teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · neste semestre, qual foi a peça teatral a...

56
1 IHU On-Line, Sªo Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu Ano 5 - N” 148 04 de julho de 2005 T T e e a a t t r r o o , , a a r r t t e e e e h h u u m m a a n n i i z z a a ª ª o o

Upload: vonhan

Post on 13-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

1

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Ano 5 - Nº 148 � 04 de julho de 2005

TTeeaattrroo,, aarrttee ee hhuummaanniizzaaççããoo

Page 2: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

2

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

INDICE EDITORIAL.............................................................................................................................. 3

MATÉRIA DE CAPA .............................................................................................................. 4 O poder transformador da milenar arte teatral ............................................................... 4

Entrevista com Luiz Paulo Vasconcellos, Luciano Alabarse e Zé Adão................ 4 As políticas de fomento à pesquisa esqueceram da arte cênica .................................... 12

Entrevista com Nair D’Agostini.............................................................................. 12 “Creio que sempre temos exigido demais do teatro” .................................................... 14

Entrevista com Ivo Bender ...................................................................................... 14 “Não é possível imaginar o mundo sem teatro” ............................................................ 16

Entrevista com Eva Sopher...................................................................................... 16

DESTAQUES DA SEMANA ................................................................................................ 18

ANÁLISE DE CONJUNTURA .................................................................................................... 18 O PT não acabou........................................................................................................... 18

Por Leonardo Avritzer ............................................................................................. 18 O tamanho da crise ....................................................................................................... 21

Por Cristovam Buarque............................................................................................ 21 Lula e PT: nada será como antes ................................................................................. 22

Por Emir Sader.......................................................................................................... 22 “A crise política está na ante-sala das instituições” ................................................... 23

Entrevista com Bolívar Lamounier ......................................................................... 23 LIVRO DA SEMANA................................................................................................................. 25

BERTO, Giuseppe. O Mal Obscuro. São Paulo: Ed. 34, 2005. ................................ 25 Apenas dor, sem angústia ................................................................................................ 25

Por Jurandir Freire Costa ......................................................................................... 25 FILME DA SEMANA ................................................................................................................. 28

Peões e Entreatos: filmes explosivos........................................................................... 28 Por Amir Labaki ....................................................................................................... 28

ENTREVISTA DA SEMANA....................................................................................................... 30 “Você e eu também vamos querer ter esse computador”........................................... 30

TEOLOGIA PÚBLICA ............................................................................................................... 33 A teologia feminista e o Deus de muitos nomes ........................................................ 33

Entrevista com Wanda Deifelt................................................................................. 33 ARTIGO DA SEMANA .............................................................................................................. 36

125 questões: o que nós não sabemos? ....................................................................... 36 DEU NOS JORNAIS .................................................................................................................. 38 FRASES DA SEMANA............................................................................................................... 45

EVENTOS IHU....................................................................................................................... 47 IHU IDÉIAS ............................................................................................................................ 47

Page 3: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

3

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Dilemas do neoliberalismo .......................................................................................... 47 III CICLO DE ESTUDOS SOBRE O BRASIL............................................................................... 47

III Ciclo de Estudos sobre o Brasil – segundo semestre ............................................ 48 CADERNOS IHU IDÉIAS ......................................................................................................... 48

Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial.......................................... 48 QUARTA COM CULTURA UNISINOS ....................................................................................... 49

Ciclo de Estudos sobre “O método”, de Edgar Morin ............................................... 49 ESTUDANDO AS RELIGIÕES XI .............................................................................................. 49 IDADE MÉDIA E CINEMA ........................................................................................................ 50 CICLO DE ESTUDOS DESAFIOS DA FÍSICA PARA O SÉCULO XXI........................................... 50 CICLO DE ESTUDOS CONCÍLIO VATICANO II ........................................................................ 50 CICLO DE ESTUDOS REPENSANDO OS CLÁSSICOS DA ECONOMIA........................................ 51 2º COLÓQUIO INTERNACIONAL DA CÁTEDRA UNESCO – UNISINOS .................................... 52

V Encontro de Estudos sobre o Mundo do Trabalho ................................................. 52 UNISINOS ABRE INSCRIÇÕES PARA O IV FESTIVAL DE INVERNO.......................................... 53

IHU REPÓRTER.................................................................................................................... 54

MARA MARIA LENZ............................................................................................................... 54 SALA DE LEITURA .................................................................................................................. 55

EDITORIAL Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta. O mesmo não aconteceria, certamente, se a pergunta se referisse a programas de televisão ou a algum filme. No entanto, o teatro, arte mais de duas vezes milenar, apesar de todos os meios modernos de comunicação, aí está. Insuperável, pois, como afirmam todos os entrevistados desta edição, enquanto houver seres humanos, haverá o teatro. Isso porque, assim como �nenhum telão caseiro, por maior e mais sofisticado que seja, cria o impacto e a luminosidade de uma tela de cinema�, o mesmo acontece com o teatro. �O teatro retém a presença física do ator, fazendo com que ocorra, durante o espetáculo, uma reação bilateral, o ator estimulando o espectador, o espectador estimulando o ator. E o que dizer do deslumbramento do espectador diante da transformação do ator?�, pergunta Luiz Paulo Vasconcelos. Sim, �o teatro é uma experiência estética diferente�, constata Luciano Alabarse. Além de Luiz Paulo Vasconcelos e Luciano Alabarse, supracitados, Zé Adão Barbosa, Nair D�Agostini, Ivo Bender e Eva Sopher discutem o teatro-arte na sociedade brasileira atual, especialmente na gaúcha. Completa este número a reprodução de uma entrevista e três artigos sobre a grave crise política brasileira. Nesse contexto, voltamos a refletir sobre os filmes Peões e Entreatos, respectivamente de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles.

Page 4: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

4

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Com este número, concluímos o primeiro semestre acadêmico. A revista IHU On-Line voltará a circular no dia 1º de agosto, segunda-feira, na sua versão eletrônica. No dia 2 de agosto, terça-feira, a versão impressa estará disponível, a partir das 8 horas, no câmpus da Unisinos. A todas e todos um ótimo recesso de julho e uma excelente leitura! (Voltar ao índice)

MATÉRIA DE CAPA

OO PPOODDEERR TTRRAANNSSFFOORRMMAADDOORR DDAA MMIILLEENNAARR AARRTTEE TTEEAATTRRAALL Entrevista com Luiz Paulo Vasconcellos, Luciano Alabarse e Zé Adão Luiz Paulo Vasconcellos, Luciano Alabarse e Zé Adão Barbosa, reconhecidos profissionais de teatro, foram entrevistados por e-mail, respondendo às mesmas questões. Suas respostas e avaliações, publicadas conjuntamente, embora sejam diversas nas abordagens e enfoques, coincidem na convicção com que defendem o poder humanizador da arte teatral. Luiz Paulo Vasconcellos nasceu no Rio de Janeiro em 1941. É ator, diretor e dramaturgo. Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) (1969), com estágio na França (CUIFERD, 1970-71) e Mestrado na State University of New York (1981-83). Professor (aposentado) de Direção e Estética do Espetáculo do Departamento de Artes Dramáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1970-1995). Diretor do Instituto de Artes da mesma Universidade (1977-81) e Coordenador de Artes Cênicas da Secretaria da Cultura de Porto Alegre (1997-2000). Autor do Dicionário de Teatro. Porto Alegre: L&PM Editores, 1987 (5. ed.). Recebeu o Troféu Persona, da Secretaria de Estado da Cultura do RS (1990), o Prêmio Qorpo Santo, da Câmara Municipal de Porto Alegre (1992), o Troféu Açorianos Especial (1993) e de Melhor Ator (2003) da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre e a Medalha Cidade de Porto Alegre (1994) pelos serviços prestados ao teatro gaúcho. Atualmente, assina a coluna de teatro da revista Aplauso. Luciano Alabarse, há muitos anos em plena atividade, é um dos mais conhecidos e premiados diretores de teatro do Rio Grande do Sul. Desde 1974, ano em que se formou em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vem dirigindo espetáculos de teatro e música. Detentor de quatro Troféus Açorianos de Melhor Diretor Teatral do RS, distingue-se pela sua predileção por autores densos, textos de estrutura complexa e muito ligados à literatura. Sob sua direção, alguns dos autores gaúchos mais renomados e reconhecidos ganharam sua primeira versão teatral, entre eles, Lya Luft, João Gilberto Noll, Caio Fernando Abreu e Tânia Faillace. Obras premiadas com o Troféu de Melhor Direção Teatral em Porto Alegre: Pode ser que seja só o leiteiro lá fora (Caio Fernando Abreu), Hotel Atlântico (João Gilberto Noll) e Hamleto (Giovanni Testori ).Obras premiadas com o Troféu de Melhor Espetáculo do Ano, dirigidas por Luciano: A história do soldado (Igor Stravinsky), Sentimental Journey (musical com a obra de Cole Porter). Outros espetáculos teatrais: Senhora dos Afogados (Nelson Rodrigues), Reunião de família (Lya Luft e Caio Fernando Abreu), Mulher no Palco (Lya Luft), Morangos Mofados (Caio Fernando Abreu), O Canto do Cisne (Anton Tchecov), Seis personagens à procura de um autor (Luigi Pirandell), Um beijo, um abraço, um aperto de mão (Naum Alves de Souza), Ivone e sua família (Tania Faillace), Beijo no asfalto (Nelson Rodrigues), O balcão (Jean Genet). Almoço na casa do senhor Ludwig é o primeiro espetáculo de Luciano em excursão nacional. Estreou em março de 2002, no Festival de Teatro de Curitiba. Fez temporada no Teatro Castro Alves da Bahia. Já tem datas agendadas para Recife, São Paulo e interior do Rio Grande do

Page 5: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

5

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Sul. Luciano Alabarse dirigiu a Coordenação de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, quando implantou o festival Porto Alegre Em Cena, evento reconhecido internacionalmente. Zé Adão Barbosa, 47 anos, há 25 anos trabalha com teatro, cinema e televisão. Em teatro, foi o Charles Bukowski, de Memory Motel, o Treplev da Gaivota, de Tchekov, o Jerry do Zoológico, de Albee, o professor da Lição, de Ionesco, o Diabo da História do Soldado, de Stravinski, entre outros. Em cinema, foi o cabo/cowboy de O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda, de Jorge Furtado e José Pedro Goulart, o Caminhoneiro da Estrada, de Jorge Furtado, o Groucho Marx do Mentiroso, de Werner Shünemann, o atendente sádico de O Pulso, de José Pedro Goulart, o Cabo Bento da Noite de São João, de Sérgio Silva, entre outros. Em televisão, fez os especiais Programa de Índio, O Alienista, e Luna Caliente, todos com roteiro de Jorge Furtado, para a Rede Globo, participou da minissérie A Hora do louva-a-deus, de Paulo Nascimento, do episódio Amizade com direção de Kytta Tonetto no projeto Histórias curtas da RBS-TV, do especial Pobre Homem com direção de Saturnino Souza, transmitido pela TVE e na novela Laços de Família, da Rede Globo. É fundador e professor do Teatro Escola de Porto Alegre � Tepa. Também é professor da disciplina de Comunicação, Expressão e Criatividade da Universidade Sebrae de Negócios (Usen).

IHU On-Line - Como estão as �forças teatrais� para enfrentar o século XXI? Considerando a cena internacional, qual é, em linhas gerais, a situação da arte teatral? Luiz Paulo Vasconcellos - Todos os grandes momentos do teatro, em todos os tempos, coincidiram com momentos de instabilidade política, de superação de modelos, de afirmação de novos modelos. Sófocles1, por exemplo, vivia numa democracia que aceitava a escravidão e incentivava um imperialismo que acabou por detonar com Atenas. A época de Shakespeare2 testemunhava a prosperidade da monarquia inglesa, mas tinha a Invencível Armada nos calcanhares. Tchekhov3 retratou a nostálgica decadência da aristocracia rural russa, enquanto o proletariado ensaiava seus primeiros passos. Brecht4 escrevia, essencialmente, sobre as relações de poder num mundo já dividido entre o capitalismo e o comunismo. Acho que esses quatro exemplos são suficientes para identificar o que representa uma época propícia ao desenvolvimento do drama. E hoje, o que nós temos? A queda do muro de Berlim, o fim da utopia de esquerda, a hegemonia de um pensamento único, a impossibilidade de escolha entre o �mauricinho� e o �funk descolado�, o casamento perfeito entre a corrupção e a impunidade, o fim do governo Lula, a ausência de uma alternativa ideológica, enfim, o que afirmar e o que negar em cima de um palco? Nesses períodos, o que resta é o formalismo tentando preencher as lacunas deixadas pela ausência de discurso. Tempos difíceis, sem dúvida.

1 Dramaturgo grego. Viveu em Atenas, cerca de 400 anos antes da Era Cristã. Considerado um dos mais importantes escritores gregos da tragédia. Édipo Rei, Antígona e Electra são as suas peças mais conhecidas (Nota do IHU On-Line). 2 William Shakespeare, inglês (1554-1616). Considerado um dos mais importantes dramaturgos e escritores de todos os tempos Atribui-se a ele autoria de 37 ou 38 peças, das quais destacam-se Antony e Cleópatra, Rei Lear, Hamlet, Otelo, A Tempestade, A comédia dos erros, A Megera domada, Macbeth (Nota do IHU On-Line). 3 Anton Paolovitch Tchekhov (1860-1904), escritor e dramaturgo russo. Entre as suas peças, destacam-se: O tio vânia, As três irmãs, O canto do cisne, Um trágico à força, Ivanov (Nota do IHU On-Line). 4 Bertolt Brecht (1898-1956), poeta e dramaturgo alemão, foi um dos nomes mais influentes do teatro do século XX. Sua obra tem um marcado cunho social, procurando estimular o senso crítico e a consciência política dos espectadores (Nota do IHU On-Line).

Page 6: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

6

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Luciano Alabarse - É uma pergunta vasta. O teatro internacional reflete a própria fragmentação do homem contemporâneo. Não se pode mais falar de o teatro, mas dos teatros. Há muito, e por mais importância que tenha o texto - ainda um elemento central da criação cênica -, hoje já há teatros que se aproximam celeremente de outras linguagens tecnológicas. Vídeos, projeções, imagens, performances, mistura com artes plásticas, cinema, literatura. Importa para mim o acabamento e o aprofundamento de cada proposta. O teatro brasileiro, que é muito bom na minha opinião, também assimila essas informações, sempre com algum atraso. E o teatro gaúcho com um atraso maior ainda. Mas o que pode ser um aspecto negativo tem lá o seu lado bom: temos um teatro artesanal, singular e próprio. E isso não é pouco. Zé Adão Barbosa - É complicado falar de cultura em um país que não tem uma educação básica. O teatro ainda é dirigido para um público de elite que busca os espetáculos muito mais pela "mídia" do que por suas qualidades dramatúrgicas, ou a excelência de seu elenco. O público, infelizmente, está se habituando a um teatro inócuo, superficial. Existe também uma crise na dramaturgia. São raros os bons textos de autores contemporâneos. Ou se recorre aos clássicos, ou garimpam-se autores nacionais e internacionais ainda desconhecidos no País. Outro detalhe importante é que Porto Alegre é uma cidade com poucas salas de espetáculos, o que também dificulta a permanência de uma peça por um tempo maior para que ela possa atrair um público específico. Nas grandes cidades, os teatros, em shopping centers, resgataram um público que havia se afastado por questões de segurança. Enfim, não poderia resumir toda a questão em poucas linhas. Na verdade, a situação do teatro no Brasil sofreu boas e más transformações nos últimos anos. IHU On-Line - Sabe-se que as novas tecnologias estão retirando o público das salas de cinema. Como o teatro pode enfrentar essa mudança no perfil do entretenimento e do lazer? Luiz Paulo Vasconcellos - O cinema está experimentando hoje, com o vídeo e o DVD, o que o teatro experimentou no século XX com o cinema e a televisão. Felizmente, tudo não passa de entressafras. E entressafra é sempre entressafra. Às vezes, dura gerações, mas passa, porque há valores nessas linguagens que fazem cada uma permanecer única e insubstituível. Há coisa melhor, hoje em dia, do que assistir a um filme em casa, de cuecas, comendo pipoca? Em contrapartida, nenhum telão caseiro, por maior e mais sofisticado que seja, cria o impacto e a luminosidade de uma tela de cinema. Com o teatro, acontece a mesma coisa. De seu, o teatro retém a presença física do ator, fazendo com que ocorra durante o espetáculo uma reação bilateral, o ator estimulando o espectador, o espectador estimulando o ator. E o que dizer do deslumbramento do espectador diante da transformação do ator? Mas, de qualquer maneira, a crise existe e merece ser enfrentada. Como? Repito: com aquilo que cada um tem de seu, de insubstituível. No caso do teatro, além da linguagem, com consistência dramática, com discussão, debate, polêmica. Se me perguntarem o que pesa mais na ausência do público de teatro, se o DVD ou o tédio, eu respondo: o tédio, sem a menor dúvida. A falta de assunto, mesmice, as fórmulas prontas, a auto-ajuda, tudo isso em que se transformou o palco brasileiro. No momento em que � com competência! � o palco for preenchido com os temas que ocupam as manchetes dos jornais � quem sabe se ameniza o problema representado pelo pouco público. Luciano Alabarse - Acho que o teatro apenas como exceção será uma arte de massas. Cada vez mais, o teatro que importa é a arte de elite. Com isso, quero dizer arte especializada, que

Page 7: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

7

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

pede um público de alma formada, inteligente. Como a música erudita, por exemplo. O teatro como veículo de arte popular para mim não expressa mais a realidade da criação cênica. Como a filosofia, que restringe cada dia mais seu público-alvo, vejo essa tendência. Arte de massa é rádio, televisão, cinema. Teatro é uma experiência estética diferente, e isso não é necessariamente ruim. Zé Adão Barbosa - É uma tarefa árdua. Precisaríamos, antes de tudo, reconquistar um público que está perdendo o hábito de sair de casa para um evento cultural, ao contrário da música que ainda agrega um grande público, em shows fechados ou abertos. Acredito que a mídia, neste caso, seria de grande ajuda. Porém temos uma imprensa colonizada que foca no que há de mais supérfluo, e o teatro, decididamente, não vende jornal. A mídia paga tem poder, e podemos ver isso em espetáculos comerciais que atraem um público maior, porque contam com um ator de novelas no elenco ou porque consegue um patrocinador que banque um grande investimento na divulgação. IHU On-Line - Teatro é, predominantemente, entretenimento/lazer ou cultura? Ou essa é uma falsa questão? Qual é o papel da arte teatral em um país em construção, como o nosso? Luiz Paulo Vasconcellos - Teatro é, predominantemente, arte, mas pode ser também entretenimento, lazer, passatempo ou o que quiserem. Depende de quem faz. Depende de quem vê. Brecht, um autor assumidamente político, afirmou que o teatro deveria ser, acima de tudo, diversão. Claro, divertir (do latim, divertere) significa ver as coisas de outra maneira, diversamente; já distrair (do mesmo latim, distrahere) significa desviar a atenção daquilo em que se está concentrado. Portanto, há quem vá ao teatro para se� divertir�, há quem vá para se �distrair�. É tudo uma questão de escolha. Quanto ao papel da arte, continua o mesmo, em qualquer cultura, em qualquer estágio � ser uma espécie de consciência da sociedade, �religando� os homens em torno de seu próprio jeito de ser, de sua própria cultura, de seu próprio comportamento coletivo. Falsa questão? Frase feita? Utopia? Talvez. Quem sabe? Luciano Alabarse - Para mim, o teatro que importa é o teatro-arte, o teatro que provoca discussões estéticas. Esse teatro-entretenimento, baseado numa linguagem televisa, às vezes, utilizando-se de pessoas desse meio, é sempre um teatro menor. Pode encher o bolso de alguns artistas e produtores, pode lotar todas as sessões que quiserem - para mim, é uma arte menor. Zé Adão Barbosa - O teatro sempre será um veículo de transformação social, de discussão, de denúncia. Teatro de entretenimento não existe! O teatro comercial vicia, acostuma mal o público com textos vazios e montagens pobres e inconsistentes. Este público jamais irá se interessar por um Tchekhov, por um Beckett5, porque vai achar "profundo demais", quase inteligível. É só retrocedermos alguns anos e verificarmos o papel revolucionário do teatro no

5 Samuel Becket (1906-1989), escritor e dramaturgo irlandês. Autor de uma obra bilíngüe (francês e inglês), por vezes designada como �literatura da angústia�, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1969. À espera de Godot é a sua peça mais conhecida (Nota do IHU On-Line).

Page 8: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

8

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

período da ditadura militar. Autores como Vianinha6, Guarnieri7, Plínio Marcos8, Dias Gomes9 e outros "grandes" enfrentavam a situação política com textos virulentos que eram proibidos ou cortados pela censura da época. Neste momento da história, o teatro teve um papel fundamental, e pouco se falava em "teatro de entretenimento". IHU On-Line - Há uma estética teatral gaúcha/porto-alegrense? Luiz Paulo Vasconcellos - Não. A colônia é sempre colônia, se emancipa política e economicamente, mas não perde o complexo de inferioridade, ou seja, continua copiando tudo de todo mundo. Pode-se dizer, porém, que Porto Alegre é uma cidade razoavelmente atualizada e do que foi assimilado resultou uma mistura que, a partir dos anos 1970-80, nos deu uma linguagem cênica interessante, diversificada, estimulante e vigorosa. Luciano Alabarse - Necessariamente, o que se faz aqui traduz uma estética gaúcha. Não só aqui, em qualquer lugar do mundo, qualquer cidade, o número de reais criadores cênicos é mínimo. Não vejo ninguém pesquisando regularmente lendas e tradições gaúchas, mas sempre há quem volte a Qorpo Santo10, Carlos Carvalho11, Ivo Bender12, Julio Conte13, para citar alguns dos nossos dramaturgos. O que sinto é que grupos importantes têm a sua estética própria. O Oi Nóis pode ser citado como exemplo, mas se quiserem fazer estética gaúcha no palco é irrelevante. O que fazem é muito bom - em qualquer lugar do mundo. E é isso que importa. Zé Adão Barbosa - Não. Que eu saiba, não. A não ser quando trabalhamos um texto com influências do nosso folclore.

6 Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), dramaturgo brasileiro. Foi um dos fundadores do Teatro de Arena e do Grupo Opinião. Destacam�se entre outras, as suas peças Chapetuba F.C., Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come e Rasga coração. Participou da fundação do Centro Popular de Cultura, transformado em órgão cultural da União Nacional dos Estudantes (Nota do IHU On-Line). 7 Gianfrancesco Guarnieri (1934): diretor, autor e ator teatral brasileiro. Entre seus principais trabalhos estão Eles não usam black tie, Arena conta Zumbi, Castro Alves pede passagem (Nota do IHU On-Line). 8 Plínio Marcos de Barros (1935-1999), escritor, dramaturgo, diretor e ator teatral brasileiro. Entre as suas peças destacam-se Barrela, Navalha na carne, Jornada de um imbecil até o entendimento e O abajur lilás (Nota do IHU On-Line). 9 Alfredo de Freitas Dias Gomes (1923-1999), autor teatral brasileiro, conhecido internacionalmente pela sua peça O pagador de promessas. Entre muitas outras, escreveu também O Santo inquérito, Zeca Diabo, Meu reino por um cavalo. Também foi um dos maiores autores da televisão brasileira, para a qual escreveu, entre outras, as novelas, Saramandaia, Roque Santeiro e Mandala (nota do IHU On-Line). 10 Pseudônimo de José Joaquim de Campos Leão (1829-1883). Escritor gaúcho, considerado precursor do Teatro do Absurdo e do Surrealismo. Sua obra teatral somente foi apresentada na década de 1960 (Nota do IHU On-Line). 11 Carlos José Gomes de Carvalho (1939-1985): diretor, ator e professor do Departamento de Artes Dramáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Entre as suas peças, destacam-se O pulo do gato, Doce vampiro, PT saudações, Boneca Teresa, Colombo, fecha a porta de teus mares (Nota do IHU On-Line). 12 Ivo Bender é dramaturgo e professor aposentado de Artes Dramáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Confira entrevista com ele na matéria de capa da presente edição. (Nota do IHU On-Line) 13 Diretor de teatro e dramaturgo. Nasceu em Caxias do Sul em 1955. Formou-se em Direção Teatral pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ganhou vários prêmios de teatro adulto e infantil. O destaque de sua obra é a peça Bailei na curva (Nota do IHU On-Line).

Page 9: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

9

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

IHU On-Line - Pode-se dizer que há políticas específicas para o teatro, no País e no Estado? E no caso de Porto Alegre? Elas são eficientes? Luiz Paulo Vasconcellos - As leis de isenção fiscal � as LICs � agitaram o mercado, se é que se pode falar em mercado em termos de arte. Acrescentaram combustível ao processo de criação. Em Porto Alegre, o Fumproarte14, com uma política de financiamento direto, vem cumprindo o seu papel. São Paulo, nos últimos anos, tem apostado numa ação de fomento a grupos de pesquisa, o que Porto Alegre trata de imitar � Eta, província boa! Luciano Alabarse - O atual Ministério da Cultura que tem um artista no comando é altamente insatisfatório. Não é só uma questão de não ter verbas, como estamos cansados de ler na imprensa por meio dos desabafos do Gil. Não sinto nenhuma política eficiente, nova. Semana passada, li que cancelaram o Projeto Pixinguinha. Toda a verba foi destina ao ano do Brasil na França. Por favor! As políticas públicas que, em algum momento, trouxeram fôlego e novidade, estão com seus modelos esgotados. O desafio é encontrar, na eterna crise econômica e na crônica falta de verbas, a maneira de não baixar ainda mais o nível, dar a volta, sair do marasmo comercial do mercado. Penso que tudo sempre poderia ser melhor. Torço por isso e trabalho para que o quadro mude. Uma aproximação mais real e efetiva com a sociedade pode ser o caminho mais viável para a alteração desse quadro de penúria. Zé Adão Barbosa - As políticas culturais, tanto municipais quanto nacionais, existem, mas são truncadas e paradoxais. As leis de incentivo não só são de grande auxílio nas produções artísticas, mas também são muito úteis para lavagem de dinheiro e várias outras formas de corrupção. É uma questão delicada. IHU On-Line - Qual é a relação da juventude com o teatro? Como aproximá-la? Como disseminar o interesse pelo teatro entre os jovens? Estão surgindo novas gerações de dramaturgos, produtores, artistas? Luiz Paulo Vasconcellos - A juventude brasileira só freqüentou teatro entre 1967 e 1974, mais ou menos, quando os diretórios acadêmicos das universidades federais se politizaram, e o teatro constituiu-se na maior frente de resistência ao arbítrio da ditadura. Antes e depois disso, as crianças assistem ao teatro, quando os pais querem se ver livres delas nas tardes dos fins de semana; e por uma classe média com mais de trinta anos e com uma centelha de lustro intelectual. Aproximar a juventude do teatro significa comprometer essa juventude com um debate estimulante, como decorrência do comprometimento do teatro com a história recente do País. Hoje, há uma juventude que procura oficinas e cursos de teatro na esperança de mostrar a cara nalguma novela da Globo. Mas há exceções, felizmente. Luciano Alabarse - É impressionante a quantidade de espetáculos que estréiam em Porto Alegre, oriundos de oficinas teatrais. Seus elencos são, predominantemente, jovens. A renovação das gerações é sempre bem-vinda, e o encontro dos veteranos com os iniciantes é uma das coisas mais atraentes do mundo teatral. Quase sempre, quem chega reivindica espaço, quer atenção. E o fazer teatral não é no grito que se conquista. É no trabalho

14 Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre, vinculado à Prefeitura Municipal (Nota do IHU On-Line).

Page 10: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

10

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

permanente, no estudo contínuo, no aperfeiçoamento do seu instrumento. Então, que venham os novos e que continuem na ativa os veteranos! Zé Adão Barbosa - O Teatro Escola de Porto Alegre (Tepa), que fundei há dez anos com Daniela Carmona, é a prova viva de que a juventude está, cada vez mais, se interessando pelo teatro. Alguns poucos pelo simplório desejo de virar uma "celebridade". A grande maioria quer buscar, no teatro, o resgate de um potencial criativo e expressivo perdido. Não trabalhamos apenas com atores ou interessados na arte dramática, recebemos também profissionais de diversas áreas que desejam melhorar a sua "performance" pessoal. Acreditamos que, nestes dez anos, formamos um público considerável que encontramos seguidamente em todas as filas de teatro da cidade. Isso para nós é motivo de orgulho, é uma forma modesta, mas eficiente de formação de platéia. IHU On-Line - Quais as peças montadas ou apresentadas em Porto Alegre, nos últimos doze meses, que merecem destaque? Luiz Paulo Vasconcellos - Esta é uma resposta absolutamente pessoal, limitada aos últimos seis meses: A Dócil (direção de Nair D�Agostini), Hamlet Sincrético (direção de Jessé Oliveira), Extinção, a possibilidade da morte na mente de alguém vivo (direção de João Ricardo). Todas produzidas em Porto Alegre. Luciano Alabarse - Dirigi uma Antígona que merece atenção, sem falsa modéstia. Vi Goela Abaixo, que é um bom espetáculo. Roberto Oliveira está dirigindo Qorpo Santo. O Oi Nóis mantém a sua Kassandra em cartaz. Esses espetáculos ensejam discussões teatrais sérias, e por isso são a minha escolha. Zé Adão Barbosa - Por questões éticas prefiro não nomear trabalhos. Acho que Porto Alegre conta com grandes diretores que ainda buscam um teatro sério, e isso é o que importa. Os "atravessadores" sempre estarão em cartaz com alguma nova bobagem, mas sempre teremos um bom espetáculo para assistir. É importante que o público se habitue a informar-se sobre o autor, o diretor e, até mesmo, o elenco da peça que vai assistir. Isso evitará algumas ciladas... IHU On-Line - Qual o papel do Porto Alegre em Cena? Quais os aperfeiçoamentos que nele devem ser feitos? Luiz Paulo Vasconcellos - Um festival é essencial. Coloca a cidade em conexão com o mundo, e o mundo em contato com a cidade, o que, por um lado, estimula a postura de colonizado, mas por outro, é a única ferramenta que permite a superação dessa mesma condição. No frigir dos ovos, o POAemCena é essencial. Luciano Alabarse - Um festival de teatro é hoje um dos espaços de troca e intercâmbio mais festejados pela classe artística. É a oportunidade de uma comunidade tomar contato com espetáculos que, dificilmente, viriam à cidade em esquema comercial. E o nosso Em Cena cumpre exemplarmente essa função. Como todo o evento que se preze tem que cuidar para não cair na repetição de uma fórmula pura e simples. Cuido para que isso não aconteça. Cada ano a gente continua a querer o melhor para a cidade por meio do festival. Isso se reflete na grade da programação, no interesse dos cidadãos e na cobertura da mídia.

Page 11: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

11

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Zé Adão Barbosa - O Porto Alegre em Cena é um dos maiores acontecimentos do teatro gaúcho nos últimos anos. Luciano Alabarse colocou Porto Alegre no cenário Internacional e fez o público gaúcho voltar a acreditar que o grande teatro ainda está vivo. Porto Alegre passou a ter acesso a trabalhos e autores que dificilmente veríamos por aqui. IHU On-Line - Há crítica teatral merecedora desse nome? Luiz Paulo Vasconcellos - Não. O modelo jornalístico brasileiro aboliu a opinião pessoal, a crítica. Quanto à crítica ensaística, oriunda dos programas de pós-graduação, esta permanece ilegível, por um lado, porque escrita num jargão pedante e incompreensível; por outro, porque permanece empoeirada nas estantes das bibliotecas especializadas. Luciano Alabarse - Cada vez menos. E eu lamento muito. A crítica é fundamental para o crescimento dos grupos e dos indivíduos. Por mais que, às vezes, soe injusta e cruel, a percepção crítica honesta é uma bússola da qual não podemos abrir mão. Zé Adão Barbosa - Infelizmente não. Se existisse, seria uma das nossas tábuas de salvação. O bom crítico serve como um referencial para um público mais desinformado. A crítica tem uma importância fantástica no fazer teatral. É fundamental tanto para os criadores quanto para o público. Os jornais locais não têm o menor interesse pelo assunto, exceto o Jornal do Comércio que conta com o Antônio Hohlfeldt, o nosso único crítico em cartaz! O Luiz Paulo Vasconcellos mantém uma coluna da maior importância na revista Aplauso e é um crítico sério e inteligente. IHU On-Line - Por que, apesar dos cenários quase sempre adversos, continua-se a fazer teatro e ele persiste? Luiz Paulo Vasconcellos - Alguém, algum dia, deixou de escrever um poema por causa de um �cenário adverso�? Luciano Alabarse - Ao recriar a vida em um palco, o teatro se torna insubstituível como forma de expressão artística. Nada me encanta tanto como uma boa peça de teatro. E enquanto houver o que dizer sobre o homem, o teatro tem o seu lugar garantido. Vai haver mudanças contínuas, mas ele estará refletindo todas as conquistas e contradições do seu tempo. Zé Adão Barbosa - Porque é uma arte maravilhosa que, após dois mil e quinhentos anos, ainda mantém o poder de envolver uma platéia e repensar a vida em toda a sua profundidade. Cada platéia satisfeita representa uma pequena revolução. O público que assiste a um grande espetáculo jamais sairá do teatro da mesma forma que entrou. O teatro é a arte maior que gerou a TV, o cinema e tantas outras. A experiência de assistir a um trabalho ao vivo é única, com os atores ali, na sua frente, inteiros, numa intimidade que nenhum outro evento cultural permite. Talvez um dia, quando este pobre país tiver uma educação digna, tenhamos de volta um público exigente e sedento de um bom produto cultural. O teatro sobreviveu e sobreviverá a todas as crises, e eu não tenho a menor dúvida disso!

(Voltar ao índice)

Page 12: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

12

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

AASS PPOOLLÍÍTTIICCAASS DDEE FFOOMMEENNTTOO ÀÀ PPEESSQQUUIISSAA EESSQQUUEECCEERRAAMM DDAA AARRTTEE CCÊÊNNIICCAA Entrevista com Nair D�Agostini Nair D�Agostini é bacharel em Direção Teatral e licenciada em Arte Dramática, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É mestre em Filosofia Contemporânea pela Universidade Federal de Santa Maria (FSM), com dissertação sobre a mímesis em Aristóteles e Lukacs. Foi professora da UFSM, nos cursos de Licenciatura Plena em Artes Cênicas e no Bacharelado em Interpretação e Direção em Artes Cênicas. Freqüentou o Curso de Interpretação Dramática de Arkadi Katsman e Lev Dodin, no Instituto Estatal de Teatro Música e Cinema de Leningrado (Rússia) e também o Curso de Direção com os professores Georg Tovstonogov e Arkadi Katsman. Acompanhou o processo de criação e ensaios de espetáculos no Bolshoi e no Teatro Dramático de Leningrado, sob orientação de seu principal diretor, Georg Tosvstonogov. Freqüentou cursos de Aperfeiçoamento - Mimo Corpóreo, com Thomas Lebarth, (USA); Antropologia, com Eugênio Barba; Potlach- Pino de Buduo,(Itália); Marie Hélène Labat- Método Feldenkräis (França); Dramaturgia do ator, com Marco de Marinis (Itália), entre outros. Dirigiu Os Fuzis da Senhora Carrar (Brecht); Senhorita Júlia (Strinberg), Yerma (Lorca) Macbeth (Shakespeare). Foi responsável pela direção de atores em Antonio Chimango e Boca de Luar (Drumond). Adaptou e dirigiu Manantiais; adaptou e trabalhou na assistência de direção de Tambores Silenciosos (Josué Guimarães) e Mokinpot (Peter Weiss). Atuou nas peças Encontro no Bar (Bráulio Pedroso) e Mandrágora. Atuou nos filmes: Bola de Fogo (Marta Biavatski; Aqueles Dois, (Alberto Amom) e na série para televisão Lendas do Sul. Traduziu, adaptou e dirigiu a peça teatral A dócil, baseada na novela Krotkaia, de Fiodor M. Dostoievski. A referida peça foi apresentada na Unisinos no último dia 21 de junho, no Anfiteatro Padre Werner, integrando a programação do evento �Sempre às Terças�. Nair D�Agostini foi entrevistada por e-mail.

IHU On-Line - Qual é, em linhas gerais, a sua avaliação sobre o teatro brasileiro e a sua dramaturgia? Quais são os seus méritos e debilidades? Nair D�Agostini - O Brasil é um país de dimensões continentais e, mesmo para quem convive no mundo acadêmico ou em eventos da área, como festivais e congressos, não é possível dimensionar, de forma exata, as produções e manifestações cênicas em todo o território do País. O que se pode perceber é que não há intercâmbio com as produções teatrais de outros estados, nem mesmo com as universidades, como já aconteceu até meados dos anos 1980. O mérito do teatro é ter sobrevivido, apesar de ser um meio artesanal de produção artística. A debilidade está na falta de incentivo, que propicie ao profissional criar, pesquisar e produzir sem a urgência do produto rápido e do retorno da bilheteria. Quando a manifestação artística fica condicionada apenas a determinado gênero de público, se verifica perda tanto para a arte em suas diversas manifestações quanto para o público, empobrecendo a ambos. Existe uma grande produção de textos dramatúrgicos, que fica restrita a concursos e é divulgada em pequenos círculos, com edições restritas. O texto não passa pelo processo da criação, para que se verifique como funciona no palco. Muitos textos são premiados e poucos são encenados. Não temos também a cultura da leitura de textos dramatúrgicos. IHU On-Line - Nestes tempos de extraordinárias mudanças tecnológicas, com reflexos nas formas de aquisição do conhecimento e na fruição da arte, qual é o lugar reservado para o teatro? Nair D�Agostini - O lugar reservado para o teatro é no reino da teimosia de seus criadores. O teatro é uma arte coletiva em sua essência, e isso, hoje, quer seja por uma mentalidade da

Page 13: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

13

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

modernidade, quer por aspectos conjunturais, praticamente impossibilita o criar coletivo, e o torna quase utópico em uma sociedade individualista. IHU On-Line - Ensina-se teatro seriamente, no Brasil? Quais são os principais centros formadores de diretores e atores? Onde nascem o teatro e a dramaturgia brasileiros? Nair D�Agostini - Quase todos os estados do Brasil possuem escolas de teatro em nível superior e de boa qualidade, tanto em universidades federais quanto em particulares. Nos últimos dez anos, foram criados mestrados e doutorados na área de teatro, ainda insuficientes, mas que denotam a importância desse conhecimento em sua abrangência específica. Também existem escolas de alto nível formadoras de atores e de diretores nas grandes capitais, com profissionais especializados e competentes. IHU On-Line - Com base na sua vivência internacional, que medidas básicas a senhora sugeriria para expandir o ensino e a disseminação da arte teatral no País? Qual seria o papel do Estado e das políticas culturais? Nair D�Agostini - O teatro, quanto à formação específica de profissionais, exige pesquisa e aprofundamento permanente, que precisa se adequar à realidade sem perder a qualidade. A arte cênica não é vista como prioridade na política de fomentação à pesquisa. Bibliotecas, vídeos, seminários, intercâmbios, por exemplo, são fundamentais para se situar, em termos nacionais e internacionais, e buscar o desenvolvimento de novas linguagens e técnicas. Esses incentivos, atualmente, são mínimos nas universidades. As escolas de ensino fundamental e médio poderiam ter profissionais especializados em artes cênicas em seus corpos docentes e um currículo que contemplasse o teatro na formação integral, espiritual do indivíduo. Isso contribui para o desenvolvimento da sensibilidade e fruição para a arte teatral, e também forma cidadãos mais exigentes na sociedade. O Estado deveria ter verbas definidas em orçamento para a cultura, independentemente de leis de incentivo, pois estas, priorizam, em geral, grandes produções, que nem sempre têm conteúdo artístico genuíno, e se direcionam a interesses mercadológicos. Qual é a lei de incentivo à cultura que patrocinou um trabalho artístico experimental? IHU On-Line - A senhora estuda, pesquisa e aplica o sistema de Stanislavski15. No que ele consiste, em linhas gerais, e em que aspectos se diferencia dos demais? Nair D�Agostini - Os escritos sobre o "sistema" envolvem a vida toda do investigador, pedagogo, diretor e ator teatral russo, Stanislavski. Ele promoveu uma revolução na arte teatral do século XX, pois a criação de seu "sistema" estabeleceu um caminho para o processo de criação, criou uma "gramática" da arte do ator, formulando leis, princípios que subordinam a arte do ator. O "sistema" foi construído e baseado nas leis da própria vida, na indissolúvel unidade física e psíquica, não contradizendo nenhum método existente que busca a presença viva, orgânica do ator em cena, e é nisso que consiste sua universalidade. Os seus escritos são

15 Konstantin Sergueievitch Alekseiev, dito Stanislavski (1863-1938): diretor e ator de teatro russo. Tentou criar um estilo verdadeiro de representação, mandando que seus atores estudassem a vida interior dos personagens como se fossem pessoas reais. A tentativa do ator de viver a vida do personagem tornou-se conhecida como o método Stanislavski. Em 1898, ao lado de Vladimir Nemirovitch-Danchenko, criou o Teatro de Arte de Moscou, que se tornou famoso por suas montagens realistas das peças de Tchecov, Gorki e de outros autores. Sua fama aumentou com seus ensaios sobre os métodos que utilizava na preparação de atores e na direção de peças. (Nota do IHU On-Line)

Page 14: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

14

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

inesgotáveis e se tornam, cada vez mais, objeto de estudo tanto na Rússia quanto no mundo. Seus ensinamentos continuaram a ser desenvolvidos e aprofundados por seus discípulos diretos e indiretos. O "sistema" é o resultado da experimentação prática, contínua de Stanislavski, que sistematizou e teorizou sobre os procedimentos artísticos seus e de seus atores que envolveram ampla e complexa gama de psicotécnicas externas e internas para a criação dos mais variados gêneros da dramaturgia contemporânea, que transcendem a um estilo específico. O próprio Stanislavski preconizava que os princípios do "sistema" não fossem dogmatizados e exigia do ator contínua investigação sobre si mesmo, que deveria durar a vida toda, experimentação e assimilação de toda uma cultura que deveria se tornar uma segunda natureza, se converter em carne e sangue para manter o terreno fértil para o trabalho criativo, a reprodução "da vida do espírito humano". IHU On-Line - Quais são os seus projetos, relativamente a Stanislavski? Nair D�Agostini - A minha pesquisa atual sobre Stanislavski refere-se ao Método de Análise Ativa, que envolve os últimos anos da vida do artista e pesquisador, mais precisamente de l928 a 1938. Esse método de análise de ação do texto literário ou dramatúrgico possibilita, desde a primeira etapa do trabalho de criação do espetáculo, incluir a vida física do ator, o seu corpo no processo psicológico, ligando, dessa forma, o físico e o intelecto. Sem passar antes pelo processo analítico de compreensão do texto e da personagem, o ator passa ativamente para a criação, a fim de experimentar em si mesmo, o real conflito da obra e expressar por meio das ações físicas as mais complexas manifestações espirituais, ou seja, a "vida do espírito humano". Dessa forma, Stanislavski dá ao ator status de criador, e não apenas mero reprodutor das idéias do diretor. Autor, diretor e ator promovem, assim, a unidade de criação do espetáculo.

(Voltar ao índice) ��CCRREEIIOO QQUUEE SSEEMMPPRREE TTEEMMOOSS EEXXIIGGIIDDOO DDEEMMAAIISS DDOO TTEEAATTRROO�� Entrevista com Ivo Bender Ivo Bender é dramaturgo e professor aposentado de Artes Dramáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Autor de diversas peças teatrais, estudos e traduções sobre o tema. Entre suas obras, destacamos Entrenós (incluindo textos de Carlos Carvalho) Porto Alegre: Editora Garatuja/ Instituto Estadual do Livro, 1976. Teatro: Textos e Roteiros - Marcos IV, 23 (adaptação do conto O Evangelho Segundo Marcos, de Jorge Luis Borges) Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro/Editora Igel, 1988. O Boi dos Chifres de Ouro - Comédia Campeira em um ato. Porto Alegre: Editora Mercado Aberto, 1988; Nove Textos breves para teatro. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1983; Trilogia Perversa. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1991; Ação e Transgressão - três ensaios sobre tragédias de Sófocles, Eurípedes e Racine. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1991; Comédia e Riso - uma Poética do Teatro Cômico. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS - EDIPUCRS, 1996. Fedra, Ifigênia e Tebaida ou Os Irmãos Inimigos (de Jean Racine, tradução) Porto Alegre: Mercado Aberto, 1999. Mulheres Mix. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 2001. Em 2002, Ivo recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura Dramática, da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. Ivo Bender foi entrevistado por e-mail.

Page 15: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

15

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

IHU On-Line - Ante tantas atrações na área do entretenimento, espetáculos televisivos, shows multimídias, o teatro persistirá? Há lugar para ele? Ivo Bender - Enquanto houver vida inteligente na Terra e o homem quiser pensa sobre si, haverá teatro. Já quanto à possível substituição do teatro pelo cinema, pela televisão ou por espetáculos multimídia, esse problema é falso. É falso, porque, somente no espetáculo teatral, ocorre aquela intensa e misteriosa relação entre o espectador que está na platéia e o ator que, no palco, se movimenta, fala e dialoga com o público. No teatro, não há véus que separem o ator do espectador. O contato é direto e é nisso que reside a principal força do teatro. IHU On-Line - Teatro se aprende na escola? Como expandir a arte teatral? Ivo Bender - Sim, aprendemos a fazer teatro na escola. Refiro-me às escolas que visam à formação de atores ou diretores. No entanto, se não há talento, nada pode ser feito. IHU On-Line � O teatro brasileiro está cumprindo o seu papel, perante as demandas políticas e sociais do Brasil contemporâneo? A dramaturgia brasileira está à altura das suas responsabilidades? Ivo Bender - Creio que sempre temos exigido demais do teatro: à época da ditadura militar, pretendíamos que o teatro ajudasse a derrubar o regime. Quanta ingenuidade a nossa! Enquanto enfrentávamos uma censura boçal e castradora, a polícia federal simplesmente interditava textos ou proibia as temporadas. Talvez tivesse sido muito mais eficaz se, levando a resistência ao paroxismo, tivéssemos, simplesmente, parado de fazer teatro. O silêncio dos palcos, durante vários anos, talvez alertasse o mundo sobre os horrores que ocorriam no Brasil. Quanto às responsabilidades da dramaturgia brasileira, não sei muito bem quais sejam, a não ser aquela citada já no início desta entrevista. De resto, estamos na América Latina, no Brasil, onde as elites governamentais são normalmente corruptas e predadoras ou, então, muito ignorantes a ponto de se orgulharem de não terem formação nenhuma. Qual a dramaturgia que pode fazer frente a tal descalabro? IHU On-Line - Tendo resistido à ditadura, o teatro brasileiro resistirá ao neoliberalismo? Ivo Bender - Por que não? Embora seja muito mais difícil enfrentar e desmascarar o canto dessa sereia milionária e egoísta que é o neoliberalismo. IHU On-Line - Que políticas culturais o senhor reivindicaria ao Estado para incentivar o teatro e a dramaturgia? Ivo Bender - Não tenho nenhuma receita para mudanças na política cultural. Mas duma coisa tenho certeza: se os governantes não atrapalharem, já é uma grande coisa. IHU On-Line - Onde, na sua opinião, está sendo praticado o melhor e mais conseqüente teatro? Ivo Bender - O melhor e mais conseqüente teatro está sendo realizado em qualquer lugar do mundo onde a pesquisa teatral e as novas propostas estejam ocorrendo paralelamente com aquelas formas usuais de fazer teatro. O teatro tem muitas faces como o público tem vários rostos: daí essa imensa inquietação criadora, que é a marca necessária do fazer teatral.

(Voltar ao índice)

Page 16: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

16

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

��NNÃÃOO ÉÉ PPOOSSSSÍÍVVEELL IIMMAAGGIINNAARR OO MMUUNNDDOO SSEEMM TTEEAATTRROO�� Entrevista com Eva Sopher A presidente da Fundação Theatro São Pedro, de Porto Alegre, desde 1975, Eva Sopher, concedeu uma entrevista por telefone ao IHU On-Line na última semana. Eva falou sobre o Theatro São Pedro, sobre o seu papel durante 30 anos à frente da administração da instituição, sobre a luta da reconstrução terminada em 1984, sobre as obras do complexo cultural Multipalco e sobre o que pensa do teatro hoje. Nascida na Alemanha, Eva Sopher mudou-se em 1952, para Porto Alegre. Em 1992, fez parte da Fundação da Associação Nacional de Teatros e Monumentos e, em 2003, recebeu a medalha Mérito Farroupilha, prêmio máximo da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Eva Sopher foi convidada a ser patronesse do próximo Porto Alegre em Cena, em 2006.

IHU On-Line - Como a senhora recebeu o convite para ser patronesse do Porto Alegre em Cena 2006? Eva Sopher � Fico muito satisfeita e feliz em poder ser útil a tudo o que for relacionado ao teatro. O Luciano Alabarse16 é uma das pessoas mais competentes que conheço nesta área. No momento em que ele me faz um convite desses, é uma honra e um prazer participar. IHU On-Line � No site do Theatro São Pedro17, a história do prédio está contada paralelamente à história da sua vida. Como a senhora vê essa associação depois de 30 anos à frente da instituição? Eva Sopher � Minha vida é o que me importa e poder ligá-la a um patrimônio nacional, como é o caso do Theatro São Pedro, me satisfaz muito. O São Pedro, há 30 anos, estava literalmente caindo aos pedaços. Foram nove anos de reconstrução total. Eu sempre dizia que o Theatro tinha que ser reconstruído, e que a dignidade dele tinha que ser restaurada. Fizemos isso simultaneamente e, depois que o abrimos em 1984, nunca mais o fechamos, a não ser nos poucos dias em fevereiro, quando fazemos a manutenção. Estamos agora prevendo uma restauração, porque foram 21 anos de uso diário. Mas o Theatro continua sendo uma referência nacional e internacional. Para mim tem a maior importância e me traz muita alegria poder ser útil nesse sentido. IHU On-Line � Como foi a luta da restauração do Theatro São Pedro, que começou em 1975 e terminou em 1984? Quais foram as maiores dificuldades e qual foi o seu papel nesse trabalho? Eva Sopher � Foi realmente uma luta muito grande e com dificuldades muitíssimo maiores do que as que temos hoje com a construção do complexo cultural Multipalco. Naquele período, as pessoas não sabiam que eu levava a restauração a sério. Eu recebia promessas, dependia, única e exclusivamente, de recursos estaduais e federais. Não preciso dizer mais nada, não é? Sabemos como isso funciona: as promessas são feitas, e não são cumpridas. Este foi o pior e o maior sofrimento e a causa de toda essa demora na restauração. Não foi uma obra fácil, porque em se tratando de um patrimônio do século XIX, não se poderia usar qualquer material. Tudo

16 Diretor teatral e coordenador do Porto Alegre em Cena. Confira entrevista com ele na matéria de capa desta edição. (Nota do IHU On-Line) 17 Conferir: http://www.teatrosaopedro.rs.gov.br/ (Nota do IHU On-Line)

Page 17: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

17

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

tinha que ser feito com o estilo que queríamos que voltasse a ser. Meu papel foi fundamental, porque alguém tinha que estar atrás de tudo, permanentemente. Mas, chegando lá e conseguindo realizar esse sonho, posso dizer que foi muito bom. IHU On-Line � Como está o andamento das obras do complexo cultural Multipalco, na ampliação do Theatro São Pedro? Eva Sopher � Estamos com as obras em dia. Iniciamos em março de 2003 e estamos no final de junho de 2005. Até hoje, não perdemos um único dia de trabalho. Meu primeiro ofício para conseguir um pedacinho de terreno, ao lado do Theatro São Pedro, data de 1986. Há 19 anos, trabalho nesse projeto, jamais pensando ou sonhando em conseguir 10 terrenos ao lado do Theatro, porque ele foi concebido em 1833, tendo sido construído de 1850 a 1858, ou seja, na época em que Porto Alegre tinha 18 mil habitantes. Hoje, com um milhão e meio de habitantes, é óbvio que nós precisamos ainda de muitos espaços. A demanda vem de todos os sentidos: seminários, aulas, iluminação cênica, marcenaria cênica, vestuários. Tudo precisa de espaços. Temos uma orquestra de câmara do Theatro São Pedro, integralmente mantida pela empresa privada, que funciona há 20 anos e há 20 anos estamos alugando peças para ensaio, porque nós, aqui no Theatro São Pedro, não temos lugar. Tudo isso terá seus espaços generosos no Multipalco. A felicidade é ter conseguido os terrenos lindeiros à centenária casa para, então, poder fazer esse complexo moderno. IHU On-Line � Há alguma previsão de quando a obra do Multipalco ficará pronta? Eva Sopher � Eu não falo em previsão. Falo na data que eu marquei no primeiro encontro com o governador Germano Rigotto, no lançamento da obra. A data marcada é 20 de setembro de 2006. No dia 20 de setembro do ano que vem, nós vamos inaugurar o Multipalco. IHU On-Line � Como a senhora vê a importância do Theatro São Pedro para Porto Alegre e para o Rio Grande do Sul? Eva Sopher � É até estranho pensar sobre isso. A importância do teatro grego é fundamental em qualquer lugar. Lamento pela cidade que não tenha a possibilidade de assistir a teatro, porque não tem uma casa de espetáculos. Não precisamos nem falar da capital. Podemos falar dos muitos festivais de teatro e de teatro de bonecos em Canela. A cidade que se preza, preza o teatro. Para que as pessoas do interior possam fazer o seu trabalho e mostrá-lo aqui em Porto Alegre, na nossa praça, é que devemos construir o Multipalco. Ai da cidade que não tem um teatro e que não cuida dele. IHU On-Line � Diante de tantas atrações que existem hoje na área do entretenimento, como a televisão e os shows multimídia, a senhora acha que o teatro persistirá? Haverá lugar para ele? Eva Sopher � Tenho absoluta certeza que sim. É uma arte que não vai morrer nunca. Não é possível imaginar o mundo sem a existência de teatro. Volto para o teatro grego, volto para Shakespeare. É impossível imaginar um lugar que não tenha teatro e que não queira ter um. É claro que existirão coisas novas. Surgiu o cinema, a televisão, o computador e o cinema em casa. Vão aparecer outras possibilidades de entretenimento. Tudo evolui, mas nada disso tira a razão de o teatro existir.

Page 18: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

18

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

IHU On-Line � Na sua opinião, o teatro gaúcho e brasileiro está cumprindo o seu papel, diante das demandas políticas e sociais do Brasil contemporâneo? A dramaturgia brasileira está à altura das suas responsabilidades? Eva Sopher � Não só está à altura das suas responsabilidades, como está superior a elas. Sabemos que não estamos nos melhores lençóis, mas o teatro continua com suas atividades e vai bem. Temos tido excelentes encenações locais. O pessoal trabalha firme. Só posso falar aqui de Porto Alegre, porque faz anos que não tenho ido conferir nada fora. Claro que recebemos peças de fora e sempre encenamos peças boas e ruins. A oficina de teatro circense de Pelotas, por exemplo, foi uma das melhores apresentações neste ano no Theatro São Pedro. Do Rio de Janeiro e de São Paulo, temos acolhido peças muito boas, muito ruins e algumas medíocres, o que não é nenhuma novidade.

(Voltar ao índice)

DESTAQUES DA SEMANA AAnnáálliissee ddee CCoonnjjuunnttuurraa Tendo em vista o agravamento da crise política publicamos três artigos: do cientista político Leonardo Avritzer, do sociólogo Emir Sader e do ex-reitor da UNB e senador petista Cristovam Buarque. Uma entrevista com cientista político Bolívar Lamounier completa o dossiê sobre a atual crise política brasileira. OO PPTT NNÃÃOO AACCAABBOOUU Por Leonardo Avritzer O cientista político Leonardo Avritzer, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, publicou, na Agência Carta Maior, dia 29 de junho de 2005, o artigo que segue. Leonardo Avritzer é organizador do livro A participação em São Paulo. São Paulo: Editora Unesp, 2004 e é autor, entre outras obras, de Democracy and the public space in Latin America (Princeton University Press).

Sem negar a gravidade da crise e seu impacto sobre a militância petista, esse artigo pretende argumentar que a crise é da cúpula petista, e não de um projeto ético construído pela base petista. Assim, a saída no interior do partido tem de passar pela mudança radical na composição da sua direção. Diversos artigos circularam na imprensa nacional nessa última semana, associando a crise do governo Lula desencadeada pelas denúncias de existência de um �mensalão� ao possível fim ou desarticulação total do PT. O ex-ministro Francisco Weffort18 chegou a afirmar que o mais

18 Francisco Weffort é cientista político e professor universitário. Foi, durante muitos anos, secretário-geral do PT, até assumir o Ministério da Cultura, já no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Ele tem uma passagem marcante como analista e estudioso do Brasil moderno. Seus livros, ensaios e artigos, sempre versando sobre política e a construção de uma cultura e de um país democráticos, mostram as articulações de um autoritarismo endêmico que implantou seus alicerces no Brasil, resultando em práticas corporativas que paralisam qualquer esforço de

Page 19: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

19

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

provável é que os antigos militantes e intelectuais petistas se retirem para a privacidade, aceitando, assim, a tese de Richard Sennett19 sobre o declínio do homem público ou do intelectual público. Sem negar a gravidade da crise e seu impacto profundo sobre a militância petista, esse artigo pretende argumentar que a crise é da cúpula petista e não de um projeto ético construído principalmente pela base petista. A crise do �mensalão� é uma crise do chamado presidencialismo de coalizão, o regime em vigor no Brasil desde 1985, no qual o presidente tem uma pequena representação no Congresso e faz alianças visando a obter a maioria. Em todos os governos da Nova República, o presidencialismo de coalizão gerou crises, desde a do governo Sarney, motivada pela revelação pela Folha de S. Paulo dos negócios entre o ministro Aníbal Teixeira e a base parlamentar do governo, até a crise do governo Fernando Henrique Cardoso, motivada pelos escândalos que atingiram o PMDB do ex-ministro Jader Barbalho. No entanto, apesar da continuidade das crises do presidencialismo, ou melhor, do clientelismo de coalizão, essa crise afeta o PT de forma diferente de outros partidos. Não é difícil perceber que o presidencialismo de coalizão cria mais dificuldades para o PT governar do que criou para FHC. Isso porque o PT, ao longo dos anos 1980 e 1990, criticou duramente as práticas vigentes no parlamento brasileiro e o presidencialismo de coalizão supõe um varejão de negociações caso a caso que se choca frontalmente com a história e a cultura do partido. O PT foi o partido de tradição socialista que melhor sobreviveu à crise do assim chamado socialismo real. A sobrevivência do PT ao socialismo real ocorreu em dois planos e em dois momentos. O primeiro foi a campanha pelo impeachment do ex-presidente Collor de Mello que gerou o movimento pela ética na política. No pós-impeachment, o papel do PT em CPIs, como a do orçamento ou dos precatórios, também foi significativa. No entanto, a reputação de correção do PT na administração pública decorreu de um segundo movimento na direção da democratização das administrações locais com a introdução do orçamento participativo em Porto Alegre e sua expansão posterior para Belo Horizonte, Belém, São Paulo e Recife. Nesse sentido, o PT abraçou a idéia da ética por meio de duas ações diferenciadas: da luta contra a corrupção no Congresso Nacional e da geração de uma forma local diferenciada de governar. Foram esses dois movimentos que deram ao PT, nos anos 1990, a hegemonia do campo político de esquerda. Vale também a pena lembrar que o PT é um partido altamente regionalizado e que as formas mais transparentes de gestão surgiram no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais e nunca foram muito exitosas na capital paulista, onde o grupo atualmente hegemônico no governo Lula tem a sua origem. Vale a pena também lembrar que, no momento de realizar a aliança política para o centro, o grupo hegemônico capitaneado por José Dirceu enfrentou resistências fortes nesses dois Estados.

democratização. Weffort estuda também fenômenos como os do populismo � essa mão dupla entre grupos dominantes que se promovem usando o apoio das massas de �dominados� �, explicitando as condições em que este pode-se instalar e se perpetuar. Como toda obra de cunho político, trata-se, em primeiro lugar, de produzir ferramentas que possibilitem a compreensão do Brasil dentro de sua complexidade, passo fundamental para a consecução de qualquer transformação. Ele foi ministro da Cultura do governo Fernando Henrique Cardoso. Suas principais obras são: América Latina: Ensayos de Interpretación Sociológico-Política [com Fernando Henrique Cardoso], 1970; Populismo, Marginalidad y Dependência [com Aníbal Quijano], (1974); O Populismo na Política Brasileira (1978); Por que Democracia? (1984); O que É Deputado (1987); Os Clássicos da Política (1989); Qual Democracia? (1992). (Nota do IHU On-Line). 19 Richard Sennett, sociólogo americano radicado em Londres, autor de diversas obras, entre outras: O Declínio do Homem Público. As Tiranias da Intimidade. São Paulo, Companhia das Letras, 1998 e A Corrosão do Caráter. Rio de Janeiro: Record, 1999.

Page 20: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

20

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

A opção pelo presidencialismo de coalizão após a eleição de Lula foi mais do que uma opção pela governabilidade. Ela foi também uma opção pelo abandono de uma forma mais transparente de governar. A tentativa de democratizar o orçamento federal via audiências do PPA, feita pela Secretaria Geral da Presidência, foi rapidamente trocada pelo varejão do Congresso com liberação de emendas parlamentares e todas as suas conseqüências em termos de irracionalidade administrativa. A revelação de um suposto esquema de financiamento de campanha, via Marcos Valério, revela o nível de adaptação da cúpula do PT aos procedimentos comuns da política nacional. O Banco aparentemente envolvido no esquema, o Banco Rural, foi uma instituição financeira importante no esquema Collor de Mello, assim como a agência de propaganda aparentemente envolvida esteve presente em diversos esquemas de caixa dois revelados na década de 1990. Apesar das semelhanças entre o esquema de financiamento político em investigação e esquemas anteriormente revelados, vale a pena observar que o atual escândalo afeta o PT de modo diferente por dois motivos principais: em primeiro lugar, porque os escândalos anteriores afetaram o chamado baixo clero de partidos como o PFL ou PMDB (com exceção do caso Jader Barbalho). No caso das denúncias do deputado Roberto Jefferson, elas afetam a alta cúpula do Partido dos Trabalhadores. Nesse sentido, a alternativa adotada por outros partidos de expelir alguns deputados e se desvincular do escândalo em questão não parece viável. Por outro lado, há uma segunda especificidade das denúncias é que elas não afetam aqueles que construíram a reputação ética do PT: dezenas de deputados federais, de ministros e de ex-prefeitos que parecem estar tão surpreendidos com o escândalo quanto a opinião pública. Não parece difícil perceber que a saída no interior do PT para a atual crise é uma mudança radical na composição da sua direção. Aqueles que optaram pelo clientelismo de coalizão e que aderiram às suas práticas devem ser questionados por aqueles que não o fizeram, antes que a opinião pública identifique o PT com a vala comum do clientelismo e das práticas de financiamento de campanha vigentes no Brasil. Nesse sentido, o PT deve superar a sua atual divisão em tendências e buscar fazer uma ampla coalizão pela ética, composta principalmente pela Articulação de Esquerda, pela Democracia Socialista, por membros mais jovens da articulação e por centenas de intelectuais que prezam o patrimônio ético do partido. Esses grupos devem lançar um candidato comum à sucessão de José Genuíno. A reforma política anunciada pelo presidente Lula deve ser o ponto de partida para um PT renovado. Ela deve envolver o financiamento público de campanha, a redução da fragmentação política no Congresso Nacional, o fim das emendas de parlamentares e o fim do contingenciamento do orçamento federal. Todos esses instrumentos podem pôr fim ao clientelismo de coalizão, aumentando a base parlamentar dos presidentes e diminuindo a necessidade de trocas espúrias entre o executivo e o Congresso. Uma reforma política, pensada nesses termos, irá permitir a separação definitiva na política brasileira e no PT entre aqueles que têm tudo a ganhar com o financiamento público de campanha, daqueles que já aderiram às formas obscuras de financiamento. O PT precisa separar aqueles que procuram democratizar o orçamento quando governam daqueles que se aproveitam das formas obscuras de gestão do orçamento público no Brasil. O PT possui membros virtuosos e práticas virtuosas suficientes para se renovar. Esses últimos precisam, rapidamente, assumir a sua direção, antes que as atuais lideranças do PT o joguem na vala comum vigente na política brasileira.

Page 21: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

21

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

OO TTAAMMAANNHHOO DDAA CCRRIISSEE Por Cristovam Buarque Reproduzimos o artigo que segue, de autoria do senador Cristovam Buarque (PT-DF), publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat, em 29 de junho de 2005. Cristovam Buarque é autor de 19 livros. Entre eles, citamos: A Desordem do Progresso: o fim da era dos economistas e a construção do futuro. São Paulo: Paz e Terra, 1991; A aventura da universidade. Co-edição Rio de Janeiro: Paz e Terra e São Paulo: Unesp, 1994 (Prêmio Jabuti, 1995); A Revolução nas Prioridades. Da modernidade técnica à moder nidade ética. São Paulo: Paz e Terra, 1994. Os tigres assustados - uma viagem pela fronteira dos séculos. Rio de Janeiro: Record, 1999; Admirável mundo atual. São Paulo: Geração Editorial, 2001; e Os Instrangeiros. A aventura da opinião na fronteira dos séculos. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. O senador Cristovam Buarque foi ministro da Educação no atual governo federal, no período de 1º de janeiro de 2003 a 27 de janeiro de 2004. O senador concedeu duas entrevistas ao IHU On-Line: uma sobre o papel da Universidade, publicada na edição n.º 90, de 1º de março de 2004 e a outra sobre Leonel Brizola na edição 107º, de 28/06/2004. Dele publicamos uma entrevista na 143ª edição, de 30 de maio.

Em 1992, a crise do presidente Collor ameaçava ser apenas um pequeno pé de página nos livros futuros da história do Brasil. Em 2005, a crise já ameaça capítulos inteiros: o Presidente Lula e o PT, os símbolos e projetos de esquerda para o Brasil. A crise atual é muito maior do que a crise anterior, por uma simples razão: Lula é muito maior do que Collor. A primeira foi uma crise política conjuntural, a segunda é uma crise histórica, pois reduz a chance de mudanças estruturais no País. Na origem, não há como comparar o tamanho da crise, porque Lula não é Collor, o PT não é o PRN; as pessoas que rodeiam o Presidente e o governo têm história, princípios, propósitos completamente diferentes dos daqueles que rodeavam Collor. As conseqüências também não são comparáveis: o fracasso de Collor significava apenas o fracasso de um engodo; o fracasso de Lula significará o fracasso de uma esperança. Na origem, a crise política atual é muito menor. Em termos históricos, porém, ela é muito maior. Por isso, a responsabilidade do próprio Presidente Lula e de cada um dos líderes nacionais, do governo ou da oposição, é muito maior, do que em 1992. Se fracassarmos agora, descaracterizaremos um partido que chegou a reunir 800 mil militantes, combativos, comprometidos, com sonhos. Ameaçaremos a crença de que é possível completar a Abolição e a República, colocando no poder um representante dos antigos escravos, capaz de conduzir as mudanças que libertariam os pobres do Brasil. Destruiremos um símbolo que uniu esse partido e empolgou a população, dando-lhe esperança de que o Brasil seria capaz de avançar, de sair do eterno ciclo de república incompleta que não completa a abolição. Quebrar a barreira que separa a minoria aristocrática e privilegiada da maioria popular, excluída. Inverter as prioridades que, há séculos, canalizam os recursos nacionais em benefício de poucos. Transformar a sociedade para construir uma nação integrada, da qual todos se sentissem parte, sem exclusão. Esses objetivos, que outros países souberam construir, nos foram apresentados, durante toda a nossa história, com uma utopia impossível, uma etapa postergada para algum momento no futuro distante, uma proposta demagógica para os períodos eleitorais. Por isso, essa crise é tão grande, do ponto de vista de suas conseqüências históricas, embora do ponto de vista da origem, moral e política, seja menos grave do que a crise de 1992. Lula e o PT, juntamente com outros partidos de esquerda, ainda representam a possibilidade não somente de sonhar - única possibilidade deixada pela direita para os militantes de esquerda - mas também de construir o sonho. Daí nossa responsabilidade: não deixar de

Page 22: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

22

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

sonhar que ainda é possível construir o sonho. Para tanto, a crise política e moral não pode ser relegada. Ela existe, independente da realidade, porque a opinião pública perdeu a confiança no PT, e a confiança no Presidente Lula já está ameaçada. A crise deve ser enfrentada com transparência, com autocrítica, com esperança. Sobretudo, com responsabilidade histórica.

LLUULLAA EE PPTT:: NNAADDAA SSEERRAA CCOOMMOO AANNTTEESS Por Emir Sader O artigo que reproduzimos a seguir foi escrito pelo sociólogo Emir Sader, e originalmente publicado no sítio da Agência Carta Maior, em 29 de junho de 2005. Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de A vingança da História. São Paulo: Boitempo, 2003. Dele, publicamos um artigo na 146ª edição, de 20 de junho de 2005.

O governo Lula e o PT têm duas opções para a atual crise. Uma à direita, se aceitarem ser pautados pela oposição. E uma democrática, apontando na direção das promessas até aqui não cumpridas � de prioridade do social e da reforma agrária, de expansão do mercado interno. Dessa escolha pode depender o futuro do Brasil. Ninguém sai de uma crise como esta da mesma forma que entrou. Conforme o governo Lula e o PT reagirem à crise, será seu futuro. Há uma saída à direita: basta que o governo seja pautado pela oposição, por meio do lobby monopolista da mídia privada. Tratar-se-ia de cortar ainda mais os gastos do governo; manter firme e forte a política econômica; se substituir Henrique Meirelles, será por alguém que mantenha rigorosamente a ortodoxia que tem feito o governo perder popularidade, e o Brasil perder a oportunidade de deixar de ser o país mais injusto do mundo. Nesta direção, o governo abrirá mão da nomeação de cargos de confiança, fará alianças com partidos que cobrarão duramente a conta com vários ministérios, com autonomia de nomeação � e todos os riscos de novos casos de corrupção. A reforma agrária andará ainda mais lentamente, os transgênicos mais rapidamente, projetos como a Ancinav serão definitivamente arquivados, enquanto os exportadores conseguirão ainda mais isenções. Se optar por essa via, Lula fará a campanha eleitoral na defensiva, acusando os golpes que a oposição continuará � tendo a mídia na vanguarda � a assestar contra o governo. Há mesmo quem diga que os membros do Banco Central desatarão uma campanha de desestabilização, renunciando um após o outro, alegando que o governo, e principalmente o PT, os impedem de cuidar da moeda como crêem que deveriam fazê-lo. O cenário estaria pronto para o retorno da aliança PSDB-PFL e do seu programa de privatizações da economia e do Estado. Esse é o caminho da derrota. Pode até não ser o da derrota do Lula nas eleições de 2006, mas será a derrota definitiva de um projeto de esquerda, aquele que acumulou forças ao longo das batalhas das últimas duas décadas e meia no Brasil. E o governo, mesmo contando com um novo mandato, não terá o que dizer aos movimentos sociais, à cidadania que o elegeu, aos eleitores � até mesmo para justificar por que pede um novo mandato. O PT se descaracterizará completamente como partido, fechando de uma vez por todas sua bela trajetória histórica. A alternativa está numa saída democrática à crise, apontando na direção das promessas até aqui não cumpridas � de prioridade do social, de expansão do mercado interno mediante o

Page 23: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

23

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

aumento substancial dos salários, aceleração da reforma agrária, liberação de recursos para as políticas sociais e culturais. Em suma, atendendo as reivindicações que os movimentos sociais � tendo à frente o MST e a CUT � fizeram chegar a Lula. A partir desse momento, a solução positiva da crise está em suas mãos, está na proposta que recebeu, vinda de um apoio que não lhe cobrará cargos, nem vantagens, que não lhe trará preocupações com novos casos de corrupção. Mas que, ao contrário, lhe permitirá transitar pelas grandes manifestações dos movimentos sociais, fazer uma campanha eleitoral de rua, contar com o apoio popular ativo e massivo. Dessa opção dependerá o futuro do governo Lula, do PT e do Brasil.

��AA CCRRIISSEE PPOOLLIITTIICCAA EESSTTAA NNAA AANNTTEE--SSAALLAA DDAASS IINNSSTTIITTUUIIÇÇÕÕEESS�� Entrevista com Bolívar Lamounier Reproduzimos, a seguir, a entrevista de Bolívar Lamounier, cientista político, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em 3 de julho de 2005. A entrevista foi feita pelo jornalista Carlos Marchi. Bolívar Lamounier é doutor em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, Los Angeles. Foi fundador e primeiro diretor-presidente do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp), um dos principais órgãos de pesquisa sociopolítica do Brasil, onde permanece como pesquisador sênior e diretor de pesquisa. É membro do Conselho de Orientação Política e Social (Cops) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp); presidente do Conselho Diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Universidade de Campinas; e membro da Comissão Consultiva sobre a Reforma do Estado, nomeada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1996. É, ainda, autor de numerosos estudos de Ciência Política publicados no Brasil e no exterior, entre os quais Os Partidos e as Eleições no Brasil (co-autoria com Fernando Henrique Cardoso. São Paulo: Paz e Terra, 1975); e A Democracia Brasileira no Limiar do Século 21 (São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 1995). A crise política já está "na ante-sala da crise institucional", adverte o cientista político Bolívar Lamounier. Para ele, o pecado original de Lula foi juntar a Casa Civil com a coordenação política. "Acabou sem uma e sem outra", observa. Ele ironiza a idéia de que "as elites" planejam um golpe contra o governo: as elites não têm razões para desestabilizar um governo que cumpre uma política econômica ortodoxa, explica. Lamounier acha que a crise vai redundar em muitas perdas de mandato e numa reformulação profunda dos partidos políticos. Eis a entrevista:

O "golpe das elites" existe? Pessoas que esperavam muito mais do governo e que imaginavam que ele não se deixaria envolver pela corrupção foram buscar uma explicação para as denúncias. Quando você não quer aceitar a realidade, cria uma ficção para explicá-la. É claro que não há golpe nenhum. Falam em "elites". Que elite quer desestabilizar um governo que cumpre uma política econômica austera e ortodoxa, que obviamente beneficia o capital e o mundo financeiro? A crise é política ou já ganha dimensão institucional? Não é ainda institucional, mas ocorre no Congresso Nacional, no âmbito do poder. Está, portanto, na ante-sala da crise institucional. O grau de descrédito que atinge a Câmara dos Deputados, o PT e vários outros partidos e, potencialmente, o próprio Lula, coloca a crise política num diapasão muito elevado. O senhor acha possível o mensalão? Não quero prejulgar, mas acho muito difícil que tudo o que nós ouvimos seja ficção. Roberto Jefferson e outros teriam de ser romancistas de primeira para criar uma ficção tão

Page 24: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

24

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

impressionante. Então, pelo menos uma parte disso deve ser verdade, práticas eventualmente legais, mas imorais, envolvendo partidos da base aliada do presidente da República. O começo da crise, então, tem a ver com corrupção. Mas não é só. Nesta legislatura, 152 parlamentares trocaram de partido 237 vezes. Esses números são inusuais para o padrão brasileiro? Sem dúvida. De memória, diria que é pelo menos 50% acima do padrão. O estímulo à troca de partidos para formatar a base de apoio do jeito que eles queriam - não para o próprio PT, que o PT é "puro" - era conhecido antes de estourar a crise do mensalão. Temos, então, dois fios desencapados: a base aliada gelatinosa, amorfa, sem caráter e sem programa, que só se mantém unida por alguma recompensa; e as denúncias de corrupção que, se verdadeiras, teriam ocorrido de uma forma que acirrava a competição por espaços entre esses partidos. Se as investigações comprovarem essas denúncias e até coisas mais substanciais, muitas pessoas perderão o mandato e nós veremos uma reformulação profunda dos partidos políticos. Queira Deus que, indiretamente, não afete o próprio presidente da República. Se ficar comprovada uma participação mais material do ex-ministro José Dirceu, teremos uma dificuldade muito grande e, aí, sim, uma crise institucional. Qual o principal erro de Lula? O erro inicial, e o mais grave, de Lula foi a coordenação política. Ele colocou na Casa Civil um político grande demais para o cargo. José Dirceu não cabe no palácio, é como colocar um elefante numa bacia. Lula ficou sem Casa Civil e sem coordenação política. Lula tem talhe, paciência e apetite para isso? Lula não tem talhe, paciência ou apetite para a coordenação política, nem acredito que conseguisse, porque não tem vivência parlamentar. Então, caiu-se no pior dos mundos. Nem Lula fez a coordenação política nem resolveu o problema. Outro erro, ainda mais visceral, é o sentido hegemônico do PT, que aparelhou o governo, criando uma sensação de hegemonismo, de ocupação excessiva de poder e de ameaça para os demais partidos. Que tal Lula na Presidência? Lula tem qualidades indiscutíveis, mas na Presidência se comporta como o líder sindical. Parece que ele só se sente à vontade quando discursa para sindicalistas ou companheiros do PT e que não acha necessário se aprofundar nos assuntos. Repete muitos chavões típicos do movimento sindical. Dá a impressão de que não gosta muito da maior parte do que compõe o papel do presidente da República: se aprofundar nos assuntos, reuniões difíceis, atenção contínua a todos os aspectos do Estado e do governo. Por fim, falta-lhe vivência parlamentar, o caminho para entender a Presidência. O tal "autismo" de Lula aborda essa demora para se adaptar ao cargo. Como interpretar os apelos a mobilizações de rua feitos pelo PT? Só em oportunidades muito raras a mobilização de rua é indício de coisa boa. As manifestações das diretas, em 1984, foram um caso raríssimo. Quando alguém diz "quero o pessoal na rua me apoiando" é sintoma de crise. Isso é da filosofia plebiscitária, a doença infantil da democracia. Militantes não são convocados na expectativa de que vão sentar e tomar sorvete. Eles vêm para brigar, para usar métodos de ameaça. Com isso, o PT apenas aprofunda o problema que quer resolver.

Page 25: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

25

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

(Voltar ao índice) LLiivvrroo ddaa sseemmaannaa BBEERRTTOO,, GGIIUUSSEEPPPPEE.. OO MMAALL OOBBSSCCUURROO.. SSÃÃOO PPAAUULLOO:: EEDD.. 3344,, 22000055.. AAPPEENNAASS DDOORR,, SSEEMM AANNGGÚÚSSTTIIAA Por Jurandir Freire Costa Destacamos na edição desta semana o livro O Mal Obscuro, de Giuseppe Berto. Para tanto, reproduzimos o artigo de Jurandir Freire Costa, publicado no jornal Folha de S.Paulo, em 19 de junho de 2005. Em seu texto, Costa afirma que o escritor italiano Giuseppe Berto, no referido livro, relata seu processo psicanalítico, convertendo a "gagueira do sintoma" em fluidez narrativa. Jurandir Freire Costa é psicanalista e professor de medicina social na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É autor de Sem Fraude nem Favor e Razões Públicas, Emoções Privadas (Ed. Rocco), O Vestígio e a Aura. Corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004, entre outros. Dele publicamos um artigo na 123ª edição, de 16 de novembro de 2004, uma entrevista na 127ª edição, de 13 de dezembro de 2004, outra entrevista na 128ª edição, de 20 de dezembro de 2004, e um artigo na 137ª edição, de 18 de abril de 2005.

O Mal Obscuro, de Giuseppe Berto20, é um romance centrado na experiência psicanalítica. O livro, escrito em 1964, continua atual por dois principais motivos: primeiro pela qualidade literária; segundo por falar de psicanálise e, ainda assim, permanecer interessante. No que concerne à qualidade literária, remeto o leitor a quem é de direito, ou seja, ao posfácio de Carlo Emilio Gadda21, um dos escritores que inspiraram Berto. No que concerne ao interesse psicanalítico, justifico, em seguida, minha opinião. É difícil, muito difícil, fazer de um processo psicanalítico matéria de ficção sem que a psicanálise e a ficção percam a densidade que lhes é própria. O substrato da cura analítica é a repetição, aquilo que, em nós, se fecha à mudança e prende a vida à pobreza descarnada do sintoma. A literatura, ao contrário, é o que se abre ao movimento, à incessante reconstrução metafórica do sujeito e de seu mundo. Como, então, traduzir sem trair? Como fazer do pouco, muito? Berto apoiou-se em Carlo Emilio Gadda (O Conhecimento da Dor. Ed. Rocco) e em Italo Svevo22 (A Consciência de Zeno. Ed. Nova Fronteira) para levar a tarefa a bom termo.

20 Giuseppe Berto, autor de O Mal Obscuro. Editora 34, 2005, que é simultaneamente um romance e a história de um tratamento psicanalítico, É um livro de intensidade fora do comum. Publicado em 1964, conquistou de saída dois dos mais importantes prêmios literários italianos, colocando o nome de seu autor ao lado dos escritores maiores do século XX, como Italo Svevo (a quem este livro se refere com freqüência) e Carlo Emilio Gadda, que assina o posfácio desta edição do livro. (Nota do IHU On-Line) 21 Carlo Emilio Gadda (1893-1973), escritor italiano. Seus romances mostram-no interessado em pesquisas verbais e estilísticas. Escreveu: O castelo de Udine, (1934); Essa confusão tremenda da rua Merulana (1957); O conhecimento da dor (1963). (Nota do IHU On-Line) 22 22 Ettore Schmitz, Svevo, chamado Ítalo (1861-1928), escritor italiano de ascendência judaica, um dos mestres da literatura introspectiva e intimista. Publicou Uma vida (1892); Senilidade (1898); A consciência de Zeno (1923). (Nota do IHU On-Line)

Page 26: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

26

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Conseguiu. Usou o humor contra a dor, convertendo a gagueira do sintoma em fluidez e encantamento narrativos. O núcleo do enredo é simples. O narrador da história, depois da morte do pai e de doenças orgânicas mal diagnosticadas e mal tratadas, começou a apresentar crises agudas de ansiedade hipocondríaca, fóbica, obsessiva e depressiva. Algo assim como o que, hoje, chamaríamos de uma síndrome de pânico, acompanhada de intensos componentes depressivos. Seguiu-se a corrida infrutífera por diversos tratamentos, até que lhe foi sugerido o tratamento psicanalítico. Encontrou Nicola Perroti, um analista freudiano, e, incentivado por ele, escreveu O Mal Obscuro, que denominou "o relato de minha doença". Terminado o romance, Berto, em uma nota incluída no texto, diz: "Na época, eu não acreditava na psicanálise e temo continuar não acreditando... Porém o ponto de força psicanálise não é tanto a doutrina, mas o analista... Tive sorte de encontrar um homem extraordinariamente bom, inteligente, compreensivo, atento, afetuoso [que] me ajudou a sair sem grandes desconfortos das crises medonhas do mal e conduziu-me gradativamente a olhar dentro de mim sem medo ou vergonha do que eu pudesse encontrar ali, porque qualquer coisa que eu visse seria sempre algo pertencente ao homem". A descrição do curso de uma análise não poderia ser mais precisa. Mas não é, como se pode pensar, um sinal verde para o infantilismo auto-indulgente. O "velhinho", como Berto apelidou Perroti, não desvelou as origens fantasiosas da culpa que o aprisionava a figura do pai morto para "absolvê-lo" dos desejos parricidas. Mostrou-lhe, o tempo todo, que a culpa tinha o tamanho de seu narcisismo, isto é, bonzinho, ma non troppo. Compreensão, sim, mas com implicação. Entender a natureza da falta imaginária que está na raiz da culpa não isenta o sujeito de responsabilidade ética. Na base do elo culposo entre pai e filho, assinalou Perroti, estava o mesmo ganho narcísico que mantinha este último obcecado pela idéia de escrever uma "obra-prima" que nunca tinha sido "obra" e ainda menos "prima". Berto, ao renunciar à idealização de si, liberou-se da culpa massacrante e, finalmente, concluiu seu belo livro sobre "a obscuridade do mal".

Banalidade e obscuridade

Coube a Hannah Arendt23 revelar uma das faces mais desconcertantes do mal, sua banalidade; coube a Berto desenhar o esboço da outra face, a obscuridade. No vocabulário freudiano, a

23 Hannah Arendt (1906-1975), filósofa e socióloga alemã, de origem judaica, nasceu em Hannover (Alemanha). Estudou na Universidade de Koniberg, Malburg, Freiburg e Heidelberg. Foi influenciada por Husserl, Heidegger e Karl Yaspers. Em conseqüência das perseguições nazis, em 1941, partiu para os EUA, onde escreveu grande parte das suas obras. Lecionou nas principais universidades deste país (Columbia,Califórnia, Cornell, Princeton, Wesleyan, etc.). Hannah Arendt propôs, em uma distinção inusitada, que os termos labor, trabalho e ação fossem entendidos como diferentes formas de atividades fundamentais do ser humano, sendo aquele vinculado às necessidades biológicas, o intermediário ao artificialismo da vida moderna e esta às relações entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria. A sua filosofia assenta numa crítica à sociedade de massas e à sua tendência para atomizar os indivíduos. Preconiza um regresso a uma concepção política separada da esfera econômica, tendo como modelo de inspiração a antiga cidade grega. Entre suas obras, citamos: Eichmann em Jerusalém - Uma reportagem sobre a banalidade do mal. Lisboa: Tenacitas. 2004; O Sistema Totalitário. Lisboa: Publicações Dom Quixote.1978; O Conceito de Amor em Santo Agostinho.Lisboa:Instituto Piaget; A Vida do Espírito. v.I. Pensar. Lisboa: Instituto Piaget; Sobre a Revolução. Lisboa: Relógio D`Água; Compreensão Política e o Futuro e Outros Ensaios. Lisboa: Relógio D`Água (edição da Perspectiva,2002). (Nota do IHU On-Line)

Page 27: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

27

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

banalidade do mal, como mostrou Contardo Calligaris24 há mais de dez anos, é a desistência de pensar sobre o que se é e subserviência impensada ao desejo do outro. Esta é a matriz do alheamento em relação a si e da crueldade para com o próximo. A obscuridade, segundo Berto, é de outra ordem. Aqui, não se trata apenas de ceder irrefletidamente à sedução do outro, seja ele pai, político, cientista, guia espiritual ou qualquer outro Führer. Trata-se também de não encontrar um destinatário ao qual se possa dirigir a pergunta: é justo ou não desejar o que o outro não deseja? Berto, ao longo da vida, esforçou-se para escapar da banalidade, porém nunca se deparou com um interlocutor que bem respondesse a sua interrogação. Rendeu-se, então, à inércia narcísica. Combateu nas guerras imperialistas na África, tornou-se fascista, foi amante, pai, roteirista de produções cinematográficas de quinta categoria etc., porque assim rezava a rotina burguesa, porque era assim que todo o mundo deveria ser. Após a crise psíquica, saiu da chave da banalidade, mas para entregar-se ao gozo com a obscuridade do mal. A neurose, diz o autor em outra passagem, nos faz oscilar continuamente entre "o desespero de jamais se curar" e a "esperança de sarar milagrosamente de um dia para o outro". Em outros termos, o desespero resulta da percepção do mal magnificado pelo narcisismo; a esperança milagrosa, da impotência para agir correlata ao gozo masoquista com o sofrimento. Nos dois casos, a verdade sobre o desejo do sujeito é uma contrafação derivada da onipotência narcísica que bloqueia a vida criativa na angústia da repetição. É preciso, então, que um outro suporte a projeção desta oscilação, trazendo de volta a questão silenciada.

Nem desespero nem esperança

A afirmação pode soar como trivial para quem não recorda o pavoroso episódio vivido por Primo Levi25, quando estava no campo de concentração. Certa vez, Levi, em via de morrer de

24 Contardo Calligaris é psicanalista, e que foi.. O autor é doutor em psicopatologia clínica. Formou-se em Epistemologia na Universidade de Genebra (Suíça). Em Paris, fez sua primeira pós-graduação (Diplôme d�Études Approfondies) em Semiologia, com Roland Barthes. É membro da direção da Association Freudienne Internationale e da Fundação Européia para a Psicanálise, da Associação Psicanalítica de Porto Alegre e do Conselho de Administração da Boston Graduate School of Psychoanalysis. Calligaris escreveu sete livros, dos quais citamos Hello Brasil, Notas de um Psicanalista Europeu viajando ao Brasil. São Paulo: Escuta, 1991 e Crônicas do Individualismo Cotidiano. São Paulo: Ática, 1996. De Contardo Calligaris, publicamos um artigo na edição número 43, de 18 de novembro de 2002, intitulado Suzane: Pano de Fundo, outro na edição número 38, de 7 de outubro de 2002, com o título Vida Diet, Lula Light, uma entrevista feita pelo IHU On-Line na edição número 35, de 16 de setembro de 2002, que teve como título Pedofilia e Autoridade. Publicamos, também, de Calligaris, A Fantasia do Pedófilo na edição número 33, de 2 de setembro de 2002. Nas edições número 63, de 9 de junho de 2003, e número 78, de 6 de outubro de 2003, reproduzimos outros artigos do autor. Além disso, na edição nº 89, de 12 de janeiro de 2004, na editoria Artigo da Semana, transcrevemos o texto, intitulado O governo somos nós, fala sobre o governo Lula, que foi publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 28 de dezembro de 2003. O psicanalista esteve na Unisinos, em 9 de setembro de 2003, ministrando a palestra intitulada O que quer o pedófilo? num evento promovido pelo IHU e o Laboratório de Filosofia e Psicanálise do PPG em Filosofia do Centro de Ciências Humanas da Unisinos. (Nota do IHU On-Line) 25 Primo Levi, 1919-1987, judeu italiano foi um dos poucos sobreviventes de Auschwitz, o campo de concentração onde milhões de prisioneiros, judeus como ele, foram assassinados pelos nazistas. Sobreviveu para regressar a Turim, sua cidade-natal, e escrever um dos mais extraordinários e comoventes testemunhos dos campos de extermínio nazista. Em seu primeiro e mais impressionante livro, Se questo è un uomo (Se isto é um homem), escrito em 1947, Levi relata o ano que passou em Auschwitz. Em 1963, Primo Levi publica seu segundo livro A Trégua, em que narra os últimos dias

Page 28: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

28

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

sede, pôs na boca um pequeno bloco de gelo que estava colado na janela do barracão onde estava preso. Um nazista arrancou o bloco de sua boca com uma tapa. Levi perguntou por quê O nazista respondeu: "Aqui não há por quê!". A situação, obviamente, é extrema. Mostra, entretanto, aquilo em que podemos nos tornar quando já não podemos perguntar "por quê?". Todas as proporções guardadas, foi o oposto disso que aconteceu no encontro do "velhinho" com Berto. No lugar do desespero e da esperança milagrosa, o analista levou o analisando a voltar a perguntar "por quê?". Este é o primeiro e o definitivo passo de uma análise. Com ele inicia-se o trabalho de restituição da fé no que poderemos ser, pela restituição da confiança no outro disposto a sustentar o incansável "porquê" do desejo, do sentido da vida, da vontade de viver. O sintoma é a infidelidade ao desejo de duvidar, "ao desejo de por quê". Uma vez aí, não necessitamos mais de fascismos ou de pânicos para sobreviver. Ao entendermos, como o fez Berto, que "narrar é doloroso, mas também é doloroso o silêncio", a vida deixa de ser uma "ruína sem remédio", e o mal sai das cavernas para vir à luz como "coisas que sempre pertencem ao homem". As adversidades, os maus momentos, continuarão a existir, porém o que antes paralisava agora faz andar. Ou, na elegante escrita de Berto: a dor permanece apenas dor, não se transforma mais em angústia. Um livro excepcional, para leigos e analistas. Para analistas, sobretudo, que resistem. e como! - a se tornar, pura e simplesmente, "velhinhos atentos e compreensivos", em busca de "porquês" perdidos.

(Voltar ao índice)

FFiillmmee ddaa sseemmaannaa PPEEÕÕEESS EE EENNTTRREEAATTOOSS:: FFIILLMMEESS EEXXPPLLOOSSIIVVOOSS Por Amir Labaki Os filmes comentados nesta edição já foram vistos por algum colega do IHU. Amir Labaki é o autor do artigo que segue, que comenta o destaque dado em mostra francesa de cinema ao filme Peões, de Eduardo Coutinho. Amir Labaki é diretor-fundador do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários. Este filme já foi comentado na 123ª edição do IHU On-Line, de 16 de novembro de 2004. O artigo foi publicado pelo jornal Valor, 1-7-05.

Já que a França celebra, neste ano, a cultura brasileira, nada melhor do que pesquisar as origens do Brasil de Lula. É o que faz a mostra especial Abertura, Cinéma de L´ouverture (1965-1984), inaugurada no dia 30 de junho, na abertura da 16º Festival Internacional de Documentários de Marselha, um dos três principais da França. O curador do ciclo é o crítico, escritor e cineasta Jean-Claude Bernardet, autor de um livro clássico sobre essa produção Cineastas e Imagens do Povo. Cia. das Letras. Não apenas as comemorações bilaterais pautam a retrospectiva. O júri tem como presidente o documentarista

em Auschwitz, após os nazistas terem abandonado o campo, e sua viagem de volta para casa, na Itália. Seu último livro, Os afogados e os sobreviventes, é publicado em 1986. (Nota do IHU On-Line)

Page 29: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

29

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Eduardo Coutinho, que apresenta, pela primeira vez, na Europa, seu mais recente filme, Peões, sobre o passado sindicalista de Luís Inácio Lula da Silva. Quando escrevi, neste espaço, sobre o filme de Coutinho, no calor da hora de seu lançamento no final de 2004, simultaneamente à estréia de seu par, Entreatos26, de João Moreira Salles, frisei precisamente o fato de Peões ser uma "ode ao patrimônio audiovisual brasileiro, representado pelos três principais documentários rodados em torno do movimento sindical brasileiro do final dos anos 1970 e começo dos 1980: ABC da Greve, de Leon Hirszman, Linha de Montagem, de Renato Tapajós e Greve, de João Batista de Andrade, (...) cápsulas do tempo que nos permitem revisitar, ainda que por poucos minutos, o passado de Lula e do Brasil". O ciclo de Bernardet aprofunda a pesquisa de Coutinho, estendendo os minutos por algumas horas cruciais. O filme de Hirszman está ausente, mas Bernardet incluiu ainda Viramundo (1965), de Geraldo Sarno, e Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho. Ninguém melhor do que Bernardet para apresentar sua seleção. Comecei pedindo que explicasse os critérios de suas escolhas. Disse ele que Greve, Linha de Montagem e Cabra Marcado para Morrer foram escolhidos "por representar um momento importante do cinema brasileiro da abertura na área do cinema documentário. E também porque são filmes que tratam de movimentos populares, urbanos os primeiros, rurais o último, fora das estruturas políticas tradicionais, fora dos partidos. Além disso, os dois primeiros marcam o início da �carreira cinematográfica´ de Lula (antes de Greve e Dia Nublado, de Renato Tapajós, de Lula havia imagens televisivas mas, que eu saiba, não cinematográficas). Além disso, Linha de Montagem permite entender a gestação do PT". "A estes filmes, acrescentei Viramundo porque data de 1965, e Lula entrou na Villares em 1966, isto é, Viramundo é a análise da classe operária paulista vista pela sociologia paulista, no início da carreira de Lula, quando ele ainda não estava sindicalizado." Noto as ausências de ABC e de Braços Cruzados, Máquinas Paradas, de Sérgio Segall, e Roberto Gervitz. Bernardet assim respondeu: "Ficou de fora Dia Nublado, porque, conforme Renato Tapajós, a cópia está em estado precário e grande parte do material foi retomada em Linha de Montagem, ABC da Greve, porque não há cópia legendada e não há lista de diálogos, e não havia dinheiro para fazer a lista, Braços Cruzados, porque me concentrei sobre o ABC e sobre o início da carreira de Lula." Numa conversa anterior, por e-mail, Bernardet definira Peões e Entreatos como filmes "explosivos". É inevitável indagar-lhe por quê. "Explosivos", explica o crítico, "porque são filmes aparentemente discretos, mas, quando se pensa um pouco, eles revelam que o atual governo petista está muito distante dos movimentos sociais nos quais o PT foi gestado". Entreatos, mesmo sem fornecer informações detalhadas, mostra a construção de uma imagem, a imagem de Lula. Nesse sentido, o filme é político. A cena em que vemos, em algum auditório, Duda Mendonça treinar figurantes para levantar o braço e gritar 'Lula', quando ele der a deixa, lembra cenas em que vemos no estádio da Vila Euclides de São Bernardo, em 1979, operários levantar o braço e aclamar Lula, sem que nenhum marqueteiro dê a deixa." Prossegue Bernardet: Peões retoma a metodologia de Cabra (a busca dos atores anônimos do passado). Só que, entre a filmagem interrompida pelo golpe de 64 do primeiro Cabra, e o Cabra de 1984, houve uma ruptura: o golpe militar. Atualmente, em relação a 1979, estaríamos

26 Este filme foi comentado na 123ª edição do IHU On-Line, de 16 de novembro de 2004, juntamente com o filme Peões, de Eduardo Coutinho. (Nota do IHU On-Line)

Page 30: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

30

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

vivendo, não uma ruptura, mas uma continuidade, já que o líder sindical de 1979 é hoje presidente da República, mas a retomada por Coutinho do método de Cabra sugere que houve uma ruptura, e não uma continuidade. O cinema de Coutinho, em geral, e Peões, em particular, se caracterizou como um cinema da fala. O filme se encerra no silêncio, um silêncio perplexo. O que é esse cinema da fala que desemboca no silêncio, se não uma discreta mas dolorosa reflexão sobre a atualidade política do Brasil?

(Voltar ao índice) EEnnttrreevviissttaa ddaa sseemmaannaa ��VVOOCCÊÊ EE EEUU TTAAMMBBÉÉMM VVAAMMOOSS QQUUEERREERR TTEERR EESSSSEE CCOOMMPPUUTTAADDOORR�� Reproduzimos a entrevista com Nicholas Negroponte, diretor do laboratório de mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), realizada pelo jornalista Lourival Sant�Anna e publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em 3 de julho de 2005. Nicholas Negroponte trata, em seu livro Vida Digital (São Paulo: Cia. das Letras, 1995), do futuro do mundo sobre bits, abordando, principalmente, os meios de transmissão e negociação de bits (Primeira parte do livro - Bits são Bits - capítulos 1 a 6), a interface computador-homem (Segunda parte do livro - Interface - capítulos 7 a 12) e como será a futura vida digital (Terceira parte do livro - A vida digital - capítulos 13 a 18). A proeza do Media Lab de fazer um laptop de US$ 100, para ser distribuído em grande escala pelos governos a todos os alunos da rede pública, é possível porque se trata de uma organização sem fins lucrativos, que não tem de dar satisfação a acionistas nem impedir que a venda maciça de produtos mais baratos "canibalize" o mercado e achate a margem de lucro. A explicação é do diretor do laboratório de mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Nicholas Negroponte. Além disso, diz ele, a operação não envolve venda, distribuição e marketing, que consomem metade dos custos. E há uma terceira razão, "um pouco arrogante": eles acharam um jeito de fazer uma tela plana muito mais barata que a indústria convencional, e vão patenteá-la em benefício do projeto. "Você e eu também vamos querer ter esse computador", diz Negroponte, que prevê a queda nos preços depois que seu laptop se tornar realidade. Negroponte saiu animado das reuniões com o Presidente Lula e com os ministros das Comunicações, da Educação e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior: "A reação do governo brasileiro ultrapassou minhas expectativas". Lula mandou criar um grupo de trabalho para elaborar, em 29 dias, um plano de viabilidade do projeto-piloto, que envolve a fabricação no Brasil e distribuição gratuita de 1 milhão de laptops. Nesse primeiro ano, o plano é abranger cinco ou seis países, e um total de 6 milhões de crianças. Dessas, 3 milhões estariam na China, que também deve fabricar os laptops. Os outros 2 milhões, em países que não produzirão a máquina, são um mercado potencial de exportação, que, em 18 meses, se multiplicaria para entre 100 milhões e 200 milhões, calcula ele. Depois de dois dias de reuniões em Brasília, Negroponte, 61 anos, autor de Vida Digital (1995), um marco na literatura sobre a revolução da informática e da internet, concedeu a entrevista a seguir ao Estado de S. Paulo.

Se vocês podem, por que a indústria não pode fabricar um laptop por US$ 100? Por três razões. Como estamos entregando diretamente para as escolas, via governos, não temos os custos de distribuição, marketing e vendas, que tipicamente representam 50% do custo total. Segundo, não temos acionistas, portanto todo desenvolvimento técnico que alcançamos pode ser usado em benefício do usuário final. A terceira razão, que é um pouco

Page 31: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

31

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

arrogante, é que achamos que nós podemos fazer uma tela muito mais barata. Vamos licenciar isso, vender para companhias privadas e empregar esse dinheiro no projeto. Na indústria convencional, o progresso tecnológico não resulta na queda do preço? Eles têm de equilibrar o tamanho do mercado e a margem de lucro. Mesmo que o mercado aumente com a diminuição do preço, eles não podem contar com o volume para compensar a diferença na redução da margem de lucro. Volume tende a ser encarado como commodity, talvez a palavra mais suja na sala de reuniões de um conselho de administração. Quando a ouvem, correm para o outro lado. Sei disso por meu papel de diretor na Motorola e em outras companhias. O que eles procuram fazer é criar novas funcionalidades, melhorar o design, a qualidade. Os ganhos de escala não compensam a diminuição da margem? Eles precisam tomar cuidado para que esses novos aparelhos, mais baratos, não canibalizem o mercado que eles já têm. É uma questão muito delicada. Eles têm uma responsabilidade legal e fiduciária frente a seus acionistas, enquanto a nossa responsabilidade é perante o usuário final. É uma diferença muito importante. Como a indústria reagirá ao seu laptop de US$ 100? Ela já está reagindo. Aqueles que advogam a fonte aberta (do sistema operacional Linux) estão muito entusiasmados, e os que a criticam estão muito negativos. A indústria de bens de consumo eletrônicos está nervosa porque muitos dos grandes players estão tentando se tornar nomes de marcas e subir de patamar. E isso (o laptop de US$ 100) significa descer. Já a indústria do laptop está muito desconfortável, porque a funcionalidade que teremos será tão boa que você e eu também vamos querer ter esse computador. Pelo menos na segunda e na terceira gerações (entre 2007 e 2008). Ele poderá ser vendido, no futuro? Esperamos que, nos primeiros dois ou três anos, ele não esteja à venda no mercado. Mas terceiros comprarão a licença para desenvolver a tecnologia. E os preços no mercado cairiam? Acho que é uma tendência natural. E a Microsoft, como está reagindo? Tenho conversado com o Bill (Gates) sobre isso. Ele acredita que a questão central em países em desenvolvimento é a conectividade, e está focado nela. Eles têm feito acordos muito interessantes com países como o México, para fornecer Windows a custo baixo. Mas isso ainda não é fonte aberta. Não estou criticando o Bill. Quando se adota a fonte aberta, como fizemos, é um fenômeno diferente. Qual é o mercado potencial de exportação, caso o Brasil venha a produzir esse laptop? A primeira versão da máquina, que sairá no fim do ano que vem, serão 1 milhão no Brasil e outros 2 milhões noutros países. Mas, 18 meses mais tarde, serão entre 100 milhões e 200 milhões de máquinas. O Brasil só precisa de 30 milhões (número de alunos na rede pública). Se o projeto realmente decolar, estamos falando de um mercado de exportação pelo menos cinco vezes o mercado interno. O que não sei é o custo de entrar e sair do Brasil com produtos

Page 32: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

32

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

como painéis de telas planas, que não são fabricados aqui. Temos de estudar isso em seguida. A maior parte é feita em Taiwan e no Japão. E uma parte também está sendo feita na China. Não dá tempo para adquirir a tecnologia para fabricá-los aqui. Não na primeira geração, mas na segunda, terceira, quarta. O Brasil não fez algo inovador com urnas eletrônicas? Fez. Então, já há um precedente. Que mapa o senhor tem na cabeça? Que países devem ser atingidos? É preciso encontrar uma forma de atingir todos os países. No mundo, há cerca de 1 bilhão de crianças no ensino fundamental e médio. Queremos atender a todas elas em, digamos, cinco anos. É muito difícil. Estamos tentando começar imediatamente com cinco países - na África, Oriente Médio, Sudeste Asiático, América Latina e nos Estados Unidos. Muitos desses países não têm condições de produzir localmente. Só haverá produção em dois ou três lugares do mundo. Os Estados Unidos serão um deles? Não necessariamente. O Brasil será um deles, a China será outro. O senhor imagina uma única fábrica estatal produzindo tudo, ou várias empresas privadas participando? Imagino uma ONG - é isso que temos de desenhar nas próximas três semanas -, que não terá mais de 20 pessoas, organizando a montagem dos computadores, encomendando de fabricantes contratados e inspecionando a produção. Temos de estudar agora cuidadosamente quais fabricantes no Brasil são candidatos. Três semanas não é muito tempo. Não, mas só precisamos estabelecer agora modelos e pontos de referência. Como têm sido as conversas com os chineses? Vimos conversando com integrantes do mais alto nível do governo central, há um ano. Estive lá pelo menos dez vezes. Na China, há 220 milhões de crianças nas escolas públicas primárias e secundárias. Estamos falando de um projeto-piloto com 3 milhões de crianças. E com a Índia? Conversei bastante com o governo indiano. A Índia tem sua própria iniciativa, com um computador de baixo custo. Eles vêem isso como concorrência, o que é uma pena, porque o nosso não é um computador, mas um laptop. Para pequenos negócios, o laptop não é necessário. Mas, para estudantes, precisa ser como um livro, que eles possam trazer para a escola e levar para casa, ir para a cama com ele, usá-lo em todos os lugares. Vocês já fizeram experiências assim? Sim, em muitos lugares. Começamos no Camboja, com um projeto pessoal, no fim dos anos 90, quando o dinheiro estava dando em penca. Minha mulher e eu construímos duas escolas em vilarejos muito rurais, no norte do país, perto da fronteira entre a Tailândia e o Laos, num território do Khmer Vermelho. Em 1995, as pessoas não iam lá por causa das minas. Fui para lá porque conhecia Thaksin Shinawatra, que mais tarde se tornou primeiro-ministro da Tailândia, mas na época era um executivo da indústria de telecomunicações e tinha satélites. Consegui que a companhia dele nos desse duas antenas de satélite e acesso grátis. Conectamos as

Page 33: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

33

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

escolas. Eu queria que as crianças levassem os computadores para casa. Não fazia sentido pôr desktops e fechar as escolas. Tinham de ser laptops. Comprei 30 laptops e, depois, mais 30. Comecei com meu próprio dinheiro, portanto não foi uma experiência grande. Aqui, quando vão à escola com um tênis bacana, as crianças são freqüentemente roubadas. O risco não será muito maior, com um laptop? Em primeiro lugar, são US$ 100. Não é tão caro. Ele não terá valor algum no varejo. Quem o roubar terá de usá-lo no segredo de sua casa, porque ser visto com ele será como um estigma, como roubar da Igreja ou da Cruz Vermelha. Você pode roubar um kit de primeiros socorros da Cruz Vermelha. Mas todos vão ver o selo da Cruz Vermelha e saberão que você a roubou. Conectar-se à internet custa caro. Encontraremos formas de torná-lo barato. Por meio da tecnologia viral, que está pronta para uso, os computadores criarão uma rede entre eles. Haverá pontos de acesso nas escolas, que conectarão uma criança à outra e todas a um servidor. Se a criança estiver a 500 metros de outra, estará conectada. A propósito, todas as crianças terão de manter seus laptops ligados o tempo todo. Para isso, terá de haver eletricidade, baterias, energia à corda ou algo do gênero. Mas também será necessária parceria com as empresas de telecomunicações? Sim. Começamos a conversar sobre isso num jantar, na segunda-feira, com executivos da Telefônica, da Telemar e da Brasil Telecom. A reação do governo brasileiro atingiu suas expectativas? Ultrapassou minhas expectativas. Eu esperava que o presidente ficasse bastante entusiasmado, porque ele sentiria que isso é muito bom para o país. O que eu não esperava era uma reação tão favorável dos ministérios das Comunicações, da Educação e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Normalmente, os ministros da Educação ficam tão assoberbados com professores, sindicatos, problemas, que não pensam muito grande. Esse ministro (Tarso Genro) é um grande pensador. No fim, o senhor poderá ter de convencer o ministro da Fazenda, que tem a chave do cofre. Sim, mas, como não estamos exportando dinheiro para o MIT ou para fora do país, acho que não será muito difícil. (Voltar ao índice)

TTeeoollooggiiaa PPúúbblliiccaa

AA TTEEOOLLOOGGIIAA FFEEMMIINNIISSTTAA EE OO DDEEUUSS DDEE MMUUIITTOOSS NNOOMMEESS Entrevista com Wanda Deifelt Wanda Deifelt é professora da Escola Superior de Teologia (EST), do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação (IEPG), em São Leopoldo, e coordenadora do Núcleo de Pesquisa de Gênero (NPG). Por 14 anos, foi titular da disciplina de Teologia Feminista no Curso de Teologia da EST. Atualmente, é professora de Teologia Cristã no Luther College, em Owa, estado de Decorah, nos EUA. Graduada e mestre em Teologia, Wanda Deifelt, é doutora em Filosofia pela Universidade de Northwestern, Estados Unidos, com

Page 34: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

34

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

tese intitulada Toward a Latin American Feminist Hermeneutics. É co-autora do livro À flor da pele: ensaios sobre gênero e corporeidade. São Leopoldo: Sinodal, 2004. A pesquisadora foi entrevistada pelo IHU On-Line, na edição nº. 60, de 19/05/2003, na editoria Memória, em razão da morte da teóloga Dorothee Sölle. A entrevista, a seguir, foi concedida por Wanda Deifelt ao teólogo Faustino Teixeira, durante o Fórum Mundial de Teologia e Libertação, em janeiro de 2005, em Porto Alegre. Faustino Teixeira é professor do Departamento de Ciência da Religião no Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e consultor da Capes e do ISER-Assessoria do Rio de Janeiro. Dele publicamos um artigo na 131ª edição, de 7 de março de 2005, e uma entrevista na 133ª edição, de 21 de março de 2005.Agradecemos ao professor Teixeira a entrevista, que foi editada pela equipe do IHU On-Line.

IHU On-Line - Qual é a denominação com a qual a Teologia da mulher se identifica, teologia feminista ou teologia do gênero? Wanda Deifelt - Na América Latina, chegamos a um consenso de chamar de teologia feminista da Libertação. A expressão foi adotada em um congresso no Rio de Janeiro, em dezembro de 1993. As teólogas que participamos, chegamos a esta conclusão: que o nosso fazer teológico, no contexto latino-americano, se chamaria teologia feminista da libertação. Entendemos que as teologias negras, feminista, indígenas passam a ser os novos momentos, as novas faces da teologia da libertação. Em um primeiro momento, nos entendemos como teologia da mulher, porque se tratava de dar uma voz à mulher como agente e dizer: � Nós também somos sujeitos, somos partícipes, também fazemos Teologia�. Em um segundo momento, afirmamos que nossa teologia é teologia feminina, porque o que nós fazemos é uma alternativa viável do que seria o fazer teológico tradicional. Em outros lugares da América Latina, também surgiu esse fazer feminino contraposto a uma teologia racional. Apareceu, assim, um fazer teologia com ternura, com compaixão. Mesmo aquelas pessoas que, na década de 1980, tinham uma certa resistência ao termo feminista, reconheceram que, conforme o dicionário Aurélio, feminismo significa movimento que busca equiparação e aceitaram o termo. Portanto, não é um machismo de saia, mas é um movimento que busca tornar igual, não uma igualdade biológica, e sim de direitos. Em relação à questão de gênero, não existe uma teologia de gênero, pois gênero é um instrumental de análise. Assim como o marxismo usa a classe como instrumental de análise, a teoria feminista utiliza o gênero como uma categoria interpretativa, isso é um instrumento que ajuda a analisar. Mas ela não é a única usada pela teologia feminista. Também usamos o instrumental de classe, de etnia, de idade, categorias que constituem a própria existência humana. Reduzir a teologia feminista à questão de gênero é reduzir o seu escopo. IHU On-Line - A teologia feminista ainda encontra resistências na teologia da libertação? Wanda Deifelt - Ainda sente-se essa resistência na Teologia e, lamentavelmente, na teologia da libertação. No entanto, devemos afirmar que há, hoje, muito mais abertura para a teologia feminista do que havia há 15 anos. Lembro de uma conversa histórica com Juan Luis Segundo27, na Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo, no início dos anos 1980. Eu, estudante de Teologia, perguntava para Segundo, como entrava a mulher na teologia da libertação. Eu percebia uma teologia muito androcêntrica, com uma ênfase exclusiva na análise

27 Juan Luis Segundo (1925-1996): uruguaio e jesuíta, foi um dos mais importantes teólogos da libertação. Ë autor de uma vasta obra. Citamos, entre os seus livros, Teologia aberta para o leigo adulto. São Paulo: Loyola, 1977-1978, em 5 volumes (Essa comunidade chamada igreja; Graça e condição humana; A nossa idéia de Deus; Os sacramentos hoje; e Evolução e culpa). (Nota do IHU On-Line).

Page 35: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

35

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

de classe social, da pobreza e por causa do meu trabalho em comunidades de base, na periferia de Porto Alegre e São Leopoldo, percebia que quem mais se envolvia nos processos de mudanças eram as mulheres. Juan Luis Segundo foi muito preciso na sua resposta, dizendo que o feminismo era uma categoria de primeiro mundo, e as prioridades na América Latina seriam, primeiramente, questões sociais, da pobreza e, em segundo lugar, deveríamos falar sobre as questões do negro, dos povos indígenas, das mulheres... Para ele, introduzir essas temáticas na teologia da libertação naquele momento significaria um esfacelamento do próprio movimento. Eu verbalizei minha discordância porque percebia que a Teologia tinha muito mais a oferecer do que esse discurso monolítico. De fato, a teologia da libertação teve visões muito excludentes. Hoje há muito mais abertura, porque os homens teólogos perceberam que as teologias feministas, negras, não têm intenção de esfacelar, mas de acionar. Isso foi um pouco de ingenuidade e falta de perspectiva política e articulação. E hoje vivemos em um mundo mais plural que não tem um único discurso. O desafio é: como juntar essa pluralidade de discursos em uma rede que consiga, de fato, abrigar as pessoas. IHU On-Line - O instrumental teórico da teologia feminista abre a possibilidade de trabalhar, por exemplo, o homossexualismo, ou é uma dificuldade? Wanda Deifelt - A teologia feminista, usando o referencial de gênero, abriu possibilidades para outras expressões. A teoria feminista é identificada como matriz e parteira de outras expressões, como, por exemplo, a Teoria Queer28, que inclui todas as expressões sexuais que não são heterossexuais, que questionam a normatividade. Acho que esta é uma das contribuições da teologia feminista: parar de pensar em discursos dicotômicos e pensar na complexidade. Isso inclui pensar maneiras de expressar a sexualidade que não sejam exclusivamente as hegemônicas e de reconhecer que nossos discursos e conhecimentos sobre o corpo humano e a sexualidade são fragmentados, parciais e incompletos. Nesse sentido, a Teoria Queer está trazendo algumas contribuições muito importantes. É uma teoria independente da feminista, mas em diálogo. Um dos primeiros passos da teoria feminista foi dizer como os estereótipos de gênero nos afetam. Vivemos numa cultura que é conivente com a violência doméstica, com a mutilação genital, com o abuso de cirurgia plástica, uma cultura que reduz a mulher ao efêmero, ao corpo esteticamente aceito. Em segundo lugar, a educação e a psicologia se apropriaram dos estudos de gênero e explicaram esses estereótipos. Na educação, foi apontando como os estereótipos de gênero são igualmente perniciosos aos homens, porque os dois sofrem com a educação machista. Ela poda também os meninos daquilo que poderiam ser. Toda a questão da afetividade, do não depender do outro ou da outra é uma visão do ideal de um masculino estereotipado. Esse é um momento importante, porque a maioria dos institutos de teologia católicos tem mais homens que mulheres e vão reconhecendo que precisam desse subsídio para trabalhar com ambos. IHU On-Line - O discurso da teologia feminista parece ter relações muito estreitas com o da teologia das religiões... Wanda Deifelt � Sim. Há algumas aproximações. Na teologia da libertação, nós falamos em alteridade, mas a alteridade seria o pobre, o índio, o negro... A teologia das religiões pensa no outro que está em mim, então eu também sou estrangeira de mim e essa é a pergunta teológica

28 Para entender melhor esta teoria confira André Sidnei Musskopf, À meia luz: a emergência de uma teologia gay. Seus dilemas e dificuldades. Cadernos IHU Idéias, nº. 32, de 2005. (Nota do IHU On-Line)

Page 36: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

36

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

do estranhamento. Nós precisamos ter a familiaridade, não podemos falar do divino sem essa proximidade. No entanto, é preciso um deslocamento, um estranhamento para a teologia. Em relação ao nome que damos à divindade, por exemplo, no momento em que o falar teológico se acomoda a um nome, este é o único nome, é uma tentativa de encapsular o divino. Não é que a divindade não esteja nesse único nome, mas é muito mais que aquele nome. Trata-se de um exercício de criatividade, de buscar como está embutida, em nossa religião monoteísta, esta pluralidade. A teologia da cristandade sempre tendeu a um modelo eurocêntrico de falar de Deus e aí deve haver um deslocamento. Por exemplo, se pensarmos na teologia da criação, ela pressupõe que tudo o que existe vem de Deus e tudo o que existe, nesta criação, inclui pessoas que não partilham da mesma experiência de divindade e ainda assim, com base em uma teologia da criação, deve ver Deus em ação ali. Um segundo deslocamento é encontrar na própria tradição judaico-cristã onde Deus se manifesta para as pessoas das outras religiões. No livro do Gênesis (Gn 16, 13), Deus se revela para Agar, uma escrava egípcia, estrangeira, que não está de acordo com a religião do tempo: uma africana, escrava de outra religião. Não só ele se revela, também ela dá a Deus um nome: �Você é o Deus que vê�29. O fato de outra religião dar um nome para Deus, que é diferente do que eu dou, está nas próprias raízes de nossa religião. Alguém podia pensar isso no judaísmo, mas, no cristianismo, falamos de uma divindade que toma corpo em um Deus que escolhe nascer do jeito mais frágil, um bebê que opta por toda a vulnerabilidade e permite mostrar, para nossa concepção cristã, a opção pelo inesperado, o inédito. O cristianismo deve voltar sempre a essa experiência fundante. Se levarmos a sério a metáfora da Igreja como um corpo, não podemos pressupor uma estrutura hierárquica monolítica, porque precisa ter pluralidade, e essa pluralidade inclui o corpo de Cristo como um Cristo cósmico que abrange outras expressões. Um último movimento importante é considerar que estamos falando de uma divindade que confia nas suas criaturas e as convida para que O possam encontrar no outro e na outra. A outra pessoa é a linguagem de Deus, que não tem outra maneira para falar conosco a não ser pela concretude, e a outra pessoa é a metáfora.

(Voltar ao índice)

AArrttiiggoo ddaa sseemmaannaa

112255 QQUUEESSTTÕÕEESS:: OO QQUUEE NNOOSS NNÃÃOO SSAABBEEMMOOSS??

Uma das mais prestigiosas revistas científicas, a americana Science, completou no dia 1º de julho, sexta-feira, 125 anos, propondo 125 perguntas sem resposta sobre o Universo, a vida e o homem. As perguntas abrangem as seguintes áreas: astronomia, biologia, computação, corpo, física, matemática, política e economia, química e terra. As 125 perguntas podem ser conferidas no original www.sciencemag.org Algumas perguntas foram traduzidas e publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, 1-7-05. A íntegra das perguntas foi publicada no sítio do jornal. Nos próximos números publicaremos todas as 125 perguntas. Começamos com as perguntas sem resposta na astronomia.

29 O texto citado diz: �Agar invocou o nome de Javé, que lhe havia falado, e disse: �Tu és o Deus-que-me-vê��. (Nota do IHU On-Line)

Page 37: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

37

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Astronomia

Do que o Universo é feito? A matéria como conhecemos, que forma pessoas, estrelas e galáxias, responde a menos de 5%. Por cálculos baseados em forças gravitacionais, os astrônomos concluem que outra forma de matéria, a escura, forma outros 25%. Os 70% restantes seriam formados por uma força antigravitacional apelidada de energia escura � que ninguém sabe direito como funciona. Estamos sozinhos no Universo? São centenas de bilhões de estrelas apenas em nossa galáxia, sem contar as outras bilhões de galáxias no campo de visão. A matemática mostra que uma resposta positiva é pouco provável. Talvez a pergunta certa a ser feita é quando (ou se) teremos tecnologia para achar vida em outros pontos. Nosso universo é o único? Vários teóricos quânticos e cosmologistas tentam descobrir se nosso universo é parte de um 'multiverso' maior. Mas outros suspeitam que esta idéia, difícil de comprovar na prática, pode ser uma questão para os filósofos. O que provocou a expansão cósmica? Nos primeiros momentos depois do big-bang, o universo se expandiu numa velocidade incrível. Mas o que provocou a expansão? Medições do fundo de microondas cósmico e outras observações astrofísicas estão restringindo o número de possibilidades. Quando e como se formaram as primeiras estrelas e galáxias? As linhas gerais são visíveis, mas os detalhes, não. Dados de satélites e telescópios em terra poderão em breve apontar, entre outras particularidades, quando a primeira geração de est relas queimou a 'nuvem' de hidrogênio que preenchia o universo. De onde vêm os raios cósmicos de alta energia? Acima de um determinado grau de energia, os raios cósmicos não viajam muito longe antes de ser destruídos. Então por que os observadores estão localizando raios sem fonte óbvia dentro de nossa galáxia? O que alimenta os quasares? As mais poderosas fontes de energia do universo provavelmente tiram sua força da matéria que mergulha em buracos negros supermassivos em turbilhão. Mas os detalhes do que alimenta seus jatos permanecem desconhecidos. Qual é a natureza dos buracos negros? Massa relativística amontoada num objeto de dimensões quânticas? É a receita para um desastre - e os cientistas ainda tentam identificar os ingredientes. O que determina o ciclo magnético solar? Os cientistas acreditam que diferentes velocidades de rotação em diferentes locais do Sol explicam o ciclo de 22 anos das manchas solares. Mas eles não conseguem fazer isso

Page 38: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

38

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

funcionar em suas simulações. Ou algum detalhe está fora do lugar, ou é preciso começar de novo. Como se formam os planetas? Ainda não está claro como porções de poeira, gelo e gás se uniram para formar os planetas sem que o Sol os devorasse. Sistemas planetários ao redor de outras estrelas devem fornecer pistas.

(Voltar ao índice)

DDeeuu nnooss jjoorrnnaaiiss

Deu nos jornais é uma síntese semanal das notícias veiculadas diariamente no sítio www.unisinos.br/ihu, compiladas pelo Instituto Humanitas Unisinos (IHU). 10,7 mil pessoas demitidas em 24 cidades gaúchas, neste ano

As perspectivas para o segundo semestre dividem sindicalistas, segundo o jornal Valor, 27-6-05. No Sul, a maior parte dos trabalhadores no setor de calçados, cerca de 55 mil, tem data-base em agosto e deve enfrentar grande dificuldade na mesa de negociação, já que só neste ano foram demitidas 10,7 mil pessoas em 24 cidades gaúchas produtoras de calçados. Algumas campanhas já se mostraram mais difíceis: em Brusque (SC), os 9 mil trabalhadores do setor têxtil conseguiram repor a inflação, mas ficaram sem aumento real em maio. Diferente dos empregados da Samsung, que fazem celulares, e negociaram 10% de reajuste. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) aposta na concentração de datas-bases de categorias fortes (metalúrgicos do ABC e de São Paulo, bancários, químicos e petroleiros) para obter bons acordos salariais.

Monsanto fixa royalty em R$ 0,88 por quilo. Mercado não gostou

O produtor que optar pela soja transgênica nesta safra vai pagar R$ 0,88 por quilo de royalties. Esse foi o valor divulgado semana passada pela Monsanto. Com isso, o custo da saca de 40 quilos será de R$ 35,20 apenas por conta do uso da tecnologia Roundup Ready (RR). O custo total de uma saca de semente transgênica poderá subir, portanto, para R$ 100 a R$ 115, dependendo da região. O quilo da soja convencional já está em torno de R$ 1,50 a R$ 2,00 nesta safra. A notícia foi publicada no jornal Folha de S. Paulo, 28-6-05. A reação do mercado ao valor a ser pago pela semente transgênica não foi boa. "Faltou sensibilidade à Monsanto porque o momento é de baratear. Temos reuniões a fazer e vamos provocar novas reuniões", diz Carlos Sperotto, presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul). "Não era o momento para um anúncio desses". Iwao Miyamoto, da Abrasem, também não gostou do novo valor dos royalties. "Escrevemos cartas, fizemos a defesa técnica e, na hora de falar do usufruto do resultado, a gente não pode sentar para conversar", afirmou. "Esperávamos negociações, mas a Monsanto definiu o valor." O produtor paranaense Roberto Pozzi, ainda não optante da soja transgênica, diz que a Monsanto deve cobrar royalties, mas que R$ 0,88 por quilo é "um absurdo". Ele diz que o valor é a metade do que pagou por uma semente de soja precoce, de R$ 1,76 por quilo. Para o analista de soja José Pitoli, R$ 0,88 é "muito caro". Os royalties vão representar 30% do custo da semente, diz ele, percentual superior ao do total dos impostos pagos pelo setor.

Page 39: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

39

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Vida pré-paga

Microsoft usa o Brasil para testar computador que, sem pagamento, trava. A notícia é do sítio www.comciencia.br. No Brasil, tudo começou com os telefones celulares. Interessadas em aumentar seus lucros e resolver seus problemas com os consumidores inadimplentes, as novas empresas privadas de telefonia instituíram o serviço pré-pago. Logo a coisa se expandiu para o consumo de água: a Sanetins, empresa de saneamento do estado do Tocantins, desenvolve desde o ano passado um sistema de fornecimento pré-pago em que o consumidor só consegue encher sua caixa d'água depois de inserir um cartão eletrônico. Agora a vez é da informática. A Microsoft e o Magazine Luiza estão testando, no Brasil, um computador pré-pago. A idéia, na verdade, é uma combinação de venda à prazo com aluguel.

O egosurfing. Uma nova mania Levantam da cama, já ligam o computador e com o primeiro café da manhã consultam o google. Preenchem a busca na rede com o seu nome e sobrenome. Dão o enter e esperam alguns segundos. Eis como, desde algum tempo, sempre mais homens e mulheres começam a sua jornada. Com uma boa dose de narcisismo informático, escreve o jornal italiano La Repubblica, 24-6-05. O fenômeno é descrito pelo termo egosurfing. Muitas categorias de seres humanos pegaram esta mania, mas parece que são os jornalistas, os homens de negócio e políticos que estão na frente. Esta é a última mania dos navegadores, hoje fonte de um novo serviço. Chama-se ego feed e pode ser encontrado no endereço www.feedster.com/builder.php?next=egofeed. A mania, que começou nos EUA, se espalha, hoje, pela Europa. Segundo Search EngineWatch (guia online para mover-se na rede), diariamente 25 a 30 milhões de usuários usam os seus próprios nomes nos sistemas de busca. Por outro lado, em algumas empresas existem os profissionais que passam o dia conectados no computador para descobrir o que se diz dos donos da empresa ou do seu maior inimigo. Mas aqui estamos no âmbito mais estratégico que se chama competitive intelligence, ou seja, a espionagem legalizada por meio da conexão da Internet para estudar as estratégias de mercado. �Nos EUA e na Grã-Bretanha isto faz parte dos trabalhos normais de qualquer empresa�, explica Fabrizio Malfanti, administrador delegado de Intelligrate, uma das quatro empresas italianas que trabalham com os empresários que utilizam a Internet para endereçar os seus investimentos. Como trabalho ele faz exatamente isso: passar um raio X em tudo o que está na rede (web, bancos de dados, blog) e que, de várias maneiras, serve para a empresa poder estudar melhor as suas estratégias competitivas com as concorrentes. Mas fazer googling, isto é, mover-se na rede, não é um hábito apenas de quem pratica esta espécie de massagem informática do ego. Há também pessoas que navegam pelo prazer de fazê-lo ou para se informar. Por exemplo, na versão italiana do google, no mês de abril deste ano, a palavra mais procurada foi papa, depois Vaticano, João Paulo II e Ratzinger. No mês de março, a mulher mais clicada foi a bela modelo brasileira Adriana Lima.

Déficit zero, missão para Delfim

O deputado Delfim Netto (PP-SP) deu início, na terça-feira passada, à busca de apoio empresarial e político para a elaboração de proposta de emenda constitucional (PEC) que definirá como objetivo da política fiscal zerar o déficit nominal em três ou quatro anos e mudar a estrutura do Orçamento da União. A notícia foi publicada no jornal Valor, 29-6-05. Em um jantar, Delfim reunirá 12 grandes empresários e mais de uma dezena de parlamentares de diversos partidos que tenham sensibilidade para a discussão fiscal e de política econômica.

Page 40: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

40

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Estarão presentes também os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Fazenda, Antonio Palocci. Em encontro com o Presidente Lula e Palocci, na segunda-feira passada, Delfim recebeu a incumbência de conquistar apoio para a proposta. Desgastado pela crise política, o governo não quer jogar seu peso em uma iniciativa ousada sem garantias de que o Congresso irá aprová-la. Se a estratégia for bem-sucedida, a emenda será apresentada no segundo semestre. Se fracassar, terá sido apenas uma proposta de Delfim Netto.

'Sobra' de superávit será gasta, principalmente em estradas, diz Levy O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, reafirmou na semana passada a meta de 4,25% para o superávit primário deste ano e assegurou que o governo não terá problemas para gastar nos próximos meses a "sobra" do aperto fiscal realizado até maio. Nos primeiros cinco meses de 2005, o setor público consolidado - União, Estados, municípios e estatais - registrou superávit de R$ 50,3 bilhões. Isso equivale a 6,27% do PIB. No acumulado de 12 meses, atinge 5,02%. A notícia foi publicada no jornal Valor, 29-6-05. "A sobra que foi identificada já está planejada para ser gasta", afirmou Levy, referindo-se à diferença em relação aos 4,25% da meta. Para ele, houve uma "surpresa positiva" com o lucro das empresas brasileiras no ano passado, que superou as expectativas do governo ao apresentar números "mais fortes". Com isso, a arrecadação com o Imposto de Renda que tem 2004 como ano-base também foi maior e puxou o superávit primário para cima. A maior parte dessas verbas foi direcionada para a recuperação e duplicação de estradas. O secretário lembrou que apenas 24,7% da malha rodoviária do país tem boas condições de tráfego. Se os investimentos fossem interrompidos hoje, esse percentual chegaria a zero em 2007.

Zapatistas empreendem uma nova etapa da luta política

Num breve comunicado, publicado dia 28-6-05, no jornal mexicano La Jornada, o subcomandante Marcos, líder do Exército Zapatista de Libertação Nacional � EZLN � deixa entrever que a guerrilha surgida no Estado de Chiapas poderia dizer adeus às armas. Em seu texto, Marcos diz que as comunidades indígenas que o apóiam respaldaram uma �uma nova iniciativa política de caráter nacional e internacional�, que nos próximos dias tornará pública. A notícia também foi publicada em 29-6-05, no jornal El País.

Congresso espanhol aprova a lei do matrimônio homossexual O Congresso dos Deputados aprovou dia 30-6-05, definitivamente, a modificação do Código Civil que permitirá contrair matrimônio a casais do mesmo sexo e que lhes outorga todos os direitos das uniões heterossexuais, inclusive a adoção. A notícia é a manchete principal do portal eletrônico do jornal espanhol El País. Segundo El País, a Espanha é o quarto país do mundo que reconhece este direito. Os outros países são a Holanda, Bélgica e Canadá. O Congresso dos Deputados, segundo o jornal espanhol El País, 30-6-05, também aprovou a reforma da lei do divórcio de 1981. A nova norma acaba com o requisito da separação prévia e elimina a necessidade de alegar causas como a infidelidade, o alcoolismo etc. para formalizar a ruptura matrimonial. Ambas as medidas agilizam o processo e encurtam os prazos para o divórcio. A reforma possibilita que os juízes decretem a custódia compartilhada dos filhos ainda que não haja o acordo dos pais.

�A política de juros do dr. Henrique deixa o �mensalão no chinelo�, afirma economista �A política de juros do dr. Henrique deixa o "mensalão" no chinelo. Não é ilegal, mas representa um desvio muito maior e mais sistemático de recursos públicos para o bolso de banqueiros,

Page 41: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

41

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

proprietários de outras instituições financeiras, grandes empresários e demais minorias privilegiadas. Contra esse desvio, a indignação não é tão unânime. Sempre haverá economistas, bem remunerados, dispostos a dar guarida à selvageria que passa por política monetária responsável no Brasil. A razão é simples: os grandes beneficiários da política de juros são os donos do poder e as elites que se apropriam de grande parte da renda e da riqueza do país�. A opinião é de Paulo Nogueira Batista Jr., economista, no artigo �Sai daí, Henrique, rápido!�, publicado dia 30-6-05, no jornal Folha de S. Paulo. Segundo o economista, �do ponto de vista da maioria da população, essa política traz mais custos do que benefícios. Controla a inflação, é verdade, mas a um preço exorbitante. O estrago nas finanças do governo está sendo gigantesco. Com os juros brasileiros escandalosamente altos em termos mundiais, aumentam as entradas de capital volátil, também conhecido como capital-motel, provocando valorização perigosa do real com prejuízos para as exportações industriais, agrícolas e de serviços. A taxa de crescimento das exportações vem registrando acentuada diminuição. E os brasileiros voltaram a aumentar os seus gastos com turismo no exterior�. E continua: �Nesse ambiente monetário e cambial, não há economia que possa investir e crescer em ritmo adequado. Nos meses recentes, todos reduziram as projeções para o investimento produtivo e o crescimento do PIB. Teremos, na melhor das hipóteses, crescimento medíocre. A galinha está aterrissando�. E conclui: �Combinação tenebrosa para um presidente que pretende (ou pretendia) candidatar-se à reeleição: denúncias graves de corrupção e economia praticamente estagnada. Alguém precisa dizer a Lula: "Presidente, a direção do Banco Central também está botando dinamite na sua cadeira".

Delfim propõe superávit de 4,75%

Do jornal O Estado de S. Paulo de 30-6-05: A proposta apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo deputado federal e ex-ministro Delfim Netto (PP-SP), que está sendo analisada pela equipe econômica, prevê que o superávit primário do setor público será elevado em 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano e nos próximos três anos. Com essa medida, o setor público apresentará um déficit nominal zero já em 2008, segundo as projeções feitas pelas áreas técnicas do governo. O resultado nominal é a diferença entre as receitas e todas as despesas, incluindo os pagamentos dos juros das dívidas públicas. O superávit primário não considera as despesas com juros. Com o aumento, o superávit primário passará dos atuais 4,25% para 4,75% do PIB. Foi mostrado ao presidente Lula, durante as três reuniões já realizadas com ele, que a obtenção desse superávit não implicará cortes orçamentários adicionais ou a adoção de medidas impopulares. A avaliação técnica é que o expressivo aumento das receitas ocorrido neste ano é suficiente para garantir a obtenção do novo superávit. O governo trabalha com a perspectiva de que a carga tributária neste ano deverá ficar 0,5% acima da obtida no ano passado, o que permitirá a adoção do programa. O congelamento das despesas primárias (aquelas que são feitas com o custeio da máquina, os pagamentos dos funcionários, os benefícios previdenciários e os investimentos) seria feito nos níveis do ano passado. Este ano, essas despesas não teriam aumento real. Apenas seriam corrigidas pela inflação, mantendo o mesmo valor real de 2004. Nos encontros com Delfim Netto e com os ministros da área econômica, o Presidente Lula demonstrou simpatia pela proposta de fixar uma meta de déficit nominal zero. O argumento que mais sensibilizou o presidente foi o de que o programa derrubará a taxa real de juros, que atualmente é superior a 13% ao ano. Isso acontecerá, segundo o argumento apresentado por Delfim, porque o mercado antecipará os efeitos do choque fiscal. "Você prestou atenção nisso?", perguntou Lula ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que participou da última reunião que discutiu

Page 42: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

42

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

a proposta. Lula gostou muito do argumento de que, com a queda da taxa real de juros dos atuais 13% para 4% ou 5%, o governo poderá economizar alguma coisa como R$ 50 bilhões.

Choque de gestão nos ministérios permitiria mais recursos para a saúde Do jornal O Estado de S. Paulo, 30-6-05: Pelo menos duas fontes que participaram das reuniões disseram ao Estado que o presidente já definiu que o centro do programa será o "choque de gestão" que será realizado nos ministérios. Uma idéia que está sendo estudada prevê a contratação de empresas especializadas em gestão, que ficariam responsáveis pela definição de medidas que melhorem os serviços públicos e reduzam os seus custos. Esse modelo seria adotado nos ministérios da Saúde e da Previdência Social. A avaliação da área técnica é a de que, com o "choque de gestão", sobrará dinheiro para gastar em saúde. O programa prevê a redução do número de ministérios e secretarias e substancial corte no número de cargos de confiança, que atualmente superam 20 mil. Depois do encontro com o Presidente Lula e com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o deputado Delfim Netto ficou encarregado de apresentar as idéias do programa de déficit nominal zero aos empresários e a um grupo de parlamentares de todos os partidos no Congresso. Esse encontro será feito por Delfim na próxima terça-feira. Segundo ele, 19 senadores e deputados já foram convidados e 16 empresários, entre eles, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado federal Armando Monteiro (PTB-PE).

Governo quer apoio para déficit nominal zero Do jornal O Globo, 30-6-05: Os representantes do empresariado e do setor financeiro estão dispostos a apoiar a proposta do ex-ministro e deputado Delfim Netto (PP-SP) de usar o déficit nominal como bússola da política fiscal brasileira. A idéia, contudo, enfrenta resistência da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que teme a desvinculação das verbas sociais, e do próprio setor bancário. Na semana passada, o Bradesco divulgou relatório no qual alerta para a inviabilidade política da proposta. Delfim Netto sugere que o governo busque gradualmente o déficit nominal zero (no qual a arrecadação equivaleria à soma das despesas correntes com os encargos da dívida pública). O governo acolheu a idéia, mas decidiu submetê-la aos agentes econômicos, em razão das dificuldades em aprovar projetos no Congresso Nacional. Na próxima terça-feira, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, terão um jantar com empresários e políticos, organizado por Delfim. Será o lançamento oficial da proposta. O Ministério da Fazenda quer o apoio de empresas e bancos para não assumir sozinho o custo político da idéia. �Temos perdido quase tudo. Por isso, qualquer medida que seja enviada ao Congresso tem que ser muito bem discutida. Delfim é muito influente e pode ajudar a avançar no debate com vários segmentos da sociedade � disse uma fonte da Fazenda. Nas últimas semanas, o governo foi derrotado nos projetos de extinção da Rede Ferroviária Federal e da criação da Superintendência Nacional de Previdência Complementar. Indústria e bancos estão dispostos a apoiar a redução gradual do déficit nominal para baixar a dívida pública e as taxas de juros. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, considerou a proposta oportuna, bem como o economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Luís Roberto Troster. Para Troster, a proposta pode ajudar na política de controle à inflação. Mas relatório do Bradesco afirma que, num cenário de juros reais declinantes, a dívida pública cairia mais se fosse mantida a atual meta de superávit de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) do que mirando o déficit zero. No texto, o economista-chefe do banco, Octavio de Barros, diz que �o

Page 43: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

43

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

mais relevante para a avaliação da solvência fiscal de um país é a evolução da relação dívida-PIB�. A CUT argumenta, em documento, que a proposta põe mais uma vez na mira os recursos para a área social, onde está a maior parte das vinculações. A entidade também não crê que a proposta será bem recebida no Congresso.

Déficit nominal. Traduzindo o economês Do jornal O Globo, 30-6-05: Desde 1998, quando o Brasil teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para recompor as reservas cambiais, o governo vem cumprindo metas anuais de superávit primário. Para ajustar suas contas, o setor público (União, estados, municípios e estatais) se comprometeu a gastar com despesas correntes (que não incluem encargos da dívida) bem menos do que arrecada. Este ano, a meta de superávit é a mesma de 2004: 4,25% do PIB. A economia, de R$ 83 bilhões, é insuficiente para cobrir os encargos de R$ 155 bilhões da dívida pública, que sobem sempre que juros e/ou dólar aumentam. Por isso, mesmo com o superávit primário alto, o déficit nominal (que engloba despesas correntes, juros e correção monetária) só faz crescer. Daí a idéia de usar como meta o resultado nominal.

Além do déficit zero, Delfim Netto estaria pensando em novo partido

Da coluna de Sonia Racy publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 30-6-05: Em meio à crise política, a importância do deputado Delfim Netto para o governo Lula consolida-se a olhos vistos. Pelo que se apurou na semana passada em Brasília, o ex-ministro não só está liderando uma campanha de apoio em torno de uma proposta de emenda constitucional, visando à introdução do déficit nominal zero na política econômica brasileira, mas também estaria tentando articular um movimento político da maior importância. Segundo uma bem informada fonte política e econômica, em vista da deterioração da imagem do PTB, PP e PL, Delfim Netto tem tido conversas, à boca pequena - se é que isso é possível no Congresso -, em torno da idéia de se formar um novo partido político, composto da "parte boa" dessas três representações partidárias envolvidas em denúncias. Procurado na semana passada, Delfim não foi encontrado para comentar a informação. A nova legenda abrigaria parte dos 120 deputados que integram hoje os três partidos e surgiria como uma força de centro, com autoridade para negociar participação no governo Lula. A formação de um novo partido exige uma longa costura e pode não passar de uma tentativa do deputado de criar uma ação proativa e positiva nessa confusão. Mas, se a idéia andar, poderá abrir uma nova porta e acender uma luz no fim do túnel dessa crise política, avançando por caminho criativo, que seria bem aceito pela sociedade, ajudando a preservar, de alguma maneira, a imagem do Congresso. Além, claro, de abrir espaço para uma nova coligação de apoio ao governo Lula no ano que vem. O jantar, na próxima terça-feira, em São Paulo, patrocinado por Delfim, na busca de apoio para o déficit zero, conforme noticiou o jornal Valor, semana passada, deve abordar também este assunto. Não será o tema principal, já que Delfim foi encarregado, formalmente, pelo presidente Lula e pelo ministro Antonio Palocci, de garantir o apoio do Congresso e da iniciativa privada nessa cruzada pela aprovação da PEC que pode marcar uma nova era fiscal.

Furlan critica proposta de déficit nominal zero

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, demonstrou ontem preocupação com a proposta de déficit nominal zero defendida pelo Ministério da Fazenda. Comparando o setor público com uma empresa, ele disse que a idéia "parece colocar o tesoureiro como responsável pela última linha do balanço (lucro), e não apenas pelo resultado financeiro". Segundo Furlan, "uma empresa, um empreendimento, um

Page 44: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

44

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

país tem um horizonte estratégico" e "quando se deixa a visão da tesouraria predominar sobre a visão estratégica, você tem um resultado financeiro, mas o resultado do empreendimento pode não ser bom". A notícia foi publicada no jornal Valor, 1-7-05. A proposta da equipe econômica consiste em cortar os gastos do governo para zerar o déficit do setor público mesmo após o pagamento dos juros da dívida. Ao ser questionado se suas afirmações eram uma crítica à proposta, Furlan respondeu que se trata de "uma reflexão", pois os resultados do país são um trabalho conjunto.

FIESP declara apoio à proposta de déficit nominal zero

Um novo arrocho fiscal gera preocupação em parcelas do setor empresarial, que temem cortes ainda mais profundos do investimento público. O governo encarregou o deputado Delfim Netto (PP-SP) de conseguir o apoio dos empresários para a proposta. Sensível por conta da crise política, o governo só enviará o projeto ao Congresso com amplo suporte. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), declarou apoio à proposta de déficit nominal zero. "Apoiamos totalmente. Eu já tenho falado em superávit nominal há algum tempo", disse o empresário, que também participou da cerimônia da Abrasca. Ele lembrou que Delfim faz parte do conselho de economia da Fiesp e disse não temer que a proposta prejudique os investimentos do governo, porque já são "inexistentes". A notícia é do jornal Valor, 1-7-05.

Meirelles defende proposta de redução a zero do déficit público Do jornal Folha de S. Paulo, 1-7-05: O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse no dia 30 de junho que a proposta de reduzir a zero o déficit público, se adotada, contribuiria para a política monetária. Apesar das várias ressalvas citadas por Meirelles, foi a primeira manifestação explícita de uma autoridade do governo à idéia. "Como proposta de diminuição do déficit, de dar maior flexibilidade de gestão (...), isso não só será favorável à política monetária, mas ao país", afirmou Meirelles, durante depoimento a cinco comissões do Congresso Nacional em conjunto. Pelo diagnóstico do presidente do BC, o elevado patamar da dívida pública, na casa dos 50% do PIB (Produto Interno Bruto), é uma das causas dos juros altos. Logo, um aperto ainda maior da política fiscal contribuiria para reduzir a dívida e os juros. A meta de zerar o déficit público nominal � a diferença entre despesas, incluindo juros, e receitas de União, Estados e municípios, que fechou 2004 em 2,66% do PIB- em um prazo de até seis anos começou a ser discutida pelo governo neste mês, apesar da avaliação de que as condições políticas para levar a proposta a cabo são muito desfavoráveis. A medida depende da redução de despesas obrigatórias, hoje protegidas pela Constituição, em áreas como, nos exemplos mais evidentes, saúde e educação. Seria necessário, de imediato, elevar o superávit primário (parcela das receitas destinada ao abatimento da dívida pública, sem incluir juros), fixado em 4,25% do PIB. Tudo isso é rechaçado pelos partidos de discurso à esquerda da base de sustentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, começando pelo PT - cuja bancada recentemente tentou incluir na Lei de Diretrizes Orçamentárias uma brecha para reduzir o superávit primário a 4% do PIB no ano eleitoral de 2006. Apesar dos obstáculos políticos, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) aproveita o recente fortalecimento no governo para estimular a idéia, lançada pelo deputado Delfim Netto (PP-SP). Com a queda de José Dirceu (Casa Civil), Palocci não tem mais rival na condição de ministro mais poderoso da Esplanada. Cuidadoso, Meirelles disse ontem que o tema era de grande "complexidade" e dependia de uma análise do Congresso. Mesmo que o déficit nominal zero não prospere, a discussão tende

Page 45: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

45

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

a criar um ambiente mais favorável para uma elevação do superávit primário neste ano, já esperada por boa parte do mercado.

Paulo Bernardo e Delfim Netto defendem a proposta do déficit nominal zero �As intenções da proposta do déficit nominal zero são louváveis: baixar os juros para levar o país de volta ao crescimento. Não há como ficar contra a idéia, quando a previsão mundial de crescimento este ano é de 4,3% e a do Brasil já é revista para 2,5%. O leme deixaria a política monetária e passaria para o controle de gastos. Propostas desse tipo circularam durante o governo Fernando Henrique Cardoso, capitaneadas por Luiz Carlos Bresser Pereira e Yoshiaki Nakano. Era a época em que os jornais gastavam páginas a rodo com as divergências dos "desenvolvimentistas", que ganharam combustível com a proposta no seu embate com os "monetaristas", escreve a Maria Cristina Fernandes, editora política do jornal Valor, 1-7-05. Segundo ela, �daí porque seus mais abertos defensores, como o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e o deputado Delfim Netto acalentem esperanças em relação ao caráter supra-partidário da proposta. Ao governo Lula caberia arcar com o ônus de uma proposta que dobraria as desvinculações orçamentárias, faria uma faxina radical nos cargos comissionados e derrubaria troféus do Congresso, como a emenda 29 à Constituição, que prevê aumento de gastos com a saúde proporcional à elevação do PIB. O próximo mandato presidencial se iniciaria sob o signo do sacrifício, mas já seria encerrado no gozo de juros baixos e crescimento em alta�. "Reduzir gastos com corte de cargos é perfumaria e todo mundo sabe disso", diz o deputado Sérgio Miranda (PCdoB), integrante da Comissão de Orçamento e um dos parlamentares convidados por Delfim a uma reunião que, nesta semana, debaterá o déficit nominal zero no Congresso. O corte dos gastos sociais, diz o deputado, será vendido como mais um sacrifício para uma terra prometida cada dia mais longe. Num ambiente de desaceleração econômica como o que vive o país, diz, o corte seria ainda mais custoso porque o gasto social é o colchão do desemprego. E a jornalista conclui: �Não dá para imaginar o que restaria do bolsa-família, minguada herança que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) ameaça deixar como único patrimônio petista�.

(Voltar ao índice)

FFrraasseess ddaa sseemmaannaa

O desencanto �O PT sofreu uma mudança de pele nos anos 90. Não quero fazer de Lula um bode expiatório, mas ele representou essa orientação de buscar um atalho para chegar ao poder. Com isso, o PT abdicou de seus aspectos essenciais. Se mantivesse sua identidade, talvez Lula não chegasse à Presidência. Mas um partido não pode abrir mão de seus valores, mesmo que precise ficar na oposição�. � Daniel Aarão Reis Filho, historiador - O Globo, 26-6-05. �Não digo que Lula esteja envolvido em maracutaias, mas um dirigente tem obrigação de escolher bem seus colaboradores. Esta é a grande arte da política�. � Jacob Gorender, historiador - O Globo, 26-6-05. �Quem teve a bandeira da ética não pode ir contra CPIs. Na tese da governabilidade, o PT fez acordo com Deus e o diabo. Foi Lula quem deu um cheque em branco a Roberto Jefferson. O

Page 46: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

46

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

PT? O PT já era!� - Djalma Bom, ex-deputado, fundador do PT e da CUT e um dos mais antigos amigos de Lula � O Globo, 26-6-05. �Dizer que os trabalhadores estão um pouco desiludidos é generosidade. A insatisfação é crescente, inclusive entre os metalúrgicos de São Bernardo�. - Waldemar Rossi, metalúrgico aposentado, membro da Pastoral Operária de São Paulo - IstoÉ, 29-6-05. �Hoje, a posição contrária ao PT e ao governo é amplamente majoritária nas pastorais. E crescente. O partido terá muita dificuldade nas próximas eleições�. - Waldemar Rossi, metalúrgico aposentado, membro da Pastoral Operária de São Paulo - IstoÉ, 29-6-05. �Vivemos o momento mais triste e preocupante nesses 25 anos. A ética, um dos nossos pilares, nunca havia sido atingida. Temos que reagir a isso. É preciso aproveitar a oportunidade da crise para traçar o caminho correto e corrigir os erros�. � Eduardo Suplicy, senador � PT � SP - IstoÉ, 29-6-05. O novo presidente do Irã �O povo iraniano não tem muita necessidade dos EUA�. � Mahmud Ahmadineyad � presidente eleito do Irã - El País, 27-6-05. "Graças ao sangue dos mártires, uma nova revolução islâmica surgiu. A revolução islâmica de 1384 (ano atual, no calendário iraniano) trará, se Deus quiser, o fim das injustiças no mundo. A onda da revolução islâmica logo alcançará o mundo inteiro�. - Mahmoud Ahmadinejad, presidente eleito do Irã - O Estado de S. Paulo, 30-6-05. Crise sem fim �Não faço papel do herói, porque não sou melhor que os senhores, sou igual. Não faço papel de vilão porque não sou, porque os senhores e senhoras não são melhores do que eu�. - Roberto Jefferson, deputado federal � PTB-RJ - O Estado de S. Paulo, 1-7-05. "Estão todos perplexos, do mais baixo ao mais alto clero, as pessoas perguntam: você já viu isso na sua vida? Eu respondo que não. É uma crise gravíssima, porque ela não tem fim. E não existe uma mente ordenadora no sistema político". � Roberto Brant, deputado federal � PFL-MG - Valor, 29-6-05. �O único partido virgem por enquanto é o de Heloísa Helena, o P-SOL, porque foi criado só há dois anos. Mas, na próxima eleição, já tem caixa dois nele também. Ninguém resiste...� � Roberto Jefferson, deputado federal �PTB-RJ - O Globo, 29-6-05. �No Congresso, só porque não estão se vendendo, alguns se acham de esquerda. E alguns, só porque se acham de esquerda, acham que não estão se vendendo�. � Millor Fernandes - Veja, 29-6-05. Delfim �Não será surpresa para esta coluna (ou melhor: blog) se o deputado Delfim Neto (PP-SP) for convidado por Lula para ser ministro�. � Ricardo Noblat, jornalista no seu blog, 29-6-05. A idiotice nos rodeia

Page 47: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

47

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

�A idiotice nos rodeia. Eu mesmo tenho medo de virar um idiota�. � Chico Buarque, compositor e escritor - O Globo, 28-6-05. O conselho de Lula "Larga esse negócio de querer derrubar governo, rapaz. Acredita no voto". � Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, para Evo Morales, líder oposicionista boliviano � O Estado de S. Paulo, 3-7-05.

(Voltar ao índice)

EVENTOS IHU

IIHHUU IIddééiiaass DDIILLEEMMAASS DDOO NNEEOOLLIIBBEERRAALLIISSMMOO

O último IHU Idéias do semestre foi realizado na quinta-feira passada, dia 30 de junho. O tema Sucessos e fracassos do Mercado Comum Centro-Americano: dilemas do neoliberalismo foi apresentado pela Prof.ª Dr.ª Emília Viotti da Costa, da USP. Confira no IHU On-Line 147ª edição uma entrevista com a professora sobre o assunto.

Ecos do evento �É a primeira que venho ao IHU Idéias. Gostei bastante e vou continuar vindo. O tema que ouvimos hoje é novo para mim, mas achei interessante conhecer um pouco da história econômica de outros países. Chamou-me a atenção a questão da desigualdade social e da pobreza nos países da América Latina�. Fabiana da Silva Santos, aluna no curso de Secretariado da Unisinos. �A professora foi muito clara em relação ao objetivo da sua explanação, porém poderia ter sido mais sintética e menos extensiva, em função do pouco tempo que tivemos. Ela foi muito precisa com a elaboração de um trabalho tão oportuno, devido ao desconhecimento do problema que há na América Latina e na América Central, em particular, uma região que tem muito a nos ensinar�. Wagner Coriolano de Abreu, doutorando em Letras na PUCRS e colaborador da Secretaria de Educação de São Leopoldo.

IIIIII CCiicclloo ddee EEssttuuddooss ssoobbrree oo BBrraassiill

Ocorreu no Auditório Central da Unisinos, na última quinta-feira, dia 30 de junho, a conferência magistral do III Ciclo de Estudos sobre o Brasil. O evento teve como tema o debate sobre o livro Da Senzala à Colônia, com a própria autora da obra, a professora Emília Viotti da Costa, da USP. Confira no IHU On-Line 147ª edição uma entrevista com a professora sobre a obra.

Page 48: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

48

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Ecos do evento �A explanação foi muito boa. Emília Viotti é uma das intelectuais de referência da USP, formada pela USP, sob orientação dos maiores intelectuais do Brasil, como Florestan Fernandes e Roger Bastide. O livro apresentado por ela é uma grande obra e foi uma honra presenciar um evento como esse. Vejo como um desafio para ela escrever uma obra de mil páginas para depois transformá-la em 500 páginas, com um resgate histórico de Norte a Sul do Brasil da escravidão, da colonização e da época cafeeira, contando uma história que não é ouvida nas escolas e nas universidades�. Luciana Conceição Lemos da Silveira, aluna no curso de Ciências Sociais da Unisinos e integrante do grupo ECAU da Universidade. "Embora considere genial a idéia do livro sobre o processo da abolição da escravatura no Brasil, apresentada sucintamente pela autora, para mim, a riqueza maior da apresentação foi a descrição do contexto cultural e político em que o livro foi produzido: as problemáticas que se discutiam na época, a forma como então a academia concebia a pesquisa e a preocupação da autora para responder, com o livro, a questões politico-sociais tidas como relevantes para compreensão do Brasil." Luís Kist, aluno da graduação em Filosofia na Unisinos.

IIIIII CCIICCLLOO DDEE EESSTTUUDDOOSS SSOOBBRREE OO BBRRAASSIILL �� SSEEGGUUNNDDOO SSEEMMEESSTTRREE

A terceira edição do Ciclo de Estudos sobre o Brasil continuará no segundo semestre de 2005, enfatizando a discussão sobre a questão da escravidão no Brasil e suas implicações na cultura, na sociedade e na economia do País. O evento tem como objetivo estudar, de maneira interdisciplinar, textos clássicos escolhidos que analisam a formação histórica, social, econômica, política e cultural do Brasil. Informações mais detalhadas e a programação do módulo que se inicia em 24 de agosto de 2005, estão disponíveis no sítio www.unisinos.br/ihu. A sessão que inicia a programação será ministrada pela professora Dr.ª Márcia Lopes Duarte, da Unisinos, e terá como tema o debate sobre o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha.

CCaaddeerrnnooss IIHHUU IIddééiiaass RROOSSAA EEGGIIPPCCIIAACCAA:: UUMMAA SSAANNTTAA AAFFRRIICCAANNAA NNOO BBRRAASSIILL CCOOLLOONNIIAALL

Luiz Mott, professor titular de Antropologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é o autor do artigo publicado no Cadernos IHU Idéias, n.º 38, já em circulação. O artigo é baseado na obra do autor Rosa Egipcíaca: Uma santa Africana, de 1993, que foi apresentada e comentada pelo próprio autor no III Ciclo de Estudos sobre o Brasil, organizado pelo Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Luiz Mott inicia o artigo, trazendo informações sobre Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz e localizando-a no tempo e no lugar. Afirma que ela foi, certamente, a mulher negra africana do século XVIII de quem existem mais documentos. Além disso, foi a primeira afro-brasileira a escrever um livro. Viveu 46 anos dos quais 20 no Rio de Janeiro, onde chegou, em 1725, aos 6 anos, em um navio negreiro, e 18 anos, em Minas Gerais. Nasceu na costa de Mina, de nação

Page 49: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

49

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

courana e, em nenhum momento de sua biografia, faz menção à sua família africana nem a seu nome original. No Rio de Janeiro, foi comprada por José de Souza Azevedo que a mandou batizar na Igreja da Candelária. Foi vendida, aos 14 anos, para as Minas Gerais, onde chegou em 1733, tendo sido comprada por Dona Ana Garcês de Morais. No período em que esteve em Minas Gerais, dos 14 aos 29 anos, viveu como meretriz. Aos 30 anos, foi acometida de uma estranha enfermidade que a levou à decisão de adotar vida beata, tendo sido exorcizada pelo Padre Francisco Gonçalves Lopes. Após os exorcismos, Rosa dizia ser arrebatada por um misterioso vento, que provocava suas adivinhações. A fama de visionária espalhou-se por Mariana, Ouro Preto e São João del Rei. Por inspiração sobrenatural, decidiu fundar um Recolhimento para �mulheres do mundo� � Recolhimento de Nossa Senhora do Parto. Rosa tornou-se a principal divulgadora, em terras brasileiras, do culto aos Sagrados Corações. Segundo o autor, no seu recolhimento instalou-se verdadeiro culto idolátrico à sua pessoa. A causa da derrota de Madre Egipcíaca foi ter-se indisposto com o clero carioca. Após quase um ano de prisão no Rio de Janeiro, Rosa foi enviada para Lisboa, sendo presa no Tribunal da Inquisição. Em 04 de junho de 1765, ocorreu a última sessão de perguntas à vidente afro-brasileira. O processo interrompeu-se, tendo ficado inconcluso. O autor apresenta duas hipóteses para o fim da história. Conheça-as, lendo o artigo em sua íntegra. Os Cadernos IHU Idéias podem ser adquiridos na Livraria Cultural ou pelo endereço [email protected]

QQuuaarrttaa ccoomm CCuullttuurraa UUnniissiinnooss CCIICCLLOO DDEE EESSTTUUDDOOSS SSOOBBRREE ��OO MMEETTOODDOO��,, DDEE EEDDGGAARR MMOORRIINN

O quinto volume da obra O Método, de Edgar Morin, será apresentado e debatido na próxima edição do Ciclo de Estudos sobre �O método�, de Edgar Morin, na programação do projeto Quarta com Cultura Unisinos. A explanação estará sob a responsabilidade do Prof. Dr. Inácio Neutzling, diretor do Instituto Humanitas Unisinos e professor e pesquisador no PPG em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade. O evento acontecerá na próxima quarta-feira, dia 6 de julho, das 19h30min às 21h30min, na Livraria Cultura, localizada no Bourbon Shopping Country, em Porto Alegre. Graduado em Filosofia e em Teologia, Inácio Neutzling é mestre em Teologia pela PUC-RJ e doutor em Teologia pela Pontifícia Università Gregoriana de Roma, na Itália, com a tese intitulada O Reino de Deus e os Pobres. As implicações ético-teológicas para o agir cristão. A obra O Método V: A humanidade da humanidade. A Identidade Humana já foi apresentada por Inácio Neutzling no Ciclo de Estudos sobre O Método, de Edgar Morin, realizado na Unisinos, dia 19 de agosto de 2004. No IHU On-Line número 111, de 16 de agosto de 2004, foram reproduzidas duas entrevistas realizadas com Edgar Morin, que sintetizam o quinto volume d�O Método.

EEssttuuddaannddoo aass RReelliiggiiõõeess XXII Debater sobre os aspectos da teologia de uma religião será a atividade da décima edição do evento Estudando as Religiões, promovido pelo Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo (Gdirec), da Unisinos. O Pai Dejair Haubert, a Mãe Dolores Senhorinha Dorneles e a Mãe Aida Martins de Lima conduzirão juntos o debate que ocorrerá na próxima

Page 50: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

50

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

quarta-feira, dia 6 de julho, das 19h às 20h30min, na sala 1G119, junto ao IHU. A entrada é franca e aberta à comunidade acadêmica e em geral.

IIddaaddee MMééddiiaa ee cciinneemmaa

Fazer uma crítica atenta às produções cinematográficas correspondentes à Idade Média, questionando-se como o cinema tem representado esse período em seus limites e possibilidades. Essa é a idéia geral que perpassa o evento Idade Média e Cinema, promoção do Instituto Humanitas Unisinos � IHU em parceria com o curso de História da Unisinos. Os encontros iniciarão em 3 de setembro e vão até o dia 12 de novembro, sempre aos sábados, das 8h30min às 12h30min. A iniciativa em estudar a Idade Média vem ao encontro de um novo olhar lançado sobre esse período, apontado, de forma equivocada, como decante e obscur o. As duas primeiras aulas constituem-se de palestras destinadas a fundamentar as discussões posteriores. A partir de 17 de setembro, cada encontro terá a exibição de um filme a ser analisado por um especialista. Em ordem cronológica, as produções estudadas serão os seguintes: Joana Darc, Rei Arthur, El Cid, Senhor da Guerra, Em nome de Deus, O nome da Rosa, O incrível exército de Brancaleone e Cruzada. As inscrições para o curso Idade Média e Cinema estão abertas. Confira, na página www.unisinos.br/ihu, mais detalhes.

CCiicclloo ddee EEssttuuddooss DDeessaaffiiooss ddaa FFííssiiccaa ppaarraa oo ssééccuulloo XXXXII

Na programação preparada pelo Instituto Humanitas Unisinos para o segundo semestre de 2005, está o Ciclo de Estudos Desafios da Física para o século XXI: uma aventura de Copérnico a Einstein, que acontecerá de 3 de agosto a 16 de novembro de 2005. O evento tem o intuito de discutir a importância das descobertas que viabilizaram o desenvolvimento e aprofundamento do conhecimento da Física e sua aplicação em diferentes áreas e quais os desafios que se lançam para o século XXI. Neste ciclo de seminários, serão apresentadas as vidas e as obras científicas dos personagens que influenciaram o trabalho, a vida e a obra de Einstein. Além disso, será aberto um debate sobre o futuro da humanidade, tendo como base as novas descobertas físicas, principalmente a Computação Quântica. O público alvo do evento é a comunidade acadêmica da Unisinos, alunos de Ensino Médio, professores e comunidade em geral. O tema da primeira palestra, que acontece das 17h30min às 19h do dia 3 de agosto de 2005, será Copérnico e Kepler: como a Terra saiu do centro do Universo. O responsável será o Prof. Dr. Geraldo Monteiro Sigaud, da PUC-Rio. O Ciclo de Estudos é uma promoção da Unisinos por meio do Instituto Humanitas Unisinos, do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Computação Aplicada, da Coordenação Geral das licenciaturas da Unisinos e dos cursos de Licenciatura em Física e em Matemática da Universidade. A programação completa e mais detalhes sobre o evento pode ser conferida em www.unisinos.br/ihu.

CCiicclloo ddee EEssttuuddooss CCoonnccíílliioo VVaattiiccaannoo IIII

Em 2005, completam-se 40 anos do encerramento solene do Concílio Vaticano II, o qual se estendeu de 11 de outubro de 1962 a 8 de dezembro de 1965. Nascido num contexto social e histórico que suscitou o sonho esperançoso e confiante de João XXIII de uma Igreja �profundamente modificada�, �brilhando com a beleza de uma santidade mais intensa� e

Page 51: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

51

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

presente aos acontecimentos e problemas humanos de nossa época, o Concílio abriu um novo caminho e inaugurou uma nova fase na vida da Igreja. As transformações na concepção de Teologia, na interpretação da Escritura, na autocompreensão da Igreja e sua abertura ao diálogo ecumênico, inter-religioso, com as culturas e com o mundo moderno possibilitaram que a dinâmica do Concílio se estendesse nas décadas subseqüentes, tanto na vida intra-eclesial quanto nas relações da Igreja com o mundo em que está inserida. Celebrando os quarenta anos da realização deste grande evento da Igreja Católica, o Instituto Humanitas Unisinos oferece o Ciclo de Estudos Concílio Vaticano II � Marcos, trajetórias, prospectivas, que acontece na Unisinos de 18 de agosto a 10 de novembro de 2005. O evento propõe uma releitura crítico-analítica de alguns de seus marcos e propostas mais importantes com seus desdobramentos posteriores e perspectivas atuais. Serão priorizados enfoques temáticos que situam a Igreja frente às exigências de relevância pública da Teologia e da fé cristã, procurando recolher, em cada tema, os impulsos fundamentais, caracterizar o percurso posterior e situar possibilidades e limites atuais. Os objetivos do Ciclo de Estudos Concílio Vaticano II são fazer uma releitura crítico-analítica do Concílio Vaticano II em confronto com as exigências e possibilidades da presença da Igreja e da fé cristã na sociedade; e resgatar, do espírito e dos documentos conciliares, elementos impulsionadores para uma relevância pública da Teologia. O público alvo do evento é a comunidade acadêmica da Unisinos, de outras instituições acadêmicas e comunidade em geral. A primeira palestra, no dia 11 de agosto de 2005, terá o Prof. Dr. João Batista Libânio, do Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus (CES/BH), falando sobre o tema O contexto do Concílio Vaticano II e seu desenvolvimento. Mais informações sobre o evento, bem como sua programação completa, podem ser obtidas no sítio www.unisinos.br/ihu.

CCiicclloo ddee EEssttuuddooss RReeppeennssaannddoo ooss CClláássssiiccooss ddaa EEccoonnoommiiaa

Continua, no segundo semestre de 2005, o I Ciclo de Estudos Repensando os Clássicos da Economia, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos. O evento tem como objetivos propiciar um espaço inter e multidisciplinar de discussão sistemática sobre temas relacionados com os autores clássicos da economia, retomando os textos fundadores da ciência econômica; possibilitar à comunidade acadêmica da Unisinos, em particular, e à comunidade em geral, uma visão global da economia clássica e suas implicações no cotidiano; discutir as possibilidades e os limites de uma economia social e eticamente regulada; fortalecer a criação do Mestrado em Economia na Unisinos, com suas respectivas linhas de pesquisa. O ciclo tem periodicidade mensal, começando, neste semestre, dia 17 de agosto e encerrando em 10 de novembro de 2005. Ele acontece paralelamente em dois locais: na Unisinos, na sala 1G119 do IHU, e na Livraria Cultura, no Bourbon Shopping Country, em Porto Alegre. O I Ciclo de Estudos Repensado os Clássicos da Economia é uma promoção da Unisinos por meio do Instituto Humanitas Unisinos, do curso de graduação em Economia, do PPG em Administração e do PPG em Ciências Contábeis da Universidade. Este evento vale como atividades complementares para os cursos de Administração, Ciências Contábeis, Ciências Sociais, Comércio Exterior, Direito, Economia, História e Serviço Social. A primeira edição do segundo semestre de 2005 será realizada dia 17 de agosto na Livraria Cultura, em Porto Alegre, e no dia 18 de agosto, na Unisinos. O tema Entendendo o

Page 52: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

52

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

pensamento de Veblen será apresentado nas duas ocasiões pelo Prof. Dr. Leonardo Monteiro Monastério, da UFPEL. A programação completa do evento na Livraria Cultura e na Unisinos pode ser conferida no sítio www.unisinos.br/ihu

22ºº CCoollóóqquuiioo IInntteerrnnaacciioonnaall ddaa CCáátteeddrraa UUnneessccoo �� UUnniissiinnooss VV EENNCCOONNTTRROO DDEE EESSTTUUDDOOSS SSOOBBRREE OO MMUUNNDDOO DDOO TTRRAABBAALLHHOO

No cenário político atual, ganham força as contradições entre os objetivos econômicos e os objetivos sociais das ações de governo. Assim, torna-se pertinente a reflexão quanto às soluções coletivas, públicas, realmente capazes de minimizar ou reverter os efeitos negativos da desigualdade, especialmente no mundo do trabalho. Com essa finalidade, será realizado na Unisinos, entre os dias 4 e 7 de julho, o 2º Colóquio Internacional da Cátedra Unesco - Unisinos. Com o eixo temático Políticas Públicas e Trabalho em suas múltiplas dimensões, abordará o trabalho em sua realidade social mais ampla e nas suas relações com o Estado. O Colóquio será estruturado em mesas-redondas interdisciplinares, com a participação de docentes dos Programas de Pós-Graduação da Universidade e de convidados das principais instituições parceiras. Durante o 2º Colóquio Internacional da Cátedra Unesco - Unisinos, se realizarão, também, a segunda reunião do Conselho Consultivo da Cátedra e o V Encontro de Estudos sobre o Mundo do Trabalho, organizado anualmente pelo Núcleo Local da Unitrabalho na Unisinos.

Objetivos O 2º Colóquio Internacional da Cátedra Unesco - Unisinos tem por objetivo oportunizar debates em nível internacional e de excelência sobre questões relacionadas ao tema Trabalho e Sociedade Solidária. Transitando por diversas disciplinas, o Colóquio propiciará, além da apresentação de pesquisas, um intercâmbio regional, nacional e internacional. O evento servirá como um espaço de mútuo conhecimento e debates. Proporcionará o convívio entre pesquisadores, estudiosos e estudantes dos Programas de Pós-Graduação da Unisinos, sendo parte integrante de suas atividades curriculares. O 2º Colóquio Internacional da Cátedra Unesco � Unisinos, que conta com o apoio do Instituto Humanitas Unisinos, também pretende propiciar o debate teórico e prático acerca das Políticas Públicas relacionadas ao trabalho e à promoção da cidadania, em especial às políticas e práticas do Estado e dos agentes sociais, no que diz respeito à geração de emprego, à proteção social, à educação, à saúde e aos direitos humanos; oportunizar aos estudantes o conhecimento de abordagens recentes no debate internacional e o contato com pesquisadores de referência; apresentar e comparar experiências de destaque para conhecimento e avaliação de seus respectivos modelos e pressupostos teóricos; fortalecer as ações institucionais de cooperação e intercâmbio entre os Programas de Pós-Graduação da Unisinos e seus parceiros e colaboradores externos; promover o enlace de pesquisadores e estudiosos, visando ao avanço e à proposição de Redes de Pesquisa e de Ensino de Pós-Graduação; e realizar a segunda reunião do Conselho Consultivo da Cátedra Unesco-Unisinos. O evento é destinado a docentes, pesquisadores, acadêmicos e estudantes em geral; a dirigentes, gestores de políticas e profissionais de organizações públicas e privadas;

Page 53: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

53

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

sindicalistas, ativistas, intelectuais e demais interessados; e membros e representantes das diferentes Instituições parceiras da Cátedra Unesco-Unisinos e das Redes de Pesquisa. As inscrições para estudantes custarão R$ 40,00, para profissionais, R$ 120,00 e para sócios do Sinpro-RS, R$ 100,00.

A cátedra A Cátedra Unesco - Unisinos expõe um dos esforços de uma nova orientação educacional. Trata-se de uma iniciativa de seis Programas de Pós-Graduação com uma finalidade bem definida: estimular e garantir práticas de intercâmbio acadêmico sistemático, em âmbito nacional e internacional. Confira a programação completa do evento na página http://www.unisinos.br/coloquio/catedra/

UUnniissiinnooss aabbrree iinnssccrriiççõõeess ppaarraa oo IIVV FFeessttiivvaall ddee IInnvveerrnnoo

Estão abertas as inscrições para a quarta edição do Festival de Inverno Unisinos, que acontece de 17 a 24 de julho, na Antiga Sede da Universidade, localizada na Rua Brasil, 725, centro de São Leopoldo. A partir da edição deste ano, o evento passa a homenagear compositores brasileiros, começando com Bruno Kiefer. Serão ministrados 14 cursos e duas oficinas de musicalização, das 9h às 12h e das 14h às 17 horas, nas modalidades de cordas (violão, viola, violino, violoncelo e contrabaixo) e sopros (trompete, trombone, clarinete, saxofone, oboé, trompa e flauta), regência orquestral e regência coral e oficina de musicalização para educadores e para crianças. O elenco de professores reunirá profissionais oriundos de vários estados brasileiros, da Argentina, do Uruguai, da Alemanha e da Inglaterra. O evento tem como objetivos propiciar o contato dos alunos participantes com o trabalho técnico-musical de renomados profissionais da música, de vários estados brasileiros e do exterior; promover o intercâmbio e a troca de experiências entre os músicos participantes, bem como contribuir para o crescimento cultural da comunidade. As inscrições podem ser feitas até o dia 8 de julho, via Internet, acessando www.unisinos.br/extensao; no câmpus, na Coordenação de Admissão e Matrícula; ou via fax, enviando a ficha de inscrição e o comprovante de pagamento para o fone (51) 590.8305. A taxa é de R$ 60,00 por curso, com direito a certificado de aluno participante; R$ 30,00 por curso para alunos do Projeto Sinos Acorda da Unisinos, com direito a certificado de aluno participante; e R$ 10,00 por curso para alunos de cordas integrantes do projeto Sinos Acorda da Unisinos, com direito a certificado de aluno ouvinte. Confira mais informações em www.unisinos.br/extensao

(Voltar ao índice)

Page 54: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

54

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

IHU REPÓRTER

MMaarraa MMaarriiaa LLeennzz A história de vida que os leitores do IHU On-Line conhecerão na edição desta semana, é da operadora de caixa dos restaurantes Alternativo e Universitário da Unisinos, Mara Maria Lenz. Funcionária da Unisinos há 17 anos, Mara conta que gosta de respeito nas relações. �Tem pessoas que se fazem de amigos, e não são�, avisa. Ela relata que adora conversar e tomar chimarrão com os amigos. �Se algo está errado, eu falo, porque tem certas coisas que não dá para aceitar�, diz. Acompanhe a trajetória pessoal e profissional da mãe da Morgana e do Heron. Origens � Nasci em São Pedro do Butiá, na região missioneira do Rio Grande do Sul. Sou de origem alemã por parte de pai e mãe. Meus pais sempre foram agricultores. Somos nove irmãos, e eu tenho uma irmã gêmea, a Marta, que hoje está casada e mora em São Paulo das Missões. Nossa infância era bem diferente da que

vivem as crianças de hoje. Nós corríamos por tudo, brincávamos no potreiro, em uma típica infância do interior. Meus pais nos ensinaram a importância estudar e de respeitar os outros. Formação � Cursei todo o ensino fundamental e o início do ensino médio na Escola Estadual Pedro Scher, em São Pedro do Butiá. Terminei o ensino médio no Colégio Dinâmico, em Esteio. Fiz vestibular em 1992 e cursei durante um ano Ciências Contábeis aqui na Unisinos. Depois desisti e nunca mais retomei. Estudar com filhos pequenos é muito complicado. Profissão � Com 13 anos, consegui meu primeiro emprego, trabalhando em uma casa de família, cuidando de crianças. Depois comecei como empregada doméstica na mesma casa e, logo em seguida, em outra família, em Porto Alegre, em que eu cuidava de uma criança com síndrome de down, mas que era muito querida. Meu emprego seguinte, também como doméstica, foi em Porto Xavier, cidade próxima à minha terra natal. Foi quando um dos meus irmãos conseguiu um emprego para mim no Colégio Cristo Rei, aqui em São Leopoldo. Só que não me adaptei no cargo de cozinheira, porque o fogão era muito alto. Decidi fazer ficha na Unisinos e fui chamada para trabalhar aqui, onde estou desde 1988. Comecei trabalhando nas lancherias, que eram da Universidade, e depois passei para os restaurantes. Até 2001, era eu quem fazia o café da manhã nos restaurantes. Eu ajudava a preparar tudo e depois ia para o caixa cobrar. Hoje sou operadora de caixa no Restaurante Alternativo e no Restaurante Universitário. Gosto de lidar com o público, de conhecer pessoas e fazer amizades. Família � Fui casada com o Herto durante 11 anos, mas estamos separados desde fevereiro deste ano. Conhecemo-nos em um baile, em Sapucaia. Essa união me deu dois filhos, a Morgana, de oito anos, e o Heron, de quatro. Ser mãe é maravilhoso. Meus filhos são tudo para mim. Nunca vou esquecer quando a Morgana nasceu. Seu rosto era bem miúdo, parecia uma bonequinha deitada do meu lado. Eu procuro sempre ensinar aos meus filhos que eles têm que

Page 55: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

55

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

respeitar os outros para também serem respeitados. E repito o ensinamento que aprendi com meus pais: é preciso estudar para garantir a independência. Leitura � Hoje me dedico a ler revistas, como Cláudia e Criativa. Livros, só os infantis que eu leio para o Heron e a Morgana antes de dormir. Filme � Amor à segunda vista, de Marc Lawrence. Um presente � Flores. Sonho � Hoje moro com a Morgana e o Heron em um JK30, que graças a Deus é próprio. Mas meu sonho é poder comprar uma casa ou um apartamento maior, para cada um dos meus filhos ter o seu quartinho, sem precisarmos dormir todos na mesma cama. Momentos marcantes � O nascimento dos meus filhos. Foi quando passei a viver para eles, a colocá-los em primeiro lugar na minha vida. Nas horas livres � Passear com as crianças, ir ao shopping, fazer crochê e bordado. Unisinos � Desde que eu entrei aqui na Universidade acompanhei muitas mudanças. Mas sempre vi a Unisinos como uma instituição que busca formar profissionais para o futuro, capazes de bem exercer sua função na sociedade. Sou muito grata à Unisinos. Tudo o que tenho hoje conquistei trabalhando aqui. Espero que eu ainda consiga muito mais. Instituto Humanitas Unisinos � Conheço muito pouco do IHU, mas vejo-o como um setor que deve ajudar as pessoas. Acompanho que ele promove grandes eventos e está sempre envolvido com o que acontece no mundo.

(Voltar ao índice)

SSaallaa ddee LLeeiittuurraa

�Imagens e símbolos, de Mircea Eliade (São Paulo: Martins Fontes, 2002. 178 páginas), é o livro que tem ultimamente me levado a viagens mais distantes. O autor postula a sobrevivência da mitologia no homem moderno e a atualidade e força das imagens, entendendo-se imagem não como ícone, e sim, como diria Gilbert Durand, a epifania de um mistério, aquilo que nos toma de assalto quando não temos, no mundo material, um referente que possa confirmar a representação mental. É com base no imaginário que o mais realista dos homens constrói sua realidade e vence o tempo. A imagem, se não for desprezada, nos introduz o mistério do sagrado, capaz de nos

levar a ultrapassar a condição temporal, a mortalidade que é, em última instância, a identificação de si e do real com a nossa situação particular, como se a realidade fosse o que parecemos ser ou possuir�.

30 Apartamento composto por três peças: sala-dormitório, cozinha e banheiro. (Nota do IHU On-Line)

Page 56: Teatro, arte e humanizaçªo - ihuonline.unisinos.br · Neste semestre, qual foi a peça teatral a que assististe? Se a pergunta surpreende, mais ainda, e talvez, por isso, a resposta

56

IHU On-Line, São Leopoldo, 04 de julho de 2005 www.unisinos.br/ihu

Profa. Dra. Ana Taís Martins Portanova Barros, jornalista, doutora em Ciências da Comunicação e professora no curso de Ciências da Comunicação da Unisinos. �Relatos de viagens são um gênero especial de literatura, funcionam como combustível aos sonhos dos aventureiros, o leitor se enxerga e vive aquela situação, e ao mesmo tempo constituem um formato alternativo e muitíssimo interessante de conhecer história, lugares e cultura diferentes. Melhor ainda se forem escritos com um talento e imaginação e incluírem os relatos de amizades e companheirismo, alegrias e tristezas. América Central nas Asas do Quetzal (Porto Alegre: Literalis Editora, 2003. 264p.) é um magnífico exemplar deste gênero literário. Uma viagem solo à América Central, começando por Belize, passando por Honduras, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, terminando no Panamá durante cinco meses, com pouco dinheiro e uma mochila recheada de livros. Seu autor, Eduardo Soares Batista, experiente viajante, jovem e sonhador full time, dono de um texto delicioso, recomendado aos amantes da aventura, dos sonhos e da boa literatura, tem algo em comum com todos nós é aluno da Unisinos. Um achado. Recomendo!� Prof. Esp. Julio Eduardo Schwartz, especialista em Relações e Negócios Internacionais e pr ofessor no curso de Administração de Empresas da Unisinos. (Voltar ao índice) EEXXPPEEDDIIEENNTTEE:: IHU On-Line é uma publicação semanal do Instituto Humanitas Unisinos � IHU � , da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos. Diretor do IHU: Prof. Dr. Inácio Neutzling ([email protected]). Diretora Adjunta: Profª Dr.ª Hiliana Reis ([email protected]). Gerente Administrativo: Jacinto Schneider ([email protected]). Redação: Inácio Neutzling, Sonia Montaño ([email protected]), Pedro Luiz S. Osório ([email protected]) Mtb 4579, e Graziela Wolfart ([email protected]). Revisão: Profª Mardilê Friedrich Fabre ([email protected]). Consultoria: Agência Experimental de Comunicação (AgexCom). IHU On-Line circula às 2ªs feiras via e-mail e pode ser acessado no sítio www.unisinos.br/ihu. Sua versão impressa circula na Unisinos terças-feiras pela manhã, a partir das 8h. Endereço: Av. Unisinos, 950 � São Leopoldo, RS. CEP 93022-000 E-mail: [email protected] . Fone: 51 591.1122 � Ramais 4121 ou 4128. E-mail do IHU: [email protected] . Ramais: 1173 e 1195.