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Teoria das Distribuições(Métodos matemáticos da física)
Chaim Samuel Hönig
Sumário
Capítulo 1. Definição de distribuições e exemplos 1
§1. O espaço DpRnq 1
§2. Topologia de DpRnq 2
§3. Definição de distribuição 3
§4. Primeiros exemplos de distribuições 4
§5. Interpretação física dos exemplos anteriores 7
§6. Dipolo elétrico 9
§7. Outros exemplos de distribuições 10
Capítulo 2. Derivação de distribuições 13
§1. Definição, motivação e propriedades 13
§2. Exemplos de derivação no caso de uma variável 15
§3. Exemplos de derivação de distribuições, no caso de mais de uma
variável 17
§4. Fórmula de Green 21
§5. Cálculo de ∆ 1rn´2 23
§6. A fórmula de Poisson, ∆V “ ´4πρ 25
§7. A distribuição vp 1x
27
§8. Multiplicação de distribuições 30
Capítulo 3. Topologia no espaço das distribuições 37
§1. Definição 37
i
ii Sumário
§2. Continuidade de derivação 38
§3. Convergência clássica e convergência de distribuições 38
§4. Convergência de séries trigonométricas 40
§5. δ como limite de funções 41
Índice Remissivo 45
Capítulo 1
Definição de distribuições
e exemplos
1. O espaço DpRnq
Indicamos com DpRnq ou simplesmente D o conjunto das funções
ϕpxq “ ϕpx1, x2, . . . , xnq de n variáveis reais e a valores complexos que são
infinitamente deriváveis e nulas fora de um hipercubo
QA “ tx P Rn | ´A ď xi ď A, i “ 1, 2, . . . ,nu,
hipercubo este que varia de função para função.
O conjunto D é um espaço vetorial sobre o corpo dos números comple-
xos.
Notação. A n-upla px1, . . . , xnq P Rn é em geral indicada com a notação
abreviada x. Definimos então a norma de x por
}x} “´
nÿ
i“1
x2i
¯ 12
que é a distância do ponto x à origem.
Nas integrais múltiplas usamos a notação abreviada dx “ dx1 ¨ ¨ ¨dxn e
escrevemos portantoş
Rn fpxqdx em lugar de
ż `8
´8¨ ¨ ¨
ż `8
´8fpx1, . . . , xnqdx1 ¨ ¨ ¨dxn.
1
2 1. Definição de distribuições e exemplos
Se p “ pp1, . . . ,pnq é uma n-upla de inteiros ě 0 definimos:
|p| “nÿ
i“1
pi e Dp “ d|p|
dxp11 ¨ ¨ ¨dxpn
n;
convenção: D0ϕ “ ϕ.
Exemplos de elementos de DpRnq. A função
ϕpxq “
$
&
%
0 se }x´ x0} ě a ą 0
exp´
´ 1a2´}x´x0}2
¯
se }x´ x0} ď a
é uma função de DpRnq.
Exercícios:
1.1 - Traçar o gráfico da função acima para n “ 1 e x0 “ 0.
1.2 - Demonstrar que a função definida acima é infinitamente diferenciá-
vel.
1.3 - Dado um intervalo ra,bs Ă R determinar uma função de DpRqnula fora de ra,bs e diferente de zero em todos os pontos de sa,br.
1.4 - Demonstrar que DpRnq é um espaço vetorial.
1.5 - Demonstrar que o produto de uma função infinitamente diferenciá-
vel (não necessariamente nula fora de um hipercubo) por uma função de D é
uma função de D.
1.6 - Demonstrar que dado um intervalo de ra,bs e ε ą 0, existe uma
função ϕ P D nula fora de ra´ ε,b` εs e igual a 1 em ra,bs.1.7 - Estender o resultado precedente para um conjunto fechado limitado
qualquer do Rn.
2. Topologia de DpRnq
Em DpRnq definimos a seguinte convergência ou topologia: dizemos que
uma seqüência pϕjqjPN de funções de DpRnq tende para uma função ϕ de
D, escrevemos ϕj ։ ϕ, se estão satisfeitas as seguintes condições:
C1 – existe um hipercubo ´A ď xi ď A, i “ 1, 2, . . . ,n, tal que todas as
funções ϕj e ϕ são nulas fora desse hipercubo.
C2 – a seqüência ϕj bem como todas as seqüência derivadas, tendem
uniformemente para a função ϕ e para as derivadas correspondentes de ϕ,
3. Definição de distribuição 3
isto é, dado qualquer operador de derivação Dp então Dpϕj tende unifor-
memente para Dpϕ.
Exercícios:
2.1 - Dada uma função ϕ P D demonstrar que a seqüência 1jϕ tende a
zero no sentido acima.
2.2 - Se ϕj ։ ϕ e ψj ։ ψ, demonstrar que ϕj `ψj ։ ϕ`ψ.
2.3 Deduzir daí que ϕj ։ 0 se e somente se ϕj ´ϕ։ 0.
2.2’ - Dada uma seqüência de números complexos λj tais que λj Ñ λ e
dado ϕj ։ ϕ demonstrar que λjϕj ։ λϕ.
2.4 - Dada a seqüência ϕj P DpRq, j P N, onde
ϕj “
$
&
%
0 se |x´ j| ě 11j
exp´
´ 11´x2
¯
se |x´ j| ď 1
demonstrar que não vale ϕj ։ 0.
2.5 - Demonstrar que se ϕj ։ ϕ o mesmo ainda é verdade para qualquer
subseqüência da seqüência ϕj.
2.6 - Demonstrar que dada uma seqüência ϕj de elementos de DpRnqe um elemento ϕ P DpRnq tal que para qualquer subseqüência ϕjk de ϕj
existe uma subseqüência ϕjkm։ ϕ então ϕj ։ ϕ.
2.7 - Demonstrar que a operação de derivação é contínua em DpRnq, isto
é, se ϕj ։ ϕ então Bϕj
Bxi։
BϕBxi
.
3. Definição de distribuição
Uma distribuição T é um funcional linear contínuo sobre DpRnq isto é,
é uma função que a todo elemento ϕ P DpRnq associa um número com-
plexo Tpϕq (que também escrevemos como xT ,ϕy) de tal modo que estejam
satisfeitas as seguintes condições:
D1 – a função é linear, isto é, Tpϕ1 ` ϕ2q “ Tpϕ1q ` Tpϕ2q e Tpcϕq “cTpϕq onde c é um número complexo.
D2 – a função é contínua, isto é, ϕj ։ ϕ então Tpϕjq Ñ Tpϕq.Observações: 1 - Na prática todos os funcionais lineares que conhecemos e
que estão definidos sobre DpRnq são automaticamente contínuos pois para
a construção de funcionais lineares não contínuos sobre DpRnq precisamos
4 1. Definição de distribuições e exemplos
usar o axioma de Zermelo. Não há portanto perigo de que nas aplicações
físicas surjam funcionais não contínuos sobre DpRnq.2 - Como veremos a seguir, dada uma particular distribuição T ela pode
ser naturalmente estendida para uma categoria mais geral de funções que as
de DpRmq e para estas funções basta impor uma convergência “mais fraca”
para poder assegurar que Tpϕjq tende para Tpϕq quando ϕj tendem para ϕ.
Vamos chamar a atenção para este fato nos exemplos que examinaremos a
seguir e usá-lo para dar maior generalidade às fórmulas que demonstramos.
Exercícios:
3.1 - Demonstrar que pϕjq Ñ Tpϕq implica que Tpϕj ´ϕq Ñ 0.
3.2 - Deduzir daí que para demonstrar a continuidade de um funcional
linear sobre D é suficiente demonstrar que ϕj ։ 0 implica Tpϕjq Ñ 0, fato
que usaremos a seguir.
3.3 - Dadas duas distribuições T1 e T2 definimos
pT1 ` T2qpϕq “ T1pϕq ` T2pϕq.
Demonstrar que com essa definição a soma de duas distribuições é uma dis-
tribuição. Definir o produto de uma distribuição por um número complexo e
demonstrar que o conjunto das distribuições forma um espaço vetorial sobre
o corpo dos números complexos.
4. Primeiros exemplos de distribuições
1. Dada uma função f definida em Rn e a valores complexos, dizemos
que ela é localmente integrável se dado um hiperparalelepípedo qualquer,
a1 ď x1 ď b1, a2 ď x2 ď b2,. . . , an ď xn ď bn existe e é finita a integral:
ż b1
a1
¨ ¨ ¨ż bn
an
fpx1, x2, . . . , xnqdx1dx2 ¨ ¨ ¨dxn.
Toda função contínua é localmente integrável. Toda função integrável é
localmente integrável. A função fpxq “ 1x
na reta não é localmente integrável
poisşa
01xdx é infinita.
Uma função localmente integrável f define uma distribuição que indica-
mos por Tf ou simplesmente por f quando não houver perigo de confusão;
4. Primeiros exemplos de distribuições 5
para toda função ϕ P DpRnq a distribuição Tf é definida por:
Tfpϕq “ż
Rn
fpxqϕpxqdx
“ż
¨ ¨ ¨ż
Rn
fpx1, . . . , xnqϕpx1, . . . , xnqdx1 ¨ ¨ ¨dxn.
Como ϕ é nula fora de um certo hipercubo
´A ď xi ď A pi “ 1, 2, . . . ,nq
a integral acima se estende a esse hipercubo e ϕ sendo contínua nesse hiper-
cubo (conjunto fechado e limitado) ela é limitada, |ϕpxq| ď M, e a função f
é portanto integrável e temos
|Tfpϕq| “ˇ
ˇ
ˇ
ˇ
ż A
´A
¨ ¨ ¨ż A
´A
fpx1, . . . , xnqϕpx1, . . . , xnqdx1 ¨ ¨ ¨dxnˇ
ˇ
ˇ
ˇ
ďż
QA
|fpxq||ϕpxq|dx ă M
ż
QA
|fpxq|dx
que é finita e portanto Tfpϕq está bem definida. É imediato que esse funcional
é linear. Vamos demonstrar a sua continuidade:
Tomemos uma seqüência ϕj ։ 0; então todas as funções ϕj são nulas
fora de um hipercubo QA e as ϕj tendem uniformemente para zero bem
como todas as suas derivadas, isto é, seMj “ supxPRn |ϕjpxq| entãoMj Ñ 0
e portanto
|Tfpϕjq| ď Mj
ż
QA
|fpxq|dx
também tende para zero.
Observação: O funcional Tf ainda pode ser definido (exatamente com acima)
para funções limitadas ϕ nulas fora de um certo hipercubo e integráveis; a
demonstração acima mostra que dada uma seqüência de funções ϕj deste
tipo, nulas todas elas fora de um certo hipercubo e tendendo uniformemente
para zero, então Tfpϕjq tende para zero.
Exercícios:
4.1 - Dadas duas funções localmente integráveis, f e g, demonstrar que
Tf ` Tg “ Tf`g e que Tcf “ cTf onde c é um número complexo.
4.2 - Dada uma função contínua f, não identicamente nula em Rn, de-
monstrar que Tf ‰ 0, isto é, que existe um elementoϕ P D tal que Tfpϕq ‰ 0.
6 1. Definição de distribuições e exemplos
4.3 - Dada uma função localmente integrável f e um operador de deriva-
ção Dp demonstrar que o funcional
ϕ P DpRnq Ñ TfpDpϕq P C
é uma distribuição.
4.4 - Com a notação do exercício precedente: quando n “ 1 e D “ ddx
dar a categoria de funções definidas sobre a reta para as quais o funcional
acima está definido e dar condições de convergência para assegurar a conti-
nuidade deste funcional.
2. A distribuição δ de Dirac.
Dado um ponto a “ pa1,a2, . . . ,anq P Rn definimos a distribuição δpaqdo seguinte modo: δpaqpϕq “ ϕpaq para todoϕ P DpRnq. Quando o ponto a
é a origem do Rn escrevemos simplesmente δ em vez de δp0q; essa distribuição
é conhecida sob o o nome de distribuição ou função de Dirac mas ela não é,
na realidade, uma função. A distribuição δpaq ainda pode ser definida para
qualquer função definida no ponto a e basta que se tenha ϕjpaq Ñ ϕpaqpara assegurar que δpaqpϕjq Ñ δpaqpϕq.
Exercício: Dada uma seqüência aν de pontos de Rn que tende para o infi-
nito (isto é, tal que qualquer hipercubo só contém um número finito desses
pontos) e dada uma seqüência cν de números complexos, demonstrar que o
funcional ϕ P DpRnq Ñř
ν cνϕpaνq define uma distribuição que indicamos
porř
ν cνδpaνq.
Observação: A distribuição δpaq não pode ser representada por uma função
localmente integrável f, isto é, não existe uma função localmente integrável
f tal que para todo ϕ P DpRnq tenhamos
ϕpaq “ xδpaq,ϕy “ż
Rn
fpxqϕpxqdx.
De fato: considerando a função
ϕεpxq “
$
&
%
0 se }x´ a} ě ε
exp´
´ ε2
ε2´}x´a}2
¯
se }x´ a} ď ε
que é nula fora de uma vizinhança ε de a e vemos que ϕεpaq “ 1e
e que por
outro ladoş
fpxqϕεpxqdx tende para 0 com ε pois |ϕεpxq| ă 1.
5. Interpretação física dos exemplos anteriores 7
Apesar disto os físicos indicam muitas vezes a distribuição δpaq com a
notação de função, δpx ´ aq, e a relação xδpaq,ϕy “ ϕpaq é escrita como
ϕpaq “ş
Rn δpx´ aqϕpxqdx. Nós não usaremos esta notação.
5. Interpretação física dos exemplos anteriores
Muitas distribuições matemática podem ser interpretadas como distribui-
ções físicas de massas ou de cargas elétrica ou magnéticas (estas distribuições
aparecem nos dipolos). Assim, a distribuição δpaq pode ser interpretada como
uma carga ou massa unitária colocada no ponto a P Rn. Assim, m ¨ δpaq re-
presenta portanto uma carga ou massa m no ponto a.
Uma função localmente integrável f pode ser interpretada como uma dis-
tribuição de cargas ou massas de densidade fpxq no Rn. Dado então um
volume V a carga ou massa contida nesse volume V é dada por
ż
V
fpxqdx.
5.1. Carga ou massa de uma distribuição. A carga ou massa total da distri-
buição m ¨ δpaq é evidentemente m; por outro lado temos
m “ xm ¨ δpaq, 1y.
Dada uma distribuição finita de cargas, ou massas, com densidade fpxq(isto é, toda carga ou massa está contida num volume limitado e
ż
Rn
fpxqdx
é finita) a carga ou massa total é dada por
ż
Rn
fpxqdx “ xTf, 1y.
Esses dois exemplos justificam a seguinte definição: Dada uma distribuição
T a massa ou carga total dessa distribuição é dada por xT , 1y, Observemos
que a função 1 é infinitamente diferenciável mas não é nula fora de algum
hipercubo e portanto para nem toda distribuição podemos definir sua massa
ou carga total.
8 1. Definição de distribuições e exemplos
5.2. Momento de inércia em relação a um ponto b. Dado m ¨ δpaq isto é,
uma massa m no ponto a, o momento de inércia dessa massa em relação ao
ponto b é dado por m ¨ }b ´ a}2 “ xm ¨ δpaq, }x ´ b}2y. (Lembremos que
}b´ a} é a distância do ponto b ao ponto a, isto é,
}b´ a}2 “nÿ
i“1
pbi ´ aiq2.q
Dada uma distribuição finita de massas de densidade fpxq seu momento
de inércia em relação ao ponto b é dado por:ż
R3fpxq}x´ b}2dx “ xTf, }x´ b}2y.
Dada então uma distribuição T dizemos que o número xT , }x´b}2y define
o momento de inércia dessa distribuição em relação ao ponto b. Como no
caso anterior esta noção não está definida para toda distribuição T pois a
função }x´ b}2 não é nula fora de algum hipercubo.
Exercício: Dar exemplos de distribuições para as quais está definido o mo-
mento de inércia em relação ao ponto b e outras para as quais este momento
de inércia é infinito ou não pode ser definido de todo.
5.3. Potencial Newtoniano no R3. Dada uma massa ou carga m no ponto
a o potencial que ela define no ponto b P R3 é dado por
m
}a´ b} “A
m ¨ δpaq,1
}x´ b}E
.
Dada uma distribuição finita de cargas ou massas, de densidade fpxq em
R3, o potencial a que ela dá lugar num ponto b é dado porż
R3
fpxq}x´ b}dx “
A
Tf,1
}x´ b}E
Dada então uma distribuição T , somos levados a dar a seguinte definição:
O potencial no ponto b definido pela distribuição T é dado pelo número:A
T ,1
}x´ b}E
.
Observemos que a função 1}x´b} não é nula fora de algum hipercubo e nem
derivável no ponto x “ b e portanto para nem toda distribuição tem sentido
falar no seu potencial no ponto b.
6. Dipolo elétrico 9
6. Dipolo elétrico
Dado na reta um sistema de duas cargas elétricas, uma carga ´ 1ε
na
origem e uma carga 1ε
no ponto de abcissa ε, esse sistema define uma distri-
buição matemática dada por Tε “ ´ 1εδ` 1
εδpεq isto é
xTε,ϕy “A
´ 1εδ` 1
εδpεq,ϕ
E
“A
´ 1εδ,ϕ
E
`A1εδpεq,ϕ
E
“ ´1εϕp0q ` 1
εϕpεq “ ϕpεq ´ϕp0q
ε
fazendo ε tender a zero, esta última expressão tende para ϕ 1p0q e podemos
portanto dizer que o sistema limite quando ε tende para zero, definido pelas
duas cargas acima, é dado pela distribuição matemática
xT ,ϕy “ ϕ 1p0q.
Definição. Consideremos uma carga elétrica ´e num ponto a e uma carga
elétrica `e num ponto vizinho a ` # »
ds “ pa1 ` dx1,a2 ` dx2,a3 ` dx3q;lembremos que o momento elétrico desse sistema é o vetor #»m “ e ¨ # »
ds.
Definição. Dipolo de momento elétrico #»m no ponto a é o sistema limite que
obtemos quando fazemos a carga positiva se aproximar indefinidamente da
carga negativa de modo a manter constante o momento elétrico #»m do sistema
(isto é, aumentando convenientemente as cargas à medida que a distância
entre elas diminui).
Vamos procurar a expressão matemática da distribuição associada a esse
sistema limite, isto é, a distribuição matemática associada ao dipolo elétrico.
A carga ´e no ponto a é dada pela distribuição ´e ¨ δpaq; a carga e no
ponto a ` # »
ds é dada pela distribuição e δpa` # »
dsq; o sistema formado pelas
duas cargas é portanto dado pela distribuição
´e ¨ δpaq ` e ¨ δpa` # »
dsq,
isto é,
x´e ¨ δpaq ` e ¨ δpa` # »
dsq,ϕy “ ´e ¨ϕpaq ` e ¨ϕpa` # »
dsq
“ e ¨“
´ϕpa1,a2,a3q `ϕpa1 ` dx1,a2 ` dx2,a3 ` dx3q‰
.
10 1. Definição de distribuições e exemplos
Usando a fórmula de Taylor e indicando por opmq os termos de ordem infi-nitesimal ě 0 temos
ϕpa1 ` dx1,a2 ` dx2,a3 ` dx3q “ ϕpa1,a2,a3q `3ÿ
i“1
dxBϕBxi
pa1,a2,a3q ` op2q
“ ϕpa1,a2,a3q ` # »
ds ¨ gradpaqϕ` op2q
onde gradpaqϕ indica o valor do campo vetorial gradϕ calculado no ponto
a. Temos portanto
x´e ¨ δpaq ` e ¨ δpa` # »
dsq,ϕy “ e ¨ # »
ds ¨ gradpaqϕ` op1q
“ #»m ¨ gradpaqϕ` op1q.
Fazendo# »
ds tender para zero e aumentando a carga e de modo a manter
constante o vetor #»m “ e ¨ # »
ds vemos que o dipolo elétrico de momento elétrico#»m no ponto a é dado pela distribuição matemática xT ,ϕy “ #»m ¨ gradpaqϕ.
Esta expressão também pode ser escrita comom`Bϕ
Bn˘
x“aondem é o módulo
do vetor #»m e BBn indica a derivada na direção #»n . É imediato verificar que este
funcional é linear e contínuo e define portanto uma distribuição .
Exercício: Demonstrar as últimas afirmações.
6.1. Potencial definido por um dipolo elétrico. Já vimos que dada uma dis-
tribuição T o potencial que ela define no ponto b é dado pela expressão
xT , 1}x´b} y. Para achar o potencial definido por um dipolo elétrico de mo-
mento elétrico #»m no ponto a precisamos portanto calcular a expressão #»m ¨gradpaq
1}x´b} :
#»m ¨ gradpaq1
}x´ b} “ ´ #»m ¨ gradpbq1
}b´ a} “#»m ¨ pb´ aq}b´ a}3
(lembremos que grad 1r
“ ´ #»rr3 ), fórmula bem conhecida da eletrostática.
Indicamos por θ o ângulo do vetor #»m com o vetor b´a esta última expressão
ainda pode ser escrita como m cosθ}b´a}2 .
7. Outros exemplos de distribuições
1. Dada uma hipersuperfície S e uma função contínua ρ definida nela,
definimos:
xρδS,ϕy “ż
S
ρpxqϕpxqdS
para toda função ϕ P D.
7. Outros exemplos de distribuições 11
É imediato que este funcional é linear e contínuo. Esta distribuição pode
ser interpretada como uma distribuição de massa ou cargas sobre a superfície
S de densidade superficial ρpxq. Uma distribuição de cargas assim, aparece
na superfície de separação de dois dielétricos diferentes ou na superfície de
um metal num campo elétrico.
2. Dada uma hipersuperfície regular (isto é, com normal definida em todo
ponto) e bilateral, S, e uma função contínua ρpxq definida nela, definimos:A B
BnpρδSq,ϕE
“ ´ż
S
ρpxqBϕBndS
para todo ϕ P D, onde BBn indica a derivada na direção da normal à su-
perfície, onde supomos que todas as normais estão voltadas para o mesmo
lado da hipersuperfície (o que é possível pois por hipótese a hipersuperfície
é bilateral). Veremos mais adiante a justificativa para o sinal negativo frente
à integral. Essa distribuição pode ser interpretada como uma distribuição
superficial de dipolos elétricos com momento elétrico na direção n normal à
hipersuperfície e densidade superficial de momento elétrico igual a ρpxq.Observação: Se a hipersuperfície S for fechada e limitada então não é neces-
sário supor a função ϕ nula fora de um hipercubo. Basta, aliás, que ela seja
apenas definida numa vizinhança da hipersuperfície S.
Capítulo 2
Derivação de distribuições
1. Definição, motivação e propriedades
Dada uma função f de n variáveis reais, contínua e com derivada BfBx1
contínua, tanto f como BfBx1
definem distribuições. Procuremos a relação que
existe entre elas:
A BfBx1
,ϕE
“ż
Rn
BfBx1
ϕpxqdx
“ż
¨ ¨ ¨ż
dx2 ¨ ¨ ¨dxnż `8
´8
BfBx1
ϕpx1, x2, . . . , xnqdx1
“ż
¨ ¨ ¨ż
dx2 ¨ ¨ ¨dxn„
fϕ
ˇ
ˇ
ˇ
ˇ
`8
´8´ż `8
´8f
BϕBx1
dx1
.
Lembrando que ϕ é nula fora de um hipercubo suficientemente grande, vem
que fϕ|`8´8 “ 0 e portanto
A BfBx1
,ϕE
“ ´ż
¨ ¨ ¨ż
dx2 ¨ ¨ ¨dxnż `8
´8f
BϕBx1
dx1
“ ´ż
Rn
fBϕBx1
dx “ ´A
f,BϕBx1
E
.
Se quisermos portanto a derivada de uma distribuição de modo que ela
coincida com a derivada de uma função, no caso em que a distribuição é
definida por uma função contínua com derivada contínua, devemos pôr:
A BTBxi
,ϕE
“ ´A
T ,BϕBxi
E
(2.1)
13
14 2. Derivação de distribuições
É imediato verificar que o funcional assim definido é linear e é contínuo
(para demonstrar a continuidade usamos a condição C2 do §2 do Capítulo
1).
PROPOSIÇÃO. Para toda distribuição T temos
B2T
BxiBxj“ B2T
BxjBxi(2.2)
Demonstração.A B2T
BxiBxj,ϕ
E
“A BT
Bxj,
BϕBxi
E
“A
T ,B2ϕ
BxjBxi
E
ϕ sendo infinitamente diferenciável temos
B2ϕ
BxjBxi“ B2ϕ
BxiBxje portanto
A
T ,B2ϕ
BxjBxi
E
“A
T ,B2ϕ
BxiBxj
E
“A BT
Bxi,
BϕBxj
E
“A B2T
BxjBxi,ϕ
E
. �
Daí segue portanto que
COROLÁRIO. Toda distribuição é indefinidamente derivável e podemos in-
verter as ordens de derivação.
Exercícios:
1.1 - Se Dp “ B|p|
Bxp11 ¨¨¨Bxpn
ndemonstrar que
xDpT ,ϕy “ p´1q|p|xT ,Dpϕy.
1.2 - Dado um operador diferencial a coeficientes constantes
D “ÿ
p
ApDp
definimos o transposto de D por
tD “ÿ
p
p´1q|p|ApDp.
Demonstrar que xDT ,ϕy “ xT , tDϕy.
1.3 - Dado o Laplaciano
∆ “nÿ
i“1
B2
Bx2i
demonstrar que t∆ “ ∆.
2. Exemplos de derivação 15
2. Exemplos de derivação no caso de uma variável
1. Já vimos que dada uma função contínua f com derivada contínua dfdx
a distribuição Tdf{dx definida pela função derivada coincida com a derivadadTf
dxda distribuição definida por f. Para simplificar de notação passamos a
indicar com dfdx
a derivada no sentido de distribuições, e com
dfdx
(
a derivada
no sentido de funções. Logo veremos exemplos de funções (naturalmente
não contínuas e de derivada contínua) em que essas duas derivadas definem
distribuições diferentes. Usaremos uma notação análoga no caso de uma
variável.
2. Consideremos a função de Heaveside Ypxq que é nula quando x ă 0 e
é igual a 1 para x ě 0. Esta função é localmente integrável e define portanto
uma distribuição que ainda indicaremos por Y. Procuremos a derivada dessa
distribuição:
xY 1,ϕy “ ´xY,ϕ 1y “ ´ż `8
´8Ypxqϕ 1pxqdx “ ´
ż `8
0ϕ 1pxqdx
“ ´ϕˇ
ˇ
ˇ
ˇ
8
0“ ϕp0q “ xδ,ϕy
e portanto Y 1 “ δ.
Observemos que a derivada de Y como função é nula em os pontos onde
está definida (isto é, para x ‰ 0) e que portanto tY 1u “ 0.
Exercícios:
2.1 - Demonstrar que xδ 1,ϕy “ ´ϕ 1p0q.2.2 - Demonstrar que xδpmq,ϕy “ p´1qmϕpmqp0q.2.3 - Demonstrar que d2
dx2 |x| “ 2δ.
2.4 - Demonstrar que d2
dx2 |x´ a| “ 2δpaq.
3. Seja f uma função infinitamente diferenciável em todos os pontos da
reta exceto na origem. Supomos que na origem f e todas suas derivadas
apresentam descontinuidades de 1ª espécie, isto é, existem e são finitos os
limites fpmqp0`q e fpmqp0´q. Indicamos então por
σm “ fpmqp0`q ´ fpmqp0´q
o salto da derivadam-ésima de f na origem; σ0 indica o salto de f na origem.
16 2. Derivação de distribuições
PROPOSIÇÃO. Temos a seguinte relação entre a derivada da distribuição de-
finida por f e a distribuição pela derivada de f
f 1 “ tf 1u ` σ0δ (2.3)
(notação correta T 1f “ Tf 1 ` σ0δ).
Demonstração.
xf 1,ϕy “ ´xf,ϕ 1y
“ ´ż `8
´8fpxqϕ 1pxqdx
“ ´ż `8
´8fpxqϕ 1pxqdx
“ ´ż `8
0fpxqϕ 1pxqdx´
ż 0
´8fpxqϕ 1pxqdx
mas
´ż 0
´8fpxqϕ 1pxqdx “ ´fϕ
ˇ
ˇ
ˇ
ˇ
0
´8`ż 0
´8f 1pxqϕpxqdx
“ ´fp0´qϕp0q `ż 0
´8f 1pxqϕpxqdx,
do mesmo modo
´ż `8
0fpxqϕ 1pxqdx “ fp0`qϕp0q `
ż `8
0f 1pxqϕpxqdx
e portanto
´ż `8
´8fpxqϕ 1pxqdx “ rfp0`q ´ fp0´qsϕp0q `
ż `8
´8f 1pxqϕpxqdx
“ σ0ϕp0q ` xtf 1u,ϕy “ σ0xδ,ϕy ` xtf 1u,ϕy. �
De modo análogo temos
f2 “ tf2u ` σ1δ` σ0δ1
e de modo geral
fpmq “ tfpmqu ` σm´1δ` σm´2δ1 ` ¨ ¨ ¨ ` σ0δ
m´1. (2.4)
Vamos demonstrar esta última fórmula por indução: para m “ 1 já de-
monstramos acima. Supomos então a fórmula válida param e demonstrêmo-
la para m ` 1. Para isso tomemos a derivada no sentido de distribuição de
ambos os membros da relação (2.4):
fpm`1q “ tfpmqu 1 ` σm´1δ1 ` σm´2δ
2 ` ¨ ¨ ¨ ` σ0δpmq
3. Exemplos de derivação de distribuições 17
aplicando a relação (2.3) à função tfpmqu temos
tfpmqu 1 “ tfpm`1qu ` σmδ
donde segue a fórmula para o caso m` 1.
Observação: A fórmula de integração por partes nos mostra que as relações
acima ainda são válida quando a função ϕ é apenas infinitamente diferenciá-
vel desde que porém a função f seja nula fora de um intervalo suficientemente
grande.
Exercícios:
2.5 - Demonstrar que`
Ypxq ¨ cos x˘ 1 “ ´Ypxq ¨ sen x ` δ e que
`
Ypxq ¨sen x
˘ 1 “ Ypxq ¨ cos x. (Nota: Aqui Y representa a função de Heaveside.)
2.6 - Aplicar as fórmulas acima para as funções Ypxq ¨ ex, Ypxq ¨ p1 ` x2q,Ypxq ¨ x e Ypxq ¨ xn.
2.7 - Estender os resultados acima aos casos em que: a) o ponto de
descontinuidade é a ‰ 0; b) a função tem um número finito de pontos de
descontinuidade; c) o conjunto dos pontos de descontinuidade da função f é
um conjunto enumerável sem ponto de acumulação (finito).
2.8 - Achar a derivada primeira e a derivada segunda das seguintes fun-
ções: e|x|, |x´ a|2, x|x| , | sen x|, senx
| senx| .
2.9 - Demonstrar a afirmação contida na observação do final deste pará-
grafo.
2.10 - Dar um exemplo mostrando que a restrição imposta à função f é
necessária quando supomos a função ϕ apenas infinitamente diferenciável.
3. Exemplos de derivação de distribuições, no caso de mais de umavariável
Seja S uma hipersuperfície regular do Rn (isto é, com normal em cada
ponto) e seja f uma função infinitamente diferenciável em todos os pontos
de Rn que não estão sobre a hipersuperfície, e tal que em cada ponto x0
da hipersuperfície tanto f como todas as suas derivadas Dpf tenham limites
finitos, de ambos os lados de S, quando nos aproximamos do ponto x0 em
questão. A diferença desses limites no ponto x0 P S é denominada salto de f
(respectivamente de Dpf) no ponto x0; o sinal do salto depende do sentido
em que atravessamos a hipersuperfície.
18 2. Derivação de distribuições
Pelas hipóteses acima tanto a função f como a sua função derivada Bf
Bx1
(
definem distribuições de Rn e vamos procurar a relação que existe entre
a derivada distribuição BfBx1
e a distribuição definida pela derivada função Bf
Bx1
(
:A Bf
Bx1,ϕ
E
“ ´A
f,BϕBx1
E
“ ´ż
Rn
fpxq BϕBx1
“ ´ż
¨ ¨ ¨ż
dx2 ¨ ¨ ¨dxnż `8
´8fpxq Bϕ
Bx1dx1
usando a fórmula (2.3) vem entãoż
¨ ¨ ¨ż
dx2 ¨ ¨ ¨dxn„
σ0ϕ`ż `8
´8
BfBx1
ϕpxqdx1
onde, em todo ponto de S, σ0 indica o salto de f quando atravessamos S no
sentido crescente de x1; no produto σ0ϕ, ϕ é calculado no mesmo ponto que
σ0. Lembrando que cos θ1 ¨ dS “ dx2 ¨ ¨ ¨dxn onde θ1 é o ângulo da normal
à superfície, dirigida no sentido crescente de x1, com o eixo dos x1,
#»n
#»n
x1
S
A BfBx1
,ϕE
“ż
S
σ0ϕ cos θ1dS`ż
Rn
BfBx1
ϕpxqdx
“ xσ0 cos θ1δS,ϕy `A! Bf
Bx1
)
,ϕE
portantoBfBxi
“! Bf
Bxi
)
` σ0 cos θ1δS. (2.5)
Observação: 1 - Em lugar de calcular o salto como acima, podemos fixar
arbitrariamente em cada ponto de S o sentido da normal e calcular o salto
de f no sentido dessa normal. Isto equivale a mudar eventualmente tanto o
sinal do salto como o de cos θi e portanto não altera a nossa fórmula.
2 - A hipersuperfície S não é necessariamente bilateral: em todo ponto
ela tem dois lados porém o mesmo já não é verdade para a hipersuperfície
como um todo. É o que acontece, por exemplo, com a faixa de Moebius no
R3.
3. Exemplos de derivação de distribuições 19
Exemplo. Aplicando a fórmula acima às componentes Ex, Ey e Ez de um
campo elétrico, sendo S a superfície de separação entre dois dielétricos (ou a
superfície de um corpo metálico) vem
div#»
E “ tdiv#»
Eu ` #»σ ¨ #»n δS, #»σ “ #»
E p2q ´ #»
E p1q
#»
E p2q#»
E p1q
#»n
p1q p2q
Como já vimos, o último termo representa uma distribuição superficial
de cargas elétricas.
Exercício:
3.1 - Interpretar a fórmula (2.5) quando a hipersuperfície S for paralela
ao eixo xi.
Indicamos como σi o salto de Bf
Bxi
(
e aplicando a relação (2.5) aB
Bxi
BfBxi
(
vem
B2f
Bx2i
“! B2f
Bx2i
)
` pσi cos θiqδS ` BBxi
“
pσ0 cos θiqδS‰
(2.6)
Lembrando que
∆f “nÿ
i“1
B2f
Bx2i
vem que
∆f “ t∆fu `nÿ
i“1
pσi cos θiqδS `nÿ
i“1
BBxi
pσ0 cos θiqδS. (2.7)
Vamos transformar esta última expressão: lembremos que dada uma fun-
ção diferenciável F temos
BFBn “
nÿ
i“1
BFBxi
cos θi
onde θi é o ângulo da direção #»n com o eixo i-ésimo.
Aplicando essa relação a BfBn e BF
Bxide ambos os lados da superfície e
indicando com σn o salto de Bf
Bn(
ao atravessar S na direção da normal #»n
temos
σn “nÿ
i“1
σi cos θi.
20 2. Derivação de distribuições
σn é independente do sentido da normal pois invertendo este sentido
tanto cos θi como σi mudam de sinal. É imediato que ainda temos
σn “! Bf
Bn1
)
`! Bf
Bn2
)
#»n1#»n2
onde #»n1 e #»n2 indicam as duas normais em sentidos opostos que estão defi-
nidas em cada ponto da hipersuperfície S. Temos portantonÿ
i“1
pσi cos θiqδS “ σnδS “„
! BfBn1
)
`! Bf
Bn2
)
δS.
Por outro lado temosB n
ÿ
i“1
BBxi
pσ0 cos θiqδS,ϕ
F
“nÿ
i“1
A BBxi
pσ0 cos θiqδS,ϕE
“nÿ
i“1
A
σ0 cos θiδS,BϕBxi
E
“ ´ż
S
„ nÿ
i“1
σ0 cos θiBϕBxi
dS
“ ´ż
S
σ0BϕBndS “
A BBn pσ0δSq,ϕ
E
.
Como acima, também esta relação é independente do sentido de #»n , pois,
mudando este, tanto σ0, como BϕBn mudam de sinal. Ainda podemos escrever
BBnpσ0δSq “ B
Bn1
´
fp1q(
δS
¯
` BBn2
´
fp2q(
δS
¯
onde fp1q e fp2q indicam a função f calculada no lado para o qual aponta a
normal #»n1, respectivamente #»n2.
Substituindo as transformações precedentes na relação (2.7) vem:
∆f “ t∆fu `ˆ
! BfBn1
)
`! Bf
Bn2
)
˙
δS ` BBn1
pfp1qδSq ` BBn2
pfp2qδSq (2.8)
∆f “ t∆fu ` σnδS ` BBnpσ0δSq (2.9)
Se S for uma hipersuperfície bilateral fechada, podemos tomar para #»n
a normal interna ou externa em todos os pontos de S. #»n1 pode então ser
tomada como normal interna e #»n2, portanto, como normal externa.
Exemplo. Se f indica o potencial de uma campo elétrico este potencial é con-
tínuo mas sua derivada normal na superfície de separação de dois dielétricos
diferentes não é contínua e o salto σn corresponde à diferença dos campos
4. Fórmula de Green 21
elétricos em ambos os lados da superfície (este vetor diferença é sempre nor-
mal à superfície, como é bem conhecido em eletrostática).
Observação: Da observação do fim do parágrafo precedente segue-se que as
fórmula acima ainda valem se a função ϕ for apenas infinitamente diferenci-
ável, desde que porém a função f seja nula fora de um hipercubo suficiente-
mente grande. E o que acontece, por exemplo, se f representa a densidade de
uma distribuição finita de cargas elétricas ou massas materiais.
Exercícios:
3.2 - Em R3, dada a função
fpxq “
$
&
%
0 se }x} ą a ą 0
1 se }x} ă a
achar ∆f e dar a sua interpretação física (ver também o § seguinte).
3.3 - Idem para a função
gpx,y, zq “
$
&
%
0 se x ă 0
e´px2`y2`z2q se x ą 0
4. Fórmula de Green
Consideremos agora um caso particular em que a hipersuperfície S limita
um volume V e em que a função f é nula fora de V. Indicamos com ni a
normal interna a V, a fórmula (2.8) nos dá
∆f “ t∆fu `! Bf
Bni
)
δS ` BBni
pfδSq
isto é,
x∆f,ϕy “ xt∆fu,ϕy `A! Bf
Bni
)
δS,ϕE
`A B
BnipfδSq,ϕ
E
ou aindaż
V
f∆ϕdx “ż
V
∆f ¨ϕdx`ż
S
BfBni
ϕdS´ż
S
fBϕBni
dS
isto éż
V
pf∆ϕ´ϕ∆fqdx`ż
S
´
fBϕBni
´ϕ BfBni
¯
dS “ 0 (2.10)
relação esta que é conhecida sob o nome de Fórmula de Green.
22 2. Derivação de distribuições
Observação: Em geral esta fórmula é escrita considerando a derivada em
relação à normal e mudando portanto o sinal frente à integral sobre a super-
fície.
Aplicação: Consideremos uma distribuição finita e contínua de cargas elé-
tricas de densidade espacial ρpxq. Essa distribuição dá lugar a um potencial
fpxq dado por
fpx0q “ż
R3
ρpxq}x´ x0}dx;
lembremos ainda que ∆f “ ´4πρ, conforme demonstraremos na Seção 6.
Seja então V um volume que contém o ponto x0 em seu interior, seja V 1 o
seu complementar e seja S a superfície de separação dos dois volumes. Temos
então
fpx0q “ż
R3
ρpxq}x´ x0}dx “ ´ 1
4π
ż
R3
∆f
}x´ x0}dx
“ ´ 14π
ż
V
∆f
}x´ x0}dx´ 14π
ż
V 1
∆f
}x´ x0}dx.
A função ϕpxq “ 1}x´x0} é infinitamente derivável em V 1 e lembrando a ob-
servação do fim do parágrafo precedente podemos aplicar a fórmula (2.10)(Fórmula de Green) e vem
ż
V 1
∆f
}x´ x0}dx “ż
V 1
f∆1
}x´ x0}dx`ż
S
„
fB
Bn 1i
1}x´ x0} ´ 1
}x´ x0}Bf
Bn 1i
dS
onde n 1i indica a normal interna a V 1 (que é a normal externa a V). Lem-
brando que 1}x´x0} é harmônica nos pontos x ‰ x0 isto é, que para x ‰ x0
temos ∆`
1}x´x0}
˘
“ 0 (ver a Seção seguinte) vem
fpx0q “ż
V
ρpxq}x´ x0}dx` 1
4π
ż
S
BfBne
1}x´ x0}dS´ 1
4π
ż
S
fB
Bne
1}x´ x0}dS
“ż
V
ρpxq}x´ x0}dx`
A 14π
BfBne
δS,1
}x´ x0}E
`A B
Bnep f4πδSq, 1
}x´ x0}E
(2.11)
Portanto o potencial criado pela distribuição ρ de cargas elétricas é o
mesmo que o potencial criado pelas cargas que estão contidas no volume V
apenas, adicionando ao potencial criado por uma distribuição superficial de
cargas de densidade superficial 14π
BfBne
e ao potencial criado por uma distri-
buição superficial de dipolos de momento elétrico* f4π . Ou ainda: as cargas
exteriores ao volume V dão lugar a um potencial nos pontos internos a V que
*no sentido da normal a S e de densidade de momento elétrico
5. Cálculo de ∆ 1rn´2 23
é igual ao potencial criado pela distribuição superficial de cargas 14π ¨ Bf
BneδS
e pela distribuição superficial de dipolos BBne
“
f4πδS
‰
sobre a superfície S.
5. Cálculo de ∆ 1rn´2
Lembremos que dada uma função diferenciável fpxq num aberto O dize-
mos que f é harmônica em O se temos ∆f “ 0 em cada ponto de O.
Exemplo. A parte real ou a parte imaginária de um função analítica.
Lembremos ainda que dada uma função harmônica não constante f, num
aberto O, |f| não tem máximo nem mínimo em pontos de O.
PROPOSIÇÃO. Para n ě 3 a função 1rn´2 é harmônica nos pontos x ‰ 0 de
Rn (lembremos que r “ }x} “`řn
i“1 x2i
˘1{2).
Demonstração. Dada uma função diferenciável f que é função apenas de r
temos
BfBxi
“ BfBr
BrBxi
“ BfBrxi
re
B2f
Bx2i
“ B2f
Bx2
x2i
r2` Bf
Br´1r
´ x2i
r3
¯
e portanto
∆f “nÿ
i“1
B2f
Bx2i
“ B2f
Br2 ` n´ 1r
BfBr
a função 1rn´2 é infinitamente diferenciável nos pontos x ‰ 0 e aplicando a
última relação vem ∆ 1rn´2 “ 0 para x ‰ 0. �
Exercícios:
5.1 - Demonstrar que quando n “ 2
∆ log1r
“ 0
para x ‰ 0.
5.2 - Demonstrar que quando n “ 1
∆|x| “ 0
para x ‰ 0.
Vamos agora calcular ∆ 1rn´2 no sentido de distribuições. Temos:
∆1
rn´2 “ ´pn´ 2qSnδ
24 2. Derivação de distribuições
onde Sn é a área da hipersuperfície da hiperesfera de raio unitário, do Rn;
Sn “ 2πn2
Γp12q
.
Lembremos as seguintes propriedades da função Γ :
1) se n é um inteiro ě 0 temos Γpn` 1q “ n!
2) Γpx` 1q “ x ¨ Γpxq3) Γ
`
12
˘
“?π
Portanto
Γ´3
2
¯
“ 12
?π e S3 “ 4π;
Γp2q “ 1 e S4 “ 2π2;
Γ´5
2
¯
“ 34
?π e S5 “ 8
3π2.
Demonstração.
A
∆1
rn´2 ,ϕE
“A 1rn´2 ,∆ϕ
E
“ż
Rn
1rn´2∆ϕdx
“ limεÑ0
ż
rěε
1rn´2∆ϕdx “ lim
εÑ0
ż
Rn
ρεpxq∆ϕdx
onde
ρεpxq “
$
&
%
0 para }x} ă ε
1rn´2 para }x} ě ε
#»n “ #»rr
pela fórmula de Green temosż
Rn
ρε∆ϕdx “ x∆ρε,ϕy
“@
t∆ρεu,ϕD
`ABρε
Bn δS,ϕE
`A B
Bn pρεδSq,ϕE
“ż
rěε
∆´ 1rn´2
¯
ϕpxqdx`ż
r“ε
BBr
´ 1rn´2 q
¯
ϕdS´ż
r“ε
1rn´2
BϕBr dS
lembrando que ∆ 1rn´2 “ 0 para r ‰ 0 vem
ż
Rn
ρε∆ϕdx “ ´ż
r“ε
n´ 2εn´1 ϕpxqdS´
ż
r“ε
1εn´2
BϕBr dS
6. A fórmula de Poisson, ∆V “ ´4πρ 25
a última das integrais tende para zero com ε pois BϕBr é contínua na origem e
a área da hipersuperfície r “ ε é da ordem de εn´1 enquanto que temos εn´2
no denominador. Para a primeira das integrais do segundo membro temosż
r“ε
n´ 2εn´1 ϕpxqdS “ n´ 2
εn´1
ż
r“ε
ϕp0qdS` n´ 2εn´1
ż
r“ε
`
ϕpxq ´ϕp0q˘
dS
comoˇ
ˇϕpxq ´ ϕp0qˇ
ˇ ď ε ¨ max}x}ďε
ˇ
ˇ
BϕBrˇ
ˇ então, como acima, a segunda das
integrais tende para zero com ε e como
n´ 2εn´1
ż
r“ε
ϕp0qdS “ n´ 2εn´1 ϕp0qεn´1Sn “ pn´ 2qSnxδ,ϕy
temos finalmente ∆ 1rn´2 “ ´pn´ 2qSnδ. �
Fazendo r “ }x´ a} vem o seguinte
COROLÁRIO. ∆ 1}x´a}n´2 “ ´pn´ 2qSnδpaq.
No caso particular de n “ 3 vemos que uma carga unitária no ponto a,
que é representada pela distribuição δpaq, dá lugar a um potencial 1}x´a} cujo
laplaciano é ´4πδpaq.
Exercícios:
5.3 - Demonstrar que ∆|x| “ 2δ para n “ 1.
5.4 - Demonstrar que ∆ log 1r
“ ´2πδ para n “ 2.
6. A fórmula de Poisson, ∆V “ ´4πρ
Dada uma distribuição finita de cargas de densidade ρpxq ela dá lugar a
um potencial contínuo
Vpyq “ż
R3
ρpxq}x´ y}dx
que define um campo elétrico#»
E “ ´ gradV. Lembrando o teorema do di-
vergente,ş
S
#»
EdS “ş
W div#»
E dx (“ ´ş
W div gradVdx “ ´ş
W ∆Vdx) onde
W é uma região de R3 limitada pela superfície S, e admitindo a lei de Gaussż
S
#»
E dS “ 4πż
W
ρpxqdx,
então a validez destas relações para qualquer volume W se deduz que
∆V “ ´4πρ.
26 2. Derivação de distribuições
Esta dedução porém não constitui uma demonstração matemática da fór-
mula de Poisson pois admitir a lei de Gauss equivale a admitir a fórmula de
Poisson, já que deż
S
#»
E dS “ż
W
div#»
E dx “ ´ż
W
div gradVdx “ ´ż
W
∆Vdx
e de ∆V “ ´4πρ segue por sua vez a lei de Gauss:ż
S
#»
E dS “ 4πż
W
ρpxqdx.
Vamos então dar uma demonstração rigorosa da fórmula de Poisson e
portanto da lei de Gauss.
TEOREMA. Dada uma distribuição contínua de cargas de densidade ρpxq,contida num volume finito (i.e., ρpxq é nula fora de um cubo suficientemente
grande) então o potencial
Vpyq “ż
R3
ρpxq}x´ y}dx
definido por esta distribuição de cargas satisfaz à equação de derivadas par-
ciais ∆V “ ´4πρ.
Demonstração. Para todo ϕ P DpR3q temos
x∆V,ϕy “ xV,∆ϕy “ż
R3Vpyq∆ϕpyqdy
“ż„ż
ρpxq}x´ y}
∆ϕpyqdy “ij
ρpxq∆ϕpyq}x´ y} dxdy
“ż
ρpxq„ż
∆ϕpyq}x´ y}dy
dx “ż
ρpxqB
1}x´ y} ,∆ϕpyq
F
dx
“ż
ρpxqB
∆1
}x´ y} ,ϕpyqF
dx “ż
ρpxq@
´ 4πδpxq,ϕD
dx
(como segue do corolário do fim do §5)
“ ´4πż
ρpxqϕpxqdx. �
Observação: A igualdade ∆V “ ´4πρ demonstrada mo sentido de distribui-
ções, ainda é válida se a função ρpxq for somente integrável e nula fora de
um cubo. Quando ρ é contínua (nula fora de algum cubo) é fácil ver que V é
contínua com derivadas primeiras contínuas.
De modo análogo demonstramos também o
7. A distribuição vp 1x
27
TEOREMA. Dada uma distribuição ρδS de cargas, sobre uma superfície S, de
densidade superficial contínua ρ e nula fora de um cubo, então o potencial
Vpyq “ż
S
ρpxq}x´ y}dS
definido por esta distribuição de cargas satisfaz à equação de derivadas par-
ciais ∆V “ ´4πρδS.
Vemos portanto que estendemos a fórmula de Poisson, ∆Vρ “ ´4πρ
para distribuições puntiformes e distribuições superficiais de cargas. Pode-
se demonstrar que ela ainda vale para distribuições finitas de dipolos ou de
multipolos etc.
7. A distribuição vp 1x
1. Lembremos que dada uma função fpxq, definida no intervalo ra,bs,não integrável neste intervalo mas tal que exista um ponto c com a ă c ă b
tal que para todo ε ą 0 f é integrável nos intervalos ra, c ´ εs e rc ` ε,bs é
possível que exista e seja finito o limite
limεÑ0
”
ż c´ε
a
fpxqdx`ż b
c`ε
fpxqdxı
que neste caso chamamos de valor principal da integral de fpxq no intervalo
ra,bs e escrevemos
vpż b
a
fpxqdx.
Como existem e são finitas as integraisşc´ε
a fpxqdx eşb
c`ε fpxqdx a exis-
tência do limite vpşb
a fpxqdx depende unicamente do comportamento de fpxqno intervalo simétrico rc´ σ, c` σs.
Lembremos que uma função gpxq definida no intervalo rc ´ σ, c ` σs é
simétrica (em relação a c) se gpc ´ yq “ gpc ` yq para ´σ ď y ď σ e é
anti-simétrica (em relação a c) se gpc´ yq “ ´gpc` yq. Quando c “ 0 uma
função simétrica se diz par e uma função anti-simétrica ímpar.
Toda função fpxq definida em rc ´ σ, c ` σs se decompõe de uma modo
único na soma de uma função simétrica e uma função anti-simétrica.
Demonstração. Temos
fpc` yq “ 12
“
fpc` yq ` fpc´ yq‰
` 12
“
fpc` yq ´ fpc´ yq‰
28 2. Derivação de distribuições
onde o primeiro somando é evidentemente simétrico e o segundo anti-simétri-
co. Se tivermos f “ fs ` fa “ gs ` ga decomposições de f em somas de
funções simétricas e anti-simétricas então fs ´gs “ ga ´ fa “ 0 donde segue
a unicidade da decomposição. �
Existe e é finito o vpşb
a fpxqdx se e somente se a parte simétrica de f (no
intervalo rc´ σ, c` σs, qualquer) for integrável.
Demonstração. Pela observação acima podemos nos restringir ao intervalo
rc ´ σ, c ` σs. Sejam fs e fa respectivamente as componentes simétrica e
anti-simétrica de f. Temos
limεÑ0
”
ż c´ε
c´σ
fpxqdx`ż c`σ
c`ε
fpxqdxı
“ limεÑ0
”
ż c´ε
c´σ
fspxqdx`ż c`ε
c`ε
fspxqdx`
`ż c´ε
c´σ
fapxqdx`ż c`σ
c`ε
fapxqdxı
a soma das duas última integrais é nula pois fa é anti-simétrica no intervalo
rc´ σ, c` σs, isto é, fpc´ yq “ ´fpc` yq e portanto nosso limite se reduz a
limεÑ0
”
ż c´ε
c´σ
fspxqdx`ż c`σ
c`ε
fspxqdxı
“ 2 limεÑ0
ż c´ε
c´σ
fspxqdx
“ 2ż c
c´σ
fspxqdx “ż c`σ
c´σ
fspxqdx
usamos o fato de que a função fs é simétrica. �
Exemplo. Se fpxq “ ϕpxqx´c
onde ϕpxq é contínua e derivável no ponto x “ c
então existe
vpż b
a
fpxqdx.
De fato: fpxq “ ϕpxqx´c
` ϕpxq´ϕpcqx´c
onde o primeiro somando é anti-simétrico e
o segundo é limitado (pois por hipótese ϕ é derivável no ponto c) e portanto
integrável.
O resultado precedente nos mostra em particular que existe
vpż a
´a
dx
x
que aliás é nulo.
Exercícios:
7.1 - Estender os resultados precedentes ao caso em que no intervalo
ra,bs exista um número finito de pontos “excepcionais” da função fpxq.
7. A distribuição vp 1x
29
7.2 - Ver se existem os seguintes valores principais:
vpż a
´a
1x2dx; vp
ż a
´a
1x3dx; vp
ż a
´a
e1{xdx; vpż a
´a
xe1{x2dx.
2. O funcional ϕ P DpRq Ñ vpş`8
´8ϕpxqxdx define uma distribuição que
indicaremos por: vp 1x
.
Demonstração. Por definição temos
A
vp1x
,ϕE
“ vpż `8
´8
ϕpxqxdx
é evidente que este funcional é linear. Resta portanto demonstrar sua conti-
nuidade, isto é, que ϕj ։ 0 implica@
vp 1x
,ϕj
D
Ñ 0.
Se ϕj ։ 0 então todas as funções ϕj são nulas fora de um mesmo inter-
valo r´a,as e da fórmula dos acréscimos finitos resulta que:ˇ
ˇ
ˇ
ˇ
ϕjpxq ´ϕjp0qx
ˇ
ˇ
ˇ
ˇ
ď max´aďxďa
ˇ
ˇϕ 1jpxq
ˇ
ˇ
que também tende para zero quando j tende para infinito e portanto
vpż `8
´8
ϕjpxqx
“ vpż a
´a
”ϕjp0qx
` ϕjpxq ´ϕjp0qx
ı
dx
“ ϕjp0q vpż a
´a
dx
x` vp
ż a
´a
ϕjpxq ´ϕjp0qx
dx;
o primeiro somando é nulo e o segundo tende para zero pois o integrando
tende uniformemente para zero como vimos acima. �
3. A função log |x| é localmente integrável e define portanto uma dis-
tribuição. A sua derivada no sentido de função é a função 1x
que não é
localmente integrável . Vamos demonstrar que a sua derivada no sentido de
distribuições é a distribuição vp 1x
isto é,`
log |x|˘ 1 “ vp 1
x.
De fato:@`
log |x|˘ 1
,ϕD
“@
log |x|,ϕ 1D
“ż `8
´8log |x|ϕ 1pxqdx
“ ´ż 0
´8log |x|ϕ 1pxqdx´
ż `8
0log |x|ϕ 1pxqdx.
30 2. Derivação de distribuições
´ż `8
0log |x|ϕ 1pxqdx “ ´ lim
εÑ0
ż `8
ε
log |x|ϕ 1pxqdx
“ limεÑ0
”
´ log x ¨ϕpxqˇ
ˇ
ˇ
`8
ε`ż `8
ε
ϕpxqxdx
ı
“ limεÑ0
”
log ε ¨ϕpεq `ż `8
ε
ϕpxqxdx
ı
“ limεÑ0
”
ϕp0q log ε``
ϕpεq ´ϕp0q˘
log ε`ż `8
ε
ϕpxqxdx
ı
como ϕpεq ´ϕp0q é da ordem de ε e ε ¨ log ε tende para zero com ε o limite
se reduz a
limεÑ0
”
ϕp0q ¨ log ε`ż `8
ε
ϕpxqxdx
ı
.
Analogamenteż 0
´8log |x|ϕ 1pxqdx “ lim
εÑ0
”
´ log ε ¨ϕp0q `ż ´ε
´8
ϕpxqxdx
ı
e portanto
@`
log |x|˘
,ϕD
“ limεÑ0
”
ż ´ε
´8
ϕpxqxdx`
ż `8
ε
ϕpxqxdx
ı
“ vpż `8
´8
ϕpxqxdx “
A
vp1x
,ϕE
.
Na mecânica quântica são usadas as distribuições
δ` “ δ
2` 1
2πivp
1x
e δ´` “ δ
2´ 1
2πivp
1x
.
Portanto δ “ δ` ` δ´.
8. Multiplicação de distribuições
1. Quando definimos operações quaisquer sobre distribuições procura-
mos fazê-lo de modo a generalizar as operações correspondentes de funções
localmente integráveis, contínuas, deriváveis, etc. Em geral, portanto, não
será possível definir o produto de duas distribuições pois o produto de duas
funções localmente integráveis (que portanto definem distribuições) não é ne-
cessariamente uma função localmente integrável. Exemplo: a função 1?x
é
localmente integrável mas o seu quadrado não o é.
Vamos definir o produto de uma função infinitamente diferenciável α
(não necessariamente nula fora de algum hipercubo) por uma distribuição
T pondo xαT ,ϕy “ xT ,αϕy para todo ϕ P DpRnq. É imediato que este
funcional está bem definido pois ϕ P DpRnq e é linear. Para demonstrar sua
8. Multiplicação de distribuições 31
continuidade basta demonstrar que ϕj ։ 0 implica αϕj ։ 0 o que segue
facilmente da fórmula de Leibnitz para a derivação.
Exercício:
8.1 - Demonstrar a última afirmação.
2. Exemplos no caso de uma variável.
αδ “ αp0qδ (8.1)
De fato
xαδ,ϕy “ xδ,αϕy “ αp0qϕp0q “ αp0qxδ,ϕy. l
Daí segue em particular que xδ “ 0.
αδ 1 “ αp0qδ 1 ´ α 1p0qδ (8.2)
De fato
xαδ 1,ϕy “ xδ 1,αϕy “ ´@
δ, pαϕq 1D
“ ´xδ,α 1ϕ` αϕ 1y “ α 1p0qϕp0q ´ αp0qϕ 1p0q
“ αp0qxδ,ϕy ´ αp0qxδ,ϕ 1y
“ ´α 1p0qxδ,ϕy ` αp0qxδ 1,ϕy. l
Daí segue em particular que xδ 1 “ ´δ e x2δ 1 “ 0.
αδpmq “mÿ
r“0
p´1qr`
mr
˘
αprqp0qδpm´rq (8.3)
onde`
mr
˘
“ r!r!pm´rq! .
32 2. Derivação de distribuições
Demonstração.
xαδpmq,ϕy “ xδpmq,αϕy “ p´1qm@
δ, pαϕqpmqD
“ p´1qmA
δ,mÿ
r“0
`
mr
˘
αpmqϕpm´rqE
“ p´1qmmÿ
r“0
`
mr
˘
αprqp0qϕpm´rqp0q
“mÿ
r“0
p´1qr`
mr
˘
αprqp0qp´1qm´rϕpm´rqp0q
“mÿ
r“0
p´1qr`
mr
˘
αprqp0qxδpm´rq,ϕy
“A
mÿ
r“0
p´1qr`
mr
˘
αprqp0qδpm´rq,ϕE
. �
Exercícios:
8.2 - Demonstrar que xδpmq “ ´mδpm´1q.
8.3 - Demonstrar que para n ă m temos
xnδpmq “ p´1qn m!pm´ nq!δ
pm´mq.
8.4 - Demonstrar que x ¨ vp 1x
“ 1, xm vp 1x
“ xm´1.
8.5 - Demonstrar que xδ` “ 12πi , xδ´ “ ´ 1
2πi .
3. Lema: Dada uma função infinitamente diferenciável χpxq, com χp0q “0 então a função ψpxq “ χpxq
xtambém é infinitamente diferenciável, isto é,
temos χpxq “ x ¨ψpxq onde ψpxq é infinitamente diferenciável.
Demonstração. É evidente que nos pontos x ‰ 0 a função ψ é infinitamente
derivável. Usando a fórmula de Taylor e indicando com opnq a soma dos
termos de ordem infinitesimal ě n temos
ψpxq “ 1xχpxq “ 1
x
“
χp0q ` xχ 1p0q ` op2q‰
“ χ 1p0q ` op1q
que tende para χ 1p0q quando x tende para zero, donde segue a continuidade
de ψ na origem.
8. Multiplicação de distribuições 33
Vamos demonstrar a continuidade de sua derivada na origem:
ϕpxq ´ϕp0qx
“ 1x
”χpxqx
´ χ 1p0qı
“ 1x
”χp0q ` xχ 1pxq ` x2χ2p0q ` op3qx
´ χ 1p0qı
“ χ2p0q ` op1q
que tende para χ2p0q quando x tende para zero.
De modo análogo demonstramos a continuidade das derivadas de ordem
superior de ψpxq na origem. �
PROPOSIÇÃO. Dada uma distribuição T P D1pRq então x¨T “ 0 se e somente
se T “ cδ onde c é uma constante.
Demonstração. Da fórmula (7.1) segue que x “ 0. Reciprocamente, seja
T P D1pRq tal que x ¨ T “ 0, isto é, xxT ,ϕy “ 0, para todo ϕ P DpRq. Por
definição xxT ,ϕy “ xT , xϕy e portanto xT , xϕy “ 0, isto é, T é nula sobre
qualquer função de DpRq que se anula na origem (pois pelo lema acima
toda função χ com esta propriedade é da forma xϕ); tomemos uma função
ϑ P DpRq com ϑp0q “ 1: toda função ϕ P DpRq se escreve de um único
modo da forma ϕ “ λϑ ` χ onde χp0q “ 0 e λ “ ϕp0q portanto xT ,ϕy “xT , λϑ` χy “ λxT , ϑy ` xT ,χy “ xT , ϑyλ, pois xT ,χy “ 0. Indiquemos por c a
constante xT , ϑy e lembrando que λ “ ϕp0q “ xδ,ϕy vem que T “ cδ. �
COROLÁRIO. Dadas duas distribuições T1, T2 P D1pRq, tais que x ¨T1 “ x ¨T2
então T1 “ T2 ` xδ onde c é uma constante, isto é, x ¨ T1 “ x ¨ T2 não implica
necessariamente T1 “ T2 ou ainda: não podemos dividir uma igualdade de
distribuições pela função x.
PROPOSIÇÃO. Dada uma distribuição T P D1pRq então x2T “ 0 se somente
se T “ c0δ` c1δ1.
Demonstração. De x2δ 1 “ 0 e de xδ “ 0 segue que
x2pc0δ` c1δ1q “ 0.
Reciprocamente: se x2T “ x ¨ xT “ 0 então segue do teorema precedente que
xT “ cδ mas já vimos que xp´cδ 1q “ cδ e portanto temos xT “ xp´cδ 1q; do
corolário precedente segue então que T “ ´cδ 1 ` c0δ. �
Exercícios:
34 2. Derivação de distribuições
8.6 - Demonstrar que xnT “ 0 se e somente se
T “ c0δ` c1δ1 ` ¨ ¨ ¨ ` cn´1δ
n´1.
8.7 - Demonstrar que px´ aqT “ 0 se e somente se
T “ cδpaq.
8.8 - Achar uma condição necessária e suficiente para que se tenha px ´aqnT “ 0.
8.9 - Demonstrar que dado um polinômio Ppxq com tôdas as raízes sim-
ples, a1,a2, . . . ,am então PpxqT “ 0 se e somente se
T “ c1δpa1q ` ¨ ¨ ¨ ` cmδpamq
8.10 - Dado um polinômio Ppxq “śn
i“1px´aiqmi onde ai ‰ aj se i ‰ j,
demonstrar que PpxqT ‰ 0 implica que
T “mÿ
i“1
A
mi´1ÿ
j“0
ci, jδpjqpaiq
E
.
4. No caso de distribuições de mais de uma variável temos:
BBxi
pαTq “ BαBxi
T ` α BTBxi
Demonstração.A B
BxipαTq,ϕ
E
“ ´A
αT ,BϕBxi
E
“ ´A
T ,αBϕBxi
E
A BαBxi
T ,ϕE
“A
T ,BαBxi
ϕE
A
αBTBxi
,ϕE
“A BT
Bxi,αϕ
E
“ ´A
T ,B
Bxipαϕq
E
“ ´A
T ,BαBxi
ϕ` α BϕBxi
E
“ ´A
T ,BαBxi
ϕE
´A
T ,αBϕBxi
E
. �
Exercícios:
8.11 - Demonstrar que
xiBδBxi
“ 1 e xiBδBxj
“ 0 se j ‰ i.
8.12 - Demonstrar que
xB2δ
BxBy “ ´ BδBy , x2 B2δ
BxBy “ 0.
8. Multiplicação de distribuições 35
8.13 - Demonstrar que
xyB2δ
BxBy “ δ.
Capítulo 3
Topologia no espaço das
distribuições
1. Definição
Dizemos que uma seqüência Tj de distribuições converge para a distri-
buição T , e escrevemos Tj Ñ́ T , se para toda função ϕ P DpRnq temos
xTj,ϕy Ñ xT ,ϕy.
Dizemos que a sérieř
j Tj de distribuições converge e que sua soma é a dis-
tribuição T , escrevemos T “́ř
j Tj, se para todo ϕ P DpRnq a sérieř
jxTj,ϕyconverge e tem por soma xT , jy.
Exercícios:
1.1 - Dada uma distribuição T demonstrar que a seqüência Tj “ 1jT
converge para zero.
1.2 - Se Tj Ñ́ T e Sj Ñ́S, demonstrar que Tj ` Sj Ñ́ T ` S, λTj Ñ́ λT , Tj ´T Ñ́ 0.
1.3 - Se Tj Ñ́ T e α é uma função infinitamente diferenciável, demonstrar
que αTj Ñ́αT .
1.4 - Demonstrar que δpjq Ñ́ 0, j P N.
1.5 - Demonstrar que δp1{jq Ñ́ δ, j P N.
1.6 - Demonstrar que jpδp1{jq´ q Ñ́ δ 1.
1.7 - Definir a convergência de uma família Tλ de distribuições depen-
dendo de um parâmetro λ.
37
38 3. Topologia no espaço das distribuições
1.8 - Demonstrar que se uma seqüência de funções localmente integráveis
fj tende uniformemente para 0 então Tfj Ñ́ 0.
2. Continuidade de derivação
Sabemos que em Análise Matemática a derivação não é uma operação
contínua, isto é, se uma seqüência de funções deriváveis fj tende para uma
função derivável f, a seqüência das derivadas f 1j não tende necessariamente
para f 1. Assim, a seqüência fjpxq “ 1j
sen jx tende uniformemente para zero
mas a seqüência de suas derivadas f 1jpxq “ cos jx não tende para zero.
Vamos porém demonstrar que com a convergência que definimos acima
no espaço das distribuições a derivação passa a ser uma operação contínua,
isto é, se Tj Ñ́ T entãoBTjBxi
Ñ́ BTBxi
.
Demonstração.ABTj
Bxi,ϕ
E
“ ´A
Tj,BϕBxi
E
Ñ ´A
T ,BϕBxi
E
“A BT
Bxi,ϕ
E
�
Dada uma seqüência de distribuições Tj que converge para a distribuição
T e dada uma função α infinitamente derivável então αTj Ñ́αT .
Demonstração. Para todo ϕ P DpRnq temos:
xαTj,ϕy “ xTj,αϕy, xT ,αϕy “ xαT ,ϕy. �
Exercícios:
2.1 - Demonstrar que se T “́ř
j Tj então BTBxi
“́ř
jBTj
Bxi; isto é, uma série
convergente de distribuições pode ser derivada termo a termo.
2.2 - Demonstrar que 1j
sen jx Ñ́ 0 e que cos jx Ñ́ 0.
2.3 - Demonstrar que exj Ñ́ 1.
3. Convergência clássica e convergência de distribuições
Em Análise Matemática definimos diferentes tipos de convergência de
funções:
Convergência simples: fj converge simplesmente para f se em todo ponto
x temos fjpxq Ñ́ fpxq;
3. Convergência clássica e convergência de distribuições 39
Convergência uniforme: fj converge uniformemente para f se, dado ε ą0 existe uma j0 P N tal que para todo j ě j0 temos
ˇ
ˇfjpxq ´ fpxqˇ
ˇ ă ε
para todo x P Rn.
Convergência no sentido da integral: seş
Rn
ˇ
ˇfjpxq ´ fpxqˇ
ˇdx tende para
zero quando j tende para o infinito.
Usando uma ou outra destas convergências nós demonstramos uma sé-
rie de teorema importantes da Análise Matemática. Pode-se demonstrar
que para funções localmente integráveis fj (e praticamente todas as funções
que aparecem na Análise Matemática são desta categoria) qualquer uma das
convergências acima implica a convergência no sentido de distribuições (ver
enunciado exato mais adiante) o que faz com que a teoria das distribuições
englobe os teorema correspondentes da Análise Matemática.
TEOREMA. Dada uma seqüência fj de funções localmente integráveis que em
todo hipercubo QA tende uniformemente para uma função f (que portanto
é também localmente integrável), então
fj Ñ́ f.
Demonstração. Precisamos demonstrar que, para todo ϕ P DpRnq, temos
xfj ´ f,ϕy Ñ 0; lembrando que ϕ é nula fora de um verto hipercubo QA
temos
xfj ´ f,ϕy “ż
Rn
pfj ´ fqϕdx “ż
QA
pfj ´ fqϕdx
como fj ´ f tende uniformemente para zero em QA e ϕ é limitada em QA se-
gue que pfj ´ fqϕ também tende uniformemente para zero em QA e portanto
a integral também tende para zero. �
COROLÁRIO. Se as funções localmente integráveis fj tendem uniformemente
para a função f então fj Ñ́ f.
Exercício:
3.1 - Dada uma seqüência fj de funções localmente integráveis e uma
função localmente integrável f tais que em todo hipercubo QA temosż
QA
ˇ
ˇfjpxq ´ fpxqˇ
ˇdx Ñ 0
demonstrar que fj Ñ́ f.
40 3. Topologia no espaço das distribuições
Observação: De um teorema de Lebesgue segue que é suficiente impor a
convergência simples de fj para f para podermos assegurar que
fj Ñ́ f
(supondo ainda que existe uma função localmente integrável g tal queˇ
ˇfjpxqˇ
ˇ ď gpxq
para todo j).
Com demonstração análoga à do teorema anterior temos que se uma
sérieř
j fj de funções localmente integráveis é uniformemente convergente
em todo hipercubo para a função localmente integrável f então f “́ř
j fj.
Exercícios:
3.2 - Demonstrar que x¨senxpj`x2q2 Ñ́ 0 (mostrar que senx
j`x2 Ñ́ 0: considerar a
seqüência derivada desta e lembrar que cosxj`x2 Ñ́ 0).
3.3 - Dada a seqüência de funções
fjpxq “
$
&
%
j se x ě j
0 se x ă jj P N
demonstrar que fj Ñ́ 0.
3.4 Demonstrar que jδpjq Ñ́ 0.
3.5 - Demonstrar que jm cos jx Ñ́ 0.
3.6 - Demonstrar que xm cos jx Ñ́ 0.
3.7 - Demonstrar que jx ¨ cos jx Ñ́ 0.
3.8 - Dada uma função localmente integrável, contínua na origem, de-
monstrar que f`
xj
˘
Ñ́ fp0q.
4. Convergência de séries trigonométricas
Um algoritmo muito útil em Análise Matemática é o das séries de Fourier,
séries trigonométricas ou séries exponenciais. Infelizmente, porém, somente
em condições muito restritas estas séries convergem em um dos sentido acima
da Análise Matemática. Vamos demonstrar que na teoria das distribuições
estas séries convergem em condições muito gerais.
TEOREMA. A série exponencialř
kPZ ake2πikx é convergente no sentido de
distribuições se todos os seus coeficientes ak admitem uma majoração do tipo
|ak| ď A|k|m para k ‰ 0 onde m é um inteiro que, como A, é independente
5. δ como limite de funções 41
de k. Neste caso a soma da série é igual a uma constante mais a derivada
de ordem m ` 2 (no sentido de distribuições) de uma função contínua f,
periódica de período 1.
Demonstração. De |ak| ď A|k|m segue que
ˇ
ˇ
ˇ
ak
km`2
ˇ
ˇ
ˇď A
k2
e portanto a sérieÿ
k‰0
ak
p2πikqm`2 e2πik
é uniformemente e absolutamente convergente e sua soma é então uma fun-
ção contínua f. Portanto ainda vale
f “́ÿ
k‰0
ak
p2πikqm`2 e2πikx;
e portantoÿ
kPZake
2πikx “ a0 ` fpm`2q. �
5. δ como limite de funções
Antes da criação da teoria das distribuições, δ era definida como limite
de funções. Vamos dar um teorema que justifica aquela definição
TEOREMA. Dada uma seqüência fj, de funções localmente integráveis tais
que
1. Existem constantes k ą 0, K ą 0 tais queż
}x}ďk
ˇ
ˇfjpxqˇ
ˇdx ă K
para todo j P N;
2. Para todo a ą 0, fjpxq tende uniformemente para zero no anel
x PRn | a ď }x} ď a´1
(
;
3. Para todo a ą 0 temosż
}x}ăa
fjpxqdx Ñ 1;
então fj Ñ́ δ.
42 3. Topologia no espaço das distribuições
Demonstração. Precisamos demonstrar que dado ε ą 0 e ϕ P DpRnq existe
j0 tal que para j ě j0 temos
ˇ
ˇxfj,ϕy ´ xδ,ϕyˇ
ˇ “ˇ
ˇ
ˇ
ż
Rn
fjpxqϕpxqdx´ϕp0qˇ
ˇ
ˇď ε
Temosż
Rn
fjpxqϕpxqdx “ż
}x}ďa
fjpxqϕp0qdx`ż
}x}ďa
`
ϕpxq ´ϕp0q˘
fjpxqdx`
`ż
}x}ďa
ϕpxqfjpxqdx
para }x} ď a temosˇ
ˇϕpxq ´ ϕp0qˇ
ˇ ď }x} max1ďiďn
ˇ
ˇ
BϕBxi
ˇ
ˇ ď aM onde M
indica este máximo e portanto
ˇ
ˇ
ˇ
ż
}x}ďa
`
ϕpxq ´ϕp0q˘
fjpxqdxˇ
ˇ
ˇď aM
ż
}x}ďa
ˇ
ˇfjpxqˇ
ˇdx ď aMK
se a ď k, com segue da condição 1. Tomando ainda a ď ε3MK
vemos que
o módulo da segunda integral é ď ε3 para todo j. Diminuindo ainda eventu-
almente a de modo que ϕ seja nula fora de uma bola de centro na origem e
raio a´1 temosż
}x}ěa
ϕpxqfjpxqdx “ż
aă}x}ăa´1ϕpxqfjpxqdx
e como fjpxq tende uniformemente para zero no anel a ď }x} ď a´1 (condi-
ção 2.) então dado ε3 ą 0 podemos achar j1 tal que para j ě j1 tenhamos
ˇ
ˇ
ˇ
ż
}x}ěa
ϕpxqfjpxqdxˇ
ˇ
ˇď ε
3.
Da condição 3 segue por sua vez queż
}x}ďa
ϕp0qfjpxqdx “ ϕp0q ¨ż
}x}ďa
fjpxqdx Ñ ϕp0q
isto é, dado ε3 ą 0 existe j2 tal que para j ě j2 temos
ˇ
ˇ
ˇ
ż
}x}ďa
ϕp0qfjpxqdx´ϕp0qˇ
ˇ
ˇă ε
3.
Reunindo este resultado com os precedentes segue que para
j ě j0 “ suptj1, j2u,
5. δ como limite de funções 43
ˇ
ˇxfj,ϕy ´ xδ,ϕyˇ
ˇ “ˇ
ˇ
ˇ
ż
Rn
fjpxqϕpxqdx´ϕp0qˇ
ˇ
ˇ
“ˇ
ˇ
ˇ
ż
}x}ăa
ϕp0qfjpxqdx`ż
}x}ďa
fjpxq`
ϕpxq ´ϕp0q˘
dx`
`ż
}x}ěa
fjpxqϕpxqdx´ϕp0qˇ
ˇ
ˇ
ďˇ
ˇ
ˇ
ż
}x}ąa
ϕp0qfjpxqdx´ϕp0qˇ
ˇ
ˇ`
`ˇ
ˇ
ˇ
ż
}x}ďa
fjpxq`
ϕpxq ´ϕp0q˘
dxˇ
ˇ
ˇ`ˇ
ˇ
ˇ
ż
}x}ěa
fjpxqϕpxqdxˇ
ˇ
ˇ
ď ε
3` ε
3` ε
3“ ε. �
Observação: No teorema acima podemos substituir a condição 2 por
2’. Para todo a ą 0ż
aď}x}ďa´1
ˇ
ˇfjpxqˇ
ˇdx Ñ 0
quando j Ñ 8.
COROLÁRIO. Dada uma função integrável f (portantoş
Rn
ˇ
ˇfpxqˇ
ˇdx é finita)
comż
Rn
fpxqdx “ 1,
seja fjpxq “ jnfpjxq então fj Ñ δ.
Demonstração. Temosż
Rn
fjpxqdx “ż
¨ ¨ ¨ż
fjpx1, . . . , xnqdx1 ¨ ¨ ¨dxn
“ż
¨ ¨ ¨ż
fpjx1, . . . , jxnqdpjx1q ¨ ¨ ¨dpjxnq
“ż
¨ ¨ ¨ż
fpy1, . . . ,ynqdy1 ¨ ¨ ¨dyn “ż
Rn
fpyqdy,
onde fizemos yi “ jxi.
Vamos demonstrar que essas funções fj satisfazem às condições 1, 2’ e 3
do teorema anterior, daí seguindo portanto o nosso resultado.
A condição 1 está automaticamente verificada poisż
}x}ďk
ˇ
ˇfjpxqˇ
ˇdx ďż
Rn
ˇ
ˇfjpxqˇ
ˇdx “ż
Rn
ˇ
ˇfpxqˇ
ˇdx.
Por outro lado, f sendo integrável, então dado ε ą 0 existe b ą 0 tal queˇ
ˇ
ˇ
ż
Rn
ˇ
ˇfpxqˇ
ˇdx´ż
}x}ďb
ˇ
ˇfpxqˇ
ˇdxˇ
ˇ
ˇă ε
44 3. Topologia no espaço das distribuições
isto éˇ
ˇ
ˇ
ż
}x}ěb
ˇ
ˇfpxqˇ
ˇdxˇ
ˇ
ˇă ε
portantoż
aď}x}ďa´1
ˇ
ˇfjpxqˇ
ˇdx ďż
}x}ěa
ˇ
ˇfjpxqˇ
ˇdx “ż
}x}ěa
jnˇ
ˇfpjxqˇ
ˇdx
“ż
}y}ějna
ˇ
ˇfpyqˇ
ˇdy ď ε
se jna ą b e portanto está satisfeita a condição 2’.ż
}x}ďa
fjpxqdx “ż
}y}ďjna
fpyqdy Ñż
Rn
fpyqdy “ 1
e portanto vale a condição 3. �
Lembrando queż
Rn
1`?
2π˘n e
´}x}2{2dx “ 1,ż
Rn
e´π}x}2dx “ 1,
ż
}x}ď1
1Bndx “ 1,
onde Bn é o volume da bola de raio unitário do Rn, segue do corolário
precedente que
jn`?
2π˘n e
´ j2}x}2
2 Ñ́ δ, jne´πj2}x}2 Ñ́ δ, bjpxq Ñ́ δ,
onde
bjpxq “
$
&
%
jn 1Bn
se }x} ď 1j
0 se }x} ą 1j
Estes são exemplos habitualmente considerados se seqüência de funções
tendendo para a distribuição δ.
Exercícios:
5.1 - Dada uma função de uma variável fpxq contínua e com derivada
contínua, integrável comż `8
´8fpxqdx “ 1
demonstrar que j2f 1pjxq Ñ́ δ.
5.2 - Interpretar geometricamente a passagem da função f à função fj do
corolário do teorema precedente.
5.3 - Demonstrar que 2πj3xe´πj2x2 Ñ́ ´ δ 1 quando j tende para infinito.
Índice Remissivo
F
Fórmula
de Green, 21
de Poisson, 25
Função
de Heaveside, 15
harmônica, 23
L
Lei
de Gauss, 25
M
Mecânica quântica, 30
O
Operador diferencial
Laplaciano, 14
transposto, 14
S
Salto
da derivada m-ésima, 15
V
Valor principal, 27
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