teoria politica 1

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INTRODUÇÃO À POLÍTICA * Por Fábio Fraga dos Santos ** Na conversa diária, usamos a palavra política de diversas formas que não seu sentido fundamental. Assim, sugerimos a algum que se!a "mais polític ou nos referimos # "política" da empresa, da escola, da $gre!a, enquanto do poder interno. Podemos falar ainda do caráter político de um livro de &ais pr'%imo do sentido de política que nos interessa aqui, sempre nos re tratamos de ci(ncia, de moral e, especificamente, de trabal)o, la er, qua +mbora não se confunda com o ob!eto pr'prio de cada um desses assuntos, a eles. á tambm o sentido pe!orativo da política, dado pelas pe -orrup ão e da viol(ncia, associando/a # "politicagem", falsa política em que predominam os interesses particulares sobre os coletivos. &as afin A política a arte de governar, de gerir o destino da cidade. +timologic 1"cidade", em grego2. +%plicar em que consiste a política outro problema, pois, se acompan)ar )ist'ria, veremos que essa defini ão varia e toma nuances as mais diferen lembramos que o político aquele que atua na vida p4blica e investido do determinado rumo # sociedade. &4ltiplos são os camin)os, se quisermos est política e poder5 entre poder, for a e viol(ncia5 entre autoridade, coe governo etc. Por isso complicado tratar de política "em geral". 6 preci discussão e situar as respostas )istoricamente. Assim, possível entender a política como luta pelo poder7 conquista, ma poder. 3u refletir sobre as institui 8es políticas por meio das indagar sobre a origem, nature a e significa ão do poder. Nessa 4ltima qu como7 9ual o fundamento do poder0 9ual a sua legitimidade"0 6 necessá outros obede am0 3 que torna viável o poder de um sobre o outro0 9ual o Abordaremos algumas dessas quest8es nos capítulos seguintes, # medida que que preocuparam os fil'sofos no correr da )ist'ria. O poder :iscutir política referir/se ao poder. +mbora )a!a in4meras defini 8es conceito de poder, vamos considerá/lo aqui, genericamente, como sendo a c de agir, de produ ir efeitos dese!ados sobre indivíduos ou grupos )umanos dois p;los7 o de quem e%erce o poder e o daquele sobre o qual o poder e uma rela ão, ou um con!unto de rela 8es pelas quais indivíduos ou grupos outros indivíduos ou grupos. Poder e for a Para que algum e%er a o poder, preciso que ten)a for a, entendida com e%ercício do poder. 9uando falamos em for a, comum pensar/se imediatame coer ão, viol(ncia. Na verdade, este apenas um dos tipos de for a. :i democracia, um partido tem peso político, porque tem for a para mobili eleitores. Se um sindicato tem peso político, porque tem for a para def não significa necessariamente a posse de meios violentos de coer ão, mas influir no comportamento de outra pessoa. A for a não sempre 1ou mel)or rev'lver apontado para algum5 pode ser o c)arme de um ser amado, quando decisão 1uma rela ão amorosa , antes de mais nada, uma rela ão de for de =aclos2. +m suma, a for a a canali a ão da pot(ncia, a sua determ Estado e poder * Textos escolhidos e produzidos para trabalhar a temática no espaço acadêmico ** Mestre em Sociologia pela UFPR Pro!essor de "iências Pol#ticas e Sociologia $mail% !a '

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Teoria Politica 1

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Vamos resgatar alguns apontamentos sobre as definies mais abrangentes sobre Estado

INTRODUO POLTICA*

Por Fbio Fraga dos Santos**Na conversa diria, usamos a palavra poltica de diversas formas que no se referem necessariamente a seu sentido fundamental. Assim, sugerimos a algum que seja "mais poltico" na sua maneira de agir, ou nos referimos "poltica" da empresa, da escola, da Igreja, enquanto formas de exerccio e disputa do poder interno. Podemos falar ainda do carter poltico de um livro de literatura, ou da arte em geral.

Mais prximo do sentido de poltica que nos interessa aqui, sempre nos referimos poltica quando tratamos de cincia, de moral e, especificamente, de trabalho, lazer, quadrinhos, corpo, amor etc. Embora no se confunda com o objeto prprio de cada um desses assuntos, a poltica permeia todos eles. H tambm o sentido pejorativo da poltica, dado pelas pessoas desencantadas diante da Corrupo e da violncia, associando-a "politicagem", falsa poltica

em que predominam os interesses particulares sobre os coletivos. Mas afinal, de que trata a poltica?

A poltica a arte de governar, de gerir o destino da cidade. Etimologicamente polticavem de plis ("cidade", em grego).

Explicar em que consiste a poltica outro problema, pois, se acompanharmos o movimento da histria, veremos que essa definio varia e toma nuances as mais diferentes. O mesmo ocorre quando lembramos que o poltico aquele que atua na vida pblica e investido do poder de imprimir determinado rumo sociedade. Mltiplos so os caminhos, se quisermos estabelecer a relao entre poltica e poder; entre poder, fora e violncia; entre autoridade, coerao e persuaso; entre Estado e governo etc. Por isso complicado tratar de poltica "em geral". preciso delimitar as reas de discusso e situar as respostas historicamente.

Assim, possvel entender a poltica como luta pelo poder: conquista, manuteno e expanso do poder. Ou refletir sobre as instituies polticas por meio das quais se exerce o poder. E tambm indagar sobre a origem, natureza e significao do poder. Nessa ltima questo surgem problemas como: Qual o fundamento do poder? Qual a sua legitimidade"? necessrio que alguns mandem e outros obedeam? O que torna vivel o poder de um sobre o outro? Qual o critrio de autoridade?

Abordaremos algumas dessas questes nos captulos seguintes, medida que tratarmos dos problemas que preocuparam os filsofos no correr da histria.

O poder

Discutir poltica referir-se ao poder. Embora haja inmeras definies e interpretaes a respeito do conceito de poder, vamos consider-lo aqui, genericamente, como sendo a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivduos ou grupos humanos. Portanto, o poder supe dois plos: o de quem exerce o poder e o daquele sobre o qual o poder exercido. Portanto, o poder uma relao, ou um conjunto de relaes pelas quais indivduos ou grupos interferem na atividade de outros indivduos ou grupos.

Poder e fora

Para que algum exera o poder, preciso que tenha fora, entendida como instrumento para o exerccio do poder. Quando falamos em fora, comum pensar-se imediatamente em fora fsica, coero, violncia. Na verdade, este apenas um dos tipos de fora. Diz Grard Lebrun: "Se, numa democracia, um partido tem peso poltico, porque tem fora para mobilizar um certo nmero de eleitores. Se um sindicato tem peso poltico, porque tem fora para deflagrar uma greve. Assim,fora no significa necessariamente a posse de meios violentos de coero, mas de meios que me permitam influir no comportamento de outra pessoa. A fora no sempre (ou melhor, rarissimamente) um revlver apontado para algum; pode ser o charme de um ser amado, quando me extorque alguma deciso (uma relao amorosa , antes de mais nada, uma relao de foras;( cf. as Ligaes perigosas, de Laclos). Em suma, a fora a canalizao da potncia, a sua determinao.

Estado e poder

Entre tantas formas de fora e poder, as que nos interessam aqui referem-se poltica e, em especial, ao poder do Estado que, desde os tempos modernos, se configura como a instncia por excelncia do exerccio do poder poltico. Na Idade Mdia certas atribuies podiam ser exercidas pelos nobres em seus respectivos territrios, onde muitas vezes eram mais poderosos do que o prprio rei. Alm disso, era difcil, por exemplo, determinar qual a ltima instncia de

uma deciso, da os recursos serem dirigidos sem ordem hierrquica tanto a reis e parlamentos como a papas, conclios ou imperadores.

A partir da Idade Moderna, com a formao das monarquias nacionais, o Estado se fortalece e passa a significar a posse de um territrio em que o comando sobre seus habitante feito a partir da centralizao cada vez maior do poder. Apenas o Estado se torna apto para fazer e aplicar as leis, recolher impostos, ter um exrcito. A monopolizao dos servios essenciais para garantia da ordem interna e externa exige o desenvolvimento do aparato administrativo fundado em uma burocracia controladora. Por isso, segundo Max Weber, o Estado moderno pode ser reconhecido por dois elementos constitutivos: a presena do aparato administrativo para prestao de servios pblicos e o monoplio legtimo da fora. O poder legtimo Embora a fora fsica seja uma condio necessria e exclusiva do Estado para o funcionamento da ordem na sociedade, no condio suficiente para a manuteno do poder. Em outras palavras, o poder do Estado que apenas se sustenta na fora no pode durar. Para tanto, ele precisa ser legtimo, ou seja, ter o consentimento daqueles que obedecem. (Vimos que o poder uma relao!)

Ao longo da histria humana foram adotados os mais diversos princpios de legitimidade de poder: nos Estados teocrticos, o poder considerado legtimo vem da vontade de Deus; ou da fora da tradio, quando o poder transmitido de gerao em gerao, como nas monarquias hereditrias; nos governos aristocrticos apenas os melhores podem ter funes de mando; bom lembrar que os considerados melhores variam conforme o tipo de aristocracia: os mais ricos, ou os mais fortes, ou os de linhagem nobre, ou, at, a elite do saber; na democracia, vem do consenso, da vontade do povo. A discusso a respeito da legitimidade do poder importante na medida em que est ligada questo de que a obedincia devida apenas ao comando do poder legtimo, segundo o qual a obedincia voluntria, e portanto livre. Caso contrrio, surge o direito resistncia, que leva turbulncia social.

Fonte:

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introduo filosofia. 2. ed. rev. atual. So Paulo: Moderna, 2002.Debate...

O Analfabeto Poltico(Berthold Brecht)O pior analfabeto o analfabeto poltico,Ele no ouve, no fala,nem participa dos acontecimentos polticos.

Ele no sabe que o custo de vida,o preo do feijo, do peixe, da farinha,do aluguel, do sapato e do remdiodependem das decises polticas.

O analfabeto poltico to burro que se orgulhae estufa o peito dizendoque odeia a poltica.

No sabe o imbecil que,da sua ignorncia polticanasce a prostituta, o menor abandonado,e o pior de todos os bandidos,que o poltico vigarista,pilantra, corrupto e o lacaio

ESTADO

Vamos resgatar alguns apontamentos sobre as definies mais abrangentes sobre Estado. No pretendemos neste resumo criar uma definio especfica ou slida sobre o Estado, pois este varia de acordo com a perspectiva adotada pela corrente metodolgica utilizada, de acordo com momento histrico em questo e tambm pela posio ideolgica. No entanto podemos afirmar, a priori, que o Estado uma organizao complexa que detm o poder poltico, ou seja, aquela instituio que, historicamente, se apresenta como detentora da exclusividade do uso legtimo da fora, a qual pode ser aplicada a todos os membros da sociedade.Devemos destacar tambm que o poder do Estado possui trs caractersticas fundamentais: a) Exclusividade do uso da violncia legtima;

b) Universalidade diante dos membros que compem a sociedade;

c) Inclusividade (processo de incluso) dos indivduos e das atividades desenvolvidas pela sociedade atravs da organizao legal.

LEGITIMIDADE.O reconhecimento de poder sempre teve muitas facetas ao longo da histria. O processo de formao do Estado j passou por fases em que o poder s era considerado legtimo se viesse da vontade de Deus (Teocrticos); a legitimidade tambm poderia ser transmitida de gerao em gerao, como nas monarquias hereditrias. Outras formas de legitimar o Estado vieram da estrutura aristocrtica, a qual apenas os melhores podem ter funes de mando (os mais fortes, mais ricos ou de determinadas linhagens. Existe tambm a legitimidade que vem do consenso ou da vontade geral. O debate a respeito da legitimidade do poder torna-se importante na medida em que est atrelada questo de que a obedincia devida apenas ao comando do poder reconhecido de alguma forma, o qual a obedincia voluntria, e conseqentemente livre, ao contrrio, surge o direito ao questionamento do poder, podendo levar turbulncias sociais.Dessa maneira, o Estado se apresenta como um instrumento que controla e organiza as atividades sociais e que foi estabelecido e transformado no decorrer da histria, tornando-se assim palco de discusses no universo acadmico, no intuito de apreender todo esse processo de dominao e de mudanas dessa esfera de poder. Com esse olhar que pretendemos abordar, de modo geral, duas vises clssicas que abrangem o conjunto dessas anlises sobre o Estado.Apontamentos...

Essas abordagens so fundamentais para compreendermos o processo de formao do Estado brasileiro e perceber que ele no est isolado do processo universal. Sabemos que as revolues burguesas (Revoluo Gloriosa 1688 e revoluo Francesa 1789) fomentaram as idias liberais mundo afora, e potencializaram a expanso do capitalismo. Portanto, no podemos realizar uma leitura da histria do Brasil desconexa desses eventos que so de ordem mundial.Fonte: CARNOY, Martin. O Estado e Teoria Poltica. 4 ed. So Paulo: Papyrus, 1994.

REALISMO POLTICO

O objetivo maior da teoria realista consiste em explicar a realidade como ela de fato e no como ela deveria ser, explicando as causas e conseqncias do conflito, sendo resultado da coliso dos interesses nacionais de Estados distintos. O maior objetivo dos Estados a busca de seus interesses nacionais baseados no conceito de poder, estes tentam maximizar a probabilidade de alcanar seus objetivos, no importando os meios utilizados para isso.

Esta explicao relaciona-se com o conceito de Realismo clssico que possuir como principais autores Maquiavel e Hobbes.

Nicolau Maquiavel (1469 - 1527)

Um pouco da sua histria.

Maquiavel viveu durante a Renascena Italiana , o que explica boa parte das suas idias. Na Itlia do Renascimento reina grande confuso. A tirania impera em pequenos principados, governados despoticamente por casas reinantes sem tradio dinstica ou de direitos contestveis. A ilegitimidade do poder gera situaes de crise instabilidade permanente, onde somente o clculo poltico, a astcia e a ao rpida e fulminante contra os adversrios so capazes de manter o prncipe. Esmagar ou reduzir impotncia a oposio interna, atemorizar os sditos para evitar a subverso e realizar alianas com outros principados constituem o eixo da administrao. Como o poder se funda exclusivamente em atos de fora, previsvel e natural que pela fora seja deslocado, deste para aquele senhor. Nem a religio nem a tradio, nem a vontade popular legitimaram e ele tem de contar exclusivamente com sua energia criadora. A ausncia de um Estado central e a extrema multipolarizao do poder criam um vazio, que as mais fortes individualidades tm capacidade para ocupar. At 1494, graas aos esforos de Loureno, o Magnfico, a pennsula experimentou uma certa tranqilidade.

Entretanto, desse ano em diante, as coisas mudaram muito. A desordem e a instabilidade ficaram incontrolveis. Para piorar a situao, que j estava grave devido aos conflitos internos entre os principados, somaram-se as constantes e desestruturadoras invases dos pases prximos como a Frana e a Espanha. E foi nesse cenrio conturbado, onde nenhum governante conseguia se manter no poder por um perodo superior a dois meses, que Maquiavel passou a sua infncia e adolescncia.

Bibliografia:

Maquiavel nasceu em Florena em 3 de maio de 1469, numa Itlia "esplendorosa mas infeliz", segundo o historiador Garin. Sua famlia no mera aristocrtica nem rica. Seu pai , advogado como um tpico renascentista, era um estudioso das humanidades, tendo se empenhado em transmitir uma aprimorada educao clssica para seu filho. Maquiavel com 12 anos, j escrevia no melhor estilo e, em latim. Mas apesar do brilhantismo precoce, s em 1498, com 29 anos Maquiavel exerce seu primeiro cargo na vida pblica. Foi nesse ano que Nicolau passou a ocupar a segunda chancelaria. Isso se deu aps a deposio de Savonarola, acompanhado de todos os detentores de cargos importantes da repblica florentina. Nessa atividade, cumpriu uma srie de misses, tanto fora da Itlia como internamente, destacando-se sua diligncia em instituir uma milcia nacional.

Com a queda de soverine, em 1512, a dinastia Mdici volta ao poder, desesperando Maquiavel, que envolvido em uma conspirao, torturado e deportado. permitido que se mude para So Cassiano, cidade pequena prxima de Florena, onde escreve sobre a Primeira dcada de Tito Lvio , mas interrompe esse trabalho para escrever sua obra prima: O Prncipe , segundo alguns , destinado a que se reabilitasse com os aristocratas, j que a obra era nada mais que um manual da poltica.

Maquiavel viveu uma vida tranqila em S. Cassiano. Pela manh, ocupava-se com a administrao da pequena propriedade onde est confinado. tarde, jogava cartas numa hospedaria com pessoas simples do povoado. E noite vestia roupas de cerimnia para conviver, atravs da leitura com pessoas ilustres do passado, fato que levou algumas pessoas a consider-lo louco.

A obra de Maquiavel toda fundamentada em sua prpria experincia, seja ela com os livros dos grandes escritores que o antecederam, ou sejam os anos como segundo chanceler, ou at mesmo a sua capacidade de olhar de fora e analisar o complicado governo do qual terminou fazendo parte.

Enfim, em 1527, com a queda dos Mdici e a restaurao da repblica, Maquiavel que achava estarem findos os seus problemas, viu-se identificado por jovens republicanos como algum que tinha ligaes com os tiranos depostos. Ento viu-se vencido. Esgotaram-se suas foras. Foi a gota dgua que estava faltando. A repblica considerou-o seu inimigo. Desgostoso, adoece e morre em junho. Mas nem depois de morto, Maquiavel ter descanso. Foi posto no Index pelo conclio de Trento, o que levou-o, desde ento a ser objeto de excreo dos moralistas.

Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/maquiavel.htm

A autonomia da poltica

Maquiavel subverte a abordagem realista da poltica, rompendo com a tradio grega, pois procura a verdade efetiva, ou seja, "como o homem age de fato". As observaes das aes dos homens do seu tempo e dos estudos dos antigos, sobretudo da Roma Antiga, levam-nos constatao de que os homens sempre agiram pelas vias da corrupo e da violncia. Partindo do pressuposto da natureza humana capaz do mal e do erro, analisa a ao poltica sem se preocupar em ocultar "o que se faz e no se costuma dizer". A esse realismo alia-se a tendncia utilitarista, pela qual Maquiavel pretende desenvolver uma teoria voltada para a ao eficaz e imediata. A cincia poltica s tem sentido se propiciar o melhor exerccio da arte poltica. Trata-se do comeo da cincia poltica: da teoria e da tcnica da poltica, entendida como disciplina autnoma.

Maquiavel torna a poltica autnoma porque a desvincula da tica e da religio, procurando examin-la na sua especificidade prpria. Em relao ao pensamento medieval, Maquiavel procede secularizao da poltica, rejeitando o legado tico-cristo. Alm da desvinculao, da religio, a tica poltica se distingue da moral privada, uma vez que a ao poltica deve ser julgada a partir das circunstncias vividas, tendo em vista os resultados alcanados na busca do bem comum.

Com isso, Maquiavel se distancia da poltica normativa dos gregos e medievais, pois no mais busca as normas que definem o bom regime, nem explicita quais devem ser as virtudes do bom governante. Em alguns casos, como o de Plato, a preocupao em definir como deve ser o bom governo leva construo de utopias, o que mereceu a crtica de Maquiavel. Talvez algum inadvertidamente se pergunte se o prprio Maquiavel no estaria procura do prncipe ideal, indicando as normas para conquistar e no perder o poder. No entanto, h, de fato, diferenas fundamentais entre o "dever ser" da poltica clssica e aquele a que se refere Maquiavel. Na nova perspectiva, para fazer poltica preciso compreender o sistema de foras existentes e calcular a alterao do equilbrio provocada pela interferncia de sua prpria ao nesse sistema.

Nicolau Maquiavel promoveu a autonomia da cincia poltica, e se desvinculou da filosofia poltica normativa dos gregos e tambm da moral rgida crist da poca.

Maquiavel separa a tica da poltica, e a definiu sob dois prismas diferentes:

1. tica convencional: religio - salvao posterior e individual.

2. tica moral: obrigaes morais para restringir as aes e, assim, assegurar a segurana nacional. Lderes devem ser bons at onde conseguirem e devem praticar o mal se necessrio.

Maquiavel defende, dessa maneira, a poltica como uma atividade autnoma que utiliza quaisquer meios, at mesmo os menos aceitos socialmente, para alcanar os fins desejados. Maquiavel procura desvincular a poltica subordinao dos sistemas morais e demonstra, em sua obra, que a poltica possui uma lgica prpria e razes que, muitas vezes, no so compatveis com princpios que norteiam a ao humana e defende desse modo, a necessidade de uma moral apropriada poltica. Esse pensador tambm enfatiza que a sociedade pode conviver com os princpios da moral religiosa nas relaes pessoais, no entanto, defende que determinados valores que regulam a ao dos indivduos em outras esferas da vida social, podem no coincidir com aqueles que regulam a ao poltica. Dessa maneira, ao lado de uma moral particular, deve haver tambm uma moral pblica, mais apropriada s relaes polticas.Mximas Maquiavlicas para reflexo.

1) "Os fins justificam os meios"2) "No se pode chamar de "valor" assassinar seus cidados, trair seus amigos, faltar a palavra dada, ser desapiedado, no ter religio. Essas atitudes podem levar conquista de um imprio, mas no glria"3) "Homens ofendem por medo ou por dio"4) "Um prncipe sbio deve observar modos similares e nunca, em tempo de paz, ficar ocioso"5)"Tendo o prncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leo, pois o leo no sabe se defender das armadilhas e a raposa no sabe se defender da fora bruta dos lobos. Portanto preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas e leo, para aterrorizar os lobos."6)"Pelo que se nota que os homens ou so aliciados ou aniquilados"Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/maquiavel.htm

Thomas Hobbes (1588 - 1679)

Considerava o raciocnio um clculo, isto , quando raciocinamos, simplesmente somamos, subtramos, multiplicamos ou dividimos idias, cabendo lgica estabelecer as regras universais desse clculo.

Vida e Obra

Hobbes era filho de um vigrio anglicano que, forado a deixar o condado por causa de uma briga, abandonou os trs filhos aos cuidados de seu irmo. Aos 4 anos, Hobbes comeou a ser educado na igreja de Westport, passando por duas escolas e seguindo, aos 15 anos, para Oxford, onde mais tarde freqentou a universidade. Trabalhou como preceptor do futuro conde de Devonshire, William Cavendish, iniciando a sua longa relao com essa famlia. Tornou-se companheiro do aluno, e em 1610, visitaram juntos a Frana e a Itlia. Durante a viagem, Hobbes verificou que a filosofia de Aristteles estava perdendo influncia, devido s descobertas de Galileu e Kepler, que formularam as leis do movimento planetrio.

Ao regressar Inglaterra, Hobbes decidiu tornar-se um estudioso dos clssicos, tendo realizado uma traduo da "Histria da Guerra do Peloponeso", de Tucididas, publicada em 1629. Viajando novamente para o estrangeiro, Hobbes foi chamado Inglaterra, em 1630, para ensinar outro jovem Cavendish.

Durante uma terceira viagem ao continente, com seu novo pupilo, Hobbes se encontrou com o matemtico e fsico Mersenne e, depois, com Galileu e Descartes. Descobriu os "Elementos", de Euclides, e a geometria, que o ajudaram a clarear suas idias sobre a filosofia. Com a idia de que a causa de tudo est na diversidade do movimento, escreveu seu primeiro livro filosfico, "Uma Curta Abordagem a Respeito dos Primeiros Princpios" e comeou a planejar sua trilogia: "De Corpore", demonstrando que os fenmenos fsicos so explicveis em termos de movimento (publicado em 1655); "De Homine", tratando especificamente do movimento envolvido no conhecimento e apetite humano, (1658); e "De Cive", a respeito da organizao social, que seria publicado em 1642.

Hobbes retornou Inglaterra em 1637, s vsperas da guerra civil. Decidiu publicar primeiro o "De Cive", que circulou em cpia manuscrita em 1640 com o ttulo "Elementos da Lei Natural e Poltica".

Em 1640, retirou-se para Paris, onde passou os onze anos seguintes. Procurou o crculo de Mersenne, escreveu "Objees s Idias de Descartes" e, em 1642, publicou o "De Cive". Quatro anos depois,o prncipe de Gales, o futuro Carlos II, em Paris, convidou-o para ensinar-lhe matemtica e Hobbes voltou para os temas polticos. Em 1650, publicou "Os Elementos da Lei", em duas partes, a "Natureza Humana" e o "Do Corpo Poltico". Em 1651, publicou sua obra-prima, o "Leviat". Carlos I tinha sido executado e Carlos II estava exilado; por isso, no final da obra, tentou definir as situaes em que seria possvel legitimamente a submisso a um novo soberano. Tal captulo valeu-lhe o desagrado do rei Carlos II e da corte inglesa.

Ao mesmo tempo, as autoridades francesas o tinham sob suspeita devido aos seus ataques ao Papado. Hobbes regressou a Inglaterra em 1651, tambm sob as crticas da Universidade de Oxford, que tinha acusado de manter um ensino baseado em conhecimentos ultrapassados.

Com a restaurao da monarquia inglesa, em 1660, Hobbes voltou a ser admitido na corte, com uma penso oferecida por Carlos II. Em 1666, Hobbes sentiu-se ameaado, devido tentativa de aprovao no Parlamento de uma lei contra o atesmo, sendo que a comisso deveria analisar "O Leviat".A lei no foi aprovada, mas Hobbes nunca mais pde publicar algo sobre a conduta humana.

Seus ltimos anos, Hobbes passou com os clssicos da sua juventude, tendo publicado uma traduo da "Odissia", em 1675, e uma da "Ilada", no ano seguinte.

Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias

A linguagem, dizia Hobbes, uma conveno social. por conveno que fazemos determinados sons e determinadas grafias isto , determinadas palavras corresponderem a certas coisas e no a outras e, conseqentemente, o significado lingstico e mental resulta dessa conveno social. lgica caberia organizar, ordenar e sistematizar as formas corretas do uso das convenes, garantindo que cada palavra e cada idia, cada proposio e cada conceito pudessem corresponder-se, livres de toda confuso e ambigidade.

Para Hobbes, os homens reunidos numa multido de indivduos, pelo pacto, passam a constituir um corpo poltico, uma pessoa artificial criada pela humana e que se chama Estado. A teoria do direito natural e do contrato evidencia uma inovao de grande importncia: o pensamento poltico j no fala em comunidade, mas sociedade. A idia de comunidade pressupe um grupo humano uno, homogneo, indiviso, compartilhando os mesmos bens, as mesmas crenas e idias, mesmos costumes e possuindo um destino comum. A idia de sociedade, contrrio, pressupe a existncia de indivduos independentes e isolados, dotados de direitos naturais e individuais, que decidem, por um ato voluntrio, tornarem-se scios ou associados para vantagem recproca e por interesses recprocos.

A sociedade civil o Estado propriamente dito. Trata-se da sociedade vivendo sob o direito civil, isto , sob as leis promulgadas e aplicadas pelo soberano. Feito o pacto ou o contrato, os contratantes transferiram o direito natural soberano e com isso o autorizam a transform-lo em direito civil ou direito positivo, garantindo a vida, a liberdade e a propriedade privada dos governados. Estes transferiram ao soberano o direito exclusivo ao uso da fora e da violncia, da vingana contra os crimes, da regulamentao dos contratos econmicos, , a instituio jurdica da propriedade privada, e de outros contratos sociais (como, por exemplo, o casamento civil, a legislao sobre a herana, etc.).

Realismo e Poder

Um importante conceito a ser definido dentro do Realismo Poltico o de poder. No h consenso entre a definio do que poder, muitos autores o definem como meio e objetivo - atravs do qual se mede as capacidades dos - Estados e a suas foras. Uma unio das capacidades militar, econmica, tecnolgica, diplomtica a disposio do Estado.

O poder entendido como algo que se possui:como um objeto ou uma substancia (...) que algum guarda num recipiente. Contudo, no existe Poder, se no existe, ao lado do individuo ou grupo que o exerce, outro individuo ou grupo que induzido a comportar-se tal como aquele deseja (BOBBIO: 2000, 933).

Entretanto, outros tericos no acreditam ser vlida uma definio que no considera o poder ou capacidades de outros Estados. Outra definio, ligada as relaes entre os Estados a de que o poder a influncia exercida pelo Estado a um terceiro.

O equilbrio de poder dividido em unipolar, bipolar e multipolar, dependendo da quantidade de potncias atuantes no Sistema Internacional. Sendo este equilbrio de poder um catalisador para a ordem do SI, atravs da competio que ocorre entre os Estados, enquanto buscam, independentemente um do outro, os seus interesses e objetivos.

Intrinsecamente ao sistema internacional, observa-se processos de interdependncia (assimtrica e simtrica), entretanto este processo no necessariamente vantajoso, pois para os Realistas a interdependncia sempre representar uma relao assimtrica, onde um Estado estar vulnervel s ordens e vontades do outro Estado mais "forte", todavia os resultados observados em um Estado nunca sero iguais aos observados em um terceiro. Para os Realistas em geral a interdependncia ao invs de trazer paz pode ser responsvel por gerar o conflito.

CONTRATUALISMO

Durante os sculos XVII e XVIII, a filosofia poltica procurou compreender com mais afinco o fundamento nacional do poder poltico e compreender as vertentes da questo da legitimidade do poder. Os pensadores que mais se destacaram neste processo de compreenso do poder legtimo e da formao do Estado moderno foram: Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).

Apesar destes pensadores serem to distintos (do ponto de vista terico), eles tem o idntico propsito de investigar a origem do Estado. Quando nos referimos a origem levamos em considerao o princpio de criao, estruturao e legitimao do Estado e no o tempo.

Em sentido muito amplo o contratualismo compreende todas aquelas teorias polticas que vem a origem da sociedade e o fundamento do poder poltico num contrato, isto , num acordo tcito ou expresso entre a maioria dos indivduos, acordo que assinalaria o fim do estado natural e o incio do estado social e poltico.

Esses pensadores partem da hiptese inicial de criao do Estado, que seria os primrdios da humanidade, o estado de natureza. Neste estgio, todos os homens (antes do processo de sociabilidade) seriam donos exclusivos de si e de seus poderes.

No estado de natureza, o homem tem direito a tudo, ou seja, por direito natural, a que os autores geralmente chamam jus naturale, gozam de liberdade plena para usar seu poder., da maneira que quiser, para a preservao de sua prpria natureza. Em sntese, pode fazer da sua vida tudo aquilo que seu prprio julgamento e razo lhe indiquem como meios adequados a esse fim.

Um dos elementos essenciais da estrutura do pensamento contratualista o estado de natureza, que seria justamente aquela condio da qual o homem teria sado, ao associar-se, mediante um pacto, com os outros homens. Esse estado de natureza apresentado quase sempre apenas como hiptese lgica negativa sobre como seria o homem fora do contexto social e poltico, para poder assentar as premissas do fundamento racional do poder.

Para os pensadores do contratualismo clssico, o contrato uma relao jurdica obrigatria entre duas ou mais pessoas, fsicas ou jurdicas, em virtude da qual se estabelecem direitos e deveres recprocos: so elementos essenciais, portanto, os sujeitos e o contedo dos contratos, isto , as respectivas prestaes a que so obrigados sob pena de sano. O contratualismo clssico se apresenta como uma escola, pois todos aceitam a mesma sintaxe: a da necessidade de basear as relaes sociais e polticas num instrumento de racionalizao, o direito, ou de ver no pacto a condio formal da existncia jurdica do Estado. Enquanto contedo do pacto de associao no ultrapassa a manifestao de um genrico desejo de viver juntamente, isto , de formar um s corpo poltico, regulando de comum acordo tudo que se refere segurana e conservao dos associados, o pacto de submisso apresenta atravs dos tempos os contedos mais diversos. (BOBBIO, 2000:280)

Contexto histrico

O Estado absolutista, atingindo o seu apogeu (sculo XVI), encontra-se ameaado pelos inmeros movimentos de oposio influenciados por idias liberais.

Sobre o Estado Absolutista:

Este pode ser definido em duas etapas (principalmente na Inglaterra e na Frana):

A primeira (Inglaterra de Isabel e Frana de Lus XIV) o absolutismo est atrelado economia mercantilista;

Na segunda vive o momento de crise devido ao desenvolvimento do capitalismo comercial que repudia o intervencionismo estatal.

A busca pela racionalidade do Estado fomenta a transformao das estruturas polticas e questiona o poder do rei (divino direito dos reis), uma vez que este tem sua legitimidade na Igreja Catlica. A luta para tornar o estado mais laico torna a vida poltica mais agitada, incentivando movimentos revolucionrios como na Frana (Guerra dos Trinta Anos -1618 a 1648) e na Inglaterra com a Revoluo Puritana, comandada por Oliver Cromwell 1649-1658, que resultou na criao do parlamento ingls em 1689.

Laico a forma institucional que toma nas sociedades democrticas a relao poltica entre o cidado e o Estado, e entre os prprios cidados. No incio, onde esse princpio foi aplicado, a Laicidade permitiu instaurar a separao da sociedade civil e das religies, no exercendo o Estado qualquer poder religioso e as igrejas qualquer poder poltico. Fonte: http://www.laicidade.org

Foi neste contexto histrico de transformaes sociais, econmicas e polticas que surgiram as idias contratualistas para manter ou questionar as estruturas de Estado vigentes neste momento.

HOBBES E O ESTADO ABSOLUTISTA

Thomas Hobbes (1588-1679), ingls de famlia pobre, conviveu com a nobreza, de quem recebeu apoio e condies para estudar, e defendeu ferrenhamente o poder absoluto, ameaado pelas novas tendncias liberais. Tem como principais obras polticas Decive e o Leviat.

Segundo Hobbes, o homem tem direito a tudo vivendo no estado de natureza e enquanto perdurar esse estado de coisas, no haveria segurana e nem harmonia entre os homens. Neste estado, os interesses egostas predominam e o homem se torna o lobo dos homens (homo homini lupus). As disputas geram a guerra de todos contra todos e as conseqncias so os prejuzos para toda a vida social. Neste sentido Hobbes pondera que o homem sentindo necessidade de estabelecer a segurana, reconhece a necessidade de renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relao aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relao a si mesmo. Essa necessidade geraria uma nova ordem que celebrada mediante um contrato, um pacto, pelo qual todos se abdicariam de sua vontade em favor de um indivduo ou grupo de pessoas como representantes legtimos dessa nova ordem.

Em sntese, segundo Hobbes, o homem, no sendo socivel por natureza, o ser artificialmente, pois o medo e o desejo de harmonia que o levam a fundar um estado social e a autoridade poltica, abrindo mo dos seus direitos em favor do poder soberano. Sob esta tica que este pensador defende o Estado Absolutista, pois este seria o nico com poderes e condies de fato para manter a ordem e promover as condies legtimas de harmonia social.

Estado Absolutista

Para Hobbes, o poder do soberano deve ser absoluto e ilimitado, ou seja, caso o homem goze de liberdade natural, a sociedade corre o risco de perder o controle e assim se instaura a guerra. Hobbes defende esta posio para realizar a crtica a guerra civil que foi instaurada na Inglaterra no seu tempo (ver contexto histrico).

Segundo o autor, o Estado pode ser monrquico, quando constitudo por um governante (rei) ou pode ser formado por alguns ou muitos, por exemplo, uma assemblia. O fundamental que, uma vez institudo, este Estado no pode ser contestado: absoluto e pleno. Alm disso, Hobbes parte da constatao de que as disputas entre rei e parlamento ingls teriam levado guerra civil, o que o faz concluir que o poder do soberano deve ser indivisvel.

Nesta perspectiva, cabe ao poder soberano julgar sobre o certo e o errado, sobre o justo e o injusto; ningum pode questionar, pois tudo o que o soberano decide seria resultado do investimento da autoridade consentida pelo sdito. Hobbes faz referncia figura mitolgica do Leviat, animal gigante e impiedoso, mas que defende os peixes menores de serem engolidos pelos mais fortes. Fazendo aluso ao Leviat que Hobbes descreve a figura que representa o Estado, pois este seria um gigante cuja carne a mesma de todos os que a ele delegaram o cuidado de os defenderem.

Em sntese, o homem abdica da liberdade dando plenos poderes ao Estado absoluto a fim de proteger a sua prpria vida. Alm disso, o Estado tem por obrigao garantir as particularidades e a propriedade privada. O poder do Estado se exerce pela fora, pois apenas com a coero fsica pode-se intimidar os homens. Investido de poder, o soberano no pode ser destitudo, punido ou morto, ele tem o poder de prescrever as leis, escolher os conselheiros, julgar, fazer a guerra e a paz, recompensar e punir.

Nessa perspectiva hobbesiana, a nica maneira de instituir tal poder comum conferir toda sua fora e poder a um homem, ou a uma assemblia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma s vontade. como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assemblia de homens, com a condio de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas aes. Feito isto, multido assim unida numa s pessoa se chama Estado, em latim civitas. esta a gerao daquele grande Leviat... Aquele que portador dessa pessoa se chama soberano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes so sditos (HOBBES, 1974: 109).

Sendo assim, o nico direito que o homem no renuncia vida, e se o Estado no capaz de preserv-la, o pacto no faz mais sentido, e o indivduo retorna ao estado de natureza, retomando a sua liberdade e defendendo-se como achar mais conveniente.Entende-se que a obrigao dos sditos para o soberano dura enquanto, e apenas enquanto, dura tambm o poder mediante o qual ele capaz de proteg-los. A soberania a alma do Estado, e uma vez separada do corpo os membros deixam de receber dela o movimento. O fim da obedincia a proteo (HOBBES, 1974: 139).LOCKE - Estado de natureza e contrato

Locke parte da concepo individualista, assim como Hobbes, pela qual os homens isolados no estado de natureza se uniram mediante contrato social para constituir um a sociedade organizada. Assim, apenas o pacto entre os homens torna legtimo o poder e a ao do Estado. No entanto, de forma distinta a de Hobbes, no compreende o estado de natureza como uma situao de guerra e egosmo, o que nos leva a questionar por que propsito os homens abandonariam essa situao delegando o poder a um soberano.

Segundo este pensador, no estado natural cada um juiz em causa prpria; sendo assim, os riscos das paixes e da parcialidade so muito grandes e podem desestabilizar as relaes entre os homens. Por este risco, os homens, pretendendo a segurana e a harmonia necessrias para o estabelecimento da propriedade, que as pessoas consentem em instituir o corpo poltico para regulamentar a sociedade.

A questo fundamental do pensamento de John Locke que os direitos naturais dos homens no se extinguem em conseqncia desse consentimento, mas fica conservado para limitar o poder do soberano, justificando, em ltima instncia, o direito insurreio, o direito de questionar o poder soberano, caso este no satisfaa o interesse de todos.

Quando o governo instrudo por todos os membros da comunidade, a qual tem no legislativo a sua mxima representao, mediante consentimento e designao, no mais cumprir esta sua obrigao, que preservar a paz e a propriedade, e impuser a sua autoridade para fazer leis que no representam o conjunto da comunidade, isto , quando h abuso de poder. Rompe-se, assim, o contrato, o povo desobriga-se a sujeitar-se e pode constituir um novo legislativo.

Para Locke, o poder est fundamentado nas instituies polticas, e no no arbtrio dos indivduos, assim ele estabelece a distino entre o pblico e o privado, e estes devem ser regidos por leis diferentes. Assim, o poder poltico no deve, em tese, ser determinado pelas condies de nascimento, bem como o Estado no deve intervir, mas sim garantir e tutelar o livre exerccio da propriedade, da palavra e da iniciativa econmica, caracterstico do poder liberal.

Nessa perspectiva contratualista e liberal, Locke define a propriedade privada em um sentido muito amplo: "tudo o que pertence" a cada indivduo, ou seja, sua vida, sua liberdade e seus bens. Assim, a primeira coisa que o homem possui o seu corpo; todo homem proprietrio de si mesmo e de suas capacidades. O trabalho do seu corpo propriamente individual; portanto, o trabalho d incio ao direito de propriedade em sentido estrito (bens, patrimnio). Isso significa que, na concepo de Locke, todos so proprietrios: mesmo quem no possui bens proprietrio de sua vida, de seu corpo, de seu trabalho (principio do liberalismo).

Locke, portanto, pensa o pacto como um acordo entre os iguais, todos donos de propriedades, e no como um imposio do mais forte:

Seja qual for a forma de governo sob a qual se acha a comunidade, o poder que tem o mando deve governar mediante lei estabelecidas e promulgadas, para que no s os homens possam saber qual o seu dever, achando-se garantidos e seguros dentro dos limites, como tambm para que os governantes, mantidos dentro de limites, no fiquem tentados pelo poder que tm nas mos a entreg-los para fins tais e mediante medidas tais de que os homens no tivessem conhecimento nem aprovassem de boa vontade LOCKE, 1978: 279)

Essa ordem, que garante a unio dos homens em sociedade, se expressa atravs de leis, as quais tambm tm seus limites:

Primeiro, tm de governar por meio de leis estabelecidas e promulgadas, que no podero variar em casos particulares, instituindo mesma regra para ricos e pobres, para favoritos na corte ou camponeses no arado;

Segundo, tais leis no devem ser destinadas a qualquer outro fim seno o bem do povo;

Terceiro, no devem lanar impostos sobre a propriedade do povo sem consentimento deste, dado diretamente ou por intermdio dos seus deputados. E essa propriedade somente diz respeito aos governos quando o legislativo permanente, ou pelo menos quando o povo no reservou qualquer poro do poder legislativo para deputados a serem por ele escolhidos de tempos em tempos;

Quarto, o legislativo no deve nem pode transferir o poder de elaborar leis a quem quer que seja, ou coloc-la em qualquer outro lugar que no o indicado pelo povo.

Quinto, este poder no deve ser permanente e deve ser separado do poder que as executa, para que no haja abuso de poder. (LOCKE, 1978, 312)ROUSSEAU

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filho de um relojoeiro singelo e desprovido de posses, n asceu em Genebra (Sua) e viveu a partir de 1742 em Paris, onde agitavam idias liberais que resultaram na Revoluo Francesa (1789).As principais idias polticas de Rousseau esto nas obras Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens e Do contrato social. Vida e Obra.

Jean-Jacques Rousseau conhecido como o primeiro filsofo do Romantismo e por seu Contrato social, em que afirma que o ser humano inatamente bom e tem seu comportamento corrompido pela sociedade. Produziu tambm peas, poesia, msica e uma das mais notveis autobiografias da literatura europia.

Ao fugir de casa aos 16 anos, Rousseau foi para a Frana, onde ele se tornou protegido de madame de Warens, que o converteu ao catolicismo e se tornou sua amante. Rousseau ganhou a vida como preceptor, msico e escritor, primeiro em Lyon e, aps 1742, em Paris. Ali viveu com uma mulher com quem teve cinco filhos ilegtimos, todos entregues a um orfanato. Colaborou com a Enciclopdia de Diderot. Em 1750, seu Discurso sobre as cincias e as artes ganhou o prmio da Academia de Dijon. No subsequente Discurso sobre a origem da desigualdade, desenvolveu suas idias sobre a influncia corruptora da sociedade. Em 1762 publicou Emilio, em que expe sua teoria educacional, e esboou sua teoria poltica em O contrato social. Foi perseguido por essas obras e teve seus livros queimados em sua Genebra natal. Ele entrou em um perodo conturbado, e em certa altura hospedou-se com David Humme na Inglaterra, mas suas acusaes paranicas a seu anfitrio o levaram de volta a Paris.

PRINCIPAIS IDIAS: Como Hobbes antes dele, Rousseau iniciou sua filosofia poltica em O Contrato Social imaginado os seres humanos num "estado de natureza" para descrever as origens da organizao social. Diferentemente de Hobbes, apresenta uma concepo romntica da natureza humana. Segundo Rousseau, em seu estado original mtico os seres humanos esto em unio com a natureza e exibem compaixo natural uns pelos outros. a sociedade que representa a origem da opresso e da desigualdade, medida que o desenvolvimento da razo corrompe e sufoca nossos sentimentos naturais de piedade.

Rousseau imagina um modo de organizao diferente para a sociedade, acreditando que, medida que as pessoas comeassem a ver os benefcios da cooperao, poderiam abrir mo de bom grado de seus direitos naturais para se submeter "vontade geral" da sociedade. A vontade geral no simplesmente um agregado das vontades de cada indivduo, mas o desejo do bem comum da sociedade como um todo. A liberdade em tal sociedade, para Rousseau, no era uma questo de se ter permisso para fazer o que bem se entende, pois satisfazer os prprios desejos no liberdade, e sim, uma escravizao s paixes. A liberdade genuna envolve viver segundo regras sociais que expressam a vontade geral, da qual cada um participante ativo.Fonte: http://filosofos-vidaeobra.blogspot.com

Assim como Hobbes e Locke, Rousseau procura resolver a questo da legitimidade do poder fundado no contrato social. No entanto, sua posio , num aspecto, inovadora, na medida em que distingue os conceitos de soberano e governo, atribuindo ao povo soberania inalienvel. No Discurso sobre a origem da desigualdade Rousseau cria a hiptese dos homens em estado de natureza, vivendo de forma saudvel, harmoniosos e felizes enquanto cuidam de sua prpria sobrevivncia, at o momento em que criada a propriedade e uns passam a trabalhar para outros, gerando escravido e misria. O homem que surge da desigualdade corrompido pelo poder e esmagado pela violncia. Nessa perspectiva, para Rousseau, trata.-se de um falso contrato, esse que coloca os homens sob algemas, encarcerado. H que se considerar a possibilidade de outro contato verdadeiro e legtimo, pelo qual o povo esteja reunido sob uma s vontade.

De acordo com Rousseau, o contrato social, para ser legtimo, deve se originar do consentimento necessariamente geral, de todos. Cada associado se abdica sem reserva de todos os seus direitos em favor da comunidade, ou seja, como todos abrem mo de tudo igualmente, ningum nada perde nada, pois este ato de associao produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo moral e coletivo composto de tantos membros quantos so os votos da assemblia e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade (ROUSSEAU, 1978: 45).

Em sntese, pelo pacto entre os homens, todos se abdicam de suas liberdades, mas sendo todos parte integrante e ativa do toda vida social, ao obedecer lei, obedece a si mesmo e, portanto, se torna livre. Rousseau afirma que a obedincia s leis constitudas deste pacto so, em essncia, a sntese da prpria liberdade. Para o autor esse contrato no faz o povo perder a soberania, pois o prprio Estado foi criado a partir da prpria vontade de todos.

Neste sentido, o contrato para Rousseau tem uma caracterstica indelvel, pois mesmo quando cada associado se submete totalmente em favor da comunidade, nada perde de fato, pois, enquanto comunidade incorporada, se torna o prprio soberano. Para Rousseau, o povo que expressa pela lei vontade geral e a soberania do povo s pode ser manifestada pelo poder legislativo, e no pode ser transferido, ou seja, no pode ser representada.

Os direitos civis e as revolues do sculo XVIII

A cidadania moderna refere-se ao conjunto de direitos e deveres dos cidados que pertencem a uma nao, ou seja, o povo de um pas. O ncleo dessa cidadania compe-se basicamente de trs elementos: o civil, o poltico e o social. O aparecimento e a extenso dos direitos de cidadania ocorreram de forma lenta e gradual, variando bastante conforme a regio.

Os direitos civis agrupam as prerrogativas de liberdade individual, liberdade de palavra, pensamento e f, liberdade de ir e vir, o direito propriedade, o direito de contrair contratos vlidos e o direito justia. Os tribunais so as instituies pblicas por excelncia para salvaguarda dos direitos civis.

Iguais perante a lei. Antes da constituio da cidadania moderna, os direitos e deveres entre os homens eram definidos por privilgios sociais (posses, rendas, ttulos de nobreza). O surgimento dos direitos civis assinalou uma mudana substancial nas relaes dos homens em sociedade. Foram rompidos os laos de dominao baseados nas relaes comunitrias tradicionais, caractersticos do perodo medieval e do sistema feudal.

Os direitos civis impuseram um nivelamento jurdico entre os cidados, que passaram a ser considerados iguais perante a lei. As distines de origem e classe social continuam a existir, mas no devem interferir na igualdade jurdica dos cidados. Esse o princpio bsico de tais direitos.

O contrato social

O surgimento dos direitos civis est vinculado s revolues burguesas na Europa do sculo 18. Elas tiraram a fora das monarquias absolutistas e romperam com a sociedade hierarquizada do perodo pr-moderno. No absolutismo monrquico, a autoridade poltica (o rei) detinha o poder com base em privilgios sociais (nobreza hereditria).

Os filsofos do liberalismo poltico foram os autores das doutrinas contratualistas. Tambm denominadas "contrato social", elas fundamentaram no plano ideolgico a nascente igualdade formal nas relaes entre os cidados. Os mais influentes filsofos contratualistas foram o ingls John Locke e o francs Jean-Jacques Rousseau.

No Brasil, o primeiro avano registrado na rea dos direitos civis foi a abolio da escravido (1888). A primeira Constituio republicana (1891) assegurou a igualdade legal entre os cidados brasileiros. Garantiu as liberdades de crena, de associao e reunio, alm do habeas corpus, para remediar qualquer violncia ou coao por ilegalidade ou abuso de poder.

Fonte: http://educacao.uol.com.br

LIBERALISMO

O liberalismo tem suas razes na luta contra as monarquias absolutistas e o direito divino dos reis que predominavam na Europa at o incio do sculo XVIII. Este modo de governar fundado na teocracia teve seu desfecho com os acontecimentos de 1789, na Frana, com a chamada Revoluo Francesa. A Revoluo Francesa, ento, significou o fim do Antigo Regime (absolutista e teocrata) e a ascenso de uma nova concepo poltica, o liberalismo.

O fim do Antigo Regime se completa quando a teoria poltica confirma a propriedade privada como direito natural dos indivduos, acabando com a imagem do rei como o senhor dos bens e riquezas do reino, decidindo arbitrariamente quanto a impostos, tributos e taxas. Configura-se um novo carter de propriedade privada a partir do liberalismo: ou ela privada e individual, ou estatal e pblica. A propriedade deixa, definitivamente, a pertencer ao rei, ao senhor.

O poder passa a constituir um Estado republicano e impessoal. As decises sobre impostos, tributos e taxas so tomada por um parlamento o poder legislativo -, cujos membros so os representantes dos proprietrios privados. Por isso, de acordo com as teorias polticas liberais, o indivduo o cidado, pois a origem e o destinatrio do poder poltico, nascido de um contrato social voluntrio, no qual os contratantes cedem poderes, mas no sua individualidade (vida, liberdade e propriedade).

No entanto, este Estado liberal ainda no constitua uma democracia representativa. Isto porque, com exceo dos Estados Unidos, onde os trabalhadores brancos foram considerados cidados desde o sculo XVIII, foram necessrias muitas lutas populares para que os direitos cidadania fossem estendidos a todos os indivduos e no somente a uma parcela (minoria) capitalizada da populao.

Principais idias do Liberalismo

Podemos dizer que as idias liberais estavam constitudas a partir do pensamento tico, poltico e econmico da burguesia que se voltava contra viso de mundo da nobreza feudal. Esta burguesia busca alcanar a separao entre Estado e sociedade enquanto conjunto das atividades particulares dos indivduos, sobretudo as de natureza econmica. O que se pretende separar definitivamente o pblico do privado, minimizando a interveno do Estado na vida de cada um. Essa separao deveria reduzir tambm a interferncia do privado no pblico, j que o poder procura outra fonte de legitimidade que no seja a tradio e as linhagens de nobreza.

possvel ainda caracterizar o liberalismo no se quinho tico, enquanto garantia dos direitos individuais, tais como liberdade de pensamento, expresso e religio, o que supe um estado de direito em que sejam evitados o arbtrio, as lutas religiosas, as prises sem culpa formada, a tortura, as penas cruis. Resultam desta forma de pensamento o aperfeioamento das instituies do voto e da representao, a autonomia dos poderes e a conseqente limitao do poder central. Contudo, o pensamento liberal inicia-se como um forte apelo elitista, tendo em vista que exclui o indivduo desprovido de propriedade e, portanto, de direitos. Esta realidade s ser alterada diante de muitas lutas sociais que se estendero por alguns sculos.

Os primeiros a se rebelarem contra o controle da economia foram os fisiocratas, cujo lema era "laissez -faire, laissez-passer, le monde va de lui-mme" ("deixai fazer, deixai passar, que o mundo anda por si mesmo"). Tais idias so desenvolvidas pelos economistas ingleses Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). Eles defendiam a propriedade privada dos meios de produo e a economia de mercado, baseada na livre iniciativa e competio. O Estado mnimo, ou seja, o Estado no-intervencionista considerado possvel porque o equilbrio pode ser alcanado pela lei da oferta e da procura.

Alguns Tericos do Liberalismo

LOCKE

John Locke era ingls e viveu entre 1632 e 1704. Descendente de uma famlia burguesa de comerciantes tornou-se mdico. Acusado de envolver-se em conspiraes contra o rei Carlos II, esteve exilado na Holanda, situao em que teve a oportunidade de conhecer Guilherme de Orange, uma personalidade considerada smbolo da monarquia parlamentar inglesa. Defensor da teoria empirista, herdade pelos longos estudos da obra de Descartes, Locke tornou-se o terico da revoluo liberal inglesa, cujas idias iriam fecundar todo o sculo XVIII, dando fundamento filosfico s revolues ocorridas na Europa e nas Amricas.

Para Locke, o poder deveria estar fundamentado nas instituies polticas e no nas vontades individuais. Seu pensamento destaca a origem democrtica e parlamentar do poder poltico, por isso considerado um pensamento progressista. Como se davam as relaes de poder com as quais Locke desejava romper? Tomemos Por exemplo,o seguinte caso: na Idade Mdia transmitia-se por herana tanto a propriedade como o poder poltico: o herdeiro do rei, do conde, do marqus, recebia no s os bens como tambm o poder sobre os homens que viviam nas terras herdadas.

Locke determina a distino entre o pblico e o privado, que devem ser regidos por leis diferentes. Deste modo, o poder poltico no deve, em tese, ser determinado pelas condies de nascimento (como acontecia na Idade Mdia), bem como o Estado no deve intervir, mas sim garantir e tutelar o livre exerccio da propriedade, da palavra e da iniciativa econmica. Locke considera o legislativo o poder supremo, ao qual deve se subordinar tanto o executivo quanto o poder federativo (encarregado das relaes exteriores)..

Para Locke o conceito de propriedade aplicado em um sentido muito amplo: "tudo o que pertence" a cada indivduo, ou seja, sua vida, sua liberdade e seus bens. No entanto, esta igualdade individual abstrata, geral e formal porque somente aqueles que puderem acumular propriedade tm direito plena cidadania. Desta forma, para Locke todos os indivduos so membros da sociedade no sentido de serem governados. J quanto governar, apenas os homens de fortuna esto aptos a esta tarefa por duas razes: sendo eles os proprietrios, so os maiores interessados em manter a propriedade privada; somente os afortunados despendem de tempo e dinheiro para dedicarem-se vida poltica. Ora, o operrio precisa trabalhar! Logo, ele est submetido sociedade, mas, no faz parte dela tendo em vista que no pode tomar parte das decises.

Este impasse no resolvido por Locke. Ao afirmar que o homem tem posse de seu corpo, de sua vida e de seu trabalho e busca justificar o acmulo de propriedades e riquezas. No entanto, o acmulo de propriedades por alguns membros da sociedade cria o desequilbrio social e as diferentes classes que confrontam-se.

Podemos concluir da elitismo que persiste na raiz do liberalismo, j que a igualdade defendida de natureza puramente abstrata, enquanto, na realidade, somente aqueles com um acmulo de propriedades que podem exercer plenamente a sua cidadania.

MONTESQUIEU

Montesquieu (1689-1755) era francs e nobre, tinha ttulo de baro. Recebeu slida formao iluminista dos padres oratorianos, tornando-se crtico severo da monarquia absolutista e do clero. Era bastante irnico, em sua obra Cartas Persas, produzida em sua juventude, satiriza o rei, o papa e a sociedade francesa do seu tempo.

Iluminismo: No sculo XVIII espalhou-se por toda a Europa o movimento conhecido como Ilustrao ou Iluminismo. Anteriormente, o Sculo das Luzes havia sido preparado pelo racionalismo cartesiano, a revoluo cientfica e o processo de secularizao da poltica e da moral.

O homem iluminista, Segundo Kant, ao alcanar a sua maturidade cientfica, filosfica e tcnica, maturidade esta que explica e controla a natureza, recusa-se a viver sob a gide de arbitrariedades. O homem passa a acreditar na possibilidade de perfeio de si mesmo porque est extasiado com as coisas que capaz de criar e pensar, tanto do ponto de vista material, como intelectual e moral.

Este homem tendo alcanado a razo agora pode ter acesso verdade e felicidade. Logo, estas idias precisavam ser difundidas, espalhadas. A produo intelectual dos chamados enciclopedistas como Diderot, DAlembert, Voltaire e outros, permitiu que este pensamento iluminista se espalhasse por toda a parte.

No entanto, mesmo com uma produo intelectual bastante fecunda, do ponto de vista poltico, a Frana encontrava-se atrasada em relao aos ingleses. Enquanto na Frana perdurou o absolutismo at a Revoluo em 1789, j nos fins do sculo XVII os ingleses j gozavam de idias liberais e sua prtica estava concretizada atravs do fortalecimento e supremacia do parlamento sobre a coroa (Revoluo Gloriosa, 1685-1689).

na obra O Esprito das Leis que encontramos a maior importncia de Montesquieu. Nela ele discute sobre as instituies e as leis, buscando compreender a diversidade das legislaes existentes em diferentes pocas e lugares. Seu trabalho construdo com notvel esmero metodolgico que pode ser considerado como um prenncio de anlise sociolgica.

Montesquieu desenvolveu uma teoria do governo que alimenta as idias fecundas do constitucionalismo porque procurou descobrir as relaes que as leis tm com a natureza e o princpio de cada governo. De acordo com seu modo de entender o poder, busca distribuir a autoridade por meios legais, evitando o arbtrio e a violncia. Estas idias contriburam para a separao dos poderes, ainda hoje uma das pedras angulares do exerccio do poder democrtico. Montesquieu conclui que "s o poder freia o poder" a partir de suas reflexes acerca do abuso do poder real, deste abuso deriva a necessidade de cada poder - executivo, legislativo e judicirio constituir-se autnomo e composto por pessoas diferentes.

No entanto, necessrio no atribuir a idia de separao dos poderes como ele apresentada agora a Montesquieu, tal clareza foi-lhe atribuda posteriormente. Em muitos trechos de sua obra possvel verificar uma separao no to rgida. Ele pretende uma diviso dos poderes que mantenha o equilbrio e a harmonia entre os poderes e no o afastamento completo entre eles. Vale lembrar que, embora seu pensamento tenha sido apropriado pelo liberalismo burgus, as convices de Montesquieu se referem aos interesses de sua classe e, portanto o aproximam dos ideais de uma aristocracia liberal. Em outras palavras, ele aprecia e defende uma monarquia moderada, mas no cogita a possibilidade do povo no poder, ou seja, um pensamento elitista, o que no difere do pensamento dos outros pensadores iluministas exceo de Rousseau. Para todos eles, o empregado domstico, o trabalhador da fbrica e at mesmo o barbeiro no so membros do Estado e no esto qualificados para serem cidados.

ROUSSEAU

De acordo com Rousseau, para que possamos ter um verdadeiro corpo poltico, baseado na vontade geral, em defesa da liberdade, enquanto essncia da humanidade, todos os participantes do Estado deveriam estar presentes nas deliberaes, para que no se quebre o carter geral. Para isso, no precisaria, necessariamente, haver unanimidade, mas nenhum voto poderia ficar de fora: no lugar de cada pessoa particular, de cada contratante, este ato de associao produz um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros como a assemblia de votantes, o qual recebe deste mesmo ato sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade (ROUSSEAU, 1978:21).

Considerando que todos precisam estar em condies de igualdade para haver democracia, nenhum ser humano poder ser autoridade diante dos demais e as convenes, criadas por todos, so a base de toda autoridade legtima. O interesse de um representante sempre privado e no poder expressar o que os outros tm a dizer. Rousseau refere-se representatividade como uma idia absurda, originria da sociedade civil corrompida, no podendo haver democracia se essa no for direta e as leis que no forem ratificadas pelo prprio povo so consideradas nulas.

Encontra-se a a essncia do pensamento de Rousseau, aquilo que o faz reconhecer no homem um ser superior capaz de liberdade e autonomia, entendida esta como a superao de todo autoritarismo, pois a submisso a uma lei que o homem ergue acima de si mesmo, a lei produzida por todos. O homem livre na medida em que d o livre consentimento ao conjunto de leis. E consente por consider-la vlida e indispensvel. Aquele que recusar obedecer vontade geral a tanto sera constrangido por todo um corpo, o que no significa seno que o foraro a ser livre, pois essa a condio que, entregando cada cidado ptria, o garante contra qualquer dependncia pessoal (ROUSSEAU, 1978:49).

Reforamos aqui que o pensamento de Rousseau voltado contra o absolutismo ultrapassando, em certa medida, o elitismo proposto por outros liberalistas. Rousseau apresenta uma forma mais democrtica de poder. O conceito de vontade geral, a denncia da violncia gerada pelo abuso do poder conferido pela propriedade e o desenvolvimento de uma viso mais democrtica de poder, so os aspectos mais avanados do pensamento de Rousseau. No entanto, de alguma forma ele mantm uma idia individualista do pensamento burgus, ele filho do seu tempo. Quando denuncia a violncia como resultado da natureza corrompida, mantm ainda a perspectiva de uma anlise moral (e portanto pessoal) de um fenmeno que os tericos socialistas a ele posteriores percebero como resultante dos antagonismos sociais

LIBERALISMO DO SCULO XIX

A Revoluo Industrial (sculo XVIII) fizera aumentara a concentrao urbana, pois, o nmero dos operrios crescia consideravelmente. No sculo XIX, a classe burguesa clamava por mudanas democrticas, contudo, na contracorrente das reivindicaes burguesas clamavam tambm os operrios que, organizados em sindicatos e influenciados por idias socialistas, exigem melhores condies de trabalho.

Se no sculo anterior (XVIII) O enfoque da liberdade baseada na propriedade - caracterstica do liberalismo elitista dos sculos anteriores, no sculo XIX o enfoque desviado para a exigncia de igualdade, procurando estender a liberdade a um nmero cada vez maior de pessoas por meio da legislao e de garantias jurdicas. Assim, o pensamento poltico do sculo XIX que pretende se configurar como liberalismo democrtico.

O liberalismo nasceu no-democrtico, tendo em vista que sempre evitou o governo popular, mantendo o voto censitrio, excluindo da democracia e do poder os no-proprietrios. Somente no sculo XIX, haver um outro sentido, um outro caminho a se trilhado o liberalismo radical que defende a liberdade e tambm a igualdade. nesta segunda forma de liberalismo que mais se apiam as concepes de Estado de bem-estar social e de socialismo liberal, do sculo XX.

Todos os apontamentos e abordagens realizadas nesta unidade visam uma ampliao do debate acerca das questes polticas que envolvem as atividades humanas e seus reflexos na histria ocidental. Claro que no podemos isolar esses fatos, mas sim procurar estabelecer relaes com o nosso cotidiano e com as conjunturas que atravessam as nossas atividades cotidianas. Por isso, no se limitem, ousem na interpretao e procurem ir alm daquilo que perceptvel.

Referncias

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Indicao de FilmeOs Miserveis. Ttulo Original:Les MisrablesGnero:Drama Tempo de Durao: 131 minutosAno de Lanamento (EUA): 1998.

Aps ser condenado priso aps ter roubado um po, um homem escapa e passa a ser perseguido por um ambicioso policial que far de tudo para prend-lo novamente. Dirigido por Billie August (A Casa dos Espritos) e com Liam Neeson, Claire Danes, Geoffrey Rush e Uma Thurman no elenco. Este filme retrata o momento de consolidao do Estado Liberal e os conflitos em torno do poder poltico.

Principais reivindicaes das classes burguesa e proletariada no sculo XIX:

- defesa do sufrgio universal, ampliao das formas de representao (partidos, sindicatos), presses para reformas eleitorais;

- exigncia de liberdade de imprensa;

- exigncia da implantao da escola elementar universal, leiga, gratuita e obrigatria, cuja luta se torna bem-sucedida na Europa e nos EUA.

* Textos escolhidos e produzidos para trabalhar a temtica no espao acadmico

** Mestre em Sociologia pela UFPR. Professor de Cincias Polticas e Sociologia. Email: [email protected]

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