teorias das formas de governo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO MIRELE QUEIROGA DE OLIVEIRA ESTUDO DIRIGIDO

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Page 1: Teorias das Formas de Governo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

MIRELE QUEIROGA DE OLIVEIRA

ESTUDO DIRIGIDO

SOUSA-PB

ABRIL/2011

Page 2: Teorias das Formas de Governo

MIRELE QUEIROGA DE OLIVEIRA

ESTUDO DIRIGIDO

Trabalho apresentado à disciplina Ciência Política, ministrado pelo professor Epifânio Damasceno, da Unidade Acadêmica de Direito- CCJS-UFCG.

SOUSA-PB

ABRIL/2011

Page 3: Teorias das Formas de Governo

Teorias das Formas de Governo

1. Descreva a idéia de Platão sobre o rei-filósofo e como ela se encaixa na dinâmica

das formas de governo. Caracterizada a figura do filósofo, Platão demonstra que estes

são capacitados de governar, porque conhecem a essência das coisas, porque acreditam

e guardam os costumes e as leis da cidade, sem se perderem nas aparências das coisas e

das opiniões. Os filósofos por serem buscadores da verdade e do conhecimento são

avessos à mentira, moderados em relação aos prazeres, honestos e corretos. Em suma,

são os mais aptos a governar, pois sabem o que é a justiça e bem, podendo assim

praticá-los com sapiência. Tendo como governante um filósofo, o estado seria

harmônico e não haveria a corrupção rápida de uma forma de governo, que tem como

consequencia a sucessão por outra forma de regime, que segundo Platão vem a ser pior

que a anterior.

2. Por que Platão considera que a constituição boa não se ajusta à história? Para

Platão todas as formas de governo são más por serem uma corrupção da forma de

governo ideal e perfeita. As formas de governo não estão conectadas apenas a

organização social, mas também com as vertentes históricas da época. Na antiguidade

clássica acreditava-se que as formas de governos tivessem um movimento cíclico. Uma

forma de governo seria sucedida por outra, que segundo Platão, era mais decadente que

a anterior, assim, não haveria uma constituição boa e todas as formas de governo seriam

corruptíveis através do excesso. Platão vê na história não uma forma de progresso

indefinido, mas uma de regresso definido, um regresso do mal para o pior. Diante da

degradação contínua da história, a solução só pode estar “fora” da história, atingida por

um processo de sublimação, nesse contexto estaria à constituição boa.

3. Tomando o princípio de Platão que a quebra da unidade do Estado é o princípio

da corrupção explique de forma sintética como se dá a passagem das formas

corrompidas de governo. O processo de quebra do estado começa com a discórdia,

princípio da desagregação da unidade. Da discórdia surgem os males da desestruturação

social, a cisão dos partidos, a constituição de facções e o caos. Existem duas

modalidades de discórdia: uma ocorre dentro da classe dirigente, através das

transformações internas; a outra devido ao conflito entre dirigentes e dirigidos, que

implica a transferência do poder de uma classe para outra. Assim, por uma ordem

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lógica, haveria a passagem da aristocracia para a timocracia, que por sua vez passaria

para a oligarquia (conflitos na classe dirigente), sendo esta posteriormente sucedida pela

democracia (conflitos entre dirigente e dirigidos).

4. A partir da politeia de Aristóteles o conceito de constituição e forma de governo

se atrelaram. Como se comporta hoje esse pensamento acerca da constituição

diante da diversidade de governos existentes? A constituição é a estrutura que dá

ordem a cidade, determinando o funcionamento de todos os cargos públicos e,

sobretudo da autoridade soberana. A Constituição é um conjunto de regras de governo

que enumera e limita os poderes, define a política fundamental, princípios políticos, e

estabelece à estrutura, procedimentos, poderes e direitos, de um governo. Ao limitar o

alcance do próprio governo, a maioria das constituições garante certos direitos para o

povo. Nos dias de hoje os Estados em geral possuem uma estrutura constitucional, isto

significa que eles seguem a Constituição, que é uma lei geral à qual todas as outras se

submetem, sendo o conjunto de normas que um país escolheu para ser seguido por toda

a sociedade.

5. Comente a divergência de pensamento de Platão e Aristóteles sobre a passagem

das formas de governo e a existência de uma forma boa. Para Platão as distinções

das formas de governo seguem os critérios que são dois: a violência e consenso,

legalidade e ilegalidade. As formas boas são aquelas em que o governo não se baseia na

violência, mas sim no consentimento ou na vontade dos cidadãos, onde ele atua de

acordo com leis estabelecidas e não arbitrariamente. Já para Aristóteles estas distinções

eram feitas através do interesse comum ou interesse pessoal. As formas boas são

aquelas em que os governantes visam o interesse comum e más são aquelas em que os

governantes tem em vista o interesse próprio.

6. Aristóteles considerava a monarquia como a melhor constituição e a tirania

como a pior. Justifique esse pensamento voltando-se para o conceito dele sobre a

pólis. Segundo Aristóteles e Platão, "a marca da tirania é a ilegalidade", ou seja, "a

violação das leis e regras pré-estipuladas pela quebra da legitimidade do poder" por si já

determina a tirania. Uma vez no comando, "… o tirano revoga a legislação em vigor,

sobrepondo-a com regras estabelecidas de acordo com as conveniências para a sua

perpetuação deste poder". Exemplo disso são as descrições de tiranias na Sicília e na

Grécia antiga, cujas características assemelham-se às modernas ditaduras. Ainda

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segundo Platão e Aristóteles, os tiranos são ditadores que ganham o controle social e

político despótico pelo uso da força e da fraude. A intimidação, o terror e o desrespeito

às liberdades civis estão entre os métodos usados para conquistar e manter o poder.

7. Aristóteles propõe que formas de governo boas podem surgir da fusão de formas

más. Nessa ótica explique a teoria do governo misto. Aristóteles acredita que a

melhor forma de governo tem de estar pautada na média, no intermediário. Para

Aristóteles, a oligarquia e a democracia eram baseadas não no critério numérico, mas

sim no critério de divisão das classes sociais. A oligarquia era um governo de ricos, que

representam a minoria e a democracia um governo de pobres, que por sua vez

representa a maioria. A politia é uma mistura de oligarquia e democracia, ou seja, a

união entre ricos e pobres onde reina a paz social. O método dessa fusão deveria seguir

os seguintes critérios:

Conciliar procedimentos que seriam incompatíveis: a conciliação entre os dois

sistemas poderia consistir em algo intermediário e comum, como a promulgação

da lei que penalize os ricos não-participantes e dê um prêmio aos pobres

participantes.

Adotar um meio termo entre os extremos dos dois regimes: consiste em diminuir

o limite mínimo de renda imposto pelo regime dos ricos, elevando o permitido

no regime dos pobres.

Recolher o melhor dos dois sistemas legislativos: conservar o método eleitoral e

excluir o requisito de renda que era necessária para participar do mesmo.

8. No que diferem os modelos de sucessão das formas de governo de Platão e

Políbio? E no que concordam? A priori as distinções são referentes à natureza

terminológica de formas de governo. Políbio chama a terceira forma boa de governo de

democracia, enquanto Platão usa o mesmo termo para designar a forma corrupta da

timocracia. Políbio, assim como Platão, acredita na sucessão cíclica das formas de

governos, entretanto, para Políbio existia neste ciclo a alternância de constituições boas

e más, com uma concepção de que a constituição boa que sucede é inferior aquela que a

precede; a má é pior do que a má que a precede. Para Platão este ciclo funciona com um

processo contínuo, em que só existe a sucessão de uma forma má por uma pior. Diante

deste processo, existe ainda uma diferença entre estes pensadores, para Platão a última

fase é a tirania e para Políbio a olocracia. Entre as semelhanças podemos citar que a

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distinção das formas das constituições em boas ou más é similar a de Platão, ambos

acreditavam no governo baseado a violência e consenso, legalidade e ilegalidade.

9. Com qual sentido Políbio emprega o termo “força da natureza” na descrição das

mudanças nas constituições? Representa a lei natural segundo as formas políticas se

transformam, decaem e retornam ao ponto inicial. Segundo Políbio este processo é

fatalista, predeterminado e necessário. Está presente também a concepção de que cada

forma de governo possui um sucessor determinado. Em suma, o germe da corrupção

está no interior de todas as constituições.

10. Fale sobre a afirmativa de Políbio que se refere aos vícios insanáveis das

constituições simples e sobre o remédio que ele elegeu para a resolução desse

problema. Como visto na teoria dos ciclos e em sua composição fatalista e natural,

nota-se que todas as constituições são corruptíveis, ou seja, todas sofrem de um vício

que pelo pensador é denominado de instabilidade. Visto que o correto seria que a

constituição fosse o mais estável possível, as referidas, mesmo sendo consideradas boas

são também más, pois a instabilidade leva a uma falência na ordenação dos cargos

governativos impedindo um desenvolvimento regular da vida civil. A solução para este

vício seria adotar o governo misto, isto é, uma constituição que uni as três formas

clássicas, onde o rei está sujeito ao controle do povo, que participa adequadamente do

governo, que por sua vez é controlado por senado. Sendo a monarquia representada pelo

rei, o povo pela democracia e o senado pela aristocracia.

História das Idéias Políticas

1. Como Platão entendia a função do Estado versus a dependência dele sobre as

leis diante da importância da coletividade em sua filosofia? A política depende das

leis para realizar-se, efetivar-se e ser praticada. Contudo a missão das leis não se exaure

em apenas proibir e coibir, devendo também estimular, incentivar, educar. Nessa

filosofia, as leis são molas propulsoras dos cuidados para com a coletividade, tomada

em sua totalidade, e para com os indivíduos, tomada como parte de um todo. Os fins do

Estado não se resumem a dotar os cidadãos do mínimo para a subsistência, mas incluem

também direcioná-los para o melhor e para o bem.

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2. Por que Platão considera a educação tão atrelada à política e aos deveres de

cidadão da pólis? Para Platão a verdadeira missão da política é a educação. Educar as

almas é função de todo o Estado. Assim também, as almas são educadas para servir aos

fins maiores do estado, de modo de que cada tipo de função comporte um tipo de

educação. O bem-estar da cidade, e, por consequencia, do indivíduo, é determinado

pelas condições com as quais se estruturam as políticas do Estado.

3. No modelo platônico da organicidade do Estado a Política e a Justiça são

essenciais, pois demonstram valores nos quais a pólis está arraigada. Comente a

importância deles no cotidiano das funções estatais. A sociedade ideal é aquela em

que cada classe e cada unidade façam o trabalho ao qual a sua natureza e sua aptidão

melhor se adaptassem, aquela em que nenhuma classe pudesse interferir nos outros, mas

todos iriam cooperar na diferença para produzir um todo eficiente e harmonioso. Em

suma, a organização política da pólis pode ser considerada justa quando se fundamenta

na coordenação harmoniosa, onde o Estado dá a cada um o que lhe compete, para qual a

educação o preparou.

4. Na concepção de Platão as leis estão em um ponto estratégico no que tange ao

sucesso da cidade. Nesse contexto como o rei-filósofo se comportaria em relação

aos governados? As leis são o absoluto que não distingue as diferenças das pessoas e

dos casos, podendo causar malefícios quando aplicadas. Esta mesma lei não é capaz de

estabelecer o melhor e o mais justo para todos devido às diversidades e distinções que

há entre os homens e suas ações. Daí a necessidade de um governante que ordene as leis

com sabedoria, retidão e justiça, beneficiando a comunidade governada.

5. Como a educação poderia transformar os maus governantes a ponto de se

tornarem os melhores guias do coletivo em direção à felicidade? Para Platão, é pela

educação que se entrevê possibilidades da reconstrução das raízes da pólis. Na condição

desta restauração estaria a figura do rei-filósofo que, com seu conhecimento e dialética,

levaria a população para uma verdadeira organização pública. Este rei-filósofo faria da

pólis um lugar de felicidade e realizações coletivas através da educação.

6. Justifique a importância da pólis diante da afirmativa aristotélica do homem

como um “animal político”. A pólis é a comunidade cívica necessária para o ser

racional. Devido a isto, o homem é essencialmente um ser político, pois deve se adequar

à vida na cidade-estado. O homem é um animal político, enquanto ser social e racional.

Page 8: Teorias das Formas de Governo

A natureza humana é, pois, necessariamente, uma natureza social e política, com uma

dimensão irrecusavelmente jurídica.

7. Ser grego no mundo antigo era poder desempenhar as virtudes cívicas. De que

forma Aristóteles justifica o uso dessas virtudes naturalmente para uns e para

outros não? Parte da população grega não podia desempenhar funções cívicas, entre

estes, as mulheres, as crianças e os escravos. Para Aristóteles, o homem civil deveria

não ter amarras domésticas, para que este pudesse desempenhar com mais desenvoltura

suas atribuições cívicas. Para tanto, havia a necessidade de alguém suprisse estes

afazeres, sendo os mesmos, os escravos, pensamento que atribuía a ideia de que alguns

não nasceram para a vida cívica, mas sim, para servir e livrar fardos que impedissem

uma atuação mais eficaz dos homens naturalmente dotados de funções públicas. Uma

das distinções feitas por Aristóteles nesta obra é entre Natureza de escravo e escravidão,

onde natureza de escrava se refere aos homens que não pertencem a si próprios, não tem

propósitos e finalidades próprios, de modo que buscam servir aos propósitos de outro. O

sujeito em questão, portanto, encontra propósito servindo como instrumento às

finalidades alheias. Já escravidão é a apropriação dos homens vencidos na guerra, por

meio de força e violência. Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo; mas

constata que na sociedade são necessários também os trabalhos materiais, que exigem

indivíduos particulares, a que fica assim tirada fatalmente a possibilidade de

providenciar a cultura da alma, visto ser necessário, para tanto, tempo e liberdade, bem

como aptas qualidades espirituais, excluídas pelas próprias características qualidades

materiais de tais indivíduos, daí a escravidão.

8. Se Aristóteles diz que a lei é razão e por isso soberana e acima dos homens então

por que é necessário que haja homens para governar? Aristóteles afirma que a lei é

soberana sobre os homens, já que a mesma não é pautada em emoções. Entretanto, é

necessário julgar quais as leis são favoráveis e desfavoráveis. Quando as leis exercem

apenas uma função supletiva, onde não haja exatidão legal, deve entrar a atuação do

homem, operando-se da justiça.

9. Qual o argumento usado por Aristóteles para justificar o sucesso da classe

média para conduzir a comunidade política com igualdade e unidade? A classe

média é intermediária, sendo assim constituída em homogeneidade; detém posses

moderadas de bens; sabe obedecer e mandar; não é assediada por muita fortuna e nem

Page 9: Teorias das Formas de Governo

se entrega à delinquencia; constitui um grupo de iguais, capaz de manter a ordem sob os

princípios da igualdade.

10. Aristóteles fala de três poderes essenciais para constituir a pólis ideal. De que

forma esses poderes agem para cumprir essa determinação? Os três poderes são os

seguintes:

Funções de deliberar: devem fazê-lo acerca da pena de morte, das leis, das

alianças e dissoluções com outras cidades estados, da guerra e da paz, das

contas, da eleição dos magistrados. Esse é o âmbito material para o exercício da

soberania deliberativa pelos que a exercem. Como se distribuem nessa função,

como são nela investidos, é o que define o regime.

Exercer magistratura: são investidos de relevante função pública. As funções

públicas são muitas, e não uma só, de modo que é difícil definir que classe de

cargos pode ser chamada de magistratura.

Administrar a justiça: as variações na distribuição dessa espécie de função

pública também redundam em regimes diversos, aristocracia, oligarquia,

república, etc., de acordo com as possíveis combinações.