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Tema – Produção textual: fundamentos teórico-metodológicos
Projeto Pós-graduação
Curso Alfabetização e Letramento
Disciplina Leitura e produção de textos
Tema Produção textual: fundamentos teórico-metodológicos
Professor Marilia Marques Mira
Introdução
O objetivo deste tema é aprofundar as reflexões sobre a produção
textual, detalhando algumas questões relacionadas aos seus fundamentos
teórico-metodológicos. Para tanto, serão exploradas as questões relacionadas
à concepção de texto e à textualidade, à tipologia textual e aos gêneros
textuais.
Serão analisadas as modalidades oral e escrita e as capacidades que
devem ser trabalhadas com as crianças para que se tornem produtoras de
textos, a partir da concepção sociointeracionista de língua.
Antes de iniciarmos, assista ao vídeo no material on-line, no qual a
professora Marilia mostrará os tópicos que serão estudados nesta aula.
Problematização
Sua colega é professora do 2º ano do ensino fundamental e solicitou
uma redação (texto livre) sobre o tema “Frango”. E como resultado, recebeu o
seguinte texto:
TEXTO LIVRE SOBRE O FRANGO
O FRANGO É MUITO BONITO
MAS COME MINHOCAS E MILHO E PASTO
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E OS FRANGOS COMEM
E SE TORNAM GORDOS
E MUITO BONITOS
E TAMBÉM PÕEM OVOS BRANQUINHOS
E TAMBÉM O FRANGO SE COME
E MUITO SABOROSO
QUE BOM COM MOLHO
E PÕE NELE TOMATE E COMINHOS
CRAVOS E ALHO
E É MUITO BOM
E O COMEM OS RICOS
E TAMBÉM OS FRITAM
E TAMBÉM TOMAM ÁGUA
E ASSIM SE FAZ O TEXTO LIVRE SOBRE O FRANGO.
(Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-
ortuguesa/fundamentos/m-466781.shtml)
Ela solicita a sua ajuda, pois não sabe como avaliar esse texto e os
outros que foram produzidos de forma semelhante pelas crianças.
Qual é a melhor decisão a tomar diante dessa situação?
Não responda agora. Vamos voltar ao conteúdo teórico do nosso tema
e, ao final, retomaremos a nossa história e apresentaremos as possibilidades
de solução para o problema.
Produção textual: fundamentos teórico-metodológicos
No nosso dia a dia, dependendo da nossa profissão, do nosso contexto
e de algumas necessidades específicas, nos envolvemos em diferentes
situações de escrita ou produção textual.
Podemos explicitar algumas dessas situações cotidianas: organizar uma
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lista de compras para o supermercado ou uma lista de convidados para uma
festa de aniversário; digitar e-mails com diferentes finalidades (para amigos,
colegas de trabalho, familiares); registro periódico dos compromissos em uma
agenda; um bilhete para algum familiar; convites para eventos diversos;
registro de uma receita que elaboramos ou que foi transmitida por algum canal
de televisão; escrita de textos diversos, com distintos objetivos, em redes
sociais, entre outros.
Conforme a profissão que exercemos, essa lista se amplia e diversifica:
relatórios, ofícios, cartas, notícias, reportagens, contos, charges, histórias em
quadrinhos, propagandas, etc.
Uma rápida leitura dessa pequena listagem nos permite observar que,
cotidianamente, escrevemos diferentes textos, com finalidades diversas, para
destinatários específicos, conforme a situação ou a necessidade. A questão é:
E na escola? É diferente escrever na escola e fora dela? Se
escrevemos para agir e interagir na sociedade, de que forma isso está
presente na sala de aula, nos diferentes níveis de escolaridade?
Bem, talvez na escola seja um pouco diferente, não é mesmo? Leia um
trecho de uma narrativa literária que retrata uma situação de escrita em sala de
aula:
http://vod.grupouninter.com.br/2014/AGO/27098.mp4
Será que, atualmente, já superamos esse tipo de encaminhamento nas
nossas práticas de ensino?
Alguns autores (CURTO et al., 2000; LERNER, 2002) têm evidenciado
que as situações de ensino da linguagem escrita realizadas na escola são
diferentes das situações no cotidiano. Essa “diferença” pode estar relacionada
a alguns fatores. Dos quais, poderíamos destacar as dificuldades da escola (e
de seus profissionais) em (re)apresentar em sala de aula a linguagem que se
usa socialmente.
A escola acaba trabalhando com uma linguagem tipicamente escolar,
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artificial e distante da língua que usamos no cotidiano, “elaborada” com o fim
único de “facilitar” o ensino da leitura e da escrita, especialmente nos anos
iniciais.
Por que essa dificuldade persiste?
Essencialmente, isso se deve à forma de se conceber a língua (o texto,
a leitura, a produção textual, a criança e seu processo de aprendizagem, etc.)
e, em decorrência, de encaminhar o trabalho em sala de aula.
Voltando à nossa questão inicial:
De que forma o ensino da produção textual está presente na
escola?
Em muitos casos, como o descrito na nossa narrativa literária, os
estudantes escrevem unicamente para o professor, interlocutor exclusivo dos
textos produzidos. E um interlocutor que lê (ou ouve) esses textos apenas para
corrigi-los e avaliá-los. Esse ainda é um grande desafio, como foi descrito por
Lerner:
[…] O desafio é conseguir que as crianças manejem com eficácia os diferentes escritos que circulam na sociedade, e cuja utilização é necessária ou enriquecedora para a vida (pessoal, profissional, acadêmica), em vez de se tornarem especialistas nesse gênero exclusivamente escolar que se denomina “composição” ou “redação”. O desafio é conseguir que a escrita deixe de ser na escola somente um objeto de avaliação, para se constituir realmente num objeto de ensino; é tornar possível que todos os alunos se apropriem da escrita e a ponham em prática, sabendo – por experiência, não por transmissão verbal – que é um longo e complexo processo constituído por operações recorrentes de planejamento, textualização e revisão. (LERNER, 2002, p. 28)
Considerando a língua como um conjunto de práticas sociais e cognitivas
historicamente situadas - desenvolvidas em contextos comunicativos
específicos -, falar e escrever “não é apenas comunicar algo, e sim produzir
sentidos, identidades, imagens, experiências e assim por diante.”
(MARCUSCHI, 2008, p. 61-2)
Para que os estudantes apliquem isso, devemos auxiliá-los no
desenvolvimento de um conjunto de capacidades e saberes que não são
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aprendidos nem rápida, nem espontaneamente. É necessário um trabalho
intencional e planejado.
É fundamental, portanto, que você aprofunde seus estudos sobre as
questões relacionadas ao entendimento da função social e histórica da língua
e pesquise mais sobre algumas definições ligadas a essa concepção.
Para Marcuschi (2008, p. 71-78), a comunicação linguística não se efetiva
por meio de unidades isoladas (como fonemas, morfemas ou palavras soltas),
mas em unidades maiores, os textos. Os textos, então, podem ser concebidos
como unidades de sentido, sejam elas textos orais ou escritos. O sentido,
para o autor, “é um efeito do funcionamento da língua quando os falantes estão
situados em contextos sócio-históricos e produzem textos em condições
específicas”.
Vamos detalhar um pouco mais essa questão no vídeo do material on-line.
De acordo com Marcuschi (2008, p. 88-91), “o texto é a unidade máxima
de funcionamento da língua.” Isso não está relacionado à extensão: podemos
ter um texto de uma palavra só ou de centenas de páginas, como uma tese ou
uma enciclopédia. Para o autor, o que faz um texto são a discursividade, a
inteligibilidade e a articulação que ele põe em andamento.
Mas, então, como sabemos se um conjunto de enunciados forma
ou não um texto?
A resposta a essa questão nos leva a retomar a citação de Beaugrande:
“Um texto não existe, como texto, a menos que alguém o processe como
tal.” A partir dessa posição, é importante destacar os três aspectos da
textualidade (MARCUSCHI, 2008, p. 89):
Um texto não é um artefato, um produto, mas é um evento (uma
espécie de acontecimento) e sua existência depende de que alguém o
processe em algum contexto. É um fato discursivo [...], dá-se na
atividade enunciativa.
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Um texto não se define por propriedades imanentes necessárias e
suficientes, mas por situar-se em um contexto sociointerativo e por
satisfazer um conjunto de condições que conduz cognitivamente à
produção de sentidos.
A sequência de elementos linguísticos será um texto na medida em que
consiga oferecer acesso interpretativo a um indivíduo que tenha uma
experiência sociocomunicativa relevante para a compreensão.
Podemos dizer que para ser considerado um texto, o trecho implica em
certas condições: além do autor, que produziu esse texto em um determinado
contexto, precisa de leitores/interlocutores.
Esses leitores, para entenderem o sentido do texto, precisam de alguns
conhecimentos prévios sobre o contexto em que o texto foi produzido (aspectos
histórico-sociais). Não basta apenas o conhecimento da língua portuguesa, de
suas regras, das características do gênero (aspectos linguísticos). Essas são
condições necessárias, mas não são suficientes para a busca do sentido, para
a compreensão.
Como modelo de texto, note a charge do link a seguir. Depois, clique no
botão Ver Mais e reflita sobre esse exemplo.
http://maryvillano.blogspot.com.br/2009/04/violencia-na-escola.html
É provável que leitores que desconhecem o problema da violência nas
escolas em (aspectos cognitivos) tenham certa dificuldade de entender a
mensagem, se isso não for explicitado antes da leitura.
Nessa perspectiva, no exemplo explicitado, não se nega que a charge
apresentada seja um texto, mas não funciona como texto para o leitor que não
souber “operar” com ele.
Operar com textos é conseguir processar seu sentido cognitiva e
discursivamente, o que implica em, além de dominar o sistema
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linguístico, inserir-se na cultura em que ele foi produzido.
“Os textos são construídos, sempre, na perspectiva da enunciação”
(MARCUSCHI, 2008, p. 77).
O que isso significa?
Significa entender que a relação do(s) autor(es) do texto com seus
leitores e com a situação discursiva é um dos aspectos centrais do processo de
interlocução.
Enquanto autor, não é possível pensar em escrever um texto sem ter
claro para quem escrevo (quem são meus interlocutores), com que finalidade e
em que contexto1. É preciso lembrar que o contexto de produção do autor e
das circunstâncias da escrita pode ser absolutamente diferente do contexto de
uso do interlocutor ou leitor e, portanto, relativo às circunstâncias da leitura.
A atividade de produção de textos não é, portanto, uma atividade
unilateral, envolve decisões conjuntas (como num jogo), e é isso que a
caracteriza como uma atividade sociointerativa.
Outra questão importante sobre a textualidade, refere-se ao fato de que
ela depende muito mais dessa condição de processamento cognitivo e
discursivo do texto do que da correção sintática e ortográfica da língua.
Observe, no link a seguir alguns exemplos, que comprovam essa afirmação:
http://educacao.uol.com.br/album/2013/09/14/erros-em-placas.htm#fotoNav=5.
Apesar dos erros, nenhuma das placas apresenta dificuldade de
compreensão do seu sentido, e atingem a finalidade comunicativa a que se
propõem. Isso não significa que estejamos defendendo a produção textual com
erros ortográficos ou sintáticos; apenas destacamos que para ser considerada
um texto, na perspectiva defendida, essa não é a condição principal.
1 Conjunto de todas as propriedades da situação social que são sistematicamente
relevantes para a produção, compreensão ou funcionamento do discurso e de suas estruturas” (Dijk, 1997, apud KOCH; ELIAS, 2006, p. 73)
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Marcuschi (2008, p. 96) apresenta um esquema com os critérios gerais
da textualidade, que sintetiza nossa reflexão. Conheça-os no vídeo do
material on-line.
Além da concepção de texto e dos critérios de textualidade, outra
questão necessária para nosso estudo diz respeito às diferenças entre tipos e
gêneros textuais.
Então, clique nos ícones a seguir para entender o que caracteriza essas
definições:
Os tipos textuais, para Marcuschi (2008), não têm existência empírica.
Designam uma construção teórica definida pela natureza linguística de sua
composição, ou seja, dizem respeito à organização estrutural do discurso.
Abrangem as seguintes categorias (limitadas): narração, argumentação,
exposição, descrição, injunção.
Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida
diária e que apresentam determinados padrões sociocomunicativos, definidos
pela composição funcional, objetivos enunciativos e estilos.
Diferentemente dos tipos textuais, que são limitados, os gêneros
constituem listagens abertas (ilimitadas). São expressos em diversas
denominações: notícia jornalística, receita culinária, charge, conto, bula de
remédio, piada, conferência, telefonema, lista de compras, horóscopo, etc.
Essa pequena listagem evidencia que os gêneros são dinâmicos, de
complexidade variável e de difícil classificação.
Conforme Marcuschi (2008, p. 154), “toda manifestação verbal se dá
sempre por meio de textos realizados em algum gênero.”
Uma questão importante, abordada por Marcuschi (2008, p. 154), é que
não há uma dicotomia entre gênero e tipo, pois eles se complementam, são
coexistentes. Todos os textos realizam um gênero e todos os gêneros realizam
sequencias tipológicas diversificadas. O que isso significa? Veja dois
exemplos, no vídeo do material on-line.
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Para Schneuwly (2004, p. 19-25), os gêneros podem ser considerados
como instrumentos que contribuem para o desenvolvimento de determinadas
capacidades.
No caso dos gêneros textuais, são instrumentos que contribuem para o
desenvolvimento das capacidades discursivas, ou seja, que permitem ao
indivíduo agir eficazmente em dada situação comunicativa.
Há visivelmente um sujeito, o locutor-enunciador, que age
discursivamente (falar/escrever) em uma situação definida por uma série de
parâmetros e com a ajuda de um instrumento que aqui é um gênero. O gênero
é um instrumento semiótico complexo, isto é, uma forma de linguagem
prescritiva, que permite, a um só tempo, a produção e a compreensão de
textos (SCHNEUWLY, 2004, p.23-24)
Podemos dizer que os gêneros textuais são as formas nas quais os
textos se organizam. Eles possuem características específicas, relacionadas
aos conteúdos, à composição interna e às suas marcas linguísticas.
Os textos são a materialidade linguística de um discurso, sejam textos
falados ou textos impressos.
Existe uma grande diversidade de gêneros existentes, e isso põe em
questão a dificuldade e a complexidade de se pensar em uma progressão no
processo de ensino, com base no trabalho com cada unidade denominada
“gênero”.
Na nossa cultura, temos vários gêneros, que circulam em diferentes
esferas: acadêmica (teses, artigos, dissertações), científica (relatórios, artigos
científicos), jornalística (notícias, reportagens, classificados) escolar (boletim,
relatórios descritivos, pareceres), literária (contos de fada, crônicas, poemas).
Para cada gênero citado, podemos ter uma infinidade de textos
elaborados. Por exemplo, os contos: A Gata Borralheira, A Bela e a Fera,
Pinóquio, A Bela Adormecida, Os Três Porquinhos... Cada um desses contos é
um texto, mas todos se organizam em um gênero específico. (BRASIL, 2009, p.
25-6)
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Assim, Schneuwly & Dolz (2004, p. 49-52) propõem um agrupamento de
gêneros com base nas capacidades de linguagem dominantes relacionadas às
tipologias textuais existentes:
Narrar
Domínio social de comunicação: Cultura literária ficcional.
Exemplos de gêneros orais e escritos: Contos de fada, romance, lendas,
fábulas, crônica literária, narrativa (de aventura, de ficção, de enigma...),
adivinhas, piadas, novela fantástica, romance histórico etc.
Argumentar
Domínio social de comunicação: Discussão de problemas sociais
controversos.
Exemplos de gêneros orais e escritos: Cartas do leitor, cartas de solicitação
ou reclamação, debates regrados, artigos de opinião, editoriais, resenha crítica,
assembleia, ensaio etc.
Relatar ou Descrever
Domínio social de comunicação: Documentação e memorização de ações
humanas.
Exemplos de gêneros orais e escritos: Diários de bordo, diário pessoal,
depoimentos, reportagens, relatos históricos, relatos de viagem, relatos de
experiência vivida, autobiografia, notícias, casos etc.
Expor
Domínio social de comunicação: Transmissão e construção de saberes.
Exemplos de gêneros orais e escritos: Exposição oral, entrevistas, artigos
científicos, seminários, conferências, artigos e verbetes de enciclopédias,
palestras, relatórios científicos, resenhas, tomada de notas etc.
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Informar (textos injuntivos)
Domínio social de comunicação: Instruções e prescrições.
Exemplos de gêneros orais e escritos: Instrução de uso ou de montagem,
bulas de remédio, receitas, regras de jogo, regulamentos, textos prescritivos,
comandos diversos etc.
A partir dessa classificação, podemos pensar na organização e
planejamento do trabalho com a linguagem ao longo da escolaridade.
Organizar os gêneros textuais em tipos tem o objetivo de
desenvolver/construir com os estudantes, ao longo da escolaridade, as
capacidades necessárias para dominar os gêneros. Assim, a proposta é de que
cada agrupamento seja trabalhado em todos os níveis de escolaridade, por
meio de um ou outro dos gêneros que o constituem. (SCHNEUWLY E DOLLS,
2004, p. 52-3)
Obviamente, a escolha de quais gêneros trabalhar em cada etapa de
escolarização está vinculada à critérios como adequação à faixa etária, nível de
complexidade, entre outros.
Estamos partindo do pressuposto de que nosso objetivo, enquanto
professores, é ensinar nossos alunos a produzir textos de forma competente.
Não queremos apenas ensinar a copiar ou a reproduzir modelos de forma
mecânica. Queremos formar crianças que saibam utilizar a escrita com
eficácia, produzindo textos adequados aos seus interlocutores, às finalidades e
ao contexto de circulação.
Precisamos ensinar, também, a produzir textos orais, o que é diferente
de simplesmente “falar”, o que a criança já sabe quando chega à escola. De
acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa
(BRASIL, 1997):
[…] Um escritor competente é aquele que, ao produzir um discurso, conhecendo possibilidades que estão postas culturalmente, sabe selecionar o gênero no qual seu discurso se realizará escolhendo aquele que for apropriado a seus objetivos e à circunstância enunciativa em questão. [...] (BRASIL, 1997)
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Para desenvolver a produção de textos orais e escritos, há uma série de
capacidades2 que devem ser desenvolvidas (BRASIL, 2008, p. 15):
Em relação a produção de textos escritos tem que ser desenvolvidas
duas capacidades (BRASIL, 2008, p. 47):
Compreender e valorizar o uso da escrita com diferentes funções, em
diferentes gêneros.
Produzir textos escritos de gêneros diversos, adequados aos objetivos,
ao destinatário e ao contexto de circulação.
- Dispor, ordenar e organizar o próprio texto de acordo com as
convenções gráficas apropriadas;
- Escrever segundo o princípio alfabético e as regras ortográficas;
- Planejar a escrita do texto considerando o tema central e seus
desdobramentos;
- Organizar os próprios textos segundo padrões de composição
usuais na sociedade;
- Usar a variedade linguística apropriada à situação de produção e
de circulação, fazendo escolhas adequadas quanto ao
vocabulário e à gramática;
- Usar recursos expressivos (estilísticos e literários) adequados ao
gênero e aos objetivos do texto;
- Revisar e reelaborar a própria escrita, segundo critérios
adequados aos objetivos, ao destinatário e ao contexto de
circulação previstos.
2 De acordo com o Guia do Pró-letramento (BRASIL, 2008, p. 15), a escolha pelo uso
do termo “capacidades” deve-se ao fato de se tratar de um termo amplo que envolve desde os desempenhos mais simples das crianças até os mais elaborados (como o ato de ler e de escrever). Esse termo abrange: modos de fazer algo, processos mentais ou comportamentos. Ver referência do material em Conteúdo Complementar.
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E, em relação à produção de textos orais, é necessário (BRASIL, 2008,
p. 47):
Agora, assista ao vídeo no link a seguir, ele destaca a importância do
trabalho com os gêneros textuais em sala de aula.
https://www.youtube.com/watch?v=nGAfO44WJcs
No caso do desenvolvimento da oralidade (que estamos trabalhando
como produção de textos orais), é importante destacar que o objetivo do
trabalho é levar os alunos de uma oralidade espontânea a uma expressão oral
gestada, ou seja, pensada e planejada intencionalmente pelos sujeitos em
interlocução. (SCHNEUWLY E DOLZ, 2004).
Nas duas modalidades, produção oral e escrita, a base do trabalho são
os textos, materializados nos diversos gêneros textuais existentes, explorados
por meio de atividades de leitura e produção.
Segundo Rojo (2004):
[...] os letramentos ou as práticas letradas se configuram como o domínio, por parte do falante ou escriba, dos gêneros, em geral – mas não unicamente – formais e públicos, que envolvem, de uma ou de outra maneira, a modalidade escrita da linguagem para a sua produção ou compreensão. Assim, cozinhar seguindo uma receita escrita, mandar uma carta a um parente, escolher produtos no mercado baseando-se nos rótulos, ler uma reportagem numa revista ou um conto num livro, dar uma aula que se baseia em escritos, fazer uma palestra, um relatório, um artigo, ler notícias no jornal impresso ou vê-las na TV são práticas letradas que envolvem gêneros específicos que se configuram em textos específicos.
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Explorar, de forma planejada, a diversidade textual é fundamental para
que a criança se aproprie dos conhecimentos necessários, tendo o professor
como mediador desse processo.
As capacidades a serem trabalhadas não se esgotam nos primeiros
anos do ensino fundamental, mas é essencial destacar que algumas devem ser
consolidadas nesse período, não podendo ser proteladas para etapas
posteriores de escolaridade.
De acordo com o Guia do Pró-letramento (BRASIL, 2008, p. 14), “o
aprendizado e a progressão de cada criança, entretanto, dependerão do
processo por ela desenvolvido, do patamar em que ela se encontra e das
possibilidades que o ambiente escolar lhe propiciar, em direção a avanços e
expansões.”
Confira algumas das definições estudadas nesta aula, clicando no link a
seguir.
http://www.nre.seed.pr.gov.br/assischateaubriand/arquivos/File/CELEM/
Definicoes(1).pdf
Revendo a problematização
Então, já sabe como vai ajudar a sua amiga professora?
Caso queira ver o problema novamente antes de responder, assista ao
vídeo do material on-line. Caso contrário, escolha uma das alternativas.
1. Você diria a sua colega que o texto produzido está muito bom para uma
criança do 2º ano, pois apresenta poucos erros ortográficos e
gramaticais. A criança cumpriu a proposta solicitada.
2. Para você, o texto é resultante do encaminhamento dado pela professora
nas atividades de leitura e produção. Se o texto é livre, toda produção
que a criança realizar deve ser aceita pela professora. Você explica a sua
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colega que seria necessário outro tipo de trabalho, fundamentado em
outra concepção de língua e de texto, para ter como resultado outras
produções textuais. E, se propõe a ajudá-la nesse processo.
3. Você auxilia a sua colega a indicar as correções que devem ser feitas
para aperfeiçoar o texto da criança - como evitar as repetições de
palavras, a troca por um título mais criativo, a ausência de pontuação,
entre outras. Acredita que a revisão do texto é fundamental para
melhorar as produções dos estudantes.
Para consultar o feedback de cada uma das alternativas, acesse o
material on-line.
Síntese
Neste tema, entendemos que ensinar a língua escrita às crianças
pressupõe um trabalho de interação entre o professor e os estudantes. Toma-
se a língua como objeto de conhecimento, explorando-a em toda sua riqueza e
significado, sendo que a qualidade das intervenções pedagógicas constitui o
eixo que sustenta esse trabalho.
Para encerrarmos essa aula, acompanhe o vídeo de síntese no material
on-line.
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Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. SEF/MEC: Brasília, 1997. ______. Língua Portuguesa: orientações para o professor, Saeb/Prova Brasil. 4ª. Série/5º. Ano, ensino fundamental. Brasília: INEP, 2009. CURTO, L. M.; MORILLO, M. M.; TEIXIDÓ, M. M. Escrever e Ler: como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e a ler. Vol. 1. Porto Alegre: Artmed, 2000. KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e Compreender: os sentidos do texto. 2ª. ed. São Paulo: Contexto, 2006. LERNER, D. Ler e Escrever na Escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002. MARCUSCHI, L. A. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. ROJO, R. Letramento e Diversidade Textual. Boletim 2004, Alfabetização, Leitura e Escrita, Programa 5. Disponível em: <www.tvebrasil.com.br/salto> Acesso em 20 jun. 2013. SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros Orais e Escritos na Escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. ZABOT, G. M. L.; MIRA, M. M.; HAMANN, E. K. R. Educação de jovens e adultos: seguindo em frente. Manual do alfabetizador. Curitiba: Base Didáticos, 2007.
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Atividades
1. Sobre a escrita de textos na escola e fora dela, assinale a alternativa
correta:
a. Escrevemos textos diversos fora da escola, mas no processo de
alfabetização, precisamos iniciar com textos curtos e de organização
simples, para facilitar o aprendizado da escrita para as crianças.
b. A escrita que usamos na sociedade também está presente na sala
de aula, pois todos os professores assumem uma concepção
sociointeracionista de linguagem.
c. A distância que ainda existe, em alguns casos, entre a linguagem
cotidiana e a linguagem que se usa na escola, deve-se à forma de
conceber a língua, o texto, o processo de aprendizado das crianças,
entre outros aspectos.
d. As redações produzidas pelos estudantes adequam-se às diferentes
finalidades, destinatários e contextos de circulação, sendo um gênero
tipicamente escolar.
2. Considerando os estudos realizados sobre a produção textual, assinale a
alternativa em desacordo com a afirmação: “a escrita deve deixar de ser
um objeto de avaliação para se constituir um objeto de ensino”:
a. A escrita deve ser ensinada, na alfabetização, a partir de textos
simples e curtos, de forma progressiva, sendo que cabe ao professor
corrigir todos os erros que as crianças cometem, desde o início de
seu processo de aprendizagem da escrita.
b. O processo de aprendizagem da produção textual pelas crianças se
dá de forma gradual e progressiva, a partir de operações de
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planejamento, textualização e revisão textual, sendo que o professor
atua como mediador desse processo.
c. Os erros/equívocos de escrita das crianças, no início da
alfabetização, são considerados como parte do processo de
aprendizagem, e fornecem ao professor indicadores importantes para
a avaliação diagnóstica e para o planejamento do trabalho em sala
de aula.
d. As atividades de leitura e produção de texto pelas crianças, desde o
início do processo de alfabetização, devem ser desenvolvidas na
perspectiva da língua tomada como objeto de conhecimento,
considerando-se as diferentes funções sociais da leitura e da escrita.
3. As afirmativas abaixo se referem à concepção de texto como unidade de
sentido da língua. Leia-as com atenção:
I. Para ter sentido, o texto precisa apresentar características como
inteligibilidade e discursividade.
II. Um texto é considerado um evento, não um produto, e sua existência
depende da condição/possibilidade de ser compreendido por seu(s)
interlocutor(es).
III. A ausência de erros ortográficos ou gramaticais é condição necessária
para que um texto possa ser concebido como tal.
IV. Para que os leitores consigam compreender o sentido de um texto, além
de dominar o sistema linguístico, devem conseguir compreendê-lo
congnitiva e discursivamente.
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Estão corretas as alternativas:
a. I, II e IV.
b. II, III e IV
c. I, II e III.
d. I e III.
4. As alternativas abaixo se referem às tipologias e gêneros textuais.
Assinale a alternativa incorreta.
a. Os tipos textuais são construções teóricas relacionadas à
organização estrutural do discurso e abrangem as categorias:
narração, descrição, injunção, argumentação e exposição.
b. Os gêneros constituem listagens abertas, dinâmicas, de difícil
classificação, porém apresentam determinados padrões
sociocomunicativos.
c. Gêneros e tipos textuais são coexistentes: todos os textos realizam
um gênero e todos os gêneros realizam sequencias tipológicas
diversificadas.
d. Os tipos textuais podem ser considerados instrumentos empíricos
que contribuem para o desenvolvimento das capacidades
discursivas, permitindo ao indivíduo agir de forma eficaz nas diversas
situações comunicativas.
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5. As colunas abaixo explicitam os aspectos tipológicos predominantes e
os exemplos de gêneros orais e escritos relacionados a esses aspectos.
1. Narração ( ) Bulas de remédio, receitas, regras de jogo,
instruções de uso.
2. Injunção ( ) Carta ao leitor, debates regrados, artigos de
opinião, resenha, assembleia.
3. Argumentação ( ) Artigos científicos, seminários, conferências,
relatórios científicos, entrevistas.
4. Exposição ( ) Contos de fada, adivinhas, piadas, lendas,
fábulas, crônicas.
5. Descrição ou relato ( ) Diário pessoal, casos, notícias, depoimentos,
autobiografias, relatos de viagem.
Relacione as duas colunas e, conforme a sequência da resposta,
assinale a alternativa correta:
a. 1, 4, 3, 5, 2.
b. 2, 3, 4, 1, 5.
c. 5, 2, 4, 1, 3.
d. 2, 4, 3, 1, 5.
Para consultar o gabarito das questões, acesse o material on-line.