tempo de jejum prÉ-operatÓrio realizado em hospitais ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/diss_2014_ana...

63
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS BRASILEIROS. ESTUDO MULTICÊNTRICO. Ana Laura de Almeida Dias Orientador: Prof. Dr. José Eduardo de Aguilar Nascimento CUIABÁ - MT 2014

Upload: others

Post on 21-Jun-2020

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM

HOSPITAIS BRASILEIROS. ESTUDO MULTICÊNTRICO.

Ana Laura de Almeida Dias

Orientador: Prof. Dr. José Eduardo de Aguilar Nascimento

CUIABÁ - MT

2014

Page 2: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM

HOSPITAIS BRASILEIROS. ESTUDO MULTICÊNTRICO.

Ana Laura de Almeida Dias

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Saúde da Universidade

Federal de Mato Grosso, como pré-requisito para

obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde,

sob orientação do Prof. Dr. José Eduardo de Aguilar

Nascimento.

CUIABÁ - MT

2014

Page 3: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS
Page 4: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Anair e Viniel, que com muito carinho e apoio não mediram esforços

para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.

A Felipe e Juliana, meus queridos irmãos.

E ao meu namorado Daniel Morais, pela força e incentivo.

Page 5: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

AGRADECIMENTOS

A Deus e à Virgem Santíssima, que iluminaram o meu caminho durante esta longa

caminhada.

Ao meu orientador, Prof. Dr. José Eduardo Aguilar Nascimento, meus sinceros

agradecimentos pela paciência, dedicação e profissionalismo durante toda essa

trajetória.

À profª Drª Diana Borges Dock Nascimento, pela amizade e incentivo.

Ao prof. Dr. Pedro Eder Portari Filho e ao Dr. Carlos Onete, pela contribuição no

delineamento do estudo e aquisição de dados.

À profª Drª Maria Isabel Toulson Davisson Correia e ao prof. Dr. Antônio Carlos

Campos, pela colaboração e revisão do manuscrito.

Aos professores da Pós-Graduação em Ciências da Saúde, pela excelência no ensino.

Às Nutricionistas Paula Pexe Machado e Francine Perrone, pelo companheirismo e

colaboração.

Ao acadêmico de medicina Romulo Rocha, pela ajuda na coleta de dados.

Aos demais colaboradores e membros do Brazilian Group for the Study of

Preoperative Fasting Time (BIGFAST):

Dr. Bernardo Santos de Souza (Hospital Gaffrée e Guinle University, Rio Janeiro -

RJ); Prof. Dr. Dan L Waitzberg; as Nutricionistas Ariana Lee, Liria Nubia Alvarengae

Thais de Campos Cardenas (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – ICESP, São

Paulo - SP); Nutricionista Talita Cestonaro (Hospital de Clínicas do Paraná, Curitiba

– PR); Nutricionista Haracelli Leite (Hospital de Cancer de Mato Grosso, Cuiabá -

MT) as Nutricionistas Patricia Ramos, Fabiana Sigrist Bertti e Vivian Palo Pereira

Scarpato (Hospital Bandeirantes, São Paulo - SP); Dr. Diogo Toledo (Hospital São

Luiz, São Paulo - SP); Nutricionistas Fernanda Cristina Alves de Lima e Carla

Page 6: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

Rubino Bacco (Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, São Paulo -

SP); Nutricionista Márcia Carolina Siqueira Paese e Dr. Marcelo Sepulveda

Magalhães Faria (Hospital Metropolitano, Várzea Grande - MT) Nutricionista

Gabriela Villaça Chaves e Daiane Spitz de Souza (Instituto Nacional do Câncer –

INCA, Rio de Janeiro - RJ); Dra. Maria Isabel Toulson Davisson Correia e Dr.

Marcelo Portes (Hospital Luxemburgo, Belo Horizonte - MG); Dr. Carlos Henrique

dos Santos e a Nutricionista Thais Tapajós Gonçalves (Hospital Universitário João de

Barros Barreto, Belém - PA); Dr. Álvaro Armando Carvalho de Morais, Dr. Rafael

Carvalho de Morais e a Dra. Gilmária Millere Tavares (Hospital Santa Casa de

Misercórdia, Vitoria - ES); Dra. Mayra da Rosa Martins Walczewski, MD e

Nutricionista Tatiane Coan (Hospital Nossa Senhora da Conçeição, Tubarão -SC);

Nutricionista Camila Brandão Polakowski e Dr Vinicius Basso Preti (Hospital Erasto

Gaertner, Curitiba - PR); Dr. Daniel Cordeiro Gurgel, Dr. Tiago de Lavor Gama, Dr.

Abelardo Barbosa Moreira Lima Neto e nutricionista Lia Fontenele (Hospital de

Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, Fortaleza - CE).

Page 7: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

VI

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................... VII

LISTA DE TABELAS .......................................................................................... VIII

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. IX

Resumo .................................................................................................................... X

Abstract ................................................................................................................... XI

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 3

3. OBJETIVOS ................................................................................................... 14

4. MÉTODOS ..................................................................................................... 15

4.1. Análise Estatística......................................................................................... 16

5. RESULTADOS ............................................................................................... 18

5.1. Tempo de jejum pré-operatório prescrito....................................................... 18

5.2. Tempo de jejum pré-operatório realizado ...................................................... 19

6. DISCUSSÃO ................................................................................................... 26

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 30

8. ANEXOS ........................................................................................................ 39

9. APÊNDICE..........................................................................................................41

Page 8: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

VII

LISTA DE ABREVIATURAS

AAGI: Association of Anaesthetists of Great Britain and Ireland

ACERTO: Aceleração da Recuperação Total pós-operatória

ASA: American Society of Anesthesiologist

ASG: Avaliação Subjetiva Global

BIGFAST: Brazilian Group for the Study of Preoperative Fasting Time

CAS: Canadian Anesthesiology Society

CEP: Comitê de Ética em Pesquisa

CHO: Carboidratos

DITEN: Diretrizes Brasileiras de Terapia Nutricional

DRGE: Doença do Refluxo Gastroesofágico

EMTN: Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional

ERAS: Enhanced Recovery After Surgery

ESA: European Society of Anesthesiologist

GLN: glutamina

HUJM: Hospital Universitário Júlio Muller

IQR: Interquartile Range

NNCG: Norwegian National Consensus Guideline

NRS: Nutritional Risk Screening

NVPO: Náuseas e Vômitos no Pós-Operatório

SSAI: Scandinavian Society of Anaesthesiology and Intensive Care medicine

UTI: Unidade de Terapia Intensiva

Page 9: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

VIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tempo de jejum pré-operatório para pacientes cirúrgicos eletivos segundo

as modernas diretrizes das sociedades de anestesiologia.............................................11

Tabela 2. Tempo de jejum pré-operatório realizado (horas) de acordo com o tipo de

operação em 3715 pacientes.......................................................................................20

Tabela 3. Mediana crescente e intervalo de tempo de jejum pré-operatório (horas)

em 16 hospitais brasileiros...........................................................................................21

Tabela 4. Análise univariada dos vários fatores que influenciam o tempo de jejum

pré-operatório..............................................................................................................22

Page 10: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

IX

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fluxograma da inclusão e exclusão dos pacientes estudados....................18

Figura 2. Distribuição dos casos de acordo com o intervalo de tempo de jejum pré-

operatório real..............................................................................................................19

Figura 3. Mediana de tempo de jejum pré-operatório realizado em 16 hospitais

brasileiros em relação ao ponto de corte de 6 horas.....................................................24

Figura 4. Mediana de tempo de jejum pré-operatório realizado em 16 hospitais

brasileiros em relação ao ponto de corte de 8 horas.....................................................24

Figura 5. Mediana de tempo de jejum pré-operatório realizado em 16 hospitais

brasileiros em relação ao ponto de corte de 12 horas...................................................25

Page 11: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

X

Resumo

Introdução: Jejum prolongado aumenta a resposta metabólica ao trauma. Este estudo

multicêntrico investigou a diferença entre o tempo de jejum pré-operatório prescrito e

o realizado em hospitais brasileiros.

Métodos: Foram inicialmente convidados investigadores de 25 hospitais brasileiros

para incluírem neste estudo, pacientes candidatos à cirurgia eletiva no período de

Agosto de 2011 a Setembro de 2012. A variável de interesse principal foi a diferença

entre o tempo de jejum prescrito e realizado. Outras variáveis coletadas foram sexo,

idade, diagnóstico (doença maligna ou benigna), tipo de operação, escore físico ASA

(Sociedade Americana de Anestesiologia), tipo de hospital (público ou privado), e o

estado nutricional.

Resultados: Apenas 16 dos 25 hospitais convidados enviaram dados. Os dados de

3715 pacientes (58,1% do sexo feminino) com idade média de 49 (18-94) anos de

hospitais de todas as regiões do país foram analisados. A mediana (variação) do

tempo de jejum pré-operatório foi de 12 (2-216) horas. Este tempo foi maior (p <

0.001) em 12 hospitais que ainda praticavam o protocolo de jejum tradicional (13[6-

216] h) do que os quatro outros hospitais que já adotavam novas diretrizes de jejum (8

[2-48] h). A maioria dos pacientes (n = 2962; 79,4%) foi operada com tempo superior

a 8 horas de jejum e 46% (n = 1.718) com mais 12 horas. Não houve influencia do

escore físico ASA, idade, sexo, tipo de cirurgia e tipo de hospital no tempo de jejum

observado (p > 0.05). Pacientes operados devido à doença benigna tiveram um tempo

de jejum pré-operatório significativamente maior do que aqueles por câncer.

Conclusão: O tempo de jejum pré-operatório nos hospitais brasileiros estudados é

maior que o prescrito. A maioria desses hospitais ainda adota protocolos tradicionais

ao invés de diretrizes modernas de jejum pré-operatório e nestes, o tempo de jejum é

mais prolongado. Todos os pacientes estão em risco de permaneceram longos

períodos de jejum, independente das variáveis estudadas. Pacientes submetidos a

cirurgia por doença benigna tem provavelmente maior risco de jejum prolongado.

Palavras-chave: Estudo multicêntrico, risco perioperatório, jejum pré-operatório.

Page 12: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

XI

Abstract

Background: Prolonged fast increases the organic response after trauma. This

multicenter study investigated the difference between the prescribed and the actual

preoperative fasting time in Brazilian hospitals.

Methods: We initially invited researchers from 25 Brazilian hospitals to include in

this study, patients candidates for elective surgery between August 2011 and

September 2012. The variable of primary interest was the difference between the time

of fasting prescribed and executed. Other variables collected were sex, age, surgical

disease (malignancies or benign disease), operation type, ASA (American Society of

Anesthesiologists) physical status score, type of hospital (public or private) and the

nutritional status.

Results: Only 16 of the 25 invited hospitals sent data. The data of 3,715 patients

(58.1% females) with median age of 49 (18-94) years-old from hospitals in all regions

of the country were analyzed. The median (range) time of preoperative fast was 12 (2-

216) h. This time was greater (p < 0.001) in 12 hospitals that still using traditional

fasting protocol (13 [6-216] h) than in 4 others that had already adopted new fasting

guidelines (8 [2-48] h). The vast majority (n = 2,962; 79.4%) of the patients were

operated on bearing greater than 8h of fast and 46% (n = 1,718) with more than 12h.

There was no influence of ASA physical score, age, sex, type of surgery, and type of

hospital in the observed fasting time. Patients operated on due to a benign disease had

a preoperative fasting time longer than those for cancer.

Conclusion: The duration of preoperative fasting in Brazilian hospitals studied is

greater than the prescribed. Most of these hospitals still adopt traditional rather than

modern fasting guidelines and these the fasting time is longer. All patients are

remained at risk for long periods of fasting, independent of the variables studied.

Patients undergoing surgery for benign disease probably have increased risk of

prolonged fasting.

Keywords: Multicenter study, perioperative risk, preoperative fasting.

Page 13: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

1

1. INTRODUÇÃO

O jejum pré-operatório é obrigatório para a indução anestésica. As modernas

diretrizes baseadas em evidências recomendam líquidos claros, com ou sem

carboidratos, para serem consumidos até duas horas antes da indução de anestesia

geral1, 2

. Segundo um grande número de sociedades de anestesiologia, a ingestão de

alimentos sólidos deve ser recomendada apenas até seis a oito horas antes da

operação1-5

.

Estas recomendações provavelmente não são seguidas pela maioria dos

hospitais, embora não há dados consistentes na literatura. Protocolos tradicionais

como “nada pela boca” após a meia-noite ou até mesmo de seis a oito horas de jejum

total ainda são impostos para a maioria dos pacientes cirúrgicos. Este longo e

desnecessário período de jejum é, provavelmente, ainda maior devido a atrasos das

operações no centro cirúrgico, a maximização do tempo de jejum pelos próprios

pacientes e a mudanças na escala de operações6,7

.

Para os pacientes que aguardam uma operação, este tempo prolongado de

jejum pode comprometer sua condição metabólica e desencadear reações bioquímicas

de adaptação ao jejum, como a glicogenólise, gliconeogênese, lipólise e proteólise8.

Como resultado, ocorre resistência periférica à insulina com consequente aumento da

glicemia. Isto pode contribuir para um aumento da resposta orgânica ao trauma após o

início do procedimento cirúrgico8, 9, 10

.

Previamente realizamos uma auditoria ao longo de seis meses em uma das

instituições incluídas no presente estudo. Antes de modificarmos o protocolo de jejum

pré-operatório para 2 horas no Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM),

evidenciamos que o tempo médio de jejum pré-operatório foi de 16 horas, e que

alguns pacientes permaneceram até 24 horas em jejum. Foram poucos os casos em

Page 14: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

2

que o procedimento anestésico foi iniciado com jejum de 8 horas11

. Este dado

suscitou a pergunta de como seria o tempo de jejum pré-operatório em outros

hospitais do país. Há poucos dados na literatura sobre isso. Em um estudo recente, no

sul do país, o tempo de jejum pré-operatório relatado foi de 14 h baixando para 10 h

após intervenção com protocolos mais recentes12

. Dessa maneira, conduzimos este

estudo multicêntrico com o objetivo investigar a diferença entre o tempo de jejum

pré-operatório prescrito e realizado em hospitais de diferentes regiões do Brasil.

Page 15: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

3

2. REVISÃO DE LITERATURA

O jejum pré-operatório para a indução anestésica é uma rotina há muito tempo

estabelecida nos serviços de cirurgia e anestesia. A razão dessa rotina é a de garantir

um baixo volume de resíduo no estômago e, evitar assim, complicações pulmonares

associadas a vômitos e aspirações do conteúdo gástrico, no momento da indução

anestésica6. O medo da broncoaspiração (Síndrome de Mendelson) e suas

consequências, às vezes fatal para o paciente, fez com que muitos médicos,

especialmente anestesistas, passassem a adotar padrões de jejum rigidamente

conservadores13, 14

. Além disso, essa prescrição é mais cômoda, mais simples de ser

seguida, adotada e prescrita, pois o paciente precisa ser informado apenas do horário

do início do jejum.

No entanto, o dogma do jejum pré-operatório de oito a doze horas foi

instituído a partir do relato de casos de aspiração broncopulmonar em situações cuja

indução anestésica se deu em condições de urgência e emergência13

. Esse conceito foi

ampliado para operações eletivas a partir de outro trabalho, dos anos 50, que definiu

para uma anestesia segura, com baixo risco de aspiração brônquica durante a indução

anestésica, o limite máximo de 25 ml de conteúdo gástrico15, 16

.

Contudo, a antiga orientação de “nada pela boca” após a meia-noite tem sido

progressivamente substituída por períodos menores de jejum pré-operatório, haja vista

que não há evidências consistentes de que a diminuição do período de jejum pré-

operatório com líquidos claros, em comparação ao regime convencional, aumente o

risco de aspiração pulmonar ou de morbidade relacionada a este evento. Outro aspecto

importante a ser discutido é que o tempo convencional de jejum é muitas vezes

prolongado por atraso nas operações, mudanças de horário, entre outras causas. Desta

Page 16: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

4

forma, os pacientes podem ficar longos períodos em jejum (10 a 16 horas ou

mais)7,17,18

.

Consequentemente, desde o início da operação o paciente já apresenta uma

adaptação metabólica ao jejum. Isso, certamente, incrementa a resposta orgânica ao

trauma cirúrgico.

A resposta orgânica ao trauma (programada ou não) desencadeia uma série de

alterações metabólicas, que envolvem componentes neuroendócrinos, inflamatórios e

celulares19

. Nessa resposta, ocorre diminuição da ação da insulina (único hormônio

anabólico na fase aguda da resposta ao trauma) e aumento dos níveis de glucagon, que

determinam uma rápida utilização do glicogênio hepático (cerca de 400g num

indivíduo adulto). Somado a isso, há o aumento do cortisol e dos hormônios

adrenérgicos e tireoidianos que são responsáveis pelas reações catabólicas,

principalmente as de glicogenólise e gliconeogênese10, 20, 21

.

O denominador comum dessa resposta metabólica ao trauma, potencializada

pelo jejum, é a resistência insulínica, que pode durar até três semanas após a

realização de operações eletivas, dependendo de sua magnitude, sendo mais intensa

no 1º e 2º dia de pós-operatório. Tal resposta, como dissemos anteriormente, é

diretamente proporcional ao porte da operação22, 23

. Assim, a resistência insulínica, e

obviamente a hiperglicemia, será de maior intensidade após uma ressecção gástrica ou

colônica se comparada a uma videocolecistectomia. O jejum pré-operatório

prolongado contribui com aumento da resistência periférica à insulina e favorece a

hiperglicemia, intensificando o estresse metabólico da operação20

.

Por outro lado, estudos apontam potenciais benefícios aos pacientes que

abreviam o jejum pré-operatório com a ingestão de líquidos claros antes da anestesia.

Page 17: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

5

Tais benefícios incluem menor resistência periférica a insulina e consequentemente

menor resposta metabólica ao trauma24, 25

.

Faria et al. estudaram mulheres agendadas para videocolecistectomia que

foram randomizadas em dois grupos: um grupo de jejum convencional de 8 h e outro

grupo que recebeu uma bebida acrescida de maltodextrina na concentração de 12,5%

2 h antes do procedimento cirúrgico. Seus resultados evidenciaram que a abreviação

do tempo de jejum pré-operatório reduziu a resistência à insulina e a resposta orgânica

ao trauma26

.

Por sua vez, Dock et al. em um estudo prospectivo, controlado e duplo cego

com 48 pacientes submetidos a colecistectomia videolaparoscópica, observaram que a

abreviação do jejum pré-operatório com uma bebida contendo carboidratos e

glutamina melhorou a resistência periférica a insulina e diminuiu a resposta

inflamatória nestes pacientes27

.

Um estudo realizado na Suécia mostrou que a manutenção do balanço

nitrogenado e do efeito inibitório da insulina sobre a liberação endógena de glicose

foram superiores nos pacientes que receberam bebida enriquecida com carboidratos

antes da operação28

. Estudo semelhante também mostrou que a provisão energética de

carboidratos pode atenuar a depleção de massa muscular após a operação29

.

Corroborando com esses resultados, outro estudo prospectivo, realizado com

idosos candidatos a cirurgia eletiva abdominal, mostrou que, em oposição ao jejum

tradicional de oito a doze horas, a abreviação do jejum pré-operatório não só reduziu a

resistência periférica à insulina, como também preservou massa muscular esquelética

após a cirurgia30

.

Já uma meta-análise31

conduzida pelo grupo europeu Enhanced Recovery

After Surgery (ERAS) mostrou que a modulação da resposta inflamatória observada

Page 18: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

6

nos pacientes que receberam bebida enriquecida com carboidratos até 2 h antes da

operação, indica que esta suplementação pode acelerar a recuperação de pacientes e

reduzir o risco de complicações pós-operatórias.

Além dos benefícios metabólicos já citados, estudos relataram também que

abreviação do jejum pré-operatório promove a diminuição da irritabilidade e maior

satisfação dos pacientes, aumento do pH gástrico e diminuição do risco de

hipoglicemia e desidratação32, 33

.

A abreviação do jejum pré-operatório parece, da mesma maneira, contribuir na

redução de náuseas e vômitos no pós-operatório (NVPO). Isso foi estudado por

Hausel et al.34

em pacientes submetidos à colecistectomia laparoscópica eletiva sob

anestesia inalatória (127 mulheres e 45 homens). Os pacientes foram randomizados

em três grupos: jejum noturno, abreviação do jejum com ingestão de carboidratos (50

kcal/100 ml, 290 mOsm/kg) ou placebo. As pontuações de náusea e dor foram

avaliadas por meio de escala visual analógica e os episódios de NVPO foram

registrados até 24 h após a cirurgia. A incidência de NVPO foi menor no grupo

carboidrato do que no grupo que permaneceu em jejum, entre 12 e 24 h após a

cirurgia (p = 0,039). A pontuação de náuseas nos grupos em jejum noturno e placebo

foram maiores após a operação do que antes da admissão hospitalar (p = 0,018 e p <

0,001, respectivamente). Os autores concluíram que a ingestão de bebida contendo

carboidratos até 2 horas antes da indução anestésica, pode ter efeitos benéficos sobre

NVPO 12-24 h após colecistectomias laparoscópicas.

A utilização de líquidos claros ou bebidas com carboidratos foi sedimentada

após vários estudos randomizados e controlados28, 26, 35

, de modo que o jejum pré-

operatório passou a ser visto de forma mais criteriosa. Esses estudos mostraram que o

esvaziamento gástrico para líquidos sem resíduos e com baixo teor calórico era rápido

Page 19: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

7

e similar ao tempo convencional de jejum36

. O aumento do número de estudos

prospectivos e aleatórios, somado ao conceito da medicina baseada em evidências,

começou a demonstrar que à redução do tempo de jejum pré-operatório para duas

horas, com a ingestão de fórmula líquida contendo carboidratos, não determinava

nenhum risco de aspiração associada à anestesia e poderia ser feito com

segurança36,37

.

Concomitantemente, as estatísticas mostraram que a broncoaspiração durante a

indução anestésica também poderia ocorrer nos pacientes que permanecem em jejum

convencional. Um estudo realizado em 1986 pelo Scandinavian Teaching Hospital

verificou que, em 10.000 anestesias, a incidência de aspiração do conteúdo gástrico

variou entre 0,7 e 4,738

, e 10 anos após, outra publicação feita pelo Norwegian

Hospital observou que a incidência era de 2,5 por 10.00039

. Nos Estados Unidos,

estudos realizados na Clínica Mayo encontraram resultados semelhantes em adultos

(3,1 por 10.000)40

e crianças (3,8 por 10.000)41

. Ainda nos Estados Unidos, outro

estudo observou uma incidência maior em crianças, sendo de 10,2 por 10.00042

. Os

pacientes submetidos a operações de urgência apresentam sempre um maior risco de

aspiração, e em outras populações tais como gestantes, idosos ou obesos a frequência

é muito variada6, 43

. Além disso, dor, ansiedade, diabetes mellitus, redução do nível de

consciência, insuficiência renal, álcool e drogas retardam o esvaziamento gástrico e

podem favorecer a ocorrência de aspiração após anestesia44, 45

.

Em 1995, Soreide et al. mostraram que enquanto o esvaziamento gástrico

para sólidos é linear e demora cerca de seis horas para se completar, o esvaziamento

de água e outros líquidos sem resíduos ocorre de forma exponencial e muito mais

rápida46

. Assim, a oferta de nutrientes no pré-operatório, especificamente

Page 20: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

8

carboidratos, se mostrou segura e ainda com potencial de minimizar a resposta

orgânica ao trauma.

Igualmente, Nygren et al. observaram que após 2 horas da ingestão de bebida

enriquecida com carboidratos o volume residual gástrico é baixo. Desta forma, os

autores concluíram que não só líquidos claros, mas também soluções carboidratadas

podem ser ofertadas até 2 horas antes de operações eletivas47

.

Uma revisão sistemática realizada pela Cochrane, envolvendo 22 estudos,

evidenciou que a ingestão de líquidos no pré-operatório imediato (duas a três horas

antes da operação) é segura e não está relacionada com risco de aspiração,

regurgitação e de mortalidade em relação aos pacientes operados sob protocolos de

jejum tradicional. Além disso, o estudo ressaltou que o volume residual gástrico após

jejum convencional é semelhante ao jejum de duas horas com líquidos claros45

.

Entre nós, um estudo prospectivo conduzido por Oliveira et al. com 375

pacientes, submetidos a diversas operações sobre o trato digestivo e parede

abdominal, avaliou o surgimento de possíveis complicações anestésicas relacionadas

à abreviação do jejum pré-operatório. A pesquisa não registrou nenhum caso de

regurgitação ou qualquer outra complicação relacionada à abreviação do jejum com

líquidos claros durante a realização dos procedimentos anestésicos16

.

Estudo semelhante envolvendo pacientes submetidos à colecistectomia

também mostrou que o grupo que recebeu a bebida com carboidratos não apresentou

complicações anestésicas e evoluiu com menor ocorrência de complicações

gastrintestinais e ainda um dia a menos de internação hospitalar48

.

A comparação do jejum convencional com a abreviação do jejum com uso

carboidratos em cirurgias colorretais foi abordada por Noblett et al. Foram estudados

três grupos: o grupo 1 foi mantido em jejum, o grupo 2 recebeu água e o grupo 3

Page 21: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

9

recebeu um volume equivalente de uma bebida com CHO (maltodextrina). O grupo

jejum eliminou flatos após 3 dias de pós-operatório em comparação com 1,5 dia do

grupo carboidrato (p < 0,01). Além disso, o grupo em jejum mostrou uma redução da

força de preensão palmar significativa entre o pré e o pós-operatório (p < 0,05) com

uma queda média de 10% no momento da alta. Nem o grupo água e nem o grupo

carboidrato mostraram reduções significativas de força muscular36

.

Outros dois estudos49, 50

com pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas e

cirurgias abdominais, respectivamente, mostraram que os indivíduos que receberam

carboidratos, no pré-operatório, tiveram menor resistência insulínica, diminuição das

perdas nitrogenadas, além de maior força muscular no pós-operatório.

A ausência de base científica que sustente a conduta do jejum pré-operatório

de “nada pela boca” para pacientes candidatos a cirurgia eletiva e o estabelecimento

das vantagens da abreviação do jejum levaram as sociedades de anestesia a

modificarem suas diretrizes de jejum pré-operatório.

A Associação Americana de Anestesiologistas (ASA), baseada em extensa

revisão da literatura, desenvolveu, em 1999, um conjunto de diretrizes5 para o jejum

pré-operatório e o uso de drogas envolvidas na diminuição do volume e da acidez

gástrica. Essas diretrizes recomendam jejum de líquidos sem resíduos (água, café

preto, chá, sucos sem resíduos e bebidas enriquecidas com CHO) até duas horas antes

das intervenções anestésicas para pacientes saudáveis, submetidos a procedimentos

eletivos, de todas as idades, sem incluir pacientes com maior risco de aspiração.

Contudo, para proporcionar uma margem de segurança suficiente, o período de jejum

recomendado para a ingestão de sólidos não deve ser inferior a seis horas. A ASA

recentemente revisou essas diretrizes e manteve o mesmo período de jejum pré-

Page 22: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

10

operatório com possibilidade de ingestão de líquidos claros até 2 h antes da indução

anestésica1.

Várias sociedades de Anestesiologia (tais como: Norwegian National

Consensus Guideline - NNCG e Association of Anaesthetists of Great Britain and

Ireland - AAGBI) também já preconizavam a ingestão de líquidos claros 2 horas

antes da operação e até 150 ml do mesmo líquido uma hora antes da operação4, 51

. A

edição revisada e atualizada das diretrizes canadenses de Anestesiologia52

também

recomenda a abreviação do jejum para procedimentos eletivo. Segundo um recente

artigo de revisão de Pimenta e Aguilar-Nascimento53

, algumas sociedades

internacionais de anestesiologia têm revisto suas orientações e atualmente todas elas

recomendam a redução do tempo de jejum pré-operatório conforme demonstra a

tabela 1.

Baseado nestas evidências e nos estudos realizados pelo grupo europeu

ERAS54

, o Projeto ACERTO55

(Aceleração da Recuperação Total Pós-operatória)

implantou um protocolo multimodal de cuidados perioperatórios adaptados à

realidade nacional. Antes da implantação do projeto no HUJM, os pacientes

permaneciam em média 16 horas de jejum pré-operatório e após a sua implantação

houve uma redução significativa no tempo de jejum pré-operatório, fazendo com que

os pacientes fossem operados com um tempo médio de quatro horas entre a última

alimentação e a indução anestésica11

.

A partir disso, o projeto Diretrizes Brasileiras de Terapia Nutricional

(DITEN), em 2011, trouxe como recomendação, em operações eletivas, um tempo de

jejum de 6 h para sólidos e 2 h para líquidos claros contendo carboidratos.

Habitualmente utiliza-se de forma segura maltodextrina na concentração de 12,5% em

volumes de 400 e 200 ml, seis e duas horas antes da operação, respectivamente. Essas

Page 23: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

11

medidas promovem benefícios na manutenção da função imunológica no pós-

operatório, na diminuição da perda de massa e força muscular e na redução de

ansiedade, fome e sede56, 57

.

Tabela 1 – Tempo de jejum pré-operatório para pacientes cirúrgicos eletivos segundo

as modernas diretrizes das sociedades de anestesiologia.

Sociedade Ano Tempo para sólidos Tempo para líquidos

CSA53 2013 4h - Leite materno

6h - Refeição leve

8h - Carne ou alimentos

gordurosos

2h

ESA2 2011 6h - Alimentos sólidos 2h

ASA1 2011 4h - Leite materno

6h - Refeição rápida ou leite não

materno

8h - Alimentos gordurosos

2h

AAGI4

2010 4h - Leite materno

6h - Alimentos sólidos

2h

SSAI3 2005 4h - Leite materno

6h - Alimentos sólidos

2h

CAS = Sociedade Canadense de Anestesiologia, ESA = Sociedade Europeia de Anestesiologistas; ASA

= Sociedade Americana de Anestesiologistas; SSAI = Sociedade Escandinava de Anestesiologistas e

Medicina Intensiva, AAGI: A Associação de Anestesistas da Grã Bretanha e Irlanda.

No entanto, todas as sociedades de anestesia advertem que a abreviação do

jejum com líquidos claros até 2 h antes da indução anestésica pemanece

contraindicada nos casos de suspeita de retardo do esvaziamento gástrico, obstrução

intestinal, câncer gástrico com subestenose ou gastroparesia1, 3, 58

.

Pacientes com obesidade, doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e

mulheres grávidas podem constituir um grupo de risco para abreviação do jejum1, 3

. O

uso desse protocolo em diabéticos parece não constituir uma contraindicação. Um

estudo demonstrou que não houve indícios de retardo do esvaziamento gástrico em

Page 24: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

12

pacientes com diabetes tipo 2, sugerindo que bebidas enriquecidas com carboidratos

podem ser administradas com segurança antes da anestesia nestes pacientes59

.

Lemanu et al. aplicaram a abreviação do jejum pré-operatório em 116

pacientes obesos mórbidos candidatos a cirurgia bariátrica. Diante dos resultados, os

autores concluíram que, além de seguro, a utilização do jejum de 2 h diminuiu o

tempo de internação e custo do tratamento cirúrgico60

.

Em apoio ao estudo anterior, uma tese61

recém-defendida nesta Faculdade de

Medicina também mostrou haver segurança na abreviação do jejum em pacientes

bariátricos e incluiu benefícios importantes, tais como diminuição no tempo de

internação na UTI e na enfermaria.

Dessa forma, algumas contraindicações ao protocolo moderno de jejum

poderão ser contestadas por estudos futuros em cujos desenhos sejam incluídos

pacientes submetidos a cesáreas eletivas ou cirurgia para correção do refluxo

gastroesofágico.

Estando a abreviação do jejum pré-operatório com a ingestão de líquidos

claros, contendo maltodextrina, bem documentada e estabelecida, novas propostas de

fórmulas contendo proteínas ou aminoácidos em adição à bebida rica em carboidratos

têm sido testadas50 ,62

.

Perrone et al. investigaram a adição de proteína do soro do leite em estudo

randomizado duplo cego com 17 pacientes submetidos a cirurgia de colecistectomia e

herniorrafia inguinal. O grupo placebo recebeu água e o grupo teste recebeu uma

bebida contendo carboidratos e proteína do soro do leite (86 e 14%, respectivamente)

6 (474 ml) e 3 h (237 ml) antes da operação. Comparado com o grupo placebo, o

grupo teste apresentou a mesma segurança anestésica e ainda menor resposta

inflamatória e resistência à insulina63

.

Page 25: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

13

Outro estudo dirigido por Lobo et al. demonstrou, por meio de imagem de

ressonância magnética, haver segurança na abreviação do jejum pré-operatório com

bebidas enriquecidas com carboidratos e glutamina (GLN) de 2-3 h antes da indução

anestésica em pacientes saudáveis64

.

Após testarem a segurança da abreviação do tempo de jejum com bebidas

contendo glutamina, Dock-Nascimento et al.65

mostraram, em um estudo

randomizado e duplo cego, que a ingestão de GLN e Maltodextrina duas horas antes

da operação melhorou a sensibilidade à insulina, aumentou a defesa antioxidante e

reduziu a resposta inflamatória em pacientes no pós-operatório de

videocolecistectomia.

A abreviação do tempo de jejum pré-operatório com solução contendo

hidratos de carbono e proteínas hidrolisadas de ervilha também foi segura e ainda

contribuiu na redução da resposta inflamatória de fase aguda e do tempo de internação

pós-operatória em doentes submetidos a cirurgia de grande porte66

.

Em resumo, a ingestão de fórmulas enriquecidas com uma fonte nitrogenada,

especificamente aminoácidos ou proteínas, no pré-operatório, tem se mostrado segura

e benéfica sendo associada à redução da resposta orgânica ao trauma e do tempo de

internação hospitalar. No entanto, novos estudos e possivelmente uma meta-análise

sobre os artigos já existentes são necessários e aguardados. Desta forma, talvez essas

novas soluções passem também a serem recomendadas pelas sociedades de

anestesiologia.

Page 26: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

14

3. OBJETIVOS

Investigar a diferença entre o tempo de jejum pré-operatório prescrito e

realizado em hospitais de diferentes regiões do Brasil. Como objetivo secundário,

analisar como o período de jejum pré-operatório se relaciona com algumas

características clínicas e demográficas dos pacientes operados.

Page 27: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

15

4. MÉTODOS

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital

Universitário Júlio Muller (HUJM), registrado sob o número 697/CEP-HUJM/09 e foi

realizado de acordo com as diretrizes de Declaração de Helsinque. Todos os hospitais

participantes deste estudo obtiveram a aprovação de seus respectivos comitês de ética

para os procedimentos que envolveram seres humanos/pacientes.

A Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital

Universitário Julio Muller elaborou o protocolo do estudo e organizou todas as

informações.

Um total de 25 hospitais de diferentes regiões do Brasil foi convidado por

correio eletrônico para participar do estudo. Todos os hospitais convidados foram

classificados como instituições de cirurgia geral, independentemente de serem

públicos ou privados. Na carta-convite informou-se o propósito e o desenho do

estudo, sendo também anexada uma folha de dados (apêndice 1) contendo as variáveis

a serem coletadas. Em cada hospital foi designado um coordenador local para ser

responsável pela coleta de dados.

Durante o período de coleta foi mantido o contínuo contato, por email e

telefone, com os coordenadores locais, visando esclarecer dúvidas e fornecer

informações acerca do andamento da pesquisa. Foi também elaborado um manual

destinado aos colaboradores da pesquisa, esclarecendo a maneira correta de

preenchimento do formulário, de forma a padronizar os procedimentos a serem

executados no levantamento dos dados (apêndice 2).

Para preservar a identidade dos hospitais participantes, codificamos todos os

hospitais em algarismos arábicos. Cada coordenador local recebeu de volta os

resultados de seu hospital.

Page 28: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

16

Foram incluídos no estudo pacientes adultos, de ambos os sexos, submetidos a

anestesia geral, bloqueio de neuroeixo ou anestesia mista (anestesia geral + bloqueio)

para cirurgias eletivas programadas entre agosto de 2011 a setembro de 2012. Foram

excluídos pacientes com falta de dados sobre o tempo de jejum pré-operatório

realizado ou aqueles que foram operados sob anestesia local. A falta de dados a

respeito de algumas variáveis dependentes tipo escore ASA, estado nutricional e tipo

de cirurgia, que porventura estivesse omitida, não foi considerada como fator de

exclusão daquele caso.

O principal desfecho do estudo foi o tempo de jejum pré-operatório realizado,

que foi contabilizado como o tempo, em horas, da última refeição recebida pelo

paciente (os pacientes responderam a pergunta: quando é que você comeu ou bebeu

sua última refeição antes da operação?) até o momento do início do procedimento

anestésico, informado pelos registros do prontuário.

Outras variáveis coletadas foram sexo, idade, diagnóstico que motivou a

operação (doença maligna ou benigna), tipo de operação, escore físico ASA e estado

nutricional medido pela Avaliação Subjetiva Global (ASG) ou pela Triagem de Risco

Nutricional (Nutritional Risk Screening – NRS 2002).

4.1. Análise Estatística

O teste do qui-quadrado foi utilizado para comparações de dados categóricos.

Os dados contínuos foram inicialmente analisados por homogeneidade pelo teste de

Levene e de normalidade pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. O teste t de Student ou

teste de Mann-Whitney foram então aplicados em conformidade. Os dados relativos

ao tempo de jejum pré-operatório realizado foram apresentados como mediana,

intervalo interquartil (IQR) e/ou intervalo (valor mínimo e valor máximo)

Page 29: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

17

arredondados para o número inteiro mais próximo. Todos os testes foram realizados

utilizando o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para

Windows 11.0. A significância estatística foi estipulada em 5% de probabilidade (p <

0,05).

Page 30: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

18

5. RESULTADOS

Dos 25 hospitais convidados, nove não responderam ou não enviaram seus

dados até a data limite estabelecida para o envio, pemanecendo 16 hospitais

localizados em todas as regiões do Brasil e em 9 dos 27 Estados brasileiros. Dos

hospitais participantes, quatorze (87,5%) eram públicos e dois (12,5%) eram privados.

Inicialmente, foram incluídos no estudo 3.885 pacientes, porém 170 foram

posteriormente excluídos devido à ausência de alguma informação. Assim, um total

de 3715 pacientes foram analisados, conforme mostra figura 1. A idade média

(intervalo) foi de 49 (18-94) anos e 2.157 (58,1%) pacientes eram do sexo feminino.

Figura 1. Fluxograma da inclusão e exclusão dos pacientes estudados.

5.1. Tempo de jejum pré-operatório prescrito

A maioria dos hospitais (n = 12; 75%) declarou praticar um jejum tradicional

de 6-8 h ou “nada pela boca” após a meia-noite. No entanto, quatro (25%) hospitais

responderam que alguns pacientes, a critério do cirurgião ou do anestesista, receberam

um protocolo de jejum mais liberal (6-8 h de jejum para sólidos e 2-4 h de jejum para

líquidos claros ou bebidas enriquecidas com carboidratos, antes da anestesia).

Elegíveis (n = 3.885)

Analisados (n = 3.715)

Excluídos (n = 170):

Dados ausentes: n = 122

Anestesia local: n = 24

Idade < 18 anos: n = 24

Page 31: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

19

5.2. Tempo de jejum pré-operatório realizado

Apenas 12,8% (n = 474) dos pacientes foram operados após um período de

jejum igual ou inferior a 6 h. A grande maioria dos indivíduos (n = 2.962; 79,4%) foi

operada com mais de 8 h de jejum e cerca de 46% (n = 1.718) com mais de 12 h

(Figura 2).

Figura 2. Distribuição dos casos de acordo com o intervalo de tempo de jejum pré-

operatório real.

A duração do jejum pré-operatório de acordo com o tipo de operação pode ser

vista na tabela 2. As operações do aparelho digestório foram as mais prevalentes,

seguidas de operações de parede abdominal e cabeça/pescoço. O tratamento cirúrgico

de neoplasias malignas totalizou 32,6% (n = 1.208) das operações.

Intervalo de jejum pré-operatório (h)

mer

o d

e ca

sos

46%

33,4%

11,6%

9%

Page 32: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

20

Tabela 2. Tempo de jejum pré-operatório realizado (horas) de acordo com o tipo de

operação em 3715 pacientes.

Região ou Orgão N Mediana (IQR) Variação

(h)

Gastrointestinal 1987 12 (5) 2-216

Parede abdominal* 589 13 (7) 2-27

Cabeça e pescoço 298 9 (8) 2-48

Ginecologia 253 11 (5) 2-21

Urologia 177 11 (9) 2-30

Tecidos moles† 128 9 (8) 2-20

Vascular 44 16 (4) 2-19

Pulmonar 14 17 (6) 2-20

Miscelânea 225 12 (5) 2-28

IQR: interquartile range (interval interquartil).

* = Herniorrafias.

† = Ressecções de pele ou músculo/ Plástica.

A distribuição do tempo de jejum realizado, de acordo com os hospitais de

diferentes regiões do país, pode ser visto na tabela 3. A tabela 4 contém dados

referentes ao tempo de jejum pré-operatório realizado, de acordo com diversas

variáveis clínicas e demográficas. Devido à ausência de informação em alguns

tópicos, a análise da associação estatística do tempo de jejum com o estado

nutricional (n = 1.908), o tipo de doença que motivou a cirurgia (n = 3.700) e o escore

ASA (n = 1.897) dos pacientes, não foi feita com todos os pacientes do estudo

conforme mostra a tabela 4. A mediana do tempo (intervalo) de jejum pré-operatório

foi de 12 (2-216) horas. O tempo de jejum foi maior (p < 0,001) em hospitais que

adotavam um protocolo de jejum de 6-8 h (mediana = 13 h variando de 6-216 h) do

que naqueles que já adotavam as novas diretrizes (mediana = 8 h variando de 2-48 h)

Page 33: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

21

Tabela 3. Mediana crescente e intervalo de tempo de jejum pré-operatório (horas)

em 16 hospitais brasileiros.

Hospital Região do Brasil N Mediana

(IQR)

Variação

(h)

1 Sudeste 216 4 (3) 2-16

2 Centro-Oeste 118 4 (7) 2-17

3 Sudeste 432 8 (6) 4-24

4 Centro-Oeste 469 9 (9) 2-48

5 Sudeste 146 11 (5) 2-25

6 Sudeste 657 11 (4) 4-35

7 Centro-Oeste 681 13 (5) 2-26

8 Sudeste 118 11 (5) 10-18

9 Sudeste 96 13 (5) 4-216

10 Norte 295 14 (5) 6-38

11 Sudeste 147 15 (6) 10-24

12 Sul 36 15 (7) 6-120

13 Sul 54 16 (8) 10-48

14 Sul 208 16 (6) 5-32

15 Nordeste 10 17 (6) 14-20

16 Sudeste 32 17 (8) 8-25

Total 3,715 12 (6) 2-216

IQR = interquartile range (intervalo interquartil)

Page 34: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

22

Tabela 4. Análise univariada dos vários fatores que influenciam o tempo de jejum

pré-operatório.

Variável N Mediana

(IQR)

Intervalo p

Sexo

M

F

1.558

2.157

12 (7)

12 (6)

2-216

2-96

0,39

Estado Nutricional*

Eutrófico

Desnutrido

1.592

316

12 (8)

12 (8)

2-120

2-216

0,41

Doença†

Câncer

Benigna

1.208

2.492

11 (6)

12 (6)

2-216

2-120

<0,001

Escore ASA‡

1-2

3-4

1.741

156

12 (8)

11.5 (7)

2-216

3-48

0,63

Idade

> 60 anos

< 60 anos

1.036

2.679

12 (7)

12 (6)

2-216

2-120

0,54

Hospital

Público

Privado

2.912

803

12 (8)

11.5 (4)

2-216

2-35

0,94

Protocolo

Tradicional

Liberal

2.480

1.235

13 (5)

8 (8)

6-216

2-48

<0,001

* Dados de 1.908 pacientes; † = dados de 3.700 pacientes; ‡ = American Society of

Anesthesiologists; dados de 1.897 pacientes

IQR = inter-quartile range (intervalo interquartil)

Page 35: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

23

O tempo de jejum prolongado não foi associado com escore físico ASA,

idade, sexo, estado nutricional e tipo de hospital. Pacientes internados em hospitais

que adotavam protocolo de jejum tradicional de seis a oito horas ou submetidos a

operação por doença benigna tiveram um período mais longo de jejum pré-operatório.

As medianas de tempo de jejum pré-operatório realizado em relação aos

hospitais participantes do estudo, adotando-se um ponto de corte de 6, 8 e 12 horas

estão apresentadas nas figuras 3, 4 e 5, respectivamente. Apenas dois hospitais

apresentaram mediana de tempo de jejum pré-operatório inferior a 6 horas. A maioria

(n = 9) dos hospitais analisados apresentou mediana de tempo de jejum pré-operatório

superior a 12 horas.

Page 36: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

24

Figura 3. Mediana de tempo de jejum pré-operatório realizado em 16 hospitais

brasileiros em relação ao ponto de corte de 6 horas.

Figura 4. Mediana de tempo de jejum pré-operatório realizado em 16 hospitais

brasileiros em relação ao ponto de corte de 8 horas.

Page 37: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

25

Figura 5. Mediana de tempo de jejum pré-operatório realizado em 16 hospitais

brasileiros em relação ao ponto de corte de 12 horas.

Page 38: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

26

6. DISCUSSÃO

O conjunto dos resultados mostrou que na prática cirúrgica, pelo menos nessa

amostra de hospitais do Brasil, o jejum pré-operatório é aumentado e é superior ao

período de jejum programado. Este fenômeno leva os pacientes a permanecerem um

prolongado período de jejum pré-operatório. Além disso, os nossos dados mostraram

claramente que, apesar de o jejum pré-operatório observado ser maior que o previsto,

o tempo de jejum foi menor nos pacientes de hospitais que já adotavam protocolos de

abreviação do jejum pré-operatório. Acreditamos que este seja o primeiro estudo

multicêntrico no país que mostrou um perfil do tamanho do jejum pré-operatório

realizado.

O jejum pré-operatório prolongado é bastante desconfortável e prejudicial para

os pacientes, pois aumenta a sensação de sede, fome, náuseas e amplifica a resposta

orgânica ao trauma67,31

. Uma série de ensaios clínicos randomizados tem demonstrado

que a ingestão de bebidas que contêm carboidratos, 2 h antes da indução anestésica,

melhora sintomas desagradáveis, especialmente náuseas e vômitos, no pós-

operatório34,68

. Além disso, a resistência à insulina após a cirurgia é maior em

pacientes submetidos a operações após um jejum prolongado quando comparados

com pacientes em jejum de 2 h26,64

. Um estudo mostrou que os estoques de glicogênio

hepático e muscular são consumidos após 12 h de jejum, mas voltam a aumentar 2 h

após a ingestão de bebidas que contenham carboidratos69

.

Recentemente, uma meta-análise mostrou que a prescrição de cuidados

perioperatórios e multimodais, que incluem a abreviação do jejum pré-operatório,

melhorou os resultados clínicos no pós-operatório e reduziu o tempo de internação em

operações colorretais31

. Em concordância com esses achados, outra meta-análise

Page 39: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

27

também mostrou que o jejum prolongado aumenta o tempo de internação hospitalar

após operações de grande porte35

.

Nossos dados mostraram que quase 50% dos indivíduos avaliados se

apresentavam na indução anestésica com mais de 12 horas de jejum. Esses resultados

são bastante significativos e sugerem que um grande número de indivíduos pode não

estar em sua melhor aptidão metabólica quando se apresentam para a cirurgia. Neste

contexto, os estudos fisiológicos, mostram claramente que após 12 horas de jejum a

gliconeogênese já se iniciou e a eficácia mitocondrial está prejudicada e, como

resultado, a formação de ATP está reduzida69

.

O aperfeiçoamento da comunicação entre enfermeiros, cirurgiões e

anestesistas é a melhor maneira de superar essa enorme lacuna. Isto é especialmente

importante porque cirurgias podem ser atrasadas, adiadas ou até mesmo canceladas na

rotina de qualquer hospital deste ou de outro país. Como resultado, este trabalho

multiprofissional conduziria a uma redução do tempo de jejum pré-operatório70

.

Em nossa opinião, especialmente em hospitais brasileiros, esta coordenação

deve ser conduzida pela EMTN. Nesse aspecto, o Brasil fez um grande avanço ao

desenvolver leis que obrigassem a instituição das EMTNs onde há prescrição de

terapia nutricional especializada.

É interessante observar que a idade, o sexo, o tipo de operação e o estado

físico, avaliado pelo ASA, não interferiram no tempo de jejum pré-operatório

realizado. Isso mostra que todas essas variáveis, incluindo a gravidade clínica do

paciente, não foram as causas do jejum prolongado observado. O tempo de jejum

prolongado foi observado em todas as regiões do país e não pareceu ser também

influenciado pelo tipo de hospital, seja público ou privado, ou pelo estado nutricional

dos pacientes. Possivelmente, a causa desse aumento inconveniente do tempo foi o

Page 40: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

28

atraso das operações, a mudança no cronograma de operações e/ou o alargamento do

jejum prescrito pelos próprios pacientes (que acreditam que isso poderia melhorar a

sua condição). Infelizmente, não temos dados suficientes para garantir essa última

especulação. A partir desses dados, talvez novos trabalhos possam abordar as causas

que aumentem o tamanho do jejum prescrito.

Um achado interessante deste estudo foi que os pacientes com doença benigna

estavam em maior risco de ter tempo de jejum prolongado. Uma possível explicação

para este resultado é que, na maioria dos casos, para as operações de doença benigna,

no Brasil, os pacientes são admitidos no hospital no mesmo dia da operação e,

portanto, eles iniciaram o jejum em casa. No entanto, a diferença estatística entre

pacientes operados por doença benigna ou maligna foi de apenas 1 h, sem relevância

clínica importante. Na verdade, ocorreu uma diferença estatística significativa em

todos os testes estatísticos realizados, o que fez com que nós mantivessemos essa

diferença nos resultados. De qualquer maneira, outros estudos no futuro poderão

esclarecer melhor esses achados.

Realidade e percepção são geralmente distantes uma da outra na prática da

medicina71

. Alguns estudos têm mostrado claramente que o que pensamos estar

fazendo está longe do que realmente está acontecendo, devido à percepção errada da

realidade72,73

. A consciência do espaço entre percepção e realidade na prática do

cuidado médico é importante quando fornecemos educação médica continuada e pode

significativamente alterar o comportamento, de forma a beneficiar o atendimento ao

paciente74

. O real período de jejum pré-operatório entre os pacientes submetidos à

cirurgia ainda é pouco conhecido. Neste estudo, nós hipotetizamos que havia uma

enorme diferença entre a prescrição e o período realizado de jejum pré-operatório

experimentado por pacientes eletivos. Nossos resultados foram de acordo com nossas

Page 41: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

29

hipóteses e demonstraram haver um aumento importante do tempo de jejum pré-

operatório.

Observamos que apesar de toda a gama de evidências científicas que

sustentam a segurança da abreviação do jejum pré-operatório, ainda existe uma lacuna

entre o que é preconizado pelas diretrizes atuais e o que realmente é colocado em

prática. Essa conduta cria uma disparidade entre a evidência e a prática clínica, o que

dificulta a incorporação de novas rotinas para toda a equipe cirúrgica. Identificar essas

diferenças é importante para aperfeiçoar a educação médica, orientar futuros estudos e

padronizar rotinas de forma a alcançar melhores resultados e maiores benefícios ao

paciente.

Desta forma, parece-nos importante saber o que está acontecendo em outros

hospitais ao redor do mundo. Esperamos que nosso trabalho instigue pesquisadores de

outros países a realizarem trabalhos semelhantes.

Nossos resultados permitem concluir que o tempo jejum pré-operatório

realizado é prolongado nos hospitais brasileiros. A maioria dos hospitais ainda adota

protocolos tradicionais ao invés de protocolos de jejum pré-operatório modernos para

seus pacientes. Percebe-se que todos os pacientes estão em risco, independente de seu

estado clínico. No entanto, aqueles submetidos a operações para doença benigna ou

aqueles operados em hospitais que adotam protocolo de jejum pré-operatório

tradicional apresentam maior tempo de jejum pré-operatório.

Page 42: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

30

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. American Society of Anesthesiologists Committee. Practice guidelines for

preoperative fasting and the use of pharmacologic agents to reduce the risk of

pulmonary aspiration: application to healthy patients undergoing elective procedures:

an updated report by the American Society of Anesthesiologists Committee on

Standards and Practice Parameters. Anesthesiology. 2011; 114(3):495-511.

2. Smith I, Kranke P, Murat I, Smith A, O'Sullivan G, Søreide E, Spies C, Veld B;

European Society of Anaesthesiology. Perioperative fasting in adults and children:

guidelines from the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2011;

28:556-69.

3. Soreide E, Eriksson LI, Hirlekar G, Eriksson H, Henneberg SW, Sandin R, Raeder

J; (Task Force on Scandinavian Pre-operative Fasting Guidelines, Clinical Practice

Committee Scandinavian Society of Anaesthesiology and Intensive Care Medicine).

Pre-operative fasting guidelines: an update. Acta Anaesthesiol Scand. 2005;

49(8):1041-7.

4. Association of Anaesthetists of Great Britain and Ireland AAGBI Safety Guideline.

Pre-Operative Assessment and Patient Preparation: The Role of the Anaesthetist.

Association of Anaesthetists of Great Britain and Ireland. London. 2010.

5. American Society of Anaesthesiologists. Practice guidelines for preoperative

fasting and the use of pharmacologic agents to reduce the risk of pulmonary

aspiration: application to healthy patients undergoing elective procedures: a report by

the American Society of Anaesthesiologists Task Force on Preoperative Fasting.

Anesthesiology. 1999; 90:896-905.

6. Warner MA. Is pulmonary aspiration still an import problem in anesthesia? Current

Opin Anaesthesiol. 2000; 13(2):215-8.

7. Maltby JR. Fasting from midnight - the history behind the dogma. Best Pract Res

Clin Anaesthesiol. 2006; 20(3):363-78.

8. Ljungqvist O. Modulating postoperative insulin resistance by preoperative

carbohydrate loading. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2009; 23:401-9.

Page 43: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

31

9. Stoner HB, Frayn KN, Barton RN, Threlfall CJ, Little RA. The relationships

between plasma substrates and hormones and the severity of injury in 277 recently

injured patients. Clin Sci. 1979; 56:563-73.

10. Basile-Filho A, Suen VMM, Martins MA, Colleto FA, Marson F. Trauma and

sepsis metabolic response monitoring. Medicina. Ribeirão Preto, 2001; 34:5-17.

11. Aguilar-Nascimento JE, Bicudo-Salomão A, Caporossi C, Silva RM, Cardoso EA,

Santos TP. ACERTO pós-operatório: avaliação dos resultados da implantação de um

protocolo multidisciplinar de cuidados peri-operatórios em cirurgia geral. Rev Col

Bras Cir. 2006; 33(3):181-8.

12. Walczewski MRM, Justino AZ, Walczewski EAB, Coan T. Avaliação dos

resultados de intervenção após mudanças realizadas nos cuidados peri-operatórios em

pacientes submetidos a operações abdominais eletivas. Rev Col Bras Cir. 2012; 39(2):

119-25.

13. Mendelson CL. The aspiration of stomach contents into the lungs during obstetric

anesthesia. Am J Obstet Gynecol. 1946; 52:191-205.

14. Scarlett M, Crawford-Sykes A, Nelson M. Preoperative starvation and pulmonary

aspiration. New perspectives and guidelines. West Indian Med J. 2002; 51(4):241-5.

Review.

15. Brener W, Hendrix TR, McHugh PR. Regulation of gastric emptying of glucose.

Gastroenterology. 1983; 85:76-82.

16. Oliveira KGB, Balsan M, Oliveira SS, Aguilar-Nascimento JE. A abreviação do

jejum pré-operatório para duas horas com carboidratos aumenta o risco anestésico?

Rev Bras Anestesiol. 2009; 59(5):577-86.

17. Stuart PC. The evidence base behind modern fasting guidelines. Best Pract Res

Clin Anaesthesiol. 2006; 20(3):457-69.

18. Pearse R, Rajakulendran Y. Pre-operative fasting and administration of regular

medications in adult patients presenting for elective surgery. Has the new evidence

changed practice? Eur J Anaesthesiol. 1999; 16:565-8.

Page 44: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

32

19. Plank LD, Hill GL. Sequential metabolic changes following induction of systemic

inflammatory response in patients with severe sepsis or major blunt trauma. World J

Surg. 2000; 24:630-8.

20. Nygren J. The metabolic effects of fasting and surgery. Best Pract Res Clin

Anaesthesiol. 2006; 20(3):429-38.

21. Stoner HB, Frayn KN, Barton RN, Threlfall CJ, Little RA. The relationships

between plasma substrates and hormones and the severity of injury in 277 recently

injured patients. Clin Sci. 1979; 56:563-73.

22. Thorell A, Nygren J, Essén P, Gutniak M, Loftenius A, Anderson B, Ljungqvist

O. The metabolic response to cholecystectomy: insulin resistance after open

compared with laparoscopic operation. Eur J Surg. 1996; 162(3): 187-91.

23. Van den Berghe G, Wouters P, Weekers F, Verwaest C, Bruyninckx F, Schetz M,

Vlasselaers D, Ferdinande P, Lauwers P, Bouillon R. Intensive insulin therapy in the

critically ill patients. N Engl J Med. 2001; 345(19):1359-67.

24. Bush GH, Steward DJ. Severe hypoglycemia associated with preoperative fasting

and intraoperative propranolol. A case report and discussion. Paediatr Anaesth. 1996;

6:415-7.

25. Maekawa N, Mikawa K, Yaku H, Nishina K, Obara H. Effects of 2, 4 and 12

hours fasting intervals on preoperative gastric fluid pH and volume, and plasma

glucose and lipid homeostasis in children. Acta Anaesthesiol Scand.1993; 37:783-7.

26. Faria M, de Aguilar-Nascimento JE, Pimenta OS, Alvarenga LC, Dock-

Nascimento DB, Slhessarenko N. Preoperative fasting of 2 hours minimizes insulin

resistance and organic response to trauma after video-cholecystectomy: a randomized,

controlled, clinical trial. World J Surg. 2009; 33:1158-64.

27. Dock-Nascimento DB, de Aguilar-Nascimento JE, Waitzberg DL. Ingestão de

glutamina e maltodextrina duas horas no pré-operatório imediato melhora a

sensibilidade à insulina pós-operatória: estudo aleatório, duplo-cego e controlado. Rev

Col Bras Cir. 2012; 39(6):449-55.

Page 45: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

33

28. Svanfeldt M, Thorell A, Hausel J, Soop M, Rooyackers O, Nygren J, Ljungqvist

O. Randomized clinical trial of the effect of preoperative oral carbohydrate

treatment on postoperative whole-body protein and glucose kinetics. Br J Surg. 2007;

94(11):1342-50.

29. Yuill KA, Richardson RA, Davidson HI, Garden OJ, Parks RW. The

administration of an oral carbohydrate-containing fluid prior to major elective upper-

gastrointestinal surgery preserves skeletal muscle mass postoperatively a randomised

clinical trial. Clin Nutr. 2005;24(1):32-7.

30. Aguilar-nascimento JE, Salomão AB, Caporossi C, Diniz BN. Clinical benefits

after the implementation of a multimodal perioperative protocol in elderly patients.

Arq Gastroenterol. 2010; 47(2):178-83.

31 Varadhan KK, Neal KR, Dejong CH, Fearon KC, Ljungqvist O, Lobo DN. The

enhanced recovery after surgery (ERAS) pathway for patients undergoing major

elective open colorectal surgery: a meta-analysis of randomized controlled trials. Clin

Nutr. 2010; 29(5):689-90

32. Moro ET. Prevenção da aspiração pulmonar do conteúdo gástrico. Rev Bras

Anestesiol. 2004; 54(2):261-75.

33. Read MS, Vaughan RS. Allowing preoperative patients to drink: effects on

patients safety and comfort of unlimited oral water until 2 hours before anesthesia.

Acta Anaesthesiol Scand. 1991; 35:591-5.

34. Hausel J, Nygren J, Thorell A, Lagerkranser M, Ljungqvist O. Randomized

clinical trial of the effects of oral preoperative carbohydrates on postoperative nausea

and vomiting after laparoscopic cholecystectomy. Br J Surg. 2005; 92(4):415-21.

35. Awad S, Varadhan KK, Ljungqvist O, Lobo DN. A meta-analysis of randomized

controlled trials on preoperative oral carbohydrate treatment in elective surgery. Clin

Nutr. 2013; 32(1):34-44.

36. Noblett SE, Watson DS, Huong H, Davison B, Hainsworth PJ, Horgan AF. Pre-

operative oral carbohydrate loading in colorectal surgery: a randomized controlled

trial. Colorectal Dis. 2006; 8:563-9.

Page 46: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

34

37. Nygren J, Thorell A, Jacobsson H, Schnell PO, Ljungqvist O. Preoperative gastric

emptying: the effects of anxiety and carbohydrate administration. Ann Surg. 1995;

222:728-34.

38. Olsson GL, Hallen B, Hambraeus-Jonzon K. Aspiration during anaesthesia: a

computer-aided study of 185,358 anaesthetics. Acta Anaesthesiol Scand. 1986; 30:

84-92.

39. Mellin Olsen J, Fasting S, Gisvold SE. Routine preoperative gastric emptying is

seldom indicated. A study of 85,594 anaesthetics with special focus on aspiration

pneumonia. Acta Anaesthesiol Scand. 1996; 40:1184-8.

40. Warner MA, Warner ME, Weber JG. Clinical significance of pulmonary

aspiration during the perioperative period. Anesthesiology. 1993; 78:56-62.

41. Warner MA, Warner ME, Warner DO . Perioperative pulmonary aspiration in

infants and children. Anesthesiology. 1999; 90:66-71.

42. Borland LM, Sereika SM, Woelfel SK, Saitz EW, Carrillo PA, Lupin JL,

Motoyama EK. Pulmonary aspiration in pediatric patients during general

anesthesia: incidence and outcome. J Clin Anesth. 1998; 10:95-102.

43. Alexander NG, Graham S. Gastroesophageal reflux and aspiration of gastric

contents in anesthetic practice. Anesth Analg. 2001; 93:494-513.

44. Ortenzi AV, D`Ottaviano CR. Jejum pré-operatório e o paciente de estômago

cheio. Atualização em Anestesiologia. SAESP. 1996; 2:94-106.

45. Brady M, Kinn S, Stuart P. Preoperative fasting for adults to prevent preoperative

complications. Cochrane Database Syst Rev. 2003;(4):CD004423.

46. Søreide E, Strømskag KE, Steen PA. Statistical aspects in studies of preoperative

fluid intake and gastric content. Acta Anaesthesiol Scand. 1995; 39:738-43.

47. Nygren J, Thorell A, Ljungqvist O. Preoperative oral carbohydrate nutrition: an

update. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2001;4:255-9.

48. Aguilar-Nascimento JE, Dock-Nascimento DB, Faria MSM, Maria EV,

Yonamine F, Silva MR, Adler T. Ingestão pré-operatória de carboidratos diminui a

Page 47: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

35

ocorrência de sintomas gastrointestinais pós-operatórios em pacientes submetidos à

colecistectomia. Arq Bras Cir Dig. 2007; 20(2):77-80.

49. Soop M, Nygren J, Thorell A, Weidenhielm L, Lundberg M, Hammarqvist F,

Ljungqvist O. Preoperative oral carbohydrate treatment attenuates endogenous

glucose release 3 days after surgery. Clin Nutr. 2004; 23(4):733-41.

50. Henriksen MG, Hessov I, Dela F, Hansen HV, Haraldsted V, Rodt SA. Effects of

preoperative oral carbohydrates and peptides on postoperative endocrine response,

mobilization, nutrition and muscle function in abdominal surgery. Acta Anaesthesiol

Scand. 2003; 47(2):191-9.

51. Fasting S, Søreide E, Raeder JC. Changing preoperative fasting policies. Impact

of a national consensus. Acta Anaesthesiol Scand. 1998; 42(10):1188-91.

52. Merchant R, Chartrand D, Dain S, Dobson G, Kurrek M, Lagacé A, Stacey

S,Thiessen B; Canadian Anesthesiologists' Society. Guidelines to the practice of

anesthesia revised edition 2013. Can J Anaesth. 2013; 60(1):60-84.

53. Pimenta GP, de Aguilar-Nascimento JE. Prolonged preoperative fasting in

elective surgical patients: why should we reduce it? Nutr Clin Pract. 2014; 29(1):22-8.

54. Nygren J, Hausel J, Kehlet H, Revhaug A, Lassen K, Dejong C, Andersen J, von

Meyenfeldt M, Ljungqvist O, Fearon KC. A comparison in five European Centers of

case mix, clinical management and outcomes following either conventional or

fasttrack perioperative care in colorectal surgery. Clin Nutr. 2005;24(3):455-61.

55. de Aguilar-Nascimento JE, Caporossi C, Salomão AB. ACERTO - Acelerando a

recuperação total pós-operatória. 2º ed. Rio de Janeiro: Editora Rúbio. 2011.

56. Breuer JP, von Dossow V, von Heymann C, Griesbach M, von Schickfus M,

Mackh E, Hacker C, Elgeti U, Konertz W, Wernecke KD, Spies CD. Preoperative

oral carbohydrate administration to ASA III-IV patients undergoing elective cardiac

surgery. Anesth Analg. 2006; 103(5): 1099-108.

57. Melis GC, van Leeuwen PA, von Blomberg-van der Flier BM, Goedhart-Hiddinga

AC, Uitdehaag BM, Strack van Schijndel RJ, Wuisman PI, Van Bokhorst-de van der

Schueren MA. A carbohydrate-rich beverage prior to surgery prevents surgery-

Page 48: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

36

induced immunodepression: a randomized, controlled, clinical trial. JPEN J Parenter

Enteral Nutr. 2006; 30(1):21-6.

58. Søreide E, Fasting S, Raeder JC. New preoperative fasting guidelines in

Norway. Acta Anaesthesiologica Scandinavica. 1997; 41:799.

59. Gustafsson UO, Nygren J, Thorell A Soop M, Hellström PM, Ljungqvist O,

Hagström-Toft E. Preoperative carbohydrate loading may be used in type 2 diabetes

patients. Acta Anaesthesiol Scand. 2008; 52:946-51.

60. Lemanu DP, Singh PP, Berridge K, Burr M, Birch C, Babor R, MacCormick AD,

Arroll B, Hill AG. Randomized clinical trial of enhanced recovery versus standard

care after laparoscopic sleeve gastrectomy. Br J Surg. 2013; 100(4):482-9.

61. Pimenta GP. Avaliação clínica e resposta orgânica em obesos mórbidos

submetidos a gastroplastia vertical videolaparoscópica com ou sem cuidados

perioperatórios preconizados pelo Projeto Acerto. Estudo Randomizado. 105 f.

Dissertação (Doutorado em Ciências da Saúde) Faculdade Medicina. Universidade

Federal de Mato Grosso. Cuiabá. 2013.

62. Borges Dock-Nascimento D, Aguilar-Nascimento JE, Caporossi C, Sepulveda

Magalhães Faria M, Bragagnolo R, Caporossi FS, Waitzberg DL. Safety of oral

glutamine in the abbreviation of preoperative fasting: a double-blind, controlled,

randomized clinical trial. Nutr Hosp. 2011; 26(1):86-90.

63. Perrone F, da-Silva-Filho AC, Adôrno IF, Anabuki NT, Leal FS, Colombo T, da

Silva BD, Dock-Nascimento DB, Damião A, de Aguilar-Nascimento JE. Effects of

preoperative feeding with a whey protein plus carbohydrate drink on the acute phase

response and insulin resistance: a randomized trial. Nutr J. 2011; 10:66.

64. Lobo DN, Hendry PO, Rodrigues G, Marciani L, Totman JJ, Wright JW, Preston

T, Gowland P, Spiller RC, Fearon KC. Gastric emptying of three liquid oral

preoperative metabolic preconditioning regimens measured by magnetic resonance

imaging in healthy adult volunteers: a randomised double-blind, crossover study.

Clin Nutr. 2009.

65. Dock-Nascimento DB, de Aguilar-Nascimento JE, Magalhaes Faria MS,

Caporossi C, Slhessarenko N, Waitzberg DL. Evaluation of the effects of a

Page 49: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

37

preoperative 2-hour fast with maltodextrine and glutamine on insulin resistance,

acute-phase response, nitrogen balance, and serum glutathione after laparoscopic

cholecystectomy: a controlled randomized trial. JPEN J Parenter Enteral Nutr.

2012; 36(1):43-52.

66. Pexe-Machado PA, de Oliveira BD, Dock-Nascimento DB, de Aguilar-

Nascimento JE. Shrinking preoperative fast time with maltodextrin and protein

hydrolysate in gastrointestinal resections due to cancer. Nutrition. 2013; 29(7-

8):1054-9.

67. Green CR, Pandit SK, Schork MA. Preoperative fasting time: is the traditional

policy changing? Results of a national survey. Anesth Analg. 1996; 83(1):123-8.

68. Hausel J, Nygren J, Lagerkranser M, Hellström PM, Hammarqvist F, Almström

C, Lindh A, Thorell A, Ljungqvist O. A carbohydrate-rich drink reduces preoperative

discomfort in elective surgery patients. Anesth Analg. 2001; 93(5):1344-50.

69. Awad S, Stephenson MC, Placidi E, Marciani L, Constantin-Teodosiu D,

Gowland PA, Spiller RC, Fearon KC, Morris PG, Macdonald IA, Lobo DN. The

effects of fasting and refeeding with a 'metabolic preconditioning' drink on substrate

reserves and mononuclear cell mitochondrial function. Clin Nutr. 2010; 29:538-44.

70. Pasero C, Belden J. Evidence-based perianesthesia care: accelerated postoperative

recovery programs. J Perianesth Nurs. 2006; 21(3):168-76.

71. Hartman SL, Nelson MS. What we say and what we do: self-reported teaching

behavior versus performances in written simulations among medical school faculty.

Acad Med. 1992; 67(8):522-7.

72. Casey C, Senapati S, White CB, Gruppen LD, Hammoud MM. Medical students

self-reported work hours: perception versus reality. Am J Obstet Gynecol. 2005;

193(5):1780-4.

73. Cho YH, Lee SY, Jeong DW, Im SJ, Choi EJ, Lee SH, Baek SY, Kim YJ, Lee JG,

Yi YH, Bae MJ, Yune SJ. Analysis of questioning technique during classes in

medical education. BMC Med Educ. 2012; 12:39.

Page 50: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

38

74. Fenton JJ, Egger J, Carney PA, Cutter G, D'Orsi C, Sickles EA, Fosse J,Abraham

L, Taplin SH, Barlow W, Hendrick RE, Elmore JG. Reality check: perceived versus

actual performance of community mammographers. AJR Am J Roentgenol. 2006;

187(1):42-6.

Page 51: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

39

8. ANEXOS

Page 52: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

40

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a), da pesquisa “Estudo

Multicêntrico para avaliação do jejum pré-operatório prescrito e realizado em serviços de

cirurgia de hospitais do Brasil e sua correlação com tempo de internação.” O objetivo deste

estudo é avaliar o tempo de jejum pré-operatório realmente aplicado.

Sua participação nesta pesquisa consistirá em ser avaliado por um pesquisador que anotará o

tempo real que você ficará sem comer antes da operação e também o tempo de internação após a

operação. Os benefícios para você enquanto participante da pesquisa, será melhorar a sua saúde e a

recuperação após a cirurgia. Os dados referentes à sua pessoa serão confidenciais e garantimos o

sigilo de sua participação durante toda pesquisa, inclusive na divulgação da mesma. Os dados não

serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação, pois será analisado em conjunto com os

dados dos demais pacientes. Você receberá uma cópia desse termo onde tem o nome, telefone e

endereço do pesquisador responsável, para que você possa localizá-lo a qualquer tempo.

Após ser esclarecido (a) sobre estas informações, no caso de aceitar fazer parte do estudo,

assine ao final deste documento, que está em duas vias, uma delas é sua e a outra é do pesquisador

responsável. Em caso de recusa você não terá nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou

com a instituição que recebe assistência.

Pesquisadores e instituições envolvidas____________________; Hospital________________.

Em caso de necessidade, contate:_________________Informações sobre o projeto fazer contato com

o Comitê de Ética em Pesquisa do ____________________pelo fone: (XX )________ ou pelo

endereço, sendo a presidente deste Comitê____________________

Considerando os dados acima, CONFIRMO estar sendo informado por escrito e verbalmente

dos objetivos desta pesquisa.

Eu___________________________________________________________________ idade-

______sexo______naturalidade__________________portador(a) do documento RG

Nº__________________ declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação

na pesquisa e concordo em participar.

Assinatura do participante ______________________________________________

Assinatura do pesquisador principal______________________________________

Testemunha*__________________________________________________________

* Testemunha só é exigido caso o participante não possa por algum motivo, assinar o termo.

,____ de _________________de 20___

Page 53: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

41

Apêndice 1

Folha de Coleta de dados

Page 54: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

1

DI: data da internação; DC: data da cirurgia; ASG: Avaliação subjetiva global; A/O: Alta ou óbito.

Estudo multicêntrico para avaliação do jejum pré-operatório prescrito e realizado em serviços de cirurgia de hospitais no Brasil.

Nome Sexo Idade DI DC TI ASA ASG Diagnóstico Cirurgia realizada T jejum presc

T real de jejum Data A/O

Page 55: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

1

Apêndice 2

Manual do pesquisador

Page 56: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

2

Estudo multicêntrico para avaliação do jejum pré-operatório

prescrito e realizado em serviços de cirurgia de hospitais no

Brasil

Manual do Pesquisador

Caro Pesquisador,

Este manual tem como objetivo a maneira correta de preenchimento do formulário,

procurando padronizar os procedimentos a serem observados no levantamento dos dados.

São descritos aqui os procedimentos que deverão ser seguidos para o bom desempenho do

pesquisador(a) na realização do estudo.

Para nos contatar:

Coordenador - José Eduardo Aguilar-Nascimento (65) 9981-5388

[email protected]

Pesquisadora- Ana Laura de Almeida Dias (65) 9285-3000/(65) 9660 4332

[email protected] ou [email protected]

Atenciosamente,

José Eduardo Aguilar Nascimento

Page 57: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

3

1. APRESENTAÇÃO

Essa pesquisa visa conhecer a realidade do jejum pré-operatório prescrito e

praticado em vários hospitais do Brasil. Não há dados sobre isso e, portanto, o resultado

dessa pesquisa servirá de importante fonte de referência para novas condutas, pesquisas e

metas para diretrizes futuras. Esse mapeamento tem muita similaridade com o Inbranutri e

o estudo Élan que mostraram o mapa da desnutrição no país e na América Latina.

Nossa missão então é importante e nesse primeiro momento eu agradeço a

participação de todos. Para uma futura publicação criaremos um grupo de pesquisa que

será o co-autor do trabalho e o seu nome, caso aceite o convite e participe da coleta de

dados, aparecerá no trabalho como membro do grupo co-autor. Isso é possível e muitas

revistas aceitam. Tenho uma referência se quiserem ver no pubmed onde apareco como

membro de um grupo que coletou dados.

Caso achem necessário mais de um pesquisar colaborador, este poderá fazer

parte. Entretanto, para dar mais coerência e idoneidade ao trabalho, peco que não mais de

duas pessoas sejam parte do grupo em cada hospital.

Pretendemos colher o máximo de dados possível e assim, solicito de vocês que

aceitem o desafio e coletem o máximo de dados possível. Os comitês de ética não deverão

oferecer obstáculos, pois se trata de uma pesquisa puramente observacional sem infligir

danos ou possíveis riscos aos pacientes.

Page 58: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

4

2. INFORMAÇÕES GERAIS

Este estudo multicêntrico, de abrangência nacional, será constituído por Centro

Coordenador (CC) e Coordenações Locais (CL) em suas respectivas unidades de

pesquisa.

O Comitê Coordenador será responsável pelo formato final do projeto, aprovação

das unidades de pesquisa, alocação de pessoal, planejamento de análise, decisão sobre

interrupção ou suspensão da pesquisa, autoria de comunicações científicas e aprovação de

subprojetos, entre outras obrigações a serem estabelecidas na preparação final do projeto.

Ao Centro Coordenador caberá a preparação de manuais, treinamento de equipes

coordenadoras locais, preparação dos instrumentos de coleta, estabelecimento de

padronização de medidas e controle de qualidade, supervisão geral do trabalho de campo,

elaboração de banco de dados, análise e preparação de versões iniciais das comunicações

técnicas.

Aos Centros locais caberá o treinamento de equipes de coleta e supervisão do

trabalho de campo na área de abrangência e também pelo arrolamento, tratamento e

seguimento dos pacientes.

Page 59: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

5

3. LOCAIS DE REALIZAÇÃO

- Hospital Universitário Júlio Muller - Cuiabá - MT

- Hospital do Câncer de Cuiabá - Cuiabá - MT

- Hospital Metropolitano - Várzea Grande - MT

- Hospital São Luiz - São Paulo - SP

- Hospital Luxemburgo - Belo Horizonte - MG

- Hospital de Clinicas - UFPR - Curitiba - PR

- Hospital Universitário Gaffrée e Guinle - Rio de Janeiro - RJ

- Santa Casa de Misericórdia de Vitória - Vitória - ES

- Hospital Bandeirantes - São Paulo

- Hospital do Servidor Público do Estadual - São Paulo - SP

- Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva - Rio de Janeiro - RJ

- Instituto de Câncer do Estado de São Paulo - São Paulo - SP

- Hospital Erasto Gaertner - Curitiba - PR

- Hospital de Messejana Carlos Alberto Studart Gomes - Fortaleza - CE

- Hospital Universitário João de Barros Barreto - Belém - Pará

- Hospital Nossa Senhora da Conceição - Tubarão - SC

Page 60: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

6

4. PROCEDIMENTOS DO ESTUDO

- Farão parte da pesquisa os pacientes de ambos os sexos, entre 18 a 80 anos, que forem

submetidos operações eletivas.

- Na internação do paciente realizar a Avaliação Subjetiva Global (em anexo). O objetivo

é não somente facilitar o diagnóstico da desnutrição, mas também possibilitar o

prognóstico, identificando pacientes que apresentam maior risco de sofrer complicações

associadas ao seu estado nutricional durante a internação. A ASG pode ser aplicada por

profissional não-médico da equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN)

devidamente treinado.

- Anotar a data de internação, a data da cirurgia, diagnóstico e porte da cirurgia

(classificação em anexo). Algumas informações podem ser coletadas no prontuário.

- Verificar o tempo de jejum pré-operatório prescrito pelo médico. (vide prescrição

médica).

- Apresentar o TCLE ao paciente e questioná-lo. Exemplo: “quando é que você comeu ou

bebeu sua última refeição antes da operação?”. Coletar o tempo real que este ficou em

jejum aguardando a operação.

- No final da permanência do paciente no hospital anotar o tempo de internação e o

desfecho final (alta ou óbito).

- Após preenchimento de todos os campos do questionário, digitar em tabela Excel e

enviar mensalmente para o CC.

Page 61: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

7

5. INSTRUÇÕES GERAIS PARA O PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO

Os campos do questionário devem ser preenchidos conforme instrução abaixo:

- Sexo - anotar M para sexo masculino e F para sexo feminino.

- Idade - em anos completos.

- Data da internação (DI): anotar dia, mês e ano. Ex: dd/mm/nnnn.

- Data da Cirurgia (DC): anotar dia, mês e ano. Ex: dd/mm/nnnn.

- Tempo de internação (TI): anotar o tempo que o paciente permaneceu internado ate a

alta/óbito em dias completos. Tempo na UTI- se o paciente for para a UTI, anotar o

número de dias em que permaneceu nessa unidade.

- Escore da American Society of Anesthesiologists (ASA): anotar o e score ASA

conforme estabelecido pelo médico anestesista.

- Avaliação Subjetiva Global (ASG): anotar o grau de comprometimento do estado

nutricional utilizando as letras – A: nutrido, B: desnutrição moderada ou em risco

nutricional e C: desnutrição grave.

- Diagnóstico: conforme estabelecido pelo médico. Escrever por extenso, sem

abreviações. Ex: Colelitíase.

- Cirurgia realizada: nome do procedimento cirúrgico. Escrever por extenso, sem

abreviações. Ex: Videocolecistectomia.

- Tempo de jejum prescrito: anotar em horas. Ex: 12 horas.

- Tempo de jejum realizado: Anotar em horas, independente se o tempo de jejum for

maior que 24 horas.

- Alta ou óbito (A/O): anotar dia, mês e ano. Ex: dd/mm/nnnn

Page 62: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

8

6. PERIODICIDADE

Os dados coletados devem ser enviados em tabela Excel, mensalmente, o partir do

dia primeiro setembro. Junto aos dados devem constar o local da pesquisa e o pesquisador

responsável. As informações devem estar completas e sem abreviações.

7. DURAÇÃO TOTAL DA PESQUISA

12 meses, a partir de setembro de 2011, conforme explicitado no Cronograma de

execução (vide projeto de pesquisa).

Page 63: TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS ...ri.ufmt.br/bitstream/1/451/1/DISS_2014_Ana Laura de Almeida Dias.pdf · TEMPO DE JEJUM PRÉ-OPERATÓRIO REALIZADO EM HOSPITAIS

9

AVALIAÇÃO SUBJETIVA GLOBAL DO ESTADO NUTRICIONAL

(Selecione a categoria apropriada com um X ou entre com valor numérico onde

indicado por “#’)

A. História

1. Alteração no peso

Perda total nos últimos 6 meses: total = # ________kg; % perda = ________

Alteração nas últimas duas semanas:____aumento _____sem alteração____diminuição.

2. Alteração na ingestão alimentar

_____ sem alteração_____alterada _____duração = # _____semanas.

_____tipo: _____dieta sólida sub-ótima _____dieta líquida completa _____líquidos

hipocalóricos _____inanição.

3. Sintomas gastrintestinais (que persistam por > 2 semanas)

_____nenhum _____náusea _____vômitos _____diarréia _____anorexia.

4. Capacidade funcional

_____sem disfunção (capacidade completa

_____disfunção _____duração = _____semanas.

_____tipo: _____trabalho sub-ótimo _____ambulatório _____acamado.

5. Doença e sua relação com necessidades nutricionais

Diagnóstico primário (especificar)___________________________________________

Demanda metabólica (stress): _____sem stress _____baixo stress _____stress moderado

_____stress elevado.

B. Exame Físico (para cada categoria, especificar: 0 = normal, 1+ = leve, 2+ =

moderada, 3+ = grave).

# _____perda de gordura subcutânea (tríceps, tórax)

# _____perda muscular (quadríceps, deltóide)

# _____edema tornozelo

# _____edema sacral

# _____ascite

C. Avaliação subjetiva global (selecione uma)

_____A = bem nutrido

_____B = moderadamente (ou suspeita de ser) desnutrido

_____C = gravemente desnutrido

Avaliação subjetiva global segundo Detsky et al.