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TEOLOGIA BÍBLICA DA LIDERANÇA CRISTÃ DAMY FERREIRA APRESENTAÇÃO

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TEOLOGIA BÍBLICA DA

LIDERANÇA CRISTÃ

DAMY FERREIRA

APRESENTAÇÃO

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Não precisamos buscar muitos argumentos para descobrir que o mundo não pode

viver sem liderança. Onde se reúnem duas ou três pessoas, logo aparece um líder natural

no grupo.

Em 1967, os Estados Unidos se envolviam mais e mais na Guerra do Vietnan

que, no entanto, era uma derrocada. O povo americano estava entediado com a situação,

mas ninguém fazia nada. De repente, um Senador, naquele tempo sem muita expressão

no cenário político, Eugene McCarthy, assumiu a bandeira do fim da guerra. Convocou

uma reunião para o Estado de Vermont. A expectativa era que compareceria pouca

gente. No entanto houve uma enchente de gente, ele conseguiu sucesso, e a guerra

acabou (John Kenneth Galbraith, A Era da Incerteza - Revista Veja, 16 de setembro de

1998).

Eis aí um exemplo da necessidade de liderança no mundo secular.

De início, podemos dizer que, universalmente, há duas grandes categorias de

liderança: a liderança secular, de um modo geral, e a liderança cristã, em particular.

Nosso trabalho, evidentemente, vai ocupar-se da liderança cristã, abordando seus

aspectos teológicos, buscando extrair todos os seus fundamentos dos propósitos de

Deus, como expostos na Bíblia, a Palavra de Deus, uma vez que não podemos fugir da

realidade de que, toda teologia de natureza cristã, deve fundamentar-se na Bíblia.

Não foi sem razão que Salomão registrou em seu livro de Provérbios 29.2, o

seguinte: "Quando os justos governam, alegra-se o povo, mas quando o ímpio domina o

povo geme". Apesar do aparente anacronismo, pois nos dias de Salomão não havia

ainda cristianismo, a base é a mesma: Deus, o criador do cristianismo.

Nosso mundo carece desesperadamente de uma liderança que proceda de Deus,

pois sem esse tipo de liderança, mesmo neste mundo avançado em ciência e tecnologia,

vamos perecer.

E lembramos que a própria Bíblia nos diz o que acontece quando não há essa

liderança. Nos tempos dos juízes em Israel, quando o povo não tinha rei, ficou

registrado este texto: "Naqueles dias não havia rei em Israel; cada qual fazia o que

parecia direito aos seus olhos" (Juízes 17.6). Esta é uma situação difícil para um povo.

Atualmente há muita literatura no Brasil sobre liderança cristã. Principalmente

porque os Batistas da Convenção Batista Brasileira adotaram Liderança como tema do

ano 2009. E então surgiram novas obras, além das já existentes, todas elas muito

valiosas e interessantes, naturalmente.

O presente trabalho, no entanto, pretende entrar mais fundo no assunto, tratando

da Teologia Bíblica da Liderança Cristã. Queremos procurar descobrir, numa análise de

teologia bíblica, quem é o dono ou o gerador da liderança; por que Deus precisa de

líderes humanos para Seus propósitos divinos; que tipo de líderes Ele quer usar; que

tipo de metodologia Ele deseja que se use na liderança; quais são os Seus reais

propósitos com a liderança, e outros aspectos fundamentais.

Apesar de ter sido este conteúdo de um projeto que ensinei em mestrado,

procurarei usar uma linguagem simples ao falar de teologia, para que o livro não seja

somente acadêmico, mas para que possa atender todo o povo de Deus, nas suas diversas

ramificações.

Uma das razões pelas quais me dou este trabalho é porque vejo que nossas

Igrejas hoje alimentam uma forte tendência para adaptar aspectos empresariais nos

projetos de liderança cristã. Muitas Igrejas hoje só são movidas na base de

"marketeiros", em termos empresariais. E não creio que seja isso que Deus queira para

suas Igrejas.

Um item importante deste livro é que, ao final de cada capítulo, fornecerei um

quadro com aspectos teológicos de líderes da Bíblia.

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Minha esperança é que Deus abençoe os leitores desta obra e que se tornem

verdadeiros líderes cristãos, para a Glória de Deus.

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INTRODUÇÃO

A palavra “teologia” vem de duas palavras gregas: “theós” , Deus, e “logia”,

estudo, que quer dizer: “estudo a respeito de Deus”. Daí, podermos dizer que

"Teologia é o estudo de Deus e sua relação com o universo e com o ser humano".

Millard J. Erickson, define: "Teologia é o estudo ou a ciência de Deus" (Christian

Theology) (Ver Teologia do Louvor, Damy Ferreira), e Augustus H. Strong: "Teologia

é a ciência de Deus e a relação entre Deus e o universo" (p. 1). Por conseguinte,

Teologia Bíblica da Liderança Cristã "é o ramo da teologia que cuida da aplicação

prática da teologia bíblica - isto é, da teologia fundamentada na Bíblia - no contexto da

liderança”. Portanto, esta abordagem procura dar expressão prática à teologia. Na

verdade, ela se classifica dentro do que os eruditos chamam de “teologia prática”. Vista

normalmente como um equipamento dos cristãos, teologia prática é frequentemente

considerada mais pragmática do que especulativa; na verdade, essencialmente, a ciência

prática.

A partir do conceito acima, nosso estudo vai procurar descobrir, através da

Bíblia, o que é que Deus planeja e realiza com a liderança; por que Ele quer líderes;

para quê Ele quer líderes; que tipo de líderes Ele quer, e como essa liderança deve se

realizar, de acordo com a vontade, os planos e os objetivos de Deus. Evidentemente, a

única maneira de descobrirmos todos estes detalhes é pelo exame sério das Escrituras

Sagradas. Eis porque denominamos este livro de "Teologia Bíblica da Liderança Cristã"

A palavra "líder" é de origem inglesa e foi adotada pela primeira vez por A.

Binet a partir de 1900, “para designar pessoa que tem comando e influência em

qualquer tipo de idéia ou ação”.

Nicholas Murray Blutler, antigo presidente da Universidade de Colúmbia, nos

Estados Unidos, disse que há três tipos de pessoas no mundo:

a) As que não sabem o que está acontecendo;

b) As que observam o que está acontecendo;

c) As que fazem com que as coisas aconteçam (Nancy – Liderança Cristã, p. 21).

Esta última refere-se às pessoas que lideram, pois liderança é a capacidade de fazer com

que as coisas aconteçam.

Daí, liderança é “a arte de conduzir pessoas a objetivos e realizações bem

sucedidas”.

ORIGEM E FUNDAMENTO DA TEOLOGIA BÍBLICA DA

LIDERANÇA

Partindo do princípio de que "liderar é conduzir pessoas para objetivos e realizações

bem sucedidas", os fundamentos teológicos de liderança tiveram origem no Jardim do

Éden. Começamos com o conceito de pecado. Nos originais da Bíblia, uma das palavras

para pecado é: "chata´", que quer dizer: "errar o alvo". A outra é "pasha´", que quer

dizer: "transgredir, invadir, ir além, rebelar-se, ir além dos limites" ( Manual de

Teologia do Velho Testamento, B. A. Copass, Empresa Batista Editora, São Paulo, pp,

99,100).

Juntando o conceito de pecado com o conceito de líder, podemos dizer que a

necessidade de liderança nasceu com o trabalho que o Diabo realizou no sentido de

separar o homem de Deus, estabelecendo entre ambos uma grande distância. O ser

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humano estava no seu ponto central de estabilização, quando o Diabo, usando a

persuasão e a fascinação dos sentidos, o liderou para a direção da desobediência, da

participação da árvore do conhecimento do bem e do mal - isto é, liderou mal, no

sentido errado, na contra-mão do projeto de Deus para o ser humano. O Diabo,

prefigurado na serpente, tinha um objetivo: desviar o homem dos planos de Deus.

Essa liderança foi tão decisiva, que afetou o ser humano em toda a sua estrutura,

alterando também o seu destino. Daí, Deus iniciou um grande esforço no sentido de

reconduzir o ser humano ao seu ponto original, de plena comunhão com Deus.

Por esta ótica, percebemos que todo o plano redentivo de Deus vai no sentido de

conduzir, liderar o homem ao seu retorno a Ele. E é aqui que reside o fundamento da

Teologia Bíblica da Liderança Cristã. A liderança cristã lida com todo esse processo de

recondução do homem a Deus. Todo o empreendimento cristão: a Igreja, as missões, a

evangelização, o ensino, os seminários - tudo está ligado a este fundamento.

Portanto, quando nos envolvemos em liderança cristã, temos de ter em mente este

conceito. Na liderança, não trabalhamos meramente para uma organização cristã, e,

muito menos, para o nosso proveito próprio, mas para Deus. Na verdade, somos

movidos por Ele para executarmos seus propósitos.

E, com certeza, foi no Éden que nasceu o plano de redenção, e, por conseguinte, foi

plantada a semente do cristianismo, quando Deus disse que da mulher nasceria um que

esmagaria a cabeça da serpente (Gn. 3.15), que os teólogos chamam de "proto

Evangelho".

É a partir do Éden, portanto, que vamos trabalhar toda a Teologia da Liderança

Cristã. E ela está sendo chamada Teologia Bíblica da Liderança, porque não há teologia

cristã - em nenhum dos seus ramos - que não seja baseada na Bíblia.

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A TEOLOGIA BÍBLICA DA HIERARQUIA

A palavra "hierarquia" é formada de duas partículas gregas: "hierós" ,

sagrado, e "archein", governar. Daí, o seu significado original é "governo

divino", executado por diversas ordens ascendentes (Enciclopédia de Bíblia,

Teologia e Filosofia....). No sentido secular, a hierarquia alude a qualquer tipo de

governo constituído por diversas camadas de autoridade, classes, grupos,

famílias, etc. Em outras palavras, "graduação de autoridade".

Essa hierarquia começa com Deus, que é o criador da liderança. Foi ele

quem idealizou a liderança para trazer o homem de volta a Si. E, na verdade, foi

Ele quem criou todas as ordens naturais e sobrenaturais do universo, e em todas

essas ordens há uma hierarquia, até mesmo entre os seres celestiais, como

veremos adiante.

A liderança no mundo de hoje se dá de maneira natural. Sendo o ser

humano um animal gregário, onde se juntam duas ou mais pessoas, aí surge um

líder. Até os animais possuem líderes. Mas essa liderança não atinge os ideais de

Deus. O mundo não conhece os grandes ideais de Deus para os seus objetivos. O

grande ideal de Deus é trazer de volta o homem para si. Mas isso não pode ser

feito num passe de mágica. Antes, Deus prepara o ser humano através de Seu

Filho Jesus Cristo, pela sua morte vicária na cruz, e percorre um longo caminho

para que esse ser humano reassuma a natureza apropriada para viver no

ambiente de Deus - a eternidade

Portanto, a liderança cristã começa com Deus, em Cristo. Deus é o

principal mentor da liderança.

Tenho consultado autores que dizem que não existe hierarquia na

liderança cristã, e muito menos autoridade, mas que tudo é feito pelo amor. Que

tudo tem de ser feito pelo amor e pelo Espírito de Deus, é verdade, mas a

hierarquia sempre existiu e é inevitável.

Quando estudamos a Doutrina Bíblica dos Anjos (ver minha revista sobre

o assunto), percebemos que no Céu há uma hierarquia entre os seres celestiais.

Inicialmente notamos a graduação de Anjo e Arcanjo. Assim, Gabriel é um Anjo

que assiste na presença de Deus, como em Lc. 1.19, mas Miguel é um Arcanjo -

um posto mais elevado do que o de Gabriel.. Em Ap. 8.2 lemos de 7 anjos que

assistem diante de Deus. Além desses, ainda temos os Querubins e os Serafins,

que parecem estar numa posição acima do Arcanjo.

E sabemos que, quando um Anjo altamente graduado, Lúcifer,

sobrepujou a hierarquia celestial, querendo tomar o lugar de Deus, foi expulso

da Glória de Deus. Há dois textos que são usados para fundamentar esta verdade

que trata da origem de Satanás. Os textos são: Isaías 14.12-17 e Ezequiel 28.1-

19 (Ver minha revista: A Doutrina Bíblica dos Anjos - edição do autor).

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Ao longo da Bíblia, notamos Deus agindo através de uma liderança

hierarquizada. Até mesmo a família era composta de um patriarca, que era

obedecido por todos os seus descendentes.

Nas genealogias, constantemente vemos as listas começando com os

líderes ou cabeças das diversas famiílias.

Moisés tinha seus auxiliares diretos, como Arão, Hur, Josué, Caleb, e

mais tarde os chefes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez. Mais tarde ainda, no

episódio das codornizes, quando Moisés reclamou o peso da sua tarefa, Deus lhe

deu mais 70 anciãos para ajuda-lo, que estariam sob suas ordens (Nm.

11.16,17).

Na liderança cristã do primeiro século havia uma hierarquia.

Inicialmente, os apóstolos "strictu sensu", isto é, os doze, eram os líderes

principais. Mas havia outros, principalmente na Igreja local. Por exemplo, o

"bispo" era um supervisor na Igreja local: "aquele que olha por cima". O

"Presbítero", era um ancião, mais experiente, que era acatado como conselheiro

dos líderes mais novos. E assim por diante.

Naturalmente a Igreja católica levou este princípio para outro lado, pondo

o Papa como líder único e universal e deixando sob suas ordens outros escalões

menores.

De qualquer maneira, em nosso sistema de liderança cristã de hoje há

também uma certa hierarquia - isto é, funções maiores, funções menores, dentro

da Igreja local, e que devem ser obedecidas. Paulo ilustra bem essa hierarquia

comparando a Igreja a um corpo, onde todos os membros são importantes, mas

cada um tem uma função. E, naturalmente, há uma hierarquia no corpo humano.

A cabeça, por exemplo, comanda todo o corpo, mas precisa de todos os demais

órgãos, principalmente do coração.

A falta de humildade para cumprir esta regra tem gerado tantas novas

Igrejas, pois alguém, que não tem humildade para ser liderado, acaba criando seu

"mundinho" para ser seu "Reizinho".

A HIERARQUIA E A AUTORIDADE

Como resultado do conceito de hierarquia, vem a necessidade de se falar sobre

autoridade. Com efeito, hierarquia pressupõe a existência de autoridade ou líder

investido de autoridade, de poder sobre outros.

O termo "autoridade" vem do latim, "auctoritas, que por sua vez é derivada de

auctor, "causa", "patrocinador", "promotor", "fiador". "Auctoritas era o termo legal

romano para indicar a fiança em uma transação, a responsabilidade por um menor de

idade, ou o peso de uma opinião. O Senado Romano tinha uma autoridade que não

podia ser ignorada" (Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia....).

Para não nos estendermos muito, podemos dizer que autoridade é o poder

exercido por alguém em virtude de sua função ou posição na hierarquia de determinada

organização ou corporação.

Na Bíblia notamos sempre a presença de líderes com autoridade. Moisés era

autoridade sobre Israel, bem assim, em escala descendente, seus auxiliares. Quando

Israel adotou o Reinado, os Reis eram autoridade, bem assim seus subordinados, em

escala descendente. Por outro lado, os Sacerdotes e os Profetas eram autoridades, isto é,

respeitados como superiores, até mesmo por Reis. E entre os Sacerdotes, havia o Sumo

Sacerdote e os outros Sacerdotes.

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Nos dias do Novo Testamento, os apóstolos "strictu sensu" eram autoridades.

Em diversas passagens bíblicas notamos essa demonstração por parte deles, como: Atos

5.1; 15; João 20.21,22; Mt. 16.17. Eis porque o escritor aos hebreus recomenda que o

povo deveria obedecer aos seus pastores (algumas versões usam a palavra "líderes") -

Hb. 13.17.

No período pós-apostólico, a Igreja possuía líderes com autoridade, tais como:

Bispos, Presbíteros, Pastores, Pais da Igreja, e outros.

Naturalmente a autoridade na liderança provém de Deus. Ela é importante para

que a liderança se estabeleça. É bom notar que Deus engrandeceu Moisés no Egito,

tanto diante de Faraó, como diante do seu povo, para que ele fosse obedecido como

autoridade. Igualmente, quando Josué assumiu o lugar de Moisés, o próprio Deus disse

que iria engrandece-lo diante do povo, para que ele fosse obedecido como autoridade.

Assim, na liderança cristã deve haver líderes investidos de autoridade para que

possam exercer o comando do grupo, mas essa autoridade deve vir de Deus e deve ser

exercida na base do amor. O líder autoritário não irá muito longe. O verdadeiro líder

imporá a sua autoridade pela maneira como faz o seu trabalho, na dependência de Deus.

A melhor autoridade é aquela que, pela natureza, postura e vida do líder, é aceita

de bom grado pelos liderados. Os verdadeiros líderes se impõem pelo seu poder interior.

Geralmente são humildes e despretensiosos, como foi o caso de Moisés, Josué, e outros

líderes da Bíblia.

John Haggai, em seu livro: Seja Um Líder de Verdade, trata da liderança em

termos de princípios. Ele discorre sobre doze princípios, e um deles é o da autoridade

(Ob,. Cit. P. 239).

Bruce Grubbs, discorrendo sobre "A Autoridade na Liderança, alista as seguintes

categorias de autoridade:

1. Autoridade de Função. Um pastor, em razão da sua função, é autoridade - e

essa autoridade é concedida pela Igreja.

2. Autoridade de Carisma. A maneira como a pessoa usa seu potencial na sua

liderança exerce certa força sobre os liderados. Chamamos a isto "carisma".

3. Autoridade de Habilidade. Pessoas que sabem sobre aquilo que estão fazendo

e o fazem com habilidade. Fazem bem o que fazem e com maestria. Isso é autoridade de

habilidade.

4.Autoridade de Personalidade. Você, com sua maneira de ser e de exercer sua

influência sobre outros, faz a "autoridade de personalidade".

5. Autoridade de Missão e Confiança. Pessoa que sabe para onde vai e

demonstra firmeza nos seus objetivos e propósitos, leva seus liderados a confiarem

nelas (A Autoridade na Liderança, Bruce Grubbs - Publciado pela Revista

Administração Eclesiástica, Jan. Fev.. Mar. 1986 - Juperp, pp.6,7).

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Caixa 1. ASPECTOS TEOLÓGICOS DA VIDA DE NOÉ

Apesar de muita discussão sobre a origem do nome "Noé", concluímos que ele está ligado à idéia de "consolo e descanso", que é reforçado com o texto que se refere ao seu nascimento - Gn. 5. 29 (Dic. Bíblico Douglas).

O texto de Gn. 6.9 mostra o caráter de Noé: "varão justo e reto em suas gerações; Noé andava com Deus". Eis a razão porque Deus escolheu Noé para o Seu grande plano do dilúvio.

Dentro de uma sociedade que estava totalmente corrompida (Gn.6.5), Noé era homem íntegro e justo, e mantinha comunhão com Deus. O texto de Gn. 6.8 diz que Noé "achou graça aos olhos do Senhor". Eis aí a nossa tese da linha religiosa monoteísta - religião não revelada, mas passada por tradição.

Quando Deus chamou Noé para o grande projeto da Arca, determinou o tempo de 120 anos para que tudo fosse preparado e, naturalmente, para que Noé se tornasse o pregoeiro da justiça. No entanto, durante todo aquele tempo, ninguém se converteu.

No pacto que fez com Noé (Gn. 6.18-22; 9.9-27), Deus estava preservando boa semente humana para o futuro do Seu plano maior, inclusive os meios de subsistência, pois incluía animais no plano de salvação, sem os quais o homem não poderia sobreviver.

Como já dissemos acima, o relato do dilúvio não nos fornece detalhes da liderança de Noé. No entanto, outros textos da Bíblia mostram alguns aspectos dessa liderança. Pedro o chama de "pregoeiro da justiça" (2 Pe. 2.5). Em 1 Pe. 3.19, 20, Pedro faz menção, outra vez de Noé como pregador nos seus dias. O escritor aos Hebreus refere-se também a Noé como um líder referencial de seus dias (Hb. 11.7), e o Senhor Jesus, em Mt. 24.37-39, menciona Noé também como líder referencial. Usando Noé, Deus estava querendo formar uma nova humanidade.

Alguns detalhes, que às vezes nos escampam à observação comum, da personalidade de Noé, são notáveis:

Obediência ao plano de Deus. Deus deu a Noé uma planta para executar a arca. E a Bíblia é cuidadosa em dizer que Noé fez tudo de acordo com as medidas e o modelo dados por Deus.

Organização. Nem sempre paramos para pensar como Noé acomodou todo aquele zoológico dentro daquela Arca, e como proveu alimento para cada espécie - animais grandes e pequenos, carnívoros e vegetarianos. Isso era importante, pois o tempo em que estiveram confinados a um espaço pequeno foi bastante longo.

Criatividade. O episódio de soltar um corvo e uma pomba para saber se as águas já haviam baixado e se já havia porção seca, demonstra uma capacidade muito grande de criatividade e inteligência. Quando a pomba não voltou mais, ele concluiu que já era hora de sair da Arca.

Plena confiança nos planos divinos. Todo aquele projeto, para os dias de Noé, era muito estranho. O povo deveria zombar dele, mas ele confiava e tinha plena confiança no que Deus estava fazendo. Também não deveria entender nada de navegação e não consta que aquele "monstrengo", que hoje chamaríamos de navio, tivesse qualquer tipo de equipamento de navegação - nem mesmo um leme. Sua sorte estava plenamente nas mãos de Deus. E foi assim que ele se comportou plenamente confiante na direção de Deus.

O erro do justo. Depois que saiu da Arca e estabilizou a vida, Noé plantou uma vinha e do seu fruto produziu vinho e acabou se embebedando, o que causou um incidente um tanto escandaloso. Esse incidente, no entanto, mostra que Deus não espera que seus servos sejam perfeitos, mas sinceros. Os justos são humanos e também erram. Essa, aliás, é uma questão que nossas lideranças hoje precisam entender. Às vezes assumimos uma posição tão intolerante com as lideranças cristãs que não admitimos que elas cometam certos erros. Evidentemente, esses são casos que podemos chamar de "deslizes" . Não é o caso de líderes que se notabilizam por cometer erros, e principalmente erros morais.

Mas o mais importante na vida desse líder é que de seus filhos vão surgir todos os demais ramos da civilização. Um deles, os semitas, deu origem ao povo de Israel. Antonio Neves de Mesquita, em seu monumental livro: Povos e Nações do Mundo Antigo, discute com muita profundidade este assunto, onde os filhos de Noé funcionam como troncos principais da civilização pós diluviana.

Era Deus liderando e formando condições de liderança para o futuro. E onde está a teologia em tudo isto? Exatamente no fato de que Tudo estava sendo dirigido

por Deus, tendo um líder como instrumento, que obedecia Sua direção.

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3

A TEOLOGIA BÍBLICA DA METODOLOGIA

DE DEUS

Uma vez que o homem estava "morto" espiritualmente, Deus não

mantinha mais aquela comunicação natural que acontecia nos dias de Adão.

Na história bíblica, o primeiro expediente pontual de Deus, depois da

convivência com Adão, foi o encontro com Noé. Noé foi o primeiro líder usado

por Deus na tentativa de trazer a humanidade para si, pois toda ela estava

corrompida pelo pecado.

O relato do dilúvio não dá pormenores da liderança de Noé, mas outros

textos da Bíblia mostram alguns aspectos dessa liderança. Pedro o chama de

"pregoeiro da justiça" (2 Pe. 2.5). Em 1 Pe. 3.19, 20, Pedro faz menção, outra

vez de Noé como pregador nos seus dias. O escritor aos Hebreus refere-se

também a Noé como um líder referencial de seus dias (Hb. 11.7), e o Senhor

Jesus, em Mt. 24.37-39, menciona Noé também como líder referencial em seus

dias. Usando Noé, Deus estava querendo formar uma nova humanidade.

Depois de Noé, a outra referência é Abraão, que foi grande líder,

respeitado entre os seus e também entre os seus vizinhos em Canaã. E de

Abraão, vieram Isaque e Jacó, seus filhos, que também foram líderes.

Com Abraão, Deus começou a usar uma outra metodologia: um

empreendimento corporativo - começou a formar uma nação.

Dentro dessa metodologia, José foi um grande elo. Ele foi um líder

pontual, de caráter mundial do seu tempo, a partir do Egito.

De José vamos para Moisés, que é outro grande elo, pois Deus se revela a

ele e o leva a organizar um sistema religioso revelado, para continuar a formar

um povo especial, Seu.

Moisés foi o líder por excelência no plano de Deus. Ele conduziu Sua

nação para a terra prometida, e estabeleceu a sua primeira estrutura como povo,

dando-lhe leis e estatutos, bem assim, dando-lhe todo o seu sistema de religião.

Nota-se que em todo esse processo, Deus escolheu um homem, formou

dele uma nação para liderar o mundo na direção maior do Seu plano Redentivo.

O DESENVOLVIMENTO DE UMA RELIGIÃO MONOTEÍSTA NÃO

REVELADA

Depois do pecado, Adão, Eva e seus filhos foram postos fora do Éden. Ali, fora

do Éden, quando Deus não mais se comunicava naturalmente com Adão, surgiu uma

atitude de culto. Caim e Abel comparecem diante de Deus para culto. O Culto de

Abel é aceito e o de Caim, não.

Caim era mau e acabou matando seu irmão. Caim saiu dali e foi para a Terra de

Node. Naturalmente, o texto não fala da cronologia entre esses fatos. Nesse

intervalo Adão e Eva devem ter tido filhas e filhos como especifica Gn. 5.4, e o

povo já havia se multiplicado. Mas é curioso que depois do incidente com Caim e

Abel, o texto de Gn. 4 amplia a genealogia de Caim. Ali aparece Lameque,

descendente de Caim, o primeiro polígamo da história bíblica e também outro

homicida (4.23). E só depois, em 4.25, relata o nascimento de Sete. Não quer dizer

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que Adão e Eva não tiveram mais filhos e filhas antes de Sete. Nota-se que a Bíblia

registra o nascimento de Sete, pois ele vai continuar a linhagem de Abel.

OS DESCENDENTES DE SETE ATÉ NOÉ

Depois o texto sagrado faz questão de desenvolver a genealogia de Sete. E

quando nasce Enos, filho de Sete, se começa a invocar o nome de Deus. É

importante observar que antes não aparece a palavra "invocar", pois a comunicação

com Deus era direta e natural. Essa genealogia vai terminar em Noé. E Noé vai

"achar graças" aos olhos de Deus.

Antônio Neves de Mesquita diz em seu comentário de Gênesis, que "A linhagem

de Caim pereceu no Dilúvio e a de Sete tomou possessão da terra" (p. 121). Sem,

filho de Noé, continua a linhagem de Abel e Sete, segundo A. N. Mesquita, e é daí

que continua a religião monoteísta na região da Mesopotâmia, de onde vai surgir

Abraão, da linhagem de Sem. Eis porque os Hebreus são Semitas.

A. N. Mesquita menciona que essa religião antecedeu o politeísmo (143-145), ao

contrário do que alguns teólogos defendem, que a história começa com politeísmo e

vai para o monoteísmo. Esse monoteísmo era tão evidente, que o próprio Livro dos

Mortos, do Egito (cerca de 5000 anos A. C. ), usava o correspondente de "El", Deus

Altíssimo, de onde surgiu a palavra Elohim, como "Il". E não foi sem razão que, no

ano 1400 A.C., Amenotep IV, Faraó do Egito, criou uma religião monoteísta,

dedicada ao "disco solar" (daí ele se chamou Iknaton, que quer dizer herege, pois

acabou com todas as demais religiões do Egito). Depois que Noé sai da Arca, ele

apresenta sacrifícios a Deus, o que prova que aquela linhagem continuava cultuando

a Deus.

OS FILHOS DE DEUS E AS FILHAS DOS HOMENS

Uma questão que se torna inevitável nesta tese, é a menção de "filhos de Deus e

filhas dos homens, em Gn. 6.1.1-13. A maioria dos autores, traduzem "filhos de

Deus" da palavra "Anjo". E daí, dizem que Anjos - filhos de Deus - tiveram

relações com mulheres. Vários autores e vários rodapés de Bíblicas, como é o caso

da Bíblia Anotada da Editora Mundo Cristão, comentando o v. 2, dá esta opinião,

como uma das opções. Ora, a julgar pelos textos de Mc. 12.18-27 e Mt. 22.23-33, na

disputa dos Saduceus contra Jesus, os Anjos são assexuados. Em parte alguma da

Bíblia encontramos alguma referência de reprodução de espécie entre Anjos, nem

mesmo demônios.

O Anjo e Arcanjo que aparecem na Bíblia, cujos nomes são Gabriel e Miguel,

nunca morreram. Se tomarmos apenas o tempo de Daniel até o tempo do nascimento

de Cristo, vamos ver que eles nunca morreram. Mesmo que os "Anjos caídos"

pudessem fazê-lo, não poderiam ser chamados de "filhos de Deus". Sem mencionar

outras opiniões contrárias, uma das mais fortes é que às vezes "anjos",

principalmente na Septuaginta, são traduzidos por "filhos de Deus". Para afirmar

isso, alguns usam Judas 6,7, que parece indicar que, como Sodoma e Gomorra, cujo

pecado foi sexual, Anjos teriam passado por uma certa transmutação, para terem

contato com mulheres. Mesmo que assim fosse, não poderiam ser chamados, é

claro, "filhos de Deus".

É bom lembrar que a Bíblia, às vezes, chama "Anjos" de "filhos de Deus", mas

nunca no livro de Gênesis. Ademais, especialistas dizem que a Septuaginta violou o

texto hebraico e torceu o significado da palavra, acomodando o texto a uma certa

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teologia Alexandrina. O texto de Judas 6,7, apenas quer dizer que, como os de

Sodoma e Gomorra desviaram as finalidades para as quais foram criados - as

finalidades da vida - assim também os Anjos caídos, o fizeram, mas nada indica que

a menção seja a sexo.

E sobre os gigantes que aparecem no mesmo contexto? A. N. Mesquita diz: "As

palavras originais são: nephilim, nefil, do verbo nefal, que significa cair. A palavra

"nefil", pode ser traduzida por "valentão", "tirano". Isto nada tem a ver com anjos".

E continua: "Os filhos de Deus são os descendentes de Sete e as filhas dos homens

são as descendentes de Caim. Esta teoria se baseia, principalmente, no texto de Gn.

4.26, que diz: "daí se começou a invocar o nome do Senhor", isto é, a partir de Sete.

Uma melhor tradução, diria: "Então começaram os homens a ser chamados pelo

nome do Senhor".

Millard J. Erickson conclui o assunto, depois de apresentar suas dificuldades,

assim: “É necessário concluir que não há suficiente evidência para justificar esta

passagem como uma fonte de informação sobre anjo” (Idem, idem, p.443).

Mais uma vez fica claro que surgiram, depois do Éden, duas linhagens de

pessoas: os crentes, da linha de Abel-Sete, e os incrédulos, da linhagem de Caim. A

linhagem de Sete, desenvolveu essa religião monoteísta, passada por tradição. É

importante lembrar que isto foi cronologicamente possível. A. N. Mesquita diz,

referindo-se às genealogias dos capítulos 4 e 5: " Esta lista de antediluvianos é a

mais antiga que possuímos e a que mais importância tem para nós. Comparando as

diversas idades destes homens, descobrimos que Matusalém foi contemporâneo de

Adão e Noé, o primeiro e o último da primeira parte da história humana. Ele foi

contemporâneo de Adão 243 anos, e 600 de Noé. Lameque, pai de Noé, foi

contemporâneo de Adão 56 anos e apenas 123 anos mediaram entre a morte de

Adão e o nascimento de Noé. Desta forma, toda a revelação dada a Adão por Deus

pode ser transmitida quase pessoalmente a Noé" (Comentário de Gênesis, pp121-

122).

É curioso observar como Noé, logo depois de sair da Arca, prestou culto a Deus,

como se isso já fosse comum na vida dele e de suas gerações.

MELQUISEDEQUE, REI E SACERDOTE DE SALÉM, E JETRO,

SACERDOTE DE MIDIAN

Há dois pilares muito fortes nesta argumentação de uma religião tradicional, não

revelada: O primeiro, é o surgimento de Melquisedeque, denominado "Sacerdote do

Deus Altíssimo" (Gn.14.18), a quem Abraão deu o dízimo de tudo quanto possuía.

Naturalmente ele aparece sem mais nem menos na história, como argumenta o escritor

aos Hebreus, mas isto quer dizer que ele representava um sistema religioso ao qual,

possivelmente, Abraão estava ligado. O Salmo 110.4, refere-se a Melquisedeque, outra

vez - sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque. E isto liga esse Sacerdote

ao Messias, o que, mais tarde, será o argumento da Epístola aos Hebreus. Tudo isto

indica que esse Sacerdote pertencia à uma religião monoteísta, que servia ao Deus vivo,

mesmo antes da religião revelada a Israel. E não há dúvida de que esse "Deus

Altíssimo", El-Elyon, é o mesmo Deus de Israel, uma vez que algumas versões antigas

do V.T. colocam Yahweh antes de El-Elyon Eis porque Deus chamou. Abraão para

formar um povo Seu.

O outro pilar importante é o surgimento de Jetro, sacerdote de Mídiã. A Bíblia

simplesmente diz que Jetro era Sacerdote e Príncipe em Mídiã, mas não fala da sua

religião. Tem havido uma grande discussão sobre este assunto. Alguns acham até que o

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nome Yahweh já era usado pelos midianitas, mas isto não fica comprovado. Todavia,

pelo fato de Deus ter permitido que Moisés fosse para Midiã e para a casa de Jetro, e até

de aparentar-se com ele, mostra que Deus o aprovava. Na nossa opinião, Jetro era mais

um Sacerdote dessa religião monoteísta que servia ao Deus Altíssimo - El-Elyon,

religião não revelada, mas aprovada por Deus, como no caso de Melquisedeque.

Na verdade, por determinação de Deus, estava se firmando uma transição entre

aquela religião, que Deus aprovava, e a religião revelada de Israel, que seria passada

diretamente para Moisés, num longo caminho de aperfeiçoamento, até chegar a Cristo.

Este é um assunto que tem sido pouco debatido modernamente, mas que a

literatura teológica antiga é bastante definida. Ele mostra a trajetória da redenção desde

o Éden até Cristo, sem que as gerações se afastassem totalmente de Deus.

Da geração de Caim, desenvolveram-se as religiões pagãs, cheias de idolatria. E

sabe-se que o nome original para ídolo é "demônio". Satanás dominava grande parte do

mundo, eis porque tentou mostrar ao Senhor Jesus Cristo que ele era dono de todos os

reinos do mundo, e poderia dar-lhe, se Ele, prostrado, o adorasse.

A QUESTÃO DA TORRE DE BABEL NA METODOLOGIA DE DEUS

Gn. 11.1-9

O incidente da Torre de Babel reponta como uma rebeldia contra os propósitos

de liderança de Deus. A ordem original de Deus era para que o ser humano se

multiplicasse sobre a face da terra. A idéia da Torre de Babel procurava, ao contrário,

concentrar a humanidade em um só lugar.

Vamos analisar este assunto teologicamente, sob dois aspectos:

A Torre da Confusão

A expressão "Torre de Babel", originalmente, quer dizer "A Porta de Deus". A

palavra é de origem babilônica. Por causa dos sons, quando passada para o hebraico,

veio a significar "confundir" ou "confusão".

A metodologia maravilhosa de Deus para desviar aquele grupo do seu intento foi

confundir as línguas. Era notável o fato de que o povo falava o mesmo idioma até

àquela data. Deus poderia ter usado outro método para fazer parar aquele indesejável

empreendimento, mas como o Grande Líder, usou uma metodologia criativa e útil; não

comandou nada, fazendo apenas que cada grupo linguístico se juntasse aos seus pares.

Naturalmente, havia algumas intenções por parte daquele grupo da Torre de

Babel.

A primeira intenção era alcançar o Céu, a habitação de Deus ou dos deuses. Os

antigos babilônios daquela região acreditavam que a habitação de Deus ficava nas

nuvens. As tradições babilônicas, gregas e romanas pensavam no céu para cima, no

alto, e, o Olimpo grego, o lugar dos deuses ficava num dos montes da Tressália, a 2.929

metros de altura. Homero dizia que as nuvens eram os “portões do Céu”. Na verdade,

Eles não tinham nenhuma noção de distâncias espaciais.

De qualquer maneira, esta intenção era um outro “fruto proibido”, e não

agradava a Deus. Eis porque Deus veio para atrapalhar aquela liderança.

A segunda intenção daquele grande projeto da Torre de Babel era não se

espalharem para longe uns dos outros – uma questão de segurança. No entanto, isto

frustrava os propósitos de Deus de povoar a terra.

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É curioso notar que Deus re-planejou tudo após a queda de Adão. Em pontos

esparsos da Bíblia, notamos aqui e ali, sinais desse re-planejamento. Por exemplo, à

certa altura, Deus diz a Abraão que os descendentes dele peregrinariam por 400 anos

porque as "medidas dos cananeus não estavam ainda cheias". Ora, se Deus fez este

planeta tão grande, Ele tinha muitos planos para ele ao longo da história. Notamos que

até as mulheres, segundo a ginecologia, possuem um número certo de óvulos para

produzir filhos. Eis porque Deus queria, sim, encher a terra, fazer o ser humano

progredir dentro de uma certa diversidade para chegar à "plenitude dos tempos" a que se

refere o apóstolo Paulo, na sua Epístola aos Gálatas..

A terceira intenção era conservar um nome, para torna-lo célebre, mas isto

também não faz bem a nenhum tipo de liderança. Portanto, Deus eliminou o projeto e

ele ficou, para a posteridade, como uma obra inacabada.

A Torre da Globalização

O grupo se dispersou e, ao longo dos séculos se aglomerou em diversas partes

do Planeta. Desenvolveu culturas, desenvolveu religiões. Passou por fases de barbárie,

por fases de obscurantismo, e entrou em fases de cultura, ciência e tecnologia. Veio a

época das descobertas, das invenções. Surgiu a industrialização. Desenvolveram-se os

meios de comunicação, de conhecimento. Um aprendeu a falar a língua do outro. E

hoje, o mundo é, mais uma vez, uma Torre de Babel, como se todos estivessem reunidos

num mesmo lugar. Pelos modernos meios de comunicação, pelo sistema de satélites, de

internet e de telefonia, todos estão juntos outra vez.. E, desta vez, mais dependentes uns

dos outros do que antes. Daí, a atual crise mundial.

Tudo isso indica que Deus precisa de líderes que conduzam o mundo para a

verdadeira "Porta de Deus", que é Jesus.

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Caixa 2. ASPECTOS TEOLÓGICOS NA VIDA DE ABRAÃO O nome "Abrão", como era conhecido antes de ser chamado por Deus, significa "o pai é

exaltado". Se "pai" se refere a Deus, isso já revela a posição espiritual de Abraão. Quando recebeu a promessa de Deus, seu nome foi mudado para Abraão, que significa "pai de multidões" (Gn. 17.5).

A partir da atitude de Abraão, de maneira natural, de se relacionar com o Sacerdote Melquisedeque, chamado "Sacerdote do Deus Altíssimo", antes mesmo de haver uma "religião revelada", é tese deste autor que Abraão pertencia a uma religião tradicional, não revelada, mas que era monoteísta e adorava o "Deus Altíssimo", na mesma linhagem de Melquisedeque.

Muitos autores não relacionam Abraão como líder, pois ele, realmente liderou apenas sua família, mas ele foi referencial de Deus por onde andou e, sobretudo, era um potencial da formação da grande Nação de Israel e, como referencial, é chamado "pai da fé", eis porque sua liderança atinge, de certo modo, até nossos dias.

Um dos episódios que mais revela o caráter e a capacidade de liderança de Abraão, está no seu envolvimento na guerra de quatro reis contra cinco, registrada no capítulo 14 de Gênesis. No texto, os reis de Sodoma e Gomorra, onde morava o sobrinho de Abraão, Ló, acabaram sendo derrotados e seu povo levado cativo, indo com eles, também, Ló, seu sobrinho (Gn. 14.1-24). Alguém que escapou da chacina, veio procurar Abraão, o que demonstra que ele era conhecido e respeitado como líder (Gn. 14.12-13).

Abraão, sabendo do ocorrido, reuniu seus criados nascidos em sua casa, 318 homens, montou uma estratégia, e derrotou os invasores, trazendo todos os cativos de volta, inclusive seu sobrinho Ló, e todos os bens dele que haviam sido tomados.

Nesse episódio, mais um indício do reconhecimento da liderança de Abraão: Melquisedeque, rei de Salem, Sacerdote do Deus altíssimo, veio ao encontro de Abraão, trazendo-lhe alimento e bebida.

Ao terminar todo o procedimento de guerra, o rei de Sodoma queria deixar todos os bens capturados para Abraão. A atitude não ambiciosa de Abraão, mostra, mais uma vez, seu caráter e o tipo de líder que era (Gn. 14.21-24).

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4

A TEOLOGIA BÍBLICA DO

EMPREENDIMENTO DA LIDERANÇA

O REINO DE DEUS

No mundo, toda liderança visa um empreendimento, uma causa. Na Liderança

Cristã, o empreendimento é o Reino de Deus. Deus lidera homens e mulheres no

estabelecimento do Seu Reino na Terra. Geralmente vemos nas Igrejas, o povo

liderando sem essa visão, e aí trabalham apenas para o seu proveito próprio. O grande

propósito de Deus é restabelecer seu domínio sobre os seres humanos, domínio esse que

foi usurpado pelo Diabo. E isso Ele só pode fazer através de instrumentos humanos.

Para esse Reino, Deus planejou enviar Seu filho - o Messias.

Aqui é muito importante falar um pouco sobre esse reino de Satanás ou do

Diabo. Quando o Diabo induziu o primeiro casal ao pecado, na verdade foi criada uma

natureza na estrutura humana capaz de responder ao seu domínio.

Ao longo de todo o Antigo Testamento, como já mencionamos, notam-se duas

linhagens entre a humanidade: A linhagem do Príncipe deste mundo ou "filhos dos

homens", e a linhagem do Reino de Deus ou "Filhos de Deus". Eis porque as religiões

politeístas, idólatras, proliferaram em todas as culturas, e uma das traduções dos

originais para "ídolo" é "demônio".

O Evangelho de João registra várias referências de Jesus ao " Príncipe deste

mundo" ( João 12.31; 14.30; 16.11). E a grande tarefa de Jesus na cruz era vencer esse

"príncipe". O apóstolo Paulo, em 2 Co. 4.4, chama-o de "deus deste século", em Ef. 2.2,

chama-o de "príncipe das potestades do ar", e, ainda, em Ef. 6. 12, "príncipe das trevas

deste século".

Como veremos no próximo capítulo, Jesus disse que "edificaria" Sua Igreja, e

"as portas do Inferno" não prevaleceriam contra ela, dando a entender que, mesmo com

a sua vitória garantida no Calvário, a luta continuaria até o fim dos tempos, na

consumação de todas as coisas.

Por esta razão, é muito importante, na Teologia Bíblica da Liderança Cristã,

termos consciência e crermos na existência desse principado diabólico, para que

entendamos o que significa o Reino de Deus como empreendimento, tendo a Igreja

como sua agência, e os crentes como seus líderes.

Por empreendimento, neste trabalho, entendo a realização de um projeto

devidamente programado, estruturado e organizado. Deus preparou tudo, traçou seu

programa e o empreendeu, isto é, o levou à realização. Antes de enviar o Messias, Deus preparou um líder - João Batista, para abrir-lhe

o caminho. Quando o Messias chegou, a primeira coisa que fez foi escolher líderes.

Escolheu 12 e depois escolheu 70, e os treinou para liderar. Notem que Deus não usou

Anjos para ajudar o Messias, mas seres humanos.

Apesar das muitas discussões sobre o assunto, entende-se que Jesus inaugurou,

na Sua primeira vinda, o Reino de Deus. Mais tarde, na Sua segunda vinda, o Reino

será realizado. Então, em escatologia, temos duas fazes da implantação do Reino de

Deus na terra: o Reino inaugurado, que aconteceu com a chegada de Jesus, e o Reino

realizado, que acontecerá na volta de Jesus.

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E a expansão do Reino começou a ser feita através dos líderes que Jesus

escolheu e preparou - os Apóstolos.

O livro de Atos dos Apóstolos relata os começos desse empreendimento.

Organizada a Igreja do Senhor Jesus Cristo, repontam os líderes e o empreendimento

vai tomando forma. Inicialmente, os doze ficaram em Jerusalém e davam assistência aos

que iam sendo acrescentados à Igreja.

Um primeiro passo na organização do empreendimento foi a instituição dos

diáconos, ou a eleição dos sete, diante das dificuldades surgidas entre os Ministérios da

Palavra e da Oração, e a ministração do social.

Com o martírio de Estevão, o empreendimento tomou a forma de missões. Os

que foram dispersos, anunciavam a Palavra por onde passavam, e Igrejas foram

surgindo, até que se estabilizou a Igreja de Antioquia da Síria, que foi a grande Igreja

missionária.

Nota-se que o Espírito Santo estava dispersando o povo para que não se

acomodasse numa mega-igreja como a Jerusalém. Assim, enquanto uns foram para

Antioquia, Filipe foi para Samaria, e ali também o Evangelho começou a crescer.

Notamos aqui dois aspectos muito interessantes na teologia bíblica do

empreendimento:

1. Deus não quer mega-Igrejas, mas muitas igrejas, espalhadas por todas as

partes. E isto está de acordo com o que o Senhor Jesus quis ensinar quando

contou a parábola das cem ovelhas: "Um homem tinha cem ovelhas...",

começou Jesus a sua parábola da ovelha perdida. E é curioso notar que entre

cem, ele percebeu facilmente a falta de uma. Num rebanho de cem ovelhas,

a periferia do grupo é facilmente acudido e assistido pelo Pastor. É um

compacto que o pastor pode vigiar e atender normalmente. Mas numa grande

Igreja, o pastor nem conhece suas ovelhas. Nosso mundo evangélico

moderno precisa assimilar essa teologia. A ambição de Igrejas muito grande

hoje é totalmente contrária a esta teologia: os líderes querem Igrejas grandes,

como verdadeiras empresas, e não agências do grande empreendimento de

Deus. Numa mega-igreja não há pastoreio. Recentemente, estava ouvindo

um meu aluno de seminário, casado, e que estava vivendo uma crise conjugal

muito aguda. Ao ouvi-lo longamente, disse-lhe que ele precisava de um

aconselhamento pastoral mais demorado e profundo, que eu não poderia

fazer como seu professor. Disse-lhe, então, que procurasse seu pastor.

Então, fui surpreendido com esta resposta: "meu pastor nem sabe que eu

existo; minha Igreja é muito grande"!

2. Em segundo lugar, à proporção em que o empreendimento foi em frente, e as

igrejas foram se multiplicando, novos líderes foram se levantando, como foi

o caso de Paulo, Silas, e outros.

O empreendimento prosseguiu. A grande preocupação de Paulo no

surgimento das Igrejas era a liderança. Por isso, escrevendo a Tito, relembrava

que o havia deixado em Creta para que pusesse as coisas em boa ordem e que de

cidade em cidade estabelecesse presbíteros (Tito 1.5).

Nota-se que este sistema de dirigir as Igrejas através de líderes locais

estabelecidos pelo Espírito Santo era para sempre. Eis porque, na visão do

Apocalipse, o Senhor Jesus instrui João a escrever aos Anjos das Igrejas, isto é,

aos pastores ou bispos, focalizando os problemas existentes em cada Igreja e

dando o desafio para que esses problemas fossem resolvidos.

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Alguns autores acham que esses "Anjos" eram realmente Anjos que

cuidavam das Igrejas. Claro que se fossem Anjos, Jesus não precisaria escrever-

lhes cartas.

NEGOCIAI ATÉ QUE EU VENHA - Lc. 19.11-27

Um dos aspectos mais fascinantes desta idéia do empreendimento vamos

encontrar na parábola dos dez servos e das dez minas, registrada em Lc. 19.11-27.

Quero tomar como cerne do assunto a expressão: "negociai até que eu venha".

Segundo os melhores intérpretes das Escrituras, Jesus formulou esta parábola de

um fato histórico do seu tempo. E é o que tentaremos recompor.

Herodes, o grande, morreu em 4 aC., e deixou o Reino para seus filhos Antipas,

Filipe e Arquelau. A Judéia ficou para Arquelau, mas o ato deveria ser ratificado por

Augusto, o Imperador de Roma. Arquelau foi para Roma negociar o Reino com

Augusto, mas 50 judeus foram protestar diante do Imperador. Eles não queriam que

Arquelau reinasse sobre eles. O Senhor Jesus era menino em Nazaré quando isso

aconteceu.

Pode ser que haja alguma relação entre esse fato histórico e essa parábola.

A frase que ressalta aqui é: negociai até que eu venha. Quer dizer: “Perseguir

com vigor, correr atrás do negócio, empreendimento de natureza comercial, para obter

lucro”. E realmente o Reino de Deus é um empreendimento que deve ser "negociado",

posto à disposição para transação. É mais ou menos isto que Jesus quer dizer quando

declara que os "homens empregam esforço para entrar nele", isto é, no reino.

Naturalmente temos aqui, primeiramente, a idéia do Senhor ausente e do servo

negociante.

Jesus realizou Sua obra de salvação e foi para o Céu e entregou à sua Igreja a

missão de proclamar o evangelho, de fazer discípulos. As bases do negócio ficaram

definidas: Ele comprou almas com Seu sangue (Ap. 5.9; 1 Co. 6.20; 7. 23).

A tarefa de empreender a conquista é da Igreja, dos servos. E só o crente salvo

pode trazer outros para a salvação. Eis porque o Senhor Jesus determinou que seríamos

suas testemunhas (At. 1.8).

Conta-se que quando Jesus chegou ao Céu, os Anjos vieram saudá-lo e lhe

perguntaram se o plano de Salvação havia sido completado. Ele respondeu que sim.

Mas eles indagaram como esse plano iria chegar ao conhecimento de todas as pessoas

no mundo, em todas as eras. Jesus respondeu que havia deixado seus apóstolos e

discípulos – sua Igreja – encarregados de fazê-lo. Então um Anjo insistiu: “E se eles

falharem?”. Ao que Jesus respondeu: “Eu não deixei outro plano”.

Diante da importância da tarefa, nós, os servos, temos de negociar bem os

valores do Senhor ausente. Isto significa dar importância ao trabalho a ser feito, planejar

bem os empreendimentos, descobrir a melhor estratégia para alcançar os objetivos, usar

os melhores meios, como disse Paulo: "por todos os meios" (1 Co. 9.22), trabalhar com

garra e determinação.

Nessa parábola, o interesse ou o objetivo de Deus é "tomar para si" um Reino. É

curioso observar que hoje muitos que dizem trabalhar na Causa de Deus, buscai

interesses para si. Eles não estão "tomando para Deus" um Reino, mas tomando para si:

um poder econômico, um nome, um negócio. Olhe ao redor. Veja como os líderes

fundadores de Igrejas estão agindo.

Para realizar a obra para Deus, ele deu valores aos servos que aqui representa

capacitação. Ele chamou dez servos e deu a cada um dez minas. Portanto, oportunidades

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iguais. Hoje nós temos em nossas Igrejas crentes dotados de habilidades extraordinárias.

E, acima de tudo, Deus ainda distribui Dons Espirituais, que não dependem das

habilidades pessoas de cada servo.

A conquista desse Reino depende de trabalho sábio e diligente. Imagine a obra

missionária em campos estrangeiros. Imagine, ainda mais, a obra missionária nas

grandes cidades, que chamamos modernamente de Missões Urbanas. Como alcançar

pessoas drogadas? Com alcançar moradores de rua? Como alcançar pessoas de classe

média, média alta e ricas, escondidas em suas mansões? Como alcançar os doentes nos

Hospitais? Como alcançar os estudantes nas Escolas? Como alcançar os militares nos

diversos quartéis? Como alcançar os milhares de presos, cujas penitenciárias e presídios

tornam-se verdadeiras cidades de habitantes confinados atrás das grades?

Tudo isso requer planejamento, recursos financeiros, recursos humanos,

treinamentos, preparo, oração, trabalho árduo. E a ordem é: "Negociai até que eu

venha".

Por outro lado, isso Senhor que ausentou-se disse: "Eis que estou convosco

todos os dias...". Como assim? Ele não está ausente? É que ele deixou outro da mesma

natureza dele: O Espírito Santo. A certeza da presença de Deus no desenvolvimento do

empreendimento é muito importante.

Temos um exemplo extraordinário no Velho Testamento. É a vida de José,

chamado por todos "José do Egito". Depois de relatar o sucesso dele na casa de Potifar,

a Bíblia diz que "O Senhor era com ele". Por traição da mulher do seu patrão, foi

lançado na prisão, mas lá também prosperou. Foi levado para o Palácio de Faraó para

interpretar seus sonhos, e acabou por tornar-se o segundo homem mais importante

depois de Faraó, pois Deus tinha um plano para o mundo, cuja administração ficaria nas

mãos de José. José percorrer a terra do Egito, planejou sobre a produção e

armazenamento, plantou todo o espaço fértil do Egito, ajuntou trigo como a areia do

mar, e quando o povo não tinha mais dinheiro para comprar trigo, José comprou todas

as terras do Egito para o seu Senhor, o Faraó: Gn. 41.38-49; 47.13-21.

Que servo! Que negociador!

A parábola encerra com a volta do Senhor e com a prestação de contas. Esse

Senhor, naturalmente, é Jesus. E ele está voltando; está a caminho. O que noto em

nossos dias é que o povo de Deus ainda não perceber o caráter da urgência da obra. As

Igrejas estão brigando entre si, se dividindo, fundando novas Igrejas para satisfazer o

ego de líderes, e a obra fica rodando no mesmo lugar. Faça uma pesquisa e veja que a

maioria das Igrejas novas que estão surgindo, se dividiram de outras já existentes, por

questões de problema de liderança. Os líderes não estão assumindo que trabalho para o

Senhor Jesus, e nem estão preocupados com a volta dEle.

Depois da segunda Grande Guerra, o povo americano resolveu retomar o tempo

perdido com a guerra, e mudou completamente seus hábitos. Foi dali que surgiu o

hábito de almoçar sanduíche. O americano sai de casa pela manhã, depois de tomar um

café como se fosse quase um almoço, e leva num saquinho de papel um sanduíche com

queijo, presunto ou outra coisa qualquer e uma latinha de coca-cola. Com o carro de

tração automática, almoça dentro do carro. Hoje ele não precisaria estar fazendo assim,

mas esse foi um hábito que surgiu com o caráter de urgência de recuperar o tempo

perdido com a guerra. Hoje, o sanduíche, principalmente o cachorro-quente, é um

problema para o americano, que provoca obesidade e, segundo pesquisas recentes, o

tamanho da salsicha do cachorro-quente está sufocando crianças que estão morrendo

por asfixia.

A questão é que aprendemos o caráter de urgência par anos, mas não para Deus.

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E na parábola ainda temos a figura do servo que nada fez, que nada produziu.

Que tipo de líder estamos sendo? Qual a desculpa que vamos dar ao Senhor, quando Ele

voltar?

Na verdade temos que lembrar que esta é a única produção que vamos levar par

ao Céu. A nossa produção, os nossos negócios pessoais, vão ficar todos aqui. Nada

poderemos levar para a eternidade.

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Caixa 3. ASPECTOS TEOLÓGICOS DA VIDA DE JOSÉ 1. Vivendo no meio de uma família bastante complicada, de doze filhos homens, José, o

décimo primeiro bem cedo começou a despontar como líder. 2. Seus sonhos, que ele inocentemente contou para os irmãos, já revelavam o que Deus

havia de fazer através dele. 3. Com certeza, José era um jovem submisso, calmo, mas confiava plenamente em Deus

e não há nenhum relato de desespero quando foi traído pelos irmãos. Tinha uma tremenda capacidade de esperar em Deus. Mesmo porque a Bíblia diz que "Deus era com ele".

4. A integridade permeava toda sua vida, em todas as circunstâncias. Na casa de Potifar foi fiel como mordomo e não caiu nas armadilhas da mulher do seu senhor.

5. Posto fora como malfeitor, não reclamou, mas outra vez esperou em Deus. Para onde foi logo ganhou a confiança do carcereiro, pois era homem que inspirava confiança.

6. Ali, em circunstâncias adversas, despontou outra vez como líder e foi posto nessa posição pelo chefe da prisão.

7. Vivendo circunstâncias difíceis, não deixou de aproveitar a oportunidade para agir como servo de Deus, e interpretou os sonhos dos dois servos de Faraó, exercitando, assim, os dons que Deus lhe havia dado.

8. Levado a Faraó, numa circunstância privilegiada, interpretou os sonhos de Rei, aconselhou-o fielmente sobre o plano de Deus, mas em momento algum demonstrou qualquer ambição para ocupar o cargo que o momento exigia. Deixou que o próprio Faraó concluísse que ele, realmente, era o homem para aquela situação.

9. Elevado à condição de segunda pessoa depois do Faraó, trabalhou com fidelidade e eficiência vinda de Deus, e não buscou, em momento algum, seus próprios interesses.

10. Tendo seus irmãos nas mãos, podendo vingar-se deles como quisesse, não se aproveitou de sua posição e foi humilde ao máximo, procurando apenas provocar em seus irmãos a lição do arrependimento.

11. Em todo o processo do reencontro com seus irmãos, percebeu que a providência divina o havia conduzido por aquele caminho estranho, para o bem do seu povo e para o cumprimento das eternas promessas de Deus.

12. Apesar de, na prática, ser mais importante do que Faraó, sempre foi submisso a ele e em tudo buscou sua permissão para tomar decisões sobre sua família.

13. Este e outros aspectos da vida de José revelam a maneira de Deus trabalhar, nos seus diversos planos, para conseguir Seus objetivos. Estes são os aspectos teológicos da vida de José, mais conhecido como José do Egito.

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TEOLOGIA BÍBLICA DA AGÊNCIA DA

LIDERANÇA - A IGREJA

Quero começar este capítulo falando resumidamente da Igreja do Senhor

Jesus Cristo (Mt. 16.13-23). O texto acima mostra Jesus, num momento de muita

intimidade com seus discípulos. E então ele quer saber, primeiro, o que o povo

está pensando dele. Depois volta-se para o seu colégio apostólico e pergunta o

que eles pensavam dele, do Cristo. Quando Pedro responde acertadamente, Jesus

revela que edificaria a Sua Igreja e as portas do Inferno não prevaleceriam contra

ela.

Que Igreja é essa? Qual a relação entre essa Igreja e as Igrejas cristãs e

evangélicas de hoje? É o que pretendemos descobrir a seguir.

Quando Surgiu a Igreja?

Os apóstolos, potencialmente, eram a Igreja, mas ela só surgiu no dia de

Pentecostes. Ali ela se formou - tornou-se uma congregação de pessoas salvas e

batizadas, dispostas a seguir a Jesus e a permanecer na doutrina dos apóstolos. Para

tanto, ela foi equipada com a presença constante do Espírito Santo, que distribuiria

Dons Espirituais para a realização da obra do Reino

Para Quê Jesus Edificou a Igreja?

O sentido é espiritual. A figura do "edificar" é de um edifício. A idéia é de algo

bem fundamentado, estruturado e organizado. Comparando com a palavra de Pedro

mais tarde, esta Igreja é formada do povo, pedras vivas (1 Pe. 2.4-5).

Essa Igreja foi edificada como Agência do Reino Inaugurado. Jesus estava

inaugurando o Reino - "O Reino de Deus está entre vós" (Lc. 17. 20-21). O Reino

teria uma longa jornada e um grande adversário - Satanás

A jornada da Igreja durará até à volta de Cristo

Como Funcionaria Essa Igreja?

O funcionamento da Igreja é bem exemplificado pelo Apóstolo Paulo, na figura

de um corpo humano. Nesse corpo, Jesus é a cabeça e nós somos os membros. A

cabeça trabalha através de líderes, sendo o pastor o líder principal. Jesus não disse

como funcionaria, mas o Espírito Santo guiaria em toda a verdade (Jo. 16.13). Paulo

diz que " a uns pôs Deus na Igreja....." (1 Co. 12.27-31). Em cada cidade deveriam

ser estabelecidos os líderes...(Tito 1.5).

"Ele mesmo deu uns para pastores..... etc". Para que os líderes funcionem, são

dotados espiritualmente para a tarefa.

Qual o Papel da Igreja de Jesus?

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1. Missão: Proclamar o Evangelho e ensinar a guardar todas as coisas que o

Senhor Jesus lhes havia dito (Mc. 16.15-16; Mt. 28.16-20

2. Tarefa: estender o Reino, como na figura de Isaías 54.1-3.

3. Devoção - Cultuar o Senhor - o culto em espírito e em verdade.

4. Função - Ser o Sal da terra e a luz do mundo; combater o Reino das Trevas

5. Alvo final - Conquistar o mundo para Cristo

Qual a Resistência Prevista Contra a Igreja?

As portas do Inferno - todo o poder do "Príncipe deste mundo". Ele é o

adversário de Deus e da Igreja. O Apocalipse retrata essa idéia no episódio da

"Mulher e o Dragão".

A parábola do trigo e do joio continua com a mesma idéia, e aí retrata os falsos

obreiros, falsos mestres, eis porque os escândalos de líderes, os mercenários, que

não são pastores etc.

O Lugar da Igreja na Liderança Cristã

Não se pode falar de liderança cristã sem falar da Igreja do Senhor Jesus Cristo.

Ela é a Agência do Reino de Deus na terra. Foi por isso que Jesus disse: "edificarei

a minha Igreja...". É através dela que Deus trabalha.

A Igreja começa com uma chamada de pessoas. O nome Igreja, "ekklesía", já

existia no Antigo Testamento. Lá as pessoas eram convocadas para saírem de suas

tendas, pelo toque de duas trombetas de prata. E saindo, reuniam-se no centro do

arraial. E essa reunião, "congregação", era, na Septuaginta, "ekklesia". O

substantivo está ligado a uma raiz que significa "chamar para fora".

É da Igreja que são tirados os líderes; É para a Igreja que são escolhidos os

líderes. Não há liderança cristã sem a Igreja. No N.T., ela enviou os primeiros

líderes pelo mundo. Um dos mais completos exemplos é a Igreja de Antioquia.

Deus põe os líderes na Igreja (1 Co. 12.28). Começa pelos pastores ou bispos e

presbíteros, como chamam alguns. E mais: Deus trabalha com Igrejas locais e com

líderes locais. O novo testamento é muito claro quando diz que "as igrejas se

multiplicavam" e elas eram estabelecidas por todas as partes, e os líderes eram

locais.

Ao longo dos anos muitas coisas mudaram nesse conceito do Novo Testamento.

Por um lado, a Igreja de Roma tornou-se a Igreja principal e seu Bispo, que mais

tarde se chamou Papa. Então a Igreja tornou-se única. E aí a liderança ficou bastante

complexa, pois todos são nomeados pelo Papa e não pelo Espírito Santo. Esse

sistema refoge ao sistema do Novo Testamento. Para que se tenha uma idéia, é só

verificar o critério da eleição de um novo Papa quando o anterior morre.

Um dos casos mais comentados no mundo hoje é a eleição do Papa João Paulo I,

que não deu certo e ele morreu logo. Logo depois, foi eleito João Paulo II, e deu

muito certo para a Igreja e fez longo pontificado, e com muita aceitação pelo mundo

todo.

A liderança da Igreja Católica no mundo, ao longo da história, desviou-se

totalmente dos propósitos e ideais de Cristo. Basta lembrarmos as chamadas "Santas

Cruzadas", em que a Igreja Católica quis manter sua liderança em Jerusalém pela

força da espada. Está na história para quem quiser constatar.

Por outro lado, Muitas Igrejas modernas, fugindo do sistema do Novo

Testamento, atrofiaram a liderança e barraram os objetivos de Deus. Por exemplo, o

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sistema Episcopal de governo de Igreja, em que um bispo ou "apóstolo", que enfeixa

todo o poder em suas mãos, faz da Igreja uma empresa e uma loja de conveniência.

O movimento cresce, mas não atinge o real objetivo de Deus, que é a conversão

genuína das almas.

A Igreja local como agência do Reino de Deus, deve ter líderes como no Novo

Testamento. E se cada Igreja local cumprir o seu papel, o mundo todo será atingido.

Evidentemente, Igrejas locais podem se unir em sistemas cooperativos para fins

missionários. As Convenções, Associações, Juntas e outras organizações devem

existir por delegação das Igrejas locais, e não devem exercer nenhum poder sobre

estas.

E então, por necessidade administrativa, surge outro escalão de líderes, mas

todos sob o comando das Igrejas locais. O Novo Testamento não autoriza nenhuma

organização que não a Igreja a realizar a obra missionária. A Igreja é o Corpo de

Cristo e Ele é o cabeça da Igreja. Qualquer organização nesta área deverá estar

sujeita à Igreja.

É importante não esquecer também, que dentro desta Teologia da Igreja como

Agência, foram lhe dados certos poderes, sob a direção do Espírito Santo. Em

Mateus 18.15-20, os poderes que o Senhor Jesus parece ter dado a Pedro de "ligar e

desligar", foram dados à Igreja também. Assim é que vemos a Igreja tomando a

iniciativa de eleger os "sete", que mais tarde foram chamados "diáconos" (Atos 6).

No capítulo 15 de Atos temos a decisão do chamado "cisma Mosaico", que foi

decidido pela Igreja, movida pelo Espírito Santo: "pareceu bem ao Espírito Santo e a

nós", e então tomaram uma decisão especificamente doutrinária e teológica que não

havia sido determinada por Jesus anteriormente.

Evidentemente que essas decisões tomadas pela Igreja, com seu poder de "ligar e

desligar", devem ser feitas dentro do ensino geral das Escrituras e com plena

convicção da atuação do Espírito Santo.

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Caixa 4. ASPECTOS TEOLÓGICOS DA VIDA DE MOISÉS

1. Deus de olho na história e nas circunstâncias. O povo de Israel cresceu muito, de maneira

que a terra se encheu deles, ao mesmo tempo em que assumiu um novo Rei, de uma outra dinastia, que não conhecia a fascinante história de José e de sua família. As coisas mudaram (Ex. 1.1-14).

2. Deus, pacientemente, escolhe um líder desde a sua geração (Ex. 2.1-10). 3. Moisés - "tirado das águas" - é poupado pela providência divina. 4. Crescido no Palácio Real e educado em "toda a ciência do Egito", parecia estar pronto

para ser o libertador, mas não estava. 5. O incidente de matar um Egípcio ao tentar defender um dos Israelitas, acabou tendo de

abandonar o Palácio e fugir para o deserto ( Ex. 2.11-22), quando contava com 40 anos. 6. No deserto de Midian vai parar na casa de um Sacerdote que, possivelmente era da

linhagem de Melquisedeque, Sacerdote de um Deus monoteísta, e ali se casa e passa mais 40 anos de sua vida. Era o treinamento e o preparo para a grande missão.

7. Depois desse longo tempo (cerca de 80 anos) de condução da vida de Moisés, aproveitando até mesmo seus erros, Deus se revela a ele de maneira mais objetiva - a sarça que não se consumia.

8. Depois de muito questionar e retroceder, Moisés finalmente assume que ele era o homem escolhido por Deus para tirar o Seu povo do Egito.

9. Notemos que Deus precisa de líderes. Ele os prepara, até mesmo quando eles não estão conscientes do fato, e trabalha com eles como seres humanos, argumentando com eles para que se convençam que devem fazer o que Deus está ordenando.

10. Nas lutas contra Faraó Moisés mostrou paciência e determinação em executar os planos de Deus. Foram dez vezes de confronto, de vai e vem com Faraó, até que finalmente conseguiu sair com o povo do Egito.

11. Desde a saída do Egito até passar o cargo para Josué, mostrou determinação em fazer a vontade de Deus. Enfrentou várias dificuldades e teve que viver pela fé. Mas venceu todas as lutas.

12. Nos 40 anos pelo deserto, tornou-se homem sábio e experiência e, sobretudo, íntimo de Deus, tendo falado com Deus "cara a cara", e foi chamado "o varão mais manso sobre a face da terra".

13. Sobretudo, ensinou o povo a conviver com Deus. Organizou a religião, estabeleceu sacerdotes e levou o povo a praticar sua fé em Deus.

14. Deus, por isso mesmo, o honrou, apesar de não ter podido entrar na Terra de Canaã. O editor da parte final de Deuteronômio registra: "Era Moisés da idade de cento e vintde anos quando morreu; os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu o seu vigor"(Dt. 34.7).

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A TEOLOGIA BÍBLICA DO SERVO E DO

SERVIÇO

INTRODUÇÃO

Temos demonstrado que ninguém é líder para si mesmo. Todo líder

cristão o é para a Causa de Deus. E é por isso que esse líder de Deus é chamado,

tanto no Antigo como no Novo Testamento, servo.

Don N. Howell, em seu livro Teologia Bíblica da Liderança, observa que

tanto no hebraico como no grego, a palavra "servo", originalmente, significa

"escravo". A idéia é daquele que pertence a um senhor e por isso o serve (p. 6).

A expressão "servo do Senhor" é muito comum na Bíblia, tanto no

Antigo como no Novo Testamento.

Partindo do conceito de que o servo era um escravo que pertencia a um

senhor e era obrigado a fazer o serviço do seu senhor, Israel progrediu para o

conceito mais espiritual da idéia. Moisés, por exemplo, era um servo do Senhor,

mas não na categoria literal de escravo, mas alguém que havia se entregado

incondicionalmente à tarefa de servir a Deus. E assim, os profetas também eram

servos.

No Novo Testamento, Paulo gostava de conservar esse sentido que vinha

do Antigo Testamento e gostava de iniciar suas epístolas com a expressão:

"Paûlos doûlos Xristoû Iesoû" - "Paulo servo de Jesus Cristo" (com o sentido de

escravo).

Quero tomar agora duas figuras para referência desse sentido: Davi, no

Antigo Testamento e Paulo, no Novo Testamento. Davi era homem valente e era

Rei, mas considerava-se servo do Senhor. Durante toda sua vida, em momentos

difíceis de derrota e humilhação ou em momentos de exaltação e poder, sempre

se considerou servo do Senhor. Quando Davi desejou edificar uma Casa ao

Senhor, Deus enviou-lhe o profeta Natã, dizendo: "Vai, e dize a meu servo, a

Davi....." . E mais à frente, dando promessas a Davi e sua semente, e falando de

Salomão, diz:: "eu lhe serei por pai, e ele me será por filho. E, se vier a

transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de

homens; mas a minha benignidade se não apartará dele, como a tirei de Saul, a

quem tirei de diante de ti". E Davi teve altos e baixos na vida, pecou, foi

perdoado, mas serviu ao Senhor até o fim de sua vida.

O referencial do Novo Testamento, é o Apóstolo Paulo. Esse que sempre

se considerou "servo do Senhor", o foi até o fim de sua vida. Sofreu perseguição,

prisões, injustiças de autoridades e até de falsos irmãos, e terminou sua vida

sendo martirizado em Roma. Terminou como servo.

O serviço que presta o servo, no Novo Testamento se chama

"ministério", porque é uma atividade humana para fins espirituais. É o serviço do

Reino. Assim, por exemplo, os diáconos eram servos que prestavam um serviço,

principalmente na área social, mas era um serviço de natureza e finalidade

espiritual.

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Não era sem razão, pois, que Paulo dizia aos colossenses: "E, tudo

quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens;

sabendo que recebereis o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor,

servis" (Cl. 3.23,24).

Eis aqui a causa de muitos problemas que enfrentamos hoje nos arraiais

evangélicos. Não há nas lideranças essa visão e esse conceito de servo e de

serviço. Uma grande maioria de líderes serve a si mesmo e a seus interesses, ao

seu orgulho próprio, sem levar em conta a obra de Deus. Daí, cada um funda

Igrejas de acordo com os seus interesses, aparecendo por aí os tipos mais

exóticos de igrejas e comunidades, sem falar das doutrinas absurdas.

A PERSONALIDADE DO SERVO

Que tipo de temperamento ou de personalidade precisa ter o servo de

Deus para ser líder? Esta é uma questão muito curiosa.

Quando examinamos os líderes da Bíblia vamos notar que há uma

diversidade muita grande de tipos de temperamento. Abraão era homem firme de

caráter, definido, equilibrado, paciente, cortês. Era assim com Deus e era assim

com os homens. Lembramos que, naquela guerra de 5 Reis contra 4, ele foi

vencedor, mas não quis abocanhar nenhuma vantagem nos despojos.

José do Egito, era jovem íntegro, de personalidade firme, haja vista, seu

procedimento na casa de Potifar.

Moisés, apesar de ter tomado aquela atitude de matar um egípcio que

abusava de um ser irmão hebreu, o que nos parece um acidente apenas, era

considerado um homem paciente e manso. A bíblia diz que ele era o varão mais

manso sobre a face da terra (Nm. 12.3). Seu caráter era firme, e assim foi

durante os seus 120 anos de vida.

Por outro lado, pegando exemplos esparsos, Sansão, era líder

temperamental e inconstante, de personalidade volúvel e força extraordinária.

Deus o usou assim mesmo.

Davi, ao mesmo tempo que era homem de personalidade dócil, era

homem de guerra e valente, e foi chamado "o homem segundo o coração de

Deus".

Quando vamos para o Novo Testamento, vamos encontrar também uma

diversidade de personalidades. Basta compararmos um Pedro com um Tomé ou

João.

O que quero dizer é que, na sua Divina sabedoria, Deus não tem um tipo

único de personalidade de servo para ser usado.

Eis porque alguém disse: "Estudos sobre grandes líderes não revelaram

qualquer padrão consistente de características de personalidade que poderiam

explicar o sucesso que tiveram. Não existe um únuico tipo de personalidade de

"liderança". Em outras palavras, qualquer pessoa tem o potencial para liderar. A

personalidade, a identidade total de uma pessoa como indivíduo, definitivamente

tem um papel crucial na eficácia de uma liderança e precisa ser enfatizada"

(Felix E. Montgomery, artigo publica da na Revista Eclesiástica - Jan.Fev.

Mar. 1986, Juerp, p. 3).

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Caixa 5. ASPECTOS TEOLÓGICOS DA VIDA DE JOSUÉ

1. Uma das primeiras qualidades de Josué foi a capacidade para aprender. Ele viveu perto de Moisés o tempo todo e experimentou praticamente tudo o que aconteceu. Aqui, tanto Moisés teve visão para treina-lo, como ele teve a santa ambição de assimilar todo o aprendizado. 2. Na verdade Josué teve um grande mentor, o que hoje nem todos os jovens querem ter. 3. Além de aprender sobre a convivência com Deus e com o povo, aprendeu, também, as artes de guerra. 4. No episódio dos 12 espias que foram enviados pela primeira vez à Canaã, Josué e Calebe demonstraram coragem e fé diante do desânimo dos demais companheiros, que só evidenciaram os gigantes e não evidenciaram as promessas de Deus. 5. Como sucessor de Moisés, continuou na mesma linha de trabalho e logo foi aceito pelas demais lideranças, principalmente pelos sacerdotes, e também pelo povo, pois todos obedeciam ao seu comando. 6. Josué acreditava e valorizava o lado espiritual da batalha. Assim, sob instruções de Deus, circuncidou os que haviam nascido no deserto e não estavam circuncidados e também celebrou a Páscoa que era uma recomendação de Deus (Js. 5.1-15). Aliás, ele mesmo levou o povo à santificar-se antes da batalha (3.5). 7. Líder fiel, tem as garantias da presença de Deus na batalha. É muito curioso o episódio narrado em 5.13-15, quando aparece um soldado com uma espada nua. Josué faz umapergunta aparentemente inocente: "És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?". E se fosse dos inimigos, naturalmente ele teria de lutar e, ademais, seus soldados haviam falhado na vigilância, pois havia entrado um soldado estranho armado. Mas, na verdade, esse era um Anjo do Senhor que vinha dar cobertura à batalha seguinte. Ele era "príncipe do exército do Senhor". 8. Josué teve paciência para seguir o plano de Deus, aparentemente estranho. A Arca do Senhor sendo levada por sete sacerdotes, que tocavam cada um uma bozina de carneiro. Fizeram isso durante seis dias e voltavam para o arraial. No 7º. Dia, rodearam a cidade sete vezes, e então o povo gritaria. E foi assim que os muros caíram. Que líder confiante! 9. Diante de fracassos, Josué recorre a Deus. Foi o pecado de Acã que impediu a vitória sobre Ai. Josué queria saber as causas e removê-las. E as causas não eram de estratégia nem de tática, mas eram espirituais. O problema foi removido com coragem, e a vitória veio. 10. Uma das virtudes de Josué é que sabia e gostava de escrever. Mais de uma vez o Pentateuco menciona que Josué fez cópias da Lei. Aqui Josué cumpre ordens de Moisés conforme Dt. 27.1-10 x Js. 8.30-35. 11. Mas Josué também teve seus pontos negativos. Foi o caso dos Gibeonitas (Js. 9.1-27) que eganaram a Josué fingindo que vinha de outra terra muito distante, e fizeram acordo, impedindo que Josué os destruísse conforme a ordem do Senhor. 12. Mas Josué sabia contornar as coisas erradas. Fez dos gibeonitas rachadores de lenha para Idrael e tiradores de água- 9.27. 13. E foi desse erro que Josué tirou uma das mais tremendas experiências com Deus: Surgiu aí o dia mais longo da história, quando Josué, em meio à batalha, pediu a deus que o sol se detivesse (10.12-15). Aqui não se trata de erro científico de Josué, como se ele não soubesse que é a terra que gira e não o sol. Ele pediu que o sol se detivesse. O entendimento do mecanismo rotativo da terra era por conta de Deus. E o sol se deteve, isto é, o dia continuou para que ele terminasse a sua tarefa. 14. Um líder que sente a alegria de realizar o cumprimento das promessas de Deus ao Seu povo. Dos capítulos 12 a 19, ele procede a difícil tarefa de repartir as terras para as diversas tribos. Era o cumprimento das promessas de Deus a Moisés. Nota-se que Josué tinha inequívoca noção de que o plano era de Deus e não de Moisés. Hoje muitos líderes levam as coisas par ao lado humano e desprezam o trabalho de Deus feito por seus antecessores por questões de inveja. 15. Chegando ao fim da vida fez questão de trazer à memória tudo quanto Deus havia feito ao povo. A perda da memória e da história de um povo diante de Deus tem sido o grande problema moderno (Cp. 24) 16. O testemunho familiar. Em 24.15 Josué desafia as famílais a servirem ao Senhor: "eu e a minha casa serviremos ao Senhor".

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A TEOLOGIA BÍBLICA DA DIVERSIDADE DE

LÍDERES

No Antigo Testamento, pelo quociente de inteligência de que Deus dotou

cada pessoa, houve também a distribuição de habilidades para as realizações

humanas, no Reino. Para a confecção do Tabernáculo no deserto, por exemplo,

Deus dotou alguns homens para trabalho com ouro, prata, pedras preciosas e

entalhe de madeira.

No Novo Testamento, Deus aperfeiçoou o sistema, distribuindo os

chamados Dons Espirituais, que capacitava os crentes para certos ministérios e

tarefas.

Além disso, por escolha da Igreja, sob a inspiração do Espírito Santo,

foram criados diáconos, para liderar as questões sociais da Causa e tornar

possível o ministério da Palavra e da Oração, exercido pelos apóstolos.

Com a expansão da pregação do Evangelho, outros líderes foram sendo

levantados pelo Espírito Santo, principalmente Evangelistas, que aumentaram

muito nos fins do primeiro século.

Na Igreja moderna, outras necessidades levaram o Espírito Santo a

levantar outros tipos de líderes. É importante notar que todos os líderes são

levantados por Deus e postos na Igreja: "A uns pôs Deus na Igreja...." (1 Co.

12.28).

Evidentemente, como já dissemos acima, Deus deu poderes à Igreja e, de

acordo com a necessidade, organizações são criadas dentro dela e outros tipos de

líderes surgem, de acordo com as exigências de cada tarefa. A Escola Bíblica

Dominical, por exemplo, que surgiu nas Igrejas em tempos mais modernos, é um

similar da Sinagoga dos judeus, que surgiu para o estudo da Torah.

A TEOLOGIA BÍBLICA DA NATUREZA DE CADA LÍDER

É muito importante analisar a natureza, a personalidade, a capacidade de

liderança dos líderes escolhidos por Deus. Notamos que Deus nunca escolheu líderes

incapazes para o trabalho. É bem verdade que alguns deles cometeram erros, mas não

por não serem capazes. Nunca vemos alguém que simplesmente queria ser líder para

Deus, mas Deus os escolheu no contexto de suas vidas.

Entendemos que, desde o pecado original em Adão e Eva, os seres humanos são

gerados com potenciais diversificados, dentro da genética criada por Deus e,

naturalmente, alterada pelo mistério do pecado. Assim, homens e mulheres nascem com

níveis diferentes de QI e de habilidades. E notamos que Deus escolheu esses homens,

alguns deles, o foram desde o ventre de suas mães, mas Deus já os conhecia. Este foi o

caso de Moisés, por exemplo. Escolhido pela presciência de Deus, e que foi

encaminhado num esquema maravilhoso de preparação para ser líder.

É curioso observar, como tenho feito nos quadros especiais que apresento no fim

de cada capítulo, a maneira de ser de cada líder que Deus usou nos Seus planos. Só para

termos uma visão geral: Moisés, segundo o próprio texto bíblico, era o homem mais

manso que houve sobre a face da terra (Nm. 12.3) . Esta deve ter sido a razão porque

Deus o escolheu, pois teria de encarar as murmurações de um povo obstinado.

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Josué, que sucedeu Moisés, era um jovem valente. Enquanto os outros espias

viram gigantes na terra de canaã, ele viu a grandeza do poder de Deus que estava com

eles. E foi assim que entrou na terra, comandando os exércitos do Senhor, e venceu.

Samuel era um homem espiritual, mas decidido, definido, e corajoso. Se foi

concedido a Ana por um pedido insistente por causa da sua esterilidade, já veio,

portanto preparado para atender aos requisitos que Deus queria.

Davi era jovem corajoso, guerreiro, mas tangível emocionalmente, capaz de

compor poesias, e capaz de chorar. Foi classificado como "homem segundo o coração

de Deus". Apesar do seu erro escandaloso, no caso de Batseba e Urias, foi firme na sua

liderança e executou exatamente a obra que Deus queria, e nele foi estabelecida a

linhagem do Messias.

E assim, tantos outros líderes como Esdras e Neemias.

E quando vamos para o Novo Testamento, notamos, outra vez, Deus escolhendo

os líderes de acordo com os seus respectivos potenciais e habilidades, o que não elimina

os Dons Espirituais.

Um dos exemplos mais extraordinários dessa escolha de Deus é o Apóstolo

Paulo. Sendo judeu, mas de formação helênica, tinha um nível cultural adequado para

enfrentar a obra missionária no contexto do mundo gentílico.

Uma Visão Panorâmica da Natureza dos Discípulos de Jesus

PEDRO – Simão, Cefas (nome caldaico – Pedra). Era pescador, portanto,

homem de trabalho braçal, e, com certeza, fisicamente forte. Estava sempre na dianteira

com Jesus. Afoito para falar. Na verdade, parecia não pensar para falar. Acabou

negando o seu Mestre. Depois da ressurreição, chegou a pensar em voltar a pescar.

Quando disse: "vou pescar", os originais dão a entender que ele iria voltar à atividade de

pescador. E, como tinha a vocação de líder, levou outros com ele: "nós também vamos

contigo". O Senhor Jesus ressurreto veio ao encontro deles e mudou as coisas. É testado

por Cristo, se arrepende e retoma sua dedicação. No Pentecostes, foi o grande pregador

que, realmente, "abriu a porta do Reino dos Céus aos pecadores", provocando a

conversão de quase três mil almas.

Segundo as melhores tradições, morreu em Roma, crucificado de cabeça para

baixo.

ANDRÉ , era Irmão de Pedro e seu sócio na pescaria. Seu nome significava:

“másculo”. Havia sido discípulo de João Batista. Foi ele quem levou Pedro a Jesus

(João 1.40). Parece que era homem que prestava atenção nas pessoas. Na experiência da

multiplicação dos pães registrada por João, logo descobriu um rapaz que tinha cinco

pães de cevada e dois peixinhos. (Jo. 6.8) Segundo tradições, foi crucificado na Acaia,

onde foi missionário.

TIAGO, filho de Zebedeu, era também pescador da Galiléia. Ele fazia parte dos

três que estavam sempre mais perto e mais íntimos de Cristo. Foi morto a espada por

Herodes Agripa I (Atos 12.2).

JOÃO , irmão de Tiago, filho de Salomé. Salomé, era irmã de Maria, mãe de

Jesus ( Mc. 16.1; Mt. 27.56; João 19.25). Portanto, Tiago e João eram primos de Jesus.

Salomé, com outras mulheres, contribuíam financeiramente para o sustento do

Ministério de Jesus (Lc. 8.3; Mc. 15.40).

Tiago e João eram cognominados "filhos do trovão", talvez pelo temperamento

exaltado e indisciplinado (Mc. 3.17). João escreveu o Evangelho que leva o seu nome,

três Epístolas e o Apocalipse. Estava ao pé da Cruz quando Cristo morreu e recebeu a

incumbência de cuidar de Maria. E isto fica mais adequado quando se recorda que

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Maria era Tia de João. Segundo o que se sabe, João foi o único apóstolo que morreu de

morte natural, apesar de sofrer, por algum tempo, o exílio em Pátmos.

FILIPE, começou a seguir a Jesus no dia seguinte a André e Pedro (Jo. 1.43).

Foi ele quem trouxe Natanael a Jesus. Evidentemente, deve ser distinguido de outro

Filipe, que era Diácono e Evangelista. Parece que era muito distraído como aluno, pois

depois de tanto tempo com Jesus, ainda disse: "mostra-nos o Pai". Por outro lado,

parecia ser bom em cálculos, pois no caso da multiplicação dos pães, em João 6, logo

calculou o número da multidão e concluiu que "duzentos dinheiros de pão não lhes

bastariam" João 6.7.

BARTOLOMEU. Alguns o identificam com Natanael. Estava na praia quando o

Jesus Ressurreto apareceu (João 21.2). Pouco se sabe dele.

MATEUS, também conhecido como Levi, trabalhava na Alfândega de Jericó.

Ele escreveu o Evangelho que leva o seu nome. Segundo tradições, pregou primeiro na

Judéia e depois em países estrangeiros.

TOMÉ, cujo nome significa "gêmeo" (não se conhece seu irmão ou irmã), é

aquele que estava pronto a morrer com Jesus (João 11.16). Deixou-se levar pelas

dúvidas quando Jesus ressuscitou, mas logo confessou que Jesus era o Filho de Deus

(João 20.28). Há informações de que pregou na Síria, Pártia, Pérsia e Índia. Segundo

Gregório Nazianzeno (329-390), fez uma viagem apostólica à Índia, onde sofreu

martírio por causa de Cristo.

TIAGO, filho de Alfeu, ou o menor, ou o pequeno, filho de uma das Marias

(Mc. 15.40), pregou na Palestina e no Egito.

SIMÃO, o zelote (cananeu ou cananeano), provinha de um Partido Político dos

dias de Jesus, denominado Zelote. Esse partido era contrário ao domínio de Roma sobre

a Judéia.

JUDAS, irmão de Tiago ou Tadeu (Mc. 3.18), também chamado Labeu (Mt.

10.3), foi pregador em Edessa, na Síria, na Arábia e Mesopotâmia.

JUDAS, Iscaciotes – seu sobrenome é tirado de Queriote, lugar em Moabe (Jr.

48.24). Sempre aparece em último lugar nas listas dos doze. É chamado o

traidor. Era tesoureiro do grupo. Era da Judéia - o único do grupo que não era da

Galiléia. Estava sempre fora e por fora de tudo, mas sempre ganancioso. Tinha

cifrões nos olhos, e acabou por vender o Senhor por 30 moedas de prata.

O TEMPERAMENTO DO LÍDER

. O grande médico grego Hypócrates, (460 AC), foi quem primeiro elaborou esta

lista de tipos universais de temperamento. Evidentemente nos dias bíblicos ninguém

levava em conta estes pormenores, se bem que já o grande filósofo já dizia: "Conhece-te

a ti mesmo". Mas hoje é imprescindível que o líder procure conhecer a si mesmo e

também conhecer os seus liderados.

O esquema que vou passar para os meus leitores, naturalmente já é conhecido de

todos. Há várias literaturas sobre o assunto. Assim, não vou me deter a detalhes.

I - SANGUÍNEO

1. Virtudes: a) Comunicativo; b) Destacado; Entusiasta; c) Afável; d)

Simpático; e) Bom companheiro; f) Compreensivo; g) Crédulo.

2. Defeitos: a) Pusilânime; b) Volúvel; c) Indisciplinado; d) Impulsivo; e)

Inseguro; f) Egocêntrico; g) Barulhento; h) Exagerado; i) Medroso.

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II - COLÉRICO

1. Virtudes: a) Enérgico; b) Resoluto; c) Independente; d) Otimista; e) Prático; f)

Eficiente; g) Decidido; h) Líder; i) Audacioso.

2. Defeitos: a) Iracundo; b) Sarcástico; c) Impaciente; d) Prepotente; e)

Intolerante; f) Vaidoso; g) Auto-suficiente; h) Insensível; i) Astucioso.

III - MELANCÓLICO

1. Virtudes: a) Habilidoso; b) Minucioso; c) Sensível; d) Perfeccionista; d)

Esteta; f) Idealista; g) Leal; h) Dedicado.

2. Defeitos: a) Egoísta; b) Amuado; c) Pessimista; d) Teórico; e) Confuso; f)

Anti-social; g) Crítico; h) Vingativo; i) Inflexível.

IV - FLEUMÁTICO

1. Virtudes: a) Calmo; b) Tranqüilo; c) Cumpridor; d) Eficiente; e)

Conservador; f) Prático; g) Líder; h) Diplomata; i) Bem-humurado.

2. Defeitos: a) Calculista; b) Temeroso; c) Indeciso; d) Contemplativo; e)

Desconfiado; f) Pretensioso; g) Introvertido; h) Desmotivado.

DETALHES DO TEMPERAMENTO NA LIDERANÇA

A - Generalidades

1. O sistema, como já mencionei, foi criado pela primeira vez por Hipócrates, o

pai da medicina, há mais de 2.400 anos ( a partir de 460 A.C.).

2. Dos quatro tipos universais acontecem doze combinações para caracterizar

todas as pessoas.

3. Segundo Tim LaHaye, há três tipos de estilos de vida:

a) Homem natural: culpa, temor, vazio, miséria, falta de propósito, confusão;

b) Auto-dominado: Frustração, futilidade, confusão, turbulência, culpa, falta de

propósito;

c) Cristão controlado pelo Espírito: Paz, perdão, poder, alegria, amor, vida

abundante (Por Que Agimos como Agimos - Tim LaHaye, editora Abba, São

Paulo, p. 86).

B - Características principais

1. Cada pessoa é única no mundo: exemplo de gêmeos.

2. Temperamento e os hábitos alimentares.

3. Habilidades no trânsito.

4. Como faz compras.

5. Tipo de letra, caligrafia.

6. Habilidades comunicativas.

7. Como faz o pagamento de suas contas etc.

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Caixa 6. ASPECTOS TEOLÓGICOS DA VIDA DE DÉBORA 1. O nome "Débora", quer dizer "abelha". Juiízes 4.1-24; 5.1.32. 2. Ela era profetiza naqueles dias em que não havia Rei em Israel. Segundo os Rabinos, ela cuidava das lâmpadas do Tabernáculo. Alguns dizem que ela preparava os pavios para as lâmpadas. 3. De profetiza, tornou-se juíza - um caso raríssimo entre Israel, em que uma mulher ocupou tal função. Portanto, ela era mulher valorosa para comando militar e era dotada de Dom Profético. 4. A informação é que ela habitava debaixo das palmeiras de Débora. Isto é, em sua casa, que ficava debaixo de palmeiras, ela atendia o povo - era conselheira, como profetiza. Sua casa era conhecida por causa das palmeiras, que acabaram levando o seu nome. 5. Depois da grande vitória, Débora compôs e entoou um lindo cântico que vem registrado no capítulo 5 de Juízes. 6. A atuação de Débora naquele tempo como profetiza, juíza e até envolvida no trabalho do Tabernáculo, nos dá algumas lições para a posição moderna da mulher no cristianismo: a) Notamos que algumas regulamentações bíblicas sobre homem e mulher em relação ao ministério religioso está mais ligado à cultura e costumes da época do que a padrões de Deus. b) Não se sabe como Débora tornou-se profetiza, mas ela aparece em cenário como alguém que está devidamente aprovado por Deus para aquele ministério. c) A prova de que tinha permissão de Deus é que os comandantes militares e demais líderes obedeceram o comando dela. d) Hoje discute-se muito, principalmente entre as chamadas "Igrejas Históricas", se se adota pastoras ou não. Ora, adotamos Ministras de Música, Ministras de Educação Religiosa, Missionárias e outros ministérios. Em alguns casos o ato consagratório não tem nenhuma diferença do de um pastor. E perguntamos: que diferença faz? d) Se uma missionária pode plantar uma Igreja, evangelizar, levar almas a Cristo, aconselhar pessoas e famílias, porque não poderia batizar e ministrar a Ceia do Senhor? Qual é a diferença? e) Se um jovem chega perto do seu pastor e diz: Eu senti a chamada de Deus para ser pastor. Logo se providencia para que vá ao Seminário. Mas qual é, em geral, a atitude de um pastor quando uma jovem chega-se a ele e diz: eu senti a chamada de Deus para ser pastora. Logo se diz: mulher não pode ser pastora. Onde está isto escrito? Qual a diferença? Quem pode julgar a convicção de chamada de uma pessoa, seja homem, seja mulher? Precisamos aprender certas coisas com o Ministério de Débora.

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TEOLOGIA BÍBLICA DA INTEGRIDADE DO

LÍDER

CONCEITO

Segundo os melhores Dicionários, integridade quer dizer: inteireza, retidão,

imparcialidade (Aurélio). A idéia é de íntegro, completo, que não falta nenhum

dos seus componentes; perfeito, de acordo com o padrão estabelecido. Exemplo:

um cereal integral - que não tem nenhum componente estranho, como agrotóxico e

outros.

Há alguns anos, numa entrevista de TV, vi e ouvi um cultivador de morangos

que falava do segredo da aparência bonita de seus frutos: muito agrotóxico. E

então o entrevistador perguntou-lhe: "O sr. come dos morangos que cultiva?". E

ele, um descendente de japonês, respondeu: "Eu, não; tá doido?".

TEXTOS BÍBLICOS

Vamos rever alguns textos bíblicos que falam de integridade, na Bíblia Nova

Versão Internacional:

1. Salmo 15.1-5: "Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é

justo...." ;

2. Pv. 1-.9: "Quem anda com integridade anda com segurança, mas quem

segue veredas tortuosas será descoberto".

3. Pv. 18.18: "Quem procede com integridade viverá seguro, mas quem

procede com perversidade de repente cairá"

O texto de Dt. 18.13, que na edição revista e corrigida da Imprensa Bíblica

Brasileira traduz: "Perfeito serás, como o Senhor teu Deus", a Bíblia de Jerusalém

traduz: "Tu serás íntegro para com Iaweh teu Deus". O Dr. Roberto Alves, especialista

em Hebraico, na sua apostila "Curso de Cabala", traduz: "Serás íntegro para com o

Senhor teu Deus" (p. 24).

Esta é a melhor idéia de integridade - ela começa na direção de Deus, assim

como Deus é, e depois vai na direção do ser humano, do próximo.

Podemos classificar a integridade em duas categorias de padrões: O humano e o

Divino.

INTEGRIDADE - PADRÃO HUMANO

Para entendermos melhor este padrão, vejamos a composição do Homem,

segundo a Bíblia: corpo, mente, espírito.

Esses elementos se ligam à questão moral, entendendo que "moral é a ciência

que traça normas à vontade na direção do bem" ( Estevão Cruz).

Dentro desse padrão moral humano, há potencialidades a serem desenvolvidas

no ser humano. Partindo do seu potencial de inteligência e de habilidades, há as

virtudes. Através da educação, que é o processo de tirar o potencial para fora, isto é,

desenvolvê-lo.

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Nesse processo de educação, se estabelece o que chamamos de "caráter", que é a

marca registrada de cada pessoa. Lamentavelmente nosso mundo, principalmente nosso

País, tem descuidado desta parte, e as pessoas se desenvolvem como uma planta que

não é cuidada e cresce com suas tortuosidades.

No passado, no sistema educacional brasileiro havia uma disciplina chamada

"moral e cívica" que cuidava desta parte. No entanto essa disciplina foi abolida há

muitas décadas e a geração que temos hoje cresce sem uma estrutura moral que,

necessariamente, não tem a ver com religião. Aliás, até mesmo a religião sofre com essa

omissão, uma vez que muitos "crentes", inseridos nos diversos segmentos da nossa

sociedade, tornam-se corruptos. Não conseguem nem mesmo seguir o exemplo de

Cristo.

Na composição da integridade, entram, obrigatoriamente, alguns elementos,

alguns conceitos fundamentais:

a) Honestidade - falar como um deus. Este é um conceito que vem da mitologia

grega, mas que tem tudo a ver com a sua realidade. Isto significa que quem é

honesto comporta-se com coerência e incorrupção.

b) Sinceridade - "sem cera". Conta-se que na antiga Roma, marceneiros

costumavam aproveitar madeiras com defeitos e furos, cobrindo-as com

cera. Quando batia o sol e o calor, esses móveis acabados com cera,

mostravam os defeitos da madeira. Então o povo passou a exigir, quando

compravam móveis: "Eu quero móveis sem cera". Daí começou a surgir a

palavra "semceridade", qualidade daquilo que não tem cera para cobrir

defeitos. E a palavra progrediu para o nosso atual termo: "sinceridade". O

que ocorre é que muitas pessoas hoje procuram camuflar seus defeitos para

parecerem perfeitas.

c) Veracidade - que vive a verdade

d) Retidão - sem tortuosidade...

e) Rigidez de caráter - que não cede facilmente

f) Pureza moral - sem mistura

g) Autenticidade - sem máscara

h) Incorruptibilidade - como o ouro

INTEGRIDADE - O PADRÃO DE DEUS

A Nova Versão Internacional traduz o Salmo 115 de maneira muito interessante,

que destaco resumdamente: a) "Quem habitará no teu Santuário"?; b) "O íntegro de

conduta"; c) "Pratica o que é justo"; d) "Fala a verdade, de coração"; e) "Não difama" -

desfazer a boa fama; f) "Não calunia" - falsa imputação; g) "Não faz mal ao semelhante"

- busca o bem; h) "Mantém a sua palavra"; i) "Mesmo que seja prejudicado" - com dano

seu; j) Este é o perfil do homem íntegro segundo Deus.

Jó, era homem íntegro ( 1.8) e isso foi revelado por Deus. É maravilhoso observar

este fato que proce de Deus, ressaltando a integridade de um servo.

Sendo este o padrão de Deus, o crente precisa de um padrão adequado a este

padrão. E este padrão vai se instalar no crente pela experência da nova criatura. Com a

conversão, Deus realiza no ser humano uma nova criação, que a Bíblia chama de: nova

criatura, gerado de novo, novo nascmento, novo homem. Realmente, o ser humano

natural, no seu pecado, não tem condições de ser absolutamente íntegro. Só o crente – o

verdadeiro crente, consegue o padrão de integridade de Deus.

Sendo assm, vejamosl alguns exemplos de integridade, bíblicos e extra-bíblicos:

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1. José, congnominado José do Egito, foi varão íntegro. Este é o exemplo por

excelência (Gn. 39.1 -23).

2. A Bíblia menciona também a experiência de um outro José – o marido de Maria,

mãe de Jesus, quando soube da gravidez de sua noiva (Mt. 1.18-25).

2. Jay Adams, em seu livro: O Conselheiro Capaz, conta que certo cristão,

contador de grande empresa americana, de repente ficou com a mão direita

paralisada e não podia mais escrever, naqueles tempos que as escritas de

contabilidade eram feitas em grande livros e a manuscritos. Começou então a

procurar especialistas, mas não conseguiam detectar o problema. Finalmente, um

psicoterapeuta cristão encontrou o problema, ouvindo demoradamente o

paciente. A empresa em que trabalhava como contador estava com problemas

financeiros. Seu patrão queria que ele fizesse algo que não era certo – uma

espécie hoje de caxa dois. O homem, crente íntegro, ficou em grande aperto. Se

não obedecesse ao patrão, perderia o emprego; se obedecesse, pecaria contra

Deus. E nesse dilema, seu contexto psico-somático provocou aquela paralisia.

Quando isso foi detectado, ele foi orientado a falar a verdade com seu patrão.

Acabou não perdendo o emprego e sendo desobrigado de fazer a coisa errada. É

o triunfo da integridade.

4. Por outro lado, temos o exemplo bíblico negativo de Ananias e Safira, que

foram desonestos e acabaram morrendo diante da Igreja por sua falta de

integrdade (At. 5.1-16).

5. Alguém compartilhou comigo sobre uma mulher "crente", que recebeu troco a

mais num supermercado. Ela comentava em alta voz com uma amiga que havia

recebido uma bênção de Deus, pois estava até sem o dinheiro para a passagem

do ônibus. Mas a amiga, não se sabe se era crente ou não, disse-lhe que aquilo

não era bênção de Deus, pois não era íntegro.

CONCLUSÕES

O texto de Mt. 5.20 diz: "Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e

fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus".

Vamos analisar brevemente este texto.

1. O termo "justiça", segundo Thayer: "retidão, justiça, integridade, vida

correta em pensar, sentir e agir"

2. O termo segundo o Direito: "Dar a cada um o que lhe é devido"

3. Parafraseando Jesus: "Se o vosso comportamento não for correto, de

acordo com os padrões que Deus estabeleceu pela Nova Vida em

Cristo - a vida espiritual - de modo nenhum entrareis no reino dos

céus"

4. Na verdade, a justiça do cristão parte da natureza espiritual... 1 Pe. 1.23

5. Chama-nos a atenção o termo "exceder". Robertson diz:

"transbordante, como um rio que ultrapassa as suas margens, e Jesus

ainda acrescenta a partícula "mais", como significando "exceder

abundantemente", transbordar.

6. Em outras palavras: "se o vosso comportamento e o vosso

relacionamento uns com os outros não partir de uma fonte de vida

gerada pela "nova criatura", que vai ter melhor qualidade do que uma

mera atitude exterior, material, e não espiritual, de modo nenhum

conseguireis sobreviver no Reino dos Céus, que é espiritual".

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7. Os problemas modernos de integridade: líderes que mudam de

doutrina, dividem Igrejas e esbulham propriedades e ainda conservam

o mesmo nome da Igreja prejudicada.

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Caixa 6. ASPECTOS TEOLÓGICOS DA VIDA DE GIDEÃO

1. No tempo dos juízes - quando não havia Rei sobre Israel - um dos que mais repontam como juiz, líder, é Gideão. 2. A qualidade que reponta nesse líder é a coragem. Na servidão de Israel sob os midianitas, ele estava corajosamente salvando o que era seu. E foi nessa luta que Deus resolveu escolhe-lo como líder do povo. 3. Ele era um líder que dialogava com Deus (6.11-17). Questionou o fato de o seu povo estar sob servidão. 4. Era líder que fazia prova de Deus. Por duas vezes fez testes para certificar-se de que Deus realmente estava se manifestando a ele, e Deus aceitou os testes. Descobrimos, mais uma vez, que Deus trabalha conosco como seres humanos. 5. Líder que cria no Senhor. Do ponto de vista lógico e tático, o que Deus lhe pedia era um absurdo: por duas vezes teve que rejeito milhares de soldados, diante da enormidade dos exércitos midianitas ( 7.2-3; 4-6). Sobraram-lhe apenas 300 homens. Era muito inadequado. Mas ele confiou do plano de Deus. 6. Gideão, orientado por Deus, empregou duas metodologias que só modernamente se usam: o impacto e o áudio-visual. O impacto veio pelo grito simultâneo - espada do Senhor e de Gideão; a quebra dos trezentos vasos ao mesmo tempo, que estavam posicionados a volta do acampamento inimigo, e a luz que brilhou ao mesmo tempo. A soma do som e da luz - áudio-visual, causou impacto e isso tornou-se na força de Deus que desbaratou o inimigo (7.1-25). 7. A fraqueza de Gideão. Terminada a batalha Israel queria que Gideão governasse sobre a nação, mas ele não o quis. Antes arrecadou ouro do povo e fez uma "estola sacerdotal", um Efode. Os intérpretes dizem que é bastante obscuro o significado desse "Efode". Seria algo semelhante ao que os Sacerdotes Israelitas usavam. De qualquer maneira, essa peça passou a ser motivo de idolatria. 8. Nesse tempo em que o Espírito Santo não era concedido como no tempo do Novo Testamento, acontecia dessas coisas. O Espírito do Senhor era dado a determinado personagem para determinada tarefa, e depois se retirava. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Saul mais tarde. 9. O que devemos fazer é aprender com as lições positivas de Gideão, e aprender o que não se deve fazer - as lições negativas.

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A TEOLOGIA DA ORGANIZAÇÃO NA

LIDERANÇA

Um dos assuntos mais fascinantes na marcha de Israel pelo deserto foi o

do conselho de Jetro a respeito da maneira como Moisés deveria atender o povo.

Moisés era líder, mas ainda não havia atentado para o aspecto da organização.

Sozinho, ficava o dia todo atendendo o povo com diversos problemas, com uma

fila interminável diante de si.

Jetro, sacerdote de uma religião monoteísta, como já explicamos

anteriormente, homem experiente, sugeriu que Moisés estabelecesse líderes de

1.000, líderes de 100, líderes de 50 e líderes de 10, para que cuidassem das

causas menos importantes, deixando para ele somente as causas mais difíceis.

Para que esses líderes assim organizados pudessem saber como agir, seria

dado a eles os estatutos e as leis - a regulamentação das causas e dos problemas.

Hoje gostamos muito de estatutos e regimentos internos para definir

atribuições de líderes.

O conselho foi de Jetro, mas Deus o aceitou pois não consta que tenha

reprovado a atitude de acatar o conselho de Jetro.

Nossas lideranças precisam trabalhar mais com estatutos e regimentos

internos ou manuais de procedimentos.

Aliás, no mesmo contexto, temos outro aspecto de organização e esse foi

dado diretamente por Deus. Encontra-se em Números 1.52-54; 2.1-4, 32,34,

quando Deus mandou Moisés organizar o povo por famílias, esquadrões e tribos,

colocando cada grupo com sua bandeira, devidamente contados e numerados,

cada grupo em sua posição em relação ao Tabernáculo, para facilitar a marcha e

o comando.

A Igreja do Senhor Jesus Cristo é como o Israel de Deus marchando pelo

deserto, e precisa de organização.

Quando alcançamos os dias de Davi, vamos ver a organização, não só no

Reino, mas também no sistema religioso: Os sacerdotes divididos por turmas; os

Levitas divididos por turmas; os cantores, e assim por diante.

O mesmo aconteceu no tempo de Esdras e Neemias.

Jesus trabalhou muito com organização. Um dos exemplos mais

maravilhosos é o da multiplicação e distribuição dos pães e peixes. Marcos relata

que Jesus ordenou que a grande multidão se assentasse em ranchos sobre a erva,

de cem em cem e de cinqüenta em cinqüenta. E assim distribuiu o alimento.

Depois ordenou que recolhessem os pedaços que sobejaram e encheram doze

cestos que, naturalmente, já estavam preparados (Mc. 6.30-44).

Hoje, temos de cuidar da organização da Igreja, nos seus mínimos

detalhes e, sobretudo, das instituições que porventura sejam criadas para facilitar

a obra do Reino de Deus.

Às vezes nota falta desta organização até mesmo na ordem do culto das

Igrejas, quando pastores, na última hora, poucos minutos antes do culto, sentam-

se com algum líder para elaborar a ordem do culto. O bom líder deve organizar

tudo isto com antecedência

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Quando estudamos o Novo Testamento, notamos que Deus preparou e

organizou o mundo para a chegada do Messias. Para não entrarmos em outro

assunto bastante extenso, basta citar dois aspectos:

1) A implantação da cultura e da língua grega, por Alexandre, o Grande.

Deus precisava de um mundo culturalmente preparado para receber a mensagem.

Precisava até mesmo de uma língua universal para que o Seu plano de redenção

fosse conhecido. Eis porque, pouco tempo antes de Cristo o Antigo Testamento

foi traduzido para o grego e todo o Novo Testamento também foi produzido em

grego.

2) Meios de Comunicação. Antes da chegada de Cristo, outra grande

cultura dominou o mundo, inclusive a Judéia: Roma. A visão administrativa de

Roma organizou o mundo para receber e difundir o Evangelho. Daí, estradas

mais bem preparadas, linhas de navegação marítima e serviço de correios.

Eis porque o Apóstolo Paulo diz que Cristo veio "na plenitude dos

tempos".

O povo de Deus tem de ser organizado, em Igrejas grandes e pequenas;

do interior e das grandes cidades. Deus é organizado, e todo o seu universo é

organizado.

A Teologia da Delegação

Um dos primeiros casos que repontam vem do encontro de Moisés com

Deus no Monte Horebe - o caso da sarça ardente que não se consumia. Quando

Moisés relutava com Deus para não voltar ao Egito e apresentou a desculpa de

que era gago ou pesado de boca, Deus mandou que ele usasse seu irmão Arão.

Arão foi uma espécie de profeta de Moisés para falar em seu nome. Isto foi uma

delegação, isto é, uma transferência de poderes, de função.

Um outro caso importante que aparece na Bíblia é, outra vez, o conselho

de Jetro, sogro de Moisés (Ex. 18.14-27). Aqui ele estava delegando poderes e

funções a diversos líderes, em diversas dimensões de grupos.

No Novo Testamento, Paulo dizia: "O que de mim, entre muitas

testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também

ensinarem os outros" (2 Tm. 2.2). Isto é uma delegação.

Objetivos da delegação:

a) Aliviar pressão do trabalho sobre o líder principal; b) Formar

assistentes capazes de agir por si; c) Prever casos de

impossibilidades do líder principal; d) Permitir ao líder principal

períodos de reflexão e planejamento ou para tarefas mais

importantes; e) Estimular os subordinados com maiores

responsabilidades

A Técnica da Delegação

Podemos demonstrar esta técnica resumidamente como segue:

a) Descreva claramente a tarefa a realizar - os estatutos e as leis;

b) Defina com precisão as atribuições e os limites da autoridade;

c) Escolha o indivíduo certo para a tarefa - deve ter sido escolhido

assim com Moisés;

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d) Abra mão daquela parcela de autoridade - Moisés ficou descansado

com o fato de ter outro para fazer aquele seu trabalho;

e) Aprenda a tolerar os erros dos outros;

f) Confie e dê autonomia ao subordinado;

g) Defina e indique a responsabilidade de cada delegado;

h) Mantenha aberta a comunicação com o seu subordinado;

i) Estabeleça um sistema de controle;

j) Elogie o bom desempenho.

A Teologia da Cooperação

Em Atos 13.5, Lucas nos informa que, na primeira viagem missionária de

Paulo e Barnabé, eles tinham João Marcos como cooperador. Esta palavra

"cooperador", em grego "uperéten", quer dizer, literalmente, "o remador de

baixo". Antigamente, os grandes navios a remo, tinham duas grandes fileiras de

remos. Uma de remos mais fortes e longos, que ficavam na parte de cima, e

outra, de remos menores, que ficavam na parte de baixo, mais perto da água. Os

remadores dessa fileira de baixo, geralmente eram escravos e ficavam no porão

do navio, sentados em filas, empunhando os remos. Um outro escravo batia um

tambor para que os remadores não perdessem a cadência do impulso dos remos.

Esses eram os "ruperéten", os remadores debaixo, que se traduz como

"cooperadores", pois deveriam operar em sincronia com os remadores da fileira

de cima.

Já Salomão dizia que "melhor é serem dois do que um...." (Ec. 4.8-12).

Temos aqui uma das mais lindas analogias da cooperação. O autor começa

dizendo no v. 8 que há um que é só e não tem segundo. E isto não é bom. A

continuação do texto traz lindas figuras: "por que tem melhor paga do seu

trabalho"... "se um cair, o outro levanta o seu companheiro".. "ai do que estiver

só, pois, caindo, não haverá outro que o levante"..."também se dois dormirem

juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará?"... "E, se alguém

quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não

se quebra tão depressa".

Na teologia da liderança deve haver o espírito de cooperação, pois Paulo

chega a dizer que nós somos "cooperadores de Deus", isto é, nós operamos com

Deus. Nós operamos com Deus – Sincronizados com Ele, pelo Espírito Santo.

A Teologia do Relacionamento

Quem lidera, fatalmente se relaciona com outras pessoas, na escala

ascendente e na escala descendente da hierarquia. Se Deus é o dono da liderança,

o líder, inexoravelmente há de estar ligado a Deus - é o relacionamento vertical.

1. E Jesus é a expressão de Deus entre nós - Ele é o modelo do

relacionamento.

2. Jesus é o líder dos líderes.

3. É por isso que somos cristãos – Ele é o Mediador

4. Falando aos pastores, Pedro os exorta a pastorear o rebanho de Deus, e

deixa claro que os pastores estão ligados ao Sumo Pastor, que é Jesus (1

Pe. 5). No Evangelho de João, nos seus 5 últimos capítulos, temos os

discursos íntimos de Cristo com seus liderados. Há aqui algumas lições

de relacionamento entre o líder e seus liderados:

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a) No capítulo 13, Jesus dá a lição da humildade do líder, na lição do

lava-pés (13.4-17);

b) Depois ressalta que tem conhecimento da existência de um traidor no

grupo de liderados, mas mantém-se firme, sem qualquer espírito de

punição (13.21-30);

c) Mais à frente, fala do amor uns para com os outros (13.31-38);

d) No Capítulo 14 fala do alvo maior da liderança - ir e estar para

sempre na Casa do Pai. Esta é a grande motivação de todo o nosso

trabalho como líderes;

e) No Capítulo 15, ele mostra a relação vital que há entre ele e seus

liderados, e para que essa relação possa produzir bons frutos, é

preciso que haja amor. E isto mostra que hoje, toda nossa liderança

deve ser bem sucedida na medida em que estamos ligados à videira,

que é Jesus;

f) No Capítulo 16 Jesus fala do grande segredo do sucesso da liderança:

o Espírito Santo que seria enviando, como de fato foi, e habitaria em

cada crente, como de fato habita, se é que a pessoa é salva. É por ele

que trabalha o bom relacionamento da liderança;

g) No Capítulo 17, temos a oração sacerdotal de Jesus por seus

liderados. Aqui reside todo o segredo da liderança. Jesus é um com o

Pai e nós somos um com ele e por isso nos tornamos uma unidade.

Somos cidadãos do céu e protegidos por Deus. Portanto, toda a nossa

liderança, todo o nosso relacionamento se move a partir deste

princípio.

A Teologia da Democracia nas Reuniões de Liderança

A palavra democracia vem do grego "demos" (povo) e "kratein"

(governo), daí, governo do povo. No Novo Testamento vamos encontrar este

tipo de liderança. Naturalmente, com um detalhe muito especial: o Espírito

Santo que habita no crente, o inspira a agir e assim todos, movidos pelo Espírito,

chegam a um consenso comum. Vejamos alguns exemplos:

a) Na eleição de Matias em lugar de Judas, houve uma democracia

(Atos 1.15-26);

b) No problema da circuncisão, chamado "cisma Mosaico" em

Jerusalém, há uma demonstração cabal dessa liderança democrática.

Todos discutiram o assunto, e finalmente vem a decisão: "Então

pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a Igreja,

eleger...." (15.21). E mais a frente: "pareceu bem, reunidos

concordemente, eleger alguns varões.." (15.25). E mais: "Na verdade

pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo

algum, senão estas coisas necessárias..." (15.28);

c) E assim agiam as Igrejas do Novo Testamento.

Dentro deste princípio, quando cada crente é movido pelo Espírito Santo,

em qualquer grupo, a liderança se dará bem. Evidentemente muitas Igrejas hoje

são de governo Episcopal, em que apenas um bispo a dirige tudo. Por outro lado,

muitas Igrejas de governo democrático não levam a sério a ação do Espírito

Santo.

A Teologia do Planejamento

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Deus planejou tudo o que fez e executou. Nota-se que toda a sua criação

está dentro de uma ordem maravilhosa, inclusive reconhecida hoje pela ciência.

Primeiro criou o mundo vegetal, para depois criar o mundo animal e só no final

criou o homem, quando tudo estaria à sua disposição. Quando surgiu o pecado,

ele planejou o envio de um redentor, que está prometido em Gn. 3.15. Quando

chamou Abraão para formar uma nação, chegou a dizer o tempo em que ficariam

como uma geração peregrina: 400 anos (Gn. 15.13). Isto porque, na previsão de

Deus, "as medidas dos cananeus ainda não estavam ainda cheias" (Gn. 15. 16).

Quando puniu Israel com o cativeiro, determinou que esse cativeiro duraria 70

anos. E foi assim.

O nascimento do Messias foi previsto para acontecer exatamente durante

um recenseamento (Lc. 2.15). E isso é o que Paulo fala de "plenitude dos

tempos" (Gl. 4.4).

E Jesus, mais tarde, ensinou que se devia planejar e calcular nossos

empreendimentos (Lc. 14.25-35). Esse planejamento é tão rígido que a volta de

Jesus se dará em dia e hora exatos, que só Deus sabe. Assim, nossa liderança

deve planejar em todas as áreas. Temos tido muitos problemas em nossas Igrejas

por falta de planejamento. O planejamento não é assunto só de empresas e

empresários, mas de Deus também.

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Caixa 7. ASPECTOS TEOLÓGICOS NA VIDA DE JEFTÁ - UM VOTO APRESSADO

Teria Jeftá oferecido sua filha em sacrifício a Deus?

I - A Proibição de Deus para Sacrifícios Humanos

1. Lv. 18.21: "E da tua semente não darás para a fazer passar pelo fogo perante Moloque, e não profanarás

o nome de teu Deus; eu sou o Senhor".

2. Dt. 12.31: "Assim não farás ao Senhor teu Deus; porque tudo o que é abominável ao Senhor, e que ele

aborrece, fizeram eles a seus deuses, pois até seus filhos e suas filhas queimaram com fogo aos seus

deuses".

3. Alguns autores acham que, Jeftá era meio pagão, por isso executou seu voto.

4. Afirmam ainda que Israel estava bastante ignorante a respeito da Lei do Senhor.

5. Mas será que Deus aceitaria tal sacrifício?

6. Cremos que tal sacrifício seria nulo diante de Deus, mesmo levando em conta um voto.

7. R.N. Champlin cita Flávios Josefo: "Não era legítimo nem aceitável diante de Deus", referindo-se ao

que Jeftá havia feito. Portanto ele admite que foi feito.

8. O Targum de Jonathan diz: "Um homem não podia oferecr seu filho ou sua filha como holocausto,

conforme Jefté fez, o qual não consultou Finéias, o sacerdote; pois, se tivesse consultado a Finéias, ele

poderia tê-la redimido por um certo preço" (R. N. Champlin, Citando John Gill).

9.

II - A Bíblia se Interpreta pela Bíblia

1. Teria mesmo Jeftá sacrificado sua filha, em desobediência à Lei de Deus?

2. Um homem que Deus estava usando, pois o Espírito do Senhor o usou (11.29), poderia fazer tal coisa?

3. Naturalmente, quando fez o voto, jamais teria pensado em sua filha.

4. Para mim, a chave da solução do problema está em 11.37-39, em que a filha pede a seu pai que vá chorar

por dois meses a "sua virgindade".

5. E o verso 39, que diz: "E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu

nela o seu voto que tinha votado: e ela não conheceu varão...." (grifo meu).

6. Ora, a resposta pesa sobre a idéia de que, não podendo ele oferecer sua filha ao Senhor em holocausto,

ofereceu-a ao Senhor para ser virgem para o resto de sua vida.

7. Ademais, o voto feito foi para oferecer: "aquilo", e não "aquele". Podemos imaginar que Jeftá jamais

teria em mente oferecer sua filha ou até mesmo a sua esposa em holocausto.

8. Que me desculpem os intérpretes e até mesmo os historiadores antigos que, no entanto, não

presenciaram o fato.

9. Como teria ele feito o holocausto, se ele não era sacerdote.? E, no caso, um sacerdote judaico o faria?

10. Não creio que Jeftá tenha oferecido sua filha depois de ter sido usado pelo espírito de Deus. O texto não

esclarece, mas com certeza houve aqui uma remição ou resgate da vida dela, e uma substituição do

holocausto pela dedicação da sua virgindade ao Senhor.

Conclusões:

1. A conclusão mais óbvia é que, diante das proibições da lei, Jeftá tenha consiguido uma maneira legal

para remir a vilha, transformando o volto em outro expediente. E é o que insinua o Targum de Jonathan:

"Um homem não podia oferecr seu filho ou sua filha como holocausto, conforme Jefté fez, o qual não

consultou Finéias, o sacerdote; pois, se tivesse consultado a Finéias, ele poderia tê-la redimido por um

certo preço" (R. N. Champlin, Citando John Gill).

2. Notamos que esses informantes antigos declaram que Jeftá fez, mas eles também estavam longe do

fato, como nós hoje. A diferença é que nós temos mais recursos para análise de fatos históricos.

3. E o verso 39, que diz: "E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu

nela o seu voto que tinha votado: e ela não conheceu varão...." (Grifo meu).

4. A resposta está na frase: "E ele não conheceu varão". Fica claro que Jeftá substituiu o voto de

holocausto pelo da virgindade.

5. Finalmente, J. E Giles, em seu livro Bases Bíblicas de La ética, assim termina seu comentário sobre o

fato: "Devemos notar que o sacrifício não se consumou na vida de sua filha, mas ela foi sacrificada a

uma virgindade por toda a sua vida" (Bases Bíblicas de La Ética, Jaime E. Giles - Casa Bautista de

Publicaciones, 1969, p.24).

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9

A TEOLOGIA BÍBLICA DA MENTORIA

INTRODUÇÃO

Uma das primeiras citações da palavra "mentor", acha-se na obra de Homero

(séc. VIII a.C.), personagem da obra Odisséia, que se refere a amigo e conselheiro de

Ulisses, e preceptor de seu filho Telêmaco (Aurélio).

Modernamente tem-se usado muito o termo "mentoria", que é a atividade de

aconselhar, cuidar de alguém do mesmo contexto ou grupo, como, por exemplo,

mentoria pastoral - alguém que cuida de pastores em necessidade.

No Antigo Testamento, Eli foi um mentor de Samuel e, mais tarde, Samuel foi

um mentor de Saul e depois de Davi.

Mas o exemplo mais forte de mentoria vamos encontrar no Novo Testamento, na

pessoa de Barnabé. Todos sabemos como ele cuidou de Saulo de Tarso, quando este se

converteu e procurou introduzi-lo ou integrá-lo à Igreja em Jerusalém e cuidar dele

naquele tempo difícil de transição do judaísmo para o cristianismo.

Mais tarde, Barnabé vai atuar como mentor quando João Marcos foi rejeitado

por Paulo numa segunda viagem missionária, por algum motivo. Barnabé tomou

Marcos e o levou consigo para Chipre (Atos 15.35-39).

Também Pedro foi mentor de João Marcos, e se apegaram tanto um ao outro,

que passou para Marcos o conteúdo do Evangelho que levou o seu nome.

Paulo foi mentor de muitos jovens pastores, como Timóteo, Tito, e outros.

A idéia de mentoria não é necessariamente de alguém que está hierarquicamente

acima da pessoa, mas de alguém que cuida, que aconselha, que ajuda. Neste sentido,

precisamos muito de mentoria entre nós, em todos os níveis. Uma das áreas mais

carentes de mentoria hoje é a de pastores. Primeiro, pastores mais novos precisam beber

da experiência e do conhecimento amadurecido de pastores mais velhos. Segundo,

pastores que entram em crise, precisam de ajuda de outros colegas. É fato lamentável

entre nós que o povo de Deus pensa que os pastores são super-homens que não precisam

de ninguém. Geralmente nossas Ordens de Pastores possuem uma comissão de ética

para cuidar de disciplina dos pastores. Mas mentoria é mais do que isso: mentoria é

ajuda, compaixão, empatia, socorro.

Certa ocasião, quando exercia um cargo de liderança denominacional entre os

Batistas, fui visitar um pastor do meu campo de trabalho. Ele era um missionário

conveniado. Chegando lá, encontrei-o deprimido, lutando com vários problemas,

inclusive financeiros, e não tinha mais ânimo para realizar o seu trabalho.

Imediatamente, providenciei para que ele e sua família fossem passar umas férias no

Acampamento da Denominação, com despesas pagas e com sua remuneração de

missionário. Depois de um mês, voltou bom e prosseguiu no seu trabalho. Muitos anos

se passaram, fui encontrá-lo em outro Estado, bastante amadurecido no ministério e

feliz. Naquela oportunidade, ele me lembrou a minha atitude de ajudá-lo, o que mudou

sua vida.

Lamentavelmente, há alguns fatores que atuam entre nós, em todos os níveis de

liderança, que impedem a mentoria. Um desses fatores é o excessivo senso de

autonomia, de auto-suficiência. Geralmente nossos líderes acham que, por serem

líderes, são únicos e não precisam de ninguém. Para que a mentoria seja implantada

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entre nossas lideranças, precisamos ver o exemplo de Jesus. Naquele dia em que ele,

segundo relato de João, antes da celebração da Páscoa e conseqüente instituição da

Ceia do Senhor, tomou uma toalha e abaixou-se para lavar os pés dos discípulos, ato

que, naquela cultura, cabia aos servos e não ao mestre, e Jesus deu-lhes a grande lição

de humildade e de nivelação - todos são iguais, mestres e discípulos.

Ao longo do meu ministério vi muitas atitudes de líderes denominacionais que

se colocavam num pedestal inatingível por outros pastores considerados "mais simples"

, "menos preparados", ou "mais humildes". E hoje há líderes religiosos que jamais

descem aos demais: andam de helicópteros e de carros blindados. Esses, jamais ficam

sabendo das necessidades e crises de seus iguais na liderança cristã.

Um outro fator que impede a mentoria entre líderes é o espírito de

competitividade, a ambição de querer o cargo do outro. Notamos, muitas vezes, que

certo lider fica esperando ou desejando o fracasso do outro, para que ele possa tentar

ficar com sua posição. Isto acontece a nível de igreja, a nível de Ordem de Pastores e a

nível denominacional. E muitos até acabam dividindo Igrejas para construírem seu

"reino próprio", para se tornarem importantes. E então, não há nem oferta de ajuda, nem

procura de ajuda - não há mentoria.

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Caixa 8. ASPECTOS TEOLÓGICOS DA VIDA DE SANSÃO

1. Alguns teólogos liberais acham que Sansão nunca existiu. É apenas uma lenda. No entanto, seria muito

difícil alguém, naquele tempo, inventar coisa deste tempo. É melhor entender como personagem real.

2. Deus precisava de um líder de força física aliada a poder espiritual. Era uma questão que seria exercida

mais sobre os inimigos do que sobre Israel.

4. As Proezas de Sansão. Visitando a esposa, é enganado pelo sogro – 15. 1-2; Incendeia as lavouras dos

filisteus – 15.3-5; Brincando com o poder que tinha – 15.12-15 – amarrado, se solta; fere mil com uma

queixada de jumento; O Espírito do Senhor trabalhou nisso – 15.14; Assistência de Deus – 15.18-20.

3. O casamento de Sansão e os problemas que o envolveram estão dentro das condições culturais do tempo e

Deus se aproveitou disso para abater o poder dos filisteus (Juízes 14.1-20).

4. O fogo nas searas dos filisteus usando aquelas 300 raposas foi uma punição de Deus que realmente

massacrava o poder e a auto-estima dos filisteus (Juízes 15.1-13).

5. O ato de ferir mil homens com uma queixada dum jumento, outra vez é Deus usando força espiritual

através do físico de um homem para manifestar o Seu poder sobre os inimigos de Israel. Nota-se que Sansão

não atuou através de Israel, mas apenas realizou atos de força e poder para convencer Israel que Deus agia

através dele (Juízes 15.14-20).

6. O episódio de Sansão com a prostituta Dalila mostra as fraquezas de um líder. Sansão, por sua natureza

espiritual, era dado a emoções. Ele naturalmente não teve tempo para polir espiritualmente sua natureza. Ele

existia apenas para algumas tarefas e assim acabou prejudicando seu trabalho naquele relacionamento com a

prostituta Dalila (Juízes 16.1-22).

7. Tendo revelado seu segredo espiritual, acabou sendo dominado pelos filisteus. Mas ao final, acabou

realizando um ato final que enfraqueceu as forças dos filisteus. Ao ser levado para divertir o povo, pediu ao

moço que o conduzia, pois estava cego, que o permitisse apalpar as colunas do templo. Abraçou-se a duas

colunas, clamou a Deus e Deus o atendeu. Derrubou o templo e matou mais gente naquele dia do que o fizera

em toda a sua vida. E vem a pergunta: teria Deus concordado com o suicídio de Sansão? É uma pergunta

difícil de responder (Juízes 16.23-31).

8. Sansão julgou a Israel 20 anos ('6.31).

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10

A TEOLOGIA BÍBLICA DA ESPUIRITUALIDADE

1 Co. 2.14-16; Jo. 4.21-24

INTRODUÇÃO

Neste trabalho queremos ser bastante técnicos, porque não queremos fugir à

regra ética e partir para doutrina desta ou daquela denominação evangélica. Eis porque

estamos abordando o assunto em termos de teologia.

Existe atualmente uma grande confusão sobre vida espiritual. Igrejas com estilo

de culto solene e tradicional são vistas como Igrejas frias, sem espiritualidade; Igrejas

com estilo de culto mais liberal e barulhento, são chamadas Igrejas quentes e espirituais.

Crente que chora fácil, é crente espiritual; crente que não chora, é crente frio e carnal.

Parece que o nosso povo está confundindo "espiritualidade" com "emocionalidade"

(palavra que não está nos dicionários, mas que usamos aqui para fins de mera

comparação). Creio que é tempo de pararmos para estudar o assunto de maneira mais

acurada e com mais dependência da Palavra de Deus, sem qualquer preconceito.

Na verdade, pouco se tem falado entre nós sobre espírito. O que é o espírito do

homem? Qual a sua natureza? Como funciona? Que tem ele a ver com o processo da

salvação cristã?

Por outro lado, qual a relação entre o nosso espírito e a espiritualidade? Afinal, o

que é a verdadeira espiritualidade? De onde vem a nossa espiritualidade? Como se

desenvolve? Como se manifesta? Como podemos exercer a nossa espiritualidade?

Nesta lição queremos trabalhar com a Bíblia e a Teologia, para que possamos

entender melhor certos aspectos da Liderança cristã.

A ESTRUTURA DO SER HUMANO

Para entrarmos no assunto, precisamos entender um pouco mais da nossa

estrutura humana do ponto de vista da Bíblia. E vamos começar pelo Velho Testamento.

No Velho Testamento

Segundo o Velho Testamento, o ser humano é formado de "bassar" (carne),

animado pelo "ruah" (espírito), que se torna "nephesh" (alma vivente). Deus forma o

"ruah" dentro do homem (Zc. 12.10, e o preserva (Jó 10.12). Quando o homem morre,

o "ruah" volta a Deus e o "bassar" volta ao pó (Ec. 12.7). O "ruah" do ser humano é sua

parte imortal e que tem afinidade com o "ruah" de Deus (ver também Ez. 37.10).

Crabtree complementa: "O ruah (espírito) é geralmente considerado o elemento

mais importante do homem. É de Deus que o homem recebe o espírito. A mesma

palavra refere-se ao Espírito de Deus e ao espírito do homem. É o Espírito do Senhor

que inspira e controla os profetas. Foi o Espírito do Senhor que habilitou o profeta a

falar ao povo de Israel no cativeiro (Is. 61.1).

No Novo Testamento

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No Novo Testamento, temos três palavras que se relacionam: "psique", (alma -

At. 20.10); "noûs" (mente, intelecto); e ”pneûma" (espírito, tanto do homem como de

Deus).

Resumindo, podemos dizer que o espírito do homem provém do "sopro divino"

(Gn. 2.7; Jó. 32.8; 34.14). Esse espírito, pelo processo normal da geração e da

reprodução da espécie humana, é criado por Deus dentro do homem (Zc. 12.1). O

espírito do homem, uma vez criado por Deus, não se extingue com a morte e não morre

nunca mais (Ec. 12.7; 1 Rs. 17.22; At. 20.9-10).

Falando do relacionamento do Espírito Santo com o nosso espírito, o Apóstolo

Paulo emprega a expressão; "to pneûma", referindo-se ao nosso espírito (Rm. 8.16).

Portanto, o que nos interessa aqui, sem considerar o problema da "dicotomia" (espírito e

corpo) ou da "tricotomia" (espírito, alma e corpo), fica claro que o relacionamento

fundamental do sr humano com Deus dá-se entre o Espírito Santo e o nosso espírito (o

ruah).

O FUNDAMENTO TEOLÓGICO DA ESPSIRITUALIDADE

Assim sendo, onde começa a nossa espiritualidade? Como está fundamentado

este processo?

Ora, sabemos, pela Palavra de Deus que, com o pecado, a vida espiritual do ser

humano morreu. Não que o espírito do homem tenha morrido ou se extinguido, pois ele

faz parte da vida e é por ele que o homem foi feito "alma vivente". Mas tendo sido

cortado o seu relacionamento com Deus, o homem perdeu a sua vida espiritual ou a sua

espiritualidade, pois ficou separado de Deus. Esta é a morte espiritual.

Daí, o ser humano perdeu o contato com Deus, pois o seu "canal" de

comunicação foi obstruído pelo pecado. Deus, no entanto, preparou um plano para

recuperar essa espiritualidade. O recurso de Deus foi o envio de Seu Filho, que se

encarnou e tornou-se Jesus, o Cristo.

O Apóstolo Paulo fala muito de reconciliação referindo-se ao trabalho salvador

de cristo. Essa reconciliação não foi um mero ato formal ou externo, mas ela é o

resultado de uma elaboração interior no ser humano.

O primeiro passo dessa elaboração é o arrependimento. Arrependimento quer

dizer "mudança de mente". Isto quer dizer que nós não nascemos com a nossa mente,

mas com faculdade mental. Nesse espaço vai sendo formada a nossa mente no nosso

meio cultural à proporção em que vamos crescendo fisicamente. Essa mente é formada

de acordo com o mundo que está sujeito às leis do pecado. É como um edifício que vai

sendo construído com diversos materiais, uns bons, outros ruins. Essa mente é a central

de comendo da nossa vida e é por isso que somos infelizes e desajustados, porque

estamos sempre errando o alvo da verdadeira vida por causa do pecado que habita em

nós.

O arrependimento começa com o trabalho do Espírito Santo na nossa mente. Ele

nos convence do pecado, da justiça e do juízo. Isto quer dizer que ele nos faz tomar

consciência de que somos pecadores e como tais temos uma dívida a pagar, pois assim

exige a justiça de Deus, e se não pagarmos, haverá um juízo. Mas ao mesmo tempo, Ele

nos mostra que o próprio Deus se ofereceu para "pagar o preço", dando Seu filho Jesus

Cristo para morrer por nós, para que fiquemos livres do juízo de Deus.

Quando assumimos que somos pecadores e aceitamos a oferta de Deus em

Cristo, aceitamos passar pelo arrependimento. Mas ao mesmo tempo cremos nesse

plano de Deus em cristo. Cremos que Ele é o único que nos pode livrar da condenação,

perdoando os nossos pecados, pois Ele já morreu por nós. Neste ato, assumimos que

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Cristo morreu por nós; individualizamos o amor de deus por nós. Quando tomamos

conscientemente esta decisão, nascemos de novo, como ensinou o Senhor Jesus Cristo,

o que significa, em outras palavras, nos reconciliamos com Deus.

Neste ato, segundo Pedro (1 Pd. 1.23), somos gerados de novo. Segundo Paulo,

nos tornamos uma nova criatura (2 Co. 5.17), e passamos a desenvolver dentro de nós

uma nova mente - a mente de cristo ( 1 Co. 2.16). É isto que o Evangelho de João

chama de "nascer da água e do Espírito". Este é o ato da reconciliação tão enfatizado

pelo apóstolo Paulo.

O ato de nascer de novo vai mais longe. Segundo o que ensinou Pedro no dia de

Pentecostes, nós recebemos, no ato do arrependimento, o Dom do Espírito Santo, que é

o próprio Espírito Santo (At. 2.37, 38). O apóstolo Paulo explica melhor isto em Ef.

1.13,14, dizendo que somos selados no Espírito Santo, que nos é dado como penhor,

com garantia da nossa salvação. E mais: Paulo complementa que passamos a ser

habitação do Espírito Santo (1 Co. 6. 19,20). Assim, fica restabelecida a nossa

comunicação com Deus. Agora o canal está aberto novamente para Deus.

Em Romanos 8.16, o apóstolo Paulo nos dá a chave para o entendimento do

assunto quando diz que o Espírito de Deus testifica com o nosso espírito que somos

filhos de Deus. Isto quer dizer que há um estreito relacionamento entre o Espírito de

Deus com o nosso espírito dentro de nós. E é desse relacionamento que nasce a nossa

verdadeira vida espiritual.

Deste entendimento concluímos que o nosso relacionamento com Deus não é

provocado por atos formais de nossa parte para que nos comuniquemos com Deus, mas

que esse relacionamento começa dentro de nós, o que provoca atos e atitudes de acordo

com a verdadeira espiritualidade.

É aqui que nasce a verdadeira espiritualidade. Foi por isso que o Senhor Jesus

Cristo disse à mulher samaritana que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em

espírito e em verdade (Jo. 4.24). Daqui para a frente não necessitamos mais de altar, de

intermediários, de sacerdotes, de movimentos litúrgicos. Tudo provém do interior, onde

há um constante encontro do Espírito de Deus com o nosso espírito. É desse encontro

que vem o verdadeiro louvor, a verdadeira adoração. É desse estado interior que gera

nossa expressão corporal diante de Deus.

O PROBLEMA DA FALSA ESPIRITUALIDADE

Mas nem sempre é esta a espiritualidade que vemos em nossos dias. Nestas duas

últimas décadas, temos presenciado um crescimento bastante acentuado do povo

evangélico e, ao mesmo tempo, uma diversificação muito grande de grupos, seitas,

estilos de culto. O estudo sério das Escrituras Sagradas tem sido deixado de lado e tudo

é feito na base da experiência humana. As pessoas começam a fazer o que outras estão

fazendo sem questionar ou sem avaliar.

A base para todas essas práticas tem sido a emoção. Parece que temos voltado

aos dias dos filósofos gregos que viviam pelo prazer sentimental e aos templos pagãos

que adoravam os seus deuses agitados pelo prazer sexual. Tudo era emoção.

O que ocorre hoje, numa grande parte das igrejas evangélicas, é um culto que

apela para a emoção. Os cânticos, os movimentos, os instrumentos fortemente

retinentes, e um louvor cantado em ritmos que nada diferem dos ritmos do mundo, tudo

apela ao sentimentalismo. E isso gera os mais variados resultados e provoca vários tipos

de experiências. Por ser motivações sensoriais, muitos problemas neurológicos,

psiquiátricos e psicológicos afloram e simulam certas reações e experiências

momentaneamente agradáveis, que muitos interpretam como “experiências espirituais”,

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mas logo podemos constatar que são “pseudo experiências espirituais”, não são

autênticas. Em muitos casos – na sua maioria talvez – os que assim fazem desconhecem

esta realidade.

A chamada igreja do riso, que surgiu há alguns anos no Canadá e está se

espalhando pelo mundo, é um exemplo. Reunida a multidão, os trabalhos são feitos à

base de muita música. Música bem selecionada para causar o efeito desejado pelo

dirigente. Um lado do auditório tem cadeiras ou poltronas; o outro lado está livre, sem

poltronas, com um lindo carpete bem limpo. O povo vai cantando, cantando, cantando.

O dirigente, como verdadeiro animador de um show, vai conduzindo as emoções do

auditório. Até que alguns começam a rir. De repente, o riso contamina o grupo todo. E

isso vai se alastrando. No auge da experiência, as pessoas caem num transe de histeria

coletiva, saem de seus lugares e vão deitar e rolar naquele carpete. É como se as

músicas e o ambiente tivessem um poder hipnótico. E chamam a isso espiritualidade!

“Tudo isto nos faz lembrar uma história curiosa de um chefe de uma remota

tribo africana que um dia teve oportunidade de visitar a grande cidade de Nova York.

Um amigo americano que trabalhou naquela região da África levou o chefe para ter

aquela experiência de cidade grande. Dentre tantas coisas do progresso que encantaram

aquele chefe tribal, a torneira do hotel, de onde saia água limpa e com força, foi a mais

fascinante. E ele falou com seu amigo que queria levar uma torneira quando voltasse.

Seu amigo, sem indagar mais sobre seu desejo, comprou-lhe uma linda torneira de metal

dourado. Aquele chefe voltou para sua terra e lá, numa humilde parede da sua casa

procurou instalar a torneira da melhor maneira que pôde. Mas ficou decepcionado. Ele

abria a torneira e não saía água. Foi então chamar seu amigo para reclamar que a

torneira não lhe dava água. Foi aí que o amigo entendeu a história e lhe explicou que a

torneira deveria estar ligada por um cano a uma fonte para que pudesse lhe dar água”.

Precisamos, portanto, ter cuidado com este assunto. Não podemos correr o risco

de vivermos uma experiência que não está ligada à fonte da espiritualidade. Podemos

ser enganados pela nossa natureza psicológica e simular algo artificial, sem vida. Nos

tempos do profeta Jeremias isto se chamava “cisterna seca”, que não retém as águas (Jr.

2.13).

E aqui podem existir duas situações. A primeira, marcada por pessoas que

realmente não se converteram. A maneira como o Evangelho está sendo pregado e

vivido hoje dá margem a isto. Muitos pregadores hoje estão trabalhando com técnicas

empresarias, com manipulação de emoções e motivações que não partem do Evangelho

que transforma. Assim, muitas pessoas engajam nas igrejas, mas não tiveram uma

experiência fundamental de conversão. São pessoas que aprendem a fazer tudo

conforme o modelo, mas não são novas criaturas. Paulo apóstolo dizia: “Porque em

Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser

uma nova criatura” (Gl. 6.15).

Uma segunda situação nesta área da espiritualidade é explicada por Paulo em

sua epístola aos Gálatas. Ele fala das duas naturezas. O entendimento é o seguinte: antes

de converter-se, o ser humano é dominado por sua natureza pecaminosa, e sua natureza

espiritual está amortecida – ele está desligado da fonte, que é Deus. Convertido o ser

humano, sua natureza espiritual ressurge. Ele agora tem vida espiritual, pois é uma nova

criatura. Só que a natureza carnal não é eliminada. Assim é que Paulo conclama os

crentes a viverem alimentando a vida espiritual para que esta os domine e não a

natureza carnal. Eis porque Paulo fala do homem natural – o homem não convertido; do

homem espiritual – o homem convertido, e do homem carnal – o convertido, mas que

está se deixando dominar pela velha natureza pecaminosa, apesar de possuir a natureza

espiritual.

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A natureza espiritual está no verdadeiro crente, não importando sua Igreja, sua

denominação e até sua doutrina. Ele se converteu e é uma nova criatura. Mas ele precisa

exercitar esta natureza e fazê-la crescer para que sua espiritualidade se manifeste em sua

vida toda.

CONCLUSÃO

Parece que estamos vivendo um tempo em que as palavras antigas vão

assumindo outros significados, como que num processo acelerado de semântica. Assim,

espiritualidade passa a ter a ver com emoção e não com o espírito.

Até mesmo no Velho Testamento vamos encontrar modelo do que estamos

defendendo. O exemplo é o de Elias e os profetas de Baal (1 Rs. 18.22-46). Os profetas

de Baal tinham uma liturgia, uma prática de culto baseada na emoção e na sensualidade.

Pulavam, gritavam, feriam-se com facas (1 Rs. 18.27,28), mas nada acontecia. Quando

chegou a vez de Elias, ele "reparou o altar do Senhor que estava quebrado" (18.30). E

falou com Deus, e Deus o ouviu. Não precisou liturgia, nem gritos, nem

emocionalismos. Deus o atendeu poderosamente. A verdadeira espiritualidade não

precisa ser forçada nem fabricada. Ela existirá dentro de cada crente.

Mas a prática mostra que, quando uma pessoa é tangida na sua emoção nesta

área religiosa, e tem certas experiências, ela fica como que narcotizada. A emoção

bloqueia a razão e a pessoa não quer raciocinar para entender a verdade.

É preciso que haja muita humildade e muita dependência de Deus para que

vivamos a verdadeira espiritualidade que Deus quer de nós.

Caixa no. 9 - ASPECTOS TEOLÓGICOS NA VIDA DE SAMUEL

Samuel é chamado o último dos juízes (1 Sm. 7.15-17) e o primeiro dos profetas (1 Sm. 3.7,20-

21; 4 x Atos 3.24; 13.20), sendo também sacerdote. Ele foi, sem dúvida, um dos maiores líderes em

Israel, tendo servido como elo entre a era dos Juízes e a era dos Reis.

1. Seu nome quer dizer: "pedido ao Senhor", pois sua mãe, estéril, pediu incesantemente um

filho a Deus, até que o recebeu.

2. Mas o pedido de Ana foi feito na base de um voto: se Deus lhe desse um filho, ele seria

dedicado a Deus por toda sua vida (1 Sm. 1.11).

3. Quando Samuel nasceu, Ana esperou para que fosse desmamado e o levou ao local de culto

para que ficasse lá para sempre (1 Sm. 1.22).

4. Notamos aqui o valor da dedicação que pais fazem de seus filhos a Deus.

5. A história da chamada de Samuel por Deus é encantadora. Não há nenhum cristão que tenha

crescido numa Igreja evangélica que não tenha ouvido a história de Deus chamando Samuel.

6. Ainda menino, serviu de profeta de Deus para corrigir a corrupção que havia no sacerdócio,

levando a mensagem de Deus a Eli sobre seus filhos corruptos.

7. Na sua liderança do povo de Israel numa época de decadência, Samuel foi, antes de tudo, um

reformador (1 Sm. 7.2-4). Em segundo lugar, ele foi sacerdote. Quando a geração de Eli morreu, o

sacerdócio estava totalmente decadente (7.5-14), e provocou um verdadeiro avivamento no sistema de

culto. Em terceiro lugar, Samuel foi um líder itinerante, percorrendo vários potnos centrais da gterra

estabelecendo o juízo nas diversas disputas que havia entre o povo (1 Sm. 7.15-17; 3.1, 19-20).

8. Samuel estabeleceu a monarquia em Israel (1 Sm. 8. 1-22). Ungiu Saul e conviveu com todos

os problemas e manobras erradas daquele primeiro Rei. Depois ungiu Davi, já mais no fim de sua vida.

9. No episódio de eleição do Rei, não demonstrou inveja ou qualquer outro sentimento negativo.

Sua alegria era cumprir os planos de Deus. Amou Saul e foi seu conselheiro, mesmo a despeito de sua

desobediência a Deus. Amou-o tanto que certo dia, Deus chegou a dizer-lhe: "até quanto terás pena de

Saul?".

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10. Samuel morreu quando Davi ainda não havia tomado posse do Reino e andava ainda

perseguido por Saul. Mas, evidentemente, havaí deixado o marco que mudaria a vida de Israel com a

liderança de Davi.

11. Segundo as melhores cronologias, Samuel viveu cerca de 99 anos e serviu a Deus todos os

dias de sua vida com fidelidade ao Senhor.

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11

A TEOLOGIA BÍBLICA DO ADVERSÁRIO

ESPIRITUAL

INTRODUÇÃO

Há hoje um grande numero de livros sobre liderança. Em nenhum deles

encontrei alguma coisa sobre o trabalho ou a intromissão de Satanás, o adversário de

Deus e dos homens, na liderança. Nem mesmo Haggai, considerado um dos maiores

expoentes na área de liderança dedica algum estudo sobre o assunto, principalmente

em seu livro: "Seja um Líder de Verdade".

Como dissemos no início deste livro, a liderança começou no Éden, quando

Deus teve de corrigir a trajetória do ser humano de volta a Si, pelo fato de Satanás

ter liderado o homem para o alvo errado - a desobediência.

Geralmente costumamos dizer que Adão e Eva caíram porque eram dotados de

livre arbítrio e Deus não podia interferir na decisão deles. E ficamos a indagar algo

que não tem resposta: por que Deus permitiu que Satanás fosse tão longe na sua

intervenção da sua Criação?

Vamos examinar o assunto.

Deus Reconhece o Poder de Satanás como Adversário

É curioso observar que no Éden, Deus não dialogou com Satanás, prefigurado

numa serpente. Ele apenas pronunciou sua sentença. Usando a mesma figura da

serpente, deu-lhe penalidades e prometeu que da semente da mulher nasceria um

que esmagaria a cabeça dela - Satanás. O texto, naturalmente, refere-se a Jesus, que

venceu o Diabo.

Um dos textos bíblicos mais significativos sobre a figura de Satanás como

adversário de Deus e do seu povo, é o de Balaão, que foi chamado para amaldiçoar o

povo de Deus que estava para entrar em Canaã. É um texto que todo o cristão

familiarizado com sua Bíblia conhece bem.

Agora, perguntamos: por que Deus se preocupou com a intervenção de Balaão?

Se Satanás não significasse nada para Deus, teria Ele saído para impedir o intento de

Balaão? Sabemos, pelo texto, que um Anjo do Senhor se opôs a Balaão. Balaão não

entendeu até que a própria jumenta falou com ele. E só então Balaão entendeu que

era Deus que se opunha a ele.

Com certeza, Balaão era um profeta de Satanás, e Deus sabia que ele tinha

algum poder, eis porque se opôs a ele.

Aqui temos, portanto, Satanás, pondo-se como adversário do povo de Deus que,

sem dúvida, pelo poder de Deus, destruiria seu império em toda a terra de Canaã -

seu império de paganismo e de idolatria.

Ao longo do Velho Testamento vamos ver a atuação de Satanás contra os líderes

de Deus. Um dos exemplos, que mais tarde repontou, foi o de Jó. Satanás

provocando Deus contra Jó para destruí-lo. Depois aparece a incitação de Satanás

contra Davi, fazendo-o pecar contra Deus, no caso da numeração do povo de Israel.

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A Atuação do Adversário no Novo Testamento

Aqui, a investida do Adversário começa contra o próprio Messias. Não há

dúvida de que a famosa "matança dos inocentes" promovida por Herodes, o Grande,

foi uma incitação de Satanás contra o Messias, o que ocasionou a fuga da família de

Jesus para o Egito.

Mas a investida mais forte desse adversário contra Deus foi na tentação de Jesus,

registrada por Lucas e Mateus, ambos no capítulo quatro. Foi muito ousadia do

adversário, chegar ao ponto de querer que Jesus o adorasse. Jesus, é claro, o venceu,

mas Lucas esclarece que, acabando o Diabo aquela tentação, "ausentou-se dele por

algum tempo", dando a entender que ele continuaria sua oposição.

No decurso de todo o Ministério de Jesus, Ele teve que deparar-se com os

Demônios, agentes de Satanás, e expulsa-los. E, para que seus discípulos

conseguissem cumprir sua missão, deu-lhes poder para expulsa-lo em Seu nome.

Certo dia, quando Jesus enviou seus 70 discípulos de dois em dois para pregar o

evangelho, o Diabo foi atrás para tentar dificultar o trabalho. Mas os discípulos

voltaram com alegria dizendo que até os demônios se lhes sujeitaram. E Jesus

confirmou dizendo: "Eu via Satanás, como raio, cair do céu" (Lc. 10.17,18).

Essa presença do adversário é tão efetiva no mundo que, ao falar da organização

de Sua Igreja, Jesus já adiantou que "as portas do inferno não prevalecerão contra

ela", assumindo que haveria ataque, mas que a vitória seria certa.

E então, o assunto vai ser abordado pelos apóstolos, principalmente Pedro e

Paulo. Pedro o chama de "vosso adversário" e Paulo manifesta muitas vezes sua

preocupação para que o Diabo não enganasse os crentes pois, segundo ele, pode até

transformar-se em Anjo de Luz para enganar.

A Razão da Existência desse Adversário

Quando estudamos as origens de Satanás, descobrimos que ele era um Anjo de

alto escalão no Céu e rebelou-se querendo ser igual a Deus. Os dois textos que

mostram essa origem são Is. 14.12-17 e Ez. 28.1-19. Posto fora do Céu, veio para a

Terra e quis levar o homem a fazer o mesmo que ele queria fazer no Céu: induzir o

homem a querer ser igual a Deus. É claro que não conseguiu. Foi um engano.

Como os seres angelicais são criados imortais, Deus tem que lidar com esse mal

até o ponto em que o possa aprisionar completamente. Para isso, foi criado o

inferno. Segundo Jesus, o inferno foi preparado para o Diabo e seus Anjos.

Ao iniciar o Seu ministério, o Senhor Jesus limitou os poderes de Satanás - e isto

significa "amarrar" em Apocalipse. Muitos crêem que o Diabo será amarrado no fim

dos tempos, mas na verdade o texto de Apocalipse se refere ao início do ministério

de Jesus, ao seu "Reino Inaugurado". Se Satanás não estivesse "amarrado", isto é,

limitado, a obra de missões pelas Nações seria impossível, pois todas elas estão sob

domínio dele.

Certo autor explica essa limitação de Satanás como um cachorro bravo amarrado

por uma corrente. Seu poder de perigo vai até aonde vai a ponta da corrente. Vemos,

por exemplo, que Deus permitiu Satanás tocar em Jó, mas não tirar-lhe a vida, e isto

foi obedecido por Satanás.

No final de todas as coisas, Satanás não será "amarrado", porque não se amarra

um espírito, mas será lançado no lago de fogo e enxofre para sempre. O grande

escritor e pastor canadense Oswald Smith, chamou o inferno de "hospício do

universo", para onde vão os loucos, para que não façam mal à sociedade.

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Aplicações do Adversário à Liderança Moderna

O povo de Deus que trabalha na Sua liderança, precisa saber destas coisas.

Precisa conhecer mais esse adversário e sua metodologia de trabalho, e pô-lo no seu

planejamento, pois ele sempre estará no meio do povo de Deus para estragar tudo.

Neste sentido, ele tem feito um grande trabalho. Vamos ver alguns aspectos desse

trabalho:

1. Dividir para enfraquecer. Ao longo dos anos ele tem dividido Igrejas de

todas as linhas, para enfraquecer o trabalho. E isto ele faz atuando

exatamente nos líderes.

2. A queda de pastores e líderes principais. Atuando na vida moral e na vida

financeira, principalmente, Satanás tem derrubado grandes líderes. E quando

eles caem, com eles caem também os seguidores de Cristo. Como diz o texto

bíblico: "Ferirão o pastor e o rebanho se dispersará".

3. Aliás, há algum tempo, um de nossos pastores viajava num vôo internacional

e fez amizade com o passageiro ao seu lado. À certa altura, descobriu que

aquele simpático passageiro pertencia à Igreja de Satã. Ele disse que estava

indo para uma convenção da Igreja de Satã e um dos temas deles era como

fazer para derrubar os pastores de todas as denominações.

Caixa 10 – ASPECTOS TEOLÓGCOS DA VIDA DE DAVI

Davi é chamado pela Bíblia "o homem segundo o coração de Deus" (1 Sm. 13.8-14; 16.1-13).

Diante da desobediência de Saul, Davi é chamado o homem "melhor do que Saul" (1 Sm. 15.28).

Mas quando ele vai ser escolhido por Samuel, vem uma outra declaração curiosa a respeito de um

líder: "não atentar para a sua aparência" (1 Sm. 16.7). E aqui se aprende que Deus não olha para o

exterior nem para a aparência, mas “Deus olha para o coração”.

É quase impossível ressaltar todas as boas qualidades de Davi como líder. Vamos alistar algumas

das principais.

1. Homem de Fé. No episódio com o gigante Golias, demonstrou que confiava plenamente em

Deus. E fez aquele ato de bravura baseado em outras experiências de fé como pastor de ovelhas.

Vários dos seus Salmos falam de fé, principalmente os de número 20.7-8 e 23.

2. Homem Humilde. Apesar de Rei, assume seu pecado com humildade (2 Sm. 12.1-31), e o

confessa abertamente (Salmo 51). Também como Rei, não se nega a sofrer o dano (2 Sm. 15.16,17;

16.5-14), e assim foi principalmente na questão da luta que encarou do seu filho Absalão contra ele.

Tinha grande capacidade para humilhar-se e aceitar a repreensão de Deus (2 Sm. 24.1-25). E nós

notamos que Deus gosta da humildade (2 Cr. 7.13-15). Falta nos líderes de hoje a humildade, esta

maravilhosa virtude. As divisões de Igrejas hoje que causam tantos males à Causa de Deus, estão

ligadas, na maioria das vezes, à falta de humildade dos líderes.

3. Homem que Tinha Afinidade com Deus. Descobrimos essa afinidade nos seus muitos Salmos.

O Salmo 19.1, por exemplo, começa: "Os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento anuncia as

obras de Suas mãos". E então seguem Salmos de louvor, Salmos de cnfiança. O Salmo 23 termina

com a declaração do seu desejo maior: "habitarei na casa do Senhor por longos dias".

4. Homem Submisso. No episódio do castigo pela numeração do povo, registrado em 2 sm. 24.1-

25, Davi disse: "antes caia eu nas mãos do Senhor porque muitas são as suas misericórdias". No

tempo de sua morte, ele registrou em 2 Sm. 23.2: "O espírito do Senhor falou por mim, e a sua

palavra esteve em minha boca". Nas muitas perseguições de Saul contra ele, mesmo depois de estar

ungido Rei de Israel, ele submeteu-se ao processo que Deus conduzia, até que finalmente assumiu o

cargo. No episódio do saque de Ziclague onde estava a família de Davi e de seus homens, a postura

dele em depender de Deus é maravilhosa (1 Sm. 30.1-21).

5. Homem que Deus jamais abandona, mesmo que peque (2 Sm. 7.13.15).

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Davi tem muitas lições para os líderes de hoje. Em suma, ele era temente a Deus, que estava

acima de todas as coisas na sua vida. Há muitos líderes hoje que, na prática, se colocam no lugar de

Deus e até acima de Deus e, em alguns casos, acham que Deus é obrigado a trabalhar para eles. É

lamentável.

Em suma: o grande fator teológico na vida de Davi é que Deus não usa homens perfeitos, mesmo

porque não há nenhum. Deus usa o ser humano como ser humano, com seus problemas e defeitos, e

ressalta suas habilidades e suas virtudes. Aliás, este fato notamos através de toda a Bíblia.

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12

TEOLOGIA BÍBLICA DA DEMOCRACIA DA

LIDERANÇA

No mundo da liderança, encontramos pelo menos cinco tipos, que agrupamos a

seguir.

1. Liderança Autocrática. Este tipo de liderança concentra o poder e iniciativa no

líder, a quem cabe planejar, decidir e controlar tudo.

2. Liderança Paternalista. Este tipo é análogo ao primeiro por ser centralizador,

buscando apenas os interesses do grupo. E o líder exerce a figura de protetor,

paternal.

3. Liderança Liberal ou “laissez faire”. Neste caso o grupo tem completa liberdade

de decisão. O líder é apenas controlador, moderador, ou, como se diz

modernamente, "facilitador". À propósito, é bom lembrar que a figura do

"facilitador" é apenas para a liderança eventual de um grupo, e não de caráter

permanente. A Liderança Liberal deve ser exercida por grupos de bom nível

cultural. Caso contrário, não dá certo.

4. Liderança Democrática. É caracterizada pela cooperação e participação do grupo

nas decisões, pela delegação, pela divisão de responsabilidades, pela receptividade

de sugestões e de críticas, pela motivação e boas relações inter-pessoais dos

membros do grupo e pelo maior desenvolvimento pessoal de todos.

5. A Liderança Passiva se dá no caso de grupos de seguidores e admiradores de

determinados artistas e de intelectuais que passam voluntariamente a admirar suas

qualidades, obras ou movimentos, mas não por esforço deliberado para liderar

(atletas, artistas, filósofos, etc).

Destes tipos de liderança, o que nos interessa especificar é o democrático.

Já discutimos em capítulo anterior, brevemente, o que é democracia. A palavra

democracia vem do grego "demos" (povo) e "kratein" (governo), daí, governo do

povo. No Novo Testamento vamos encontrar este tipo de liderança. Naturalmente,

com um detalhe muito especial: o Espírito Santo que habita no crente, o inspira a

agir e assim todos, movidos pelo Espírito, chegam a um consenso comum.

Por um estudo mais acurado das Igrejas do Novo Testamento, descobrimos que

seu sistema de governa era democrático e não podemos fugir desta idéia. Naturalmente,

esta democracia é um pouco da democracia política. Na política, o povo é movido por

sua cultura, por sua compreensão e conhecimento. Na Igreja, o povo é movido pelo

Espírito Santo. Assim, subentende-se que, para agir democraticamente, a Igreja e o povo

que exerce sua liderança precisa estar em sintonia perfeita com o Espírito Santo. Uma

das mais lindas demonstrações deste aspecto está no capítulo 15 de Atos dos Apóstolos,

quando várias vezes percebemos o Espírito Santo agindo junto com o povo. Diríamos

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então que esta é uma "democracia teocrática", em que Deus inspira as decisões do Seu

povo.

Há alguns aspectos que precisam estar presente nas reuniões de uma liderança

democrática.

Planejamento

Deus planejou tudo no universo.Basta olharmos para a chamada de Abraão para

ser pai de uma grande nação.Jesus ensinou a planejar: Um homem que vai construir

uma torre; o general que vai sair para a guerra - Lc. 14.25-35.

Naturalmente, o planejamento não exclui o trabalho do Espírito Santo. Não

podemos pensar numa Igreja e numa liderança cristã sem a atuação do Espírito Santo.

Seria como pensar num corpo sem espírito.

E assim, as diversas liderança dentro de uma Igreja devem planejar o seu

trabalho.

Naturalmente que o assunto "planejamento" exige outras lições, que não vamos

tratar nesta obra. Assumimos que os líderes saibam como planejar seus trabalhos e suas

atividades.

Agendamento

As reuniões de liderança democrática devem se preocupar com o agendamento,

isto é, devem elabora uma lista de assuntos a serem tratados na reunião.

É impressionante notar como Deus usa uma espécie de agenda:

b) A declaração de Gn. 15.16 - a medida dos amorreus;

c) Jesus nasceu na plenitude dos tempos;

d) O nascimento dele estava previsto para o recenseamento - Lc.

2.1-5;

e) Haverá dia e hora da volta de Jesus, mas só Deus sabe: Mt.

24.36.

Há muitos líderes que não usam agenda, e outros a usam, mas se esquecem de

consultá-la diariamente. É preciso ter o cuidado de seguir uma agenda, principalmente

neste mundo moderno. Para tanto, todo líder deve ter uma secretária ou secretário. Ele

não deve fazer tudo sozinho

Reuniões Pequenas

1. Preparo prévio de uma agenda dos assuntos

2. Imprimir a agenda dos assuntos

3. Hora de começar e hora de terminar

4. Cuidado com o tempo das reuniões – não devem ser cansativas

5. Cuidado com o horário – começar na hora certa e terminar na hora certa

6. Tornar a reunião agradável

7. Ter os assuntos já delineados para que não se perca muito tempo

buscando o caminho da solução

Reuniões Maiores

1. Todos os cuidados das reuniões pequenas.

2. O uso de regras parlamentares.

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3. Ensinar todo o povo a usar as regras.

4. Dominar as regras para que a reunião transcorra em ordem.

5. Este é um grande problema nas nossas Igrejas com as Sessões ou

Assembléias – se o líder não domina as regras, ele se perde, a reunião

demora e há até brigas em plenário.

O Valor dos Regimentos Internos

1. Há muitos problemas em grupos por falta de definição de

operacionalidade ou funcionalidade

2. Os regimentos internos ajudam a definir posições, atribuições, tarefas

etc.

3. Ex. Um coro com regimento interno evita problemas....

4. Os Departamentos devem ter regimento interno e todos os componentes

devem conhecê-lo

Tipos de Liderança

1. Autocrática – Concentra o poder e iniciativa no líder, a quem

cabe planejar, decidir e controlar tudo.

2. Paternalista – Análoga à primeira por ser conetralizadora, busca

apenas os interesses do grupo, e busca ser protetor e paternalisa...

3. Liberal – ou “laissez faire”, o grupo tem completa liberdade de

decisão. O líder é apenas controlador ou moderador. Deve ser

exercida por grupos de bom nível cultural.

4. Democrática – Caracterizada pela cooperação e participação do

grupo nas decisões, pela delegação, pela divisão de

responsabilidades, pela receptividade de sugestões e de críticas,

pela motivação e boas relações interpessoais dos membros do

grupo e pelo maior desenvolvimento pessoal de todos.

5. Passiva – O que possui seguidores-admiradores devido às

características admiradas, mas não por esforço deliberado para

liderar (atletas, artistas, filósofos, etc).

Algumas Regras Para um Bom Relacionamento

1. Amar as pessoas em vez das coisas;

2. Aceitar os outros como eles são;

3. Aprender a ver o lado bom e a rejeitar o inútil ou nocivo;

4. Promover harmonia e reconciliação;

5. Evitar manipulação (quer seja por chantagem emocional, ameaça, gratificação

ou outra coisa semelhante)

6. Gerar motivação – pelo respeito, justiça, reconhecimento, envolvimento, etc.

7. Dar e receber informações sobre si, aos seus auxiliares diretos, ampliando assim

o seu auto-conhecimento, bem como o seu conhecimento dos outros

CONCLUSÃO: As Frases mais Importantes na Liderança

1. As seis palavras mais importantes: ADMITO QUE O ERRO FOI MEU

2. As cinco.............. VOCÊ FEZ UM GRANDE TRABALHO

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3. As quatro............ QUAL A SUA OPINIÃO?

4. As três................. FAÇA O FAVOR

5. As duas............... MUITO Obrigado

6. A Palavra mais importante: NÓS

7. A palavra menos importante: EU

Caixa 11 – ASPECTOS TEOLÓGICOS NA VIDA DE SALOMÃO

As características teológicas da vida de Salomão são totalmente diferentes das de seu pai Davi.

Aqui vai sobressair a sabedoria. O Reino agora precisava de um homem mais aristocrata e não de um

guerreiro.Neste sentido, seu pai Davi havia deixado a Nação em paz.

Notamos que Deus não leva em conta certos fatores pecaminosos. Por exemplo, Salomão era

filho de Bateseba, fruto de um terrível pecado de Davi. Mas Deus, depois de fazê-lo perder o

primeiro filho com essa mulher que ele usurpou de Urias, agora aproveita o seu outro filho, pois

havia perdoado o pecado de Davi, conforme se nota da comparação entre os salmos 51 e 32.

Vamos ver algumas características da vida de Salomão.

1. Humilde e sem ambição. O texto de 1 Rs. 3.5-28, em que Deus aparece a Salomão em

sonhos e lhe dá oportunidade para perder o que queria, registra a humildade de

Salomão. Salomão menciona a beneficência de Deus a seu pai Davi, menciona a

grandeza do povo do qual agora se tornava Rei, e, sobretudo, menciona sua

inexperiência: “... E sou ainda menino pequeno nem sei como sair, nem como entrar” (1

Rs.3.7b), e pede sabedoria (v.9). Deus ficou contente com sua atitude e deu-lhe

sabedoria mais do que a de qualquer outro, e, anda, acrescentou-lhe riquezas e glória

(vv.11-13). Esta, na verdade, era uma característica que havia herdado de seu Pai.

2. Os Efeitos da Sabedoria de Salomão. Há alguns efeitos imediatos da sabedoria de

Salomão que Deus usou:

a) Juiz sábio para questões difíceis. O caso das duas mulheres prostituas e da morte de

uma das crianças. Foi realmente de uma grande repercursão que confirmou

Salomão no reino, uma vez que ter sabedoria era prova de que Deus estava com ele.

b) Testemunho de Deus a muitos povos. Sua sabedoria percorreu o mundo daquele

tempo, a ponto de muitos virem de longe para ouvir seus conhecimentos. Foi o caso

da Rainha de Sabá.

c) Sabedoria na Administração e Organização. A sabedoria de Salomão refletiu

também na sua maneira de administrar o reino e de organizar essa administração.

Seus príncipes, as cidades, os provedores em cada parte da terra e assim por diante.

d) A sabedoria nas riquezas. Salomão, com sua sabedoria, acumulou tanta riqueza, que

era difícil guardar seus valores. A prata em seus dias simplesmente perdeu seu

valor, pois tornou-se comum.

e) A edificação do templo. Finalmente, essa sabedoria em administrar e organizar,

levou-o a construir o Templo de Deus. Ele era um autêntico engenheiro naquele

tempo. E nunca houve um templo tão belo como aquele, que foi chamado “o

Templo de Salomão”.

f) Da mesma maneira edificou um palácio que também refletia sua sabedoria.

3. A vida espiritual de Salomão. Nesse começo de vida, Salomão tinha perfeita comunhão

com Deus. Sua oração na dedicação do Templo é simplesmente monumental (1 Rs. 8;

2 Cr. 6 e 7). E como resultado da sua oração, Deus aparece a ele mais uma vez e lhe

renova promessas ( 1 Rs. 9).

4. Os pontos fracos de Salomão. Mas logo se ensoberbeceu o coração de Salomão.

a) Para manter o luxo do seu Reino, impôs pesados impostos ao seu povo, o que mais

tarde foi motivo de divisão do Reino.

b) E então partiu para a idolatria, em razão das muitas mulheres que buscou para si (1

Rs. 11), porque as mulheres que vinham para ele traziam seus deuses. 1 Rs. 11. 4

diz que em razão disso, “o seu coração não era perfeito para com o Senhor seu

Deus, como o coração de Davi, seu pai”.

c) Foi tão grande a guinada de Salomão para a idolatria, que chegou a oferecer seus

filhos a deuses estranhos.....

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A TEOLOGIA DA VISÃO DO TODO NA

LIDERANÇA

Um dos grandes da liderança é a falta da visão do todo dos propósitos de Deus.

Vamos buscar um dos exemplos mais distantes para ilustrar o que queremos colocar.

Quando José estava para morrer, chamou todos os seus irmãos e deu instruções

sobre o futuro do povo escolhido: “Eu morro, mas Deus certamente vos visitará, e

vos fará subir desta terra para a terra que jurou a Abraão, a Isaque e a Jacó”

(Gn.50.24). Os Patrarcas de Isfael não perdiam de vita o todo da promessa de Deus.

Quando sairam do Egito, o destino era a Terra Prometida – Canaã. Caminharam

40 anos pelo deserto. Muitos desistiram e ficaram soterrados no deserto, mas a visão

de Moisés era lá na frente. E com essa visão preparou seu dubstituto – Josué.

Quando Moisés morreu, Deus disse a Josué: “Moisés, meu servo é morto.....”. E

Josué tomou a direção do povo e o conduziu dentro do programa pre-ordenado. E

assim conquistou a Terra Prometida e a dividiu entre o povo.

Deus fazia questão de conservar na memória do povo seu plano final de

liderança – trazer Seu povo para si. Assim, no fim do período do Velho Testamento,

os profetas clamavam e proclamavam a Esperança Messiânica. O alvo de Gn. 3.15

era Jesus. Aquele grande estágio durou até João Batista, e Jesus inaugurou o Reino.

Mas o Reino era um outro estágio até à sua total realização. Assim, os apóstolos de

Jesus foram ensinados a prosseguir até à sua volta.