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TECNOLOGIAS APLICADAS AO ENSINO DE ARTE NA FORMAÇÃO DE DOCÊNCIA Denise do Rocio Calomeno Martini 1 RESUMO Este artigo resulta de um estudo teórico e prático sobre a presença da tecnologia de forma construcionista e instrucionista no espaço educacional, por meio da produção em Artes Visuais e, especificamente, no ensino de Arte. Desenvolve-se a partir da implementação do projeto Ensinando Arte com Tecnologia no Programa de Desenvolvimento Educacional nos anos de 2008/2009 – promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná e direcionado a alunos do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Proporciona uma reflexão sobre a presença da tecnologia como fonte de transformação da sociedade, da Arte e do seu ensino, interagindo com diferentes recursos, incentivando o uso destes na prática docente voltada à qualidade da aprendizagem de Arte. Palavras chave: Ensino de Arte. Formação de Docentes. Recursos tecnológicos. RESUMEN Esto artículo se deriva un conocimiento teórico y práctico acerca de la presencia de la tecnología de manera constructivista y instruccionista en un espacio de la educación, a través de la producción de Artes Visuales, y específicamente en la enseñanza del Arte. Se desarrolló a partir de la ejecución del proyecto de Enseñanza Arte con la Tecnología del Programa de Desarrollo Educativo para los años 2008/2009 - promovido por el Departamento de Educación del Estado de Paraná y dirigido a los estudiantes de Formación Docente Educación Infantil y los Primeros Años de la Escuela Primaria. Ofrece una reflexión sobre la presencia de la tecnología como una fuente de transformación de la sociedad, el Arte y la enseñanza, la interacción con diferentes recursos, el fomento del uso de la práctica docente se centró en la calidad del aprendizaje del Arte. Palabras clave: Enseñanza del Arte. Formación de Docentes. Recursos tecnológicos. 1 Especialista em Metodologias de Ensino e Magistério Superior - IBPEX; Educação Especial – IBPEX e Educação Especial Altas Habilidades/Superdotação – Pós-Bagozzi; Graduada em Artes Visuais – UFPR e em Comunicação Visual – UFPR; Professora da Rede Pública Estado do Paraná e particular; pesquisadora do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE/2008 e-mail: [email protected]

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Page 1: TECNOLOGIAS APLICADAS AO ENSINO DE ARTE NA FORMAÇÃO … · as tecnologias e a aplicabilidade dos conhecimentos obtidos na docência dos cursistas com alunos das séries iniciais

TECNOLOGIAS APLICADAS AO ENSINO DE ARTE NA FORMAÇÃO DE DOCÊNCIA

Denise do Rocio Calomeno Martini1

RESUMO

Este artigo resulta de um estudo teórico e prático sobre a presença da tecnologia de forma construcionista e instrucionista no espaço educacional, por meio da produção em Artes Visuais e, especificamente, no ensino de Arte. Desenvolve-se a partir da implementação do projeto Ensinando Arte com Tecnologia no Programa de Desenvolvimento Educacional nos anos de 2008/2009 – promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná e direcionado a alunos do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Proporciona uma reflexão sobre a presença da tecnologia como fonte de transformação da sociedade, da Arte e do seu ensino, interagindo com diferentes recursos, incentivando o uso destes na prática docente voltada à qualidade da aprendizagem de Arte.

Palavras chave: Ensino de Arte. Formação de Docentes. Recursos tecnológicos.

RESUMEN Esto artículo se deriva un conocimiento teórico y práctico acerca de la presencia de la tecnología de manera constructivista y instruccionista en un espacio de la educación, a través de la producción de Artes Visuales, y específicamente en la enseñanza del Arte. Se desarrolló a partir de la ejecución del proyecto de Enseñanza Arte con la Tecnología del Programa de Desarrollo Educativo para los años 2008/2009 - promovido por el Departamento de Educación del Estado de Paraná y dirigido a los estudiantes de Formación Docente Educación Infantil y los Primeros Años de la Escuela Primaria. Ofrece una reflexión sobre la presencia de la tecnología como una fuente de transformación de la sociedad, el Arte y la enseñanza, la interacción con diferentes recursos, el fomento del uso de la práctica docente se centró en la calidad del aprendizaje del Arte. Palabras clave: Enseñanza del Arte. Formación de Docentes. Recursos tecnológicos.

1 Especialista em Metodologias de Ensino e Magistério Superior - IBPEX; Educação Especial – IBPEX e Educação Especial Altas Habilidades/Superdotação – Pós-Bagozzi; Graduada em Artes Visuais – UFPR e em Comunicação Visual – UFPR; Professora da Rede Pública Estado do Paraná e particular; pesquisadora do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE/2008 e-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

Estamos imersos em um tempo histórico onde os avanços tecnológicos

fazem parte do cotidiano das pessoas em todos os setores da vida, modificando

atitudes, relações pessoais, transformando hábitos e valores. A informação e o

conhecimento se processam de forma dinâmica estabelecendo mudanças

constantes nas atividades sociais, econômicas, políticas e culturais.

Perante este novo paradigma, se faz necessário preparar pessoas

conscientes e capazes de perceber e reconhecer criticamente estas inovações.

Consequentemente, a escola não deve permanecer alheia a esta evolução da

sociedade, mudanças se fazem necessárias. Este é um desafio para a educação

escolar – pensar na tecnologia como fonte que media e transforma o conhecimento

e se apropriar dos recursos tecnológicos disponíveis que facilitam e qualificam o

acesso ao saber.

A inserção de recursos tecnológicos no processo de ensino e de

aprendizagem exige um repensar nos procedimentos metodológicos de forma que

partam de ações planejadas e avaliadas constantemente, sem a intenção de se

tornar apenas instrumentos e sim com propósitos de construção do conhecimento.

Partindo desta premissa, uma lacuna se abre dentro do currículo escolar -

em particular no Curso de Formação de Docentes para a Educação Infantil e Séries

Iniciais do Ensino Fundamental - um espaço para se discutir: tecnologia no ensino, e

particularmente no ensino de Arte; o uso de equipamentos disponíveis nas escolas e

as ações pedagógicas que pressupõe o uso de recursos tecnológicos presentes na

educação informal e que adentram ao contexto escolar. Para estes alunos em

formação de docência, este momento torna-se necessário, tanto como educandos

quanto futuros educadores, pois visa à posterior atuação como profissionais da

educação.

Sendo assim, iniciou-se o projeto de implementação pedagógica intitulado

Ensinando Arte com Tecnologia, idealizado, planejado e desenvolvido dentro do

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, subsidiado pela Secretaria

Estadual de Educação do Estado do Paraná, durante os anos de 2008 e 2009. Este

projeto, orientado pela Ms. Marília Diaz, professora da Universidade Federal do

Paraná, foi aplicado no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto,

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na cidade de Curitiba, com alunos do Curso de Formação de Docentes da Educação

Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

O referido projeto objetivou estabelecer relações entre Arte, ensino de Arte e

a utilização de recursos tecnológicos, refletindo sobre a presença da tecnologia

como fonte de transformação da sociedade. No seu desenvolver, procurou-se definir

estratégias metodológicas aliadas aos recursos tecnológicos, interagindo com

diferentes equipamentos, experimentando e conhecendo-os de modo a utilizá-los na

prática pedagógica auxiliando na transmissão dos conteúdos que estruturam a

disciplina Arte.

2 CONCEITUANDO TECNOLOGIA

A tecnologia engloba um conjunto ordenado de elementos entre os quais

existe uma relação de diferentes saberes, conhecimentos voltados para um

processo de melhoria da qualidade de vida da sociedade, seja ela direcionada às

etapas do processo educacional e até mesmo na produção e na comercialização de

bens e serviços. Por meio de seu potencial inteligível o ser humano tem produzido e

vivenciado um processo crescente de inovações. Este processo reflete-se nos

conhecimentos, colocados em prática, que originam os instrumentos, produtos,

recursos, ferramentas e processos: as tecnologias.

Unindo ciência e técnica tem-se tecnologia. Ciência como uma das formas

de conhecimento elaboradas, pelo ser humano, para compreender o mundo com a

finalidade de nele intervir e a técnica como a aplicação das descobertas científicas.

Portanto, tecnologia é o processo criativo usado para resolver problemas, com

objetivo de melhorar a condição humana e satisfazer necessidades.

A tecnologia evolui à medida que o conhecimento científico também evolui, e

se faz presente desde o aparecimento do ser humano. Segundo CHAUCHARD apud

BRASIL (2002, p.13) “o homem primitivo fez uso de suas duas principais

ferramentas: o cérebro e a mão criadora.” Os mais primitivos dos homens

diferenciaram-se dos animais a partir do momento em que, observando a natureza,

utilizaram-na em seu próprio benefício. Ao registrar nas rochas sua história,

observaram, pesquisaram, criaram e aperfeiçoaram materiais e procedimentos.

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Observaram o suporte, a pedra e suas as formas; o relevo e sua textura;

pesquisaram os pigmentos - misturando gordura animal, sangue, óxidos minerais;

fizeram seus rudimentares pincéis - extensões de seus dedos; arranharam a rocha

demarcando a forma e materializaram a imagem mental.

O conceito de tecnologia abrange assim o somatório de estratégias e ações

concebidas pelos seres humanos ao longo da história, como modos de produção

que associados às necessidades de sobrevivência impulsionam os saberes,

permitindo a construção e a manipulação de instrumentos e equipamentos que dão

suporte, e subsidiam esta evolução.

3 ENSINANDO ARTE PARA E COM TECNOLOGIA

A partir do uso social cada vez mais ampliado, a tecnologia conduz um

repensar das atividades e dos fazeres na sociedade. Alteram-se os modos de

pensar, sentir e agir, as relações sociais e principalmente a forma de aquisição do

conhecimento que, consequentemente acabam chegando à escola.

A educação escolar deve “oferecer elementos para que os jovens tenham

acesso a elas e que, ao mesmo tempo, possam expressar-se de maneira reflexiva,

crítica e lúdica através dessas novas formas comunicativas: multimídias, realidade

virtual, Internet.”(APARICI, 1999, p. 58)

Os alunos têm contato com a tecnologia fora do ambiente escolar como

forma de entretenimento, desprovidos de uma reflexão diante do seu uso. Por meio

dos instrumentos tecnológicos as informações estão presentes em toda a parte – na

mídia impressa, nos elevadores, nos ônibus, nos out-doors, na televisão, no

computador – o que permite o acesso cada vez mais facilitado e indiscriminado

destas informações, prevalecendo a quantidade em detrimento a qualidade.

Portanto, cabe a escola rever a sua função, redefinir as práticas de ação, pois o

volume de informações que recebemos não serão digeridas com sabedoria e

profundidade, se não sofrerem análise e crítica.

Partindo desta realidade foi elaborado e implementado o projeto Ensinando

Arte com Tecnologia, no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto -

IEPPEP, tendo como participantes os alunos da terceira série do Curso de

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Formação de Docentes da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino

Fundamental2, em nível médio, na modalidade normal.

O método utilizado neste projeto foi a abordagem qualitativa, por meio da

pesquisa-ação, com o objetivo geral proposto de estabelecer relações entre Arte,

ensino de Arte e a utilização de recursos tecnológicos como forma de contribuir para

o processo de ensino e aprendizagem dos alunos em formação de docência,

visando à posterior atuação na educação. Elaborado na forma de oficina com

encontros semanais, a implementação ocorreu em contra turno. Como aporte teórico

os alunos receberam uma cópia do caderno temático Ensinando Arte com

Tecnologia elaborado especialmente para este projeto. Este caderno temático além

de teorizar as aulas expositivas e práticas do curso e também permaneceu como de

fonte de consulta após o término da implementação.

Segundo a Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de

Docentes:

(...) o conhecimento escolar é o núcleo fundamental da práxis pedagógica do professor. É neste contexto histórico e social que as possibilidades de exercer seu papel emancipador se explicitam, contribuindo para o processo de transformação social. Dessa forma, propõe-se a composição curricular articulada aos saberes disciplinares e específicos do ‘saber fazer’ da profissão de professor. Isto significa dizer que o núcleo fundamental da formação do professor pressupõe por um lado o domínio dos conteúdos que serão objeto do processo ensino-aprendizagem e, por outro, o domínio das formas através das quais se realiza o processo. (PARANÁ, 2006, p.26):

Portanto a implementação do projeto visou o entrelaçamento entre a teoria e

a prática, quando propôs momentos de reflexão em relação ao educar para e com

as tecnologias e a aplicabilidade dos conhecimentos obtidos na docência dos

cursistas com alunos das séries iniciais desta mesma instituição de ensino.

Durante o Curso de Formação de Docentes, nas disciplinas que compõe a

matriz curricular e, em específico, na Prática de Formação, os alunos tem acesso a

operacionalização nos estágios dos conhecimentos adquiridos por meio de aulas,

oficinas, seminários, cursos, projetos comunitários3, projetos inovadores4, vivências

2 Sendo a nomenclatura desta modalidade de ensino extensa, doravante neste documento será referida como apenas “Curso de Formação de Docentes”. 3 Os Projetos Comunitários envolvem a prática com a população da região, geralmente nos finais de semana em escolas da Rede Municipal de Educação de Curitiba. 4 Os Projetos Inovadores pressupõe o contato dos alunos por meio de visitas ou estágios em instituições que apresentem proposta diferenciada de ensino. Exemplo: Pedagogia Hospitalar, Pedagogia Waldorf, educação indígena, comunidades quilombolas.

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artísticas – visitas a espaços culturais, exposições, representações teatrais e

musicais.

Na prática de formação estes alunos necessitam do conhecimento

instrucional referentes aos recursos tecnológicos aliados a abordagem

construcionista5.

O conhecimento instrucional se faz necessário pois este prevê o uso

adequado dos aparelhos, seu funcionamento e as possibilidades de uso, evitando

insegurança ou constrangimentos por parte do aluno/estagiário na hora de elaborar

o seu plano de ação docente, ministrar sua regência ou uma prática proposta dentro

das demais disciplinas do curso. O desconhecimento de procedimentos simples e as

possibilidades que um recurso podem lhe oferecer são fundamentais nestes

momentos. Como, por exemplo, utilizar um formato, tamanho e cor de letra

adequado em uma apresentação em slides, a utilização de um retroprojetor como

um cenário para um teatro de formas inanimadas, além de simplesmente projetar

transparências entre outras funções específicas para cada aparelho.

Por outro lado, a prática docente deve prever uma abordagem

construcionista, ao utilizar-se de qualquer recurso tecnológico. Nesta abordagem o

aluno é agente de seu conhecimento e a máquina é utilizada pelo professor ou pelo

aluno como uma ferramenta que lhe permite ensinar e aprender, criando situações

de aprendizagem. Exemplificando pelo uso do computador, “Papert, que trabalhou

com Piaget, denominou de construcionista a utilização da informática embasada na

teoria piagetiana de construção do conhecimento. Dentro desta perspectiva, os

sujeitos que utilizam o computador podem representar suas idéias, resolver

problemas, criar soluções, desenvolver algo.” (BRITO e PURIFICAÇÃO, 2006, p.70)

A abordagem construcionista prevaleceu à instrucionista na implementação

do projeto Ensinando Arte com Tecnologia, pois os alunos tiveram a oportunidade de

além da manipulação dos recursos tecnológicos adquirir conhecimentos quanto aos

métodos de ensino de Arte, a evolução histórica da produção artística visual e sua

relação com a tecnologia e também com a presença desta no mundo em que vivem,

na realidade social e cultural, sempre enfatizando uma visão crítica da apropriação

destes meios.

5 O termo Construcionismo, denominado por Papert (1985-1994), refere-se ao uso do computador em específico, porém neste artigo estendem-se o sentido dado pelo autor aos demais instrumentos tecnológicos que permitem a construção do conhecimento e efetivação do ensino e da aprendizagem.

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Iniciou-se o curso com a definição do termo tecnologia partindo da relação

dos objetos existentes na sala de aula e a função destes naquele momento. Assim

foi conduzida uma reflexão sobre a evolução e a presença das tecnologias na

sociedade por meio de um retrocesso às principais descobertas, fundamentadas na

teoria de TOFFLER6 que faz uma metáfora entre as grandes mudanças que as

tecnologias trouxeram para a sociedade comparando-as a três ondas.

A idéia de onda não é apenas um instrumento para organizar vastas massas de informação altamente variada, mas nos ajuda a ver sob a superfície agitada na mudança. (...) Uma vez que eu comece a pensar em termos de ondas de mudanças, colidindo e sobrepondo-se, causando conflito e tensão em volta de nós, mudou a minha percepção da própria mudança. Em todos os campos, da educação e da saúde à tecnologia, da vida pessoal à vida pública, tornou-se possível distinguir aquelas inovações que são apenas disfarces, ou apenas extensões do passado industrial, das que são verdadeiramente revolucionárias. (TOFFLER, 1990, p.19)

Segundo TOFFLER (1990) a Primeira Onda ocorreu com a descoberta da

agricultura – iniciou em 8.000 a.C e dominou a terra até 1650 -1750. Antes da

Primeira Onda a maioria das civilizações vivia em pequenos grupos, migradores;

alimentavam-se pescando, caçando, pastoreando, colhendo alimentos da natureza.

A Segunda Onda surge impulsionada pela Revolução Industrial, que iniciou no

século XVIII na Inglaterra, a tecnologia espalhou-se pelo mundo a partir do século

XIX. Surgiram as máquinas, a produção em série por meio da força motriz em

substituição aos antigos inventos dependentes da força dos ventos, da água, do

homem ou tração animal.

O autor designa o atual estágio de transformação da sociedade, iniciado no

século XX, por Terceira Onda. Alguns autores propõem outras denominações, mas

todos focalizam para a mesma direção: o papel fundamental do conhecimento nas

relações de produção e, por conseqüência, na ordem e no poder mundial. Este fato

caracteriza a Terceira Onda como a era do conhecimento e da informação.

TOFFLER (1990) citou: "os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não

sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusarem a aprender, reaprender e

voltar a aprender”.

Assim, os alunos envolvidos no projeto perceberam que aos poucos a

tecnologia foi invadindo todos os setores da vida com a finalidade de facilitar as

6 Alvin Toffler é escritor, futurista norte-americano doutorado em Letras, Leis e Ciência, conhecido pelos seus escritos sobre a revolução digital, a revolução das comunicações e a singularidade tecnológica.

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necessidades humanas, substituir, abrandar ou atenuar o esforço mental e físico na

realização das mais diferentes tarefas. Em conseqüência, o comportamento e

valores humanos mudaram, principalmente no século XX.

Por meio de um vídeo trazendo imagens de acontecimentos importantes que

envolveram a população mundial no século passado mostrou-se que a tecnologia foi

a protagonista desta época. Imagens contendo cenas como as grandes guerras, a

bomba atômica, as conquistas espaciais, a queda do muro de Berlim, as guerras

étnicas na África, a preocupação com a preservação da natureza, as pesquisas e

avanços na área da saúde entre tantos outros fatos históricos, políticos, sociais e

culturais.

Pudemos discutir os dois lados da tecnologia: a que fez as guerras e agrediu

a natureza e a humanidade, e aquelas que curou, erradicou doenças, criou vacinas.

Neste momento da prática, os alunos representaram seu ponto de vista com

produções visuais – cartazes e texto referentes a esta temática.

Na verdade, a tecnologia por si só não é prejudicial ao homem, mas o uso

que se faz dela é que pode trazer benefícios ou prejuízos para a humanidade. Um

lápis, instrumento tecnológico que tem a função de escrever, desenhar ou pintar

pode ser transformado num instrumento que fere o outro. A maneira como nos

apropriamos é que faz o diferencial. Entretanto é bom lembrar, que não existe

tecnologia neutra, ela sempre está a serviço, a interesse de algo ou alguém. A

tecnologia se posiciona como um instrumento necessário no cotidiano das pessoas,

mas, no entanto seu objetivo maior está nas mãos de poucas pessoas, ou grupos

que detém em especial o poder econômico, mola impulsora e necessária na

produção de mais e mais tecnologia.

Num segundo momento direcionou-se o assunto para a evolução da Arte na

história, a fim de que os alunos fizessem, gradativamente, conexões entre a

produção artística existente e o ensino de Arte.

A Arte acompanha a tecnologia, porém o modo como os artistas utilizam as

ferramentas tecnológicas para produzi-la é o que a torna única e contrária aos

propósitos que outros setores da sociedade têm em relação ao seu uso, como, por

exemplo, a indústria de consumo.

Enquanto a tecnologia se traduz no objeto tecnológico resultante do

conhecimento técnico e científico e com propósitos de praticidade para a vida; a Arte

existe como produção humana única – criação sensível, humanizadora e

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principalmente mediadora do saber - resultando no fazer artístico, seja ele visual,

sonoro ou cênico, por meio, também, do conhecimento técnico e científico. “ (...) a

dimensão artística é fruto de uma relação específica do ser humano com o mundo e

o conhecimento. Essa relação é materializada pela e na obra de Arte (...) constituída

pela razão, pelos sentidos e pela transcendência da própria condição humana.”

(PARANÁ, 2008, p.23)

Este transcender é o que faz a Arte singular e podendo ser analisada

separadamente do contexto geral da tecnologia. A produção de Arte pressupõe o

conhecimento artístico, em prevalência ao conhecimento técnico e científico, sem os

negar. O objeto artístico é criação, inovação, é único é produto de seu criador.

Transcende o momento, pois a produção artística traz resíduos da sociedade a qual

o artista pertence e da sua história, revelando-se com outra significância para esta

sociedade que o frui.

O artista ceramista, por exemplo, não se detém a modelar a argila,

dominando apenas a técnica. Seu fazer é impregnado de explorar, sentir, e

principalmente transmitir referenciais específicos de seu tempo, sua ambiência,

proporcionar leituras e provocar os sentidos daquele que tem contato com a obra.

Este é o diferencial, “a dimensão artística pode contribuir significativamente para

humanização dos sentidos, ou seja, para a superação da condição de alienação e

repressão à qual os sentidos humanos foram submetidos.” (PARANÁ, 2008, p. 25)

Contextualizadora da história humana, a Arte incorpora as novas formas de

produção aliadas aos avanços da tecnologia. Segundo SANTAELLA,

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A produção artística, presente na história, comprova que em todas as

épocas os artistas utilizaram recursos tecnológicos inerentes a estas e sempre

transcendendo no conhecer, no expressar e no produzir Arte. Citando como exemplo

a variação dos suportes utilizados: as paredes das cavernas; tumbas; mosaicos e

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ladrilhos vitrificados; madeira, cerâmica, interiores de igrejas, palácios e castelos até

as telas nas mais variadas dimensões chegando a película fotográfica,

cinematográfica e nos dias atuais a própria pele – bodyart - e finalmente aos

monitores televisivos e computadorizados, entre tantos outros espaços possíveis

para se produzir Arte.

Os artistas foram apropriando e incorporando ao seu fazer artístico

instrumentos tecnológicos cada vez mais diversificados. O vídeo, o computador, a

fotografia não foram desenvolvidos especificamente para a Arte, mas o que os torna

parte dela é a maneira como o artista a utiliza. Segundo MACHADO (2007, p.14)=

“um dos papéis mais importantes da Arte na sociedade tecnocrática seja justamente

a recusa sistemática de submeter-se à lógica dos instrumentos de trabalho (...) as

obras reinventam a maneira de se apropriar de uma tecnologia.”

A forma de fazer Arte transforma-se a todo instante. A Arte tornou-se

interativa e propõe outras leituras explorando os sentidos das pessoas mediante a

utilização das inovações tecnológicas.

Novos gêneros que nasceram com a cibercultura7 determinando a ciberarte:

arte eletrônica, arte tecnológica, media art, web art - arte na rede -, arte digital, arte

telemática, composições automáticas de partituras ou de textos, músicas techno a

partir de arranjos elaborados por softwares; sistemas de vida artificial, mundos

virtuais, hipermídias – reunião de várias mídias num suporte computacional, contém

imagens, sons, textos e vídeos – instalações, projeções. O que caracteriza a

ciberarte é a interatividade, o envolvimento do público com a obra idealizada e

inicializada pelo artista, mas inacabada, isto é, a obra requer a participação do

espectador para se completar.

Seguindo esta linha de pensamento os alunos participantes do Projeto

Ensinando Arte com Tecnologia reconheceram que as Artes existem por meio da

tecnologia específica para cada forma de expressão, nos materiais, instrumentos e

conhecimentos utilizados pelos artistas no decorrer da história. Esta aproximação

dos alunos com referencial artístico tornou-se fundamental, pois estes, na grade

curricular do Curso de Formação de Docentes, têm a disciplina Arte no primeiro ano

7 Cyber + cultura pode ser entendida como uma forma sociocultural que advém de uma relação de trocas entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias digitais principalmente pela convergência das telecomunicações com a informática (LEMOS, 2003).

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e só retornam o contato com os conteúdos desta área de conhecimento no quarto

ano quando é ministrada a disciplina de Metodologia do Ensino de Arte.

Partindo dos conhecimentos relembrados e adquiridos em relação à

produção artística, o direcionamento da oficina foi para a educação formal e a

tecnologia, tanto na sua perspectiva instrucionista, quanto construcionista, assunto

abordado anteriormente neste artigo.

Numa perspectiva construcionista, a tecnologia não se detém apenas ao

instrumental. É o conjunto de métodos e procedimentos que somente contribui para

a aquisição do conhecimento quando seu uso é elaborado e pensado. Não há

tecnologia na escola se esta não estiver incorporada ao planejamento com o objetivo

de construir o conhecimento e desenvolver habilidades.

Normalmente se pensa tecnologia na escola somente como aquisição de

equipamentos, mas seu conceito deve ir muito além. Tecnologia na educação é, por

exemplo, projetar uma obra do Renascimento e reconhecer as linhas geradoras da

perspectiva; é compreender a importância das obras de Andy Warhol como crítica

irônica do bombardeamento da sociedade capitalista pelos objetos de consumo ao

assistir um documentário sobre o tema, analisar reproduções de suas obras sejam

impressas em papel, digitalizadas ou virtualmente pela Internet. Inserir um Disco

Digital de Vídeo - DVD – no aparelho, apertar a tecla de início e deixar os alunos

assistirem passivamente não caracteriza a tecnologia. A proposta de ensino, os

métodos, os objetivos em relação ao conteúdo proposto devem estar bem claros ao

professor e vinculados ao uso dos equipamentos. Nada adianta uma imagem

maravilhosa, um filme interessante se estes não estiverem conectados com o

assunto tratado em sala, com a realidade do aluno, com metas bem definidas de

ensino, aprendizagem e avaliação.

A tecnologia a ser utilizada deve ser diferenciada e adequada aos objetivos

que estão sendo propostos.

Haverá necessidade de variar estratégias tanto para motivar o aprendiz, como para responder aos mais diferentes ritmos e formas de aprendizagem. Nem todos aprendem do mesmo modo e no mesmo tempo. É importante não nos esquecermos de que a tecnologia possui um valor relativo: ela somente terá importância se for adequada para facilitar o alcance dos objetivos e se for eficiente para tanto. As técnicas não se justificarão por si mesmas, mas pelos objetivos que se pretenda que elas alcancem que, no caso, serão de aprendizagem. (MORAN et al. 2000, p.144)

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O uso de tecnologias sem a sua análise e compreensão pode se tornar

apenas um chamativo, uma propaganda para a escola, porém, desprovido de

qualquer significado para a práxis pedagógica.

Em um Curso de Formação de Docentes é fundamental a reflexão acerca da

apropriação e manipulação dos meios. Segundo LITWIN apud CARVALHO (2008):

“se o professor não reconhece quanto vale para ele e quanto permite a ele entender

melhor e encontrar novos caminhos de aprendizagem, dificilmente ele poderá

ensinar.”

O uso da tecnologia deve seguir um método esclarecedor, crítico, num

processo mais enfático, favorecendo o pensamento e relações, que cada vez mais

estimule a inquietude por parte dos alunos.

Este processo deve partir da apropriação pessoal do profissional da

educação em relação ao uso das tecnologias, refletindo sobre como ele próprio

aprendeu em seu tempo e o que mudou, observando o seu processo de

aprendizagem. Partindo desse princípio, o professor necessita fazer o mesmo com

seus alunos.

(...) a incorporação das tecnologias educacionais no fazer diário do professor é bem mais complexa do que se supunha e depende de outras variáveis. Nenhuma intervenção pedagógica harmonizada com a sociedade contemporânea e com inovações será eficaz sem a colaboração consciente do professor e sua participação na busca por emancipação social. Nóvoa diz ‘ não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores. (BRITO e PURIFICAÇÃO. 2006, p.40.)

Fator importante na utilização de recursos tecnológicos é o professor sentir-

se confiante para utilizar esses meios, ou seja, significa saber manejá-los

tecnicamente; e adequá-los aos métodos de ensino adotados na ação pedagógica,

avaliando os resultados da sua prática em relação à aprendizagem de seus alunos.

Os alunos participantes do projeto tiveram contato com diferentes recursos

tecnológicos e métodos de utilização aliados a conteúdos que estruturam as artes

visuais – elementos formais, composição, movimentos e períodos.

O projetor de slides foi o primeiro equipamento apresentado. Inicialmente

causou certo estranhamento, pois é um aparelho pouco utilizado e muitos não o

conheciam, mas ficaram encantados quando perceberam o seu funcionamento e os

efeitos que se pode causar pela projeção, bem como a qualidade da imagem

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projetada, devido a sua luminosidade. Fizemos algumas práticas sugeridas no

caderno temático.

Como exemplo, os alunos realizaram a leitura das obras de Milton Da Costa

– Roda (1942) e O Carrossel (1950) visualizadas em slides, projetando-se apenas

fragmentos da obra. Cada um deveria identificar o restante da figura. Para isso uma

cópia em transparência da obra foi recortada e montada no diapositivo. No final

todos puderam visualizar a obra completa. Como produção, cada aluno desenhou

parte de uma forma no diapositivo e a projetou. Os demais deveriam descobrir que

figura seria formada. Esta prática foi fundamentada na obra de um artista brasileiro -

situada em seu tempo histórico e na sua temática -, no estudo da percepção da

forma, da cor, da composição e aliada a oportunidade de resgatar um antigo recurso

tecnológico, – o projetor de slides.

Uma das características do ensino da Arte é promover acessibilidade,

permitir o contato com a obra, objeto artístico ou componente da cultura visual8

direcionando a apreciação, a análise e a interpretação destes com o objetivo de que

os educandos apreendam e valorizem os bens culturais da sua comunidade e do

patrimônio artístico universal.

Na sequência trabalhou-se com o retroprojetor. Após leitura da

fundamentação no caderno temático a respeito deste equipamento, os alunos

realizaram uma atividade que pode ser adaptada à educação infantil e anos iniciais,

sendo este o nível de ensino que envolve o aprendizado no Curso de Formação de

Docentes. Nesta prática deveriam planejar uma composição visual que esconderia

um animal, aparecendo todo seccionado, ou seja, seus membros espalhados pelo

seu habitat. O desafio levantado aos demais alunos era de reconhecer suas partes e

remontá-lo. O cenário e o animal foram recortados em papel sulfite e projetados para

que os demais pudessem identificá-lo. Por meio da ludicidade trabalhamos a

percepção espacial e o contraste do claro com o escuro.

Em seguida realizamos uma análise das obras de Tarsila do Amaral – em

transparência – momento em que se mostrou como utilizar este equipamento para

análise, sobrepondo um material transparente (plástico ou celofane) e identificando a

estrutura da obra - elementos formais e composição.

8 Cultura visual termo utilizado por Fernando Hernandez (2000) e que diz respeito a toda a forma visual produzidas pela humanidade presente em diferentes espaços, desde os museus até as imagens veiculadas pela mídia.

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Cada grupo recebeu uma reprodução de uma obra da artista e com um

plástico e canetas de retroprojetor copiaram um elemento da obra. Trocamos os

desenhos entre os grupos e cada um terminou a composição visual utilizando o

elemento inicial. Posteriormente, apresentaram-se os resultados ao grande grupo

fazendo relação com a obra inicial.

No final deste encontro os alunos utilizaram o retroprojetor para ampliar uma

obra do artista pernambucano Romero Britto e formar um quebra-cabeça gigante.

Foram discutidos os encaminhamentos do ensino de Arte por meio da leitura das

obras, os conteúdos que podem ser associados ao fazer artístico – linhas de

contorno, cores, textura gráfica, geometrização da forma, técnica de representação

do artista, período histórico, composição visual entre outros.

De acordo com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná - Arte (2008,

p.8) encontramos nas “relações socioculturais, econômicas e políticas do momento

histórico em que se desenvolveram” diferentes formas de se pensar o ensino e a

aprendizagem da Arte. Assim esta área de conhecimento assume funções ao longo

da história num contexto social, ideológico, político, religioso; de caráter utilitário

transformando-se em mercadoria ou como objeto estético e de prazer.

É neste referencial histórico que vamos encontrar fontes para o

conhecimento, a produção e a expressão que servirão de base para construção do

saber artístico, constituído por meio da alfabetização estética, do conhecimento dos

códigos que constituem a Arte: elementos formais, composição, técnicas, gêneros,

movimentos ou períodos da história.

A televisão e o vídeo são recursos que nos permitem a vivência de épocas

distintas da história da Arte onde podemos associar os conteúdos propostos para o

ensino desta área de conhecimento. O uso da televisão e do vídeo foi debatido e

experienciado pelos alunos. Podemos utilizar a televisão como equipamento para

apresentar filmes, documentários ou outro tipo de material produzido para esta

forma de transmissão. As escolas da rede pública do Estado do Paraná estão

equipadas com a televisão multimídia, que permite a entrada para VHS, DVD, cartão

de memória e pen drive e saídas para caixas de som e projetor. Este recurso é de

grande utilidade ao professor de Arte que pode explorar desde a leitura de imagens

fixas, numa apresentação quadro a quadro, até a apresentação de imagens móveis.

Também os alunos podem fazer uso deste equipamento para apresentar suas

produções elaboradas por meio da fotografia, filmagem ou pela informática.

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Para a utilização da televisão multimídia é necessário converter arquivos e

salvar em formatos compatíveis com a leitura das mesmas, neste momento da

oficina os alunos tiveram contato com as informações necessárias para

operacionalização deste recurso.

Sempre que se trata de tecnologia na escola a primeira idéia que vem ao

pensamento das pessoas é no uso de computadores. Este era um recurso que

gerava expectativa nos alunos da oficina, porém no Instituto de Educação do

Paraná, no momento da aplicação do projeto, não tínhamos acesso a internet e o

laboratório disponível possuía apenas computadores com drive para disquetes, o

que limitaria demais a prática. Para sanar este problema, procurou-se uma parceria

com a instituição de ensino superior Faculdade Internacional de Curitiba –

FACINTER- que cedeu seus laboratórios, projetor multimídia e espaço físico para

realização desta oficina.

Sendo assim, iniciamos a aula com uma discussão sobre o assunto

enfocando a necessidade de se associar os computadores à ação docente. Outro

fato discutido pelos alunos foi a infra-estrutura que deve haver quando se tem um

laboratório – manutenção dos computadores e impressoras, presença de um técnico

laboratorista, número de alunos por sala entre outros.

A informática deve estar presente como recurso pedagógico tanto para o

aluno como, principalmente, para o professor na elaboração do material didático –

textos, apresentação de imagens, som e vídeo e para a sua atualização.

Relacionamos este fato ao uso da TV Multimídia, as suas possibilidades e as formas

de utilização.

Após sondagem sobre os conhecimentos em informática da turma concluiu-

se que grande parte tinha domínio básico dos aplicativos, assim, iniciamos a

primeira atividade explorando os recursos do aplicativo Paint. Estudando a

composição, o ritmo, as cores criaram um painel com formas geométricas - esta foi

uma proposta para reconhecimento do ambiente virtual. Com este trabalho, fizemos

algumas experiências como: a inversão de cores – propriedade do aplicativo - para

se trabalhar cores geradoras, a luminosidade da cor – quentes e frias, relação

positivo e negativo, figura e fundo.

Na sequência os alunos acessaram o site do artista brasileiro Claudio Tozzi.

Neste ambiente virtual conheceram, por meio da leitura, a vida do artista e

visualizaram as obras da década de 1980 – fase de abstracionismo geométrico.

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Enfocou-se a composição das formas e a técnica de pintura utilizada pelo artista,

que “granula” a cor com impressão por rolo de borracha onde as cores são

sobrepostas, criando uma textura que se tornou a identidade da sua obra. Em

seguida, no Paint, e como tema abstracionismo geométrico os alunos fizeram o seu

trabalho artístico.

Explorou-se os sites sugeridos no caderno temático: Mr. Picasso head -

http://www.mrpicassohead.com/ - onde uma imagem com características do período

cubista foi construída individualmente; Artpad - http://artpad.art.com/artpad/painter/ -

os alunos manipularam, por meio do mouse, ferramentas como pincéis e baldes de

tinta, com opção de escolha de espessura, cor e gradação de tons.

Conheceram também alguns sites que trazem referencial teórico, links para

jogos educativos e filmografia, todos voltados para o conhecimento em Arte

Um site que interessou os alunos foi Sketch Swap, - www.sketchswap.com/ -

que permite o intercâmbio de produções artísticas - os alunos desenharam e

enviaram a sua produção para a equipe do site - e na mesma hora receberam a

criação de outra pessoa não identificada de qualquer parte do mundo.9

Ao manipular efetivamente os recursos tecnológicos disponíveis, o aluno do

curso de Formação de Docentes criou condições para que, na sua atuação como

estagiário ou futuro professor, insira as tecnologias na prática, apropriando-se delas

como sujeito - na vida social e profissional. Esta apropriação foi facilitada na medida

em que este dominar do saber relativo às tecnologias foi experenciado, tanto em

termos de valoração como de conscientização da sua utilização - por que e para que

utilizá-las; quanto em termos de conhecimentos técnicos - como utilizá-las de acordo

com as suas características; e de conhecimento pedagógico – como e quando

integrá-las ao processo educativo.

4 PRÁTICA E FORMAÇÃO DE DOCÊNCIA: ENSINAR ARTE COM TECNOLOGIA

Um dos objetivos deste projeto foi a inserção dos recursos tecnológicos no

ensino de Arte no curso de Formação de Docentes e a atuação em relação aos

9 Algumas imagens que registram a implementação do projeto estão disponíveis nos links: http://picasaweb.google.com.br/denisedeni7/Acao3Encontro1?authkey=Gv1sRgCKjvvZDEwdX5Jw# http://picasaweb.google.com.br/denisedeni7/Acao3Encontro2?authkey=Gv1sRgCJzKs5zS8r-zrgE# http://picasaweb.google.com.br/denisedeni7/Acao3Encontro3?authkey=Gv1sRgCLybn5b08cHyYQ#

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métodos e aprendizagem durante as práticas pedagógicas. Portanto, os alunos

participantes do projeto elaboraram a sua própria ação docente partindo dos

conhecimentos adquiridos nos encontros anteriores.

Segundo MARTINS:

Cada aula, como um jogo de aprender e ensinar, é um instante mágico. Requer preparação e coordenação especiais, de mãos habilidosas que tocam, que apontam, que escolhem contextos significativos para o aprendiz tecer sua rede de significações. (...) a magia, gerada na alquimia da intuição, do olhar cuidadoso para cada aprendiz, no saber fazer, se revela na criação de situações de aprendizagem significativa. (MARTINS et al., 1998, p.129)

A proposta foi enfatizada na relação da educação com a tecnologia e o

ensino de Arte, o domínio do fazer pedagógico. É este domínio que deve determinar

a relação com o conhecimento e as tecnologias. Nesse sentido, no planejamento

das atividades pedagógicas levaram-se em consideração os objetivos a serem

atingidos e o conhecimento que se tem sobre o conteúdo, e não a tecnologia que se

pretende usar, não perdendo de vista seu caráter de meio para atingir um fim.

Esta prática aconteceu com os alunos do Ensino Fundamental do IEPPEP –

séries iniciais. Definiu-se um cronograma envolvendo seis oficinas e grupos de dois

a três alunos regentes. Elaboraram-se os planos de ação docente, após explanação

sobre os métodos de ensino de Arte, tendo em vista que os alunos não tiveram esta

disciplina no curso. Enfatizou-se a abordagem de conteúdos em Arte aliados aos

recursos tecnológicos e não apenas o uso destes sem vínculo com a aprendizagem.

A primeira oficina denominada “Conhecendo as cores com Mondrian” teve

como conteúdo estruturante os elementos formais – as cores geradoras – primárias

e secundárias; artista, movimento, período e composição - a vida e obra de

Mondrian na fase do abstracionismo geométrico, realizada com alunos da segunda

série. As alunas do curso reuniram as crianças no laboratório de informática do

IEPPEP e como nossas opções de uso eram limitadas, conforme exposto

anteriormente, trabalhamos com o aplicativo Paint. As alunas mostraram algumas

obras de Mondrian solicitando que os alunos da segunda série reconhecessem as

cores geradoras – primárias e secundárias. Falaram sobre a possibilidade de

representar usando formas geométricas e formas figurativas. Em seguida, com

cartaz confeccionados por elas, mostraram o círculo das cores.

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Os computadores já estavam com as telas preparadas no Paint e divididas

ao meio por uma linha. Os alunos foram orientados a criar um desenho utilizando

apenas cores primárias e do outro lado da tela com cores secundárias. A maioria

das crianças já conhecia bem o aplicativo, pois faz parte da grade curricular do

ensino fundamental uma aula semanal de informática.

Um dos grandes problemas em se equipar as escolas com recursos é a

previsão dos gastos na manutenção que estes requerem. A falta de atualização dos

equipamentos; a defasagem na capacidade de armazenamento dos dados; a

ausência de profissionais capacitados tecnicamente para operar e orientar os

professores interfere na prática pedagógica. Muitos professores se intimidam na

utilização do computador, com seus alunos, pela insegurança que estes

equipamentos repassam quanto ao seu funcionamento no decorrer da aula

planejada. Se um computador apresenta problemas de acesso a algum aplicativo,

por exemplo, resultam em frustração para o professor, que preparou sua aula em

função deste recurso, e consequentemente fica o aluno privado do acesso a uma

forma diferenciada de explanação do conteúdo.

Com o título “Um jeito diferente de contar histórias” realizou-se a segunda

oficina com outra turma de segunda série. Os conteúdos trabalhados foram a

história em quadrinhos e seus elementos básicos – personagem, história, recursos

gráficos. Os alunos do curso iniciaram a aula conversando com as crianças sobre

história em quadrinhos, os personagens que eles conheciam, dos quais mais

gostavam. Depois com exemplos de Maurício de Souza e Walt Disney foram

identificando os elementos para que percebessem toda a construção – personagem,

onomatopéias, recursos gráficos.

Utilizando o projetor de slides cada grupo construiu a sua história, com

sequência de imagens, primeiramente desenhadas em papel sulfite e transcritas

para um diapositivo feito de acetato. Na apresentação um representante de cada

grupo narrava a história enquanto as alunas filmavam a locução e as imagens. Esta

filmagem foi repassada ao grupo por meio da TV Multimídia.

A terceira oficina denominada “O que a linha forma?” enfocou conteúdos

como a linha, formas figurativas e textura gráfica analisando obras do artista

pernambucano Romero Britto, por meio de uma apresentação na TV Multimídia.

Estudaram-se as formas, linhas de contorno e textura gráfica que são evidentes na

obra deste artista. Para a atividade prática foi ampliada a obra Praia Dourada (2004)

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com auxílio de uma transparência e retroprojetor. Na sequência distribuiu-se uma

parte desta obra como se fosse um quebra-cabeça. Cada aluno deveria colorir e

depois observando a reprodução da obra montar o quebra-cabeça coletivo.

As alunas regentes mostraram mais algumas obras do artista, utilizando a

TV Multimídia. Posteriormente à análise das imagens, cada criança criou a sua

produção artística baseadas nas figuras de Romero Britto.

A TV Multimídia auxilia o professor na preparação do conteúdo e permite

que ele produza seu material de acordo com suas intenções de ensino. Este material

que ampara a sua práxis é denominado de Objeto de Aprendizagem definidos como:

(...) recursos digitais construídos por meio de linguagens de programação (HTML, Java) e/ou ferramentas de autoria (editores de texto, imagens e de recursos multimídia), que permite a construção de jogos, textos, áudio, vídeos, gráficos, imagens, etc. como subsídios para o processo de aprendizagem.” (PARANÁ, 2008, p.13)

Ao elaborar um Objeto de Aprendizagem para a TV Multimídia deve-se

atentar para a qualidade das imagens, o tamanho e design das fontes utilizadas; os

textos resumidos em tópicos ou apenas palavras-chave. As imagens sempre devem

ser relacionadas ao conteúdo e nunca como mera ilustração.

A utilização da TV Multimídia também foi explorada na oficina com a quarta

série - “ O som em desenho”. O conteúdo trabalhado foram as onomatopéias na

construção das histórias em quadrinhos. Os alunos regentes fizeram um exercício

de percepção sonora, solicitando que as crianças identificassem cada ruído que eles

haviam baixado da internet, em seguida exibiam a imagem relativa a cada som.

Depois falaram sobre a forma de se registrar sons usando recursos gráficos –

onomatopéias. Com a intenção de variar a utilização de equipamentos, com o

retroprojetor mostraram alguns exemplos de histórias em quadrinhos para que as

crianças relacionassem o desenho e o significado sonoro. O retroprojetor permitiu a

intervenção na lâmina, com caneta apropriada, na hora da explicação.

Entregaram para cada criança uma folha com um telefone desenhado e a

onomatopéia de seu toque. Lançaram algumas perguntas às crianças: “Que notícias

a ligação traria?” “Quem estava no outro lado da linha?” “Quem atenderia ao

telefone?” Aguçando assim a imaginação. Partindo daí cada criança criou a sua

história em quadrinhos dando ênfase às onomatopéias.

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Como forma de apresentar aos alunos da quarta série as produções de cada

colega, fotografou-se os desenhos que foram exibidos por meio da TV Multimídia,

permitindo assim que todos visualizassem as histórias. Esta prática foi realizada no

mesmo dia da oficina, utilizando o cartão memória da máquina digital.

Neste momento podemos destacar algumas características importantes de

um Objeto de Aprendizagem, como aponta MENDES, SOUZA e CAREGNATO (In:

PARANÁ, 2008, p.13). Estes autores destacam a adaptabilidade, ou seja, a

utilização dos objetos de aprendizagem em diferentes ambientes de ensino nas

diversas práticas educativas; a reusabilidade, a sua reutilização como o caso das

gravações de sons e depois a busca pelas imagens ou do registro fotográfico das

produções das crianças para posterior exibição na TV Multimídia; a acessibilidade, a

facilidade de acesso às informações tanto no visual como na forma sonora; a

interoperabilidade, o intercâmbio entre vários sistemas, os alunos utilizaram diversos

recursos e souberam explorar de forma harmônica e criativa cada um destes,

permitindo que as crianças também interagissem com estes recursos, no caso do

retroprojetor e da câmera fotográfica.

“Vamos colorir com textura?” foi o título da quinta oficina com alunos da

quarta série. Com uma apresentação com obras de Romero Britto, as alunas

regentes iniciaram com o conceito de textura e como este elemento formal pode ser

utilizado na forma de ilustração – textura gráfica. Os alunos a identificaram nas

obras do artista. Em seguida, distribuíram uma transparência - plástico A 4 - e

canetinhas de retroprojetor. Ao som de O Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos

(1930), solicitaram que cada aluno acompanhasse a melodia como se a caneta

estivesse passeando pela página da transparência. Depois preencheram os espaços

utilizando textura gráfica.

Para a apresentação, com as luzes apagadas, foi projetado a longa distância

cada trabalho, deixando assim uma grande tela na parede do fundo da sala de aula.

Os alunos visualizaram seu trabalho de forma incomum, e em grande

dimensão. A adaptação de um recurso simples como o retroprojetor, mostrando o

trabalho do próprio aluno de forma diferenciada daquela que normalmente é

utilizada, valorizou a produção de cada criança, sem distinção. Assim permitiu uma

nova leitura partindo das imagens produzidas e da retomada ao conteúdo inicial.

A última oficina “Reconhecendo as formas com Tarsila” trabalhou o

conteúdo estruturante - elementos formais, no desdobramento formas geométricas e

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a vida e obra de Tarsila do Amaral. Iniciou-se com uma explicação sobre as formas

geométricas, solicitando que os alunos as identificassem no ambiente da sala de

aula. Em seguida, com a TV Multimídia, apresentou-se uma breve biografia de

Tarsila do Amaral e algumas de suas obras.

Posteriormente, fizeram a leitura da obra Carnaval em Madureira (1924)

enfocando o conteúdo formas geométricas. Com uma transparência (plásticos) e

canetinhas de retroprojetor os alunos criaram o seu carnaval. A apresentação das

produções foi com realizada com o retroprojetor, acompanhada da explanação de

cada aluno.

Após a realização de todas as oficinas tivemos mais um encontro

oportunizando aos alunos trocar suas experiências ao relatar sua prática. Neste

momento percebeu-se que o contato com o referencial teórico e recursos

tecnológicos, os métodos e conteúdos de ensino de Arte e a oportunidade da prática

com os alunos do Ensino Fundamental – séries iniciais, propiciado pelo projeto

Ensinando Arte com Tecnologia, abriram caminhos para que estes alunos tornem-se

autoconfiantes e capacitados para a elaboração das suas ações pedagógicas

durante e após a sua formação de docência.

O uso diversificado de ferramentas tecnológicas - rádio, televisão, vídeo,

projetores, retroprojetores, câmeras fotográficas, filmadoras, computadores,

tocadores de mídia, entre outros - permite acesso rápido e imediato a fontes de

informação, contribui na transformação da escola em um local onde se constrói

conhecimento e onde se desenvolvem habilidades.

Os objetos de aprendizagem são muitos, podemos selecionar imagens fixas,

como reproduções de obras, embalagens, reprografia em transparência, slides, a

obra ao vivo em visitas à museus ou contato direto com o artista por meio de

entrevistas; imagens móveis como o vídeo, a televisão, o cinema e as imagens

virtuais, animações, softwares educativos entre outros meios. Cuidados necessitam

ser tomados quanto aos métodos de ensino e seleção da imagem, sua adequação

ao planejamento da aula e quanto a sua qualidade, pois a imagem deve estar

presente e continuar presente na memória de nossos educandos.

Este projeto oportunizou a educação aliada ao conceitual e ao instrumental;

a inovação e a modificação nas atitudes em relação ao planejar e efetivar propostas

diferenciadas de aprendizagem em Arte, baseadas no desenvolvimento da

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concepção sócio-histórica da educação, no que diz respeito à cognição, ética,

cultura, ao lúdico e ao estético.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que equipamentos tecnológicos, veículos da informação e da

comunicação, estão cada vez mais acessíveis e são responsáveis pela educação

informal de nossos alunos – televisão, celular, computadores entre outros. Este fato

reflete a necessidade da presença destes equipamentos nas ações pedagógicas e,

em particular, no ensino da Arte, de forma a adotá-los não apenas como um recurso,

mas como objeto de reflexão, apropriação e transmissão do conhecimento tanto pelo

corpo docente como discente.

Encaminhar a ação pedagógica com os recursos instrumentais próprios dos

nossos tempos é uma forma de preparar nossos alunos para usufruir da tecnologia

com entendimento e responsabilidade, de apresentar estratégias e novas

possibilidades de ensino e aprendizagem muito mais atraentes e prazerosas.

O instrumental tecnológico aliado a produção artística de todos os tempos,

enriquece o saber e desperta no aluno a consciência do respeito à produção cultural,

desenvolve o potencial para refletir e produzir Arte na – e para – a

contemporaneidade.

Porém, os problemas da educação, em relação a tecnologia, não se

resolverão apenas com a presença de máquinas e equipamentos high-tech no

ambiente escolar. São necessárias a revisão e reflexão sobre ação pedagógica - os

conteúdos, objetivos e métodos de ensino, como também, a conscientização e o

apoio da direção, da equipe pedagógica e dos professores entre si para que novas

propostas sejam lançadas, compreendidas e executadas.

Não basta utilizarmos vários aparatos tecnológicos se não temos clareza do

que queremos. É necessário definirmos como e quando as tecnologias devem ser

incorporadas em nossas aulas, e qual a validade que elas devem ter, para que se

tornem significativas no processo de aprendizagem do aluno.

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Sendo assim, o professor assume a função de mediar e estimular; orientar

os alunos a respeito das diferentes fontes de informação, como receber essas

informações e como utilizá-las num processo semiótico de compreensão.

O domínio do professor deve se concentrar no campo crítico e pedagógico,

decidindo-se pela opção de integrar ou não a tecnologia em seu planejamento e

ainda escolher o momento apropriado para fazê-lo, evitando, assim, a imposição

tecnológica na sala de aula.

A integração das tecnologias no ambiente educacional não será imediata;

alguns profissionais relutam e não acreditam na necessidade de mudar; mas esta

mudança se faz necessária, mesmo que construída lenta e gradualmente, num

processo evolutivo. Como toda mudança impõe desafios, esforços e superação,

exige tempo, recursos e riscos.

O sucesso dessa reforma depende de todos os sujeitos envolvidos na

educação – direções, equipe pedagógica, funcionários, professores, alunos e seus

responsáveis legais - resultando em uma educação formal que qualifica os

indivíduos para sua função na sociedade aliada à valorização do espaço em que

vivem e a conscientização da presença da Tecnologia e da Arte como elementos de

conhecimento, reflexão e construção de vida de forma racional e em benefício de

todos.

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