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TEATRO REFLEXÃO TRANSFORMADORA

Autora: Rosicleia Klisievicz Gaona1

Orientador: Pedro Carlos de Aquino Ochôa2

Resumo

Este artigo é a apresentação dos estudos realizados no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Governo do Estado do Paraná e apresenta resultados de um trabalho de teatro, que se define como uma experiência educativa motivadora que pode provocar mudanças comportamentais. Utilizou-se didática e metodologia baseadas na visão de Luiz Gasparin, jogos teatrais fundamentados no método improvisacional de Viola Spolin, e o desenvolvimento do tema, conforme Augusto Boal. O projeto resultou na aplicação de material didático construído pelas pesquisas e foi idealizado para atender às necessidades de uma comunidade escolar, que encontrava dificuldades comportamentais de convivência e aprendizagem. Na busca de soluções, foram desenvolvidas atividades com jogos teatrais que abordaram diferentes objetivos como: dicção, oratória, integração, expressão corporal e ficha para análise de peça, que permitiu que o educando refletisse sobre o comportamento moral e social do texto encenado, que convidava para analisar o seu comportamento, tomando coragem para agir, permitindo a transformação de sua realidade, proporcionando aperfeiçoamento e melhora da comunidade escolar, capacitando-o a humanizar-se como cidadão inteligente, responsável coletivamente por melhores qualidades culturais e com respeito pela diversidade. Os educandos trabalharam o conhecimento do teatro por intermédio de atividades baseadas em valores para a descoberta do sentido de alguns como: solidariedade, paz, afetividade, amor, relações interpessoais, justiça, moral e ética. Durante a aplicação do material didático, foi desenvolvido um curso que proporcionou a cooperação de vários professores de arte, que participaram somando o seus conhecimentos no curso (GTR), grupo de trabalho em rede à distância, que discutiu o projeto e a aplicação do material didático. Palavras-chaves: jogos teatrais; comportamento; humanizar-se; integração.

1 INTRODUÇÃO

1 Pós-graduada em Pedagogia, graduada em Educação Artística, professora do Colégio Estadual São Vicente de

Paula. 2 Mestrando em Educação pela Universidade Estadual de Maringá, especialista em Ensino da Arte na

Contemporaneidade, graduação em Pedagogia, na UEM é Professor no curso Superior de Artes Cênicas,

Licenciatura em Teatro.

Este artigo descreve o uso da metodologia do teatro, visando a uma ação

educativa por meio de um impacto emocional, para a compreensão das relações

humanas, pretendendo provocar mudança de comportamento.

Considerando os desafios que a escola enfrenta na atualidade, no sentido da

formação do aluno para viver em sociedade, “Teatro Reflexão Transformadora”,

mostra um trabalho que busca caminhos para uma educação democrática, por meio

da participação dos alunos e professores como agentes da história, utilizando as

técnicas e metodologias da encenação e jogos teatrais, que despertam por

intermédio da aplicação do material didático uma ação transformadora do teatro no

cotidiano escolar, pois a metodologia utilizada promove a participação dos alunos, e

desenvolve a capacidade para entender sua condição de como agir diante de novas

situações.

O tema escolhido para estudo e pesquisa teve como finalidade usar o

conhecimento, a metodologia dos jogos teatrais e a avaliação do teatro para uma

reflexão transformadora, buscando melhorar as relações humanas, vindo ao

encontro das necessidades da comunidade escolar do Colégio Estadual São Vicente

de Paula, de Nova Esperança no Paraná. Na turma do 1º ano do ensino médio,

alguns educandos enfrentavam problemas em relação ao convívio social e

constatou-se uma apatia por parte destes em relação ao conhecimento e o não

cumprimento das regras sociais do colégio, tornando, assim, difícil a convivência e a

aprendizagem.

A atual legislação brasileira, a lei de diretrizes e bases refere-se ao tema

escolhido afirmando que o aprimoramento do educando como pessoa humana,

incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

pensamento crítico, é uma das finalidades do ensino médio, conforme o inciso III do

art. trinta e cinco da (LDB 9394/96).

A contribuição do teatro para esta realidade reside mais expressivamente na

utilização dos jogos teatrais que liberam a criatividade, promovem o trabalho em

equipe, melhorando, assim, os relacionamentos, despertando os sentidos e

estimulando o raciocínio rápido que liberta o educando para fazer um trabalho de

descoberta, de experimentação e criação, promovendo a melhoria do rendimento

escolar.

O desenvolvimento deste tema, conforme Augusto Boal (1998), permitiu ao

educando uma reflexão sobre o comportamento moral e social na peça encenada, o

que o fez pensar e analisar o seu comportamento, encorajando a ação. Com a

compreensão dos aspectos negativos da sua vida social, o educando toma coragem

para agir e, assim, permite uma avaliação transformadora da sua realidade, o que

pode proporcionar o aperfeiçoamento e a melhora da comunidade escolar.

O teatro, como criação artística, caminha sempre de mãos dadas com a

compreensão humana e, a partir desta compreensão, o educando se desenvolveu,

percebendo-se como único, abrindo-se ao mundo exterior, observando a

multiculturalidade da vida e se colocando como parte fundamental no seu processo

de formação social e humano que está sendo construído.

Diante do contexto analisado, (falta de respeito às regras sociais, dificuldade

para dialogar, comportamento inadequado no contexto escolar, e também apatia por

parte dos educandos com relação ao conhecimento), este estudo buscou colaborar

com um dever da escola que é o de oportunizar atividades que promovam a

socialização, autoestima, que desenvolve o potencial criativo, socialização,

humanização, exercício da criatividade, articulação das linguagens, conhecimento

teórico prático e o desenvolvimento da capacidade cognitiva, perceptiva, sensível e

emocional, na busca de soluções, sendo estas contribuições que a arte promove. As

artes cênicas vêm ao encontro destas questões, pois integra os aspectos sociais e

intelectuais a partir das atividades de teatro que favorecem um aprendizado mais

prazeroso e divertido, contribuindo para a socialização e a aquisição de valores

morais e éticos.

Esta pesquisa e a aplicação do material didático construído durante o trabalho

atendem às diretrizes do Programa de Desenvolvimento educacional (PDE),

oferecido pela Secretaria de Educação (SEED) aos professores da rede pública

estadual de ensino (PARANÁ, 2008). Desenvolveu-se uma série de ações, que

estimularam a reflexão por meio do uso das metodologias de teatro, visando

melhorar o comportamento e a vontade de aprender dos educandos, capacitando-os

a humanizarem-se como cidadãos inteligentes, sensíveis, estéticos, reflexivos,

criativos e responsáveis por melhores qualidades culturais na vida dos grupos e do

colégio, com ética e respeito pela diversidade, ampliando a visão de mundo com o

conhecimento adquirido.

Assim, este artigo busca apresentar caminhos para uma educação mais

humana, democrática e eficiente.

2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE TEATRO O teatro é uma manifestação artística presente na cultura de muitos povos e

se desenvolveu de acordo com o contexto cultural. Sua origem pode ser remontada

desde as primeiras sociedades primitivas, em que se acreditava no uso de danças

imitativas como propiciadoras de poderes sobrenaturais ligados à sobrevivência,

possuindo também caráter de exorcização dos maus espíritos, tendo, então, o

teatro, em suas origens um caráter ritualístico.

Com o desenvolvimento e o conhecimento do homem em relação aos

fenômenos naturais, o teatro vai deixando suas características ritualísticas dando

lugar a características educacionais, estando mais desenvolvido e passando a

representar lendas relacionadas aos deuses e heróis.

Eram feitos na Grécia antiga festivais anuais em honra aos Deuses, entre

estes, o Deus Dionísio, que representava o Deus do vinho. Estas primeiras formas

dramáticas gregas surgiram inicialmente com as canções dionisíacas, passando

então, à representação de tragédias e comédias. Surgiu também a peça satírica com

Aristófanes, que cria um gênero sem paralelo no teatro moderno, pois a comédia

aristofânica mesclava a paródia mitológica com a sátira política. Todos os papéis

eram representados por homens, pois não era permitida a participação de mulheres.

Os escritores participavam, muitas vezes, tanto das atuações como dos

ensaios e das idealizações das coreografias. Em Atenas, o espaço utilizado para

encenações era um grande círculo. Muitas inovações foram surgindo no teatro grego

com o passar do tempo e com a profissionalização, como o espaço cênico, com o

surgimento de palcos elevados. Quase todos os estágios das produções eram

cuidados pelos escritores dos textos dramáticos.

Em Roma, por não possuir um teatro permanente até o ano de 55 a.C.,

enormes tendas eram erguidas, com capacidade de abrigar cerca de 40.000

espectadores. Embora o teatro romano tenha sido baseado nos moldes gregos, ele

criou suas próprias inovações, com a pantomima, em que apenas um ator

representava todos os papéis, com a utilização de máscara para cada personagem

interpretado, sendo acompanhado por músicos e por coro.

No cristianismo, o teatro foi considerado pagão, não encontrando

patrocinadores, as representações foram totalmente extintas.

Na era medieval, se deu o renascimento do teatro através da própria igreja,

representando a história da ressurreição de Cristo por membros da igreja, padres e

monges, sendo, então, foi utilizado para propagação de conteúdos bíblicos, com

intenções didáticas.

O teatro religioso teve seu declínio em meados do século XVI, pois trupes

teatrais agregaram-se aos domínios de senhores nobres e reis, constituindo o

chamado teatro elisabetano. Os atores, ainda exclusivamente homens, eram

contratados pela nobreza e por membros da realeza. O próprio Shakespeare, assim

como o ator original de Otelo e Hamlet, Richard Burbage, eram empregados pelo

Lorde Chamberlain, e mais tarde foram empregados pelo próprio rei.

Na Espanha, empresariados pelos autores da comédia, os atores

trabalhavam por conta própria e anualmente as companhias realizavam festivais

religiosos, sobretudo no século XVII, as representações espanholas estavam

fortemente influenciadas pelas encenações italianas.

E foi na Itália que o teatro renascentista rompeu com as tradições do teatro

medieval, através das representações do chamado teatro humanista, houve uma

recriação das estruturas teatrais. Os atores eram, na sua maioria, amadores, embora

no século XVI tenha havido um intenso processo de profissionalização, com o

surgimento da companhia Commedia Dell’Arte, em que alguns tipos representados

provinham da tradição do antigo teatro romano em que eram constantes as figuras

do avarento e do fanfarrão.

Devido a muitas viagens da companhia de Commedia Dell’Arte, por toda

Europa, este gênero teatral exerceu grande influência sobre o teatro realizado em

outras nações. A partir disto foram utilizadas mulheres nas representações e esta

mudança passou a se estender para outros países.

O teatro italiano no século XVII experimentou grandes evoluções cênicas,

muitos mecanismos foram adicionados à infraestrutura interna do palco, permitindo a

mobilidade dos cenários, muitos dos quais como são atualmente estruturados. As

mulheres passaram a fazer parte das atuações teatrais a partir do século XVII na

Inglaterra e na França.

No Brasil, o teatro teve sua origem com as representações de catequização

dos índios. As peças eram escritas procurando sempre traduzir a crença cristã para

a cultura indígena de uma forma didática. A companhia de Jesus é uma das origens

do teatro no Brasil, expandindo a crença pelos países colonizados. Os autores do

teatro neste período foram os Padres José de Anchieta e o Antonio Vieira. As

representações eram feitas com grande carga dramática e efeitos cênicos, porém o

teatro brasileiro, neste período, estava sobre a influência do barroco europeu.

Ao final do século XVIII, as mudanças no teatro foram reflexos de

acontecimentos históricos, como a revolução industrial e a revolução Francesa.

Surgiram formas como melodrama, que atendia ao gosto do grande público.

No século XIX, houve grandes inovações cênicas e também na infraestrutura,

como o elevador hidráulico, a iluminação a gás, e, logo em seguida, a iluminação

elétrica; o teatro Savoy Theatre de Londres foi o primeiro a utilizar energia elétrica

em 1881. Os cenários e os figurinos procuravam reproduzir situações históricas com

bastante realismo. Por causa destas inovações, surgiu a figura do diretor, que trata

de todos os estágios artísticos de uma produção.

No final do século XX, houve criações bastante diversas por determinados

autores que visavam à arte como veículo de denúncia da realidade. Quebra nas

antigas tradições e ecletismo, caracterizam o teatro do século XX. O modo de

representar, a direção teatral, a infraestrutura e os estilos de interpretação não se

vinculam a um único padrão predominante. No teatro contemporâneo, tanto as

tradições realistas como não realistas convivem simultaneamente.

Em busca de uma nova função social para o teatro brasileiro, Augusto Boal,

nascido em1931, dramaturgo e diretor, criou na década de 60 uma poética teatral

inspirada na estética brechtiana e na pedagogia libertadora de Paulo Freire. A

pedagogia teatral de Boal é por ele denominada de teatro do oprimido, que consiste

basicamente num conjunto de procedimentos de atuação improvisionada com o

objetivo de transformar a visão social e política do público.

Boal (1998) afirma que interpretar, agir, fazem parte do dia a dia e que na

vida, todos atuam, são atores, pois o teatro existe nas relações humanas e vem

sendo praticado no cotidiano e em qualquer lugar.

3 O TEATRO PARA UMA REFLEXÃO TRANSFORMADORA

A linguagem teatral é somente humana, nos palcos são reproduzidos pelos

atores exatamente a vida cotidiana, as paixões, a expressão das ideias, o andar o

falar. A diferença entre a linguagem da vida cotidiana e a linguagem teatral é que os

atores são conscientes de estar usando essa linguagem.

O corpo humano é o elemento mais importante do teatro, sem ele é

impossível, por isso, os movimentos físicos e as relações físicas são trabalhados nos

jogos teatrais sempre buscando um prazer no desenvolver dos exercícios e

aumentando sempre a capacidade de compreensão; devem ser desenvolvidos sem

espírito de competição, sem comparação com os outros, melhorando sempre a si

próprio.

O conhecimento do teatro pode também transformar a sociedade,

colaborando para construir um futuro melhor, fazendo com que a comunidade saia

da plateia e passe a atuar em suas relações. Além disso, a felicidade é sempre uma

busca do ser humano e o teatro deve trazer esta sensação, ajudando o

autoconhecimento e relacionando com o momento vivido.

A sistematização de uma proposta por meio de jogos teatrais foi elaborada

pioneiramente por Viola Spolin, com uma longa pesquisa de quase 30 anos nos

Estados Unidos da América. No Brasil, a professora doutora Ingrid Domien Koudela

é a responsável pela tradução e divulgação nos anos 70 da proposta pedagógica de

Spolin.

O método de teatro improvisional de Viola Spolin (1992), artista e educadora

americana, propõe um sistema de jogos com regras para trabalhar com educandos,

que atuarão como jogadores, devendo encontrar uma solução, porque, na verdade,

cada jogo apresentado é um problema a ser resolvido. Baseados nas regras

conhecidas por todos participantes, os jogos possibilitam o aprendizado das técnicas

e a criação da realidade cênica, estabelecendo uma comunicação teatral com a

plateia, que, em sala de aula a é parte integrante do jogo. Para cada proposta é

especificado um foco, que é o ponto de concentração, mantê-lo durante o jogo e o

ato de improvisar gera energia criadora no grupo, sem a perda da individualidade do

educando.

Ao conhecer as regras, com o envolvimento do ponto de concentração o

educando se sente seguro e parte para vivenciar a cena. Buscando a solução para o

problema, ele se envolve corporalmente, intelectualmente, intuitivamente, e

verbalmente consigo mesmo, com os seus colegas de classe e com aquilo que está

fazendo. Suas respostas são físicas e a emoção surge a partir do jogo que coloca

uma situação para ser vivida.

Para facilitar o educando no seu processo de improvisação e construção de

personagem é necessário que conheça as quatro características da ação:

- A ação obedece a uma lógica;

- A ação é sempre contínua;

- A ação é interior e exterior;

- A ação é sempre guiada por um objetivo.

Este esquema é chamado de Circunstância Proposta, cabe ao educando,

com a ajuda do professor, estabelecer as circunstâncias para poder atuar através de

um texto dramático, ou de uma situação enunciada trabalhada como exercício. Cabe

ao educando usar a imaginação e relacionar conforme o roteiro.

A lógica da ação é imaginar o que pode ter acontecido com o personagem.

A ação contínua é imaginar o que acontece com o personagem e quais as

consequências dessa ação, pensado que este tem um passado e um futuro, o

educando poderá representar o presente deste personagem.

O objetivo da ação é o que leva o personagem a agir de uma maneira ou de

outra e deve ser muito atraente para estimular a imaginação do educando.

A partir da execução deste roteiro, o educando poderá se colocar no lugar do

personagem e despertar em si a vontade de agir como o este, dentro das

circunstâncias propostas, aproximando-se dos problemas, da situação, da vida do

personagem.

Para jogar e improvisar, os atores deverão manter o foco que é o ponto de

concentração, observando os seguintes elementos descritos:

ONDE: o local em que se passa a ação, que pode ser construído com o

mínimo de objetos, mostrando, através do imaginário, estes tornando-se reais para

si e para a plateia.

QUEM: é o personagem, os educandos mostram quem são estes, através do

comportamento e do relacionamento entre eles.

O QUÊ: a ação propriamente dita, pois há sempre um objetivo, uma razão

para estarmos fazendo alguma coisa naquele lugar para que exista o conflito.

Estes esquemas estabelecem princípios que se organizam possibilitando uma

relação viva com a arte dramática encenada pelo educando e com a plateia.

Para que o teatro seja prazeroso e criativo, os exercícios, atividades de

aquecimento e os jogos são introduzidos de uma maneira que os educandos

aprendam seus conteúdos não apenas pela linguagem lógica, mas também pelos

sentidos.

O método dramático é muito utilizado como instrumento pedagógico no

ensino e na aprendizagem de outras disciplinas e colabora para o desenvolvimento

oral. A educação, a partir da criança, se fundamentou no jogo e na atividade

espontânea, dando origem à pesquisa de novas metodologias de ensino. Muitas

experiências foram realizadas até a institucionalização do ensino do teatro nos

Liceus parisienses, na década de 80, com o trabalho de parcerias, o objetivo

principal era verificar a dimensão do jogo cênico a partir de textos dramáticos. Esta

foi uma forte influência no processo de institucionalização do ensino do teatro por

toda França e na pesquisa mais contemporânea em teatro e educação.

Enfocar determinadas formas de linguagem teatral através do jogo e da

experimentação é um processo de trabalho pedagógico que busca pensar uma

progressão metodológica, onde pensar juntos educandos e educadores para

elaborar um planejamento da ação desperta o interesse no o jogo teatral, que pode

ser uma forma de acesso ao conhecimento acumulado pela prática teatral ao longo

da história da humanidade.

O teatro tem uma importância incomensurável para promover o

desenvolvimento intelectual, social e afetivo do educando. A arte contribui para

trazer experiências individuais e para a compreensão do homem, desta forma,

contribuindo para a formação do indivíduo.

O teatro é uma disciplina que contribui na educação, na medida em que

possibilita que os educandos pensem de forma criativa e independente, aguçando a

imaginação e a iniciativa, também desperta a prática da cooperação social e o

desenvolvimento da sensibilidade para o relacionamento pessoal.

Os jogos teatrais devem ter como objetivo principal estimular a

espontaneidade, que é um momento de liberdade pessoal quando estamos frente a

frente com a realidade. No momento em que a liberdade pessoal é liberada na

espontaneidade, o educando é despertado e estimulado a transcender a si mesmo,

tendo liberdade para explorar, aventurar e enfrentar sem medos todos os perigos.

O método da pedagogia Histórico-crítica de Demerval Saviani, que discute o

papel da escola, de modo a transformá-la numa escola contextualizada com a

realidade local, atingindo assim as camadas populares, fundamenta

pedagogicamente este trabalho, baseando-se na visão de Luiz Gasparin (2007).

Esse método tornou-se mais popular como prática pedagógica após a

publicação do livro “Uma didática para a pedagogia histórico-crítica”, de João Luiz

Gasparin (2007). Na referida obra, Gasparin (2007, p5) mostra que “é possível

delinear também uma concepção metodológica dialética do processo educativo”.

Para isso, apresenta cinco “passos” pedagógicos necessários para uma prática

docente e discente a partir de uma perspectiva histórico-crítica de educação –

Prática Social Inicial, Problematização, Instrumentalização, Catarse e Prática Social

Final, que fundamenta didaticamente a prática metodológica deste estudo.

4 APLICAÇÃO PRÁTICA

O desenvolvimento das ações e dos jogos teatrais do tema teatro reflexão

transformadora aconteceu com a aplicação do material didático produzido durante

as pesquisas do PDE e foi necessário se pautar nos seguintes objetivos:

Levantar dados sobre o relacionamento dos educandos;

Estimular através de jogos teatrais a curiosidade do educandos para leitura

teórica sobre o teatro;

Proporcionar a integração do grupo através de jogos teatrais;

Proporcionar jogos teatrais para a melhora da dicção e oratória;

Criar possibilidades expressivas, corporais, faciais, do movimento, da voz,

do gesto, por meio de jogos teatrais;

Discutir o texto "Rei Midas e as orelhas de burro”;

Analisar o comportamento humano através do estudo e encenação da peça

teatral;

Desenvolver a capacidade de análise e produção de peças teatrais;

Criar peças teatrais fundamentadas na moral dos textos analisados;

Improvisar, atuar e interpretar personagens, tipos, coisas e situações;

Identificar, explorar os elementos que compõem a linguagem teatral.

Para conduzir os trabalhos, atingir estes objetivos foi utilizada como

referencial teórico a pedagogia Histórico-crítica de Demerval Saviani, que

fundamentou pedagogicamente a proposta da aplicação do material didático,

baseando-se na visão de Luiz Gasparin, seguindo os cinco “passos” pedagógicos

necessários para uma prática docente e discente, a partir de uma perspectiva

histórico-crítica de educação – Prática Social Inicial, Problematização,

Instrumentalização, Catarse e Prática Social Final.

A prática Social Inicial vem a ser o ponto de partida de todo o processo

pedagógico. Nela, foram trazidas para a sala de aula todas as vivências e

experiência que o educando já tem sobre o conteúdo a ser trabalhado. Isso se faz

necessário para que o conteúdo mostre, de fato, vinculação com a realidade, sendo

assim socialmente necessário.

Na problematização, ocorreu a discussão de questões inerentes ao conteúdo

proposto, neste momento, inclusive, se pode vislumbrá-lo conteúdo em diferentes

dimensões sociais. Um conteúdo problematizado foi mostrado através de vários

aspectos: conceitual, histórico, social, político, estético, religioso, etc. Nos termos de

Gasparin (2007, p. 35), “o processo de busca, de investigação para solucionar as

questões em estudo, é o caminho que predispõe o espírito do educando para a

aprendizagem significativa”. Tal procedimento de problematização, na obra de

Gasparin faz-se como elo fundamental de transição entre prática social inicial e

teoria.

Instrumentalização é o momento em que o educando se apropriou de

instrumentos culturais e científicos necessários para transformar, melhorar, enfim,

modificar aqueles conhecimentos espontâneos mostrados na prática social inicial e

“realiza-se nos atos docentes e discentes necessários para a construção do

conhecimento científico” GASPARIN (2007, p.51), sendo a postura do professor a de

mediador.

A catarse é o momento em que ocorreu a síntese mental dos conteúdos

trabalhados. Essa síntese é expressa quando o educando compreendeu e dissertou

sobre o conteúdo, mostrando que o mesmo foi assimilado e auxiliou na

transformação de seus conceitos prévios. Nas palavras de Gasparin (2007, p.130),

“neste momento, o aluno traduz oralmente ou por escrito a compreensão que teve

de todo o processo de trabalho”. Expressando, assim, a sua nova maneira de ver o

conteúdo e prática social. Ao professor, coube, nesse momento, criar mecanismos

avaliativos para perceber se, de fato, essa síntese mental ocorreu e como ocorreu,

para, com isso, propiciar a realização do último passo, a prática social final.

A prática social final é o momento em que o educando demonstrou através de

ações ou intenções que o conteúdo vivido, problematizado, teorizado e sintetizado

mentalmente, agora é capaz de transformar a sua existência. Novamente, Gasparin

(2007, p.146) vai explicar que desenvolver ações reais e efetivas não significa

somente realizar atividades que envolvam um fazer predominantemente material,

como plantar uma árvore, fechar uma torneira, assistir a um filme etc. Uma ação

concreta, a partir do momento em que o educando atingiu o nível do concreto

pensado, é também todo o processo mental que possibilita análise e compreensão

mais amplas e críticas da realidade, determinando uma nova maneira de pensar, de

entender e julgar os fatos, as ideias. É uma nova ação mental. De nada serve uma

proposta histórico-crítica sem esse momento de “chegada”, no qual o educando,

através de sua transformação individual auxilia na transformação de sua realidade

social.

Para implementar o material didático pedagógico no colégio, foram seguidas

determinadas estratégias de ações e o seguinte cronograma:

1º mês:

1ª semana – Apresentar o projeto para a equipe pedagógica, e entrevistas

sobre o comportamento e motivação dos alunos.

2ª semana – Apresentar o projeto para os educandos, aplicação de atividades

de sensibilização, apresentação de textos da teoria para o teatro.

3ª semana – Desenvolver jogos teatrais para promover a integração do grupo.

4ª semana – desenvolver jogos teatrais para desenvolver a dicção, oratória e

postura de voz.

2º mês:

1ª semana – jogos teatrais para desenvolver o personagem, ação e emoção.

2ª semana – Leitura de texto da adaptação da história “Rei Midas e as orelhas

de burro”, discutir o texto para desenvolver o figurino, cenário e músicas.

3ª semana – Jogos teatrais, incluindo o tema da história lida e estudada para

promover reflexão.

4ª semana – Adaptação do texto, para contemplar a realidade do educando,

discutindo o seu cenário, figurino e músicas.

3º mês:

1ª semana – Desenvolver falas para a peça, distribuir os papéis para o

estudo.

2ª semana – Ensaiar a peça criada.

3ª semana – Continuação do ensaio.

4ª semana – Preparar figurino, cenário e música, ensaio geral para apresentar

e marcar a apresentação.

A implementação deste cronograma foi baseada em dois encontros semanais,

com duração aproximada de 2 horas cada encontro.

O conteúdo abordado tem como base o desenvolvimento de jogos teatrais e

análise de consagrados autores como Augusto Boal e Viola Spolin. Esta prática

educativa de teatro está fundamentada de acordo com o encaminhamento

metodológico sugerido pela Diretriz Estadual (2008), que possibilita momentos para

teorizar, sentir, perceber e construir.

No desenvolvimento, foram pesquisados os dados relevantes sobre o

comportamento dos educandos, aplicando um questionamento junto à orientação,

alguns professores e alguns educandos, que dissertaram sobre:

1- Disposição dos educandos com relação à vontade de aprender.

2- Socialização dos educandos nos trabalhos em grupo para construção de

conhecimento.

3- Comportamento disciplinar.

4- Comentários relevantes sobre o comportamento e a disposição para

estudar.

As respostas serviram de pauta para uma avaliação diagnóstica,

planejamento e o encaminhamento das aulas. Resumindo as respostas, ficou

diagnosticada uma sala com problemas comportamentais, de entrosamento e

convívio social que possuía educandos com certa apatia, com pouca vontade de

agir.

Iniciaram-se as aulas com a apresentação de um texto para leitura teórica

sobre o teatro, que foi lido juntamente com os educandos, o teatro da Grécia antiga,

que serviu para despertar a curiosidade em ouvir a história “Rei Midas e as orelhas

de burro”, do poeta romano Ouvidio, na qual são contadas tragédias divididas em

três cenas pequenas, carregadas de grandes significados. Os alunos escreveram da

maneira que entenderam a história, que despertou a atenção e a concentração, pois

tiveram que recontar registrando o que ouviram com suas palavras.

Ocorreu a integração do grupo através de jogos teatrais, que foram: sorria

para o mundo, quem é você e qual o seu ritmo, você na intimidade narrado pelo

outro e relaxamento.

O jogo “sorria para o mundo” é um aquecimento, começa com um círculo em

que os educandos se movimentam vigorosamente no ritmo da música, mexendo

muito as mãos, braços, pernas e pés andando e olhando para o outro sorrindo,

algum tempo de relaxamento entre cada rotação, continuando sorrindo para todos

que olhar e termina quando todos receberem sorrisos de todos. Houve grande

descontração e todos corresponderam, até os mais tímidos participaram.

Continuando em círculo, no jogo “quem é você e qual o seu ritmo”, um de

cada vez fala o seu nome com um ritmo e um movimento escolhido, todos repetirão

junto o nome no ritmo e movimento escolhidos formando uma coreografia, até que

todos se apresentem.

O próximo jogo aplicado, “você na intimidade visto pelo outro”, foi em duplas,

os educandos conversaram contando sua intimidade, cada um contou para o outro

sobre sua vida, sua família, o que gosta, o que não suporta, como é seu dia a dia e

seus sonhos. Socializaram em um semicírculo, as duplas, uma de cada vez contou o

que escutou, assim, apresentando o seu novo amigo para os demais (pode ser

resumida como a apresentação sua feita pelo seu par). O jogo deixou os educandos

a vontade para falar em público, o primeiro contato com plateia foi muito significante.

Após os jogos, foi feito um relaxamento, todos estavam sentados

confortavelmente, em absoluto silêncio e, com um som ambiente, foram seguidos os

movimentos indicados para relaxar.

No desenvolvimento da próxima atividade, o foco foi a voz, jogos para

desenvolver a dicção, oratória e postura de voz. Para o aquecimento vocal os

educandos ficaram em círculo, mexendo a face, fazendo caretas e soltando a

musculatura da face, distribuindo beijos pelo ar, beijos apertadinhos, beijos sem

dentes, beijos como macacos; seguraram o queixo com uma das mãos, colocaram a

língua para fora para produzir sons das vogais com o ar saindo do diafragma. Para

aquecer as cordas vocais e descontrair, cada um inventou um ronco de caminhão e

andou imitando o seu caminhão.

Os educandos leram e repetiram várias vezes em grupo e individual, rápida e

lentamente, alto e baixo, grave e agudo, e colocando um ritmo, alguns trava-línguas,

este exercício foi ótimo para melhorar a dicção, os educandos se divertiram muito,

descobrindo as possibilidades da sua voz.

O próximo exercício foi para a intensidade e postura de voz, em duplas

montaram um pequeno texto com 10 falas para cada e apresentaram falando um

para o outro de perto e foram se afastando e aumentando o tom de voz até ficarem

distantes, retornaram falando e diminuindo o tom. Este exercício mostrou a

possibilidade de usar a voz, variando a sua intensidade de acordo com o desejado.

Para desenvolver o personagem, ação e emoção, foram desenvolvidos jogos

que provocam e despertam os educandos para a encenação. Para aquecer e

descontrair, foi aplicado o jogo do espelho, os educandos foram divididos em duplas,

um jogador fica de frente para o outro, refletindo todos os movimentos feitos, dos

pés à cabeça, incluindo expressões faciais. Após algum tempo, trocaram as

posições.

Continuando em pares, o jogo foi é o de memorização, todos jogaram

simultaneamente se observando com cuidado, notando a roupa, o cabelo, os

acessórios e o que conseguissem observar para lembrar, viraram de costas um para

o outro e cada um fez três mudanças na sua aparência física: dividiram o cabelo,

desamarraram o laço do tênis, mudaram o relógio de lado e várias outras mudanças.

Quando estavam prontos, os pares voltaram a se olhar e tentaram identificar as

mudanças.

O próximo jogo proposto foi o da improvisação, continuando em pares, cada

dupla escolheu uma ação proposta para encenar, ensaiou um pouco e apresentou

para o grupo. Outro jogo foi o de emoções ou estados mentais, os educandos, em

grupo de aproximadamente cinco componentes, improvisaram, encenando emoções

como medo, confusão, animação, paranoia, ingenuidade, tristeza, raiva e outras, em

lugares estabelecidos, bar, rua, praça, escola colocando um objeto qualquer que

estivesse disponível na cena.

Estes jogos desenvolveram a criatividade, raciocínio lógico, memória,

criatividade, união e aumentaram a disposição dos alunos para agir, construindo o

seu conhecimento.

Outra atividade se pautou nas histórias escritas pelos educandos sobre a

peça “Rei Midas e as orelhas de burro”, que foi lida e escrita pelos educandos no

início das atividades. Eles discutiram o texto, analisaram o comportamento humano

usando o estudo e encenação da peça teatral, desenvolveram a capacidade de

análise e produção de peças, pois criaram textos fundamentados na moral das

peças analisadas, discutindo cenários e músicas.

Os educandos aprenderam a improvisar, atuar e interpretar personagens,

tipos, coisas e situações, identificar, explorar os elementos que compõem a

linguagem teatral, pois, sentados em círculo, puderam falar o que imaginavam,

registrando e escrevendo como seria a encenação, analisando o comportamento

dos personagens e trazendo para sua realidade pensando quem seriam os

personagens, onde aconteceriam os fatos, o que e como aconteceria e qual seria o

conflito. Foi utilizado um processo de análise e construção da personagem e

interpretação textual que trabalha:

1 - Informações retiradas do texto.

Onde acontece a história, local.

Indique um ano, que você imagina ou que o texto indica, em que acontece a

história.

Se há possibilidade de saber o mês em que acontece a história.

2 - Contextualizar a ação politicamente, socialmente e religiosamente.

3 - Descrever acontecimentos que antecedem o começo da história, do texto

teatral.

4 - Descrever os personagens que mudam a forma de pensar do começo em

relação ao final da história.

5 - Montar cenas por unidades.

a) - Organizar o texto por cenas: usando as perguntas - O quê? Onde?

Quem?

- Se mudar de local ou assunto ou entrar e sair personagem muda a unidade.

b) - resumir as falas em verbos que indicam a intenção das falas. – escrever

um verbo para cada fala, exemplo, o rei fala, (traga o bêbado até aqui), (ordena).

c) - Resumir cada cena com as ações mais importantes e conflitantes para

saber qual importância de cada cena.

6 - Buscando significados:

a) - Por que o autor deu este nome para a peça?

b) - Qual erro do personagem garante o conflito na história?

A partir das respostas do processo de construção, os educandos

reescreveram toda a peça teatral para ser encenada. Realizamos a leitura da peça

escrita pelos grupos para distribuir os personagens. Todos leram individualmente

uma fala em voz alta, continuando a ler só que muito rápido, bem devagar, muito

bravo, rindo e chorando.

Após a leitura, foi verificado quem mais se identificou com os personagens

para encenar. Alguém poderia cuidar do som, outro do cenário, outro ajudar com o

figurino e até mesmo dirigir a peça, de acordo com a disposição e interesse de cada

um, o importante é que toda a equipe participasse.

Após as apresentações, foi debatido o que foi aprendido, relatada toda a

experiência e aprendizagem em grupo e individual, todos os registros foram

arquivados para avaliação.

A avaliação foi sistematizada na observação dos caminhos percorridos pelo

educando no processo, da capacidade de solucionar problemas durante as criações

e da constatação do desenvolvimento humano social, a partir da discussão e

reflexão do educando sobre o seu processo de aprendizagem. Foi também

determinada pela observação do processo e das atividades desenvolvidas,

verificando se o objetivo proposto foi atingido e se o educando apropriou-se dos

conhecimentos trabalhados neste conteúdo e se, por meio das vivências das

atividades propostas, ele conseguiu incorporar estes conhecimentos no seu viver,

mudando seu comportamento.

5 TEATRO REFLEXÃO TRANSFORMADORA E O GRUPO DE TRABALHO EM

REDE (GTR).

Durante a aplicação do material didático no colégio desenvolveu-se um curso

com professores da rede estadual, (GTR) Grupo de Trabalho em Rede com 15

inscritos, momento de troca de experiências e ao mesmo tempo uma interação com

os docentes da área de arte da Rede Pública do Estado do Paraná, que trouxeram

novos conhecimentos e opiniões sobre o projeto e o material didático. Na primeira

temática houve a discussão e interação sobre o Projeto de Intervenção Pedagógica,

realizaram as atividades propostas dentro de um fórum e do diário. A segunda

temática foi uma reflexão crítica do material didático. Na terceira temática aconteceu

a socialização, os avanços e desafios enfrentados durante a fase de Implementação

Pedagógica.

As atividades propostas no GTR foram importantíssimas, pois por intermédio

da troca de experiências o conteúdo foi enriquecido e pode ser desenvolvido em

várias escolas, proporcionando grande interação com os professores.

Tanto no diário, quanto no fórum de todas as temáticas observaram-se pontos

positivos em relação ao desenvolvimento do teatro na escola. Alguns professores de

arte que ainda não se sentem seguros para trabalhar essa linguagem,

demonstraram grande interesse no material didático.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As constatações feitas durante a aplicação desta pesquisa e material didático

foram de grande valia e revelaram que a discussão da importância do teatro e dos

jogos teatrais na escola vai além das descobertas de novos talentos, pois está

diretamente relacionada com as mudanças, mesmo que pequenas, que ocorrem no

interior de cada educando, todos os alunos que tiveram contato com o teatro na

escola, com certeza, saíram com algo diferente em seu íntimo. Segundo Porcher

(1982) "Nosso papel de educador consiste sem dúvida em favorecer essa expressão

original, e é na escola que podem ser plantadas as melhores sementes neste como

em vários outros sentidos” (p.134).

Da forma como foram trabalhados os jogos teatrais, o teatro na escola e, logo

em seguida a reflexão desse processo, percebeu-se, mudança não só de

comportamento, mas também a mudança de olhar o outro com as particularidades

de cada ser humano. É interessante perceber que existe possibilidade de mudança

de comportamento nos nossos educandos, principalmente porque o teatro

desenvolve a criticidade, assim como a empatia, por isso é tão importante analisar e

refletir sobre as situações vividas nas representações e as emoções despertadas

por cada personagem.

O teatro proporcionou atividades para o educando evoluir, socializar-se,

desenvolver a criatividade, memorização, vocabulário, coordenação e trouxe

conhecimentos culturais, que também o ajudaram a perceber o comportamento

individual e em grupo e a personalidade, auxiliando na formação educacional e

pedagógica.

Hoje, na escola pública, o professor precisa procurar sempre atividades que

façam com que seus educandos se interessem, podendo, assim, construir seus

conhecimentos de uma forma que chame a atenção e torne o aprendizado mais

interessante.

A utilização do teatro em sala de aula, bem como dos jogos teatrais e

práticas de dramatização e improvisação, foi muito válida em virtude da gama de

elementos sensoriais e criativos estimulados, que contribuem na expressão criativa,

na possibilidade de adaptação ao meio e na melhoria de interação pessoal,

resultando em uma pessoa mais expressiva, criativa e sociável em todas as suas

possibilidades.

As transformações ocorreram gradativamente, estimulando o

desenvolvimento das capacidades individuais de forma progressiva, do mais simples

para o mais complexo, sem que os educandos percebessem, pois é impressionante

que o teatro seja, entre tantas coisas, uma ferramenta mágica que diverte e instrui

ao mesmo tempo.

As atividades foram claras e bem definidas, permitindo que os educandos

evoluíssem com segurança, favorecendo um aprendizado prazeroso e certamente

contribuíram para uma melhor socialização. Podemos ressaltar alguns depoimentos

de educandos que participaram deste processo, segundo estes, o trabalho teatral

ajudou-os a viver bem em família e em sociedade, se sentiram mais espontâneos,

mais capazes de conviver harmoniosamente com os outros e aceitá-los tal como

são.

Foi positivo perceber que o teatro realmente fascina. Os jogos, quando bem

conduzidos, levam a vivências marcantes. É como se fosse uma volta à infância,

pois, quando crianças, aprendíamos a nos socializar com o mundo que nos cerca

através das relações cotidianas, dos brinquedos, jogos e brincadeiras, aprendemos

a lidar com nossos sentimentos, desenvolvendo nossas habilidades de como lidar

com situações diversas.

Nem sempre é fácil desenvolver o teatro nas escolas, mas, podemos superar

as dificuldades, precisamos lutar para minimizá-las e fazer com que os educandos

valorizem cada vez mais a disciplina de arte e o teatro, que é de suma importância

para o seu desenvolvimento como pessoa, pois fomenta as suas potencialidades

expressivas e criativas.

Esta conclusão contou com as sugestões postadas no relato das experiências

do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), curso que foi desenvolvido durante o

desenvolvimento do material didático na escola o qual foi muito importante nesta

pesquisa, pois se juntarmos o que foi postado neste curso podemos montar outro

material didático, isto demonstra um grande conhecimento dos professores que

participaram e trabalharam com seriedade e competência, mostrando o potencial

que o professor de arte possui e uma enorme vontade de ensinar para construção

de uma escola pública que realmente humanize, transforme e harmonize a

sociedade.

REFERÊNCIAS:

BOAL, Augusto. Jogos de atores e não-atores. 13. Ed. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2009.

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a Pedagogia Histórico-crítica. 4.ed.

rev. e ampl. Campinas – SP: Autores Associados, 2007. (Coleção educação

contemporânea).

PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação do. Diretrizes Curriculares de

Educação Básica: Arte. Departamento de Educação Básica. Curitiba, 2008.

PORCHER, Louis (org.) Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo:

Summus, 1982.

SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. 3. Ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.