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Útero Jady Tariane

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Útero Jady Tariane

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À Grande Deusa, o útero primordial do mundo.

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Índice Sigilo do tempo (Eternum Conspícuo) .................................................................................. 05

A Deusa despertou! ............................................................................................................... 06

Vista para o vazio ................................................................................................................. 07

Portal para o infinito ............................................................................................................ 08

Descoberta inusitada ............................................................................................................ 09

Vernissage de um jardim ....................................................................................................... 10

A Força da formiga e do leão ................................................................................................ 11

Aranha esquizofênica ............................................................................................................ 12

Sexo de flor ........................................................................................................................... 13

Nós e nós ............................................................................................................................... 14

Sono do despertar ................................................................................................................. 15

Imagem e semelhança ........................................................................................................... 16

Traga minha alma, Dragão! ................................................................................................. 17

Entusiasmo (En Théos Iasmos) ............................................................................................. 18

Pulsação orgástica ................................................................................................................ 19

Caminho de volta, pra dentro ................................................................................................ 20

Corneta dos Anjos ................................................................................................................. 21

Psicopompo ........................................................................................................................... 22

Sinergia das Estrelas ............................................................................................................. 23

Milésimo zero ........................................................................................................................ 24

Sexta-feira, treze ................................................................................................................... 25

Conversa de pássaros estelares ............................................................................................. 26

Fertilidade anímica ............................................................................................................... 27

La Loba ................................................................................................................................. 28

Encaixe ................................................................................................................................. 29

Pirâmide espacial ................................................................................................................. 30

Filha do Ar ............................................................................................................................ 31

Apelos infantes ...................................................................................................................... 52

Convite à insanidade ............................................................................................................. 53

A alma selvagem da arte ....................................................................................................... 54

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Presença ............................................................................................................................... 55

Alquimia ................................................................................................................................ 56

Lembranças à arte ................................................................................................................ 57

Doce Magia ........................................................................................................................... 58

Bateu à porta, pediu pra entrar! ........................................................................................... 59

Caminho ................................................................................................................................ 40

Extâse .................................................................................................................................... 41

Castanha ............................................................................................................................... 42

Cosmose ................................................................................................................................ 43

Incondicional ........................................................................................................................ 44

Desejo .................................................................................................................................... 45

Flecha ................................................................................................................................... 46

Marina ................................................................................................................................... 47

Buscamos raízes .................................................................................................................... 48

Éris e a Maçã ......................................................................................................................... 49

Surrealismo natural .............................................................................................................. 50

Insight de flor ......................................................................................................................... 51

Mandala ................................................................................................................................ 52

Transmutação ....................................................................................................................... 53

Encontro ............................................................................................................................... 54

Magia da Chuva ..................................................................................................................... 55

Fungo e Planta ...................................................................................................................... 56

Flores de Baudelaire ............................................................................................................. 57

Visita das baratas de jardim ................................................................................................. 58

Teia ....................................................................................................................................... 59

Cidade de Sonhos .................................................................................................................. 60

Fêmeas Cósmicas .................................................................................................................. 61

Epílogo ................................................................................................................................. 62

Donzela ................................................................................................................................. 63

Mãe ....................................................................................................................................... 64

Anciã ..................................................................................................................................... 65

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Sigilo do tempo (Eternum Conspícuo) Ilusório controle, à tua pretensão renuncio. Estou entregue, deslizo à fluidez impermanente do rio. Somente amor emano e aceito. Toda dor sinto e reconheço. És ensinamento oculto, intrínseco, auto manifesto. Olho-me um instante mais inteira, cresço. Estou plena. Alcanço o centro da Mandala. Força motriz, matrix, fênix. Grande Mãe Ônix, conceda-me Poder e Confiança. Embala-me na suave fragrância acolhedora... Mova os ventos, o vórtice o campo impenetrável. Sustentáculo do Reino profícuo de serena paz e puro Amor. Estrelas sussurram, entoam um mantra eterno do indizível, e dão à Luz! Divina dádiva, quieta destrói e sustenta a teia turbulenta contínua. Estranha... Contrai, expande, contrai... Equilibra!

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A Deusa despertou! De costa nua, Bela banha-se no rio. Está viva em toda sua natureza: perfeição harmônica, sutileza. Conecta, completa, complexa, exala sutil aroma de leveza. Oh Grande Deusa! Nua, de passo ousado quadris ensaiam o gingado, seu embalo afinado é a imensa fogueira do ardor exasperante. É fortaleza ardilosa e dançante, derrete o olhar vil, maculado. Seu poder seguiu dormente detrás dos olhos cerrados num sono de sonhos quase eternizados. Oh Grande Deusa, desperta! Espreguiça-se com manhas de felino, entoa seu bocejo visceral, leonino. Toma posse de si mesma, brada em elegante silêncio sua incontestável realeza. Nua está vossa alteza, é a Bela que nada e a água tão límpida, honestamente reflete sua pureza.

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Vista para o vazio

Primeiro que fiz ao recolher-me em teu ninho tirei minhas sandálias em respeito ao chão, amável morada! Refresquei-me num gole d’água, ofertei ao vaso aéreo que também o requisitava, a planta sedenta tanto se animou que pôs uma cachoeira a jorrar. A parede sábia aconselha: pratique yoga! -lembrete ímpar- maravilhosa ideia! Começo o yoga dançar, dispo-me da insatisfação, sinto o pulsar. Na magia da floresta e na fumaça descansam meu Ser. Semeio a terra com a intenção dos trevos, teu sangue brilha na superfície das pétalas, verbenas e cravíneas anunciam teu luar!

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Portal para o infinito O oito derrama-se em três dimensões numéricas da existência. A fonte inesgotável da vida transborda sua mágica nas veias de nossa Terra. O vento sopra com alegria assobios vibrantes enviados de longínquos mundos de Amor. Derramam-se brilhos e alegrias sobre todos os seres pulsantes de Gaia. A semente brota, forte e regenerada, ascendemos à Luz, unos, confiantes no Amor inesgotável. Habitante lendário das histórias silenciosas, bravio viajante da poeira eletromagnética cósmica, flutuando os vácuos e espaços através dos éons.

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Descoberta inusitada O latejar incomodo na garganta sem pressa de ir-se, embalava-se num lamento ecoado insistentemente na trama dos tempos. O corpo pequeno e frágil tremia febrilmente desejoso de encontrar compaixão e acalanto. Minguava lânguido para o abraço do merecido descanso, o alento busca aos que julgam merece-lo... Singela verdade brota em uníssono ao pulsar laríngeo desconfortante. Tão exacerbadas e desmedidas são as preocupações mundanas! Arrogantes e teimosos temos pretensão de controlar. Que o acalanto possa vir então através do amor pelo respeito incondicionado do que somos e do que É.

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Vernissage de um jardim As quatro tumbérgias brilham amarelas. Absorvem alegres difusos raios solares. Folhagens pintadas de roxo emanam a magia branca. Lantanas dançam, largando aos ventos leitoso e primaveril odor. Atraem o dulce leopardo pintado na tripla face das flores.

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A Força da formiga e do leão Formigas caminhantes traçam círculos à minha volta. Que mensagem cósmica trazem? Parecem surgir do nada e irem-se para a sombra de nenhum lugar. Logo após retornam em sua dança circular... Representam a Força e perseverança, é a dama de chapéu que com as próprias mãos abre a boca do leão! Doma a fera defensiva e acuada, monta em seu lombo macio, mergulha os dedos em sua juba dourada e desfruta o prazer vibrante de suas enormes patas majestosas beijando o chão.

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Aranha esquizofrênica Vivo em dúvida desde que nasci. Como uma pequena e frágil aranha no centro de uma grande teia infinita. Apesar de toda a teia parecer igual, cada canto dela dá num lugar diferente. Se eu piso mais pra cá, num instante, tudo pode mudar de repente! E se outro lugar lá, bem distante, soa-me mais conveniente, inquieto-me deste lugar parecer-me insuficiente. E pra um bom aprumo da história A pequena aranha tem um jeito de tear esquizofrenicamente irreverente.

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Sexo de flor Lambi o sexo das flores atraída por seus aromas sutis e indecentes. Caí como abelha no mel presa na dulce armadilha da cor. Lábios e línguas tocam a pétala - de leve e levam pelas veias o pulsar e tremor faz vibrar o sangue, apertar as pernas. O hálito da primavera me brinda a lascívia da flor.

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Nós e nós Se o vasto da mente abarca tamanhos desejos ardentes, que se dirá do mundo inteiro, abarcando desejos de infinitas mentes? No teto pairam tantas quimeras, nós pés queimam todos os passos. o estômago engole os nós amarrados, a mão esperneia no papel o embaraço e pela boca se cospem os laços desatados.

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Sono do despertar Confidencio sonhos íntimos em tuas alvas páginas buscando sondar os mistérios da criação onírica. Mergulho em emoções intensas para revelar a melodia oculta que soa o coração, que irriga as veias de vontades apaixonadas. Honesto desejo de despertar o familiar estado de paz e serena harmonia habitante das profundezas do Ser. Deixo ramos com o Vento. Deixo minhas raízes com a Terra. Deixo a Luz brilhar ao Fogo. Deixo minha seiva fluir com o Sangue da Vida.

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Imagem e semelhança Através das mãos fluem a Divina Criação. Eterna de belezas, milagres e bênçãos. Tesouro raro, inesgotável brota ao centro de nossas flores e amores. Abrilhanta fragmentos do tempo insondável, ilumina-nos com sua maestria inefável. Cria-nos improváveis e perfeitos em sua teia fractal.

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Traga minha alma, Dragão! Aterrissei num mundo longínquo sedenta de novas guloseimas para alimentar o espírito. Tive medo da água e seus mistérios mas com pés firmes na terra escalei a colina. Foi quando Ele me viu! A criatura draconiana alada voou ao meu encontro pousou em minha frente ergueu suas asas ameaçadoramente como se liberasse toda a carga. Havia certeza em sua mirada, dois abismos verde esmeralda fitavam-me com firmeza e com a leveza que escorria delineando suas escamas. Um convite para mergulhar nas profundezas de sua alma. Sou desnudada, libertada, devorada inocentemente alimentada pela dulcíssima confiança que perpassava o abismo daquele olhar.

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Entusiasmo (En Théos Iasmos) 'Plenos em Deus estamos', do latim. Alonga a chama da vela, revela a onipresença. Embaralha ordem e caos, equilibra a onipotência. Contrapõe luz e sombra, integra a onisciência.

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Pulsação orgástica Breve revelação se fez, a realidade distorcia-se no movimento da respiração. Inspirar contrai o quarto sutilmente, quase imperceptível. E expande-se, logo após, numa expiração, suprimindo o limiar que define e delimita o que é real e projeção. Descubro-me dessa antiga roupa limitadora da beleza genuína. Só então sou capaz de ver meu centro que é flor recém nascida. Desabrocha saudando-me suavemente com suas carícias doces e ternas, inocentes, desprovidas de malícia. A realidade distorcia-se com a frequência na vibração das cordas. E tocadas pelos dedos revelavam: a cadência melódica corpórea é canção energizante que brota ao centro multicor da sagrada flor cósmica.

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Caminho de volta, pra dentro Essa casa é tão grande que nossos olhos desencontram. Perambulando coisa em coisa abro portas, maçanetas lavo trapos velhos, desgastados mas meu toque não te alcança. Os dedos curtos desconhecem a dança, o êxtase do prazer. Deslizo pelo visgo invisível das paredes brancas, dou afeto e carinho para as plantas, tão sábias necessitam pouco para vicejar. Um sutil afago às alegra! Abençoada seja sua entrega e podermos dar-lhe o Amor. Sagrada Flora Eterna, ensina-me a dançar a música da criação interior.

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Corneta dos Anjos Despretensiosamente joguei na terra o farelo de suas sementes, o contato com a água iniciou a mágica. Brotos irreconhecíveis de caule enegrecido e aroma indefinível. Tenho estranha mania de gostar dos matos, um matinho que nasce é preciosa possibilidade ao olhar desarmado. Curiosa, velei seu crescimento ansiava desvendar a deidade afrodisíaca da natureza que embelezaria aquele vaso. Enchi-me de surpresa e alegria quando, num insight, revelaste tua identidade. Vi a flor que ali estava, após uma e outra respiração cósmica sua magia desabrochava. Estendia seus lábios cheirosos aos céus oferecendo seu beijo de fada. A vibrante saia roxa rodopiava. E eu, embalada por sua graça pensava: Seu caule negro mergulhado a terra não é obstáculo bastante que a impeça de bailar seu branco e roxo entorpecente no éter flutuante das dimensões inexistentes.

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Psicopompo Artífice, aceito conduzir-me à totalidade. Estarei contigo face a face, Artífice! Minucioso ourives, entrego-me à renúncia total ajoelhada diante tua fronte. Una ao húmus da terra sou humildade e aceito a dádiva de vislumbrar a fonte de onde brota Tua Verdade.

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Sinergia das Estrelas A lua nova se oculta na morada do escorpião. Sua seiva escorre nas raízes finas, penetram o solo, perscrutam o enigma antigo codificado na úmida escuridão. Tateiam em busca da intenção oculta na trama quântica dos véus de ilusão. A intensidade move a força nos braços dourados de Quíron, o Sábio. Nobilíssimo centauro ergue seu arco, inspira os quatro cantos, expira. Lança a flecha certeira que rasga o véu e atravessa o limiar da potencialidade infinda de toda a criação. A borboleta azul, etérea flutua graciosa, é fada protetora. Poderosa guardiã do caçador e seu fiel cão. Unidos, atravessam o vale negro do firmamento farejam o touro tempestuoso, turbulento. Sua natureza agressiva será domada e se tornará fiel aliada na firme e altiva mirada de Órion, o Caçador. De Capella à Rigel, Betelgeuse avermelha o céu. Abre caminho até Sirius, com seu brilho dançante anuncia ao horizonte a chegada de suas irmãs, seguidas do mistério extático, exuberante. Emocionante constatar a delicadeza na óbvia e minuciosa revelação: A luz que irradia do olhar constela as estrelas! E o sono se aproxima devagar na tímida geada pálida, milhões de sistemas e estrelas ofuscadas pelos postes da rua. Teimando iluminar absurdos embaçam as nítidas pinceladas que esboçam no noturno celeste a indistinguível majestade do absoluto.

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Milésimo zero Unidade Uni dual Deidade crística, trindade Ciclo quaternário, natureza elemental Sela o sétimo selo, conecto. Perfeito infinito sétuplo. Eleva-se a oitava e décima cadência exponencial frugal sacral floral padrão fractal Contínua sequência dos Mil décimos poéticos da existência.

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Sexta-feira, treze Doce menina, não vás tão cedo deste mundo. É verdade que desconheço o doloroso abismo que te espreita. Rogo as bênçãos do sangue vibrante! Oh Grande Deusa! Manifesta em nós a sagrada aliança serena, violeta dourada. Não há fins ou inícios se tudo se transforma. A morte nasce da vida, a vida nasce na morte. É a dança exponencial, fractal de formas. É preciso morrer em vida, irmã minha! Ceifamos com nossas forças unidas, Todo o medo, o desespero infundado. Nossa existência é eterna leveza indestrutível impermanência e fruição. Acalme-se doce menina aqui estou para te dar colo e ninar sua alma. Confiamos na Deusa que ampara as lástimas, as lágrimas pesadas de tristeza. Dê-me sua mão no abismo escuro. Lembra-se daquele sábio e doce conselho? Usaremos nossos passos para iluminar o chão.

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Conversa de pássaros estelares Bem te vi, grandioso espírito. Expandiu asas amanhecendo o domingo, visitou minha morada num abraço anímico. Canto místico, nossas vozes em uníssono! Instigou o brilho refletido em seu peito, lampejo solar amarelo dourado. Guardião soberano do eterno legado dos céus! Seu bater de asas é sopro vital constelando o micro e macro, simulacro existencial. Era pássaro, voava! O domingo amanhecia e também sonhava com a estrela de raiz solar emaranhada a Terra que bem te via!

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Fertilidade anímica O viscoso néctar branco escorre da lua crescente para o abraço visionário, onde a realidade se utopia nos braços de Aquário. O pingo perolado agita os peixes no turbilhão profundo do oceano grávido. Sua redonda face irradia a gestação sagrada das infinidades. Vibram nessas águas gongos e sinos retumbando boas-vindas à criativa divindade, deidade criativa, fertilidade anímica... Criatividade!

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La Loba Sou como o sol derretendo gelo quando desvelo sorrir para a vida uma dança entravada com desmedido zelo. De pé, há uma loba em volta. Envolta à sombra. O branco de seu pelo brinca com a maciez do vento que alicia a nuca. Excita a selvagem malícia escondida no tempo detrás dos longos cabelos.

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Encaixe Há um riso contido ansiando impulso para explodir no mundo. Encolhido de raiva, culpas... Talvez o mundo até ache graça e envie a fada dos ritmos para ajudar-me encontrar a brincadeira escondida nas coisas sérias. Livre dos grilhões do medo assumirei novas formas, como água que se adapta a diversos recipientes. Não diminui ou aumenta... É o que é! E necessariamente preenche o espaço que se apresenta, o riso encontra perfeito encaixe na tormenta.

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Pirâmide espacial Naja rajada, coruja dourada. Olhar azulado, sabedoria da vida. Um aceno lento, voo efêmero nave mãe intergaláctica. Pousa no tempo, saúda o momento. A eternidade coube em teu único bater de asas.

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Filha do Ar Sou nuvem, espiral circular. Sou movimento voo, dança. Atitude na altitude, sou o cisne branco no ar. Sou folha, seiva da veia, farfalhar. Sou fera, rangido, riso inofensivo. Ouvido atento, passo lento sou arapuá! Sou estória, ideia nova. Sou percepção extraordinária, óbvia. Fantástica simplicidade, sou a maravilha no meu olho. Sou filha do ar, semelhança e imagem.

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Apelos infantes Como consertar estragos causados pelo heterogêneo choque das necessidades? Segurança e liberdade pelejam em conflito, incapazes do coexistir pacífico. O corpo esperneia o que lhe é direito. A boca brada a raiva desencontrada de seu eixo. São energias contrapostas, colidem, estilhaços de vidro absorvem e absolvem a dor dos envolvidos. O impacto cria um recado insinuante, impingido nas pétalas despedaçadas da lótus de vidro exasperante. Sábio quem busca equilíbrio no deleite e mais ainda, aquele que recua e na renúncia encontra seu feixe.

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Convite à insanidade Anseio encontro com o delírio, largo mente e corpo no mergulho profundo, sem planos de volta. Entrego razão às ondas do mar que a devoram num abraço caótico, embalado pelo ilógico. Cores, texturas e formas formam mundos paralelos imaginários, imagéticos. Arrisco o primeiro passo à extremidade, sua face é imensa lacuna espaço reservado à insanidade obscura. Desatino enclausurado, delírio desvairado, guardado no cego tato da loucura.

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A alma selvagem da Arte Um lobo preguiçoso descansa em seus ombros. Seu tom azulado aquece o corpo frágil e rosado da menina forte que é ela. Tão forte! Carrega sozinha um imenso lobo selvagem ofegante em seu cangote. E ela me diz modesta que ainda falta a água pois sem água não há mágica não há nada, ou não há aquilo que faz fluir sua aquarela.

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Presença Tragamos fumaça nociva embaçada pelo tempo ilusório: perdidos no passado, lamentosos perdidos no futuro, ansiosos. Matamo-nos segundo a segundo flutuando no irreal - equívoco Mas se despertos enxergamos a dádiva presente no agora eterno conspícuo.

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Alquimia Quais são os vãos em que se escondem a infinda significação que podemos dar ao tão necessário e fortalecedor estado de esperar a bem-aventurança do amor? Em busca das frestas de ar puro tateamos no escuro o limiar entre calma e agonia. Uma que sangra e outra que é cura da ferida. O próximo segundo incognoscível é como uma canção perturbadora que desconhecemos a língua. Surdos à sua magia, afogamo-nos à revelia. A esperança é de fato verde ponto médio do espectro de luz visível, como o trevo quádruplo a assinalar o caminho do meio: o ser e estar equilibrado.

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Lembranças à Arte! Desmemoriada que sou a poesia me regalou a arte de eternizar memórias. Verso a verso eu teço meu baú de fundo falso - ou verdadeiro? Buraco negro infinito de guardar histórias.

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Doce Magia Gosto de misturar verbetes de outras línguas. Minha família paterna é argentina, estudei alemão, inglês, agora escrevo poesia. -As palavras são nossa inesgotável fonte de magia! Disse Dumbledore, o sábio. Escolhendo as palavras podemos adocicar ou azedar nossa vida e eu, ora, eu sou uma formiga!

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Bateu à porta, pediu pra entrar! A confusão veio visitar outra vez, ou será apenas uma máscara pra dissimular a lucidez? Não sei quanto minha epiderme está dura inerte, ou se teus beijos é que são estéreis. Resta um fraco e pobre magnetismo a unir nossas peles. Tanto lutamos e algo em mim brada, reluta aceitar que sejam antagônicos os desejos de nossos corpos. São hipóteses que amedrontam, interrogações que não cessam... São medos tecidos de desilusões. No plano de fundo dessa sinfonia caótica há uma sonhadora alma que chora, um corpo fragilizado que se amua num colo forjado em solidões.

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Caminho De pés inchados sigo ignorante, frente ao palco da arrogância invisível. Perdi-me num devaneio onipotente, entristecido. Um peso nas pernas puxa-me de volta ao húmus da terra. Grata, ajoelho-me. Saúdo e respeito. Aceito buscar luz na sabedoria do espírito: humildade, tolerância e Amor - verdadeiro elixir alquímico! Sagradas infusões, poder curador divino.

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Êxtase Se te excita o brilho do meu bronzeado e desatenta-se dum olhar marejado, um desencontro nos impede a troca sincera de afagos. Se dedilhas com carinho finos fios de cabelo, canto-te um sopro atrás da nuca com zelo. Se suficiente for nosso mútuo esmero, haverá no espaço uma fenda paraíso afrodisíaco - e nadaremos! Nus no arrepio do êxtase intenso das eras.

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Castanha Luz difusa às três da tarde massageia os músculos dissipa a tensão num bálsamo dourado o mesmo amarelo solar emanado brilha lustrado no liso reflexo das castanhas do caju.

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Cosmose padrões fractais desdobram-se em sincronia tecida no tempo produz-se a essência da vontade última divina: infinito amor, a suprema utopia!

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Incondicional Raízes profundas dissipam o medo, curam mágoas de infância. Recupera-se lenta a confiança mas perdeu-se à míngua maculada, a inocência. No cofre forte do coração há a chave, o resgate da alma pura reside na compaixão. Na leveza do perdão e no gesto único - e magnífico! de doar o amor sem condição.

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Desejo a garganta seca estala a língua sedenta da pele dos pelos e do suor do teu vinho, vem.

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Flecha a caçadora corre sob a penumbra de seu archote. brasas ardem, faíscas riscam rósea face. um rubor aquece sua alma selvagem, na noite fria da floresta envelhece e renasce...

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Marina Acalentava-me a recordação daquele gesto virtuoso dela de carregar no fundo da bolsa instantâneas bolhas de sabão. Alegria transbordava-me ao rever seu olho mergulhar no sonho da vida, olhar de vidro em olhos d’água, ela rouba o mundo com seu sorriso - e também com seu choro emotivo! Pude contemplar seu horizonte sensível vendo-a folhear páginas daquele livro que lhe tirava o fôlego do choro e do riso. Sei que via a si mesma lá dentro e quis conhecer a história de onde brotava a nascente de seu regozijo. Então, outro dia, li o misterioso livro! Contava a história de um tatu bola desejoso de ter nascido alado pois sonhava voar sobre o penhasco tal qual um balão de ar colorido! Só então compreendi a origem marítima daquela menina... Emocionava-se com o tatu balão saudosa de sua outra vida quando nadava na imensidão do mar emanando luz própria na forma de uma água-viva!

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Buscamos raízes Você é a água eu sou o ar, nós duas nadamos e voamos na liberdade mas ás vezes liberdade trás solidão e ficamos carentes... Eu e você temos de juntar ar e água, calor do sol e fertilidade da terra pra sermos árvores pois elas não carecem e tudo tem para si e ainda assim, cedem sua abundância de alimento e sombra pra quem vem.

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Éris e a Maçã Éris empurrou-me uma maçã pela goela - em chamas! Ligeira suculência logo se tornou insuportável ardor nas entranhas. O estômago revirou-se enlouquecido, os músculos congelaram-se entristecidos, a impaciência sucumbia-me e um nó fez-se na garganta. Éris sussurrou-me: - A maçã contém uma fórmula! Não entendi, mas logo vi pois já sentia implodir dentro de mim algo de força estrondosa... a verdade que me habita revelara-se espinhosa! Tentei fugir, mas de pronto vi: não me daria às costas antes de mostrar o que trazia em si! Então abandonei o medo e me entreguei à dor esparramada no corpo, escondida no espaço tempo. Vi todas as minhas fraquezas - paradoxal e surpreendentemente - vê-las, aos poucos, ia me fortalecendo! A maçã de Éris continha um segredo e seu fogo foi o inigualável tempero que necessitava para sentir na pele, a sabedoria do antigo aforismo grego: ‘conhece-te a ti mesmo’!

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Surrealismo natural Pinceladas de Dali enquadram o segredo ancestral das formigas: Seiva fálica orvalha o elixir secreto dum cálice grávido. Fonte mágica de fragrância floral trás a força vital dos insetos!

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Insight de flor A planta que não dá flor num cochilo rápido fotossente-se. vê-se extraordinária no espelho mágico celeste! lótus rosadas pendem em florescência bocejante e delicada. a folhagem onírica reflexa e pelo brilho e ilustre aroma apaixona-se a flor da pétala!

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Mandala uma noite em neblina esparrama-se no movimento projetado da grama sons invisíveis tamborilam no silêncio grilos e aranhas orquestram rítmicas equações geométricas e quânticas um ente sem nome num respiro lento da grama espalha seu bocejo ao vento - e sonha! seres vibrantes escondem-se nos passos multidimensionais de uma secreta dança a natureza é dualidade mandala espiritual e terrena

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Transmutação Tranco-me a voz dentro de um quarto cerrado a chave na companhia de culpa, fraquezas e alguma vaidade. Quanto os protejo ou me puno privando-nos o contato? Nenhum ou ambos... Mas a sós, de certo não sou incomodo nem veneno. Talvez apenas um auto imposto flagelo. Envergonhada confesso já fui candidata à perfeição, abandonei há algum tempo essa impossível e demasiado ingênua pretensão. Necessito dar-me o direito à compaixão único unguento capaz de cicatrizar feridas e expiar a culpa que me assola oriunda de tão mordaz impiedade. Essa é a missão laboriosa do ser imperfeito em evolução: transmutar crueldade em misericórdia!

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Encontro pegada forte sola o solo marca chão na veia arde desejo e vontade de leão intenso norte e engole de um gole o brilho do olho no horizonte infinito da escuridão inesperado e etéreo invento da morte e regeneração

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Magia da Chuva deslizo pelo caminho de um dia findo lenta calma se avizinha na fria brisa litorânea do vento precipito-me como paisagem notívaga como flora aromática umedecida e ciclo-me, una às nuvens em movimento a interação sinérgica dos elementos prenuncia o mistério e enigma da água nobilíssima da chuva ao molhar a impermeabilidade do tempo

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Fungo e Planta inspirada fantasia nasce espontânea nos trejeitos elegantes da natureza. como cogumelos selvagens frutificados em vaso pendente sob a purificação vegetal do clorofito o minúsculo pino cresce rápido e toma forma. à razão do vivo ente que o anima esguia seu tamanho num fractal exponente e na superfície folhada dupla cor em fita - se espora! seu corpo corre sob solo úmido seu fruto é cume carnudo sob a relva os magos fungi multiplicam-se sem sementes seres fálicos, férteis divindades da Terra!

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Flores de Baudelaire a reversibilidade de Charles encanta palavras dançam de anjo e sombra delineiam passos à beira da calma um clarão capta o insight lúcido da alma. escalda como sauna espreme a mente inquieta e derrete o pensar num caldo quente de ervas sem nome e de súbito surge um gostoso formigamento nos pés. benditas sejam as miríades poéticas ricas imagens de emoções transversas teus cílios baixos entorpecem - verso a verso a razão sempre tão tensa do telencéfalo. poeto como descanso... pra ser plena danço também a luz dos anjos e das sombras sou água pura, regenero, me torno fértil e guardo no útero o gesto das sementes das flores de Baudelaire!

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Visita das baratas de jardim poucos móveis pela casa e muitos vasos de planta orquestram bem o espaço dando graça e elegância. uma folhagem bruxesca e rajada e seus tons de verde escuro e claro contrastam com a iridescência alaranjada das luminas. agregando uma pitada de ironia duas baratas de grama invadem a sala abrigam-se da chuva passageira e com ela vão-se embora, educadas, de volta ao jardim. ainda tem sua imagem difamada dentro dos círculos humanos de extermínio sempre mal faladas, à escusa de asquerosas indesejadas pobres criaturas, perseguidas sem fim.

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Teia relâmpagos conversam com a terra injetam sua informação num raio certeiro e penetram direto o sistema nervoso do chão. aprendo com a natureza conecta o saber ancestral dos ciclos e sua teia complexa sustentáculo de iguais, divergem com respeito e colaboração. a minúscula aranha agiganta e desce, pende, tece tece e pende em linha certa. mede um caminho, traça uma seta mete o pé no compasso, dança a vida e me ensina: a dor sempre passa, moribunda intrusa, mas se dissipa!

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Cidade de Sonhos quão fabuloso seria se as ruas fizessem jus aos seus nomes andaríamos entre rosas entre flores de anis e pedras d'água no meio da cidade caminharíamos dentro da floresta densa beiraríamos o azul celeste da Ilha de Açores e também do antigo Rio Doce quão fantástico seria se o nomes dos prédios os definissem atrás do campo das tulipas acharíamos Mar de Plata e batizados iríamos ao caminho de Santiago os jardins de aruanda perfumariam nossos passos de ervas santas cada esquina guardaria uma viagem mágica cada rua, uma dádiva extasiante experiência sensorial planetária nos aguardaria nos recônditos da vizinhança

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Fêmeas Cósmicas Há uma congruência misteriosa em todas as filhas da natureza... Nas Sativas, só a fêmeas tem a força psicoativa! Sereias de canto hipnótico seus sonidos incógnitos convidam o homem ao mergulho no profundo mar oculto. As filhas da natureza estão na Terra nos elementais de fogo, água e ar. O sangue e suas seivas guiam-se pelo místico magnetismo lunar. Fêmeas cósmicas, apreciamos os inícios e fins de todos os ciclos e existimos em honraria à nossa Grande Mãe e Pai. Entrelaçados, dançando a harmonia do infinito.

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Epílogo

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Donzela

flora terrena sonido uterino é primavera!

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Mãe

imaculada é a santa Maria primeira ama.

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Anciã

é a que ouve na vibração da teia

tecelã da fé!