teatro do oprimido (relatório)

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7 de setembro de 2014 até 15 de Agosto de 2014 A MINHA RESIDÊNCIA no Centro de Teatro do Oprimido (CTO)

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Page 1: Teatro do Oprimido (Relatório)

7 de setembro de 2014 até

15 de Agosto de 2014

A MINHA RESIDÊNCIA no Centro de Teatro do Oprimido (CTO)

Page 2: Teatro do Oprimido (Relatório)

Lista das atividades assistidas:

Oficina Projeto TO da Mare no hospital Ame rico Veloso (16/07) [3h] Oficina de Pirei na Cena (17/07) [3h] Curso Introduça o da Este tica do Oprimido (18-20/07) [15h] Curso do Teatro Fo rum (21-23/07) [15h] Curso Papel do Curinga (24-31/07) [45h] Multiplicaça o Comunita ria GTO Cor do Brasil (29/07) Apresentaça o GTO Marias do Brasil (30/07) Oficina Projeto TO da Mare na paroquia (02/08) [3h] Ensaio Cor do Brasil (05/08) [1h] Ensaio Pirei na Cena (07/08) [3h] Oficina Projeto TO da Mare na escola Clotilde Guimara es (08/08) [3h] Semina rio da Este tica do Oprimido (12/08) [3h] Oficina de Teatro-Jornal (13/08) [3h] Ensaio de Pirei na Cena (14/08) [3h]

Reflexão das atividades e descobertas:

Oficina Projeto TO da Mare no hospital:

Antes de ter tido qualquer trabalho com o CTO, fiz esta oficina totalmente inge nuo do

projeto. O resultado foi ainda mais interessante para assistir assim. Naquele enta o, eu na o

sabia dos propo sitos do CTO na favela da Mare , mas fazendo a oficina baixo a curingagem

de Alessandro me fiz me apresentar bem com a realidade da favela. Os adolescentes foram

muito aceitantes da minha presença fazendo assim minha contribuiça o naquelas cenas

mais fa cil para mim. Achei a maneira de curingagem de Ale muito especí fico com os

adolescentes. Jogando antes de entrar aos temas importantes da favela foi o jeito perfeito

para abrir aos adolescentes pouco a pouco. O melhor exemplo foi com o jogo da Máquina

onde os jovens fizeram primeiro uma ma quina representando Rio de Janeiro e depois uma

representando o povo da Mare . Na ma quin ade Rio de Janeiro, eles apresentarem uma

colaboraça o de mu sica, festa, e alegria total. Na ma quina da Mare , eles fizeram um

conjunto de viole ncia, tristeza, e opressa o. Foi interessante enxergar aqueles lugares

atrave s dos olhos deles porque Mare segue sendo parte de Rio de Janeiro, mas para eles

os dois lugares sa o totalmente diferentes e quase muito longe de cada um. Durante o

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tempo das cenas improvisadas (algo que no começo eu odiava fazer) as descobertas foram

pessoalmente impressionantes. Os jovens me pediram fazer o protagonista da cena

violenta. Sem saber bem do que eles falavam, eu aceitei. Depois de fazer a cena, eu entendi

bem a viole ncia tí pica da favela e os riscos que esses adolescentes te m que superar dia a

dia. A cena consistia de um jovem be bado depois de uma festa da Copa do Mundo numa

favela. Quando ele ficou sozinho, foi encontrado pela polí cia militar e eles começaram a

lhe xingar e bater. Depois de que ele acabasse muito machucado, eles lhe fizeram

caminhar sobre algumas ruas centrais cheias de tra fico; se ele caminhasse sem morrer, os

policiais lhe iam deixar em paz, mas se na o, ele morreria ali mesmo. O resultado foi fatal

e segundo os adolescentes do meu grupo, ningue m foi capaz de fazer nada para lutar pela

justiça dele; nem os pais dele. Como o ator fazendo a cena que eu na o entendia no inicio,

eu fiquei totalmente surprendido com essa realidade injusta. Vendo a cena do outro grupo,

uma realidade similar surgiu: o racismo dos militares contra as pessoas faveladas de pele

preta. Apesar de na o ter sido ta o fatal como a primeira cena, a opressa o foi igual: ha abuso

do poder com os militantes em situaço es de “pacificaça o nas favelas.” Enta o eu entendi

um dos propo sitos do projeto de CTO na Mare : da -lhes (aos adolescentes) uma voz e uma

fonte de expressar essas mesmas frustaço es contra a opressa o vivida nessa favela

supostamente pacificada pelo governo.

Oficina da Pirei na Cena (17/07):

Com um pouco do entendimento dos propo sitos do CTO na comunidade, eu foi para o

hospital psiquia trico com novos olhos. Conhecendo aos pacientes foi o primeiro passo

para entender bem os desejos do CTO com a sau de mental na comunidade de Nitero i. Eles

foram ta o amiga veis e fiquei impressionado com o jeito deles para participar facilmente

em jogos e nas cenas teatrais. Alessandro utilizou jogos similares aos dos jovens da Mare ,

Page 4: Teatro do Oprimido (Relatório)

mas ainda mais fortes no sentido de sentimentos para os pacientes. Por exemplo, no jogo

do Amigo-Inimigo eu achei que foi mais apropriado para os pacientes em vez dos

adolescentes da favela, considerando que os pacientes mentais precisam mais o

entendimento de relacionar entre eles mesmos e outras pessoas no seu redor. O jogo fez

mais fa cil para me expressar na improvisaça o ja que odeio fazer isso mesmo, mas com os

pacientes ta o disponí veis a participar, eu na o podia me afastar dessa colaboraça o ta o

afetuosa. Depois disso, Ale continuou com minha primeira participaça o no Arco-í ris do

Desejo depois de ter tido uma discussa o sobre a opressa o com o grupo. Depois de escolher

a historia opressiva de Mo nica (uma das pacientes), no s continuamos a fazer a cena dela.

Achei a sua historia ta o pessoal mas tambe m acho que e importante escrever sobre essa

experie ncia nesta reflexa o; peço desculpas se e opinado o contra rio. A historia dela

aconteceu quando foi forçada a se casar com um homem com quem ela na o queria estar.

A opressa o da famí lia dela fez que ela se casasse com um be bado. Depois de ver a cena

organizada por ela mesma, Ale pediu-lhe para escolher va rias pessoas quem ela queria

que estivessem com ela no momento do seu casamento. Os participantes que ainda na o

estavam na cena entrariam a fazer parte da colaboraça o dela. Ela enta o agregou a tias e a

ma e dela para fazer parte da cena no momento do casamento. O resultado foi diferente

com a presença das novas personagens: em vez de se casar com o be bado, ela decidiu

esperar um pouco mais antes de decidir ta o ra pido. Achei muito efetivo o uso do Arco-í ris

do Desejo naquela oficina com pacientes psiquia tricos. Acho muito sauda vel e terape utico

para a gente ver que as deciso es erradas de nosso passado pudessem ter tido diferentes

resultados com a gente apropriada presente com no s. Especificamente com os pacientes,

como com o jogo Amigo-Inimigo, a utilizaça o do Arco-í ris do Desejo deixa que eles

exercitem as percepço es que eles te m da gente ao seus redores e para melhorar as

deciso es no futuro sem se culpar pelos erros ja feitos antes.

Page 5: Teatro do Oprimido (Relatório)

Curso Introduça o da Este tica do Oprimido:

Eu achei esse curso essencial para meu entendimento sobre o TO. Foi legal experimentar

com os va rios sentidos de varias formas para assim lograr reconhecer cada uma das

propriedades deles e enta o entender o poder que tem com respeito a nossa vontade de

nos relacionar entre no s como seres humanos. Com os jogos eu achei totalmente

necessa rio incluir a todo o pessoal do curso. Eu adorei a forma ta o influente das curingas

para ajudar a galera desenvolver seus respetivos sentidos atrave s de jogos especí ficos que

quase abriam meu terço olho. Especificamente com o caso da arte e poesia utilizada, eu

achei aqueles me todos muito eficazes para expressar nossos sentimentos sobre nossos

redores e ao mesmo tempo nos deixando utilizar nossos sentidos como ferramentas de

expressa o. Isso ai foi o mais poderoso que me levei do curso, e tambe m um desejo bizarro

para voar?

Curso do Teatro Fo rum:

Depois do u ltimo curso, eu tinha ficado cansado, mas minha curiosidade por saber mais

sobre o TO foi o suficientemente forte para me ajudar seguir ativo durante os tantos jogos.

Ademais das explicaço es feitas pelos curingas, o que eu achei bom do curso era ver as

conexo es do teatro com todas as outras artes. Por exemplo, como um dos exercí cios, a

gente foi pedida que escolhesse uma opressa o e depois fazer uma cena dela. Ao terminar

a cena, os curingas nos pediram que fize ssemos tre s modelos do curso da opressa o em

tre s formas diferentes. Enta o, foi difí cil encontrar as estaçoes de uma opressa o mais ficou

fa cil quando o grupo teve que utilizar a este tica da arte para representar aquele mesmo.

Com tre s estatuas da evoluça o da opressa o, e as mesmas feitas de pintura, poesia, e

mu sica, os grupos puderam analisar mais sistema ticamente as tre s cenas sem saber

Page 6: Teatro do Oprimido (Relatório)

totalmente do que as cenas tratavam-se. Eu acho que essas mesmas observaço es feitas

nesse enta o foram levadas para as apresentaço es das cenas opresivas onde a gente tentou

resolve -las com essas observaço es ja pre -estabelecidas no aquele exercí cio anterior. Eu

sei que isso na o pode ser feito antes de cada apresentaça o de Teatro Fo rum, mas seria

o timo. Agradeço muito aos curingas por nos deixar exercitar nossos sentidos antes das

apresentaço es para assim ser mais abertos a s reformas e soluço es contra opresso es.

Curso Papel do Curinga:

Minha primeira definiça o de curinga foi: “ algue m que utiliza o camuflagem para assim

examinar seu redor e depois tentar de muda -lo com suas pro prias criticas que pudessem

fazer a outra gente ver diferentemente ao mesmo redor”.

Sabendo que o curso foi totalmente novo e experimental para o CTO, eu ainda acho que

foi conduzido muito bem pelos curingas; num lado Alessandro manejou a parte fí sica e

Flavio a parte da discussa o. Os dois jeitos em equipe trabalharam bem juntos para ajudar

as pessoas aprender mais do TO em uma forma de vista de curinga.

Agradeço muito a oportunidade de conduzir parte de uma oficina num paí s estrangeiro

para mim. Foi difí cil, mas eu acho que isso me fez entender melhor para assim ofrecer

uma experie ncia ainda mais completa para os participantes novos a s oficinas.

O a rvore do curinga foi legal porque foram tre s ideias de a rvore que no s tentamos juntar

num so arvore para que a gente visse as similaridades entre elas. Eu achei a organizaça o

um pouco deslocada. Nos u ltimos dias quando fizemos as cenas do Teatro Fo rum, eu senti

aqueles dias fora de lugar. Ja tí nhamos acabado nossas conduço es de oficinas na

comunidade, enta o fazendo as cenas de Teatro Fo rum ao final do curso ficou quase sem

sentido: por que faze -las ta o longe de nossos iní cios como curingas? Aqueles dias foram

bons para nosso crescimento, mas eu senti que tivesse sido melhor para utilizar esse

Page 7: Teatro do Oprimido (Relatório)

mesmo crescimento quando eu conduzi a minha oficina na Mare . Tambe m, seria melhor

fazer a parte de Teatro Fo rum mais cedo depois de que a gente acabe de fazer o curso do

mesmo teatro.

No caso das discusso es, eu acho que seria bom deixar a gente falar e explicar entre eles as

questo es da opressa o e da conduça o das oficinas, mas tambe m fechar as discusso es com

uma explicaça o mais certa de um dos curingas conduzindo aquelas discusso es mesmas.

No caso da neutralizaça o do curinga, esse tema tem que ser mais exercitado no curso

porque muita gente fez cenas de Teatro Fo rum escolhendo lados ou criticando os

problemas das cenas sem lembrar que essas eram acontecimentos pessoais de algue m no

grupo. Enta o, ser mais sensí vel com aquelas situaço es nas cenas e necessa rio na parte dos

curingas conduzindo o curso, mas precisa explicar os erros das cenas na o ta o

agressivamente se a cena esta errada com seus usos de Teatro Fo rum, por exemplo. No

caso da cena feita por no s os residentes, apesar de na o ser Teatro Fo rum, eu achei que as

crí ticas do pu blico foram muito agressivas contra o oprimido participando na cena e eu

acho que a discussa o tivesse sido conduzida melhor para criticar as propriedades de

Arco-í ris do Desejo na cena.

Minha definiça o final de curinga foi: “uma pessoa capaz de dominar varias coisas ao

mesmo tempo sem descuidar o bem-estar da gente. Nessa aça o, o curinga critica seu redor

social para tentar revolucionar, reconstruir e reviver os direitos naturais das pessoas

como seres humanos”.

Multiplicaça o Comunita ria GTO Cor do Brasil:

Como o meu primeiro enfrentamento com o racismo no teatro em Rio, eu achei esta

apresentaça o muito importante para assistir. Sendo honesto, eu na o esperava o caso

especí fico do grupo que fosse o cabelo duro da gente negra. Normalmente se fala da pele

Page 8: Teatro do Oprimido (Relatório)

em casos de racismo, mas a decisa o deles naquela apresentaça o foi interessante e

igualmente importante para ver. Depois de ter passado pelo curso de Teatro Fo rum, achei

o curingagem de Edlamar e Lumena muito apropriado para a apresentaça o. Pessoalmente,

sendo de pele clara, eu fiquei muito afastado de apresentar a minhas opinio es no

momento de oferecer soluço es para a cena racista. Como eu na o tenho cabelo duro, achei

minhas soluço es na o ta o importantes como as soluço es apresentadas pelo pu blico negro.

As soluço es deles foram mais apropriadas para a cena onde a opressa o social de na o

querer ter cabelo grande na a rea profesional do trabalho e bastante. Para mim, achei que

eu na o tinha uma experie ncia adequada para utilizar nessa cena nem que fosse ta o efetiva

para resolver o problema do racismo no emprego. Talvez seja porque sou de EUA, mas o

racismo acontece em todas as partes do mundo, e so que na o tem acontecido a mim graças

a Deus. Em fim, a soluça o mais breve e forte foi denunciar o acontecimento a ca mara de

direitos humanos: acho que essa soluça o e muito relacionada aos propo sitos de CTO com

Teatro Legislativo onde se fazem soluço es legais com casos similares de injustiça.

Apresentaça o GTO Marias do Brasil:

Depois de ter lido sobre o Teatro Legislativo e ter escutado sobre o mesmo no curso do

curinga, a apresentaça o das Marias do Brasil foi ainda mais impactante para assistir. A

ideia de ser trabalhadoras dome sticas e tambe m ser parte de uma obra teatral e

impressionante de ver e viver. Aquelas mulheres sa o guerreiras sociais para os direitos

laborais e isso mesmo foi visto na sua cena aquela noite. As similaridades que eu senti

com as trabalhadoras dome sticas do Me xico foi forte ja que elas tambe m passam pelos

mesmos riscos que as Marias do Brasil. As duas deixam as suas terras e casas nos campos

para se mudar a s cidades grandes onde as oportunidades de ganhar mais dinheiro e a

melhor opça o para as famí lias delas. Acho que as Marias dos paí ses latino-americanos

Page 9: Teatro do Oprimido (Relatório)

sofrem as mesmas opresso es nas sociedades machistas onde moram, mas acho que esta

iniciativa do CTO para ajuda -las se expressar e um passo essencial para reformar a

sociedade pouco a pouco contra o abuso das trabalhadoras dome sticas. No caso daquela

apresentaça o, as soluço es trazidas pelo pu blico foram efetivas com Teatro Legislativo em

mente. Muita gente reconheceu os direitos ignorados pelos empregadores na cena e

escolherem utilizar a justiça contra a opressa o deles. Claudete como curinga na

apresentaça o reconheceu o ra pido que a gente ia utilizar a lei para resolver a opressa o

mas ainda encontrou o jeito de conseguir mais de uma soluça o da audie ncia. Com o uso

de jogos e atença o, ela foi capaz de sacar varias opinio es do pu blico. O que me

impressionou mais foi o tanto que as Marias trabalham para fazer cenas como aquela. Elas

podera o ser velhinhas ate 80-algo anos de idade, mas a paixa o delas no teatro e a mesma

que a que eu vejo em casa. Uma das maiores descobertas foi ver essas mulheres lutar

contra uma opressa o antiga de uma forma mais renovadora e expressiva. Como lutadoras,

eu agradeço muito o talento delas e como esse dom e utilizado para revolucionar a

sociedade onde elas moram. Esse tipo de propo sito e visto com todas as iniciativas

começadas por CTO, creio eu.

Oficina Projeto TO da Mare na paroquia:

Sendo novos ao TO, achei essa oficina com aqueles adolescentes importante para assistir

como curinga-em-pra tica. Alessandro e Monique escolherem jogos divertidos e fí sicos

como Hipnotismo-Colombiano e Contrárias-de-Jackson para fazer com os jovens e assim

facilitar a participaça o deles e poder tocar temas mais fortes como a suas vidas na favela.

Com as improvisaço es em duplas que Ale escolheu fazer, eu pude ver a viole ncia vivida na

favela. Eu fiz tre s cenas com tre s membros diferentes da favela: os tre s apresentarem

muitas formas de viole ncia nas cenas. Como regra do jogo, e necessa rio ter duas

Page 10: Teatro do Oprimido (Relatório)

revelaço es por cena; eu fazia uma e a outra pessoa fazia a outra. Cada vez que eles

decidiam fazer uma revelaça o, sempre era violenta: surgia uma morte de repente, ou a

polí cia abusadora chegando, ou a opressa o no emprego. Eu enta o cheguei a entender um

pouco mais a raza o de fazer teatro com esses adolescentes. Eles precisam de uma saí da

expressiva nas rotinas ta o repetitivas que sa o as opresso es cotidianas deles. Com o jogo

da Marcha de Monique, os adolescentes tambe m chegaram a mesma soluça o que tudo

mondo que faz o jogo: utilizar o poder de um grupo grande para assim influenciar a

sociedade contra os erros opressivos que pode causar.

Ensaio Cor do Brasil:

Apesar de na o ter feito tanto, foi interessante ver um pouco da preparaça o do grupo “tra s

bastidores.” Foi especialmente louva vel depois de ter visto a apresentaça o do dias antes.

Algo interessante que pude ver foi o importante que e a mu sica para o grupo. A cança o

deles da apresentaça o “Cabelo Duro” foi bastante aditiva com o grupo de residentes, mas

nunca prestei tanta atença o a letra ate enta o. Vendo como eles ensaiavam a mu sica foi

algo que me encheu de saudade ao lembrar a minha educaça o em teatro Americano-

musical. A forma de utilizar a mu sica regional e muito efetiva para ajudar os casos de

racismo sobressair, mas eu na o entendia ate ve -lhes ensaiar. Ajudando com os seus

adereços de teatro foi outra coisa interessante. Gostei de como utilizam coisas

normalmente recicladas para acompanhar as cenas deles. Num paí s como Brasil onde o

lixo pode ser encontrado em quase todas as ruas, acho essa iniciativa muito interessante

para copiar em outros paí ses semelhantes. Eu ja tem visto o mesmo ser feito com cena rios

teatrais grandes em EUA mas nunca com grupos ta o pequenos como Cor do Brasil. A

iniciativa e boa para utilizar diariamente e assim ajudar o meio ambiente ademais dos

outros propo sitos sociais do CTO.

Page 11: Teatro do Oprimido (Relatório)

Ensaio Pirei na Cena (07/08):

Foi ta o emocionante escutar que o grupo da Pirei na Cena va para Espanha para

representar o CTO do Brasil e lhes desejo toda a sorte do mundo no 2015. Foi ainda mais

emocionante ensaiar com eles uma parte da sua obra. Achei as cenas da obra bem

apropriadas para os pacientes ja que falam de desejos e opresso es pessoais. Ensaiando

com eles foi bastante interessante porque eles requerem de atença o especifica para ajuda -

lhes reconhecer a necessidade da contribuiça o deles. As cenas “Vozes do Meu Ale m”

trouxeram muito para discutir com cada apresentaça o. Na primeira cena da qual eu

formei parte, a opressa o foi mais pessoal ja que os opressores estavam na cabeça do

protagonista. As vozes gritavam coisas negativas e influentes mas o protagonista,

interpretado por dois pacientes, ficava sem saber que fazer. Na segunda cena, o grupo

utilizou cada personagem na cabeça da protagonista para refletir como um espelho no

corpo da personagem enquanto falavam coisas negativas. A opressa o seguia sendo mental

e difí cil de resolver, segundo o que eu vi. Na u ltima cena, o grupo fez a cena do casamento

de uma das pacientes da qual eu ja falei anteriormente neste relato rio. Neste caso, o

casamento ja tinha as propriedades do Arco-í ris do Desejo estabelecido por Alessandro

previamente. O grupo fez a cena do casamento com um momento congelado onde tre s

pessoas lhe falavam a protagonista da decisa o que ela tinha que fazer ao se casar com

aquele homem be bado. A opressa o neste caso foi social com as opinio es negativas da

gente ao redor da protagonista. Depois de reflexar nas cenas, o grupo somente falou das

estrate gias utilizadas para facilitar o reconhecimento da opressa o mental. Enta o

Alessandro fechou o ensaio com no s desenhando as bandeiras de nossos paí ses para no

seguinte ensaio desenhar uma representaça o das mesmas bandeiras com influencias

sociais.

Page 12: Teatro do Oprimido (Relatório)

Oficina Projeto TO da Mare na escola:

Comecei aquela oficina com um “uau!” total. Na o acreditava o quanto os estudantes

daquela escola gostavam dos Estados Unidos depois de me apresentar como americano

frente deles e logo escutar os gritos de felicidade que faziam. Ainda na o acredito mas

entendo que como todas as outras pessoas de baixos recursos de todas partes do mundo,

eles tambe m sonham com o “sonho americano” mas e incrí vel para mim enxergar aquele

sonho em uns adolescentes e ainda mais em alguns meninos. Cluadete e Alessandro

utilizarem jogos muito divertidos para os meninos mas acho que o propo sito daquela

parte da oficina foi para introduzir aquelas crianças ao poder do teatro. Alcancei ver como

o menino que me perseguia por ser americano gostou muito quando po de me controlar

com o jogo Hipnotismo-Colombiano. Ele reconheceu o poder influencial do teatro e espero

que siga querendo o mesmo caminho com o CTO. Enquanto aos adolecentes que segiuram

depois, Claudete e Ale fizeram os mesmos jogos mas tambe m uma cena opressiva mais

corta do TO para eles resolver. O ato de ignorar e uma forte opressa o, especialmente

quando um na o sabe porque esta sendo ignorado. Os adolecentes tiveram ideias normais:

pergunatar por que esta o sendo ignorados, ignorar a quem lhes ignora, e ate gritar. Eu

acho que a soluça o e ser recí proco e na o da -lhe importa ncia se a pessoa na o merece a sua

atença o. Mas, se a pessoa e importante na sua vida, enta o se precisa falar com ela ate

encontrar uma soluça o mu tua. Aunque na o tocamos temas mais se rios com os jovens,

achei aquela oficina essencial para entender como introduzir aos adolecentes ao TO sem

ter que ser ta o chamativamente teatral com eles. Claudete e Ale sabiam o que fazer nesse

caso e aprendi bastante de como conduzir uma nova oficina para assim lhe agradar a

gente que na o esta ta o acostumada ao teatro.

Page 13: Teatro do Oprimido (Relatório)

Semina rio da Este tica do Oprimido:

Depois de ter escutado a apresentaça o de Flavio sobre a infromaça o em contexto ao livro

de Boal, eu achei muitos pontos parecidos a minha primeira aula sobre a historia da

influencia social na arte. As duas aulas falaram muito da percepça o da beleza e o que

significa ser belo, bonito, e feio e como esse mesmo pensamento pode levar a gente

perceber o seu redor social com uns o culos crí ticos do que atrai esteticamente ate enta o

julgar se algo ou algue m e bom ou mau. Eticamente, isso fica totalmente errado porque

sendo consciente da influencia social e cultural de uma pessoa na o e justo julgar algo

como bom num lugar e enta o ir para outro lugar onde a mesma coisa e julgada totalmente

ao contra rio: assim a gente fica com um pensamento de du vidas que pode escalar ate

instigar problemas da saude e crí ticas ainda mais radicais politicamente como muitos

paí ses fizeram durante e depois das guerras mundiais. Durante a discussa o em grupo, eu

enxerguei muitos novos pontos de vista em respeito a Boal e sua este tica do oprimido.

Nessa discussa o, o grupo falou de como nossa noça o do que e ser belo ou feio tem que ver

com a percepça o imposta pela sociedade e como uma sociedade pode influenciar a outra

sociedade para mudar o mesmo pensamento. Num exemplo pequeno que surgiu, a classe

elite influi as classes nas favelas para pensar de um jeito sobre o consumo. Num exemplo

maior, EUA influi a outros paises na o ta o desenvolvidos como Brasil do mesmo jeito que

no exemplo anterior. Sem ofender, eu uso o te rmino ‘desenvolvido’ para refletir o status

quo econo mico do paí s. Eu acho que se vemos a discussa o desse jeito, a este tica da qual

Boal falou no livro esta perdendo poder porque as clases agora na o esta o sendo ta o

influentes como nos anos anteriores. Agora essa influencia esta ligada com um mundo

mais globalizado fazendo assim a este tica do oprimido precisar uma reconstruça o ainda

mais adequada para este mundo em crescimento. Ao escutar os outros grupos, eu alcancei

entender outros pontos de vista. Um ponto que surgiu foi aquele da necesidade de ter arte.

Page 14: Teatro do Oprimido (Relatório)

A arte tem um propo sito fora de simplesmente ser esteticamente atrativo? Eu acho que

sim. Num exemplo expresado em relaça o a beleza foi para abrir os olhos: um cacto e algo

belo para a gente do nordeste do paí s onde a planta serve como comida, mas uma rosa no

mesmo lugar na o e igualmente bela porque na o oferece um uso u til para eles. Igualmente,

eu acho que toda a arte tem sua pro pria utileza. No s como seres humanos precisamos de

nos expressar e se na o fazemos isso, os sentimentos engarrafados podem se converter em

depressa o fatal. No s utilizamos a arte para tambe m nos relacionar entre no s

considerando que temos uma necesidade social de encontrar pontos de nos relacionar

com o mundo e natureza. Quantas vezes na o escutamos uma cança o feita por uma pessoa

que na o conhecemos pessoalmente mas usamos aquela cança o para expressar nossos

sentimentos na aquele momento especí fico das nossas vidas? Igual com uma pintura:

talvez na o tudo o mundo tenha a mesma sensaça o de relacionamento com “A Mona Lisa”

mas estou seguro que so com ver a pintura, algue m num momento sentiu o mesmo que

Da Vinci sentiu ao pintar. A arte vem de nossas expresso es para assim deixar que outros

sentam o mesmo, ou sequer tentar fazer isso.

Ao final da aula eu fiquei com va rios novos pontos de vista e como desejo poder ter a

oportunidade de voltar para as pro ximas discusso es.

Oficina de Teatro-Jornal:

Eu achei que foi necessa rio que Alessandro começasse a oficina com jogos para ajudar a

Caetano, o novo cara no grupo, se integrar melhor as discusso es. Foi legal como os jogos

tratavam da informaça o, as notí cias e o conhecimento para enta o entrar ao propo sito da

oficina: Teatro-Jornal. Depois de fazer as ma quinas e imagens de informaça o e mí dia, eu

acho que o grupo estava traindo muitas perspectivas diferentes daqueles mesmos temas.

Especifcamente, eu achei legal ver os diferentes lados da propaganda onde muito e

Page 15: Teatro do Oprimido (Relatório)

censurado para o pu blico e a mesma vez, muito e sobre-falado para esconder varias

verdades. Enta o, o conhecimento fica quase sem valor quando a ‘verdade’ da mí dia e

escolhida para o pu blico em vez de pelo pu blico. Na questa o da apresentaça o final, eu

achei que os grupos fizeram bons esforços para tentar criticar as notí cias do terror e a

guerra na Gaza com so perio dicos brasileiros de refere ncia. Como exemplo, nosso grupo

teve a responsabilidade de utilizar “crí tica paralela” para fazer o pu blico reflexir melhor

de uma notí cia. A notí cia tratava do embaixador brasileiro trazido de volta para Brasil e

como o presidente de Isreal pedia as desculpas da presidenta Dilma Rouseff pela guerra

depois de ter chamado uma tregua contra Palestina. Nosso grupo decidiu fazer a cena com

os dois presidentes no meio de uma telefonada e enquanto falavam no luxo das suas

posiço es polí ticas atra s deles se veia a realidade de cada paí s: um com guerra e genocí dio

por cause da religia o e a economí a e o outro com pacificaço es das favelas entre

festividades nacionais da Copa do Mundo. Graças as reaço es do pu blico presente, eu acho

que nosso grupo fez uma boa comparaça o entre a notí cia e a realidade vivida nos dois

paí ses mas ao mesmo tempo criticando aos lí deres insensí veis aos acontecimentos. No

final, eu logrei entender ainda mais a noça o e o propo sito do Teatro-Jornal no a rvore do

TO: as crí ticas de nossos redores podem surgir por causa de va rias coisas como a violencia

vivida em pessoa ate a violencia lida num jornal. A sociedade esta presente em todas

partes e se na o e criticada de mil formas, pode se quebra qualquer direito humano sem

ser percebido.

Ensaio Pirei na Cena (14/08):

Para o meu u ltimo ensaio com os pacientes psiquia tricos, na o pude ter pedido uma forma

mais amiga vel de me despedir do TO no Brasil. Fizemos a nossas bandeiras do nossas

naço es respectivas e falamos sobre o que significa ser de uma nacionalidade especifica.

Page 16: Teatro do Oprimido (Relatório)

Eu acho que essa foi a maneira de Ale para ligar o nosso conhecimento do que e ser

americano ou brasileiro e traduzir essa conscie ncia em direça o de uma noça o mais ampla

e humana. Aquele u ltimo ensaio foi para reconhecer as nossas similaridades como

humanos sem dar atença o a nossa nacionalidade ou estabilidade mental: a igualdade

humana e uma noça o primordial e essencial para poder resolver muitos problemas

mundiais, so que temos que fazer mais esforços para multiplica -la. Que viva EUA, que viva

Brasil, que vivam todas as naço es unidas por paz, e que vivam os direitos humanos para a

igualdade.

Refleção sobre os curingas:

Estando baixo o control de Fla vio eu fiquei com uma curiosidade mais intensa com reseito

ao TO. As dicusso es que ele conduziu foram provocando a minha atraça o a s ideologias e

raizes do TO mas tambe m me ajudou reconhecer a importa ncia da crí tica social como um

curinga.

Alessandro trouxe um lado mais divertido do TO sem parar de ser se rio. Eu acho que a

sua forma de curingar tem suas raizes naquele aspecto do curinga travesso onde o ato de

resolver na o tem que ser somente pensar mas tambe m jogar. Adoro a sua forma de ser

um mediador quando conduze uma discussa o porque deixa assim aos outros resolver o

problema sem que perdam o caminho para a soluça o.

Claudette tem uma aura ta o amiga vel que faz a gente se atraer a ela so com simpatia. Eu

acho que sua forma de curingar tem muito que ver com solidariedade em respeito a

vontade de trabalhar igualmente com outros curingas. Eu acho que isso e algo muito

importante de reconhecer como curinga porque as melhores resoluço es sempre sa o feitas

em grupos.

Helen se apresenta muito forte com a gente mas isso e algo admira vel. O auto-

Page 17: Teatro do Oprimido (Relatório)

conhecimento e indispensa vel para um curinga, sem isso na o pode conduzir uma oficina

onde va rias ideias fluem pela cabeça de um. Ao mesmo tempo, como curinga posso

aprender dela a necesidade de ter conscie ncia; no caso das Vadias e Madalenas, eu fiquei

com uma imagem maior dela: como pessoas, no s precisamos de ter conscie ncia e tambe m

tentar influí -la em outra gente.

Geo trouxe um lado mais organizado e tambe m creativo a meu entendimento do curinga.

Ele entende as necesidades de seguir o ritmo do tempo em respeito as oficinas mas

tambe m logrou me ajudar entender outros aspectos da creatividade na a rea artí stica.

Normalmente eu na o faria teatro e pintura no mesmo tempo mas ele me fiz perguntar o

por que na o. Como curingas no s precisamos exercitar nossa creatividade dia a dia para

enta o ajudar aos outros se expressar em cenas teatrais.

Apesar de que na o trabalhei muito com ela, Monique apresentou aspectos importantes de

uma curinga. Eu logrei enxergar a sua empatia e sensibilidade na oficina da Mare onde foi

totalmente necessario poder entender aos adolescentes daquela paroquia. Como curinga,

eu aprendi dela que o relacionamento que fazemos com outra gente e necessario para

tentar entender as posiço es deles e depois ajuda -lhes encontrar uma soluça o verdadeira

atrave s de uma discussa o e atrave s do teatro com sensibilidade como reforço e tico para

essa gente.

Sugestões para melhorar a Residência:

Pelo que escutei atrave s dos curingas e outros residentes pasados, este e um dos grupos

de residentes mais grandes que o CTO jamais tinha tido. Igualmente, acho que foi perfeito

vir neste momento ao CTO quando tem tanto reforço do governo para fazer oficinas na

comunidade. Ao mesmo tempo, acho que ha mais para melhorar. Sei que esto e algo que

na o pode acontecer ta o ra pido mas o CTO precisa de mais oficinas que tratem outros

Page 18: Teatro do Oprimido (Relatório)

temas como sau de geral e ate a opressa o sufrida por indí genas Brasileiros. Com minha

formaça o em Antropologia, acho que o CTO pode fazer oficinas como das que acabo de

falar possí vel, se o governo permite. Acho que oficinas que toquem outros grupos no

Brasil sa o necessa rias para fazer o CTO mais popular no Brasil. Agora o TO e popluar mas

so nesta a rea pequena junto ao Rio de Janeiro e com os poucos Brasileiros que sabem das

lutas sociais de Augusto Boal. Como residente dum mes, eu tive a sorte de fazer parte dos

cursos que o CTO fez. Acho que sem issos eu na o tivesse o mesmo entendimento do TO

como o tenho agora. Tambe m achei mais fa cil me expresar e colabrar nas oficinas que

siguerem os cursos. Se o CTO poderia fazer algo assim para os pro ximos residentes, isso

seria ainda melhor para eles e para os propo sitos do CTO com residentes mais abertos as

polí ticas do TO. Outra forma de ter mais popluaridade na a rea de Lapa seria se o CTO

fizesse algo para atraer mais gente local e ate os turistas: algo como um cafe o somente

uma loja de artí culos do TO e de Augusto Boal seria muito legal. No caso de residentes, o

CTO tem que tentar de se conectar mais com os outros CTO no mundo para atraer mais

residentes para o Brasil. No meu caso, eu encontrei ao CTO pesquisando mas ha gente na

a rea do teatro que nem sabe do TO. Se o CTO pudesse enviar e-mails ou invitaço es as

escolas e as faculdades ou talvez para os professores em escolas reconhecidas

teatralmente seria um passo grande para tentar aumentar o nu mero de residentes no

futuro, especialmente residentes estrangeiros.