a política de

Assistência Social no Brasil.

O Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), a partir da Política Nacional

de Assistência Social de 2004, como dito anteriormente, passou a categorizar o

público da Assistência Social segundo o grau de vulnerabilidade, em Proteção Social

Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE) estabelecendo, então, formas de

intervenção e procedimento no nível estadual e municipal, co-responsabilizando os

entes federados pela condução do trabalho e pelo emprego dos recursos. A política

de Assistência Social passa a ser estruturada por princípios e dentre eles encontra-

se o princípio da territorialização levando os serviços mais próximos da população.

No capítulo seguinte será apresentado o processo utilizado pelo MDS para

tentar conhecer amplamente o universo populacional brasileiro, segundo as

vulnerabilidades afetas a cada tipo de proteção social. Esse processo é importante

pelo fato de ter sido a partir dele que o MDS organizou suas ações de

cofinanciamento aos Municípios, descentralizando os recursos financeiros de acordo

com a complexidade de cada Município.

36

3 O PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA AS SISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

O modelo de gestão administrativa da Assistência Social adotado até a

década de 1980 não pressupunha diretriz única aos Municípios, característica que

somente surgiu com a Constituição Federal de 1988. Esse modelo de gestão tinha

uma especificidade, voltada para a avaliação dos serviços, que até hoje perdura e

que representa uma limitação, muitas vezes, para a operacionalização de serviços

assistenciais. Durante o período militar, a Assistência Social não existia como

política pública, de direito do cidadão e dever do Estado e tampouco possuía uma

uniformidade. Com isso, tal modelo de gestão não tinha condições de avaliar os

resultados das ações e programas que eram desenvolvidos no âmbito municipal.

Somente a partir de um grande movimento da sociedade civil, na década de 1990,

que deu iniciou-se uma pressão social no Congresso Nacional para aprovar leis

específicas da Assistência Social, como por exemplo, a Lei Orgânica da Assistência

Social (LOAS), 8.742 de Dezembro de 1993 que normatizou os artigos 203 e 204 da

Constituição Federal de 1988, dando organicidade à Assistência Social no país

(BRASIL, 1993).

No Brasil, até então, a Assistência Social era desenvolvida por meio de

filantropia. Esse formato de ação teve início em 1942, com a criação da Legião

Brasileira de Assistência (LBA), entidade criada na época da segunda guerra

mundial para dar assistência aos feridos da guerra e seus familiares. Os programas

eram desenvolvidos por entidades filantrópicas que, segundo Arretche (1996),

executavam diretamente os serviços da Assistência Social, além de atender de

forma aleatória o público. A extinção da Legião Brasileira de Assistência se deu no

ano de 1995, quando um decreto presidencial assinado pelo Fernando Henrique

Cardoso colocou um ponto final na sua história.

A Assistência Social passa, então, a ser uma política não contributiva voltada

para quem dela necessitar, visando basicamente à proteção à família, à

maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, bem como aos deficientes além

da reintegração ao mercado de trabalho daqueles que necessitarem. A política da

Saúde, no texto da Constituição Federal de 1988, está garantida como direito de

37

todos e dever do Estado, mediante ações que visem reduzir os riscos de doença

bem como os seus agravamentos, tendo o acesso aos serviços de saúde pública a

garantia da universalidade do atendimento (BRASIL, 1988).

Nota-se que, em tese, a diferença primordial entre as atividades das políticas

sociais, Saúde e Assistência Social reside na universalidade do atendimento, tendo

a política de Assistência Social um alcance definido a partir da necessidade do

usuário, compreendida posteriormente com a aprovação da Lei Orgânica da

Assistência Social (LOAS), em 1993 como mínimos sociais. Cabe destacar, embora

não seja o foco dessa discussão, o caráter da focalização versus a universalidade

do atendimento na área da Assistência Social.

As discussões atuais tendem a caracterizar a política de Assistência Social

como universal a partir da proposta de atenção integral às famílias com suas

necessidades múltiplas, podendo acessar os serviços da Assistência Social quem

dele necessitar, característica que a faz não ser focalizada. Porém, ao retratar nessa

discussão a questão do público prioritário, isso não significa focalizar o público, mas

sim dar uma atenção às especificidades definidas por resoluções e que são afetas

prioritariamente a algumas famílias.

Já a Previdência Social tem caráter contributivo e visa assegurar benefícios

àqueles com algum tipo de limitação ou vicissitude, seja por incapacidade física,

idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e

reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Para

regulamentar e institucionalizar os avanços alcançados na Constituição Federal de

1988 tornou-se fundamental a aprovação de leis orgânicas.

A trajetória para a aprovação dessas leis exigiu um complexo procedimento

de organização a partir dos princípios preconizados na Constituição Federal de

1988. A área da Saúde, por exemplo, alcançou um avanço na VIII Conferência

Nacional de Saúde, quando foi aprovada a lei orgânica em 19/09/1990. Na área da

Previdência Social, a Lei Orgânica específica dessa área foi aprovada em

27/09/1991. Por fim, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) foi aprovada em

1993, inaugurando uma nova era para a Assistência Social brasileira, ao romper

com uma tradição cultural e política do favor e da benesse, além de retratar

textualmente em lei, um modelo de gestão descentralizado e participativo,

38

promovendo a integração da Assistência Social às demais políticas públicas com o

objetivo de elevar o atendimento mínimo das necessidades básicas dos cidadãos

brasileiros.

Portanto, a Assistência Social se consolida de fato como política pública a

partir da Constituição Federal de 1988 e da LOAS em 1993. Em 1997, com a II

Conferência Nacional de Assistência Social, cujo tema, “Sistema Descentralizado e

Participativo: construindo a inclusão e a universalização de direitos”, possibilitou

passos importantes para a gestão descentralizada da política de Assistência Social,

consolidando-se em 1998 com a aprovação da primeira Política Nacional de

Assistência Social, e a partir destas, duas Normas Operacionais com o papel de criar

regras para o repasse de recursos públicos do Fundo Nacional de Assistência Social

aos Estados e Municípios. A partir da Norma Operacional Básica de 1998 (NOB/98)

o repasse ficou vinculado à criação dos conselhos e dos fundos em cada esfera de

governo subnacional, Estados e Municípios.

Considerando o Brasil um país diverso do ponto de vista tanto da ocupação

territorial quanto das características da sua população, além das diferentes

necessidades que ela apresenta, a LOAS focaliza suas diretrizes no atendimento

aos cidadãos em situação de vulnerabilidade e pobreza, concepção essa ratificada

na IV Conferência Nacional de Assistência Social, em 2003, que apontou a

construção e implementação do Sistema Único da Assistência Social, requisito

essencial da LOAS para dar efetividade à Assistência Social como política pública.

Em 2004, é aprovada a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) pela

Resolução número 14, de outubro daquele ano, e regulamentada pelo Sistema

Único da Assistência Social (SUAS) em 2005.

Nesse sentido, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) vem sendo

estruturada desde 1988, a partir da Constituição Federal (CF), cujas bases legais

estabeleceram novos procedimentos aos três entes federados Estados, Municípios e

a Federação no que se refere à gestão administrativa e financeira dessa política,

uma vez que a reconheceu de fato como uma política pública de direito, além de ter

definido, também, que a prioridade de ação deverá se concentrar em territórios

municipais que possuam grandes desigualdades sociais e econômicas bem como

deverá direcionar ações públicas para as famílias residentes nele. O caráter pontual

39

da ação da política e sua execução basicamente através de projetos e programas

foram substituídos pela prestação de serviço continuado, fazendo com que os

Municípios passassem a ter uma visão diferenciada acerca das ações que até então

desempenhavam, de forma pouco organizada, sem procedimentos de

monitoramento e sem financiamento continuado (BRASIL, 2004, Resolução 145).

O conteúdo do SUAS engloba o conhecimento, por parte dos gestores

estaduais e em especial os gestores municipais, sobre a realidade de seu Município,

o conhecimento sobre a demanda de proteção social e o cálculo sobre a capacidade

operativa da rede socioassistencial sobre a capacidade de proteção da família e do

território, o padrão de financiamento e o controle social no que tange à capacidade

da sociedade em intervir nas políticas públicas em geral para garantir seus direitos.

A NOB/SUAS assegura a regulação estatal sobre a atividade pública, prevendo a

participação da população e da sociedade na formulação e controle das ações e o

comando único das ações em cada esfera de governo (BRASIL, 2005, Resolução

130).

No caminho da consolidação do processo de descentralização administrativa

da política de Assistência Social, a partir da NOB/SUAS, em 2005, destaca-se o

processo de territorialização, a descentralização político-administrativa, a

matricialidade sociofamiliar, ou seja, o foco na família e não mais em membros de

uma família de forma isolada, tendo como premissa básica a centralidade da família.

A centralidade da família é garantida à medida que na Assistência Social, com base em indicadores das necessidades familiares, se desenvolva uma política de cunho universalista, que em conjunto com as transferências de renda em patamares aceitáveis se desenvolva, prioritariamente, em redes socioassistenciais que suportem as tarefas cotidianas de cuidado e que valorizem a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2004, p, 26, Resolução 145).

O financiamento partilhado entre os entes federados e a informação,

monitoramento, avaliação e sistematização de resultados, o que dá garantia à

diretriz da vigilância socioassistencial, e os objetivos da NOB/SUAS, pautam-se na

redefinição das funções dos entes federados, atribuindo um poder maior aos

Municípios (BRASIL, 2004, Resolução 145). Trata-se, portanto, como já

40

mencionado, de organizar a ação de política pública levando em consideração a

situação social da família, ou seja, o seu grau de vulnerabilidade social, aqui definido

pela Política Nacional de Assistência Social (PNAS), em específico o público da

proteção básica, como decorrente da pobreza, privação, ausência de renda, precário

ou nulo acesso aos serviços públicos e/ou fragilização de vínculos afetivos e

relacionais de pertencimento social, focalizando um determinado público, qual seja,

crianças, adolescentes e idosos, pessoas com deficiência e famílias provenientes de

programas de transferência de renda, especificamente do Programa Bolsa Família e

aqueles que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) (BRASIL, 2004,

Resolução 145).

Vale destacar que esse público prioritário de atendimento deve ser

identificado e referenciado a um território intramunicipal de características também

vulneráveis relacionadas à infra-estrutura urbana tais como acesso a rede de

esgoto, à coleta domiciliar de lixo, a água potável e rede de esgoto oficial (BRASIL,

2004, Resolução 145). Recentemente o MDS emitiu uma resolução (Resolução CIT

7, de 10 de setembro de 2009), aprovada pela Comissão de Intergestores Tripartite

(CIT)5, regulamentando qual é o público prioritário de fato do atendimento da

Assistência Social, reforçando o seu papel de proteção social, além do enfoque na

necessidade dos Municípios construírem sistemas de informações com atualizações

permanentes para a identificação desse público. Mais do que isso, ele orienta o

planejamento das ações uma vez que exige o conhecimento e a identificação das

famílias prioritárias para o atendimento (BRASIL, 2009, Resolução 07).

Segundo Arretche (1996), os avanços advindos da reforma do Estado e, no

seu bojo, o processo de descentralização administrativa, a fragmentação e os

desequilíbrios existentes na federação brasileira fez com que o governo central, e

neste caso o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) ou fosse o emissor do

corpo de normas, leis, portarias e normativas destinadas à regulação do sistema,

5 O Protocolo de Gestão Integrada, aprovado pela Resolução nº 07/2009 da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), tem como objetivo disciplinar a integração da gestão dos serviços, benefícios e programas e transferências de renda do governo federal que compõem a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), tais como o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC), Programa Bolsa Família (PBF) e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). www.mds.gov.br – SUAS/Proteção Social Básica, Brasil, 2009. Acessado em: 12 de outubro de 2010.

41

ordenando os municípios por meio de documentos normativos. O fato é que essas

normas nem sempre alcançam o que se pretende, o que remete a uma discussão

sobre a potencialidade de normas para regular fatos sociais, ou seja, criam-se

normas inicialmente a partir de uma compreensão macro, em nível federal, da

sociedade e de seus problemas, deixando a cargo dos Municípios a sua aplicação,

dentro de um quadro de grande heterogeneidade municipal. Nesse caso específico

da regulamentação sobre o público prioritário, é necessária a sua localização

geográfica, cabendo aos Municípios essa tarefa. Atente-se para o fato de que, se o

processo de descentralização requer um comportamento operacional único para a

assistência social em todo território nacional, o MDS deverá, também, emitir

normativas descrevendo os processos executivos necessários ao cumprimento

dessa deliberação, a iniciar pelos procedimentos necessários ao ordenamento

territorial para implementar a política.

3.1 O território para a Política de Assistência Soc ial no Brasil

Diante do desafio de enfrentar as desigualdades sociais, o reordenamento

das ações da Assistência Social pautou-se tanto pela descentralização

administrativa na definição das competências dos entes federados, quanto pelo

financiamento dos serviços e ações da Assistência Social, além da necessidade de

produção sistemática de dados com fins de monitorar e avaliar a eficiência do

emprego dos recursos financeiros no conjunto de serviços criados para atender as

novas exigências e normativas da política. Pautou-se, também, pela territorialidade e

pela matricialidade sociofamiliar, ou seja, a família vista como um todo sem focalizar

apenas parte dos membros da família.

Embora a família per se não seja o centro dessa discussão, ela ocupa lugar

central na política de Assistência Social e passa a ser um dos objetos dessa política

uma vez que as vulnerabilidades que se encontram nas famílias estão

regulamentadas em níveis de proteção diferenciadas de acordo com os problemas

42

enfrentados por essas famílias no cotidiano de cada uma delas. Essa tônica na

família é o ponto central das ações e serviços continuados da Assistência Social e

traçar o perfil dessas famílias nos territórios mais vulneráveis passa a ser dever do

Município. A Assistência Social tem o trabalho direcionado para a análise e

execução de ações voltadas para tipos de complexidades sociais equivalentes entre

indivíduos de forma a pensar ações continuadas mais abrangentes a partir da

recorrência dos fatos sem perder o foco da especificidade de cada família no

território nacional (BRASIL, 2004, Resolução 145).

O princípio da territorialização possibilita orientar a proteção social de assistência social: na perspectiva do alcance de universalidade de cobertura entre indivíduos e famílias sob situações similares de risco e vulnerabilidade; a possibilidade de aplicar o princípio de prevenção e proteção pró-ativa, nas ações de assistência social; a possibilidade de planejar a localização da rede de serviços a partir dos territórios de maior incidência de vulnerabilidade e riscos (BRASIL, 2005, p. 16, Resolução 130).

A questão da territorialização está presente na rede socioassistencial sob os

critérios de oferta de serviços baseada na proximidade da moradia do cidadão, cuja

localização dos serviços passa a seguir a lógica de territórios mais concentradores

de riscos sociais e, portanto, também mais vulneráveis. O desafio passa a ser o de

criar instrumentos operacionais para, depois de localizar esses territórios vulneráveis

e de risco, localizar as necessidades sociais das famílias residentes nesses

territórios, além de manter os dados acerca delas atualizados, sistematicamente.

Esse mapeamento dever ser feito de modo a formular um panorama territorial a ser

trabalhado e se torna condição para que os Municípios, na ocasião da sua

habilitação jurídica junto ao Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), possam

fornecer dados para investimentos financeiros do MDS em determinados serviços

pertinentes ao perfil de vulnerabilidade cada Município brasileiro (BRASIL, 2004,

Resolução 145).

O MDS, ao elaborar a subdivisão federativa para operacionalizar as diretrizes

da Política Nacional de Assistência Social criando condições jurídicas para a

habilitação dos Municípios, utilizou os dados do Censo Demográfico de 2000, além

dos dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD) de 2002 e, a

43

Síntese de Indicadores Sociais de 2003 elaborada a partir das informações da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2002, também, levada a

cabo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), todas elas como

fonte para compor o estudo sobre determinadas características e especificidade de

cada Município brasileiro (BRASIL, 2004, Resolução 145).

O MDS, através da Política de Assistência Social, dividiu os Municípios

brasileiros segundo o tamanho populacional, em porte pequeno I, II, médio, grande e

metrópole com base nos dados do IBGE e no Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH). Esta divisão subsidiou a classificação dos Municípios por tipo de gestão

jurídica e administrativa, sendo elas a Inicial, Básica e Plena 6. A Tabela 1 apresenta

a classificação feita pelo IBGE em 2000 e pelo MDS, dos Municípios brasileiros de

acordo com o total de habitantes. Essa classificação orientou, posteriormente,

segundo o MDS, o número mínimo de CRAS por Município brasileiro (BRASIL, 2004,

Resolução 145).

TABELA 1

Classificação dos municípios segundo total de habit antes – Brasil – 2000 Classificação

dos municípios

segundo total de habitantes

Total de municípios

População total

População rural

População Urbana

% rural

% urbano

Pequenos I (até 20.000

hab.)

4.018 33.437.404 15.022.174 18.415.230 44,93 55,07

Pequenos II (de 20.001 a 50.000 hab.)

964 28.832.600 9.734.706 19.097.894 33,76 66,24

Médios (de 50.001 a

100.000 hab.)

301 20.928.128 3.940.021 16.988.107 18,83 81,17

Grandes (de 100.001 a

900.000 hab.)

209 50.321.723 2.332.987 47.988.736 4,64 95,36

Metrópoles (mais de

900.000 hab.)

15 36.279.315 815.323 35.463.992 2,25 97,75

TOTAL 5.507 169.799.170 31.845.211 137.953.959 18,75 81,25

Fonte: BRASIL. IBGE, 2000. Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002.

6 Sobre os requisitos das três gestões, ver Norma Operacional Básica da Assistência Social/Sistema Único de Assistência Social, 2005, p. 35-38. Brasília. 2005.

44

A Norma Operacional Básica (BRASIL, 2005, Resolução 130) reforça a

necessidade de construção de um sistema de informação atualizado que de fato

possa apontar os problemas concretos de territórios intramunicipais:

(...) trata-se de identificar os problemas concretos, as potencialidades e as soluções, a partir de recortes territoriais que identifiquem conjuntos populacionais em situações similares, e intervir através das políticas públicas, com o objetivo de alcançar resultados integrados e promover impacto positivo nas condições de vida (BRASIL, 2005, p.44, Resolução 130).

É importante compreender, portanto, que o reconhecimento físico do território

intramunicipal mais vulnerável é o primeiro passo para a caracterização do público

prioritário da política de Assistência Social, bem como para o monitoramento e

avaliação dos serviços prestados a ele. O MDS aponta para a necessidade de

trabalhar sob a ótica da prevenção, que se faz através da presença cotidiana do

Estado nesses territórios, tendo os Centros de Referencia de Assistência Social

(CRAS) como o equipamento público mais próximo da população, voltado para o

cumprimento de ações preventivas.

O número de famílias referenciadas em cada CRAS é estabelecido segundo o

porte populacional do Município, segundo as diretrizes da PNAS, segundo os

requisitos previstos no art. 3 da LOAS e em seu parágrafo único, acrescido pela Lei

nº. 9720/98 que, entre outras disposições, define a estrutura física e, também, a

relacionada ao número de técnicos para cada CRAS, em áreas de maior

vulnerabilidade social, para gerenciar e executar ações de proteção básica no

território referenciado. Em se tratando de metrópole, por exemplo, a PNAS

estabelece que os Municípios devem implantar CRAS em territórios de até cinco mil

famílias (BRASIL, 2004, Resolução 145).

O Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) não produziu normativa

específica para orientar os Municípios, segundo o porte, na delimitação territorial

para implementar os serviços da Proteção Social Básica (PSB) através do CRAS.

Toda a discussão feita pelo MDS nos seus documentos acerca da territorialização

refere-se a uma definição territorial para distribuição de recursos financeiros,

exigindo dos Municípios procedimentos operacionais e de cumprimento de requisitos

45

como condicionantes do co-financiamento, sendo eles a “habilitação aos níveis de

gestão Plena ou Básica, a distribuição do mínimo estabelecido para cada porte ao

maior número possível de Municípios” (BRASIL, 2005, p. 54-55, Resolução 130).

Outros critérios além do porte populacional dos municípios, é a taxa de

vulnerabilidade social por estado e o cruzamento de indicadores socioterritoriais e de

cobertura, conforme especificado a seguir:

O indicador Taxa de Vulnerabilidade Social tem peso 2 (dois) os demais indicadores (básicos ou complementares) têm peso 1 (um). A avaliação de cada indicador será feita através de atribuição de valores representativos que variarão de 0 a 1. O valor 1 designa a melhor situação no indicador analisado. O valor 0 designa a pior condição no indicador analisado. Esses indicadores deverão ser normalizados para se fazer o cruzamento, a cargo do gestor federal. Desta forma, a soma total dos valores representativos de cada indicador, em cada escala de porte populacional municipal analisada, não deverá ser inferior a valor 0, nem superior ao valor 5; A soma total dos valores representativos do conjunto dos 5 indicadores básicos e complementares definirá a classificação do município na ordem de prioridade para distribuição dos recursos; A ordem de prioridade será estabelecida em escala crescente, do menor valor obtido na soma total do conjunto dos indicadores para o maior (BRASIL, 2005, p. 54, Resolução 130).

A combinação desses critérios classifica os Municípios em escala de

prioridades para a expansão do co-financiamento federal para a Proteção Social

Básica (BRASIL, 2005, Resolução 130). O Quadro 2 mostra as variáveis orientadas

para composição da Taxa de Vulnerabilidade Social criadas pelo MDS. Consideram-

se como população vulnerável as pessoas residentes que apresentem pelo menos

uma das características descritas no Quadro 2 abaixo.

46

Variáveis Fonte Ano de produção do dado

Famílias que residem em domicílio com serviços de infra-estrutura inadequados. Conforme definição do IBGE, trata-se dos domicílios particulares permanentes com abastecimento de água proveniente de poço ou nascente ou outra forma, sem banheiro e sanitário ou com escoadouro ligado à fossa rudimentar, vala, rio, lago, mar ou outra forma e lixo queimado, enterrado ou jogado em terreno baldio ou logradouro, em rio, lago ou mar ou outro destino e mais de 2 moradores por dormitório.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Família com renda familiar per capita inferior a um quarto de salário mínimo.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Família com renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo, com pessoas de 0 a 14 anos e responsável com menos de 4 anos de estudo.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Família na qual há um chefe mulher, sem cônjuge, com filhos menores de 15 anos e ser analfabeta.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Família na qual há uma pessoa com 16 anos ou mais, desocupada (procurando trabalho) com 4 ou menos anos de estudo.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Família na qual há uma pessoa com 10 a 15 anos que trabalhe.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Família na qual há uma pessoa com 4 a 14 anos que não estude.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Família com renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo, com pessoas de 60 anos ou mais.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Família com renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo, com uma pessoa com deficiência.

IBGE, Censo Demográfico

PNAD

2000 (2001 em diante)

Quadro 2: Composição de variáveis para construção d a Taxa de Vulnerabilidade Social

Fonte: BRASIL, Norma Operacional Básica da Assistência Social – NOB SUAS, 2005, p. 51-52.

No que tange ao critério de cruzamento de indicadores socioterritoriais e de

cobertura para a hierarquização de municípios dentro de cada estado, com vistas ao

financiamento da Proteção Social Básica no SUAS, o MDS adotou os princípios

referentes ao “porte populacional dos Municípios, a taxa de vulnerabilidade por

estado, garantindo a distribuição de recursos para os Municípios através da divisão

proporcional ao total da população vulnerável” (BRASIL, 2004, p. 52, Resolução

145).

47

Em relação ao financiamento, conforme previsto pela Constituição Federal, a

Assistência Social deve ser financiada com a participação de toda a sociedade,

mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, do Distrito Federal, dos

Estados e Municípios e das diversas contribuições sociais (BRASIL, 1988). Os

recursos de cada ente federado para a execução da Política Nacional de Assistência

Social são alocados em seus orçamentos. Os recursos federais do cofinanciamento

da Assistência Social são alocados no Fundo Nacional de Assistência Social

(FNAS), ao passo que os recursos do Distrito Federal e dos Estados e Municípios

são alocados, respectivamente, no Fundo de Assistência Social do Distrito Federal

(FAZ/DF) e nos Fundos Estaduais e Municipais de Assistência Social constituídos

como unidades orçamentárias. O art. 19, incisos V e VI, da Lei Federal nº 8.742

(LOAS), de 1993, estabelece como competência do MDS a responsabilidade pela

coordenação da Política Nacional de Assistência Social propondo os critérios e

procedimentos para as transferências de recursos em seu âmbito (BRASIL, 2005,

Resolução 130).

A Norma Operacional Básica (NOB/SUAS) define as condições gerais, os

mecanismos e os critérios de partilha para a transferência de recursos federais para

o Distrito Federal, Estados e Municípios. Estas diretrizes também, se encontram no

art. 18, inciso IX, da LOAS, prevendo a utilização de indicadores para partilha dos

recursos trazendo, assim, o desafio de relacionar informações sociais, econômicas,

demográficas e cadastrais com as escalas territoriais e as diversidades regionais

presentes no desenho federativo do país, além de trazer, ainda,

o desafio de estabelecer, com base nesses indicadores, partilha e distribuição de recursos fundamentada em metodologia objetiva e critérios públicos e universais que sejam, ao mesmo tempo, transparentes e compreensíveis por todas as instâncias que operam a política de assistência social, em especial, aquelas incumbidas do controle social (BRASIL, 2005, p. 50-51, Resolução 130).

Sob essa premissa, merece destaque a orientação do nível federal para a

utilização de dados primários oriundos de uma única fonte de dados, uma vez que,

segundo o MDS, criar uma dependência de dados por via de outros órgãos e

secretarias poderá tornar a coleta de informações pouco ágil. Para os Municípios

fica a responsabilidade de construir metodologias capazes de processar resultados a

48

partir de coleta de dados, que de fato demonstrem o grau de precaridade da sua

população.

De fato os Municípios recebem recursos financeiros segundo informações

prestadas. Embora o CadÚnico dos Programas Sociais esteja descrito na lei de sua

criação como instrumento para os programas que deve ser utilizado e alimentado

pelos municípios, o MDS não estabelece nenhuma norma específica para que os

seus dados sejam prioritariamente utilizados para auxiliar nos cálculos para compor

os critérios de partilha para transferência dos recursos federais (BRASIL, 2004,

Resolução 145).

Além da diretriz para a composição do diagnóstico social e populacional, cabe

à esfera municipal analisar o perfil de seu território, construindo quatro indicadores

apresentados como necessários a esta análise, sendo três básicos e um

complementar. O Quadro 3 apresenta os três indicadores fixos pré-estabelecidos

pela NOB/SUAS, comuns a todas as escalas de porte populacional Municipal (porte

I, II, médio, grande e metrópole) como elementos para a composição do quadro da

taxa de vulnerabilidade social populacional, por Município.

Indicador Descrição FONTE ANO Taxa de

vulnerabilidade social municipal

Relação entre a população vulnerável e o porte do

município.

IBGE, Censo Demográfico (micro dados da amostra);

2000

Receita corrente líquida municipal

per capita

Relação entre a receita corrente líquida municipal e a população estimada

Ministério da Fazenda – Secretaria do

Tesouro Nacional (receita) e IBGE

(população);

2003

Recursos transferidos pelo

FNAS (MDS) para Proteção Social

Básica per capita

Relação entre o volume de recursos transferidos pelo FNAS para o FMAS e a

população estimada

- MDS/FNAS/SUASweb

(transferência); - IBGE (população).

2005

Quadro 3: Indicadores Básicos para composição socio territorial.

Fonte: BRASIL, Norma Operacional Básica da Assistência Social – NOB SUAS, 2005, p.43.

O Quadro 4 apresenta o indicador complementar somente para metrópole,

isto é “um indicador variável, sensível às especificidades de cada escala de porte

populacional municipal e relacionado às particularidades de cada Estado ou região”

49

(BRASIL, 2005, p. 53, Resolução 130). O MDS acredita conseguir com esses

indicadores testar se a variável é sensível ao que se pretende identificar, ou seja, o

grau de vulnerabilidade dos Municípios.

Variável Descrição Fonte Ano

Taxa de homicídios Relação entre o número de óbitos por homicídio e a população total

IBGE, Estimativas de população e

Ministério da Saúde. 2003

Taxa de homicídio de jovens

Relação entre o número de óbitos por homicídio de pessoas de 15 a 29 anos e a população de 15 a 29 anos

IBGE, Estimativas de população e

Ministério da Saúde. 2003

Taxa de mortalidade infantil

Relação entre o número de óbitos de crianças menores de um ano e o número de nascidos vivos no ano.

Ministério da Saúde 2003

Taxa de intensidade da Pobreza

Distância que separa a renda domiciliar per capita média dos indivíduos pobres (definidos como os indivíduos com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, ou meio salário mínimo) do valor da linha de pobreza, medida em termos do percentual desta linha de pobreza.

Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD-IPEA-FJP)

2000

Taxa de crescimento da população residente

Variação percentual da população residente estimada

Estimativas de população do IBGE

2004

Quadro 4: Escala Nacional - Indicador Complementar para Metrópoles.

Fonte: BRASIL, 2009. Instância de Pactuação: Comissão Intergestores Tripartite – CIT; por meio do executivo municipal e os respectivos estados, pelas CIB.

Na subseção seguinte serão discutidos os procedimentos utilizados pelo MDS

para identificação do público mais vulnerável nos Municípios. Vale ressaltar que a

identificação desse público deveria orientar os gestores públicos no processo de

implantação de CRAS em territórios intramunicipais.

50

3.2 O MDS e a identificação da população alvo dos s erviços de Proteção Social Básica o município

Como visto, é de grande importância o estudo da distribuição territorial

municipal de diferentes perfis sociodemográficos para as políticas sociais em geral,

e para a Assistência Social, em particular. Contudo, para que tenha o efeito

esperado é preciso organizar e trabalhar com dados que de fato reflitam as

condições de vida da população e a sua localização específica dentro do Município.

Porém, o fato de relevância para estudos territoriais é que a sua metodologia

possibilite tratar o território de forma desagregada em unidades espaciais menores,

sobretudo espaços intramunicipais.

Os dados utilizados pelos Sistemas Geográficos de Informação (SIG)

permitem a utilização dos setores censitários 7 ou áreas de ponderação 8 dos

Censos Demográficos do IBGE, abrindo perspectivas de pesquisa em um grau de

detalhamento intramunicipal. Entretanto, mesmo o Censo Demográfico sendo uma

fonte de dados poderosa, e dispondo de dados desagregados até o nível

intramunicipal, a coleta desses dados é feita decenal, o que o torna paulatinamente

obsoleto (CUNHA; OLIVEIRA, 2001).

Fato é que a partir das deliberações do nível Federal, os Municípios ficaram

encarregados de elaborar diagnósticos sobre os territórios e sua população como

condição primeira voltada para orientar a implantação de CRAS em áreas

vulneráveis. Para tanto, o MDS utilizou de alguns indicadores sociais na perspectiva

de serem úteis para o propósito de identificar Estados e Municípios mais vulneráveis

do ponto de vista das diretrizes postas pela PNAS. As Tabelas 2 e 3 referem-se à

concentração de indigência e de pobreza, respectivamente. Para o MDS, isso

identifica os Municípios para os quais deverão ser destinados mais recursos

7 Setor censitário corresponde à menor unidade territorial para a qual são disponibilizados os Dados dos Censos Demográficos. Utilizado também como menor unidade para efeito de amostragem do levantamento censitário, costumam compreender uma área com mais ou menos 300 domicílios. Isso implica que suas dimensões territoriais variam segundo o grau de adensamento da cidade (CUNHA; OLIVEIRA, 2001). 8 Define-se Área de Ponderação como sendo uma “unidade geográfica, formada por um agrupamento mutuamente exclusivo de setores censitários, para a aplicação dos procedimentos de calibração das estimativas com as informações conhecidas para a população como um todo” (IBGE, 2002, p.12).

51

financeiros. Resta, porém, criar instrumentos capazes de desagregar essas

informações no interior dos Municípios.

TABELA 2

Concentração da indigência nos grupos de municípios classificados pela população – Brasil – 2000

Municípios segundo o

total de habitantes

Total de municípios

População total

População vivendo

com renda per capita abaixo da linha de

indigência

Média de

população vivendo

com renda per

capita abaixo da linha de

indigência em cada

município

Percentagem vivendo com

renda per capita

abaixo da linha de

indigência

Pequenos I (até 20.000

hab.) 4.018 33.437.404 9.160.084 2.280 27,39

Pequenos II (de 20.001 a 50.000 hab.)

964 28.832.600 7.554.345 7.836 26,20

Médios (de 50.001 a 100.000

hab.)

301 20.928.128 3.564.858 11.843 17,03

Grandes (de 100.001 a 900.000

hab.)

209 50.321.723 5.012.177 23.982 9,96

Metrópoles (mais de 900.000

hab.)

15 36.279.315 2.744.692 182.979 7,57

TOTAL 5.507 169.799.170 28.036.157 5.091 16,51

Fonte: BRASIL. IBGE, 2003C. Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002.

52

TABELA 3

Concentração da pobreza nos grupos de municípios c lassificados pela população – Brasil – 2000

Municípios segundo o

total de habitantes

Total de municípios

População total

População vivendo

com renda per capita abaixo da linha de pobreza

Média da População

vivendo com renda per capita abaixo da linha de pobreza em cada

município

Percentagem vivendo com

renda per capita

abaixo da linha de pobreza

Pequenos I (até 20.000

hab.) 4.018 33.437.404 16.673.196 4.150 49,86

Pequenos II (de 20.001 a 50.000

hab.)

964 28.832.600 13.696.633 14.208 47,50

Médios (de 50.001 a 100.000

hab.)

301 20.928.128 7.380.022 24.518 35,26

Grandes (de 100.001 a 900.000

hab.)

209 50.321.723 11.852.368 56.710 23,55

Metrópoles (mais de 900.000

hab.)

15 36.279.315 6.419.325 427.955 17,69

TOTAL 5.507 169.799.170 56.021.544 10.173 32,99 Fonte: BRASIL. IBGE, 2003C. Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002.

Os Municípios de porte pequeno I e II possuem um número elevado de

pessoas vivendo com renda per capita abaixo da linha da pobreza, conforme mostra

a Tabela 2. Porém, o recorte intramunicipal não é recomendado pelo MDS, dado que

a população pequena. O desafio fica para os Municípios de médio porte, grande

porte e metrópoles. Nesses, a recomendação da NOB/SUAS de 2005 é de recortes

de 3.500 a 5.000 famílias para intervenção da Proteção Social Básica (BRASIL,

2005, Resolução 130). Aqui reside um obstáculo importante para se obter um

resultado mais acurado capaz, de fato, de orientar melhor a gestão municipal no

tocante à localização do público certo para o serviço mais apropriado.

53

Como já mencionado, o MDS não elaborou metodologia capaz de

georreferenciar as famílias vulneráveis, deixando a cargo de cada Município essa

tarefa. O CadÚnico dos programas federais é uma fonte potencial de dados

pertinentes que são periodicamente atualizados. Esses dados podem permitir avaliar

a validade e sensibilidade das informações, além de identificar e dimensionar a

população alvo dos serviços de proteção básica em territórios intramunicipais. Além

disso, possuem o Código de Endereçamento Postal (CEP) permitindo

georreferenciar tal público. Essa discussão é importante devido a recomendação de

recorte intramunicipal dada pelo MDS para identificação do público prioritário da

política de Assistência Social. Como visto no Quadro 2, os dados utilizados pelo

MDS para identificação da população pobre e indigente datam, respectivamente de

2002 e de 2000, ao passo que os dados do CadÚnico são atualizados, segundo lei

específica, pelo menos anualmente pelos Municípios.

3.3 A Assistência Social e o Cadastro Único

O Decreto nº 3877 de 24 de julho de 2001, revogado pelo Decreto nº 6.135,

de 26 de junho de 2007 (BRASIL, 2001) torna obrigatório para todos os Municípios

do Brasil, a utilização do CadÚnico para os programas federais. Em 2007utilizou-se

um questionário denominado de Caderno Azul (ANEXO B), e alguns outros dados

foram coletados sistematicamente devendo ser atualizados pela Assistência Social.

Esta obrigatoriedade consta na Lei nº. 10836, além de obrigar os Municípios também

a cadastrar as famílias mais vulneráveis (BRASIL, 2004).

Para reforçar essa obrigatoriedade, foi publicada no Diário Oficial da União

(DOU), em 20 de outubro de 2008, a Portaria nº 376, de 16 de outubro de 2008, que

regulamenta a gestão do CadÚnico para Programas Sociais do Governo Federal

(BRASIL, 2008).

O CadÚnico traz um conjunto de informações cujo uso apropriado é capaz de

permitir o delineamento do perfil de aproximadamente milhões de famílias pobres

compreendendo um número expressivo de pessoas com informações das mais

variadas permitindo não apenas medir o seu grau de pobreza, carências e

vulnerabilidade, mas também, a localização desses grupos no território

intramunicipal. O CadÚnico tem potencial para identificar, também, através da

54

construção de indicadores específicos, famílias prioritárias para ações de

acompanhamento familiar, além da identificação e seleção de beneficiários para

outras políticas sociais (Federal, Estaduais e Municipais), de acordo com o perfil de

cada programa - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), Carteira do

Idoso, Tarifa Social de Energia Elétrica.

O CadÚnico tem como objetivos a convergência de esforços para o

atendimento prioritário das famílias em situação de vulnerabilidade, a criação de

indicadores que reflitam as várias dimensões de pobreza e vulnerabilidade, além de

ser capaz de criar outros indicadores específicos para identificação do público de

acordo com os níveis de complexidade de proteção social e, cabe frisar entretanto,

de ser uma ferramenta de planejamento para políticas públicas voltadas às famílias

de baixa renda do país. Em 2010, estima-se que mais de 20 milhões de famílias

estejam cadastradas, ou seja, 1/3 da população brasileira, em todos os seus

Municípios (BRASIL, 2010 d).

Em outubro de 2003 foi criado o Programa Bolsa Família (PBF), unificando a

gestão e a execução dos Programas existentes até então, tais como o Bolsa

Alimentação, o Vale Gás, Cartão Alimentação. Em junho de 2007, publicou-se novo

decreto sobre o CadÚnico (BRASIL, 2007, Decreto nº 6.135), que revogou o anterior

de 2004 reafirmando o uso obrigatório desse banco de dados para a seleção de

beneficiários e integração de programas sociais do Governo Federal voltados para o

atendimento das famílias de baixa renda, excetuando-se aqueles administrados pelo

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS):

Conforme o decreto nº 6.135/2007, são consideradas famílias de baixa renda aquelas com renda mensal per capita de até ½ salário mínimo ou com renda mensal total de até 3 salários mínimos. Este segundo critério foi incluído para atender à demanda específica do Ministério das Cidades, responsável pela gestão de alguns programas habitacionais voltados a famílias com essa faixa de renda. Todavia, esse critério de cadastramento ainda não está operacionalizado e o MDS orienta que os municípios cadastrem: (i) todas as famílias com renda per capita mensal de até ½ salário mínimo, independentemente de seu atendimento por programas sociais; (ii) famílias com renda mensal total de até 3 salários mínimos, desde que visando à operacionalização de programas habitacionais; (iii) famílias com renda que não se enquadre nesses dois critérios, desde que sua inclusão no CadÚnico se dê para fins de participação em algum programa social operado por quaisquer dos três níveis da federação. De todo modo, conforme a orientação explícita do MDS, a linha de renda preferencial se trata de ½ salário mínimo mensal per capita e é esse o critério de cadastramento operado pelos municípios (BARTHOLO; CÂMARA, 2008, p. 4).

55

Segundo Barros e Carvalho (2002), importantes dimensões das condições de

vida podem ser analisadas a partir das informações reunidas pelo CadÚnico tais

como a vulnerabilidade social a partir da identificação do ciclo de vida das pessoas,

a deficiência física e renda, a inserção no mundo do trabalho formal e as condições

habitacionais. Essas dimensões demonstram a abrangência desse instrumento na

possibilidade de identificação das famílias mais vulneráveis e, portanto, prioritárias

para inserção nos programas e projetos sociais do MDS.

Outro ponto importante refere-se à qualidade da informação, ou seja, quanto

mais se usa uma fonte de dados relacionada diretamente à informação, mais fácil

fica levantar pontos de estrangulamento e, portanto, aperfeiçoá-la:

a unicidade do cadastro é indispensável para uma efetiva integração das intervenções sociais. Só com a utilização de um único cadastro é possível garantir que uma mesma família tenha acesso simultâneo ao amplo conjunto de oportunidades e programas de que necessita para superar a pobreza (BARROS; CARVALHO, 2008, p. 8).

O Governo Federal, no final de 2009, atualizou o formulário de coleta de

dados do CadÚnico com o objetivo de aproximá-lo conceitualmente das pesquisas

domiciliares oficiais do IBGE, melhorando a capacidade do instrumento de identificar

povos e comunidades tradicionais, famílias acampadas e em situação de rua,

aprimorando a caracterização e identificação da pobreza na sua complexidade e

diversidade, possibilitando a seleção de diversos públicos para programas sociais.

Esse novo Sistema do CadÚnico (V7) consiste em uma versão online na qual os

gestores municipais poderão fazer a inclusão ou a manutenção, alteração e/ou

exclusão dos dados das famílias diretamente na base nacional do CadÚnico. As

principais variáveis do CadÚnico são:

1- Características do domicílio: Situação do domicílio (urbano ou rural),

condição de propriedade, tipo (casa, apartamento, cômodo), número de cômodos,

tipo de construção, abastecimento de água, tipo de iluminação, escoamento

sanitário, destino do lixo, número de moradores. Esta variável possibilita uma análise

socioterritorial do Município, indicando locais de maior ou menor vulnerabilidade

social.

2- Identificação e Características das Pessoas – dados de cada um da família:

nome completo e data de nascimento, sexo, local de nascimento, nacionalidade,

56

filiação, estado civil, presença e tipo de deficiência, cor, documentação - Número de

Identificação Social (NIS), Certidão de Nascimento, Carteira de Identidade, Carteira

de Trabalho (CTPS), CPF, Título de Eleitor, freqüência à escola, grau de instrução,

situação no mercado de trabalho, tempo de residência, rendimentos, gasto mensal

com as principais rubricas de despesa, relação com o responsável familiar. Esse

conjunto de variáveis pode apresentar uma radiografia das vulnerabilidades sociais

elencadas pelo MDS, quais sejam: por ciclo de vida - faixa etária de 0 a 18 anos e

acima de 60 anos; por deficiências, sejam elas quais forem com destaque para os

idosos e deficientes que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Inclui

também a vulnerabilidade por renda, destacando prioritariamente as famílias que

recebem o benefício do Programa Bolsa Família.

O CadÚnico contempla todos os dados do recorte de público prioritário para

inserção nos programas federais acrescido o cadastramento de pessoas em

situação de rua, famílias indígenas e famílias quilombolas, Pessoas sem registro civil

de nascimento e Famílias conviventes, o que passará a constar na nova versão do

aplicativo V 7.0.

3 – Vinculação a programas sociais e Serviços. Estas informações podem ser

retiradas do cadastro suplementar do aplicativo Versão 7.0 e, portanto, não poderá

ser tratada neste documento, uma vez que os dados do CadÚnico dos dois

Municípios – Belo Horizonte e Fortaleza - constam na versão do aplicativo V6.0 e,

portanto, ainda não atualizada ainda para o mais novo aplicativo. Estes dados se

dividem em programas da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(SESAN), Serviços da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), Ministério

de Minas e Energia e Ministério das Cidades. Pode-se observar que no momento em

que todos os municípios já estiverem utilizando o aplicativo da Versão 7.0 os dados

coletados por esse formulário darão um panorama sobre o grau de inserção da

família em programas e serviços do Governo Federal, podendo desencadear uma

análise correlata sobre o grau de dependência desta mesma família em relação ao

Governo Federal.

4 – Endereço completo com localização de logradouro, CEP, bairro, o que

possibilita o georreferenciamento da população.

Em suma, o CadÚnico versão 7 permitirá, também, uma consulta sobre o

histórico da movimentação da família e da pessoa, imprimir ou salvar formulários,

cadastrar família, gerir família e transferência de famílias e pessoas, além de

57

vincular a pessoa programas sociais (BRASIL, 2010d). Isso demonstra o quanto a

mais o CadÚnico passará a fornecer de informação aos gestores público para que

esses material seja utilizado de fato como instrumento de gestão na Assistência

Social,além do fato de que cabe a essa política a gestão do banco de dados do

CadÚnico. Mesmo com a versão 6, o que se nota é que o CadÚnico possui um

conjunto de informações capaz de identificar vários perfis da população, inclusive o

recorte proposto para a Proteção Social Básica (PSB).

Portanto, confere-se ao CadÚnico a possibilidade de identificar a população

prioritária para os serviços da PSB pelo fato dos dados serem coletados

sistematicamente e, portanto, atualizados, além do fato de conter informações

importantes para orientar a execução dos serviços socioassistenciais. Ressalta-se

que o CadÚnico, com a localização de endereço, permite georreferenciar o público

cadastrado o que possibilita, também, ter precisão quanto à identificação do melhor

território para a implantação do CRAS.

Inclui-se, nesta abordagem sobre o Cadúnico, analisar a sua localização

institucional e organizacional nos Municípios da federação. Para ter acesso aos

bancos de dados do CadÚnico dos dois Municípios em estudo, foi necessário uma

formalização aos gestores públicos por parte da Coordenação do Curso de Mestrado

em Ciências Sociais da PUCMinas bem como a assinatura do orientador da

dissertação. Juntamente com a carta seguiu uma solicitação de quais dados seriam

interessantes à pesquisa. Veja modelo de carta em anexo.

Em Belo Horizonte a solicitação foi feita ao gestor público da Secretaria

Municipal de Políticas Sociais e em Fortaleza, à gestora da Secretaria Municipal de

Assistência Social. Vale ressaltar que, mesmo com toda a documentação alguns

entraves foram notados, podendo ser citado, por exemplo, em Belo Horizonte, a

indisposição de rever as informações solicitadas, ou seja, depois da primeira análise

de dados, seriam necessárias outras informações mais precisas e esta foram

negadas. Já em Fortaleza, todas as vezes que foram solicitadas novas informações,

estas foram disponibilizadas.

Esse assunto é relevante uma vez que o CadÚnico se tornou um instrumento,

também, político por agregar um conjunto de informações que de certa forma podem

ser objeto de preocupação pública dependendo do cenário político de cada

município, além do fato do Município receber recurso federal para gerenciar a

qualidade e atualização do cadastro a partir do cálculo do Índice de Gestão

58

Descentralizado (IGD). Este índice é um indicador que mostra a qualidade da gestão

descentralizada do Programa Bolsa Família. É com base nesse indicador, que o

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) repassa recursos

financeiros aos Estados e Municípios para a realização da gestão do referido

programa. Quanto melhor for a qualidade do IGD, maior é o valor dos recursos

financeiros transferidos aos Municípios. Para receber os recursos, o Município deve

ter aderido ao Programa nos termos da Portaria n° 2 46/2005, ser habilitado em

qualquer nível de gestão da Assistência Social9.

O IGD-Municipal é calculado por meio da média aritmética das seguintes

variáveis: qualidade e integridade das informações constantes no CadÚnico para

Programas Sociais (taxa de cobertura de cadastros); atualização da base de dados

do CadÚnico (taxa de atualização de cadastros); informações sobre o cumprimento

das condicionalidades da área de educação (taxa de crianças com informações de

frequência escolar); informações sobre o cumprimento das condicionalidades da

área de saúde (taxa de famílias com acompanhamento das condicionalidades de

saúde). Para obter o valor mensal a ser transferido pelo MDS aos Municípios,

considera-se a seguinte fórmula: [IGD-M x R$ 2,50 x (nº de famílias + 200*)]. Onde:

IGD-M é o índice encontrado a partir da conta descrita acima, que varia entre 0 e

1.R$ 2,50 é o valor de referência por família, definido pelo MDS (BRASIL, 2006,

Portaria nº. 148).

Belo Horizonte tem seu índice de validade de cadastro (0,65) menor que

Fortaleza (0,76), assim como também o índice de atualização cadastral. Belo

Horizonte tem o índice de (0,64) e de Fortaleza de (0,80) 10. A alimentação dos

dados cadastrais é fundamental para subsidiar os investimentos públicos nos

territórios municipais. Uma vez ele sendo pouco eficaz, torna-se ineficaz, também, o

seu uso. (BRASIL, 2010 a).

Em Fortaleza, a atualização do CadÚnico é feita diretamente pelos técnicos

dos CRAS bem como pelas regionais administrativas (06 regiões), além do nível

central. Em cada um dos equipamentos tem uma equipe específica para

atualizações cadastrais bem como por realizar novos cadastros. Todo o público da

Assistência Social é cadastrado. A gestão do CadÚnico é na Secretaria Municipal de

Assistência Social (SEMAS), em uma gerência específica.

9 Para saber mais acessar www.mds.gov.br/bolsafamilia. 10 Dados pesquisados em janeiro de 2011.

59

Essa localização institucional, ao que tudo indica, faz com que Fortaleza

tenha um índice de gestão relevante e, por isso, como demonstrado acima pelos

índices de validade e atualização cadastral, possui alto percentual de qualidade.

Porém, pelas informações obtidas através de conversas informais com gestores da

SEMAS, nota-se que esta Secretaria ainda deve se estruturar melhor para que de

fato consiga obter, além de um tratamento da informação mais apurado, utilizar esse

banco de dados para orientar a gestão pública da Assistência Social. A Secretaria

Municipal de Assistência Social de Fortaleza, na estrutura organizacional da

prefeitura, tornou-se Secretaria a pouco mais de três anos (junho de 2007), o que

pode até justificar a pouca experiência voltada para uma gestão mais organizada

das informações processadas.

Já em Belo Horizonte, a gestão do CadÚnico está localizada na Secretaria

Municipal de Políticas Sociais (SMPS) em uma gerência de Transferência de Renda

que se responsabiliza pela gestão do CadÚnico e pelo Programa Bolsa Família em

todo o Município. É nesta gerência que se processa tanto a atualização cadastral

quanto o registro de novos cadastros. O Recurso do IGD é administrado por essa

Secretaria (SMPS) e aplicado de acordo com o planejamento operado por seu

gestor.

A Assistência Social é uma secretaria adjunta à Secretaria Municipal de

Políticas Sociais na estrutura organizacional da Prefeitura Municipal de Belo

Horizonte e não guarda nenhuma relação direta com os dados do CadÚnico

recebendo somente informações em listagens processadas pela Gerência de

Transferência de Renda sobre as famílias que descumprem as condicionalidades

dos Programa Bolsa Família. Reforça-se, portanto, que a localização da gestão do

CadÚnico na estrutura organizacional municipal em muito interfere tanto na dinâmica

da informação quanto no uso desta para a gestão da política de Assistência Social

no nível local. Interfere, também, na disponibilidade dos dados tornando o seu uso

um instrumento controlado por decisão política e não técnica, ao contrário o que diz

no Decreto nº 6.135, de 26 jun. 2007. A forma de coletar os dados de certo influencia

no resultado. Para além dos índices, a compreensão acerca do uso do banco de

dados é outro fator que influencia no resultado. Se tiver fragmentação da

informação, uma vez que a gestão não se encontra com quem de fato o utiliza e é

cobrado por isso, os resultados ficam frágeis.

60

A seguir, no capítulo 4 será apresentada a experiência de Belo Horizonte e de

Fortaleza no que tange à trajetória feita para localizar o público da Proteção Social

Básica (PSB). A metodologia criada por estes municípios para coletar informações e

alimentar os aplicativos voltados para identificar as especificidades do território

intramunicipal, será analisada e comparada à luz do CadÚnico, de cada Município.

Também será abordado a localização da gestão do CadÚnico no organograma de

municipal como mais um dado para ser analisado à luz da abrangência do seu uso.

61

4 A EXPERIÊNCIA DE IMPLANTAÇÃO DE CRAS EM BELO HORI ZONTE E FORTALEZA

Este capítulo apresenta e discute os estudos feitos pelo Município de Belo

Horizonte e pelo Município de Fortaleza para identificar o território bem como o

público prioritário da Proteção Social Básica (PSB) para implantar o Centro de

Referência da Assistência Social (CRAS). Ambos fizeram um esforço de construir

procedimentos operacionais tanto para identificar e em seguida delimitar territórios

intramunicipais quanto para identificar o público prioritário de atendimento do SUAS,

além de ambos se encontrarem habilitados na gestão plena do SUAS e, portanto,

receberem cofinanciamento federal para implementar serviços dos diversos níveis

de proteção social, como por exemplo, os serviços contidos no equipamento CRAS.

Reforça-se, portanto, a importância de avaliar o uso do CadÚnico para criar

indicadores próximos do conceito, objeto ou função para o qual foi proposto e a

sensibilidade ou a capacidade de detecção das condições de vida de uma dada

população em um determinado território ao longo do tempo para a identificação da

demanda de atendimento ao público desses serviços, de acordo com as

determinações do SUAS. A escolha dos Municípios de Belo Horizonte e de Fortaleza

seguiu os critérios de serem ambos metrópoles e, portanto, necessitarem de

diagnóstico intramunicipal e socioterritorial para identificação do público prioritário

alvo da Assistência Social, atendendo, assim, as determinações do SUAS.

4. 1 O município de Belo Horizonte/MG 11

O município de Belo Horizonte tem uma população de 2.412.937. (BRASIL,

2000). Segundo os critérios de reordenamento dispostos na PNAS, é caracterizada

metrópole e encontra-se habilitada na Gestão Plena das ações de Assistência

Social, com responsabilidade de organizar as ações de Proteção Social Básica

11 A elaboração deste documento é de responsabilidade de Beckembaeur Neury Vieira Araújo – Equipe de Geoprocessamento/Estudos Territoriais – GEIMA/PBH, Carla Andréa Ribeiro – Gerente de Informação, Monitoramento e Avaliação – GEIMA (até abril de 2010), Mara Rúbia de Souza Albano Felix – analista de Políticas Públicas da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Salime Cristina Hadad – Equipe de Geoprocessamento/Estudos Territoriais – GEIMA/PBH (até 2009). A utilização deste documento nesta dissertação foi autorizada pelos autores.

62

(PSB) e a Proteção Social Especial (PSE), prevenir situações de risco e constituir

uma vigilância sobre os direitos sociais violados no território. A PNAS, também

indica o número mínimo de CRAS para cada Município, segundo o tamanho

populacional. Neste caso, por se tratar de metrópole, são oito (CRAS) 12. Esses

requisitos básicos nortearam a organização territorial da Proteção Social Básica da

Assistência Social, por meio do reconhecimento da presença, no território, de

múltiplos fatores sociais e econômicos que levam o indivíduo e a família a uma

situação de vulnerabilidade13 e risco.

Em Belo Horizonte, a implantação dos CRAS teve início em 2002, na ocasião

da reforma administrativa da capital mineira, baseada em quatro princípios: a

descentralização administrativa, a intersetorialidade, a participação popular e a

territorialidade. Este conjunto de princípios recebeu o nome de Programa BH

Cidadania, que designou a cada política setorial (Assistência Social, Educação,

Saúde, Esporte e Cultura) que implantassem ações específicas, levando programas

e projetos aos territórios mais precários (MENICUCCI, 2002).

Nessa reforma administrativa, e para localizar os territórios em que deveriam

ser instalados o equipamento da Assistência Social denominado de Núcleo de Apoio

à Família (NAF), utilizou-se de indicadores intra-urbanos capazes de apontar onde

seriam necessários investimentos públicos voltados para a melhoria da qualidade de

vida da população. Os indicadores utilizados foram o Mapa de Exclusão Social da

Cidade de Belo Horizonte os dados da saúde anteriormente coletados e

consolidados no chamado BH Vida e posteriormente, dados do Censo BH Social,

além de utilizar a base de dados do Censo do IBGE de 1992 e sua reavaliação em

1996 e o Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU) como um instrumento para

recortar a área e, conseqüentemente, delimitar o território para a ação (NAHAS, MIP;

et.al., 1997).

Segundo Menicucci (2002), o princípio da descentralização administrativa é

compreendido como o redirecionamento da máquina política com o objetivo de fazê-

la funcionar a partir dos elementos que se encontra lá no território, ou seja, a partir

12 Esse número mínimo de CRAS é definido na PNAS, mas não há identificado uma explicação para ser exatamente esta quantidade. 13 A PNAS define vulnerabilidade social o ciclo de vida, a fragilidade de renda e pessoas com deficiência física. Define risco social e pessoal. O risco social está relacionado à precariedade da infra-estrutura urbana, territórios violentos. Risco pessoal está relacionado a membros da família que fazem uso de drogas, alcoolistas bem como inseridos no tráfico de drogas (BRASIL, 2004).

63

de onde se dá a interface com o cidadão, respeitando as diferenças e

complexidades de cada região, suas carências e potencialidades. Tal

redirecionamento não significa, segundo a autora, um esvaziamento das funções do

nível central de governo, mas sim o fortalecimento de suas capacidades

administrativas e institucionais de coordenação e regulação de políticas setoriais a

serem implementadas em nível regional e local. Continuando, Menicucci (2002)

aponta que esse novo modo de gestão que busca articular integração e

territorialidade, faz com que a definição pública de investimentos direcione recursos

a partir de problemas de uma determinada população definida territorial e

socialmente, ou seja, trabalhar com metas extraídas do território escolhido e

delimitado. O resultado pode ser um maior e melhor planejamento em administrar os

recursos públicos.

O Quadro 5 abaixo, apresenta os componentes e indicadores sociais que

compõem o Mapa de Exclusão Social de Belo Horizonte.

Continua COMPONENTES INDICADORES

VARIÁVEL ABASTECIMENTO Equipamentos • Área/hab. de hiper/supermercados, mercearias,

restaurantes e similares.

Cesta Básica • Economia de compra possível

VARIÁVEL ASSISTÊNCIA SOCIAL Equipamentos • Número de entidades de Assistência Social

VARIÁVEL CULTURA Meios de Comunicação • Tiragem por habitante de jornais locais

Patrimônio Cultural • Número de bens tombados e de grupos culturais

Equipamentos Culturais • No. equipamento e freqüência de público

• Área/hab. de livrarias e papelarias.

Programações artístico-culturais

• Número e freqüência às atividades culturais oferecidas.

VARIÁVEL EDUCAÇÃO Pré-Escolar • Taxa de matrícula e alunos/turma

1a. a 4a. séries/ 5a. a 8a. séries /2o. grau

• Taxa de matrícula, número de alunos por turma e índice de aproveitamento

64

Continua VARIÁVEL ESPORTES

Equipamentos Esportivos • Área por habitante: quadras, piscinas, campos, clubes e congêneres

Promoções Esportivas • Número de eventos esportivos e freqüência de público

VARIÁVEL HABITAÇÃO Disponibilidade Habitação

• Área construída por habitante sujeita a IPTU

• Padrão de acabamento das moradias

Conforto habitacional • Número de pessoas por dormitório

VARIÁVEL INFRA-ESTRUTURA URBANA Limpeza Urbana • "Nota" p/ coleta, varrição e capina

Saneamento • Taxa e freqüência de fornecimento de água tratada.

• Disponibilidade de rede de esgoto

Energia Elétrica • Taxa de fornecimento domiciliar

• Iluminação pública

Telefonia • Taxa de ruas com rede telefônica

• Qualidade das ligações

Transporte coletivo • Possibilidade de acesso de transporte (pavimentação)

• Número e conforto dos veículos

VARIÁVEL MEIO AMBIENTE Conforto Acústico • No. de perturbações ruidosas

Qualidade do ar • Autuações veículos transporte coletivo

Área Verde • Área/hab. com cobertura vegetal

VARIÁVEL SAÚDE Atenção à Saúde • Número por habitante de: leitos hospitalares, postos

de saúde, outros equipamentos de Assistência Médica e equipamentos odontológicos.

Vigilância à Saúde • Taxa de sobrevivência até um ano

• Taxa de nascidos c/ peso normal

65

VARIÁVEL SERVIÇOS URBANOS Serviços pessoais • No. de agências bancárias, pontos de táxi e postos de

gasolina

Serviços de Comunicação • No. de agências de correio, bancas de revistas e telefones públicos

• Funcionamento telefones públicos

VARIÁVEL SEGURANÇA URBANA Atendimento Policial • Número de equipamentos, efetivo policial e viaturas

• Tempo de espera para atendimento policial

Segurança Pessoal • Ausência de: homicídios, tentativas de homicídios, violações de domicílio, estupros, roubos, porte ilegal de armas, atentados ao pudor e lesões corporais.

Segurança Patrimonial • Ausência de roubo e furto de veículos e a moradias e estabelecimentos.

Segurança no Trânsito • Ausência de acidentes com ou sem vítimas, ocasionados por direção perigosa de veículos, abalroamentos, colisões, choques, atropelamentos e capotamentos.

Segurança Habitacional • Grau de pré-disposição ao risco geológico

Quadro 5: os componentes e indicadores sociais que compõe o Mapa de Exclusão Social de Belo Horizonte.

Fonte: NAHAS, M.I.P.; et.al., 2000.

A partir dos bancos de dados e informações acima relatadas, a escolha da

área seguiu a lógica da exclusão social, utilizando inicialmente os indicadores de

renda média familiar per capita, mortalidade neo e pós-natal (até um ano

incompleto), desnutrição infantil, população analfabeta, e ocupação. Vale ressaltar

que as categorias de acessibilidade, infra-estrutura básica, qualidade do domicílio,

moradia improvisada e a categoria percepção sócio-ambiental foram analisadas,

mas não de modo integrado a ponto de influenciar diretamente na escolha da área.

Os pressupostos básicos adotados por Belo Horizonte no processo de

territorialização, a partir de 2004, com as diretrizes do MDS, foram estabelecidos a

partir de uma base territorial que permitisse a caracterização da população e de

seus problemas, na identificação das agregações territoriais já existentes no

66

município, na utilização das concepções de escala, distância, área de abrangência,

barreiras geográficas e na realização do diagnóstico da população habitante dos

territórios da PSB, bem como na análise da origem e trajetória do usuário da rede

socioassistencial.

Essa metodologia de identificação dos territórios intramunicipais iniciou-se em

2004, após a implementação da PNAS no mesmo ano. Até esta data Belo Horizonte

tinha nove NAF. Somente a partir de 2005 que foram implementados outros NAF,

mas com a nova nomenclatura ditada pelo MDS, qual seja, CRAS. Atualmente, em

Belo Horizonte existem trinta CRAS localizados em territórios vulneráveis

identificados e assim definidos a partir da metodologia criada pela Prefeitura

Municipal de Belo Horizonte, Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social,

especificamente para a delimitação e identificação desses territórios. Os dados

utilizados por Belo Horizonte são do Censo Demográfico de 2000 e dados da saúde,

em específico, mortalidade infantil (BELO HORIZONTE, 2011)

Belo Horizonte utilizou o Sistema de Informação Geográfica (SIG) por ele ser

um sistema de introdução, armazenamento, manipulação e saída de informações

geográficas. A abordagem espacial permite a integração de dados demográficos,

socioeconômicos e ambientais, promovendo o inter-relacionamento das informações

de diversos bancos de dados. Nesse sentido, é fundamental que as informações

sejam localizáveis, ou seja, tenham uma referência geográfica, fornecendo

elementos para construir a cadeia explicativa dos problemas do território e

aumentando o poder de orientar ações da política de Assistência Social.

Para realizar as operações de georreferenciamento associaram-se

informações dos arquivos de dados com os arquivos gráficos, através de uma

variável codificadora. Como os sistemas SIG baseiam-se no relacionamento de

entidades gráficas com atributos não gráficos (banco de dados), permitindo análises

complexas que levam em conta a referência espacial (posição e, por conseguinte,

coordenadas), georreferenciar pode ser definido como ato de estabelecer uma

referência espacial (coordenadas X e Y) a um determinado elemento gráfico ou não

gráfico de um sistema de informações (BELO HORIZONTE, 2008).

Os dados que podem ser atribuídos aos objetos espaciais estão relacionados

ao Censo Demográfico do IBGE de 2000, ao histórico sanitário da região e à

67

informação da localização de beneficiários de programas sociais, quando essa

ultima listagem é fornecida pela SMPS com informações elegíveis de georreferenciar

devido a facilidade de localizar o público utilizando o sistema da Empresa de

Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (PRODABEL). Belo

Horizonte, segundo dados da GEIMA, utilizou o Índice de Vulnerabilidade à Saúde

(IVS) 14 como índice para apurar áreas vulneráveis da cidade. Os dados da saúde

são utilizados para a composição das variáveis, daí a utilização do histórico das

regiões da cidade. Desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo

Horizonte em 1996, com o objetivo de mapear a cidade em áreas de risco muito

elevado, elevado, médio e baixo, esse índice tem sido utilizado para o planejamento

da distribuição das equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), com

priorização do atendimento às áreas de maior vulnerabilidade.

O Índice de Vulnerabilidade à Saúde (IVS) é um indicador composto que

associa diferentes variáveis num indicador sintético que possibilita analisar as

características de grupos populacionais vivendo em determinadas áreas

geográficas. É um índice com cinco componentes contendo treze indicadores com

pesos específicos utilizado como pano de fundo para privilegiar as áreas de risco

elevado e muito elevado.

A constituição das áreas denominadas da PSB, onde se localizam os CRAS,

foi realizada por meio da agregação dos setores censitários com determinação de

áreas com limites geográficos e demográficos definidos segundo os critérios que diz

respeito aos limites dos setores e das regiões administrativas, a identificação da

organização espontânea da comunidade e a identificação do fluxo espontâneo da

população à procura dos serviços da Assistência Social (BELO HORIZONTE, 2003).

O fato é que somente agregar setores censitários per se não identifica o público para

a Proteção Social Básica. Neste caso, em específico, agrega domicílios para compor

5 mil famílias referenciadas ao CRAS, sem saber ao certo se essas famílias

atendem os critérios estabelecidos pelo MDS. O IVS, a princípio, compõe esses

territórios com informações mais gerais, sendo, portanto, outro fator que não

identifica o público naquilo que é específico para identificá-lo, ou seja, a

14 Ver mais em http://www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/gabinete/risco2003.pdf. Acessado em: 13 de julho de 2010.

68

vulnerabilidade. Além disso, a composição das variáveis do IVS é calculada com

dados defasados, pois utiliza-se dos dados do Censo Demográfico de 2000.

Verifica-se, portanto, que as bases de dados devem ser alimentadas

freqüentemente, possibilitando um cálculo sistemático do IVS, de modo que se

possa perceber se as ações sociais localizadas nestes territórios de fato fizeram

efeito na vida da população. Porém, há alguns entraves verificados quanto a esse

procedimento como, por exemplo, a utilização dos dados de saneamento básico,

renda, habitação do Censo Demográfico do IBGE, que por si só são atualizados a

cada dez anos, além da utilização dos dados da saúde que requer disposição e

diretriz própria da saúde e, portanto, atualizadas segundo critérios da Saúde e não

da Assistência Social. Percebe-se, assim, que as fontes de dados utilizadas pelo

Município não deu conta de identificar o público prioritário da Assistência Social

além, inclusive, de contrariar a determinação do MDS em utilizar uma única só fonte

de dados.

No Quadro 6, abaixo, foi feita uma composição dos indicadores utilizados

para identificar os territórios segundo o grau de risco que ele produz. A metodologia,

é a mesma do IVS, da área da saúde. Pode ser confirmado, a partir da leitura do

quadro, o que já foi mencionado anteriormente, ou seja, que as fontes de informação

não retratam o solicitado pelo Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benéficos

e Transferências de Renda no âmbito do SUAS de 2009. O fato é que a metodologia

do IVS da área da saúde pode até classificar e, portanto, apontar territórios de risco,

mas a classificação do risco não é a mesma exigida pelo MDS para orientar a

instalação do CRAS. (BELO HORIZONTE, 2011).

69

Quadro 6: Índice de Vulnerabilidade à Saúde (IVS). 2003 Fonte: BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal, 2003.

Reforça-se, portanto, que, dos cinco indicadores que compõe o IVS, quatro

deles utilizam dados do Censo Demográfico, o que o torna desatualizado. Apenas

uma variável tem coleta de dados e sistematização regular é feita pela área da

Saúde. Fato é que estas variáveis per se não identificam o público prioritário ditado

pela PNAS no tocante à Proteção Social Básica. As variáveis solicitadas pela PNAS

estão relacionadas ao ciclo de vida (crianças de 0 a 14 anos, adolescentes de 15 a

18 anos, idosos acima de 60 anos), além de pessoas com deficiência e com

fragilidade na renda (BRASIL, 2004, Resolução 145).

A metodologia de Belo Horizonte elaborou desenhos de possíveis territórios

(polígonos), respeitando as barreiras geográficas15 (grande avenidas, muros,

ferrovias, morros) e outras barreiras sociais (tráfico de drogas, crime organizado).

15 Identificadas como aquelas que dificultam o trajeto da população dentro do território.

70

Uma importante questão a ser considerada é que em alguns lugares o CRAS foi

instalado em prédio já disponível na região e muitas vezes a mudança de endereço

não foi possível quando identificado que o local não é de risco elevado ou muito

elevado segundo o IVS. O CRAS deve estar dentro do território, do polígono

desenhado, segundo diretriz do MDS, e então ao agregar os setores censitários isso

deve ser considerado na definição de sua área de abrangência. Outra questão foi a

elaboração do diagnóstico comparativo dos territórios. Porém, este diagnóstico não

foi preliminar à definição das áreas para implantar os CRAS, o que o torna pouco

operativo para a identificação destes territórios.

O processo de referenciamento de Belo Horizonte não partiu, portanto, do

diagnóstico socioterritorial e nem tampouco do cálculo do IVS com dados

atualizados e de acordo com as determinações do SUAS. Na sua maioria, partiu da

diretriz da escolha da área que já tivesse um equipamento público disponível para

abrigar o CRAS. Os dados referentes ao público alvo da política de Assistência

Social foram identificados posteriormente à delimitação geográfica do território, o

que não possibilitou apreciar a composição da cidade de acordo com os dados do

CadÚnico e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), dois bancos de dados

que possuem um volume maior de público, além de ser prioritário de atendimento

segundo o Protocolo de Gestão Integrada de Serviços e Transferência de Renda,

citada na resolução da CIT n.º 7 de outubro de 2009.

Como também mencionado anteriormente, o MDS coloca como diretriz para o

mapeamento do território a utilização de uma fonte de dados secundários e de

acesso a todos, evitando a constituição de indicadores que necessite de dados

localizados em outros setores da administração pública (BRASIL, 2004, Resolução

145). A utilização da base de endereços da Empresa de Informática e Informação do

Município de Belo Horizonte (PRODABEL) é um facilitador para aplicar o

georreferenciamento do público da Assistência Social e identificá-lo no território.

Ademais, a localização do CadÚnico na estrutura organizacional da Prefeitura

Municipal de Belo Horizonte, não estando a sua gestão na Secretaria Municipal

Adjunta de Assistência Social (SMAAS) é um fator dificultador para que essa

Secretaria pudesse operacionalizar seus dados conforme necessidade e demanda

gerencial. A SMAAS fica a espera de dados trabalhados de acordo com deliberação

da Secretaria Municipal de Políticas Sociais onde há uma gerência responsável por

71

toda a operacionalização e gestão do CadÚnico, fornecendo à SMAAS somente

recortes desse banco de dados.

Em suma, a Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo

Horizonte fez um esforço grande para identificar as áreas geográficas mais

vulneráveis da cidade. De certo modo o IVS ofereceu um panorama mais amplo,

classificando-as de acordo com os seus critérios específicos. A questão que se

coloca é que a concepção de vulnerabilidade do IVS utilizado por Belo Horizonte não

retrata a concepção de vulnerabilidade citada pelo MDS. Vejamos como Fortaleza

construiu sua metodologia para identificar, previamente, os territórios vulneráveis,

segundo as diretrizes do MDS.

4.2 O Município de Fortaleza/CE 16

O município de Fortaleza tem seis regiões administrativas e uma população

de 2.505.552 habitantes (IBGE, 2007) sendo, portanto, considerada metrópole

segundo a classificação da PNAS. Habilitado na gestão plena, atualmente conta

com vinte e três CRAS. Possui, em 2000, 2.194 setores censitários. Desses, seis

setores são classificados como especiais pelo IBGE (quartel, hospitais,

acampamentos, asilos entre outros). O setor especial é aquele que apresenta

características que tornam necessário um tratamento diferenciado de coleta em

relação aos setores comuns ou não-especiais (FORTALEZA/CE, 2009).

Durante a análise para composição destes setores comuns, foram excluídos

quatorze setores por conterem valores pequenos para o cálculo dos indicadores

(zero ou 4 domicílios) ou células vazias. Foram utilizados, portanto, 2.174 setores

censitários na análise e cálculo dos indicadores extraídos do Censo Demográfico de

2000 e desagregados por setor censitário. Em cada setor censitário foram

levantadas informações que caracterizam a condição social da população residente

nos domicílios que compõem aquele setor, tais como renda, condições de

habitabilidade e infra-estrutura urbana. (FORTALEZA/CE, 2009).

16 Agradeço aos consultores Beckembauer N.Araujo e Salime C. Hadad, que juntamente comigo fizeram os estudos territoriais de Fortaleza/CE no ano de 2008/2009 e que liberaram os estudos para que eu os pudesse incluir em minha dissertação.

72

Os estudos de Fortaleza realizados pela equipe de Consultores contratados

pela Secretaria Municipal de Assistência Social utilizaram a mesma metodologia do

Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) para identificar territórios de risco. Os estudos

foram constituídos por uma análise sobre as condições sanitárias dos domicílios que

compõem cada setor censitário, representadas por três indicadores relativos ao

abastecimento de água, escoamento sanitário e coleta de lixo. Esses indicadores

foram reunidos em um componente relativo às condições sanitárias. Uma segunda

análise sobre o componente Saneamento, composto pelo percentual de domicílios

particulares com abastecimento de água inadequada ou ausente, percentual de

domicílios particulares permanentes com destino do lixo de forma inadequada ou

ausente, percentual de domicílios particulares permanentes com esgotamento

sanitário inadequado ou ausente, demonstrou ser importante na discriminação das

áreas mais vulneráveis (BRASIL, 2000).

Já o percentual de pessoas analfabetas evidenciou os setores segundo

situação de analfabetismo de seus moradores. Para o IBGE a pessoa alfabetizada é

a pessoa capaz de ler e escrever um bilhete simples no idioma de seu

conhecimento. Aquela que aprendeu a ler e escrever, mas esqueceu e a que apenas

assinava o próprio nome foi considerada analfabeta. O percentual de chefes de

famílias com 4 anos ou menos de estudo procurou evidenciar a situação de

educação dos chefes de família, considerando sua influência na inserção no

mercado de trabalho. Outro componente foi o da Educação, que demonstrou ser

importante na discriminação das áreas mais vulneráveis. Em relação à renda, foi

destacado o percentual de chefes de famílias com renda de até 2 salários mínimos.

Esse indicador procurou evidenciar as áreas com população de baixa renda

(BRASIL, 2000).

Sobre a situação social, foi utilizada a proporção de chefes de famílias de 10

a 19 anos, indicador que evidencia uma situação social de vulnerabilidade para a

família. Inicialmente, numa primeira aproximação desse tema, foi identificado que

33,2% dos domicílios de Fortaleza são chefiados por mulheres. Observou-se que

65,8% dessas mulheres recebem até 02 salários mínimos. Diante disso, concluiu-se

que a maioria das famílias chefiadas por mulheres são de baixa renda. O indicador

procurou apontar a proporção de mulheres responsáveis por domicílio em cada setor

73

censitário, buscando evidenciar uma situação social de vulnerabilidade para a

família (BRASIL, 2000).

O componente relativo à situação social foi composto por dois indicadores, o

primeiro demonstrou ter um muito pouco poder de discriminação para as áreas mais

vulneráveis. O segundo indicador conseguiu discriminar melhor essas áreas. O IVS

originalmente utiliza, nesse componente, os dados relativos à mortalidade que não

puderam ser agregados nessa análise de Fortaleza por falta de uma base de

endereços que possibilitasse o georreferenciamento dos endereços dos óbitos no

município e sua identificação por setor censitário (BRASIL, 2000).

A análise da dispersão dos valores obtidos por setores censitários em relação

a cada indicador possibilitou a atribuição de pesos que considerassem o seu poder

de discriminação. A cada indicador foi associado um peso que foi utilizado para o

cálculo do índice composto, conforme demonstrado no Quadro 7.

Dispersão Peso Calculado

Peso utilizado

Indicador Discrimina

0,0108 0,330 0,30 Fornecimento de água Pouco 0,0979 2,89 3,00 Escoamento Sanitário Muito 0,002 0,06 0,00 Coleta lixo Nada

3,28

3,30 Indicador Sanitário MUITO BOM

0,0015 0,01 0,00 Domicílio Improvisado Nada 0 0,00 0,00 Moradores por domicílios Nada 0,01 0,00 Indicador Habitação NADA

0,0359 1,07 1,00 Analfabetismo Médio 0,0466 1,38 1,50 Até 4 anos de estudo Bom

2,45 2,50 Indicador Educação BOM 0,0371 1,112 1,00 % de 2 SM Médio 0,0473 1,406 1,50 Renda Invertida Bom

2,52 2,50 Indicador de Renda BOM 0,0063

0,184 0,20 Chefe Família de 10 a 19

anos Muito Pouco

0,0456 1,356 1,50 Chefe família Mulher Bom 1,540 1,70 Indicador Situação social MÉDIO

Total 9,80 10,00

Quadro 7. Indicadores sociais segundo a classificaç ão de sua utilização.

Fonte: Fortaleza/CE, 2009. Relatório da Consultoria social realizada entre 2008 e 2009.

Foram excluídos do Quadro 8 abaixo os indicadores que tiveram peso 0

(zero) no índice de vulnerabilidade à Saúde (IVS), após a análise, quais sejam: o

Componente Saneamento: Percentual de domicílios particulares permanentes com

74

destino do lixo de forma inadequada ou ausente; Componente Habitação: Percentual

de domicílios improvisados no setor censitário; Razão de moradores por domicílio.

Setores %

Classificação IVS 2008 IVS

2009 Diferença IVS 2008 IVS

2009 Diferença BA 749 772 23 34,5 35,5 1,0 MD 718 700 -18 33,0 32,2 -0,8 EL 519 525 6 23,9 24,1 0,2 ME 188 177 -11 8,6 8,1 -0,5 2.174 2.174 100,0 100

Quadro 8: Comparativo IVS anterior e IVS novo

Fonte: Fortaleza/CE, 2009. Relatório da Consultoria social realizada entre 2008 e 2009.

Já a Tabela 4 aponta a classificação do Município de Fortaleza segundo o

grau de vulnerabilidade calculado a partir do IVS.

TABELA 4

Classificação da população de Fortaleza, domicílios e setores censitários, segundo categoria de risco do IVS

IVS População Domicílios Setores Categoria de risco

Min Máx N % n % n % Baixo 0,44 3,48 696340 32,5 180.339 34,3 772 35,5 Médio 3,49 5,10 713953 33,3 171.256 32,6 700 32,2

Elevado 5,11 6,71 561.819 26,2 134.775 25,6 525 24,1 Muito Elevado 6,72 7,82 168.932 7,9 39.677 7,5 177 8,1

Total 2.141.044 100,0 526.047 100,0 2.174 100,0

Fonte : BRASIL. IBGE. Censo Demográfico 2000.

Segundo o IVS, 34,1% da população de Fortaleza, ou seja, 730.751

habitantes e 174.472 domicílios estão localizados em áreas de risco elevado e muito

elevado. Na perspectiva de implantação e expansão dos CRAS no Município, esta

seria a população alvo da política de Proteção Social Básica. Tanto no processo de

referenciamento dos CRAS de Fortaleza quanto de Belo Horizonte, notam-se limites

uma vez que de fato, ambos, não identificam a realidade indicada pela PNAS no que

tange à localização das famílias mais vulneráveis em territórios também, vulneráveis.

O Índice de Vulnerabilidade à Saúde (IVS) utilizado por ambos os Municípios

para apontar territórios vulneráveis para implantação de CRAS apresenta limitações

75

de várias ordens. Os dados utilizados para alimentar os indicadores sociais são

relativos a 2000, ano da realização do último Censo Demográfico pelo IBGE, além

disso, não captam a totalidade do conceito de qualidade de vida, ou de saúde, em

um único indicador. Há por fim perda de informações a cada passo de síntese, os

critérios para definição das variáveis relevantes são insuficientes tanto do ponto de

vista teórico, no que diz respeito à confiabilidade e validade do dado coletado.

Os dois Municípios aqui descritos não utilizaram os dados do CadÚnico de

programas sociais do Governo Federal para identificação do público para implantar

territórios de CRAS. Em ambos, o IVS é composto de variáveis que não contemplam

as determinações do MDS para identificação do público prioritário de atendimento

nos CRAS. Ressalta-se, porém, que nenhum dos dois Municípios até início de 2011

tinha forma melhor de identificar territórios precários para orientar a implantação dos

serviços. Observa-se, também, que o indicador do IVS não contém dados suficientes

para identificação do público prioritário da Assistência Social, o que dificulta o

cumprimento da diretriz do SUAS em atender os beneficiários do Programa Bolsa

família, beneficiários do BPC e dos Benefícios Eventuais. Além desse fato, em

Fortaleza nota-se a falta de instrumentos tecnológicos e de georreferenciamento

capazes de identificar o público no território onde mora.

Vale ressaltar que nos dois casos apresentados, a implantação dos CRAS

seguiu a rota de equipamentos obsoletos localizados em áreas de favelas ou na

periferia do Município, transformando-os em CRAS, em vez de fato, localizar os

territórios vulneráveis pelo público vulnerável que o habita e não tão somente pela

precária infra-estrutura urbana, pela quase inexistência de serviços sociais, pela

acessibilidade precária, baixa escolaridade e renda, entre outros. Dessa forma, os

CRAS não atendem na sua totalidade o seu propósito de trabalhar na especificidade

do seu objeto, ou seja, com o público vulnerável pela renda, pela deficiência e pela

idade.

Nestes dois Municípios, utilizou-se do IVS para identificar o grau de risco dos

territórios, o que não deixa de ser válido, porém ainda continuam com o problema de

localizar o seu público e referenciá-lo. Os estudos feitos pelos Municípios aqui

apresentados não antecederam a escolha territorial mais apropriada à implantação

de CRAS, ou seja, esses estudos foram feitos depois da instalação dos CRAS,

tornando-se paliativos e pouco operacionais para o propósito do MDS.

76

Todas as deficiências de territorialização dos Municípios acima se centram na

identificação, no território, do público prioritário da Assistência Social a partir da

utilização de dados atualizáveis sistematicamente. O capítulo 5 trata da construção

de indicadores sociais utilizando-se do CadÚnico dos Municípios de Belo Horizonte

e Fortaleza para avaliar a sua propriedade e aplicabilidade para fins de identificação

do público específico da PSB, bem como compreender em que medida o CadÚnico

tem elementos para a identificação desse público e o quanto ele o identifica.

77

5 METODOLOGIA E RESULTADOS A PARTIR DO USO DO CADA STRO ÚNICO

Este capítulo apresenta a descrição do processo metodológico trilhado

para construir os indicadores elaborados a partir dos dados do CadÚnico do

Município de Belo Horizonte e do Município de Fortaleza. Os dados do

CadÚnico do Município de Belo Horizonte datam de março de 2009 e fevereiro

de 2010 e os dados de Fortaleza, de outubro de 2010. O objetivo é examinar a

viabilidade de identificação mais precisa do público prioritário dos serviços da

Proteção Social Básica (PSB) do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

em comparação com o que foi feito nos dois Municípios.

Partindo-se da verificação de que o CadÚnico dos programas sociais do

Governo Federal é um banco de dados com informações suficientes para

identificar o público prioritário dos serviços da PSB-SUAS, pode-se verificar

variáveis selecionadas a partir do CadÚnico tendo em vista o público específico

de cada um dos três serviços que compõem a PSB, quais sejam, o Serviço de

Proteção e Atenção Integral à Família (PAIF), o Serviço de Convivência

Familiar e Comunitária e o Serviço de Proteção Básica em Domicílio a pessoas

com Deficiência e Idosas.

Neste trabalho foi feito, como piloto, um exercício com o PAIF. Foram

analisadas as informações para cada uma das quatro características que

compõe o Serviço PAIF tal como está descrito na Resolução da CIT 109 –

Tipificação de Serviços Socioassistenciais. (Quadro 1, p. 33). Em cada um

desses itens foram selecionados variáveis indicativas de cada condição, se

mais ou menos favorável. Esses indicadores foram então sintetizados no

indicador composto PAIF. Para os serviços da PSB-SUAS são apresentados os

itens que descrevem o público prioritário, as informações do CadÚnico que

podem ser utilizadas e os itens que não podem ser atendidos com dados do

CadÚnico.

É necessário ressaltar que o CadÚnico tem um vasto potencial para o

uso da PSB-SUAS dadas as informações que são coletadas, a regularidade da

atualização desses dados e a possibilidade de utilização do Código de

78

Endereçamento Postal (CEP) para localizar no espaço metropolitano os

indivíduos, famílias e domicílios mais vulneráveis. Entretanto, há, também,

limitações e a ausência de informações a respeito de algumas condições e

situações relevantes para a Assistência Social não constam da versão 6.0 do

CadÚnico. Outra limitação diz respeito à qualidade dos dados. Cadastros com

dados defasados ou com informações imprecisas resultarão, obviamente, em

indicadores inválidos.

Por fim, cabe frisar que o banco de dados do CadÚnico disponibilizado

pela Prefeitura de Belo Horizonte para uso nesta dissertação contêm a variável

identificadora de domicílio e a variável que informa a posição de cada membro

do domicílio. Portanto, a unidade de análise no caso de Belo Horizonte é o

domicílio, de acordo com as características dos membros que o compunham

na data de referência do cadastro. O banco de dados do CadÚnico

disponibilizado pela Prefeitura de Fortaleza para uso nesta dissertação não

contém estas duas variáveis. Conseqüentemente, no caso de Fortaleza, foi

feito um exercício de identificação de perfis individuais. A identificação

individual também pode ser valiosa para a localização geográfica, sendo

necessário somente associar a identificação do domicílio e o CEP do mesmo.

A escolha dos Municípios, como mencionado anteriormente, pautou-se

na habilitação junto ao MDS. Ambos se encontram habilitados na gestão Plena

do SUAS, podendo receber cofinanciamento federal para implementar serviços

dos diversos níveis de proteção social. Além disso, Belo Horizonte e Fortaleza

elaboraram procedimentos próprios para identificar o público prioritário e

direcionar a implementação do CRAS, que não lançam mão dos dados do

CadÚnico, não atendendo, assim, as determinações do SUAS.

Para chegar-se a um indicador minimamente apropriado, utilizou-se o

conceito de Jannuzzi (2001) segundo o qual o indicador social refere-se a uma

medida, em geral, quantitativa dotada de um significado social abstrato, ou

seja, ele é usado para substituir, quantificar um conceito social abstrato,

podendo ser tanto de interesse acadêmico quanto programático, de interesse

público, informando algo sobre a realidade. Para a definição das dimensões a

serem examinadas, a própria natureza desta dissertação as estabelecem no

79

âmbito da dimensão social de inclusão e/ou inserção social própria dos

serviços da PBS no CRAS, de acordo com os critérios para a identificação do

público específico de cada um dos três serviços da PSB.

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos é realizado em

grupos de modo a garantir aquisições progressivas aos seus usuários, de

acordo com o seu ciclo de vida, a fim de complementar o trabalho social com

famílias e prevenir a ocorrência de situações de risco social. O público é

composto de crianças de até 6 anos, crianças e adolescentes de 6 a 15 anos,

adolescentes e Jovens de 15 a 17 anos, Idosos(as) com idade igual ou superior

a 60 anos, em situação de vulnerabilidade social (BRASIL, 2009, Resolução

109).

Já o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com

Deficiência e Idosas tem características bastante específicas. A sua finalidade

é a prevenção de agravos que possam provocar o rompimento de vínculos

familiares e sociais dos usuários. O público prioritário e específico desse

serviço são pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam

situação de vulnerabilidade social pela fragilização de vínculos familiares e

sociais e/ou pela ausência de acesso a possibilidades de inserção, habilitação

social e comunitária (BRASIL, 2009, Resolução 109).

Por fim, o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF)

está voltado para o trabalho social de caráter continuado com famílias e seus

membros, com a finalidade de fortalecer a função protetiva de toda a família.

Os usuários desse serviço são famílias em situação de vulnerabilidade social

decorrente da pobreza e, portanto inseridas em programas de transferência de

renda, fragilidade pelo ciclo de vida e pela deficiência residentes nos territórios

de abrangência dos CRAS (BRASIL, 2009, Resolução 109). Voltado para

família com características específicas e encaminhando para os demais

serviços da PSB no território, esse serviço sustenta as ações

socioassistenciais17

17 Ver nos anexos E & F o estudo sobre as variáveis dos demais serviços que compõem a PSB no CRAS.

80

Como mencionado anteriormente, o exame da aplicabilidade dos dados

do CadÚnico para a identificação do público potencial dos serviços da PSB nos

CRAS, o exercício da construção das variáveis e do indicador sintético foi feito

para o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). A escolha

desse serviço deve-se a sua importância para a PSB na medida em que é por

meio dele que o público deve ser encaminhado para os demais serviços, ou

seja, ele reúne os perfis de público dos demais serviços. Espera-se, com esse

serviço de ação familiar, reduzir a ocorrência de situações de vulnerabilidade

social por fragilidade de renda, ampliar o acesso dos usuários dos demais

serviços da rede socioassistencial melhorando a qualidade de vida do público

do conjunto dos três serviços da PSB (BRASIL, 2009, Resolução 109).

A construção de variáveis para cada público específico é importante

para verificar se o indicador criado é sensível o suficiente para identificar, no

território intramunicipal, o público prioritário de cada serviço. Identificar as

vulnerabilidades sociais classificadas como objeto de intervenção do poder

público nos seus diversos tipos de complexidade, por meio do CadÚnico,

implica em reconhecer a importância deste banco de dados para a Assistência

Social.

O Quadro 9 abaixo, além de outras informações, traz a descrição das

características do serviço PAIF. São quatro características: Famílias

beneficiárias de programas de transferência de renda e benefícios

assistenciais, Famílias que atendem os critérios de elegibilidade a tais

programas ou benefícios, mas que ainda não foram contempladas, Famílias em

situação de vulnerabilidade em decorrência de dificuldades vivenciadas por

algum de seus membros; Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que

vivenciam situações de vulnerabilidade e risco social (vulnerabilidade pelo ciclo

de vida e risco referente à violação de direitos tais como violência sexual, maus

tratos, negligência roubo entre outros

81

Continua Serviço de Proteção e Atendimento Integral à

Família – PAIF DESCRIÇÃO

VARIÁVEIS DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS OPERACIONALIZAÇÃO

RESULTADO A SER

ANALISADO INDICADOR 1. Famílias beneficiárias de programas de transferência de renda e benefícios assistenciais

Data de nascimento Q2_202

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos e acima de 60 anos

Separar cadastro de 0 a 6; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos e acima de 60 anos

Vulnerabilidade pela idade

Transferência de renda = programa bolsa escola, bolsa alimentação, bolsa cidadã (PETI), LOAS/BPC e Agente Jovem (hoje, Bolsa variável Jovem (BVJ)).

Bolsa Escola - BE Q2_270_3 criança de 0 a 6 anos em família com bolsa escola

Separar cadastro de criação de 0 a 6 anos que recebe bolsa escola SIM = 1; NÃO = 0

Vulnerabilidade pela idade

Bolsa Escola - BE Q2_270_3 7 a 14 anos; 15 a 18

anos Separar cadastro de 7 A 14 que recebe Bolsa Escola SIM = 1; NÃO = 0

Vulnerabilidade pela idade

Bolsa Escola - BE Q2_270_3

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos

Separar cadastro de 15 a 18 anos que recebe bolsa escola SIM = 1; NÃO = 0

Vulnerabilidade pela idade

Bolsa Alimentação - BA Q2_270_4

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos

Separar cadastro de 0a 6 que recebe Bolsa Alimentação SIM = 1; NÃO = 0

Desenvolvimento infantil

Bolsa Alimentação - BA Q2_270_4

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos

Separar cadastro de 7 a 14 que recebe Bolsa Alimentação SIM = 1; NÃO = 0

Desenvolvimento infanto-juvenil

Bolsa Alimentação - BA Q2_270_4

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos e acima de 60 anos

Separar cadastro de 15 a 18 anos que recebe bolsa Alimentação SIM = 1; NÃO = 0

Desenvolvimento juvenil

Bolsa Cidadã - PETI Q2_270_1_1 Vulnerabilidade pelo

trabalho infantil Separar cadastro de 0 a 6 que recebe bolsa cidadã SIM = 1; NÃO = 0

Desenvolvimento infantil

Bolsa Cidadã - PETI Q2_270_1_1 Vulnerabilidade pelo

trabalho infantil Separar cadastro de 7 a 14 que recebe Bolsa cidadã SIM = 1; NÃO = 0

Desenvolvimento infanto-juvenil

LOAS/BPC Q2_270_6 Vulnerabilidade pela renda e/ou pela deficiência

Separar cadastro de idosos acima de 65 anos que recebe o BPC por deficiência SIM = 1; NÃO = 0

Vulnerabilidade pela idade, renda e pela deficiência

LOAS/BPC Q2_270_6 Vulnerabilidade pela renda e/ou pela deficiência

Separar cadastro de idosos acima de 65 anos que recebe o BPC pela vulnerabilidade de renda SIM = 1; NÃO = 0

Vulnerabilidade pela idade e pela renda

82

Continua

Agente Jovem Q2_270_2_1 15 a 18 anos 15 a 18 anos com bolsa jovem SIM = 1; NÃO = 0

2. Famílias que atendem os critérios de elegibilidade a tais programas ou benefícios, mas que ainda não foram contempladas (CONTRAPARTIDA DO 1 PARA FAMÍLIAS NÃO BENEFICIÁRIAS)

Quantidade de pessoas no domicílio

Q1_222 Estabelecer que o ideal seja no máximo 5 pessoas

Separar os cadastros das famílias que tem acima de 6 pessoas residindo no mesmo domicílio

Se tiver até 5 pessoas = 0; se tiver acima de 6 = 1

Critérios de elegibilidade = recorte de renda igual ou abaixo de 1/2 de salário mínimo

Número de pessoas que vivem da renda desta

família Q2_262

Separar os cadastros que informam a quantidade de pessoas no domicílio e DIVIDIR pelo número de pessoas que vivem da renda desta família

Separar os cadastros de famílias que tem de 50% a 100% das pessoas que vivem de uma única renda

Se for de 100% a 50% = 1; Se for inferior a 49% = 0

Dependência econômica familiar

Número de pessoas que vivem da renda desta

família Q2_262

Separar os cadastros que informam a quantidade de pessoas no domicílio e DIVIDIR pelo número de pessoas que vivem da renda desta família

Separar cadastros de famílias que tem igual ou menor de 49% das pessoas que vivem de uma única renda

Se for de 100% a 50% = 1; Se for inferior a 49% = 0

Segurança econômica familiar garantida/não garantida

Remuneração deste emprego Q2_247

Dado informado Separar os valores até 1 SM Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Segurança econômica familiar garantida/não garantida

Renda de aposentadoria/pensão Q2_248

Dado informado Separar os valores até 1 SM Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Segurança econômica familiar garantida/não garantida

Renda de Seguro-Desemprego

Q2_249

Dado informado Separar os valores até1 SM Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Segurança econômica familiar garantida/não garantida

Renda de pensão alimentícia Q2_250

Dado informado Separar os valores até 1 SM Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Segurança econômica familiar garantida/não garantida

83

Continua

Outras rendas Q2_251

Dado informado Separar os valores até 1 SM Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Segurança econômica familiar garantida/não garantida

Beneficiário prioritário para o Programa Bolsa

Alimentação

Q2_271 Fragilidade da alimentação

Separar cadastro de criança de 0 a 6 anos com prioridade para o programa Bolsa Alimentação

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Beneficiário prioritário para o Programa Bolsa

Escola

Q2_272 Fragilidade da alimentação

Separar cadastros de criança e adolescente de 7 a 14 com prioridade para o programa Bolsa escola

Se SIM = 1; Se NÃO/DEMAIS = 0

3. Famílias em situação de vulnerabilidade em decorrência de dificuldades vivenciadas por algum de seus membros;

3A - fragilidade pelo ciclo de vida Data de nascimento Q2_202 Fragilidade pelo ciclo de vida

Se membro familiar < 15 ou > 60 = 1; demais = 0

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

3B- Fragilidade pela deficiência Tipo de

deficiência_cequeira

Q2_214_1

Pessoa com deficiência (independente de possuir mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência CEQUEIRA

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Tipo de

deficiência_Mudez

Q2_214_2

Pessoa com deficiência (independente de possuir mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência MUDEZ

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Tipo de

deficiência_Surdez

Q2_214_3

Pessoa com deficiência (independente de possuir mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência SURDEZ

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Tipo de

deficiência_Mental

Q2_214_4

Pessoa com deficiência (independente de possuir mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficIência MENTAL

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

84

Tipo de deficiência_Física

Q2_214_5

Pessoa com deficiência (independente de possui mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência FÍSICA

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

3C - Fragilidade pela renda FEITO ACIMA SIM = 1; NÃO = 0

3D - Fragilidade pela dependência química SEM IDENTIFICAÇÃO

Segurança de sobrevivência a riscos

4 - Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de vulnerabilidade e risco social (vulnerabilidade pelo ciclo de vida e risco referente à violação de direitos tais como violência sexual, maus tratos, negligência roubo entre outros)

Segurança de sobrevivência a riscos

4A - Vulnerabilidade pelo ciclo de vida - idosa igual superior a 60 anos FEITO ACIMA

SIM = 1; NÃO = 0

4B - Vulnerabilidade pela deficiência FEITO ACIMA SIM = 1; NÃO = 0

4C - Risco decorrente da negligência SEM IDENTIFICAÇÃO

Segurança de sobrevivência a riscos

4D - Risco por maus tratos SEM IDENTIFICAÇÃO

Segurança de sobrevivência a riscos

4E - Risco pela Violência Sexual SEM IDENTIFICAÇÃO

Segurança de sobrevivência a riscos

Quadro 9: Tratamento das informações referentes ao conjunto dos Serviços da Proteção Social Básica.

Fonte: BRASIL. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução da CIT n 109 de 11 de novembro de 2009; Resolução da CIT n 7 de 10 de setembro de 2009.

85

Para identificar o público potencial para o PAIF a partir do quadro acima, foi

feito a seguinte descrição sobre o serviço:

1 - Famílias beneficiárias de programas de transferência de renda e

benefícios assistenciais;

2 - Famílias que atendem os critérios de elegibilidade a programas ou

benefícios, mas que ainda não foram contempladas;

3 - Famílias em situação de vulnerabilidade em decorrência de dificuldades

vivenciadas por algum de seus membros; e

4 - Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de

vulnerabilidade e risco social (vulnerabilidade pelo ciclo de vida e risco referente à

violação de direitos tais como violência sexual, maus tratos, negligência roubo entre

outros).

Cada item contém subitens, os quais podem ser associados a um quesito do

formulário do Cadastro Único e, logo, a uma variável do banco de dados do

Cadastro Único (anexos B e C). Cada uma dessas variáveis permite a estimação de

proporções, percentuais ou outro tipo de indicador simples. Os indicadores simples,

por sua vez, podem ser combinados de forma a constituírem um indicador composto

ou sintético. Em geral, indicadores sintéticos tais como o Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) e o Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU) mesclam

informações de diferentes dimensões sociais presentes em vários indicadores

simples (NAHAS, 1997). A interpretação desses indicadores tem, via de regra, a

mesma lógica, qual seja, um valor mínimo, em geral indicando a pior situação, e um

valor máximo, em geral indicando a melhor situação.

Vale ressaltar que há indicadores mais e menos simples. A proporção de

famílias ou domicílios com pelo menos um membro que apresente algum tipo de

deficiência é dado pela razão do total de domicílios com pelo menos um membro

com esta característica e o total de domicílios. A renda domiciliar mensal per capita,

por outro lado, demanda a soma da renda de todos os membros dos domicílios e a

divisão pelo total de membros. Essa manipulação dos dados requer alguma

capacidade no uso de programas estatísticos, tal como o Statistical Package for the

Social Sciences (SPSS).

Como os dados dos bancos de Belo Horizonte e Fortaleza disponibilizados

para uso têm a maioria das variáveis em formato alfanumérico, isto é, não são

identificadas pelo programa como um número, foi necessário passá-las para o

86

formato numérico. Por exemplo, variáveis que tinham as palavras ‘SIM’ e ‘NÃO’ para

cada indivíduo do domicílio foram transformadas, respectivamente, em 1 e 0. Dessa

forma, elas podem ser somadas com outras variáveis binárias de forma a se criar

uma nova variável, ou indicador, que permita a identificação de características

múltiplas. Outro cuidado que teve de ser tomado e que merece menção foi o

tratamento das variáveis de data, que também estavam em formato alfanumérico,

para que se tomassem o formato de data. Com isso, foi possível calcular a idade de

cada indivíduo, bem como o tempo decorrido entre o cadastramento e a última

atualização cadastral.

Para a identificação do público potencial do PAIF foram selecionados os

seguintes indicadores:

1. Famílias beneficiárias de programas de transferência de renda e benefícios

assistenciais

a. Indicador: Segurança Social de Acolhida e de inserção em programas sociais =

membro/s beneficiário/s do Programa Bolsa Alimentação, Bolsa Cidadã (PETI),

Bolsa Escola ou BPC;

b.Indicador: Segurança Social de Acolhida e de inserção específico no programa

Bolsa Família = membro/s beneficiário/s do Programa Bolsa Família = NÃO

DISPONÍVEL

c. Indicador: Desenvolvimento infantil/característica de fragilidade alimentar = ciclo

de vida (0 a 6 anos) e recebimento de Bolsa Alimentação e/ou Bolsa Cidadã

(PETI);

d.Indicador: Desenvolvimento infanto-juvenil/característica de trabalho infantil =

ciclo de vida (7 a 14 anos) e recebimento de Bolsa Alimentação, Bolsa Escola

e/ou Bolsa Cidadã (PETI);

e. Indicador: desenvolvimento infanto-juvenil/característica inserção na escola =

ciclo de vida (15 a 18 anos) e recebimento de Bolsa Alimentação e/ou Bolsa

Escola;

f.Indicador: fragilidade dupla pelo ciclo de vida/idosos e deficiência= ciclo de vida

(igual e/ou cima de 60) que recebe BPC por critério de renda e/ou deficiência;

Para o Item 1, foi criada uma variável para cada família/domicílio, no caso de Belo

Horizonte, indicando se havia um membro ou mais de um membro beneficiário dos

programas PETI, Bolsa Escola (BE), Bolsa Alimentação (BA), Agente Jovem e

87

LOAS/BPC. Portanto, cada domicílio foi classificado com os valores 0 (nenhum

beneficiário), 1 (um beneficiário), 2 (dois ou mais beneficiários). No caso de

Fortaleza só é possível identificar se o indivíduo é beneficiário de algum programa,

uma vez que, como mencionado, não há variável com o registro do domicílio a que

pertence cada elemento. É possível, entretanto, identificar se o indivíduo recebe

benefício ou é residente de um domicílio com mais de um benefício.

2. Famílias que atendem aos critérios de elegibilidade a programas ou benefícios,

mas que ainda não foram contempladas

a. Indicador: Segurança Social de Renda = Renda domiciliar per capita abaixo de ¼

de salário mínimo (SM) vigente em 2009 (R$465,00), entre ¼ e ½ SM e mais de ½

SM.

Para este item, foi estimada a renda domiciliar mensal per capita. Aqueles

domicílios, no caso de Belo Horizonte, cuja renda domiciliar mensal per capita era

inferior a ¼ do salário mínimo vigente à época foi classificado com o valor 2; os

domicílios com renda domiciliar per capita entre ¼ e ½ SM foram classificados com o

valor 1; os domicílios com renda domiciliar mensal per capita acima de ½ SM

receberam o valor 0 neste indicador. A estimação desta variável não é possível para

o caso de Fortaleza.

3. Famílias em situação de vulnerabilidade em decorrência de dificuldades

vivenciadas por algum de seus membros;

a. Fragilidade pelo ciclo de vida = presença de membro entre 0 e 6 anos;

b. Fragilidade pelo ciclo de vida = presença de membro entre 7 e 14 anos;

c. Fragilidade pelo ciclo de vida = presença de membro entre 15 e 18 anos;

d. Fragilidade pelo ciclo de vida = presença de membro com 60 anos ou mais;

e. Fragilidade pela deficiência = Presença ou não de algum tipo de deficiência;

Com relação a este item, os domicílios foram classificados de acordo com o

número de indivíduos do domicílio com deficiência auditiva, visual, física, mental

ou outro tipo. Os domicílios sem membros deficientes foram classificados com o

valor 0, aqueles com um membro deficiente receberam o valor 1 e aqueles com

dois ou mais membros deficientes receberam o valor 2. No caso de Fortaleza só é

88

possível identificar se o indivíduo é deficiente ou não, uma vez que, novamente,

não há variável com o registro do domicílio a que pertence cada elemento. É

possível, entretanto, identificar se o indivíduo padece de mais de uma deficiência.

Com relação à composição etária, os domicílios foram classificados de acordo com o

número de indivíduos do domicílio com até 18 anos ou 60 anos e mais. Os

domicílios sem membros nesses grupos etários foram classificado com o valor 0,

aqueles com até metade de seus membros nesses grupos etários receberam o valor

1 e aqueles com mais da metade de seus membros nesses grupos etários

receberam o valor 2. A estimação desta variável não é possível para o caso de

Fortaleza.

f. Fragilidade pela dependência química = NÃO DISPONÍVEL

4. Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de

vulnerabilidade e risco social (vulnerabilidade pelo ciclo de vida e risco referente à

violação de direitos tais como violência sexual, maus tratos, negligência roubo

entre outros)

a. Indicador: Segurança Social de Sobrevivência a Risco Social e Pessoal =

freqüência simples da Vulnerabilidade pelo ciclo de vida - idoso com idade igual

ou superior a 60 anos – já estimado no subitem 3

b.Indicador: Segurança Social de Sobrevivência a Risco Social e Pessoal =

freqüência simples da vulnerabilidade pela deficiência – já estimado no subitem 2

c. Indicador: Segurança Social de Sobrevivência a Risco Social e Pessoal = Risco

decorrente da negligência = NÃO DISPONÍVEL

d.Indicador: Segurança Social de Sobrevivência a Risco Social e Pessoal = Risco

por maus tratos = NÃO DISPONÍVEL

e. Indicador: Segurança Social de Sobrevivência a Risco Social e Pessoal = Risco

pela Violência Sexual = NÃO DISPONÍVEL

O Indicador Sintético PAIF para Belo Horizonte é o resultado da soma dos

cinco indicadores descritos acima, quais sejam, (1) presença de membro(s)

beneficiário(s) do PETI, BA, BE, Agente Jovem e BPC; (2) renda domiciliar per

capita mensal; (3) presença de membro(s) prioritário(s) dos programas BA e BE,

mas que não os recebem; (4) presença de membro(s) com deficiência; e (5)

89

presença de membros até 18 anos ou com 60 ou mais. Todos foram criados com

três valores categóricos – 0, 1 e 2. Portanto, a soma dos cinco indicadores PAIF

pode variar entre 0 e 10, sendo 0 indicativo da situação mais favorável e 10, da

situação mais desfavorável (ver Anexo B e C para as variáveis, ou campos,

utilizados na elaboração dos indicadores). Como se pode depreender das

observações feitas a respeito de Fortaleza, não é possível calcular o Indicador

Sintético PAIF com os dados da forma como foram disponibilizados.

5.1 - Belo Horizonte

As Tabelas de 5 a 11 apresentam os resultados dos cinco indicadores

construídos para o PAIF para o Município de Belo Horizonte. A Tabela 12 apresenta

os resultados do indicador sintético PAIF.

A Tabela 5 retrata o conjunto de indicadores do serviço PAIF relacionado ao

que especificamente determina o percentual de famílias beneficiárias de programas

de transferência de renda e benefícios assistenciais tais como o Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), LOAS/BPC, Bolsa Alimentação (BA), Bolsa

Escola (BE), Agente Jovem (atual Projovem Adolescente). Ao analisá-la, percebe-se

que é alto o número de famílias que não recebe nenhum tipo de benefício, cerca de

97%. Porém, o restante, cerca de 3%, tem inserção em algum outro programa de

transferência de renda. Esses números podem não refletir a realidade existente no

Município se comparados ao percentual de Nenhum, mas o que se pretende é

registrar que o CadÚnico consegue captar a especificidade pretendida para o

atendimento nos serviços da PSB e, neste caso, o PAIF. Atente-se, porém, para o

fato de que o número de pessoas que recebem a transferência de renda proveniente

da Bolsa Alimentação e Bolsa Escola é pequeno se pensarmos que estas

transferências compõem o Programa Bolsa Família. Nos Quadros 6 e 7, por

exemplo, nota-se que o percentual total não chega a 1%. Em Belo Horizonte, os

dados de setembro de 2010 indicam que cerca de 68.734 famílias recebem o

benefício do Programa Bolsa Família. (BRASIL, 02/09/2010).

90

TABELA 5

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo a presença de um ou mais membros beneficiár ios dos programas

PETI, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Agente Jovem e LOAS/BPC Membro/s do domicílio beneficiário/s (PETI, AJ, BE, BA, BPC)

Frequência Percentual Número Frequência %

acumulada acumulado Nenhum 133.825 97.22 133.825 97.22 Um 1.950 1.42 135.775 98.64 2 ou mais 1.875 1.36 137.650 100.00

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte referentes a fevereiro de 2010.

TABELA 6

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo a presença de um membro ou mais do domicíli o beneficiário de Bolsa

Escola Benefício (de um ou mais membros do domicílio): Bol sa Escola

Frequência Percentual Bolsa Escola Frequência %

acumulada acumulado Não 137.615 99.97 137.615 99.97 Sim 35 0.03 137.650 100.00

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte referentes a fevereiro de 2010.

TABELA 7

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo a presença de um membro ou mais do domicíli o beneficiário de Bolsa

Alimentação Benefício (de um ou mais membros do domicílio): Bol sa Alimentação

Frequência Percentual Bolsa Alimentação Frequência %

acumulada acumulado Não 137.567 99.94 137.567 99.94 Sim 83 0.06 137.650 100.00

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte referentes a fevereiro de 2010

A Tabela 8 apresenta o percentual de domicílios com insuficiência de renda.

Tal insuficiência de renda é importante de ser identificada principalmente se a renda

existente advém específica e unicamente de programas de transferência de renda. A

família se encontra em vulnerabilidade social e deve ter a atenção dos serviços do

SUAS. Note-se, por exemplo, que cerca de 68% dos domicílios cadastrados em Belo

91

Horizonte têm renda domiciliar per capita mensal inferior a 1/4 SM, o que sugere alta

fragilidade. Observa-se, comparando os dados da Tabela 5 com o resultado da

Tabela 8, que cerca de 97% de indivíduos cadastrados no CadÚnico da Tabela 5

não estavam inseridos em nenhum benefício e/ou programa de transferência de

renda. Porém, na Tabela 8, cerca de 68% dos domicílios têm renda per capita menor

que ¼ do SM. Isso pode significar, entre outras coisas, que o cadÚnico de Belo

Horizonte apresentava inconsistências uma vez que o recorte de renda dentro dos

critérios estabelecidos de até 1/2 SM favorece a inclusão do grupo familiar em

qualquer programa de transferência de renda.

TABELA 8

Distribuição percentual dos Domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo insuficiência de renda

Percentual Renda domiciliar mensal per capita Frequência % Freqüência

acumulada acumulado Mais de ½ SM mensal per capita 14.646 10.64 14.646 10.64

Entre ¼ e ½ SM mensal per capita 28.511 20.71 43.157 31.35

Menos de ¼ SM mensal per capita 94.493 68.65 137.650 100.00

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte referentes a fevereiro de 2010

A Tabela 9 apresenta a distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de

Belo Horizonte segundo insuficiência de renda- membro/s prioritário/s BA e BE.

Cerca de 91% dos domicílios possuíam insuficiência de renda e não possuíam Bolsa

Alimentação e Bolsa Escola, tornando-se público prioritário para receber tais

benefícios. Se comparar esse dado com o de renda da Tabela 8, o resultado

reafirma que há insuficiência de renda ao mesmo tempo em que um público

necessitado está a descoberto pelo Estado. Vale lembrar que o CadÚnico possibilita

identificar espacialmente essa parcela da população. O restante, cerca de 9%, tem

renda proveniente de benefícios.

92

TABELA 9

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo insuficiência de renda- membro/s prioritári o/s

Percentual Número Frequência % Frequência

acumulada acumulado Nenhum 125.673 91.30 125.673 91.30 Um membro do domicílio

6.703 4.87 132.376 96.17

2 ou mais 5.274 3.83 137.650 100.00

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte referentes a fevereiro de 2010

A Tabela 10 retrata a fragilidade pela deficiência do tipo física, surdez, mudez,

mental entre outras, o CadÚnico permite a sua identificação. Esse dado, agregado

ao dado da renda na Tabela 8, apresenta uma radiografia de prioridade para

inserção em programas de transferência de renda e no caso de dados agregados –

idosos, com renda igual/inferior a ¼ per capita e com algum tipo de deficiência,

requer avaliação para inclusão no Benefício de Prestação Continuada (BPC).

TABELA 10

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo presença de membro com deficiência auditiva , visual, física, mental

ou de outro tipo Membro/s do domicílio com deficiência (mudez, surde z, mental, física, outra)

Percentual Número Frequência % Frequência

acumulada acumulado Nenhum 129.973 94.42 129.973 94.42 Um membro do domicílio

7.188 5.22 137.161 99.64

2 ou mais 489 0.36 137.650 100.00

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte referentes a fevereiro

de 2010

A Tabela 11 identifica o recorte etário para atender a vulnerabilidade pelo

ciclo de vida, ou, em outros termos, pela carga etária domiciliar. Para o SUAS,

idosos acima de 60 anos, criança com até 6 anos, crianças e jovens de 7 a 14 anos,

adolescentes de 15 a 18 anos constituem o público prioritário para inserção nos

serviços da Proteção Social Básica. O CadÚnico de Belo Horizonte permite

93

identificar esse público e dimensionar o seu peso em cada domicílio. Em 2010, cerca

de 38% dos domicílios possuíam o individuo vulnerável segundo faixa etária

estabelecida pela PNAS.

TABELA 11

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo presença de membros até 18 anos e/ou com 60 anos ou mais

Ciclo de vida e carga etária domiciliar: crianças, jovens e idosos em relação ao total de residentes

Percentual Proporção Frequência % Frequência acumulada

acumulado Nulo 14.954 10.86 14.954 10.86 Menos de 50% 69.884 50.77 84.838 61.63

50% ou mais 52.812 38.37 137.650 100.00

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte referentes a fevereiro de 2010.

Por fim, a Tabela 12 apresenta a distribuição percentual dos domicílios

cadastrados em Belo Horizonte segundo o valor do Indicador Sintético PAIF. Esse

indicador assume valores categóricos entre 0, que retrata condições mais favoráveis

e 10, que retrata condições desfavoráveis.

TABELA 12

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Belo Horizonte segundo o valor do Indicador Composto PAIF

Indicador PAIF: benefício + pobreza + prioridade BA /BE + deficiência + carga etária

Percentual Valor Frequência % Frequência

acumulada acumulado 0 4.295 3.12 4.295 3.12 1 5.123 3.72 9.418 6.84 2 25.340 18.41 34.758 25.25 3 54.104 39.31 88.862 64.56 4 39.673 28.82 128.535 93.38 5 7.523 5.47 136.058 98.84 6 1.461 1.06 137.519 99.90 7 114 0.08 137.633 99.99 8 17 0.01 137.650 100.00

Fonte: elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Belo Horizonte referentes a fevereiro de 2010

94

Em síntese, o exercício realizado aponta por uma sensibilidade dos dados do

CadÚnico em identificar a maioria do público elegível para o PAIF em Belo

Horizonte. Os seus resultados apontam que cerca de 29% encontram-se na escala 4

e ao que indica isso só pode ser o resultado de dois indicadores com valores 2 ou de

quatro indicadores com valor 1. Ou seja, pode indicar situações bem diferentes.

Cerca de 1% se encontram em situação desfavorável se contrapondo a cerca de 3%

em situação mais favorável numa razão de 1 para 3, lembrando que 0 indica

situação mais favorável e 10, situação mais desfavorável.

5.2 - Fortaleza

Para Fortaleza foram feitas as Tabelas de 13 a 15 que retratam

prioritariamente a vulnerabilidade pela deficiência e pela inserção em programas de

transferência de renda com destaque para o Programa Bolsa Família, que nesse

caso já veio agregado os benefícios de Bolsa Alimentação e Bolsa Escola. A Tabela

13 indica que 2% dos domicílios possuem famílias que têm algum tipo de

deficiência. Os dados, embora não descritos em tabelas, conseguem dar um

resultado diferenciado para cada tipo de deficiência.

TABELA 13

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Fortaleza segundo presença de membro com deficiência auditiva, visual , física, mental ou de

outro tipo Membro/s do domicílio com deficiência (mudez, surde z, mental, física, outra)

Percentual Número Frequência % Frequência

acumulada acumulado Nenhum 651.757 98 65.1757 98 Um membro do domicílio 12.289 1.9 66.4046 99.7 2 ou mais 1.024 0.2 66.5070 100

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Fortaleza referentes a outubro de 2010.

A Tabela 14 aponta para identificação de beneficiários de programas de

transferência de renda. Do total de domicílio de Fortaleza cadastrados no CadÚnico

cerca de 13% está inserido em programas de transferência de renda, em Belo

95

Horizonte eram cerca de 3%. Aqui daria uma longa análise sobre o grau de inserção

em programas sociais bem como a diferença entre as duas metrópoles até mesmo

em relação ao volume de famílias cadastradas entre as duas.

TABELA 14

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Fortaleza segundo a presença de um ou mais membros beneficiários dos pr ogramas PETI, Bolsa

Escola, Bolsa Alimentação, Agente Jovem e LOAS/BPC Membro/s do domicílio beneficiário/s (PETI, AJ, BE, BA, BPC)

Frequência Percentual Número Frequência %

acumulada acumulado Nenhum 576.007 86.6 576.007 86.6 Um 87.956 13.2 663.963 99.8 2 ou mais 1.101 0.2 665.064 100

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Fortaleza referentes a outubro de 2010.

A Tabela 15 mostra que em Fortaleza cerca de 9% do total de cadastrados

recebiam o benefício do Programa Bolsa Família. Se compararmos essa tabela com

a anterior, verifica-se que 4% que é a diferença entre elas no tocante à inserção em

programas sociais, recebem outro tipo de benefício podendo ser BPC.

TABELA 15

Distribuição percentual dos domicílios do CadÚnico de Fortaleza segundo a presença de um membro ou mais do domicílio benefici ário de Bolsa Família

Benefício (de um ou mais membros do domicílio): Bol sa Família Frequência Percentual

Bolsa Família Frequência % acumulada acumulado

Não 603.312 90,72 603.312 90.72 Sim 61.719 9,3 665.031 100

Fonte: Elaboração da autora a partir dos dados do CadÚnico de Fortaleza referentes a outubro de 2010.

O caso de Fortaleza é um exemplo que, mesmo diante de uma relativa

penúria de dados, é possível utilizar as informações disponíveis do cadÚnico para

identificar indivíduos e domicílios com características que os fazem prioritários para

a Assistência Social. A utilização do Código de Endereçamento Postal (CEP) para a

localização territorial desses indivíduos e domicílios significa mais um passo avante.

96

O CadÚnico, entretanto, não é uma panacéia para tudo. Há critérios, deve

ser lembrado, que requerem informações não levantadas no cadastramento. Por

exemplo, não há como identificar pessoas que cumprem algum tipo de medida

judicial, tal como em meio aberto ministrada pelo Juizado da Infância e Juventude. O

CadÚnico também não possui campos que informem sobre violação de direitos tais

como abusos e assédios de todas as ordens, além de medidas socioeducativas em

meio aberto e/ou semi liberdade. Não possui, ainda, campo que informa as

condições dos idosos para compor o serviço de Proteção Social Básica em

Domicílio. Afora isso, este banco de dados consegue captar variadas informações

que compõem os critérios de inserção em serviços nos CRAS.

De um modo geral, o CadÚnico conseguiu ser sensível na identificação do

público pelas vulnerabilidades postas pela PNAS, estando elas relacionadas à

renda, ao ciclo de vida e deficiência – essa, em especial, na sua diversidade tais

como visual, surdez, mudez, física –, além de identificar quem se enquadra em

situação de fragilidade por insuficiência de rendimentos e não se encontra inserido

em programas de transferência de renda. Outro fator importante relaciona-se à

possibilidade de se identificar casos mais complexos tais como a fragilidade pela

renda em família com presença de fragilidade por algum tipo de deficiência e fora de

qualquer atenção do Estado. Em síntese, os resultados obtidos a partir dos

exercícios realizados com os dados disponibilizados dos cadastros de Belo

Horizonte e Fortaleza reforçam o potencial dessas informações para a utilização

pelos gestores locais da Assistência Social.

Essa fonte de informações deve ser tratada de forma diferenciada pelos

órgãos competentes, em especial pelo MDS, que deveria impelir sansões aos

municípios cuja localização institucional não esteja na área da Assistência Social. É

nessa perspectiva que irá se processar o uso da informação para de fato identificar o

público para busca ativa nos serviços da PSB em território intramunicipal. É

necessário, pois, se esforçar para não desprezar o quanto de informação poderá ter

quando a ferramenta tem um uso responsável pelos gestores públicos.

Este trabalho faz emergir algumas questões e desdobramentos de relevância

para a devida e proveitosa utilização das informações do CadÚnico nos Municípios.

Essas questões dizem respeito à localização das operações do cadastro no

organograma institucional, ou seja, de quem é a responsabilidade pela sua gestão,

zelo pela qualidade dos dados coletados e sua atualização sistemática. Além disso,

97

e tão importante quanto, é saber se esses dados são acessíveis aos diferentes

setores da gestão municipal.

Há também a questão da percepção de valor desse capital informacional. Foi

observado que os dois governos Municipais em questão, tanto o de Belo Horizonte

quanto o de Fortaleza, em intensidades diferenciadas, vêem o CadÚnico muito mais

voltado para o Programa Bolsa Família. Em entrevistas informais, parece não haver

uma compreensão de que o CadÚnico pode ser empregado para o que ele foi, de

fato, criado: fornecer informações atualizadas para orientar a seleção de público

para inserção em serviços, programas e projetos da Assistência Social. Acredita-se,

também, que ainda os Municípios não tenham em sua estrutura funcional

profissional capacitado para operar os dados da Assistência Social, mais

precisamente, ainda pouco capazes de fazer a gestão da informação e muito pelo

fato disso ainda ser novo para a política de Assistência Social.

98

6 CONCLUSÃO

Esta dissertação trata do tema relacionado ao processo de territorialização

dos serviços de Proteção Social Básica da Assistência Social em dois Municípios

brasileiros, Belo Horizonte e Fortaleza, a partir da diretriz federal para que os

Municípios implementem os serviços levando em consideração o público prioritário

para inserção no Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Partindo da premissa

de que a utilização do banco de dados do CadÚnico dos programas do MDS é um

procedimento viável, proveitoso e eficiente para o cumprimento das normativas

federal para identificação desse público, discute-se, também, a disjunção existente

entre a gestão pública do CadÚnico, por um lado, e a política de Assistência Social,

por outro, na esfera municipal.

Para discutir o proposto acima, foi necessário revisitar elementos do processo

de descentralização administrativa brasileira ocorrida a partir da Constituição

Federal de 1988, buscando informações no campo da descentralização da Saúde

para entender o processo que vem ocorrendo na área da Assistência Social. O foco

na política de Saúde foi no Programa de Saúde da Família (PSF), cuja implantação

se deu a partir de normativas que direcionam tanto os processos de trabalho quanto

o uso de banco de dados capaz de identificar a especificidade da atenção básica. O

modelo da Saúde em geral, e o Programa de Saúde da Família, em particular, é

importante uma vez que a Assistência Social tem se espelhado nessa política para

implantar os seus serviços de acordo com os níveis de complexidade dos problemas

sociais apresentados na sociedade brasileira.

A tônica desta dissertação foram os serviços da Proteção Social Básica, com

o objetivo de compreender o movimento que os Municípios fizeram para referenciar

o público prioritário para atendimento no Centro de Referencia da Assistência Social

(CRAS), equipamento de base local responsável por coordenar os serviços do

Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em territórios intramunicipal. É

justamente esse procedimento, não disciplinado pelo Ministério de Desenvolvimento

Social (MDS), que interfere na efetividade dos serviços prestados, uma vez que fica

a critério de cada Município identificar o público e referenciá-lo ao CRAS, o que pode

gerar equívocos de gestão ao ficar a cargo de escolhas institucionais, contrariando a

diretriz de unicidade de procedimentos. A Assistência Social passa a ser

99

regulamentada por normativas federais a partir da Constituição Federal de 1988

assumindo, assim, um comportamento de política pública de fato, emitida pelo

Estado e de direito do cidadão e, especificamente em relação à Assistência Social,

aquele que de fato necessita dela.

De certo que o processo de descentralização administrativa no Brasil ainda é

algo recente. Porém, mesmo como elemento potencializador do avanço democrático

e, em especial, para a Assistência Social, ainda requer ajustes no campo da

autonomia dos Municípios. Se a política de Assistência Social é descentralizada

para os Municípios, é necessário haver recursos, capacidade e orientações para se

proceder localmente de acordo com as diretrizes nacionais. Atualmente, está a

cargo de cada Município encontrar a melhor metodologia para localizar o público que

a política deverá atender e, portanto, o centro de oferta dos serviços.

O exemplo da área Saúde é importante no emprego de informação voltada

para identificar o perfil do público e sua localização geográfica para acessar a

atenção básica e no nível intramunicipal, as Equipes de Saúde da Família (ESF). As

normativas emitidas pelo Ministério de Saúde definem procedimentos e bancos de

dados únicos que os Municípios devem seguir e utilizar para identificação dos

territórios mais vulneráveis e, portanto, implantar as ESF. Os sistemas do DATASUS

são bancos de dados utilizados pela área de Saúde que são retroalimentados pelos

próprios técnicos dos programas. Embora a Saúde não tenha um público

propriamente prioritário, necessita conhecer melhor tanto os territórios cobertos

quanto a população que nele vive de forma a operar na perspectiva da prevenção e

da vigilância. Essa é outra questão que merece destaque.

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), na trilha da Saúde, segue

rumo à implantação de um sistema de vigilância socioassistencial que consiste no

desenvolvimento da capacidade e de meios de gestão assumidos pelo órgão público

gestor da Assistência Social, em nível Municipal, para identificar a presença de

pessoas em situação de vulnerabilidade. Entretanto, a chance de evoluir nos moldes

da Saúde pode ser pequena uma vez que a Assistência Social não incorpora ainda,

especialmente nos Municípios, o tema do tratamento e utilização dos dados – que a

própria Assistência Social levanta e atualiza – na sua agenda política e

administrativa.

O MDS, para avançar na direção do cofinanciamento dos serviços, programas

e projetos para os Municípios quando esses se encontrarem em níveis mais

100

organizados e aprimorados de gestão da Assistência Social, deverá elaborar

diretrizes que façam com que Estados e Municípios de fato lancem mão das

informações do CadÚnico, principalmente. Mesmo com todo o arcabouço jurídico

direcionado para o uso desse instrumento, há entraves de ordem política que

acabam por se configurar como obstáculos, na gestão administrativa, para o seu

uso.

De fato, ele está localizado, institucionalmente, e é operado das formas mais

diferenciadas nos Municípios brasileiros, contrariando o princípio do comando único

do SUAS. Em Belo Horizonte, ao contrário de Fortaleza, os dados são atualizados

por trabalhadores localizados nas regionais administrativas do Município,

denominadas Gerências de Transferência de Renda, ligadas administrativamente à

SMPS e, portanto, fora da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social

(SMAAS). Em outras palavras, os dados não são atualizados pelos trabalhadores

dos serviços do SUAS.

Ademais, segundo normativas do MDS relativas ao Programa Bolsa Família,

assim como a Resolução 07, de setembro de 2009, que trata do Protocolo de

Gestão Integrada dos Programas de Transferência de Renda, cabe à política de

Assistência Social o acompanhamento do público do Programa Bolsa Família. Esse

programa utiliza os dados do CadÚnico para selecionar o público de inserção. Nesse

ponto, estabelece-se um paradoxo, qual seja, a base da informação para auxiliar no

acompanhamento do público prioritário não se encontra, em alguns Municípios

metropolitanos, como é o caso de Belo Horizonte, ao alcance da Secretaria de

Assistência Social.

Para o maior e melhor aproveitamento do potencial oferecido pelo CadÚnico,

este instrumento, e sua gestão, poderia, além de localizar-se especificamente nas

Secretarias de Assistência Social, se constituir como uma espécie de porta de

entrada do usuário no SUAS, ou seja, o primeiro item a ser alimentado na ocasião

da entrada do usuário em qualquer serviço do SUAS, em qualquer nível de

complexidade.

Outro ponto importante é a forte presença de uma lógica de territorialização

rígida por parte da Assistência Social se contraponto à lógica de uma

territorialização fluida, ou seja, exercida a partir da identificação do público prioritário

e não o contrário. Nos casos de Belo Horizonte e Fortaleza, fica claro que ambos

adotaram primeiramente o recorte territorial a partir de agregação de setores

101

censitários até atingir as cinco mil famílias que o MDS estabeleceu como limite para

implantar CRAS em metrópoles. Esquece-se, assim, que o território é dinâmico e

fluido, devendo-se prever procedimentos que captem essa fluidez.

De fato, o mais lógico seria delimitar um território após a identificação do

público prioritário, a partir de uma perspectiva mais objetiva sobre qual a

abrangência territorial que uma equipe do CRAS deverá cobrir. Portanto, o mais

apropriado parece ser a adoção de uma fluidez, o que foge à rigidez sugerida pelo

MDS na delimitação territorial de áreas com até cinco mil famílias para metrópoles.

Sugerem-se estudos regulares que dimensionem o volume da população prioritária

localizada em um determinado espaço geográfico, inclusive para orientar a

localização geográfica do equipamento CRAS. A prioridade se deslocaria do

atendimento já determinado de 5 mil famílias para quantas demandarem de fato a

atenção integral do PAIF a partir do diagnóstico socioterritorial municipal

identificando zonas de intervenção prioritária.

O banco de dados do CadÚnico parece apropriado para orientar esse tipo de

estudo bem como para iluminar os caminhos da gestão local da Assistência Social

nas grandes cidades brasileiras. Os resultados desta dissertação apontam nessa

direção, que, em especial para a Proteção Social Básica, esse público, na sua

maioria, pode ser identificado a partir das informações do CadÚnico, e localizado

espacialmente, uma vez que o banco de dados possui endereço com Código de

Endereçamento Postal dos Correios. Infelizmente, esta informação não foi

disponibilizada pelas prefeituras de Belo Horizonte e Fortaleza.

Nota-se, portanto que a demanda da Assistência Social pelo CadÚnico não

deriva simplesmente de uma diretriz, é uma necessidade se o objetivo for, de fato,

padronizar os procedimentos do SUAS em todo o território nacional, reforçando um

novo lugar para a Assistência Social no país. Tal padronização, aliada à urgência de

informação atualizada sistematicamente e, ainda, à necessidade de identificar o

público mais vulnerável segundo a concepção da PNAS e promover o seu acesso à

rede de serviços públicos, coloca, às gestões municipais da Assistência Social nas

grandes cidades brasileiras, o desafio de lidar com o potencial do CadÚnico dentro

do atual quadro do Sistema Único de Assistência Social.

A adequada gestão do CadÚnico, a definição de papéis nas ações de

cadastramento e a atualização cadastral dependem de claras definições

institucionais e de regras e procedimentos estabelecidos na legislação. O uso do

102

CadÚnico requer, entretanto, atenção especial no que diz respeito à capacitação do

corpo técnico para operar grandes bancos de dados.

O problema da falta de qualificação da gestão da informação nas políticas

sociais como um todo sempre implicou em resultantes frágeis. Não bastam

incrementos informacionais se a base dos mesmos não é tratada e, ainda, a

informação como foro privilegiado de gestão provoca a fragilidade dos resultados.

Consequentemente, fragilidade da gestão, pois a tomada de decisão está calcada

na percepção de gestores, na sua maioria, e não em sistemas de informação

consolidados por bancos de dados atualizados e gestados, neste caso, pela própria

Assistência Social.

103

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109

ANEXO A: CADERNO AZUL DO CADASTRO ÚNICO DE PROGRAMA S E PROJETOS DO GOVERNO FEDERAL

110

111

112

113

114

Fonte: BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,. 26 jun. 2006. Disponível em: www.mds.gov.br/senarc. Acesso em: 31/01/2010.

115

ANEXO B: LAYOUT DO ARQUIVO Q1 – DOMICÍLIOS

Coluna de Referência

Nome do Campo

Tipo/Tamanho Descrição Conteúdo de

Preenchimento

Campo 33 Q1_222 VARCHAR2(2) Quantidade de pessoas

Campo 36 Q1_225 VARCHAR2(2) Quantidade de deficientes

Fonte: BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 26 jun. 2006. Disponível em: www.mds.gov.br/senarc. Acesso em: 31/01/2010

116

ANEXO C: LAYOUT DO ARQUIVO Q2 – PESSOAS

Continua Coluna de Referência

Nome do Campo Tipo/Tamanho Descrição Conteúdo de

Preenchimento

Coluna 4 Q2_202 VARCHAR2(8) Data de nascimento Formato ddmmaaaa

Coluna 13 Q2_214_1 VARCHAR2(1) Tipo de deficiência_cegueira S - Sim; Em branco – Não

Coluna 14 Q2_214_2 VARCHAR2(1) Tipo de deficiência_Mudez S - Sim; Em branco - Não

Coluna 15 Q2_214_3 VARCHAR2(1) Tipo de deficiência_Surdez S - Sim; Em branco - Não

Coluna 16 Q2_214_4 VARCHAR2(1) Tipo de deficiência_Mental S - Sim; Em branco - Não

Coluna 17 Q2_214_5 VARCHAR2(1) Tipo de deficiência_Física

S - Sim; Em branco – Não

Coluna 50 Q2_247 VARCHAR2(9) Remuneração deste emprego

2 últimos são centavos não separados por vírgula

Coluna 51 Q2_248 VARCHAR2(9) Renda de aposentadoria/pensão

2 últimos são centavos não separados por vírgula

Coluna 52 Q2_249 VARCHAR2(9)

Renda de Seguro-Desemprego

2 últimos são centavos não separados por vírgula

Coluna 53 Q2_250 VARCHAR2(9) Renda de pensão alimentícia 2 últimos são centavos não separados por vírgula

117

Coluna 66 Q2_262 VARCHAR2(3)

Número de pessoas que vivem da renda desta família

Coluna 74 Q2_270_1_1 VARCHAR2(1) Bolsa Criança Cidadã - PETI S – Sim; N – Não

Coluna 78 Q2_270_2_1 VARCHAR2(1) Agente Jovem S – Sim; N – Não

Coluna 80 Q2_270_3 VARCHAR2(1) Bolsa Escola S – Sim; Em branco – Não

Coluna 81 Q2_270_4 VARCHAR2(1) Bolsa Alimentação S – Sim; Em branco – Não

Coluna 83 Q2_270_6 VARCHAR2(1) LOAS/BPC S – Sim; Em branco – Não

Coluna 89 Q2_271 VARCHAR2(1) Beneficiário prioritário para o Programa Bolsa Alimentação

S – Sim; Em branco – Não

Coluna 90 Q2_272 VARCHAR2(1) Beneficiário prioritário para o Programa Bolsa Escola

S – Sim; Em branco – Não

Fonte: BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 26 jun. 2006. Disponível em: www.mds.gov.br/senarc. Acesso em: 31/01/2010.

118

ANEXO D: CARTA DE APRESENTAÇÃO DO ALUNO ÀS INSTITUI ÇÕES PARA OBTENÇÃO DOS DADOS DO CADÚNICO

119

ANEXO E: SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA NO DOMIC ÍLIO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E IDOSAS

Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas DESCRIÇÃO VARIÁVEIS

DESCRIAÇÃO DAS VARIÁVEIS

1- Pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas quevivenciam situação de vulnerabilidade socia l pelafragilização de vínculos familiares e sociais e/ou pelaausência de acesso a possibilidades de inserção, habilitação

1A-Vulnerabilidade pela renda (inferior a 1/4 SM)Renda de

aposentadoria/pensão Q2_248Renda de pensão Q2_250

Outras rendas Q2_251

Número de pessoas que vivem da renda desta família

Q2_262

Quanto maior for o número de pessoas que vive de uma única fonte de renda, mais vulnerável está o núcleo familiar. Ainda mais se esta fonte for somente do idoso

1B- Vulnerabilidade pelo ciclo de vida1C- Vulnerabilidade pela fragilidade dos vínculos1D- Vulnerabilidade pela falta de sociabilidade2 - Beneficiários do Benefício de Prestação Continuada LOAS/BPC Q2_270_63 - Membros de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda

Bolsa EscolaQ2_270_3

Bolsa Alimentação Q2_270_44 - Pesssoa idosa semi-dependente para a vida diária Tipo de Q2_214_1

Tipo de deficiência_Mudez Q2_214_2Tipo de deficiência_Surdez Q2_214_3Tipo de deficiência_Mental Q2_214_4Tipo de deficiência_Física Q2_214_5

4 - Pessoa idosa dependente para a vida diária Tipo de Q2_214_1Tipo de deficiência_Mudez Q2_214_2Tipo de deficiência_Surdez Q2_214_3Tipo de deficiência_Mental Q2_214_4Tipo de deficiência_Física Q2_214_5

120

ANEXO F: SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁ RIA

SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA DESCRIÇÃO VARIÁVEIS DESCRIAÇÃO DAS

VARIÁVEIS OPERACIONALIZAÇÃO RESULTADO A SER ANALISADO INDICADOR

1- Crianças de 0 a 6 anos com deficiência, com prioridade para as beneficiárias do BPC

Data de nascimento Q2_202

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos e acima de 60 anos

Separar cadastro de 0 a 6; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos e acima de 60 anos

1A - BPC LOAS/BPC Q2_270_6 Vulnerabilidade pela renda e/ou pela deficiência

Separar cadastro de idosos acima de 65 anos que recebe o BPC por deficiência SIM = 1; NÃO = 0

1B - Tipos de deficiência LOAS/BPC Q2_270_6 Vulnerabilidade pela renda e/ou pela deficiência

Separar cadastro de idosos acima de 65 anos que recebe o BPC pela vulnerabilidade de renda SIM = 1; NÃO = 0

Tipo de

deficiência_cequeira Q2_214_1

Pessoa com deficiência (independente de possui mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência CEQUEIRA

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Tipo de

deficiência_Mudez Q2_214_2

Pessoa com deficiência (independente de possui mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência MUDEZ

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Tipo de

deficiência_Surdez Q2_214_3

Pessoa com deficiência (independente de possui mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência SURDEZ

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

121

Tipo de

deficiência_Mental Q2_214_4

Pessoa com deficiência (independente de possui mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência MENTAL

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

Tipo de

deficiência_Física Q2_214_5

Pessoa com deficiência (independente de possui mais de um tipo de deficiência na mesma pessoa).

Separar membros da família com deficiência FÍSICA

Se SIM = 1; Se NÃO = 0

2- Crianças de 0 a 6 anos cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda;

Bolsa Escola Q2_270_3 Criança de 0 a 6 anos em família com bolsa escola

Separar cadastro de criação de 0 a 6 anos que recebe bolsa escola SIM = 1; NÃO = 0

Vulnerabilidade pela idade

2 A - Crianças de 7 a 14 anos cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda;

Bolsa Escola Q2_270_3 7 a 14 anos; 15 a 18 anos

Separar cadastro de 7 A 14 que recebe Bolsa Escola SIM = 1; NÃO = 0

Vulnerabilidade pela idade

2 B- Crianças de 15 a 18 anos cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda;

Bolsa Escola Q2_270_3

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos

Separar cadastro de 15 a 18 anos que recebe bolsa escola SIM = 1; NÃO = 0

vulnerabilidade pela idade

2 C- Crianças de 0 a 6 anos cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda;

Bolsa Alimentação - BA Q2_270_4

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos

Separar cadastro de 0a 6 que recebe Bolsa Alimentação SIM = 1; NÃO = 0

Desenvolvimento infantil

2 D- Crianças de7 A 14 anos cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda;

Bolsa Alimentação - BA Q2_270_4

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos

Separar cadastro de 7 a 14 que recebe Bolsa Alimentação SIM = 1; NÃO = 0

Desenvolvimento infanto-juvenil

2 E- Crianças de 15 A 18 anos cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda;

Bolsa Alimentação - BA Q2_270_4

Vulnerabilidade pelo ciclo de vida: 0 a 6 anos; 7 a 14 anos; 15 a 18 anos e acima de 60 anos

Separar cadastro de 15 a 18 anos que recebe bolsa Alimentação

SIM = 1; NÃO = 0

Desenvolvimento juvenil

122

3A- Medida Protetiva de Acolhimento

SEM IDENTIFICAÇÃO

3B - PETI Bolsa Criança Cidadã -

PETI Q2_270_1_1

4A - cobertura de serviços de saúde

Domicílio coberto por - PSF

Q1_212

Se não tem PSF = 1; se tem PSF = 0

4B - Cobertura de serviços se infra-estrutura

Domicílio coberto por - PACS

Q1_212

Se não tem PACS = 1; se tem PACS = 0

5A - Se a criança passa o tempo maior sem a referência de membros da família

Se criança de 0 a 6 anos, com quem fica

Q2_267

Se a criança de 0 a 6 ficar sozinho (código 4 do CadÚnico; ou com outros (código 6 do CadÚnico), ou na creche, código 5) pode favorecer para a fragilização de vínculos

5B - Se reside sem a mãe ou sem o pai

Se reside com o pai informar o número de ordem do pai, se não,

informar 99

Q2_265

Se reside com a mãe informar o número de ordem do pai, se não,

informar 99

Q2_266

6 - Crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, em especial encaminhadas pelos serviços da proteção social especial (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI; serviço de proteção social especial a indivíduos e famílias; reconduzidas ao convívio familiar, após

Data de nascimento Q2_202

123

medida protetiva de acolhimento ; e outros);

6A - PETI Bolsa criança Cidadã -

PETI Q2_270_1_1

6B - Medida protetiva de acolhimento

SEM IDENTIFICAÇÃO

6C - PAEFI SEM IDENTIFICAÇÃO 7 - Crianças e adolescentes de 6 a 15 anos com deficiência, com prioridade para as beneficiárias do BPC;

LOAS/BPC Q2_270_6 FEITO ACIMA

Data de nascimento Q2_202 FEITO ACIMA

Tipo de

deficiência_cequeira Q2_214_1 FEITO ACIMA

Tipo de

deficiência_Mudez Q2_214_2 FEITO ACIMA

Tipo de

deficiência_Surdez Q2_214_3 FEITO ACIMA

Tipo de

deficiência_Mental Q2_214_4 FEITO ACIMA

Tipo de

deficiência_Física Q2_214_5 FEITO ACIMA

8- Crianças e adolescentes de 6 a 15 anos cujas famílias são beneficiárias de programas de transferência de renda

Bolsa Escola Q2_270_3 FEITO ACIMA

Bolsa Alimentação Q2_270_4 FEITO ACIMA 9 - Crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de famílias com precário acesso a renda e a serviços públicos e com dificuldades para manter.

124

RENDA IGUAL E/OU INFERIOR A 1/4 SM

9ª -Situação geral do responsável do núcleo familiar

Situação no mercado de trabalho

Q2_242

Não trabalha (campo 9); Trabalha (campos de 1 a 5, 7 e 8); aposentado (campo 6)

Renda de

aposentadoria/pensão Q2_248

Renda de Seguro-

Desemprego Q2_249

Renda de pensão

alimentícia Q2_250

Outras rendas Q2_251

Número de pessoas que vivem da renda

desta família Q2_262

Remuneração deste

emprego Q2_247

Renda de

aposentadoria/pensão Q2_248

Renda de Seguro-

Desemprego Q2_249

Renda de pensão

alimentícia Q2_250

10 - Adolescentes e Jovens de 15 a 18 anos egressos de medida socioeducativa de internação ou em cumprimento de outras medidas socioeducativas em meio aberto, conforme disposto na Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente

Data de nascimento Q2_202 FEITO ACIMA

125

Egressos de Medida socieducativa

SEM IDENTIFICAÇÃO

11 - Adolescentes e Jovens de 15 a 18 anos pertencentes às famílias beneficiárias de programas de transferência de renda

Data de nascimento Q2_202

Bolsa Escola Q2_270_3 Bolsa Alimentação Q2_270_4 Agente Jovem Q2_270_2_1 12 - Adolescentes e Jovens de 15 a 18 anos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI ou Adolescentes e Jovens - egressos ou vinculados a programas de combate à violência e ao abuso e à exploração sexual;

12A - Adolescente de 15 anos no trabalho infantil

Data de nascimento Q2_202

Bolsa Criança Cidadã -

PETI Q2_270_1_1

12B - Exploração sexual SEM IDENTIFICAÇÃO 13 - Jovens de 15 a 18 anos com deficiência, em especial beneficiários do BPC;

LOAS/BPC Q2_270_6

13A - BPC LOAS/BPC Q2_270_6 FEITO ACIMA

13B - Tipos de deficiência Tipo de

deficiência_cequeira Q2_214_1 FEITO ACIMA

Tipo de

deficiência_Mudez Q2_214_2 FEITO ACIMA

Tipo de

deficiência_Surdez Q2_214_3 FEITO ACIMA

Tipo de Q2_214_4 FEITO ACIMA

126

deficiência_Mental

Tipo de

deficiência_Física Q2_214_5 FEITO ACIMA

14 - Jovens fora da escola Frequenta a escola Q2_237 Conteúdo de preenchimento item 6 = Não frequenta

15 - Idosos (as) com idade igual ou superior a 60 anos , em situação de vulnerabilidade social, em especial: - Idosos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada

Data de nascimento Q2_202

15A - B PC LOAS/BPC Q2_270_6 16 - Idosos de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda

Bolsa Escola Q2_270_3

Bolsa Alimentação Q2_270_4 17 - Idosos com vivências de isolamento por ausência de acesso a serviços e oportunidades de convívio familiar e comunitário e cujas necessidades, interesses e disponibilidade indiquem a inclusão no serviço.

SEM IDENTIFICAÇÃO

Fonte: BRASIL. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução da CIT n 109 de 11 de novembro de 2009; Resolução da CIT n 7 de 10 de setembro de 2009.