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TERMO DE APROVAÇÃO
MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI
SITE “JORNALISMO PARA TODOS: MANUAL DE JORNALISMO INCLUSIVO PARA PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA”
Trabalho de conclusão de curso aprovado com nota 10,0 como requisito parcial
para a obtenção do grau de bacharel em Jornalismo pelo UniBrasil Centro Universitário,
mediante banca examinadora composta por:
Prof.(a) e Presidente
Maura Martins
Prof.(a)
Elaine Javorski
Prof.(a)
Paulo Camargo
Curitiba, 20 de abril de 2016.
UNIBRASIL CENTRO UNIVERSITÁRIO
MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI
SITE “JORNALISMO PARA TODOS: MANUAL DE JORNALISMO
INCLUSIVO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA”
CURITIBA
2015
MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI
SITE “JORNALISMO PARA TODOS: MANUAL DE JORNALISMO
INCLUSIVO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA”
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo do Unibrasil Centro Universitário. Orientadora: Prof.ª Msc. Maura Martins.
CURITIBA
2015
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a minha família, que o tempo todo acreditou
em mim e apoiou a minha formação, especialmente minha mãe, que esteve
comigo diariamente ao longo desses cinco anos, sendo muito mais que mãe,
sendo meus braços, minhas pernas, e o principal motivo por eu nunca ter
desistido ao ver as barreiras no caminho.
Aos mestres e doutores, com os quais tive a oportunidade de conviver,
ainda que temporariamente, pelos ensinamentos que tive, agradeço através
dos Professores Gabriel Bozza e Elaine Javorski, os quais deram dicas
valiosas para aperfeiçoar esse trabalho, e da Professora Danieli Ribas, que me
forneceu amparo material.
Aos meus colegas de graduação, pelo prazer da companhia ao longo da
trajetória dessa etapa única de nossas vidas, e ao Edson Felício, que sempre
me auxiliou de diversas formas desde o dia em que prestei vestibular.
Aos meus colaboradores Camile Kogus, Camila Nichetti, Emily Kravetz,
Guilherme Pinheiro Dos Santos e Noele Dornelles, que, de alguma forma,
colaboraram na construção do site, e na produção de conteúdos do produto
final deste trabalho, bem como aos professores Rodrigo Fiorin, que ajudou na
criação do site, e Kátia Fontoura, que fez o banner.
Aos estudantes de jornalismo e jornalistas que me concederam as
entrevistas, pois sem elas não seria possível a construção desse trabalho:
Henry Baptista Xavier, Luiz Jansson, Patrícia Tancredo Eduardo Silva Purper,
Emilia Cussama, Roberto Lourenço da Silva e Enrico Luca de Meira Boschi, e
também àqueles que responderam o questionário.
Por fim, mas não menos importante, agradeço imensamente à
Professora Maura Martins, pelo orgulho de poder ter sido seu orientando, por
todo o suporto, pelas dicas, pela dedicação, seu comprometimento e pela sua
paciência durante as orientações.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo a produção de um guia multimídia, cujo conteúdo, apresentado através de um site, aborda técnicas jornalísticas, experiências acadêmicas e profissionais, para auxiliar as pessoas que tenham algum tipo de deficiência, que pretendam entrar para a área do Jornalismo, ou que já são profissionais, de modo a contribuir para sua inserção e manutenção no mercado. Para isso, o projeto visa atender as dificuldades que permeiam a colocação de deficientes no mercado do Jornalismo, analisando a questão estrutural e social, que ocasionas sua exclusão e também o preconceito oriundo de uma imagem muitas vezes distorcida das pessoas com deficiência. Além disso, o trabalho realiza a análise da imagem do deficiente pela mídia e, também, a forma pela qual tal imagem pode ser desconstruída. Assim, o objetivo principal do presente estudo é auxiliar na desconstrução do estigma que cerca a pessoa com deficiência, mostrando que suas limitações, sejam elas sensoriais ou físicas, não são impeditivas do exercício de uma profissão, mesmo que algumas mudanças sejam necessárias para tanto, indicando, ainda, algumas soluções práticas para que as pessoas com deficiência trabalharem na área de jornalismo, mostrando a forma como alguns profissionais lidaram com as dificuldades encontradas ao longo da sua experiência, de modo a apresentar alternativas para facilitar seu dia a dia e, com tudo isso, estimular a quebra do estigma que envolve essas pessoas.
Palavras-chave: guia multimídia; deficiência; Jornalismo; exclusão; preconceito; estigma.
SUMÁRIO
6
1 INTRODUÇÃO
O projeto visa atender as dificuldades que permeiam a colocação de
deficientes no mercado de trabalho, em especial no jornalismo, analisando não só a
questão estrutural, que ocasiona em sua exclusão, como também a questão social,
presente no preconceito oriundo de uma imagem muitas vezes distorcida das
pessoas com deficiência.
Em um primeiro momento, há a análise da imagem do deficiente pela mídia,
e, em seguida, a forma pela qual tal imagem pode ser desconstruída. Por fim,
analisa-se a possibilidade destas pessoas exercerem a profissão de jornalista a
partir de casos concretos envolvendo deficientes que exercem suas funções
normalmente.
A existência de pessoas que apresentam alguma disfunção corporal sempre
foi uma realidade na espécie humana. Ao longo da história, sempre houve indivíduos
que apresentavam sinais que os diferenciava dos demais, sejam eles físicos,
cognitivos ou sensoriais. As diversas sociedades que existiram tratavam seus
deficientes de maneira diferente: enquanto certos povos acreditavam serem estes
inferiores aos demais, e por isso deveriam ser segregados do convívio social, e até
mesmo extintos, outras sociedades demonstravam que tais indivíduos careciam de
cuidados especiais.
De uma época em que as funções motoras eram de extrema importância para
a sobrevivência, hoje o homem convive com menos dificuldades e obstáculos em
relação a períodos anteriores. A caça, a pesca e outras atividades laborais foram
substituídas por trabalhos intelectuais, de forma que o uso da força foi
gradativamente sendo substituído pelo uso de máquinas, restringindo o homem ao
seu controle. Tal processo demonstra a adaptação do ser humano para o
desenvolvimento do trabalho, em que ocorre a substituição do trabalho manual pelo
intelectual1.
Tais avanços tecnológicos e científicos possibilitaram às pessoas que
apresentassem alguma disfunção exercerem funções idênticas às exercidas pelos
demais; no entanto, o preconceito, derivado de uma imagem pejorativa dos
1 BRAGA, Vitor. Conflito Homem/Máquina/Economia. Disponível em:
<http://www.cin.ufpe.br/~if679/textos/ConflitoHomemMaquinaEconomia.html>. Acesso em: 23 fev. 2015.
deficientes, fez com que estes fossem cada vez mais afastados do mercado de
trabalho. A concorrência fez com que os candidatos aos cargos de emprego fossem
cada vez mais especializados, ao passo que aqueles que demonstravam alguma
dificuldade, eram imediatamente descartados dos processos seletivos.
Tratar de deficiência não é um tema fácil, visto que diante da complexidade
do corpo humano, infinitas são as características pessoais que levam os indivíduos a
apresentarem algum tipo de deficiência e, em consequência disso, os reflexos do
mundo exterior frente a sua disfunção são apresentados de maneira diferente.
O mercado de trabalho, após as revoluções industriais, se tornou um
ambiente de extrema competição, em que indivíduos ligeiramente qualificados
auferiam melhores posições profissionais, gerando assim uma corrida para que
estes se qualificassem e melhorassem cada vez mais suas habilidades para disputar
as tão sonhadas vagas de trabalho.
No entanto, não seria diferente que o deficiente encontraria maiores
obstáculos a sua inserção, de forma que o simples fato de demonstrar alguma
deficiência o afasta dos processos seletivos, segregando aquele, que devido a uma
construção errada de imagem, perde posições frente aos considerados normais.
Reduzindo o número para deficientes físicos e, dentre esses, para aqueles
que querem apenas trabalhar na área de jornalismo, começa-se a ter uma ideia de
que esse número de pessoas talvez não seja tão expressivo quanto os dados do
IBGE, mas são, igualmente, seres humanos e primando pela dignidade concedida
pela Constituição Federal, tenta-se elaborar quais as dificuldades que talvez essas
pessoas estejam enfrentando na rotina diária.
Dessa forma, é necessário o estudo para auxiliar em uma maior colocação de
pessoas com deficiência no mercado de trabalho, em especial, no campo do
jornalismo.
Neste trabalho, será apresentada uma análise sobre o mercado de trabalho
jornalístico para pessoas com deficiência, bem como o site Jornalismo para Todos,
que tem como objetivo auxiliar esse profissionais no dia a dia.
O projeto está dividido em dez capítulos sendo que o primeiro e o segundo
são destinados a apresentação do tema – abordando conceitos como o que é
deficiência, tipos de deficiência e estigma do deficiente - e dos resultados obtidos
com a análise do deficiente na mídia. Dos capítulos três ao seis, o problema que foi
analisado neste trabalho, bem como a justificativa e objetivos do mesmo são
elencados, juntamente com uma breve explicação sobre a proposta do site.
No sétimo capítulo, são apontados autores que permearam este projeto,
juntamente as teorias e conceitos que serviram de embasamento. Já no oitavo, são
explicadas as metodologias utilizadas. Por fim, o nono e décimo capítulos são
destinados a explicar a proposta e o resultado do produto Jornalismo para Todos,
bem como as considerações finais sobre o estudo.
2 IDENTIFICAÇÃO DO TEMA E DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
2.1 A TERMINOLOGIA DEFICIÊNCIA
A deficiência, como alteração na capacidade física ou intelectual do indivíduo,
sempre esteve presente nas mais diversas espécies animais e vegetais. Em relação
à espécie humana, diversas foram as terminologias utilizadas para denominar
aqueles que por ventura apresentavam alguma alteração em relação ao padrão
considerado normal.
A palavra deficiência tem sua origem derivada do termo em latim deficientia,
que se traduz por falta ou enfraquecimento2. A definição de deficiência sofreu
diversas alterações no decorrer dos anos. Devido a avanços nas áreas de tecnologia
e medicina, a sociedade passou a encarar a questão da deficiência de maneira
diversa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui duas classificações de
referência para a descrição dos estados de saúde, a CID-10 e a CIF, sendo que a
segunda compreende funcionalidade e deficiência como uma interação dinâmica
entre problemas de saúde e fatores contextuais, tanto pessoais quanto ambientais3.
Nas análises de resultados feitas pelo Censo Demográfico de 2010, realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), definiu-se a deficiência
como a incapacidade ou limitação das funções e estruturas do corpo, de forma que
fatores externos também são levados em conta:
O conceito de deficiência vem se modificando para acompanhar as inovações na área da saúde e a forma com que a sociedade se relaciona com a parcela da população que apresenta algum tipo de deficiência. Dessa forma, a abordagem da deficiência evoluiu do modelo médico – que considerava somente a patologia física e o sintoma associado que dava origem a uma incapacidade – para um sistema como a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF, divulgada pela Organização Mundial da Saúde - OMS (World Health Organization-
2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Olanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986, p. 528. 3 Relatório Mundial Sobre a Deficiência. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44575/4/9788564047020_por.pdf >. Acesso em: 25 de fev. de 2015.
WHO) em 2001, que entende a incapacidade como um resultado tanto da limitação das funções e estruturas do corpo quanto da influência de fatores sociais e ambientais sobre essa limitação (IBGE, 2010, p. 71).
No Brasil, há ainda uma definição legal para deficiência, encontrada no
Decreto nº 3.298/994, que regulamenta a Lei 7.853/89, a qual dispõe sobre a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência:
Art. 3o Para os efeitos deste Decreto, considera-se:
I - deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II - deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e III - incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. Art. 4o É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho; V - deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.
4 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 27 fev. 2015.
Com o advento da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos
Direitos e Dignidade das pessoas com deficiências, que ocorreu no dia 30 de março
de 2007, decidiu-se que o termo apropriado para denominar aquele que
apresentasse tais alterações, o deficiente, seria “pessoa com deficiência”, de forma
que os termos “portador de deficiência” ou “portador de necessidades especiais”
fossem abandonados. Tal ideia foi concebida com o propósito de reduzir as
desigualdades no tocante ao tratamento das pessoas com deficiência, de forma que
a proximidade com as pessoas sem deficiência fosse aumentada. A associação de
uma terminologia a um determinado grupo reflete diretamente na forma de
tratamento que o grupo receberá dos demais, e com o advento da Convenção,
decidiu-se que tal terminologia seria a mais adequada para tal.
2.2 DEFICIÊNCIA X DOENÇA
A OMS constituiu um modelo de Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF/2003), que enfatiza as particularidades
dos indivíduos nas várias condições de saúde, mostrando funcionalidade e
incapacidades. Farias e Buchalla (2005) relatam e analisam a complexidade que
permeia o tema e explicam que a conceituação de determinada deficiência é variável
em relação aos diferentes tipos de indivíduos:
Por exemplo, duas pessoas com a mesma doença podem ter diferentes níveis de funcionalidade, e duas pessoas com o mesmo nível de funcionalidade não têm necessariamente a mesma condição de saúde. (FARIAS e BUCHALLA, 2005 p. 189)
A CIF (2003) aborda uma nova proposta para a saúde, que busca
compreender melhor os fenômenos envolvidos nas deficiências e amplia os serviços
de atenção à saúde desta população. Nota-se, portanto, a necessidade de uma
pesquisa que aborde o tema deficiência. Como relatado por Faria e Buchalla:
[a CIF/2003] pode ser a contribuição para responder importantes questões
de Saúde Pública, tais como: qual é o estado de saúde das pessoas com
deficiência comparadas às demais; que necessidades e que tipos de
intervenções são mais adequadas para reduzir condições secundárias e
promover a saúde das pessoas com deficiências, entre outras. (id, 2005, p.
192)
A CIF foi fundamentada numa análise dos fatores que permeiam o indivíduo e
as limitações que lhe são causadas, de forma que associa o diagnóstico médico ao
ambiente social.
A CIF é baseada, portanto, numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes de saúde nos níveis corporais e sociais. Assim, na avaliação de uma pessoa com deficiência, esse modelo destaca-se do biomédico, baseado no diagnóstico etiológico da disfunção, evoluindo para um modelo que incorpora as três dimensões: a biomédica, a psicológica (dimensão individual) e a social. Nesse modelo cada nível age sobre e sofre a ação dos demais, sendo todos influenciados pelos fatores ambientais. A OMS pretende incorporar também, no futuro, os fatores pessoais, importantes na forma de lidar com as condições limitantes. (IBID, p. 3)
Não foi relatado por nenhum dos órgãos citados que deficiência e doença
tenham a mesma definição, mas, sim, que certas doenças podem gerar algum tipo
de deficiência, que há deficiência criada por outros fatores ou de nascença, as quais
também merecem atenção especial da área de saúde para que possa receber um
tratamento adequado e efetivo na redução dos fatores restritivos.
Desta forma, entende-se que a doença pode ser uma forma causadora de
uma determina deficiência, no entanto, a deficiência por si só não pode ser
considerada uma doença, visto que pode ser causada por fatores que não são
biológicos.
2.3 TIPOS DE DEFICIÊNCIA
Segundo o Censo Demográfico de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), computou dados da população brasileira que apontaram
45.606.048 casos de pessoas declarando ter pelo menos uma das deficiências
investigadas: visuais, auditivas, motoras ou mental. Destas, 7,5% são crianças de 0
a 14 anos de idade, 24,9% de 15 a 64 anos de idade e mais da metade da
população de 65 anos ou de mais idade (67,7%).
Esse aumento proporcional da prevalência de deficiência em relação à idade advém das limitações do próprio fenômeno do envelhecimento onde há uma perda gradual da acuidade visual e auditiva e da capacidade motora do indivíduo. (IBGE, 2010 p. 74).
5
Analisando os dados a partir da idade laboral, dos 15 aos 64 anos, número
que compreende 24,9% de 45 milhões e meio de pessoas, obtemos um valor
bastante expressivo de pessoas que possuem algum tipo de deficiência e que
podem ou não estar no mercado de trabalho.
Segundo Matheuse e Schliemann (2006), as causas que levam às
deficiências podem ser por diversos motivos:
Pré-natais (doenças infecto-contagiosas, desnutrição materna, uso de drogas pela mãe, etc.), perinatais (uso de fórceps) ou pós-natais (traumas, incompatibilidade de Rh, etc.). Então elas podem ser separadas como congênitas (desde o nascimento) ou adquiridas, e ainda em temporárias ou permanentes. (MATHEUS e SCHLIEMANN, 2006, p. 2 e 3)
As deficiências se dividem em três grupos, sendo eles denominados físico-
motoras, sensoriais (que engloba a deficiência auditiva e a deficiência visual) e
mentais, apresentando suas peculiaridades quanto aos critérios de funcionalidade e
capacidade (id). A partir desta gama de fatores que podem ser entendidos como
deficiência, é necessário que se trace uma diferenciação entre a forma que a
deficiência é apresentada pelo indivíduo e de que forma essa alteração o afeta pelo
meio externo ao seu corpo.
A deficiência físico-motora é a alteração parcial ou total de um ou mais
segmentos do corpo humano, de forma que ocasiona o comprometimento da função
física. Dentre os exemplos de deficiência física-motora é possível citar a paraplegia,
tetraplegia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, dentre outras
alterações que possam produzir dificuldades para o desempenho de determinadas
funções. No entanto, importante traçar a diferenciação que tais deficiências podem
apresentar:
5 Anexo I – Tabela do Censo Demográfico de 2010. Disponível em:
<ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografic o_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2014.
É importante fazer uma distinção clara entre estes dois tipos de deficiência: a deficiência física, em linhas gerais, pode ser compreendida como uma alteração física aparente, por exemplo, a falta ou deformação de um membro; já a deficiência motora está mais associada à falha na função, principalmente dos membros, por exemplo, as paralisias. Existe comumente uma confusão com estes dois tipos de deficiência principalmente porque elas estão freqüentemente associadas: ser portador de deficiência física pode acarretar falhas nas funções motoras, ao mesmo tempo em que deficiências motoras poderão aparentar como deficiências físicas, por exemplo, devido à perda do tônus muscular, que atrofia os membros; entretanto não se pode perder de vista que são deficiências de ordem distintas. (MATHEUS e SCHLIEMANN, 2006. p. 5)
Desta forma, cada caso de deficiência físico-motora pode apresentar um grau
de influência no indivíduo, de forma que cada um enfrentará as dificuldades na
medida em que os fatores externos imponham a limitação a seu corpo. Apesar da
possibilidade da deficiência físico-motora ser proveniente de um acidente, suas
origens podem ser atribuídas à gestação e ao desenvolvimento do feto.
As deficiências motoras são, na maioria das vezes, inatas, ou seja, desde o nascimento, e a causa mais provável delas é a falta de oxigenação cerebral da criança durante a gestação e o parto; o exemplo mais comum de deficiência motora é a Paralisia Cerebral. Já as deficiências físicas são freqüentemente adquiridas, principalmente em situações traumáticas que lesionam órgãos ou tecidos e acarretam em perdas de membros ou movimentos. (Ib, 2006, p. 5)
Fatores ambientais são fundamentais ao funcionamento de uma vida
saudável e digna ao deficiente, de forma que seja possível que, com o mínimo de
adaptação, este possa desfrutar das atividades corriqueiras de forma independente,
ou pelo menos o mais próximo disto.
No campo das deficiências sensórias, a deficiência auditiva se traduz na
perda parcial ou completa, congênita ou adquirida, da audição sonora, em
conformidade com um nível de decibéis.
Kirk e Gallagher (1991, p. 230), definem as diferentes perdas auditivas da
seguinte forma:
Uma pessoa surda é aquela cuja audição é tão falha (geralmente de 70 decibéis ou mais) que não consegue entender, em ou com a utilização de um aparelho auditivo, a fala através do ouvido. Uma pessoa com audição reduzida é aquela cuja audição é tão deficiente (geralmente entre 35 a 69 decibéis) que dificulta, mas não impede a compreensão da fala sem ou 1com a utilização de um aparelho auditivo, através do ouvido.
Em síntese, a perda auditiva é maior quanto maior for o número de decibéis
necessários para que uma pessoa possa responder ao som.
A deficiência visual corresponde à perda de uma porcentagem do campo
visual, chamada de baixa visão, até a completa ausência de visão, chamada de
cegueira.
A cegueira é uma alteração grave ou total de uma ou mais das funções elementares da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira congênita), ou posteriormente (cegueira adventícia, usualmente conhecida como adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou acidentais. Baixa visão é a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados, tais como, baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes, que interferem ou que limitam o desempenho visual do indivíduo. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 15-16).
A funcionalidade ou eficiência da visão é definida em termos da qualidade e
do aproveitamento do potencial visual de acordo com as condições de estimulação e
de ativação das funções visuais (id).
Em relação à deficiência mental (ou intelectual), primeiramente, deve-se
esclarecer que esta não se confunde com doença mental, a qual caracteriza-se por
uma série de condições que além de afetar o desempenho da pessoa na sociedade,
causam alterações de humor, bom senso e concentração, por exemplo, levando à
alteração na percepção da realidade (PINHEIRO, 2009).
A deficiência mental é percebida quando o indivíduo apresenta funcionamento
intelectual significativamente inferior a média (BOLHONI JUNIOR, 2010).
Ela é chamada, nos manuais, de retardo mental, que implica um
funcionamento intelectual significativamente abaixo da média e comprometimento no
comportamento adaptativo, tendo seu início antes dos 18 anos de idade, sendo
necessária a ocorrência desses três critérios para se cogitar a hipótese diagnóstica
(BRIDI, 2013, p. 04).
Segundo a AAMR (Associação Americana de Retardo Mental), retardo mental
é uma incapacidade caracterizada por importantes limitações, tanto no
funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo; está expresso nas
habilidades adaptativas conceituais, sociais e práticas (AAMR, 2006, p.20).
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-IV-TR, 2002, p. 71), a deficiência mental é definida como o funcionamento
intelectual significativamente abaixo da média (QI de aproximadamente 70 ou
menos), com início antes dos 18 anos de idade e déficits ou prejuízos concomitantes
no funcionamento adaptativo.
A deficiência mental, grosso modo, pode ser definida como o
desenvolvimento mental insuficiente, que devido ao seu desempenho, ocasiona
necessidades especiais aos que a demonstram.
2.4 ESTIGMA DO DEFICIENTE: O DEFICIENTE NO JORNALISMO
Como visto anteriormente, a definição da deficiência não é algo de tão fácil
compreensão. A partir do ponto de vista médico ou da funcionalidade, conforme
critérios utilizados pela Organização Mundial de Saúde, é unânime que aqueles que
apresentam algum tipo de deficiência só recebem tal denominação por apresentar
algum padrão, seja físico ou mental, que o difere do restante da população por si
considerada normal.
Diversas são as características que, em virtude do padrão criado pela sociedade,
diferem dos demais indivíduos que apresentam alguma deficiência. Devido aos
fatores que ocasionam a perda ou anormalidade de estrutura e função, pessoas são
classificadas como deficientes ou não.
O ser humano, ao longo de sua história, sempre manteve uma relação de
antipatia para aquele que diferenciava de si, seja em relação às diferenças étnicas,
culturais, sociais ou mesmo biológicas. Aqueles que por algum motivo se
diferenciavam da maioria da sociedade, muitas vezes recebiam tratamentos diversos
daqueles que o impunham, de forma que por diversas vezes recebiam marcas,
concretas ou abstratas, para classificá-lo conforme sua constituição. Tais marcas
podem ser traduzidas como o estigma, neste sentido:
Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais procuravam evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou
fogo no corpo e avisaram que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada; especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbio físico (Goffman, 1988, p 5).
Tal noção abordada por Goffman (id) tomou proporções semelhantes no
período pós-medieval, quando as marcas, denominadas estigmas, passaram a
classificar as pessoas em detrimento de suas características negativas, deixando de
lado o sentido de evidência pessoal.
Seguindo a mesma linha de pensamento de Goffman, Elias e Scotson (2000)
entendem que o processo estigmatizador compreende, ao indivíduo estigmatizado,
menor valor humano, sendo através desta desvalorização que o grupo considerado
dominante agride, pois o estigma imposto por este grupo costuma invadir a auto-
imagem do grupo estigmatizado.
Para Amaral (1998) o estigma e, consequentemente, o preconceito sofrido
pelas pessoas estigmatizadas é decorrente da relação vivida com o seu estereótipo
e não com o próprio sujeito.
Seguindo a necessidade de categorizar as pessoas, a sociedade estabeleceu
seus padrões que enquadravam os indivíduos em critérios de normalidade e
anormalidade, não somente em relação às condições físicas e mentais de cada
indivíduo, mas também em relação a seu comportamento e posição social.
Desta forma, aqueles que seguiam o padrão imposto pela coletividade e, por
consequência, apresentavam todas as características inerentes a tal, eram tidos
como normais; enquanto os que por sua constituição biológica ou simples opção de
convívio eram tidos como anormais e, conseguintemente, carregariam o estigma de
diferentes dos demais. Neste sentido:
A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias: Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontradas. As rotinas de relação social em ambientes estabelecidos nos permitem um relacionamento com “outras pessoas” previstas sem atenção ou reflexão particular. Então, quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua “identidade social” – para usar um termo melhor do que “status social”, já que nele se incluem atributos como “honestidade”, da mesma forma que atributos estruturais como “ocupação” Baseando-nos nessas pré-
concepções, nós as transformamos em expectativas normativas, em exigências apresentadas de modo rigoroso (ibid p. 5).
Tal estigma é aplicado a todos os tipos de gente, criminosos, adúlteros,
membros de outras camadas sociais, pessoas de etnias e culturas diferentes,
basicamente quem não seguia ou não se enquadrava em determinado segmento
recebia tal denominação e, como esperado, não seria diferente com os deficientes.
A sociedade cria expectativas diante dos indivíduos, independentemente de
sua posição, que os obriga a apresentar certas características para que estes sejam
aceitos perante os demais. Ocorre que tais características são impostas a todos os
membros da sociedade, sem distinção, de forma que aqueles que porventura não
atinjam tais expectativas, são diretamente colocados em um patamar de
preconceito, muitas vezes disfarçado por sentimentos como pena ou pelo medo.
(SIQUEIRA, 2013, p 36)
Por se tratarem de pessoas diferentes, o estigma serviu em muitos momentos
para depreciar as características das pessoas e legitimar as características do grupo
tido como dominante e detentor da normalidade. O estigma transforma a pessoa de
comum e capaz, para um estado rebaixado, desacreditado e diminuído. Desta
forma, o estigma, que anteriormente era utilizado para denominar as características
das pessoas, passa a ser um termo empregado para a depreciação. (SIQUEIRA,
2013, p 36)
Atualmente, o estigma carregado pelos deficientes é marcado pelo sentimento
de incapacidade, associado ao parco conhecimento das pessoas em relação às
características de determinada deficiência, o que acaba por transformar a imagem
do deficiente em uma pessoa que não detém capacidade de conviver com os
padrões de “normalidade” ou, se possui, necessita de atenção dos indivíduos tidos
como normais para a superação dos obstáculos e barreiras impostas por aqueles
que não apresentam nenhuma alteração física ou mental.
Tal concepção, como visto, além de rebaixar os que por acaso apresentam
algum tipo de deficiência, acaba ainda criando um estereótipo negativo, em que as
pessoas passam a tachar deficientes como pessoas incapacitadas, uma das razões
pelas quais se fecham diversas portas para aqueles que desejam ingressar no
mercado de trabalho e produzir sua própria renda proveniente de uma ocupação.
(SIQUEIRA, 2013, p 37)
O estigma é parte de um pensamento comumente adotado pelos indivíduos
que se traduz na estereotipagem. Não são raros os casos que certas atitudes ou
ações são atribuídas a um determinado grupo de pessoas, sempre demonstrando
algum tipo de preconceito, descarado ou não.
A estereotipagem é uma forma que o indivíduo enquadra um determinado
segmento social e a ele atribui características que não diferem os indivíduos, e a
estes atribui um estigma negativo. Todos os segmentos sociais são estereotipados,
seja quando algo é “de baiano”, ou “coisa de mulher”, atribuindo características
pejorativas a certas ações. Neste sentido:
O ser humano busca repetitivamente maneiras simplistas, uma maneira rápida ou que não lhe exija tantos esforços, para tentar compreender o mundo em que vive. Procura encontrar, nessa atitude, uma maneira mais curta de ler a realidade, buscando uma maior agilidade na compreensão da sociedade. Com isso, ao perceber o mundo sob a ótica do estereótipo, quer economizar tempo e energia. Essa visão simplista é um vício de raciocínio que despreza elementos importantes ao se resolverem complexos problemas da sociedade. Esses atalhos para perceber o mundo que nos rodeia potencializa uma boa dose de estereotipagem de grupos ou pessoas. (Siqueira, 2013, p. 35)
A forma que o estereótipo é colocado pode ser feita de maneira correta ou
incorreta, acarretando resultados positivos, negativos ou neutros. Se em um primeiro
momento a estereotipagem facilita a compreensão do mundo, em outra face ela
mascara a realidade levando a generalizações que violam a individualidade em seus
traços e características pessoais.
Com o deficiente não seria diferente. O estereótipo do deficiente difundido na
sociedade varia predominantemente entre dois aspectos: ou é tratado como um
super-herói, por vencer as dificuldades que a sua deficiência somada ao ambiente
externo lhe provocam, ou então é tratado como um coitado, digno de pena que
merece um amparo superior ao que na verdade é o necessário. Tal concepção foi
abordada quando estudado o assunto envolvendo deficientes e as paraolimpíadas,
no trabalho realizado por Paulo Siqueira:
Em geral, nas notícias ainda se insiste em qualificar os deficientes como super-heróis que tiveram que fazer um grande esforço para sobrepujar sua deficiência e subir ao pódio, o que reforça a visão médica de perceber o deficiente, ou o atleta que possui uma deficiência (Id, p. 17).
Desta forma, é necessário se analisar a forma pela qual o deficiente é
representado na mídia e de que forma tal representação gera reflexos em suas
atividades rotineiras.
2.5 ANÁLISE DO DEFICIENTE NA MÍDIA
A forma pela qual o deficiente é retratado pelos jornais e demais meios de
comunicação participa da construção do estereótipo em torno dele e,
conseguintemente, irá influenciar o modo pelo qual a sociedade irá tratá-lo.
Buscou-se entender a forma pela qual o deficiente é retratado pela mídia e,
para tanto, a pesquisa se direcionou a captar a mensagem transmitida pelos
jornalistas através dos meios de comunicação. A pesquisa foi realizada com base
nas matérias jornalísticas apresentadas pelo site do jornal Gazeta do Povo, veículo
de grande circulação, no período compreendido entre janeiro de 2014 e janeiro de
2015.
Tal janela de detecção foi escolhida para analisar não somente a forma que o
deficiente é retratado, mas também como esta imagem foi transmitida ao longo
deste período, para, com base em tais análises, poder fazer a desconstrução dessa
imagem e inseri-la no produto final do presente trabalho, qual seja, a plataforma
multimidiática.
A escolha pelo jornal virtual em detrimento do jornal escrito se deu diante do
fato do primeiro obter uma maior circulação que o segundo, de forma que no ano de
2013, por exemplo, obteve 3,4 milhões de acessos mensais enquanto o jornal físico
obteve somente 800 mil leitores mensais6, bem como pelo fato de que as matérias
presentes no jornal impresso são também reproduzidas no jornal digital e, ainda,
porque a pesquisa se torna mais dinâmica.
A busca no site se deu pelo uso de palavras-chave, quais sejam, “deficiência”,
“deficiente”, “cadeirante” e “deficiente físico”, e, a partir daí, analisou-se todas as
matérias que de alguma forma retratavam estas pessoas, seja na sua rotina diária,
nas dificuldades e nos preconceitos enfrentados.
6 Informações recebidas do setor de relacionamento com o cliente do jornal Gazeta do Povo.
Tendo em vista o tema do presente estudo, primou-se por abarcar matérias
que descrevam a forma pela qual os deficientes se relacionam com o mercado de
trabalho, e também, a forma pela qual se relacionam com a educação, visto que esta
é muitas vezes necessária para o desenvolvimento de certas atividades laborais.
Os veículos de massa, responsáveis por levar a informação ao maior número
de pessoas possível, se encarregam de transmitir o que vai formar o senso comum
da população brasileira em geral. Desta forma, há a ocorrência de um fenômeno de
transmissão e receptação, envolvendo um canal midiático e uma parcela significativa
da população, que ao receber determinadas informações as agrega ao seu
repertório de conhecimentos, moldando os estereótipos e estigmas que mantinha
em seu subconsciente.
Após a utilização da ferramenta de busca do site da Gazeta do Povo,
utilizando as palavras-chave mencionadas, obteve-se um número de matérias
jornalísticas que possuíam alguma relevância com o tema. Frise-se que apesar de
útil, a ferramenta de busca disponibilizada pelo site da Gazeta tem suas limitações, o
que acaba por ocasionar uma imprecisão no tocante à coleta de material, o que
implica em restrições do trabalho.
Assim, chegou-se a um resultado de 35 matérias no total, sendo divididas
entre 12 notas, 15 matérias, 2 matérias de outro Estado, 3 matérias em blog e 3
artigos em blog:
No caso, o material encontrado pode ser categorizado como notas, notícias,
reportagens e matérias de agência de outro estado. Não foram selecionados artigos
e matérias em blog, uma vez que estes se apresentam somente no formato digital, o
que apesar de ter maior abrangência acaba por também limitar a parcela de leitores
atingidos. Apesar de ter se priorizado as matérias veiculadas no formato digital,
estas só foram escolhidas por ter seu conteúdo difundido também de forma física, o
Total de Matérias coletadas 35
Nota 12
Matéria 15
Matérias de agência de notícias de outro Estado 2
Artigo em Blog 3
Matéria em Blog 3
que apresenta uma paridade entre o disposto em ambos os formatos, não obstante,
ainda há um número expressivo de leitores que somente se utilizam da forma física.
Apesar da dificuldade em sua diferenciação, há de se traçar um paralelo entre
as diferentes técnicas jornalísticas, afim de uma melhor compreensão do objeto ora
estudado.
Apesar de possuir semelhanças, a notícia e a reportagem se diferem no que
diz respeito à natureza das informações, nos recursos empregados no texto e na
decisão do veículo de informação em reproduzir um ou outro meio.
No caso, de forma breve e sucinta, a notícia pode ser traduzida na ideia de
um fato novo, ou algo recém percebido, de forma que sua transmissão se torna
necessária devido ao interesse da população. Desta forma, a notícia deve
apresentar ao leitor um relato objetivo do fato.
A reportagem, por sua vez, possui peculiaridades que, apesar de sutis,
podem demonstrar diferenças do gênero jornalístico. A reportagem pode ser
entendida como o complemento de uma notícia, de forma que não abarca fatos
novos, mas os aprofunda, contando uma história verdadeira, expondo uma situação
ou meramente contando fatos. Um exemplo citado está no caso de um acidente de
avião, enquanto relatar a ocorrência pode ser entendido como uma notícia,
apresentar aos espectadores os motivos que ensejaram o acidente, ou a forma pela
qual foram realizadas as buscas, pode ser entendido como uma reportagem.
O artigo, por sua vez, pode ser entendido como uma análise de um
determinado contexto, seja ele econômico, social, político ou comportamental, feita
por um jornalista que de forma implícita ou explicita externa sua opinião. (MEDINA,
2001, p. 54)
A nota pode ser entendida como um relato de acontecimentos que estão em
processo de configuração, de forma que a notícia seria o relatório integral do fato, ou
ainda, a nota é a notícia que se configura pela brevidade do texto (MEDINA, 2001, p.
54).
As matérias produzidas por agências de outro estado constituem um material
produzido em uma localidade e publicado em outra. As agências são responsáveis
por difundir a informação da fonte para os veículos de informação, sem reproduzir
diretamente ao público.
O blog traz um caráter mais pessoal ao conteúdo, de forma que a opinião do
redator se mostra mais presente que em outros gêneros jornalísticos.
Foram excluídas matérias que não são pertinentes ao tema ora estudado, ou
que apresentem pouca relevância para o caso. De início, buscou-se matérias que
representassem as pessoas com deficiência em seu dia a dia, priorizando também o
enfoque na questão dos deficientes que exercem alguma função laboral, esportiva
ou acadêmica. Ainda, buscou-se matérias que demonstrassem as limitações
causadas pelo ambiente externo na rotina da pessoa com deficiência, para entender
não somente como tais pessoas são afetadas por isso, mas como a mídia trata de
representá-las, tanto as pessoas quanto os problemas.
Desta forma chegou-se a um número reduzido de 17 matérias sendo assim
dispostas:
QUADRO DE ANÁLISE EMPÍRICA DAS MATÉRIAS
Título Data da
Publicação/Autor Descrição da Matéria
1. Inclusão e educação especial: aproximando
um olhar distante.
28/01/2014/Alexandre Schmidt de Amorim
Inclusão é a palavra chave quando se trata de deficiência e
de suas limitações.
2. Cegos e cadeirantes: o esporte integra a
todos
22/02/2014 - Adriana Czelusniak
Mais uma vez a integração é utilizada no título da matéria.
3. Uma foliã acima das limitações
05/03/2014 - Bruna Komarchesqui
Traz as limitações no título, gerando uma pré análise da situação do deficiente antes
mesmo de conhece-lo.
4. Garoto com doença rara visita seleção e faz
Neymar chorar
29/05/2014 - Leonardo Mendes
Junior
Traz no título a ideia de pena em relação ao deficiente.
5. O abrigo que virou asilo de cegos
21/06/2014 - Amanda Audi
Aborda a situação atual do Instituto Paranaense de Cegos após escândalos de desvio de
dinheiro e a situação dos últimos moradores do IPC.
6. Corpo de Bombeiros retoma buscas por
cadeirante desaparecido
04/07/2014 - Angieli Marcos e Rodrigo
Batista
Relata a retomada de buscas pelo corpo de uma pessoa que
possui a perna amputada e morreu afogada no Parque
Náutico do Iguaçu..
7. Lojas terão que adaptar provadores de
roupa para pessoas com deficiência
29/07/2014-Luan
Galani
Trata de uma lei que obriga as lojas a adaptar seus ambientes.
No caso, a adaptação seria muito mais efetiva se fosse promovida
espontaneamente, e não em virtude de uma disposição legal.
8. Manchester United contrata técnico
cadeirante
15/08/2014 - Gazeta do Povo
Traz um fato inusitado ao futebol, um técnico que apesar de não
andar consegue desenvolver as atividades de treinamento.
9. Alunos com deficiência visual vivem experiência sensorial
em fábrica de perfumes
17/09/2014 - Lucas Gabriel Marins
Trata de pessoas com deficiência visual que estudam para ser
perfumistas.
10. Garoto especial biografa Luan Santana
27/09/2014 - Lucas Gabriel Marins
Ao trazer o título garoto especial, este além de contrariar a nomenclatura ainda traz o
estigma do deficiente como necessitado.
11. Deficiência não impede torcedor de
seguir o Coritiba
06/10/2014 - Fernando Rudnick
Trata de um homem que por possuir atrofia muscular tem os
movimentos limitados, no entanto aborda a superação deste para
assistir a jogos de futebol. 12. Cadeirante se
arrasta para embarcar em voo em Foz do
Iguaçu
02/12/2014 - Gazeta do Povo
Traz um caso de uma cadeirante que teve que se arrastar pelas
escadas de um avião para embarcar.
13. Anac ameaça multar responsáveis
por embarque inadequado de
cadeirante
02/12/2014 - Folhapress
Fala sobre a multa recebida pela GOL e a Infraero através da
ANAC, relativa à passageira que precisou subir as escadas se arrastando, pois não havia o
equipamento correto.
14. Cegos angolanos pedem para ficar
03/01/2015 - Fellipe Aníbal
Traz a história de jovens angolanos que foram trazidos ao
Brasil para estudar, e estes manifestam o desejo em prosseguir a vida aqui
desenvolvendo suas atividades. Busca quebrar o estigma de
necessitados. 15. . Projeto estimula deficientes visuais a
22/01/2015 - Lívia Inácio
Traz uma parceria com o instituto de cegos para o
criarem peças de design
desenvolvimento de peças de design. Traz uma possibilidade
de inclusão.
16. UFPR abre primeira turma de língua de
sinais
27/01/2015 - Nayadi Piva
Traz a criação do primeiro curso de letras com fundamento na língua de sinais. Inclusão e
possibilidade de trabalho para deficientes.
17. Para curtir o mar e a areia sobre rodinhas
adaptadas
30/01/2015 - Débora Mariotto Alves
Mostra a facilidade de ir à praia com as cadeiras anfíbias que o
Rotary Clube de Matinhos disponibiliza para pessoas com
deficiência.
Após, observou-se em quais páginas do jornal as matérias tratando de
deficientes foram publicadas, sendo doze no caderno “Vida e Cidadania”, três no
caderno de Esportes, uma no caderno de Cultura e uma no caderno “Educação e
Mídia”. Tal levantamento se expressa no gráfico abaixo:
O fato de a maioria das matérias terem sido publicadas na página “Vida e
Cidadania” se dá porque esse caderno engloba os assuntos que sejam de interesse
da comunidade no geral, matérias que tenham um cunho social e, dentre elas, se
enquadram a acessibilidade, os deficientes físicos, ou seja, todas as matérias que
visem cobrir melhor o dia a dia.
Em relação ao conteúdo das matérias, nota-se, em um primeiro momento,
que as notícias envolvendo deficientes versam sobre questões acerca da superação
das limitações internas, a existência de limitações externa e o preconceito entre
pessoas com e sem deficiência.
Imperioso citar que diversas são as matérias que demonstram a total falta de
estrutura para o deficiente conviver em sociedade, de forma que são recorrentes os
temas envolvendo rampas de acesso, banheiros especiais e elevadores. Um
exemplo está no cidadão que, por não existir instalações sanitárias adequadas para
seu acesso, acabou por urinar nas calças e assim adentrou com uma representação
judicial contra o responsável7. Outros exemplos podem ser citados em escolas da
rede pública que não possuem as condições de acessibilidade. Existem escolas
especiais, destinadas à educação de pessoas com deficiência, de forma que
também existem pessoas com deficiência estudando fora destas escolas e, diante
desse fato, precisam de certas adaptações do ambiente externo para poder dispor
da mesma mobilidade que os demais, porém não é esta a regra.
O debate entre a inclusão de alunos com deficiência em escolas comuns e a
falta de vagas para alunos nas escolas especiais, é retratado como mais um
problema estrutural envolvendo a questão. Quando não há um número expressivo
de escolas que possam atender a tais necessidades, cria-se um problema de
exclusão daqueles que diante de suas condições não conseguem acompanhar o
ritmo de ensino regular. Há ainda o debate envolvendo a forma pela qual as pessoas
com deficiência são educadas e se esta educação não pode, de certa forma,
também se tornar uma forma de exclusão deste indivíduo do convívio social.
Tal constatação demonstra a falta de interesse daqueles que não se
enquadram como pessoas com deficiência em promover sua inclusão, de forma que
as situações vexatórias a que estas pessoas são expostas se tornam recorrentes.
Parece não haver necessidade de se promover as alterações necessárias para o
convívio em sociedade, visto que o deficiente é capaz de superar as dificuldades
que lhe são impostas. No entanto, não é este o cenário ideal para se tratar da
relação entre deficientes e não deficientes.
A superação dos problemas e dificuldades enfrentados pelos deficientes não
pode ser tratada como normalidade, visto que cabe aos não deficientes promover a
inclusão e adaptação dos ambientes para que aqueles possam desfrutar de todas as
7 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/cadeirante-constrangido-no-enem-ganha-acao-efbhavor73dos6b1wo79royfi>. Acesso em: 01 abr. 2015.
oportunidades, que são conferidas às pessoas normais, ou pelo menos o mais
próximo disto possível.
Algo significativo nesta questão está no caso do Poder Público incumbir ao
particular a adaptação dos ambientes para o acesso de pessoas com deficiência8.
Apesar da medida ter um caráter inclusivo, por se tratar se instrumento de lei, acaba
por gerar ainda mais exclusão. No momento em que o cidadão se vê obrigado por lei
a adaptar seus ambientes para atender pessoas com deficiência, cria-se também um
obstáculo e um reforço na criação do estigma do deficiente, uma vez que o particular
o vê como um problema a ser solucionado, quando, na verdade, tal inclusão deveria
se dar de maneira espontânea por parte dos cidadãos que não possuem deficiência.
As pessoas com deficiência, principalmente cadeirantes, necessitam de
espaços adaptados para poder se deslocar pelos ambientes. No caso de prédios
são necessários elevadores, no caso de escadarias são necessárias rampas de
acesso e por aí vai. No entanto, diversos são os casos que relatam a inexistência de
tais disposições para a adequação destas pessoas. Um exemplo que ganhou
bastante repercussão na mídia, sendo inclusive matéria jornalística em outros
estados, está no ocorrido envolvendo uma cadeirante e o embarque em um avião9.
O descaso com pessoas com deficiência está em todos os lugares, por
exemplo, o caso da aluna relatando que a professora reclamava por ela ter
convulsões, além de gritar e corrigir a lição batendo na carteira, fazendo com que a
aluna não tivesse vontade de ir para a escola, desestimulando a estudante com
deficiência, desde jovem, ao invés de incentivá-la10.
Independentemente da forma pela qual a imagem do deficiente é transmitida
pelos meios de comunicação, fato é que estes indivíduos categorizados como
pessoas com deficiência também apresentam as necessidades básicas de cada
individuo, somadas às necessidades especiais que sua condição lhes impõe e,
desta forma, há a necessidade dessas pessoas proverem seu próprio sustento. Um
exemplo está no caso dos cegos angolanos trazidos ao Brasil que, por decisão da
embaixada de seu país, terão suas bolsas-auxilio cortadas. A reportagem demonstra 8 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/lojas-terao-que-adaptar-
provadores-de-roupa-para-pessoas-com-deficiencia-ebh8buv485dlijrsusuf9p0em>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 9 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/cadeirante-se-arrasta-para-
conseguir-embarcar-em-voo-em-foz-do-iguacu-egw8g0oie4ezi5b0o6ewr04su>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 10 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-e-midia/inclusao-e-educacao-especial-aproximando-um-olhar-distante/>. Acesso em: 01. Abr. 2015.
o interesse destas pessoas em adentrar ao mercado de trabalho, sendo que vários
deles possuem qualificação ou estão estudando para sua obtenção11.
Considerando as deficiências físicas, nota-se que vários mitos são formados
por pré-conceitos, como, por exemplo, que essas pessoas não possuem uma vida
ativa. Há vários graus de deficiência e de restrições, no entanto, em regra, as
pessoas com deficiência trabalham, viajam, constituem família e podem ter uma vida
tão ativa como a de qualquer outro cidadão. Cada caso é um caso, mas a
inatividade não é, de forma alguma, uma regra. Um exemplo está nos cadeirantes e
pessoas com deficiência visual que praticam esportes, tal como a esgrima12. Há,
ainda, a menção em uma matéria a respeito de uma cadeirante que desfilou no
carnaval de Antonina. Segundo a matéria, a cadeirante desenvolve todas as
atividades em conjunto com a família, de forma que causa espanto em outras
pessoas.
Interessante citar que diversas matérias trazem as pessoas com deficiência e
o mercado de trabalho, apesar de parte delas se referir à forma pela qual estes são
excluídos e assim necessitam da criação de vagas especiais para desenvolverem
suas atividades, também trazem pontos interessantes em que a deficiência é
utilizada em prol de um bem maior, de forma que suas limitações se tornam um
diferencial na criação de um trabalho. O exemplo está na inclusão de deficientes
visuais como designers13 e perfumistas14. Esta é uma prova de que as limitações
físicas que são demonstradas pelas pessoas podem ser utilizadas em benefício
próprio. Há ainda a criação de uma turma de letras da UFPR com base na
linguagem de sinais, em que parte da turma é composta por pessoas com
deficiência e parte não15.
Os deficientes com paralisia cerebral também sofrem diversos tipos de
preconceitos, por serem incluídos no grupo como deficientes mentais e físicos, ainda
que nem sempre existam danos intelectuais. O que acontece é que a zona do
11 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/cegos-angolanos-pedem-para-ficar-eigt03bqn9r1kewodr5dp6slq>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 12
Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/cegos-ou-cadeirantes-o-esporte-integra-todos-ew0zk5z38c0wqv90xptec8y8e>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 13 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/casa-e-decoracao/projeto-estimula-deficientes-visuais-a-criar-pecas-de-design/>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 14
Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/alunos-com-deficiencia-visual-vivem-experiencia-sensorial-em-fabrica-de-perfume-edr1okucs13vdcnfno8tu2te6>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 15 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/ufprabre-primeira-turma-em-lingua-brasileira-de-sinais-eja4bp6lanq6vix8z9v97lwlq>. Acesso em: 01 abr. 2015.
cérebro que coordena certas partes do corpo (os movimentos, fala, etc.) está
afetada. Portanto, trata-se de um problema eminentemente físico e não intelectual
ou mental. Neste sentido, é o apresentado no estudo de Marília Ferreira Murata e
Eucia Beatriz Lopes Petean:
A Paralisia Cerebral (P.C.) é um problema neurológico, que envolve danos da função neuromuscular, com ou sem déficit intelectual. Os danos são de caráter não progressivo e se devem a lesões cerebrais ocorridas no período pré-natal, peri ou pós-natal. As consequências são alterações motoras e/ou psíquicas, paralisias, epilepsia, hipotomia, entre outros. (Id, 2006)
É importante lembrar esses fatos porque, intelectualmente falando, um
deficiente que possui paralisia cerebral pode trabalhar normalmente, pelas restrições
físicas na fala e movimentos provavelmente ele precisaria de alguma ajuda motora
de outra pessoa ou tecnologia, mas não intelectual.
Para desconstruir tal concepção, há uma matéria que traz o caso de uma
criança com paralisia cerebral que, independentemente de sua limitação, escreveu a
biografia do cantor Luan Santana, precisando de ajuda tecnológica, porém
conseguiu realizar o trabalho com sucesso16.
Por fim, após a análise do conteúdo das matérias, o último passo foi retirar
dos textos todos os adjetivos encontrados e que se referem à pessoa com
deficiência e analisar seu uso.
Abaixo consta uma tabela com os títulos das matérias, os adjetivos usados
em cada uma e a quantidade de vezes que cada adjetivo apareceu.
TÍTULO ADJETIVO QUANTIDADE
Inclusão e educação especial: aproximando um olhar distante. Capaz 1
Cegos e cadeirantes: o esporte integra a todos
Uma foliã acima das limitações
Alegria 2
Contagiante 1
Sorridente 1
Alto astral 1
Garoto com doença rara visita seleção e faz Neymar chorar Vítima 1
16 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/garoto-especial-biografa-luan-santana-ee6wz0c0rz78o6rptyrbdeszy>. Acesso em: 01 abr. 2015.
Lojas terão que adaptar provadores de roupa para pessoas com deficiência
Manchester United contrata técnico cadeirante
Alunos com deficiência visual vivem experiência sensorial em fábrica de perfumes
Garoto especial biografa Luan Santana Cabisbaixo 1
Deficiência não impede torcedor de seguir o Coritiba Genuína 1
Limitado 1
Cadeirante se arrasta para embarcar em voo em Foz do Iguaçu
Cegos angolanos pedem para ficar
Projeto estimula deficientes visuais a criarem peças de design
UFPR abre primeira turma de língua de sinais
Para curtir o mar e a areia sobre rodinhas adaptadas Gentil 1
Anac ameaça multar responsáveis por embarque inadequado de cadeirante Vítima
Corpo de Bombeiros retoma buscas por cadeirante desaparecido
O abrigo que virou asilo de cegos
Vago 1
Descoberto 1
Coitadinhos 1
Dessa última análise, foi constatado, dentre as matérias, que quatro fazem
referência com adjetivos negativos e acabam por vitimizar as pessoas com
deficiência. Os adjetivos utilizados de forma negativa foram “vítima”, “cabisbaixo”,
“limitado” e “coitadinhos”.
“Vítima” foi utilizado duas vezes, a primeira para se referir ao garoto Tomé,
diagnosticado com artrogripose assim que nasceu. Seu dia visitando a Seleção
Brasileira de Futebol foi contado na matéria “Garoto com doença rara visita seleção
e faz Neymar chorar”. A segunda foi na matéria “Anac ameaça multar responsáveis
por embarque inadequado de cadeirante”, referindo-se a Katya Hemelrijk, executiva
de 38 anos que teve que se arrastar pelos degraus para chegar à aeronave, pois a
mesma possui osteogênese imperfeita, mais conhecida como “síndrome dos ossos
de cristal”.
“Cabisbaixo” foi o termo usado na matéria “Garoto especial biografa Luan
Santana” ao se referir ao Pablo, menino que tem paralisia cerebral e fez uma
biografia do cantor Luan Santana.
Por último, “limitado” teve seu uso referente às pernas do aposentado e
torcedor do Coritiba Jairton, na matéria “Deficiência não impede torcedor de seguir o
Coritiba”.
A matéria “O abrigo que virou asilo de cegos” refere-se ao IPC e utiliza
adjetivos como “vago” e “descoberto” para se referir ao olhar das pessoas com
deficiência visual, utiliza também o adjetivo “coitadinho” para desconstruir a imagem
que a sociedade possui de pessoas com este tipo de deficiência.
Outras três peças usam adjetivos para enaltecer a pessoa com deficiência. A
reportagem “Inclusão e educação especial: aproximando um olhar distante” aborda a
inclusão dos cadeirantes no convívio social através do Plano Nacional de Educação
e usa a palavra “capaz” para evidenciar que através desse projeto todas as pessoas
com deficiência podem desempenhar funções úteis para a sociedade e ir atrás de
seus objetivos.
A matéria “Uma foliã acima das limitações” usa quatro adjetivos “alegria”,
“contagiante”, “sorridente” e “alto astral” para contar a experiência da Lucimara ao
participar do Carnaval de Antonina na escola de Filhos da Capela.
A última matéria utiliza “genuína” para classificar o nível de felicidade do
Jairton em “Deficiência não impede torcedor de seguir o Coritiba”, ele sempre que
pode vai assistir aos jogos em cima de uma maca.
As demais matérias se referem à pessoa com deficiência sem uso de
adjetivos, no total são nove das dezessete publicadas online que não necessitam de
adjetivos para qualificar ou desqualificar os deficientes.
As matérias abordam temas diversos, como a adaptação de provadores,
feiras de empregos e a contratação de um técnico com atrofia muscular na espinha
pelo time de futebol Manchester United.
Isso mostra que a distância entre as pessoas com deficiência e as pessoas
sem deficiência está diminuindo, mas que ainda há muito trabalho para a formação
de um mercado igualitário.
Acredita-se, portanto, que se qualquer deficiente físico sem limitações
mentais ou intelectuais tivesse oportunidade de trabalhar na área, em que deseja e
possui conhecimentos para, teria a possibilidade bem sucedido, como qualquer
outra pessoa, mas deve-se considerar o fato que além de sofrer com preconceitos,
criados sem o efetivo conhecimento de alguma deficiência, ainda há pouca
colaboração de empresas e trabalhadores que talvez não queiram se dispor a ajudar
ou criar um sistema para que esse deficiente possa ser um funcionário efetivo,
colaborativo e até essencial para uma empresa ou equipe.
Importante frisar que a deficiência é uma relação entre as limitações internas
do indivíduo, somadas às limitações externas, causadas pelo convívio social, que o
impedem de desempenhar suas funções com plenitude. Considerando que se trata
de pessoas com deficiências, soluções haveriam de ser criadas, mas isso não quer
dizer que essa pessoa seria menos produtiva ou menos importante do que os outros
colaboradores que talvez não precisem de tais soluções.
3 PROBLEMA
A questão dos deficientes é complexa, ao passo que naturalmente
apresentam condições que lhes são exigidas atitudes diversas das adotadas pelos
demais membros da sociedade, aos deficientes ainda é imposto mais um obstáculo
no caminho para a igualdade frente aos então denominados normais.
Se já não fosse o bastante as limitações físicas e estruturais, o preconceito e
os estereótipos criados pela sociedade ainda atingem indiretamente os deficientes.
De forma que, inconscientemente, as pessoas olham para o diferente e lhe atribuem
características que só seriam possíveis de ser percebidas após algum tempo de
convívio. O estigma que as pessoas com deficiência carregam, associado a suas
limitações, torna extremamente oneroso para este procurar uma colocação no
mercado de trabalho, e reduzindo esse número para aqueles que desejam trabalhar
com comunicação, é perceptível a existência de uma gama de barreiras e
obstáculos.
Dessa forma, é necessário o estudo da questão, analisando não só de que
forma as diferentes deficiências atingem os indivíduos, mas também a forma pela
qual as pessoas os classificam e lhes imputam características que nem sempre são
verdadeiras.
Busca-se a apresentação de técnicas que possibilitem aos deficientes, sejam
quais forem, a colocação e exercício da profissão de jornalista, de forma que, além
de exercer uma atividade laborativa, a pessoa com deficiência ainda age como uma
forma de quebrar os estereótipos criados por dezenas e dezenas de anos de
convívio social.
Neste sentido coloca-se o problema desta pesquisa: como elaborar um guia
multimídia que forneça apoio para que as pessoas com deficiência exerçam a
profissão de jornalista e colaborem com a desconstrução da representação
estigmatizada destas pessoas, por meio de um manual de boas praticas destinado a
todos os jornalistas?
4 JUSTIFICATIVA
Diversas são as limitações impostas pelo ambiente externo ao deficiente, que,
nos seus mais variados graus, podem ocasionar diversos transtornos. Porém, uma
das barreiras mais significativas na vida de uma pessoa com deficiência está na
colocação no mercado de trabalho. Seja pela questão estrutural, seja pelo
preconceito, o deficiente encontra em sua condição uma limitação para o pleno
exercício das atividades laborais.
O presente trabalho busca a elucidação das questões envolvendo o estigma e
o preconceito em relação aos deficientes, de forma a descobrir como desconstruir tal
imagem, sem se basear em heroísmo ou coisas do gênero, incluindo a pessoas com
deficiência no ciclo natural do ser humano, como qualquer outro. Um ponto
interessante na construção e análise da imagem do deficiente na mídia será por
meio do trabalho realizado por Paulo Siqueira (Siqueira, 2013), em que, pautado
pelo tema das paraolimpíadas, buscou entender a forma pela qual o deficiente físico,
em especial o para atleta, é representado para a sociedade.
Apesar de haver diferenças entre os jornalistas deficientes e os atletas
paraolímpicos, ambos carregam em si a mesma, ou pelo menos similar, imagem de
deficiente. Ou seja, aquele que por suas limitações necessita de todo um aparato
para a inclusão na sociedade, e quando este consegue a tal inclusão, não é tratado
de forma igualitária, e sim como um caso único que merece especial atenção.
Quando se cria tal concepção, de herói ou de vencedor, não só se aumenta a
distância entre as pessoas com e sem deficiência, mas também aumenta e reforça
aquele estigma que muitas vezes é imposto aos deficientes. A inclusão do deficiente
é de suma importância, tanto para a sociedade como para o deficiente, e tais
representações nada mais são do que combustível para o fomento de tal concepção.
No caso, busca-se a desconstrução do estigma com o apontamento de
soluções práticas para o convívio e exercício das funções profissionais daqueles que
se interessam em ingressar na carreira de jornalista e, por fim, apresenta-se um
modelo de técnicas destinadas ao exercício das funções de maneira mais prática
possível.
Tal projeto de pesquisa apresenta relevância uma vez que serão
apresentadas soluções para as pessoas com deficiência para poderem exercer uma
profissão, que, no caso, é a profissão de jornalista.
Para a desconstrução do estigma do deficiente é necessário que seja
mostrado ao mundo que tais características não são unânimes entre todas as
pessoas com deficiência, de forma que as limitações físicas/sensoriais/mentais são
únicas, e em conjunto com as limitações externas vão construir a forma pela qual o
deficiente deve encarar tais barreiras.
Dessa forma, o jornalismo mostra-se uma ferramenta essencial para está
desconstrução pois, pode reformular a imagem que a pessoa com deficiência tem na
sociedade, bem como abre caminho para pessoas que não tenham conhecimento
sobre o assunto possam obter mais informações sobre o mesmo.
É necessário provar que o deficiente pode exercer suas atividades de maneira
normal, ou pelo menos com o mínimo de alterações necessárias em seu ambiente
externo. No momento em que os deficientes ocuparem posições no mercado de
trabalho, sem tantas dificuldades como ocorre atualmente, o estigma poderá enfim
ser desconstruído e banido do pensamento cotidiano.
O presente trabalho busca, assim, apresentar um manual de técnicas
jornalísticas para que pessoas com deficiência possam exercer tal profissão da
maneira mais prática possível e, assim, além de desconstruir a imagem do
deficiente, ainda proverem o sustento necessário e uma vida digna como qualquer
outra pessoa.
O manual não vai apenas revelar as dificuldades das pessoas com deficiência
em entrar no mercado de trabalho jornalístico, mas também abrir um debate social
sobre as oportunidades dos deficientes como um todo, bem como as possíveis
soluções para diminuir essa desigualdade.
Dessa forma, ele servirá como objeto de empoderamento, dando aporte para
que os profissionais com deficiência busquem seus direitos, e, servindo também,
como fonte de informação e discussão para a mídia como um todo.
5 OBJETIVO GERAL
Produzir um guia multimídia, abordando técnicas jornalísticas para auxiliar o
trabalho diário de profissionais da área, que possuam algum tipo de deficiência, de
modo a contribuir para a inserção destes jornalistas no mercado e auxiliar na
desconstrução do estigma que cerca a pessoa com deficiência.
6 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Buscar soluções práticas para as pessoas com deficiência trabalharem na
área de jornalismo;
Delimitar quais as dificuldades encontradas para o exercício do jornalismo em
cada tipo de deficiência;
Pesquisar e apresentar novas alternativas para facilitar o dia a dia das
pessoas com deficiência no mercado de trabalho;
Contribuir para a discussão sobre as representações do deficiente na mídia,
de modo a estimular a quebra dos estigmas que envolvem esta camada da
população.
7 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
7.1 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
As representações sociais podem ser entendidas como um produto oriundo
da interação e, consequentemente da comunicação, entre um sujeito e um objeto.
No caso o sujeito se torna qualquer pessoa que esteja diante da interação e, por
isso, é espectador dentro de um convívio social, e o objeto é aquele representado
pela sociedade.
Desta forma, um determinado segmento social, formado por um grupo de
pessoas que possuem características em comum, são abarcadas por uma espécie
de tipificação, recebendo uma determinada condição ou um estigma a ser
carregado. A representação social, então, pode ser entendida como a atribuição de
uma determinada ideia a uma imagem, ou nas palavras de Moscovici:
Um sistema de valores, idéias, e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambigüidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social (MOSCOVICI, 2003, p. 21)
Desta forma, as representações sociais surgem com o propósito de classificar
e orientar as pessoas a seguirem um determinado sistema, para integrar certos
aspectos do cotidiano pessoal ao social.
Passa-se a classificar certos sujeitos e objetos conforme sua representação
perante determinado segmento social, ou então a sociedade como um todo, de
forma que ela seja pautada no convívio em sociedade, não seria estranho que as
representações de determinados grupos fossem provenientes da mesma sociedade
que estes pertencem.
Desta forma, é quase impossível pensar que, por se tratar de uma
organização, haverá algum aspecto inerente a esta que não seja representado.
Neste sentido, para Moscovici:
Como pessoas comuns, sem o benefício dos instrumentos científicos, tendemos a considerar e analisar o mundo de uma maneira semelhante; especialmente quando o mundo em que vivemos é totalmente social. Isso significa que nós nunca conseguimos nenhuma informação que não tenha sido distorcida por representações “superimpostas” aos objetos e às pessoas que lhes dão certa vaguidade e as fazem parcialmente inacessíveis. Quando contemplamos esses indivíduos e objetos, nossa predisposição genética herdade, as imagens e hábitos que nós já aprendemos, as suas recordações que nós preservamos e nossas categorias culturais, tudo isso se junta para fazê-las tais como as vemos. Assim, em última análise elas são apenas um elemento de uma cadeia de reações de percepções, opiniões, noções e mesmo vidas, organizadas em uma determinada sequencia. (id, p. 33)
As representações sociais possuem basicamente duas funções para intervir
no processo cognitivo.
Em um primeiro momento, as representações convencionalizam os objetos
que representam, de forma que conferem um caráter definitivo, categorizando como
um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas, visto
que todos os elementos que venham a surgir se agrupam e sintetizam o modelo
imposto, independente se a pessoa ou objeto se adéquam a ele. Tais concepções
são utilizadas para a resolução de problemas gerais quando estes precisam de
interpretação, de forma que cada experiência é agregada a uma realidade
predeterminada por convenções (ibid, p 34).
Em um segundo momento, as representações sociais são prescritivas,
impondo-se sobre os indivíduos como uma força irresistível, sustentada por uma
estrutura, que estava presente antes do surgimento de tais indivíduos, e baseada
por uma tradição que decreta o que deve ser pensado.
Uma criança nascida em qualquer sociedade hoje irá desde sua origem ser
bombardeada por gestos, sinais e conceitos que irão moldar sua personalidade, de
forma que afetam diretamente na forma como este indivíduo encara o outro, sob a
ótica das representações sociais (ibid, p. 36).
Desta forma, as representações sociais apresentam um forte ponto no
equilíbrio das relações humanas, vez que moldam as concepções de determinados
grupos de indivíduos diante de um conceito moldado e mantido pela própria
sociedade.
Um dos objetivos das representações sociais está na aproximação de uma
cultura, então desconhecida, para o interior de um padrão aceitável pela sociedade,
desta forma, configura-se o comportamento externo dentro do habitual, de forma que
se evita divergências e conflitos, tornando comum algo que anteriormente poderia
ser chamado de incomum. Neste sentido, Araújo (2014) afirma que:
O intuito das representações sociais é trazer as culturas desconhecidas para dentro de um padrão comum e aceitável em determinada sociedade. Configurando comportamentos dentro do habitual, é possível evitar divergências e conflitos. A representação se torna comum quando torna familiar e aceitável uma realidade incomum. Essas opiniões são construídas a partir da divulgação de concepções pré-estabelecidas sobre indivíduos ou características que não pertencem a nossa cultura. E através de símbolos que a representação é construída, na tentativa de usar uma máscara para se aproximar da cultura que até então é desconhecida e trazê-la para mais perto da realidade. (id, p. 15)
Assim, as representações sociais nada mais são do que reflexos da
construção da imagem de um determinado sujeito ou objeto perante um segmento
social. Tal concepção pode ser propagada de diversas formas, geralmente se
baseando no costume e sendo mantida e apresentada à sociedade pelo meio difusor
de comunicação, a mídia.
A mídia tem importância fundamental para a sociedade, de forma que os
conceitos que são apresentados por seus meios difusores são pilares na construção
da consciência e pensamento da massa que a assiste, vez que o que é transmitido
pelos meios de comunicação é absorvido pela população e refletido nos mais
diversos segmentos de convívio social.
Desta forma, a mídia apresenta um papel fundamental na manutenção e na
renovação das representações sociais, de forma que colabora diretamente no
processo de concepção dos indivíduos, e consequentemente na forma com que
estes irão moldar as representações sociais daqueles que a mídia apresenta.
7.2 A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO DEFICIENTE DIFUNDIDA PELA MÍDIA
Em relação aos deficientes, as representações sociais têm um papel
fundamental na forma pela qual estes irão ser recepcionados pela sociedade de
maneira geral. As representações sociais possuem uma conexão com o estigma
(Goffman, 1988) acerca deste grupo, de forma que contribuem para a formação e
construção deste. Sendo assim, apresentam um papel de extrema relevância no
trato das diferenças por parte da sociedade.
Ao analisar a forma pela qual o deficiente é retratado pelos meios de
comunicação, ou se analisarmos detidamente sobre o que versam as matérias que
têm os deficientes como protagonistas, é comum que a análise aponte à reiteração
do estigma que o deficiente carrega.
Em um primeiro momento, percebe-se que a maioria das matérias
analisadas17 traz as diferenças dos deficientes como um problema, seja pela falta de
estrutura que este necessita para se adequar em sociedade, seja pelos esforços
tidos grandiosos que estas pessoas realizam para adequar sua deficiência aos
padrões utilizados pelas pessoas sem deficiência.
Indiretamente, tal posicionamento jornalístico acaba por fortalecer o estigma
carregado pela pessoa com deficiência, visto que o apresenta não como um cidadão
em convívio normal em sociedade, mas sim como um problema, em que muitas
vezes acaba por gerar um reflexo negativo. Ao trazer os problemas que as pessoas
com deficiência encontram, e expô-los como um obstáculo, os jornais fortalecem o
estigma. (GOFFMAN, 1998, p 10)
As representações são transmitidas pelos meios de comunicação e
absorvidas pelo público da mesma maneira, mas há diferenças na interpretação que
cada indivíduo dará à informação.
Enquanto uma manchete jornalística trazendo um episódio envolvendo um
cadeirante e uma escada pode refletir positivamente, e com isso conscientizar as
pessoas da necessidade de adequar os espaços, também pode incitar a revolta por
parte daqueles que, cegos pela ignorância e o conforto de uma situação diferente,
criticam certos posicionamentos. Ao ressaltar as dificuldades encontradas pelas
pessoas com deficiência, a mídia reforça o estigma que estes carregam.
Importante frisar que, apesar de certas matérias distanciarem a realidade das
pessoas com deficiência, outras trazem em seu bojo elementos que contribuem para
a desconstrução do estigma do deficiente. Isso porque trazem em seu conteúdo uma
mensagem discreta, sem colocar o “problema” da deficiência em evidência, o que
17
A análise do projeto está disposta na página 20 do presente trabalho.
demonstra a integração dessas pessoas e das daquelas sem deficiência como algo
comum, o que deveria ser o praticado pela sociedade. (GOFFMAN, 1998, p 10)
No momento em que se expõem as diferenças, e as coloca como um
problema, a matéria acaba por causar um duplo efeito: de um lado expõe que de
fato é necessária uma mudança estrutural para a integração de pessoas com
deficiência, porém do outro mostra o quanto as pessoas com deficiência são
diferentes das outras, sem muitas vezes diferenciar as próprias pessoas com
deficiência entre si.
Partindo deste ponto, acredita-se que a representação do deficiente pela
mídia ocasiona um fortalecimento da representação social deste grupo,
desconsiderando as particularidades de cada um e impondo aos indivíduos um
conceito que muitas vezes não é a verdadeira representação de sua necessidade.
Desta forma, aqueles que porventura apresentam mínimas necessidades
para integração acabam recebendo o mesmo tratamento que pessoas muito mais
dependentes realmente necessitam, porém apenas da forma negativa, visto que não
necessitam dos cuidados e acabam sofrendo preconceito por parecer mais carentes
do que realmente são, ou de forma exacerbadamente positiva, ao colocar os feitos
realizados por pessoas com deficiência como algo inatingível, digno de super-heróis.
A representação, desta forma, acaba por se traduzir em um meio termo entre o real
e a imagem dele derivada (PENIN; ROBERT, 2014, p.123).
Ao incluir o deficiente na posição de jornalista, difundindo informações com
base em um conhecimento desenvolvido por suas experiências profissionais e
principalmente pessoais, poderá então se partir de um outro ponto no quesito de
desconstrução do estigma do deficiente, uma vez que este estará na posição de
produtor do material jornalístico, baseando suas técnicas no material a ser
desenvolvido, o manual.
7.3 JORNALISMO DIGITAL X PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Conforme afirma Bonito (2012, p. 14) o jornalismo tem uma função social
nobre, qual seja, a de levar informações ao conhecimento público, motivo pelo qual
não se pode tolerar a existência do preconceito comunicativo:
O jornalismo tem uma função social nobre, transformar as informações em conhecimento público, logo não podemos continuar a fazer distinção, por preconceito comunicativo, de quem deve ou não ter acesso ao conhecimento gerado. Hoje, as pessoas com deficiência sofrem para consumir jornalismo em todos os principais sites, nenhum deles pode exibir um selo de “conteúdo universal”, por isso, por enquanto, podemos afirmar que estamos em tempos de jornalismo deficiente e inconvergente.
Por outro lado, sabe-se que as pessoas com deficiência, seja ela de qualquer
tipo, enfrentam inúmeras dificuldades em seus ambientes de estudo e trabalho, pelo
fato de que não é tão simples conseguir se adaptar a muitas práticas do cotidiano,
especialmente àquelas que envolvem a participação dos sentidos e aptidões físico-
motoras.
Em vista disso, temos um cenário fenomenológico: a cada dia torna-se mais
comum a alfabetização, seja ela literal, seja ela voltada a uma área específica do
saber, das pessoas com deficiência através das tecnologias da comunicação e
também das tecnologias assistivas.
Computadores, aplicativos sonoros, comandos de voz, entre outros, são
imprescindíveis para possibilitar que uma pessoa com deficiência algum tipo de
deficiência possa exercer as mesmas funções que qualquer outra pessoa.
As tecnologias têm sido cada vez mais utilizadas, não só para auxiliar na
produção do conteúdo, como ferramenta de trabalho, mas também como conteúdo,
como fruto, em forma, por exemplo, de mídia digital, que faz o consumo de
informação aumentar e a dificuldade de acessar informações, que existia até pouco
tempo atrás, diminuir, possibilitando às pessoas com deficiência descobrir um novo
mundo cheio de possibilidades.
Diante desta realidade, como bem menciona Sousa (2014), impõe-se para os
novos campos afetados pelo paradigma tecnológico e, por consequência, o campo
do jornalismo, a tarefa de compreender a diversidade e a pluralidade dos sujeitos
que conformam a esfera do ciberespaço, assim como a multiplicidade de usos que
podem ser materializados, afim de que tanto todos os possíveis leitores possam ser
abarcados, como também os concretizados das matérias tenham cada dia mais a
possibilidade de exercer seu papel de jornalista.
O problema da acessibilidade aos conteúdos web no jornalismo precisa ser incorporado à formação universitária dos jornalistas. Nas redações multiplataformas, marcadas pelo trabalho em convergência de mídias. Quase todo o processo de produção e distribuição dos conteúdos, nos mais variados formatos, está na mão do próprio jornalista. É ele pois que terá de ser o primeiro a preocupar-se com a acessibilidade. (Sousa, 2014)
Assim, é importante que cada dia mais seja feito o uso da tecnologia, desde a
formação até tornar-se ferramenta de trabalho, para que se ampliem as
possibilidades de todas as pessoas com deficiência, cada uma a seu modo e com a
superação de suas limitações, sejam incluídas no campo do ensino e no mercado de
trabalho, de forma gradual e natural e sem a necessidade de se transpor grandes
barreiras.
7.4 A CONSTRUÇÃO DO MANUAL: A INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO COMO INSTRUMENTO PARA A RENOVAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL ACERCA DO DEFICIENTE
Apesar de Moscovici (2013) não afirmar que há possibilidade do sujeito se
colocar como agente em relação a seu meio social, de forma a atravessar e superar
a força das representações sociais (PENIN E ROBERT, 2013, p. 142), parece ser
duvidoso que a atuação dos indivíduos perante a sociedade não gere reflexos na
forma que estes são representados.
Um exemplo está na superação dos problemas enfrentados pelas pessoas
com deficiência, que por suas atitudes acabam desconstruindo a imagem que estes
demonstram à sociedade. Importante frisar que as representações sociais não são
uma cópia e sim uma tradução de uma realidade, que evolui e modifica-se
continuamente ao tempo e de acordo com as características das práticas culturais
(MOSCOVICI, 2012).
Talvez a forma mais efetiva para a desconstrução do estigma carregado pelo
deficiente, e sustentado pela imagem deste representada, é através da
demonstração prática dos equívocos e limitações nos olhares sobre a deficiência.
Isso porque ainda atribui-se ao deficiente a necessidade de uma série de alterações
de ordem física para que este possa se adequar à sociedade.
No entanto, tal posicionamento é incorreto, uma vez que é necessário
adequar à realidade às necessidades de cada um, para que enfim possa se traçar
um referencial de quanto essas mudanças afetam o ambiente. Isto posto, pode ser
criada uma nova imagem das pessoas com deficiência perante a sociedade, de
forma que o preconceito e o estigma seja deixado de lado, favorecendo a inclusão e
o convívio.
Uma das formas de se desconstruir essa imagem é através do trabalho, e
mais precisamente, o trabalho do jornalista. Já é certo que as pessoas com
deficiência possuem plena capacidade de trabalhar, desde que adaptadas suas
necessidades à função pretendida, e que esta esteja em conformidade com as
habilidades pessoais do individuo. No entanto, à medida em que as pessoas com
deficiência passam a trabalhar como jornalistas e, então, se posicionam no polo
ativo da representação social, torna-se muito mais fácil a aproximação da imagem
retratada pelos meios de comunicação do cenário verdadeiro das pessoas com
deficiência.
Os manuais de redação e jornalistas podem ser entendidos como um
instrumento de qualificação da produção jornalística, destinados a auxiliar os
jornalistas no processo de elaboração da notícia (BRONOSKY, 2010, p. 46), de
forma que orientam os profissionais através de sistematização de regras e normas
do mundo profissional, com o objetivo de refinar o trabalho e garantir a qualidade
das notícias.
Desta maneira, o manual de técnicas jornalísticas destinado às pessoas com
deficiência se traduziria em um roteiro prático a ser seguido por jornalistas com
deficiência, a fim de promover seu trabalho da melhor forma possível.
No caso, o manual seria um complemento dos manuais já existentes, uma
vez que estes são destinados às pessoas sem deficiência, o que acaba por limitar a
atuação daqueles que porventura apresentam alguma disfunção de ordem física,
sensorial ou mental.
8 METODOLOGIA DO PROJETO
Durante a elaboração do presente estudo, com o intuito de produzir um
manual de técnicas jornalísticas destinado a pessoas com deficiência, vislumbrou-se
dois modelos de pesquisa, quais sejam, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de
campo.
A pesquisa bibliográfica se deu com base na leitura de autores teóricos, que
apresentaram informações relevantes para a elucidação de temas como o estigma,
estereótipo, representações sociais, conceitos de deficiência, entre outros. Tal
pesquisa se deu em virtude da necessidade de compreensão de tais temas, visto
que, para solucionar um problema, primeiramente é necessário compreendê-lo.
A pesquisa de campo se deu com a busca de matérias jornalísticas que
tinham como tema as pessoas com deficiência, a fim de se verificar a forma pela
qual estes são retratados pela mídia, vez que tal ponto é fundamental na construção
dos quesitos estudados na parte teórica.
8.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
A pesquisa bibliográfica, como mencionado anteriormente, se deu com busca
nos quesitos teóricos do problema. Em um primeiro momento buscou-se
compreender o tema deficiência, analisando textos médicos que possibilitariam a
melhor elucidação do tema. Neste sentido, buscaram-se conceitos de neurologia,
medicina e biologia, utilizando-se da Revista Brasileira de Epidemiologia, Revista
Saúde Pública, entre outros livros especializados no tema.
Em seguida, buscou-se conceitos teóricos ,que estariam relacionados à forma
pela qual o deficiente é visto pela sociedade, ocasião em que foi utilizada a obra de
Goffman (1998) e Moscovici (2012), buscando os conceitos de estigma e
representação social, respectivamente. Ainda, dada a relevância do tema e sua
pesquisa anteriormente por outros acadêmicos em trabalhos de conclusão de curso,
foram utilizadas também monografias e trabalhos acadêmicos, todos relacionados
ao final deste trabalho.
Como o tema do presente projeto é a proposta de um manual de técnicas
jornalísticas destinadas às pessoas com deficiência, necessária é a compreensão do
tema para descobrir do que se trata o manual e como este deve ser realizado, para
isso, foi utilizado primeiramente o livro “Manuais de redação e jornalistas”, de
Marcelo Engel Bronosky (2012).
Também se mostrou necessária a pesquisa para verificar a existência de
outros manuais que poderiam ter a mesma relação com o tema, entretanto, devido
ao seu critério de ineditismo não foi possível a localização de nenhum trabalho que
guardasse o mesmo tema que o presente, razão pela qual, reforça a necessidade de
produção do trabalho.
8.2 PESQUISA DE CAMPO
Após a coleta de todo material teórico, foi necessário dar início à parte prática
do trabalho. Desta forma, para entender como o conceito de representação social e
estigma era difundido pela mídia, foi realizada uma pesquisa a respeito das notícias
veiculadas pelo site do jornal gazeta do povo no período compreendido entre janeiro
de 2014 e janeiro de 2015, utilizando-se da ferramenta de “busca” do site com uma
janela de detecção de um ano. No caso, as palavras chave utilizadas na busca das
matérias foram “deficientes”, “deficiência”, “deficiente”, “cadeirante” e “deficiente
físico”.
Tal escolha de pesquisa se deu pelo fato da tecnologia digital facilitar as
buscas, visto que a ferramenta disponibilizada pelo site otimiza tempo ao pesquisar
as matérias. Ainda, por todas as matérias físicas serem também disponibilizadas no
formato digital, não havia razão para não se optar pela maneira mais prática.
Como a pesquisa das matérias jornalísticas envolvendo o tema, passou-se a
análise de cada uma delas, percebendo nos mínimos detalhes a forma pela qual os
deficientes eram retratados, desde as palavras utilizadas para se referir a tais
pessoas, bem como aos temas escolhidos pelos jornalistas.
9 DELINEAMENTO DO PRODUTO
9.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A PLATAFORMA
O produto deste Trabalho de Conclusão de Curso é uma plataforma
multimidiática em formato de manual, que visa auxiliar as pessoas com deficiência
que queiram entrar na área de jornalismo, bem como contribuir com os jornalistas
que precisam representar o deficiente nas reportagens.
A plataforma “Jornalismo para Todos: Manual de Jornalismo Inclusivo para
Pessoas com Deficiência”18 apresenta as mesmas informações sobre a prática da
profissão e a relação com o deficiente, mostrando, por exemplo, quais são os termos
adequados para se referir ao deficiente e técnicas de como se portar ao entrevistar
uma pessoa com deficiência.
A estruturação do site foi feita visando à acessibilidade para cada tipo de
deficiência, seja ela sensorial ou físico-motora. No portal ,foram apresentados sites,
programas e aplicativos que pudessem auxiliar pessoas com diferentes tipos de
deficiência.
A plataforma está planejada de forma a servir como uma bibliografia
consultiva para os deficientes que necessitam de orientações em relação à
execução das atividades jornalísticas. Por esta razão, o site será organizado por
seções relativas às várias atribuições da rotina diária do jornalista, de modo que o
usuário possa consultá-lo com facilidade de acordo com a sua demanda.
Além das orientações sobre as diversas atividades realizadas pelo jornalista,
as seções ainda contêm depoimentos de pessoas que são estudantes e também
das que já exercem a profissão, os quais ilustram de que forma executam tais
dinâmicas na sua rotina produtiva.
18
Endereço eletrônico: http://www.jornalismoparatodos.com.br.
9.1.1 Nome do projeto
O nome Jornalismo para Todos foi escolhido para indicar o conceito buscado
do projeto. Reverter os estigmas relacionados aos deficientes e fomentar a inclusão
social é um dos principais objetivos do trabalho. Para tal, a nomeação segue o
mesmo conceito, que é buscar a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade
por intermédio do jornalismo.
9.1.2 Logo e layout
A logo, realizada pela Agência Interage19, foi inspirada no intuito de se utilizar
algumas das principais ferramentas de trabalho de um jornalista, por exemplo, a
câmera filmadora, a câmera fotográfica, o bloco de anotações, o jornal e um
notebook.
A escolha do layout foi feita por meio dos modelos disponíveis na plataforma
Wordpress. Para escolher o tema foram utilizados critérios como usabilidade,
acessibilidade e possibilidade de customização. Optou-se por manter o layout em
forma de blog, em que aparece o primeiro parágrafo do texto da notícia e se o leitor
se interessar pelo término da matéria ele clica em ‘continuar lendo’ e é rapidamente
direcionado ao texto completo. Caso não haja interesse naquela matéria
especificamente, o próximo texto aparece na sequência da página.
As letras grandes nas cores preto e cinza, bem como imagens em destaque,
contrastam com o plano de fundo é branco. Elementos que harmonizam com a
coloração da própria logo, elaborada em tons de azul, verde e vermelho. No menu
principal, há links que facilitam a navegação do usuário, dividido em oito partes.
É possível visualizar os textos escritos navegando pelos conteúdos por meio
das categorias específicas, conferir os vídeos postados, que permanecem em
destaque na home no lado direito da página, assim como os links de
compartilhamento pelas redes sociais.
19 A Interage é a Agência Experimental do curso de Publicidade e Propaganda do UniBrasil Centro Universitário.
Pensando na acessibilidade a página disponibiliza um botão em destaque, no
lado superior direito, que direciona o internauta a um texto que explica quais são as
ferramentas que permitem a navegação no blog para pessoas com deficiência.
Figura 1 – banner do site
9.1.3 Arquitetura do site
Foi desenvolvido um menu principal com categorias e subcategorias, de modo
a facilitar a procura por conteúdo. A divisão ocorreu da seguinte forma:
Home: página inicial ou de entrada do site. Por meio dela os internautas
podem conferir os principais conteúdos postados na ordem cronológica, dos textos
mais recentes para os mais antigos. Nesta área se encontram as chamadas, que
são pequenos textos onde tem o link ‘leia mais’, o qual leva para a pagina do
conteúdo completo das matérias.
Sobre: página que apresenta um breve texto contando a política do site,
conta também com uma sub-aba destinada à apresentação de todas as pessoas
que contribuíram com construção do site, com fotos e um breve perfil sobre o
colaborador.
Guia para jornalistas: centro do manual, nesta seção do site encontra-se
dicas para o exercício do jornalismo para pessoas com alguma deficiência. De forma
a facilitar a busca e o acesso, a área é divida em apuração, checagem, como
entrevistar e ferramentas e acessibilidade. A subseção ‘Apuração’ traz informações
importantes para que os jornalistas possam apurar dados para as matérias e
reportagens. Em ‘Checagem’, orientações sobre como verificar se as informações
coletadas são verídicas. Na área ‘Como Entrevistar’ são passadas algumas técnicas
de entrevista e comunicação com as fontes. Por fim, em ‘Ferramentas e
Acessibilidade’, há a indicação de programas e softwares que podem auxiliar a
pessoa com deficiência no exercício de sua profissão.
Vida Acadêmica: esta seção traz uma série de reportagens que apresentam
a trajetória de acadêmicos que têm alguma deficiência, os quais contam como é a
vivência na universidade, quais são os desafios diários e como se da a inclusão no
ambiente de ensino. A subcategoria ‘Dia a Dia’ apresenta algumas entrevistas com
alunos que falam sobre o cotidiano, as referências de profissionais de jornalismo, as
dificuldades enfrentadas nas aulas práticas, além de outros assuntos relacionados à
rotina do estudante.
Manual de Boas Práticas: a página conta com uma série de conteúdos que
apresentam ao leitor informações que ajudam no relacionamento com a pessoa que
tem alguma deficiência. O intuito desta seção é melhorar a comunicação e o
relacionamento entre as pessoas que tem deficiência e as que não têm. Parte deste
conteúdo foi adaptado da “Cartilha de Comportamentos, Mitos e Verdades”, da
Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Curitiba20, e do “Guia
de Boas Práticas Para Jornalistas”, do Grupo de Reflexão Media e Deficiência de
Portugal. A subseção ‘Nomenclatura’ apresenta quais são os termos corretos que
devem ser usados para se referir ao deficiente. Na área ‘Resultado: como o
jornalista fala sobre a pessoa com deficiência’ são apresentados dados da pesquisa
realizada com jornalistas que apontam como os repórteres se referem ao deficiente.
Outra subcategoria é a ‘Como se portar diante de uma pessoa com deficiência’, que
traz informações sobre qual é o comportamento ideal que se deve manter ao se
relacionar com um deficiente, seja qual for a deficiência do individuo. A área ‘Olhar
sobre a Deficiência – Análise de Reportagens’ é uma coluna de análises de como o
deficiente é representado na mídia. A coluna é escrita pela jornalista Emily Kravetz,
egressa da Instituição.
Vídeos: esta página apresenta todo o conteúdo feito vídeo.
Notícias: matérias que tem como temática eventos, datas comemorativas,
ações, iniciativas, dicas e orientações sobre os direitos das pessoas com deficiência
e muito mais. Quando o leitor clicar em ‘Continue lendo” ou no título da matéria na
home será direcionado para está categoria de notícias. Na subcategoria ‘Conheça
20 Cartilha criada pela Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Curitiba. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.curitiba.pr.gov.br/conteudo/cartilhas/145>.
os direitos para pessoas com deficiência’ encontram-se as leis que garantem os
direitos das pessoas com deficiência. Na outra subcategoria denominada ‘Eventos’
há um calendário de datas comemorativas relacionadas às pessoas com deficiência,
e também os eventos realizados com foco nos deficientes.
Participe: essa categoria é destinada aos leitores do site, para que possam
compartilhar as histórias, dificuldades e conquistas. Além disso, também há um e-
mail para contato.
No canto direito de todas as páginas fica disponível uma coluna com os
vídeos postados no site, os links para as redes sociais e um menu de categorias.
9.2 ENTREVISTADOS
Para a produção do manual, foram selecionadas inicialmente oito pessoas,
sendo cinco jornalistas e três estudantes de Jornalismo, todos com algum tipo de
deficiência. O objetivo foi fazer uma coleta de informações referente aos temas e
pautas que interessariam ao público alvo. As entrevistas foram feitas in loco, por
telefone e por e-mail.
Os entrevistados são21:
Henry Baptista Xavier, deficiente visual e radialista em Curitiba e já trabalhou
na CNT;
Luiz Jansson tem paralisia cerebral e trabalhou no jornal Gazeta do Povo por
quatro anos;
Patrícia Tancredo tem paralisia cerebral e é formada em Jornalismo na cidade
de São Paulo;
Eduardo Silva Purper tem paralisa cerebral e baixa visão, é formado pelo
Centro Universitário Metodista - IPA do Rio Grande do Sul, e Pós-Graduado
em Rádio e TV pela Universidade Tuiuti do Paraná. Trabalha no núcleo de
comunicação da Tuiuti;
Emilia Cussama é deficiente visual total e é estudante do terceiro ano de
Jornalismo em Curitiba;
21
As entrevistas estão compiladas ao final da pesquisa, no Anexo II.
Roberto Lourenço da Silva tem deficiência visual e está no oitavo período do
curso de jornalismo;
Enrico Luca de Meira Boschi tem diplegia dos membros inferiores, é formado
em Publicidade e Propaganda, e está no sexto período de Jornalismo em
Curitiba.
A partir das oito entrevistas, foram definidas as pautas que seriam apuradas
no manual.
9.3 ESTRATÉGIAS DE DIVULGAÇÃO
Fanpage: com o objetivo de potencializar a divulgação e repercutir os
conteúdos frente ao público alvo, foi criada uma fanpage na rede social Facebook
com o mesmo nome do site, Jornalismo para Todos. Além disso, a página serve
para agrupar pessoas interessadas a temas relacionados às deficiências e
compartilhar todo tipo de conteúdo relevante ao assunto.
Canal no Youtube: o canal na plataforma Youtube reúne todos os vídeos
produzidos para o manual, que são divulgados também nas demais redes sociais e
no próprio site.
Estratégias de assessoria de imprensa: O projeto Jornalismo para Todos
conta ainda com o apoio da assessoria de imprensa da instituição de ensino no que
diz respeito ao agendamento do manual nos veículos jornalísticos locais e regionais.
9.4 COLABORADORES
Para otimizar a confecção do manual, o site Jornalismo para Todos contou
com uma rede de colaboradores voluntários, entre estudantes e professores do
curso de Jornalismo, que produziram conteúdos e auxiliaram no planejamento e
execução da plataforma de acordo com as especificidades das suas áreas do
conhecimento.
Conteúdos jornalísticos: os alunos do oitavo período Camila Nichetti, Camile
Kogus e Guilherme Pinheiro auxiliaram na produção de materiais jornalísticos de
acordo com as pautas estipuladas pelo autor.
Planejamento da plataforma: as estratégias digitais na produção do manual
foram consolidadas por meio de orientações com os professores Rodrigo Fiorin e
Gabriel Bozza, de modo a otimizar o acesso ao manual às pessoas com ou sem
deficiência. Da mesma forma foram planejadas estratégias vinculadas às premissas
do jornalismo digital, no que diz respeito a questões de interatividade, dinamismo,
usabilidade e a exploração de conteúdos multimidiáticos.
Critica de mídia: a jornalista egressa do UniBrasil, Emily Kravetz, produziu
uma coluna de análise crítica de reportagens jornalísticas no intuito de levantar a
discussão sobre a representação das pessoas com deficiência na mídia. Assim a
seção pretende contribuir com o aprimoramento da abordagem jornalística acerca
deste tema.
Ilustrações: o aluno do segundo período do curso de Design do UniBrasil
Carlos Godoi criou ilustrações exclusivas para acompanhar a seção ‘Como se portar
diante de pessoas com deficiência’.
9.5. DEFINIÇÃO DE PAUTAS
Após colher todas as entrevistas e o questionário que aplicado, juntamente
com a orientadora Maura Martins, foram selecionadas as repostas mais relevantes
para a criação das pautas.
Os temas foram definidos a partir de uma reunião, que contou com a
presença dos colaboradores e da orientadora do projeto, na qual foram apontados
os assuntos que eram mais pertinentes à proposta da plataforma, com base nas
respostas selecionadas dos questionários. A partir disso, foi criada uma lista de
pautas que foram redistribuídas aos voluntários participantes.
Após isso, cada repórter ficou encarregado de produzir em torno de cinco
matérias. O processo de apuração e edição ficou por conta dos colaboradores que,
após a finalização do material, encaminharam todos os conteúdos para revisão e
aprovação do editor-chefe, Marcio Taniguti, e da orientadora do projeto, Maura
Martins.
9.6. PRODUÇÃO DOS VÍDEOS
Três vídeos foram feitos pela aluna do oitavo período de jornalismo Camile
Kogus, um foi enviado por e-mail pela entrevistada Patricia Tancredo, que mora em
São Paulo, e um foi produzido pelo autor do trabalho e do site. Na sequência, os
materiais foram decupados e editados na ilha de edição do UniBrasil Centro
Universitário.
No estúdio, foram passadas as orientações necessárias e acompanhados os
serviços prestados pelo técnico em edição de vídeos da instituição. Devido à falta de
disponibilidade do tempo de três entrevistados não foi possível, até a apresentação
deste trabalho, fazer os vídeos.
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou trazer para o debate em sociedade as dificuldades pelas
quais as pessoas com deficiência passam para entrar no mercado de trabalho, bem
como em instituições de ensino superior, apresentando uma alternativa para a
inserção destes profissionais no mercado de trabalho.
Além disso, a pesquisa aqui desenvolvida também propôs uma nova
perspectiva sobre a representação da pessoa com deficiência pela mídia, o que gera
um estigma dentro da sociedade.
Deste modo, o produto proposto incluiu, ainda, um manual de boas práticas
destinado a jornalistas que tratam do tema da deficiência em suas matérias. O
intuito, portanto, é de que o site “Jornalismo para Todos” consiga contemplar seus
objetivos não apenas na inserção das pessoas com deficiência na prática do
jornalismo, mas colabore com uma reflexão e posterior mudança sobre como este
tema é abordado na mídia.
Para isso, foi realizada uma pesquisa visando analisar como profissionais do
Jornalismo abordam o tema e como estudantes de jornalismo com deficiência
frequentam a faculdade. Ela consistiu em um questionário de 23 perguntas
relacionadas à temática e que buscavam trazer a percepção destas pessoas sobre o
assunto. O questionário foi enviado para jornalistas e estudantes com deficiência.
Além disso, também foi realizada uma análise de conteúdo e uma pesquisa
quantitativa dentro do site Gazeta do Povo, entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015,
visando avaliar matérias que abordassem de alguma maneira pessoas com
deficiência. Para isso, foram utilizados os conceitos teóricos de Goffman (1998) e
Moscovici (2012) e também a definição do termo correto para pessoas com
deficiência emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A partir das respostas, foi decidido criar uma plataforma que abrigasse
conteúdos pertinentes à discussão, bem como a criação de um manual de boas
práticas que servisse de orientação para jornalistas que tratassem sobre o tema e
contou com a colaboração de voluntários na produção de conteúdo.
Todo o processo de produção do presente trabalho serviu para ampliar os
horizontes dentro do âmbito do jornalismo, bem como do cotidiano das pessoas com
deficiência. O projeto proporcionou troca de experiências essenciais para a reflexão
sobre o modo como tema é abordado na mídia e como podemos melhorar essa
visão. Além disso, ele também serviu de exercício da prática de um jornalismo mais
humanizado com uma perspectiva de produção mais sensível.
Os desafios para a conclusão do projeto foram vários. Todos os obstáculos
enfrentados por jornalistas diariamente, tais como: deadline, busca de temas,
apuração, entrevista com fontes e etc., também foram vencidos para a produção do
portal. Para isso, o presente trabalho contou com a participação de uma equipe de
colaboradores voluntários que, além de auxiliarem na elaboração dos conteúdos,
também se tornaram multiplicadores de ideais sobre o tema.
De modo geral, o Jornalismo para Todos espera tornar-se uma referência
para profissionais e estudantes de Jornalismo que tenham algum tipo de deficiência,
gerando, assim, o engajamento de mais pessoas pelo tema servindo de base para
outras pesquisas e projetos da área.
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
Anexo I
Anexo II
Henry Baptista Xavier:
1) Como você faz as entrevistas?
R: Estudo o entrevistado antes, procuro imaginar o que quem está me ouvindo quer
saber e procuro fazer as perguntas necessárias para fechar a minha matéria.
2) Como checa as fontes?
R: Sempre confirmando com os envolvidos, nunca indo por informações oficiosas.
Prefiro perder alguns minutos e dar a informação correta, do que dar a notícia antes
de todos e ela não se confirmar.
3) Quais as suas principais dificuldades para exercer a profissão de jornalista?
R: Acho que a principal é fazer com que os diretores e coordenadores que não
conhecem o trabalho de um portador de deficiência procurem dar a oportunidade
sem medo, claro que eles não tem a obrigação de saber que, no caso, podemos
desempenhar com qualidade a mesma função que outra pessoa desempenharia,
basta as pessoas acreditarem mais umas nas outras.
Luiz Jansson
1) Você sente alguma diferença em relação à abordagem das fontes por ser
deficiente? Se sim, explique.
R: Pelas fontes, por vezes, alguma estranheza ou surpresa, mas sem tom de
preconceito nenhum.
2) Você sente alguma diferença no tratamento com seus chefes ou colegas de
profissão por ser deficiente? Se sim, explique.
R: Não sei se seria preconceito a palavra, mas, por vezes, senti que faltou
acreditarem mais em mim e no meu trabalho. Entendo todas as preocupações da
empresa por ser alguém com limitações, mas acredito que se uma pessoa com
deficiência se propõe a fazer algo, é porque está segura e sabe que pode dar mais.
3) E a deficiência, trouxe alguma vantagem para o exercício da profissão?
R: O ingresso foi fácil por conta da vaga disponível para pessoas PCD, mas meu
desenvolvimento, quando fui promovido, foi mais dificultoso, pois tive que me
mostrar plenamente apto para a nova função. Tirando isso, tudo aconteceu
normalmente. Aliás, uma coisa que vale a pena ressaltar é que vaga para PCD tem,
mas cargos em áreas que realmente queremos é difícil. Quando não te enchem de
perguntas pertinentes à vaga, fazem outras, por vezes indiscretas e bobas. Eu
mesmo já cheguei a me candidatar a vagas para as quais não informei ser
deficiente. Não por vergonha, mas em busca de mais oportunidades de poder me
mostrar mesmo na seleção. Por fim, acredito que neste aspecto o candidato, deveria
ter "prioridade" após a primeira entrevista, se estivesse no perfil da vaga ofertada.
Estes anúncios de vagas previamente anunciadas, por vezes, prejudicam ao invés
de beneficiar.
4) Em qual área do jornalismo você trabalha ou trabalhou? Existem boas
perspectivas?
R: Anteriormente, na editoria cultural. Pretendo continuar em grandes veículos de
comunicação e atuar em diferentes editorias. Porque, para mim, jornalista que muito
seleciona, se limita.
Patrícia Tancredo
1) Como você faz as entrevistas?
R: As entrevistas para o TCC e para a disciplina de telejornalismo foram feitas
presencialmente, meus pais me levavam. Para os outros trabalhos, as entrevistas
foram feitas por e-mail.
2) Você tem alguma referência profissional dentro do jornalismo?
R: Tenho algumas. O jornalista Jairo Marques, por abordar a deficiência de forma
natural. No telejornalismo, tenho Neide Duarte, Marcelo Canellas e Ednei Silvestre
por abordarem assuntos com sensibilidade ímpar.
3) Teve alguma disciplina que você enfrentou mais dificuldade? Qual foi e por quê?
R: Tive um pouco de dificuldade nas disciplinas práticas. A dificuldade foi à
necessidade de usar a voz.
Eduardo Silva Purper
1) É formado há quantos anos?
R: Sou formado há 6 anos, pelo Centro Universitário Metodista - IPA do Rio Grande
do Sul, e fiz Pós-Graduação em ráadio e TV pela Universidade Tuiuti do Paraná.
2) Teve alguma disciplina que você enfrentou mais dificuldade? Qual foi e por quê?
R: Tive dificuldade na disciplina de diagramação, devido a minha visão.
3) Como você faz as entrevistas?
R: Eu faço uso do gravador, como as matérias são para a rádio, faço as entrevistas
em áudio.
4) Quais as suas principais dificuldades para exercer a profissão de jornalista?
R: Minha maior dificuldade é não conseguir trabalhar no computador.
Emilia Cussama
1) Em algum momento você se sentiu limitada para cursar a graduação?
R: Sim, quando foi para fazer fotos e filmagens, vi que isso, para cego, é um pouco
limitado. Foi feito um trabalho em equipe e eu vi que estava ficando de lado, quando
sugeri para minhas colegas, que elas filmariam e eu faria as perguntas e a
entrevista, a partir desse momento fui me envolvendo.
2) Como é o acesso dentro da faculdade?
R: Bom, tem linha tátil no chão, para eu saber onde estou, tem elevadores com voz
e também em braile.
3) Como faz para anotar o que o professor passa?
R: Através do computador, tem adaptação com voz.
4) Como você faz as entrevistas?
R: Nas entrevistas eu faço em equipe, uma colega grava ou fotografa, a outra
segura o microfone e eu faço a entrevista.
5) Como checa as fontes?
R: Eu geralmente faço através do computador, ele é minha ferramenta de trabalho.
Roberto Lourenço da Silva
1) Como eram as provas? Havia alguma diferença entre aquelas aplicadas aos
outros alunos?
R: Nas provas, sempre pedi que fossem ampliadas e impressas em fonte 16,
enxergo na tamanho normal 12, mas, para evitar o desgaste visual, sempre pedi em
tamanho maior.
2) Fazia estágio na área?
R: Não, mas nos meus últimos 2 anos de faculdade fui funcionário de um jornal e,
sendo assim, tive a oportunidade de fazer um estágio indireto, por assim dizer, e
apreender olhando na convivência do dia a dia da profissão.
3) Em algum momento você se sentiu limitado para cursar a graduação?
R: Acredito que ao longo do curso todos sentimos dificuldades para desenvolver
certas atividades, tendo alguma deficiência física ou não, contudo lógico que o fato
de ter que sempre superar as limitações da visão, cheguei a achar que não iria
conseguir realizar determinadas atividades. Entretanto, meu desejo de fazer aquilo
que amo sempre foi maior que qualquer dificuldade que passei ao longo da minha
formação acadêmica, sempre me motivando com uma força mental e superação fora
do comum.
Enrico Luca de Meira Boschi
1) O que te levou a cursar jornalismo?
R: Primeiramente, uma proximidade e afinidade com as letras. Aprendi a “lógica da
escrita” estudando em casa antes mesmo de integrar o ensino regular e, desde os
10 anos, sonhava em trabalhar na redação de um grande jornal, revelando fatos e
contribuindo com a sociedade.
2) Teve alguma dificuldade para entrevistar alguma fonte?
R: Sim, em um evento que reunia colecionadores de carros, em um espaço público
bastante amplo, sem muitas opções de apoio
3) Como checa as fontes?
R: Hoje a internet ajuda muito nesse processo. Uma busca em entrevistas anteriores
ou mesmo em redes sociais pode revelar muitos aspectos, tanto da vida pessoal ou
profissional, tanto de entrevistado, quanto de fontes. Sempre existe a possibilidade
de se buscar opiniões de colegas de profissão, órgãos de informação ou de
pesquisa especializados na requerida informação e, em último caso, um encontro
pessoal.
4) O que você gostaria de saber e que percebe que é pouco divulgado na mídia, em
relação às pessoas com deficiência?
R: Acho que é necessário uma real absorção desse profissional por parte das
empresas, indo além da simples inclusão para cumprimento de demandas legais.
Nesse sentido, a mídia deve retratar o PCD como alguém com plena capacidade de
contribuir efetivamente com a organização, podendo, inclusive, exercer cargo de
liderança se estiver capacitado para tal.
5) Você sente alguma diferença no tratamento com seus chefes ou colegas de
profissão por ser deficiente? Se sim, explique.
R: Sim, e, em alguns casos, muito evidentes. O profissional PCD tem de conviver
com o estigma das cotas mesmo que não seja esse o caso. Do mesmo modo, seus
eventuais erros podem ser, dependendo do gestor, vistos com uma carga maior de
importância em relação aos demais colegas.