termo de audiência com sentença

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Termo de Audiência com Sentença

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2 Vara Criminal - Zona Norte fl. _____ PODER JUDICIRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE JUZO DE DIREITO DA 2 VARA CRIMINAL - ZONA NORTE DA COMARCA DE NATAL TERMO DE AUDINCIA DE INSTRUO E JULGAMENTOProcesso n (APAGADO) Acusado: Leandro (APAGADO) e KARLA (APAGADO) Data e hora: 20/01/2011 s 08:30h

PRINCIPAIS INFORMAES E OCORRNCIAS [s = sim | n = no] - Presenas: Ministrio Pblico, Dr Sivoneide Tomaz do Nascimento - s; acusado(a)(s) Leandro (APAGADO) e KARLA (APAGADO): - s; defensor, Defensor Pblico, Dr. Manuel Sabino Pontes - s. Oitiva(s): vtima: - n; testemunha(s): - s. Nome(s) da(s) testemunha(s) e declarantes ouvido(a)(s): WILSON SOARES DE LIMA e RONILSON MOREIRA DOS SANTOS; Acusado(a)(s): - s. Caminho e nome do arquivo multimdia: D:\Gravao de Audincias\2011\janeiro\(APAGADO). Alegaes finais orais (s). Ocorrncias dignas de nota: disse o MM Juiz: "Antes de proceder ao interrogatrio do acusado, entendeu o magistrado que o Estado Democrtico de Direito repercute no mbito do Processo Penal atravs do Princpio Acusatrio. Apregoa ele que as funes de acusar, defender e julgar so atribudas a rgos diversos, bem como que a produo das provas compete s partes e no ao magistrado. Outrossim, quando o magistrado produz as provas ele perde sua imparcialidade, notadamente em favor da acusao, pois a tese o primeiro elemento que lhe chega s mos. Na verdade, inconscientemente (e s vezes conscientemente tambm), termina o magistrado por buscar nas provas apenas, e to somente, a confirmao do pr-juzo anterior condenatrio que j possua, culminando por despir-se da toga e a dividir a vestimenta da beca de quem acusa, seja o Ministrio Pblico, seja o querelante. Por isso o interrogatrio ser procedido pelas partes e, ao final, complementarei com alguma dvida que tiver, sendo a ltima pergunta se a parte r tem algo mais a dizer em sua defesa, cumprindo o princpio da ampla defesa".. Deliberaes finais: segue sentena. SENTENA RELATRIO Trata-se de ao penal pblica em que figura LEANDRO (APAGADO) e KARLA (APAGADO), partes j qualificada nos autos, como acusadas pela prtica dos fatos violadores das regras penais previstas no(s) artigos(s) 33, caput, e 35, caput, ambos da Lei n 11.343/2006. Quanto s provas documentais e periciais, h o seguinte: o termo de exibio e apreenso de fl. 13; o laudo de constatao de fl. 14 e o exame qumico-toxicolgico de fl. 110. A denncia foi recebida no dia 08/10/2010 (fl. 92). A citao se deu s fls. 93 e 94. A resposta acusao se encontra s fls. 105-107. O interrogatrio ocorreu em audincia. As testemunhas foram ouvidas em audincia. Nas suas alegaes finais a acusao disse, em suma, o seguinte: a materialidade e a autoria esto comprovadas pelas provas juntadas aos autos, pelo menos em relao ao1 Av. Guadalupe 2145 Conj. Santa Catarina, 2 Andar, Potengi - CEP 59.112-560, Fone: 84 3615-4663, Natal-RN - E-mail: [email protected] As informaes processuais podero ser acompanhadas atravs do stio "www.tjrn.jus.br".

acusado LEANDRO (APAGADO), devendo ser condenado nos termos da inicial. J em relao acusada KARLA (APAGADO), a mesma tinha pouca instruo, mas passou sinceridade. Ela disse que nem consumia e nem sabia do envolvimento do marido com as drogas. Pediu a absolvio por no haver provas de que praticou a infrao. A acusao de associao para fins de trfico, em relao ao acusado LEANDRO (APAGADO), deve ser rejeitada, uma vez que a acusada foi absolvida, faltando, agora, um dos elementos, o da associao. Em, relao ao acusado LEANDRO (APAGADO), foram encontradas dorgas em vrios locais. No caso dos autos, ficou comprovado que o acusado guardava em sua casa, para fins de mercancia, o crack. Pediu a condenao apenas do acusado por trfico de drogas. Nas suas alegaes finais a defesa disse, em suma, que em relao busca, policiais disseram que a busca ser autorizada. Mas ela foi ilegal. Neste caso, no houve autorizao para a busca, pois teria obrigao. Os policiais disseram que havia uma denncia de que naquele local havia trfico. Tem receio de denncias annimas. Infelizmente nosso sistema tem aceitado. Comea a haver repulsa a essa prtica. Quem sabia que havia droga no pode ser questionado. Tem graves desconfianas. Mas o raciocnio que o faz acreditar na legalidade. Disseram os policiais que havia uma denncia annima. Difere de um outro caso em que no houve indicao de que havia trfico de drogas. Nesse caso foi diferente. Realmente sabiam da existncia do trfico. No verossmil que a pessoa indique onde estava a droga. O acusado LEANDRO (APAGADO) alegou ter sido agredido. O delegado determinou sua submisso a laudo. Constam vrias leses no laudo. Infelizmente um padro triste a tortura pelos policiais. necessria a investigao disso pelo MP, at porque o acusado disse que havia sido agredido por policiais de outras viaturas. No havia motivo que justificasse as leses. Tanto que os policias no lavraram o auto de resistncia. Em relao acusada, deve ser absolvida, o que leva absolvio do acusado LEANDRO (APAGADO) em relao associao para fins de trfico de drogas. Pediu a aplicao das atenuantes da menoridade, da confisso e da co-culpabilidade. Haja vista a minorante do 4, no se trata de crime hediondo, o que permite um regime inicial mais brando e a substituio por pena alternativa. Pediu o encaminhamento do inqurito, da denncia e das gravaes realizadas hoje, ao MP. FUNDAMENTAO Obedecendo ao comando esculpido no art. 93, IX, da Constituio Federal, e dando incio formao motivada do meu convencimento acerca dos fatos narrados na inicial e imputados parte r, verifico a materialidade e a autoria. No tocante prova documental ou pericial, consta o termo de exibio e apreenso de noventa e trs pedras aparentando ser crack, onze trouxinhas e cinco tabletes pequenos aparentando ser a droga maconha, dentre outros objetos.O laudo de constatao e o exame qumico-toxicolgico concluram que a erva apreendida era a droga conhecida popularmente por maconha e que as pedras analisada continham em sua composio o alcalide cocana. A testemunha WILSON SOARES DE LIMA, durante oitiva judicial, afirmou que estavam patrulhando quando um oficial recebeu a informao de que no local funcionava uma boca de fumo. Foram residncia e a proprietria permitiu que entrassem. Em diligncias encontraram trouxinhas de crack no telhado e maconha no quarto. Estava patrulhando na rea. Quem ligou no quis se identificar. A ligao foi direta para o oficial de servio. Foi apreendido dinheiro. Esse local suspeito de trfico de drogas, mas na Zona Norte difcil no encontrar uma boca de fumo. Achou droga no telhado. A droga estava entre duas telhas. O acusado foi quem informou onde estava a droga. A entrada foi franqueada pela acusada Karla, aps o depoente ter dito que havia uma suspeita de trfico de drogas. As outras drogas foram encontradas pelos outros policiais. No encontrou ningum que dissesse que os acusados vendiam drogas. Alguns eletrodomsticos foram levados no flagrante. No havia balana de preciso. RONILSON MOREIRA DOS SANTOS, testemunha ouvida judicialmente, relatou que estavam patrulhando o tenente recebeu um telefonema. Foram fazer uma diligncia, pois as informaes davam conta de trfico de drogas. Pediram para entrar. A parte

2 Vara Criminal - Zona Norte fl. _____ do depoente foi procurar drogas. Encontrou drogas. Havia um microondas e material de cabeleireiro. Encontrou drogas fracionadas. Encontrou pedras de crack em embalagens pequenas para venda. Eram 93 pedras de crack. Ficou do lado de fora no momento da entrada. No incio eles negaram que houvesse drogas. Eles no chegaram a dizer se eram dependentes qumicos. A acusada estava assustada. O acusado inicialmente se negou a ir, tendo sido preciso ser imobilizado. Mas ele no reagiu. No chegou a ver o acusado lesionado. Encontrou um forno microondas encostado e material de cabeleireiro. Os acusados assumiram que a casa era deles, mas no chegaram a dizer, pelo menos ao depoente, que a droga seria deles. Durante interrogatrio judicial, a parte acusada LEANDRO (APAGADO) disse que verdadeira a acusao. dependente de maconha. A acusada chegou para pegar o dinheiro da criana e foi quando a polcia chegou. Eles mandaram abrir o porto e a acusada abriu. Colocaram um saco na cabea do depoente e ele disse onde estava a droga. Na poca vendia batatinha e DVD. J recebeu a maconha e a cocana embalada. Vendeu umas dez pedrinhas, s. Fazia um ms que tinha alugado. Morava sozinho. As pranchas de cabelo estavam quebradas. O depoente comprou na feira.Comprava e vendia. O forno de microondas era quebrado tambm. Comprava e quando chegava em casa via que estava quebrada. Consome maconha desde 2006. Resolveu vender drogas porque estava aperreado, precisando de dinheiro.Foi a primeira vez que vendeu drogas. Sua esposa no o ajudou em nada. Guardava tudo nas telhas. Era uma quantidade s. A maconha era pra uso e o crack pra droga. A polcia deu chute, paulada e sacos na cabea. Quem bateu no depoente foi o pessoal das outras viaturas. Est trabalhando como vendedor de tapiocas. Seu pai aposentado. Foi criado pelo seu pai e pela sua me. No sabe ler. Ainda fuma maconha, de vez em quando. Consegue passar at cinco dias sem fumar. No consegue parar. Nunca fez tratamento contra dependncia qumica. Gostaria de fazer tratamento contra dependncia qumica. Nunca foi preso e nem processado antes. J KARLA (APAGADO) relatou em seu interrogatrio que a acusao verdadeira. No consome drogas. No sabe sobre as drogas. Morava com sua av e foi casa do acusado pegar o dinheiro pra criana e ficou conversando quando a polcia chegou. Eram muitos policiais. Era prximo do meio-dia. No saia que havia trfico de drogas. Viu quando acharam a droga da sala. No consome drogas. Fazia mais ou menos um ms que o acusado mudou. Na poca o acusado ajudava a me dele na praia. Foi criada pela av materna. Estudou at a sexta srie. Sabe ler e escrever. Nunca foi presa e nem processada antes. Em sntese tese da acusao e a anttese da defesa, concluo que a prova principal deve ser declarada ilcita e os acusados devem ser absolvidos. Vou explicar. Vivemos uma difcil realidade na Zona Norte de Natal. So tantas as denncias que vemos nos meios de comunicao, corroboradas pelos testemunhos aqui colhidos, que comecei a me questionar acerca da legalidade, para no dizer constitucionalidade das inmeras prises e apreenses em virtude de denncias annimas. E passei a observar que o script , quase que invariavelmente, o mesmo: diz a polcia que recebeu denncia annima de que determinada pessoa estava traficando. Dirigem-se ao local e visualizam o cidado entrar em casa, geralmente correndo com algo na mo. Numa situao de suspeita, pedem permisso para entrar na casa a um morador e so atendidos ou a porta estava aberta. Alguns confessam que entraram fora mesmo, pois tinham visto a droga com o suspeito. Imagino quo difcil no deve ser avaliar se era realmente droga que estava o suspeito trazendo consigo. Foram inmeros testemunhos dando conta de abusos de autoridade, extorses, leses3 Av. Guadalupe 2145 Conj. Santa Catarina, 2 Andar, Potengi - CEP 59.112-560, Fone: 84 3615-4663, Natal-RN - E-mail: [email protected] As informaes processuais podero ser acompanhadas atravs do stio "www.tjrn.jus.br".

corporais envolvendo tais tipos de abordagem policial, crescentes a cada dia. Somente ano passado uma dezena de policiais foi presa pela 11 Vara Criminal, acusados de tortura. Qual credibilidade passa a ter o trabalho policial para mim e, acredito, para o Ministrio Pblico, para a Defensoria Pblica e, principalmente, para a sociedade, depois de tantas denncias? S para dar uma dimenso do que assisti recentemente nos meios de comunicao, em relao Zona Norte: ; ; ; ; . Passei a me questionar, e com muito mais ateno, acerca da licitude dos flagrantes de trfico de drogas que aqui me chegam. Diz a Constituio Federal, em relao questo: "Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: (...) XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial; (...) LXI - ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente, salvo nos casos de transgresso militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; (...) LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; (...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (...) LVI - so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos; (...) LVII - ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria." Nesse momento, para mim urge identificar qual tipo de processo penal quero praticar, e quais direitos estarei eu garantindo atravs da atuao da Potestade Pblica pelo Poder Judicirio. Como diz o colega Alexandre Morais da Rosa em suas decises (http://alexandremoraisdarosa.blogspot.com/2010/03/trafico-sem-mandado.html), o trabalho de um juiz no em muito diferencia do executado pelo historiador. Como no presenciei os fatos, reproduzo em momento posterior, numa cadeia dos significantes que elejo como os mais importantes para produzir uma imagem mental do ocorrido, a historicidade dos fatos, para concluir qual a repercusso jurdico-penal que a eles devo atribuir. Para isso, precisome valer das provas colhidas durante a instruo, provas essas que devem repercutir um juzo de convencimento, aps a filtragem hermenutico-constitucional (significa dizer respeito pelo devido processo legal, pelo contraditrio e ampla defesa, presuno de inocncia, licitude das provas, etc.). O que me intriga, por ora, o comum fato de que as drogas so apreendidas com base em denncia annima, sem mandado judicial prvio. Num Estado verdadeiramente Democrtico, o juiz aplica o direito e o processo penais garantindo ao acusado o respeito aos seus direitos fundamentais. Um deles o de no sofrer coao com base em denncias

2 Vara Criminal - Zona Norte fl. _____ annimas. A relevncia disso grande, pois impede que haja abusos ou manipulaes. E algum pode perguntar como que a polcia vai trabalhar? Ora, fcil para uma boa parcela da populao cobrar maior eficincia da polcia, pois usualmente esto imunizados de possveis abusos cometidos sob o plio do denuncismo sem rosto. Nesse pas, alis, tem sido tnica a existncia de trs classes de pessoas, tal qual alertado por Roberto Damatta: o cidado, o sobrecidado e o subcidado. O primeiro aquele que cumpre seus deveres e pode cobrar seus direitos. O segundo aquele que no necessita do Estado, mas aufere deles vantagens no muitas vezes indevidas, e que pela proximidade do poder, imuniza-se contra o Estado Polcia, pois no raras vezes faz parte dele. Por fim, temos o subcidado, ou subintegrado, que necessita do Estado, mas s conhece dele o Estado Polcia que no raras vezes o agride ou, finalmente, mata-o. Por isso me preocupa esse efienciencitismo. Sempre que me deparo com questes de cunho moral, quando o enunciador do discurso se imagina um homem de bem e exige medidas duras, gosto muito de fazer um juzo de alteridade com o interlocutor. Fazer com que ele possa sentir como estar "do lado de l": se um procedimento como esse, de ingresso da polcia na casa de algum por meio de telefonema annimo, de algum completamente desconhecido da polcia e sem antecedentes, como foi o caso dos autos, em um caso qualquer de delito permanente, se desse em um dos inmeros condomnios fechados da cidade? Qual seria a repercusso nos dias de hoje? Ser que o interlocutor concordaria com a medida e exclamaria, indignado: algum pode perguntar como que a polcia vai trabalhar? O que precisamos, na verdade, fazer um exame de conscincia e dizer se realmente o princpio da isonomia realmente existe ou se a Constituio, usando uma expresso de Ferdinand Lassale, apenas "uma folha de papel". Novamente rememorando as palavras do colega catarinense, no devo esquecer que a inquisio seguia um roteiro de delatores sem rosto, envoltos em sobras, e foram essas sombras responsveis pela morte de centenas de milhares de pessoas (estima-se que somente na Alemanha, durante esse perodo do terror religiosos, cem mil foram queimadas na fogueira). Visando evitar tais posturas, nossa Constituio elegeu entre um dos seus princpios o de que " livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato." (CF-88, art. 5, IV). Em recente deciso, entendeu o Ministro do Superior Tribunal de Justia, Csar Asfor Rocha, no HABEAS CORPUS n 159.159 - SP (2010/0004039-3), o seguinte: "Cumpre observar que o sistema jurdico do Pas e o seu ordenamento positivo no aceitam que o escrito annimo possa, em linha de princpio e por si, isoladamente considerado, justificar a imediata instaurao da persecutio criminis, porquanto a Constituio proscreve o anonimato (art. 5, IV), da resultando o inegvel desvalor jurdico de qualquer ato oficial de qualquer5 Av. Guadalupe 2145 Conj. Santa Catarina, 2 Andar, Potengi - CEP 59.112-560, Fone: 84 3615-4663, Natal-RN - E-mail: [email protected] As informaes processuais podero ser acompanhadas atravs do stio "www.tjrn.jus.br".

agente estatal que repouse o seu fundamento sobre comunicao annima, como o reconheceu o Pleno do STF no julgamento do INQ 1957, Rel. Min. Czar Peluso (DJU de 11.11.2005), ainda que se admita que possa servir para instaurao de averiguaes preliminares, na forma do art. 5, 3, do CPP, ao fim das quais se confirmar ou no a notcia dada por pessoa de identidade ignorada ou mediante escrito apcrifo. Nesta Corte Superior a orientao dos julgamentos segue esse mesmo roteiro, destacando dentre muitos e por todos o que decidido no HC 74.581 (Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJU 10.03.2008) e no HC 64.096 (Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJU 04.08.2008)." E como acentua Alexandre Morais da Rosa http://alexandremoraisdarosa.blogspot.com/2010/03/trafico-sem-mandado.html), (em

"Assim que a denncia annima no pode ser tida, a priori, como verdade, nem justifica qualquer medida direta pela autoridade policial que no a investigao preliminar e, se for o caso, requerer-se ao Juzo competente, o respectivo mandado de busca e apreenso, apresentando-se as investigaes preliminares. Claro que se verificar alguma das hipteses do art. 302, I ou II, do CPP, estar autorizada a agir. Mas esta ao precisa estar autorizada anteriormente, ou seja, o flagrante no pode ser pressuposto, mas deve estar posto, a saber, no se pode achar que h droga e se adentrar. preciso que a droga tenha sido vista anteriormente ou sua entrega ou mesmo a venda, situao diversa da presente." E prossegue: "No basta que o agente estatal afirme que recebeu uma ligao annima, sem que indique quem fez a denncia, nem mesmo o nmero de telefone, dizendo que havia chegado droga, na casa do acusado, bem como que "acharam" que havia droga porque era um traficante conhecido, muito menos que pelo comportamento do agente "parecia" que havia droga. preciso que hajam evidncias ex ante. Assim que a atuao policial ser abusiva e inconstitucional por violao do domiclio do acusado. Embora seja uma prtica rotineira a violao da casa de pessoas pobres, porque a polcia no entra assim em moradores das classes ditas altas, no se pode continuar tolerando a arbitrariedade. Desde h muito se sabe e os policiais no podem desconhecer a lei que no se pode entrar na casa de ningum pobre ou rico sem mandado judicial, salvo na hiptese de flagrante prprio, o qual no existe com denncia annima. Nem se diga que depois se verificou o flagrante porque quando ele se deu j havia contaminao pela entrada inconstitucional no domiclio." Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho (Processo Penal e Constituio Princpios Constitucionais do Processo Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 92) aponta: "Em concluso, s possvel o ingresso em domiclio alheio nas circunstncias seguintes: noite ou de dia, sem mandado judicial, em caso de flagrante prprio (CPP, art. 302, I e II), desastre ou prestao de socorro; e durante o dia, com mandado judicial, em todas as outras hipteses de flagrante (CPP, art. 302, III e IV). Reconheo que a falta de estrutura do sistema investigatrio brasileiro, tornando invivel o contato prximo e a tempo com a autoridade judiciria, possa fazer com que o entendimento exposto se transforme em mais um entrave burocrtico persecuo penal. No essa a inteno, mas no se pode aceitar que a doutrina fique merc da boa-vontade dos governantes para dotarem a polcia dos recursos tcnicos e humanos necessrios para o desempenho da

2 Vara Criminal - Zona Norte fl. _____ funo." O juiz, enquanto aplicador das normas penais e garantidor dos direitos constitucionais dos acusados em juzo, no pode admitir qualquer tipo de violao de Direitos Fundamentais em nome do resultado, pois os direitos humanos so inegociveis, intransigveis. Infelizmente, porm, nossa prxis judiciria acaba compactuando, fazendo vista grossa a tais abusos, estimulando-os, inegavelemente. como se existissem, duas "normalidades": a da Constituio e do dia-a-dia. Mas normalidade, caro cidado, s existe uma! Fora disso, no h sustentao jurdica, h ilegalidade ou, mais grave, inconstitucionalidade. No mesmo caminho se fossemos admitir tais violaes, pelo mesmo argumento, como destaca Alexandre Morais da Rosa, seria legtima a tortura, a qual, no fundo no to diferente da ao iniciada exclusivamente por denncia annima, margem da legalidade e com franca violao dos Direitos Fundamentais. E ele arremata: "Qualquer um agora pode plantar droga em quem quiser e depois ligar para polcia denunciando anonimamente o depsito de drogas no terreno e a polcia, sem mais, vai at o local, sem mandado, e prende o proprietrio. No d para tolerar isto! (...) Claro que o argumento seguinte : mas o proprietrio autorizou a entrada! Ser que algum acredita mesmo que o acusado autorizou? No h verossimilhana, ainda mais com o constante acolhimento jurisdicional desta prtica, mormente em se tratando de crime permanente, como de trfico. A prevalecer esta lgica, a garantia do cidado resta fenecida." Ana Maria Campos Trres (A busca e apreenso e o devido processo. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 153-154) sustenta: "Ora, sabendo que algum tem em depsito drogas, vende droga, ou outras situaes de permanncia que pode, conforme a Constituio, penetrar em domiclio sem o consentimento do morador. Sabe, logo tem indcios que permitam solicitar ao juiz o mandado, imprescindvel contra o abuso. No basta a mera desconfiana, pois corre o risco de responder por descumprimento da lei, logo, impossvel considerar vlida a apreenso nesses casos, sem ordem judicial. Seria, como o de fato, fazer vista grossa aos abusos policiais (..) Como entender urgente o que se protrai no tempo? possvel, graas presena diuturna do Judicirio guardio da lei, requerer e ser atendido em pouco tempo, o direito constitucionalmente previsto de entrar em domiclio. A facilidade do arguir-se urgncia forma espria de desconhecer direitos, subterfgio para o exerccio de fora, descumprimento do dever de acatar as diretrizes polticas assumidas pelo Estado. Impossvel legalizar o ilcito. Deve, nestes crimes chamados permanentes, especificamente por durarem, no se reconhecer a urgncia do flagrante prprio, pois nem se evita sua consumao, nem se impede maiores consequncias, e, sobretudo, arrisca-se sequer determinar a autoria, interesse maior nesses casos. O argumento de urgncia deve fundamentar pedido autoridade judiciria, inclusive, modos legais de realizao. Nada impede o respeito intimidade nessa hiptese. (...) No caso do flagrante em crime permanente, v-se com muita frequncia no s o descumprimento da lei, mais que isto, um caminho perigoso a permitir retornem as ms autoridade o modelo inquisitorial, buscando provar a qualquer custo, no se preocupando com mais nada, seno com a punio pela punio." Cabe aqui destacar um julgado relatado pelo Des. Geraldo Prado, do Tribunal de7 Av. Guadalupe 2145 Conj. Santa Catarina, 2 Andar, Potengi - CEP 59.112-560, Fone: 84 3615-4663, Natal-RN - E-mail: [email protected] As informaes processuais podero ser acompanhadas atravs do stio "www.tjrn.jus.br".

Justia do Rio de Janeiro (Apelao Criminal n. 2009.050.07372): ele diz que o ingresso no pode decorrer de um estado de nimo do agente estatal no exerccio do poder de polcia. Ao revs, necessrio que fique demonstrada a fundada e no simplesmente ntima suspeita de que um crime esteja sendo praticado no interior da casa em que se pretende ingressar e que o ingresso tenha justamente o propsito de evitar que esse crime se consuma. E finalizo com as palavras do colega juiz em Florianpolis, dizendo que se assim no fosse, seria permitido ingressar nas casas alheias, de forma aleatria, at encontrar substrato ftico, consistente em flagrante delito, capaz de ensejar a formal instaurao de procedimento investigatrio criminal. Mais que isso, seria incentivar que a autoridade policial assim fizesse e, com a inteno de se livrar de uma eventual imputao de abuso de autoridade, "encontrasse" fora o estado de flagrncia no domiclio indevidamente violado.' Diante das condies em que a droga continua sendo apreendida neste pas, em franca violao dos direitos fundamentais (art. 5 da CF - LVI - so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos), a prova deve ser declarada ilcita, especialmente nos casos de ilegal denncia annima, bem assim quando a atuao dos policiais acontece sem mandado judicial, implicando, pois, na ilegalidade da apreenso da droga e, por via de consequncia, da ausncia de materialidade. Agora no se pode se acovardar em nome do resultado. A funo do Judicirio de garantia! A droga apreendida era ilcita. Por conseguinte, o laudo qumico toxicolgico tambm deve ser declarado nulo. E nulo quer dizer o mesmo que inexistente nos autos, para qualquer feito. E diz a lei de drogas: Art. 50. Ocorrendo priso em flagrante, a autoridade de polcia judiciria far, imediatamente, comunicao ao juiz competente, remetendo-lhe cpia do auto lavrado, do qual ser dada vista ao rgo do Ministrio Pblico, em 24 (vinte e quatro) horas. 1 Para efeito da lavratura do auto de priso em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, suficiente o laudo de constatao da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idnea. Se no h laudo vlido no momento do julgamento, no h suporte para a condenao, pois no se admite a materialidade por meras ilaes ou concluses de experincia, nos mesmo termos em que a legislao processual penal no admite, nos crimes que deixam vestgios, que se ignore a prova pericial. E faltando o sustentculo probatrio mnimo,os lastro para a persecuo penal, tambm chamado de justa causa, passo ao dispositivo, cabendo destacar que sem esse lastro, d-se a hiptese do art. 386, II, do CPP: "Art. 386. O juiz absolver o ru, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconhea: II - no haver prova da existncia do fato;" Em razo de todo o exposto e fundamentado, com fulcro na Constituio Federal, mais especificamente o art. 5 LVI, da Carta Maior, resolvo declarar nula a prova da materialidade dos autos e, consequentemente, ausente o lastro probatrio mnimo, julgar improcedente a pretenso punitiva do Estado, absolvendo Leandro (APAGADO) KARLA (APAGADO), com base no art. 386, II, do CPP. Tendo em vista a ilegalidade dos bens apreendidos, determino sua destruio. omo o sursis. Do estado de liberdade do acusado Se absolvi as partes rs, no motivo para decretao de priso. Da destruio da droga Determino que a autoridade policial providencie a destruio da droga apreendida, preservando apenas 1,0g, at o trnsito em julgado (32, 1, da Lei n 11.343/2006).

2 Vara Criminal - Zona Norte fl. _____ Do perdimento de bens Diz o art. 63 da lei 11.343/2006 QUE O JUIZ, Ao proferir a sentena, decidir sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, seqestrado ou declarado indisponvel. No tocante aos bens apreendidos, determino a devoluo de todos cuja propriedade no for ilcita. Aos demais, determino seu perdimento em favor da Unio, devendo-se oficiar ao SENAD a relao dos ditos bens. Da submisso do acusado a tratamento Os operadores do direito tm se preocupado muito mais em punir do que em prevenir. Por isso a reiterao de prticas criminosas to alta em se tratando de trfico, esquecendo o que diz o art. 47 da lei de drogas: Art. 47. Na sentena condenatria, o juiz, com base em avaliao que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para tratamento, realizada por profissional de sade com competncia especfica na forma da lei, determinar que a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei. Diante do caso, mesmo sendo caso de absolvio, mas sendo a Sade um direito social, e declarando o acusado que dependente qumico e que deseja ser tratado, fica desde j autorizada a Secretaria Judiciria a oficiar aos rgos pblicos encarregados, para que estes recebam o acusado, que levar ofcio em mos, visando avaliar a necessidade de submisso do acusado a algum tratamento, como forma de evitar que volte ao vcio e necessidade de praticar crimes ou traficar para manter o vcio. Sem custas. Por fim, determino a remessa de peas ao Ministrio Pblico, nos termos do que foi solicitado pena Defensoria Pblica. E como nada mais houve, determinou que fosse encerrado o presente termo que, lido e achado conforme, vai devidamente assinado. Eu, _______, Tcnico Judicirio, digitei e vai assinado pelas partes e pelo MM. Juiz. Juiz:_________________________________ MP:_________________________________ _ Defesa:_______________________________ Acusado:_____________________________ Acusado:_____________________________ Vtima:_______________________________

9 Av. Guadalupe 2145 Conj. Santa Catarina, 2 Andar, Potengi - CEP 59.112-560, Fone: 84 3615-4663, Natal-RN - E-mail: [email protected] As informaes processuais podero ser acompanhadas atravs do stio "www.tjrn.jus.br".