tecnologia “in ovo” impulsionando a modernização dos ... · bilhões de ovos são vacinados...

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36 Produção Animal | Avicultura Informe Técnico-Empresarial H á vinte e cinco anos a única maneira de vacinar frangos contra a Doença de Marek (DM) era dar aos pintos de um dia uma injeção manual subcutânea no dia da eclosão. Isso exigia muita mão de obra, era estressante para os pintos e atrasava a sua transferência para o ambiente de crescimento. Em média, uma pessoa consegue injetar cerca de 2.000 aves por hora, portanto um centro de incubação que produzisse 250.000 aves por dia preci- sava de uma equipe de pelo menos 12 pessoas, e espaço suficiente para que elas pudessem trabalhar. A solução para esse gargalo no sistema foi a introdução do primeiro dispositivo comercial de vacinação “in ovo” em 1992 pela Embrex (agora parte da Pfizer Saúde Animal – Global Poultry). Essa nova tecnologia não apenas revolucionou a vacinação nos centros de incubação, mas também teve um impacto fundamental no modo como incubatórios operam. Automação geral A indústria de aves estava crescen- do e incubações diárias estavam au- mentando, por isso as equipes de vacinação não eram mais uma solução prática. Muitas pessoas acreditam que foi a introdução da tecnologia de vacinação “in ovo” que levou à auto- mação geral dos centros de incubação e a muitas outras mudanças, tais como melhorias em higiene e o uso da vacinação precoce contra outras enfer- midades. Os EUA foram o local de nasci- mento da tecnologia “in ovo” e conti- nuam a ser o seu maior promotor desde então. A tecnologia se adapta perfeitamente ao perfil comercial das grandes empresas integradas que dominam o mercado naquele país. Atualmente, mais de 90% de todos os centros de incubação dos EUA usam dispositivos “in ovo”, e mais de 15 bilhões de ovos são vacinados em todo mundo anualmente. O estímulo para o desenvolvimen- to de equipamentos comerciais para vacinação “in ovo” veio originalmente das pesquisas realizadas pelo Departa- mento de Agricultura dos EUA (USDA) através do Laboratório de Oncologia e Doenças Aviárias de East Lansing, Michigan. A pesquisa mostrou que os embriões poderiam gerar uma respos- ta imunológica protetora contra Doen- ça de Marek se eles fossem vacinados exatamente antes da eclosão, entre os dias 18 e 19. A descoberta estimulou a Embrex a desenvolver um dispositivo automatizado que pudesse injetar uma vacina nos ovos, de forma rápida, precisa e segura para o embrião. Ativa a resposta imunológica Um dos requisitos chave da vaci- nação “in ovo” é a administração da mesma quantidade de vacina no ponto certo em todas as vacinações. A vacina deve chegar ao liquido amniótico ou no tecido subcutâneo do embrião, para que possa ativar a adequada resposta imunológica. A vacina administrada no fluido amnió- tico no dia 18/19 é distribuída rapida- mente para as vias respiratórias, para as vísceras e a bolsa – essenciais para o desenvolvimento da imunidade contra doenças. World Poultry, Vol. 28, No. 3, 2012. 03 de abril de 2012 A vacinação “in ovo” tem sido amplamente aceita como uma maneira eficaz de obter imunidade precoce em pintos com poucos dias dede um dia idade. . Particularmente nos EUA, a maioria dos centros de incubação em larga escala profissionais já adotaram essa tecnologia. Fora dos EUA, a vacinação “in ovo” também está ganhando espaço nos centros de incubação de menor porte. Porém, alguns requisitos básicos nos centros de incubação são essenciais para permitir que essa tecnologia seja eficaz Tecnologia “in ovo” impulsionando a modernização dos centros de incubação Por Dr. Tarsicio Villalobos, Diretor de Suporte Técnico, Divisão Global de Saúde Animal para Aves da Pfizer, Durham, NC, EUA A auto-higienização é fundamental para o sucesso do dispositivo porque sabemos que toda superfície possui certa quantidade de bactérias e fungos

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36 Produção Animal | Avicultura

Informe Técnico-Empresarial

Há vinte e cinco anos a única maneira de vacinar frangos contra a Doença de Marek

(DM) era dar aos pintos de um dia uma injeção manual subcutânea no dia da eclosão. Isso exigia muita mão de obra, era estressante para os pintos

e atrasava a sua transferência para o ambiente de crescimento.

Em média, uma pessoa consegue injetar cerca de 2.000 aves por hora, portanto um centro de incubação que produzisse 250.000 aves por dia preci-sava de uma equipe de pelo menos 12 pessoas, e espaço sufi ciente para que elas pudessem trabalhar. A solução para esse gargalo no sistema foi a introdução do primeiro dispositivo comercial de vacinação “in ovo” em 1992 pela Embrex (agora parte da Pfi zer Saúde Animal – Global Poultry). Essa nova tecnologia não apenas revolucionou a vacinação nos centros de incubação, mas também teve um impacto fundamental no modo como incubatórios operam.

Automação geralA indústria de aves estava crescen-

do e incubações diárias estavam au-mentando, por isso as equipes de vacinação não eram mais uma solução prática. Muitas pessoas acreditam que foi a introdução da tecnologia de vacinação “in ovo” que levou à auto-mação geral dos centros de incubação e a muitas outras mudanças, tais como melhorias em higiene e o uso da vacinação precoce contra outras enfer-midades.

Os EUA foram o local de nasci-mento da tecnologia “in ovo” e conti-nuam a ser o seu maior promotor desde então. A tecnologia se adapta perfeitamente ao perfi l comercial das grandes empresas integradas que

dominam o mercado naquele país. Atualmente, mais de 90% de todos os centros de incubação dos EUA usam dispositivos “in ovo”, e mais de 15 bilhões de ovos são vacinados em todo mundo anualmente.

O estímulo para o desenvolvimen-to de equipamentos comerciais para vacinação “in ovo” veio originalmente das pesquisas realizadas pelo Departa-mento de Agricultura dos EUA (USDA) através do Laboratório de Oncologia e Doenças Aviárias de East Lansing, Michigan. A pesquisa mostrou que os embriões poderiam gerar uma respos-ta imunológica protetora contra Doen-ça de Marek se eles fossem vacinados exatamente antes da eclosão, entre os dias 18 e 19. A descoberta estimulou a Embrex a desenvolver um dispositivo automatizado que pudesse injetar uma vacina nos ovos, de forma rápida, precisa e segura para o embrião.

Ativa a resposta imunológica Um dos requisitos chave da vaci-

nação “in ovo” é a administração da mesma quantidade de vacina no ponto certo em todas as vacinações. A vacina deve chegar ao liquido amniótico ou no tecido subcutâneo do embrião, para que possa ativar a adequada resposta imunológica. A vacina administrada no fl uido amnió-tico no dia 18/19 é distribuída rapida-mente para as vias respiratórias, para as vísceras e a bolsa – essenciais para o desenvolvimento da imunidade contra doenças.

World Poultry, Vol. 28, No. 3, 2012. 03 de abril de 2012

A vacinação “in ovo” tem sido amplamente aceita como uma maneira efi caz de obter imunidade precoce em pintos com poucos dias dede um dia idade. . Particularmente nos EUA, a maioria dos centros de incubação em larga escala profi ssionais já adotaram essa tecnologia. Fora dos EUA, a vacinação “in ovo” também está ganhando espaço nos centros de incubação de menor porte. Porém, alguns requisitos básicos nos centros de incubação são essenciais para permitir que essa tecnologia seja efi caz

Tecnologia “in ovo” impulsionando a modernização dos centros de incubação

Por Dr. Tarsicio Villalobos, Diretor de Suporte Técnico, Divisão Global de Saúde Animal para Aves da Pfi zer, Durham, NC, EUA

A auto-higienização é fundamental para o sucesso do dispositivo porque sabemos que toda superfície possui certa quantidade de bactérias e fungos

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Mas como é possível entregar uma dose da vacina a uma bandeja com até 165 ovos, no ponto correto e todos ao mesmo tempo? Os ovos possuem formatos e tamanhos dife-rentes, por isso o localizador de inje-ções precisa ser capaz de ajustar-se, tanto lateralmente quanto vertical-mente, para garantir que a casca de cada ovo seja perfurada no ponto correto. A Embrex solucionou o pro-blema ao desenvolver um sistema de cabeçotes flutuantes com uma matriz de tubagem expansível que, em uma fração de segundo, recebe um sopro de ar para ajustar individualmente cada tooling na posição correta, asse-gurando a trajetória adequada da agulha no seu ovo. Assim, cada ovo é tratado individualmente.

Anticorpos maternosJuntamente com os benefícios de

um incubatório com maior automação, a introdução de dispositivos “in ovo” também anunciaram uma maneira mais eficiente de vacinar frangos. Nos dias 18/19, nem todos os anticorpos maternos da gema foram absorvidos pelo embrião; a imunidade total provi-da por via materna só se desenvolve poucos dias após a incubação.

Se uma vacina viva for injetada no embrião durante essa ‘janela’, o vírus poderá replicar-se sem muita interfe-rência dos anticorpos maternos e assim ativar uma boa resposta imunológica; ao mesmo tempo o embrião tem imu-nidade maternal suficiente para prote-gê-lo contra o desenvolvimento da doença. O resultado é uma ave que possui a resposta imunológica mais precoce possível e, portanto, protegida contra a doença ao ser transferido para o ambiente de crescimento.

Na costa leste dos EUA, onde circula uma forma muito virulenta do vírus da Doença de Marek as aves estão sujeitas a um desafio muito precoce da doença. Ao ser injetada “in ovo”, a vacina se replica de 2 a 3 dias antes da incubação, e por isso quando

os pintos são transferidos para a gran-ja, eles conseguem lidar melhor com o desafio da doença do que se tivessem sido vacinados no dia de incubação.

Resultados de testes comparáveis

O mesmo aplica-se à vacina de Gumboro, especialmente onde a va-riante do vírus Gumboro estiver presen-te, pois ela tende a infectar as aves em uma idade muito precoce. Porém, embora os potenciais benefícios da vacinação precoce possam ser óbvios no papel, eles não são tão fáceis de demonstrar na prática. É na verdade muito difícil mostrar os benefícios para um produtor individual, porque para isso é necessário realizar um estudo “pareado” onde todas as fontes possí-veis de variação sejam equalizadas entre os grupos vacinados “in ovo” e os grupos vacinados de forma conven-cional.

Tal ensaio requer que ovos sejam oriundos dos mesmos lotes de matri-zes, sejam armazenados na mesma sala e pelo mesmo período, e incubados de formas exatamente idênticas – até mesmo quanto à proporção de ovos colocados em diferentes níveis dentro da incubadora. Por ocasião da transfe-rência, os ovos têm de ser separados em duas incubadoras diferentes para evitar que sejam misturados quando os pintos nascerem.

As aves então precisam ser criadas em condições idênticas, em dois espa-ços separados que partilhem os mes-

mos sistemas de ventilação, e forneci-mento de água e alimentação, e com a mesma densidade inicial. É necessá-rio certificar-se de que tudo seja idên-tico, exceto o sistema de vacinação, e não há muitos produtores dispostos a fazer isso.

A Pfizer Saúde Animal – Global Poultry, possui dados de três estudos desse tipo, realizados em 1993, 2000 e 2005 (Tabela 1). Eles costumam mos-trar melhorias no percentual de incuba-ção, mortalidade, peso corporal e conversão alimentar com a vacinação “in ovo”. Como seria de esperar, as cifras exatas variam entre os três dife-rentes estudos. A conversão alimentar fica entre um e dois pontos melhor com a vacinação “in ovo”. Nos EUA, uma economia de um ponto represen-ta cerca de US$100.000 para uma unidade que esteja processando 50 milhões de aves por ano.

As principais questõesEmbora a vacinação “in ovo” traga

potenciais benefícios para muitos cen-tros de incubação, ela não é indicada para todas as unidades. Há uma série de questões fundamentais que os administradores dos incubatórios pre-cisam responder para determinar se a vacinação “in ovo” é a solução correta para eles. Existe vacina “in ovo” apro-vada e disponível para o controle daen-fermidade/desafio local? Nem todas as vacinas “in ovo” estão disponíveis em todos os países. A administração de vacinas não autorizadas pode causar

Table 1. Performance parameters for in ovo vaccinated birds vs subcutaneous vaccinated birds in three separate, controlled trials. 1993P(1)

1993(1) 2000(2) 2005(3)

Difference in hatchability

+0.04% +0.88% -0.06%

Difference in mortality

0.00% +0.19% -0.21%

Difference in body weight

+09.10 g +50.00 g +16.00 g

Difference in feed conversion

-0.019 -0.020 +0.012

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problemas graves. Nos EUA o número de vacinas “in ovo” disponíveis para os produtores, mais que dobrou, de qua-tro para nove, nos últimos 10 anos, e mais vacinas estão prontas para serem lançadas. Conforme o uso de dispositi-vos “in ovo” aumenta em outros mer-cados, o número de vacinas deverá acompanhar essa tendência.

Quantos ovos são processados todo mês e quantas vezes por semana eles são transferidos? Para justifi car o uso de um sistema completo Inovoject da Embrex, os centros de incubação precisam estar processando em média mais de 2 milhões de ovos/mês. O acréscimo recente de um modelo menor e semi-automatizado à carteira de produtos da Embrex (modelo Inovo-ject m), signifi ca que muitos incubató-rios com uma menor produtividade (< 2 milhões de ovos/mês) ou menos espaço disponível agora também pode-rão adotar a tecnologia “in ovo”. As plantas incubadoras que requeiram o processamento de entre 12.000 e 20.000 ovos por hora poderão consi-derar a utilização da máquina menor.

Quantas confi gurações de bande-jas diferentes são usadas no centro de incubação? Cada máquina Inovoject é feita especifi camente para funcionar com uma única bandeja de incubação em particular. Uma ampla variedade de confi gurações diferentes está disponí-vel, mas se o centro de incubação possui várias bandejas diferentes, ela talvez não seja capaz de vacinar “in ovo” 100% das aves.

Infraestrutura adequada Se essas questões iniciais gerarem

respostas positivas, então o próximo passo será verifi car se a infraestrutura do centro de incubação é adequada. Para determinar isso, a Divisão Global de Aves da Pfi zer realiza dois levanta-mentos.

Um levantamento local é realizado para nos certifi car de que os prédios, a distribuição do espaço, as instalações de armazenagem, os serviços públicos

(água/eletricidade), ventilação, recursos de ar comprimido, etc. são adequados para instalar e operar um dispositivo “in ovo”. Uma avaliação ambiental é realizada para verifi car o nível de conta-minação. Amostras são obtidas das áreas vizinhas ao centro de incubação e analisadas para observar a prevalência de fungos e bactérias, mas especial-mente para verifi car se há microorga-nismos do gênero Aspergillus. Como a vacinação “in ovo” requer que a casca do ovo seja perfurada, a higiene do incubatório é um aspecto fundamental. A necessidade de um baixo risco de contaminação com a vacinação “in ovo” tem sido uma força motriz por trás da melhor higiene observada nos centros de incubação americanos nos últimos anos.

Treinamento do pessoal Os resultados do levantamento

determinam que trabalho, se necessá-rio, precisa ser feito antes que um dispositivo “in ovo” possa ser instalado e operado com sucesso. Uma vez que todos os critérios para instalação te-nham sido atendidos, é essencial que o pessoal seja devidamente treinado e que suporte/assistência local esteja disponível.

A equipe da Divisão Global de Aves da Pfi zer permanece no centro de incubação durante as primeiras duas semanas, certifi cando-se de que os operadores estão plenamente treina-dos e que o dispositivo esteja funcio-nando adequadamente e da melhor forma possível. Além disso, eles deixam no incubatório um estoque das peças sobressalentes mais comuns, de modo que em caso de alguma ocorrência, elas sejam substituídas imediatamente e o equipamento volte a funcionar com o mínimo tempo de inatividade. A Pfi zer também opera um sistema de suporte de resposta rápida, e realiza visitas de manutenção programadas em intervalos regulares, pelo menos uma vez a cada nove semanas, em todos os seus dispositivos já instalados.

Obtendo o máximo da tecnologia “in ovo”

Alguns conselhos úteis para os administradores de centros de incuba-ção que já possuem um dispositivo para vacinação “in ovo” em operação.

Primeiro, é preciso ter certeza de que a preparação da vacina seja feita de forma asséptica. Se a vacina não for bem misturada e assepticamente preparada, então você pode pôr a sua efi cácia em risco e até mesmo poten-cialmente matar as aves. Cada disposi-tivo Embrex Inovoject incorpora um sistema de agulha dupla para reduzir a contaminação pela superfície do ovo: a agulha externa perfura um orifício na casca do ovo e a agulha interna pene-tra no orifício até a profundidade correta para injetar a vacina. O sistema é automaticamente higienizado entre as injeções por uma solução desinfe-tante que higieniza o espaço entre as duas agulhas.

A auto-higienização é fundamen-tal para o sucesso do dispositivo por-que sabemos que toda superfície possui certa quantidade de bactérias e fungos. Porém, é importante certifi car--se de que o incubatório esteja limpo e as possíveis fontes de contaminação, tais como o sistema de ventilação, sejam bem cuidadas.

Desenvolvimentos futuros A adoção inicial da vacinação “in

ovo” foi maior naqueles mercados onde a Doença de Marek é um pro-blema e naqueles com uma indústria mais consolidada e custos de mão de obra mais altos. Ela responde por mais de 90% da produção nos EUA e pela maioria da produção no Brasil e na Argentina. O desenvolvimento e lan-çamento de novas vacinas “in ovo”, os maiores custos de mão de obra, e a necessidade de adotar tecnologias mais efi cientes para a crescente con-solidação da industria, signifi cam que a vacinação “in ovo” deverá se expan-dir para muitas outras regiões do mundo todo.

Informe Técnico-Empresarial

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