teorias da linguagem 2011-2012

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL) INSTITUTO SUPERIOR MANUEL TEIXEIRA GOMES (ISMAT) CURSO DE PSICOLOGIA Maria Celeste dos Reis Raposo 2011/2012s Reis Raposo Maria Celeste dos

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

INSTITUTO SUPERIOR MANUEL TEIXEIRA GOMES (ISMAT)

CURSO DE PSICOLOGIA

Maria Celeste dos Reis Raposo

2011/2012s Reis RaposoMaria Celeste dos

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEMCOMPETÊNCIAS

- Conhecimento dos principais modelos teóricos sobre a génese e o desenvolvimento da linguagem.

- Compreensão das relações da linguagem com o pensamento e suas consequências em termos de pragmática da comunicação.

- Conhecimento dos processos de aquisição e desenvolvimento da linguagem

OBJECTIVOS

- Conhecer o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem.

- Identificar as principais teorias explicativas sobre a aquisição e desenvolvimento da linguagem.

- Identificar os factores explicativos de aquisição da linguagem no quadro dos vários modelos teóricos.

- Caracterizar as várias teorias explicativas da aquisição da linguagem.

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TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

CONTEÚDOS- Abordagens teóricas sobre a aquisição da linguagem: Behaviorismo; Inatismo; Sócio-Construcionismo; Cognitivismo.

- Características gerais do processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem.

BIBLIOGRAFIA - Chomsky, N.; Piaget, J. (s/d). Teorias da Linguagem Teorias da Aprendizagem. Lisboa: Edições 70

 - Costa, J.; Santos, A. L. (2003). A Falar Como os Bebés. Lisboa: Editorial Caminho

- Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da Linguagem. Lisboa: Universidade Aberta

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TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

BIBLIOGRAFIA (cont.) 

Slater, A.; Darwin, M. (1999). Psicologia do Desenvolvimento. Lisboa: Instituto Piaget  

Smith, P.K.; Cowie, H; Blades, M. (1998). Compreender o Desenvolvimento da Criança. Lisboa: Instituto Piaget

Vygotsky, L. S. (1991). Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes

Vygotsky, L. S.; Luria, A.R.; Leontiev, A. N. (1988). Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. Ícone: Editora da Universidade de São Paulo

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TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

1) O Behaviorismo de Skinner (Teoria Behaviorista)

2) O Inatismo de Chomsky (Teoria Inatista ou Inativista)

3) O Socio-Construcionismo (Socio-Interaccionismo) de Vygotsky e Brunner (Teoria Interaccionista)

4) O Cognitivismo de Piaget (Teoria Cognitivista)

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TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

1) BEHAVIORISMO (SKINNER)

Para Skinner, as crianças ganham mestria do comportamento verbal através da interacção com o ambiente e imitando o que observam.

O papel do meio (pais, pares...) é determinante na estabilização do comportamento linguístico da criança. O desenvolvimento da linguagem depende exclusivamente de variáveis ambientais, sendo determinado pela prática ou exercício e não pela programação genética.

A aprendizagem em geral e a linguagem, em particular, vai ser adquirida por condicionamento, quer seja o condicionamento clássico (Pavlov); condicionamento operante (Thorndike e Skinner) e modelatório.

A linguagem é um comportamento como outro qualquer e como tal aprende-se como se aprendem os outros comportamentos (imitação e erro).

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TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

2) INATISMO (CHOMSKY)

Os seres humanos nascem com predisposição, com capacidades inatas para adquirir a linguagem. Para Chomsky, é inegável que o facto da criança aprender a falar é um fenómeno biológico.

Há uma ausência de papel para o meio social e mesmo físico na aquisição da linguagem. O desenvolvimento da linguagem reside no equipamento inato da criança e não em influências ambientais como o ensino ou a modelação.

A linguagem é um comportamento específico, próprio do homem que é o único animal dotado de razão. A linguagem é uma característica distintiva.

A criança vem ao mundo com capacidades verbais já programadas. Chomsky propôs que os humanos nasciam equipados (DAL) – um processo linguístico inato e activado por meio da recepção de informações verbais.

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TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

3) SÓCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Para os interaccionistas, a linguagem é um meio de comunicação que se desenvolve num contexto de interacção social.

As interacções sociais (pais, pares...) constituem a base do desenvolvimento linguístico, as quais modelam e confirmam as aquisições linguísticas infantis. A criança participa de forma activa e intencional, na aquisição da linguagem.

Os interaccionistas acreditam que tanto os teóricos da aprendizagem quanto os inatistas estão parcialmente correctos. A perspectiva interaccionista afirma que a linguagem reflecte a interacção entre a natureza (factores biológicos) e a educação (influências ambientais).

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TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

4) COGNITIVISMO (PIAGET)

A teoria de Piaget diferencia-se do inatismo (de Chomsky) e do empirismo (de Skinner) e ele tentou demarcar-se tanto de um como de outro. É sobretudo, contra o empirismo (de Skinner) que ele mais se insurgiu.

Para Piaget, o aparecimento e a evolução da linguagem dependem da evolução cognitiva. O nível da linguagem em cada idade é a manifestação do seu nível cognitivo.

O desenvolvimento linguístico depende do desenvolvimento cognitivo, ou seja, a linguagem está subordinada ao desenvolvimento cognitivo. É a evolução cognitiva que determina a evolução da linguagem.

A linguagem é um comportamento como outro qualquer e a sua evolução está relacionada com o estádio de desenvolvimento cognitivo da criança.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

Em meados do século XX, a tradição do behaviorismo era dominante na psicologia, sobretudo nos U.S.A, devido ao trabalho de B. F. Skinner que, no seu livro “Verbal Behavior” (1957) se propôs aplicar os princípios behavioristas à aquisição da linguagem.

Para Skinner, as crianças aprendem a falar apropriadamente porque são reforçadas pelo discurso gramático.

As crianças aprendem a linguagem como aprendem todos os outros comportamentos, nomeadamente, através do condicionamento operante, isto é, do reforço de actos que são considerados “correctos” pelos adultos.

O reforço do comportamento verbal é produzido por recompensas, como o elogio ou a demonstração de que a elocução da criança foi compreendida, daí que a criança repita esse comportamento, em ocasiões futuras.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

Para a maioria dos adultos, como é que as crianças aprendem a falar?

A resposta é: imitam o que ouvem, são reforçadas quando usam a gramática correcta e são corrigidas quando falam de modo errado.

Os hehavioristas enfatizam os mesmos processos – imitação e reforço – nas suas teorias de aprendizagem da linguagem.

Os pais começam a moldar a fala da criança, desde muito cedo, ao reforçar selectivamente aspectos do balbucio semelhantes a palavras, aumentando a probabilidade desses sons serem repetidos.

Após terem “moldado” os sons em palavras, continuam a reforçar (atenção ou aprovação) e a criança começa a combinar palavras, formando frases e formações gramaticais mais longas. Ex: O bebé emite o som “ma”e a mãe responde “Mamã, sim, eu sou a mamã.”e transforma esse som em “mamã”.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

Na perspectiva behaviorista, as crianças podem imitar espontaneamente o discurso dos adultos e se houver reforço, dá-se, igualmente, uma aprendizagem.

Para os behavioristas, a linguagem é aprendizagem: - As crianças portuguesas aprendem português; - As crianças francesas aprendem francês;- As crianças japonesas aprendem japonês;- As crianças surdas de pais falantes podem adquirir algumas habilidades de comunicação formal, se não forem instruídas na linguagem dos sinais (língua gestual).

A imitação e o reforço, sem dúvida, contribuem para o desenvolvimento precoce da linguagem. Não é por acaso que as crianças aprendem a falar a mesma língua que seus pais, com o mesmo sotaque regional.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

A aprendizagem em geral e a linguagem, em particular, vai ser adquirida por condicionamento, quer seja o condicionamento clássico (Pavlov); condicionamento operante (Thorndike e Skinner) e modelatório.

Condicionamento: é o processo básico de aprendizagem através da associação estímulo (S) à resposta respectiva (R).

Condicionamento clássico (de Pavlov): aprendizagem descrita por Pavlov e que consiste na associação de um estímulo condicionado a uma resposta. Consiste na aquisição e estabelecimento de uma associação entre um estímulo inicialmente neutro com um estímulo não condicionado que origina a resposta natural de salivação e, que, ao fim de vários ensaios, adquire o poder de produzir uma resposta condicionada.

Exemplo do condicionamento clássico é a famosa experiência de Pavlov sobre a salivação do cão, ao ouvir uma campainha que consistentemente lhe foi apresentada simultaneamente com um pedaço de carne que o fazia salivar. A carne é o estímulo não condicionado que provoca a resposta natural da salivação e a campainha é o estímulo condicionado à situação.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

Condicionamento operante (de Thorndike e Skinner): é o procedimento pelo qual um indivíduo adquire um determinado padrão de comportamento, em consequência de ter sido recompensado por o ter, ou punido por não o ter adquirido.

Condicionamento operante consiste na aprendizagem que envolve um estímulo e uma resposta e as suas consequências. É chamado Skinneriano e relaciona-se com os estudos da psicologia animal realizados por Thorndike.

Condicionamento operante: em presença de um estímulo (referência-objecto) a criança emite uma resposta (palavra) que o ambiente reforça ou não (incompreensão, correcção pela mãe, obtenção do objecto…). O reforço positivo ou negativo leva à discriminação do estímulo (as crianças imitam palavras e são reforçadas). Os pais seleccionam e reforçam as respostas verbais adequadas e diminuem a frequência das respostas erradas, modelando assim a aprendizagem, por via do reforço.

As crianças aprendem a falar tal como aprendem outros comportamentos, através do condicionamento operante, isto é, o reforço de actos que são correctos para o adulto.

Modelatório (modelação): é a aprendizagem através da observação (imitação) de outrém e dos respectivos resultados (consequências) obtidos.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

CRÍTICAS:- Uma das críticas tem a ver com as regras gramaticais - se os pais realmente moldassem a gramática, teriam de elogiar e de reforçar, de outra maneira, as expressões gramaticais dos filhos.

Análises de conversas entre mães e filhos revelam que a aprovação ou desaprovação da mãe depende muito mais do valor verdadeiro (da semântica) do que uma criança fala e não da afirmação gramaticalmente correcta (Baron, 1992; Brown et al, 1969).

Ex: Se uma criança olha para uma vaca e diz “Ele vaca” (verdadeiro, mas gramaticalmente incorrecto), a mãe aprova (“Sim, sim, é uma vaca”) mas se a criança tivesse dito “Um cachorro” (gramaticalmente correcto, mas falso, porque era uma vaca), a mãe corrigia logo “Não, não, não é um cachorro, é uma vaca”.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

- Não há evidências de que as crianças adquiram as regras gramaticais imitando o discurso adulto. Há palavras que elas usam que nunca foram escutadas por um adulto como “eu pusi” (em vez de pus) ou “eu trazi” (em vez de trouxe) ou “eles poram” (em vez de puseram).

- Quando as crianças tentam imitar a frase de um adulto que diz “Olha, aquele gato está subindo àquela árvore”, elas condensam a informação para adequá-la ao seu nível gramatical disponível e repetem “gato sobe árvore” (Baron, 1992; Bloom et al, 1974).

Levanta-se a seguinte questão: Então, como é que as crianças pequenas adquirem o conhecimento gramatical se não imitam directamente a gramática adulta e não são consistentemente reforçadas a falar de modo gramatical? Este aspecto não é respondido pela teoria behaviorista. É mais uma das fragilidades da teoria.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

Em síntese: - Não há provas de que os pais actuem como professores de linguagem, como Skinner afirmava. Os pais são tolerantes em relação às verbalizações dos filhos, nos primeiros anos de vida. Raramente, corrigem os aspectos gramaticais das frases dos filhos.

- A imitação é importante para a aquisição de palavras individuais mas não explica a aquisição de estruturas gramaticais;

- Não há provas de que as crianças imitem o discurso dos adultos; criam as suas próprias frases, de acordo com o seu estádio de desenvolvimento.

- Esta teoria não explica a rapidez com que uma criança aprende a construir enunciados mais complexos, pelo que a imitação não é explicação suficiente.

- Não considera o nível de criatividade, fundamental na linguagem humana.

- Não especifica os tipos de reforços a fazer e as suas consequências.

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BEHAVIORISMO (SKINNER)

- A teoria behaviorista não equaciona a natureza descontextualizada da linguagem, isto é, mesmo na ausência de estímulo a criança é capaz de produzir linguagem.

- Skinner coloca todo o ónus nos adultos e no seu papel de reforço e ensino, considerando as crianças como meras receptoras passivas, como tábuas rasas que o meio vai modelar.

- Afinal, sabe-se que as crianças são activas, na tentativa de dominar as formas de comunicação e no seu esforço por compreender as regras que presidem à linguagem.

O aspecto criativo do desenvolvimento é esquecido na perspectiva mecanicista adoptada pelos behavioristas e, como tal, condenou esta teoria ao fracasso.

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INATISMO (CHOMSKY)

Conceitos que importa saber, na teoria nativista (inatista) de Chomsky:

- Fundamentos teóricos para a teoria inatista.

- Dispositivo de Aquisição da Linguagem (DAL ou LAD).

- Gramática universal (GU).

- Modelo de aquisição de linguagem.

- Bases biológicas que sustentam o inatismo do desenvolvimento linguístico.

- Hipótese do período crítico ou período sensível de aquisição da linguagem (Erik Lenneberg, 1967).

- Problemas com a teoria inatista

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INATISMO (CHOMSKY)

O nativismo ou inatismo é uma teoria biológica do desenvolvimento da linguagem. Assenta num carácter inato dos sistemas biológicos e físicos que dotam os seres humanos da capacidade de adquirirem linguagem.

A aquisição da linguagem é uma actividade biologicamente programada.

Os inatistas (nativistas) sustentam que as crianças, em todo o mundo, parecem adquirir as mesmas realizações linguísticas, com a mesma idade:-balbuciam entre os 4 e os 6 meses;-falam a sua primeira palavra significativa por volta dos 12 ou 13 meses;-começam a combinar palavras no final do 2.º ano;-conhecem o significado de milhares de palavras e constróem uma variedade impressionante de sentenças gramaticais (aos 4 e 5 anos).-usam a maior parte das estruturas sintácticas das suas línguas maternas (aos 4 e 5 anos) sem terem recebido qualquer lição formal sobre gramática.

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INATISMO (CHOMSKY)

O facto das crianças atingirem, em todo o mundo, as mesmas realizações linguísticas, com a mesma idade, revela a existência de uma linguística universal, ou seja, um aspecto do desenvolvimento da linguagem compartilhada por todas as crianças.

O desenvolvimento da linguagem reside no equipamento inato da criança e não em influências ambientais como o ensino ou a modelação. Aprender a falar é um fenómeno biológico. A genética é o mecanismo explicativo e que subjaz à aquisição da linguagem.

Contra a tábua rasa, Chomsky defende que a criança vem ao mundo com capacidades já programadas. A aprendizagem prende-se mais com o nível maturacional dos mecanismos de aquisição, do que num nível cognitivo da própria aprendizagem.

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INATISMO (CHOMSKY)

Para os nativistas, como é que as crianças adquirem a linguagem?

- Predisposição para aprender qualquer língua: nasce-se para aprender qualquer língua;

- Emissão precoce de estruturas linguísticas complexas: as crianças, por volta dos 4 anos, já conseguem elaborar enunciados bastante complexos;

- Aquisição a partir de inputs degradados: os inputs degenerados têm a ver com o discurso adulto incompleto e não gramatical, cheio de hesitações e de erros (a língua falada: performance) que é uma reflexão imperfeita do conhecimento possuído pelo adulto falante (competência). Apesar disto, todas as crianças aprendem a falar.

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INATISMO (CHOMSKY)

Como é que as crianças adquirem a linguagem? (cont.)

- Sequência relativamente universal independentemente da língua a que a criança está exposta, com etapas mais ou menos idênticas: com a mesma idade, todas as crianças passam por uma fase de palreio, a que se segue o período de lalação, depois a fase holofrástica, seguida do discurso telegráfico, das estruturas simples e finalmente, as estruturas complexas. Tudo isto parece remeter para um carácter inato.

-Aquisição independentemente da inteligência, motivação ou experiência (todas as crianças aprendem a falar).

Afinal, o que é que faz com que qualquer criança em qualquer parte do mundo aprenda a falar? Que mecanismos de aquisição existem?

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INATISMO (CHOMSKY)

Que mecanismos de aquisição da linguagem defende Chomsky?

Para Chomsky, os seres humanos (apenas) nascem com um equipamento biológico para alcançar a linguagem, sobretudo, com capacidade de extrair regras gramaticais, da sua própria língua, como se existissem estruturas mentais específicas e inatas orientadas para o processamento linguístico.

A esta capacidade, Chomsky chamou LAD (Language Acquisition Devise) ou DAL (Dispositivo de Aquisição da Linguagem).

LAD ou DAL é um processo linguístico inato activado por meio de recepção de informações verbais.

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INATISMO (CHOMSKY)

LAD ou DAL é o conjunto de esquemas abstractos e de regras relativas à linguagem em geral que todo o indivíduo viria equipado (geneticamente inscritos nos seres humanos) e que permitirá à criança, a partir dos enunciados do seu meio linguístico, elaborar as regras específicas da sua língua.

O LAD ou DAL contém uma Gramática Universal (GU) ou seja, o conhecimento de regras comuns a todas as línguas.

A Gramática Universal (GU) contém as regras básicas que caracterizam todos os idiomas. É uma competência de base subjacente a todas as línguas.

A Gramática Universal é suficientemente flexível para abarcar as regras de todas as línguas: em todas, há uma relação entre sujeito, verbo e objecto; o sujeito está implícito nas frases, mesmo sem aparecer (escrito ou falado).

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INATISMO (CHOMSKY)Exemplos de princípios universais que qualquer gramática de qualquer língua terá de obedecer:

- A existência nas frases de sintagmas nominais e verbais. As frases têm certas regras e relações (S-V-O, isto é, sujeito-verbo-objecto).

Ex: O João comeu a laranja O João (S) comeu (V) a laranja (O)

O João comeu a laranja F= SN + SV F= SN1 + (V + SN2)

- A existência de regras transformacionais (regras que transformam as cadeias sintagmáticas em cadeias diferentes): passagem de frases afirmativas, a negativas, a passivas, etc.). Existem em todas as línguas.

Ex: A laranja foi comida pelo João F= SN2 + ser + V + pelo + SN1

Houve aqui uma transformação numa cadeia sintagmática diferente.

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INATISMO (CHOMSKY)

´Maturação ou aprendizagem no desenvolvimento linguístico?

-O desenvolvimento da linguagem é concebido mais como uma questão de maturação do que propriamente de aprendizagem.

A sequência dos tipos de discursos que a criança é capaz de emitir em diferentes idades é a manifestação dos processos de actualização das estruturas inatas. Mesmo as estruturas mais simples da linguagem são muito complexas para serem ensinadas pelos pais ou descobertas por meio de tentativa e erro por bebés cognitivamente imaturos.

- A rapidez com que a criança utiliza uma estrutura muito complexa como é a linguagem não se explica por mecanismos da imitação ou da aprendizagem; a criança produz discursos novos que não ouviu e que foram criados graças à capacidade inata a que Chomsky chamou Competência.

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INATISMO (CHOMSKY) DISTINÇÃO ENTRE COMPETÊNCIA E PERFORMANCE

Competência – diz respeito ao conhecimento intuitivo que qualquer falante tem em relação às regras da sua língua. Cabe à linguística explicitar e formalizar em regras esse conhecimento intuitivo, ou seja, o que está na origem da competência linguística.

Performance – tem a ver com a forma como se utiliza o conhecimento. Está mais centrada nos processos de produção e compreensão de enunciados particulares de uma determinada língua. Tem a ver com os processos de produção e compreensão da fala propriamente dita.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

INATISMO (CHOMSKY)

Chomsky compara o trabalho da linguística à forma como a criança aprende a falar. O linguista procura formalizar as regras da sua língua.

O que o linguista faz de uma forma explícita e consciente, a criança faz de uma forma inconsciente – extrai a regra.

As crianças formulam hipóteses sobre as categorias e relações subjacentes à linguagem e vão testá-las através do uso, aplicando as regras extraídas (a gramática da língua) a novos contextos. É como se a criança fosse um “mini-cientista”.

Chomsky afirma que a criança ao adquirir a linguagem (re)constrói para si própria a gramática da língua a que está exposta. Para Chomsky, essa aquisição é realizada num curto espaço de tempo, ocorre de modo idêntico com todas as crianças e não está dependente do seu nível de inteligência.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

INATISMO (CHOMSKY) Em síntese:

A linguagem é a jóia da coroa do conhecimento humano.

Ao adquirir a linguagem, a criança apodera-se de um sistema composto de categorias e regras (a gramática da língua) que lhe permite compreender e produzir enunciados jamais ouvidos.

O desenvolvimento deste complexo sistema ocorre rapidamente, sem instrução formal e seguindo um percurso universal.

A criança só adquire a mestria linguística porque vem apetrechada especificamente para tratar a informação linguística e formar as estruturas que são características da linguagem humana.

Essa especificidade reside no equipamento biológico do ser humano e na evolução maturacional, ao longo do crescimento da criança.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

INATISMO (CHOMSKY)Que bases biológicas explicam a existência de mecanismos linguísticos inatos?

- Lenneberg (1967) estudou doentes com sintomas de afasia e verificou que a recuperação era mais difícil em doentes cuja lesão ocorria depois da adolescência, do que outros em que ocorria antes. Ele concluiu que existe um período crítico no ser humano para a aquisição da linguagem: aos 3 anos. Depois desta idade e se a criança não tiver sido exposta à linguagem, terá muitas dificuldades em adquiri-la.

- Outro aspecto biológico é a capacidade da criança produzir enunciados de duas palavras, por volta dos 2 anos, o que coincide com processos maturacionais dos axónios e que permite aos neurónios trocar informações mais rapidamente.

- A existência de zonas de processamento da linguagem (área de Broca e de Wernicke).

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SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Conceitos que importa saber, na teoria interaccionista:

- O conceito de construtivismo

- Os fundamentos teóricos da perspectiva de Vygotsky e de Brunner

- As contribuições biológicas e cognitivas para a teoria interacccionista

- Apoios ambientais para o desenvolvimento da linguagem

- Modelo do desenvolvimento de Vygotsky

- Raízes genéticas da linguagem e do desenvolvimento

- Como se desenvolve a aquisição da linguagem

- Mecanismos de aquisição da linguagem (para Brunner).

- Passagem do nível pré-verbal para o nível linguístico (para Brunner)

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Construtivismo é uma concepção do conhecimento e da aprendizagem, defendido por Vygotsky, que parte da ideia de que o homem não nasce inteligente mas também não é passivo sob a influência do meio, isto é, ele responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada.

Construtivismo é uma das correntes teóricas empenhadas em explicar como a inteligência humana se desenvolve partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas acções mútuas entre o indivíduo e o meio (interacção).

Esta concepção do conhecimento deriva da teoria de Piaget e da pesquisa de Vygotsky.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Caracterização do modelo do desenvolvimento de Vygotsky

1- As crianças nascem com capacidades biológicas elementares. Através da interacção com adultos, as crianças têm acesso a um conjunto de signos e de instrumentos que vão interiorizando e aplicando.

É este processo de internalização que leva ao desenvolvimento de funções psicológicas superiores como por exemplo; o pensamento verbal, o pensamento causal, o raciocínio abstracto...

Os instrumentos são utilizados em comportamentos orientados para o exterior, conduzindo a mudanças nos objectos. Os signos agem sobre o próprio indivíduo e sobre os outros. A multifuncionalidade da linguagem: linguagem enquanto instrumento e signo.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

2 – A internalização da linguagem e dos conceitos por si veiculados e que estão na base do desenvolvimento do pensamento. A aquisição de conceitos, através da linguagem, é que faz com que a linguagem seja fundamental para o desenvolvimento do pensamento, na perspectiva de Vygotsky.

3 – A linguagem interna (intrapsíquica) tem origem nos contactos reais, nos diálogos, nas trocas com as outras pessoas (interpsíquicas). A linguagem interna é a linguagem relacionada com a forma como pensamos sobre as coisas; é mediada pela interacção com os outros; vai sendo internalizada.

O conceito de zona proximal de desenvolvimento (ZPD) de Vygotsky aplica-se ao desenvolvimento linguístico e revela a importância da interacção. O ZPD respeita à distância entre o desenvolvimento potencial e o desenvolvimento real da criança; é a diferença entre aquilo que a criança consegue fazer sozinha e o que faz ajudada por alguém mais competente.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

4) A apropriação da linguagem é considerada uma fonte de descontinuidade do desenvolvimento porque implica um novo meio de relação com o exterior e com a organização interna - a função semiótica que medeia a relação interna com a realidade.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Raízes genéticas da linguagem e do desenvolvimento

A linguagem e o desenvolvimento têm raízes genéticas diferentes. Quando nascemos, o pensamento e a linguagem estão separados. Entrelaçam-se ao longo do processo de desenvolvimento.

Para Vygotsky, a linguagem é anterior ao pensamento; o desenvolvimento da capacidade de utilizar palavras é que torna possível o pensamento representacional.

Na origem do pensamento e da linguagem, estão dissociadas:

- uma fase pré-intelectual do desenvolvimento linguístico: linguagem que não é assistida por processos de pensamento.

- uma fase pré-verbal do desenvolvimento intelectual: pensamento que não é assistido por processos linguísticos.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

A partir de determinada altura, os processos de linguagem e os processos de pensamento vão convergir, o que vai alterar radicalmente o próprio processo de desenvolvimento. Esta junção ocorre quando a criança descobre o poder simbólico das palavras.

Gradualmente, o pensamento torna-se verbal e a linguagem racional.

Vygotsky realizou uma experiência com crianças de 2/3 anos e concluiu que, nesta idade, as crianças não distinguem um nome da coisa nomeada.

Ex: “É possível chamar vaca a um cão?” – “Sim, mas só se o cão tiver corninhos”.

A criança tem necessidade de, ao transferir o nome (vaca-cão), transferir também características do objecto.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Como se desenvolve a aquisição da linguagem, na teoria interaccionista

- A linguagem é adquirida num contexto de comunicação: a linguagem é adquirida através de interacções sociais.

- As manifestações de comunicação pré-verbal por parte do bebé constituem já uma forma de inserção no grupo social. Os sons, o chorar/palrar são manifestações de comunicação pré-verbal decorrem da necessidade da criança se inserir no grupo social.

- As raízes pré-intelectuais da linguagem manifestam-se no palrar, no choro e nas primeiras palavras. Trata-se da fase pré-intelectual do desenvolvimento linguístico.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Como se desenrola a fase pré-intelectual da linguagem:

A fase pré-intelectual da linguagem incide, fundamentalmente, no ambiente social para a aprendizagem das primeiras palavras e há um predomínio, nesta fase, da função social da linguagem.

Como é que as primeiras palavras das crianças têm uma função social e não representativa? Ao fazerem pedidos, ao colocarem questões, as palavras que as crianças utilizam ainda não têm representação interna (dos conceitos que lhes correspondem). É através da interacção com os outros que a criança adquire/apreende os conceitos, os significados das coisas, das palavras...

É através da interacção que a criança adquire a linguagem e esta tem uma função essencialmente social.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Mecanismos de aquisição da linguagem (para Brunner):

- Os mecanismos de aprendizagem que explicam a aprendizagem da linguagem são a imitação e a predisposição inata;

- O conceito de LASS (Language acquisition support system ou sistema de suporte na aquisição da linguagem - SSAL) remete para a propensão inata das crianças em entrar em interacção social e para aprender a falar. As crianças só aprendem em contexto de interacção social.

Para Brunner existe um nível pré-verbal que antecede o período linguístico (aquisição da função comunicativa da linguagem).

Brunner considera que é nos contextos comunicativos que a linguagem é adquirida já que a criança associa essa linguagem a determinadas situações.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

Passagem do nível pré-verbal para o nível linguístico (para Brunner)

Esta passagem pode ser organizada em 4 tipos de processos:

1) Um primeiro processo tem a ver com a aprendizagem da segmentação da acção levada em conjunto com a mãe. A criança aprende as posições e as ordens de ocorrência nas sequências agente-acção-objecto-destinatário. Nestes contextos ritualizados, a criança aprende a segmentar a acção.

2) Um segundo processo refere-se à construção de rotinas conjuntas. Estas rotinas conjuntas permitem estabelecer um referencial comum: a mãe e o filho seguem mutuamente o olhar um do outro e focam-se no mesmo objecto. A mãe fala de algo em que a criança está focada.

Ex: “cucu”, a mãe faz desaparecer um boneco e a criança fica à espera que ele volte a aparecer.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

SOCIO-CONSTRUCIONISMO (VYGOTSKY E BRUNNER)

3) O terceiro processo diz respeito às acções sistemáticas da mãe onde ela faz comentários sobre o objecto que prendeu a atenção de ambos, criando um estado de atenção reforçada, por parte da criança.

Ex: A mãe diz: “Olha aqui. Olha aqui. O que é isto? O que é? É o ursinho!”.

Quando a criança já sabe falar, no mesmo tipo de brincadeira, a mãe espera que seja a criança a dar a resposta.

4) O quarto processo tem a ver com a aprendizagem por parte da criança de configurações fonológicas. A criança já tem consciência de que as palavras designam objectos. Os actos de linguagem são aprendidos pela criança através de inferências em relação a configurações prosódicas (padrões de acentuação e entoação da linguagem).

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

Na teoria Cognitivista de Piaget, interessa saber:

-Como aparece a linguagem.

-Como se desenvolve a função simbólica (função semiótica).

-Como se prova que a função simbólica é fundamental, na aquisição da linguagem.

-O que é o pensamento simbólico.

-Como é que o desenvolvimento cognitivo potencia o desenvolvimento linguístico.

-Os conceitos de imitação diferida e imitação interiorizada.

-O que se entende por representação da acção ou do objecto.

-Como se define jogo simbólico.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

Fundamentação teórica da teoria cognitivista

1) Em oposição a Vygotsky, Piaget considera que o pensamento é anterior à linguagem. O desenvolvimento cognitivo é que potencia o desenvolvimento linguístico.

A aquisição da linguagem é contemporânea com a emergência da função simbólica. A função simbólica é a grande diferença do desenvolvimento, pois é nesta fase que se adquire a representação mental que se desdobra na capacidade da criança se descentrar da realidade (pensar o presente, o passado e o futuro).

2) A função simbólica só é possível por que tem como requisito a diferenciação entre significado e significante e a capacidade de evocar cenas e objectos que não estão presentes.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

3) A função simbólica surge a partir da acção: é o jogo que conduz o bebé da acção à representação.

4) A representação começa quando há simultaneamente diferenciação e coordenação entre significados e significantes.

Os primeiros significantes são fornecidos pela imitação.

Num primeiro momento, a imitação é feita na presença do modelo (imitação diferida) e lentamente vai sendo interiorizada pela criança que, só mais tarde, consegue imitar, mesmo não estando na presença do seu modelo (imitação interiorizada).

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

Em Síntese:

1) O que é importante em Piaget não é a aquisição da linguagem mas sim a conquista da representação.

2) Para Piaget, a representação não é fruto da aquisição dos signos verbais (palavras) como afirmava Vygotsky. A representação é que aparece em primeiro lugar e dá origem aos signos verbais (palavras). No estádio sensório-motor, as crianças ainda não possuem linguagem pois não há representação.

3) A aquisição da linguagem tem a mesma origem que a imitação diferida e o jogo simbólico.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

Função simbólica é a capacidade que o indivíduo tem de gerar imagens mentais de objectos ou acções e através dela chegar à representação da acção ou do objecto. A função simbólica (ou função semiótica) surge quando ocorre diferenciação entre os significantes e os significados.

A função simbólica começa pela manipulação imitativa do objecto e prossegue na imitação diferida e na interior (mental), na ausência do objecto. O jogo simbólico (faz-de-conta): uma criança pega num objecto e faz “brum...brum” e esse objecto serve-lhe de “carro”.

O pensamento simbólico é fundamentado em símbolos e imagens particulares que a criança construiu a partir da sua experiência. Ex: uma criança que tem um cão chamado Bobby e quando vê um cão na rua refere-se a ele como sendo Bobby.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

Piaget defende que, por mecanismos de assimilação e de acomodação, o sujeito atinge fases ou estádios de equilíbrio privilegiado entre o seu conhecimento, constituído por esquemas e os dados do meio. Quando este equilíbrio se rompe, a tendência para o equilíbrio restabelece-se.

Estes dois processos (assimilação e acomodação) buscam reestabelecer um equilíbrio mental perturbado pelo contacto com um dado incompatível com aquilo que se conhece até então (princípio de equilibração).

- assimilação: um dado com que a criança contacta e que é assimilado por um esquema já existente que então se amplia.

- acomodação: o dado novo é incompatível com os esquemas já formulados e então cria-se um novo esquema acomodando esse conhecimento. Este novo esquema será então ampliado na medida em que o indivíduo continua a estabelecer relações com o meio.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

Ao nível do desenvolvimento da linguagem, Piaget mostra que são os processos biológicos de acomodação que permitem o acesso à imitação diferida, depois à função semiótica (simbólica).

Piaget afirma que a tendência ao equilíbrio é uma função explicativa central no problema do desenvolvimento da função cognitiva (o equilíbrio é a chave que permite explicar a evolução cognitiva da criança). O equilíbrio parece ter uma função determinante no desenvolvimento.

Piaget afirma que a evolução da inteligência não é de outra natureza que a da evolução biológica, ou seja, as duas evoluções têm o mesmo princípio motor: o equilíbrio, que é um processo biológico.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

Piaget postula a sua teoria sobre o desenvolvimento cognitivo da criança e descreve-a em 4 estágios a que ele chama fases de transição.

- estádio sensório-motor (dos 0 aos 2 anos)

- estádio pré-operatório (dos 2 aos 7 anos)

- estádio operatório concreto (dos 7 aos 12 anos)

- estádio lógico-formal (dos 12 aos 16 anos)

Piaget nasceu e morreu na Suíça, em Genebra, com 85 anos de idade.

Piaget tem uma visão descontinuísta do desenvolvimento e, por isso, defende a existência de estádios de desenvolvimento.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

O estádio sensório-motor é o estádio da inteligência prática anterior ao pensamento e à linguagem.

A inteligência prática é baseada nas consequências das acções e da exploração do meio externo.

O estádio sensório-motor é o estádio em que a inteligência se adapta ao meio através de esquemas sensório-motores (actividade perceptiva e actos motores).

O desenvolvimento cognitivo inicia-se com esquemas de acção reflexa, como agarrar e chuchar. Estes esquemas sofrem modificações e ajustamentos (acomodações) em resposta às diversas experiências. Progressivamente, a criança constrói o seu repertório de actividades, isto é, os esquemas tornam-se menos reflexos. Ex: a criança acomoda a sua boca de forma diferente conforme o que vai chuchar (o lençol, o dedo, a chucha...).

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

O estádio pré-operatório é caracterizado pelo surgimento e crescente uso do pensamento simbólico e da linguagem. O símbolo é a palavra, o gesto ou o objecto que substitui algo representando-o.

Neste estádio, dá-se o início do pensamento simbólico em que as ideias substituem a experiência concreta.

A capacidade de representação simbólica, dita função simbólica (ou semiótica) marca o fim do período sensório-motor e o início do pré-operatório. Este “acontecimento notável” marca o início do pensamento.

A criança aos 2 anos começa a desenvolver a capacidade de representar mentalmente objectos ausentes (aquisição da permanência do objecto). Esta aquisição é sinal da emergência da capacidade de representação simbólica. Não se limita a agir sobre os objectos mas representa-os, isto é, substitui-os por símbolos que valem por esses objectos e assim pode pensar sobre eles.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

COGNITIVISMO (PIAGET)

No estádio pré-operatório, os padrões de linguagem são egocêntricos; quando crianças de 3 anos brincam umas com as outras, os comentários de cada criança têm pouca relação com o que as outras dizem, comunicam mais consigo próprias do que entre si. As crianças parecem falar às crianças e não com as outras crianças. É o “monólogo colectivo”.

Este período pré-operatório (ou intuitivo ou pré-lógico) é uma verdadeira oportunidade de ouro para o desenvolvimento da linguagem.

Uma criança média de 2 anos compreende entre 200 a 300 palavras e uma criança de 5 anos compreende 2000 – uma enorme percentagem de aumento. Uma criança de 6 anos, possuirá mais de 14 000 palavras aos 6 anos, o que corresponde a um aumento médio de quase 9 novas palavras por dia.

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PSICOLOGIA DA LINGUAGEM (PL)

AS TEORIAS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

AUTOAVALIAÇÃO: No final deste Bloco, sou capaz de:

- Nomear as várias teorias explicativas de aquisição da linguagem.

- Caracterizar a teoria behaviorista de Skinner sobre a aquisição da linguagem e enunciar as principais críticas feitas a este modelo.

- Apresentar as teses inatistas de Chomsky e fundamentá-las.

- Enunciar a abordagem socio-interaccionista de Vygotsky e de Brunner em relação à aquisição da linguagem.

- Justificar a posição de Piaget relativamente à subordinação do desenvolvimento linguístico em relação ao desenvolvimento cognitivo.

- Diferenciar os modelos empirista, inatista, socio-interaccionista e cognitivista em relação à aquisição da linguagem.