tempo fenomenologico- minkowski

Upload: italo-teles

Post on 27-Feb-2018

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    1/9

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    O TEMPO VIVIDO NA PERSPECTIVA FENOMENOLGICA DE EUGNE MINKOWSKI

    Virginia E. Suassuna Martins Costa*

    Marcelo Medeiros#

    RESUMO. Este artigo tem como objetivo abordar as concepes de tempo assimilado ao espao e de tempo vivido,especificando seus elementos estruturais e os fenmenos a eles relacionados, com base na perspectiva de Eugne Minkowski.Para tal, evidencia algumas conceituaes a respeito do tempo em Santo Agostinho e em Henry Bergson, assim com algunsaspectos biogrficos de Minkowski, que contriburam para a compreenso a respeito do fenmeno tempo. Como meta,pretende oferecer subsdios para a reflexo dos profissionais de sade no encontro clnico.Palavras-chave: Tempo vivido; espao; Minkowski.

    THE LIVED-TIME IN THE PHENOMENOLOGICAL PERSPECTIVEOF EUGNE MINKOWSKI

    ABSTRACT.This article has the objective to deal about the conceptions of time assimilated with the space and the lived time,specifying its structural elements and related phenomena, based on Eugne Minkowskis perspective. For this, it is evidencedsome concepts related to time in Saint Augustin and in Henry Bergson, as well as some Minkowskis biographic aspects thathave contributed for understanding about times phenomenon. As a goal, this paper intends to offer subsidies for thereflection by health professionals on clinic meeting.Key words: Lived-time; space; Minkowski.

    EL TIEMPO VIVIDO EN LA PERSPECTIVA FENOMENOLGICADE EUGNE MINKOWSKI

    RESUMEN. Este artculo tiene el objetivo de tratar sobre los conceptos del tiempo asimilados al espacio y del tiempo vivido,especificando sus elementos estructurales y fenmenos relacionados, embasados en la perspectiva de Eugne Minkowski. Para esto, seevidencia algunos conceptos relacionados con el tiempo en Santo Agostinho y en Henry Bergson, as como los aspectos biogrficosde Minkowski que han contribuido para entenderse sobre el fenmeno del tiempo. Como meta, este artculo se propone a ofrecersubsidios a la reflexin por los profesionales de salud en el encuentro clnico.Palabras-clave:Tiempo vivido; espacio; Minkowski.

    * Psicloga. Mestre em Educao. Professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Catlica de Gois, Goinia-GO.Doutoranda em Cincias da Sade .

    # Doutor em Enfermagem. Professor Associado da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Gois, Goinia-GO.

    Ao falar de tempo na vida cotidiana,instintivamente olha-se o relgio ou o calendrio,como se o tempo se resumisse ao tempo assimiladoao espao. A forma como o tempo cronolgico temsido vivido e experienciado na sua velocidade eextensibilidade, que no interferem no tempomarcado pelo relgio (Forghieri, 1993), no tem sidoobjeto de reflexo dos profissionais de sade. Em umaentrevista neurofisiolgica, por exemplo, indagam-seaos pacientes aspectos mais relacionados ao seu

    passado quando andou, falou, deixou de molhar acama mas pouco se investiga como esses aspectosinterferem no seu presente e na sua perspectivatemporal orientada para o futuro (Augras, 1986).

    A esse respeito tambm se posiciona Remen(1993), ao afirmar que uma viso restrita de tempopode igualmente diminuir a compreenso daimportncia e o significado de eventos e impedir umatotal avaliao sobre a natureza da sade e da doena(p.133). Para esse terico, como o tempo humano

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    2/9

    376 Costa e Medeiros

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    imediato e de longo alcance, a melhora da sade exigeuma percepo flexvel e acurada dele. Para Remen(1993), fatores anteriores aos quinze minutos de umaconsulta, alm de importantes para a compreenso dossintomas, podem ser afetados por muitos anos poraquilo que ocorra durante esse rpido encontro.Remen (1993) assinala:

    (...) a rpida interao mdica dentro daestrutura do tempo de vida do profissional edo paciente faz com que esta abranja noapenas o tempo a longo prazo, mas tambmuma dimenso de tempo inteiramentediferente, a dimenso da qualidade (...) aviso de tempo materialista ignora seusaspectos qualitativos, aqueles aspectos quepodemos chamar de dimenso humana detempo. (...) No tempo da vida at quinzeminutos tem qualidade , eles sorepousantes, difceis, ntimos, belos,educativos, dolorosos e assim por diante. ( p.137)

    Desenvolver, pois, a percepo da temporalidade,nessa perspectiva, uma forma de ampliar as questese preocupaes peculiares ao encontro clnico. Ignor-la pode levar as pessoas a perceberem problemas emrelao quantidade do tempo do profissional desade e qualidade do tempo de sua consulta.

    Entretanto, Remen (1993, p.137)

    enfatiza: osproblemas na qualidade do tempo podem, narealidade, se transformar rapidamente em problemasna quantidade do tempo.

    Desta forma, considerando a importncia do temae a escassez de reflexes que abordam reflexes arespeito do tempo-quantidade ou do relgio, referidocomo assimilado ao espao, e do tempo-qualidade,concernente ao tempo vivido, este artigo parte dealgumas reflexes sobre o tempo na tradio filosficade Santo Agostinho (1987) e de Henry Bergson (1979,1988,1999) e apresenta os elementos estruturais do

    tempo vivido na perspectiva de Eugne Minkowski(1965).

    A relao entre esses elementos da temporalidaderetrospectiva e prospectiva e a sintomatologiaapresentada pelo cliente pode beneficiar o encontroclnico, ou o cuidado com o paciente, ou a situao dopsicoterapeuta, no momento em que favorece o acessoa como o passado e o futuro so vividos em cada umde seus constitutivos temporais. O como torna-se uminstrumento compreensivo para profissionais de sadeuma vez que indica uma reflexo terica e umadimenso operativo-comportamental. Na perspectiva

    de Minkowski (1965), existir significa viver o tempo;viver o tempo recuperar o passado pela memria,

    mas tambm antecipar o futuro dando ao presenteuma dimenso dinmica.

    O TEMPO NA PERSPECTIVA FILOSFICA

    Desde a antiguidade o ser humano tentou analisarracionalmente o transcorrer do tempo, procurandoobjetivar a sua marcha, verificando as suas repetiese relacionando-as com o espao. O surgimento e odesaparecimento do sol a intervalos regularespermitiram ao homem estabelecer o dia e a noite, cadaum com seu intervalo de atividade e repouso. Os diasforam organizados em semanas, meses e anos, marcasnumricas ainda adotadas atualmente (Forghieri,1993). Dessa forma, ter conscincia do tempo

    assimilado ao espao significa estabelecer marcasentre dias e noites, manhs e tardes, entre anos, meses,semanas, estaes do ano, por instrumentos numricosou pela variao do sol no cu.

    Trata-se de um tempo mecnico, marcado porregularidades que repetem o agora pontual. o tempodo tic-tac do relgio, que anuncia o passar do tempo(Bicudo, 2003). o tempo que, na sua mesmice,pode ser vivenciado individualmente de formaangustiante, entediada, ou de outras.

    A questo do tempo medido mecanicamente evivido existencialmente na sua subjetividade levouSanto Agostinho (354-430 d.C.) s seguintesreflexes:

    (...) no h nas nossas palavras slabas longase slabas breves, assim chamadas, porqueumas ressoam durante mais tempo e outrasdurante menos tempo? (...) Pode acontecerque um verso mais curto, lido lentamente,dure mais tempo que um mais longo lidorapidamente. (1987, p. 223-224)

    Nessa acepo, o tempo no pertence, pois, s

    coisas do mundo, e sim, extenso do prprioesprito, que na experincia cotidiana o vivencia e omede, determinando sua durao com base em outrasduraes memorizadas. Dessa feita, Santo Agostinho(1987) consegue colocar em relevo o carterpsicolgico do tempo, ou seja, o seu pertencimento conscincia.

    Em Santo Agostinho (1987) h muito do que aAntiguidade pde filosoficamente dizer acerca dotempo psicolgico, ou seja, de como experienciadonaturalmente pelo esprito, o tempo vivido. Suainfluncia pode ser observada em futuras reflexes a

    respeito da vivncia do tempo, encontradas nafilosofia de Henry Bergson (1979), que por sua vez,

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    3/9

    Tempo vivido para Minkowski 377

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    contribuiu decisivamente para o desenvolvimento dasideias de Minkowski a respeito dos dficits temporaiscomo fenmeno primrio de certos distrbiospsquicos.

    A filosofia de Henry Bergson (1859-1941), porsua vez, foi fruto de sua formao intelectual em umapoca em que predominavam as teses materialistas,evolucionistas e deterministas. Em uma de suas obras(Bergson, 1988), preocupa-se em evitar que arealidade se reduza a fatos do positivismo e demonstraque aquilo que a cincia afirma sobre o tempomecnico no o dado mais concreto e imediato daexperincia, mas sim, uma abstrao. Sua anlise dotempo envolve a noo de que o presente se estendeao passado imediato (sensrio) e ao futuro (motor),tendo uma durao que simultaneamente se encontrano presente, por ele chamado de sensrio-motor.

    O mrito de Bergson reside, segundo Piettre(1997), na sugesto da hiptese de que o tempo danatureza no o tempo medida da cincia feito deinstantes, mas um tempo constitudo por uma duraoirreversvel e rica de um futuro. Sua grandecontribuio foi a distino entre tempo vivido comoexperincia interna, em contraposio ao tempocronolgico, que mensurvel (Amaral, 2004).

    Henry Bergson (1999) afirma que o tempo pareceexistir apenas na conscincia, na qual passado e futuroso presentes pela memria ou pela expectativa. Opresente , pois, simultaneamente, sensao emovimento, e nesse sentido, o meu presente poressncia, sensrio-motor (Bergson, 1999, p. 162). Opresente consiste na conscincia corporal, queexperimenta sensaes e se movimenta em direo aum futuro. A direo que cria o futuro diante doindivduo fruto do "lan vital", entendido porBergson (1979) como o impulso original e criativo davida, por meio do qual cada indivduo se movimenta,evolui, garantindo-se uno em sua marcha contnua emltipla diante de suas possibilidades.

    Com essas contribuies, Minkowski (1965) afirmater encontrado na obra de Bergson (1939) um horizontepara direcionar suas reflexes, que se estendem de formaoriginal para um campo de pesquisa, envolvendo asmanifestaes psicopatolgicas relacionadas s vivnciasdo tempo, que norteiam sua tese defendida em 1926,intitulada A noo do contato da realidade e suasaplicaes na psicopatologia.

    MANIFESTAES DO TEMPO VIVIDO NABIOGRAFIA SE MINKOWSKI (1885-1972)

    Eugne Minkowski, proveniente de umafamlia judia, viveu em So Petersburgo durante

    sua juventude. Em Varsvia, aps estudar filosofiae matemtica, foi impedido de continuar seusestudos em medicina pelo Imprio Russo, porparticipar de manifestaes polticas em favor doretorno da lngua polaca nos cursos universitriosrussos. Concluiu seus estudos em Munique, em1908, quando retornou para a Rssia e se submeteuaos exames convencionais para graduados emoutros pases (Mahieu, 2007).

    Sua viso fenomenologicamente orientada foiinicialmente fundamentada em sua prtica, comointerno em um servio de Bleuer, em 1911 e 1912, naclnica Burghlzli, em Zurich, na qual tambmtrabalharam Jung, Binswanger, Abraham, e por ondeLacan fizera uma breve passagem. Na clnica,convivia diariamente com seus pacientes, com osquais compartilhava a experincia do tempo, alm deseus ideais, sensaes e sentimentos, buscandovivenciar os momentos de sintonia e distonia com oscomportamentos deles. Afirma que, nessa vivncia,deparou-se com uma nova concepo de esquizofreniae com a essncia da psicologia da normalidade, toincorporada a todo o seu pensamento cientfico, queseria incapaz de separ-los de sua prpria pessoa(Minkowski, 1980). Nesse sentido, procuroudesenvolver uma cincia antropolgica, tendo comoreferncia o homem, com base no inter-humano,criticando os manuais de psicopatologia clssica, queconsideravam apenas uma descrio sintomatolgica,sem indicaes das significaes dos fenmenos(Holanda, 2001).

    Mdico, filsofo, cientista e tambm militantepoltico, Minkowski tornou-se um dos nomes maisconhecidos da psiquiatria (Mahieu, 2007). Foiconsiderado um dos fundadores da fenomenologiapsiquitrica, com seu colega e amigo LudwigBinswanger, desde a realizao da 63 Jornada daSociedade Sua de Psiquiatria, em Zurich, em 25 denovembro de 1922. No evento, apresentou um estudo

    intitulado Um caso de melancolia esquizofrnica, queviria a originar posteriormente sua obra intitulada Aesquizofrenia: Psicopatologia dos esquizides e dos

    esquizofrnicos (Minkowski, 1980). Posteriormente,publicou outros trabalhos importantes, nenhum delesainda traduzidos para a lngua portuguesa, a saber: Laschizophrnie. Psychopathologie des schizodes et des

    schizophrnes (1927), Le temps vcu (1933), Vers une

    cosmologie. Fragments philosophiques (1936) e o

    Trait de psychopathogie (1966). Todas essas obrasso fruto tanto de reflexes filosficas quanto de suasexperincias como psiquiatra e como voluntrio noexrcito francs, em 1915 e na Segunda GuerraMundial, determinantes para seu retorno medicina,

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    4/9

    378 Costa e Medeiros

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    particularmente psiquiatria e psicopatologia(Minkowski, 1965).

    Nos campos de concentrao, vivenciou muitosfenmenos de natureza temporal. O calendrioobjetivo, nas linhas de combate, era tambmsubstitudo por um mais apropriado situao. Os diasda semana perdiam seu significado objetivo e imediatopara os sobreviventes. O nmero de jornadastranscorridas em relao s que faltavam para oretorno ao acampamento servia de referencialtemporal. Momentos de monotonia, de tdio, demelancolia nas trincheiras eram vivenciados como umtempo imvel, sem perspectiva, e, consequentemente,dificultavam a noo de durao, sucesso econtinuidade do tempo, naturalmente presentes naorganizao cotidiana da vida. Esses fenmenos,dentre outros, foram posteriormente encontrados porMinkowski (1965) na desorganizao do horizontetemporal na esquizofrenia, na qual o doente declara:nada mais acontece, tudo parou, nem mais eu vivo.Sinto que meu corao no bate. Ele parou como meusbraos que so de vidro (...) No sei se hoje ontem(Augras, 1986, p. 36). Na depresso melanclica,observava o tempo imanente Ich-Zeit (tempo do eu)retardar-se em relao ao tempo transitivo Welt-Zeit(tempo do mundo), por meio da qual a inibio seinstalava (Bastos, 2005).

    Assim, sempre articulando aspectos vivenciais etericos e combinando de forma original ideias dafenomenologia de Edmund Husserl com o pensamentodo filsofo Henry Bergson, Minkowski (1965) nosremete ao significado de que existir significa viver otempo.

    AS ESTRUTURAS TEMPORAIS DO TEMPO: OPRESENTE, O PASSADO E O FUTURO

    Eugne Minkowski (1965) utiliza o termo devenirpara referir-se ao tempo. Em concordncia comBergson (2006), define o tempo como uma massafluida, que se desloca de forma misteriosa e potentepara frente, rumo a um futuro rico de possibilidades, ecorre para frente rumo a um advir infinito, inexorvel,como um rio se dirige para um oceano.

    Segundo Minkowski (1965), a noo de direodo tempo nos coloca diante do fenmeno jdenominado por Bergson (2005) de "lan vital".Assim como tudo na vida tem uma direo, o tempotem o seu "lan vital", que cria o futuro antes de ns.Isto significa que ele um instinto, uma energia quelana a vida frente, para alm do simples movimentode extenso e expanso do corpo; a intencionalidadeque orienta e direciona a vida rumo ao seu futuro. Para

    Minkowski (1965), quando o lan vital se apaga,o Eu perde a velocidade e a dimenso do devenir, dofuturo. O Eu, no mais presente no tempo, no oadministra nas suas exigncias temporais e dinmicas,da durao, da continuidade, da propulso organizadapela atividade e espera, desejo e esperana, e pelaao tica, sustentada pela prece.

    O tempo uma experincia primria e vital, quede to prxima, no consegue ser exaurida peloconhecimento, pelos sentimentos ou pela vontade, eque se encontra na existncia de duas formas: comotempo assimilado ao espao e como tempoqualidade ou tempo vivido. O primeiro refere-se aotempo do tic-tac do relgio, do calendrio,mensurvel em dias, meses e anos, medido por leisnaturais de durao, sucesso e continuidade. Asegunda forma pela qual o devenir se encontra naexistncia humana refere-se ao tempo-qualidade outempo vivido. Este tempo, em oposio ao primeiro,no se reduz absolutamente s dimenses espaciaismensurveis. o tempo vivido na introspeco, talcomo aparece conscincia; um puro tempo dado experincia. No existir cotidiano (Forghieri, 1993),independentemente do tempo do relgio, pode-sevivenciar o tempo com velocidades, intensidades eextensibilidades que se diferenciam em virtude dassituaes e sentimentos que delas decorrem. Instantesvivenciados em sintonia passam rapidamente; oscaracterizados pelo tdio decorrem devagar; horaspodem ser vivenciadas como minutos e, inversamente,minutos como horas; o passado pode estender-se at ofuturo, ou este, at o presente.

    O devenir , pois, uma experincia umaconscincia que dura em uma sucesso de momentos.Ele uma continuidade vivida. Nesse aspecto, h queenfatizar a importncia da funo biolgica damemria e da fala, para que a durao possa darsucesso e continuidade unidade do eu. Afinal, amemria um instrumento funcional do crebro e da

    psique que recupera os fatos, oferecendo-lhes o carterde durao (Bergson, 1999).

    O PRESENTE E O AGORA

    A organizao temporal da mente no nos dadanaturalmente, haja vista as iluses temporais dascrianas e de pessoas doentes. O presente um ato demuita complexidade, um estado da mente, e englobaum grupo de fenmenos, incluindo o agora(Minkowski, 1965).

    O devenir, com suas leis naturais, de durao,sucesso e continuidade em relao ao eu, produz opresente que mantm em si mesmo o agora, embora a

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    5/9

    Tempo vivido para Minkowski 379

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    ele no se restrinja. O presente tem a funo depermitir que o agora se instale. O agora pontual, um instante, uma parte elementar do tempo, no qualno se observam os fenmenos da durao e dasucesso. O agora, como afirma Bicudo (2003),emerge no presente e nele se finda. O agora aconscincia da existncia no presente. Ele um pontomuito denso, no qual se concentra, em um instante, oltimo momento do passado e o primeiro momento dofuturo. Ele est no presente, anima-o e o torna vivo,mas no o presente.

    O presente, por outro lado, caracteriza-se peladurao, sucesso e continuidade, e,consequentemente, no pode ter incio e fim fixados.Embora semelhantes, o presente e o agora so,portanto, fenmenos temporais distintos (Bicudo,2003).

    O presente une o passado e o futuro, dandodurao, sucesso e continuidade ao tempo vivido.Essa concepo de presente, com base na ao dotempo no espao, foi posteriormente desdobrada naspesquisas de Schmitz (Dias, 2007).

    Por outro lado, problemas na memria podemtambm alterar a percepo do fenmeno de durao,sucesso e continuidade do tempo. Quando ocorre aruptura da durao do tempo, o devenir, fluxocontnuo, de um lado, pode fragmentar-se em partes,sem comunicao e influncia, sem di-logo, sem dia-ltica, e o tempo passa a ser vivido de formaesquizofrnica, perdendo suas partes constitutivas,fragmentando-se em momentos. De outro lado, o eupode viver no presente, envolvido por memrias dopassado, a ponto de senti-lo mais vivo que o presenteatual.

    O PASSADO

    Em relao ao passado, Minkowski (1965)

    apresenta trs categorias a recordao, o remorso e opesar elementos capazes de abrir de novo o caminhopara o futuro, se ressignificados.

    A recordao, para ele, expande o presente e tornao passado revivido no aqui-e-agora, por intermdio deseus significados, que se tornam abertos para seremressignificados; ela refora valores e enriquece a vida.O remorso, caracterizado por uma recordaoconsciente de um passado, reconcilia-se com asexigncias do devenir, e em seu carter prospectivo,pode reparar as falhas de um tempo, eticamenteprojetado para a busca da ao tica. O pesar, outro

    fenmeno definido como uma extenso natural dopassado, aplica-se a acontecimentos de menorgravidade, e se refere especialmente ao lamento pelo

    bem no cometido ou pelo mal materializado em umato transgressivo, podendo tambm, em seu carterprospectivo, ser ressignificado. O passado, paraMinkowski (1965), , pois, o tempo (j) vivido,recuperado pelas trs categorias; no fenmeno dadurao, o antes que d significado ao agora eao depois.

    O FUTURO

    Em razo do fenmeno do lan vital(Minkowski, 1965), que contm de forma primitiva anoo de direo do tempo, nossa vida essencialmente orientada para o futuro. Mesmo que sereviva o passado, em forma de memrias, ou se viva

    no passado, essa uma questo de reviver ou de viverem. O futuro, por seu turno, vivido de uma maneiramais direta e imediata, pois a ateno do eu primariamente direcionada para ele. O futuro garanteuma perspectiva ampla e majestosa diante do eu, aqual se perde de vista e o aproxima do misterioso, toindispensvel vida espiritual quanto o ar puro para arespirao.

    Nesse sentido, h que se inquirir como o futuropode ser vivido, sem que dele se tenha conhecimento.A resposta para a questo encontra-se relacionada aosseis fenmenos ou categorias do lan vital do eu,que lhe permitem viver intencionalmente o tempo, asaber: a atividade e a espera, o desejo e a esperana, aprece e a ao tica.

    ATIVIDADE E ESPERA

    A atividade definida como um fenmenoessencial da vida. Tudo que vive ativo e tudo que ativo vive (Minkowski, 1965, p. 84). Ela um dosfenmenos de natureza temporal que se encontradirigida para o futuro ou o tempo advir, como

    menciona o autor, oferecendo-lhe uma vivnciaimediata. A atividade estende-se nessa direonaturalmente, e no pode ser fixada ou interrompida,permitindo ao eu a sensao de expanso e deidentidade. a energia vital que contm o fatordurao ativa, responsvel pela sequncia, coerncia efinalidade das aes que se sucedem no decorrer dotempo na vida do indivduo, colocando-o diante dofuturo.

    No seu sentido originrio, nuclear, portanto, aatividade significa a alegria imediata de viver, apesardas perdas e dos fatores de limitao. Essa categoriafoi vivenciada por Minkowski (1965) quando seencontrava em situao de risco no campo de

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    6/9

    380 Costa e Medeiros

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    concentrao, e paradoxalmente, experienciava aalegria de ainda estar vivo.

    A atividade , portanto, uma energia temporal,transformada em matria que se funde com a abertura,com a potencialidade de contato com o meioambiente, preenchendo um vazio repleto depossibilidades diante do indivduo. um fenmenooriginal e neutro, que muitas vezes parece sersuficiente em si mesmo, pois, em muitos momentos, oeu se deixa simplesmente viver, aproximando-se dosfenmenos da sintonia e do repouso, embora deles sediferencie. Em outros momentos, ela ateno etenso, uma energia concentrada, pronta para explodirna ao ou na sequncia de aes, garantindo o ser ese identificando com a sua expanso.

    Embora seja a expanso do eu no seu lan vital,a atividade contm em si o fator de limitaodinmica, determinada por ela mesma, no momento docontato com o meio social. Trata-se de limitaoqualitativa, que no bloqueia, no retm, noaprisiona, mas protege o lan vital para que ele seconcentre qualitativamente, e no se perca e seconsuma em outras direes e metas.

    O fenmeno temporal vital, que se situa nomesmo nvel que a atividade mas a ela se contrape, a espera. Na espera, ao contrrio, ns vivemos otempo no sentido inverso. Ns vemos o futuro vindo

    em nossa direo e esperamos que o futuro se faapresente, afirma Minkowski (1965, p. 89). Naatividade, o eu presente e dirige os eventos, ao passoque, na espera, o eu experimenta seus limites e resistes foras alheias fora do destino. A espera aprpria atividade no momento em que se contm, mastambm se encontra aberta s possibilidades aindaobscuras e impossveis.

    A espera restringe o lan vital pessoal a umabrusca, repentina e improvisada, parada, e por issoprovoca uma grande angstia. o prprio devenir que

    inverte a sua rota em vez de ir para diante, vai paratrs. Ela suspende a atividade e fixa o sujeito de formaangustiante. Pode-se afirmar que, nesse fenmeno,todo o futuro, o advir concentrado, est fora doindivduo e cai sobre ele como uma massa poderosa ehostil, na tentativa de mumific-lo.

    Se a atividade provm da alegria de viver, aespera sempre angustiante e provoca a sensao deum morrer prximo. Em seus matizes afetivos,portanto, atividade e espera so claramente opostas.

    Na espera, o lan vital paralisa-se por no maister domnio e controle sobre o tempo, e torna-se vtima

    do advir, que se dirige contra o eu, suspendendomomentaneamente a vida, que se fragmenta em uma

    sucesso de instantes, perdendo a dimenso dadurao.

    Enfim, se na atividade o eu se estende nosespaos vazios, tornando-se quase um todo, na esperao eu reduzido mais simples expresso, ficando sobameaa de ser engolido, tornando-se quase nada.

    No obstante, medida que ambas as categoriasse equilibram, uma a servio da outra, como quando aespera se aproxima da essncia da atividade,exprimindo uma tenso-abertura-prontido em relaoa um possvel evento dado, como oportunidade-apelo-chamada, elas promovem a possibilidade de o eu atuarno mundo de forma adequada.

    DESEJO E ESPERANA

    O desejo e a esperana, outros dois momentos dotempo, embora situados na mesma direo do tempo,rumo ao advir, esto para alm da atividade e daespera, colaborando para sua construo. Essas duascategorias retiram o eu do contato imediato,favorecendo o contato com o mediato, alargando aperspectiva do futuro diante de si mesmo, e afirmamque h sempre algo a desejar e a esperar da vida, dofuturo. Na atividade, portanto, o eu carregado para ofuturo de forma mais imediata e contnua, ao passo

    que, no desejo, conduzido de forma mediata,distanciando-se do agora e permitindo repouso aoprprio presente. Nesse sentido, essas duas categoriasrelacionam-se diretamente com o fenmeno maislongnquo, em todas as direes, em todos os sentidos,oferecendo possibilidades para a atividade realizar asua obra.

    Sem o desejo, o eu perde sua fora, coragem,intimidade consigo mesmo, e promove um grandevazio existencial que vai engolindo a vida e o tempo edegradando o espao.

    medida que o desejo abre, de forma mais

    ampla, o futuro diante do eu, supera a esfera particulardo que se possui, indo sempre alm. S se podedesejar o que no se possui, o que gera o verdadeirosignificado da vida. Dessa forma, h mais satisfaono desejo e na esperana do que na realizao, naconquista, na posse, porque ambos possuemhorizontes infinitos. Na realizao, a obra fecha-se sdemais possibilidades (Minkowski, 1965).

    O desejo, mais especificamente, caracteriza-se porser mais fixo e duradouro que a atividade, visto queesta, pela sua prpria natureza dinmica, no pode serfixada, a no ser por um tempo de parada sob a forma

    do euexisto(Minkowski, 1965). To essencial vidacomo a atividade, o desejo pode ser comparado

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    7/9

    Tempo vivido para Minkowski 381

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    forma que anima a matria, pois sem a forma a matriase perderia, assim como sem o direcionamento dodesejo a vida explodiria ou implodiria. Por outro lado,o desejo, em algumas situaes, pode ser maisepisdico que a atividade o eu pode no apresentarclareza em relao aos seus desejos.

    Finalmente, o desejo pode ser tambm definidocomo uma sombra projetada pela atividade para ointerior do eu, como uma representao vivida delamesma. Nesta dimenso, portanto, parece que o desejoest mais intimamente ligado ao eu ntimo, ao meu, doque ao eu da atividade, e parece ser uma faculdadeadicionada atividade no curso da evoluo dos sereshumanos (Minkowski, 1965).

    A categoria temporal esperana, em particular,

    por seu turno, vivenciada pelo eu na mesma direoda espera, na direo futuro-presente e no na direodo presente-futuro, embora no seja umprolongamento linear da espera (Minkowski, 1965).Ao passo que o desejo contm a atividade dentro de si,a esperana nos libera da ansiedade e do aperto daespera; ela desvia o contato com o presente imediato edirige o olhar do eu para uma instncia mais distantedo que aquela que se sucede imediatamente. Naverdade, no existe esperana de algo no instantepresente ou naquele que imediatamente o sucede, masde alguma coisa no futuro. Quando eu tenho

    esperana, eu espero a realizao daquilo pelo qualtive esperana, assevera Minkowski (1965, p. 103).

    A esperana a caracterstica que permite aoadvir se apresentar nossa frente, como um horizontede possibilidades que, por si s, mais fascinante doque a prpria conquista. Aparentemente, a esperanapode dirigir-se ao passado, como, por exemplo, naexpresso tomara que ontem nada tenha acontecidoao meu amigo em relao a um acidente ferrovirioainda no esclarecido pelas notas oficiais. Trata-se deum passado que se parece mais com o futuro, no qual

    h a espera das notcias, h a esperana de umarevelao futura, que mesmo pertencendo a umpassado, ser desvelada, dando espaos a sentimentosde alegria ou de dor no futuro.

    Como elemento constitutivo e construtivo doadvir, a esperana situa-se alm do otimismo e dopessimismo, produzindo um sentimento como naexpresso dar a volta por cima, e se faz presente,mesmo depois de inmeras derrotas. A esperana,como o desejo, encontra-se tanto ou mais intimamenteligada ao eu, permitindo-lhe refugiar-se paracontemplar a vida na sua extenso. Resistente ao

    prprio otimismo e ao pessimismo, a esperana vaialm de ambos, uma emoo contemplativa e

    construtiva porque, sem ela, o advir mediato noexistiria.

    PRECE E AO TICA

    Para alm das categorias descritas, encontram-seas duas ltimas, relacionadas com a prece e a aotica. A esperana transporta o eu no tempo emdireo eternidade, e, nesse momento, ela seidentifica com a prece. ela que d consistncia prpria espera e a resgata da passividade. O agora daespera torna-se operante e se ilumina na esperana,resgatando e significando os seus insucessos edecepes (Minkowski, 1965).

    Como todos os outros fenmenos vitais, a precetem sua origem na afirmao da vida, embora surja emcircunstncias nas quais ela aparece ameaada, comona presena da morte, nos desastres fsicos ou morais,que ameaam o eu. Nessas situaes, a esperanaparece ser insuficiente para confortar o eu,promovendo o seu movimento em direo prece. omomento em que o eu se eleva para alm de si mesmo,daquilo que o rodeia, em direo a um horizonteinfinito, para uma esfera alm do tempo e do espao,cheia de grandeza, claridade e mistrio (Minkowski,1965).

    Destarte, refletir sobre a prece equivale, no fundo,a falar da f em uma divindade com a qual o eu entraem dilogo. Entretanto, como categoriaminkowskiana, a prece no se reduz a uma recitaoquotidiana de oraes e de rituais e, pela sua naturezaintrnseca, um fenmeno excepcional, que nonecessita ser praticada diariamente, pois est paraalm desse aspecto: a presena do fator futuro naprece que a distingue dos outros estados msticos oureligiosos, como a orao, meditao ou xtase(Minkowski, 1965, p. 107). Mesmo que se refira a umpedido de perdo por algo cometido no passado, ela se

    dirige para o futuro. Ela consiste na elevao doesprito, de forma solene, sagrada, motivada porsituaes existenciais de diversas naturezas, e nessesentido pode ser acessada at por aqueles que duvidamda existncia de Deus. Ela uma interiorizaototalmente vivida, na qual o eu se depara com oambiente em transformao e com o que mais deprofundo existe em si mesmo (Minkowski, 1965).

    O desejo e a esperana superam a atividade e aespera, transformando o imediato no mediato; a prece,porm, vai ainda mais adiante, transformando omediato em absoluto (Minkowski, 1965). Na direo

    do absoluto, vai to longe que o eu no saberia comoir mais alm. A prece dirige-se para um horizonte to

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    8/9

    382 Costa e Medeiros

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    distante, que parece estar fora do tempo e do espao,permanecendo, paradoxalmente, to perto do eu, comose este pudesse por ela ser transformado. A precenasce da parte mais profunda do eu, e lhe permite iralm de si mesmo, em direo sua parte maisprofunda, alm do meu. A prece , nesse aspecto,uma exteriorizao e interiorizao totalmente vividapelo eu, simultaneamente oferecendo-lhe o significadoprimordial da abstrao. Ela conecta o eu com o queele persegue durante toda a vida, o conhece-te a timesmo, constituindo o estgio mais elevado esupremo em relao s categorias compostas pelodesejo e pela esperana, uma vez que, durante a prece,o eu no somente deseja e tem esperana, mas fazmuito mais ele reza.

    Por ltimo, Minkowski (1965) identifica como opilar principal da estrutura da temporalidaderelacionada ao advir, a ao tica, por consider-la umdos elementos constitutivos essenciais, seno o maisimportante da vida e sobre o qual ela se baseia. Semessa categoria, segundo ele, seramos seres amorais, oque modificaria sobremaneira a vida e a abertura dofuturo diante do ser humano.

    A ao tica, como a prece, tem uma ressonnciatotalmente natural, por sua prpria essncia, e seencontra ao alcance de cada um de ns. Ela arealizao do que h de humano em ns, do que

    virtualmente comum em ns, daquilo que anima toda anossa vida (Minkowski, 1965). Ela aproxima o eudaquilo que existe de mais sublime, de mais elevado,de mais ideal nele mesmo, favorecendo o progressoefetivo da sociedade. Por meio da ao tica, ocorreuma fuso imediata entre o universo imediato e o euque, esquivando-se dos interesses que constituem amaterialidade da vida, penetra e apela para o queexiste de melhor em si mesmo, em uma inspeoluminosa, tomando conscincia de si mesmo.

    A ao tica a nica ao que resiste ao devenir,que tenta submergir tudo sua passagem,

    permanecendo sempre acompanhada de umsentimento de alegria, intimamente ligado atividade.Alegria que no de prazer, mas de realizao do queh de mais elevado no ser humano a ao tica, naqual o eu se recria continuamente.

    Em sntese, as duas primeiras categorias, aatividade e a espera, so motivadoras e orientadorasdo eu em relao ao horizonte temporal, quepermanece em uma atitude atenta s solicitaes, a umchamado, a uma oportunidade, dada por um evento dahistria; as duas seguintes, o desejo e a esperana, soaspectos que, transcendendo o tempo, permitem aolan vital do eu transitar no universo dos valoressem limites, movimento que a expresso da essncia

    do ser, na liberdade do seu advir; e as duas ltimas, aprece e a ao tica, recuperando os valores dopassado antecipam o futuro, ampliam o presente,dando ao aqui-e-agora horizontes sem fim,confirmando o eu na sua existncia.

    CONSIDERAES FINAIS

    As reflexes a respeito do tempo abordadas naperspectiva filosfica de Santo Agostinho (1987),Bergson (1979, 1988, 1999) e Minkowski (1965)incluem a concepo de tempo assimilado ao espaoe a do tempo vivido, na qual o presente contm deforma singular o passado e o futuro. Santo Agostinho(1987) enfatiza elementos, como a memria e a

    expectativa, que atuam no presente pela ateno;Bergson (1999) define o tempo presente comosensrio-motor e, finalmente, Minkowski (1965)sinaliza a existncia do presente como fruto de umpassado do qual surge e de um futuro para o qual sedirige por intermdio de seus elementos estruturais edo fenmeno "lan vital", que cria o futuro diante dens.

    A possibilidade de compreender o modus vivendida temporalidade do paciente por intermdio do comoo lan vital tem sido vivido, sua velocidade eextenso em relao ao futuro, rupturas nas partesconstitutivas do passado, presente e futuro queacarretam a perda do efeito de durao decontinuidade, fragmentando o tempo em momentos,dentre outros aspectos, parecem indicar uma dimensooperativo-comportamental nos elementos constitutivosda temporalidade, utilizvel clinicamente.

    O profissional de sade, atento ao comopassadoque se faz presente pelos elementos constitutivos recordao, memria ou pesar, poderia atuar naressignificao de tais elementos, ampliando o futuroque se impe diante do paciente, e desenvolverintervenes nos elementos constitutivos do futuro atividade e espera, desejo e esperana, ao tica e aprece , proporcionando ao indivduo possibilidadesde resgate de sua funo de protagonista da prpriavida, tal como aponta Petrelli (1999).

    Atuar de forma operativo-comportamental noselementos do tempo vivido apoia-se, tambm, naconcepo heidegeriana (Heidegger, 1981) segundo aqual cuidar, em uma perspectiva temporal, considerar o que passou e ter pacincia com o que estpor vir.

    Como afirma Remen (1993), um crescente

    nmero de pessoas tem acreditado na dimensoampliada do tempo, e at mesmo em alguma forma devida aps a morte. Para ele, aquilo que a pessoa sente

  • 7/25/2019 Tempo Fenomenologico- Minkowski

    9/9

    Tempo vivido para Minkowski 383

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 2, p. 375-383, abr./jun. 2009

    e acredita a respeito do tempo um aspectofundamental no seu processo de cura.

    Todas essas possibilidades surgem da crena deque o tempo no apenas uma dimenso do mundo,mas uma orientao significativa do ser; umaconstruo na qual o presente no determinado pelopassado, mas pelo horizonte futuro, com suascategorias especficas, em que o passado e o presenteso vivenciados.

    O tempo, embora seja a garantia daimpermanncia do ser no mundo, tambm condiode sua existncia, diante da qual somos todosresponsveis. No decorrer de nosso existircaminhamos, a cada dia, para viver mais plenamente,assim como morrer mais proximamente, declaraForghieri (1993, p. 52).

    preciso, afirma Costa (2003), descobrir o ser-apor detrs do sintoma, uma vez que carne, sangue enervos so apenas uma fina camada que envolve umsegredo invisvel, uma estria que mora em ns. Opaciente no um caso, e sim uma pessoa, cujalinguagem da alma se expressa no corpo, no tempo dorelgio e no tempo vivido.

    REFERNCIAS

    Agostinho, S. (1987). Confisses de magistro. 4 ed. So Paulo: Nova

    Cultural.Amaral, A. E. V. (2004). O mtodo de Rorschach e a psicopatologia

    fenmeno-estrutural.Estud. Psicol.,21(1), 73-81.

    Augras, M. (1986). O ser da compreenso: fenomenologia dasituao de psicodiagnstico. So Paulo: Vozes.

    Bastos, C. L. (2005). Depresso, cultura e temporalidade.Recuperado em 12 de maro de 2007 emhttp://www.polbr.med.br/arquivo/art0205b.htm

    Bergson, H. (1979). Cartas, conferncias e outros escritos. (F. L.Silva, Trad.) Coleo Os Pensadores. So Paulo: Abril Cultural(Original publicado em 1903).

    Bergson, H. (1988).Ensaio sobre os dados imediatos da conscincia.

    (J. S. Gama, Trad.). Lisboa: Edies 70.

    Bergson, H. (1999).Matria e memria. 2 ed. (P. Neves, Trad.). SoPaulo: Martins Fontes (Original publicado em 1939).

    Bergson, H. (2005). A evoluo criadora.(2005). 1 ed. (B. PradoNeto, Trad.). So Paulo: Martins Fontes (Original publicado em

    2004).Bergson, H. (2006).Durao e simultaneidade. A propsito da teoria

    de Einstein.1 ed. (C. Berliner, Trad.). So Paulo: Martins Fontes(Original publicado em 2006).

    Bicudo, M. A. (2003). Tempo, tempo vivido e histria. Bauru:EDUSC.

    Costa, V. E. S. M. (2003). A fenomenologia como possibilidade deentendimento da relao mdico-paciente. Em R. F. G. R. Branco(Org.), A relao com o paciente (pp. 25-32). Rio de Janeiro:Guanabara Koogan.

    Dias, G. S. O corpo em mira: entrevista com Hermann Schmitz.Novos Estudos CEBRAP, 74. Recuperado em 20 de maro de2007 em http://www.scielo.br

    Forghieri, Y. H. (1993). Psicologia fenomenolgica: fundamentos,mtodos e pesquisa. So Paulo: Pioneira.

    Holanda, A. F. (2001). Psicopatologia, exotismo e diversidade: ensaiode antropologia da psicopatologia. Psicologia em Estudo, 6(2),29-38.

    Heidegger, M. (1981). Todos ns... ningum: um enfoquefenomenolgico do social. (D. M. Critelli, Trad.). So Paulo:Moraes (Original publicado em 1922).

    Mahieu, E. T. (2007).Historia de la Psiquiatria: Eugene Minkowski(1885-1972). Recuperado em 10 de maro de 2007 emhttp://www.psicomundo.org/otros/minkowski.htm.

    Minkowski, E. (1965).Il tempo vissuto.Roma: Einaude.

    Minkowski, E. (1980). La esquizofrenia: psicopatologia de losesquizides y los esquizofrnicos. Buenos Aires: Editorial Paids.

    Remen, R. N. (1993). O paciente como ser humano. So Paulo:Summus.

    Petrelli, R. (1999) Para uma psicoterapia em perspectiva fenomnicaexistencial. Goinia: Editora UCG.

    Piettre, B. (1997). Filosofia e cincia do tempo. Bauru: EDUSC.

    Recebido em 20/09/2007

    Aceito em 04/09/2008

    Endereo para correspondncia : Marcelo Medeiros, Rua 1128, n. 572, Quadra 237, Lote 09; Setor Marista; CEP 74175130,Goinia-GO, Brasil.E-mail: [email protected]