teoria economica - aula 3,4,5 - a transição do feudalismo ao capitalismo

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Curso de Servio Social Teoria Econmica Prof. Tadeu Silvestre da Silva

Aulas 3, 4 e 5: A Transio do Feudalismo ao Capitalismo1 O Feudalismo

O Feudalismo foi o modo de produo, ou seja, a forma de organizao social e econmica tpica do perodo entre os sculos IV e XVIII na Europa Ocidental. Comea a se formar no contexto do desmantelamento do Imprio Romano do Ocidente, das invases brbaros e da ruralizao da vida europia (sculos IV e V) e tem seus lances finais com a Revoluo Francesa e a Revoluo Industrial (fins do sculo XVIII). Caractersticas do sistema feudal:

1)

Sociedade estamental: os indivduos esto presos ao status que adquirem no nascimento, havendo quase nula possibilidade de ascenso a uma classe social mais elevada; Base essencialmente agrria, de baixo nvel tcnico e produtivo: alm de as ferramentas e as tcnicas serem muito rudimentares, o prprio sistema feudal intrinsecamente marcado pela limitao no processo de diviso do trabalho; Produo dirigida ao mercado local e voltada auto-suficincia: o isolamento caracterstico da vida econmica nos feudos reflete a pretenso da auto-suficincia. No interior dos feudos, buscava-se produzir tudo o que fosse necessrio sobrevivncia sem a dependncia da troca com outros feudos e/ou cidades. Reduzidos nveis de comrcio e de circulao monetria: como se buscava a auto-suficincia interna, a simplicidade das trocas, que eram apenas marginais, permitia a predominncia do escambo (trocas de produtos por produtos); Fragmentao/descentralizao do poder poltico: a fragilidade do poder central decorria da diviso do poder que o rei era obrigado a fazer para manter foras militares leais nos tempos de guerra. Ao conceder feudos, o rei abria mo de uma parte de seu poder para garantir auxlio militar. Predomnio do trabalho compulsrio: proteo militar e cesso do uso da terra pelo senhor em troca principalmente do trabalho compulsrio (obrigatrio) dos camponeses arrendatrios (servos e viles); Noo privada da justia: como no h um poder central responsvel pelo poder judicirio, o senhor feudal assume em suas terras as funes

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3)

4)

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7)

judiciais. Portanto, tem o papel de juiz nas querelas entre os habitantes dos feudos. 2 A sociedade feudal 2.1 A hierarquia social

A sociedade feudal foi tradicionalmente definida como imvel, j que era uma sociedade dividida em trs camadas (status ou estamentos = posio de cada um na sociedade fixadas segundo as obrigaes de cada um = ordens com respectivas funes) que no se misturavam. As ordens e suas correspondentes funes: Clero: rezava. Isentos de impostos, arrecadavam dzimo. Muitos possuam terras e eram senhores feudais. Nobreza: administrava politicamente e combatia. Arrecadava impostos dos servos. Mas, ao mesmo tempo em que tinham pessoas sob sua autoridade, os nobres (dependendo do nvel hierrquico que ocupava) deviam obedincia a outros superiores. Mesmo reis poderiam ser suseranos e, ao mesmo tempo, ser vassalos de outro rei. Povo: trabalhava. Produziam para o sustento de toda a sociedade e pagavam a maioria das taxas e tributos.

Figura 1: Estamentos na Sociedade Medieval

A sociedade feudal era rigidamente estratificada, pois a mobilidade social quase inexistia. O status era transmitido hereditariamente e a posio hierrquica era determinada pela relao com a terra (propriedade ou no). Acreditava-se que a sociedade estava dividida porque Deus determinara diferentes funes para cada camada. Havia trs camadas fixas.

2.2 As instituies polticas

As relaes de suserania e vassalagem tm origem no comitatus, uma instituio brbaro-germnica, que implicava um sistema de obrigaes recprocas entre vassalos e suseranos. - Suserano (ou senhor): era aquele que cedia a posse de lotes de terras (chamados de feudos ou benefcios) a um vassalo, em troca de fidelidade militar absoluta. - Vassalo: era aquele que recebia proteo e o benefcio e devia

fidelidade militar ao suserano. Em tempos de guerra, os vassalos eram obrigados a defender seu suserano.

No sistema feudal, o senhor concentrava autonomia, em sua jurisdio, exercendo os poderes judicial, econmico e poltico. No entanto, prestavam contas a seus suseranos.

2.3 Os diferentes graus de servido

H diversos graus de servido, sendo os principais: - Servos dos domnios: ligados casa do senhor, trabalhavam o tempo todo nas terras indominicatas. - Fronteirios: mantinham pequenos arrendamentos orla da aldeia; - Aldees: possuam s uma cabana trabalhavam em troca de comida. - Vilos ou vilos: eram camponeses e possuam mais privilgios pessoais e econmicos do que os servos. Dispensados dos dias de ddiva, pagavam ao senhor parcela da produo (meeiros), outros faziam seus pagamentos em dinheiro. Podiam at deixar o feudo quando o desejassem. Formavam um contingente de trabalhadores parecido com o dos servos, camponeses no livres.

Pagamentos, taxas e tributos impostos aos servos: - corvia: 3 a 4 dias de trabalho gratuito nas terras do senhor. - talha: parte da produo metade para os senhores. - banalidades: pagamento por uso do moinho e do forno do senhor, por pedgio, etc. - capitao: imposto anual pago por cada indivduo ao senhor. - heriot: taxa pela sucesso de arrendamento quando o pai morria.

2.4 A economia feudal

A economia feudal era essencialmente agrcola, as ferramentas e tcnicas utilizadas eram muito rudimentares, sendo responsveis pela baixa produtividade. A produo era voltada ao consumo local; buscava-se a auto-suficincia nos limites do feudo, quase tudo o que era necessrio sobrevivncia era produzido internamente. Desde os alimentos cultivados pelos camponeses (servos e viles) at roupas, calados, ferramentas, armas, que eram produzidos por artesos locais. O artesanato tambm continuou a ser praticado nas cidades que resistiram decadncia da vida urbana. Havia pssimas condies de infra-estrutura de transporte (a maioria das estradas eram ainda heranas da era romana).

J que se buscava essa auto-suficincia econmica, o comrcio era muito reduzido e predominavam as trocas naturais (o escambo: trocas de produtos por produtos). O nico elemento responsvel pelo comrcio de longa distncia era o chamado mercador itinerante (o mascate ou ps empoeirados). Exatamente por ser quase nulo o comrcio, a circulao de moeda alcanava um grau pouco significativo.

Figura 2: Figura estilizada das dependncias fsicas de um feudo

BosqueAveia

Trigo

Aveia

Trigo

Trigo

Rendas

Castelo

Aveia

Aveia Manso Servil ou Tenncia Trigo Trigo

Aveia

Pastagens - Terras Forno Comuns Reserva Senhorial Armazm Rendas Aldeia dos servos Prados

Trigo

Aveia

Trigo

Aveia

Trigo

DzimoAveia Trigo Aveia Trigo Aveia

Trabalho compulsrio

Igreja

Terras para Cultivo Senhor

A propriedade territorial era sinal de poder. As terras arveis eram divididas em duas partes: 1) a Reserva Senhorial, pertencente ao senhor e cultivada apenas para ele pelos arrendatrios (servos e viles); 2) o Manso Servil ou Tenncia, dividida entre os arrendatrios e do qual era retirado o seu sustento;

Outra marca do feudalismo era a estagnao demogrfica, em parte devida elevada incidncia de morte violenta (provocada por tocaias, assaltos, guerras), em parte decorrente das precrias condies nutricionais e higinico-sanitrias. A esperana mdia de vida ao nascer chega aos 24 anos dependendo da poca e da localidade.

2.5 A Igreja e sua mentalidade anticapitalista

A Igreja Catlica dominava o cenrio religioso. Com concentrado poder social, influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de comportamento da sociedade. Como intermediria do homem com Deus, a Igreja zelava pela moral e pela salvao das almas. A finalidade do trabalho (98% da populao de camponeses, artesos, mercadores trabalhava) no devia ser a riqueza em si, mas o sustento material da sociedade, apenas a sobrevivncia terrena. Para a salvao de

suas almas, restava aos trabalhadores o trabalho e a obedincia aos seus senhores e aos mandamentos da Igreja.

O homem no devia buscar o enriquecimento, pois a recompensa de toda a vida do cristo no era o conforto ilusrio das coisas materiais, mas, sim, a salvao de sua alma; e isso s viria depois da morte. A Igreja no condenava os j nascidos ricos (e riqueza nesse caso significava ter terras), desde que esses assistissem os pobres, seus irmos em Cristo. A busca do enriquecimento individual, por outro lado, era condenada, j que isso, segundo a Igreja, s era possvel pela explorao das outras pessoas, mediante a acumulao pelo lucro (obtido por preos abusivos) e pela cobrana de juros (prtica da usura). Os princpios do Preo Justo e da Proibio da Usura (cobrana de juros) so exemplos da tica anticapitalista da Igreja. O preo justo seria um nvel de preo capaz de apenas cobrir os custos de produo ou de compra de uma mercadoria e remunerar a mo-de-obra do produtor ou do mercador. Ambos os princpios, por rechaarem a acumulao de capital, operavam como uma fora ideolgica contrria ao capitalismo e favorvel manuteno da ordem feudal. Afinal, essas teses reforavam que cada um devia conservar-se na sua posio social original. Cada um, nessa sociedade, possua uma funo: orar, combater ou trabalhar. A Igreja tambm concentrava grande poder econmico, pois era a grande proprietria de terras da Europa e possua um grande contingente de servos sob seu domnio. Nas terras da Igreja, a organizao era muito similar dos domnios dos senhores leigos.

3 Os fatores da transio ao capitalismo 3.1 As inovaes tcnicas

Por 4 ou 5 sculos, predominou na Europa Ocidental um contexto generalizado de guerras e invases, que trouxe grave instabilidade poltica. Isso desestimulava qualquer avano no campo da economia. Apenas a partir do sculo X, as invases desaceleraram, permitindo introduzir avanos tecnolgicos que trouxeram importantes e (at ento inditos) ganhos de produtividade. Algumas dessas mudanas tecnolgicas foram: - Uso dos moinhos de gua e de vento em diversas atividades industriais (cervejaria, curtume, txtil, moagem de gros). - Uso da charrua (arado com rodas), que substitua a enxada e liberava M.O. - Substituio do boi pelo cavalo nas tarefas da lavoura e depois a atrelagem do cavalo modificada aumenta 10 vezes o poder de trao do animal.

- Instrumentos agrcolas (enxadas, machados, ps) cada vez mais produzidos base de ferro. - Generalizao do uso da argila calcria como adubo. - Mas, a adoo do sistema de cultivo trienal foi o avano mais importante para o sistema produtivo nesse perodo. Durante a Alta Idade Mdia (sc. V-X): predomnio dos sistemas de cultivo: a) temporal: uso da terra at exausto e por fim, abandono. b) bienal: anualmente, uso de uma faixa e repouso de outra. Da Baixa Idade Mdia em diante, porm, houve a difuso do sistema trienal de rodzio de campos, que funcionava conforme o quadro abaixo:Quadro 1: Sistema de Rodzio Trienal de CamposFaixas de Terras 1 2 3 1 ano trigo cevada repouso 2 ano cevada repouso trigo 3 ano repouso trigo cevada

Resultados das inovaes tcnicas

Forte aumento da produtividade agrcola: - Levou ao surgimento de excedente econmico. - Mais cavalos alimentados propiciaram: Mais eficincia produtiva; Mais eficincia nos transportes; Liberao de trabalho para atividades artesanais nas cidades. Aumento da capacidade de abastecimento dos centros urbanos mais povoados. A populao europia quase duplicou em 1000-1300 (passou de 42 para 73 milhes). Boa parte desse crescimento se verificou nas cidades. Estmulo ao comrcio: estabelecimento de especializao campo-cidade e gerao de renda a citadinos e camponeses/senhores. A remunerao um dos pr-requisitos para o desenvolvimento de uma economia de trocas. Na Idade Mdia, havia pouca remunerao monetria aos servios.

3.2 Desenvolvimento do comrcio de longa distncia

A revoluo agrcola dos sc. IX a XI desencadeou elevaes significativas da produtividade agrcola, estimulando o comrcio local (nos feudos e

entre feudos), regional e, alguns sculos depois, o comrcio de longa distncia.

Simultaneamente ao aumento da produtividade no campo, houve o crescimento populacional e a reativao dos centros urbanos, nos quais o comrcio e o artesanato eram as atividades principais.

As Cruzadas

As Cruzadas tiveram mais de um significado para a Europa da Baixa Idade Mdia. Do ponto de vista religioso, para a Igreja Catlica, o movimento significou a possibilidade para expanso da sua f. Do ponto de vista social, serviram para aliviar a presso demogrfica que ameaava destruir o feudalismo. Do ponto de vista econmico, as Cruzadas representaram um contraataque da Europa crist, que estivera submetida desde o sculo VIII, para romper o cerco muulmano. O Mar Mediterrneo estava desde o sculo VIII bloqueado pelos rabes e o movimento cruzado finalmente resolveu o problema. Por isso, as Cruzadas tornaram-se intrnsecas ao desenvolvimento da economia e da poltica europias da Baixa Idade Mdia. Frana e Veneza apoiaram as cruzadas por razes polticas e econmicas. As cidades italianas, alis, foram as maiores beneficrias da reabertura da rota comercial ao mundo oriental. A intensificao do intercmbio comercial com o Oriente proporcionado pelo movimento cruzado contribuiu para a expanso do desenvolvimento comercial europeu.

Quadro 2: Todas as edies das CruzadasCruzada dos Mendigos (1096) - extraoficial Primeira Cruzada (1096-1099) Segunda Cruzada (1147-1149) Terceira Cruzada (1189-1192) Quarta Cruzada (1202-1204) Cruzada das Crianas (1212) - extraoficial Quinta Cruzada (1217-1221) Sexta Cruzada (1228-1229) Stima Cruzada (1248-1250) Oitava Cruzada (1270)

As feiras

As Feiras eram mercados abertos e peridicos (de dias ou semanas) em datas santas, que eram permitidos pelos senhores feudais. Comerciantes se deslocavam de vrias regies da Europa para oferecerem suas mercadorias. Eram vendidos tecidos, vinhos, especiarias e artigos de luxo orientais. As feiras mais famosas foram as de Champagne e Flandres. Em torno das feiras, ergueram-se importantes cidades europeias.

O desenvolvimento do comrcio de longa distncia proporcionou um forte crescimento das rotas de comrcio que colocam em comunicao todo o continente europeu (desde Portugal at a Rssia) e o Oriente. Surgiram nessa poca as Ligas ou Hansas, associaes de mercadores que visavam garantir o monoplio do comrcio nas cidades controladas por elas. A mais poderosa de todas foi a Liga Hansetica no norte da Europa. A maioria das cidades remanescentes descendia das antigas romanas. Mesmo decadentes, conservaram certa autonomia no sistema senhorial. O progressivo desenvolvimento comercial favoreceu a ampliao do grau de autonomia e a criao de cdigos comerciais mais independentes. Com a expanso do comrcio emergiu uma nova classe, a burguesia comercial, segmento que enriqueceu pelo lucro.

Figura 3: As feiras e as rotas comerciais

3.3 Transformao do sistema manufatureiro

No artesanato medieval: o arteso era proprietrio dos meios de produo (oficina, ferramentas, matrias-primas) e produzia em pequena escala e a preos elevados. O sistema no promovia o lucro, apenas a subsistncia do arteso, de sua famlia e de companheiros e aprendizes. Nas cidades, havia as associaes de artesos (as chamadas guildas corporaes de ofcio) procuravam garantir os interesses da classe, regulamentando a profisso e o regime de trabalho e controlando a quantidade ofertada e a qualidade dos produtos e o seu preo final.

Procuravam eliminar a concorrncia e impedir que produtos similares entrassem no mercado local.

A manufatura: significou perda de autonomia ao arteso, que passou condio de assalariado. No sistema manufatureiro, inmeros reunidos trabalhadores num galpo dividiam as inmeras tarefas de linhas de produo ainda manuais. Indstria capitalista (sistema fabril): o capitalista dono de todos os meios de produo e quem produz o trabalhador assalariado, em linhas de produo, auxiliados por mquinas movidas a energia inanimada. Somente no sculo XVIII (Revoluo Industrial), o capitalismo tornou-se o esquema dominante nas atividades econmicas.

3.4 Declnio do sistema senhorial

Forte expanso da demanda externa de gneros agrcolas e a mudana nos costumes do prprio senhor feudal acentuaram especializao campo-cidade e promoveram amplo intercmbio. Camponeses: muitos passaram a vender excedentes e a pagar obrigaes aos senhores em dinheiro (comutaes). Uma contnua expanso comercial definiu o lucro como princpio organizador da produo.

Ascenso do poder dos mercadores urbanos: - Atividades comerciais e financeiras urbanas chocavam-se com tradio feudal. Mercadores: lutam por soberania, em busca legislao comercial nas cidades. - Cidades: focos de resistncia na estrutura organizacional feudal. Senhores no abriam mo de sua autoridade sobre essas regies. Conjuno de flagelos (a depresso do sc. XIV-XV):

Fomes (1309-1320): destruio da lavoura pelo excesso de chuvas, no sul e no oeste da Alemanha, desde 1309. Depois, o norte da Europa tambm teve colheitas medocres. Resultados: forte inflao e grande mortalidade. Peste Negra (1347-1350): dizimou 1/3 da populao europia. Guerra dos Cem Anos (1337-1453): milhares de mortos dos dois lados e devastao da agricultura. Peso do fisco pelas necessidades militares ainda acentuou depresso demogrfica.

A depresso econmica e social dos sculos XIV e XV trouxe fomes, epidemias, guerras e revoltas populares nas cidades e no campo, abalando profundamente o modo de produo feudal.

Conseqncias da depresso: a) A dissoluo dos laos de servido: os servos se revoltaram e comearam a fugir dos feudos (sob o domnio da nobreza, proprietria de terras); b) Temerosa diante das revoltas camponesas, a nobreza feudal reagiu apoiando os reis e contribuindo para a criao dos Estados absolutistas, que, nesse caso, podem ser entendidos como uma reorganizao do poder poltico; c) O poder poltico, que estava concentrado no mbito da aldeia (feudo), concentrou-se absoluto nas mos dos reis. frente dos Estados absolutistas, os reis puderam formar exrcitos permanentes, inicialmente com o objetivo de aumentar a eficcia na represso das revoltas camponesas e manter os camponeses nos feudos; d) Os Estados absolutistas surgiram, ento, como "mquinas de guerra" servio dos interesses da classe nobre, como uma compensao pelo fim da servido. e) A escassez de recursos para manter o funcionamento de exrcitos permanentes, levou as monarquias europias a introduziram os primrdios das burocracias permanentes e do sistema tributrio unificado. Outras implicaes: a) Crise demogrfica: despovoamento e escassez de M.O. provocaram acentuada elevao de salrios e queda de rentabilidade das terras, inflao e desabastecimento. Em muitas localidades, os vazios demogrficos no foram preenchidos antes do sc. XVIII! b) O recrudescimento das relaes servis no embargou o esprito capitalista que j havia transformado os hbitos da sociedade. As medidas de aumento da explorao do trabalho tambm s levaram s sangrentas revoltas camponesas. 4 O mercantilismo e a transio ao pensamento econmico clssico

Entrada na Idade Moderna grandes mudanas: Transformaes intelectuais: Invenes Ascenso de idias materialistas Cincia (razo) em progressiva substituio tradio (teocrentrismo):

Noo de progresso em substituio estagnao Melhoria na alimentao e transformao na moradia Prazer pelas viagens e pelas coisas materiais.

Quadro 3: Invenes do Renascimento1450: Caravela 1454: Imprensa 1492: Primeira representao do globo terrestre 1543: Atlas de anatomia 1543: Teoria heliocntrica 1610: Telescpio 1610: rbitas dos planetas 1623: Mquina de calcular

Transformaes polticas: o surgimento e consolidao dos Estados Nacionais (monarquias nacionais). O poder real (centralizado) cresce em detrimento do poder local (feudal), permitindo a centralizao do poder. Transformaes econmicas: o desenvolvimento do comrcio de longa distncia e a emergncia de uma classe de grandes mercadores capitalistas, a burguesia mercantil. Transformaes geogrficas: Grandes Navegaes e a descoberta da Amrica.

A Reforma Protestante

Martinho Lutero (1483-1546): a Tese da Justificao pela F. A salvao depende unicamente da f, e no depende da Igreja. No h necessidade de um intermedirio entre o homem e Deus. O verdadeiro juiz a conscincia de cada um.

Joo Calvino (1509-1564): a Tese da Predestinao Absoluta Segundo a teologia calvinista, desde o nascimento, todos esto condenados ao sofrimento eterno. O paraso reservado aos prediletos de Deus. xito material e acumulao de riqueza podem ser sinais de predestinao. O Protestantismo tornou-se um elemento religioso nuclear da filosofia individualista.

A tica protestante pregava a parcimnia (M. Weber, em A tica protestante e o esprito do capitalismo):

Utilizar conscientemente a riqueza para as necessidades e para a glria de Deus, em oposio a uma vida de ostentaes. Isso levava os fieis capitalistas a poupar e, naturalmente, a investir e acumular.

Em lugar da esttica social e econmica, a luta pelo progresso material que permite ascenso social e acumulao de riquezas. Naturalmente, o rompimento com a tradio medieval anticapitalista no foi um processo instantneo. A sociedade mercantil tambm necessitava do aval religioso, para dignificar e santificar as novas prticas econmicas e sociais. O surgimento da tica Protestante resultou da necessidade de substituir a tica Paternalista Crist, anticapitalista, pregada pela Igreja catlica.

Quadro 4: Aliana de interesses Burguesia Comercial x Realeza

Realeza oferecia:

Burguesia comercial oferecia: Reconhecimento poder poltico Financiamento das guerras (via tributos e emprstimos)

Legislao comercial Sistema monetrio Sistema de pesos e medidas Segurana Infra-estrutura de transportes Monoplios de interesses

PARTE II O MERCANTILISMO E A GERMINAO DO PENSAMENTO CLSSICO 4 As ideias mercantilistas

Primeiras incurses no tratamento de problemas de ordem econmica. Conjunto de doutrinas e prticas voltadas boa administrao dos negcios e do Estado. De carter essencialmente emprico (baseado na experincia prtica) e pouco coerente com uma viso sistmica da economia, essas especulaes restringiam-se a problemas pontuais, enfrentados pelos administradores pblicos ou pelos homens de negcios.

Essas prticas caracterizavam-se pelo nacionalismo e intervencionismo extremados. Presentes desde finais da Idade Mdia, tomaram impulso nos sculos XVI e XVII. Metalismo ou bullionismo: acmulo de metais preciosos como medida da riqueza. Os saques e a explorao de metais preciosos nas colnias e o comrcio eram as principais formas de acumulao de metais preciosos. Primeiras prticas mercantilistas. Nacionalismo/protecionismo: xito comercial de um pas implicava prejuzo de seus parceiros. Importao s quando da impossibilidade de se produzir internamente. Atos de navegao: bens produzidos em certo pas deviam necessariamente ser transportados em navios com bandeira desse pas. Poltica monetria expansionista: alavanca ao crescimento econmico. Subestimao do mercado interno: populao deveria consumir somente o que era possvel se produzir internamente. Tese do mnimo salrio: trabalhador deveria se submeter a ponto timo de frustrao: desejar certos bens sem jamais poder t-los. Salrio mais elevado levaria trabalhador ao cio e o vcio ao trabalho. Viam utilidade na pobreza. Estmulo ao crescimento demogrfico: para dispor do maior contingente de M.O. (quem insistisse em no trabalhar podia ser punido). Pouco interesse pela produtividade-homem. Balana de contratos: navios de bandeira espanhola que partissem do pas para abastecer outros mercados deveriam retornar carregados de ouro correspondente carga de sada. Navios estrangeiros cuja carga se destinasse ao abastecimento do mercado espanhol deveriam retornar a seus pases de origem carregados de mercadorias espanholas. As dificuldades de fiscalizao provocam alterao na medida e nasce a prtica da balana comercial. Ou seja, abandonado o controle pelo conceito micro (contratos), passando-se ao conceito macro (comrcio exterior).

5 A burguesia quer o poder Na Inglaterra, grupos econmicos de nvel mdio (mercadores e manufatureiros classes mdias burguesas) levantou coro de descontentamento contra a rede de privilgios mantida pelo Estado. O poder do Estado precisava ser limitado e os monoplios e outros privilgios concedidos alta burguesia comercial precisavam acabar. A Revoluo Gloriosa (1688), ocorrida na Inglaterra, foi a primeira revoluo burguesa na Europa e obteve sucesso em derrubar a barreira do absolutismo sobre a economia de mercado.

Para os crticos, o Estado era altamente oneroso e alheio aos interesses de importantes fraes da burguesia emergente. Por isso, o poder poltico

do Estado no podia ser absoluto. O mesmo se aplicava sua interferncia sobre as foras de mercado. A revoluo burguesa britnica deu as bases polticas pr-requeridas para a Revoluo Industrial, no fim do sculo XVIII, fazendo da GrBretanha a primeira nao industrializada do mundo.

Na Frana, o sistema tributrio injusto, a corrupo e a pobreza unidos aos interesses conflitantes da burguesia com os da nobreza levaram ao maior evento poltico da Modernidade, a Revoluo Francesa, iniciada em 1789. O Iluminismo

O Iluminismo foi o movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, na Holanda e na Frana, nos sculos XVII e XVIII. O desenvolvimento intelectual, que vinha ocorrendo desde o Renascimento, deu origem s idias de liberdade poltica e econmica, defendidas pela burguesia. Os filsofos e economistas que difundiam essas idias julgavam-se propagadores da luz e do conhecimento, sendo, por isso, chamados de iluministas. Principais ideias iluministas:

Valorizao da razo; Valorizao do questionamento, da investigao e da experincia como formas de conhecimento tanto da natureza quanto da sociedade, da poltica e da economia; Crena na existncia de leis naturais que explicam e regem todas as transformaes do comportamento humano, das sociedades e da economia; Crena nos direitos naturais dos indivduos vida, liberdade, posse de bens materiais; Crtica ao Absolutismo, ao Mercantilismo e aos privilgios da nobreza e do clero; Defesa da liberdade poltica e econmica e da igualdade de todos perante a lei.

Baseada nos ideais iluministas, a burguesia passa a aspirar ao poder poltico e, por isso, critica o Antigo Regime: Caractersticas do Antigo Regime ou Absolutismo Monrquico:

Poltica: Poder absoluto dos reis.

Social: Sociedade dividida em estamentos (clero, nobreza e povo). Economia: Mercantilismo - Interveno do Estado na economia. Cultural: intolerncia religiosa e filosfica.

Ao criticar o Antigo Regime, a burguesia criou a sua prpria ideologia: O Estado s poderoso se for rico. Para enriquecer deve haver capitalismo. Para haver capitalismo a burguesia deve estar no poder. Os iluministas, cujo lema era liberdade, igualdade e propriedade, combatiam:

O Absolutismo: pois impedia a participao poltica da burguesia, impedindo a realizao dos seus ideais. O Mercantilismo: pois era prejudicial livre iniciativa. O poder da Igreja: pois no permitia a liberdade de pensamento.

Defesas do Iluminismo:

Igualdade: perante a lei, embora economicamente a desigualdade. Liberdade: pessoas livres = a Mercado consumidor. Propriedade Privada: no a estatizao e sim a privatizao.

Tolerncia religiosa ou filosfica

6 Os Fisiocratas

Movimento eminentemente francs: entendia a terra como a ddiva da natureza e nica fonte da riqueza; combatia o mercantilismo e propunha a desestatizao da economia.

Ordem natural e providencial

Os fenmenos econmicos processam-se livre e independentemente de qualquer coao exterior (Estado), segundo uma ordem imposta e regida por leis naturais. A ordem natural uma ordem Providencial, j que desejada por Deus. Por ser Providencial a melhor possvel, e, portanto, deve ser deixada livre para o alcance do progresso econmico e social (ideia-raiz da doutrina liberal laissez-faire, laissez passer).

A sociedade constituda de trs classes sociais:

Arrendatrios capitalistas: classe produtiva. Comerciantes e artesos: classe estril. Senhores de terras: classe ociosa.

A circulao de riquezas ocorre entre essas diferentes classes (idia do fluxo circular de renda retomada por economistas modernos).

Quadro 5: Modelo dos Fisiocratas

Propostas: Capitalizao da agricultura. Reduo da carga tributria. Estmulo ao comrcio exterior: para escoar a produo agrcola. Estado: excessiva regulamentao governamental prejudicial economia. Aumento da competio pelo Laissez-faire. Governo atrapalha ao interferir na ordem natural e Providencial da economia. Hedonismo: o indivduo busca sempre o mximo de satisfao com o mnimo esforo. No mercado, se cada indivduo livre para buscar o melhor para si, a sociedade alcanar o mximo bemestar. Grande expoente: Franois Quesnay (1694-1774). Mdico da corte de Luiz XV. Publicou Tableau conomique (1758). Economia como circulao sangunea. 8 A Revoluo Industrial

Segundo Cipolla, a Revoluo Industrial um evento histrico comparvel somente Revoluo Neoltica. Revoluo Neoltica ou Revoluo Agrcola: ocorrida entre 9000 e 7000 a.C., quando o homem primitivo aprendeu a desenvolver tcnicas de cultivo agrcola e a condicionar e armazenar alimentos. Assim, os grupos humanos deixaram de ser nmades, reduzindo a necessidade de deslocarem-se de uma regio a outra. O homem passou ento "de parasita a scio ativo da

natureza"; iniciava-se ali uma etapa na qual o homem adaptaria progressivamente o meio s suas necessidades.

A Revoluo Industrial baseou-se na diminuio do papel do setor primrio (agricultura) e aumento do papel do setor secundrio (indstria de transformao, construo civil e minerao) quanto ao nmero total de trabalhadores ocupados e produo. Forte substituio da fonte de energia animada (animal e humana) pela fonte de energia inanimada (vapor, combustveis fsseis) na produo agrcola e industrial. Uso abundante de novas e abundantes matrias-primas. Aumento significativo da populao, devidos a fatores, tais como:

Aumento da fertilidade; Aumento da expectativa de vida: Maior acesso e melhor nutrio; Avanos da medicina; Melhoria das condies higinico-sanitrias; Melhor calefao.

Aumento expressivo da urbanizao: em pouco menos de um sculo, a proporo de pessoas na agricultura caiu de mais de 60% para menos de 16% (meados do sculo XIX).

Figura 5: Evoluo da Populao Mundial (1-1976)

Fonte: Elaborao prpria REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ABBAGNANO. N. Dicionrio de filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2007. ABRAO, B. S. Histria da filosofia. So Paulo: Bestseller, 2002.

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