terra livre 23

8
TERRA LIVRE TERRA LIVRE TERRA LIVRE TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL BOLETIM Nº 23 AGOSTO DE 2010 - O Jornal Vida ova (1908-19129) e a Protecção dos Animais - Uma Saudação Para Lamentar - Alguns Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais - O Capitalismo Criativo e Torcionário

Upload: teofilo-braga

Post on 08-Mar-2016

231 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Boletim para a criação do Colectivo Açoriano de Ecologia Social

TRANSCRIPT

TERRA LIVRETERRA LIVRETERRA LIVRETERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 23 AGOSTO DE 2010

- O Jornal Vida ova (1908-19129) e a Protecção dos Animais

- Uma Saudação Para Lamentar

- Alguns Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais

- O Capitalismo Criativo e Torcionário

O Jornal Vida Nova, “órgão do operariado micaelense”, publicou-se, em Ponta Delgada, entre 1908 e 1912, tendo como director e proprietário Francisco Soares Silva e como administrador António da Costa Mello. A protecção dos animais, preocupação a que algumas correntes anarquistas são sensíveis, foi uma das temáticas que foi tratada nas páginas do Vida Nova, através do seu colaborador João H. Anglin. Dada a actualidade do teor de um texto, do autor mencionado, publicado no número 48 do mencionado jornal, datado de 15 de Agosto de 1910, abaixo transcrevemos um longo excerto:

“Uma das mais manifestas provas

da ignorância do nosso povo é a

feroz brutalidade que usa com os

pobres animais que na maioria dos

casos lhe são um valioso auxílio na

luta quotidiana pela vida.

Esses repugnantes espectáculos que

diariamente se repetem nas ruas

desta cidade nada atestam a favor

da nossa boa terra, antes a

desconceituam aos olhos dos

estrangeiros que nos visitam os

quais nos terão na conta de brutos a

julgar por estas cenas bárbaras de

que são vitimas os pobres animais

indefesos.

Com isto não queremos dizer que o

povo seja mau, porque de há muito

está provado que não há homens

maus. O que há apenas é a crassa

ignorância, por cuja perpétua

conservação tanto se empenham os

políticos e governantes”.

Ainda no mesmo texto, João H. Anglin fala na necessidade do aparecimento de Sociedades Protectoras de Animais para acabar com todas as atrocidades e refere-se ao facto de alguém já ter tentado criar uma e ao que lhe parece já estarem redigidos os respectivos estatutos. No número 51 do Vida Nova, de 15 de Outubro de 1910, surge a informação da realização, em breve, sessões para a elaboração e discussão de estatutos para uma Sociedade Protectora de Animais e apresenta António José de Vasconcellos, como a pessoa que iria ser convidada para presidir à instituição.

O Jornal Vida Nova (1908-1912) e a Protecção dos Animais

Naquela altura, 1910, a preocupação principal era para com os animais usados como auxiliares dos homens no seu trabalho, como poderemos deduzir através da leitura de outro excerto do texto do autor referido acima: “…era

bom que alguma coisa se fizesse no

sentido de melhorar a sorte desses

pobres seres que tantos serviços

prestam ao homem e que em

recompensa recebem forte pancadaria

quando porventura se encontram

impossibilitados de trabalhar tanto

quanto os seus donos exigem”.

Teófilo Braga

São Miguel, 9 de Julho de 2010

Aproximam-se as férias de Verão e

com elas, todos os anos, o aumento

do abandono dos animais de

estimação. Isto acontece porque ao

adquirir um animal de estimação

não se pensou devidamente que tal é

um compromisso que se assume para

o resto da vida do animal.

Para evitar o abandono de animais,

que é uma forma desumana e cruel

de os tratar, o GBEA- Grupo pelo

Bem-estar Animal dos Amigos dos

Açores apela para que, ao mesmo

tempo que faça umas férias felizes,

não as transforme em pesadelo para

os seus animais de estimação.

Assim, se não puder levar o seu

animal consigo, opte por uma

(haverá outras) das seguintes

soluções para o seu tratamento:

- Peça a ajuda aos seus familiares ou

amigos;

- Solicite os serviços de particulares

ou de empresas que prestam apoio ao

domicílio;

- Recorra aos serviços de hotéis para

animais ou a clínicas veterinárias

que ficam com os animais durante as

ausências dos seus donos.

GBEA- Grupo pelo Bem-estar

Animal dos Amigos dos Açores

Açores, 9 de Julho de 2010

Há tantos burros mandando

Em homens de inteligência,

Que às vezes fico pensando

Que a burrice é uma ciência!

António Aleixo

No passado mês de Julho, todos os deputados da Assembleia Legislativa Regional dos Açores (ALRA) aprovaram um voto de saudação à Tertúlia Tauromáquica Terceirense (TTT), que em Março último, recebeu um prémio da Associação Taurina Parlamentar de Espanha, pela sua actividade cultural a nível internacional. Em primeiro lugar, importa saber que a Associação Taurina Parlamentar de Espanha não é mais do que um grupo de pressão pro-touradas constituído por actuais e ex- deputados espanhóis, representantes dos sectores mais conservadores e reaccionários da sociedade do seu país. Em segundo lugar, é importante denunciar que a única actividade dita cultural da TTT é a promoção de touradas e de outros eventos tauromáquicos que só vêm a luz do dia com o uso de dinheiros públicos, isto é com dinheiro desviado dos nossos impostos para benefício de alguns capitalistas terceirenses. Em terceiro lugar, importa esclarecer que as touradas são uma prática em regressão em todo o mundo, sendo cada vez mais contestada junto dos cidadãos de todos os países, incluindo de Espanha, constituindo uma política errada e ruinosa a sua aposta como atractivo turístico para os Açores.

Não nos admira que a maioria dos parlamentares acéfalos da ALRA tenha votado a favor de uma aberração, o que nos deixa perplexos é o sentido de voto de alguns deputados que até têm tomado posições em defesa dos animais. Mas, todos eles lá estão com um único objectivo, conquistar o poder aos mais diversos níveis. No caso em apreço, terão feito as suas contas e terão chegado à conclusão que tirarão mais proveito apoiando a TTT do que os cidadãos que, colectiva ou individualmente, lutam por uma sociedade sem exploração, incluindo a animal.

Uma palavra especial merece o deputado José Sanbento, que é presidente da Assembleia Geral da Associação Açoriana de Protecção dos Animais, por aproveitar todas as oportunidades para os apoiar os maus tratos aos animais, recorda-se a sua votação a favor da introdução da sorte de varas (corridas picadas) e agora o seu voto a favor da tortura tauromáquica. Façam bom proveito, a nossa luta continua… Mariano Soares Julho de 2010

Uma Saudação para Lamentar

Um texto, da autoria de João Anglin,

publicado no Jornal Vida Nova, em 15 de

Agosto de 1910, que foi transcrito por Alice

Moderno no seu jornal A Folha, foi a

primeira pedra na construção do que viria a

ser a SMPA-Sociedade Micaelense

Protectora dos Animais.

Depois de elaborados os estatutos, por

Maria Evelina de Sousa, directora da

Revista Pedagógica, que terão tido como

modelo os da Sociedade Protectora dos

Animais de Lisboa, realizou-se a primeira

reunião a que assistiram um representante

de cada uma das seguintes publicações:

Diário dos Açores, O Correio Micaelense,

Revista Pedagógica, A Persuasão e A

Folha, bem como Amâncio Rocha,

Fernando de Alcântara, Henrique Xavier de

Sousa e Manuel Botelho de Sousa.

Legalizada a SMPA, a 13 de Setembro de

1911, foram seus fundadores: Caetano

Moniz de Vasconcelos (governador civil),

Alfredo da Câmara, Amâncio Rocha,

Augusto da Silva Moreira, Fernando de

Alcântara, Francisco Soares Silva (director

do jornal anarquista Vida Nova), José

Inácio de Sousa, Joviano Lopes, Manuel

Botelho de Sousa, Manuel Resende

Carreiro, Marquês de Jácome Correia,

Miguel de Sousa Alvim, Alice Moderno e

Maria Evelina de Sousa. De entre estes,

destacaram-se pelo seu empenho na criação

da sociedade, Maria Evelina de Sousa que

se responsabilizou por toda a parte

burocrática e Augusto da Silva Moreira que

adiantou a verba necessária para o arranque.

Os primeiros três anos de vida da SMPA

foram de quase apatia. De acordo com

Maria da Conceição Vilhena, no seu livro

“Alice Moderno, a Mulher e a Obra”, muito

pouco foi feito e tanto o primeiro

presidente, António José de Vasconcelos,

como o segundo, Tibúrcio Carreiro da

Câmara, terão manifestado falta de

iniciativa e entusiasmo.

Com a presidência de Alice Moderno, a

partir de 1914, a vida da SMPA alterou-se

por completo, tanto no que diz respeito à

tomada de medidas conducentes a acabar

com os maus tratos que eram alvo os

animais usados no transporte de cargas

diversas, nomeadamente os que

transportavam beterraba para a fábrica do

Alguns Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais

açúcar, à educação dos mais novos através

do envio de uma comunicação aos

professores “pedindo-lhes para que,

mensalmente, façam uma prelecção aos

seus alunos, incutindo no espírito dos

mesmos a bondade para com os animais,

que não é mais do que um coeficiente da

bondade universal”e à criação de condições

para o seu funcionamento, como foi a

aquisição de uma sede e mobiliário.

Em Agosto de 1945, ter-se-á realizado a

última reunião assistida por Alice Moderno,

com a presença de Olga Amélia Lima,

Francisco Silveira Rodrigues, José Soares

de Albergaria e Luciano Mota Vieira e

Maria Evelina de Sousa, em representação

de Oliveira S. Bento, na qual foi debatido o

problema que preocupou a sociedade desde

o início, o peso excessivo da carga que os

animais eram obrigados a suportar.

No final da década de oitenta do século

passado, a sociedade possuía cerca de 600

sócios com as quotas em dia, tendo-se a

partir daí assistido ao seu declínio de tal

modo que hoje não se conhece qualquer

actividade.

Desaparecidos os problemas associados ao

transporte de cargas, hoje a atenção deverá

recair sobre o abandono de animais

domésticos, o tratamento dos animais de

produção e o retrocesso civilizacional que

se está a assistir com a tentativa de

introduzir touradas onde não são tradição e

de agravar a tortura dos touros bravos, com

a legalização da sorte de varas e touros de

morte. Face ao exposto, seria de todo o

interesse o ressurgimento ou a reactivação

da Sociedade Micaelense Protectora dos

Animais. Todos são poucos para o que urge

fazer.

Teófilo Braga

Pico da Pedra, 17 de Julho de 2010

“Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.” (Gramsci)

O uso da casa de pessoal da RTP-

Açores, que tem como seu dirigente

mais conhecido um militante do partido

socialista de longa data, para transferir

dinheiros públicos (3 500 €) para o

ganadeiro, foi o estratagema

encontrado pelo Secretário Regional da

Economia, Vasco Cordeiro. O pretexto

foi o apoio à promoção turística quando

qualquer pessoa, com dois dedos de

testa, sabe que tal não se faz

incentivando os maus tratos animais.

Não é com fel que se apanham moscas!

Anunciada com pompa e circunstância,

pelo presidente da Câmara Municipal

da Lagoa, foi a instalação da BEE

CLEAN, empresa de manutenção e

limpezas, no concelho da Lagoa,

atraída pelas facilidades concedidas.

Não passou muito tempo e a empresa

que pretensamente se dedica a limpezas

passou a promover touradas. É curioso

que, na Lagoa, a promoção das

touradas que era exclusivo da Câmara

Municipal passou para algumas

empresas, o ano passado a SICOSTA e

este ano a BEE CLEAN. Outra nota

interessante é que, aos e-mails de

repúdio enviados, a única resposta

tenha sido de uma tal Cristina Calisto,

em nome da Câmara Municipal, a

partir de um endereço de e-mail

particular. Promiscuidade ou

congregação de esforços?

Como se tal não bastasse, tomámos

conhecimento da existência de uma

novel ganadaria nas Capelas, ilha de

São Miguel. Embora pareça estranha, a

situação é mais do que justificável pois,

ao contrário do que muitos pensam, o

capitalismo não está moribundo. Face

às dificuldades por que passa, para

além da regressão social que está a

impor, sem a resistência devida por

parte de quem está a sofrer mais,

trabalhadores, jovens desempregados,

O Capitalismo Criativo e Torcionário

idosos, etc., a sua criatividade não tem

limites.

O caso da ganadaria das Capelas, para

além de ser a prova da falência da

política agrícola do actual governo (e

dos anteriores), é a busca desesperada

de sobrevivência de um sistema sem

escrúpulos, pois, no século XXI, a

indústria tauromáquica, vivendo dos

maus tratos e tortura animal, não passa

de uma actividade criminosa, mas

infelizmente legal.

Não achamos estranho a luta pela

sobrevivência por parte do capitalismo,

o que temos a lamentar é a indiferença

de quem o diz combater.

Mariano Soares

23 de Julho de 2010

LIXOS 1

O despejo de lixos continua a ser uma

prática diária de muitos micaelenses

que ficam à margem de todas as

campanhas de sensibilização ou que a

elas não são sensíveis.

Ribeira Seca de Vila Franca, 24 de Junho de 2010

LIXOS 2

O Algar da Ribeirinha foi transformado

em vazadouro de lixos. Ninguém será

responsabilizado?

Ribeirinha, 18 de Julho de 2010

BREVES