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TERMO DE APROVAÇÃO MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI SITE “JORNALISMO PARA TODOS: MANUAL DE JORNALISMO INCLUSIVO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA” Trabalho de conclusão de curso aprovado com nota 10,0 como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Jornalismo pelo UniBrasil Centro Universitário, mediante banca examinadora composta por: Prof.(a) e Presidente Maura Martins Prof.(a) Elaine Javorski Prof.(a) Paulo Camargo Curitiba, 20 de abril de 2016.

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TERMO DE APROVAÇÃO

MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI

SITE “JORNALISMO PARA TODOS: MANUAL DE JORNALISMO INCLUSIVO PARA PESSOAS

COM DEFICIÊNCIA”

Trabalho de conclusão de curso aprovado com nota 10,0 como requisito parcial

para a obtenção do grau de bacharel em Jornalismo pelo UniBrasil Centro Universitário,

mediante banca examinadora composta por:

Prof.(a) e Presidente

Maura Martins

Prof.(a)

Elaine Javorski

Prof.(a)

Paulo Camargo

Curitiba, 20 de abril de 2016.

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UNIBRASIL CENTRO UNIVERSITÁRIO

MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI

SITE “JORNALISMO PARA TODOS: MANUAL DE JORNALISMO

INCLUSIVO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA”

CURITIBA

2015

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MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI

SITE “JORNALISMO PARA TODOS: MANUAL DE JORNALISMO

INCLUSIVO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA”

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo do Unibrasil Centro Universitário. Orientadora: Prof.ª Msc. Maura Martins.

CURITIBA

2015

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a minha família, que o tempo todo acreditou

em mim e apoiou a minha formação, especialmente minha mãe, que esteve

comigo diariamente ao longo desses cinco anos, sendo muito mais que mãe,

sendo meus braços, minhas pernas, e o principal motivo por eu nunca ter

desistido ao ver as barreiras no caminho.

Aos mestres e doutores, com os quais tive a oportunidade de conviver,

ainda que temporariamente, pelos ensinamentos que tive, agradeço através

dos Professores Gabriel Bozza e Elaine Javorski, os quais deram dicas

valiosas para aperfeiçoar esse trabalho, e da Professora Danieli Ribas, que me

forneceu amparo material.

Aos meus colegas de graduação, pelo prazer da companhia ao longo da

trajetória dessa etapa única de nossas vidas, e ao Edson Felício, que sempre

me auxiliou de diversas formas desde o dia em que prestei vestibular.

Aos meus colaboradores Camile Kogus, Camila Nichetti, Emily Kravetz,

Guilherme Pinheiro Dos Santos e Noele Dornelles, que, de alguma forma,

colaboraram na construção do site, e na produção de conteúdos do produto

final deste trabalho, bem como aos professores Rodrigo Fiorin, que ajudou na

criação do site, e Kátia Fontoura, que fez o banner.

Aos estudantes de jornalismo e jornalistas que me concederam as

entrevistas, pois sem elas não seria possível a construção desse trabalho:

Henry Baptista Xavier, Luiz Jansson, Patrícia Tancredo Eduardo Silva Purper,

Emilia Cussama, Roberto Lourenço da Silva e Enrico Luca de Meira Boschi, e

também àqueles que responderam o questionário.

Por fim, mas não menos importante, agradeço imensamente à

Professora Maura Martins, pelo orgulho de poder ter sido seu orientando, por

todo o suporto, pelas dicas, pela dedicação, seu comprometimento e pela sua

paciência durante as orientações.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo a produção de um guia multimídia, cujo conteúdo, apresentado através de um site, aborda técnicas jornalísticas, experiências acadêmicas e profissionais, para auxiliar as pessoas que tenham algum tipo de deficiência, que pretendam entrar para a área do Jornalismo, ou que já são profissionais, de modo a contribuir para sua inserção e manutenção no mercado. Para isso, o projeto visa atender as dificuldades que permeiam a colocação de deficientes no mercado do Jornalismo, analisando a questão estrutural e social, que ocasionas sua exclusão e também o preconceito oriundo de uma imagem muitas vezes distorcida das pessoas com deficiência. Além disso, o trabalho realiza a análise da imagem do deficiente pela mídia e, também, a forma pela qual tal imagem pode ser desconstruída. Assim, o objetivo principal do presente estudo é auxiliar na desconstrução do estigma que cerca a pessoa com deficiência, mostrando que suas limitações, sejam elas sensoriais ou físicas, não são impeditivas do exercício de uma profissão, mesmo que algumas mudanças sejam necessárias para tanto, indicando, ainda, algumas soluções práticas para que as pessoas com deficiência trabalharem na área de jornalismo, mostrando a forma como alguns profissionais lidaram com as dificuldades encontradas ao longo da sua experiência, de modo a apresentar alternativas para facilitar seu dia a dia e, com tudo isso, estimular a quebra do estigma que envolve essas pessoas.

Palavras-chave: guia multimídia; deficiência; Jornalismo; exclusão; preconceito; estigma.

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SUMÁRIO

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1 INTRODUÇÃO

O projeto visa atender as dificuldades que permeiam a colocação de

deficientes no mercado de trabalho, em especial no jornalismo, analisando não só a

questão estrutural, que ocasiona em sua exclusão, como também a questão social,

presente no preconceito oriundo de uma imagem muitas vezes distorcida das

pessoas com deficiência.

Em um primeiro momento, há a análise da imagem do deficiente pela mídia,

e, em seguida, a forma pela qual tal imagem pode ser desconstruída. Por fim,

analisa-se a possibilidade destas pessoas exercerem a profissão de jornalista a

partir de casos concretos envolvendo deficientes que exercem suas funções

normalmente.

A existência de pessoas que apresentam alguma disfunção corporal sempre

foi uma realidade na espécie humana. Ao longo da história, sempre houve indivíduos

que apresentavam sinais que os diferenciava dos demais, sejam eles físicos,

cognitivos ou sensoriais. As diversas sociedades que existiram tratavam seus

deficientes de maneira diferente: enquanto certos povos acreditavam serem estes

inferiores aos demais, e por isso deveriam ser segregados do convívio social, e até

mesmo extintos, outras sociedades demonstravam que tais indivíduos careciam de

cuidados especiais.

De uma época em que as funções motoras eram de extrema importância para

a sobrevivência, hoje o homem convive com menos dificuldades e obstáculos em

relação a períodos anteriores. A caça, a pesca e outras atividades laborais foram

substituídas por trabalhos intelectuais, de forma que o uso da força foi

gradativamente sendo substituído pelo uso de máquinas, restringindo o homem ao

seu controle. Tal processo demonstra a adaptação do ser humano para o

desenvolvimento do trabalho, em que ocorre a substituição do trabalho manual pelo

intelectual1.

Tais avanços tecnológicos e científicos possibilitaram às pessoas que

apresentassem alguma disfunção exercerem funções idênticas às exercidas pelos

demais; no entanto, o preconceito, derivado de uma imagem pejorativa dos

1 BRAGA, Vitor. Conflito Homem/Máquina/Economia. Disponível em:

<http://www.cin.ufpe.br/~if679/textos/ConflitoHomemMaquinaEconomia.html>. Acesso em: 23 fev. 2015.

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deficientes, fez com que estes fossem cada vez mais afastados do mercado de

trabalho. A concorrência fez com que os candidatos aos cargos de emprego fossem

cada vez mais especializados, ao passo que aqueles que demonstravam alguma

dificuldade, eram imediatamente descartados dos processos seletivos.

Tratar de deficiência não é um tema fácil, visto que diante da complexidade

do corpo humano, infinitas são as características pessoais que levam os indivíduos a

apresentarem algum tipo de deficiência e, em consequência disso, os reflexos do

mundo exterior frente a sua disfunção são apresentados de maneira diferente.

O mercado de trabalho, após as revoluções industriais, se tornou um

ambiente de extrema competição, em que indivíduos ligeiramente qualificados

auferiam melhores posições profissionais, gerando assim uma corrida para que

estes se qualificassem e melhorassem cada vez mais suas habilidades para disputar

as tão sonhadas vagas de trabalho.

No entanto, não seria diferente que o deficiente encontraria maiores

obstáculos a sua inserção, de forma que o simples fato de demonstrar alguma

deficiência o afasta dos processos seletivos, segregando aquele, que devido a uma

construção errada de imagem, perde posições frente aos considerados normais.

Reduzindo o número para deficientes físicos e, dentre esses, para aqueles

que querem apenas trabalhar na área de jornalismo, começa-se a ter uma ideia de

que esse número de pessoas talvez não seja tão expressivo quanto os dados do

IBGE, mas são, igualmente, seres humanos e primando pela dignidade concedida

pela Constituição Federal, tenta-se elaborar quais as dificuldades que talvez essas

pessoas estejam enfrentando na rotina diária.

Dessa forma, é necessário o estudo para auxiliar em uma maior colocação de

pessoas com deficiência no mercado de trabalho, em especial, no campo do

jornalismo.

Neste trabalho, será apresentada uma análise sobre o mercado de trabalho

jornalístico para pessoas com deficiência, bem como o site Jornalismo para Todos,

que tem como objetivo auxiliar esse profissionais no dia a dia.

O projeto está dividido em dez capítulos sendo que o primeiro e o segundo

são destinados a apresentação do tema – abordando conceitos como o que é

deficiência, tipos de deficiência e estigma do deficiente - e dos resultados obtidos

com a análise do deficiente na mídia. Dos capítulos três ao seis, o problema que foi

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analisado neste trabalho, bem como a justificativa e objetivos do mesmo são

elencados, juntamente com uma breve explicação sobre a proposta do site.

No sétimo capítulo, são apontados autores que permearam este projeto,

juntamente as teorias e conceitos que serviram de embasamento. Já no oitavo, são

explicadas as metodologias utilizadas. Por fim, o nono e décimo capítulos são

destinados a explicar a proposta e o resultado do produto Jornalismo para Todos,

bem como as considerações finais sobre o estudo.

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2 IDENTIFICAÇÃO DO TEMA E DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

2.1 A TERMINOLOGIA DEFICIÊNCIA

A deficiência, como alteração na capacidade física ou intelectual do indivíduo,

sempre esteve presente nas mais diversas espécies animais e vegetais. Em relação

à espécie humana, diversas foram as terminologias utilizadas para denominar

aqueles que por ventura apresentavam alguma alteração em relação ao padrão

considerado normal.

A palavra deficiência tem sua origem derivada do termo em latim deficientia,

que se traduz por falta ou enfraquecimento2. A definição de deficiência sofreu

diversas alterações no decorrer dos anos. Devido a avanços nas áreas de tecnologia

e medicina, a sociedade passou a encarar a questão da deficiência de maneira

diversa.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui duas classificações de

referência para a descrição dos estados de saúde, a CID-10 e a CIF, sendo que a

segunda compreende funcionalidade e deficiência como uma interação dinâmica

entre problemas de saúde e fatores contextuais, tanto pessoais quanto ambientais3.

Nas análises de resultados feitas pelo Censo Demográfico de 2010, realizado

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), definiu-se a deficiência

como a incapacidade ou limitação das funções e estruturas do corpo, de forma que

fatores externos também são levados em conta:

O conceito de deficiência vem se modificando para acompanhar as inovações na área da saúde e a forma com que a sociedade se relaciona com a parcela da população que apresenta algum tipo de deficiência. Dessa forma, a abordagem da deficiência evoluiu do modelo médico – que considerava somente a patologia física e o sintoma associado que dava origem a uma incapacidade – para um sistema como a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF, divulgada pela Organização Mundial da Saúde - OMS (World Health Organization-

2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Olanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 1986, p. 528. 3 Relatório Mundial Sobre a Deficiência. Disponível em:

<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44575/4/9788564047020_por.pdf >. Acesso em: 25 de fev. de 2015.

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WHO) em 2001, que entende a incapacidade como um resultado tanto da limitação das funções e estruturas do corpo quanto da influência de fatores sociais e ambientais sobre essa limitação (IBGE, 2010, p. 71).

No Brasil, há ainda uma definição legal para deficiência, encontrada no

Decreto nº 3.298/994, que regulamenta a Lei 7.853/89, a qual dispõe sobre a Política

Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência:

Art. 3o Para os efeitos deste Decreto, considera-se:

I - deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II - deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e III - incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. Art. 4o É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho; V - deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.

4 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 27 fev. 2015.

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Com o advento da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos

Direitos e Dignidade das pessoas com deficiências, que ocorreu no dia 30 de março

de 2007, decidiu-se que o termo apropriado para denominar aquele que

apresentasse tais alterações, o deficiente, seria “pessoa com deficiência”, de forma

que os termos “portador de deficiência” ou “portador de necessidades especiais”

fossem abandonados. Tal ideia foi concebida com o propósito de reduzir as

desigualdades no tocante ao tratamento das pessoas com deficiência, de forma que

a proximidade com as pessoas sem deficiência fosse aumentada. A associação de

uma terminologia a um determinado grupo reflete diretamente na forma de

tratamento que o grupo receberá dos demais, e com o advento da Convenção,

decidiu-se que tal terminologia seria a mais adequada para tal.

2.2 DEFICIÊNCIA X DOENÇA

A OMS constituiu um modelo de Classificação Internacional de

Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF/2003), que enfatiza as particularidades

dos indivíduos nas várias condições de saúde, mostrando funcionalidade e

incapacidades. Farias e Buchalla (2005) relatam e analisam a complexidade que

permeia o tema e explicam que a conceituação de determinada deficiência é variável

em relação aos diferentes tipos de indivíduos:

Por exemplo, duas pessoas com a mesma doença podem ter diferentes níveis de funcionalidade, e duas pessoas com o mesmo nível de funcionalidade não têm necessariamente a mesma condição de saúde. (FARIAS e BUCHALLA, 2005 p. 189)

A CIF (2003) aborda uma nova proposta para a saúde, que busca

compreender melhor os fenômenos envolvidos nas deficiências e amplia os serviços

de atenção à saúde desta população. Nota-se, portanto, a necessidade de uma

pesquisa que aborde o tema deficiência. Como relatado por Faria e Buchalla:

[a CIF/2003] pode ser a contribuição para responder importantes questões

de Saúde Pública, tais como: qual é o estado de saúde das pessoas com

deficiência comparadas às demais; que necessidades e que tipos de

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intervenções são mais adequadas para reduzir condições secundárias e

promover a saúde das pessoas com deficiências, entre outras. (id, 2005, p.

192)

A CIF foi fundamentada numa análise dos fatores que permeiam o indivíduo e

as limitações que lhe são causadas, de forma que associa o diagnóstico médico ao

ambiente social.

A CIF é baseada, portanto, numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes de saúde nos níveis corporais e sociais. Assim, na avaliação de uma pessoa com deficiência, esse modelo destaca-se do biomédico, baseado no diagnóstico etiológico da disfunção, evoluindo para um modelo que incorpora as três dimensões: a biomédica, a psicológica (dimensão individual) e a social. Nesse modelo cada nível age sobre e sofre a ação dos demais, sendo todos influenciados pelos fatores ambientais. A OMS pretende incorporar também, no futuro, os fatores pessoais, importantes na forma de lidar com as condições limitantes. (IBID, p. 3)

Não foi relatado por nenhum dos órgãos citados que deficiência e doença

tenham a mesma definição, mas, sim, que certas doenças podem gerar algum tipo

de deficiência, que há deficiência criada por outros fatores ou de nascença, as quais

também merecem atenção especial da área de saúde para que possa receber um

tratamento adequado e efetivo na redução dos fatores restritivos.

Desta forma, entende-se que a doença pode ser uma forma causadora de

uma determina deficiência, no entanto, a deficiência por si só não pode ser

considerada uma doença, visto que pode ser causada por fatores que não são

biológicos.

2.3 TIPOS DE DEFICIÊNCIA

Segundo o Censo Demográfico de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), computou dados da população brasileira que apontaram

45.606.048 casos de pessoas declarando ter pelo menos uma das deficiências

investigadas: visuais, auditivas, motoras ou mental. Destas, 7,5% são crianças de 0

a 14 anos de idade, 24,9% de 15 a 64 anos de idade e mais da metade da

população de 65 anos ou de mais idade (67,7%).

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Esse aumento proporcional da prevalência de deficiência em relação à idade advém das limitações do próprio fenômeno do envelhecimento onde há uma perda gradual da acuidade visual e auditiva e da capacidade motora do indivíduo. (IBGE, 2010 p. 74).

5

Analisando os dados a partir da idade laboral, dos 15 aos 64 anos, número

que compreende 24,9% de 45 milhões e meio de pessoas, obtemos um valor

bastante expressivo de pessoas que possuem algum tipo de deficiência e que

podem ou não estar no mercado de trabalho.

Segundo Matheuse e Schliemann (2006), as causas que levam às

deficiências podem ser por diversos motivos:

Pré-natais (doenças infecto-contagiosas, desnutrição materna, uso de drogas pela mãe, etc.), perinatais (uso de fórceps) ou pós-natais (traumas, incompatibilidade de Rh, etc.). Então elas podem ser separadas como congênitas (desde o nascimento) ou adquiridas, e ainda em temporárias ou permanentes. (MATHEUS e SCHLIEMANN, 2006, p. 2 e 3)

As deficiências se dividem em três grupos, sendo eles denominados físico-

motoras, sensoriais (que engloba a deficiência auditiva e a deficiência visual) e

mentais, apresentando suas peculiaridades quanto aos critérios de funcionalidade e

capacidade (id). A partir desta gama de fatores que podem ser entendidos como

deficiência, é necessário que se trace uma diferenciação entre a forma que a

deficiência é apresentada pelo indivíduo e de que forma essa alteração o afeta pelo

meio externo ao seu corpo.

A deficiência físico-motora é a alteração parcial ou total de um ou mais

segmentos do corpo humano, de forma que ocasiona o comprometimento da função

física. Dentre os exemplos de deficiência física-motora é possível citar a paraplegia,

tetraplegia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, dentre outras

alterações que possam produzir dificuldades para o desempenho de determinadas

funções. No entanto, importante traçar a diferenciação que tais deficiências podem

apresentar:

5 Anexo I – Tabela do Censo Demográfico de 2010. Disponível em:

<ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografic o_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2014.

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É importante fazer uma distinção clara entre estes dois tipos de deficiência: a deficiência física, em linhas gerais, pode ser compreendida como uma alteração física aparente, por exemplo, a falta ou deformação de um membro; já a deficiência motora está mais associada à falha na função, principalmente dos membros, por exemplo, as paralisias. Existe comumente uma confusão com estes dois tipos de deficiência principalmente porque elas estão freqüentemente associadas: ser portador de deficiência física pode acarretar falhas nas funções motoras, ao mesmo tempo em que deficiências motoras poderão aparentar como deficiências físicas, por exemplo, devido à perda do tônus muscular, que atrofia os membros; entretanto não se pode perder de vista que são deficiências de ordem distintas. (MATHEUS e SCHLIEMANN, 2006. p. 5)

Desta forma, cada caso de deficiência físico-motora pode apresentar um grau

de influência no indivíduo, de forma que cada um enfrentará as dificuldades na

medida em que os fatores externos imponham a limitação a seu corpo. Apesar da

possibilidade da deficiência físico-motora ser proveniente de um acidente, suas

origens podem ser atribuídas à gestação e ao desenvolvimento do feto.

As deficiências motoras são, na maioria das vezes, inatas, ou seja, desde o nascimento, e a causa mais provável delas é a falta de oxigenação cerebral da criança durante a gestação e o parto; o exemplo mais comum de deficiência motora é a Paralisia Cerebral. Já as deficiências físicas são freqüentemente adquiridas, principalmente em situações traumáticas que lesionam órgãos ou tecidos e acarretam em perdas de membros ou movimentos. (Ib, 2006, p. 5)

Fatores ambientais são fundamentais ao funcionamento de uma vida

saudável e digna ao deficiente, de forma que seja possível que, com o mínimo de

adaptação, este possa desfrutar das atividades corriqueiras de forma independente,

ou pelo menos o mais próximo disto.

No campo das deficiências sensórias, a deficiência auditiva se traduz na

perda parcial ou completa, congênita ou adquirida, da audição sonora, em

conformidade com um nível de decibéis.

Kirk e Gallagher (1991, p. 230), definem as diferentes perdas auditivas da

seguinte forma:

Uma pessoa surda é aquela cuja audição é tão falha (geralmente de 70 decibéis ou mais) que não consegue entender, em ou com a utilização de um aparelho auditivo, a fala através do ouvido. Uma pessoa com audição reduzida é aquela cuja audição é tão deficiente (geralmente entre 35 a 69 decibéis) que dificulta, mas não impede a compreensão da fala sem ou 1com a utilização de um aparelho auditivo, através do ouvido.

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Em síntese, a perda auditiva é maior quanto maior for o número de decibéis

necessários para que uma pessoa possa responder ao som.

A deficiência visual corresponde à perda de uma porcentagem do campo

visual, chamada de baixa visão, até a completa ausência de visão, chamada de

cegueira.

A cegueira é uma alteração grave ou total de uma ou mais das funções elementares da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira congênita), ou posteriormente (cegueira adventícia, usualmente conhecida como adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou acidentais. Baixa visão é a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados, tais como, baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes, que interferem ou que limitam o desempenho visual do indivíduo. (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 15-16).

A funcionalidade ou eficiência da visão é definida em termos da qualidade e

do aproveitamento do potencial visual de acordo com as condições de estimulação e

de ativação das funções visuais (id).

Em relação à deficiência mental (ou intelectual), primeiramente, deve-se

esclarecer que esta não se confunde com doença mental, a qual caracteriza-se por

uma série de condições que além de afetar o desempenho da pessoa na sociedade,

causam alterações de humor, bom senso e concentração, por exemplo, levando à

alteração na percepção da realidade (PINHEIRO, 2009).

A deficiência mental é percebida quando o indivíduo apresenta funcionamento

intelectual significativamente inferior a média (BOLHONI JUNIOR, 2010).

Ela é chamada, nos manuais, de retardo mental, que implica um

funcionamento intelectual significativamente abaixo da média e comprometimento no

comportamento adaptativo, tendo seu início antes dos 18 anos de idade, sendo

necessária a ocorrência desses três critérios para se cogitar a hipótese diagnóstica

(BRIDI, 2013, p. 04).

Segundo a AAMR (Associação Americana de Retardo Mental), retardo mental

é uma incapacidade caracterizada por importantes limitações, tanto no

funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo; está expresso nas

habilidades adaptativas conceituais, sociais e práticas (AAMR, 2006, p.20).

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De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

(DSM-IV-TR, 2002, p. 71), a deficiência mental é definida como o funcionamento

intelectual significativamente abaixo da média (QI de aproximadamente 70 ou

menos), com início antes dos 18 anos de idade e déficits ou prejuízos concomitantes

no funcionamento adaptativo.

A deficiência mental, grosso modo, pode ser definida como o

desenvolvimento mental insuficiente, que devido ao seu desempenho, ocasiona

necessidades especiais aos que a demonstram.

2.4 ESTIGMA DO DEFICIENTE: O DEFICIENTE NO JORNALISMO

Como visto anteriormente, a definição da deficiência não é algo de tão fácil

compreensão. A partir do ponto de vista médico ou da funcionalidade, conforme

critérios utilizados pela Organização Mundial de Saúde, é unânime que aqueles que

apresentam algum tipo de deficiência só recebem tal denominação por apresentar

algum padrão, seja físico ou mental, que o difere do restante da população por si

considerada normal.

Diversas são as características que, em virtude do padrão criado pela sociedade,

diferem dos demais indivíduos que apresentam alguma deficiência. Devido aos

fatores que ocasionam a perda ou anormalidade de estrutura e função, pessoas são

classificadas como deficientes ou não.

O ser humano, ao longo de sua história, sempre manteve uma relação de

antipatia para aquele que diferenciava de si, seja em relação às diferenças étnicas,

culturais, sociais ou mesmo biológicas. Aqueles que por algum motivo se

diferenciavam da maioria da sociedade, muitas vezes recebiam tratamentos diversos

daqueles que o impunham, de forma que por diversas vezes recebiam marcas,

concretas ou abstratas, para classificá-lo conforme sua constituição. Tais marcas

podem ser traduzidas como o estigma, neste sentido:

Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais procuravam evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou

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fogo no corpo e avisaram que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada; especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbio físico (Goffman, 1988, p 5).

Tal noção abordada por Goffman (id) tomou proporções semelhantes no

período pós-medieval, quando as marcas, denominadas estigmas, passaram a

classificar as pessoas em detrimento de suas características negativas, deixando de

lado o sentido de evidência pessoal.

Seguindo a mesma linha de pensamento de Goffman, Elias e Scotson (2000)

entendem que o processo estigmatizador compreende, ao indivíduo estigmatizado,

menor valor humano, sendo através desta desvalorização que o grupo considerado

dominante agride, pois o estigma imposto por este grupo costuma invadir a auto-

imagem do grupo estigmatizado.

Para Amaral (1998) o estigma e, consequentemente, o preconceito sofrido

pelas pessoas estigmatizadas é decorrente da relação vivida com o seu estereótipo

e não com o próprio sujeito.

Seguindo a necessidade de categorizar as pessoas, a sociedade estabeleceu

seus padrões que enquadravam os indivíduos em critérios de normalidade e

anormalidade, não somente em relação às condições físicas e mentais de cada

indivíduo, mas também em relação a seu comportamento e posição social.

Desta forma, aqueles que seguiam o padrão imposto pela coletividade e, por

consequência, apresentavam todas as características inerentes a tal, eram tidos

como normais; enquanto os que por sua constituição biológica ou simples opção de

convívio eram tidos como anormais e, conseguintemente, carregariam o estigma de

diferentes dos demais. Neste sentido:

A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias: Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontradas. As rotinas de relação social em ambientes estabelecidos nos permitem um relacionamento com “outras pessoas” previstas sem atenção ou reflexão particular. Então, quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua “identidade social” – para usar um termo melhor do que “status social”, já que nele se incluem atributos como “honestidade”, da mesma forma que atributos estruturais como “ocupação” Baseando-nos nessas pré-

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concepções, nós as transformamos em expectativas normativas, em exigências apresentadas de modo rigoroso (ibid p. 5).

Tal estigma é aplicado a todos os tipos de gente, criminosos, adúlteros,

membros de outras camadas sociais, pessoas de etnias e culturas diferentes,

basicamente quem não seguia ou não se enquadrava em determinado segmento

recebia tal denominação e, como esperado, não seria diferente com os deficientes.

A sociedade cria expectativas diante dos indivíduos, independentemente de

sua posição, que os obriga a apresentar certas características para que estes sejam

aceitos perante os demais. Ocorre que tais características são impostas a todos os

membros da sociedade, sem distinção, de forma que aqueles que porventura não

atinjam tais expectativas, são diretamente colocados em um patamar de

preconceito, muitas vezes disfarçado por sentimentos como pena ou pelo medo.

(SIQUEIRA, 2013, p 36)

Por se tratarem de pessoas diferentes, o estigma serviu em muitos momentos

para depreciar as características das pessoas e legitimar as características do grupo

tido como dominante e detentor da normalidade. O estigma transforma a pessoa de

comum e capaz, para um estado rebaixado, desacreditado e diminuído. Desta

forma, o estigma, que anteriormente era utilizado para denominar as características

das pessoas, passa a ser um termo empregado para a depreciação. (SIQUEIRA,

2013, p 36)

Atualmente, o estigma carregado pelos deficientes é marcado pelo sentimento

de incapacidade, associado ao parco conhecimento das pessoas em relação às

características de determinada deficiência, o que acaba por transformar a imagem

do deficiente em uma pessoa que não detém capacidade de conviver com os

padrões de “normalidade” ou, se possui, necessita de atenção dos indivíduos tidos

como normais para a superação dos obstáculos e barreiras impostas por aqueles

que não apresentam nenhuma alteração física ou mental.

Tal concepção, como visto, além de rebaixar os que por acaso apresentam

algum tipo de deficiência, acaba ainda criando um estereótipo negativo, em que as

pessoas passam a tachar deficientes como pessoas incapacitadas, uma das razões

pelas quais se fecham diversas portas para aqueles que desejam ingressar no

mercado de trabalho e produzir sua própria renda proveniente de uma ocupação.

(SIQUEIRA, 2013, p 37)

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O estigma é parte de um pensamento comumente adotado pelos indivíduos

que se traduz na estereotipagem. Não são raros os casos que certas atitudes ou

ações são atribuídas a um determinado grupo de pessoas, sempre demonstrando

algum tipo de preconceito, descarado ou não.

A estereotipagem é uma forma que o indivíduo enquadra um determinado

segmento social e a ele atribui características que não diferem os indivíduos, e a

estes atribui um estigma negativo. Todos os segmentos sociais são estereotipados,

seja quando algo é “de baiano”, ou “coisa de mulher”, atribuindo características

pejorativas a certas ações. Neste sentido:

O ser humano busca repetitivamente maneiras simplistas, uma maneira rápida ou que não lhe exija tantos esforços, para tentar compreender o mundo em que vive. Procura encontrar, nessa atitude, uma maneira mais curta de ler a realidade, buscando uma maior agilidade na compreensão da sociedade. Com isso, ao perceber o mundo sob a ótica do estereótipo, quer economizar tempo e energia. Essa visão simplista é um vício de raciocínio que despreza elementos importantes ao se resolverem complexos problemas da sociedade. Esses atalhos para perceber o mundo que nos rodeia potencializa uma boa dose de estereotipagem de grupos ou pessoas. (Siqueira, 2013, p. 35)

A forma que o estereótipo é colocado pode ser feita de maneira correta ou

incorreta, acarretando resultados positivos, negativos ou neutros. Se em um primeiro

momento a estereotipagem facilita a compreensão do mundo, em outra face ela

mascara a realidade levando a generalizações que violam a individualidade em seus

traços e características pessoais.

Com o deficiente não seria diferente. O estereótipo do deficiente difundido na

sociedade varia predominantemente entre dois aspectos: ou é tratado como um

super-herói, por vencer as dificuldades que a sua deficiência somada ao ambiente

externo lhe provocam, ou então é tratado como um coitado, digno de pena que

merece um amparo superior ao que na verdade é o necessário. Tal concepção foi

abordada quando estudado o assunto envolvendo deficientes e as paraolimpíadas,

no trabalho realizado por Paulo Siqueira:

Em geral, nas notícias ainda se insiste em qualificar os deficientes como super-heróis que tiveram que fazer um grande esforço para sobrepujar sua deficiência e subir ao pódio, o que reforça a visão médica de perceber o deficiente, ou o atleta que possui uma deficiência (Id, p. 17).

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Desta forma, é necessário se analisar a forma pela qual o deficiente é

representado na mídia e de que forma tal representação gera reflexos em suas

atividades rotineiras.

2.5 ANÁLISE DO DEFICIENTE NA MÍDIA

A forma pela qual o deficiente é retratado pelos jornais e demais meios de

comunicação participa da construção do estereótipo em torno dele e,

conseguintemente, irá influenciar o modo pelo qual a sociedade irá tratá-lo.

Buscou-se entender a forma pela qual o deficiente é retratado pela mídia e,

para tanto, a pesquisa se direcionou a captar a mensagem transmitida pelos

jornalistas através dos meios de comunicação. A pesquisa foi realizada com base

nas matérias jornalísticas apresentadas pelo site do jornal Gazeta do Povo, veículo

de grande circulação, no período compreendido entre janeiro de 2014 e janeiro de

2015.

Tal janela de detecção foi escolhida para analisar não somente a forma que o

deficiente é retratado, mas também como esta imagem foi transmitida ao longo

deste período, para, com base em tais análises, poder fazer a desconstrução dessa

imagem e inseri-la no produto final do presente trabalho, qual seja, a plataforma

multimidiática.

A escolha pelo jornal virtual em detrimento do jornal escrito se deu diante do

fato do primeiro obter uma maior circulação que o segundo, de forma que no ano de

2013, por exemplo, obteve 3,4 milhões de acessos mensais enquanto o jornal físico

obteve somente 800 mil leitores mensais6, bem como pelo fato de que as matérias

presentes no jornal impresso são também reproduzidas no jornal digital e, ainda,

porque a pesquisa se torna mais dinâmica.

A busca no site se deu pelo uso de palavras-chave, quais sejam, “deficiência”,

“deficiente”, “cadeirante” e “deficiente físico”, e, a partir daí, analisou-se todas as

matérias que de alguma forma retratavam estas pessoas, seja na sua rotina diária,

nas dificuldades e nos preconceitos enfrentados.

6 Informações recebidas do setor de relacionamento com o cliente do jornal Gazeta do Povo.

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Tendo em vista o tema do presente estudo, primou-se por abarcar matérias

que descrevam a forma pela qual os deficientes se relacionam com o mercado de

trabalho, e também, a forma pela qual se relacionam com a educação, visto que esta

é muitas vezes necessária para o desenvolvimento de certas atividades laborais.

Os veículos de massa, responsáveis por levar a informação ao maior número

de pessoas possível, se encarregam de transmitir o que vai formar o senso comum

da população brasileira em geral. Desta forma, há a ocorrência de um fenômeno de

transmissão e receptação, envolvendo um canal midiático e uma parcela significativa

da população, que ao receber determinadas informações as agrega ao seu

repertório de conhecimentos, moldando os estereótipos e estigmas que mantinha

em seu subconsciente.

Após a utilização da ferramenta de busca do site da Gazeta do Povo,

utilizando as palavras-chave mencionadas, obteve-se um número de matérias

jornalísticas que possuíam alguma relevância com o tema. Frise-se que apesar de

útil, a ferramenta de busca disponibilizada pelo site da Gazeta tem suas limitações, o

que acaba por ocasionar uma imprecisão no tocante à coleta de material, o que

implica em restrições do trabalho.

Assim, chegou-se a um resultado de 35 matérias no total, sendo divididas

entre 12 notas, 15 matérias, 2 matérias de outro Estado, 3 matérias em blog e 3

artigos em blog:

No caso, o material encontrado pode ser categorizado como notas, notícias,

reportagens e matérias de agência de outro estado. Não foram selecionados artigos

e matérias em blog, uma vez que estes se apresentam somente no formato digital, o

que apesar de ter maior abrangência acaba por também limitar a parcela de leitores

atingidos. Apesar de ter se priorizado as matérias veiculadas no formato digital,

estas só foram escolhidas por ter seu conteúdo difundido também de forma física, o

Total de Matérias coletadas 35

Nota 12

Matéria 15

Matérias de agência de notícias de outro Estado 2

Artigo em Blog 3

Matéria em Blog 3

Page 25: TERMO DE APROVAÇÃO MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI … · do corpo humano, infinitas são as características pessoais que levam os indivíduos a apresentarem algum tipo de deficiência

que apresenta uma paridade entre o disposto em ambos os formatos, não obstante,

ainda há um número expressivo de leitores que somente se utilizam da forma física.

Apesar da dificuldade em sua diferenciação, há de se traçar um paralelo entre

as diferentes técnicas jornalísticas, afim de uma melhor compreensão do objeto ora

estudado.

Apesar de possuir semelhanças, a notícia e a reportagem se diferem no que

diz respeito à natureza das informações, nos recursos empregados no texto e na

decisão do veículo de informação em reproduzir um ou outro meio.

No caso, de forma breve e sucinta, a notícia pode ser traduzida na ideia de

um fato novo, ou algo recém percebido, de forma que sua transmissão se torna

necessária devido ao interesse da população. Desta forma, a notícia deve

apresentar ao leitor um relato objetivo do fato.

A reportagem, por sua vez, possui peculiaridades que, apesar de sutis,

podem demonstrar diferenças do gênero jornalístico. A reportagem pode ser

entendida como o complemento de uma notícia, de forma que não abarca fatos

novos, mas os aprofunda, contando uma história verdadeira, expondo uma situação

ou meramente contando fatos. Um exemplo citado está no caso de um acidente de

avião, enquanto relatar a ocorrência pode ser entendido como uma notícia,

apresentar aos espectadores os motivos que ensejaram o acidente, ou a forma pela

qual foram realizadas as buscas, pode ser entendido como uma reportagem.

O artigo, por sua vez, pode ser entendido como uma análise de um

determinado contexto, seja ele econômico, social, político ou comportamental, feita

por um jornalista que de forma implícita ou explicita externa sua opinião. (MEDINA,

2001, p. 54)

A nota pode ser entendida como um relato de acontecimentos que estão em

processo de configuração, de forma que a notícia seria o relatório integral do fato, ou

ainda, a nota é a notícia que se configura pela brevidade do texto (MEDINA, 2001, p.

54).

As matérias produzidas por agências de outro estado constituem um material

produzido em uma localidade e publicado em outra. As agências são responsáveis

por difundir a informação da fonte para os veículos de informação, sem reproduzir

diretamente ao público.

O blog traz um caráter mais pessoal ao conteúdo, de forma que a opinião do

redator se mostra mais presente que em outros gêneros jornalísticos.

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Foram excluídas matérias que não são pertinentes ao tema ora estudado, ou

que apresentem pouca relevância para o caso. De início, buscou-se matérias que

representassem as pessoas com deficiência em seu dia a dia, priorizando também o

enfoque na questão dos deficientes que exercem alguma função laboral, esportiva

ou acadêmica. Ainda, buscou-se matérias que demonstrassem as limitações

causadas pelo ambiente externo na rotina da pessoa com deficiência, para entender

não somente como tais pessoas são afetadas por isso, mas como a mídia trata de

representá-las, tanto as pessoas quanto os problemas.

Desta forma chegou-se a um número reduzido de 17 matérias sendo assim

dispostas:

QUADRO DE ANÁLISE EMPÍRICA DAS MATÉRIAS

Título Data da

Publicação/Autor Descrição da Matéria

1. Inclusão e educação especial: aproximando

um olhar distante.

28/01/2014/Alexandre Schmidt de Amorim

Inclusão é a palavra chave quando se trata de deficiência e

de suas limitações.

2. Cegos e cadeirantes: o esporte integra a

todos

22/02/2014 - Adriana Czelusniak

Mais uma vez a integração é utilizada no título da matéria.

3. Uma foliã acima das limitações

05/03/2014 - Bruna Komarchesqui

Traz as limitações no título, gerando uma pré análise da situação do deficiente antes

mesmo de conhece-lo.

4. Garoto com doença rara visita seleção e faz

Neymar chorar

29/05/2014 - Leonardo Mendes

Junior

Traz no título a ideia de pena em relação ao deficiente.

5. O abrigo que virou asilo de cegos

21/06/2014 - Amanda Audi

Aborda a situação atual do Instituto Paranaense de Cegos após escândalos de desvio de

dinheiro e a situação dos últimos moradores do IPC.

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6. Corpo de Bombeiros retoma buscas por

cadeirante desaparecido

04/07/2014 - Angieli Marcos e Rodrigo

Batista

Relata a retomada de buscas pelo corpo de uma pessoa que

possui a perna amputada e morreu afogada no Parque

Náutico do Iguaçu..

7. Lojas terão que adaptar provadores de

roupa para pessoas com deficiência

29/07/2014-Luan

Galani

Trata de uma lei que obriga as lojas a adaptar seus ambientes.

No caso, a adaptação seria muito mais efetiva se fosse promovida

espontaneamente, e não em virtude de uma disposição legal.

8. Manchester United contrata técnico

cadeirante

15/08/2014 - Gazeta do Povo

Traz um fato inusitado ao futebol, um técnico que apesar de não

andar consegue desenvolver as atividades de treinamento.

9. Alunos com deficiência visual vivem experiência sensorial

em fábrica de perfumes

17/09/2014 - Lucas Gabriel Marins

Trata de pessoas com deficiência visual que estudam para ser

perfumistas.

10. Garoto especial biografa Luan Santana

27/09/2014 - Lucas Gabriel Marins

Ao trazer o título garoto especial, este além de contrariar a nomenclatura ainda traz o

estigma do deficiente como necessitado.

11. Deficiência não impede torcedor de

seguir o Coritiba

06/10/2014 - Fernando Rudnick

Trata de um homem que por possuir atrofia muscular tem os

movimentos limitados, no entanto aborda a superação deste para

assistir a jogos de futebol. 12. Cadeirante se

arrasta para embarcar em voo em Foz do

Iguaçu

02/12/2014 - Gazeta do Povo

Traz um caso de uma cadeirante que teve que se arrastar pelas

escadas de um avião para embarcar.

13. Anac ameaça multar responsáveis

por embarque inadequado de

cadeirante

02/12/2014 - Folhapress

Fala sobre a multa recebida pela GOL e a Infraero através da

ANAC, relativa à passageira que precisou subir as escadas se arrastando, pois não havia o

equipamento correto.

14. Cegos angolanos pedem para ficar

03/01/2015 - Fellipe Aníbal

Traz a história de jovens angolanos que foram trazidos ao

Brasil para estudar, e estes manifestam o desejo em prosseguir a vida aqui

desenvolvendo suas atividades. Busca quebrar o estigma de

necessitados. 15. . Projeto estimula deficientes visuais a

22/01/2015 - Lívia Inácio

Traz uma parceria com o instituto de cegos para o

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criarem peças de design

desenvolvimento de peças de design. Traz uma possibilidade

de inclusão.

16. UFPR abre primeira turma de língua de

sinais

27/01/2015 - Nayadi Piva

Traz a criação do primeiro curso de letras com fundamento na língua de sinais. Inclusão e

possibilidade de trabalho para deficientes.

17. Para curtir o mar e a areia sobre rodinhas

adaptadas

30/01/2015 - Débora Mariotto Alves

Mostra a facilidade de ir à praia com as cadeiras anfíbias que o

Rotary Clube de Matinhos disponibiliza para pessoas com

deficiência.

Após, observou-se em quais páginas do jornal as matérias tratando de

deficientes foram publicadas, sendo doze no caderno “Vida e Cidadania”, três no

caderno de Esportes, uma no caderno de Cultura e uma no caderno “Educação e

Mídia”. Tal levantamento se expressa no gráfico abaixo:

O fato de a maioria das matérias terem sido publicadas na página “Vida e

Cidadania” se dá porque esse caderno engloba os assuntos que sejam de interesse

da comunidade no geral, matérias que tenham um cunho social e, dentre elas, se

enquadram a acessibilidade, os deficientes físicos, ou seja, todas as matérias que

visem cobrir melhor o dia a dia.

Em relação ao conteúdo das matérias, nota-se, em um primeiro momento,

que as notícias envolvendo deficientes versam sobre questões acerca da superação

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das limitações internas, a existência de limitações externa e o preconceito entre

pessoas com e sem deficiência.

Imperioso citar que diversas são as matérias que demonstram a total falta de

estrutura para o deficiente conviver em sociedade, de forma que são recorrentes os

temas envolvendo rampas de acesso, banheiros especiais e elevadores. Um

exemplo está no cidadão que, por não existir instalações sanitárias adequadas para

seu acesso, acabou por urinar nas calças e assim adentrou com uma representação

judicial contra o responsável7. Outros exemplos podem ser citados em escolas da

rede pública que não possuem as condições de acessibilidade. Existem escolas

especiais, destinadas à educação de pessoas com deficiência, de forma que

também existem pessoas com deficiência estudando fora destas escolas e, diante

desse fato, precisam de certas adaptações do ambiente externo para poder dispor

da mesma mobilidade que os demais, porém não é esta a regra.

O debate entre a inclusão de alunos com deficiência em escolas comuns e a

falta de vagas para alunos nas escolas especiais, é retratado como mais um

problema estrutural envolvendo a questão. Quando não há um número expressivo

de escolas que possam atender a tais necessidades, cria-se um problema de

exclusão daqueles que diante de suas condições não conseguem acompanhar o

ritmo de ensino regular. Há ainda o debate envolvendo a forma pela qual as pessoas

com deficiência são educadas e se esta educação não pode, de certa forma,

também se tornar uma forma de exclusão deste indivíduo do convívio social.

Tal constatação demonstra a falta de interesse daqueles que não se

enquadram como pessoas com deficiência em promover sua inclusão, de forma que

as situações vexatórias a que estas pessoas são expostas se tornam recorrentes.

Parece não haver necessidade de se promover as alterações necessárias para o

convívio em sociedade, visto que o deficiente é capaz de superar as dificuldades

que lhe são impostas. No entanto, não é este o cenário ideal para se tratar da

relação entre deficientes e não deficientes.

A superação dos problemas e dificuldades enfrentados pelos deficientes não

pode ser tratada como normalidade, visto que cabe aos não deficientes promover a

inclusão e adaptação dos ambientes para que aqueles possam desfrutar de todas as

7 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/cadeirante-constrangido-no-enem-ganha-acao-efbhavor73dos6b1wo79royfi>. Acesso em: 01 abr. 2015.

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oportunidades, que são conferidas às pessoas normais, ou pelo menos o mais

próximo disto possível.

Algo significativo nesta questão está no caso do Poder Público incumbir ao

particular a adaptação dos ambientes para o acesso de pessoas com deficiência8.

Apesar da medida ter um caráter inclusivo, por se tratar se instrumento de lei, acaba

por gerar ainda mais exclusão. No momento em que o cidadão se vê obrigado por lei

a adaptar seus ambientes para atender pessoas com deficiência, cria-se também um

obstáculo e um reforço na criação do estigma do deficiente, uma vez que o particular

o vê como um problema a ser solucionado, quando, na verdade, tal inclusão deveria

se dar de maneira espontânea por parte dos cidadãos que não possuem deficiência.

As pessoas com deficiência, principalmente cadeirantes, necessitam de

espaços adaptados para poder se deslocar pelos ambientes. No caso de prédios

são necessários elevadores, no caso de escadarias são necessárias rampas de

acesso e por aí vai. No entanto, diversos são os casos que relatam a inexistência de

tais disposições para a adequação destas pessoas. Um exemplo que ganhou

bastante repercussão na mídia, sendo inclusive matéria jornalística em outros

estados, está no ocorrido envolvendo uma cadeirante e o embarque em um avião9.

O descaso com pessoas com deficiência está em todos os lugares, por

exemplo, o caso da aluna relatando que a professora reclamava por ela ter

convulsões, além de gritar e corrigir a lição batendo na carteira, fazendo com que a

aluna não tivesse vontade de ir para a escola, desestimulando a estudante com

deficiência, desde jovem, ao invés de incentivá-la10.

Independentemente da forma pela qual a imagem do deficiente é transmitida

pelos meios de comunicação, fato é que estes indivíduos categorizados como

pessoas com deficiência também apresentam as necessidades básicas de cada

individuo, somadas às necessidades especiais que sua condição lhes impõe e,

desta forma, há a necessidade dessas pessoas proverem seu próprio sustento. Um

exemplo está no caso dos cegos angolanos trazidos ao Brasil que, por decisão da

embaixada de seu país, terão suas bolsas-auxilio cortadas. A reportagem demonstra 8 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/lojas-terao-que-adaptar-

provadores-de-roupa-para-pessoas-com-deficiencia-ebh8buv485dlijrsusuf9p0em>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 9 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/cadeirante-se-arrasta-para-

conseguir-embarcar-em-voo-em-foz-do-iguacu-egw8g0oie4ezi5b0o6ewr04su>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 10 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-e-midia/inclusao-e-educacao-especial-aproximando-um-olhar-distante/>. Acesso em: 01. Abr. 2015.

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o interesse destas pessoas em adentrar ao mercado de trabalho, sendo que vários

deles possuem qualificação ou estão estudando para sua obtenção11.

Considerando as deficiências físicas, nota-se que vários mitos são formados

por pré-conceitos, como, por exemplo, que essas pessoas não possuem uma vida

ativa. Há vários graus de deficiência e de restrições, no entanto, em regra, as

pessoas com deficiência trabalham, viajam, constituem família e podem ter uma vida

tão ativa como a de qualquer outro cidadão. Cada caso é um caso, mas a

inatividade não é, de forma alguma, uma regra. Um exemplo está nos cadeirantes e

pessoas com deficiência visual que praticam esportes, tal como a esgrima12. Há,

ainda, a menção em uma matéria a respeito de uma cadeirante que desfilou no

carnaval de Antonina. Segundo a matéria, a cadeirante desenvolve todas as

atividades em conjunto com a família, de forma que causa espanto em outras

pessoas.

Interessante citar que diversas matérias trazem as pessoas com deficiência e

o mercado de trabalho, apesar de parte delas se referir à forma pela qual estes são

excluídos e assim necessitam da criação de vagas especiais para desenvolverem

suas atividades, também trazem pontos interessantes em que a deficiência é

utilizada em prol de um bem maior, de forma que suas limitações se tornam um

diferencial na criação de um trabalho. O exemplo está na inclusão de deficientes

visuais como designers13 e perfumistas14. Esta é uma prova de que as limitações

físicas que são demonstradas pelas pessoas podem ser utilizadas em benefício

próprio. Há ainda a criação de uma turma de letras da UFPR com base na

linguagem de sinais, em que parte da turma é composta por pessoas com

deficiência e parte não15.

Os deficientes com paralisia cerebral também sofrem diversos tipos de

preconceitos, por serem incluídos no grupo como deficientes mentais e físicos, ainda

que nem sempre existam danos intelectuais. O que acontece é que a zona do

11 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/cegos-angolanos-pedem-para-ficar-eigt03bqn9r1kewodr5dp6slq>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 12

Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/cegos-ou-cadeirantes-o-esporte-integra-todos-ew0zk5z38c0wqv90xptec8y8e>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 13 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/casa-e-decoracao/projeto-estimula-deficientes-visuais-a-criar-pecas-de-design/>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 14

Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/alunos-com-deficiencia-visual-vivem-experiencia-sensorial-em-fabrica-de-perfume-edr1okucs13vdcnfno8tu2te6>. Acesso em: 01. Abr. 2015. 15 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/ufprabre-primeira-turma-em-lingua-brasileira-de-sinais-eja4bp6lanq6vix8z9v97lwlq>. Acesso em: 01 abr. 2015.

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cérebro que coordena certas partes do corpo (os movimentos, fala, etc.) está

afetada. Portanto, trata-se de um problema eminentemente físico e não intelectual

ou mental. Neste sentido, é o apresentado no estudo de Marília Ferreira Murata e

Eucia Beatriz Lopes Petean:

A Paralisia Cerebral (P.C.) é um problema neurológico, que envolve danos da função neuromuscular, com ou sem déficit intelectual. Os danos são de caráter não progressivo e se devem a lesões cerebrais ocorridas no período pré-natal, peri ou pós-natal. As consequências são alterações motoras e/ou psíquicas, paralisias, epilepsia, hipotomia, entre outros. (Id, 2006)

É importante lembrar esses fatos porque, intelectualmente falando, um

deficiente que possui paralisia cerebral pode trabalhar normalmente, pelas restrições

físicas na fala e movimentos provavelmente ele precisaria de alguma ajuda motora

de outra pessoa ou tecnologia, mas não intelectual.

Para desconstruir tal concepção, há uma matéria que traz o caso de uma

criança com paralisia cerebral que, independentemente de sua limitação, escreveu a

biografia do cantor Luan Santana, precisando de ajuda tecnológica, porém

conseguiu realizar o trabalho com sucesso16.

Por fim, após a análise do conteúdo das matérias, o último passo foi retirar

dos textos todos os adjetivos encontrados e que se referem à pessoa com

deficiência e analisar seu uso.

Abaixo consta uma tabela com os títulos das matérias, os adjetivos usados

em cada uma e a quantidade de vezes que cada adjetivo apareceu.

TÍTULO ADJETIVO QUANTIDADE

Inclusão e educação especial: aproximando um olhar distante. Capaz 1

Cegos e cadeirantes: o esporte integra a todos

Uma foliã acima das limitações

Alegria 2

Contagiante 1

Sorridente 1

Alto astral 1

Garoto com doença rara visita seleção e faz Neymar chorar Vítima 1

16 Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/garoto-especial-biografa-luan-santana-ee6wz0c0rz78o6rptyrbdeszy>. Acesso em: 01 abr. 2015.

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Lojas terão que adaptar provadores de roupa para pessoas com deficiência

Manchester United contrata técnico cadeirante

Alunos com deficiência visual vivem experiência sensorial em fábrica de perfumes

Garoto especial biografa Luan Santana Cabisbaixo 1

Deficiência não impede torcedor de seguir o Coritiba Genuína 1

Limitado 1

Cadeirante se arrasta para embarcar em voo em Foz do Iguaçu

Cegos angolanos pedem para ficar

Projeto estimula deficientes visuais a criarem peças de design

UFPR abre primeira turma de língua de sinais

Para curtir o mar e a areia sobre rodinhas adaptadas Gentil 1

Anac ameaça multar responsáveis por embarque inadequado de cadeirante Vítima

Corpo de Bombeiros retoma buscas por cadeirante desaparecido

O abrigo que virou asilo de cegos

Vago 1

Descoberto 1

Coitadinhos 1

Dessa última análise, foi constatado, dentre as matérias, que quatro fazem

referência com adjetivos negativos e acabam por vitimizar as pessoas com

deficiência. Os adjetivos utilizados de forma negativa foram “vítima”, “cabisbaixo”,

“limitado” e “coitadinhos”.

“Vítima” foi utilizado duas vezes, a primeira para se referir ao garoto Tomé,

diagnosticado com artrogripose assim que nasceu. Seu dia visitando a Seleção

Brasileira de Futebol foi contado na matéria “Garoto com doença rara visita seleção

e faz Neymar chorar”. A segunda foi na matéria “Anac ameaça multar responsáveis

por embarque inadequado de cadeirante”, referindo-se a Katya Hemelrijk, executiva

de 38 anos que teve que se arrastar pelos degraus para chegar à aeronave, pois a

mesma possui osteogênese imperfeita, mais conhecida como “síndrome dos ossos

de cristal”.

“Cabisbaixo” foi o termo usado na matéria “Garoto especial biografa Luan

Santana” ao se referir ao Pablo, menino que tem paralisia cerebral e fez uma

biografia do cantor Luan Santana.

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Por último, “limitado” teve seu uso referente às pernas do aposentado e

torcedor do Coritiba Jairton, na matéria “Deficiência não impede torcedor de seguir o

Coritiba”.

A matéria “O abrigo que virou asilo de cegos” refere-se ao IPC e utiliza

adjetivos como “vago” e “descoberto” para se referir ao olhar das pessoas com

deficiência visual, utiliza também o adjetivo “coitadinho” para desconstruir a imagem

que a sociedade possui de pessoas com este tipo de deficiência.

Outras três peças usam adjetivos para enaltecer a pessoa com deficiência. A

reportagem “Inclusão e educação especial: aproximando um olhar distante” aborda a

inclusão dos cadeirantes no convívio social através do Plano Nacional de Educação

e usa a palavra “capaz” para evidenciar que através desse projeto todas as pessoas

com deficiência podem desempenhar funções úteis para a sociedade e ir atrás de

seus objetivos.

A matéria “Uma foliã acima das limitações” usa quatro adjetivos “alegria”,

“contagiante”, “sorridente” e “alto astral” para contar a experiência da Lucimara ao

participar do Carnaval de Antonina na escola de Filhos da Capela.

A última matéria utiliza “genuína” para classificar o nível de felicidade do

Jairton em “Deficiência não impede torcedor de seguir o Coritiba”, ele sempre que

pode vai assistir aos jogos em cima de uma maca.

As demais matérias se referem à pessoa com deficiência sem uso de

adjetivos, no total são nove das dezessete publicadas online que não necessitam de

adjetivos para qualificar ou desqualificar os deficientes.

As matérias abordam temas diversos, como a adaptação de provadores,

feiras de empregos e a contratação de um técnico com atrofia muscular na espinha

pelo time de futebol Manchester United.

Isso mostra que a distância entre as pessoas com deficiência e as pessoas

sem deficiência está diminuindo, mas que ainda há muito trabalho para a formação

de um mercado igualitário.

Acredita-se, portanto, que se qualquer deficiente físico sem limitações

mentais ou intelectuais tivesse oportunidade de trabalhar na área, em que deseja e

possui conhecimentos para, teria a possibilidade bem sucedido, como qualquer

outra pessoa, mas deve-se considerar o fato que além de sofrer com preconceitos,

criados sem o efetivo conhecimento de alguma deficiência, ainda há pouca

colaboração de empresas e trabalhadores que talvez não queiram se dispor a ajudar

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ou criar um sistema para que esse deficiente possa ser um funcionário efetivo,

colaborativo e até essencial para uma empresa ou equipe.

Importante frisar que a deficiência é uma relação entre as limitações internas

do indivíduo, somadas às limitações externas, causadas pelo convívio social, que o

impedem de desempenhar suas funções com plenitude. Considerando que se trata

de pessoas com deficiências, soluções haveriam de ser criadas, mas isso não quer

dizer que essa pessoa seria menos produtiva ou menos importante do que os outros

colaboradores que talvez não precisem de tais soluções.

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3 PROBLEMA

A questão dos deficientes é complexa, ao passo que naturalmente

apresentam condições que lhes são exigidas atitudes diversas das adotadas pelos

demais membros da sociedade, aos deficientes ainda é imposto mais um obstáculo

no caminho para a igualdade frente aos então denominados normais.

Se já não fosse o bastante as limitações físicas e estruturais, o preconceito e

os estereótipos criados pela sociedade ainda atingem indiretamente os deficientes.

De forma que, inconscientemente, as pessoas olham para o diferente e lhe atribuem

características que só seriam possíveis de ser percebidas após algum tempo de

convívio. O estigma que as pessoas com deficiência carregam, associado a suas

limitações, torna extremamente oneroso para este procurar uma colocação no

mercado de trabalho, e reduzindo esse número para aqueles que desejam trabalhar

com comunicação, é perceptível a existência de uma gama de barreiras e

obstáculos.

Dessa forma, é necessário o estudo da questão, analisando não só de que

forma as diferentes deficiências atingem os indivíduos, mas também a forma pela

qual as pessoas os classificam e lhes imputam características que nem sempre são

verdadeiras.

Busca-se a apresentação de técnicas que possibilitem aos deficientes, sejam

quais forem, a colocação e exercício da profissão de jornalista, de forma que, além

de exercer uma atividade laborativa, a pessoa com deficiência ainda age como uma

forma de quebrar os estereótipos criados por dezenas e dezenas de anos de

convívio social.

Neste sentido coloca-se o problema desta pesquisa: como elaborar um guia

multimídia que forneça apoio para que as pessoas com deficiência exerçam a

profissão de jornalista e colaborem com a desconstrução da representação

estigmatizada destas pessoas, por meio de um manual de boas praticas destinado a

todos os jornalistas?

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4 JUSTIFICATIVA

Diversas são as limitações impostas pelo ambiente externo ao deficiente, que,

nos seus mais variados graus, podem ocasionar diversos transtornos. Porém, uma

das barreiras mais significativas na vida de uma pessoa com deficiência está na

colocação no mercado de trabalho. Seja pela questão estrutural, seja pelo

preconceito, o deficiente encontra em sua condição uma limitação para o pleno

exercício das atividades laborais.

O presente trabalho busca a elucidação das questões envolvendo o estigma e

o preconceito em relação aos deficientes, de forma a descobrir como desconstruir tal

imagem, sem se basear em heroísmo ou coisas do gênero, incluindo a pessoas com

deficiência no ciclo natural do ser humano, como qualquer outro. Um ponto

interessante na construção e análise da imagem do deficiente na mídia será por

meio do trabalho realizado por Paulo Siqueira (Siqueira, 2013), em que, pautado

pelo tema das paraolimpíadas, buscou entender a forma pela qual o deficiente físico,

em especial o para atleta, é representado para a sociedade.

Apesar de haver diferenças entre os jornalistas deficientes e os atletas

paraolímpicos, ambos carregam em si a mesma, ou pelo menos similar, imagem de

deficiente. Ou seja, aquele que por suas limitações necessita de todo um aparato

para a inclusão na sociedade, e quando este consegue a tal inclusão, não é tratado

de forma igualitária, e sim como um caso único que merece especial atenção.

Quando se cria tal concepção, de herói ou de vencedor, não só se aumenta a

distância entre as pessoas com e sem deficiência, mas também aumenta e reforça

aquele estigma que muitas vezes é imposto aos deficientes. A inclusão do deficiente

é de suma importância, tanto para a sociedade como para o deficiente, e tais

representações nada mais são do que combustível para o fomento de tal concepção.

No caso, busca-se a desconstrução do estigma com o apontamento de

soluções práticas para o convívio e exercício das funções profissionais daqueles que

se interessam em ingressar na carreira de jornalista e, por fim, apresenta-se um

modelo de técnicas destinadas ao exercício das funções de maneira mais prática

possível.

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Tal projeto de pesquisa apresenta relevância uma vez que serão

apresentadas soluções para as pessoas com deficiência para poderem exercer uma

profissão, que, no caso, é a profissão de jornalista.

Para a desconstrução do estigma do deficiente é necessário que seja

mostrado ao mundo que tais características não são unânimes entre todas as

pessoas com deficiência, de forma que as limitações físicas/sensoriais/mentais são

únicas, e em conjunto com as limitações externas vão construir a forma pela qual o

deficiente deve encarar tais barreiras.

Dessa forma, o jornalismo mostra-se uma ferramenta essencial para está

desconstrução pois, pode reformular a imagem que a pessoa com deficiência tem na

sociedade, bem como abre caminho para pessoas que não tenham conhecimento

sobre o assunto possam obter mais informações sobre o mesmo.

É necessário provar que o deficiente pode exercer suas atividades de maneira

normal, ou pelo menos com o mínimo de alterações necessárias em seu ambiente

externo. No momento em que os deficientes ocuparem posições no mercado de

trabalho, sem tantas dificuldades como ocorre atualmente, o estigma poderá enfim

ser desconstruído e banido do pensamento cotidiano.

O presente trabalho busca, assim, apresentar um manual de técnicas

jornalísticas para que pessoas com deficiência possam exercer tal profissão da

maneira mais prática possível e, assim, além de desconstruir a imagem do

deficiente, ainda proverem o sustento necessário e uma vida digna como qualquer

outra pessoa.

O manual não vai apenas revelar as dificuldades das pessoas com deficiência

em entrar no mercado de trabalho jornalístico, mas também abrir um debate social

sobre as oportunidades dos deficientes como um todo, bem como as possíveis

soluções para diminuir essa desigualdade.

Dessa forma, ele servirá como objeto de empoderamento, dando aporte para

que os profissionais com deficiência busquem seus direitos, e, servindo também,

como fonte de informação e discussão para a mídia como um todo.

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5 OBJETIVO GERAL

Produzir um guia multimídia, abordando técnicas jornalísticas para auxiliar o

trabalho diário de profissionais da área, que possuam algum tipo de deficiência, de

modo a contribuir para a inserção destes jornalistas no mercado e auxiliar na

desconstrução do estigma que cerca a pessoa com deficiência.

6 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Buscar soluções práticas para as pessoas com deficiência trabalharem na

área de jornalismo;

Delimitar quais as dificuldades encontradas para o exercício do jornalismo em

cada tipo de deficiência;

Pesquisar e apresentar novas alternativas para facilitar o dia a dia das

pessoas com deficiência no mercado de trabalho;

Contribuir para a discussão sobre as representações do deficiente na mídia,

de modo a estimular a quebra dos estigmas que envolvem esta camada da

população.

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7 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

7.1 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

As representações sociais podem ser entendidas como um produto oriundo

da interação e, consequentemente da comunicação, entre um sujeito e um objeto.

No caso o sujeito se torna qualquer pessoa que esteja diante da interação e, por

isso, é espectador dentro de um convívio social, e o objeto é aquele representado

pela sociedade.

Desta forma, um determinado segmento social, formado por um grupo de

pessoas que possuem características em comum, são abarcadas por uma espécie

de tipificação, recebendo uma determinada condição ou um estigma a ser

carregado. A representação social, então, pode ser entendida como a atribuição de

uma determinada ideia a uma imagem, ou nas palavras de Moscovici:

Um sistema de valores, idéias, e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambigüidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social (MOSCOVICI, 2003, p. 21)

Desta forma, as representações sociais surgem com o propósito de classificar

e orientar as pessoas a seguirem um determinado sistema, para integrar certos

aspectos do cotidiano pessoal ao social.

Passa-se a classificar certos sujeitos e objetos conforme sua representação

perante determinado segmento social, ou então a sociedade como um todo, de

forma que ela seja pautada no convívio em sociedade, não seria estranho que as

representações de determinados grupos fossem provenientes da mesma sociedade

que estes pertencem.

Desta forma, é quase impossível pensar que, por se tratar de uma

organização, haverá algum aspecto inerente a esta que não seja representado.

Neste sentido, para Moscovici:

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Como pessoas comuns, sem o benefício dos instrumentos científicos, tendemos a considerar e analisar o mundo de uma maneira semelhante; especialmente quando o mundo em que vivemos é totalmente social. Isso significa que nós nunca conseguimos nenhuma informação que não tenha sido distorcida por representações “superimpostas” aos objetos e às pessoas que lhes dão certa vaguidade e as fazem parcialmente inacessíveis. Quando contemplamos esses indivíduos e objetos, nossa predisposição genética herdade, as imagens e hábitos que nós já aprendemos, as suas recordações que nós preservamos e nossas categorias culturais, tudo isso se junta para fazê-las tais como as vemos. Assim, em última análise elas são apenas um elemento de uma cadeia de reações de percepções, opiniões, noções e mesmo vidas, organizadas em uma determinada sequencia. (id, p. 33)

As representações sociais possuem basicamente duas funções para intervir

no processo cognitivo.

Em um primeiro momento, as representações convencionalizam os objetos

que representam, de forma que conferem um caráter definitivo, categorizando como

um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas, visto

que todos os elementos que venham a surgir se agrupam e sintetizam o modelo

imposto, independente se a pessoa ou objeto se adéquam a ele. Tais concepções

são utilizadas para a resolução de problemas gerais quando estes precisam de

interpretação, de forma que cada experiência é agregada a uma realidade

predeterminada por convenções (ibid, p 34).

Em um segundo momento, as representações sociais são prescritivas,

impondo-se sobre os indivíduos como uma força irresistível, sustentada por uma

estrutura, que estava presente antes do surgimento de tais indivíduos, e baseada

por uma tradição que decreta o que deve ser pensado.

Uma criança nascida em qualquer sociedade hoje irá desde sua origem ser

bombardeada por gestos, sinais e conceitos que irão moldar sua personalidade, de

forma que afetam diretamente na forma como este indivíduo encara o outro, sob a

ótica das representações sociais (ibid, p. 36).

Desta forma, as representações sociais apresentam um forte ponto no

equilíbrio das relações humanas, vez que moldam as concepções de determinados

grupos de indivíduos diante de um conceito moldado e mantido pela própria

sociedade.

Um dos objetivos das representações sociais está na aproximação de uma

cultura, então desconhecida, para o interior de um padrão aceitável pela sociedade,

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desta forma, configura-se o comportamento externo dentro do habitual, de forma que

se evita divergências e conflitos, tornando comum algo que anteriormente poderia

ser chamado de incomum. Neste sentido, Araújo (2014) afirma que:

O intuito das representações sociais é trazer as culturas desconhecidas para dentro de um padrão comum e aceitável em determinada sociedade. Configurando comportamentos dentro do habitual, é possível evitar divergências e conflitos. A representação se torna comum quando torna familiar e aceitável uma realidade incomum. Essas opiniões são construídas a partir da divulgação de concepções pré-estabelecidas sobre indivíduos ou características que não pertencem a nossa cultura. E através de símbolos que a representação é construída, na tentativa de usar uma máscara para se aproximar da cultura que até então é desconhecida e trazê-la para mais perto da realidade. (id, p. 15)

Assim, as representações sociais nada mais são do que reflexos da

construção da imagem de um determinado sujeito ou objeto perante um segmento

social. Tal concepção pode ser propagada de diversas formas, geralmente se

baseando no costume e sendo mantida e apresentada à sociedade pelo meio difusor

de comunicação, a mídia.

A mídia tem importância fundamental para a sociedade, de forma que os

conceitos que são apresentados por seus meios difusores são pilares na construção

da consciência e pensamento da massa que a assiste, vez que o que é transmitido

pelos meios de comunicação é absorvido pela população e refletido nos mais

diversos segmentos de convívio social.

Desta forma, a mídia apresenta um papel fundamental na manutenção e na

renovação das representações sociais, de forma que colabora diretamente no

processo de concepção dos indivíduos, e consequentemente na forma com que

estes irão moldar as representações sociais daqueles que a mídia apresenta.

7.2 A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO DEFICIENTE DIFUNDIDA PELA MÍDIA

Em relação aos deficientes, as representações sociais têm um papel

fundamental na forma pela qual estes irão ser recepcionados pela sociedade de

maneira geral. As representações sociais possuem uma conexão com o estigma

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(Goffman, 1988) acerca deste grupo, de forma que contribuem para a formação e

construção deste. Sendo assim, apresentam um papel de extrema relevância no

trato das diferenças por parte da sociedade.

Ao analisar a forma pela qual o deficiente é retratado pelos meios de

comunicação, ou se analisarmos detidamente sobre o que versam as matérias que

têm os deficientes como protagonistas, é comum que a análise aponte à reiteração

do estigma que o deficiente carrega.

Em um primeiro momento, percebe-se que a maioria das matérias

analisadas17 traz as diferenças dos deficientes como um problema, seja pela falta de

estrutura que este necessita para se adequar em sociedade, seja pelos esforços

tidos grandiosos que estas pessoas realizam para adequar sua deficiência aos

padrões utilizados pelas pessoas sem deficiência.

Indiretamente, tal posicionamento jornalístico acaba por fortalecer o estigma

carregado pela pessoa com deficiência, visto que o apresenta não como um cidadão

em convívio normal em sociedade, mas sim como um problema, em que muitas

vezes acaba por gerar um reflexo negativo. Ao trazer os problemas que as pessoas

com deficiência encontram, e expô-los como um obstáculo, os jornais fortalecem o

estigma. (GOFFMAN, 1998, p 10)

As representações são transmitidas pelos meios de comunicação e

absorvidas pelo público da mesma maneira, mas há diferenças na interpretação que

cada indivíduo dará à informação.

Enquanto uma manchete jornalística trazendo um episódio envolvendo um

cadeirante e uma escada pode refletir positivamente, e com isso conscientizar as

pessoas da necessidade de adequar os espaços, também pode incitar a revolta por

parte daqueles que, cegos pela ignorância e o conforto de uma situação diferente,

criticam certos posicionamentos. Ao ressaltar as dificuldades encontradas pelas

pessoas com deficiência, a mídia reforça o estigma que estes carregam.

Importante frisar que, apesar de certas matérias distanciarem a realidade das

pessoas com deficiência, outras trazem em seu bojo elementos que contribuem para

a desconstrução do estigma do deficiente. Isso porque trazem em seu conteúdo uma

mensagem discreta, sem colocar o “problema” da deficiência em evidência, o que

17

A análise do projeto está disposta na página 20 do presente trabalho.

Page 44: TERMO DE APROVAÇÃO MARCIO SAKYO POFFO TANIGUTI … · do corpo humano, infinitas são as características pessoais que levam os indivíduos a apresentarem algum tipo de deficiência

demonstra a integração dessas pessoas e das daquelas sem deficiência como algo

comum, o que deveria ser o praticado pela sociedade. (GOFFMAN, 1998, p 10)

No momento em que se expõem as diferenças, e as coloca como um

problema, a matéria acaba por causar um duplo efeito: de um lado expõe que de

fato é necessária uma mudança estrutural para a integração de pessoas com

deficiência, porém do outro mostra o quanto as pessoas com deficiência são

diferentes das outras, sem muitas vezes diferenciar as próprias pessoas com

deficiência entre si.

Partindo deste ponto, acredita-se que a representação do deficiente pela

mídia ocasiona um fortalecimento da representação social deste grupo,

desconsiderando as particularidades de cada um e impondo aos indivíduos um

conceito que muitas vezes não é a verdadeira representação de sua necessidade.

Desta forma, aqueles que porventura apresentam mínimas necessidades

para integração acabam recebendo o mesmo tratamento que pessoas muito mais

dependentes realmente necessitam, porém apenas da forma negativa, visto que não

necessitam dos cuidados e acabam sofrendo preconceito por parecer mais carentes

do que realmente são, ou de forma exacerbadamente positiva, ao colocar os feitos

realizados por pessoas com deficiência como algo inatingível, digno de super-heróis.

A representação, desta forma, acaba por se traduzir em um meio termo entre o real

e a imagem dele derivada (PENIN; ROBERT, 2014, p.123).

Ao incluir o deficiente na posição de jornalista, difundindo informações com

base em um conhecimento desenvolvido por suas experiências profissionais e

principalmente pessoais, poderá então se partir de um outro ponto no quesito de

desconstrução do estigma do deficiente, uma vez que este estará na posição de

produtor do material jornalístico, baseando suas técnicas no material a ser

desenvolvido, o manual.

7.3 JORNALISMO DIGITAL X PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

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Conforme afirma Bonito (2012, p. 14) o jornalismo tem uma função social

nobre, qual seja, a de levar informações ao conhecimento público, motivo pelo qual

não se pode tolerar a existência do preconceito comunicativo:

O jornalismo tem uma função social nobre, transformar as informações em conhecimento público, logo não podemos continuar a fazer distinção, por preconceito comunicativo, de quem deve ou não ter acesso ao conhecimento gerado. Hoje, as pessoas com deficiência sofrem para consumir jornalismo em todos os principais sites, nenhum deles pode exibir um selo de “conteúdo universal”, por isso, por enquanto, podemos afirmar que estamos em tempos de jornalismo deficiente e inconvergente.

Por outro lado, sabe-se que as pessoas com deficiência, seja ela de qualquer

tipo, enfrentam inúmeras dificuldades em seus ambientes de estudo e trabalho, pelo

fato de que não é tão simples conseguir se adaptar a muitas práticas do cotidiano,

especialmente àquelas que envolvem a participação dos sentidos e aptidões físico-

motoras.

Em vista disso, temos um cenário fenomenológico: a cada dia torna-se mais

comum a alfabetização, seja ela literal, seja ela voltada a uma área específica do

saber, das pessoas com deficiência através das tecnologias da comunicação e

também das tecnologias assistivas.

Computadores, aplicativos sonoros, comandos de voz, entre outros, são

imprescindíveis para possibilitar que uma pessoa com deficiência algum tipo de

deficiência possa exercer as mesmas funções que qualquer outra pessoa.

As tecnologias têm sido cada vez mais utilizadas, não só para auxiliar na

produção do conteúdo, como ferramenta de trabalho, mas também como conteúdo,

como fruto, em forma, por exemplo, de mídia digital, que faz o consumo de

informação aumentar e a dificuldade de acessar informações, que existia até pouco

tempo atrás, diminuir, possibilitando às pessoas com deficiência descobrir um novo

mundo cheio de possibilidades.

Diante desta realidade, como bem menciona Sousa (2014), impõe-se para os

novos campos afetados pelo paradigma tecnológico e, por consequência, o campo

do jornalismo, a tarefa de compreender a diversidade e a pluralidade dos sujeitos

que conformam a esfera do ciberespaço, assim como a multiplicidade de usos que

podem ser materializados, afim de que tanto todos os possíveis leitores possam ser

abarcados, como também os concretizados das matérias tenham cada dia mais a

possibilidade de exercer seu papel de jornalista.

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O problema da acessibilidade aos conteúdos web no jornalismo precisa ser incorporado à formação universitária dos jornalistas. Nas redações multiplataformas, marcadas pelo trabalho em convergência de mídias. Quase todo o processo de produção e distribuição dos conteúdos, nos mais variados formatos, está na mão do próprio jornalista. É ele pois que terá de ser o primeiro a preocupar-se com a acessibilidade. (Sousa, 2014)

Assim, é importante que cada dia mais seja feito o uso da tecnologia, desde a

formação até tornar-se ferramenta de trabalho, para que se ampliem as

possibilidades de todas as pessoas com deficiência, cada uma a seu modo e com a

superação de suas limitações, sejam incluídas no campo do ensino e no mercado de

trabalho, de forma gradual e natural e sem a necessidade de se transpor grandes

barreiras.

7.4 A CONSTRUÇÃO DO MANUAL: A INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO COMO INSTRUMENTO PARA A RENOVAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL ACERCA DO DEFICIENTE

Apesar de Moscovici (2013) não afirmar que há possibilidade do sujeito se

colocar como agente em relação a seu meio social, de forma a atravessar e superar

a força das representações sociais (PENIN E ROBERT, 2013, p. 142), parece ser

duvidoso que a atuação dos indivíduos perante a sociedade não gere reflexos na

forma que estes são representados.

Um exemplo está na superação dos problemas enfrentados pelas pessoas

com deficiência, que por suas atitudes acabam desconstruindo a imagem que estes

demonstram à sociedade. Importante frisar que as representações sociais não são

uma cópia e sim uma tradução de uma realidade, que evolui e modifica-se

continuamente ao tempo e de acordo com as características das práticas culturais

(MOSCOVICI, 2012).

Talvez a forma mais efetiva para a desconstrução do estigma carregado pelo

deficiente, e sustentado pela imagem deste representada, é através da

demonstração prática dos equívocos e limitações nos olhares sobre a deficiência.

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Isso porque ainda atribui-se ao deficiente a necessidade de uma série de alterações

de ordem física para que este possa se adequar à sociedade.

No entanto, tal posicionamento é incorreto, uma vez que é necessário

adequar à realidade às necessidades de cada um, para que enfim possa se traçar

um referencial de quanto essas mudanças afetam o ambiente. Isto posto, pode ser

criada uma nova imagem das pessoas com deficiência perante a sociedade, de

forma que o preconceito e o estigma seja deixado de lado, favorecendo a inclusão e

o convívio.

Uma das formas de se desconstruir essa imagem é através do trabalho, e

mais precisamente, o trabalho do jornalista. Já é certo que as pessoas com

deficiência possuem plena capacidade de trabalhar, desde que adaptadas suas

necessidades à função pretendida, e que esta esteja em conformidade com as

habilidades pessoais do individuo. No entanto, à medida em que as pessoas com

deficiência passam a trabalhar como jornalistas e, então, se posicionam no polo

ativo da representação social, torna-se muito mais fácil a aproximação da imagem

retratada pelos meios de comunicação do cenário verdadeiro das pessoas com

deficiência.

Os manuais de redação e jornalistas podem ser entendidos como um

instrumento de qualificação da produção jornalística, destinados a auxiliar os

jornalistas no processo de elaboração da notícia (BRONOSKY, 2010, p. 46), de

forma que orientam os profissionais através de sistematização de regras e normas

do mundo profissional, com o objetivo de refinar o trabalho e garantir a qualidade

das notícias.

Desta maneira, o manual de técnicas jornalísticas destinado às pessoas com

deficiência se traduziria em um roteiro prático a ser seguido por jornalistas com

deficiência, a fim de promover seu trabalho da melhor forma possível.

No caso, o manual seria um complemento dos manuais já existentes, uma

vez que estes são destinados às pessoas sem deficiência, o que acaba por limitar a

atuação daqueles que porventura apresentam alguma disfunção de ordem física,

sensorial ou mental.

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8 METODOLOGIA DO PROJETO

Durante a elaboração do presente estudo, com o intuito de produzir um

manual de técnicas jornalísticas destinado a pessoas com deficiência, vislumbrou-se

dois modelos de pesquisa, quais sejam, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de

campo.

A pesquisa bibliográfica se deu com base na leitura de autores teóricos, que

apresentaram informações relevantes para a elucidação de temas como o estigma,

estereótipo, representações sociais, conceitos de deficiência, entre outros. Tal

pesquisa se deu em virtude da necessidade de compreensão de tais temas, visto

que, para solucionar um problema, primeiramente é necessário compreendê-lo.

A pesquisa de campo se deu com a busca de matérias jornalísticas que

tinham como tema as pessoas com deficiência, a fim de se verificar a forma pela

qual estes são retratados pela mídia, vez que tal ponto é fundamental na construção

dos quesitos estudados na parte teórica.

8.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

A pesquisa bibliográfica, como mencionado anteriormente, se deu com busca

nos quesitos teóricos do problema. Em um primeiro momento buscou-se

compreender o tema deficiência, analisando textos médicos que possibilitariam a

melhor elucidação do tema. Neste sentido, buscaram-se conceitos de neurologia,

medicina e biologia, utilizando-se da Revista Brasileira de Epidemiologia, Revista

Saúde Pública, entre outros livros especializados no tema.

Em seguida, buscou-se conceitos teóricos ,que estariam relacionados à forma

pela qual o deficiente é visto pela sociedade, ocasião em que foi utilizada a obra de

Goffman (1998) e Moscovici (2012), buscando os conceitos de estigma e

representação social, respectivamente. Ainda, dada a relevância do tema e sua

pesquisa anteriormente por outros acadêmicos em trabalhos de conclusão de curso,

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foram utilizadas também monografias e trabalhos acadêmicos, todos relacionados

ao final deste trabalho.

Como o tema do presente projeto é a proposta de um manual de técnicas

jornalísticas destinadas às pessoas com deficiência, necessária é a compreensão do

tema para descobrir do que se trata o manual e como este deve ser realizado, para

isso, foi utilizado primeiramente o livro “Manuais de redação e jornalistas”, de

Marcelo Engel Bronosky (2012).

Também se mostrou necessária a pesquisa para verificar a existência de

outros manuais que poderiam ter a mesma relação com o tema, entretanto, devido

ao seu critério de ineditismo não foi possível a localização de nenhum trabalho que

guardasse o mesmo tema que o presente, razão pela qual, reforça a necessidade de

produção do trabalho.

8.2 PESQUISA DE CAMPO

Após a coleta de todo material teórico, foi necessário dar início à parte prática

do trabalho. Desta forma, para entender como o conceito de representação social e

estigma era difundido pela mídia, foi realizada uma pesquisa a respeito das notícias

veiculadas pelo site do jornal gazeta do povo no período compreendido entre janeiro

de 2014 e janeiro de 2015, utilizando-se da ferramenta de “busca” do site com uma

janela de detecção de um ano. No caso, as palavras chave utilizadas na busca das

matérias foram “deficientes”, “deficiência”, “deficiente”, “cadeirante” e “deficiente

físico”.

Tal escolha de pesquisa se deu pelo fato da tecnologia digital facilitar as

buscas, visto que a ferramenta disponibilizada pelo site otimiza tempo ao pesquisar

as matérias. Ainda, por todas as matérias físicas serem também disponibilizadas no

formato digital, não havia razão para não se optar pela maneira mais prática.

Como a pesquisa das matérias jornalísticas envolvendo o tema, passou-se a

análise de cada uma delas, percebendo nos mínimos detalhes a forma pela qual os

deficientes eram retratados, desde as palavras utilizadas para se referir a tais

pessoas, bem como aos temas escolhidos pelos jornalistas.

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9 DELINEAMENTO DO PRODUTO

9.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A PLATAFORMA

O produto deste Trabalho de Conclusão de Curso é uma plataforma

multimidiática em formato de manual, que visa auxiliar as pessoas com deficiência

que queiram entrar na área de jornalismo, bem como contribuir com os jornalistas

que precisam representar o deficiente nas reportagens.

A plataforma “Jornalismo para Todos: Manual de Jornalismo Inclusivo para

Pessoas com Deficiência”18 apresenta as mesmas informações sobre a prática da

profissão e a relação com o deficiente, mostrando, por exemplo, quais são os termos

adequados para se referir ao deficiente e técnicas de como se portar ao entrevistar

uma pessoa com deficiência.

A estruturação do site foi feita visando à acessibilidade para cada tipo de

deficiência, seja ela sensorial ou físico-motora. No portal ,foram apresentados sites,

programas e aplicativos que pudessem auxiliar pessoas com diferentes tipos de

deficiência.

A plataforma está planejada de forma a servir como uma bibliografia

consultiva para os deficientes que necessitam de orientações em relação à

execução das atividades jornalísticas. Por esta razão, o site será organizado por

seções relativas às várias atribuições da rotina diária do jornalista, de modo que o

usuário possa consultá-lo com facilidade de acordo com a sua demanda.

Além das orientações sobre as diversas atividades realizadas pelo jornalista,

as seções ainda contêm depoimentos de pessoas que são estudantes e também

das que já exercem a profissão, os quais ilustram de que forma executam tais

dinâmicas na sua rotina produtiva.

18

Endereço eletrônico: http://www.jornalismoparatodos.com.br.

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9.1.1 Nome do projeto

O nome Jornalismo para Todos foi escolhido para indicar o conceito buscado

do projeto. Reverter os estigmas relacionados aos deficientes e fomentar a inclusão

social é um dos principais objetivos do trabalho. Para tal, a nomeação segue o

mesmo conceito, que é buscar a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade

por intermédio do jornalismo.

9.1.2 Logo e layout

A logo, realizada pela Agência Interage19, foi inspirada no intuito de se utilizar

algumas das principais ferramentas de trabalho de um jornalista, por exemplo, a

câmera filmadora, a câmera fotográfica, o bloco de anotações, o jornal e um

notebook.

A escolha do layout foi feita por meio dos modelos disponíveis na plataforma

Wordpress. Para escolher o tema foram utilizados critérios como usabilidade,

acessibilidade e possibilidade de customização. Optou-se por manter o layout em

forma de blog, em que aparece o primeiro parágrafo do texto da notícia e se o leitor

se interessar pelo término da matéria ele clica em ‘continuar lendo’ e é rapidamente

direcionado ao texto completo. Caso não haja interesse naquela matéria

especificamente, o próximo texto aparece na sequência da página.

As letras grandes nas cores preto e cinza, bem como imagens em destaque,

contrastam com o plano de fundo é branco. Elementos que harmonizam com a

coloração da própria logo, elaborada em tons de azul, verde e vermelho. No menu

principal, há links que facilitam a navegação do usuário, dividido em oito partes.

É possível visualizar os textos escritos navegando pelos conteúdos por meio

das categorias específicas, conferir os vídeos postados, que permanecem em

destaque na home no lado direito da página, assim como os links de

compartilhamento pelas redes sociais.

19 A Interage é a Agência Experimental do curso de Publicidade e Propaganda do UniBrasil Centro Universitário.

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Pensando na acessibilidade a página disponibiliza um botão em destaque, no

lado superior direito, que direciona o internauta a um texto que explica quais são as

ferramentas que permitem a navegação no blog para pessoas com deficiência.

Figura 1 – banner do site

9.1.3 Arquitetura do site

Foi desenvolvido um menu principal com categorias e subcategorias, de modo

a facilitar a procura por conteúdo. A divisão ocorreu da seguinte forma:

Home: página inicial ou de entrada do site. Por meio dela os internautas

podem conferir os principais conteúdos postados na ordem cronológica, dos textos

mais recentes para os mais antigos. Nesta área se encontram as chamadas, que

são pequenos textos onde tem o link ‘leia mais’, o qual leva para a pagina do

conteúdo completo das matérias.

Sobre: página que apresenta um breve texto contando a política do site,

conta também com uma sub-aba destinada à apresentação de todas as pessoas

que contribuíram com construção do site, com fotos e um breve perfil sobre o

colaborador.

Guia para jornalistas: centro do manual, nesta seção do site encontra-se

dicas para o exercício do jornalismo para pessoas com alguma deficiência. De forma

a facilitar a busca e o acesso, a área é divida em apuração, checagem, como

entrevistar e ferramentas e acessibilidade. A subseção ‘Apuração’ traz informações

importantes para que os jornalistas possam apurar dados para as matérias e

reportagens. Em ‘Checagem’, orientações sobre como verificar se as informações

coletadas são verídicas. Na área ‘Como Entrevistar’ são passadas algumas técnicas

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de entrevista e comunicação com as fontes. Por fim, em ‘Ferramentas e

Acessibilidade’, há a indicação de programas e softwares que podem auxiliar a

pessoa com deficiência no exercício de sua profissão.

Vida Acadêmica: esta seção traz uma série de reportagens que apresentam

a trajetória de acadêmicos que têm alguma deficiência, os quais contam como é a

vivência na universidade, quais são os desafios diários e como se da a inclusão no

ambiente de ensino. A subcategoria ‘Dia a Dia’ apresenta algumas entrevistas com

alunos que falam sobre o cotidiano, as referências de profissionais de jornalismo, as

dificuldades enfrentadas nas aulas práticas, além de outros assuntos relacionados à

rotina do estudante.

Manual de Boas Práticas: a página conta com uma série de conteúdos que

apresentam ao leitor informações que ajudam no relacionamento com a pessoa que

tem alguma deficiência. O intuito desta seção é melhorar a comunicação e o

relacionamento entre as pessoas que tem deficiência e as que não têm. Parte deste

conteúdo foi adaptado da “Cartilha de Comportamentos, Mitos e Verdades”, da

Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Curitiba20, e do “Guia

de Boas Práticas Para Jornalistas”, do Grupo de Reflexão Media e Deficiência de

Portugal. A subseção ‘Nomenclatura’ apresenta quais são os termos corretos que

devem ser usados para se referir ao deficiente. Na área ‘Resultado: como o

jornalista fala sobre a pessoa com deficiência’ são apresentados dados da pesquisa

realizada com jornalistas que apontam como os repórteres se referem ao deficiente.

Outra subcategoria é a ‘Como se portar diante de uma pessoa com deficiência’, que

traz informações sobre qual é o comportamento ideal que se deve manter ao se

relacionar com um deficiente, seja qual for a deficiência do individuo. A área ‘Olhar

sobre a Deficiência – Análise de Reportagens’ é uma coluna de análises de como o

deficiente é representado na mídia. A coluna é escrita pela jornalista Emily Kravetz,

egressa da Instituição.

Vídeos: esta página apresenta todo o conteúdo feito vídeo.

Notícias: matérias que tem como temática eventos, datas comemorativas,

ações, iniciativas, dicas e orientações sobre os direitos das pessoas com deficiência

e muito mais. Quando o leitor clicar em ‘Continue lendo” ou no título da matéria na

home será direcionado para está categoria de notícias. Na subcategoria ‘Conheça

20 Cartilha criada pela Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Curitiba. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.curitiba.pr.gov.br/conteudo/cartilhas/145>.

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os direitos para pessoas com deficiência’ encontram-se as leis que garantem os

direitos das pessoas com deficiência. Na outra subcategoria denominada ‘Eventos’

há um calendário de datas comemorativas relacionadas às pessoas com deficiência,

e também os eventos realizados com foco nos deficientes.

Participe: essa categoria é destinada aos leitores do site, para que possam

compartilhar as histórias, dificuldades e conquistas. Além disso, também há um e-

mail para contato.

No canto direito de todas as páginas fica disponível uma coluna com os

vídeos postados no site, os links para as redes sociais e um menu de categorias.

9.2 ENTREVISTADOS

Para a produção do manual, foram selecionadas inicialmente oito pessoas,

sendo cinco jornalistas e três estudantes de Jornalismo, todos com algum tipo de

deficiência. O objetivo foi fazer uma coleta de informações referente aos temas e

pautas que interessariam ao público alvo. As entrevistas foram feitas in loco, por

telefone e por e-mail.

Os entrevistados são21:

Henry Baptista Xavier, deficiente visual e radialista em Curitiba e já trabalhou

na CNT;

Luiz Jansson tem paralisia cerebral e trabalhou no jornal Gazeta do Povo por

quatro anos;

Patrícia Tancredo tem paralisia cerebral e é formada em Jornalismo na cidade

de São Paulo;

Eduardo Silva Purper tem paralisa cerebral e baixa visão, é formado pelo

Centro Universitário Metodista - IPA do Rio Grande do Sul, e Pós-Graduado

em Rádio e TV pela Universidade Tuiuti do Paraná. Trabalha no núcleo de

comunicação da Tuiuti;

Emilia Cussama é deficiente visual total e é estudante do terceiro ano de

Jornalismo em Curitiba;

21

As entrevistas estão compiladas ao final da pesquisa, no Anexo II.

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Roberto Lourenço da Silva tem deficiência visual e está no oitavo período do

curso de jornalismo;

Enrico Luca de Meira Boschi tem diplegia dos membros inferiores, é formado

em Publicidade e Propaganda, e está no sexto período de Jornalismo em

Curitiba.

A partir das oito entrevistas, foram definidas as pautas que seriam apuradas

no manual.

9.3 ESTRATÉGIAS DE DIVULGAÇÃO

Fanpage: com o objetivo de potencializar a divulgação e repercutir os

conteúdos frente ao público alvo, foi criada uma fanpage na rede social Facebook

com o mesmo nome do site, Jornalismo para Todos. Além disso, a página serve

para agrupar pessoas interessadas a temas relacionados às deficiências e

compartilhar todo tipo de conteúdo relevante ao assunto.

Canal no Youtube: o canal na plataforma Youtube reúne todos os vídeos

produzidos para o manual, que são divulgados também nas demais redes sociais e

no próprio site.

Estratégias de assessoria de imprensa: O projeto Jornalismo para Todos

conta ainda com o apoio da assessoria de imprensa da instituição de ensino no que

diz respeito ao agendamento do manual nos veículos jornalísticos locais e regionais.

9.4 COLABORADORES

Para otimizar a confecção do manual, o site Jornalismo para Todos contou

com uma rede de colaboradores voluntários, entre estudantes e professores do

curso de Jornalismo, que produziram conteúdos e auxiliaram no planejamento e

execução da plataforma de acordo com as especificidades das suas áreas do

conhecimento.

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Conteúdos jornalísticos: os alunos do oitavo período Camila Nichetti, Camile

Kogus e Guilherme Pinheiro auxiliaram na produção de materiais jornalísticos de

acordo com as pautas estipuladas pelo autor.

Planejamento da plataforma: as estratégias digitais na produção do manual

foram consolidadas por meio de orientações com os professores Rodrigo Fiorin e

Gabriel Bozza, de modo a otimizar o acesso ao manual às pessoas com ou sem

deficiência. Da mesma forma foram planejadas estratégias vinculadas às premissas

do jornalismo digital, no que diz respeito a questões de interatividade, dinamismo,

usabilidade e a exploração de conteúdos multimidiáticos.

Critica de mídia: a jornalista egressa do UniBrasil, Emily Kravetz, produziu

uma coluna de análise crítica de reportagens jornalísticas no intuito de levantar a

discussão sobre a representação das pessoas com deficiência na mídia. Assim a

seção pretende contribuir com o aprimoramento da abordagem jornalística acerca

deste tema.

Ilustrações: o aluno do segundo período do curso de Design do UniBrasil

Carlos Godoi criou ilustrações exclusivas para acompanhar a seção ‘Como se portar

diante de pessoas com deficiência’.

9.5. DEFINIÇÃO DE PAUTAS

Após colher todas as entrevistas e o questionário que aplicado, juntamente

com a orientadora Maura Martins, foram selecionadas as repostas mais relevantes

para a criação das pautas.

Os temas foram definidos a partir de uma reunião, que contou com a

presença dos colaboradores e da orientadora do projeto, na qual foram apontados

os assuntos que eram mais pertinentes à proposta da plataforma, com base nas

respostas selecionadas dos questionários. A partir disso, foi criada uma lista de

pautas que foram redistribuídas aos voluntários participantes.

Após isso, cada repórter ficou encarregado de produzir em torno de cinco

matérias. O processo de apuração e edição ficou por conta dos colaboradores que,

após a finalização do material, encaminharam todos os conteúdos para revisão e

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aprovação do editor-chefe, Marcio Taniguti, e da orientadora do projeto, Maura

Martins.

9.6. PRODUÇÃO DOS VÍDEOS

Três vídeos foram feitos pela aluna do oitavo período de jornalismo Camile

Kogus, um foi enviado por e-mail pela entrevistada Patricia Tancredo, que mora em

São Paulo, e um foi produzido pelo autor do trabalho e do site. Na sequência, os

materiais foram decupados e editados na ilha de edição do UniBrasil Centro

Universitário.

No estúdio, foram passadas as orientações necessárias e acompanhados os

serviços prestados pelo técnico em edição de vídeos da instituição. Devido à falta de

disponibilidade do tempo de três entrevistados não foi possível, até a apresentação

deste trabalho, fazer os vídeos.

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10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou trazer para o debate em sociedade as dificuldades pelas

quais as pessoas com deficiência passam para entrar no mercado de trabalho, bem

como em instituições de ensino superior, apresentando uma alternativa para a

inserção destes profissionais no mercado de trabalho.

Além disso, a pesquisa aqui desenvolvida também propôs uma nova

perspectiva sobre a representação da pessoa com deficiência pela mídia, o que gera

um estigma dentro da sociedade.

Deste modo, o produto proposto incluiu, ainda, um manual de boas práticas

destinado a jornalistas que tratam do tema da deficiência em suas matérias. O

intuito, portanto, é de que o site “Jornalismo para Todos” consiga contemplar seus

objetivos não apenas na inserção das pessoas com deficiência na prática do

jornalismo, mas colabore com uma reflexão e posterior mudança sobre como este

tema é abordado na mídia.

Para isso, foi realizada uma pesquisa visando analisar como profissionais do

Jornalismo abordam o tema e como estudantes de jornalismo com deficiência

frequentam a faculdade. Ela consistiu em um questionário de 23 perguntas

relacionadas à temática e que buscavam trazer a percepção destas pessoas sobre o

assunto. O questionário foi enviado para jornalistas e estudantes com deficiência.

Além disso, também foi realizada uma análise de conteúdo e uma pesquisa

quantitativa dentro do site Gazeta do Povo, entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015,

visando avaliar matérias que abordassem de alguma maneira pessoas com

deficiência. Para isso, foram utilizados os conceitos teóricos de Goffman (1998) e

Moscovici (2012) e também a definição do termo correto para pessoas com

deficiência emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A partir das respostas, foi decidido criar uma plataforma que abrigasse

conteúdos pertinentes à discussão, bem como a criação de um manual de boas

práticas que servisse de orientação para jornalistas que tratassem sobre o tema e

contou com a colaboração de voluntários na produção de conteúdo.

Todo o processo de produção do presente trabalho serviu para ampliar os

horizontes dentro do âmbito do jornalismo, bem como do cotidiano das pessoas com

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deficiência. O projeto proporcionou troca de experiências essenciais para a reflexão

sobre o modo como tema é abordado na mídia e como podemos melhorar essa

visão. Além disso, ele também serviu de exercício da prática de um jornalismo mais

humanizado com uma perspectiva de produção mais sensível.

Os desafios para a conclusão do projeto foram vários. Todos os obstáculos

enfrentados por jornalistas diariamente, tais como: deadline, busca de temas,

apuração, entrevista com fontes e etc., também foram vencidos para a produção do

portal. Para isso, o presente trabalho contou com a participação de uma equipe de

colaboradores voluntários que, além de auxiliarem na elaboração dos conteúdos,

também se tornaram multiplicadores de ideais sobre o tema.

De modo geral, o Jornalismo para Todos espera tornar-se uma referência

para profissionais e estudantes de Jornalismo que tenham algum tipo de deficiência,

gerando, assim, o engajamento de mais pessoas pelo tema servindo de base para

outras pesquisas e projetos da área.

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REFERÊNCIAS

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ELIAS, N.; SCOTSON, J. L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Jahar, 2000. FARIAS, Norma; BUCHALLA, Cássia Maria. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde: Conceitos, Usos e Perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 8, n. 2, p. 187-193, 2005. FERREIRA, Aurélio Buarque de Olanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FREITAS, Maria Nivalda de Carvalho et al. Socialização organizacional de pessoas com deficiência. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v50n3/03.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2014. GOFFMAN, Erving - Estigma – Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Editora LTC. Brasil, 4/1988. IBGE, Censo Demográfico de 2010. Análise dos resultados: Pessoas com deficiência. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf->. Acesso em: 23 fev. 2014. KIRK, S. A.; GALLAGHER, J. J. Educação da criança excepcional. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. MATHEUS, Natália de Mesquita; SCHLIEMANN, Ana Laura. A construção do conceito de deficiência na área da saúde. Disponível em: <http://www.pucsp.br/pac/downloads/artigo_construcao_conceito.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2014. MEDINA, Jorge Lellis Bomfim. Gêneros jornalísticos: repensando a questão. In:

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MOSCOVICI, Serge. Representações sociais – investigação em psicologia social. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.

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PENIN, Sonia Teresinha; ROBERTI, Sheila. Representações Sociais e Representações do Sujeito: Dialogando com Moscovici e Lefebre. In: Representações Sociais: fronteiras, interfaces e contextos. Organizado por ENS, Romilda Teodora; BÔAS, Lúcia Pintor Santiso Villas; BEHRENS, Marilda Aparecida. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 2013. PEREIRA, Luciane Maria Fagundes et al. Acessibilidade e crianças com paralisia crebral: a visão do cuidador primário. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/fm/v24n2/a11v24n2.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2015. PETEAN, Eucia Beatriz Lopes; MURATA, Marília Ferreira. Paralisia Cerebral: Conhecimento das mães sobre diagnóstico e o impacto deste na dinâmica familiar. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/paideia/v10n19/06>. Acesso em: 01 mar. 2015. PINHEIRO, Renata. Deficiência Mental x Doença Mental. Disponível em: <http://renatapinheiro.com/deficiencia-mental-x-doenca-mental/>. Acesso em: 01 mar. 2015. PONTES, Beatriz Santos; NAUJORKS, Maria Inês; SHERER, Amanda. Mídia Impressa, discurso e representação social: a constituição do sujeito deficiente. Disponível em: <http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/126289896060339383819400159512285338382.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2015. SÁ, Elizabet Dias de; CAMPOS, Izilda Maria de; SILVA, Myriam Beatriz Campolina. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Visual. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2015. SAKER, Fernando Augusto Simões. Jornalismo e pessoas com deficiência. 2010. 228 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://saci.org.br/documentos/dissertasaker_semanexos.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2015. SCORALICK, Kelly. Mídia, cidadania e direito à comunicação a identidade dos deficientes nos telejornais. Disponível em: <http://www.eco.ufrj.br/portal/news/noticias/2009/abr/Sessoes_Divisoes.Tematicas.IntercomSE_2009.pdf>. Acesso em: 23. Fev. 2015. SIQUEIRA, Paulo Cezar de. O jogo antes do jogo. Livro reportagem sobre as experiências de vida de seis paratletas de Curitiba e região metropolitana. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso – UniBrasil, 2013.

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SOUSA, Joana Berlamino de. Jornalismo e Acessibilidade: Apontamentos sobre Contratos de Leitura para Efeitos de Reconhecimento de Leitores Especiais de Jornais Online. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2012/resumos/R7-2297-1.pdf>. Acesso em: 26 out. 2015.

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ANEXOS

Anexo I

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Anexo II

Henry Baptista Xavier:

1) Como você faz as entrevistas?

R: Estudo o entrevistado antes, procuro imaginar o que quem está me ouvindo quer

saber e procuro fazer as perguntas necessárias para fechar a minha matéria.

2) Como checa as fontes?

R: Sempre confirmando com os envolvidos, nunca indo por informações oficiosas.

Prefiro perder alguns minutos e dar a informação correta, do que dar a notícia antes

de todos e ela não se confirmar.

3) Quais as suas principais dificuldades para exercer a profissão de jornalista?

R: Acho que a principal é fazer com que os diretores e coordenadores que não

conhecem o trabalho de um portador de deficiência procurem dar a oportunidade

sem medo, claro que eles não tem a obrigação de saber que, no caso, podemos

desempenhar com qualidade a mesma função que outra pessoa desempenharia,

basta as pessoas acreditarem mais umas nas outras.

Luiz Jansson

1) Você sente alguma diferença em relação à abordagem das fontes por ser

deficiente? Se sim, explique.

R: Pelas fontes, por vezes, alguma estranheza ou surpresa, mas sem tom de

preconceito nenhum.

2) Você sente alguma diferença no tratamento com seus chefes ou colegas de

profissão por ser deficiente? Se sim, explique.

R: Não sei se seria preconceito a palavra, mas, por vezes, senti que faltou

acreditarem mais em mim e no meu trabalho. Entendo todas as preocupações da

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empresa por ser alguém com limitações, mas acredito que se uma pessoa com

deficiência se propõe a fazer algo, é porque está segura e sabe que pode dar mais.

3) E a deficiência, trouxe alguma vantagem para o exercício da profissão?

R: O ingresso foi fácil por conta da vaga disponível para pessoas PCD, mas meu

desenvolvimento, quando fui promovido, foi mais dificultoso, pois tive que me

mostrar plenamente apto para a nova função. Tirando isso, tudo aconteceu

normalmente. Aliás, uma coisa que vale a pena ressaltar é que vaga para PCD tem,

mas cargos em áreas que realmente queremos é difícil. Quando não te enchem de

perguntas pertinentes à vaga, fazem outras, por vezes indiscretas e bobas. Eu

mesmo já cheguei a me candidatar a vagas para as quais não informei ser

deficiente. Não por vergonha, mas em busca de mais oportunidades de poder me

mostrar mesmo na seleção. Por fim, acredito que neste aspecto o candidato, deveria

ter "prioridade" após a primeira entrevista, se estivesse no perfil da vaga ofertada.

Estes anúncios de vagas previamente anunciadas, por vezes, prejudicam ao invés

de beneficiar.

4) Em qual área do jornalismo você trabalha ou trabalhou? Existem boas

perspectivas?

R: Anteriormente, na editoria cultural. Pretendo continuar em grandes veículos de

comunicação e atuar em diferentes editorias. Porque, para mim, jornalista que muito

seleciona, se limita.

Patrícia Tancredo

1) Como você faz as entrevistas?

R: As entrevistas para o TCC e para a disciplina de telejornalismo foram feitas

presencialmente, meus pais me levavam. Para os outros trabalhos, as entrevistas

foram feitas por e-mail.

2) Você tem alguma referência profissional dentro do jornalismo?

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R: Tenho algumas. O jornalista Jairo Marques, por abordar a deficiência de forma

natural. No telejornalismo, tenho Neide Duarte, Marcelo Canellas e Ednei Silvestre

por abordarem assuntos com sensibilidade ímpar.

3) Teve alguma disciplina que você enfrentou mais dificuldade? Qual foi e por quê?

R: Tive um pouco de dificuldade nas disciplinas práticas. A dificuldade foi à

necessidade de usar a voz.

Eduardo Silva Purper

1) É formado há quantos anos?

R: Sou formado há 6 anos, pelo Centro Universitário Metodista - IPA do Rio Grande

do Sul, e fiz Pós-Graduação em ráadio e TV pela Universidade Tuiuti do Paraná.

2) Teve alguma disciplina que você enfrentou mais dificuldade? Qual foi e por quê?

R: Tive dificuldade na disciplina de diagramação, devido a minha visão.

3) Como você faz as entrevistas?

R: Eu faço uso do gravador, como as matérias são para a rádio, faço as entrevistas

em áudio.

4) Quais as suas principais dificuldades para exercer a profissão de jornalista?

R: Minha maior dificuldade é não conseguir trabalhar no computador.

Emilia Cussama

1) Em algum momento você se sentiu limitada para cursar a graduação?

R: Sim, quando foi para fazer fotos e filmagens, vi que isso, para cego, é um pouco

limitado. Foi feito um trabalho em equipe e eu vi que estava ficando de lado, quando

sugeri para minhas colegas, que elas filmariam e eu faria as perguntas e a

entrevista, a partir desse momento fui me envolvendo.

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2) Como é o acesso dentro da faculdade?

R: Bom, tem linha tátil no chão, para eu saber onde estou, tem elevadores com voz

e também em braile.

3) Como faz para anotar o que o professor passa?

R: Através do computador, tem adaptação com voz.

4) Como você faz as entrevistas?

R: Nas entrevistas eu faço em equipe, uma colega grava ou fotografa, a outra

segura o microfone e eu faço a entrevista.

5) Como checa as fontes?

R: Eu geralmente faço através do computador, ele é minha ferramenta de trabalho.

Roberto Lourenço da Silva

1) Como eram as provas? Havia alguma diferença entre aquelas aplicadas aos

outros alunos?

R: Nas provas, sempre pedi que fossem ampliadas e impressas em fonte 16,

enxergo na tamanho normal 12, mas, para evitar o desgaste visual, sempre pedi em

tamanho maior.

2) Fazia estágio na área?

R: Não, mas nos meus últimos 2 anos de faculdade fui funcionário de um jornal e,

sendo assim, tive a oportunidade de fazer um estágio indireto, por assim dizer, e

apreender olhando na convivência do dia a dia da profissão.

3) Em algum momento você se sentiu limitado para cursar a graduação?

R: Acredito que ao longo do curso todos sentimos dificuldades para desenvolver

certas atividades, tendo alguma deficiência física ou não, contudo lógico que o fato

de ter que sempre superar as limitações da visão, cheguei a achar que não iria

conseguir realizar determinadas atividades. Entretanto, meu desejo de fazer aquilo

que amo sempre foi maior que qualquer dificuldade que passei ao longo da minha

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formação acadêmica, sempre me motivando com uma força mental e superação fora

do comum.

Enrico Luca de Meira Boschi

1) O que te levou a cursar jornalismo?

R: Primeiramente, uma proximidade e afinidade com as letras. Aprendi a “lógica da

escrita” estudando em casa antes mesmo de integrar o ensino regular e, desde os

10 anos, sonhava em trabalhar na redação de um grande jornal, revelando fatos e

contribuindo com a sociedade.

2) Teve alguma dificuldade para entrevistar alguma fonte?

R: Sim, em um evento que reunia colecionadores de carros, em um espaço público

bastante amplo, sem muitas opções de apoio

3) Como checa as fontes?

R: Hoje a internet ajuda muito nesse processo. Uma busca em entrevistas anteriores

ou mesmo em redes sociais pode revelar muitos aspectos, tanto da vida pessoal ou

profissional, tanto de entrevistado, quanto de fontes. Sempre existe a possibilidade

de se buscar opiniões de colegas de profissão, órgãos de informação ou de

pesquisa especializados na requerida informação e, em último caso, um encontro

pessoal.

4) O que você gostaria de saber e que percebe que é pouco divulgado na mídia, em

relação às pessoas com deficiência?

R: Acho que é necessário uma real absorção desse profissional por parte das

empresas, indo além da simples inclusão para cumprimento de demandas legais.

Nesse sentido, a mídia deve retratar o PCD como alguém com plena capacidade de

contribuir efetivamente com a organização, podendo, inclusive, exercer cargo de

liderança se estiver capacitado para tal.

5) Você sente alguma diferença no tratamento com seus chefes ou colegas de

profissão por ser deficiente? Se sim, explique.

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R: Sim, e, em alguns casos, muito evidentes. O profissional PCD tem de conviver

com o estigma das cotas mesmo que não seja esse o caso. Do mesmo modo, seus

eventuais erros podem ser, dependendo do gestor, vistos com uma carga maior de

importância em relação aos demais colegas.