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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL BOLETIM Nº 44 ABRIL DE 2012 O terceirense Jaime brasil e as touradas Pelo Fim dos apoios públicos à tauromaquia Ecofeminismo

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Boletim do CAES

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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 44 ABRIL DE 2012

O terceirense Jaime brasil e as touradas

Pelo Fim dos apoios públicos à tauromaquia

Ecofeminismo

Lagoa (eutrofizada) das Furnas, Agosto de 2011

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Carta ao Sr. Governador Civil, com um pedido particular

Vila Franca de Xira, Outubro de 1925

Exmo. Sr.

Eu sei que V. Ex.ª tem muito que fazer e muito em

que pensar. O cargo de Governador Civil de Lisboa

é dos que dão água pela barba. É certo que as coisas

da política e das eleições se aldrabam pelo Terreiro

do Paço; que a ordem pública é com a Polícia e o

Carmo - lá as armam lá as desarmam; que dos

abastecimentos se encarrega aquela bela rapaziada

dos fiscais; e que os passaportes correm pela

repartição respectiva; mas tem Vª Ex.ª esse calvário

da inspecção dos teatros e a tragédia de dar esmolas

com o dinheiro das casas de batota. Só nisto das

esmolas V. Ex.ª ganha- queixa do peito! Distraia

porém V. Ex.ª alguns momentos desse seu Governo

e escute-me.

Há dias realizou-se nesta vila uma tourada, em que

foram mortos dois touros. Diziam que era proibido

matar. Tolices! O representante da autoridade,

representante portanto de Vª Ex.ª, do Dr. Sr.

Domingos Pereira e do Sr. Teixeira Gomes, atendeu

os justos pedidos da população, que gritava: que se

mate, que se mate! E voltou o polegar para

baixo…E dois touros rolaram na arena sangrenta,

como outrora os cristãos no Coliseu dos Recreios de

Nero…

Ouça Vª Ex.ª a descrição do tipo de um dos touros,

feita cá por um “colega”: - “Outro bicho! AH! Gente

de bom gosto! Que lindo bicho! É um jabonero,

novito, mas lindo, tipo de escultura, cabeça nervosa e

hastes curtas e aguçadas”.

Repare Vª Ex.ª agora a cena:

“Então o de Triana (matador) aponta e a espada,

tocando o osso descaída, salta ao chão. O bicho

pensa: ainda não foi desta, e dá duas voltas feliz.

Mas Angelito tapa-o com o pano vermelho, perfila-

se de lado, aponta e a espada vai, com destino ao

coração, até ao meio, ferido de morte, o jabonero

não ajoelha. Fica ao centro a olhar o sol, que venceu

as nuvens e enche a praça.

Respiração suspensa. Capotes, mais capotes, e o

lindo bicho encosta-se às tábuas, à espera, à espera…

Enfim, o de Triana toma outra espada, fina – como

uma sentença de morte – e descabella, com

felicidade.

O TERCEIRENSE JAIME BRASIL E AS TOURADAS

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Lindo touro! Caiu redondo… Emoção. Voltas.

Música. Palmas. Lenços.”

E o cronista conta por último, que depois da corrida

o jabonero foi passeado, morto, de trem, pelas ruas

desta vila “vencido e orgulhoso”.

A quem ficamos devendo todo este espectáculo

extraordinariamente emocionante? Ora a quem…

Ao Malta. Vª Exª não conhece?! Nem V.Exª

conhece outra coisa! O Malta! O Maltazinho… Um

companheirão, um “cara direita” e um “bom

republicano!”.

Pois aqui tem Vª Ex.ª porque o venho incomodar. O

povo quer recompensar Malta. Pensou-se em

oferecer-lhe um banquete na Lezíria, em elegê-lo

deputado, em nomeá-lo revolucionário civil. A

modéstia de Malta obstinadamente recusa. Há uma

coisa porém, a que nenhum Malta resiste… Vª Ex.ª.

já me percebeu… É aquilo que Vossas Ex. as todos

têm, que, numa palavra, a Malta toda possui!...

É a medalhinha, a venera ou lá o que é e que pelo

nome não perca.

A Torre e Espada estava a calhar. O valor, a lealdade

e o mérito ali! que nem um homem. Se não puder

ser porém – o Cristo. O Cristo, Sr. Governador, com

a sua roseta vermelha, até estava a dizer… E mesmo

o Santiago, porque não? O mérito científico, artístico

e literário, demonstram-se ali. Aquilo tem muita

ciência e muita arte e dá lugar a muita boa literatura,

como Vª Exª pode verificar pela amostra acima.

Ao menos Sr. Governador Civil se de todo em todo

não puder ser qualquer das outras – a Filantropia e a

Generosidade. Pois não há filantropia e generosidade

em poupar trabalho aos magarefes, dando ao

mesmo tempo uma lição de disciplina democrática,

de obediência à vontade popular?

Porque foi o Povo, o Povo soberano quem exigiu a

morte do touro. Foi o Povo, foi o “Sol” quem gritou:

que se mate, que se mate! E a autoridade,

verdadeiramente cônscia dos seus deveres –

obedeceu. Então porque merece ser premiada a

autoridade? Por ter sabido romper com uma

ignominiosa tradição secular. É certo que Vª Ex.ª e o

Sr. Presidente da República já tinham autorizado os

rojões mas, que é isso comparado com aquele

estranho ritual de apontar a espada, que toca o osso

“descaída” e salta ao chão; com aquela volúpia de

“tapar” o touro com o pano vermelho, “perfilar-se”

uma pessoa de lado e apontar a espada que vai, com

destino ao coração, até ao meio, com aquele delírio

de tomar outra espada, fina como uma sentença de

morte e de descabellar com felicidade?

Note Vª Exª – com felicidade; e depois passear pelas

ruas o touro de tipóia, morto, “vencido e orgulhoso”.

É por estas e por outras que se verifica, Sr.

Governador, que esta República é aquela que por

nós sonhávamos, nós que não pensamos como esse

reaccionário Boto Machado, que apresentou no

Parlamento um projecto de lei abolindo as touradas,

nós, os “aficionados”, recebemos dinheiro dos

“apoderados”, para os touros serem “estoqueados”.

Do que o povo precisa é disto, Sr. Governador,

destas lições de valentia e de coragem moral. Dêem-

lhe touros de morte e autoridades democráticas,

dêem-lhes um pouco de sangue, mesmo de boi, e ele

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regressará galhardo aos tempos heroicos das

Conquistas, das Navegações e dos Descobrimentos.

Vª. Ex.ª, pela sua rica saúde, não vá supor que estou

falando por ironia. Isto é a pura da verdade. Temos

exemplos de casos bem recentes. Olhe Vª Exª o 19

de Outubro… Vª Exª ainda não tinha autorizado os

touros-de-morte, mas só com o cheiro do que ia por

Espanha, fez-se aí uma “faena”linda.

Vª Ex.ª lembra-se do homem que matou António

Granjo? Era um clarim ou corneteiro da G.N.R.

(nunca se apurou bem se era uma coisa ou outra, só

se sabe que era da música), que ao sair do Arsenal

com o sabre, que embebera no corpo desse politico,

a pingar sangue, rugia – já o pinchei, já o pinchei!

Vê Vª Ex.ª! ... Termos técnicos. Linguagem

tauromáquica.

Amanhã quando suceder o mesmo ao Sr. Dr.

Domingos Pereira ou a Vª Ex.ª (longe vá o agouro!),

outro clarim ou outro corneteiro – outra da música-

rugirá – já o descabellei, já o descabellei, com

felicidade! ...

Não empalideça Vª Exª., que diabo! Somos

homens! E os homens são para as ocasiões! Mas é a

lógica. Com ensaios como o que o Malta regeu,

“eles”, que já têm queda para a música, organizam aí

um orfeão de primeiríssima ordem.

E olhe Vª Ex.ª que eu não vejo isto pelo “lado do

boi”, vejo pelo lado “deles”, cá pelo meu lado.

Conheço -“os”; conhecemo-nos. Quem finge

desconhecê -“los”, que não se queixe depois.

Afinal, eu estava a desconversar. Não se esqueça Vª

Ex.ª mas é da Legião Vermelha, Legião de Honra,

Cruz de Guerra ou Cruz de Cristo lá para o Malta.

Bem merece, o rapaz.

Que em boa verdade, este pedido não devia partir de

mim, pobre diabo sem influências… Estavam lá na

tourada tantos senhores finos. Até estavam jovens

Professoras de Universidade; jornalistas de sangue

azul e sangue às riscas; asas gloriosas de aviadores;

próximos futuros certos deputados, tudo gente de

bem e que se rebolou com o espectáculo que o

Malta deu mai-lo da Triana.

Eles é que deviam falar, eles é que deviam pedir. Vª

Exª a eles atendia-os e com certeza não vai escutar

esta

Voz que Clama no deserto/Jaime Brasil

A Batalha, Suplemento Semanal Ilustrado, nº 99,

19/10/1925

Mais informações sobre Jaime Brasil:

http://ferreiradecastro.blogspot.pt/

http://pimentanegra.blogspot.pt/2007/11/jaime-

brasil-notvel-escritor-e.html

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Sua Excelência Presidente da Assembleia

Legislativa da Região Autónoma dos

Açores,

Suas Excelências Presidentes dos Grupos

Parlamentares à ALRAA;

Sua Excelência Presidente do Governo

Regional dos Açores,

Ex.mas/os Senhoras/es,

Vimos, através deste instrumento de

participação cívica, apelar à classe política

e governativa da Região Autónoma dos

Açores que se legisle o fim de subsídios

públicos a práticas tauromáquicas.

Considerando o contexto sócio-económico

do país e região, que através do

desinvestimento na educação, no apoio

social, na saúde, no emprego e salários, nos

transportes, na habitação, numa cultura

educativa, têm contribuindo para a

degradação da qualidade de vida das

populações, sendo muitas as famílias e

pessoas que perderam emprego e apoios

sociais e que têm dificuldades em

cumprirem o pagamento de todas as suas

despesas destinadas à sua sobrevivência

com dignidade;

Considerando que os milhões de euros do

erário público cedidos à tauromaquia nos

últimos anos, nos Açores, não dinamizaram

a economia nem o turismo regional, não

produziram bem-estar social, tendo sido um

“investimento” que beneficiou apenas um

pequeno lobby;

Considerando que a ciência comprova e

reconhece inquestionavelmente que os

animais, como o touro e cavalo, são seres

capazes de sentir emoções, medo,

humilhação, dor física e psicológica, tal

como angústia, stress e ansiedade;

Considerando que práticas tauromáquicas

são uma expressão de insensibilidade e

violência que deseduca e em nada dignifica

a humanidade, sendo que estudos recentes

comprovam que crianças e adultos que

PETIÇÃO PELO FIM DOS SUBSÍDIOS À TAUROMAQUIA

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assistam a práticas tauromáquicas

desenvolvem tendências de agressividade e

violência;

Considerando que as tradições não são

inamovíveis, sendo objecto de contínuas

mudanças, nem podem constituir um

argumento válido para justificar a

continuação de práticas cruéis e violentas.

Considerando que uma sociedade que se

diverte perante o sofrimento alheio não

pode ser considerada uma sociedade

saudável e que são cada vez mais os países,

regiões e municípios por todo o mundo que

estão a proibir a prática da tauromaquia e

outros espectáculos violentos com animais.

Considerando que se quer que os Açores

seja uma sociedade moderna, respeitada no

mundo pelo seu apego e proximidade aos

valores naturais, entre os quais o cuidado e

bem-estar dos animais, aspecto de especial

importância para fomentar um sector

estratégico para a região como é o

desenvolvimento do turismo de natureza.

Solicitamos que a Região Autónoma dos

Açores tome as devidas medidas

legislativas para dignificar as pessoas, o

bom uso do dinheiro público e o bom nome

da nossa região proibindo qualquer apoio

financeiro ou logístico por parte de

entidades públicas a qualquer prática

tauromáquica, à semelhança do que foi feito

pelo socialista Defensor Moura, pioneiro

em Portugal ao declarar Viana do Castelo

concelho livre de touradas.

Solicitamos ainda que a Região invista

acima de tudo, e antes de mais, nas

necessidade básicas dos Açorianos, como é

a educação, saúde, habitação, acção social,

transportes e criação e fixação de postos de

trabalho, considerando sempre a

preservação, defesa e respeito pela

natureza, e pelo próximo, nos Açores.

Os signatários

Pode assinar a petição aqui:

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi

=P2012N22530

Pode saber mais sobre a petição aqui:

http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/

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Vandana Shiva é uma mulher multifacetada:

física, filósofa, pacifista e feminista. É uma das

pioneiras do movimento ecofeminista e diretora

da Fundação para a Pesquisa em Ciência,

Tecnologia e Ecologia (Research Foundation

for Science, Technology and Ecology, em

inglês) em Nova Déli. Em 1993, recebeu o

Prêmio Nobel Alternativo. É uma das vozes

mais críticas contra a globalização e os

alimentos manipulados geneticamente.

A reportagem é de Mercé Rivas Torres,

publicada no sítio Periodismo Humano, 17-02-

2012. A tradução é do Cepat.

Para Vandana, “o ecofeminismo é colocar a

vida no centro da organização social, política e

econômica. As mulheres já a fazem porque é

deixada para elas a tarefa do cuidado e da

manutenção da vida.”. “O ecofeminismo, como

seu nome indica, é a convergência da ecologia

e do feminismo, explica didaticamente

Vandana Shiva, que ficou famosa, nos anos

1970, ao impedir em seu país o corte

indiscriminado das florestas, abraçando as

árvores como milhares de mulheres, criando o

movimento chipko.

Detentora de uma grande força vital e

intelectual, Vandana explica a importância da

ecologia e do feminismo para garantir a

sobrevivência e a igualdade entre homens e

mulheres que formam parte da mesma espécie.

Essa mulher otimista foi capaz de mobilizar

cinco milhões de camponeses da Índia contra a

União Geral de Tarifas do Comércio e de

colocar-se na liderança da grande mobilização

contra a globalização na cúpula realizada pela

Organização Mundial do Comércio (OMC),

em Seattle, no final de 1999.

“Penso que a ação e a reflexão devem caminhar

juntas. Não existe uma ideologia perfeita, é

simplesmente uma política de responsabilidade.

A diversidade não é o problema, é a solução

para as crises políticas da intolerância, as crises

ecológicas da não sustentabilidade e as

econômicas da exclusão e da injustiça”, segue

afirmando com uma grande convicção.

Vandana acredita que o capitalismo tem sido

apresentado como um modo de crescimento

“mas na realidade é um modo de pobreza e de

alguma forma a globalização é o clímax do

capitalismo”, reflete Vandana em voz alta.

Grande comunicadora, sempre sorridente, ela

afirma que vem de uma região do norte da

Índia, aos pés do Himalaia, local em que há

muitas coisas para os que não necessitam de

dinheiro, só de amor mútuo. “Portanto, as

relações são a alternativa ao capital. Criar

relações é a alternativa para a pobreza que causa

o capital”, conclui.

Autora de numerosos livros, e muito crítica com

a consideração de seu país é uma potência

emergente: “O modelo econômico da Índia é

uma catástrofe porque só funciona para um

punhado de pessoas, enquanto são milhões os

que comem pouco e possuem pouca água”. E,

frente à admiração pelo crescimento da

economia indiana, que no ano passado foi de

9%, denuncia: “O que muitos consideram um

milagre econômico é um desastre, sobretudo

porque virou-se as costas para a natureza, aos

seus processos ecológicos e aos ecossistemas

vitais”.

Por trás de um colorido sári, que diz não pensar

em renunciar nunca, já que para ela é um sinal

de identidade, e “muito mais propício que um

jeans”, Vandana Shiva é um furacão que

sacode as consciências por onde passa. É capaz

de enfrentar as grandes corporações

internacionais, que ela acusa por criminalizar a

agricultura, apropriar-se dos recursos básicos e

espoliar a terra.

Mulher vital, valente, incansável em suas

denúncias, é uma firme defensora da agricultura

orgânica como a verdadeira solução para a

mudança climática e acredita na necessidade

urgente de se reflorestar o planeta.

ECOFEMINISMO

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Fica indignada ao falar de milhares de pessoas

que comem pouco e que possuem pouca água

para beber, “muitas comunidades se veem

obrigadas a abandonarem suas terras para que

outra fábrica possa instalar-se e milhares de

agricultores estão lutando nos arredores de

Nova Déli contra os projetos de conversão de

suas terras de cultivo em áreas urbanas, destaca.

Vandana denuncia que a economia não leva em

conta os números-chave, “como o número de

crianças que sofrem desnutrição ou os

quilômetros que uma mulher tem que andar para

conseguir água”. Sente-se muito identificada

com o líder Mahatma Gandhi quando afirmava

que os recursos naturais devem ser de domínio

público, razão pela qual a água não pode ser

privatizada nem a terra monopolizada.

Esta filósofa, reconhecida mundialmente,

considera que “a igualdade pode significar dois

tipos de coisas, por um lado o parecer-se, ser

similar, ou pode significar diversidade sem

discriminação. Eu acredito nesta última

definição. Quero ter a possibilidade de ser

hindu, não quero converter-me numa europeia.

Eu quero ser e quero espaço para ser hindu. Eu

quero ser mulher, não quero tornar-me um

homem, não quero poder ser violenta, como

minha segunda natureza, não quero ser

irresponsável, não quero assumir que outra

pessoa tenha que arrumar a desordem que deixo,

eu tenho que arrumar a desordem que creio”.

Portanto, resume com firmeza, “eu quero a

liberdade para ser diferente, mas não quero ser

castigada por isso. Para mim isso é a

igualdade”.

Lúcida, revolucionária, enérgica e carismática, é

consciente das críticas e rejeição que suas

opiniões despertam. Afirma que “o patriarcado

capitalista dominante é uma ideologia baseada

no medo e na insegurança. Medo de tudo o que

está vivo, já que qualquer liberdade e autonomia

são ameaçadoras para eles”. Por isso, defende

com unhas e dentes seu ecofeminismo, “que é a

filosofia da segurança, da paz, da confiança”.

Talvez um de seus posicionamentos mais duros

seja contra o Banco Mundial, porque ele forçou

o Governo da Índia a reduzir subsídios que

possibilitavam o funcionamento na distribuição

de alimentos. “Eles chamam de subsídios, mas

na realidade eram suportes. É necessário gastar

para manter os direitos fundamentais de nossa

gente. E o Banco Mundial disse: ‘Não se pode

gastar esse dinheiro para alimentar as pessoas’.

E aí a crise alimentar”.

Em consequência dessa política, “as pessoas

deixaram de comprar comida e começaram a

morrer de fome. Estão a ponto de morrer de

fome 50 milhões de pessoas, enquanto 60

milhões de toneladas de alimentos apodrecem

nos celeiros. Entretanto, as 60 milhões de

toneladas não são excedentes, eu as chamo de

pseudo-excedentes e atualmente estão sendo

exportados para o mercado mundial, dizendo

que Índia possui tanto alimento que pode

exportar. O que eles não dizem é que nós temos

esse tanto de alimento porque as pessoas estão

morrendo de fome”, explana com indignação.

Ela assegura que os hindus veem o que está

acontecendo e protestam muito, seguem

sonhando com uma biodiversidade livre, que

pertença aos camponeses, em que a água seja

acessível, como também a comida. “É muito

simples criar o sistema”, considera de forma

otimista Vandana, “mas está sendo impedido

pelas políticas que nos governam em nível

internacional e este é o motivo pelo qual, cada

dia de minha vida, insisto que temos que parar

de cooperar com essas políticas”.

Com o rosto nostálgico recorda-se de Gandhi,

quando caminhou até a praia para buscar sal

enquanto os britânicos diziam que eles eram os

únicos que podiam fazer sal, “para assim terem

mais dinheiro para financiar maiores exércitos

para disparar-nos”, conclui com um sorriso

irônico.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506679-

ecofeminismo-e-colocar-a-vida-no-centro-da-

organizacao-social-politica-e-economica-afirma-

vandana-shiva