técnicas de liderança
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
Técnicas de Liderança
Danielly da Paz Oliveira
Teresina – PI
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS
3. TIPOS DE LIDERANÇA
4. MOTIVAÇÃO NAS EQUIPES
5. ELOGIO E CRÍTICA
6. LÍDER OU LIDERADO
7. EFICÁCIA DA LIDERANÇA
8. BIBLIOGRAFIA
1. INTRODUÇÃO
Liderança “é o processo de influenciar as atividades de um grupo
organizado na direção da realização de um objetivo” já dizia Rego (1998). Para
ele a liderança é uma das temáticas que mais tem merecido atenção por parte
de investigadores e profissionais dos diversos setores organizacionais.
Considera‐se a liderança um tópico fundamental nas relações de trabalho, uma
vez que os liderados identificam cada estilo como um fator desencadeador dos
conflitos organizacionais e laborais. Ao mesmo tempo, as incompatibilidades
pessoais e/ou profissionais entre líder e liderado(s), a coexistência de
lideranças formais e informais, bem como, a integração dos diferentes estilos
ao longo da cadeia hierárquica de uma organização, é apenas parte da
complexidade e subjetividade inerente ao tema.
Durante muitos anos, a liderança foi estudada e entendida como um
traço de personalidade, isto é, dependendo exclusivamente de características
pessoais e inatas do sujeito. Atualmente, percebemos que uma atitude de
liderança depende da aprendizagem social do indivíduo e, por isso mesmo,
pode ser treinada/aperfeiçoada. Apesar disso, persistem inúmeras dúvidas
conceituais. São muitos os trabalhos realizados em torno deste tema, bem
como, focos e níveis de análise/intervenção; talvez por isso sejam inúmeras as
confusões conceituais relacionadas com a liderança, nomeadamente aquela
que equipara liderança a chefia. Na verdade, o conceito de liderança e o
exercício formal / informal da mesma nem sempre estão associados de forma
direta.
As organizações, para alcançar os objetivos que se propõem e se
atribuem, organizam‐se a elas próprias. A ação de organizar pressupõe
trabalho conjunto ou ação concertada. Daqui emerge a necessidade de gerar
acordos e de gerir expectativas, criar linguagens comuns e de encontrar
soluções aceitáveis para problemas que enfrentam em conjunto. A definição e
alcance de objetivos é uma atividade ‘política’ ou ‘estratégica’, no sentido em
que implica escolhas e preferências, definição de prioridades, formação de
alianças e coligações. E, neste processo, o debate ou confronto, o diálogo ou a
conversação, o trabalho de persuasão ou de legitimação, desempenham um
papel nuclear (Gomes e Colabs, 2000). Neste contexto, agir é comunicar. E,
fazê‐lo de forma eficaz, implica atender a diferentes interesses em jogo e não
perder de vista os diferentes destinatários da comunicação.
2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS
A liderança está intimamente relacionada com as competências de
comunicação e de transmissão de ideias. Assim, tem sido muito complicado
definir o que é ser líder e o que é Liderança, havendo inúmeras definições para
este elaborado conceito.
Bass (1990, cit in Rego, 1998) afirma que “existem quase tantas
definições de liderança quantas as pessoas a tentar defini‐la”. Apresentam‐se,
em seguida, algumas definições encontradas, referentes ao conceito de
Liderança:
É o papel que se define pela frequência com que uma pessoa
influencia ou dirige o comportamento de outros membros do grupo
(McDavid e Herrara, s/d); É a capacidade para promover a ação
coordenada, com vista ao alcance dos objetivos organizacionais
(Gomes e Colabs, 2000);
É um fenômeno de influência interpessoal exercida em determinada
situação através do processo de comunicação humana, com vista à
comunicação de determinados objetivos (Fachada, 1998);
É um processo de influência e de desempenho de uma função
grupal orientada para a consecução de resultados, aceites pelos
membros dos grupos. Liderara é pilotar a equipe, o grupo, a reunião;
é prever, decidir, organizar (Parreira, 2000);
É a capacidade de influenciar pessoas para que se envolvam
voluntariamente em tarefas para a concretização de objetivos
comuns.
Assim, enquanto a liderança pode ser vista como um fenômeno de
influência interpessoal, o líder pode ser percebido como aquele (a) que decide
o que deve ser feito e faz com que as pessoas executem essa decisão. Deste
modo, o líder será avaliado pelos resultados simbólicos, mais do que pelos
resultados substantivos – ‘ser responsável é aceitar ter que responder por algo
e perante alguém’.
Em outros termos, liderar também é ter que prestar contas. E a
prestação de contas é uma prestação discursiva. Por isso, a prestação do líder
conta e o seu discurso produz efeitos que importa ter em conta. (Gomes e
Colas, 2000).
Daqui se depreende quão importante é, atender ao modo como o líder é
visto pelos outros na sua função de liderar, bem como atender à percepção que
o próprio líder tem acerca do modo como utiliza a sua liderança. O líder deve
avaliar o seu próprio estilo, autoperceber‐se, ser autocrítico e questionar‐se.
Com efeito, antes de se aprofundar mais os conceitos, será conveniente
distinguir entre liderança estatutária e emergente. A liderança estatutária ou
formal está associada a uma posição na estrutura de poder formal, à qual
correspondem comportamentos esperados de indivíduos, ocupando um
estatuto oficialmente reconhecido. Por contraste, a liderança emergente
corresponde àquela que é exercida por alguém, independentemente da
posição oficial que ocupa. Um membro que não detenha uma posição oficial de
liderança pode exercer uma influência decisiva no grupo, por exemplo, ao
expressar uma ideia proveitosa, ao colocar uma questão pertinente, ao ajudar o
grupo a formular um plano ou mesmo ao fazer sugestões úteis ao líder
estatutário. Muitos estudiosos parecem pensar a liderança como se ela fosse
somente, ou primariamente, fixada quer através de nomeação ou eleição quer
a partir de habilidades especiais e/ou preparação/formação. Nesta base,
aqueles que dividem as pessoas em dois grupos: líderes e seguidores, ou, se
preferirmos líderes e subordinados. Desta forma, assiste‐se à identificação
restritiva da liderança com a liderança formal. A liderança é, desejavelmente,
um processo que implica capacidade de influenciar os outros através de um
processo de comunicação, o objetivo final de realizar uma tarefa. A liderança
deve ser alvo de autoanálise e autocrítica, já que ela é um processo interativo,
que não acontece com uma pessoa isolada.
O comportamento dos sujeitos implica que o líder adote um estilo de
liderança específico e adequado às características desse grupo. Pelo processo
de influência, o líder pode alterar o comportamento dos sujeitos, de modo
intencional, através das estratégias que utiliza para impor o seu domínio e
ascendência. É, pois, importante que o líder se relacione com todos os
elementos do grupo que lidera. Como apareceu numa definição de Liderança,
anteriormente citada, neste processo complexo de liderar, há uma influência
interpessoal que surge como resultado da comunicação entre os interlocutores
envolvidos no processo, acerca de um determinado objetivo (Fachada, 1998).
O comportamento de liderança engloba diversas funções relacionadas
com o estruturar, distribuir funções, orientar, coordenar, controlar, motivar,
elogiar, punir, reforçar, etc. Contudo, o fundamental da liderança baseia‐se no
direcionar o grupo para metas específicas.
Durante muito tempo, a liderança foi estudada como estando
relacionada com características pessoais e inatas do sujeito. Considerava‐se
que as qualidades inerentes ao líder, tais como a inteligência, a amabilidade, a
força física, etc. eram determinadoras dos potenciais lideres. Surge, assim, a
teoria dos traços de personalidade que considerava que o líder possuía
características que o identificavam e que o tornavam o grande homem
(Fachada, 1998), e em que a liderança era percebida como intrinsecamente
individual (Parreira, 2000). O líder era, então, visto como possuindo
características em potência ou atualizadas, sendo que esta competência era
um traço estável da sua personalidade. A teoria do traço considerava que a
capacidade de liderança poderia ser diagnosticada através de testes e
questionários.
No entanto, esta teoria deparou‐se com duas dificuldades, que não
conseguiu ultrapassar (Parreira, 2000): dificuldade em isolar um conjunto finito
de características e traços que defina todos os líderes e, que todos os líderes
possuam; dificuldade em assegurar que essas características estejam
ausentes em todos os não líderes. Abandonou‐se, em consequência, a teoria
em causa, por não ser possível encontrar traços de personalidade que
diferenciassem um líder de um não líder.
Passou a ser foco de estudo, em vez do indivíduo líder, o processo de
liderança. A liderança é atualmente percebida como algo que pode ser treinado
e aprendido, através da adaptação do líder às funções de liderança. Mediante
esta postura, nos anos 50, investigadores da Universidade de Ohio
identificaram duas categorias de comportamento que, combinadas em índices
elevados, eram o cerne de uma boa liderança: iniciação de estrutura (definição
de objetivos e execução de tarefas) e consideração (confiança mútua ajuda
relações amistosas). A equipe da Universidade de Michingan traduziu estas
categorias comportamentais para: orientação para as tarefas e orientação para
as pessoas. Abordaremos, mais à frente, estas duas características, com mais
pormenor.
Ainda dentro da definição de liderança, é também importante para a
compreensão geral do conceito, trabalhar as duas funções essenciais do líder,
que se podem resumir da seguinte forma:
2.1 Lideranças: A arte de ser humano
John K. Clemens e Douglas F.. Mayer escreveram, em 1987, um livro
publicado em português sob o título: Liderança, o toque clássico, no qual
dizem:
“Não é surpreendente que livros como As Vidas dos Homens
Ilustres... ofereçam ricas perspectivas sobre liderança. Afinal, os
problemas centrais para uma liderança efetiva – motivação,
inspiração, sensibilidade e comunicação pouco mudaram nos últimos
3.000 anos. Esses problemas foram enfrentados pelos Egípcios
quando construíram as pirâmides, por Alexandre quando criou seu
império e pelos gregos quando lutaram contra os troianos. Liderança
é um conceito escorregadio e ilusório, que deixa perplexos mesmo os
cientistas sociais. Após estudar mais de 3.000 livros e artigos sobre
liderança, escritos ao longo dos últimos 40 anos, certo pesquisador
conclui que não se sabe muito mais a respeito desses assuntos hoje
em dia do que se sabia quando toda a confusão teve início”.
Segundo Bergamini (1994):
“Isso quer dizer que a liderança tem sido investigada desde há muito
e como tal é justo que apresente inúmeras interpretações. É
desejável lembrar que a diferença entre as interpretações se traduziu
em pontos de vistas que não são necessariamente opostos, mas que,
de certa forma, propõem enfoques complementares uns aos outros. É
o conjunto de todos eles que oferece uma visão mais completa sobre
o assunto”.
Portanto, liderar é a própria arte de ser humano. Acredita-se que a
palavra liderança tenha aparecido por volta do ano 1300 da era cristã, embora
o termo venha sendo mais empregado nos últimos 200 anos, sobretudo, na
língua inglesa. Se a preocupação com a liderança é tão antiga quanto à história
da escrita, é bom que se proponha, mesmo que de maneira sucinta, uma
revisão parcial daquilo que já foi estudado, não somente para que se tenha
ideia das principais teorias existentes, mas para que não se cometa o engano
de adotar como verdadeiras certas suposições que hoje, após anos de
pesquisas, já comprovaram ultrapassadas.
Para tanto, trataremos de algumas das principais teorias da liderança
vistas através de dois enfoques distintos: Teorias da liderança com foco no
líder e teorias da liderança com enfoques situacionais.
2.1.1 Foco no Líder
As primeiras abordagens da problemática da liderança centraram-se na
definição de líder e na procura das qualidades comuns a todos os líderes.
Nessa linha, podem ser consideradas duas teorias: a teoria dos Grandes
Homens e a teoria dos Traços.
Teoria do Grande Homem - Aceita a ideia de líderes natos.
Supunha-se que de tempos em tempos apareceriam homens geniais
destinados a exercer profunda influência na sociedade.
Warren Bennis (2001) comenta:
“Em um momento se pensou que as habilidades da liderança eram
inatas. Ninguém se torna um líder, e sim nasce com esta condição...
a esta concepção de liderança se poderia denominar de Teria do
Grande Homem”. Para ela, o poder se encarnava em uma reduzida
quantidade de pessoas cuja herança e destino as convertia em
líderes. Os indivíduos do tipo adequado poderiam liderar todos os
demais deveriam ser liderados. Ou se tinha essa característica ou
não se tinha. “Nem o aprendizado nem o desejo, por grandes que
fossem, poderiam alterar o destino de um indivíduo”.
Todo nascimento traz um líder, depende dessa pessoa agarrar as
oportunidades. Ghandi não nasceu com grande eloquência e tampouco era um
reconhecido comunicador, mas mudou-se, cresceu, e se tornou um grande
líder, porque acreditava no que pensava. Portanto, líderes não nascem, a
menos que aceitemos que todos os que nascem podem ser líderes.
Teoria dos Traços - Basicamente semelhante à do Grande Homem,
defende que a posse de certos traços de caráter e de personalidade
permitiria a certos homens acesso ao poder. Dessa forma, julgava-se
ser possível encontrar traços de personalidade universais nos líderes
que os distinguiam dos não líderes. Bryman (1992) retrata três
grandes tipos de traços que a literatura trata fatores físicos,
habilidades características e aspectos de personalidade. O que
interessava aos pesquisadores da época era poder eleger dentre
certos atributos quais os que melhor definiriam a personalidade do
líder. Segundo Bergamini (1994):
“O enfoque dos traços predominou até a década de quarenta, tendo
como grandes contribuintes para o seu sucesso as pesquisas
desenvolvidas pelos testes psicológicos muito incrementados a partir
de 1920 ate 1950. Stogdill e Mann serviram-se dos resultados das
pesquisas disponíveis acerca de liderança que datavam de 1904 a
1948, encontrando aproximadamente 124 projetos voltados a esse
tipo de enfoque no estudo da liderança. Com revisão desses projetos
foi possível chegar a um resultado que permitiu listar
aproximadamente 34 traços de personalidade considerados como
características típicas da amostragem dos líderes eficazes... Alguns
exemplos dos traços encontrados são: sociabilidade e habilidades
interpessoais, autoconfiança, ascendência e domínio, participação
nas trocas sócias, fluência verbal, equilíbrio emocional e controle,
busca de responsabilidade e outros”.
Em suma, as teorias apresentadas com foco no líder - a do Grande
Homem e a Teoria dos Traços - ocuparam durante bastante tempo os
estudiosos e investigadores dos fenômenos de liderança e, apesar das suas
pesquisas terem redundado em fracasso, essa posição encontra-se ainda
muito difundida no senso comum. De fato, seria bastante otimista pensar que
podiam existir apenas líderes natos, bem como traços de personalidade
consistentes e próprios de todos os líderes, fossem eles líderes como Hitler,
Madre Tereza de Calcutá, Bin Laden ou Ghandi. Os diversos estudos parecem
ter concluído apenas vagamente que certas características como inteligência,
extroversão são, auto-segurança e empatia, tendiam a estar relacionadas com
o desenvolvimento e manutenção de posições de liderança. Mas para além de
inconsistentes, os dados não estabelecem uma distinção clara entre caracteres
inatos e adquiridos. Por outro lado, essas teorias sustentam que o líder nato ou
o possuidor de determinados traços seria capaz de exercer espontaneamente e
imediatamente a liderança, o que vai de encontro à natureza dinâmica das
relações humanas. Essas teorias ignoram também os fatores situacionais e,
embora especificassem traços que quase todos os líderes possuíam, a verdade
é que temos que reconhecer que esses mesmos traços são frequentemente
possuídos por um grande número de não líderes. Entretanto, e embora essas
teorias tendam hoje a serem rejeitadas, é de algum modo evidente que os
atributos pessoais particulares aumentam a probabilidade de que certas
pessoas assumam, com maior frequência, papéis de liderança nos vários
grupos em que participam.
2.2 Enfoques situacionais
Segundo Fiedler (1967):
“Volumosa pesquisa feita especialmente sob condições reais de vida,
tem mostrado bem consistentemente, todavia, que a personalidade
do líder é somente um dos fatores que determina o desempenho do
grupo. O líder que se desempenha bem em um grupo ou sob um
conjunto de condições pode não sair-se bem em outros grupos, em
outras tarefas ou sob outras condições”.
Então, as teorias de enfoques situacionais exploram as variáveis que
cercam o processo de liderança, sendo esses, portanto, enfoques mais
abrangentes do que os vistos anteriormente.
Teoria das Trocas - A partir de 1964, Hollander busca na Teoria das
Trocas encontrar o equilíbrio entre líder e liderado. Segundo esse
enfoque, o surgimento de um líder não se dá unicamente pelo seu
tipo de personalidade, mas tem relação com outros fatores, tais como
as normas em uso pelos grupos. Esses valores grupais é que irão
eleger como importantes certas características da personalidade do
líder. Para Hollander, a aceitação do líder e sua permanência como tal
dependem de quanto ele seja considerado como facilitador do
atendimento dos objetivos almejados pelo grupo liderado. Segundo
Bergamini (1994):
“Com a Teoria das Trocas de Hollander, o papel desempenhado
pelos subordinados no processo de liderança começa a despontar
como um elemento que pode favorecer a formação eficaz desse
vínculo. Até então, os estudos vigentes somente dirigiam sua atenção
às características que tipificavam os líderes” (Bergamini, C. W,1994).
Portanto, a partir dessa teoria, mais uma variável é acrescida às
condições básicas: a eficácia do exercício da liderança, que é a percepção que
os liderados possuem da figura do líder.
Abordagem situacional de Liderança - Na sua forma mais simples,
a tese situacional defende a ideia de que a situação faz surgir o líder
necessário e conveniente; ou seja, os grupos escolheriam o líder ou
líderes adaptados às suas necessidades. Mas essa posição seria
demasiado finalista e restritiva; pois, em vez de pretender que a
liderança seja um ato passivo, a teoria situacional afirma que o líder
hábil pode adaptar-se e antecipar-se às necessidades dos elementos
do seu grupo. Segundo Tannenbaum, Weschler e Massarik (1961):
"Liderança é a influência interpessoal, exercida na situação e dirigida
através do processo de comunicação humana, com vista à obtenção
de um ou diversos objetivos específicos".
Como se vê, a liderança é encarada como um fenômeno social que
ocorre exclusivamente em grupos sociais. É definida como função de três
elementos:
Do indivíduo (personalidade, caráter, capacidade de realização,
etc.).
Do grupo (estrutura das inter-relações individuais no grupo,
atitudes, necessidades, etc.).
Da situação (exigências das situações, objetivos, ambiente
envolvente do líder e do grupo, etc.).
Essa abordagem situacional da liderança procura, assim, integrar os
elementos válidos das várias abordagens de um problema que se revelou
demasiado complexos para que possa ser explicado por uma abordagem
restrita, qualquer que ela seja.
Teoria Contingencial ou do Comportamento - foi elaborada a partir
daquilo que Fiedler denomina de medida LPC (Least Prefered
Coworker) da personalidade do líder. Muito da estrutura teórica
adotada por ele tomou como base os estudos de campo
desenvolvidos pela Universidade de Illinois a partir de 1951.
Começando com um grande número de dimensões estudadas, esse
número foi reduzido para duas dimensões independentes a serem
consideradas. Embora a terminologia possa ser variada, foi possível
distinguir a existência de dois tipos básicos de estilos de líder: aquele
que pode ser considerado com orientado para a tarefa e aquele que é
orientado para relacionamento.
Em meados do século XX, e após amplos estudos realizados no âmbito
da pesquisa dos comportamentos de liderança, uma ideia alternativa começou
a ganhar forma. A liderança começou a ser vista como a maneira de proceder
derivada da relação existente entre o líder e outras pessoas do grupo. Assim,
passa-se a considerar que não é a posse de certos traços que contribui para o
sucesso dos líderes, mas, antes, a sua capacidade em adequar os
comportamentos às exigências das diversas situações. Mas na verdade
mostrava-se difícil demonstrar a existência de uma relação consistente entre
padrões de liderança e desempenho do grupo. Por outro lado, é um fato que a
maioria das pessoas desempenha na sua vida papéis de liderança em
situações diferentes. Ganha assim forma a Abordagem Contingencial de
liderança. Segundo Fiedler (1967):
“O ponto mais importante dessa teoria é que a eficácia da liderança
depende tanto da situação em que o grupo se encontra quanto do
líder. Se a teoria está certa, isso significa que um programa que
envolva somente os aspectos de personalidade do líder ou somente
os aspectos situacionais da organização está fadada ao fracasso. Um
estilo de liderança não é em si mesmo melhor ou pior do que outro,
nem tampouco existe um tipo de comportamento em liderança
apropriado para todas as condições. Dessa forma, quase todo mundo
poderia ser capaz de ter sucesso como líder em algumas situações e
quase todo mundo está apto a falhar em outras. Caso queiramos
melhorar o desempenho organizacional, devemos lidar não somente
com o estilo do líder, mas também com os fatores que promovem a
influência sobre ele”. (Fiedler, F. E. , 1967)
Portanto, tornar-se um líder capaz e eficaz, a despeito de ser possível a
todos, não parece que será conseguido simplesmente com programas de
treinamento de poucas semanas, tampouco mudanças comportamentais reais
serão conquistadas em seminários de poucas horas. Como já dizia meu
professor James A. Tucker (Psicologia Educacional, University of Tennesse,
USA), o aprendizado leva tempo.
Teoria Caminho-Objetivo (Path-Goal) - Dentro do enfoque
contingencial, surge mais uma teoria ressaltando a importância do
liderado como um reduto motivacional dentro do processo da
liderança. A teoria Caminho-Objetivo (Path-Goal) é pouco conhecida
no Brasil, mas muito valorizada dentro dos contextos americano,
canadense e europeu. Segundo Smith, P. B. & Peterson, M. F.(1989):
“A teoria do Caminho-Objetivo muito claramente deriva das teorias
que se baseiam na expectativa, que se tornaram populares no campo
do comportamento organizacional nos anos 60 (por exemplo, Vroom,
1964). Na sua essência, ela propõe que os subordinados farão aquilo
que desejarem os líderes, caso eles façam duas coisas. Primeiro,
devem assegurar que os subordinados compreendam como atingir os
objetivos do líder. Segundo, esses líderes devem prever que os
subordinados cheguem aos seus objetivos pessoais nesse processo
(House, 1971). A tarefa do líder é, então, diagnosticar a função do
ambiente e selecionar aqueles comportamentos que assegurarão que
os subordinados estejam motivados ao máximo no sentido dos
objetivos organizacionais”.
Então, segundo essa teoria, os subordinados se sentirão motivados
cada vez mais motivados com o comportamento do líder, na medida em que
esse mesmo comportamento comprovar, de forma objetiva, que traz uma
contribuição decisiva em favor do atendimento das expectativas desses
liderados.
3. TIPOS DE LIDERANÇA
Vários foram os autores que abordaram os tipos de liderança. No
entanto, sobressai-se uma teoria mais comummente referenciada, e bastante
utilizada, de White e Lippitt (1939). De acordo com estes autores existem
essencialmente três tipos de liderança: Autoritária, Liberal e Democrática.
Assim, explorar-se-ão as características principais de cada tipo,
trabalhando vantagens e inconvenientes de cada um. Iniciaremos esta
abordagem pelo estudo do líder autoritário: fixa diretrizes sem a participação do
grupo, determina as técnicas para a execução das tarefas. É também ele que
designa qual a tarefa de cada um dos subordinados, e qual será o companheiro
de trabalho de cada sujeito. É dominador, provocando tensão e frustração no
grupo. Tem uma postura essencialmente diretiva, dando instruções concretas,
sem deixar espaço para a criatividade dos liderados. Este líder é pessoal, quer
nos elogios, quer nas críticas que faz. As consequências desta liderança estão
relacionadas com uma ausência de espontaneidade e de iniciativa por parte
dos liderados, bem como pela inexistência de qualquer amizade no grupo, visto
que os objetivos são o lucro e os resultados de produção. O trabalho só se
desenvolve na presença física do líder, visto que quando este se ausenta, o
grupo produz pouco e tende a indisciplinar-se, expandindo sentimentos
recalcados. O líder autoritário provoca grande tensão, agressividade e
frustração no grupo. Relativamente ao estilo de líder liberal, também
denominado de laissez-faire, não há imposição de regras.
O líder não se impõe ao grupo e consequentemente não é respeitado.
Os liderados têm liberdade total para tomar decisões, quase sem consultar o
líder. Não há grande investimento na função, no estilo liberal, havendo
participações mínimas e limitadas por parte do líder. Quem decide sobre a
divisão das tarefas e sobre quem trabalha com quem, é o próprio grupo. Os
elementos do grupo tendem a pensar que podem agir livremente, tendo
também desejo de abandonar o grupo, visto que não esperam nada daquele
líder. Como não há demarcação dos níveis hierárquicos, corre-se o risco do
contágio desta atitude de abandono entre os subordinados. Este é
frequentemente considerado o pior estilo de liderança, pois reina a
desorganização, a confusão, o desrespeito e a falta de uma voz que determine
funções e resolva conflitos.
No que respeita ao terceiro estilo de liderança, o líder democrático
assiste e estimula o debate entre todos os elementos. É o grupo, em conjunto,
que esboça as providências e técnicas para atingir os objetivos. Todos
participam nas decisões. As diretrizes são decididas pelo grupo, havendo,
contudo, um predomínio (pouco demarcado) da voz do líder. O grupo solicita o
aconselhamento técnico do líder, sugerindo este, várias alternativas para o
grupo escolher. Cada membro do grupo decide com quem trabalhará e é o
próprio grupo que decide sobre a divisão das tarefas. O líder tenta ser um
membro igual aos outros elementos do grupo. O líder democrático, quando
critica ou elogia, limita-se aos fatos, é objetivo. Este tipo de liderança promove
o bom relacionamento e a amizade entre o grupo, tendo como consequência
um ritmo de trabalho progressivo e seguro. O comportamento deste líder é
essencialmente de orientação e de apoio. Surgem, em resumo, grandes
qualidades de relação a nível interpessoal, bem como bons resultados ao nível
da produção / resultados.
Mediante estes três tipos de liderança, cabe a cada sujeito escolher
aquele que mais se adapta às suas próprias características, às funções,
competências e feitios dos liderados, bem como às tarefas e contextos de
realização dos objetivos. Perante o que foi exposto e, sabendo-se já que a
liderança é uma competência a ser trabalhada e exercida, devemos, talvez,
escolher o estilo que mais resultados positivos traga, quer para o líder, quer
para os liderados.
É, no entanto, importante salientar que não há estilos puros, em termos
práticos: ninguém é um único estilo de liderança, mas o que acontece é que os
líderes têm mais ou menos características de um ou de outro tipo. Sucede,
também, que mediante situações específicas os líderes adotem um estilo mais
adaptado e mais eficaz às vicissitudes do projeto, da equipe, do contexto, dos
prazos, etc.
Assim, se os tentássemos representar, os tipos de liderança ficariam
numa espécie de um contínuo, em que se tocam e até se podem sobrepor
alguns aspectos.
Os diferentes estilos tocam-se e não têm, portanto, uma delimitação
específica. Por exemplo, um líder laissez-faire que perceba que perdeu o
controlo da equipe, pode adotar um estilo mais autoritário. Um líder
democrático, no momento em que tem um trabalho para realizar e a entrega
têm de ser imediata, pode também optar por uma postura um pouco mais
autoritária. Da mesma forma, um líder democrático que sinta que a equipe está
a correr muito bem, pode desleixar-se um pouco e cair num estilo mais laissez-
faire. Os estilos vão variando conforme a motivação da equipe e o momento
em que esta se encontra. O estilo de liderança depende, também, das
características pessoais: uma pessoa insegura irá optar, defensivamente, por
um estilo que a proteja, por exemplo, o autoritário, que não permite que a
questionem.
O estilo de liderança depende, similarmente, da equipe que temos em
mão, da competência dessa equipe. Uma equipe de pessoas mais jovens, com
pouca experiência precisará de mais alguma direção. Poderá, do mesmo
modo, depender do tamanho do grupo: um grupo grande terá uma liderança
mais autoritária e democrática quanto baste; enquanto que um grupo médio
deverá ter diretrizes mais democráticas e menos autoritárias; já um grupo
pequeno poderá ser liderado com mais democracia e laissez-faire. Também se
arriscaria a dizer, que, provavelmente, uma liderança diretiva, mais autoritária
estará mais apropriada a sujeitos com baixa competência, que necessitam de
instruções precisas para a realização eficaz das tarefas.
Será, talvez, um estilo importante para principiantes inseguros. Com
pessoas com elevados níveis de competência, com vasta experiência, o estilo
de liderança mais eficaz será participativo (democrático) no sentido de fornecer
orientação e apoio. Este estilo motiva muito as pessoas visto que lhes atribui
bastante responsabilidade.
Sendo a motivação das pessoas variada e variável, a escolha do
estilo de liderança deve ser bastante flexível e dinâmica. Portanto,
não há normas rígidas ou regras. É importante atender a que quanto
mais congruente for o estilo adotado, com as motivações do grupo,
mais provável é que a liderança corresponda ao que os liderados
esperam dela. (Fachada, 2000)
Contudo, a liderança não deriva unicamente das características
idiossincráticas do líder. Há uma série de outras variáveis que influenciam a
dinâmica deste processo. Assim, o exercício da liderança é, também,
dependente da situação e do contexto. De acordo com a teoria do traço de
personalidade, como já visto anteriormente, um líder seria sempre líder, em
todas as condições, sempre de modo eficaz e com todos os indivíduos. Isto
não se verifica: acontece sim, que um líder pode ter muito sucesso num
contexto e numa outra situação, verificar-se o insucesso. O comportamento do
líder é, então, influenciado pelo contexto e pelos liderados com quem se
relaciona.
Não existe, pois, nenhum estilo de liderança único e válido para todas as
situações e para todos os sujeitos e, será, consequentemente, importante
atender a três fatores: o líder (valores, convicções, confiança nos
subordinados, modo de liderar, etc.); o subordinado (gosto pelo trabalho,
receptividade ao líder, expectativa de participação nas decisões, experiência na
resolução de problemas, etc.); o contexto (a situação: tipo de empresa, valores,
diretrizes, objetivos, complexidade, organograma, etc.).
“A diferença entre o estilo eficaz e ineficaz não depende unicamente
do comportamento do líder, mas da adequação desses
comportamentos ao ambiente onde ele desempenha as suas
funções” (Fachada, 1998).
Não podemos, no entanto, esquecer que a liderança não se realiza em
isolamento. Para liderar é necessário que haja interação entre um elemento,
que será implícita ou explicitamente, o líder e outro(s) sujeito(s), o(s)
liderado(s). Mediante esta interação, a liderança pode ter dois tipos de
orientação, havendo a possibilidade de ser mais orientada para as pessoas ou
para as tarefas.
Quando a essência do líder está direcionada para as pessoas, existe
nele uma maior sensibilidade ás problemáticas dos outros. Atende às pessoas
como seres humanos e não como máquinas de trabalho. Existe uma
preocupação autêntica pelos elementos da equipe, quer relativa ao modo como
estes realizam as tarefas, quer relativa ao seu bem-estar e motivação. Como
consequência, há uma maior satisfação por parte dos liderados, que se traduz
numa melhor coesão grupal. Contudo, este estilo de liderança não origina um
aumento direto da produtividade, visto o objetivo estar mais orientado para os
sujeitos.
Quando a orientação do líder está mais direcionada para a tarefa, ou
para a produção, existe uma preocupação com a realização das atividades,
valorizando-se os resultados e os lucros, sempre com o objetivo de
desenvolver a organização. Há uma preocupação excessiva com as tarefas em
detrimento das pessoas que as executam. Isto pode provocar a diminuição da
coesão grupal e da satisfação dos liderados. Contudo, esta satisfação poderá
aumentar se o líder mostrar aos subordinados o que espera deles. Isto significa
que o efeito sobre a produtividade estará dependente do estilo de liderança
para a tarefa. Assim sendo, uma liderança autoritária terá consequências
negativas, ao passo que uma liderança diretiva e estruturada terá
consequências de produção mais positivas, no sentido que cada um sabe o
que se espera dele e isto não lhe é imposto de modo rígido e inflexível.
Da combinação destes dois estilos de liderança, resultam cinco
posições:
1. Gerência empobrecida: baixa orientação para a tarefa e baixa
orientação para as pessoas - Este tipo de líder deseja apenas
permanecer no sistema, reagindo o menos possível. Não contribui
significativamente para a organização. Planifica pouco. Adota uma
postura passiva, não se envolvendo demasiado nas situações,
reagindo com indiferença. Não contribui para a produtividade e
considera que, se algo correr mal, nada pode fazer para alterar a
situação. Evita o conflito para não defender pontos de vista,
mantendo-se indiferente. Ignora o erro dos colaboradores e reenvia-
lhes a totalidade da responsabilidade.
2. Clube Recreativo: alta orientação para as pessoas e baixa
orientação para as tarefas – O líder valoriza muito as atitudes e os
sentimentos dos seus subordinados, preocupando‐se com o que
estes pensam e querendo a aprovação destes. Por isso, apresenta
uma postura simpática e disponível, privilegiando, apenas, o convívio
e a boa disposição Não impõe a vontade própria aos outros,
acontecendo que cada um faz as tarefas que quer a um ritmo próprio.
Esta postura cria sérias dificuldades na obtenção dos objetivos de
produção, visto que este líder tem grande dificuldade em exigir algo
aos liderados. Não tem coragem de chamar a atenção para as falhas
cometidas. Como também não pretende um ambiente de conflito, as
tarefas são dificilmente realizadas. Este tipo de liderança provoca
também alguma insatisfação ou frustração nos liderados visto que
não são propostos novos desafios, as pessoas não se sentem
realizadas.
3. O homem organizacional: orientado de igual forma para as
pessoas e para as tarefas – O líder procura ter um bom
relacionamento com os seus subordinados, estando atento ao que
eles pensam. É importante, para este líder, ser positivamente
avaliado pelos colegas o que faz com que adapte como suas as
opiniões que lhe parecem mais acertadas e que interessam à
maioria. Em função desta apreciação positiva do grupo, o líder não
se expõe muito, tendo relações superficiais com os subordinados.
Procura envolver os liderados no trabalho, não exerce muita pressão
neles e só lhes exige o que eles permitem. Evita extremos. Planeja o
trabalho sem pormenor para promover a iniciativa, a autonomia e a
responsabilidade. Cedem alguns aspectos para obter vantagens em
outros.
4. Gerência: alta orientação para a tarefa e baixa orientação para as
pessoas – O líder quer ser dominador e poderoso, sendo o seu
objetivo vencer. É determinado e sente-se realizado quando atinge
níveis altos de produção, olhando somente para os resultados. Não
valoriza os esforços dos subordinados atribuindo‐ lhes culpas
quando surgem falhas no sistema. O seu relacionamento com os
subordinados rege-se pela autoridade. Este líder impõe a sua
vontade, mesmo que vá contra a vontade dos outros nunca confiando
nestes. Organiza condições de trabalho que reduzem os aspectos
afetivos de modo a impedir que os fatores humanos possam
prejudicar a eficácia.
5. Equipe: alta orientação para a tarefa e alta orientação para as
pessoas - O líder acredita na relação existente entre as
necessidades de produção da organização e as necessidades dos
indivíduos que trabalham essa organização, favorecendo o desejo de
auto-realização. Assim, adota uma postura de motivar os
subordinados, no sentido destes ambicionarem elevados padrões de
desempenho, promovendo também o trabalho em equipe e a
responsabilidade dos sujeitos em que tudo é partilhado (sucessos e
fracassos). Estabelece desafios às equipes com objetivos claros a
cumprir. Faz as pessoas participarem nas exigências da produção.
Reage às falhas e infrações, tirando daí ensinamentos procurando
compreender o responsável antes de puni-lo.
Em resumo, o estilo de liderança e a orientação adotada têm de estar
adaptadas a cada sujeito ou equipe e à tarefa em causa. Consoante as
diferentes tarefas, o mesmo indivíduo pode ter mais eficácia com estilos de
liderança também diferentes. Assim, “a liderança é mais arte do que ciência.
Nessa arte, o líder tem de aplicar a sua experiência e o seu bom senso para
decidir quando, como, e com quem deve usar cada um dos estilos”
(Estanqueiro, 1992). Percebe-se então, que uma liderança eficaz está atenta
às necessidades concretas das pessoas e à idiossincrasia do grupo.
3.1 Liderança Coaching
O que é Coaching?
É um relacionamento no qual uma pessoa se compromete a apoiar outra
a atingir um determinado resultado: seja ele o de adquirir competências e/ou
produzir uma mudança específica. Mas não significa um compromisso apenas
com os resultados, mas sim com a pessoa como um todo, seu
desenvolvimento e sua realização. Através do processo de Coaching, novas
competências surgem, tanto para o coach quanto para seu cliente.
Não estou falando só de competências técnicas ou capacidades
específicas, das quais um bom programa de treinamento poderia dar conta
perfeitamente. Coaching é mais do que treinamento, o coach permanece com a
pessoa até o momento em que ela atingir o resultado. É dar poder para que a
pessoa produza, para que suas intenções se transformem em ações que, por
sua vez, se traduzam em resultados.
Os papéis de Coach e de cliente
O termo inglês coach tem origem no mundo dos esportes e designa o
papel de treinador, preparador, "o técnico" como conhecemos. Devido às
distorções que os próprios técnicos fazem do real significado deste papel,
usarei o termo em inglês para evitar contaminações. E para enfatizar as
diferenças, chamarei de "cliente" a pessoa a quem o coach atende. É o coach
que dá suporte ao "cliente", serve ao cliente e não o contrário. Mesmo que seja
um líder apoiando pessoas do seu time, ele está a serviço do time e não o
inverso. Esta é uma das distorções a que me referi acima.
Coach também é confundido com conselheiro, mentor e guru. Apesar de
extremamente valiosos, nenhum destes papéis requer o compromisso de
apoiar pessoas a realizar metas. No papel de coach, este compromisso é
fundamental na medida em que o coach atua no campo do desempenho -
resultado e realização pessoal - e influencia no desenvolvimento de padrões
éticos, comportamentais e de excelência.
A Visão de Futuro
Na relação com o cliente, o coach deve: 1. Estimulá-lo a identificar seus
valores essenciais e a expressá-los, desenvolvendo uma postura de
integridade pessoal; 2. Desafiá-lo a "sonhar acordado", a criar para si mesmo
uma visão de futuro que o entusiasme e que utilize ao máximo a sua energia
criadora.
Isto é particularmente importante porque não é raro as pessoas
definirem suas metas para atender aos desejos e necessidades dos outros,
chefes ou familiares. Às vezes, a visão que o cliente tem do problema é a
própria fonte do problema. Por exemplo, um cliente muito viciado numa
determinada estratégia de negócio pode não perceber novas e melhores
estratégias. Coaching é uma relação dinâmica que permite romper antigos
paradigmas e estabelecer novas fronteiras.
Coaching é uma relação sólida, consciente.
É necessário que a relação entre coach e cliente seja de muita
confiança. Para isto é imprescindível que haja feedback constante entre os
dois, facilitando a compreensão mútua dos valores e a troca de experiências.
Esta prática de abertura, central em Coaching, abre espaço para um alto
padrão de desempenho. O coach incentiva o cliente a compreender todo
feedback que a experiência proporciona e a analisar a situação sob novas
perspectivas. Com seu feedback, o cliente amplia sua consciência e fortalece
sua autoestima.
Vivemos vitórias e realizações, mas também conhecemos a dor, os
fracassos e as frustrações. Tanto no sucesso como no fracasso, a autoilusão
atrapalha o aproveitamento da experiência, porque ela protege o ego. No
sucesso, a ilusão mais comum (porque doce) é a de que ele será eterno; no
fracasso, é o medo de que isto se torne um padrão e que a derrota seja
iminente. Os problemas de autoestima são fatais para o desempenho porque
favorecem a autoilusão. É mais confortável enganar-se do que enfrentar
críticas. Um cliente com baixa autoestima pode rejeitar o feedback do coach,
dificultando o avanço do processo.
Por outro lado, se o coach tiver tido um fracasso recente, ele pode iludir-
se e deixar que seus sentimentos de inveja em relação ao sucesso do cliente
possam comprometer os resultados. Especialmente se o cliente for
inexperiente ou pouco observador. Por isso, o coach precisa estar muito atento
à sua visão da realidade e à consistência de sua própria autoestima. Coaching
é aprender e desaprender. Se não pudermos desaprender, é muito difícil
sermos bons coaches ou clientes. Coaching é desenvolver um novo nível de
consciência.
Análise da trajetória ou a bagagem de mão
É extremamente importante que o coach e o cliente conheçam bem a
trajetória de realização um do outro. Conhecer as atitudes do outro, seus
valores, padrões de comportamento e principais sucessos e fracassos.
Conhecendo o cliente, o coach poderá ajudá-lo a identificar o gap entre a visão
de futuro dele e a sua situação e competências atuais. E, conhecendo o coach,
o cliente saberá usar melhor a sua experiência, sua bagagem.
A análise da trajetória não deve transformar o passado numa plataforma
para a visão de futuro, isto limitaria o futuro a ser uma extensão do passado.
Esta análise serve para identificar pontos fortes e fracos (de ambos) que
possam influir no desempenho futuro e que devem ser considerados no plano
de ação. Assim, facilita o sucesso do plano de ação e evita problemas
decorrentes da falta de planejamento.
Coaching é ação comprometida
Coaching é determinação, é a coragem necessária quando se tem
desafios a superar. As emoções são essenciais para construir uma ponte
vigorosa entre o coach e seu cliente, que sustente o percurso desde a intenção
até a realização. Sem emoção, não há envolvimento nem energia para a ação.
Alegria, determinação e, principalmente, confiança são as bases para um
relacionamento/projeto bem sucedido. Respeito, solidariedade e afeto tornam o
caminho mais suportável.
Mas, é preciso construir uma trilha clara para que estas emoções surtam
o efeito desejado. É preciso construir um plano de ação previamente acordado
entre coach e cliente para garantir o sucesso do projeto. Sem ele, o coach não
tem onde apoiar o seu compromisso. Entretanto, este plano não deve ser uma
camisa de força à qual os dois estão amarrados, e sim deve funcionar como
uma bússola, um esquema norteador na jornada que ambos estão
empreendendo.
A Liderança na organização
Coaching não é um processo novo, embora seja pouco disseminado nas
organizações. Uma das razões disto é o fato de ter sido transposto da casa
para a empresa sem os filtros ou adaptações necessários. Pior, com as
mesmas limitações com que é feito em casa. Gerentes podem confundir o
papel de coach com o de pai, tratando o outro profissional como o seu filho. O
contexto psicoemocional é diferente, agravado pela situação de poder
estabelecida, o que causa problemas para os dois lados. A outra razão é que
os benefícios do processo não ficam claros para todos. Por que as pessoas
deveriam dedicar-se ao desenvolvimento dos outros?
Porque Coaching é liderança refinada. Coach é líder, nem todo líder é
coach. Para ser coach, não precisa ser chefe do cliente, embora gerentes,
chefes e supervisores sejam os coaches mais prováveis, em função da
liderança que se espera que eles exerçam junto aos outros e não sobre os
outros. Os coaches ganham uma escola prática de liderança e
autoconhecimento que nenhuma formação acadêmica dá, os clientes ganham
suporte ao seu desenvolvimento e a organização ganha uma extraordinária
rede de formação contínua e compromisso com resultados. Pode haver algo
mais útil e econômico?
Liderança como habilidade de influenciar pessoas para trabalharem
entusiasticamente.
Potencializando as pessoas a serem melhores;
Facilitando a convivência no ambiente de trabalho;
Estabelecendo objetivos de bem comum;
Lideres verdadeiramente grandes, têm a capacidade de construir
relacionamentos saudáveis;
A liderança é uma qualidade que a pessoa pode apresentar em
diferentes graus, e não como algo que tem ou deixa de ter.
Liderança envolve: Poder ou autoridade?
Poder é a faculdade de forçar e coagir alguém a fazer sua vontade, por
causa de sua posição ou força, mesmo que a pessoa não prefira fazer;
Autoridade: Habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o
que você deseja, porque você pediu por sua influência pessoal.
Autoridade diz respeito a quem você è como pessoa.
Honestidade;
Bom exemplo;
Cuidado;
Confiança das pessoas;
Encoraja;
Atitude positiva;
Entusiásticas;
Bons ouvintes.
4. MOTIVAÇÃO NAS EQUIPES
A liderança deve também, a par das características anteriormente
referidas, preocupar-se com a motivação dos liderados. E a propósito da
motivação de uma equipe, vale a pena refletir sobre algumas técnicas e
princípios da motivação, que podem ajudar a impulsionar a produtividade e o
bom ambiente de uma equipe:
A aprendizagem cooperativa é percebida como mais
motivante e interessante do que a aprendizagem
individualista, que implica um maior nível de competição;
A organização flexível de um grupo aumenta a motivação
intrínseca do grupo;
As tarefas criativas aumentam o nível de motivação, por
oposição às repetitivas;
Conhecer as causas do êxito ou do fracasso de uma tarefa
aumenta a motivação;
O reconhecimento do sucesso, por parte do líder, é
bastante motivador;
O registro dos progressos aumenta a motivação intrínseca;
Começar a realizar uma tarefa pelas atividades mais fáceis
pode ser motivador porque faz com que êxito promova
êxito nas atividades seguintes;
Quando a tarefa é significativa para o sujeito, gera
motivação intrínseca. É, pois, importante que o sujeito se
identifique com a tarefa e que retire algum prazer dela;
O nível de estimulação dos sujeitos tem de ser doseado: se
a estimulação ou o desafio for reduzido, não há promoção
de mudança. Já se for um desafio excessivo pode levar a
sentimentos de frustração e de ansiedade. Há que dosear
o desafio com a competência do sujeito, para que o nível
motivacional seja adequado. Tarefas demasiado difíceis ou
demasiado fáceis geram desmotivação;
As mudanças moderadas ao nível da dificuldade e da
complexidade favorecem a motivação intrínseca. Já as
mudanças bruscas e repentinas têm o efeito contrário e
diminuem o nível motivacional do sujeito;
O líder que dá autonomia no trabalho promove a
motivação, o sucesso e a autoestima;
O ambiente que se desenvolve no contexto laboral poderá
se mais motivador se houver bom ambiente, otimismo e
confiança. A atmosfera interpessoal influencia o
desempenho;
É importante que a equipe conheça os objetivos que se
pretende alcançar;
Evitar a repreensão pública, o sarcasmo, as comparações
para ridicularizar, as tarefas em demasia, já que são
promotores de grande desmotivação;
Comunicar à equipe os resultados do seu trabalho já que
funcionam como um poderoso estímulo;
O líder deve mostrar interesse por cada elemento da
equipe, de um modo individual e de um modo mais global,
como elemento pertencente do grupo;
As estratégias operativas e participativas são mais
motivantes que as passivas;
A competição doseada pode ser um bom recurso à
motivação, quando usada como jogo de grupo, ou como
autodesafio consigo mesmo;
Há que atender às diferenças individuais na motivação,
sendo que uma estratégia pode ser muito eficaz com um
sujeito/grupo e muito pouco eficaz com outro. (adaptado do
site http://paginasprofessor.no.sapo.pt/tecnicas1.htm,
acessado em 04/08/2010).
É importante não esquecer que o trabalho em equipe tem a sua
especificidade e dificuldades muito próprias. É, por isso, fulcral, que se trabalhe
a motivação da equipe, para que assim se crie uma estrutura que permita
manter um nível de motivação que ajude a ultrapassar as dificuldades que
possam surgir.
5. ELOGIO E CRÍTICA: COMPETÊNCIAS DOS LÍDERES
O bom líder muda o estilo consoante, entre outras coisas, a competência
individual do liderado. Contudo, as competências do líder vão, também, no
sentido de dar feedback aos liderados. É deste modo que se torna necessário
elogiar os subordinados pelas tarefas realizadas com sucesso, pelas ideias
inovadoras que apresentam, bem como criticá-los de um modo assertivo,
objetivo e direcionado para o erro, para que percebam a razão da repreensão.
Assim, faz sentido que paremos um pouco para pensar no que consiste,
realmente, uma crítica e um elogio, qual o seu potencial para promover
mudanças, e que características devem ter. Será, igualmente, importante que
cada um faça uma introspecção, no sentido de perceber como lida com a
situação de elogio e de crítica, quer na postura de líder, quer na de liderado.
O elogio: Como disse Goethe, “Corrigir ajuda. Encorajar ajuda
ainda mais”. Será, pois, necessário que o líder esteja atento aos
seus subordinados para, deste modo, os poder incentivar
eficazmente. Deste modo, para que os outros mudem o seu
comportamento, é necessário atingi-los no ponto de motivação,
tornando interessante o objetivo a alcançar. Para reforçar a
motivação, pode também recorrer-se à pedagogia dos incentivos.
Todos sabemos como são necessários os estímulos positivos (os
elogios) e como eles são bem recebidos pelos destinatários. Será,
então, preciso ensinar primeiramente, para que o sujeito saiba o
que o líder pretende e qual o objetivo esperado de uma tarefa.
Deve-se, pois, explicar os fins a alcançar, de modo claro, para
que não restem dúvidas em relação ao pretendido. Será, também,
necessário encorajar os indivíduos à medida que se vão
aproximando da realização eficaz da tarefa. Sendo o elogio um
modo compensador de provocar satisfação imediata, não
podemos esquecer que todas as pessoas gostam de ser
elogiadas, mesmo as que têm elevada autoestima e segurança.
Quando o elogio vem de um superior hierárquico, obviamente, a
satisfação do sujeito aumenta, podendo aumentar também a sua
motivação e predisposição para a tarefa e, por consequência, o
seu nível de eficácia. Porém, o elogio não é somente positivo para
quem o recebe. Também quem o dá experimenta satisfação.
Como diz um provérbio chinês: “fica sempre um pouco de
perfume, nas mãos de quem oferece rosas” (in Estanqueiro,
1992). Elogiar será, então, um dever do líder.
Como elogiar?
De acordo com as características de algumas sociedades, que
aparecem como sendo mais facilmente críticas, há que trabalhar, um pouco, o
modo como o elogio deve acontecer, para que seja explícito e para que o
interlocutor o perceba, indubitavelmente. Deste modo, o bom elogio não pode
referir-se ao abstrato: deve ser dirigido a aspectos concretos e específicos –
uma qualidade, uma tarefa realizada, um objetivo alcançado, um esforço
coroado de êxito. O elogio pode também ser não verbal: um sorriso, um gesto,
uma aprovação. Contudo, o elogio verbal tem melhores resultados e é mais
bem compreendido pelo receptor. Deve então ser referido em formas rápidas:
Fiquei satisfeito com...; Quero felicitá-lo por...; Estou a gostar muito de...
Continue assim...; Parabéns por...
O elogio deve ser adequado à tarefa. Não deve ser desproporcionado,
ou exagerado, porque pode levar a uma interpretação errada, como por
exemplo, a ironia, a falsidade ou a hipocrisia.
Para além de concreto, o elogio deve também ser oportuno, ocorrendo
no momento em que a pessoa mais precisa. Deve ser dado no momento certo,
e não constantemente, para não cair na vulgaridade. Deve ser sincero e
honesto. Não deve ser interesseiro ou manipulador. O bom elogio serve para
dar satisfação ao outro, é desinteressado.
A crítica: Pode ser desagradável criticar alguém que se esforçou
por obter um resultado. Contudo, se não se criticar, corre-se o
risco de que o erro se repita, porque o sujeito irá pensar que tem
agido como é esperado.
A crítica pode, então, dividir-se em dois tipos: destrutiva e construtiva. A
destrutiva tem o objetivo de menosprezar o outro, mostrando a pseudo-
superioridade de quem crítica. Está-lhe subjacente uma atitude de avaliação,
utilizando frases do tipo: “Vê-se mesmo que você não percebe nada do
assunto, porque se percebesse nunca faria uma coisa destas.”; “Isso é
desleixo! Comigo, nunca tal aconteceria...”. Este tipo de intervenção tem
resultados bastante negativos, como o aumento da tensão entre as pessoas, o
aumento da agressividade, a elaboração de defesas para rejeitar a critica e
para não aceitar a opinião do crítico. Faz também com que as pessoas percam
toda a admiração por quem emite a crítica. É realmente um modo eficaz de
arranjar inimigos e conflitos.
No entanto, a crítica é dotada de uma outra faceta: construtiva.
Pretende-se que o receptor perceba que o resultado obtido não é o mais
desejado. Não deve, pois, colocar em causa a capacidade ou dedicação do
sujeito, apenas manifestar a discordância em relação à forma como foi
realizada a tarefa. A crítica construtiva inclui argumentação, questionamento
entre os dois elementos (crítico e criticado) para perceber porque surgiu o erro,
reflexão e até algum trabalho em conjunto para perceber o que está mal para
poder modificar.
A crítica ou repreensão adequada pode ser um meio de
desenvolvimento devido às características desafiadoras que traz consigo. As
repreensões têm função de travar o erro. O excesso de repreensão é bastante
ineficaz, sobretudo quando direcionado a pessoas pouco experientes ou pouco
confiantes.
Como criticar?
O bom líder sabe que o “objetivo essencial da repreensão não é
castigar, mas ajudar as pessoas a proceder melhor e a desenvolver a sua
autonomia” (Estanqueiro, 1992). Para isto será necessário criticar moderada e
delicadamente. A repreensão não deve ter como objetivo a humilhação ou o
insulto.
Um aspecto importante da crítica tem a ver com o fato de ela dever ser
feita em privado ou em público: enquanto que os elogios podem ser dados em
público, a repreensão deve ser sempre feita em particular, discretamente, de
modo que não seja presenciada por outros elementos do grupo. Não se deve
esquecer que mesmo que seja justa, a crítica deixa sempre um sabor amargo.
Há, no entanto, alguns autores que consideram que, por vezes, a crítica
em público pode ser eficaz. Por exemplo, quando um elemento da equipe tem
características de manipulação perante o grupo, a crítica em público pode
desconstruir essa manipulação. Contudo, pode haver um complexo reverso da
medalha. Nem sempre as pessoas recebem bem as críticas e, se esta for feita
em particular, será mais acessível o controlo da situação. A crítica em público
pode fazer com que o criticado tente criar alianças com outros elementos da
equipe enquanto recebe a crítica, ou pode mesmo levar ao descontrolo do
sujeito, que em público sentirá mais humilhação e mais necessidade de se
defender. É, pois, importante que conheça a pessoa que critica, para que saiba
qual poderá ser a priori, a sua reação. Imagine o que aconteceria se esta
pessoa tivesse uma reação explosiva e tentasse envergonhar o líder, em frente
ao grupo. Isto poderia promover um conflito de tal ordem, cuja gestão seria
quase impossível. A literatura aponta a crítica em privado como sendo quase
uma lei da Liderança, já que permite as premissas anteriormente referidas, de
reflexão conjunta, de questionamento e de compreensão do que é o objetivo. A
propósito de tudo isto, vale a pena citar parte de uma entrevista da Revista
Única do jornal Expresso (9/04/04), a Fernando Pinto (gestor da TAP):
Jornalista – “Ao gerir as pessoas, houve algum acontecimento que tenha
marcado a sua carreira”?
F. Pinto – “Sim. Um dia repreendi o encarregado mais antigo dos mecânicos na
frente deles. Embora o encarregado tivesse me dado razão, sentiu-se
humilhado perante os seus subordinados. Dei conta disso, e antes que ele
viesse falar comigo, no mesmo dia, reuni todos os que tinham estado presentes
e pedi desculpa ao mecânico e ao encarregado”.
Para criticar, o líder deve conhecer as características do subordinado,
bem como o estatuto que este goza face ao grupo. Deve avaliar-se sempre
muito bem a situação de crítica e não permitir que quem dirija a crítica seja os
impulsos espontâneos. A crítica deve ser refletida antes de comunicada.
É de extrema importância que se equilibre, na crítica, a dureza com o
erro e a assertividade para com a pessoa que cometeu o erro, equilibrando-se
a forma da crítica, com o seu conteúdo. O objetivo é levar a pessoa a sentir-se
mal relativamente ao erro, mas não relativamente a si mesma.
Alguns especialistas dizem que se deve começar a repreensão com um
elogio, por exemplo: “Gosto muito do seu trabalho, mas desta vez estou
desapontado por que...”. Contudo, mais importante será finalizar a repreensão
com uma manifestação de confiança na pessoa repreendida. Por exemplo:
“Estou aborrecido com a sua atitude na realização desta tarefa, penso que agiu
mal, por que... contudo confio em si e acredito que na próxima vez irá fazer
melhor”.
Tal como o elogio, a boa repreensão (a crítica construtiva) deve ser
concreta, (não generalizada) referida a um erro específico, sem englobar todas
as ações do indivíduo e muito menos os erros do passado mais distante. Sem
ter generalizações, que quase sempre são abusivas.
Também o comportamento não verbal pode ser bastante significativo na
repreensão: um olhar desaprovador ou o silêncio. Porém, a repreensão é mais
eficaz se for feita com palavras. Não será necessário “dar um sermão”, talvez
seja preferível falar pouco e durante pouco tempo, mas ser específico, claro e
objetivo: “Não gostei de...; Parece-me que errou em...; Da próxima vez deverá
estar mais atento a...; Você procedeu mal quando...”.
A crítica deverá ser oportuna, surgindo prontamente no momento do
erro. Se usarmos repreensões contínuas e pouco específicas, podemos
provocar no sujeito respostas que visam estratégias defensivas. Deverá,
igualmente, estar envolta de justiça. É, deste modo, importante examinar os
motivos do erro e escutar as explicações de quem errou. O mesmo tipo de erro
pode ter repreensões diferentes de acordo com as circunstâncias atenuantes
ou agravantes e mediante a maior ou menor responsabilidade do indivíduo. A
repreensão justa é proporcional à gravidade do erro cometido e à pessoa que o
cometeu. Uma pessoa inexperiente e insegura precisará mais de orientação e
apoio, do que de repreensão.
6. LÍDER OU LIDERADO
A liderança não é uma fase de desenvolvimento pessoal, nem uma
capacidade que todos tenhamos obrigatoriamente que atingir. O ser líder
depende muito dos objetivos de cada um e das condições que surgem. Nem
todos podemos ser líderes, visto que o líder depende também da existência de
um grupo que possa liderar. Se todos fossemos líderes, quem iríamos liderar?
Acontece muitas vezes, termos na nossa vida, o papel de subordinado, em que
estamos na posição mais baixa da relação vertical. Isto acontece,
normalmente, na relação com os pais, com os professores, com pessoas mais
velhas, etc. Será então, tão importante como o saber liderar, o saber ser
liderado.
A liderança não é um processo unidirecional, que dependa unicamente
da postura do líder. Há uma influência recíproca entre líder e liderados, há uma
relação entre o estilo que o líder adota para trabalhar com os colaboradores,
que depende muito das características da personalidade de ambos, bem como
fatores ambientais, entre muitas outras variáveis.
É importante perceber que o estilo de liderança está bastante
dependente da interação entre liderados e líder. O grupo pode utilizar
estratégias que levem à modificação do comportamento do líder. Através por
exemplo, de boicotes ao trabalho ou manipulação de comportamentos com os
colegas, ou da utilização de mau humor, pode provocar-se a alteração do estilo
de liderança. Há uma reciprocidade entre líder e subordinados, em que os
próprios liderados são influenciados pelo tipo de liderança, sendo que a
eficácia do seu trabalho, bem como as relações interpessoais na equipe,
dependem do estilo adaptado pelo líder. Assim, o líder influencia os liderados,
bem como os liderados influenciam o líder.
Os liderados têm, também, uma postura específica, no modo como lidam
com os colegas de trabalho. A relação com os pares acontece numa linha
horizontal, de igual para igual, podendo promover o tipo de liderança a que o
grupo se submete: colegas de trabalho em que predomine o mau humor, as
críticas constantes aos colegas e até o boicote ao trabalho promoverão com
certeza uma chefia diferente da que lidera um bom ambiente laboral.
Nesta fase é importante alguma concentração na postura e nas
competências de ser liderado, visto que nas relações profissionais e na entrada
no mercado de trabalho, raramente se começa por uma postura de chefia, mas
antes por ter de obedecer às diretrizes de um superior.
Assim, ao ser liderado deverá ter em atenção alguns aspectos:
Respeitar a posição hierárquica superior do líder, conforme o
organograma.
Cumprir as tarefas e funções, de modo responsável, sem se
preocupar com as tarefas dos outros.
Tentar resolver pequenos conflitos que possam surgir, sem recorrer
de imediato ao líder. Não esquecer que a disponibilidade do líder
pode ser pouca para ter ainda que se preocupar com pequenos
assuntos pessoais.
Ter uma ideia daquilo que os colegas e o líder pensam de si. Esta
ideia deve ser o mais realista possível.
Participar ativamente no trabalho de equipe, ser prestável e
procurar ser criativo.
Reformular uma intenção ou sugestão, se não tiver aceitação pela
maioria das pessoas.
Ser objetivo e claro no que quer dizer. O líder tem de dar atenção a
si e aos outros. Não lhe roube muito tempo, não exija
constantemente a atenção dele.
Ser receptivo à mudança. Se o líder considerar que é importante
modificar alguns aspectos para melhorar o ambiente, é importante
que encontre flexibilidade.
Questionar, sempre que tiver dúvidas que não consiga resolver por
si próprio.
Ser assertivo e nunca agressivo quer com os seus colegas, quer
com o líder. Pode‐se sempre manifestar uma opinião sem ofender
os outros.
Estar disponível para novas aprendizagens. À medida que se vai
subindo na carreira, é importante não perder a consciência de que
ainda há muito para aprender. Como diria Newton, o que sabemos
é uma gota de água no oceano: quanto mais se sabe, mais se
sente que ainda há muito para aprender. É imprescindível a
existência de motivação para fazer constantes aprendizagens ao
longo da vida.
Aprender com os outros e, com os sucessos e os erros dos outros.
Deste modo, para saber o que eles sabem, não têm que se
cometer os erros que eles cometeram. “Embora a experiência
possa ser importante, ela pode ser o pior dos professores: dá
primeiro o exame e só depois a lição. Primeiro comete‐se o erro e
só depois se aprende com ele” (Almeida, 1996).
Não desistir perante as adversidades: todos têm que ultrapassar
obstáculos e os nossos surgem-nos quase sempre como sendo os
maiores. Contudo, o efeito dos obstáculos nas pessoas depende
da atitude com que se enfrentam. Há sempre algo novo a retirar da
experiência de derrubar uma dificuldade. Aumentam‐se o
autoconhecimento e muitas vezes até nos surpreendemos a nós
mesmos. É importante retirar benefícios das adversidades, nem
que sejam as aprendizagens realizadas.
Ser pró‐ativo: é essencial que a pessoa não se acomode às
situações, procurando o desenvolvimento profissional que permita
melhorar competências. Não ficar à espera que os outros valorizem
o trabalho e que o reconheçam. Faz muito sentido que cada
pessoa trabalhe com o objetivo de sentir autorreconhecimento e
valor profissional e pessoal.
7. EFICÁCIA DA LIDERANÇA
A liderança, percebida como um processo dinâmico vem sofrendo
alterações e adaptações contextuais, sendo que será importante trabalhar
algumas das principais características que permitem a sua eficácia. Assim, um
líder pode ter inúmeras características: ser ativo ou passivo, ser assertivo ou
agressivo, interessado ou desinteressado, dominador ou negligente, etc.. Seja
ele como for, sabe-se com toda a certeza, que as suas características afetam
as relações com os liderados e, consequentemente, o desempenho destes nas
tarefas.
Já foi referido que existem diversas formas de liderança e, que cada
uma comporta diferentes vantagens e desvantagens, sendo que, em todos os
casos, a liderança é um processo de interação, onde existem vários
subsistemas envolvidos. Em consequência, como também já foi referido, o tipo
de liderança a utilizar varia, não só em função do líder, mas também dos
sujeitos liderados e do contexto.
De acordo com Rego e Cunha (2003: 328), o trabalho de um autor desta
temática, Jim Collins, “sugere que os líderes que efetivamente ancoram-se as
suas organizações para patamares de superior desempenho são os que
combinam elevada determinação com a humildade – os denominados líderes
de nível 5. (…) Às características mencionadas podem acrescentar-se a
atuação exemplar, a consistência entre palavras e atos, a lealdade, a
confiança, a integridade, o desejo de aprendizagem contínua. (…).
Essas qualidades (humildade + determinação) são postas à prova nas
situações difíceis. “É nestas que se testa o caráter dos homens e das mulheres
e é também nelas que nascem aqueles a quem chamamos líderes”.
Citando mais uma vez a entrevista do jornal Expresso, a Fernando Pinto,
o gestor refere que “o chefe lá em cima e os subordinados para atender ao
chefe é uma coisa que já não existe. Quando converso com os trabalhadores
aproveito sempre a oportunidade para mostrar como está a empresa, o que
estamos a planear, as dificuldades que enfrentamos. E converso também sobre
assuntos pessoais, sobre tudo o que é possível, eles são pessoas iguais a nós,
com experiências extremamente interessantes”. Refere ainda que “os
empregados têm que acreditar em nós e temos que mostrar trabalho. Foi isso
que fizemos, um trabalho quase de padre, a ensinar o Evangelho. Entretanto,
chegamos a uma etapa mais sofisticada, todas as semanas fazíamos
seminários com os trabalhadores, falávamos do mercado e mostrávamos as
dificuldades. Em paralelo, tive sempre encontros com os empregados, o que
era uma novidade, o que era uma novidade, porque nunca um gestor se tinha
aproximado para conversar diretamente com eles. Isso passou a ser uma
cultura dentro da empresa. Assim, em breve está prevista também a
apresentação dos resultados por sectores, durante vários dias e onde qualquer
um tem o direito de fazer as perguntas que quiser”.
Existem, então, alguns aspectos que devemos considerar no que diz
respeito ao comportamento de liderança eficaz. Estarão aqui algumas dicas
para refletir, ficando ao critério de cada um, utilizá-las e adaptá-las ao contexto
e às características idiossincráticas de cada grupo, em situações de liderança.
Estas são algumas das características comportamentais que deverão ser
tomadas em conta na interação com o grupo, enquanto coordenador:
Justiça: é fulcral que o líder seja justo. A falta de equidade dentro de um grupo
leva a sentimentos de descontentamento e desconfiança. Ser justo não
significa ser igual para todos, mas sim tratamento igual, em situações
semelhantes. O importante não é que o líder se considere justo visto que isso é
a sua própria perspectiva, mas antes que o grupo perceba o líder como tal.
Para alcançar este tipo de contexto (sempre que as suas ações forem no
sentido de premiar ou de punir) deve pensar-se, a priori, no melhor modo de
fazer com que os critérios selecionados sejam considerados equitativos ou
justos. Isto se torna bastante difícil de operacionalizar, visto que somos mais
benevolentes e compreensivos a analisar as nossas próprias falhas do que as
dos outros. A percepção de justiça é bastante enviesada e para que isto não
aconteça, será importante criar indicadores objetivos que justificam os critérios
de decisão.
Honestidade: é outra característica muito importante que consiste no líder ser
considerado uma pessoa de palavra, que ao prometer, cumpre. Sempre que se
criam expectativas no grupo, deve fazer-se tudo para que estas sejam
cumpridas. Para isto, será importante, antes de criar qualquer tipo de
expectativa, o líder certificar-se de que a possibilidade de satisfazê-las está em
suas mãos.
Modo como lida com as emoções: o comportamento do líder não deve
ser exageradamente racional. Há necessidade de emoções para que o grupo
esteja ativo e determinado. É fundamental saber entusiasmar e incentivar os
subordinados. Assim, é importante a empolgação pessoal do líder, que deve
exteriorizar as suas emoções, sobretudo as positivas, sendo que a
demonstração de sentimentos negativos deve ser mais ponderada e
preparada. Há que expressar emoções de um modo doseado, sem permitir que
aconteçam excessos que possam prejudicar a eficácia e o bom ambiente da
equipe.
Assertividade: a resolução dos conflitos e problemas com os elementos que
lidera deve ser feita de modo assertivo. A assertividade consiste na
verbalização honesta daquilo que sente, sem ser agressivo e sem magoar os
sentimentos do receptor, tendo em conta os direitos do próprio e do outro. A
resolução de conflitos deve fazer uso da área racional do líder. Isto não entra
em contradição com o que já foi dito sobre a utilização das emoções. Na
resolução dos problemas internos, aparece como mais adequada à utilização
da racionalidade, ao passo que, para unir o grupo, em situação de conflito com
o meio exterior a utilização das emoções pelo líder será uma estratégia mais
eficaz. Ainda relativamente à assertividade é, então, fundamental demonstrar a
opinião de um modo não agressivo. Mesmo que aconteça a situação de um
colaborador ser agressivo com o líder, este deverá responder assertivamente,
centrado na premissa de que comunicação gera comunicação. Poderão
manter-se assim as fronteiras necessárias é importante não esquecer o poder
da comunicação, e que o modo como se comunica gera no receptor, uma
resposta consonante com a do emissor. Tanto que, se a mensagem for emitida
de um modo agressivo, aumenta-se a probabilidade de que o receptor reaja no
mesmo tom do emissor. Já se o tom da mensagem for assertivo, a resposta
terá poucas probabilidades de ser agressiva. O líder “deve estar preparado
para ser contestado e para lidar com isso de uma forma não emocional. Deve
encarar todas as situações de possível conflito interpessoal como um desafio
ou problema a resolver, nunca como ameaça ao seu poder ou prestígio.”
(Almeida, 1996).
Quanto ao feedback, o líder tem funções de elogiar e de repreender. Há
algo importante a (re) salientar, que é dito pela literatura: “um líder nunca
repreende senão em privado e não perde uma oportunidade de elogiar
merecidamente, em publico” (Almeida, 1996). Na repreensão em público, corre-
se sempre o risco da crítica ser interpretada pelo receptor como uma
humilhação e isto muito dificilmente será esquecido. Contudo, esta é uma regra
que pode ter exceções e que cada líder deve adaptar às circunstâncias do
contexto.
É também essencial para a liderança o autoconhecimento. É importante
saber quais as mais-valias, bem como as limitações. Para isto, podemos
recorrer a estratégias como:
Autoreflexão: refletir acerca das próprias experiências, analisado
sucessos e fracassos, bem como causas e consequências;
Interação: interagir com familiares, amigos e colegas no sentido
de perceber como estes nos percebem. É um complemento à
autoreflexão, vista por perspectivas que são exteriores a si;
Disponibilidade para a aprendizagem: estar receptivo a novas
aprendizagens reavaliando convicções sem perder de vista os
próprios objetivos e prioridades;
Consistência: a liderança é o assumir o risco de um novo desafio.
Perante uma experiência é positivo explorar a capacidade de
realizar novas aprendizagens e analisar os próprios sentimentos.
Refletir acerca do que aconteceu e do papel assumido para a
resolução do problema.
Motivação: o líder deve saber motivar os seus colaboradores. Deverá ter, para
isso, a capacidade de criar uma visão que possa transformar-se em realidade e
que incentive as pessoas a mudar. Será, então, importante definir aquilo que se
pretende fazer, interagir com os colaboradores no sentido de construir um
projeto com que o grupo se identifique, incentivando-os a trabalhar nessa
direção.
Confiança: a confiança é a base da empatia. Gerar empatia impõe um esforço
para ouvir os outros, mostrando um interesse genuíno. Para isso poderá
demonstrar-se empatia através da transmissão explícita de reações às
propostas dos colaboradores, da reformulação do discurso da equipe à medida
que os elementos vão falando (de modo a certificar-se do conteúdo da
mensagem emitida), completando as sugestões com ideias próprias e,
compreendendo profundamente o ponto de vista dos liderados.
Transformar os desejos em ações concretas e definidas: a ação é
precedida de uma intenção. O líder deverá definir claramente aquilo que
pretende fazer e analisar as capacidades para a concretização. Deverão
antecipar-se dificuldades e criar-se projetos realistas que possam ser
concretizados. Para isto poderá definir-se uma linha orientadora que clarifique
o rumo a seguir, partilhando um pouco o pensamento estratégico.
Partilhar os méritos: mesmo que a ideia inicial seja do líder, será sempre
importante repartir os méritos com aqueles que se esforçaram. As pessoas
precisam saber que são reconhecidas e isso levará ao aumento da coesão do
grupo e da motivação para projetos futuros. Se as coisas correm bem,
partilham-se os méritos. Contudo, se algo corre mal será importante que, como
líder chama a si mesmo as responsabilidades. Em crise não há liderança
partilhada. Mais uma vez, esta não é uma regra sem exceção e pode haver
situações em que se sinta a necessidade de flexibilizá-la.
Existem também alguns desempenhos que são ineficazes na liderança.
A estes, será feita apenas uma breve referência, para a sensibilização de que
liderar não é um processo fácil e instintivo. Deste modo, um líder ineficaz, para
além de não cumprir as premissas que tem vindo a ser trabalhadas, apresenta
também:
Incapacidade para organizar detalhes: diz-se que o bom líder deve
unicamente preocupar-se com as grandes linhas de atuação. Isto não é
mais do que uma boa desculpa para não organizar meticulosamente as
tarefas.
Falta de disposição para fazer o que se pede aos outros para
fazerem: por vezes delega-se nos outros as tarefas menos motivadoras.
Colocando-se no lugar dos colaboradores, facilmente se percebe o
sentimento que isto provocará. A liderança pelo exemplo é essencial
para inspirar os colaboradores. Esta postura terá várias vantagens: é útil
como método de formação, visto que o colaborador, ao ver o líder
realizar algo que será posteriormente da sua responsabilidade, mais
facilmente aprenderá; realça a importância das atividades, visto que o
líder também as realiza; é um fator de motivação, pois se o líder realiza
aquela tarefa, isso não significa que a chefia se quer descartar de
realizá-la.
Expectativas de reconhecimento (pagamento) pelo que se sabe em vez
de pelo que se realiza: saber, por si só, não é condição suficiente para
realizar. É necessário demonstrar a sabedoria través da prática da
realização.
Medo da competição: o mundo das organizações é competitivo e, por
isso, há que entrar de modo correto nesta competição, sem tácticas
desleais, sem medo de lutar e levar avante os objetivos.
Ausência de criatividade: a criatividade pode surpreender os
colaboradores com novas soluções para os problemas. Muitas vezes, a
não criatividade do líder poderá estar ligada a não aceitação da
criatividade dos colaboradores com receio de que isto abale o ego do
líder que rejeitará as ideias que não sejam dele.
Síndrome do eu: é muito desmotivante, para uma equipe, ter um líder
que constantemente utiliza o “eu” em vez do “nós”. Por vezes o líder
utiliza o “eu” para se referir aos sucessos e, o “nós” para os fracassos. O
líder deve sempre atender ao fato de estar a trabalhar num coletivo de
que faz parte e onde é mais um do “nós”.
Excesso de confiança: o líder deve saber impor fronteiras. Não ser
respeitado significa abdicar das fontes de poder e, consequentemente,
deixar de ser líder. Há que conseguir criar um bom relacionamento com
os devidos distanciamentos entre superior /subordinado.
Deslealdade: um líder deve ser leal ao seu grupo e deve também
esperar reciprocidade. Deve, pois, evitar arranjar bodes expiatórios,
prometer e não cumprir, prejudicar os colaboradores, etc.
Estes são apenas alguns aspectos que se podem salientar acerca da
liderança. Combinados com algum bom senso poderão ajudar a uma liderança
eficaz. Contudo, é importante não esquecer os três fatores que mais
influenciam o processo de liderança: líder, subordinado e contexto. É
importante relembrar de que estes três fatores não existem isolados, pois estão
imersos num dinamismo interativo.
Resta, por fim, desejar boas lideranças e, que em situação de liderado,
saiba ser o subordinado que gostaria de ter, e que em situação de líder, saiba
ser o líder que gostava de ter quando foi liderado.
8. BIBLIOGRAFIA
Almeida, F. N: (1996). O Gestor: a arte de liderar. Lisboa: Edt. Presença.
Almeida, F. N. (1995). Psicologia para gestores – Comportamentos de sucesso
nas organizações. Lisboa. McGraw-Hill.
Dreyfus, Catherine (1980). Psicoterapia de grupo . Lisboa: Verbo.
Estanqueiro, António (1993). Saber lidar com as pessoas. Lisboa: Edt.
Presença.
Fachada, Odete (1998). Psicologia das relações interpessoais. Lisboa: Edições
Rumo, lda.
Fortuna, A. A. M.; Ferreira, V. C. P.; TACHIZAWA, Takeshy
Gomes, A.D., Cardoso, L. & Carvalho, C. (2000). Discurso de Liderança: o que
faz sentido faz-se. In Psychologica, 23, 7-36.
Lourenço, P.R. (2000). Liderança e eficácia: uma relação revisitada. In
Psychologica, 23, 119-130.
Masonneuve, Jean (1967). A dinâmica dos grupos. Lisboa: Livros do Brasil.
Pracana, Clara (2001).O líder sedutor . Lisboa: Climepsi Editores.
Rego, A. (1999) A comunicação nas organizações. Lisboa: Edições Sílabo.
Rego, A. (1998) Liderança nas organizações: teoria e prática. Universidade de
Aveiro
Saint-Exupèry, A (1940) O Principezinho. Lisboa: Edt. Aster.
ÉTICA E RELAÇÕES INTERPESSOAIS
Danielly da Paz Oliveira
TERESINA
2012
SUMÁRIO
1. Introdução 2. Necessidades interpessoais e processo grupal 3. A influência da personalidade nas relações interpessoais 4. Fatores estressantes no trabalho gerando conflitos 5. O papel da comunicação nas relações interpessoais 6. Ética: conceito e história 7. Ética Profissional e Deontologia 8. Bibliografia
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho,
pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui a outra.
Cada um que passa em nossa vida,
Passa sozinho,
Mas não vai só,
Nem nos deixa sós;
Leva um pouco de nós mesmos,
Deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
Mas há os que não levam nada;
Há os que deixam muito
Mas não há os que não deixam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossas vidas,
E a prova evidente de que duas almas
Não se encontram por acaso.
Antoine de Saint-Exupery
Nós não existe, mas é composto do Eu e Tu.
É uma fronteira sempre móvel
onde duas pessoas se encontram.
E quando há encontro, então eu me transformo,
e você também se transforma.
Frederick S. PERLS
INTRODUÇÃO
Conviver é “viver com”. Consiste em partilhar a vida, as atividades, com
os outros. Em todo grupo humano existe a necessidade de conviver, de estar
em relação com outros indivíduos. Além disso, a convivência é também
formativa, pois ajuda no processo de reflexão, interiorização pessoal e auto-
regulação do indivíduo.
O homem começa a ser pessoa quando é capaz de relacionar-se com
os outros, quando se torna capaz de dar e receber e deixa o egocentrismo dar
lugar ao alterocentrismo. A capacidade de estabelecer numerosas pontes de
relacionamento interpessoal é considerada pelos estudiosos do comportamento
como um dos principais sinais de maturidade psíquica.
Pelo fato de vivermos em sociedade, oferecemos aos outros uma
imagem de nós mesmos, assim como formamos conceito sobre cada uma das
pessoas que conhecemos, ou seja, cada um de nós tem um conceito das
pessoas que conhece e cada uma delas tem um conceito de nós. Assim como
depositamos em cada pessoa conhecida um capital de estima maior ou menor,
temos com ela também a nossa cota, de acordo com o nosso desempenho
pessoal e social.
De acordo com Fritzen (1998), a sociabilidade e a socialidade são as
duas formas básicas de estabelecer relação com o meio. A sociabilidade faz
parte da natureza humana: é a necessidade de comunicação ativa e passiva
que se manifesta no indivíduo desde o seu nascimento. A socialidade vai
depender das circunstâncias, do ambiente, no nível de participação da pessoa
em nível social.
Existem pessoas mais abertas e extrovertidas, que comunicam com
facilidade suas impressões e estão sempre dispostas a receber as mensagens
dos outros. São as pessoas que consideramos comunicativas e sociáveis.
Outras pessoas são mais tímidas e introvertidas, propensas a reações de
fechamento e de reserva, que sentem dificuldades na comunicação e podem
mostrar-se inseguros até mesmo diante de suas próprias possibilidades. Há
pessoas mais seletivas, que sentem dificuldade de extrapolar o círculo familiar,
restringindo suas relações a pessoas próximas e em número reduzido; assim
como existem pessoas que manifestam características de dominação, que
gostam de impor sua vontade aos demais.
Enfim, pondera Fritzen, os estilos e formas de sociabilidade variam muito
e também dependem das situações, sendo necessário, para a boa relação
interpessoal, certa disposição de ânimo e interesse pelo outro: ver e ser visto,
escutar e ser escutado, compreender e ser compreendido.
2. NECESSIDADES INTERPESSOAIS E PROCESSO GRUPAL
Um grupo é composto de pessoas, mas não equivale à soma dos
indivíduos, possuindo uma realidade distinta e características peculiares. Neste
são produzidos vários fenômenos psicossociais a partir de ações que os
favorecem. Participar de um grupo não significa ter as mesmas idéias, mas
participar de uma construção conjunta, consensual, pressupondo a
necessidade de abertura às idéias alheias e capacidade de aceitação.
Todo indivíduo chega a um grupo com necessidades interpessoais
específicas e identificadas, não consentindo em integrar-se até que certas
necessidades fundamentais são satisfeitas pelo grupo. Schutz (...) identifica
três necessidades interpessoais básicas para esse processo de integração:
necessidade de inclusão, de controle e de afeição.
A necessidade de inclusão define-se pela ansiedade experimentada
pelo membro novo de um grupo quanto a se sentir aceito, integrado, valorizado
por aqueles aos quais se junta. Esta é uma fase importante para estabelecer
confiança e sentimento de “pertencer”, resultando em aumento da estima e
confiança pessoal. Uma vez satisfeita esta necessidade de inclusão, a atenção
do indivíduo se dirige para a influência e o controle, consistindo na definição,
pelo próprio indivíduo, de suas responsabilidades no grupo e também as de
cada um dos que o formam, ou seja, sentir-se responsável por aquilo que
constitui o grupo, suas estruturas, suas atividades, seus objetivos, crescimento
e progresso. Satisfeitas as primeiras necessidades, de inclusão e controle, o
indivíduo confronta-se com as necessidades emocionais, de afeição, que
consiste em obter provas de ser valorizado, estimado e respeitado pelo grupo,
não apenas pelo que tem a oferecer, mas pelo que é, como ser humano.
2.1 A DINÂMICA DOS GRUPOS1
O grupo se caracteriza pela reunião de um número variável de pessoas
com um determinado objetivo, compartilhado pelos seus membros, que podem
desempenhar diferentes papéis para a execução desse objetivo. No campo
teórico pode-se definir o grupo como um todo dinâmico, o que significa que ele
é mais que a soma de seus membros, e que a mudança no estado de qualquer
sub-parte modifica o grupo como um todo.
Em nossa sociedade as pessoas vivem em campos institucionalizados e,
em alguns casos, a institucionalização nos obriga a conviver com pessoas que
não escolhemos. Essa forma de convívio que independe de nossa escolha é
chamada de solidariedade mecânica, e o convívio escolhido é chamado de
solidariedade orgânica.
Quando um grupo de estabelece, os fenômenos grupais passam a atuar
sobre as pessoas individualmente e sobre o grupo, ao que chamamos de
processo grupal. A fidelidade de seus membros, o grau de aderência às regras
de manutenção do grupo, é chamada de coesão grupal. Grupos com baixo
grau de coesão tendem a se dissolver.
Os motivos individuais são importantes para a adesão ao grupo, mas as
diferenças individuais serão admitidas desde que não interfiram nos objetivos
centrais do grupo ou suas características básicas. Os objetivos do grupo irão
sempre prevalecer aos motivos individuais e, quanto mais o grupo precisar
garantir sua coesão, mais ele impedirá manifestações individuais que não
estejam de acordo com seus objetivos.
Para Minicucci o aprendizado do trabalho social de grupo é a primeira
meta do trabalho grupal. O indivíduo tem de experimentar, errar, aprender, até
que se comporte adequadamente e, para atingir esse desenvolvimento, conta
com a colaboração dos outros.
1 Compilado de MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de Grupo – teorias e sistemas e BOCK, Ana Maria et alii.
Psicologias.
2.1.1 Tipos de grupos
Alguns tipos de grupos podem ser caracterizados, de acordo com os
objetivos de seus membros:
2.1.2 Grupo de Treinamento
Tem como características:
Ênfase no aprimoramento das habilidades
Assunto de discussão não definido
É um processo de desenvolvimento
Visa à aprendizagem
De maneira geral, um grupo de treinamento ou desenvolvimento visa
auxiliar seus participantes a imprimir mudanças construtivas em seu “eu” social,
através da análise das experiências presentes e imediatas.
2.1.3 Grupo de Terapia
Tem como características:
Ênfase no trabalho interior
Membros com problemas de comportamento
Razões íntimas que analisam por que a pessoa age de certa
maneira
Análise do porquê os problemas íntimos tolhem a atuação do
indivíduo em grupo.
O grupo de terapia trabalha com indivíduos com problemas de
ajustamento, levando-os a descobrir seu “eu” íntimo e trabalhando com aqueles
problemas que inibem o comportamento normal do indivíduo em grupo.
2.1.4 Grupo de aprendizagem
É motivado pela necessidade de aprender com os demais, de partilhar
com os outros nossas idéias, sentimentos, de conseguir melhor entrosamento
com as pessoas e com o mundo que nos rodeia. Objetivo = superação
individual. Ex: grupos de estudo, grupos de análise etc.
2.1.5 Grupo de ação
Nasce da necessidade de colaboração com os outros nas decisões e no
planejamento de certos tipos de trabalho que não podem ser executados
individualmente. Objetivo = produtividade coletiva. Ex: grupos de mutirão,
campanhas humanitárias etc.
De modo geral, os indivíduos entram em determinado grupo para
satisfazer a duas classes básicas de necessidade: de aprender e de atuar com
os outros. Embora haja predominância de uma ou outra necessidade, não é
possível falar em grupos puros, seja de aprendizagem, seja de ação.
2.1.6 Grupo Operativo
Pichon-Rivière desenvolveu uma abordagem de trabalho em grupo
denominada “grupos operativos”. Esse tipo de grupo caracteriza-se por estar
centrado de forma explícita em uma tarefa específica. O grupo operativo
configura-se como um modo de intervenção, organização e resolução de
problemas grupais.
A técnica operatória (operativa) nasce, assim, para instrumentar a ação
grupal e caracteriza-se por estar centralizada na tarefa. O conjunto de
integrantes do grupo aborda as dificuldades que se apresentam em cada
momento da tarefa, logrando situações de esclarecimento. Sejam quais foram
os objetivos propostos aos grupos (diagnóstico institucional, aprendizagem,
planificação, criação etc), a finalidade é que seus integrantes aprendam a
pensar em uma co-participação do objeto do conhecimento, entendendo que
pensamento e conhecimento não são fatos individuais, mas produções sociais
2.1.7 Grupo de Trabalho ou de Tarefa
Tem como características:
Ênfase na tarefa
Visa à solução de problemas
Preocupa-se com a execução
Tem objetivos e metas finais definidos
Um grupo de treinamento visa mudar as maneiras de agir, os processos,
a prática de seus membros, nunca realizar uma tarefa predeterminada, com
objetivos estabelecidos e com a perspectiva de uma execução.
Quando se fala de grupo de trabalho ou de tarefa, se refere a grupos
pequenos e restritos, destinados a resolver problemas ou a executar tarefas.
Há neste tipo de grupo comportamentos, atitudes, interações e motivações
funcionais que o distinguem do grupo de formação. Para que o grupo funcione
com a competência necessária para executar a tarefa, é preciso que seus
elementos atinjam um mínimo de maturidade social, aptidão que os leve a se
integrarem e capacidade de desenvolver comportamentos de lealdade para
com seus companheiros de equipe.
Segundo Spector (2002), um grupo de trabalho é a união de duas ou
mais pessoas que interagem umas com as outras e dividem algumas tarefas,
visando objetivos interrelacionados. O conceito de papel subentende que nem
todas as pessoas em um grupo têm a mesma função ou propósito; seus
encargos e responsabilidades são diferentes.
Os papéis começam a ser delineados no grupo com a distribuição de
tarefas e a assunção de papéis informais. Os papéis acentuam-se
principalmente quando o indivíduo não é aceito pelo grupo, e utiliza mecanismo
de regressão (agressivo, colaborador, mimado, chorão, resmungão, retardado,
sonolento). À medida que esses papéis forem se diluindo com a interação, a
atividade se dirigirá cada vez mais para a tarefa.
Quando se verifica a aceitação incondicional, recíproca e individual pelo
líder, o grupo começa a integrar-se e aparecem os chamados papéis sociais
(reforçador, mediador, informador, opinador). O líder, oportunamente, exercerá
cada um desses papéis e dará oportunidade para que cada um possa também
desempenhá-los, estabelecendo um clima de grupo cooperativo e solidário.
Quaisquer que sejam os objetivos do grupo, ele não deve ser
considerado um organismo fechado em si, pois está inserido em um contexto
social com o qual mantém ligações. O grupo nunca pode esquecer a
comunidade à qual está ligado, pois ela condiciona seu funcionamento e traça
parte de suas características.
Existe uma crença sobre o desempenho do grupo ser superior ao
individual em muitas tarefas, crença essa baseada na noção de que algo surge
da interação entre as pessoas, possibilitando que o grupo seja melhor do que a
soma de seus membros.
2.1.8 Crescimento do grupo
O desenvolvimento de um grupo de tarefa passa por fases em sua meta
de integração, que acontece quando se constitui num todo (gestalt) na união de
seus elementos. Há três fases a serem consideradas:
1. Individualista – no início os elementos do grupo tendem a se auto-
afirmar como indivíduos, como decorrência da necessidade de
aceitação. Quando as pessoas se conhecem melhor, passam a
aceitar-se reciprocamente.
2. Identificação – nesta etapa o grupo começa a fragmentar-se em
subgrupos, que surgem essencialmente nos momentos de decisão,
reunindo pessoas que compartilham idéias, apreensões, etc.
3. Integração – quando os indivíduos se sentirem aceitos e tiverem
certeza de que suas decisões serão levadas em consideração, o
grupo começará a integrar-se, sendo alguns critérios são altamente
significativos para a integração: a) Comunicação autêntica – quando
os membros já estabeleceram uma linguagem comum. A
comunicação hierarquizada, de subordinação, cria no grupo
bloqueios e filtragens, gerando mal-entendidos, conflitos de
prestígio, decorrendo daí uma integração artificial e comprometida.
b) Alto grau de coesão – o grupo se torna coeso quando os
elementos estão capacitados a participar integralmente das
atividades do grupo, surgindo o sentimento de “pertencer a”.
Quando o grupo desenvolve uma comunicação espontânea e adquire
coesão, ele se torna de tal forma solidário em função da tarefa que a entrada
ou saída de um elemento não alteram e não ameaçam a integridade do grupo.
A coesão expressa um sentimento de responsabilidade de grupo e amizade e
entre os membros. As normas são mais observadas e fiscalizadas em grupos
informais, e as pressões referentes às normas tendem a produzir acordo.
2.1.9 Grupos nas empresas
Dentro de uma organização, é a divisão do trabalho basicamente
responsável pela formação de grupos. Entre as características básicas do
grupo encontram-se metas, coesão, normas e acordo. A meta principal e formal
do grupo será derivada de metas formais da organização; a participação no
delineamento das dessas metas resulta em aumento de motivação.
a) Normas – regras informais ou padrões de conduta segundo
os quais o grupo se desenvolve e aos quais se espera que
os membros adiram.
b) Grupos formais – são os criados pela organização formal.
Podem ser permanentes ou temporários.
c) Grupos informais – surgem espontaneamente. Podem ser
verticais ou horizontais. Os verticais são alianças
recíprocas entre pessoas formalmente desiguais e os
horizontais cruzam as linhas departamentais.
As normas são regras de comportamento informais aceitas pelos
membros de um grupo de trabalho, podendo englobar desde a vestimenta até a
forma de falar e se comportar na organização. As normas podem ter grande
influência no comportamento individual, e a determinação de objetivos é uma
boa forma de fazer com que os grupos adotem normas consistentes com o
bom funcionamento da organização.
O líder deve contrabalançar as exigências da tarefa e o apelo das
necessidades interpessoais. Neste conflito, convém distinguir as pressões para
a conformidade e a uniformidade. É importante a atuação de um líder
catalisador com elevada capacidade de coordenação das atividades do grupo,
que deve ser capaz de sensibilizar os membros para as exigências da tarefa e
fazer sentir a necessidade e primazia destas sobre a satisfação das
necessidades interpessoais.
Sempre que um grupo diverso de pessoa se reúne para trabalhar em
equipe, suas idéias sobre como realizar o trabalho serão diferentes.
Provavelmente haverá conflito. Para a maioria das pessoas o conflito não é
uma experiência positiva, porque se sentem incomodadas, mas não deveria ser
assim. Quando as pessoas compreendem que é possível transformar o conflito
em oportunidade, o trabalho não é interrompido, mas é necessário que exista
cooperação e confiança entre os membros do grupo para que a energia
resultante do conflito gere bons resultados. Quando os membros da equipe
confiam uns nos outros, o conflito torna-se uma oportunidade para estimular
novos pensamentos e idéias criativas.
Segundo Weil e Tompakow (1997), o indivíduo no grupo sempre
influencia e é influenciado, não só pelas palavras ditas oralmente, mas também
pelas palavras não ditas, traduzidas em gestos e posturas de aprovação e
desaprovação, de acolhimento e aceitação ou de rejeição e indiferença. O
homem é um ser altamente perceptivo e certamente percebe os seus
semelhantes em atitudes favoráveis e desfavoráveis à sua pessoa também
pela linguagem do corpo.
Está aí parte da explicação das causas de simpatia e antipatia que
sentimos diante de novas relações humanas. Quando a linguagem do corpo de
alguém nos transmite conflito com os nossos interesses, sentimos a
desarmonia ao nosso redor, e isso nos impele a adotar uma postura rígida, a
nos isolarmos dentro do grupo, ou a manifestarmos desaprovação e
agressividade, entre outras reações. A reação de cada indivíduo em um
contexto desfavorável – seja no meio social ou de trabalho – vai ser fortemente
influenciada pela sua forma de “ser” no mundo, ou seja, por suas
características de personalidade.
Na opinião de Maggin (1996), o relacionamento com as outras pessoas
tem uma grande influência na nossa personalidade. Permutamos imagens
significativas com os outros, e de todos eles tiramos idéias comuns que
também unificam nossas ações. As relações interpessoais constituem a
medula da vida. Elas formam e mantêm a nossa identidade pessoal. O “eu”
toma consciência de si mesmo, de sua identidade original pelo apelo do outro,
e a rede de comunicações tecida com os outros nos leva a desenvolver as
nossas potencialidade por toda a vida.
3. A INFLUÊNCIA DA PERSONALIDADE NAS RELAÇÕES
INTERPESSOAIS
O vocábulo personalidade se origina de persona ou personare, que na
língua latina siginficava “soar através”, expressão que se referia à máscara que
os atores do antigo teatro grego utilizavam para caracterizar as personagens
que representavam. Assim, no senso comum, permanece a idéia de que
personalidade é aquilo que é refletido, que é mostrado por meio dos papéis
sociais que as pessoas desempenham.
Uma definição hoje amplamente aceita de personalidade é como um
conjunto de traços e características singulares, típicas de uma pessoa, que a
distinguem das demais. Esse conjunto abrange, necessariamente, a
constituição física, alicerçada nas disposições hereditárias, os modos de
interação do indivíduo com o mundo; seus hábitos, valoes e capacidades; suas
aspirações; seus modos experimentar afetos e de se comportar em sociedade
e maneira peculiar de lidar com o mundo, incluindo as defesas para se proteger
das pressões e ajustamento ao contexto social, constituindo um estilo de vida
próprio.
Assim sendo, a personalidade diz respeito à totalidade daquilo que
somos, não apenas hoje, mas do que fomes e do que aspiramos ser no futuro.
Implica, também, que esse modo de ser só pode ser entendido dentro de um
contexto sócio-histórico, geográfico e cultural. Concebida como o conjunto de
traços psicológicos com propriedades particulares, relativamente permanentes
e organizados de forma própria, a personalidade se revela na interação do
indivíduo com o meio.
Cada pessoa tem um padrão único de características de personalidade,
existindo uma consistência psicológica que perdurará, permitindo uma
identificação e uma organização de traços psicológicos que interagem entre si.
A caracterização da personalidade é uma inferência do comportamento
observável. Uma característica de personalidade é a predisposição ou
tendência de uma pessoa se comportar de determinado modo em situações
diferentes. As características de personalidade podem ser importantes porque
certas classes de comportamento são relevantes para o desempenho no
trabalho e outras para as organizações.
O comportamento do indivíduo resulta de uma interação de suas
características psicológicas (forma própria de organização) com o meio
externo, observando-se que determinados traços psicológicos de um indivíduo
mostram-se mais relevantes em situações específicas, e que a organização
desses traços pode ser modificada na interação com o meio.
Cada indivíduo possui diferentes traços que predominam em
determinadas situações, o que faz ressaltar a importância do contexto social no
qual este está inserido, considerando, ainda, que alguns traços são
considerados positivos ou negativos conforme o seu grupo social. As próprias
características psicológicas do indivíduo podem ser modificadas e
desenvolvidas, conforme influência do meio.
A maioria das pessoas tem uma “teoria implícita” a respeito da
personalidade humana, isto é, um conjunto de crenças e inferências acerca da
personalidade dos outros. Em geral, a partir de um traço atribuído, faz-se
inferência de muitos outros, sem qualquer informação a respeito. Por exemplo,
ao inferir que uma pessoa é inteligente, possivelmente outros atributos como
“competente”, “criativo”, “eficiente” e outros traços não necessariamente
relacionados serão atribuídos ao indivíduo. Essa tendência de alastrar a
positividade ou negatividade é chamada pelos estudiosos de efeito de halo.
Supõe-se que as categorias que compõem a teoria implícita da
personalidade se formam em função das características que cada um julga
importantes, estando implicada neste caso a questão da complexidade
cognitiva. Ou seja, quanto mais maduro e complexo o indivíduo, ou mais
sofisticado cognitivamente, possivelmente mais apto estará para apreciar as
muitas dimensões e paradoxos da personalidade individual.
A teoria implícita da personalidade pode ser constatada pela existência
de idéias largamente compartilhadas a respeito de grupos étnicos (negros,
índios, japoneses etc), grupos profissionais (advogados, médicos etc) ou outros
tipos de grupos. Trata-se de uma supergeneralização de uma característica
para toda uma categoria ou grupo de pessoas, provavelmente vinculada aos
sistemas de crenças e valores dominantes, denominada estereótipo. Em se
tratando de uma generalização, o estereótipo se constitui em uma grande fonte
de erros na percepção social, utilizado, no entanto, por muitas pessoas para
perceber as outras.
Embora relativamente estável, a personalidade sofre a influência e
interage com o meio, podendo os traços psicológicos ser desenvolvidos,
reorganizados e modificados a partir do contexto em que vive o indivíduo. O
meio pode favorecer ou impedir o ajustamento emocional das pessoas,
podendo-se distinguir três tipos principais de barreiras ao ajustamento do
indivíduo:
Situacionais: impedimentos/obstáculos que dificultam a
ação do indivíduo em dado momento/contexto.
Interpessoais: obstáculos/impedimentos criados por
pessoa(as) ao desenvolvimento de uma ação do indivíduo.
Intrapessoais: podem estar relacionados a uma condição
física (deficiência, p. ex.) ou a um conflito pessoal que o
indivíduo esteja experimentando.
As condições que produzem frustração combinam motivos e desejos
em direção a um objetivo, com incapacidade de perceber os meios para
alcançar os objetivos. As reações psicológicas às frustrações são geralmente
manifestadas por raiva e agressividade. O medo e a ansiedade são também
reações à situação de frustração, e provocam um outro tipo de dificuldade: o
indivíduo sente que sua integridade psicológica, auto-estima e competência
estão em risco e canaliza suas energias para se proteger. Ocorre neste caso,
segundo Freud, a elaboração inconsciente de formas de diminuição da
ansiedade, chamadas por ele de mecanismos de defesa. Quando a situação de
estresse é muito intensa, os mecanismos de defesa não conseguem operar e o
indivíduo e levado ao desajustamento e até mesmo a um colapso psicológico.
As características de personalidade dos membros da organização
também influenciam a estrutura da organização, tanto mais fortemente quanto
a posição que esses indivíduos ocupem na hierarquia organizacional. De
acordo com Merton, citado por Aguiar (1981), as organizações com estrutura
burocrática exercem uma constante pressão para tornar seus membros
metódicos e disciplinados, exigindo alto grau de conformidade com os padrões
de comportamento estabelecidos, observando-se o desenvolvimento de
características conformistas desses indivíduos: os indivíduos mais
comprometidos com o poder e o status conformam-se mais, pois seus valores
e motivos básicos os levam a adaptar seus sentimentos, pensamentos e ações
às demandas do contexto social.
A influência da estrutura organizacional sobre a personalidade dos
indivíduos será maior ou menor, dependendo de suas próprias características
de personalidade, sendo o impacto das forças da estrutura social na
personalidade menos significativo quando os indivíduos centram seus objetivos
e valores individuais na independência intelectual, auto-realização e liberdade
pessoal. Essas forças internas, que emanam da personalidade, representam a
tentativa do indivíduo para estruturar sua realidade social e definir dentro dela o
seu lugar.
4. FATORES ESTRESSANTES DO TRABALHO GERANDO CONFLITOS
Muitas condições diferentes no trabalho podem ser indicadas como
fatores estressantes, porém algumas delas são destacadas, como a
ambigüidade e conflito de papéis. A ambigüidade do papel indica até que ponto
os funcionários têm certeza sobre quais são suas funções e responsabilidades
no trabalho, e o conflito de papel surge quando a pessoa experimenta uma
incompatibilidade quanto às demandas do trabalho ou entre o trabalho e outros
aspectos de sua vida. Resultados de pesquisas feitas sobre esses fatores
mostraram que eles estavam associados a baixos níveis de satisfação no
trabalho e altos níveis de ansiedade/tensão.
Spector (2002) utiliza o termo estafa para se referir à situação de
desgaste psicológico que um funcionário pode experimentar, envolvendo baixa
motivação, depressão e pouca energia e entusiasmo no desempenho das
funções, o que ocorre com freqüência com funcionários em trabalho intenso
com outras pessoas. Essa exaustão emocional, um sentimento de cansaço e
fadiga no trabalho, que pode evoluir para indiferença e hostilidade com relação
aos outros, e baixa motivação e baixo desempenho, basicamente corresponde
ao que hoje é conhecido como burnout.
A maioria das pessoas aprendeu a reconhecer os períodos de estresse
apenas por desagradáveis sintomas físicos ou por um comportamento difícil de
explicar. Quando a tensão ou estresse se acumula e persiste por um longo
período, tem-se a sensação desagradável de estar “sob pressão”. As pessoas
geralmente tornam-se irritadiças, contraproducentes, perturbando-se com
coisas que geralmente não causavam incômodo (a “gota d”água”),
desequilibrando-se com coisas que “não dão certo”, e frequentemente
culpando os outros pelos próprios erros.
Powell alerta que o desgaste interior da tensão prolongada é
humanamente destrutivo, porque nossas emoções se tornam demasiadamente
ativas e nosso sistema de imunização, sob tensão, se desliga, ocasionando a
doença. A tensão excessiva faz com que a realidade apareça distorcida para
nós, levando-nos a dizer coisas que não gostaríamos e a interpretar mal a
intenção dos outros.
O desempenho no trabalho está fundamentalmente ligado ao sistema de
comunicação nele existente. A administração moderna, de fato, privilegia a
comunicação como um dos fatores mais importantes para o bom andamento de
uma organização. A intercomunicação de idéias, sugestões, sentimentos,
anseios e expectativas cria um ambiente favorável de influências recíprocas,
neutraliza resistências prejudiciais ao bom andamento do serviço, evita as
distorções dos fatos, tão freqüentes em estruturas empresariais rigidamente
diretivas e, enfim, gera um clima saudável de crescimento de todo o pessoal da
empresa. Se houver no trabalho um clima de desconfiança, de insegurança e
de hostilidade, o fluxo de informações e de influências fica bloqueado.
Nos ambientes de difícil diálogo iniciam-se os desacertos dos modelos
de mudança, os conflitos e as resistências característicos da cultura da
organização. As pessoas evitam conversar sobre erros e problemas, preferem
não ouvir críticas, tornando os processos, em sua maioria, traumáticos.
Aumenta a ocorrência das doenças emocionais decorrentes da vivência
intensiva do estresse e da insatisfação, que conseqüentemente resultam em
baixa qualidade de vida.
5. O PAPEL DA COMUNICAÇÃO NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
O mistério que é você e o mistério
que sou eu nunca existiram antes.
Jamais existirá alguém exatamente
como você ou como eu(...)
E só você pode partilhar seu mistério
e talento comigo.
O tesouro de minha singularidade é
meu para doar ou recusar.2
A comunicação entre dois seres humanos, acentuam Powell e Brady
(1995), é reconhecidamente difícil. Quando nos comunicamos, partilhamos
alguma coisa, tornando essa coisa posse comum. Por meio da comunicação
relacional humana, o que obtemos como posse comum somos nós mesmos,
pois pelo ato de partilhar ou comunicar, conhecemos e somos conhecidos.
2 Jonh Powell e Loretta Brady, em Arrancar Máscaras! Abandonar Papéis.
Existir, dizem os autores, é viver em relação, por isso a qualidade da nossa
existência humana depende de nossos relacionamentos.
Comunicação é, antes de tudo, interação, diálogo, tornar comum. Não
pode ser confundida com a simples transmissão unilateral de informações. A
comunicação humana só existe quando se estabelece entre duas ou mais
pessoas um contato psicológico, e há bloqueio quanto a mensagem não é
captada e a comunicação interrompida, sendo um dos problemas básicos em
comunicação a diferença de significado entre uma o que foi captado de uma
mensagem e o que o transmissor quis exatamente transmitir.
Quase todos os aspectos das relações humanas e interpessoais
envolvem comunicação, e esta influencia os nossos comportamentos, por ser
um veículo de significados. Em um grupo, cada indivíduo concede significados
próprios aos fatos e, ao expressá-los, acrescenta algo de si, por isso o
significados que damos às nossas experiências são alterados, enriquecidos ou
empobrecidos pela comunicação.
Normalmente ouvimos apenas o que queremos, e “filtramos” as
comunicações que entram em conflito com hábitos, costumes e idéias
arraigados. A distorção na comunicação se dá também em razão da forma
como avaliamos a fonte emissora, o nível de confiança que temos nela. Outras
causas de distorção podem originar-se da forma como percebemos os fatos, as
pessoas e os estímulos, bem como da emoção que estamos experimentando
no momento de receber a mensagem.
De acordo com Minicucci, há frequentemente, um conteúdo não-
manifesto em muitas comunicações, que precisamos ter a sensibilidade de
entender. Há um conteúdo informativo, lógico, manifesto numa comunicação e
um conteúdo latente, afetivo, emocional, psicológico. As comunicações face a
face são superiores às escritas, porque dá oportunidade para perceber além da
mensagem, e a interrelação torna-se mais completa.
O processo de comunicação pode ser definido de uma forma mais
simplificada como uma atividade humana caracterizada pela transmissão e
recepção de informações entre pessoas ou, ainda, como o modo pelo qual se
constroem e se decodificam significados a partir das trocas de informações
geradas. Em ambos, o processo de comunicação sinaliza, ao mesmo tempo,
um comportamento instrumental e uma atividade simbólica resultante da
interação social.
Dessa definição decorre um aspecto essencial: só há um processo de
comunicação quando de alguma forma o conteúdo da mensagem é
interpretado pelo receptor, ou seja, quando é observada uma resposta ao efeito
da mensagem. Enviar uma carta ou deixar uma mensagem num gravador de
chamadas não é comunicar, mas sim transmitir informação. Assim, "só haverá
comunicação se, de alguma forma, o receptor indicar ao emissor que recebeu a
informação que lhe foi enviada, e isso só ocorre pelo envio de informação em
retorno (feedback)" .
A descrição clássica do processo de comunicação define um emissor
ativo e um receptor passivo integrantes de um processo intencional que tem
como objetivo persuadir através de seu conteúdo. Esse modelo clássico,
centralizado no emissor e na relação estímulo-resposta, é perceptível no
tratamento dado às comunicações nas organizações. Ele pode ser verificado
na medida em que o processo de comunicação fica limitado à sua utilidade
persuasiva, como se tivesse função de persuadir receptores (os trabalhadores,
no caso) para integrá-los aos objetivos organizacionais, caracterizando-o como
uma estratégia exclusivista e determinista do corpo diretivo das empresas.
A partir do recurso de sistematização dos elementos constitutivos da
definição de comportamento como uma relação significativa entre organismo e
meio, é possível decompor o processo de comunicação (ação de comunicar)
em uma relação de interação simbólica na qual pelo menos dois seres
humanos enviam e recebem mensagens codificadas, ou seja, "tornam comum
as coisas", em nível conceitual, através de símbolos.
É preciso que haja uma relação entre atores comunicantes, que
assumem posições alternadas, ora como emissores, ora como receptores. Esta
alternância de papéis é justificada pela circularidade do processo de interação.
A interação significa troca mútua. Logo, além da ação de codificação
/decodificação, o processo de comunicação só se constitui enquanto tal na
medida em que aconteça o feedback da mensagem e que este desencadeie
nova ação de significação.
A linguagem, entendida como significação simbólica, é parte
fundamental para que o processo de interação aconteça entre seres humanos.
É a partir do significado dos códigos (sinais) de linguagem que as pessoas
atribuem sentido às atividades e se reconhecem como pertencentes ao sistema
organizacional. A congruência entre a mensagem codificada e a mensagem
decodificada estará em função do repertório e dos condicionantes individuais,
organizacionais e sociais dos atores envolvidos.
Desse modo, o processo de comunicação implica feedback sistêmico,
ativado nas diferentes condições pelas quais se realizam as interações sociais.
O efeito da comunicação pode ser aquele que é pretendido pelo emissor, e
neste caso é possível afirmar que a comunicação é eficaz. Como processo
interativo de troca de mensagens simbólicas, o emissor age simultaneamente
com o receptor e vice-versa.
A mensagem compreende um conjunto de informações codificadas
transmitidas por um canal, que pode ser definida como a intenção objetivada
de transmitir um determinado significado. Assim, a transmissão da mensagem
implica, por parte do emissor, uma codificação intencional de significado, e por
parte do receptor, uma decodificação, ou uma nova atribuição de significado.
Os significados atribuídos a uma mensagem dependem do modo de
comunicação, das características pessoais do emissor e do receptor e do
contexto da interação social. A cada mensagem o receptor associa
determinado significado, o qual poderá ou não corresponder à intenção do
emissor. Este processo é sintetizado pela construção do significado a partir dos
símbolos compartilhados,
A partir disso, é possível constatar que a comunicação é um processo
sempre imperfeito, variando seu grau de eficácia de acordo com as variáveis
que intervém na interpretação de significados. Assim, para garantir a eficácia
do processo de comunicação, o grau de congruência entre as interpretações
associado à mensagem enviada e recebida tem que ser elevado. No sentido de
diminuir as probabilidades de desentendimento das mensagens recebidas,
Beck (1988) aponta cinco dificuldades que devem ser consideradas:
a) Conhecer as atitudes, crenças e sentimentos (estado
mental) de outra pessoa;
b) Compreender que o estado mental depende de sinais
freqüentemente ambíguos;
c) Utilizar um sistema de codificação que decifre esses sinais;
d) Interpretar os comportamentos dos outros em função das
circunstâncias na qual eles ocorrem;
e) Julgar o grau de correção acerca dos motivos e as atitudes
dos outros em função da exatidão daquele que julga.
Faz algum tempo, procedeu-se ao estudo dos gestos com base na idéia
de que o ser humano não fala apenas com as palavras, mas também com seu
corpo. A analogia entre os gestos e a língua repousa em certo tipo de lógica,
que começa pela observação de que os usos corporais variam segundo os
povos e as culturas: assim como as línguas faladas no mundo, as práticas
gestuais diferem segundo o lugar e a época. A imagem que nós transmitimos
através dos sinais corporais exerce um efeito sobre as demais pessoas, e esse
efeito pode vir a ser importante na vida cotidiana.
Nas relações interpessoais, os movimentos corporais podem exprimir o
sentimento, positivo ou negativo, experimentado em relação à outra pessoa.
Assim, mais do que as opiniões expressas verbalmente, podem revelar uma
atitude de discriminação social. Reciprocamente, os sinais gestuais e corporais
podem modificar a atitude de outra pessoa em relação a quem os emite.
Os gestos e posturas podem igualmente transmitir outras informações,
principalmente relativas ao status social, à competência, à autoconfiança, à
sinceridade. Um status superior, uma competência particular podem exprimir-
se de diversas maneiras: pelo contato corporal com o interlocutor, pela
gesticulação, pelo caráter distenso da postura adotada. Inversamente, os
estados de subordinação, de timidez, de stress, de angústia, de depressão ou
de baixa auto-estima se manifestam pela inclinação da cabeça para a frente,
pelo aumento na freqüência dos movimentos de auto-contato, pelo aumento na
freqüência da mudanças posturais (Weil e Tompakow, 1986).
Segundo Rogers3, a maior barreira para a comunicação interpessoal
mútua é nossa tendência natural de julgar, avaliar, aprovar (ou desaprovar) a
declaração de uma outra pessoa ou de um grupo. Suponha que alguém,
comentando essa discussão, faça a declaração: “Não gostei do que aquele
homem disse”. o que você responderá? Quase que invariavelmente sua
resposta será de aprovação ou desaprovação da atitude expressa. Ou você
responde: “Nem eu, achei terrível”, ou então você tende a responder, “Oh,
achei que era realmente muito bom”. Em outras palavras sua reação primária
será de avaliar o assunto de seu ponto de vista, seu próprio quadro de
referência.
Apesar de que a tendência de fazer avaliação é comum em quase todos
os intercâmbios de linguagem, é muito mais intensificada naquelas situações
onde os sentimentos e as emoções estão profundamente envolvidos. Portanto,
quanto mais fortes nossos sentimentos, maior a probabilidade de que não haja
um elemento mútuo na comunicação. Haverá somente duas idéias, dois
sentimentos, dois julgamentos, desencontrando-se um do outro num espaço
psicológico. Esta tendência para reagir contra qualquer declaração plena de
sentido emocional formando uma avaliação dela de nosso ponto de vista é a
maior barreira para a comunicação interpessoal.
Existe alguma forma de solucionar este problema, de evitar esta
barreira? A comunicação verdadeira ocorre, e esta tendência de avaliação é
evitada, quando ouvimos com compreensão. O que isto significa ver a idéia
expressa e a atitude do ponto de vista de outra pessoa, perceber como ela a
sente, para alcançar seu quadro de referências com relação ao assunto do qual
ela está falando: o ouvir compreendendo.
Na concepção de Rogers, se nós podemos ouvir o que o outro está
dizendo, se podemos entender como isto parece para ele, se podemos ver o
sentido pessoal que tem para ele e sentir o sabor emocional que tem para ele,
então estaremos desencadeando forças potentes de mudanças nele e em mim
3 Psicólogo humanista, criador da abordagem terapêutica “centrada na pessoa”.
próprio. Compreender com uma pessoa e não sobre ela - é uma abordagem
tão eficiente que pode desencadear grandes mudanças na personalidade.
Uma vez que sejamos capazes de ver o ponto de vista do outro, nossos
próprios pontos de vistas serão obrigatoriamente revisados. Será possível
verificar que a emoção não será mais a tônica da discussão, as diferenças
serão reduzidas, e aquelas diferenças que permanecem serão do tipo racional
e compreensível. Esta forma de abordagem é uma via efetiva apara uma boa
comunicação e bons relacionamentos, porém certamente não é fácil de ser
realizada. É justamente quando as emoções estão mais fortes que é mais difícil
alcançar o quadro de referências de outra pessoa ou grupo. No entanto, é
justamente neste momento que a atitude mais necessária se a comunicação
deve ser estabelecida.
Quando as partes numa disputa percebem que estão sendo
compreendidas, que alguém vê como a situação lhes parece, as declarações
tornam-se menos exageradas e menos na defensiva, e não é mais necessário
manter a atitude de estar 100% correto e o outro 100% errado. A influência de
tal postura compreensiva no grupo permite que os membros se aproximem
cada vez mais do verdadeiro objetivo envolvido no relacionamento.
Desta maneira a comunicação mútua é estabelecida, e algum tipo de
acordo torna-se possível: leva a uma situação a qual cada um vê como o
problema se parece para o outro assim como para si, e o outro vê como parece
para si, assim como para o outro. Assim, o maior bloqueio às comunicações
pessoais, enfatiza Rogers, é a inabilidade do ser humano, de ouvir de forma
inteligente, compreensiva, e habilmente uma outra pessoa.
A maioria de nós, observa Powell (1995), quando no papel de ouvintes,
nos sentimos compelidos a ser falantes, um impulso interior compulsivo de
interromper os outros, uma estranha obrigação de aconselhá-los e de
corroborar nossos conceitos sobre a vida. Tendemos a relacionar o que
estamos ouvindo a nossas próprias experiências
Powell e Brady (1995) ratificam que a clara comunicação verbal, a
comunicação efetiva, é absolutamente essencial para os relacionamentos de
qualquer ordem, mas, como muitas outras realizações humanas, comunicar-se
bem e de forma proveitosa é uma questão de prática contínua. A falta ou
deficiência de comunicação nos relacionamentos, sejam pessoais (íntimos) ou
sociais pode afetar sensivelmente todas as áreas da vida, ou ocasionar muito
desgaste e sofrimento.
Segundo os autores (p. 16), quando se aprende e se pratica a arte da
boa comunicação, um benefício muito valioso é agregado ao indivíduo, a
maturidade pessoal: “Se fielmente acreditarmos nas verdades e aceitarmos as
atitudes que fundamentam a comunicação franca e honesta, iniciaremos um
contato saudável com a realidade. Desistindo dos papéis que representamos e
dos jogos que fazemos, logo estaremos lidando mais eficientemente com nós
mesmos como realmente somos e com os outros como realmente são.”
6. ÉTICA: CONCEITO E HISTÓRIA 4
A história da ética se entrelaça com a história da filosofia. No século VI
a.C., Pitágoras desenvolveu algumas das primeiras reflexões morais,
afirmando que a natureza intelectual é superior à natureza sensual e que a
melhor vida é aquela dedicada à disciplina mental. Seus ensinamentos forjaram
a maior parte das escolas de filosofia moral gregas da posteridade.
Para Platão, o mal não existia por si só, sendo apenas um reflexo
imperfeito do real, que é o bem, elemento essencial da realidade. Afirmava ele
que, na alma humana, o intelecto tem que ser soberano, figurando a vontade
em segundo lugar e as emoções em terceiro, sujeitas ao intelecto e à vontade.
Aristóteles considerava a felicidade a finalidade da vida e a conseqüência do
único atributo humano, a razão. As virtudes intelectuais e morais seriam
apenas meios destinados à sua consecução. O epicurismo, por sua vez,
4 Texto complementado pela compilação de vários artigos veiculados no site
http://www.unifran.br/daltro/site/pesquisas/textos, acessado em maio de 2005.
identificava como sumo bem o prazer, principalmente o prazer intelectual, e, tal
como os estóicos, preconizava uma vida dedicada à contemplação.
No fim da Idade Média, São Tomás de Aquino viria a fundamentar na
lógica aristotélica os conceitos agostinianos de pecado original e da redenção
por meio da graça divina. À medida que a Igreja medieval se tornava mais
poderosa, desenvolvia-se um modelo de ética que trazia castigos aos pecados
e recompensa à virtude através da imortalidade. Thomas Hobbes, no Leviatã
(1651), asseverava que os seres humanos são maus e necessitam de um
Estado forte que os reprima. Para Spinosa, a razão humana é o critério para
uma conduta correta e só as necessidades e interesses do homem determinam
o que pode ser considerado bom e mau, o bem e o mal. Jean-Jacques
Rousseau, por sua vez, em seu Contrato social (1762), atribuía o mal ético aos
desajustamentos sociais e afirmava que os seres humanos eram bons por
natureza.
Uma das maiores contribuições à ética foi a de Immanuel Kant, em fins
do século XVIII. Segundo ele, a moralidade de um ato não deve ser julgada por
suas conseqüências, mas apenas por sua motivação ética. Kant partiu do
pressuposto que a razão guia a moral e que três são os pilares em que se
sustenta: Deus, liberdade e imortalidade. Porém, adverte que a simples
inclinação para o cumprimento da lei, por respeito, não é o exercício de uma
vontade para si mesmo. Sem liberdade não pode haver virtude e sem esta não
existe a moral, nem pode haver felicidade dos povos, porque também não pode
haver justiça. Para Kant, quando alguém cumpre um dever ético por interesse,
pode até lucrar com isto, mas não pode receber a classificação de virtuoso.
As teses do utilitarismo, formuladas por Jeremy Benham, sugerem o
princípio da utilidade como meio de contribuir para aumentar a felicidade da
comunidade. Já para Hegel, a história do mundo consiste em "disciplinar a
vontade natural descontrolada, levá-la a obedecer a um princípio universal e
facilitar uma liberdade subjetiva".
O desenvolvimento científico que mais afetou a ética, depois de Newton,
foi a teoria da evolução apresentada por Charles Robert Darwin. Suas
conclusões foram o suporte documental da chamada ética evolutiva, do filósofo
Herbert Spencer, para quem a moral resulta apenas de certos hábitos
adquiridos pela humanidade ao longo de sua evolução. Friedrich Nietzsche
explicou que a chamada conduta moral só é necessária ao fraco, uma vez que
visa a permitir que este impeça a auto-realização do mais forte. Bertrand
Russell marcou uma mudança de rumos no pensamento ético das últimas
décadas. Reivindicou a idéia de que os juízos morais expressam desejos
individuais ou hábitos aceitos. A seu ver, seres humanos completos são os que
participam plenamente da vida social e expressam tudo que faz parte de sua
natureza.
João Baptista Herkenhoff apresenta a seguinte definição sobre o que
seriam normas éticas; "São normas que disciplinam o comportamento do
homem, quer o íntimo e subjetivo, que o exterior e social. Prescrevem deveres
para a realização de valores. Não implicam apenas em juízos de valor, mas
impõem a escolha de uma diretriz considerada obrigatória, numa determinada
coletividade. Caracterizam-se pela possibilidade de serem violadas."
Podemos concluir que a ética disciplina o comportamento do homem,
quer o exterior e social, quer o íntimo e subjetivo. Prescreve deveres para
realização de valores. Não implica apenas em Juízos de valor, mas impõe uma
diretriz considerada obrigatória pela sociedade. Este conjunto de preceitos
morais devem nortear a conduta do indivíduo no ofício ou na profissão que
exerce, devendo necessariamente contribuir para a formação de uma
consciência profissional composta de hábitos dos quais resultem integridade e
a probidade, de acordo com as regras positivadas num ordenamento jurídico.
Embora o termo ética seja empregado, comumente, como sinônimo de
moral, a distinção se impõe. A moral disciplina o comportamento do homem
consigo mesmo, trata dos costumes, deveres e modo de proceder dos homens
para com os outros homens, segundo a justiça e a equidade natural. A
primeira, moral propriamente dita, é a moral teórica, ao passo que a segunda
seria a ética, ou a moral prática.
A Ética é o pensamento filosófico acerca do comportamento moral do
homem, dos problemas morais e dos juízos morais enquanto a moral é o
conjunto de normas, princípios e valores, aceitos ou descobertos de forma livre
e consciente, que regulam o comportamento individual dos homens. A filosofia
define ”ética” como o estudo da “conduta ideal”, esta decorrente de um
conceito mais amplo, o de “homem ideal”.
Sem perder sua autonomia científica, a Ética tem ligações muito fortes
com as doutrinas mentais e espirituais. Os estudos científicos da mente
chegaram a conclusões comuns no que tange à influência dos conhecimentos
adquiridos nas primeiras idades. Desta forma, mesmo admitindo-se mudanças
por força de outras influências, o campo da infância é mais fértil que o de
outras idades para sua formação moral. É nesta fase que se deve estimular
virtudes e repelir toda a tendência para o vício, sustentando os princípios éticos
que irão norteá-la quando adulta. Portanto, segundo esta teoria, é no lar e na
escola a principal usina de moldagem das consciências.
O descumprimento de um dever ético pode estar explicado nos
conceitos de virtude que foram absorvidos pela educação ou pela ambiência do
ser. A agressão aos bons costumes, quando se consagra como prática aceita
socialmente, compromete o futuro das novas gerações, por desrespeito ao
passado e negligência no presente. Em tudo parece haver uma tendência para
a organização e os seres humanos não fogem a essa vocação. Em cada
agrupamento, no entanto, depende de uma disciplina comportamental e de
conduta. Hoje, o estudo da Ética não pode desprezar a associação da razão
com a emoção.
7. ÉTICA PROFISSIONAL E DEONTOLOGIA
Com referência ao ser humano em especial, é exigível uma conduta
especial, denominada de Ética. Como os seres são heterogêneos, face suas
próprias características, a homogeneização perante a classe precisa ser
regulada de forma que o bem geral esteja preservado, incluindo o próprio
indivíduo. O ser humano é tendencioso a defender em primeiro lugar seus
interesses próprios. Se laborado desta forma, em geral, tem seu valor restrito,
enquanto ao praticar atos com amor, visando o benefício de terceiros, passa a
existir a expressão social na sua prática.
Sua utilidade mais presente consiste em ditar as qualidades das ações
humanas, definindo-as como boas ou ruins, tendo como norte a razão da
felicidade – “o soberano bem”. Em resumo, a Ética é uma ciência que estuda
os valores e virtudes do homem, estabelecendo um conjunto de regras de
conduta e de postura a serem observadas para que o convívio em sociedade
se dê de forma ordenada e justa. Já “deontologia” consiste no conjunto de
regras e princípios que regem a conduta de um profissional, uma ciência que
estuda os deveres de uma determinada profissão.
A problemática das profissões foi, desde muito cedo, objeto de análise
da sociologia. Émile Durkheim questionava-se já sobre o papel das
corporações, que considerava indispensáveis ao funcionamento democrático
da sociedade. O conceito de profissão decorrente, sobretudo, de uma
construção social, sendo susceptível de sofrer alterações de acordo com as
condições sociais em que é utilizado. O fato de variar em função do tempo e do
contexto em que ocorre, faz com que esta noção dê ensejo a uma pluralidade
de significações, implicando, em virtude disso, a inexistência de uma definição
fixa ou universal.
A profissão não deve ser considerada como um somatório de
características distintivas, mas como um processo de emergência e de
diferenciação social de determinado grupo ocupacional, que faz variar o
estatuto e o reconhecimento das profissões ao longo dos tempos.
Sociologicamente, profissão pode ser entendida como o desempenho de uma
atividade humana, apoiada num saber e em valores próprios.
Do particípio grego tò deón, a palavra deontologia remete para as
dimensões do que “deve ser ou fazer-se”. Este termo aplica-se, normalmente,
ao conjunto de deveres, próprios de determinada situação social, sobretudo
profissional. A deontologia deve constituir uma expressão de autonomia
profissional. A regulação ética do desempenho profissional surge, deste modo,
a par da formação profissional interiorizada no decorrer de uma longa
escolarização, da profissionalização dos docentes e da existência de
associações, como um dos elementos constitutivos do profissionalismo:
O profissional brasileiro está sujeito a uma deontologia própria a regular
o exercício de sua profissão conforme o Código de Ética de sua classe. O
Direito é o mínimo de moral para que o homem viva em sociedade e a
deontologia dele decorre posto que trata de direitos e deveres dos profissionais
que estejam sujeitos a especificidade destas normas. A normatização é própria
do Código Deontológico, repositório de direitos e deveres dos profissionais que
de maneira geral não permeiam seus artigos de uma visão ética.
A tutela do trabalho processa-se pelo caminho da exigência de uma
ética, imposta através dos conselheiros profissionais e de agremiações
classistas (institutos, associações, sindicatos, federações, etc). As normas
devem ser condizentes com as diversas formas de prestar o serviço e de
organizar o profissional para este fim.
A ética é indispensável ao profissional porque na ação humana "o fazer"
e "o agir" estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência
que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se
refere à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no
desempenho de sua profissão.
Sendo a ética inerente à vida humana, sua importância é bastante
evidenciada na vida profissional, porque cada indivíduo tem responsabilidades
individuais e responsabilidades sociais, pois envolvem pessoas que dela se
beneficiam. O valor ético do esforço humano é variável em função de seu
alcance em face da comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir
renda, em geral, tem seu valor restrito.
Assim, ética profissional pode ser concebida como sendo um conjunto
de normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício de
qualquer profissão. Assim, quando falamos de ética profissional estamos nos
referindo ao caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada
profissão a partir de estatutos e códigos específicos.
A tutela do trabalho processa-se pelo caminho da exigência de uma
ética, imposta através dos conselhos profissionais e de agremiações classistas.
As normas devem ser condizentes com as diversas formas de prestar o serviço
de organizar o profissional para esse fim. A conduta profissional, muitas vezes,
pode tornar-se agressiva e inconveniente e esta é uma das fortes razões pelas
quais os códigos de ética quase sempre buscam maior abrangência. A conduta
do ser humano pode tender ao egoísmo, mas, para os interesses de uma
classe, de toda uma sociedade, é preciso que se acomode às normas, porque
estas devem estar apoiadas em princípios de virtude.
Uma classe profissional caracteriza-se pela homogeneidade do trabalho
executado, pela natureza do conhecimento exigido preferencialmente para tal
execução e pela identidade de habilitação para o exercício da mesma. A classe
profissional é, pois, um grupo dentro da sociedade, específico, definido por sua
especialidade de desempenho de tarefa.
A divisão do trabalho é antiga, ligada que está à vocação e cada um
para determinadas tarefas e às circunstâncias que obrigam, às vezes, a
assumir esse ou aquele trabalho; ficou prático para o homem, em comunidade,
transferir tarefas e executar a sua. A formação das classes profissionais
decorreu de forma natural, há milênios, e se dividiram cada vez mais.
Historicamente, atribui-se à Idade Média a organização das classes
trabalhadoras, notadamente as de artesãos, que se reuniram em corporações
A união dos que realizam o mesmo trabalho foi uma evolução natural e hoje se
acha não só regulada por lei, mas consolidada em instituições fortíssimas de
classe.
Não obstante os deveres de um profissional devem ser levadas em
conta as qualidades pessoais que também concorrem para o enriquecimento
de sua atuação profissional, algumas delas facilitando o exercício da profissão.
Muitas destas qualidades poderão ser adquiridas com esforço e boa vontade,
aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer de sua
atividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando
vivenciá-las ao lado dos deveres profissionais.
O senso de responsabilidade é um elemento fundamental no exercício
profissional. Uma pessoa que se sinta responsável pelos resultados da equipe
terá maior probabilidade de agir de maneira mais favorável aos interesses do
grupo dentro e fora da organização. As pessoas que optam por não assumir
responsabilidades podem ter dificuldades em encontrar significado em suas
vidas, pois seu comportamento é regido pelas recompensas e sanções de
outras pessoas.
Atualmente as organizações buscam melhorar o ambiente de trabalho,
qualidade e produtividade por meio da ética. Nos últimos vem-se abordando
mais profundamente a importância da ética dentro do local de trabalho, nas
relações interpessoais e no desempenho das tarefas cotidianas. Um ambiente
de trabalho que propicie regras claras e justas fornece um balizamento ético-
moral e a manutenção de altos índices de motivação produtividade e qualidade.
A preocupação das empresas com a ética propicia, além do
cumprimento das leis, qualidade e redução de custos por pequenos deslizes
éticos, verificados diariamente e que podem trazer prejuízos à qualidade dos
relacionamentos e ao próprio desenvolvimento do processo de trabalho.
A confusão entre o que é falta de ética e desonestidade é muito grande.
A ética, no fundo, é a procura do bem comum, o respeito próximo. As pessoas
devem conservar a ética sempre, sejam em grandes ou pequenas questões
porque agir com correção é o que se espera dos demais. O senso da ética
acontece quando cada um faz sua opção, e aí funciona a consciência de cada
um.
A elaboração e outorga de um código de ética é um elemento
constitutivo da identidade profissional de um grupo. Sem uma ética não há uma
comunidade. As vantagens fundamentais de um código deontológico advêm,
portanto, da promoção de uma identidade profissional, a qual se espelha na
imagem interna e externa da profissão e na afirmação da autonomia em
relação à heteronomia dos regulamentos governamentais. Os códigos
deontológicos têm a função de garantir a qualidade dos serviços que se
prestam e asseverar que os profissionais são dignos de confiança por parte
dos seus concidadãos, uma vez que atuam com o rigor e a seriedade a que o
código de ética lhes adverte.
Nem sempre é possível acumular todo conhecimento exigido por
determinada tarefa, mas é necessário que se tenha a postura ética de recusar
serviços quando não se tem a devida capacitação para executá-lo. Assim, cada
homem deve proceder de acordo com princípios éticos. Cada profissão, porém,
exige, de quem a exerce, além dos princípios éticos comuns a todos os
homens, procedimento ético de acordo com a profissão.
O comportamento ético deve ser procurado principalmente por aqueles
que, na maioria das vezes exercem suas funções em equipes multiprofissionais
no serviço público ou privado. Inúmeros elementos de respeito, moralidade,
responsabilidade e princípios éticos devem estar envolvidos na postura desses
profissionais, que estarão em contato com outros indivíduos cujas escolhas
morais podem não ser claramente definidas. Cabe a cada um, então, a
consciência de estar respaldado em princípios éticos sérios, que estão além de
interesses passageiros e conveniências pessoais, pelos quais o seu “fazer”
profissional vai estar resguardado.
8. BIBLIOGRAFIA
AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira de. Psicologia aplicada à Administração:
uma introdução à Psicologia Organizacional. São Paulo: Atlas, 1981.
BERLO, D. K. O Processo da Comunicação: Introdução á Teoria e á Prática.
São Paulo: Martins Fontes, 1999.
BOCK, Ana Maria et alii. Psicologias. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
BOWDITCH, James L.; BUONO, Anthony F. Elementos do Comportamento
Organizacional. São Paulo: Pioneira, 1997.
CHANLAT, Jean-François (coord.). O indivíduo nas organizações: dimensões
esquecidas. São Paulo : Atlas, 1994.
FERREIRA, J.M.; NEVES, J.; ABREU, P. N. e CAETANO, A. ().
Psicossociologia das Organizações. Portugal: McGraw-Hill1996.
FIGUEIREDO, Ana Cristina e FILHO, João Ferreira da Silva (orgs.). Ética e
Saúde Mental. Topbooks, 1996.
FRITZEN, Silvino José. Relações Humanas Interpessoais: nas convivências grupais e comunitárias. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
LITTLEJOHN, S. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de
Janeiro : Zahar, 1982.
MAGINN, Michael D. Eficiência do trabalho em equipe. São Paulo: Nobel,
1996.
MINICUCCI, Agostinho. Relações Humanas: psicologia das relações
interpessoais. São Paulo : Atlas, 2001
POWELL, John; BRADY, Loretta. Arrancar Máscaras! Abandonar Papéis! – a
comunicação pessoal em 25 passos. Tradução Bárbara Theoto Lambert. 7 ed.
São Paulo: Loyola, 1995.
SÁ, Antonio Lopes de. Ética Profissional. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2001.
SCHUTZ, William C. O submundo interpessoal.
SPECTOR, Paul E. Psicologia nas Organizações. Tradução Solange Aparecida
Visconte. São Paulo : Saraiva, 2002.
WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da
comunicação não-verbal. 41 ed. Petrópolis: Vozes, 1997.