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TEATRO IMAGEM:

A Aplicação da Metodologia do Teatro do Oprimido no Ensino

Fundamental junto à Disciplina de Arte

Cleide Sanches Pinheiro1

Alessandro Antonio Silva2

RESUMO: Este artigo é resultado da aplicação da Metodologia do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, por meio do Teatro Imagem, como forma de Linguagem no Ensino de Arte desenvolvido no Colégio Estadual Almirante Barroso - Ensino Fundamental e Médio, localizado no município de Rondon/PR - no 1° semestre de 2013, com alunos do 9° ano do período matutino, em contra turno, na própria instituição de ensino. Na prática em sala de aula é possível perceber a dificuldade que os professores da disciplina de Arte encontram em trabalhar com a Linguagem Teatral, pois muitas vezes o mesmo é visto como uma forma de figuração de datas comemorativas, deixando de ser utilizado como forma de aprendizado estético. Pretende-se proporcionar o reconhecimento estético da arte e da reflexão crítica sobre si e o mundo, levando o aluno a reconhecer-se como um produtor de conhecimento. O conteúdo de teatro desenvolvido fará intersecção com outras disciplinas do conteúdo escolar, exercitando no aluno seu conhecimento cultural, como forma de associar seu aprendizado em Arte, de forma crítica e reflexiva, junto a disciplinas como: História, Português e Geografia. PALAVRAS–CHAVE: Teatro; Sociedade; Interdisciplinaridade.

1. INTRODUÇÃO

Na prática em sala de aula, é possível perceber a dificuldade que os

1Professora PDE: Licenciada em Educação Artística. Habilitação Desenho. Especialização em Administração, Supervisão e Orientação Educacional. Atua como professora da disciplina de Arte no Colégio Estadual “Castro Alves” - Ensino Médio e no Colégio Estadual “Almirante Barroso” – Ensino Fundamental e Médio, na cidade de Rondon-Paraná. 2Possui Bacharelado em Artes Cênicas, com Habilitação em Interpretação Teatral, pela UEL -

Universidade Estadual de Londrina -, Mestrado em Artes pelo IA - Instituto de Artes da Unicamp. Doutorando em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Atualmente é professor colaborador do Curso de Graduação em Artes Cênicas / Licenciatura em Teatro da UEM - Universidade Estadual de Maringá - com dedicação exclusiva, regime-TIDE, ministrando as disciplinas: Jogos Dramáticos I, II e III, Interpretação I, Teatro e Sociedade, Expressão Vocal I e II. Na mesma universidade é professor bolsista pela CAPES do PARFOR das Artes Cênicas / segunda licenciatura, ministrando as disciplinas de Teatro e Sociedade I e II e Teorias Teatrais e Contexto Histórico II. É coordenador do projeto de Extensão e Pesquisa, Teatro Pós-dramático: a construção de um paradigma cênico na relação entre jogo e texto.

professores da disciplina de Arte encontram no desenvolvimento pedagógico dos

conteúdos previstos nas DCEs - Diretrizes Curriculares do Ensino de Arte, referente

às Artes Visuais, Dança, Teatro e Música. No que se refere à Linguagem Teatral, as

dificuldades surgem diante da falta de acesso dos alunos - do Ensino Fundamental e

Ensino Médio - às informações e práticas deste direcionamento artístico, fruto da

prática docente que prioriza o trabalho com as artes plásticas por possuírem mais

recursos didático-metodológicos e possibilidades de atividades que se encaixem em

uma aula de cinquenta minutos.

Desta forma, o trabalho desenvolvido com o Teatro é apresentado somente

em sala de aula e em projetos de contra turno escolar. No entanto, sua prática não

atinge os objetivos propostos pelo conteúdo da disciplina de Arte, apresentado nas

Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (DCE), Muitas vezes a

utilização do teatro é vista como uma forma de complementar as atividades

apresentadas em datas comemorativas ou ainda, ele surge apenas como

entretenimento, e deixa de ser utilizado enquanto um caminho de aprendizado

estético por meio da Arte.

O objetivo desse estudo é o de propor uma metodologia aplicada à sala de

aula de Atividades Teatrais (previstas nas DCE), como possibilidade de amenizar a

dificuldade que os professores desta disciplina têm em formalizá-la, uma vez que a

grande maioria tem apenas formação em Artes Visuais, sente-se receoso e inseguro

em desenvolver atividades que fogem a sua especificidade.

Para a execução da metodologia que será utilizada no desenvolvimento

deste projeto, optou-se por trabalhar com o Teatro do Oprimido3, forma teatral

idealizada e posta em prática pelo diretor, encenador e dramaturgo brasileiro

Augusto Boal. Por meio das leituras sobre o Método Teatral – Teatro do Oprimido -

encontramos apoio para alicerçar este projeto, visto ser um método significativo na

aplicação do Teatro-Educação para não atores. Apresenta também uma forma

extremamente rica no seu conteúdo metodológico, no qual relaciona de práticas

3Augusto Boal (1931-2009), dramaturgo, diretor teatral e político brasileiro, criou durante a década de 1960, à frente do Teatro de Arena em São Paulo, uma poética teatral inspirada na estética brechtiana e na pedagógica libertadora formulada pelo educador pernambucano Paulo Freire. A pedagogia teatral de Boal foi denominada por ele mesmo de teatro do oprimido, tomando emprestada a expressão utilizada por Paulo Freire para designar sua radical proposta educativa (pedagogia do oprimido). O teatro do oprimido consiste, basicamente, num conjunto de procedimentos de atuação teatral improvisada, com o objetivo de, em suas origens, transformar as tradicionais relações de produção material na sociedade capitalista pela conscientização política do público (JAPIASSU, 2006, p.43).

teatrais ao conteúdo social, o que proporciona aos alunos da Educação Básica,

uma forma de visualizar a importância da Arte na escola e em suas vidas permitindo

também que a relacionem a outros eixos educacionais (Geografia, Português,

História).

Dentre as técnicas oferecidas pelo Teatro do Oprimido, optou-se por trabalhar

o “Teatro Imagem”, pois o mesmo referencia - na aplicação de sua metodologia,-

questões relacionadas à utilização da Linguagem Visual, o que vem ao encontro da

formação de grande parte dos professores da disciplina de Arte, atuantes na

Educação Básica.

Assim sendo, o presente artigo encontra-se disposto, num primeiro momento,

a partir do estudo acerca das contribuições dos pressupostos de Boal para o ensino

de Arte, bem como de autores que versam sobre a temática tais como JAPIASSU

(2006); KOUDELA (2006), SILVEIRA (2009) e SPOLIN (2009), e das Diretrizes

Curriculares da Educação Básica da disciplina de Arte. Em seguida apresentamos a

prática realizada utilizando metodologia própria - pertencente à Linguagem Teatral –

e fazendo com que a mesma tenha intersecção com as Artes Visuais, fomentar o

que o conhecimento estético por meio do pensar, debater, experenciar e argumentar

e por fim socializamos as contribuições advindas do Grupo de Trabalho em Rede

(GTR).

2. O ENSINO DA ARTE NA PERSPECTIVA DO TEATRO DO OPRIMIDO

2.1 Breve retomada sobre o Teatro do Oprimido pautado nos pressupostos

de Augusto Boal

Desde o início de sua existência, o homem vem transformando o mundo e ao

mesmo tempo, sua história. Ao longo destas transformações, a arte sempre foi sua

aliada, representada por meio de desenhos de seu cotidiano feitos em paredes,

transformando objetos naturais em ferramentas e também se comunicando

comunicações por meio de gestos. Surgiu daí as primeiras manifestações teatrais

(SIQUEIRA, 2009, p. 144).

Assim, a arte teatral está intrinsicamente ligada à vida humana e por isso, é

de fundamental importância entendê-la como importante recurso na compreensão

dos mais variados aspectos que se referem à história do homem.

Assim, é coerente e oportuno, se tratando de Escola e alunos do Ensino

Fundamental, utilizar a proposta metodológica de Augusto Boal.

Augusto Boal foi um homem de coletivos, um semeador de multiplicadores. Ensinava aprendendo e aprendia ensinando, num constante processo de criação. Além de sua fundamental contribuição para a criação de uma dramaturgia genuinamente brasileira no Teatro de Arena de São Paulo, criou o Teatro do Oprimido que é um dos métodos teatrais mais praticados no mundo, presente em todos os continentes, através do trabalho de milhares de praticantes.(BOAL, 2012, grifo nosso)

Conforme Boal (2009), o Teatro do Oprimido é utilizado como forma de

abordar questões opressivas ou não, que fazem parte do cotidiano da escola e

sociedade.

O teatro do oprimido é composto por vários elementos teatrais com características próprias que podem ser usados em diferentes circunstâncias, como o teatro fórum, o teatro imagem, o teatro invisível e o teatro legislativo, entre outros. Com base nessa caracterização do teatro do oprimido e a partir da análise de seus fundamentos e práticas, consideramos que ele pode trazer muitas contribuições à educação estética [...]. (SIQUEIRA, 2012).

A proposta em questão baseia-se na transformação da realidade por meio do

diálogo e do teatro, com vista à “desmecanizar” física e intelectualmente seus

praticantes, democratizando o Teatro e estimulando a espontaneidade dos

alunos/atores.

Dentre as muitas técnicas desenvolvidas por Boal, o Teatro Imagem se torna

uma alternativa de oportunizar ao aluno, por meio da cultura, sensibilizar-se com as

questões relacionadas à sociedade.

O nosso desejo é o de melhor conhecer o mundo que habitamos, para que possamos transformá-lo da melhor maneira. O teatro é uma forma de conhecimento e deve ser também um meio de transformar a sociedade. Pode nos ajudar a construir o futuro em vez de mansamente esperar por ele. (BOAL, 2005, p. XI)

O Teatro Imagem foca-se nas linguagens não verbais a fim de comunicar-se.

A partir da leitura da linguagem corporal, busca-se a compreensão dos fatos

representados na imagem, sendo esta, uma realidade existente e/ou vivenciada. Os

participantes são levados a pensar com imagens, a debater um problema sem o uso

da palavra, usando apenas seus próprios corpos (posições corporais, expressões

fisionômicas, distâncias e proximidades, etc.) e objetos (BOAL, 2005, p.5).

Ao abordar questões pertinentes ao Teatro-Educação é necessário que se

tenha clareza quanto à definição de ambos. A partir daí, surge o questionamento do

papel do educador sobre sua real função, discutindo se é a de encaminhar um

trabalho voltado para o lado artístico ou para o formativo.

Considerando tais argumentos, Koudela (2009) salienta que a concepção

predominante em Teatro-Educação objetiva a livre expressão da imaginação

criativa.

A concepção predominante em Teatro-Educação vê a criança como um organismo em desenvolvimento, cujas potencialidades se realizam desde que seja permitido a ela desenvolver-se em um ambiente aberto à experiência. O objetivo é a livre expressão da imaginação criativa. Na visão tradicional, o teatro tinha apenas a função de preparar o espetáculo, não cuidando de formar o indivíduo. (KOUDELA, 2009, p. 18)

A autora lembra que o Ensino de Teatro foi revolucionário a partir do

movimento da Escola Nova, revendo as formas tradicionais de ensino, e que a partir

daí, respeitou-se o desenvolvimento natural da criança. Desta forma, a Escola Nova

trouxe para primeiro plano a expressividade da criança, mas ao mesmo tempo,

levantou a discussão de que a abordagem criativa da arte dramática não é apenas

desejável, mas também essencial para o seu desenvolvimento por meio da

educação (KOUDELA, 2009, p.18-19).

Nessa perspectiva, o Teatro na escola contribui para a formação de uma

sociedade mais crítica, tendo como objetivo ampliar e orientar as possibilidades de

expressão do aluno. Isto porque, no momento de sua participação, nos Jogos

Teatrais ou na própria atuação, ele encontra-se frente a problemas que necessitam

de soluções e que envolvem observação, imaginação, percepção, relacionamento

(KOUDELA, 2009, p.44). Desta forma, fica evidente que a proposta de trabalhar com

o Teatro na escola não se trata da valorização do “talento” ou “desenvoltura”, mas

de uma forma de oportunizar ao aluno momentos em que possa expressar-se

livremente e desta forma, contribuir para um crescimento pessoal e também cultural.

Sob este enfoque, as atividades de expressão proporcionam ao aluno um

meio de exteriorizar, pelo movimento, seus sentimentos mais profundos e suas

observações pessoais, utilizando-se da espontaneidade para tornar o trabalho

prazeroso e de fácil realização.

Assim, todo o processo de desenvolvimento das atividades de expressão, por

meio dos Jogos Teatrais, tornam-se mais importantes para a educação do que o

próprio produto final, ou seja, a apresentação em si.

No Estado do Paraná, após anos de estudo, simpósios e implementações,

sistematizou-se um documento que norteia a prática pedagógica nas escolas de

ensino fundamental e médio intitulado Diretrizes Curriculares da Educação Básica

(DCE) – do Paraná para o Ensino da Arte. Este documento ressalta que, entre as

possibilidades de aprendizagem oferecidas pelo Teatro na Educação, estão a

criatividade, socialização, memorização e a coordenação, além do que, com o

Teatro, o aluno/ator tem a possibilidade de colocar-se no lugar do outro,

experimentando o mundo sem correr risco (DCE, 2008).

Uma possibilidade seria iniciar o trabalho com exercícios de relaxamento, aquecimento e com os elementos formais do teatro: personagem – expressão vocal, gestual, corporal e facial. Composição: jogos teatrais, improvisações e transposição do teatro literário para texto dramático, pequenas encenações construídas pelos alunos e outros exercícios cênicos (trabalho artístico). (DCE, 2008, p. 77)

Numa sociedade que não compreende o sujeito em sua totalidade,

fragmentando-o, surgem à necessidade de integrar as partes que compõem esse

sujeito, utilizando-se da Arte-Educação, por meio do Teatro, a fim de desenvolver a

intuição e a razão por meio das percepções, sensações, emoções, elaborações e

racionalizações. O objetivo de desta prática é proporcionar ao aluno melhores

condições de relacionar-se consigo e com o outro. Por essa razão, faz-se necessário

utilizar uma metodologia teórico-prática e sensorial para que o trabalho artístico não

se reduza apenas ao simples fazer.

Para que a presença do Teatro na escola seja coerente à concepção de Arte

adotada nas Diretrizes, busca-se superar a ideia do teatro somente como atividade

espontânea ou de espetáculo comemorativo (DCE, 2008, p.78).

Quanto à avaliação, nessa mesma perspectiva, ou seja, a de Arte-Educação,

contida nas diretrizes para o Ensino do Teatro, a mesma deve ser diagnóstica por

ser a referência do professor ao planejar as aulas e avaliar os alunos; e processual

quando considera o desenvolvimento das aulas, observando e registrando todo o

processo de aprendizagem, com os avanços e dificuldades percebidos quanto à

apropriação do conhecimento pelos alunos, bem como a auto avaliação dos

envolvidos no processo (DCE, 2008, p. 81).

2.2. Descrição da Prática Docente pautada na metodologia do Teatro do

Oprimido no Ensino Fundamental

Diante das dificuldades apresentadas na problematização inicial do projeto,

optou-se por trabalhar com o Teatro do Oprimido, forma teatral idealizada e posta

em prática, como já vimos, pelo diretor, encenador e dramaturgo brasileiro Augusto

Boal.

Este projeto vem - por meio da aplicabilidade de Atividades Teatrais (previstas

nas DCE) - buscar possibilidades de amenizar tais dificuldades, apresentando-se

como um meio importante para os professores de Arte, preocupados com a questão

da qualidade do ensino da disciplina e que aspira uma maior e melhor participação

por parte de nossos alunos, visando a explorar a capacidade expressiva dos

mesmos, a fim de auxiliá-los no processo de autoconhecimento, autocontrole,

observação. Por este fator escolhemos o Teatro Imagem e junto a ele os Jogos

Teatrais, que se fazem indispensáveis no momento em que são trabalhadas

expressões corporais, faciais, enfim, o momento em que desenvolvemos uma

atividade teatral dentro e fora da escola.

O Projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Almirante Barroso - Ensino

Fundamental e Médio – no 1° semestre de 2013, com alunos do 9° ano do período

matutino, em contra turno, na própria escola. Subdivididos em quatro encontros em

sala de aula no período matutino e sete encontros em contra turno, sendo: uma hora

e cinquenta minutos com atividades, um intervalo de vinte minutos e mais uma hora

e cinquenta minutos, totalizando assim quatro horas em cada encontro.

Inicialmente foi feito em sala de aula uma apresentação do projeto, junto a

ele, o Teatro do Oprimido, Teatro Imagem e Jogos Teatrais. Durante a elaboração

do projeto optamos por aplicar as cinco sessões de Orientação de Viola Spolin. A

princípio o objetivo era trabalhar com as cinco sessões na integra, mas isto não foi

possível porque o tempo não foi suficiente para realização das mesmas, uma vez

que se fazia necessário repetir alguns jogos.

Todas as atividades eram iniciadas com exercícios de alongamento e

relaxamento, com fundo musical necessário para o autoconhecimento, dessa forma

os encontros tornaram-se mais atraentes e prazerosos. Logo após foram feitas uma

sequência de atividades recreativas – atividades estas que serviram como

aquecimento e também como forma de descontração para o grupo.

As atividades trabalhadas foram: Círculo Máximo e Círculo Mínimo, corrida

em câmera lenta, andar de quatro, passo do camelo, passo do elefante, passo do

canguru, o caranguejo, inclinados uns sobre os outros. Por sugestão do grupo, estas

atividades foram também realizadas com fundo musical. O passo seguinte foi dar

uma volta na quadra de forma mais calma e com exercícios de respiração, até que

fosse diminuindo a agitação do grupo. As atividades foram extraídas do livro “Jogos

para Atores e Não Atores de Augusto Boal” (BOAL, 2005, p. 102 a 105).

Durante a aplicação dos jogos teatrais, sempre que houvesse a necessidade

de formação de grupos, a opção era sempre por numeração, de maneira que os

grupos ficassem sempre com integrantes diferentes, separando assim, as

“panelinhas”- grupos formados por afinidade.

O primeiro jogo que fizemos foi “Exposição”, sendo utilizado como um meio

de descontração para o grupo.

A turma foi dividida em dois grupos. Um grupo foi para arquibancada da

quadra que seria a plateia e os outros que estariam no palco seriam os atores. Os

atores posicionaram-se frente para a plateia. Ambos os grupos tiveram orientações

para que observassem uns aos outros, seguindo sempre aos comandos de

orientação do professor e de forma que se mantivessem concentrados. Passados

um tempo os grupos trocaram de lugar e continuaram a observar – se. Apesar de

todos se conhecerem, demonstraram muito desconforto, durante o exercício, mesmo

que alguns tentassem disfarçar, era visível a falta de concentração do grupo.

Após o término do exercício fizemos uma pausa, para que fosse feita uma

avaliação da atividade, com questionamentos como:

Como vocês se sentiram quando estavam no palco?

E vocês que estavam na plateia, como se sentiram?

E quando trocaram de lugar, foi diferente?

Por quê?

Vocês conseguiram manterem-se concentrados?

As repostas foram bem diretas, conforme descritas a seguir:

No começo achei engraçado, mas depois, foi estranho perceber que

estavam olhando para mim;

Para falar a verdade, eu queria que terminasse aquilo logo professora;

Eu gostei mais de observar do que ser observado dá muita vergonha.

Eu ficava me perguntando, o que isso tem a ver com teatro?

Na sequência dos encontros foram realizados os seguintes jogos:

O que estou vendo? Ou Vendo um esporte – Ouvindo os sons do

ambiente – O que estou ouvindo? - Jogo de identificação de objetos –

Jogo do tato – O que estou pegando? – O que estou comendo? -

Exercício de espelho n° 1 (Dois jogadores) – Quem é o espelho? -

cabo de guerra;

Jogo da bandeja – jogo dos seis objetos – jogo da bola: envolvimento

em duplas, envolvimento em três ou mais, envolvimento sem as mãos

– Jogo do espelho nº 2 – Jogo de orientação nº 2;

Quem começou o movimento – Dificuldade com objetos – Quantos

anos eu tenho? – Quantos anos eu tenho? Repetição – Objeto move

os jogadores – Jogo da sobrevivência – Exercício de espelho nº 3 –

Conversação com envolvimentos – Jogo do desenho.

Durante a Aplicação das atividades repetimos alguns jogos e também fizemos

algumas adaptações, em função ao espaço que tínhamos disponível naquele dia,

uma vez que usávamos o pátio, o saguão, a quadra e uma sala ambiente que

chamamos de quiosque. Esta necessidade de adaptações é uma característica do

trabalho em sala de aula e o professor predisposto a estas modificações, é capaz de

criar situações enriquecedoras de aprendizagem aos seus alunos.

À medida que os jogos eram realizados, fazíamos avaliações sobre os

resultados, por meio de questionamentos e sugestões, para desta forma, buscar

melhores resultados. Tais avaliações permitiram aos alunos observar que após o

trabalho feito com os Jogos Teatrais, apresentassem melhoras significativas, tanto

nas atividades individuais quanto na de grupos.

Durante o momento da aplicação dos Jogos Teatrais, foi obtida a participação

de todos os componentes do grupo uns com melhor desempenho e compromisso

outros não, uns mais tímidos, outros menos.

Por meio destas avaliações foi possível perceber que os alunos gostaram de

trabalhar com os Jogos Teatrais, e quais seriam mais apropriados para sala de aula.

Possibilitou perceber também que alguns jogos foram mais aceitos pelo

grupo, como: O jogo de identificação de objetos, o que estou vendo? O jogo do

espelho n° 1, cabo de guerra imaginário, jogo da bandeja, jogo dos seis objetos, jogo

da bola. Estes jogos seriam facilmente aplicados em sala de aula, por não necessitar

de investimentos com materiais, uma vez que utilizamos os espaços e materiais

disponíveis na própria escola, como também os quais necessitarão de adaptações

para se ajustarem a nossa realidade escolar, seja ela nos ambientes a serem

utilizados além da sala de aula, como também com relação aos horários disponíveis.

Registro dos Momentos da Oficina

Alunos do 9º Ano “A” – Colégio Estadual Almirante Barroso – Ensino

Fundamental e Médio.

Concluída a parte de aplicados o Jogo Teatral, chegou o momento de

apresentar aos alunos, uma sequência de fotos do Haiti, após o terremoto de 2010.

Fotos estas que foram fornecidas pelo médico Adriano Cordeiro, que esteve neste

país, prestando trabalho voluntário por oito meses. A apresentação das fotos foi

feitas no laboratório de informática da escola, onde os alunos em comum acordo

fizeram a seleção das mesmas. Este foi um importante momento da implementação,

que gerou resultado, anteriormente desejado no projeto, que foi a

interdisciplinaridade. Uma vez que a professora de historia estaria trabalhando este

assunto em suas aulas.

Após a escolha das fotos, marcamos para o próximo encontro a reproduções

das mesmas. Tudo que utilizamos para produção do nosso material foi por meio de

improviso, neste dia houve um envolvimento de vários membros da comunidade

escolar, contamos com a colaboração de professores, funcionários e também alunos

da escola, que não estavam envolvidos com o projeto.

No momento em foram feitas as reproduções das fotos, tanto alunos quanto

professor pôde perceber a importância do trabalho anteriormente realizado com

Jogos Teatrais, para a execução não só do Teatro Imagem, como de qualquer outra

linguagem teatral a ser desenvolvida na escola. Neste momento a expressão

corporal/facial apresentou-se de forma fundamental para que se pudessem transmitir

as emoções/sentimentos dos alunos que fizeram a reprodução das fotos

selecionadas.

2.3. Análise da Contribuição do Grupo de Trabalho em Rede

Ao analisar as várias participações que compuseram os fóruns, foi possível

perceber que os problemas encontrados em nossa escola - quanto ao momento de

trabalhar com teatro e também outros eixos da arte, como música e dança – ocorrem

também em outras escolas.

Problemas estes, que vão desde a falta de habilitação - uma vez que a

grande maioria são professores habilitados em Artes Visuais e não nas cênicas,

especificamente – até a falta de cursos específicos oferecidos pela SEED, com

práticas aplicadas por profissionais das áreas. A escassez de espaços apropriados

para desenvolver as atividades relativas ao teatro, também se apresenta de forma

significativa. Isto ocorre porque as tais atividades demandam uma maior

movimentação e causam aumento do barulho - por parte dos alunos -, o que acaba

por causar incômodos vários aos professores/alunos das salas e espaços próximos.

A soma das experiências – as minhas, ao desenvolver o projeto e as dos

participantes, com seus feedbacks, - deixaram clara a necessidade de fazer de

algumas atividades durante a aplicação em sala de aula.

No momento de socialização da Produção Didático-Pedagógica, foi possível

perceber um grande entusiasmo por parte dos professores/participantes, com

relação ao desenvolvimento de trabalhos com teatro em suas aulas. Isto pode ser

sentido também na aplicação dos Jogos Teatrais nestas mesmas aulas. Alguns

participantes já possuíam conhecimentos sobre as teorias de Viola Spolin e Augusto

Boal, outros não. Isto proporcionou - após as leituras da Produção Didático-

Pedagógica - um importante momento em nosso GTR.

Foram colocações, trocas de experiências, dicas para os colegas que ainda

encontravam certas barreiras ou insegurança com o conteúdo relacionado ao teatro

em suas aulas, mas que porém, foram superados.

A resistência por parte dos alunos tímidos também foi apontada. Neste

momento, vimos que ao trabalharmos com o Método de Augusto Boal - o Teatro do

Oprimido – pudemos encontrar inúmeras atividades e jogos que auxiliarão aos que

encontram dificuldades, a pelo menos, ameniza-las, uma vez que nosso aluno

também aprende observando seu colega atuando.

Foi possível perceber uma grande preocupação e comprometimento por parte

dos professores/participantes, que buscam cursos - fora de suas habilitações - e

leituras, bem como a enorme troca de experiências entre os mesmos – também no

tocante à troca de experiências com colegas de outras regiões. Uma observação

importante foi à dificuldade em trazer os alunos em contra turno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação tem papel fundamental dentro do desenvolvimento humano e é

por meio dela, que passamos a perceber o que nos rodeia de forma mais clara e

seletiva. Cada disciplina da grade curricular tem sua importância dentro desta função

tão complexa.

A Arte - antes vista como o desenvolvimento manual – nos dias atuais

conforme, o que está estabelecido nas DCEs da disciplina, preconiza o

desenvolvimento subjetivo, o qual permite que o aluno seja capaz de expressar-se

livremente, de forma a poder desenvolver análises como individuo pertencente a

um grupo social diverso e rico.

Observar o desenvolvimento do aluno de forma gradativa permite visualizar

não só nossa prática como também a nós mesmos como cidadãos, bem como a

importância de nosso trabalho que apesar de árduo, é extremamente compensador

e necessário.

O Teatro trouxe ao grupo de alunos participantes do grupo a possibilidade de

entrar em contato com a linguagem teatral e perceber que ela não se realiza apenas

em grandes teatros, tampouco é destinado apenas a uma elite. O trabalho realizado

com os alunos por meio dos Jogos Teatrais os fez perceber que é necessário se

expressar, mas que para isso é preciso se conhecer e refletir antes de agir.

Os estudos feitos sobre a obra de Boal e Spolin não só permitiu a elaboração

de um projeto adequado à realidade dos alunos do Colégio Estadual Almirante

Barroso – EFM - como também de atividades que conseguiram despertar o

interesse e o prazer de vivenciar a arte cênica dentro de seu espaço escolar, o que

permite ao professor de Arte visualizar meios para trabalhar o Teatro -

anteriormente desconhecido - e tudo isso de forma simples com técnicas acessíveis,

mesmo que não tenha habilitação em Teatro.

Torna-se imprescindível uma prática docente pautada nas pesquisas e

estudos constantes, a fim de buscar cada vez mais conhecimentos e assim,

resultados satisfatórios em conteúdos fora de nossa área de formação.

REFERÊNCIAS

BOAL, Augusto. A Estética do Oprimido: Reflexões errantes sobre o pensamento do ponto de vista estético e não científico. Disponível em: http://www.garamond.com.br/arquivo/385.pdf. Acesso em 12 de Jun. 2012. ________. Jogos para atores e não-atores. 8ª ed. revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. ________. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. 9ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. JAPIASSU, Ricardo. Metodologia do Ensino do Teatro. Campinas, SP: Papirus, 6ª Ed. 2006. KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos Teatrais. 7ª ed. São Paulo. Editora Perspectiva, 2009. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação, Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de Artes e Artes para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008. SILVEIRA, Eduardo. A arte do encontro: A Educação E estética Ambiental atuando com o Teatro do Oprimido. Educ. rev. [online]. 2009, vol.25, n.3, pp. 369-394. ISSN 0102-4698. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/edur/v25n3/18.pdf . Acesso em: 10 Jun. 2012 SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. 4º ed. São Paulo. Editora Perspectiva S.A. 2001.

Teatro de Arena. Disponível: em http://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_de_Arena_de_S%C3%A3o_Paulo. Acesso em: 02 Dez. 2012.